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DIREITO CIVIL

LINDB e Introdução ao Direito Civil

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
LINDB e Introdução ao Direito Civil
Daniel Carnacchioni

Sumário
Apresentação......................................................................................................................................................................3
LINDB e Introdução ao Direito Civil.......................................................................................................................4
1. Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro. ..................................................................................4
1.1. Introdução.. ....................................................................................................................................................................4
1.2. Fontes do Direito.. .....................................................................................................................................................4
1.3. Norma Agendi: a Lei................................................................................................................................................7
1.4. Competência e Jurisdição.................................................................................................................................20
1.5. Casamento: Regras sobre Direito Espacial. ...........................................................................................20
1.6. Prova.............................................................................................................................................................................22
1.7. O Direito Público e as Inovações.................................................................................................................. 22
2. Princípios Constitucionais do Direito Civil Contemporâneo...........................................................30
3. Histórico do Direito Civil.......................................................................................................................................31
3.1. Direito Civil Tradicional/Clássico................................................................................................................33
3.2. Direito Civil Contemporâneo..........................................................................................................................34
3.3. Características do Direito Civil Pós-Positivismo...............................................................................36
4. Princípios Constitucionais e sua Relevância para o Direito Civil.................................................39
5. Paradigmas do Direito Civil Contemporâneo...........................................................................................42
6. Diferença Básica entre Cláusula Geral e Conceito Jurídico Indeterminado. ...........................43
7. Diferença entre Regras e Princípios..............................................................................................................44
Resumo................................................................................................................................................................................46
Questões de Concurso................................................................................................................................................49
Gabarito............................................................................................................................................................................... 59
Gabarito Comentado....................................................................................................................................................60

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Daniel Carnacchioni

Apresentação
Olá, tudo bem?
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à equipe do Gran Cursos Jurídico pelo convite que
recebi para ministrar este curso de Direito Civil. É um enorme desafio porque o Direito Civil é
extenso e interage com todas as demais matérias, em especial, com o Direito Constitucional,
que o legitima e fundamenta.
Meu nome é Daniel Carnacchioni e, atualmente, ocupo o cargo de juiz de direito do TJ-DFT,
como titular da 2ª Vara da Fazenda Pública da capital federal. Antes de ingressar na carreira
da magistratura do TJ-DFT, há quase duas décadas, fui juiz de direito no nobre e encantador
Estado da Bahia, onde tive a oportunidade de conhecer e conviver com o guerreiro povo nor-
destino, época em que fui aprovado, em duas oportunidades, para o cargo de juiz de direito do
Estado de Minas Gerais, em concursos públicos sucessivos. Ao final, acabei por permanecer
no Distrito Federal, onde estou até hoje.
Há mais de 15 anos sou professor de Direito Civil e, tento, na medida do possível, apresentar
a matéria a partir de outra perspectiva, com foco no fundamento, na razão e na finalidade dos
institutos de Direito Civil, porque somente assim é possível ter compreensão lógica de todo o
sistema para, inclusive, permitir que o aluno tenha a capacidade para conectar todos os assun-
tos e temas. Nesse período de magistério, fui e ainda sou professor de várias instituições de
ensino e, em tempos recentes, passei a ter a honra de integrar a equipe do Gran Jurídico. Meu
Manual de Direito Civil pela editora Juspodivm, no qual abordo todos os temas de Direito Civil,
está caminhando para a 4ª edição, o que me deixa muito orgulhoso.
O curso apresentará teoria e exercícios comentados. A metodologia contempla a exposi-
ção dos assuntos e, na sequência, a resolução de questões de provas. Para facilitar a revisão
da matéria, todas as aulas serão finalizadas com um resumo, além de uma lista das questões
comentadas, com o gabarito. Caso reste alguma dúvida, não hesite em postá-la no Fórum de
Dúvidas. A interação com o professor é um dos diferenciais do curso! Espero que aprovei-
te bastante.
Aproveite e se entregue intensamente ao Direito Civil. Boa leitura e sucesso.

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LINDB E INTRODUÇÃO AO DIREITO CIVIL


1. Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro
1.1. Introdução
A LINDB (antes denominada LICC) não faz parte do Código Civil, embora esteja anexa a ele.
Trata-se de norma de sobredireito, ou seja, é um conjunto de normas cujo objetivo é disciplinar
as próprias normas jurídicas (lex legum – norma sobre normas).
A lei em questão estabelece alguns parâmetros genéricos para formação, elaboração, vi-
gência, eficácia, interpretação, integração e aplicação das leis.
A mudança de nomenclatura ocorreu com a finalidade de adequar a aplicação prática e
a abrangência real da lei de introdução ao seu aspecto formal (nome da ementa). A Lei n.
12.376/2010 passou a mencionar que o decreto é, de fato, Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro, e não apenas normas de caráter civil.
A LINDB é destinada ao legislador e aplicador do direito, diferente das demais normas
jurídicas que, por possuírem o atributo da generalidade, são destinadas, em regra, a toda a
comunidade.

A LINDB trata dos seguintes assuntos:

• vigência e eficácia das normas jurídicas;


• conflito de leis no tempo;
• conflito de leis no espaço;
• critérios hermenêuticos;
• critérios de integração do ordenamento jurídico;
• normas de direito internacional privado (arts. 7º a 19);
• normas de direito público (arts. 20 a 30).

Antes de adentrar propriamente no estudo da LINDB, devemos revisar conceitos básicos


do direito. Isso porque, muitas vezes, em etapas mais avançadas dos concursos, como, por
exemplo, nas provas orais, são cobrados conceitos jurídicos básicos, que acabam gerando um
limbo jurídico na mente do indagado no momento da resposta.

