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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

LUCAS MORAIS MELO

A EVENTUAL BANALIZAÇÃO DO USO DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA E O


POSSÍVEL COMPROMETIMENTO DA EFICIÊNCIA DAS ATIVIDADES DA
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA.

Palhoça
2015
LUCAS MORAIS MELO

A EVENTUAL BANALIZAÇÃO DO USO DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA E O


POSSÍVEL COMPROMETIMENTO DA EFICIÊNCIA DAS ATIVIDADES DA
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA.

Monografia apresentada ao Curso de


Direito da Universidade do Sul de Santa
Catarina, como requisito parcial para a
obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientadora: Profª. Giglione Edite Zanela, Esp.

Palhoça
2015
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

A EVENTUAL BANALIZAÇÃO DO USO DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA E O


POSSÍVEL COMPROMETIMENTO DA EFICIÊNCIA DAS ATIVIDADES DA
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA.

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade


pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a
Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a
Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca desta
monografia.
Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e
criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Palhoça, 09 de novembro de 2015.

_____________________________________
LUCAS MORAIS MELO
Aos meus pais, Heleno e Anaide, pelo
incentivo, apoio e amor incondicional.
AGRADECIMENTOS

À sumidade na arte de ensinar Direito Administrativo, minha Profª e


orientadora Giglione Edite Zanela, que por acreditar em mim, e com esmero e
carinho, compartilhou experiências e conhecimentos na elaboração deste trabalho.
À minha noiva que, brilhantemente, compreendeu os momentos de
abdicação de nosso tempo, em prol da elaboração desta pesquisa.
Aos amigos que, direta ou indiretamente, contribuíram na construção
desta monografia.
Um eterno agradecimento a vocês.
RESUMO

As delegacias de polícia são frequentadas, diariamente, por milhares de pessoas


que solicitam a lavratura de um Boletim de Ocorrência (BO), independentemente do
problema que seja: crime, relação consumerista, contrato de trabalho, rescisão
contratual ou qualquer outro fato que possa ensejar a propositura de ações judiciais.
Partindo da premissa que grande parte dos registros realizados não faz
comunicação de crime, mas de assuntos particulares, surgiu a necessidade de
verificar se essa prática torna o BO banal e se, com isso, compromete as atividades
realizadas pela Polícia Civil do Estado de Santa Catarina, ferindo o princípio da
eficiência, que é um dos princípios norteadores da Administração Pública. Assim, o
método de procedimento deste trabalho é o monográfico, de natureza qualitativa e
pesquisa bibliográfica. Já o método de abordagem é do tipo pensamento dedutivo.
Nesse sentido, o presente trabalho faz um breve estudo acerca da Administração
Pública e seus princípios. Na sequência, trata do instituto Segurança Pública e os
órgãos que o compõem, com enfoque especial à Polícia Civil catarinense. Por fim, a
pesquisa busca compreender o BO, acerca de sua finalidade, características,
eficácia probatória em processos judiciais, e apresenta gráficos acerca de
atendimentos ao cidadão para lavratura de BO não criminal. Diante do estudo
realizado, verifica-se o princípio da eficiência comprometido em razão da
banalização e uso indevido do BO. Nota-se, logicamente, que recursos materiais e
humanos, destinados à realização de registros não criminais, fora das atribuições da
Polícia Civil, poderiam estar atuando especificamente na manutenção da ordem
pública e repressão ao crime.

Palavras-chave: Boletim de ocorrência. Banalização. Polícia Civil. Segurança


Pública.
LISTA DE SIGLAS

BO – Boletim de ocorrência
BOC – Boletim de ocorrência circunstanciado
CBM – Corpo de Bombeiro Militar
CESC/89 – Constituição do Estado de Santa Catarina
CP – Código Penal
CPP – Código de Processo Penal
CRFB/88 – Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
CTN – Código Tributário Nacional
GM – Guarda Municipal
LC nº 453/2009 – Lei Complementar nº 453 de 05 de agosto de 2009
PC – Polícia Civil
PC/SC – Polícia Civil do Estado de Santa Catarina
PF – Polícia Federal
PFF – Polícia Ferroviária Federal
PM – Polícia Militar
PRF – Polícia Rodoviária Federal
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 09
2 DA EFICIÊNCIA DAS ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS E O PODER DE
POLÍCIA ................................................................................................................ 11
2.1 DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA...................................................................... 11
2.2 DOS PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.......... 13
2.2.1 Princípios jurídicos: aspectos gerais........................................................ 13
2.2.2 Do princípio da supremacia e indisponibilidade do interesse público.. 14
2.2.3 Dos princípios do caput do art. 37 da CRFB/88........................................ 17
2.2.4 Do princípio da eficiência........................................................................... 19
2.3 DO PODER DE POLÍCIA................................................................................. 21
2.3.1 Poder de polícia: conceitos e limites........................................................ 21
2.3.2 Polícia administrativa e polícia judiciária................................................. 25
3 DA SEGURANÇA PÚBLICA E A POLÍCIA CIVIL............................................. 29
3.1 DA SEGURANÇA PÚBLICA............................................................................ 29
3.2 DOS ÓRGÃOS DA SEGURANÇA PÚBLICA................................................... 32
3.3 DA POLÍCIA CIVIL........................................................................................... 38
3.3.1 Funções e atribuições................................................................................ 38
3.3.2 A carreira policial civil e a forma de ingresso.......................................... 41
3.3.3 Estrutura da instituição.............................................................................. 47
4 A EVENTUAL BANALIZAÇÃO DO USO DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA E
O POSSÍVEL COMPROMETIMENTO DA EFICIÊNCIA DAS ATIVIDADES DA
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA......................................... 51
4.1 BOLETIM DE OCORRÊNCIA: DEFINIÇÃO E REQUISITOS.......................... 51
4.2 A INEXISTÊNCIA DE PRESUNÇÃO DE VERACIDADE QUANTO AO
CONTEÚDO DAS DECLARAÇÕES CONTIDAS NO BOLETIM DE
OCORRÊNCIA........................................................................................................ 57
4.3 O (IN)DEVIDO USO DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA................................... 64
4.4 O MANEJO INDEVIDO DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA E O PRINCÍPIO
DA EFICIÊNCIA...................................................................................................... 70
5 CONCLUSÃO..................................................................................................... 77
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 81
9

1 INTRODUÇÃO

Conflitos são acontecimentos intrínsecos à sociedade desde a


antiguidade. Eles sempre existiram, seja porque as pessoas são diferentes, pensam
diferentes, tem objetivos diferentes, e até porque, às vezes, pensam iguais e
desejam as mesmas coisas. Justamente pela constante presença do conflito no
meio social, o Homem percebeu a necessidade de serem criadas normativas,
objetivando estabelecer a paz ou, ao menos, a redução significativa da incidência de
conflitos.
Acontece que por conta do aumento demográfico e da mundialização, que
torna a vida das pessoas bastante “corrida”, ocasiona a incessante “falta de tempo”
e, também, pela omissão do Estado, que gera a carência social, a sociedade parece
estar à beira do colapso. Em razão disso, os conflitos crescem vertiginosamente no
meio social.
Por conta dessa presença maciça dos conflitos no meio social, grande
parte da população acaba buscando na polícia a solução de todos os seus
problemas, independente de se tratarem de esfera cível ou criminal, talvez por ver
nela, a polícia, a única esperança na resolução de seu infortúnio, talvez por ser o
único órgão estatal a que tenha fácil acesso, ou até mesmo por indicação de
terceiros.
Diante do pesquisador que subscreve o presente trabalho ser Agente da
Polícia Civil do Estado de Santa Catarina, e tratar diretamente com essas pessoas
que buscam na delegacia de polícia a proteção do Estado, percebe-se que com o
passar dos anos, elas têm recorrido às delegacias objetivando solucionar toda e
qualquer desordem (cível, trabalhista, desacordos comerciais, perda de documentos
e/ou objetos), bem como para se precaver de conflitos que possam surgir em suas
vidas, e para isso solicitam a lavratura de um boletim de ocorrência.
Conhecendo então as atribuições da Polícia Civil, e tendo que realizar
boletins de ocorrência não criminais, surge o seguinte questionamento: essa
incessante busca pelos boletins de ocorrência não criminais prejudica as atividades
incumbidas à Polícia Civil?
Para buscar resolver o citado questionamento, a presente pesquisa
pretende verificar se os boletins de ocorrência lavrados nas Delegacias de Polícia
Civil do Estado de Santa Catarina estão sendo solicitados/utilizados por motivos
10

banais e/ou de forma indevida, ocasionando o consequente prejuízo no


desenvolvimento das atividades da referida instituição, pois fazendo parte da
Administração Pública, deve obedecer a diversos princípios.
Para isso, o presente trabalho monográfico divide-se em 03 (três)
capítulos.
O primeiro capítulo estuda os aspectos gerais da Administração pública,
bem como de seus supraprincípios, isto é, da supremacia e indisponibilidade do
interesse público e de seus princípios norteadores, o LIMPE, previstos no caput do
art. 37 da CRFB/88, com ênfase ao princípio da eficiência e do poder de polícia.
Já o segundo capítulo trata do tema segurança pública e dos órgãos que
a compõem, conforme art. 144 da CRFB/88, com uma seção dedicada
exclusivamente à Polícia Civil, abordando aspectos quanto ao ingresso, carreira e
estrutura da instituição, com especial destaque às suas atribuições e funções.
Quanto à terceira parte da pesquisa, esta se reserva a melhor
compreender o que é o boletim de ocorrência, acerca da definição, requisitos e sua
principal finalidade, bem como verificar se o seu indevido uso, isto é, para fatos não
criminais, pode comprometer as atividades realizadas pela Polícia Civil catarinense e
vir a ferir o princípio da eficiência, que é um dos princípios norteadores da
Administração Pública.
Para se chegar ao resultado da pesquisa, o presente trabalho
monográfico possui o método de abordagem do tipo pensamento dedutivo, pois
parte do aspecto geral, que é a Administração Pública, para alcançar a
especificidade, que é o boletim de ocorrência confeccionado pela Polícia Civil de
Santa Catarina.
Ainda assim, o presente trabalho é de natureza qualitativa, a julgar pela
interpretação dos dados e o método de procedimento é o monográfico.
Quanto à técnica de pesquisa, utiliza-se a bibliográfica, tendo em vista
que o trabalho se baseia em livros, leis, artigos, doutrinas, jurisprudências e sites
oficiais.
11

2 DA EFICIÊNCIA DAS ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS E O PODER DE


POLÍCIA

A Administração Pública é norteada por uma gama de princípios, a


exemplo do postulado da eficiência, inclusive no que tange ao poder de polícia.
Nesse contexto, o presente capítulo monográfico destina-se ao estudo dos aspectos
gerais da Administração Pública, dos seus princípios norteadores, com especial
destaque ao princípio da eficiência, e do poder de polícia.

2.1 DA ADMINISTAÇÃO PÚBLICA

Inicialmente, antes de tratar dos princípios específicos norteadores da


Administração Pública, importante tecer algumas linhas acerca de sua definição.
Entretanto, percebe-se que o termo Administração Pública não comporta contornos
bem especificados, tendo em vista a multiplicidade de definições que decorrem da
palavra, bem como em razão das diversas áreas em que se verifica o
desenvolvimento da função administrativa.1
Em um conceito mais simples, pode-se definir Administração Pública
como “um conjunto de atividades preponderantemente executórias de pessoas
jurídicas de Direito Público ou delas delegatárias, gerindo interesses coletivos, na
prossecução dos fins desejados, pelo Estado”.2
A doutrina, ao tratar da definição de Administração Pública, apresenta um
sentido formal e outro material para a designação. Sendo assim, “em sentido formal,
é o conjunto de órgãos instituídos para a consecução dos objetivos do Governo”. Já
em sentido material, trata-se do “[...] conjunto das funções necessárias aos serviços
públicos em geral; em acepção operacional, é o desempenho perene e sistemático,
legal e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em benefício
da coletividade”.3
José dos Santos Carvalho Filho, ao tratar do conceito, fala em sentido
objetivo e subjetivo, afirmando que a palavra comporta mais de uma significação.
1
MEIRELLES, Hely Lopes; ALEIXO, Délcio Balestero; BURLE FILHO, José Emmanuel. Direito
Administrativo Brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2015. p. 86.
2
NETO, Diogo de Figueiredo Moreira. Curso de direito administrativo. 16. ed. Rio de Janeiro:
Editora Forense Ltda, 2014. p. 88.
3
MEIRELLES, Hely Lopes; ALEIXO, Délcio Balestero; BURLE FILHO, José Emmanuel. Direito
Administrativo Brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2015. p. 66.
12

Segundo o autor, no aspecto objetivo, reflete a noção de tarefa, atividade, ação, ou


seja, “[...] a própria função administrativa, constituindo-se como algo que o Governo
quer alcançar. No sentido subjetivo, a expressão indica o universo de órgãos e
pessoas que desempenham a mesma função”.4
Em uma noção mais global, entende-se por Administração “[...] todo o
aparelhamento do Estado preordenado à realização de serviços, visando a
satisfação das necessidades coletivas”.5
Nesse diapasão, colaciona-se a seguinte reflexão:

Administração Pública (com iniciais maiúsculas) é um conceito que não


coincide com Poder Executivo. Atualmente, o termo Administração Pública
designa o conjunto de órgãos e agentes estatais no exercício da função
administrativa, independentemente se são pertencentes ao Poder
Executivo, ao Legislativo, ao Judiciário, ou a qualquer outro organismo
estatal (como Ministério Público e Defensorias Públicas). Assim, por
exemplo, quando o Supremo Tribunal Federal constitui comissão de
licitação para contratar determinado prestador de serviços, a comissão e
seus agentes são da Administração Pública porque e enquanto exercem
6
essa função administrativa.

Vale ainda ressaltar que, em sentido mais abrangente, a definição de


Administração Pública engloba os órgãos governamentais que desempenham a
atividade política, assim como os entes, pessoas jurídicas e órgãos, que
desenvolvem as atividades administrativas de uma forma geral. Como atividade
política, tem-se a fixação dos programas e diretrizes do agir do governo, assim como
“[...] dos planos de atuação do governo a fixação das denominadas políticas
públicas. De outra parte, função meramente administrativa resume-se à execução
das políticas públicas formuladas no exercício da referida atividade política.”7
Em últimas linhas, destaca-se, ainda, que a Administração Pública, em
um sentido organizacional, divide-se em direta e indireta. Na Administração Direta
têm-se os entes políticos da Federação: União, Estados-Membros, Distrito Federal e

4
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev. atual. e amp.
São Paulo: Edita Atlas S.A., 2015. p. 473.
5
MEIRELLES, Hely Lopes; ALEIXO, Délcio Balestero; FILHO, José Emmanuel Burle. Direito
Administrativo Brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2015. p. 66.
6
MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 39.
7
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 19. ed. São
Paulo: Método. 2011. p. 18.
13

Municípios. Já no âmbito da Administração Indireta, vislumbram-se as Autarquias,


Fundações Públicas, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista. 8
Entretanto, como não se trata do objeto específico do presente trabalho,
deixa-se de apresentar todas as especificidades inerentes ao estudo da estrutura
organizacional da Administração Pública.
Com base nas citações acima, percebe-se que várias são as formas de
conceituar a Administração Pública. Contudo, em uma visão global, pode-se
entender como o aparelhamento do Estado que se desenvolve com o fito de
satisfazer os interesses da coletividade.

2.2 DOS PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ADMINISTAÇÃO PÚBLICA

No estudo dos princípios norteadores da Administração Pública,


destacam-se, nos próximos tópicos, os seguintes postulados normativos:
supremacia e indisponibilidade do interesse público; legalidade; impessoalidade;
moralidade; publicidade; e eficiência.
Entretanto, antes de tratar especificadamente de cada um dos princípios
acima listados, importante destacar a conceituação de princípio jurídico, assim como
a diferenciação entre princípios e regras.

2.2.1 Princípios jurídicos: aspectos gerais

O princípio, de acordo Marçal Justen Filho, “consiste em norma jurídica


que consagra modelos genéricos e abstratos de conduta, sem estabelecer uma
solução única e predeterminada abstratamente. O princípio produz uma delimitação
das condutas compatíveis com o direito”.9

8
BRASIL. Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sôbre a organização da
Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0200.htm>. Acesso em: 03 set.
2015.
9
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. 9. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2013. p. 132.
14

Nas palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello, “princípio é, pois, por


definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição
fundamental que se irradia sobre diferentes normas”.10
Pedro Lenza apresenta a diferenciação entre princípios e regras, assim
como segue:

Regras: relatos descritivos de condutas a partir dos quais, mediante


subsunção, havendo enquadramento do fato à previsão abstrata, chega-se
a conclusão. Diante do conflito entre regras, apenas uma prevalece dentro
da ideia do tudo ou nada. A regra somente deixará de incidir sobre hipótese
de fato que contempla se for inválida, se houver outra mais específica ou se
não estiver em vigor.
Princípios: a previsão dos relatos se dá de maneira mais abstrata, sem se
determinar a conduta correta, já que cada caso concreto deverá ser
analisado para o intérprete dê o exato peso entre os eventuais princípios em
choque (colisão). Assim, a aplicação dos princípios não será no esquema
tudo ou nada, mas graduada à vista das circunstâncias representadas por
outras normas ou por situações de fato. Destaca-se assim, a técnica da
ponderação e do balanceamento, sendo, portanto, os princípios valorativos
11
ou finalísticos.

Pela citação acima, percebe-se que regras e princípios são espécies do


gênero norma jurídica. Contudo, enquanto a regra é aplicada por meio da técnica da
subsunção, na aplicação do princípio adota-se o sistema da ponderação.
Na seara do Direito Administrativo, pela ausência de codificação
específica, “[...] os princípios jurídicos exercem relevante papel de destaque no
campo desse ramo do Direito”12.
Dessa feita, nos tópicos subsequentes, serão apresentados alguns dos
principais princípios jurídicos do Direito Administrativo.

2.2.2 Do princípio da supremacia e indisponibilidade do interesse público

A superioridade do interesse da coletividade em relação ao interesse


particular é consectário da atividade da Administração, haja vista “[...] que a

10
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Criação de Secretarias Municipais. Revista de Direito
Público, 1971, vol. 15, p. 284-286, apud BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito
administrativo. 28. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2010. p. 53-54.
11
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 16. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva,
2012. p. 145.
12
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 20. ed. rev. e
atual. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo: Método, 2012. p. 194.p. 191-192.
15

existência do Estado justifica-se pela busca do interesse geral, ou seja, da


coletividade; não do Estado ou do aparelhamento estatal”13.
Nesse contexto, as condutas da Administração são trilhadas pelo Estado
em prol do interesse coletivo. Logo, mesmo quando atua em favor do interesse
imediato da Administração, a finalidade precípua de suas atividades é sempre a
satisfação do bem comum. O instituto jurídico da desapropriação, por oportuno, é
um exemplo da supremacia do interesse público em relação ao privado, pois, mitiga-
se o direito à propriedade do particular em favor do atingimento do interesse da
coletividade.14
Acerca do tema, Celso Antônio Bandeira de Mello leciona:

O princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado e


princípio geral de Direito inerente a qualquer sociedade. E a própria
condição de sua existência. Assim, não se radica em dispositivo especifico
algum da Constituição, ainda que inúmeros aludam ou impliquem
manifestações concretas dele, como, por exemplo, os princípios da função
social da propriedade, da defesa do consumidor ou do meio ambiente (art.
170, III, V e VI), ou tantos outros. Afinal, o principio em causa e um
pressuposto lógico do convívio social. Para o Direito Administrativo
interessam apenas os aspectos de sua expressão na esfera administrativa.
Para não deixar sem referencia constitucional algumas aplicações concretas
especificamente dispostas na Lei Maior e pertinentes ao Direito
Administrativo, basta referir os institutos da desapropriação e da requisição
(art. 5a, XXIV e XXV), nos quais e evidente a supremacia do interesse
15
publico sobre o interesse privado .

Também denominada de princípio do interesse público, o postulado da


supremacia do interesse público em relação ao particular, princípio implícito no
ordenamento jurídico, aduz que os interesses do bem comum são mais elevados
que os interesses particulares, motivo pelo qual o Poder Público, como guardião do
bem comum, aufere da legislação prerrogativas especiais que não são vislumbradas
na esfera privada. Configura, portanto, “uma regra inerente a qualquer grupo social:
os interesses do grupo devem prevalecer sobre os dos indivíduos que o compõem.
Essa é uma condição para a própria subsistência do grupo social”.16

13
MEIRELLES, Hely Lopes; ALEIXO, Délcio Balestero; FILHO, José Emmanuel Burle. Direito
Administrativo Brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2015. p. 110.
14
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev. atual. e
amp. São Paulo: Edita Atlas S.A., 2015. p. 34.
15
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Malheiros Editores Ltda, 2010. p. 86.
16
MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p.83.
16

Com isso, fica clarividente que, pelo princípio em comento, estando em


conflito o interesse público e o particular, prevalece o interesse da coletividade.
Nessa esteira, sublinha-se que do princípio da supremacia do interesse
público decorre o postulado da indisponibilidade que, em linhas gerais, indica a
ausência de possibilidade de acordo ou sacrifício em relação ao interesse da
coletividade.17
Segundo a doutrina, pelo princípio da indisponibilidade, os gestores
públicos, como não dispõem desse interesse, não podem renunciar, abrir mão, até
mesmo porque não são seus titulares. O titular “[...] é o Estado, como representante
da coletividade, e, por isso, só ele, pelos seus representantes eleitos, mediante lei,
poderá autorizar a disponibilidade ou a renúncia”18.
O ordenamento jurídico, portanto, “[...] não faculta ao agente público
escolher entre cumprir e não cumprir o interesse público. O agente é um servo do
interesse público – essa acepção, o interesse público é indisponível”19.
Logo, os interesses e bens não são da Administração, nem tampouco de
seus agentes. Compete-lhes somente administrá-los, velando-os “[...] em prol da
coletividade, esta sim a verdadeira titular dos direitos e interesses públicos. [...]. A
Administração não tem a livre disposição dos bens e interesses públicos, porque
atua em nome de terceiros”20.
Importante destacar ainda que:

O supraprincípio da indisponibilidade do interesse público enuncia que os


agentes públicos não são donos do interesse por eles defendido. Assim, no
exercício da função administrativa os agentes públicos estão obrigados a
atuar, não segundo sua própria vontade, mas do modo determinado pela
legislação. Como decorrência dessa indisponibilidade, não se admite
tampouco que os agentes renunciem aos poderes legalmente conferidos ou
21
que transacionem em juízo.