1.2. Fontes do Direito


Conceito: de “onde vem” ou formas de expressão do direito.
Miguel Reale define fontes do direito como os “processos ou meios em virtude dos quais
as regras jurídicas se positivam com legítima força obrigatória”.
De acordo com Hans Kelsen, fonte do direito é “o fundamento de validade da norma jurídi-
ca, decorre de uma norma superior, válida”.
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A classificação e divisão quanto as fontes do direito, não é tema pacífico na doutrina, de


modo que cada autor edita sua classificação:
Se dividem em:
• Fontes formais: constam expressamente na LINDB, e se dividem em primarias (leis); e
secundarias (analogia, costumes e princípios gerais do direito);
• Fontes informais: não estão previstas na LINDB: doutrina, jurisprudência e equidade.

Alguns autores denominam as fontes formais secundárias de fontes indiretas ou mediatas,


isso porque são aplicáveis em caso de lacuna legal, omissão da lei (art. 4º – “quando a lei for
omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de
direito”). São os denominados métodos de integração normativa.

CPC, Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordena-
mento jurídico.

1.2.1. Analogia

Consiste em aplicar a uma data situação que não está prevista em lei uma norma jurídica
próxima (analogia legis ou propriamente dita) ou um conjunto de normas jurídicas que pos-
suem sintonia com aquele caso (analogia iuris). Como exemplo há a aplicação das regras do
casamento para a união estável.

001. (MPE-PB/PROMOTOR DE JUSTIÇA/BANCA PRÓPRIA/2010/ADAPTADA) Julgue:


A analogia juris consiste na aplicação de uma norma existente, destinada a reger caso seme-
lhante ao previsto.

Segundo a distinção feita por alguns autores, a analogia legis consiste na aplicação de uma
regra jurídica existente a caso semelhante, não previsto pelo legislador. A analogia juris sugere
um processo mais amplo, porque não encontrando regra jurídica que regulamente caso seme-
lhante, ao julgador se permite extrair filosoficamente o axioma predominante de um conjunto
de regras ou de um instituto, ou de um acervo de diplomas legislativos (baseada, portanto, em
princípios do direito positivo).
Errado.

Não confunda analogia com interpretação extensiva.


Na analogia, rompe-se com os limites previstos na norma, havendo integração jurídica. Na
interpretação extensiva, apenas amplia-se o seu campo, havendo subsunção.

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Também não confunda SUBSUNÇÃO com INTEGRAÇÃO. A SUBSUNÇÃO é a aplicação dire-


ta da lei, ao passo que a INTEGRAÇÃO é o método a partir do qual o julgador supre as lacunas
da lei, aplicando as ferramentas previstas no art. 4º da LINDB (analogia, costumes e princípios
gerais do Direito).

EXEMPLO
Aplicação do art. 157, § 2º, do CC, para lesão usuária, prevista na Lei de Usura. Nesse caso,
haverá interpretação extensiva, pois o dispositivo somente será aplicado a outro caso de lesão.
Amplia-se o sentido da norma, sem romper seus limites.
Aplicação do art. 157, § 2º, do CC, para o estado de perigo (art. 156 do CC). Nessa hipótese,
haverá a aplicação da analogia, porque o comendo legal está sendo aplicado a outro instituto
jurídico, sendo caso de integração.

O PULO DO GATO
As normas de exceção não admitem analogia ou interpretação extensiva. Podemos citar, como
exemplo, as normas que restringem a autonomia privada ou que diminuem a proteção de direi-
tos relacionados a dignidade da pessoa humana.

EXEMPLOS
Enunciado n. 146 III JDC: “nas relações civis, interpretam-se restritivamente os parâmetros de
desconsideração da personalidade jurídica previstos no art. 50 (desvio de finalidade social ou
confusão patrimonial).”
Qualquer negócio ou ato jurídico que envolva a cessão ou a transmissão da projeção dos efei-
tos patrimoniais dos direitos da personalidade deve ser interpretado restritivamente.
Art. 114 do CC (os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se restritivamente).

1.2.2. Costumes

São as práticas reiteradas no tempo. A repetição de usos de comportamentos, capaz de


gerar a convicção interna no individuo de uma necessidade jurídica de sua obediência.

CC, Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar
de sua celebração.

Os costumes podem ser:

• Segundo a lei (secudum legem): quando expressamente previstos (ex.: art. 187, CC).
Aqui há subsunção;
• Na fata de lei (praeter legem): aplicado quando a lei for omissa (ex.: cheque pré-datado);
• Contra a lei (contra legem): não são admitidos.

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1.2.3. Princípios Gerais do Direito

São as fontes basilares para qualquer ramo do direito, influindo tanto em sua formação
quanto em sua aplicação.
São três os princípios consagrados no CC, conforme se extrai da sua exposição de motivos:
• Princípio da eticidade (valorização da ética e boa-fé);
• Princípio da socialidade (corolário do princípio da função social da propriedade, dos
contratos);
• Princípio da operabilidade (simplicidade e efetividade, a alcançada por meio das cláusu-
las gerais).

Alguns princípios gerais do Direito Civil, a partir da vigência da CF/1988, e do movimento de


constitucionalização do Direito Civil, ganharam status constitucional, de modo que, segundo
o professor Paulo Bonavides, terão prioridade de aplicação, mesmo quando há lei específica
sobre a matéria.
São exemplos: a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF5), a solidariedade social (art.
3º, I, CF6) e a isonomia ou igualdade material (art. 5º, caput, CF7).
Vale destacar a crítica realizada pela doutrina contemporânea, que ressalta a necessidade
de atualização do art. 4º, em razão da profunda alteração da teoria das fontes. Já que hoje há
reconhecida eficácia normativa dos princípios e também da jurisprudência (aproximação do
sistema common law realizado pelo CPC/2015 com a valorização da jurisprudência).

1.2.4. Equidade

A equidade é forma de integração do direito?


Segundo Aristóteles, a equidade é a correção do justo legal; ou seja, a correção da lei, quan-
do esta se mostrar extremamente injusta.
A equidade não está prevista na LINDB como forma de integração de lacunas legais. Mas
o art. 127 do CPC prevê que “o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”. Des-
se modo, entende-se que o sistema jurídico admite a equidade como mecanismo de integra-
ção, quando indicado pela própria norma, ou seja, somente em caso de previsão legal (vide
art. 7º, CDC).

1.3. Norma Agendi: a Lei


Lei é a norma jurídica. Fonte primária e direta do direito. Trata-se de uma ordem (determi-
nação do legislador) com caráter geral, universal e permanente, e deve originar da autoridade
competente.

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Nos dizeres de Maria Helena Diniz, trata-se de um imperativo autorizante. Imperativo por-
que é dotada de coercibilidade, sendo dirigida a todos (atributo da generalidade). Autorizante
porque tem a função de autorizar ou não determinadas condutas.

1.3.1. Vigência, Vigor, Eficácia e Validade da Lei

A vigência é o tempo de duração de uma norma jurídica, o lapso temporal no qual a lei pode
produzir efeitos, no qual a lei possui vigor. Tem seu início com a publicação (ou decorrido o
prazo da vacatio legis) e persiste até a sua revogação ou extinção. O termo a quo da vigência
da lei é estabelecido livremente pelo legislador.
A vigência da norma tem íntima conexão com a força vinculante da lei ou à sua obrigato-
riedade (vigor da norma).
Atenção, caro(a) aluna(o), não podemos confundir vigência com vigor e com eficácia da lei:
• Vigência: período entre a entrada em vigor e a revogação da lei;
• Vigor: força vinculante, se liga ao princípio da obrigatoriedade, vincula todos os fatos e
pessoas à norma agendi (lei). A ultratividade é o fenômeno em que uma norma mesmo
sem ter vigência (em razão de sua revogação), possui vigor (continua a reger certos
fatos).

Assim, normas sem vigência podem ainda estar em vigor. Trata-se do fenômeno da ultrati-
vidade, que nada mais é do que a possibilidade material e concreta de uma lei revogada ainda
produzir efeitos. Tal princípio está diretamente relacionado com a garantia constitucional da
não retroatividade das normas. Como exemplo, há a aplicação do CC/16 para os fatos ocorri-
dos durante a sua vigência, ou seja, para os contratos celebrados durante sua vigência.
O CC/2002 também manteve a vigência de vários dispositivos do CC/1916, com o que con-
feriu ultratividade para algumas normas específicas, ou “sobrevida”, mesmo após a revogação
do CC/1916 pelo CC/2002 (enfiteuse, sucessão aberta antes do CC).

002. (CEBRASPE/JUIZ DE DIREITO/TJ-PB/2015/ADAPTADA) Em razão da denominada ul-


tratividade da norma, mesmo revogado, o Código Civil de 1916 tem aplicação às sucessões
abertas durante a sua vigência, ainda que o inventário tenha sido proposto após o advento do
Código Civil de 2002.

Veja o teor do art. 1.787 do CC: “Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a
lei vigente ao tempo da abertura daquela.” Assim, em alguns temas, o CC/16, embora revogado,
possui ultratividade, de modo a que continua reger os fatos jurídicos anteriores à sua vigência.
Certo.

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Eficácia: é a aptidão da norma para produzir efeitos. Pode ser social, técnica ou jurídica.
A eficácia social ou efetividade da norma diz respeito ao cumprimento do direito por parte
da sociedade, em outras palavras, é a materialização no mundo dos fatos da dicção da norma.
Eficácia técnica se liga à presença de condições técnicas para sua produção de efeitos. A
exemplo das normas constitucionais de eficácia limitada.
Eficácia jurídica: se refere ao poder que toda norma possui para irradiar efeitos jurídicos, a
exemplo da revogação de norma anterior incompatível.
Hugo de Brito Machado afirma que “vigência é a aptidão para incidir”, enquanto eficácia
seria a “aptidão para produzir efeitos no plano da concreção jurídica”. Ademais, esclarece o
autor que:

Vigência é qualidade que não admite graduação. Está ou não na lei. Não existe lei mais vigente do
que outra. A eficácia, diversamente, é qualidade sempre relativa. Existem leis mais eficazes do que
outras. Pode-se dizer que não existe lei absolutamente desprovida de eficácia, como não existe lei
absolutamente eficaz.

Também não se deve confundir vigência com validade.


Validade: norma válida é a que foi formada, originada e elaborada por órgão competente,
com a obediência ao devido processo legal legislativo. No âmbito formal, a lei válida é a que
obedece a todos os parâmetros legais de formação e do processo legislativo. No âmbito mate-
rial, lei válida é a que está adequada e conforme os preceitos da Constituição Federal.
A vigência está relacionada ao momento em que a norma válida, sob o aspecto formal e
material, passa a ter força vinculante para os seus destinatários.

Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de oficial-
mente publicada.
§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 3 me-
ses depois de oficialmente publicada.

Entrada em vigor:

Brasil Estado estrangeiro

Quarenta e cinco dias, salvo


Três meses.
disposição em contrário.

Se a lei for omissa quanto ao início da vigência, aplica-se a regra geral do art. 1º: entra em
vigor 45 dias após ser publicada. No entanto, se a lei dispuser a data de vigência, prevalece a
norma específica.

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Nesse ponto, há um importante princípio, muito cobrado em provas de concurso: princípio


da obrigatoriedade simultânea ou vigência sincrônica, que estabelece que vigência se dá em
todo o território nacional simultaneamente. Também chamado de critério do prazo único. Se
contrapõe ao sistema da vigência progressiva, gradual, sucessiva, aplicável para a vigência da
lei brasileira no Estado estrangeiro em relação à sua aplicação em território nacional. Vale des-
tacar também que lei antecessora da atual LINDB adotava o sistema da vigência progressiva.