Nota-se, pois, que os postulados da supremacia e da indisponibilidade do


interesse público são considerados supraprincípios do direito administrativo, tendo

17
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 10. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2014. p.150.
18
MEIRELLES, Hely Lopes; ALEIXO, Délcio Balestero; FILHO, José Emmanuel Burle. Direito
Administrativo Brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2015. p. 110.
19
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 10. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2014. p.150.
20
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev. atual. e
amp. São Paulo: Edita Atlas S.A., 2015. p. 36.
21
MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 84.
17

em vista que todas as demais regras e institutos decorrem dessas duas premissas,
quais sejam: 1) que no embate entre o interesse público e privado prevalece o
interesse da coletividade; e 2) que o interesse da coletividade não está à disposição
da Administração Pública e de seus agentes, cabendo-lhes apenas o gerenciamento
dos instrumentos inerentes ao bem comum.

2.2.3 Dos princípios do caput do art. 37 da CRFB/88 - LIMPE.

Distinta das antecedentes, a CRFB/88 reservou o Título III do Capítulo VII


à Administração Pública, e em seu art. 37, caput, a Carta Magna apregoa os
princípios nos quais os agentes da Administração Pública devem se atentar. Neste
sentido, é previsto no referido artigo que “A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência [...]”.22
Quanto aos princípios acima elencados, o princípio da legalidade
preconiza que a Administração Pública está sujeita aos ditames da lei, não podendo,
por mero ato, dar qualquer tipo de direito, tampouco inovar ou impor limites aos
administrados.23
Nessa senda, extrai-se dos ensinamentos de Maria Sylvia Zanella Di
Pietro:

A legalidade, como princípio de administração (CF, art. 37, caput), significa


que o administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito
aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se
pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a
responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso. Na
24
Administração Pública não há liberdade nem vontade pessoal.

Assim, entende-se que o princípio da legalidade tem por objetivo garantir


que os atos da Administração Pública estejam preditos em lei.

22
BRASIL. Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 03 set.
2015.
23
PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A.,
2015. p. 65.
24
MEIRELLES, Hely Lopes; ALEIXO, Délcio Balestero; FILHO, José Emmanuel Burle. Direito
Administrativo Brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2015. p. 90.
18

Já o princípio da impessoalidade defende que o agente administrativo, em


suas atividades, execute somente os atos que aspirem ao fim determinado por lei,
razão pelo qual é também conhecido por princípio da finalidade. 25
Em síntese, Celso Antônio Bandeira de Mello ensina que:

[...] a Administração tem que tratar a todos os administrados sem


discriminações, benéficas ou detrimentosas. [...]. Simpatias ou
animosidades pessoais, políticas ou ideológicas, não podem interferir na
atuação administrativa e muito menos interesses sectários, de facções ou
grupos de qualquer espécie. O princípio em causa não é, senão, o próprio
princípio da igualdade ou isonomia. Está consagrado explicitamente no art.
37, caput, da Constituição. Além disso, assim como “todos são iguais
perante a lei” (art. 5º, caput), a fortiori teriam de sê-lo perante a
26
Administração.

Há de se falar ainda da segunda vertente do princípio da impessoalidade,


previsto no art. 37, §1º da CRFB/88. O texto constitucional preconiza:

A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos


órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação
social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
27
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.

Ou seja, o princípio da impessoalidade profetiza que a Administração


Pública deve, em seus atos, buscar exclusivamente o fim legal, isto é, o interesse da
coletividade, da mesma forma que veda a promoção pessoal dos agentes públicos.
Já o princípio da moralidade propala que o agente da Administração aja
com ética em suas atividades, isto é, “deve não só averiguar os critérios de
conveniência, oportunidade e justiça em suas ações, mas também distinguir o que é
honesto do que é desonesto”.28
Ainda em relação ao princípio da moralidade, tendo em vista que a
CRFB/88 colocou na Administração Pública a moral como princípio jurídico, pode-se

25
MEIRELLES, Hely Lopes; ALEIXO, Délcio Balestero; FILHO, José Emmanuel Burle. Direito
Administrativo Brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2015. p. 94.
26
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Malheiros Editores Ltda, 2010. p. 114.
27
BRASIL. Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 16 set.
2015.
28
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev. atual. e
amp. São Paulo: Edita Atlas S.A., 2015. p. 22.
19

dizer que ela se tornou um critério de validação dos atos administrativos, isto é,
qualquer ato administrativo que seja oposto a moral é nulo.29
Assim, diz-se que o princípio da moralidade, expresso no texto
constitucional, veio com o fito de trazer à sociedade uma Administração com valores
éticos, visando a bem da coletividade.
Ainda em relação aos princípios norteadores da Administração Pública,
tem-se o princípio da publicidade, o qual assevera o jurista José dos Santos
Carvalho Filho:

O Princípio da Publicidade indica que os atos da Administração devem


merecer a mais ampla divulgação possível entre os administrados, e isso
porque constitui fundamento do princípio propiciar-lhes a possibilidade de
controlar a legitimidade da conduta dos agentes administrativos. Só com a
transparência dessa conduta é que poderão os indivíduos aquilatar a
30
legalidade ou não dos atos e o grau de eficiência de que se revestem.

É inadmissível em um Estado Democrático de Direito, onde o poder


emana do povo (previsto no art. 1º, parágrafo único, CRFB/88), sonegar à sociedade
matérias que a interessam tampouco aos cidadãos particularmente atingidos por
determinado ato.31 O princípio da publicidade é então reconhecido, na
Administração, como a ordem para que esta cultive a transparência em suas
condutas.
Quanto ao princípio da eficiência, o último, e não menos importante, na
lista de princípios do caput do art. 37 da CRFB/88, será estudado exclusivamente na
seção seguinte.

2.2.4 Do princípio da eficiência

Trazido para o texto constitucional por meio da Emenda nº 19/98, o


princípio da eficiência foi uma das bases da reforma da Administração Pública, onde
procurou estabelecer na Administração Pública um método de gerenciamento, no
qual se faz uma análise dos resultados do serviço público. Neste modelo gerencial,

29
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 19. ed. São
Paulo: Método. 2011. p. 191.
30
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev. atual. e
amp. São Paulo: Edita Atlas S.A., 2015. p. 26.
31
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Malheiros Editores Ltda, 2010. p. 114.
20

agilidade, produtividade, qualidade, rendimento funcional e diminuição de


32
desperdícios são importâncias valorizadas pelo princípio da eficiência.
É mister dizer que o princípio da eficiência possui, na realidade, duas
vertentes. A primeira, que trata da maneira como o agente público realiza suas
atividades, pois se espera que ele, em suas atribuições, tenha a melhor atuação
possível, para obter os melhores resultados; e a segunda, que trata da forma como o
agente público disciplina, estrutura e organiza a Administração, tendo os mesmos
objetivos a serem alcançados, ou seja, qualidade da prestação dos serviços
públicos.33
Da mesma forma, leciona Marcio Fernando Elias Rosa:

O último princípio expresso no caput do art. 37 é o da eficiência, que [...]


abarca dois entendimentos possíveis: tange ao agente público, que não
pode atuar amadoristicamente, devendo buscar a consecução do melhor
resultado possível, como também diz respeito à forma de organização da
Administração Pública, que deve atentar para os padrões modernos de
gestão ou administração, vencendo o peso burocrático, atualizando-se e
34
modernizando-se.

Sendo o mais moderno dos princípios da atividade administrativa, o


princípio da eficiência “[...] já não se contenta em ser desempenhado apenas com
legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório
atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros”. Mais que isso,
o princípio da eficiência “[...] deve ser entendido e aplicado no sentido de que a
atividade administrativa (causa) deve buscar e produzir um resultado (efeito)
razoável em face do atendimento do interesse público”.35
Também conhecido por “qualidade de serviço prestado”, o princípio da
eficiência tenta aliar economia com produção, bem como impõe à Administração o
dever de reduzir a dissipação da verba pública, e determina que suas atividades
sejam cumpridas com agilidade, plenitude e aproveitamento funcional. 36
A respeito do tema, destaca-se:

32
MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 106.
33
PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A.,
2015. p. 84.
34
ROSA, Marcio Fernando Elias. Direito administrativo, parte I. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
p. 63.
35
MEIRELLES, Hely Lopes; ALEIXO, Délcio Balestero; FILHO, José Emmanuel Burle. Direito
Administrativo Brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2015. p. 102.
36
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev. atual. e
amp. São Paulo: Edita Atlas S.A., 2015. p. 26 e ss.
21

A ideia de eficiência aproxima-se da de economicidade, princípio expresso


no art. 70, caput, da Constituição, referente ao controle financeiro da
Administração Pública. Busca-se o atingimento de objetivos traduzidos por
boa prestação de serviços, do modo mais simples, mais rápido, e mais
econômico, melhorando a relação custo/benefício da atividade da
Administração. O administrador deve sempre procurar a solução que melhor
atenda ao interesse público, levando em conta o ótimo aproveitamento dos
recursos públicos, conforme essa análise de custos e benefícios
37
correspondentes.

Destarte, é notório que o princípio da eficiência buscou garantir a


satisfação da sociedade diante dos serviços oferecidos pela Administração Pública.
Ademais, referido princípio espera da Administração Pública a execução de suas
atividades e resolução de conflitos com o menor custo e tempo possíveis.

2.3 DO PODER DE POLÍCIA

Por intermédio das leis vigentes na sociedade democrática de direito


atual, os cidadãos contraem uma enorme gama de deveres e direitos. No entanto, a
prática desses precisa se casar com o bem comum, ou seja, é crucial que o direito,
ainda que fundamental, do uso da propriedade e da liberdade, permaneça
sintonizado com a conveniência da coletividade, de maneira que não surja um
empecilho capaz de impedir o cumprimento dos objetivos públicos.38
É nesse contexto que se insere o poder de polícia, tema que será
desenvolvido nos tópicos seguintes.

2.3.1 Poder de polícia: conceitos e limites

O poder de polícia possui sua definição no art. 78 do Código Tributário


Nacional (CTN):

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública


que, limitando ou disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula a
prática de ato ou abstenção de fato, em razão de intêresse público
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da
produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas

37
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 19. ed. São
Paulo: Método. 2011. p. 200.
38
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Malheiros Editores Ltda, 2010. p. 818.
22

dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à


tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais
39
ou coletivos.

Dessa forma, em razão de o Estado ter que proteger a paz da sociedade,


criou, e concedeu, à Administração Pública o poder de polícia, que doutrinariamente
suporta dois sentidos: amplo e estrito.
O sentido amplo trata de toda ação restritiva da Administração para com
os direitos particulares.40 O poder de polícia no sentido amplo abarca “[...] atos do
Legislativo quanto do Executivo. Refere-se, pois, ao complexo de medidas do
Estado que delineia a esfera juridicamente tutelada da liberdade e da propriedade
dos cidadãos”.41
Já o poder de polícia no sentido estrito, configura uma prerrogativa da
Administração em poder limitar a liberdade e a propriedade.42 Ele “relaciona-se
unicamente com as intervenções do Poder Executivo”.43 Quer dizer, as ações
realizadas por particulares que se mostrarem prejudiciais, desonestas ou adversas à
satisfação da coletividade, à segurança nacional e ao desenvolvimento, serão
cessadas pela Administração (Poder Executivo).44
Essa gama de instituições está vinculada às funções estatais de
fiscalização e preservação do bem comum, conforme consagra Anne Clarissa
Fernandes de Almeida Cunha:

A sua razão de ser é justamente o interesse social e o seu fundamento está


na Constituição e nas normas de ordem pública. A sua finalidade é a
proteção ao interesse público [...]. Nesse interesse superior da comunidade
entram não só os valores materiais, como também o patrimônio moral e
espiritual do povo, expresso do poder de polícia da Administração para a
contenção de atividades particulares anti-sociais ou prejudiciais à segurança
45
nacional.

39
BRASIL. Lei 5.172, de 26 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e
institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172Compilado.htm# art218>. Acesso em: 20 ago 2015.
40
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev. atual. e
amp. São Paulo: Edita Atlas S.A., 2015. p. 76.
41
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Malheiros Editores Ltda, 2010. p. 822.
42
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev. atual. e
amp. São Paulo: Edita Atlas S.A., 2015. p. 76.
43
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Malheiros Editores Ltda, 2010. p. 822.
44
MEIRELLES, Hely Lopes; ALEIXO, Délcio Balestero; FILHO, José Emmanuel Burle. Direito
Administrativo Brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2015. p. 147.
45
CUNHA, Anne Clarissa Fernandes de Almeida. Poder de Polícia: Discricionariedade e limites. In:
Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 84, jan 2011. Disponível em: <http://www.ambito-
23

Com isso, tem-se que o poder de polícia é a capacidade disposta ao


Estado para restringir e pôr condições aos direitos e atividades individuais
(liberdade), bem como ao gozo e uso de bens (propriedade), sempre em prol da
Administração ou do bem comum.46
No entanto, para que o poder de polícia não seja exercido fora da seara
do interesse público, ou seja, que o administrador atue de forma ilegítima, o Estado
impôs limites ao agente público, visando coibir a ilegitimidade de atos
administrativos.47
Este limite encontra-se positivado no parágrafo único do art. 78 do CTN,
onde exprime que o exercício regular do poder de polícia ocorre “[...] quando
desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância
do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária,
sem abuso ou desvio de poder”.48
Ainda acerca do tema, Ricardo Pontes de Almeida explica:

Contudo, essa atividade estatal é regida pelo principio da legalidade na qual


é assegurada a todos que somente a lei criará ou extinguirá deveres de agir
ou deixar de agir perante a sociedade. Ou seja, é absolutamente ilegal
introduzir ou criar por meio da atividade de poder de polícia, limitação ou
constrangimento não autorizado em lei. Outro princípio que vigora ante o
poder de polícia é o principio da proporcionalidade, na qual qualquer
limitação ao direito só será válida se for adequada (vínculo de causalidade
lógico entre a providência tomada e o resultado pretendido), necessária
(menor potencial de restritividade possível) e compatível com os valores
consagrados em nossa carta magna e nas leis advindas desta (não ofensa
49
a direitos fundamentais).

juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8930>. Acesso em: 23 ago.


2015.
46
MEIRELLES, Hely Lopes; ALEIXO, Délcio Balestero; FILHO, José Emmanuel Burle. Direito
Administrativo Brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2015. p. 146.
47
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev. atual. e
amp. São Paulo: Edita Atlas S.A., 2015. p. 48.
48
BRASIL. Lei nº 5.172, de 26 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e
institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172Compilado.htm# art218>. Acesso em: 20 ago 2015.
49
ALMEIDA, Ricardo Pontes de. Poder de Polícia: conceito, características e meios de atuação e
divisão no atual sistema administrativo brasileiro. Disponível em:
<http://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/20010-20011-1-PB.pdf>. Acesso em: 23 ago.
2015.
24

Assim, nota-se que o “[...] limite do poder de polícia é o atingimento da


finalidade legal em vista da qual foi instituída a medida de polícia”.50
Anne Clarissa Fernandes de Almeida Cunha explica:

Mesmo que o ato de polícia seja discricionário, a lei impõe alguns limites
quanto à competência, à forma, aos fins ou ao objeto. Quanto à
competência e procedimento (forma), observa-se as normas legais
pertinentes, a lei. Já em relação aos fins, o poder de polícia só deve ser
exercido para atender ao interesse público. A autoridade que fugir a esta
regra incidirá em desvio de poder e acarretará a nulidade do ato com todas
as conseqüências nas esferas civil, penal e administrativa. O fundamento do
poder de polícia é a predominância do interesse público sobre o particular,
logo, torna-se escuso qualquer beneficio em detrimento do interesse
público. Enquanto que o objeto (meio de ação), deve-se considerar o
princípio da proporcionalidade dos meios aos fins. O poder de polícia não
deve ir além do necessário para a satisfação do interesse público que visa
proteger; a sua finalidade é assegurar o exercício dos direitos individuais,
condicionando-os ao bem-estar social; só poderá reduzi-los quando em
conflito com interesses maiores da coletividade e na medida estritamente
51
necessária á consecução dos fins estatais.

Em síntese, o poder de polícia consiste, basicamente, em buscar uma


aliança entre as garantias fundamentais de cada cidadão, conforme assevera o art.
5º da CRFB/88, e o interesse social.52
Ainda assim, alguns estudiosos buscam definir critérios para que o poder
de polícia não suprima direitos individuais. Os critérios seriam quanto à eficácia, de
modo que a medida apropriada impeça o malefício ao interesse da sociedade,
quanto à proporção do ato, entre garantir o bem social e o prejuízo ao direito
individual e à necessidade da medida a ser tomada, a fim de obstar perturbações e
ameaças a coletividade.53
O Poder de Polícia tem uma extensão bastante ampla, a exemplo dos
Estados modernos, onde se encontram nas Polícias das Águas, Polícias Florestais,
Polícias de Trânsito, Polícias dos Meios de Comunicação, Polícia Sanitária e tantas

50
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Malheiros Editores Ltda, 2010. p. 843.
51
CUNHA, Anne Clarissa Fernandes de Almeida. Poder de Polícia: Discricionariedade e limites. In:
Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 84, jan 2011. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8930>. Acesso em: 23 ago.
2015.
52
MEIRELLES, Hely Lopes; ALEIXO, Délcio Balestero; FILHO, José Emmanuel Burle. Direito
Administrativo Brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2015. p. 146.
53
PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A.,
2015. p. 127.
25

outras.54 Por esses órgãos possuírem o poder de polícia, que fiscaliza e restringe
bens e direitos do cidadão, em prol do bem comum, são também denominadas de
polícia administrativa, a qual será melhor estudada na próxima seção.

2.3.2 Polícia administrativa e polícia judiciária

Antes de fazer um estudo mais aprofundado acerca das polícias


administrativa e judiciária, é importante destacar, de forma sintética, a principal
diferença entre ambas, bem como o conceito.
A polícia administrativa, ou poder de polícia, “[...] incide sobre bens,
direitos e atividades, é inerente e se difunde por toda a Administração [...]”, ao passo
que a polícia judiciária “[...] atua especificamente sobre pessoas, individualmente ou
indiscriminadamente, sendo privativa de determinados órgãos (Polícia Civil, Polícia
Militar, Guarda Municipal).”55
A polícia administrativa não é um órgão, mas uma atividade da
Administração que fita a conservação da ordem pública de forma profilática,
obstando prováveis violações às normas. A polícia administrativa “[...] tanto pode
agir preventivamente, como repressivamente. Em ambas as hipóteses, a sua função
é impedir que o comportamento do indivíduo cause prejuízos para a coletividade”.56
Deve-se exprimir que a polícia administrativa é uma função que termina
em si mesmo. Ocorre toda dentro da esfera administrativa, e é executada por órgãos
administrativos, de caráter fiscalizador. Como compete à polícia administrativa
impedir que o dano social ocorra, ela cobre-se de modo preventivo, isto é, atua
procurando evitar acontecimentos lesivos à sociedade.57
Sobre o tema, Celso Antonio Bandeira de Mello ensina:

Costuma-se, mesmo, afirmar que se distingue a polícia administrativa da


polícia judiciária com base no caráter preventivo da primeira e repressivo da

54
MEIRELLES, Hely Lopes; ALEIXO, Délcio Balestero; FILHO, José Emmanuel Burle. Direito
Administrativo Brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2015. p. 151.
55
MEIRELLES, Hely Lopes; ALEIXO, Délcio Balestero; FILHO, José Emmanuel Burle. Direito
Administrativo Brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2015. p. 147.
56
CUNHA, Anne Clarissa Fernandes de Almeida. Poder de Polícia: Discricionariedade e limites. In:
Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 84, jan 2011. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8930>. Acesso em: 23 ago.
2015.
57
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev. atual. e
amp. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2015. p. 83.
26

segunda. Esta última seria a atividade desenvolvida por organismo — o da


polícia de segurança — que cumularia funções próprias da policia
administrativa com a função de reprimir a atividade dos delinquentes
através da instrução policial criminal e captura dos infratores da lei penal,
atividades que qualificariam a policia judiciária. Seu traço característico
seria o cunho repressivo, em oposição ao preventivo, tipificador da policia
58
administrativa.

Ainda em relação às diferenças entre polícia administrativa e polícia


judiciária, Celso Ribeiro Bastos apregoa:

Diferenciam-se ainda ambas as polícias pelo fato de que o ato fundado na


polícia administrativa exaure-se nele mesmo. Dada uma injunção, ou
emanada uma autorização, encontra-se justificados os respectivos atos, não
precisando ir buscar o seu fundamento em nenhum ato futuro. A polícia
judiciária busca seu assento em razões estranhas ao próprio ato que
pratica. A perquirição de um dado acontecimento só se justifica pela
intenção de futuramente submetê-lo ao Poder Judiciário. Desaparecida esta
59
circunstância, esvazia-se igualmente a competência para a prática do ato.

Cabe ainda destacar, quanto à distinção, entre polícia administrativa e


polícia judiciária que “[...] a segunda rege-se na conformidade da legislação
processual penal e a primeira pelas normas administrativas”.60
Diferentemente da polícia administrativa, a natureza da polícia judiciária é
constantemente repressiva, pois tem como função prioritária acusar criminalmente o
cidadão que tenha cometido determinado crime61, ou seja, ela objetiva prevenir a
realização de práticas proibidas pelo direito; o que acontece, de fato, é que o Estado
e o Poder Judiciário são auxiliados pela polícia judiciária na prevenção e repressão
dos crimes.62
A polícia judiciária organiza o desenvolvimento da persecução penal,
previsto nos arts. 4º e seguintes do Código de Processo Penal (CPP), e é realizada

58
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Malheiros Editores Ltda, 2010. p. 834.
59
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p.
153.
60
RIBEIRO, Mário Fernando Carvalho. Do poder de polícia no direito brasileiro. Breves
apontamentos. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XI, n. 59, nov 2008. Disponível em:
<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4637>.
Acesso em: 07 set. 2015.
61
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev. atual. e
amp. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2015. p. 83.
62
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 4. ed. São Paulo: Revista dos tribunais,
2000. p. 392.
27

pelos órgãos de segurança (Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Guarda
Municipal).63
Nessa senda, são clarividentes as diferenças entre polícia administrativa
e polícia judiciária. A doutrinadora e professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro
consagra:

A primeira se rege pelo Direito Administrativo, incidindo sobre bens, direitos


ou atividades; a segunda, pelo direito processual penal, incidindo sobre
pessoas. Outra diferença: a polícia judiciária é privativa de corporações
especializadas (polícia civil e militar) enquanto a polícia administrativa se
reparte entre diversos órgãos da Administração, incluindo, além da própria
polícia militar, os vários órgãos de fiscalização aos quais a lei atribua esse
mister, como os que atuam nas áreas da saúde, educação, trabalho,
64
Previdência e assistência social.