§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção,
o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação [ou seja, o
prazo se reinicia a contar da nova publicação]
§ 4º As correções a texto de lei já em vigor CONSIDERAM-SE LEI NOVA.

A correção a que se refere o § 3º será apenas quanto a erros de redação/ortografia. Mu-


danças de mérito não são admitidas, pois estas demandam uma nova lei com adequado trami-
te legislativo (deliberações, discussão etc.).
O período entre a publicação da lei e o início de vigência é denominado de vacatio legis. O
prazo de vacatio legis e o modo de cômputo do prazo deve ser de acordo com o art. 8º da Lei
Complementar n. 95/1998:

Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável
para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula “entra em vigor na data de sua
publicação” para as leis de pequena repercussão.
§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância
far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia
subsequente à sua consumação integral [vale destacar: independentemente se o dia for ou não útil]
§ 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em vigor
após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial.

Não se aplica o prazo de vacatio legis da LINDB:


• Para os atos administrativos, pois estes entram em vigor na data da publicação no órgão
oficial, pois nesse momento presume-se a ciência do destinatário;
• Para a vacatio constitutionis, isso porque as ECs entram em vigor na data de sua publica-
ção, salvo se houver previsão expressa em outro sentido, como, por exemplo, o sistema
tributário nacional possuiu uma vacância prevista no art. 34 do ADCT.

O art. 2º da LINDB prevê outro importante princípio ao enunciar que “não se destinando à
vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue”. Trata-se do princípio
da continuidade ou permanência da lei, esta permanecerá em vigor até que outra a modifique
ou revogue. A exceção fica por conta da lei excepcional ou temporária, que são autorrevogá-
veis (possuem vigência por um período condicional ou temporário) e são ultrativas (os efeitos
dos atos praticados não extinguem com elas).

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Como exemplo de norma temporária, podemos citar a Lei n. 14.010, de 10 de junho de


2020, que na ementa dispõe sobre o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das relações
jurídicas de direito privado no período da pandemia do coronavírus (covid-19), e no art. 3º,
caput, dispõe de forma expressa que: “os prazos prescricionais consideram-se impedidos ou
suspensos, conforme o caso, a partir da entrada em vigor desta Lei até 30 de outubro de 2020”.
Norma aplicável também, para os prazos de decadência (§ 2º).
A revogação encerra a vigência de uma norma por outra, e pode ser:
• Quanto à extensão:

Ab-rogação (lembrar: “ab” de absoluta,


Revogação total
total).

Revogação parcial Derrogação.

• Quanto ao modo:

Revogação expressa (ou por via direta) Taxativamente prevista na norma.

Quando seja com ela incompatível


Revogação tácita (ou por via oblíqua) ou quando regule a matéria de que
tratava a lei anterior.

O § 1º admite que a revogação seja expressa ou tácita. Nesse ponto, a regra pode parecer
entrar em choque com aquela disciplinada no art. 9º da LC n. 95/1998, que sugere a neces-
sidade de a revogação ser sempre expressa. Não obstante, tem prevalecido que a revogação
tácita é, sim, possível.
Já o § 2º do mesmo artigo apresenta obviedades. A revogação somente pode ser expressa
ou tácita, razão pela qual, caso a lei nova estabeleça disposições gerais ou especiais a par das
já existentes, não há revogação nem modificação da lei anterior.
A exemplo da Lei dos Alimentos Gravídicos (Lei n. 11.804/2008,) que ao trazer apenas
acréscimos ao reconhecer o direito a alimentos ao nascituro e à mulher grávida, não revogou
nem alterou o CC/02 em matéria de alimentos.
Por fim, o § 3º trata do fenômeno da repristinação. Por se tratar de assunto “supercaidor”
em provas de concursos, explicarei, a seguir, tal fenômeno.
O terceiro e último princípio, de grande importância na LINDB, vem previsto no art. 3º: “nin-
guém se escusa de cumprir a lei alegando que não a conhece”. Trata-se do princípio da obriga-
toriedade da lei. A norma jurídica, geral e abstrata, quando publicada e vigente, obriga a todos
os membros da coletividade ou comunidade que a ela se submete, sem qualquer distinção. É

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irrelevante a condição social, cultural, sexual, racial, econômica e pessoal do sujeito. Tal nor-
ma garante a eficácia do sistema e traz segurança jurídica. Há uma presunção relativa de que
todos conhecem a lei. Relativa, pois admite exceções, como, por exemplo, a norma prevista no
art. 139, III, do CC/02, o qual permite a anulação do negócio jurídico por erro do direito.

Vamos lá, caro(a) aluno(a), depois de visto alguns conceitos, veja se consegue responder esta
pergunta: Se um negócio jurídico for celebrado durante a vacatio de uma lei que o irá proibir,
esse negócio jurídico é: (i) anulável (porque assim se considera aquele em que se verifica a
prática de fraude); (ii) nulo (por faltar licitude ao seu objeto)’ (iii) inexistente (porque assim se
considera aquele que tiver por objetivo fraudar lei imperativa); (iv) válido, porque a lei ainda
não está em vigor; (v) ineficaz, porque a convenção dos particulares não pode derrogar a or-
dem pública?
Essa questão foi cobrada na prova objetiva do concurso de juiz de direito do TJ-PE, promovido
pela FCC, em 2015.
A resposta correta é a que indica que o contrato é valido, porque a lei ainda não está em vigor. O
plano da validade de um negócio jurídico é regulado pela norma em vigor no momento de sua
celebração. Se a lei estava cumprindo o prazo de vacatio, é sinal de que a mesma ainda não
estava em vigor (art. 1º, LINDB: Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o
país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada). Se não estava em vigor o negócio
ainda não havia sido proibido. Não sendo proibido o negócio no momento de sua celebração,
será reputado válido.
Trata-se da regra estampada no art. 2.035, CC:

a validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Códi-
go, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos
após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas
partes determinada forma de execução.