O que então abarca a principal diferença entre polícia administrativa e


polícia judiciária é que esta se motiva em identificar a responsabilizar os
transgressores da lei, enquanto que aquela se molda a bloquear ou estancar atos
antissociais.65
É necessário, ainda, informar que tal diferença não é incondicional, como
ocorre no cotidiano da Administração Pública. Agentes públicos (da polícia
administrativa) quando embargam um comércio por não estar cumprindo com seus
deveres conforme legislação, ou quando apreendem objetos obtidos de maneira
ilegal, estão agindo de forma repressiva. Outro caso ocorre quando agentes da
polícia judiciária exercem atividades de forma preventiva, objetivando impedir algum
ato ilícito.66
Nesse contexto, é límpido observar que a atividade de polícia
administrativa é bastante distinta da atividade de polícia judiciária. A polícia
administrativa atua de forma preventiva, com o fito de obstar o acontecimento de
algum fato ilícito. Por outro lado, se o fato ilícito ocorre, cabe então à atividade
policial judiciária reprimir o ocorrido, para que, após a devida investigação,

63
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev. atual. e
amp. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2015. p. 83.
64
PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A.,
2015. p. 125-126..
65
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo:
Malheiros Editores Ltda, 2010. p. 835.
66
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev. atual. e
amp. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2015. p. 83.
28

apresente ao Poder Judiciário os indícios de autoria, e leve o autor dos fatos a


julgamento.67
Ratifica-se, então, que quando se fala em Administração Pública, faz-se
menção ao conjunto de atividades que o Estado desempenha a fim de satisfazer o
interesse da coletividade, principalmente por meio do instituto poder de polícia e,
justamente, por buscar atender aos interesses da sociedade, ela (Administração
Pública) deve atuar com excelência, e, para tanto, deve se atentar aos princípios
que a norteiam: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.68
Dessa forma, torna-se imperioso, no próximo capítulo, compreender
melhor o instituto segurança pública, previsto na CRFB/88, uma vez que é ele quem
prima pela ordem pública e pela seguridade da sociedade.

67
FERREIRA, Daniel Barcelos. Polícia Civil: A Distinção Entre Investigação Criminal E Funções De
Polícia Judiciária. 2013. Disponível em: <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=10408>.
Acesso em: 24 set. 2015.
68
BARLACH, Bruna. Administração Pública: Objetivos, Formas e Funções. Disponível em:
<http://www.fontedosaber.com/administracao/administracao-publica.html>. Acesso em: 24 set. 2015.
29

3 DA SEGURANÇA PÚBLICA E A POLÍCIA CIVIL

A Polícia Civil é uma das instituições discriminadas no rol do art. 144 da


CRFB/88, o qual trata dos órgãos da segurança pública. Neste sentido, o presente
capítulo monográfico trata da segurança pública e, em especial, a instituição Polícia
Civil, acerca de suas funções, atribuições, formas de ingresso, carreira e estrutura.

3.1 DA SEGURANÇA PÚBLICA

Antes de aprofundar o tema, é preciso saber quando surgiu a segurança


pública ou, ao menos, desde quando há registros sobre essa atividade exercida pelo
Estado, a qual incumbe, como já visto no capítulo anterior, a proteção da
coletividade.
Têm-se registros de que no Egito, os Faraós, por volta de 1.000 a.C,
possuíam um corpo de guardas particulares, os quais levavam consigo um bastão
com o nome do seu rei. Há também marcas de que na Roma Antiga, por volta do
século. V a.C, as atividades policiais e de fiscalização eram exercidas pelos Edis
(pessoas com cargo de cuidar da preservação das cidades) e Cônsules (cidadãos
que tinham a missão de impedir ataques à Roma).69
No século XVIII, surgiu nos Estados Unidos da América a Declaração de
Direitos da Virgínia, que preconiza em seu art. 3ª a proteção e segurança do povo. 70
Ainda no final do mesmo século, nasceu na França, juntamente com o estopim da
Revolução Francesa, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que
apregoa no art. 12 o uso da força pública para garantir os direitos do homem.71

69
MATTOS, Karina Denari Gomes de; SILVA, Alexandre Janólio Isidoro. A segurança pública na
esfera constitucional. Disponível em:
<http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1433/1369>. Acesso em: 10 set.
2015.
70
SÃO PAULO. Universidade de São Paulo – USP. Biblioteca Virtual de Direitos Humanos.
Declaração de direitos do bom povo de Virgínia – 1776. Disponível em:
<http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-
cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/declaracao-
de-direitos-do-bom-povo-de-virginia-1776.html>. Acesso em: 29 set. 2015.
71
SÃO PAULO. Universidade de São Paulo – USP. Biblioteca Virtual de Direitos Humanos.
Declaração de direitos do homem e do cidadão - 1789. Disponível em:
<http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-
cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/declaracao-
de-direitos-do-homem-e-do-cidadao-1789.html>. Acesso em: 29 set. 2015.
30

No Brasil, a segurança pública teve seu início no século XIX com a vinda
da família real portuguesa. No ano de 1808, surgiu a Intendência Geral da Polícia da
Corte e do Estado do Brasil, a qual desempenhava a função de polícia judiciária, isto
é, estabelecia punições e realizava a fiscalização destas. Ademais, esta polícia
também realizava diversas atividades como iluminação, obras, abastecimento de
água. Em meados do mesmo século surgem as Guardas Municipais Voluntários
Permanentes, em cada província, com o objetivo de capturar criminosos e escravos,
bem como realizar patrulhas. Nesse período, a segurança pública era voltada a
atender aos interesses da aristocracia rural.72
Do período republicano, de 1889, até o ano de 1930, a segurança pública
permaneceu atendendo aos interesses privados, das classes de maior poder
econômico. Já de 1930, até o fim do Regime Militar, em 1985, imperava a ditadura e
a segurança pública possuía índole de Segurança Nacional.73
Somente em 1988 é que se promulgou a CRFB/88, a qual trouxe no caput
do art. 144 que “a segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, é exercida para a preservação da ordem pública [...]”74. Nota-se, facilmente,
que a CRFB/88 traz “[...] a previsão legal de uma gestão compartilhada da
Segurança Pública com a sociedade, com ênfase ao respeito aos Direitos
Humanos”.75
Acerca do tema, Emerson Clayton Rosa Santos explana:

A segurança pública enquanto atividade desenvolvida pelo Estado é


responsável por empreender ações de repressão e oferecer estímulos
ativos para que os cidadãos possam conviver, trabalhar, produzir e se
divertir, protegendo-os dos riscos a que estão expostos. As instituições
responsáveis por essa atividade atuam no sentido de inibir, neutralizar ou

72
CRUZ, Gleice Bello da. A historicidade da segurança pública no Brasil e os desafios da
participação popular. Disponível em: <http://www.isp.rj.gov.br/revista/download/Rev20130403.pdf>.
Acesso em: 10 set. 2015.
73
PEDERZINI, Margareth Gonçalves. Breves análises da evolução histórica da segurança
pública no Brasil. Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/breves-analises-da-evolucao-
historica-da-seguranca-publica-no-brasil/71746/>. Acesso em: 10 set. 2015.
74
BRASIL. Constituição da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 10 set.
2015.
75
SOUSA, Reginaldo Canuto de; MORAIS, Maria do Socorro Almeida de. Polícia e Sociedade: uma
análise da história da segurança pública brasileira. Disponível em:
<http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2011/CdVjornada/jornada_eixo_2011/poder_violencia_e_p
oliticas_publicas/policia_e_sociedade_uma_analise_da_historia_da_seguranca_publica_brasileira.pdf
>. Acesso em: 10 set. 2015.
31

reprimir a prática de atos socialmente reprováveis, assegurando a proteção


76
coletiva e, por extensão, dos bens e serviços.

Nessa senda, o Delegado de Polícia e Doutrinador Carlos Fernando Priolli


L’apiccirella, acerca de segurança pública, também assevera:

É o afastamento, por meio de organizações próprias, de todo perigo ou de


todo mal que possa afetar a ordem pública, em prejuízo da vida, da
liberdade ou dos direitos de propriedade de cada cidadão. A segurança
pública, assim, limita a liberdade individual, estabelecendo que a liberdade
de cada cidadão, mesmo em fazer aquilo que a lei não lhe veda, não pode
77
turbar a liberdade assegurada aos demais, ofendendo-a.

Quanto à ordem pública, que está expressa no caput do art. 144 da Carta
Magna vigente, bem como citada pelos doutrinadores, é organizada pela CRFB/88 e
pelas leis vigentes. Manter a ordem pública é conservar o ordenamento jurídico
positivado, isto é, quando a CRFB/88 “[...] confere às autoridades policiais o dever
de preservar a ordem pública, não está, senão, lhes incumbindo da função de
manter e promover a ordem republicana, assentada no respeito à legalidade e aos
direitos fundamentais.”78
Diante do breve escorço histórico, e do que foi apresentado acerca da
segurança pública, é clarividente que seu exercício, além de estar presente desde
as antigas civilizações, é um importante meio de manutenção do equilíbrio e do
convívio social.79
Dessa forma, faz-se necessário conhecer os órgãos brasileiros
responsáveis a promover a segurança pública, à luz do art. 144 da CRFB/88.

3.2 DOS ÓRGÃOS DA SEGURANÇA PÚBLICA

76
SANTOS, Emerson Clayton Rosa. Conceitos de segurança pública. Disponível em:
<http://br.monografias.com/trabalhos2/seguranca-publica/seguranca-publica.shtml>. Acesso em: 10
set. 2015.
77
L’APICCIRELLA, Carlos Fernando Priolli. Segurança pública. Disponível em:
<http://www.cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_20/seguranca.html>. Acesso em: 10 set. 2015.
78
NETO, Cláudio Pereira de Souza. A segurança pública na Constituição Federal de 1988:
conceituação constitucionalmente adequada,competências federativas e orgãos de execução das
políticas. Disponível em:
<http://www.oab.org.br/editora/revista/users/revista/1205505974174218181901.pdf>. Acesso em: 10
set. 2015.
79
MATTOS, Karina Denari Gomes de; SILVA, Alexandre Janólio Isidoro. A segurança pública na
esfera constitucional. Disponível em:
<http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1433/1369>. Acesso em: 10 set.
2015.
32

Visto que a segurança pública, em suma, prima pela manutenção da


ordem pública, isto é, pela paz social e o bem do interesse coletivo, a CRFB/88
trouxe em seu art. 144, de forma taxativa, os órgãos responsáveis a exercer a
atividade segurança pública. Prevê a CRFB/88:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade


de todos, é exercida [...] através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
80
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

A CRFB/88, além de inserir os órgãos responsáveis pelo exercício da


segurança pública, completa, em seus parágrafos seguintes, as atribuições
inerentes a cada instituição.
Falando inicialmente da Polícia Federal (PF), esta tem suas atribuições
definidas, de maneira bem sucinta, no §1º do art. 144 da CRFB/88, o qual apregoa:

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado


e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades
autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática
tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme,
segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros
órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
81
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

No entanto, há diversas outras atribuições da PF em leis esparsas, a


exemplo da Lei nº 10.863/2003, a qual preconiza no §7º do art. 27 o que segue:

Art. 27. [...]


§ 7º Caberá ao Departamento de Polícia Federal, inclusive mediante a ação
policial necessária, coibir a turbação e o esbulho possessórios dos bens e
dos próprios da União e das entidades integrantes da Administração Pública

80
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil De 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 02 set.
2015.
81
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil De 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 02 set.
2015.
33

Federal indireta, sem prejuízo da responsabilidade das Polícias Militares


82
dos Estados pela manutenção da ordem pública.

Importante ainda mencionar a Lei nº 10.357/2001 (Fiscalização sobre


produtos químicos), onde apregoa em seu art. 3º que “Compete ao Departamento de
PF o controle e a fiscalização dos produtos químicos [...] e a aplicação das sanções
administrativas decorrentes”83, bem como a Lei nº 10.826/2003 (Estatuto de
Desarmamento) que dá à PF a função de controle acerca das armas de fogo em
território nacional:

Art. 1º O Sistema Nacional de Armas – Sinarm, instituído no Ministério da


Justiça, no âmbito da Polícia Federal, tem circunscrição em todo o território
nacional.
Art. 2º Ao Sinarm compete:
I – [...]
II – cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas no País;
III – cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo e as renovações
84
expedidas pela Polícia Federal;

Salienta-se também que a PF possui a Portaria nº 2877/2011, a qual


elenca as atribuições deste órgão, no entanto, referidas atribuições são as mesmas
previstas na CRFB/88 e na, já citada, Lei nº 10.863/2003, motivo pelo qual não
serão, novamente, expostas no presente trabalho.
Nesse diapasão, nota-se que a PF exerce a atividade de polícia judiciária,
quando da investigação, prevenção e repressão de crimes contra a União, como
também exerce atividades de polícia administrativa, a exemplo da fiscalização de
produtos químicos, quanto do cadastro e controle de armas de fogo em território
nacional.
Já no art. 144, II, da CRFB/88, tem-se a Polícia Rodoviária Federal (PRF),
que tem suas atribuições definidas no §2º do mesmo artigo, e que leciona “A Polícia

82 o
BRASIL. Lei n 10.683, de 28 de maio de 2003. Dispõe sobre a organização da Presidência da
República e dos Ministérios, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.683.htm>. Acesso em: 02 set. 2015.
83
BRASIL. Lei nº 10.357, de 27 de dezembro de 2001. Estabelece normas de controle e fiscalização
sobre produtos químicos que direta ou indiretamente possam ser destinados à elaboração ilícita de
substâncias entorpecentes, psicotrópicas ou que determinem dependência física ou psíquica, e dá
outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10357.htm>. Acesso em: 12 set. 2015.
84
BRASIL. Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003. Dispõe sobre registro, posse e
comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas – Sinarm, define
crimes e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.826.htm>. Acesso em: 12 set. 2015.
34

Rodoviária Federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União, destina-


se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais”.85
No entanto, outras atribuições à PRF são previstas na Lei nº 9.503/97
(Código de Trânsito Brasileiro), a qual em seu art. 20 assevera:

Art. 20. Compete à Polícia Rodoviária Federal, no âmbito das rodovias e


estradas federais:
I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito
de suas atribuições;
II - realizar o patrulhamento ostensivo, executando operações relacionadas
com a segurança pública, com o objetivo de preservar a ordem,
incolumidade das pessoas, o patrimônio da União e o de terceiros;
III - aplicar e arrecadar as multas impostas por infrações de trânsito, as
medidas administrativas decorrentes e os valores provenientes de estada e
remoção de veículos, objetos, animais e escolta de veículos de cargas
superdimensionadas ou perigosas;
IV - efetuar levantamento dos locais de acidentes de trânsito e dos serviços
de atendimento, socorro e salvamento de vítimas;
V - credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar medidas de
segurança relativas aos serviços de remoção de veículos, escolta e
transporte de carga indivisível;
VI - assegurar a livre circulação nas rodovias federais, podendo solicitar ao
órgão rodoviário a adoção de medidas emergenciais, e zelar pelo
cumprimento das normas legais relativas ao direito de vizinhança,
promovendo a interdição de construções e instalações não autorizadas;
VII - coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre acidentes de
trânsito e suas causas, adotando ou indicando medidas operacionais
preventivas e encaminhando-os ao órgão rodoviário federal;
VIII - implementar as medidas da Política Nacional de Segurança e
Educação de Trânsito;
IX - promover e participar de projetos e programas de educação e
segurança, de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo CONTRAN;
X - integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito
para fins de arrecadação e compensação de multas impostas na área de
sua competência, com vistas à unificação do licenciamento, à simplificação
e à celeridade das transferências de veículos e de prontuários de
condutores de uma para outra unidade da Federação;
XI - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído produzidos pelos
veículos automotores ou pela sua carga, de acordo com o estabelecido no
art. 66, além de dar apoio, quando solicitado, às ações específicas dos
86
órgãos ambientais.

Nesse sentido, é facilmente observado que a PRF exerce atividades


típicas de polícia administrativa, por meio do patrulhamento ostensivo/preventivo nas

85
BRASIL. Constituição da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 02 set.
2015.
86
BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9503.htm>. Acesso em: 14 set. 2015.
35

rodovias federais, que tem como fito manter o cumprimento das leis de trânsito, inibir
acidentes e garantir aos cidadãos o direito de ir e vir. 87
No inciso III do art. 144 da CRFB/88, tem-se a Polícia Ferroviária Federal
(PFF), com suas atribuições firmadas no §3º do mesmo artigo, o qual preconiza: “A
Polícia Ferroviária Federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das
ferrovias federais”. 88
Criada em 1852 no Império de D. Pedro II, a PFF, inicialmente chamada
de Polícia das Estradas de Ferro, foi a primeira polícia com especialização do Brasil,
e teve sua regulamentação por meio do Decreto nº 1930, de 26 de abril de 1857. No
entanto, seu último concurso público ocorreu no ano de 1989, e por conta de
aposentadorias, exonerações e remanejamentos, houve um esvaziamento de
funcionários e uma consequente desocupação institucional.89
Diante dessa conjuntura, “[...] a fiscalização e prevenção de acidentes nas
ferrovias que deveria ser função destes profissionais, acabam na prática, sendo
realizada por outras instituições [...] e por seguranças privados”.90 Em outras
palavras, é uma polícia que, conforme a CRFB/88, deveria existir, mas que na
prática não se observa.
Positivada no inciso IV, do art. 144 da CRFB/88, têm-se as Polícias Civis
(PC) dos Estados, com suas atribuições destacadas no §4º do mesmo artigo. No
entanto, como a PC é objeto específico de estudo do presente trabalho, será melhor
compreendida nas seções seguintes.
Ainda no rol de órgãos responsáveis pela segurança pública,
discriminados no art. 144 da CRFB/88, tem-se no inciso V as Polícias Militares (PM)
e Corpos de Bombeiros Militares (CBM). Suas atribuições constitucionais estão

87
MISSIUNAS, Rafael de Carvalho. As polícias judiciárias e as administrativas no Brasil. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, XII, n. 62, mar 2009. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5950>. Acesso em: 14 set.
2015.
88
BRASIL. Constituição da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 14 set.
2015.
89
MISSIUNAS, Rafael de Carvalho. As polícias judiciárias e as administrativas no Brasil. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, XII, n. 62, mar 2009. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5950>. Acesso em: 14 set.
2015.
90
CARVALHO, Claudio Frederico de. O policiamento ostensivo preventivo e sua formação
profissional jurídica. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7111/O-
policiamento-ostensivo-preventivo-e-sua-formacao-profissional-juridica >. Acesso em: 15 set. 2015.
36

previstas no §5º do mesmo artigo, o qual reserva que: “Às polícias militares cabem a
polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros
militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades
de defesa civil.”91 Elas são órgãos de atuação estadual, sendo organizadas e
mantidas pelo Governo de sua unidade federativa. De exceção, tem-se a PM e CBM
do Distrito Federal, os quais são mantidos e organizados pela União, conforme
sanciona o art. 21, XIV da CRFB/88. 92
Além das atribuições elencadas no §5º do art. 144 da CRFB/88, à PM
incumbe a instauração do Inquérito Policial Militar, para apuração de fatos que
caracterizem crimes militares, o qual “tem o caráter de instrução provisória, cuja
finalidade precípua é a de ministrar elementos necessários à propositura da ação
penal”93, consoante o art. 9º do Código de Processo Penal Militar.
A PM e CBM ainda possuem uma característica bastante peculiar,
diferente de todos os outros órgãos de segurança pública, que é o fato de serem
forças auxiliares e reserva do exército.
Acerca do tema, o jurista Paulo Tadeu Rodrigues da Rosa ensina:

Os integrantes das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares


são agentes de segurança pública, mas estas instituições por força do
disposto no art. 144, § 6.º, da C.F, são forças auxiliares e reserva do
Exército. Isso significa que em caso de estado de emergência ou estado
de sítio, ou em decorrência de uma guerra, os integrantes destas
corporações poderão ser requisitados pelo Exército para exercerem
94
funções diversas da área de segurança pública.

Nesse sentido, é inegável que a PM e CBM atuam basilarmente como


polícia administrativa, seja pela manutenção da ordem pública, seja pelo
policiamento preventivo. Ademais, é necessário lembrar que a PM também exerce
atividade de polícia judiciária, na instrução de Inquérito Policial Militar, tendo em

91
BRASIL. Constituição da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 15 set.
2015.
92
MISSIUNAS, Rafael de Carvalho. As polícias judiciárias e as administrativas no Brasil. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, XII, n. 62, mar 2009. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5950>. Acesso em: 14 set.
2015.
93
BRASIL. Decreto-Lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969. Código de Processo Penal Militar.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1002.htm >. Acesso em: 15 set.
2015.
94
ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues da. Polícia Militar e suas atribuições. Disponível em:
<http://www.advogado.adv.br/direitomilitar/ano2001/pthadeu/pmatribuicoes.htm>. Acesso em: 15 set.
2015.
37

vista que atua como auxiliar do Poder Judiciário na apuração do fato criminoso, in
casu, do crime militar.95
A CRFB/88 ainda dispõe aos municípios a possibilidade destes criarem
guardas municipais (GM), que apesar de não estarem no rol de órgãos responsáveis
pela segurança pública, estão previstas no §8º do art. 144, o qual preconiza: “Os
Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus
bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei”. 96
No ano de 2014, foi sancionada a Lei nº 13.022, a qual trata do Estatuto
Geral das Guardas Municipais, e no seu art. 4º são previstas suas competências
gerais:

Art. 4º É competência geral das guardas municipais a proteção de bens,


serviços, logradouros públicos municipais e instalações do Município.
Parágrafo único. Os bens mencionados no caput abrangem os de uso
97
comum, os de uso especial e os dominiais.