A lei se torna obrigatória, passa a ter vigor, com a vigência e não com a publicação. Após a
publicação, a lei poderá ou não cumprir o período de vacatio legis.
Nesse ponto, é importante analisarmos como se dá a formação da lei. Esta envolve três
etapas, quais sejam:
• 1º Elaboração da lei;
• 2º Promulgação da lei (pode ser dispensada);
• 3º Publicação da lei.

A fase de elaboração da lei vai desde a iniciativa até a sanção ou veto, ou seja, corresponde
a todo o processo legislativo previsto na CF/1988 e na LC n. 95/1998.

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Daniel Carnacchioni

A promulgação é a última etapa do processo legislativo e consiste na declaração de exis-


tência formal da lei, embora ainda não tenha entrado em vigor.
Por fim, a publicação é o ato que dá publicidade à lei. É a condição para a lei entrar em vigor,
obedecido o período de vacatio legis, se acaso houver.
Há controvérsia na doutrina se o nascimento da lei ocorre com a promulgação ou com o
último ato anterior a ela, já que a promulgação tem o fito apenas de atestar a existência da lei.
No entanto, tal discussão não se mostra relevante para o Direito Civil, pois, para reger um dado
fato jurídico e produzir seus efeitos, a lei deve estar em vigor (e quanto a esse momento, não
há controvérsia).

1.3.2. Repristinação da Lei

O § 3º do art. 2º trata do fenômeno da repristinação, nos seguintes termos: “salvo dispo-


sição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”.
Veja que, em regra, não se admite a repristinação no Direito brasileiro.

Mas o que é tal fenômeno? Em apertada síntese, trata-se de fenômeno jurídico em razão
do qual uma norma revogada volta a ter vigência, em razão da revogação da lei que a revogara.

Veja o seguinte exemplo:

Se a lei C revoga a lei B, a qual, por sua vez, já havia revogado a lei A, esta última não voltará
a produzir efeitos, pois, em regra, no Brasil, não se admite a repristinação. Não se admite que
a lei A volte a viger em razão da revogação da lei B.
A repristinação somente será admitida quando: (i) houver previsão expressa (repristinação
legal); (ii) em caso de declaração de inconstitucionalidade da norma revogadora (nesse caso,
não haverá propriamente repristinação, mas, sim, o denominado efeito repristinatório, previsto
no Direito Constitucional); (iii) uma lei for revogada por uma MP que não foi convertida em lei.

1.3.3. Eficácia da Lei no Tempo

A eficácia de uma legislação no tempo possui relevância, em especial, nas situações que
envolvem o denominado “direito intertemporal”. Há relações jurídicas que foram estabelecidas
sob a vigência de uma lei e acabam projetando os seus efeitos quando já vigente outra lei. O

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direito intertemporal cuidará de regular e disciplinar essas situações jurídicas em que os efei-
tos de fato jurídico nascido e se originado na vigência de uma lei refletirão em período quando
já em vigor outra legislação.
O art. 6º da lei de introdução retrata e reproduz esses pressupostos ao dispor que a lei em
vigor (vigência) terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquiri-
do e a coisa julgada. As situações jurídicas já consolidadas sob a vigência da lei antiga devem
ser preservadas pela nova legislação.

A regra no ordenamento jurídico brasileiro é a irretroatividade da lei (leis são editadas


para reger fatos posteriores a sua vigência). Esse princípio objetiva garantir a segurança, a
certeza e a estabilidade do ordenamento jurídico.

E quando será possível a retroatividade?

• necessário que haja permissão legal; e


• não pode prejudicar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (barreiras
previstas não apenas na LINDB como também na CF/1988).

Vamos entender cada uma das referidas barreiras constitucionais.


• Direito Adquirido

De acordo com o § 2º do art. 6º, consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu
titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo
pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. De acordo com Caio Mario:

são os direitos definitivamente incorporados ao patrimônio do seu titular, sejam os já


realizados, sejam os que simplesmente dependem de um prazo para o seu exercício,
sejam ainda os subordinados a uma condição inalterável ao arbítrio de outrem.

Nesse ponto, é preciso ter cuidado para o seguinte: não confunda o referido artigo da LIN-
DB com o art. 125 do CC, que dispõe: “subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condi-
ção suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa”.
Isso porque, enquanto o art. 125 trata acerca do direito adquirido em razão de um negócio
jurídico (direito a própria prestação), o art. 6º, § 2º, da LINDB, trata acerca do direito adquirido
resultante de lei (direito a ter direito).
Outra distinção importante é no que se refere à expectativa de direito que se configura
quando não estiverem presentes todos os fatos exigíveis para a aquisição do direito. Seu ti-
tular tem apenas a expectativa, esperança de que um dia possa ser titular do referido direito.
Um exemplo disso ocorre quando há um conjunto de regras que autorizam a aquisição de um
direito após o cumprimento de fatos predeterminados. Se o pretenso titular ainda não cumpriu

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os fatos necessários, não poderá alegar direito adquirido em face de novo conjunto de regras.
Por isso é que se afirma que não há direito adquirido a regime jurídico (não há direito adquirido
para mantença de normas jurídicas, estas, assim como a sociedade são dinâmicas). Veja o
seguinte julgado do STF:

JURISPRUDÊNCIA
CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO. PROVENTOS DE APOSENTADORIA. LEI SUPER-
VENIENTE ESTABELECENDO VENCIMENTO ÚNICO PARA A CARREIRA. DIREITO ADQUI-
RIDO A REGIME JURÍDICO. INEXISTÊNCIA, ASSEGURADA A IRREDUTIBILIDADE DO VALOR
PERCEBIDO. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 1. A jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal consolidou-se no sentido de que não existe direito adquirido
nem a regime jurídico, nem aos critérios que determinaram a composição da remunera-
ção ou dos proventos, desde que o novo sistema normativo assegure a irredutibilidade
dos ganhos anteriormente percebidos. 2. Não havendo redução dos proventos percebi-
dos pelo inativo, não há inconstitucionalidade na lei que estabelece, para a carreira, o sis-
tema de vencimento único, com absorção de outras vantagens remuneratórias. 3. Agravo
regimental desprovido. (RE 634.732 AgR-segundo, Rel. Min. Teori Zavascki, 2ª Turma, DJe
19-06-2013).

• Ato Jurídico Perfeito

A distinção entre ato jurídico perfeito e direito adquirido: o direito adquirido resulta dire-
tamente da lei, já o ato jurídico perfeito decorre da vontade das partes, que a exterioriza de
acordo com a lei (exemplo: um contrato). Tais atos jurídicos são protegidos por mudanças
supervenientes da lei.

• Coisa Julgada

Por fim, denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscu-
tível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso, ou seja, a decisão de mérito que tran-
sitou em julgado.
No entanto, tratando-se de direitos disponíveis, as partes poderão dispor dos seus direitos,
mesmo após o reconhecimento em sentença transitada em julgado.
O efeito negativo da coisa julgada impede que a mesma causa seja discutida em outro
processo, com as mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido. Já o efeito positivo
da coisa julgada vincula o juiz ao que foi decidido em demanda anterior com decisão protegida
pela coisa julgada material ao julgar uma segunda demanda.
No entanto, vale destacar que o dispositivo diz respeito à coisa julgada. De modo que,
modificadas a situação fática e jurídica que serviu de base e fundamento para a decisão, é

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plenamente possível, em face dos limites objetivos da coisa julgada, que uma nova decisão
seja proferida modificando a situação a partir de então, ou seja, para o futuro. Explicando
melhor, se uma pessoa ganha judicialmente o direito a receber algum auxílio governamental,
modificada a lei na qual tal auxílio fora fundamentado, excluindo o benefício, o referido titu-
lar perde o direito ao auxílio, não havendo que se falar em impedimento pela coisa julgada.
Não pode ser alegado, nem mesmo o óbice do direito adquirido, haja vista, como já dito, a
inexistência de direito adquirido frente a regime jurídico.
É certo que, atualmente, há certa relativização da coisa julgada – em especial, quando esta
for inconstitucional (RE 363.889 – STF); bem como em ações investigatórias de paternidade
julgadas improcedentes quando não existia exame de DNA no Brasil.

JURISPRUDÊNCIA
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. REPER-
CUSSÃO GERAL RECONHECIDA. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE DECLA-
RADA EXTINTA, COM FUNDAMENTO EM COISA JULGADA, EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA
DE ANTERIOR DEMANDA EM QUE NÃO FOI POSSÍVEL A REALIZAÇÃO DE EXAME DE DNA,
POR SER O AUTOR BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA E POR NÃO TER O ESTADO
PROVIDENCIADO A SUA REALIZAÇÃO. REPROPOSITURA DA AÇÃO. POSSIBILIDADE,
EM RESPEITO À PREVALÊNCIA DO DIREITO FUNDAMENTAL À BUSCA DA IDENTIDADE
GENÉTICA DO SER, COMO EMANAÇÃO DE SEU DIREITO DE PERSONALIDADE. (STF, RE
363.889/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, J. 02/06/2011).

003. Considere as afirmações abaixo, a respeito do direito intertemporal em matéria civil:


I – A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro veda, textual e literalmente, o efeito
retroativo da lei.
II – Os direitos sob condição suspensiva são considerados adquiridos.
III – As expectativas de direito equiparam-se a direitos adquiridos quando constantes de con-
trato escrito.
IV – A lei nova possui efeito imediato, salvo quando alterar prazos de prescrição.

I – Errado. Não há previsão expressa na LINDB de proibição de retroatividade da lei.


II – Certo. Nos termos do art. 6º, § 2º, da LINDB.
III – Errado. Art. 6º, § 2º, LINDB. Para que se tenha direito adquirido mister, se faz que já tenham
sido realizados ou que o começo do seu exercício tenha termo pré-fixo, ou condição preestabe-
lecida inalterável, a arbítrio de outrem.
IV – Errado. Art. 1º, LINDB.
Errado./Certo./Errado./Errado.

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A irretroatividade não é regra absoluta, cedendo, em alguns casos, em razão de outros


princípios constitucionais de alto relevo. Carlos Roberto Gonçalves afirma que a irretroativida-
de das leis não possui caráter absoluto, por razões de políticas legislativas, que por sua vez
podem recomendar que, em determinadas situações, a lei seja retroativa, atingindo os efeitos
dos atos jurídicos praticados sob o império da norma antiga.

Logo, a retroatividade é exceção, e se trata de fenômeno no qual uma lei é aplicada para
fatos anteriores à sua vigência. Segundo alguns doutrinadores, a retroatividade pode ocorrer
em graus:
• Retroatividade de grau máximo (restitutória): a lei nova retroage para atingir os atos ou
fatos já consumados (direito adquirido, ato jurídico perfeito ou coisa julgada);
• Retroatividade em grau médio: a lei nova, sem atingir a causa finitae, retroage para atin-
gir os efeitos do fato passado, efeitos esses que se encontram pendentes;
• Retroatividade de grau mínimo (mitigada, temperada): ocorre quando a lei nova incide
imediatamente sobre os efeitos futuros dos atos ou fatos pretéritos, não atingindo, no
entanto, nem os atos ou fatos pretéritos nem os seus efeitos pendentes.