Nota-se, então, que a GM quando criada, conforme dispõe seu estatuto


geral, bem como a previsão da CRFB/88, possui atividade essencialmente de polícia
administrativa, haja vista que tem como atribuição primordial a proteção de bens e
serviços, objetivando o bem da coletividade.98
Com os órgãos acima mencionados (inclusive a Polícia Civil, que será
melhor compreendida nas seções seguintes), a CRFB/88 tenta buscar a ordem
pública, a paz social, isto é, busca cumprir os supraprincípios da Administração
Pública: a supremacia e indisponibilidade do interesse público.

3.3 DA POLÍCIA CIVIL

95
MISSIUNAS, Rafael de Carvalho. As polícias judiciárias e as administrativas no Brasil. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, XII, n. 62, mar 2009. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5950>. Acesso em: 14 set.
2015.
96
MISSIUNAS, Rafael de Carvalho. As polícias judiciárias e as administrativas no Brasil. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, XII, n. 62, mar 2009. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5950>. Acesso em: 14 set.
2015.
97
BRASIL. Lei nº 13.022, de 8 de agosto de 2014. Dispõe sobre o Estatuto Geral das Guardas
Municipais. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Lei/L13022.htm>. Acesso em: 15 Set. 2015.
98
MISSIUNAS, Rafael de Carvalho. As polícias judiciárias e as administrativas no Brasil.
Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5950>. Acesso em: 14 set.
2015.
38

Sendo a Polícia Civil (PC) o enfoque desta pesquisa, nesta seção ela será
melhor compreendida. Qual o procedimento a ser adotado para ingresso no órgão, a
carreira, atribuições e funções, bem como sua estrutura, serão os aspectos
estudados acerca do referido órgão de segurança pública.

3.3.1 Funções e atribuições

Subordinada aos “[...] Governadores dos Estados, do Distrito Federal e


dos Territórios” 99, conforme prevê o §6º do art. 144 da CRFB/88, tendo por exceção
a PC do Distrito Federal, a qual é organizada e mantida pela União, de acordo com o
art. 21, XIV da CRFB/88, a PC possui suas atribuições definidas em diversas leis. 100
Seguindo uma ordem de hierarquia legislativa, acerca das atividades
inerentes à PC, é imperioso citar, inicialmente, a lei maior do ordenamento jurídico
brasileiro, a CRFB/88, que consagra, no §4º do art. 144, as atribuições
constitucionais da PC, a qual define: “Às polícias civis, dirigidas por delegados de
polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de
polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”.101
Partindo do fato de que a PC de seu respectivo Estado possui uma
normativa específica, esta pesquisa tem como base a Polícia Civil do Estado de
Santa Catarina (PC/SC), pois é em território catarinense que este trabalho é
construído.
Acerca da PC/SC, a Constituição do Estado de Santa Catarina (CESC/89)
confere lhe outras atribuições, que não estão definidas na CRFB/88, as quais sejam:

Art. 106 — A Polícia Civil, dirigida por delegado de polícia, subordina-se ao


Governador do Estado, cabendo-lhe:
I - ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a
apuração das infrações penais, exceto as militares;

99
BRASIL. Constituição da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 16 set.
2015.
100
MISSIUNAS, Rafael de Carvalho. As polícias judiciárias e as administrativas no Brasil. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, XII, n. 62, mar 2009. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5950>. Acesso em: 14 set.
2015.
101
BRASIL. Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 16 set.
2015.
39

II - (revogado – EC 39)
III - a execução dos serviços administrativos de trânsito;
IV - a supervisão dos serviços de segurança privada;
V - o controle da propriedade e uso de armas, munições, explosivos e
outros produtos controlados;
102
VI - a fiscalização de jogos e diversões públicas.

A PC/SC também tem, ainda, suas competências definidas na Lei nº


6.843/86 (Estatuto da Polícia Civil do Estado de Santa Catarina), que dispõe em seu
art. 3º e incisos:

Art. 3º - A Polícia Civil, compete:


I - prevenir, reprimir e apurar os crimes e contravenções, na forma da
legislação em vigor;
II - coordenar e executar as atividades relativas à Polícia Administrativa e
103
Polícia Técnica e Científica.

Dessa forma, nota-se que compete à PC, subordinada ao governo do


Estado, intentar o cumprimento da legislação vigente e executar as atividades
investigatórias, isto é, buscar identificar a autoria do fato criminoso praticado em
desfavor do patrimônio, da pessoa e da ordem econômica.104
Acerca do tema, o jurista Rafael de Carvalho Missiunas ensina:

Observando as funções da Polícia Civil, podemos afirmar que se tratam


basicamente de atividades típicas de polícia judiciária, com o objetivo de
buscar a autoria e a materialidade dos crimes, para que o Ministério Público
Estadual, o titular da ação penal, possa ter os elementos necessários para a
propositura da denúncia. Então, na maioria das vezes, a Polícia Civil
trabalhará como órgão auxiliar ao Poder Judiciário, buscando dar condições
105
para a decisão dos fatos.

A atividade polícia judiciária tem o caráter de uma atividade policial que se


abstém do policiamento ostensivo (característico da Polícia Militar, que fardada

102
SANTA CATARINA. Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível em:
<http://www.alesc.sc.gov.br/portal_alesc/sites/default/files/CESC_2013_67_e_68_emds.pdf>. Acesso
em: 16 set. 2015.
103
SANTA CATARINA. Lei nº 6.843, de 28 de julho de 1986. Dispõe sobre o Estatuto da Polícia Civil
do Estado de Santa Catarina. Disponível em:
<http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/cat_view/1-legislacao/2-policia-civil>. Acesso em:
20 set. 2015.
104
PORTAL BRASIL. Defesa e Segurança: polícias. 2012. Disponível em:
<http://www.brasil.gov.br/defesa-e-seguranca/2012/04/policias-federal-civil-e-militar>. Acesso em 20
set. 2015.
105
MISSIUNAS, Rafael de Carvalho. As polícias judiciárias e as administrativas no Brasil. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, XII, n. 62, mar 2009. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5950>. Acesso em: 14 set.
2015.
40

busca a segurança das ruas), e sim de investigar, destinada a obter elementos de


prova para o Ministério Público e, fundamentalmente, a fim de que o Poder Judiciário
julgue futuramente.106
Nesse mesmo sentido, o doutrinador Paulo Tadeu Rodrigues da Rosa
ensina que a atividade fim, executada pela PC, é a de polícia judiciária, que busca a
materialidade do ato criminoso, bem como a identificação da autoria, visando prover
ao Ministério Público subsídios imprescindíveis, para que este possa oferecer
denúncia ou queixa-crime em desfavor do autor do delito.107
Como a PC realiza as atividades investigatórias, para isso é necessário,
logicamente, que o crime já tenha ocorrido. Após a prática de determinado delito, é
deflagrado um “[...] procedimento administrativo (Inquérito policial), voltado para
busca da certeza material da existência do crime, bem como assim de quem seja
seu autor”.108
Acerca do inquérito Policial, o Código de Processo Penal (CPP), em seu
art. 5º, preconiza:

Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:


I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou
a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
[...]
§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
representação, não poderá sem ela ser iniciado.
§ 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá
proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-
109
la.

Observa-se, então, que para a Autoridade instaurar um inquérito policial,


ele precisa, obviamente, ser cientificada da ocorrência do crime. Essa ciência
ocorre, comumente, nas próprias dependências das delegacias de polícia, por
intermédio do Boletim de Ocorrência (BO). O BO “[...] é mera peça informativa,

106
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 2. ed. São Paulo:
Editora dos Tribunais, 2005. p. 123.
107
ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues da. Polícia Militar e suas atribuições. Disponível em:
<http://www.advogado.adv.br/direitomilitar/ano2001/pthadeu/pmatribuicoes.htm>. Acesso em: 15 set.
2015.
108
MENEZES, Rodolfo Rosa Telles. Diferenças entre o cargo de delegado de polícia civil e de oficial
da polícia militar. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 94, nov 2011. Disponível em:
<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10761>.
Acesso em: 19 set. 2015.
109
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 19 set.
2015.
41

lavrada a partir da notícia de prática delituosa, levada unilateralmente pela parte ao


conhecimento da autoridade policial”.110
O BO tem por finalidade principal a comunicação da ocorrência de um
fato criminoso, com a intenção de que a PC realize os procedimentos cabíveis, a fim
de encontrar provas para identificar o autor da infração penal.111
Dessa forma, tendo em vista que a PC “oficializa” a ocorrência do fato
criminoso, conduz as atividades investigatórias, e que suas conclusões, obtidas ao
fim do inquérito policial, são repassadas ao Ministério Público como elementos de
prova, a fim de permitir que a ação penal seja proposta, e que possam levar ao
julgamento o possível autor do crime, é importante que ela tenha os primeiros
contatos com o crime para evitar que os vestígios desapareçam.112
Ademais, além da função de polícia judiciária, a PC tem diversas outras
atribuições que ensejam caráter de polícia administrativa, a exemplo da PC/SC, que
possui a competência de execução de serviços administrativos de trânsito e
fiscalização de jogos e diversões, previstos, respectivamente, nos inc. III e VI do art.
106 da CESC/89.113 São atividades de polícia administrativa, porque, conforme já
exposto no capítulo anterior, visam a manutenção da ordem pública e o interesse da
coletividade.

3.3.2 A carreira policial civil e a forma de ingresso

No âmbito do Estado de Santa Catarina, quem deseja ingressar em algum


dos cargos da PC/SC deve inicialmente prestar concurso público, conforme
determina seu Estatuto no caput do art. 13:

110
SÃO PAULO. Tribunal Regional do Trabalho (Segunda Região). Recurso Ordinário: RecOrd
2022200244402000 SP 02022-2002-444-02-00-0. Relator: Juiz Ricardo Artur Costa e Trigueiros. São
Paulo, SÃO PAULO, 21 de janeiro de 2006. Disponível em: <http://trt-
2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7533475/recurso-ordinario-record-2022200244402000-sp-02022-
2002-444-02-00-0/inteiro-teor-13146409>. Acesso em: 20 set. 2015.
111
MEU ADVOGADO. Boletim de ocorrência, qual sua finalidade? 2012. Disponível em:
<http://www.meuadvogado.com.br/entenda/boletim-de-ocorrencia-qual-sua-finalidade.html>. Acesso
em: 19 set. 2015.
112
MILANESE, André Borges. O desvio de função nos cargos da polícia civil catarinense.
Disponível em: <http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/doc_view/17-o-desvio-de-funcao-
nos-cargos-da-policia-civil-catarinense>. Acesso em: 16 set. 2015.
113
SANTA CATARINA. Constituição Do Estado De Santa Catarina. Disponível em:
<http://www.alesc.sc.gov.br/portal_alesc/sites/default/files/CESC_2013_67_e_68_emds.pdf>. Acesso
em: 16 set. 2015.
42

Art. 13 - A investidura prevista nesta Lei, em cargo de provimento efetivo do


grupo: Polícia Civil, depende de aprovação prévia em concurso público de
provas e títulos, que inclui a habilitação em curso de formação profissional
114
promovido pela Academia de Polícia Civil – ACADEPOL.

Outrossim, a CESC/89, em seu art. 106, §2º, define que “Lei


complementar disporá sobre o ingresso, garantias, remuneração, organização e
estruturação das carreiras da Polícia Civil”.115
Diante da necessidade de uma Lei Complementar (LC) para definir
critérios, e dirimir quaisquer dúvidas, acerca da PC/SC, no ano de 2009 promulgou-
se a LC nº 453/2009, a qual dispõe em seu art. 33 sobre os requisitos básicos para
investidura aos cargos da PC/SC:

Art. 33. São requisitos básicos para o ingresso nas carreiras da Polícia Civil:
a) ser brasileiro;
b) ter no mínimo dezoito anos de idade;
c) estar quite com as obrigações eleitorais e militares;
d) não registrar sentença penal condenatória transitada em julgado;
e) estar em gozo dos direitos políticos;
f) ter conduta social ilibada;
g) ter capacidade física e aptidão psicológica compatíveis com o cargo
pretendido;
h) aptidão física plena;
i) possuir carteira nacional de habilitação; e
j) ser portador de diploma de nível superior nos cursos exigidos para o
116
cargo.

Em concordância com o Estatuto da PC/SC e a CESC/89, a LC nº


453/2009, traz em seu art. 28, e incisos, as fases (não necessariamente na ordem)
que o candidato do concurso público deve realizar, e obviamente ser aprovado, para
que seja considerado “habilitado” ao cargo a que presta o devido concurso:

Art. 28. A habilitação de candidatos aos cargos das carreiras da Polícia


Civil, obedecidas às especificações contidas no edital, será verificada em
concurso público, por meio das seguintes fases:
I - provas escritas, objetivas e/ou dissertativas;

114
SANTA CATARINA. Lei nº 6.843, de 28 de julho de 1986. Dispõe sobre o Estatuto da Polícia Civil
do Estado de Santa Catarina. Disponível em:
<http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/cat_view/1-legislacao/2-policia-civil>. Acesso em:
20 set. 2015.
115
SANTA CATARINA. Constituição do Estado De Santa Catarina. Disponível em:
<http://www.alesc.sc.gov.br/portal_alesc/sites/default/files/CESC_2013_67_e_68_emds.pdf>. Acesso
em: 16 set. 2015.
116
SANTA CATARINA. Lei Complementar nº 453, de 05 de agosto de 2009. Institui Plano de
Carreira do Grupo Segurança Pública - Polícia Civil, e adota outras providências. Disponível em:
<http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/doc_view/5-lei-complementar-n-453-de-05-de-
agosto-de-2009>. Acesso em: 20 set. 2015.
43

II - avaliação de títulos, específicos para a carreira à qual concorre o


candidato;
III - avaliação da aptidão psicológica vocacionada;
IV - prova de capacidade física;
V - exame toxicológico; e
VI - investigação social.
§ 1º Os requisitos para aprovação em cada uma das fases descritas neste
artigo, as modalidades das provas, seus conteúdos e formas de avaliação
serão estabelecidos no edital do concurso público, de acordo com as
117
exigências definidas nesta Lei Complementar e em legislação correlata.

Sendo então o candidato aprovado em todas as fases do concurso


público, e conforme houver a necessidade do Estado, será nomeado e na sequência
empossado, em sessão solene na Academia da Polícia Civil, onde já será
reconhecido como policial civil, tendo apenas que iniciar o curso de formação
policial.118
Após o término do curso de formação policial, o policial civil exercerá suas
funções na delegacia de polícia a qual for designado, conforme determina o art. 36
da LC nº 453/2009.119
Entendido o procedimento a ser adotado para ingressar na PC/SC, é
necessário conhecer as carreiras pertencentes a este órgão, uma vez que o
concurso público é específico para cada cargo.
A estruturação das carreiras da PC/SC está ordenada na LC nº 453/2009,
uma vez que o §2º do art. 106 da CESC/89 determina a criação de uma LC para
dispor sobre referida organização.120
A LC nº 453/2009 vem para definir, em seus arts. 2º e º3, os cargos
existentes dentro do quadro funcional da PC/SC.

Art. 2º Considera-se Autoridade Policial:

117
SANTA CATARINA. Lei Complementar nº 453, de 05 de agosto de 2009. Institui Plano de
Carreira do Grupo Segurança Pública - Polícia Civil, e adota outras providências. Disponível em:
<http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/doc_view/5-lei-complementar-n-453-de-05-de-
agosto-de-2009>. Acesso em: 20 set. 2015.
118
SANTA CATARINA. Lei nº 6.843, de 28 de julho de 1986. Dispõe sobre o Estatuto da Polícia Civil
do Estado de Santa Catarina. Disponível em:
<http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/cat_view/1-legislacao/2-policia-civil>. Acesso em:
20 set. 2015.
119
SANTA CATARINA. Lei Complementar nº 453, de 05 de agosto de 2009. Institui Plano de
Carreira do Grupo Segurança Pública - Polícia Civil, e adota outras providências. Disponível em:
<http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/doc_view/5-lei-complementar-n-453-de-05-de-
agosto-de-2009>. Acesso em: 20 set. 2015.
120
SANTA CATARINA. Constituição Do Estado De Santa Catarina. Disponível em:
<http://www.alesc.sc.gov.br/portal_alesc/sites/default/files/CESC_2013_67_e_68_emds.pdf>. Acesso
em: 16 set. 2015.
44

I - os Delegados de Polícia.
Art. 3º Considera-se Agentes da Autoridade Policial:
I - os Agentes de Polícia;
II - os Escrivães de Polícia; e
121
III - os Psicólogos Policiais.

A palavra delegado, do latim “delegatu”, significa “aquele que tem a seu


cargo serviço público dependente de autoridade superior”. 122 Ou seja, dentro da
PC/SC, conforme a própria LC nº 453/2009 determina, o cargo de Delegado de
Polícia é de autoridade.
Suas garantias e atribuições estão determinadas no art. 106 da CESC/89,
bem como no anexo VIII da LC 453/2009.
A CESC/89 prevê:

Art. 106 — A Polícia Civil, dirigida por delegado de polícia,


subordina-se ao Governador do Estado, cabendo-lhe:
[...]
§ 4º — O cargo de Delegado de Polícia Civil, privativo de bacharel em
Direito, exerce atribuição essencial à função jurisdicional do Estado e à
defesa da ordem jurídica, vedada a vinculação a quaisquer espécies
remuneratórias às demais carreiras jurídicas de Estado.
§ 5º — Aos Delegados de Polícia Civil é assegurada independência
123
funcional pela livre convicção nos atos de polícia judiciária.

Já o anexo VIII da LC nº 453/2009, em uma descrição sumária das


atribuições do Delegado de Polícia, institui:

Planejar, programar, organizar, dirigir, coordenar, supervisionar e controlar


as atividades de polícia judiciária, de apuração de infrações penais e de
polícia administrativa, no âmbito das suas atribuições constitucionais e
124
legais.

O Delegado de Polícia é quem preside o inquérito policial, angariando


elementos a fim de que o Ministério Público desencadeie o processo criminal.

121
SANTA CATARINA. Lei Complementar nº 453, de 05 de agosto de 2009. Institui Plano de
Carreira do Grupo Segurança Pública - Polícia Civil, e adota outras providências. Disponível em:
<http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/doc_view/5-lei-complementar-n-453-de-05-de-
agosto-de-2009>. Acesso em: 22 set. 2015.
122
MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em:
<http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php>. Acesso em: 22 set. 2015.
123
SANTA CATARINA. Constituição do Estado De Santa Catarina. Disponível em:
<http://www.alesc.sc.gov.br/portal_alesc/sites/default/files/CESC_2013_67_e_68_emds.pdf>. Acesso
em: 16 set. 2015.
124
SANTA CATARINA. Lei Complementar nº 453, de 05 de agosto de 2009. Institui Plano de
Carreira do Grupo Segurança Pública - Polícia Civil, e adota outras providências. Disponível em:
<http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/doc_view/5-lei-complementar-n-453-de-05-de-
agosto-de-2009>. Acesso em: 22 set. 2015.
45

Ademais, é o servidor/administrador incumbido de coordenar a PC do seu respectivo


Estado, estando evidente na CRFB/88 que se trata de um cargo de carreira, isto é,
para exercê-lo deve realizar concurso público direcionado para referida função.125
Há de se falar ainda que a PC só pode ser comandada por Delegado de
Polícia de carreira, ou seja, pertencente ao órgão, conforme é tratado na CRFB/88,
obstando que pessoas de fora sejam nomeadas pelo Governador para dirigi-las.126
Diz-se, então, que o Delegado de Polícia é “[...] a representação do
Estado – Administração que exerce o poder de polícia e de segurança [...]”, da
mesma forma que “[...] preside os atos da polícia judiciária e, como autoridade
administrativa, preside a Delegacia de Polícia, sendo que ele responde pelo regular
trabalho na repartição”.127
Quanto aos Agentes da Autoridade Policial, conforme assevera a LC nº
453/2009, tem-se, primeiramente, e não mais importante, o Agente de Polícia Civil.
Cumpre informar, primeiramente, que o Estatuto da PC/SC, em seus arts.
10 e 11, criou os cargos de Inspetor de Polícia, Comissário de Polícia, Investigador
Policial e Escrevente Policial,128 no entanto, a Lei nº 453/2009, em seus arts. 10, 11 e
12, criou o cargo Agente de Polícia Civil, para unificar essas carreiras, e em seu art.
13, passou a exigir o diploma de nível superior para ingresso na instituição, além,
obviamente, de aprovação em concurso público, conforme segue:

Art. 10. Fica criado o cargo de Agente de Polícia Civil, do Subgrupo Agente
da Autoridade Policial, do Quadro de Pessoal da Polícia Civil [...]
Art. 11. Ficam extintas as carreiras de Inspetor de Polícia, do Subgrupo
Técnico Científico, de Comissário de Polícia, Investigador Policial e
Escrevente Policial [...]

125
MENEZES, Rodolfo Rosa Telles. Diferenças entre o cargo de delegado de polícia civil e de oficial
da polícia militar. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 94, nov 2011. Disponível em:
<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10761>.
Acesso em: 19 set. 2015.
126
MISSIUNAS, Rafael de Carvalho. As polícias judiciárias e as administrativas no Brasil. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, XII, n. 62, mar 2009. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5950>. Acesso em: 14 set.
2015.
127
LOPES, Carina Deolinda da Silva. Procedimentos e atribuições do delegado de polícia e das
polícias judiciárias. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=3052 >. Acesso em: 19 set.
2015.
128
SANTA CATARINA. Lei nº 6.843, de 28 de julho de 1986. Dispõe sobre o Estatuto da Polícia Civil
do Estado de Santa Catarina. Disponível em:
<http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/cat_view/1-legislacao/2-policia-civil>. Acesso em:
20 set. 2015.
46

Art. 12. Os ocupantes dos cargos efetivos de Inspetor de Polícia,


Comissário de Polícia, Investigador Policial e Escrevente Policial serão
aproveitados no cargo efetivo de Agente de Polícia Civil [...]
Art. 13. O ingresso na carreira de Agente de Polícia Civil[...] dar-se-á
através de concurso [...] sendo requisito para a inscrição, comprovar o
129
candidato a conclusão de curso de nível superior[...].