O STF, no RE n. 226.855, decidiu que as leis que afetam os efeitos futuros de contratos
celebrados anteriormente são retroativas (retroatividade mínima), afetando a causa, que é um
fato ocorrido no passado, ou seja, os efeitos futuros dos fatos ocorridos sob a vigência da lei
antiga podem ser atingidos pela lei nova (retroatividade mínima).
No entanto, Nelson Rosenvald faz o alerta de que:

[...]forçoso é reconhecer, outrossim, a aplicação imediata da lei nova às relações jurídicas continua-
tivas – isto é, as relações jurídicas iniciadas na vigência da lei anterior e que se protraem no tempo,
mantendo-se após o advento da lei nova. No que concerne às relações continuativas (também cha-
madas de trato sucessivo), a sua existência e sua validade, ficam submetidas à norma vigente ao
tempo de seu início. No entanto, a sua eficácia, estará, inarredavelmente, submetida à nova norma
jurídica. De qualquer sorte, é certo que essa incidência da lei nova aos efeitos das relações continu-
ativas exige respeito ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e a coisa julgada. Um bom exemplo,
pode ser lembrado com a incidência do novo limite de multa (cláusula penal em taxas condominiais
não pode exceder 2% ao mês, imposto pelo CC/02). Na legislação antecedente a multa poderia ser
fixada no limite de 20% ao mês. Assim sendo, indaga-se, um condomínio constituído antes da vigên-
cia do CC/02 poderia continuar cobrando a multa de 20% pelo atraso no pagamento da taxa mensal?
A resposta é não. Estando todo e qualquer condômino submetido ao limite de 2% ao mês, mesmo
aqueles constituídos antes da vigência do atual Codex, uma vez que em se tratando de relação jurí-
dica continuada, sua eficácia, estará, seguramente, submetida à legislação vigente.

Outra exceção, em que também haverá retroatividade mínima, também diz respeito ao pre-
ceito de ordem pública. Nos termos do parágrafo único do art. 2.035 do CC: “nenhuma conven-
ção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este
Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos”.

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1.3.4. Eficácia da Lei no Espaço – Regras sobre Direito Internacional Privado

Objetivo: solucionar conflito de leis no espaço.


O conflito de leis no espaço ocorre quando certas relações jurídicas transcendem a ordem
jurídica interna e se interconectam com leis estrangeiras, autônomas e independentes. O que
exigirá a definição de qual desses ordenamentos jurídicos regerá o fato e suas consequências
ou efeitos jurídicos.
A regra geral é a aplicação do direito pátrio. O direito estrangeiro é aplicável apenas de
modo excepcional. Por essa razão, a LINDB adota o princípio da territorialidade moderada,
temperada mitigada.
Mas vale destacar uma premissa: a CF sempre prevalece sobre eventual norma estrangeira
que preveja desigualdade entre homens, entre filhos na constância do casamento ou em razão
de raça ou religião. Isso porque não se aplicam as normas de direito estrangeiro contrárias às
normas de índole constitucional.
Outro fato importante é que as normas de direito internacional privado previstas na LINDB
são indicativas e indiretas. Isso significa que apenas indicam qual a ordem jurídica substancial
(nacional ou estrangeira) deverá ser aplicada no caso concreto para o fim de resolver a ques-
tão principal. Por exemplo: não dizem se o casamento é valido ou não, se o indivíduo tem ou
não direito a herança.
Assim, as normas de DPI são instrumentais, auxiliares, pois apenas indicarão se é o direito
estrangeiro ou o direito nacional que resolverá a questão.
Para aplicação da norma estrangeira, exige-se uma regra de conexão. Os elementos de
conexão podem ser pessoais (nacionalidade, domicílio), reais (localização do imóvel) e condu-
cista (celebração e execução de contrato).
Para incidência do DPI, o pressuposto é a conexão espacial. Para ficar mais claro, veja ca-
ro(a) aluno(a) um exemplo em que está ausente a conexão espacial: dois brasileiros se casam no
Brasil, adquirem bens no Brasil e dissolvem a sociedade conjugal no Brasil. Agora, um exemplo
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em que está presente a conexão espacial: brasileiro se casa com italiano na França, lá residem,
adquirem bens e resolvem vir morar no Brasil.

Qual a metodologia de aplicação do DPI?

PRIMEIRO (OBJETO DA CONEXÃO): qualificação da relação jurídica (objeto da conexão –


família, sucessão, contrato) – qual o assunto será conectado?
SEGUNDO (ELEMENTO DA CONEXÃO): determinação da lei aplicável (elemento de cone-
xão) – definição da lei que regera o assunto – exemplo: domicílio como elemento.
Em regra, o elemento de conexão adotado pela LINDB é o estatuto pessoal (art. 7º). Desse
modo, a lei do país em que estiver domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo
e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
Será aplicável a norma legal do domicílio do estrangeiro para essas questões, bem como
para bens móveis que o proprietário tiver consigo (art. 8º), penhor e capacidade para sucessão
(art. 10, § 2º). As pessoas jurídicas também se submetem a esse critério, pois devem obediên-
cia à lei do Estado em que foram constituídas.
O critério do estatuto pessoal tem exceções:
• Relações jurídicas cujo objeto seja imóvel: utiliza-se o critério real para a aplicação da
lei do lugar da coisa para regular as relações de posse e propriedade sobre imóveis (prin-
cípio da territorialidade, caso de jurisdição exclusiva);
• Obrigações: utiliza-se da regra conducista, que determina a aplicação do lugar em que
foi constituída para as relações obrigacionais (art. 9º);*
• Sucessão: utiliza-se da norma mais favorável em relação aos bens de estrangeiro morto,
situado do Brasil, em favor do cônjuge e dos filhos (art. 10, § 1º).