O cargo Agente de Polícia Civil possui uma gama de atribuições, as quais


sejam: execução de atividades de polícia judiciária, polícia administrativa, execução
de investigações policiais sob a direção do Delegado de Polícia, elaborar relatórios
circunstanciados sobre investigação ou determinado fato, registrar ocorrências e
delitos quando levadas ao seu conhecimento e informar a autoridade policial,
cumprir mandados judiciais, etc.130
Em suma, a Agente de Polícia Civil opera na prevenção e repressão de
crimes e de infrações administrativas, no entanto, deve estar sempre sob a
coordenação do Delegado de Polícia. 131
O cargo Escrivão de Polícia, em geral, é responsável por executar os
protocolos processuais, reduzir a termo depoimentos, lavrar autos, mandados,
ordens de serviço emanadas pela autoridade policial, confeccionar o mapa
estatístico, executar mandado de condução coercitiva, confeccionar o boletim de
vida pregressa do acusado, entrevistar informantes, etc.132
Por cuidar de todos os documentos e objetos relativos a inquéritos
policiais, o Escrivão de Polícia também é chamado de oficial de cartório. No entanto,
ele não realiza apenas atividades cartorárias, pois também participa de atividades
policiais operacionais, compondo grupos mistos de Escrivães, Delegados e Agentes
de Polícia Civil, para, principalmente, cumprimento de decisões judiciais.133

129
SANTA CATARINA. Lei complementar nº 453, de 05 de agosto de 2009. Institui Plano de
Carreira do Grupo Segurança Pública - Polícia Civil, e adota outras providências. Disponível em:
<http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/doc_view/5-lei-complementar-n-453-de-05-de-
agosto-de-2009>. Acesso em: 22 set. 2015.
130
POLÍCIA FEDERAL. Requisitos e Atribuições dos Cargos da Carreira Policial Federal.
Disponível em: <http://www.dpf.gov.br/institucional/concursos/caracteristicas-dos-cargos/carreira-
policial/requisitos-e-atribuicoes-dos-cargos-da-carreira-policial-federal>. Acesso em: 22 set. 2015.
131
SANTA CATARINA. Lei complementar nº 453, de 05 de agosto de 2009. Institui Plano de
Carreira do Grupo Segurança Pública - Polícia Civil, e adota outras providências. Disponível em:
<http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/doc_view/5-lei-complementar-n-453-de-05-de-
agosto-de-2009>. Acesso em: 22 set. 2015.
132
POLÍCIA FEDERAL. Requisitos e Atribuições dos Cargos da Carreira Policial Federal.
Disponível em: <http://www.dpf.gov.br/institucional/concursos/caracteristicas-dos-cargos/carreira-
policial/requisitos-e-atribuicoes-dos-cargos-da-carreira-policial-federal>. Acesso em: 22 set. 2015.
133
UNIÃO DOS ESCRIVÃES DE POLÍCIA DE PERNAMBUCO. Atribuições dos Escrivães de
Polícia Civil. 2014. Disponível em: <http://www.uneppe.org.br/2014/07/atribuicoes-dos-escrivaes-de-
policia-civil/>. Acesso em: 22 set. 2015.
47

Por fim, e não menos importante, o cargo de Psicólogo Policial é privativo


do portador de diploma de Psicólogo com experiência profissional mínima de 05
(cinco) anos, e tem suas atribuições definidas no Anexo XI da LC nº 453/2009, quais
sejam: realizar avaliações psicológicas, inclusive quando solicitadas por outras
Secretarias de Estado, comparecer em locais de crime quando houver parte
emocionalmente alterada, promover a motivação dos profissionais que atuam na
segurança pública, participar de atividades e integrar comissões quando o assunto
for de interesse da segurança pública, etc.134
Em um campo de abrangência bastante grande de atuação do Psicólogo
Policial, a maior parte do tempo acaba se destinando à “[...] atividades específicas
de atendimento psicológico nas Delegacias de Proteção a Criança, ao Adolescente e
à Mulher, bem como de atendimento clínico a policiais civis e familiares”.135
Nesse sentido, pode-se extrair e afirmar que as carreiras Policiais Civis
atuais, independente de suas atribuições específicas, são voltadas a,
precipuamente, promover as atividades de polícia judiciária e administrativa,
prevenindo, apurando e reprimindo as contravenções penais e os crimes, a fim de
alcançar a paz na sociedade e, consequentemente, a satisfação da coletividade.

3.3.3 Estrutura da instituição

Na circunscrição do Estado de Santa Catarina, a PC/SC é órgão


pertencente, e subordinado, diretamente à Secretaria de Estado de Segurança
Pública.136
A PC/SC é administrada pela Delegacia Geral, sob o comando do
Delegado Geral (cargo este que só pode ser ocupado por Delegado de Polícia de
Carreira), o qual possui o cargo de maior relevância, pois se trata do administrador
geral da instituição, e ocorre por meio de nomeação pelo Governador do Estado,

134
SANTA CATARINA. Lei Complementar nº 453, de 05 de agosto de 2009. Institui Plano de
Carreira do Grupo Segurança Pública - Polícia Civil, e adota outras providências. Disponível em:
<http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/doc_view/5-lei-complementar-n-453-de-05-de-
agosto-de-2009>. Acesso em: 22 set. 2015.
135
MILANESE, André Borges. O desvio de função nos cargos da Polícia Civil catarinense.
Disponível em: <http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/doc_view/17-o-desvio-de-funcao-
nos-cargos-da-policia-civil-catarinense>. Acesso em: 16 set. 2015.
136
Secretaria de Estado da Segurança Pública. Mapa do Site. Disponível em:
<http://www.ssp.sc.gov.br/index.php?option=com_xmap&sitemap=1&Itemid=128>. Acesso em: 24
set. 2015.
48

como trata o §1º do art. 106 da CESC/89: “Art. 106 — [...] § 1º — O chefe da Polícia
Civil, nomeado pelo Governador do Estado, será escolhido dentre os delegados de
polícia”.137
Em igualdade hierárquica ao Delegado Geral, tem-se o Conselho Superior
de Polícia, com a competência de aconselhamento a Delegacia Geral,138 bem como
a responsabilidade pela estrita observância e fiel cumprimento dos objetivos e
princípios institucionais, e o Delegado Geral Adjunto, que age juntamente com o
Delegado Geral nas decisões institucionais, e é quem substitui o Delegado Geral na
ausência deste.139
Subordinadas à Delegacia Geral, encontram-se as Diretorias de Polícia e
Gerências. Em relação às Gerências, é importante falar da Gerência de Fiscalização
de Jogos e Diversões, a qual incumbe a expedição de Alvarás de Funcionamento
para estabelecimentos comerciais, festas, eventos, etc;140 e o Fundo de Melhoria Da
Polícia Civil – FUMPC, criado no ano de 2004, o qual é responsável pela compra de
equipamentos para as delegacias de polícia, bem como para os policiais, ou seja, é
a responsável pelo aparelhamento institucional.141
As Diretorias são divididas de acordo com sua funcionalidade e área de
abrangência, e também são coordenadas por Delegados de Polícia. A Diretoria de
Inteligência Policial – DIPC, com sede em Florianópolis/SC e circunscrição estadual,
executa, basicamente, a coleta, processamento e difusão de informações inerentes
à atividade policial, administra a delegacia eletrônica, onde são registradas as

137
SANTA CATARINA. Constituição do Estado De Santa Catarina. Disponível em:
<http://www.alesc.sc.gov.br/portal_alesc/sites/default/files/CESC_2013_67_e_68_emds.pdf>. Acesso
em: 16 set. 2015.
138
ASSOCIAÇÃO DOS DELEGADOS DE POLÍCIA DE SANTA CATARINA. O que diz o conselho
superior da polícia civil. Disponível em: <http://www.adepolsc.org.br/legislacao#detalhes>. Acesso
em: 24 set. 2015.
139
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Vídeo institucional. 2010. Disponível em:
<http://www.policiacivil.sc.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=62&Itemid=108>.
Acesso em: 24 set. 2015.
140
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Gerência Estadual de Fiscalização de
Jogos e Diversões Públicas. 2011. Disponível em:
<http://www.pc.sc.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1405&Itemid=99>. Acesso
em: 24 set. 2015.
141
SANTA CATARINA. Lei nº 13.239, de 27 de dezembro de 2004. Cria o Fundo de Melhoria da
Polícia Civil - FUMPC - e estabelece outras providências. Disponível em:
<http://www.leisestaduais.com.br/sc/lei-ordinaria-n-13239-2004-santa-catarina-cria-o-fundo-de-
melhoria-da-policia-civil-fumpc-e-estabelece-outras-providencias>. Acesso em: 24 set. 2015.
49

ocorrências via internet, e o disque denúncia, por meio do telefone 181, onde os
cidadãos podem telefonar e repassar informações a PC/SC, com absoluto sigilo. 142
Tem-se ainda a Academia da Polícia Civil – ACADEPOL, com sede em
Florianópolis/SC, a qual tem por função precípua a formação e o aperfeiçoamento
profissional dos policiais civis; a Corregedoria, com sede em Florianópolis/SC, que
tem por finalidade orientação e correição dos policiais. É a Corregedoria que apura
as infrações cometidas pelos policiais civis, por meio do processo administrativo. 143
Compete ainda à Delegacia Geral e a Diretoria de Polícia de Fronteira –
DIFRON supervisionarem o Serviço Aeropolicial – SAER e o Serviço Aeropolicial de
Fronteira – SAER Fron, respectivamente, conforme asseveram os arts. 1º e 2º do
Decreto nº 2.260/2014. Ademais, o art. 3º do mesmo dispositivo legal disciplina as
atribuições dessas duas unidades policiais.

Art. 1º Fica instituído, no âmbito da Polícia Civil do Estado, o Serviço


Aeropolicial (SAER), diretamente subordinado à Delegacia Geral da Polícia
Civil (DGPC), com sede administrativo-operacional no Município de São
José.
Art. 2º Fica instituído ainda o Serviço Aeropolicial de Fronteira (SAER-Fron),
unidade policial localizada no Município de Chapecó, subordinada à
Diretoria de Polícia de Fronteira [...].
Art. 3º Compete ao SAER e ao SAER-Fron operar aeronaves policiais em
situações voltadas ao atendimento das necessidades das unidades de
Polícia Civil do Estado, compreendendo:
I – deslocamento e auxílio a policiais em serviço;
II – levantamento de áreas de interesse público;
III – ações policiais e resgates de todo gênero;
IV – operações repressivas no combate direto à criminalidade; e
V – atendimento a missões de natureza humanitária nas áreas da Saúde e
144
Defesa Civil.

Ainda subordinada à Delegacia Geral, tem-se a Diretoria Estadual de


Investigações Criminais – DEIC, com sede em Florianópolis/SC, a qual tem
circunscrição estadual, e tem por competência a investigação de crimes praticados
por quadrilhas e/ou bandos; Diretoria de Polícia do Interior - DPOI, com sede em

142
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Vídeo institucional. 2010. Disponível em:
<http://www.policiacivil.sc.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=62&Itemid=108>.
Acesso em: 24 set. 2015.
143
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Organograma. 2011. Disponível em:
<http://www.policiacivil.sc.gov.br/images/stories/ADMIN/Imagens/Organograma.jpg>. Acesso em: 24
set. 2015.
144
SANTA CATARINA. Decreto nº 2.260, de 18 de Junho De 2014. Institui, no âmbito da Polícia
Civil do Estado, o Serviço Aeropolicial (SAER) e o Serviço Aeropolicial de Fronteira (SAER-Fron), e
estabelece outras providências. Disponível em:
<http://www.portaldoservidor.sc.gov.br/ckfinder/userfiles/arquivos/Legislacao%20Correlata/Decretos/2
014_-_Decreto_N_2260,_de_18_de_junho_de_2014.pdf>. Acesso em: 24 set. 2015.
50

Curitibanos/SC; Diretoria de Polícia do Litoral, com sede em Itajai/SC; Diretoria de


Polícia da Grande Florianópolis, com sede em Florianópolis/SC; Diretoria de Polícia
de Fronteira – DIFRON, as quais incumbem orientar, supervisionar, dar suporte e
logística às delegacias regionais de sua abrangência. As delegacias regionais são
dirigidas por Delegados de Polícia, que tem por competência a supervisão e apoio
as delegacias de polícia de comarca, de município e especializadas, estas que, por
sua vez, tem suas atividades voltadas a especificidade (roubo, homicídio, tráfico de
drogas, etc).145
Por fim, e não menos importante, há a Coordenadoria de Operações
Policiais Especiais – COPE, com sede em Florianópolis/SC, a qual teve sua
regulamentação no ano de 2013, por meio da Portaria nº 281 do Gabinete do
Secretário de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina, a qual regulamenta
em seu art. 1º que a COPE é subordinada diretamente à Delegacia Geral, e em seu
arts. 7º e 8º suas atribuições, sendo, principalmente, cumprimento de mandados
judiciais, escolta de autoridades e de policiais em áreas de risco, intervenção em
motins e quaisquer atividades emanadas pelo Delegado Geral.146
Nesse diapasão, percebe-se que a PC/SC é um órgão bastante amplo e
complexo, com diversas divisões. No entanto, independente das divisões que
existam, e das unidades diferenciadas, a PC/SC é um órgão do Estado voltado à
segurança pública, sempre em busca do equilíbrio social, do bem da coletividade,
por meio de suas atividades de polícia judiciária e de polícia administrativa, como já
explicitado.
Visto os órgãos de segurança pública e suas atribuições e, em especial, a
PC, o próximo capítulo destina-se ao BO, haja vista que a PC, para realizar suas
atividades de polícia judiciária, comumente inicia por meio da lavratura do BO.

145
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Vídeo institucional. 2010. Disponível em:
<http://www.policiacivil.sc.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=62&Itemid=108>.
Acesso em: 24 set. 2015.
146
SANTA CATARINA. Portaria nº 281/GAB/SSP/2013. RESOLVE regulamentar a Coordenadoria
de Operações Policiais Especiais – COPE, nos termos do art. 3º do Decreto nº 1.152, de 30 de
agosto de 2012. Disponível em:
<http://www.policiacivil.sc.gov.br/images/stories/NOTICIAS/Textos_hiperlink/0281_-
_REGULAMENTA_O_COPE.pdf>. Acesso em: 24 set. 2015.
51

4 A EVENTUAL BANALIZAÇÃO DO USO DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA E O


POSSÍVEL COMPROMETIMENTO DA EFICIÊNCIA DAS ATIVIDADES DA
POLÍCIA CIVIL

O presente capítulo reserva-se a melhor compreender o BO (definição e


requisitos), bem como verificar se a sua eventual banalização pode comprometer a
eficiência dos serviços prestados pela PC/SC.

4.1 BOLETIM DE OCORRÊNCIA: DEFINIÇÃO E REQUISITOS

Viu-se, no capítulo anterior, que o BO lavrado nas delegacias da PC trata-


se de “[...] mera peça informativa, lavrada a partir da notícia de prática delituosa,
levada unilateralmente pela parte ao conhecimento da autoridade policial”.147 Com
isso, tira-se que o documento policial é redigido por uma simples declaração do
cidadão, que procura a delegacia de polícia para informar sobre determinado fato
criminoso.
O conceito de fato criminoso, no ordenamento jurídico brasileiro, ficou a
cargo dos doutrinadores, pois o Código Penal e as diversas leis especiais não o
conceituam.148
Crime, ou fato criminoso, ou delito, é a violação/transgressão ao
ordenamento jurídico, legalmente punível, independentemente da violação ter
ocorrido de maneira dolosa ou culposa.149
Acerca do tema, o doutrinador Guilherme de Souza Nucci leciona que
crime é:

[...] ação ou omissão ajustada a um modelo legal de conduta proibida


(tipicidade), contrária ao direito (antijurídica) e sujeita a um juízo de
reprovação social incidente sobre o fato e seu autor, desde que existam

147
SÃO PAULO. Tribunal Regional do Trabalho (Segunda Região). Recurso Ordinário: RecOrd
2022200244402000 SP 02022-2002-444-02-00-0. Relator: Juiz Ricardo Artur Costa e Trigueiros. São
Paulo, SÃO PAULO, 21 de janeiro de 2006. Disponível em: <http://trt-
2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7533475/recurso-ordinario-record-2022200244402000-sp-02022-
2002-444-02-00-0/inteiro-teor-13146409>. Acesso em: 20 set. 2015.
148
LUCAS, Caio de. Conceito de Crime: Estudos de Direito Penal. Disponível em:
<http://caiodeluca.jusbrasil.com.br/artigos/147591440/conceito-de-crime>. Acesso em 25 out. 2015.
149
MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em:
<http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php>. Acesso em: 22 set. 2015.
52

imputabilidade, consciência potencial da ilicitude e exigibilidade e


150
possibilidade de agir conforme o direito.

Nesse mesmo sentido, o pesquisador e doutrinador Manoel Pedro


Pimentel esclarece que crime é uma ação e/ou omissão humana que vem a
desrespeitar algum bem jurídico que o Estado protege por meio da lei. É quando a
lei impõe a pena como a genuína consequência do ato humano praticado, seja ele
por ação ou omissão.151
Mas voltando ao tema principal da pesquisa deste trabalho, geralmente é
por conta do BO que a autoridade policial toma conhecimento da ocorrência de
algum crime.
Quanto a esse documento, o sítio Universo Policial ensina que:

O boletim de ocorrência pode ser conceituado como sendo o registro


ordenado e minucioso das ocorrências que exigem a intervenção policial.
Ocorrência policial, por sua vez, é todo fato que, de qualquer forma, afete
ou possa afetar a ordem pública e que exija a intervenção policial por meio
152
de ações ou operações.

Nessa senda, o Jurista Clóvis Mendes leciona que o BO “[...] é o


documento utilizado pelos órgãos da Polícia Civil para o registro da notícia do crime,
ou seja, aqueles fatos que devem ser apurados através do exercício da atividade de
Polícia Judiciária”.153
Já quanto à sua natureza, o BO é um documento de uso interno da PC,
que necessita de sigilo, pois tem como função primordial o registro da notitia criminis
e a coleta de informações, que serão posteriormente verificadas e utilizadas para a
instrução do Inquérito policial.154

150
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Forense,
2014. P. 120.
151
PIMENTEL, Manoel Pedro. O crime e a pena na atualidade. São Paulo: Revista dos tribunais,
1983. P 2.
152
UNIVERSO POLICIAL. Boletim de ocorrência policial: definição, orientações e modelos. 2009.
Disponível em: <http://www.universopolicial.com/2009/09/boletim-de-ocorrencia-policial.html>. Acesso
em: 17 Out. 2015.
153
MENDES, Clóvis. B.O. é desnecessário em casos não penais. Revista Consultor jurídico, São
Paulo, 07 fev. 2009. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2009-fev-07/boletim-ocorrencia-
desnecessario-casos-nao-penais>. Acesso em 17 out. 2015.
154
SABBÁ, Antonio Ailton Benone. Boletim de ocorrência não criminal. In: Delegado de Polícia
plantonista, Pará, 02 jun. 2011. Disponível em:
<http://delegadoplantonista.webnode.com.br/news/boletim%20de%20ocorr%C3%AAncia%20n%C3%
A3o%20criminal/>. Acesso em: 06 out. 2015.
53

Visto se tratar de um documento confeccionado nas dependências de


uma delegacia de polícia, faz-se do mesmo, logicamente, um documento oficial.
Nesta senda, extrai-se do sítio eletrônico já referenciado que:

O boletim de ocorrência é um documento oficial. Portanto, deve seguir os


princípios expressos e reconhecidos da Administração Pública (legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência [...]
A redação do BO deve caracterizar-se pela impessoalidade, uso do padrão
culto da língua, clareza, concisão, coerência e objetividade. Na redação
oficial, não há lugar para impressões pessoais, como as que, por exemplo,
constam de uma carta a um amigo, de uma postagem de um blog ou
mesmo de um texto literário. O BO deve ser isento da interferência da
155
individualidade da pessoa que o elabora.

Tendo então como base a exercício de levar ao conhecimento da


autoridade policial o acontecimento de determinado crime, o BO tem o fito de que a
PC, após a sua confecção, execute as atividades investigativas a fim de encontrar
indícios da autoria criminal e, consequente, colaborar com o Ministério Público e
com o Poder Judiciário na ação penal.156
Para facilitar a lavratura do BO e o prosseguimento que será dado a ele,
isto é, a investigação policial em busca de provas da autoria do crime, ele é
composto de campos específicos, onde serão inseridos os dados acerca do crime. 157
Esses dados serão colocados de forma sistemática, iniciando pelo tipo de
crime que ocorreu, a data, hora e local. Em seguida são inseridos os participantes
(as pessoas que foram vítimas, testemunhas ou que de outra maneira tenham algum
elo com o fato criminoso) com o relato individual respectivamente (cada envolvido
conta a sua versão do fato). Após isso, cadastram-se os objetos envolvidos no delito
(furtados/roubados e/ou utilizados na prática criminosa) e, por fim, a assinatura do
policial, que redigiu o referido BO, e da autoridade policial. A assinatura da
autoridade policial o faz ter conhecimento do crime ocorrido, e junto de sua

155
UNIVERSO POLICIAL. Boletim de ocorrência policial: definição, orientações e modelos. 2009.
Disponível em: <http://www.universopolicial.com/2009/09/boletim-de-ocorrencia-policial.html>. Acesso
em: 17 Out. 2015.
156
MEU ADVOGADO. Boletim de ocorrência, qual sua finalidade? 2012. Disponível em:
<http://www.meuadvogado.com.br/entenda/boletim-de-ocorrencia-qual-sua-finalidade.html>. Acesso
em: 19 set. 2015.
157
UNIVERSO POLICIAL. Boletim de ocorrência policial: definição, orientações e modelos. 2009.
Disponível em: <http://www.universopolicial.com/2009/09/boletim-de-ocorrencia-policial.html>. Acesso
em: 17 Out. 2015.
54

assinatura acontece o seu despacho, isto é, a autoridade policial ao tomar ciência do


fato criminoso, já determina os procedimentos cabíveis a serem realizados. 158
Ainda acerca do BO, o Promotor de Justiça do Estado de Minas Gerais
explana que:

Muito se discute sobre Inquérito Policial (IP) [...], mas praticamente nada
sobre o Boletim de Ocorrência (BO). Na Legislação há pequenas
referências ao mesmo na Lei 8069-90 (ECA, Boletim de Ocorrência
159
Circunstanciado) e na Lei 5970-73 (Acidente de Trânsito) [...]

Tratando de forma mais transparente o enunciado acima, em relação ao


Estatuto da Criança de Adolescente (ECA), este não fala exatamente do BO de que
trata o presente trabalho, mas do Boletim de Ocorrência Circunstanciado (BOC),
conforme consagra o parágrafo único do art. 173 do ECA:

Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante


violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade policial [...] deverá:
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente;
II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
III - requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da
materialidade e autoria da infração.
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura do auto
160
poderá ser substituída por boletim de ocorrência circunstanciada.

Nota-se, no próprio texto, que o BOC é uma peça elaborada após a


prática criminosa, haja vista ser confeccionado quando há o estado de flagrância,
diferente do BO que é objeto de estudo deste trabalho, que, como já visto, visa a
comunicação à autoridade policial da prática de determinado crime, a fim de se
iniciar a apuração dos fatos.
Em tempo, quanto ao BOC previsto no ECA, o Jurista e Pesquisador
Tiago Lustosa Araujo assevera que:

158
UNIVERSO POLICIAL. Boletim de ocorrência policial: definição, orientações e modelos. 2009.
Disponível em: <http://www.universopolicial.com/2009/09/boletim-de-ocorrencia-policial.html>. Acesso
em: 17 Out. 2015.
159
MELO, André Luis. É preciso acabar com excesso de formalismo do B.O. Disponível em:
<http://www.conjur.com.br/2010-fev-17/preciso-acabar-excesso-formalismo-boletim-ocorrencia>.
Acesso em: 06 out. 2015.
160
BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 31
jul. 2015.
55

[...] o ato infracional cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa


(parágrafo único), lavrar-se-á Boletim de Ocorrência Circunstanciado,
procedimento bem mais simples que o auto de apreensão, mas que não
prescinde de uma elaboração cautelosa e aprofundada, pois servirá de base
para a manifestação do Ministério Público e providências do juízo. Note-se
que a lei "faculta" a lavratura, podendo a autoridade policial, considerando a
complexidade e gravidade do caso concreto, optar por realizar auto de
161
apreensão.

Novamente, nota-se que o BOC é uma peça pós-crime, confeccionada


quando há o flagrante delito.
Já quanto a Lei nº 5.970/73, que trata de acidentes de trânsito, dispõe em
seu art. 1º que:

Art 1º Em caso de acidente de trânsito, a autoridade ou agente policial que


primeiro tomar conhecimento do fato poderá autorizar, independentemente
de exame do local, a imediata remoção das pessoas que tenham sofrido
lesão, bem como dos veículos nele envolvidos, se estiverem no leito da via
pública e prejudicarem o tráfego.
Parágrafo único. Para autorizar a remoção, a autoridade ou agente policial
lavrará boletim da ocorrência, nele consignado o fato, as testemunhas que o
presenciaram e todas as demais circunstâncias necessárias ao
162
esclarecimento da verdade.

Observa-se, com esta lei, que se permitiu que o local de acidente de


trânsito com vítima fosse desfeito (alterado), antes mesmo da chegada dos peritos,
quando estiver prejudicando o tráfego veicular, mas que para isso deve ser lavrado
um BO para informar as razões que ensejaram tal execução, ou seja, trata-se de
uma simples justificativa pela alteração do local.163
Diante disso, é facilmente observado que o BO mencionado na Lei nº
5.970/73 não se trata do BO objeto de estudo desta pesquisa, mas de uma simples
declaratória por não ter mantido o local do acidente preservado.
Voltando ao BO ora estudado, e recordando brevemente o capítulo
anterior, tem-se que a PC desencadeia suas investigações, comumente, à partir da
lavratura do BO, o qual enseja a abertura do inquérito policial. Este procedimento

161
ARAÚJO, Tiago Lustosa. A apreensão em flagrante do adolescente infrator pela ótica de quem
lavra. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2627, 10 set. 2010. Disponível em:
<http://jus.com.br/artigos/17373>. Acesso em: 17 out. 2015.
162
BRASIL. Lei nº 5.970, de 11 de Dezembro de 1973. Exclui da aplicação do disposto nos artigos
6º, inciso I, 64 e 169, do Código de Processo Penal, os casos de acidente de trânsito, e, dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L5970.htm>.
Acesso em: 17 out. 2015.
163
MOURA, Marcos Damião Zanetti de. A quem cabe aplicar as Leis nº 5.970/73 e 6.174/74 nos
casos de acidentes de trânsito?. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1420, 22 maio 2007.
Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/9903>. Acesso em: 16 out. 2015.
56

administrativo das delegacias de polícia tem um espaço totalmente dedicado no


Livro I, Título II, do CPP, que se inicia no art. 5º., no entanto, em momento algum o
código faz menção ao BO
No art. 5º do CPP encontra-se previsto que o inquérito policial será
iniciado de ofício ou mediante requisição, quando se tratar de ação pública
incondicionada, devendo possuir o histórico do fato e a identificação das pessoas
envolvidas (vítimas, testemunhas e supostos autores). Caso a ação penal seja
pública condicionada à representação, a autoridade policial não poderá instaurar o
inquérito policial sem o devido requerimento.164
Fazendo uma breve diferenciação entre ação penal pública condicionada
à representação e ação penal pública incondicionada, nesta “[...] o órgão do
Ministério Público deverá promover a ação penal, sendo irrelevante a oposição por
parte da vítima ou de qualquer outra pessoa. É a regra geral na moderna sistemática
processual penal”.165 Ao passo que naquela, o Ministério Público, para que possa
desenvolver a ação, depende da manifestação da vontade do ofendido (vítima ou
representante legal), isto é, para que o Estado possa apurar a infração penal, está
sujeito a autorização (chamada de representação) do prejudicado.166
Ainda em relação ao art 5º do CPP, ele traz em seu §5º que “nos crimes
de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a
requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la”167, ou seja, o ofendido, por
meio de seu representante legal, deve manifestar sua vontade no processo (esta
manifestação é conhecida por queixa). Em ação penal privada, é o ofendido quem
detém a titularidade da ação, ou seja, é ele quem acusa, mas o poder de punir ainda
permanece com o Estado.168
Ademais, o art. 5º do CPP, em seu §3º, preconiza que:
164
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de Outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 17 out.
2015.
165
CAVALCANTE, Karla Karênina Andrade Carlos. Ação penal pública condicionada e
incondicionada. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, III, n. 11, nov 2002. Disponível em:
<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4739>.
Acesso em out 2015.
166
VASCONCELOS, Fernando Parente dos Santos. Ação penal de iniciativa pública condicionada.
Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2936, 16 jul. 2011. Disponível em:
<http://jus.com.br/artigos/19568>. Acesso em: 17 out. 2015.
167
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de Outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 17 out.
2015.
168
FARINELI, Jéssica Ramos. Ação Penal. In: Info Escola. Disponível em:
<http://www.infoescola.com/direito/acao-penal/>. Acesso em: 18 out. 2015.
57

Art. 5º [...]
§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de
infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por
escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência
169
das informações, mandará instaurar inquérito.

Com isso, pode-se afirmar que, embora o BO seja um documento oficial,


bastante comum e rotineiro nas dependências das delegacias de polícia, ele tem
sido deslembrado pelo legislador e pelo meio jurídico, razão pela qual não há
regulamentação alguma quanto à sua forma. Prova disso é a própria lei que, ao
definir os critérios de abertura de inquérito policial, apenas informou os “requisitos”
necessários, mas em momento algum estabeleceu nome ou forma ao documento
que realize tal requisição.170
Ocorre ainda que, além do papel principal de registrar a ocorrência de
prática criminosa, o BO é amplamente utilizado para se fazer registros de fatos
atípicos, ou seja, que não incorram em tipicidade penal (não caracterizando infração
penal), conhecidos, popularmente, pelo nome de BO de preservação de direitos ou
BO de resguardo.171
Nesse sentido, visto que principal função atribuída ao BO consiste em
comunicar a autoridade policial acerca da ocorrência de determinado crime, bem
como servir de alicerce inicial às atividades investigatórias da PC, mas que também
o utilizam com o fito de preservar direitos, na próxima seção chega-se ao objetivo
específico da pesquisa, que é verificar se o uso indevido do BO compromete a
eficiência das atividades realizadas pela PC.

4.2 A INEXISTÊNCIA DE PRESUNÇÃO DE VERACIDADE QUANTO AO


CONTEÚDO DAS DECLARAÇÕES CONTIDAS NO BOLETIM DE OCORRÊNCIA

Viu-se no capítulo anterior que a PC exerce atividade de polícia judiciária


e busca apurar as infrações penais, com exceção das militares e das competentes à

169
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 De Outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 17 out.
2015.
170
MELO, André Luis. É preciso acabar com excesso de formalismo do BO. Disponível em:
<http://www.conjur.com.br/2010-fev-17/preciso-acabar-excesso-formalismo-boletim-ocorrencia>.
Acesso em: 06 out. 2015.
171
FANTI, Dayane. Boletim de ocorrência de preservação de direitos: instrumento de
aproximação. Disponível em: <http://fantiadvogados.blogspot.com.br/2013/05/boletim-de-ocorrencia-
de-preservacao-de.html>. Acesso em: 18 out. 2015.
58

União172, e que a apuração dos delitos ocorre após o conhecimento da autoridade


policial sobre eles, geralmente por conta da lavratura do BO.173
No entanto, há quem entenda que o BO pode ser utilizado para informar a
autoridade policial de qualquer fato que tenha ocorrido, e que mereça ser registrado,
ou seja, independente de o acontecimento se tratar de crime ou não. 174 Por conta
dessa premissa, é bastante comum ouvir a expressão “vá a delegacia fazer um BO
para se resguardar”, porém, apesar de o tema parecer sem muita relevância, não
é.175
O BO, como já falado, é um documento que contém uma simples
narrativa dos acontecimentos relatados pela vítima, ou representante, sem nenhuma
eficácia probatória, visto que os fatos serão apurados no inquérito policial.
Posteriormente, caso houver ação penal, o que então servirá de arrimo para formar
o conjunto de provas na persecutio criminis in judicio (fase judicial da persecução
criminal), será o que foi apurado durante a instrução do inquérito policial, e não os
fatos narrados no BO.176
Nesse mesmo sentido, é observada essa ineficácia probatória, de que
trata o doutrinador Clóvis Mendes, em inúmeras decisões nos tribunais brasileiros,
independentemente das esferas e instâncias em que se encontram os processos
judiciais, conforme pode se observar no que segue.
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em decisão, asseverou
que o BO é confeccionado a partir de declaração unilateral acerca de determinado

172
BRASIL. Constituição Da República Federativa Do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 16 set.
2015.
173
SÃO PAULO. Tribunal Regional do Trabalho (Segunda Região). Recurso Ordinário: RecOrd
2022200244402000 SP 02022-2002-444-02-00-0. Relator: Juiz Ricardo Artur Costa e Trigueiros. São
Paulo, SÃO PAULO, 21 de janeiro de 2006. Disponível em: <http://trt-
2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7533475/recurso-ordinario-record-2022200244402000-sp-02022-
2002-444-02-00-0/inteiro-teor-13146409>. Acesso em: 17 out. 2015.
174
MEU ADVOGADO. Boletim de ocorrência, qual sua finalidade? 2012. Disponível em:
<http://www.meuadvogado.com.br/entenda/boletim-de-ocorrencia-qual-sua-finalidade.html>. Acesso
em: 19 set. 2015.
175
MENDES, Clóvis. Boletim de ocorrência de preservação de direitos. Revista Jus Navigandi,
Teresina, ano 14, n. 2065, 25 fev. 2009. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/12379>. Acesso em:
18 out. 2015.
176
MENDES, Clóvis. B.O. é desnecessário em casos não penais. Revista Consultor jurídico, São
Paulo, 07 fev. 2009. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2009-fev-07/boletim-ocorrencia-
desnecessario-casos-nao-penais>. Acesso em 18 out. 2015.
59

fato ocorrido sobre os infortúnios alegados, mas o que cabalmente resguarda os


direitos dos cidadãos não são narrativas ou alegações, e sim provas.177
Partindo dessa mesma ideia, o Desembargador Maurício Torres Soares,
do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, em acórdão, apregoou que o BO,
quando contém apenas as declarações unilaterais obtidas da vítima, não desfruta da
presunção júris tantum (apenas de direito) da verdade dos fatos, tendo em vista ser
imperiosa a produção de demais provas para que possa confirmar suas
alegações.178
Entendimento semelhante ao supracitado teve o Tribunal Regional do
Trabalho da 5ª Região, em ação de danos morais em relação trabalhista, cuja
ementa segue:

DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. REPONSABILIZAÇÃO CIVIL.


ELEMENTOS NECESSÁRIOS. AUSÊNCIA. À responsabilização civil que
implica o dever de indenizar são imprescindíveis, em regra, três elementos,
ato ilícito, nexo causal e dano. Ausente um dos elementos necessários à
responsabilização civil, não há que se condenar o presumido agente na
179
obrigação de indenizar.

No caso acima, um cidadão (autor), após ter sido demitido de seu serviço,
na cidade de Encruzilhada/BA, foi até a delegacia de polícia e realizou o registro de
um BO, alegando que teria sido ameaçado e coagido, por seu gerente e capangas
armados, a assinar o pedido de demissão.
O reclamado (réu) negou os fatos, e informou que havia acabado de
chegar na fazenda para exercer a função de gerente, e que o autor participava de
um “motim” no local de trabalho, porque gostava demais do gerente que havia sido

177
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (Sexta Câmara de Direito Público).
Apelação : APL 00136453020098260438 SP 0013645-30.2009.8.26.0438. Relator: Desembargador
Leme de Campos. São Paulo, SP, 09 de janeiro de 2014. Disponível em: <http://tj-
sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/123583205/apelacao-apl-136453020098260438-sp-0013645-
3020098260438/inteiro-teor-123583215>. Acesso em: 18 out. 2015.
178
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (Sétima Câmara Cível). Apelação
Cível : AC 10704100063509001 MG. Relator: Desembargador Maurício Torres Torres Soares. Minas
Gerais, MG, 26 de janeiro de 2015. Disponível em: <http://tj-
mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/215271970/apelacao-civel-ac-10704100063509001-mg>. Acesso
em: 18 out. 2015.
179
BAHIA. Tribunal Regional do Trabalho (Quinta Região). Recurso Ordinário : RecOrd
00022082020135050621 BA 0002208-20.2013.5.05.0621. Relator: Desembargador Edilton Meireles.
Salvador, BA, 10 de outubro de 2014. Disponível em: <http://trt-
5.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/159034629/recurso-ordinario-record-22082020135050621-ba-
0002208-2020135050621/inteiro-teor-159034637>. Acesso em: 25 out. 2015.
60

demitido e não aceitava a troca de gerência. Ademais, este “motim” impedia que
demais trabalhadores, que não participavam do ato, exercessem suas atividades.
Por conta dessa manifestação, algumas pessoas foram demitidas,
incluindo o autor. Este, posteriormente, confirmou que o “motim” era realizado em
razão dos fatos narrados pelo réu.
Ocorre que, apesar de estar juntado nos autos o BO registrado pelo autor,
o Juiz do Trabalho (1ª Instância) entendeu que o BO simplesmente comprovava que
o autor havia se dirigido até uma delegacia de policia para registrar o ocorrido, no
entanto, não provava a veracidade dos fatos narrados.
Diante disso, indeferiu o pleito de indenização promovido pelo autor.
Insurgiu então com recurso ordinário no Tribunal Regional do Trabalho da
5ª Região (2ª Instância).
Nesse Tribunal, entendeu-se, da mesma forma que o Juiz de origem, que,
diante da negativa do reclamado (réu) acerca das ameaça e coações, caberia ao
reclamante (autor) provar os fatos que constituiriam seu direito alegado. O
reclamante, entretanto, não conseguiu provar as ameaças e coações que alegou ter
sofrido.
Nesse sentido, a 1ª Turma do Tribunal, por entender que o BO não possui
eficácia probatória, tendo em vista se tratar de um documento confeccionado a partir
das narrativas obtidas unilateralmente pelos interessados, não deu provimento ao
recurso.
Nota-se, nesse caso, a evidência da ineficácia probatória do BO, caso
não seja sustentado com demais provas.
Indo ao encontro das decisões citadas, o Tribunal de Justiça do Estado do
Mato Grosso, em acórdão, preconizou que o BO, mesmo que seja um documento
público lavrado por uma instituição de reputação invejável, a PC, apenas faz prova
da existência da narrativa nele apresentada, no entanto, não prova que as
declarações prestadas sejam verdadeiras, ou seja, prova que foi dito, mas não prova
que foi dito a verdade.180
Extrai-se, ainda, de decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
que:

180
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Segunda Turma). Recurso Especial: REsp 1054443 MT
2008/0099141-8. Relator: Ministro Castro Meira. Brasília, DF, 04 de janeiro de 2009. Disponível em:
<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/6061051/recurso-especial-resp-1054443-mt-2008-0099141-
8/inteiro-teor-12196097>. Acesso em: 18 out. 2015.
61

O boletim de ocorrência policial ou boletim confeccionado por agentes da


Brigada Militar apenas consigna ou registra as declarações unilaterais
narradas pelo interessado, sem atestar que tais afirmações são verdadeiras.
Esse documento apenas registra que tais declarações foram prestadas,
sem consignar, entretanto, a veracidade do seu conteúdo. Exatamente por
isso, o boletim de ocorrência policial não gera presunção "juris tantum" dos
fatos nele consignados, tampouco serve, isoladamente, para amparar a
181
pretensão deduzida na peça inaugural.

Do mesmo modo, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal pacificou que


“o Boletim de Ocorrência (BO) não tem o condão de ser prova cabal [...] haja vista
ser mera declaração unilateral do interessado”.182
O mesmo tribunal ainda consagra que:

O BOLETIM DE OCORRÊNCIA, POR SI SÓ, NÃO É DOCUMENTO HÁBIL


A DEMONSTRAR A OCORRÊNCIA DO FURTO, VEZ QUE SE TRATA DE
PEÇA BASEADA APENAS E TÃO-SOMENTE NAS DECLARAÇÕES
PRESTADAS PELA VÍTIMA, SEM CONSIGNAR A VERACIDADE DE SEU
CONTEÚDO, RAZÃO PELA QUAL NÃO GOZA DE PRESUNÇÃO JURIS
183
TANTUM.

Em consonância com os julgados acima, o Tribunal de Justiça do Rio


Grande do Sul, em recurso inominado, declarou que o BO não tem valor probante,
conforme segue ementa:

RECURSO INOMINADO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. COLISÃO


TRASEIRA. PRESUNÇÃO DE CULPA NÃO ELIDIDA PELA AUTORA.
AUSÊNCIA DE PROVA ORAL SOBRE A DINÂMICA DO ACIDENTE.
BOLETIM DE OCORRÊNCIA QUE CONTÉM RELATO DA PRÓPRIA
AUTORA E QUE NÃO DESFRUTA DE PRESUNÇÃO DE VERACIDADE. A
autora alegou que se encontrava parada sobre o Viaduto da Dr. Barcelos,
em razão de um acidente, quando o requerido imprimiu marcha ré e
abalroou seu veículo na parte dianteira. O requerido, de outra banda, alegou
que a prova trazida pela parte adversa é unilateral, negando
responsabilidade pelo ocorrido. Cuidando-se de colisão traseira, era ônus
da autora comprovar minimamente a alegação de que o acidente se deu em

181
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (Nona Câmara Civel).
Apelação Cível : AC 70059609552 RS. Relator: Desembargador Miguel Ângelo da Silva. Porte
Alegre, RS, 26 de janeiro de 2014. Disponível em: <http://tj-
rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/154003486/apelacao-civel-ac-70059609552-rs>. Acesso em: 18 out.
2015.
182
DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal (Turma Recursal dos Juizados
Especiais). Apelacao Civel do Juizado Especial : ACJ 20130111843715 DF 0184371-
76.2013.8.07.0001. Relator: Desembargador Lizandro Garcia Gomes Filho. Brasília, DF, 09 de janeiro
de 2014. Disponível em: <http://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/139197795/apelacao-civel-do-
juizado-especial-acj-20130111843715-df-0184371-7620138070001>. Acesso em: 18 out. 2015.
183
DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal (Quinta Turma Civel). Apelacao
Civel: APC 20020110251146 DF. Relator: Desembargador Lecir Manoel da Luz. Brasília, DF, 23 de
janeiro de 2008. Disponível em: <http://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/2583198/apelacao-civel-
apc-20020110251146-df>. Acesso em: 18 out. 2015.
62

razão de manobra de marcha ré realizada pelo requerido, encargo


probatório do qual não se desincumbiu. Assim, não logrou a ora recorrente
afastar a presunção de culpa daquele que colide na traseira de outrem. Não
foram trazidos informantes ou testemunhas para confirmar a dinâmica do
acidente. O boletim de ocorrência não serve para fazer certa a culpa do
demandado pela colisão porquanto contém versão unilateral da própria
autora, razão pela qual, ao contrário do sustenta a recorrente, não goza de
presunção de veracidade. Neste cenário de ausência probatório, o juízo de
improcedência era impositivo. Sentença mantida por seus próprios
fundamentos. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71005501085,
Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Roberto
Behrensdorf Gomes da Silva, Julgado em... 08/07/2015).
(TJ-RS, Relator: Roberto Behrensdorf Gomes da Silva, Data de Julgamento:
184
08/07/2015, Segunda Turma Recursal Cível)

Na situação fática acima colacionada, a autora propôs ação em face do


réu, na comarca de Canoas, alegando que este, em uma fila no trânsito, teria dado
marcha-ré e colidido com a traseira do automóvel dele na parte frontal do veículo da
autora. Para tanto, ela fez juntada do BO nos autos.
No entanto, o réu alegou que não havia dado marcha-ré em seu veículo,
restando à autora afastar a presunção de que, em colisão na traseira, a culpa é de
quem está atrás.
Ocorre que a autora não conseguiu provar que o réu havia dado marcha-
ré em seu veículo, nem foram ouvidos em audiência testemunhas e/ou informantes.
Entendendo o Juiz de origem (1ª Instância) que o BO contém apenas as
declarações da autora, não serve para fazer culpa do demandado (réu), ou seja, não
prova que a narrativa da autora possui verdade absoluta.
Por conta disso, a autora não obteve sucesso na sua demanda.
Insatisfeita com a decisão de origem, interpôs recurso (inomidado) ao
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, mas a 2ª Turma Recursal Cível dos
Juizados Especiais Cíveis, de forma unânime, negou provimento ao recurso, pelos
mesmos fundamentos do juizo a quo.
Mais uma vez o B.O se mostrou ineficaz, quando tentada sua utilização
como prova em processo judicial.
Ademais, o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, em
apelação cível, assegurou que o BO, quando juntado isoladamente nos autos, não é
capaz de provar as alegações nele prestadas, tendo em vista se tratar de um

184
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (Segunda Turma). Recurso
Cível : 71005501085 RS. Relator: Doutor Roberto Behrensdorf Gomes Da Silva. Porto Alegre, RS, 08
de julho de 2015. Disponível em: <http://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/207768859/recurso-civel-
71005501085-rs/inteiro-teor-207768877>. Acesso em 24 out. 2015.
63

documento que, apesar de público, possui apenas as declarações unilaterais da


insurgente. Portanto, o BO deve vir acompanhado de demais elementos que
realmente possam provar o que nele é narrado.185
Retira-se, ainda, de decisão do Superior Tribunal de Justiça que:

O BOLETIM DE OCORRENCIA POLICIAL NÃO GERA PRESUNÇÃO


"JURIS TANTUM" DA VERACIDADE DOS FATOS NARRADOS, UMA VEZ
QUE APENAS CONSIGNA AS DECLARAÇÕES UNILATERAIS
NARRADAS PELO INTERESSADO, SEM ATESTAR QUE TAIS
AFIRMAÇÕES SEJAM VERDADEIRAS. EM OUTRAS PALAVRAS, O
DOCUMENTO APENAS REGISTRA QUE AS DECLARAÇÕES FORAM
PRESTADAS, SEM CONSIGNAR, TODAVIA, A VERACIDADE DO SEU
186
CONTEUDO.

Dessa forma, como apontaram as decisões dos tribunais mencionados, é


inegável que “o boletim de ocorrência policial advém de declaração unilateral da
vítima, razão pela qual não é considerado meio hábil a comprovar a ocorrência do
fato nele narrado, mormente quando desacompanhado de outros elementos
probatórios”187.
O Desembargador Gomes Varjão, do Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo defende que:

[...] não há que se cogitar de presunção de veracidade das declarações


realizadas quando da elaboração do boletim de ocorrência, eis que
unilaterais. O fato de se tratar de documento público implica tão somente o
fato de ter sido lavrado perante autoridade policial, que atesta serem
verdadeiros os fatos ocorridos em sua presença, ou seja, que ouviu as
declarações da forma como foram relatadas. Não há presunção de que elas
188
correspondam à realidade, o que dependeria de prova.

185
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina (Quarta Câmara). Apelação
Cível : AC 20120907275 SC 2012.090727-5. Relator: Desembargador Eládio Torret Rocha.
Florianópolis, SC, 10 de janeiro de 2013. Disponível em: <http://tj-
sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23906401/apelacao-civel-ac-20120907275-sc-2012090727-5-
acordao-tjsc>. Acesso em: 18 out. 2015.
186
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Quarta Turma). Recurso Especial : REsp 69391 RJ
1995/0033511-5. Brasília, DF, 08 de janeiro de 1997.Disponível em:
<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/19934328/recurso-especial-resp-69391-rj-1995-0033511-5>.
Acesso em: 18 out. 2015.
187
BRASIL. Tribunal Regional Federal (Quinta Região). Apelação Civel : AC 361134 AL
2003.80.00.012091-7. Relator: Desembargador Federal Manoel de Oliveira Erhardt. Recife, PE, 10 de
janeiro de 2008. Disponível em: <http://trf-5.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/780643/apelacao-civel-ac-
361134-al-20038000012091-7>. Acesso em: 18 out. 2015.
188
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (Trigésima Quarta Câmara de Direito
Privado). Apelação : APL 9103045522009826 SP 9103045-52.2009.8.26.0000. Relator:
Desembargador Gomes Varjão. São Paulo, SP, 25 de janeiro de 2012. Disponível em: <http://tj-
sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22254732/apelacao-apl-9103045522009826-sp-9103045-
5220098260000-tjsp>. Acesso em: 18 out. 2015.
64

Logo, vislumbra-se que “o boletim de ocorrência não é documento


indispensável para o ajuizamento da ação [...] pois [...] pode ser comprovado por
outros meios de prova”189, isto é, o BO é uma peça dispensável na propositura de
qualquer ação, independentemente da esfera a que se pleiteie a tutela jurisdicional
do Estado.
A prova legal de que o BO é dispensável, consiste em fazer um elo com
o princípio da legalidade, já explicado no presente trabalho. Se referido princípio
apregoa, em síntese, que a Administração Pública só pode fazer o que está previsto
em lei, e o BO não é exigido em lei alguma para propositura de ação de qualquer
natureza, o poder público não pode requisitá-lo. Caso contrário, irrefutavelmente fere
o princípio da legalidade.190
Além disso, o art 5º, XXXIV, “a” da CRFB/88, que consagra o direito de
petição191, não justifica o registro de BO para propositura de qualquer ação. Os
direitos que, por um acaso, venham a ser lesados, devem ser reclamados nas
esferas competentes. Não se pode resolver tudo nas delegacias de polícia.192
Desse modo, fica clarividente a ausência de força probante do BO e,
ainda, a sua dispensabilidade no que tange ao exercício do direito de ação. Em
seguida, por conseguinte, passa-se à abordagem da discussão que envolve a
possível banalização do uso do BO.

4.3 O (IN)DEVIDO USO DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA

Além da importância de enfatizar que o BO é um documento policial que


objetiva noticiar à autoridade policial da ocorrência de um delito193, como já

189
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Apelação Cível : AC
10461080527355001 MG. Relator: Desembargador Wanderley Paiva. Minas Gerais, MG, 20 de
fevereiro de 2013. Disponível em: <http://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/114654859/apelacao-
civel-ac-10461080527355001-mg>. Acesso em: 18 out. 2015.
190
PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A.,
2015. p. 65.
191
BRASIL. Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 16 set.
2015.
192
MENDES, Clóvis. Boletim de ocorrência de preservação de direitos. Revista Jus Navigandi,
Teresina, ano 14, n. 2065, 25 fev. 2009. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/12379>. Acesso em:
18 out. 2015.
193
SABBÁ, Antonio Ailton Benone. Boletim de ocorrência não criminal. In: Delegado de Polícia
plantonista, Pará, 02 jun. 2011. Disponível em:
<http://delegadoplantonista.webnode.com.br/news/boletim%20de%20ocorr%C3%AAncia%20n%C3%
A3o%20criminal/>. Acesso em: 06 out. 2015.
65

salientado nesta pesquisa, deve-se informar (a todos) que o BO, mesmo sendo um
instrumento público, não foi criado para a lavratura de fatos voltados a interesses
particulares. Registrar um BO de “[...] fatos penalmente atípicos refoge
completamente da esfera de atribuições da Polícia Civil”.194
Ademais, cumpre salientar que as delegacias de polícia não são cartórios
ou tabelionatos gratuitos para registros de esfera cível. Para isso, há a figura da Ata
Notarial.195
A Ata Notarial “[...] é o instrumento pelo qual o notário, com sua fé pública
autentica um fato, descrevendo-o em seus livros”. Ainda quanto a Ata Notarial, sua
“[...] função primordial é tornar-se prova em processo judicial. Pode ainda servir
como prevenção jurídica a conflitos”.196
Diante da figura da Ata Notarial, registrar um BO de fato atípico e usar a
delegacia de polícia, a autoridade policial e os agentes da autoridade policial para
interesses particulares, além de ocasionar um gasto inútil de material e de recursos
humanos, caracteriza desvio de finalidade, desvio de função policial.197 Esse
desaproveitamento faz com que a PC desempenhe atividades que deveriam ser
realizadas pelos órgãos competentes, os quais deveriam ter seus profissionais e
suas estruturas próprias.198
Acerca do desvio de finalidade, também chamado de desvio de poder, o
jurista José Cretella Junior apregoa que o “desvio de poder consiste no afastamento
do espírito da lei”.199
Nesse mesmo sentido, o doutrinador Francisco Mafra assevera que:

194
MENDES, Clóvis. B.O. é desnecessário em casos não penais. Revista Consultor jurídico, São
Paulo, 07 fev. 2009. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2009-fev-07/boletim-ocorrencia-
desnecessario-casos-nao-penais>. Acesso em 17 out. 2015.
195
SABBÁ, Antonio Ailton Benone. Boletim de ocorrência não criminal. In: Delegado de Polícia
plantonista, Pará, 02 jun. 2011. Disponível em:
<http://delegadoplantonista.webnode.com.br/news/boletim%20de%20ocorr%C3%AAncia%20n%C3%
A3o%20criminal/>. Acesso em: 06 out. 2015.
196
VOLPI NETO, Angelo. Ata notarial de documentos eletrônicos. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n.
369, 11 jul. 2004. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/5431>. Acesso em: 18 out. 2015.
197
MENDES, Clóvis. B.O. é desnecessário em casos não penais. Revista Consultor jurídico, São
Paulo, 07 fev. 2009. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2009-fev-07/boletim-ocorrencia-
desnecessario-casos-nao-penais>. Acesso em 17 out. 2015.
198
MENDES, Clóvis. Boletim de ocorrência de preservação de direitos. Revista Jus Navigandi,
Teresina, ano 14, n. 2065, 25 fev. 2009. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/12379>. Acesso em:
18 out. 2015.
199
CRETELLA JR., José, Curso de Direito Administrativo, 17ª edição, Rio de Janeiro: Ed. Forense,
2000, pp. 290 a 294.
66

A ocorrência do desvio de poder ou finalidade se dá quando o agente,


mesmo que na sua competência, utiliza-se do ato para lograr finalidade
alheia à sua natureza. Em outras palavras, há desvio de poder quando o
agente utiliza sua competência de maneira errônea, ou seja, não faz bom
200
uso de sua competência para a prática de atos administrativos.

Com isso, extrai-se que o desvio de finalidade, ou desvio de poder, ocorre


quando o agente da Administração Pública, usando de sua competência e/ou
autoridade legalmente conferida, não realiza os atos administrativos visando o
interesse da coletividade, o bem comum, e sim para interesses alheios à
Administração, ou seja, voltados ao particular, independente de que seja para si ou
pra outrem.201
Em suma, “o desvio de poder ou de finalidade é justamente a utilização
de uma competência legalmente atribuída a um servidor para fins particulares ou
distintos dos legalmente consagrados”.202
Entretanto, acontece ainda que, por costume, diversos profissionais e/ou
repartições, públicas e privadas, exigem que o civilmente lesado vá até uma
delegacia de polícia e registre um BO para se resguardar. Esse tipo exigência, diga-
se de passagem, beira a falta de conhecimento, ou o comodismo, para escrever
uma representação, uma declaração ou uma singela notificação, não esquecendo
que submete o civilmente lesado a uma via crucis totalmente descabida e
desnecessária.203
O Jurista e doutrinador Clóvis Mendes, em seu artigo “BO é
desnecessário em caos não penais”, apresenta inúmeros exemplos de pessoas que
buscam as delegacias de polícia para registrarem BO de fatos não penais, e mostra
a solução mais adequada a cada caso, e em nenhum deles se observa a orientação
em procurar uma delegacia de polícia.

200
MAFRA., Francisco. Desvio de poder. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, VIII, n. 20, fev 2005.
Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=837>. Acesso em 25 out
2015.
201
MEZZOMO, Renato Ismael Ferreira. A objetivação da teoria do desvio de finalidade do ato
administrativo. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 20, n. 4323, 3 maio 2015. Disponível em:
<http://jus.com.br/artigos/32723>. Acesso em: 24 out. 2015.
202
MAFRA., Francisco. Desvio de poder. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, VIII, n. 20, fev 2005.
Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=837>. Acesso em 25 out
2015.
203
MENDES, Clóvis. B.O. é desnecessário em casos não penais. Revista Consultor jurídico, São
Paulo, 07 fev. 2009. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2009-fev-07/boletim-ocorrencia-
desnecessario-casos-nao-penais>. Acesso em 17 out. 2015.
67

Um caso, que é bastante comum na vida dos cidadãos, é quanto ao


extravio ou perda de documento. Clóvis Mendes assevera que “não se vislumbra
justificativa razoável para registrar boletim de ocorrência. Se a finalidade do BO é a
de embasar o pedido de 2ª via, basta que o titular do documento subscreva uma
declaração de extravio”.204
Outro caso corriqueiro é do cidadão que se sente lesado em uma relação
consumerista, e busca a delegacia de polícia para confeccionar um BO de
preservação de direitos, com intuito de que o BO subsidie sua reclamação no
Procon. Clóvis Mendes explica que o consumidor que se sentir lesado, deve
imediatamente buscar a unidade do Procon mais próxima e fazer uma reclamação
acerca da ofensa ao seu direito, por meio de simples preenchimento de formulário
ou por solicitação própria, não havendo necessidade alguma da existência de BO
para que o Procon realize os procedimentos cabíveis. Ademais, se for constatado
que a violação ao direito pode configurar ilícito penal, basta que o Procon envie
cópia do registro à autoridade policial, para que este tome as providências
necessárias.205
Há outros e inúmeros casos atípicos: a mulher que procura a delegacia
para fazer um BO de preservação de direitos, pois pretende sair de casa, e numa
futura ação de divórcio, não quer ser acusada de “abandono de lar”; o acidente de
trânsito, apenas com danos materiais, sem qualquer dolo, em razão da exigência por
parte das seguradoras; a pessoa que esperou por um tempo longo na fila do banco;
o cidadão que quer sustar seu cheque por algum tipo de desacordo contratual; o
estudante que perdeu sua carteirinha de vale transporte; a traição amorosa; a perda
de uniforme de empresa; a perda de placa veicular; discussão entre adolescentes;
desrespeito dos alunos com os professores em salas de aula; a pessoa que
acidentou durante o trabalho206, enfim, “[...] demandas com as quais a autoridade

204
MENDES, Clóvis. Boletim de ocorrência de preservação de direitos. Revista Jus Navigandi,
Teresina, ano 14, n. 2065, 25 fev. 2009. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/12379>. Acesso em:
18 out. 2015.
205
MENDES, Clóvis. B.O. é desnecessário em casos não penais. Revista Consultor jurídico, São
Paulo, 07 fev. 2009. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2009-fev-07/boletim-ocorrencia-
desnecessario-casos-nao-penais>. Acesso em 17 out. 2015.
206
SABBÁ, Antonio Ailton Benone. Boletim de ocorrência não criminal. In: Delegado de Polícia
plantonista, Pará, 02 jun. 2011. Disponível em:
<http://delegadoplantonista.webnode.com.br/news/boletim%20de%20ocorr%C3%AAncia%20n%C3%
A3o%20criminal/>. Acesso em: 06 out. 2015.
68

policial trava contato diuturno nos balcões gastos e ensebados de dependências


insalubres e abandonadas, como é a regra nos rincões destes brasis”.207
Sobre os casos mencionados, é facilmente observado que não se tratam
de casos criminais para que a PC proceda às diligências visando apurar a autoria
delitiva, mas de meros aborrecimentos ao qual pode passar quem vive em
sociedade.
No entanto, o cidadão, por costume ou por errônea orientação de seus
advogados, empresas ou órgãos públicos, busca na delegacia de polícia a ajuda do
Estado, quando, na realidade, deveria se dirigir aos órgãos competentes a fim de
sanar os problemas que lhe aflige.208
Quanto ao Estado de Santa Catarina, ocorre que, conforme falado no
capítulo anterior, as atribuições e funções da carreira policial civil estão previstas nos
anexos da LC nº 453/2009. O anexo IX desta lei trata detalhadamente das funções e
atribuições inerentes ao Agente de Polícia Civil, e tem positivado no item 37 que a
este cargo cabe “atender ao público e registrar delitos e ocorrências trazidos ao seu
conhecimento, dando ciência à autoridade policial”.209
Nota-se no dispositivo em questão o termo “ocorrências” que, no sentido
literal da palavra, significa: qualquer acontecimento, acaso, circunstância, fato,
evento, situação, episódio, ocasião, incidente ou acidente 210. Ocorrência “é todo e
qualquer acontecimento proveniente da ação do homem ou da natureza [...]”.211
Nesse sentido, pode-se observar que o legislador ao elaborar a lei e
inserir as atribuições e funções do policial civil, não restringiu ao Agente de Polícia
Civil apenas a lavratura do BO criminal, possibilitando ao cidadão que compareça à
delegacia de polícia e registre todo e qualquer tipo de fato que tenha interesse.

207
CHEGURY , Douglas Roberto Ribeiro de Magalhães. A função social da Polícia Civil no estado
democrático de direito. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6437/A-funcao-
social-da-Policia-Civil-no-estado-democratico-de-direito>. Acesso em: 16 set. 2015.
208
MENDES, Clóvis. Boletim de ocorrência de preservação de direitos. Revista Jus Navigandi,
Teresina, ano 14, n. 2065, 25 fev. 2009. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/12379>. Acesso em:
18 out. 2015.
209
SANTA CATARINA. Lei Complementar nº 453, de 05 de agosto de 2009. Institui Plano de
Carreira do Grupo Segurança Pública - Polícia Civil, e adota outras providências. Disponível em:
<http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/doc_view/5-lei-complementar-n-453-de-05-de-
agosto-de-2009>. Acesso em: 22 set. 2015.
210
MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em:
<http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php>. Acesso em: 22 out. 2015.
211
GUSMÃO, Gustavo. Fato Jurídico. In: Boletim Jurídico. Bahia, 01 mai. 2000. Disponível em:
<http://www.infoescola.com/direito/fato-juridico/>. Acesso em: 20 out. 2015.
69

Um exemplo de BO de fato não criminal, lavrado na Delegacia de Polícia


da Comarca de Palhoça no ano de 2013, foi de um cidadão que compareceu à
referida unidade policial para registrar que uma emissora de televisão nacional, e
sua afiliada no Estado de Santa Catarina, haviam instalado diversas câmeras de
monitoramento em sua casa, a fim de filmar suas intimidades e vendê-las para um
canal de televisão estrangeiro. O cidadão ainda informou que, acerca desse
problema, já teria buscado ajuda na Polícia Federal e na Interpol, mas que não havia
obtido êxito nessas instituições. Ademais, relatou que havia procurado a embaixada
dos Estados Unidos em São Paulo/SP, mas como não falava fluentemente a língua
americana, não pôde “entender nada”. Por fim, quis deixar registrado no BO que
sofria bullying durante a faculdade por pessoas ligadas à uma emissora nacional de
televisão, a mesma suspeita de instalar as câmeras em sua casa.212
Outro caso registrado na Delegacia de Polícia da Comarca de
Palhoça/SC, no ano de 2015, foi de um homem que, preocupado pela demora de
sua esposa chegar em casa, saiu a procura da mesma, e a encontrou, próximo a
residência deles, tendo relações sexuais com outro homem dentro de um automóvel.
Inconformado com a situação, dirigiu-se até a delegacia de polícia para registrar o
que havia presenciado e informar que, “para não perder a cabeça”, havia trancado o
apartamento e que iria passar a noite fora, mas que sua esposa poderia ir até o
imóvel buscar os documentos dela, e que todos os pertences restantes (móveis,
eletrodomésticos, etc), seriam divididos na justiça. Por fim, relatou no BO que não
aceitava mais ela no apartamento.213
Nos BO trazidos como exemplo, é nítida a atipicidade dos fatos relatados.
Ocorre, no entanto, que em razão do item 37, encontrado no anexo IX da LC nº
453/2009, como já mencionado, que obriga o policial civil a registrar um BO de todo
e qualquer tipo de acontecimento do qual o cidadão tenha interesse, ou por boa
vontade do polical em querer levar ao cidadão a sensação de tranquilidade, nota-se,
a exemplo dos casos expostos, a perda de tempo e o gasto desnecessário de
material e recurso humano quando da lavratura desses BO não criminais.
Por conta disso, e por desconhecer o verdadeiro papel do BO, os
problemas da sociedade batem na porta das delegacias de polícia de todas as

212
SANTA CATARINA, Poder Executivo. Secretaria de Segurança Pública. Polícia Civil. Sistema
Integrado de Segurança Pública. Software de informações internas. 2015;
213
SANTA CATARINA, Poder Executivo. Secretaria de Segurança Pública. Polícia Civil. Sistema
Integrado de Segurança Pública. Software de informações internas. 2015;
70

formas. Crianças, idosos, mulheres e homens procuram naquele representante do


Estado de plantão uma saída rápida e miraculosa para os infortúnios que os
acometem.214
Nesse diapasão, torna-se bastante transparente que as delegacias de
polícia estão sendo utilizadas, de forma maciça, para a lavratura de B.O com
informações de fatos não criminais, ou seja, de fatos que fogem completamente da
atribuição da PC, que é a apuração das infrações penais.
Destarte, na seção seguinte, passa-se a verificar se a lavratura de BO
não criminal pode comprometer a eficiência dos serviços realizados pela PC/SC.

4.4 O MANEJO INDEVIDO DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA E O PRINCÍPIO DA


EFICIÊNCIA

O registro dos fatos atípicos nas delegacias de polícia, distante de


evidenciar a falta de conhecimento da lei por parte dos policiais que atendem os
cidadãos e confeccionam esse tipo de BO, ratificam a disposição desses servidores
em realizar um bom atendimento a sociedade e que, por consequência, acabam
preenchendo a ausência dos outros órgãos do Estado, além de, constantemente, e
desnecessariamente, ofertar um ponto de partida aos advogados para que estes
possam ingressar com ações judiciais.215
Em razão dessa “liberdade de lavratura de BO nas delegacias da PC/SC”,
foi realizado um levantamento de dados acerca da quantidade total de BO
confeccionados em todo o ano de 2014 na Delegacia de Polícia Civil da Comarca de
Palhoça/SC.
O levantamento de dados foi realizado no Sistema Integrado de
Segurança Pública – SISP, programa via intranet, no qual é confeccionado o BO e
tantas outras atividades exercidas pelos órgãos pertencentes à Secretaria de
Segurança Pública do Estado de Santa Catarina.

214
CHEGURY , Douglas Roberto Ribeiro de Magalhães. A função social da Polícia Civil no estado
democrático de direito. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6437/A-funcao-
social-da-Policia-Civil-no-estado-democratico-de-direito>. Acesso em: 16 set. 2015.
215
MENDES, Clóvis. Boletim de ocorrência de preservação de direitos. Revista Jus Navigandi,
Teresina, ano 14, n. 2065, 25 fev. 2009. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/12379>. Acesso em:
18 out. 2015.
71

O SISP é bastante sistemático e, para se chegar aos dados que são


apresentados, bastou preencher alguns campos específicos e se obteve a
quantidade exata de BO da unidade policial pesquisada no ano de 2014.
Cumpre ainda informar que a pesquisa realizada foi única e
exclusivamente de levantamento de dados, não se fazendo necessário a inclusão
e/ou menção alguma relacionada à idade, sexo, raça, tampouco à identificação de
qualquer cidadão que tenha comparecido a delegacia de polícia para registrar o BO,
tanto de fato criminal quanto de fato não criminal. Também não se levou em
consideração os dias da semana, nem os horários em que ocorreram os
atendimentos e a consequente lavratura do documento.
Os dados foram coletados para examinar o quanto de BO lavrados não
possuem a comunicação da ocorrência de crime, para posteriormente verificar se
essa utilização do BO em casos não criminais pode comprometer a eficiência das
atividades realizadas pela PC/SC, tendo em vista que os BO de fato atípico são de
interesses particulares.
Durante todo o ano de 2014, os policiais civis que atenderam ao público,
na Delegacia de Policia da Comarca de Palhoça/SC, confeccionaram exatamente a
quantia de 15.814 (quinze mil oitocentos e catorze) BO.
Partindo desse valor para se chegar à resposta da problematização do
presente trabalho, esses 15.814 (quinze mil oitocentos e catorze) B.O
confeccionados foram segregados em fatos criminais e fatos não criminais, sendo
que estes últimos incluem fato atípico, acidente de trânsito apenas com danos
materiais, abandono de lar, ilícito civil e perda de documentos ou objetos.
Na sequência tem-se o gráfico que pode melhor explanar os dados
coletados:
72

Figura 1 – Total de Boletins de ocorrência registrados no ano de 2014 na Delegacia


de Polícia da Comarca de Palhoça/SC.

Fonte: SISP216

Diante do gráfico, é possível observar que a quantidade de BO que não


ensejam a realização dos exercícios constitucionais da PC/SC, isto é, apuração das
infrações penais, é bastante alta.
Vislumbra-se, também, que os BO criminais são maioria, e que na
sequência vêm os B.O de perda de documentos e/ou objetos, fato atípico, acidente
de trânsito com danos apenas materiais, ilícito civil e abandono de lar.
Agrupando a totalidade de B.O não criminais e, por meio de uma conta
matemática bem simples, transformando os dados obtidos em porcentagens, para
se ter apenas dois lados a se confrontarem, o B.O crime e o BO não crime, tem-se o
próximo gráfico, que apresenta uma resposta bastante surpreendente acerca da
quantidade de BO que são confeccionados para fatos e/ou situações alheias à sua
finalidade, a qual seja, dar ciência ao Delegado de Polícia do acontecimento de
determinado crime. 217
Segue o gráfico:

216
SANTA CATARINA, Poder Executivo. Secretaria de Segurança Pública. Polícia Civil. Sistema
Integrado de Segurança Pública. Software de informações internas. 2015;
217
MENDES, Clóvis. B.O. é desnecessário em casos não penais. Revista Consultor jurídico, São
Paulo, 07 fev. 2009. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2009-fev-07/boletim-ocorrencia-
desnecessario-casos-nao-penais>. Acesso em 18 out. 2015.
73

Figura 2 – Comparativo entre os Boletins de ocorrência criminais e não criminais,


registrados no ano de 2014 na Delegacia de Polícia da Comarca de Palhoça/SC.

Fonte: SISP218

Do gráfico acima se extrai que a quantidade de BO não criminal, lavrados


na Delegacia de Policia Civil da Comarca de Palhoça/SC no ano de 2014, chegou
aproximadamente a 33% (trinta e três por cento) do total de BO confeccionados.
Sabendo das atribuições da PC, há de se considerar que se trata de um
valor bastante alto, e que ratifica a ideia do Jurista Antonio Ailton Benone Sabbá de
que o aparato estatal está sendo largamente utilizado para interesses particulares.
Sabbá ainda assevera que nesses tipos de situações, e nas mais diversas
semelhantes, a confecção do BO deva ser rejeitada, e que o policial oriente o
cidadão a buscar o meio apropriado para assentar a sua pretensão, que é se dirigir
até um tabelionato ou cartório para realizar o registro de declaração pública, ou a
elaboração de uma notificação extrajudicial, ou que solicite a seu advogado que
realize os procedimentos legais cabíveis.219
Nessa senda, conhecendo o princípio da eficiência, que, conforme
apresentado no primeiro capítulo do presente trabalho, consiste no sentido de que a
Administração Pública, e seus agentes, usando de suas prerrogativas, deve sempre
218
SANTA CATARINA, Poder Executivo. Secretaria de Segurança Pública. Polícia Civil. Sistema
Integrado de Segurança Pública. Software de informações internas. 2015;
219
SABBÁ, Antonio Ailton Benone. Boletim de ocorrência não criminal. In: Delegado de Polícia
plantonista, Pará, 02 jun. 2011. Disponível em:
<http://delegadoplantonista.webnode.com.br/news/boletim%20de%20ocorr%C3%AAncia%20n%C3%
A3o%20criminal/>. Acesso em: 06 out. 2015.
74

atuar visando um resultado em prol de toda a coletividade, ou seja, atendendo ao


interesso público, e não do particular220, nota-se que a lavratura de BO não criminal
vai de encontro ao princípio da eficiência, uma vez que não almeja o interesse
público.
Indo ao encontro das ideias de Sabbá, o doutrinador Douglas Roberto
Ribeiro de Magalhães Chegury, em seu artigo “A função social da Polícia Civil no
estado democrático de direito”, ao falar do atendimento ao cidadão em casos não
criminais, explica que “nessas ocasiões, os policiais atuam como psicólogos,
conciliadores, médicos, advogados, religiosos etc., na intenção suprema de
desempenhar um papel que vai além daquele que o Estado outorgou”.221
Nesse contexto, deixar que o policial atue fora de sua competência, para
o que não foi capacitado, proporciona um enorme desgaste humano, que ocasiona a
perda de rendimento funcional e, consequentemente, geram prejuízos para a
Administração Pública222, que é pautada, incisivamente pelo princípio da eficiência,
na busca pela qualidade do atendimento e na produtividade, aliados a diminuição
dos desperdícios de recursos materiais e humanos. 223
Nesse mesmo sentido, Clóvis Mendes defende que a PC jamais deve
perder tempo em realizar a confecção de BO não criminais, tendo em vista que a
maioria dos casos apenas retrata miudezas, antipatia, inimizade, aborrecimentos e
mal-estar, já que não faz parte das atribuições e funções pertencentes a PC224, e por
ser de extrema facilidade o acesso à lavratura do BO em uma delegacia de polícia,
bastando apenas que o cidadão relate o que precisa, muitas pessoas se utilizam
dessa premissa para tentar responsabilizar penalmente alguém, sem a procedência

220
MEIRELLES, Hely Lopes; ALEIXO, Délcio Balestero; FILHO, José Emmanuel Burle. Direito
Administrativo Brasileiro. 41. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2015. p. 102.
221
CHEGURY , Douglas Roberto Ribeiro de Magalhães. A função social da Polícia Civil no estado
democrático de direito. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6437/A-funcao-
social-da-Policia-Civil-no-estado-democratico-de-direito>. Acesso em: 16 set. 2015.
222
VETTORATO, Gustavo. O conceito jurídico do princípio da eficiência da Administração Pública.
Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 176, 29 dez. 2003. Disponível em:
<http://jus.com.br/artigos/4369>. Acesso em: 26 out. 2015.
223
MORAES, Alexandre de. Reforma Administrativa: Emenda Constitucional nº 19/98. 3º Ed. São
Paulo: Atlas, 1999, p. 30.
224
MENDES, Clóvis. Boletim de ocorrência de preservação de direitos. Revista Jus Navigandi,
Teresina, ano 14, n. 2065, 25 fev. 2009. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/12379>. Acesso em:
18 out. 2015.
75

mínima de provas, inclusive sobrecarregando de procedimentos os cartórios das


delegacias de policia.225
É notório, cada vez mais, um movimento do Estado, in casu, da PC, de
buscar a proximidade com os cidadãos, e levar ao dia-a-dia de suas atividades uma
natureza mais humana226, no entanto, a PC, para conseguir essa aproximação com
as pessoas, não pode realizar atividades que não competem a si, apenas para
satisfazer o cidadão, isto é, ela não deve se sobrecarregar de funções para
preencher um vazio que acontece por conta da omissão do Estado.227
A PC deve prestar apoio ao cidadão, dentro de suas prerrogativas,
quando este lhe pede ajuda e socorro, trabalhando para obstar a práticas de novos
delitos e reprimir os que já aconteceram228, ou seja, não adianta a PC atender a todo
tipo de solicitação, inclusive àquelas que não são de sua competência, in casu, BO
não criminais, e em razão da grande demanda, não apresentar resultados
satisfatórios à sociedade do que legalmente lhe é incumbida.
Acerca da satisfação da sociedade, quanto aos serviços realizados pela
PC, Sabbá defende que:

Entendo que a Polícia Judiciária demonstra o grau de comprometimento


com os direitos da população e a sua intenção de bem servi-la. Entretanto,
a Polícia tem que se comprometer com a função para a qual foi criada.
Investigando, elucidando e reprimindo crimes e prendendo seus autores: é
229
dessa forma que ela se engrandece e bem serve a sociedade.

Nesse mesmo sentido, Sabbá assevera que em razão de aspectos


históricos, as delegacias de polícia possuem déficit de policiais, espaço físico,
computadores, viaturas e diversos outros instrumentos de trabalho, enfim, que os

225
PEREIRA, Pedro Henrique Santana; FONSECA, Michelle Santiago de Oliveira. Considerações
acerca dos maus antecedentes criminais. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 77, jun 2010.
Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7892>. Acesso em out 2015.
226
FANTI, Dayane. Boletim de ocorrência de preservação de direitos: instrumento de
aproximação. Disponível em: <http://fantiadvogados.blogspot.com.br/2013/05/boletim-de-ocorrencia-
de-preservacao-de.html>. Acesso em: 18 out. 2015.
227
MENDES, Clóvis. Boletim de ocorrência de preservação de direitos. Revista Jus Navigandi,
Teresina, ano 14, n. 2065, 25 fev. 2009. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/12379>. Acesso em:
18 out. 2015.
228
FANTI, Dayane. Boletim de ocorrência de preservação de direitos: instrumento de
aproximação. Disponível em: <http://fantiadvogados.blogspot.com.br/2013/05/boletim-de-ocorrencia-
de-preservacao-de.html>. Acesso em: 18 out. 2015.
229
SABBÁ, Antonio Ailton Benone. Boletim de ocorrência não criminal. In: Delegado de Polícia
plantonista, Pará, 02 jun. 2011. Disponível em:
<http://delegadoplantonista.webnode.com.br/news/boletim%20de%20ocorr%C3%AAncia%20n%C3%
A3o%20criminal/>. Acesso em: 06 out. 2015.
76

recursos (humanos e materiais) são escassos e, por conta disso, deveriam ser
dirigidos às investigações, a apurar a autoria criminal, buscar elementos de prova
que subsidiem o Ministério Público no curso da ação penal e auxiliar a Justiça
Criminal.230
Nesse diapasão, com o presente capítulo, percebe-se que o BO é um
documento das delegacias de polícia e que foi criado com a finalidade de formalizar
à autoridade policial a comunicação de alguma prática criminosa que tenha ocorrido,
No entanto, a PC/SC, por conta do item 37 do anexo IX da LC nº
453/2009, e por costumes, ou comodismo, tem suas dependências constantemente
frequentadas para lavratura de BO não criminais, mesmo com tribunais entendendo
que ele não possui eficácia probatória.231
Não obstante, nota-se que essa liberdade de BO atípicos fere os
princípios norteadores da Administração Pública, que visam o interesse da
coletividade, e em especial o princípio da eficiência, pois o cidadão acaba utilizando
todo um aparato estatal para interesses particulares, quando todo esse aparato
poderia estar sendo utilizado na investigação policial ou no auxílio à Justiça Criminal.
Ademais, o gráfico referente à quantidade de atendimentos na Delegacia
de Polícia da Comarca de Palhoça/SC, ratificou a ideia de que a PC deve realizar
suas funções apenas em compasso às suas atribuições, haja vista o desperdício de
recursos, humanos e materiais, em atendimento aos cidadãos, por situações que
deveriam ser enfrentadas e resolvidas pelos devidos órgãos competentes.
Dessa forma, exercendo suas funções e cumprindo com seus deveres,
sem precisar realizar atividades que não compitam a si, a PC se consolidará mais e
mais junto à sociedade, e com isso trará a população para junto de si.
Então, com a sociedade integrada à PC, esta terá seu trabalho facilitado,
da mesma forma que terá da coletividade um amigo no combate a criminalidade.232

230
SABBÁ, Antonio Ailton Benone. Boletim de ocorrência não criminal. In: Delegado de Polícia
plantonista, Pará, 02 jun. 2011. Disponível em:
<http://delegadoplantonista.webnode.com.br/news/boletim%20de%20ocorr%C3%AAncia%20n%C3%
A3o%20criminal/>. Acesso em: 06 out. 2015.
231
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (Nona Câmara Cível).
Apelação Cível: AC 70059609552 RS. Relator: Desembargador Miguel Ângelo da Silva. Porte
Alegre, RS, 26 de janeiro de 2014. Disponível em: <http://tj-
rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/154003486/apelacao-civel-ac-70059609552-rs>. Acesso em: 18 out.
2015.
232
FANTI, Dayane. Boletim De Ocorrência De Preservação De Direitos: Instrumento De
Aproximação. Disponível em: <http://fantiadvogados.blogspot.com.br/2013/05/boletim-de-ocorrencia-
de-preservacao-de.html>. Acesso em: 18 out. 2015.
77

5 CONCLUSÃO

Diante da massiva procura e lavratura de BO não criminais nas


delegacias de polícia, que objetivam interesses alheios ao comum, ou seja, apenas
de cunho particular, este trabalho questiona se a eventual banalização do uso do BO
confeccionado nas delegacias da PC/SC pode comprometer a eficiência de suas
atividades realizadas.
Como o trabalho possui método de abordagem do tipo pensamento
dedutivo, parte-se do aspecto geral, neste caso a Administração Pública, para o
específico, que é o BO lavrado nas delegacias da PC/SC.
No primeiro capítulo, que versa sobra a Administração Pública, pode-se
constatar que seu conceito, de maneira mais abrangente, consiste no
aparelhamento do Estado para, por meio de suas atividades, atender aos interesses
públicos.
Vê-se ainda que, para a Administração alcançar o interesse da
coletividade, e pela ausência de normas específicas, ela é disciplinada por
supraprincípios, quais sejam: a indisponibilidade e a supremacia do interesse
público; e por princípios norteadores consagrados na CRFB/88, que são: legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, tendo este um enfoque
especial no presente trabalho.
Brevemente extrai-se que o supraprincípio da indisponibilidade consiste
na impossibilidade de haver acordo acerca do interesse público, enquanto que o
supraprincípio da supremacia do interesse público apregoa que, havendo conflito
entre o interesse público e o particular, prevalece o interesse coletivo.
Quanto aos princípios norteadores, o princípio da legalidade impõe que a
Administração só pode realizar o que estiver determinado em lei; o princípio da
impessoalidade assevera que a Administração, ao executar suas funções, deve
alcançar o fim exigido em lei, isto é, o interesse da coletividade; o princípio da
moralidade objetiva incluir valores éticos em suas atividades; o princípio da
publicidade preconiza a claridade dos atos da Administração, para que a sociedade
possa conhecê-los; já o princípio da eficiência visa atingir a satisfação da
coletividade, isto é, que suas atividades sejam realizadas com o menor tempo e
custo possíveis, e que solucionem os conflitos que venham a surgir no meio social.
78

É a agilidade, dedicação e comprometimento, do agente público e do Estado, em


atender e resolver os anseios da população.
Ocorre que, para o Estado atingir o interesse da coletividade, às vezes é
necessário impor restrições a atividades e direitos privados. Para isso, tem-se o
poder de polícia, que consiste na competência concebida ao Estado em poder inserir
essas exceções, mas sempre aspirando ao bem de todos.
Os órgãos que possuem o poder de polícia são chamados de polícia
administrativa, diferente de polícia judiciária.
A polícia administrativa, como já falado, é incumbida de prevenir a
ocorrência de algum ato ilícito, ao passo que a polícia judiciária atua após a
ocorrência da infração, pois cabe a ela a repressão, ou seja, identificar a autoria e
auxiliar o Ministério Público e o Poder Judiciário na ação penal.
Quanto ao segundo capítulo, este trata do instituto segurança pública,
onde apresenta inicialmente um breve aspecto histórico acerca do tema, e
posiciona-se que segurança pública se refere à atividade estatal voltada a garantir
os direitos fundamentais e a manutenção da ordem pública.
Na sequência, o segundo capítulo aborda os órgãos de segurança pública
previstos no art. 144 da CRFB/88, que, dentro de suas funções e competências,
possuem os mesmos objetivos explanados no parágrafo acima.
Depois, passa-se a falar da PC, que realiza atividades de polícia
judiciária, que apura a autoria das infrações penais e angaria elementos de prova,
por meio do inquérito policial, que se trata de um procedimento administrativo.
Este procedimento administrativo tem diversas formas de ser instaurado,
mas na grande maioria das vezes é a partir da lavratura de um BO, o qual tem por
objetivo comunicar à autoridade policial da prática de algum crime.
Quanto à PC/SC, além das atribuições de polícia judiciária, ela também
exerce atividades de polícia administrativa, como a execução de serviços de trânsito.
Em seguida, explana-se acerca das carreiras policiais dentro da PC/SC,
isto é, Delegado de Polícia, Escrivão de Polícia, Agente de Polícia e Psicólogo
Policial, que para ingressar é necessária prévia aprovação em concurso público, e
que, dentro de suas prerrogativas, todos exercem as atividades de polícia judiciária
e administrativa.
79

No terceiro capítulo, aborda o fato da PC/SC atender ao público também


na confecção de diversos BO não criminais, conhecidos popularmente por “BO pra
se resguardar” ou “BO de preservação de direitos”.
Acontece que o policial civil catarinense não pode recusar esse tipo de
atendimento em virtude do item 37 do anexo IX da LC nº 453/2009, o qual determina
que cabe ao policial registrar todos os delitos e ocorrências que tiver conhecimento.
Neste caso, a palavra ocorrências dá o direito ao cidadão de registrar o que tiver
interesse, da mesma maneira que torna dever do policial realizar referido registro.
Nesse sentido, o cidadão, a fim de ter um documento público acerca de
determinado fato, vai à delegacia de polícia e lavra o referido BO. Notadamente,
acaba por utilizar a delegacia como um tabelionato ou cartório gratuito, embora o BO
não tenha eficácia probatória, de acordo com diversos tribunais brasileiros.
Diante do pesquisador que assina este trabalho exercer a função de
Agente de Polícia Civil na Delegacia de Policia da Comarca de Palhoça/SC,
apresenta um levantamento de dados acerca da totalidade de BO registrados na
referida unidade policial no ano de 2014. Dos 15.814 (quinze mil oitocentos e
catorze) BO registrados no ano de 2014, 5.176 (cinco mil cento e setenta e seis) BO
foram de fatos não criminais, ou seja, aproximadamente 33% (trinta e três por cento)
dos atendimentos realizados não competiam à PC/SC.
Destarte, fazendo um elo entre o princípio da eficiência, que almeja a
resolução dos problemas sociais, com excelência, em menor tempo e custo
possíveis, e a banalização do uso do BO (isto mesmo, pois diante de todo o
trabalho, é irrefutável a ideia de que o BO e seu uso estão banalizados), pode-se
verificar claramente que essa banalização do referido documento compromete
efetivamente as atividades realizadas pela PC/SC.
É inadmissível que uma instituição “carregue um peso que não é seu”, ou
seja, não se pode aceitar que um órgão exerça atividades que não lhe competem
por culpa da omissão do Estado.
Como demonstra o desenvolvimento da presente pesquisa, o BO aqui
estudado não é previsto em nenhum ordenamento jurídico brasileiro.
Nesse sentido, o cidadão, que é merecedor de respeito, não pode estar
sujeito às arbitrariedades de outros órgãos que exigem o BO de fato não criminoso,
pois o coloca em uma via crucis totalmente desnecessária que, não raras vezes, o
faz esperar diversas horas numa fila de atendimento na delegacia de polícia.
80

Há de se falar ainda que a Administração também está pautada pelo


princípio da legalidade, e os órgãos que exigem algo que não esteja previsto em lei,
acabam por ferir este princípio.
Advogados que exigem o BO para propor uma ação, independente da
esfera que seja, devem mudar de postura. Conhecedores que são das leis, devem
ser transparentes e trabalharem com dedicação e agilidade para com seus clientes.
O Estado também tem condições de mudar esse cenário. Deve haver
alteração no texto do item 37 do anexo IX da LC nº 453/2009, determinando que o
policial realize somente o registro de infrações penais.
Ademais, órgãos que exigem BO, ao invés desta prática, podem conter
formulários de requisição em seus balcões. Dessa forma, iria tirar o cidadão de uma
burocracia que não faz sentido. O que o cidadão iria relatar na lavratura do BO de
fato atípico, ele simplesmente vai alegar no formulário que preencher.
Com essa mudança de postura, a vida dos cidadãos seria facilitada, pois
eles não mais precisariam se deslocar “de um lado para o outro” até a necessidade
ser realmente atendida. Isso iria promover maior agilidade nas atividades da
Administração Pública, que é um dos aspectos inerentes ao princípio da eficiência.
Outrossim, diante um quadro histórico de falta de efetivo nas delegacias
de polícia, e o aumento vertiginoso da criminalidade dentro do meio social, é
imprescindível que a PC/SC atue com bastante rigor no enfretamento ao crime.
Nessa senda, é imperioso o respeito ao princípio da eficiência, e para
isso, a Administração Pública, in casu, a PC/SC, deve realizar efetivamente as
atividades que lhe compete. Com isso, logicamente, haverá um aumento significativo
na repressão das infrações penais e na manutenção da ordem pública.
81

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