*Se a obrigação for constituída por contrato ou decorrer de contrato, afasta-se a regra do
caput e aplica-se a regra especial do § 2º do art. 9º. Nessa situação, a obrigação reputa-se
constituída no lugar em que residir o proponente. É o lugar de residência do proponente e não
o lugar da proposta ou da constituição do contrato que definirá a legislação aplicável à relação
jurídica contratual.
No caso de sucessão por morte ou por ausência, segue a regra acima disposta, sendo
aplicável a lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a
natureza e a situação dos bens. Aplica-se a teoria da unidade sucessória. A sucessão será re-
gida pela lei do local de domicílio do falecido. Não são relevantes a nacionalidade e o local da
situação dos bens.
A sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes
seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. Tal disposição do art. 10, § 1º, repetido pelo art.

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5º, XXXI, da CF/1988, constitui exceção ao critério do último domicílio se a lei de nacionalidade
do de cujus for mais favorável ao cônjuge ou filhos, desde que mais favorável.
A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.

1.4. Competência e Jurisdição


De acordo com o art. 12 da LINDB, é competente a autoridade judiciária brasileira (na rea-
lidade, possui jurisdição) quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida
a obrigação (mesmo sentido o art. 21 do CPC/15, que vai além e inclui as ações que tenham
por fundamento fato ou ato praticado no Brasil). Nesses casos, a jurisdição é concorrente com
outros países estrangeiros. Nessas hipóteses, se houver jurisdição prestada no estrangeiro,
a sentença será válida e eficaz no Brasil após ser homologada pelo STJ (art. 105, I, “i”, da
CF/1988). Não há litispendência entre as ações no Brasil e no estrangeiro (art. 24, CPC/15). No
entanto, tal norma não se aplica às hipóteses de jurisdição exclusiva (art. 23 do CPC e § 1º do
art. 12 da LINDB).

1.5. Casamento: Regras sobre Direito Espacial


O art. 7º da LINDB adota o critério do estatuto pessoal (lei do domicílio da pessoa) para
questões relativas a direito de família.
Os parágrafos do mesmo artigo apresentam situações especiais. Caso o casamento seja
realizado no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às for-
malidades da celebração.
Se os cônjuges forem estrangeiros, o casamento poderá celebrar-se perante autoridades
diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. Nesse caso, as regras, formalida-
des e procedimentos serão as do país de origem. De igual maneira é possível o casamento de
brasileiros no exterior, com a aplicação da lei brasileira, se celebrado perante autoridade con-
sular brasileira (art. 18 da LINDB), devendo ambos nubentes ser brasileiros.
De acordo com o § 1º do art. 18, as autoridades consulares brasileiras também poderão
celebrar a separação consensual e o divórcio consensual de brasileiros, não havendo filhos
menores ou incapazes do casal, devendo constar da respectiva escritura pública as disposi-
ções relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao
acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou a manutenção do nome
adotado quando se deu o casamento. Nesse caso, nos termos do § 2º do mesmo artigo, é in-
dispensável a assistência de advogado. Os §§ do art. 18 da LINDB estão em absoluta sintonia
com o art. 733 do CPC.
Para a capacidade: país do domicílio; impedimentos e formalidades: local do casamento,
com a exceção acima referida; invalidade: lei do país do primeiro domicílio conjugal; e regime
de bens: lei do país do domicílio dos nubentes ou, de forma alternativa, do primeiro domicílio,
se estes forem diferentes.

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O § 5º do art. 7º da LINDB confere ao estrangeiro casado, que se naturaliza brasileiro, ado-


tar o regime da comunhão parcial de bens, com respeito aos direitos de terceiros e dada essa
adoção ao competente registro (mutabilidade do regime de bens).
O § 6º do art. 7º da LINDB disciplina o divórcio realizado por brasileiro no estrangeiro e
seu reconhecimento no Brasil. Basta que um dos cônjuges seja brasileiro. Para que esse di-
vórcio tenha eficácia no Brasil, deverá se submeter a alguns requisitos e às condições para
homologação de sentenças estrangeiras. Em primeiro, é necessário o lapso temporal de um
ano da data da sentença, salvo se antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em
que a homologação produzirá efeito imediato. Segundo, a sentença deverá ser submetida aos
pressupostos para a homologação de sentenças estrangeiras no país (arts. 960 a 965 do CPC).
O STJ, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado,
decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de
brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais. A eficácia de decisão es-
trangeira depende da homologação desta no Brasil.
O § 5º do art. 961 do CPC dispõe que a sentença estrangeira de divórcio consensual produ-
zirá efeitos no Brasil, independentemente de homologação pelo Superior Tribunal de Justiça.
Poderá ser levada a cartório para registro, independentemente de qualquer atividade judicial.
Os requisitos indispensáveis para a homologação de sentença estrangeira estão previstos no
art. 963 do CPC (autoridade competente, citação regular, eficácia no país em que proferida, não
ofender a coisa julgada brasileira, tradução oficial e não ofensa à ordem pública).
Em relação à homologação de sentença estrangeira, no mesmo sentido são os arts. 15 a
17 da LINDB. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro que reúna os se-
guintes requisitos: a) haver sido proferida por juiz competente; b) terem sido as partes citadas
ou haver-se legalmente verificado à revelia; c) ter passado em julgado e estar revestida das
formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida; d) estar traduzida por
intérprete autorizado; e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal (agora STJ).
Se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem conside-
rar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei. As leis, atos e sentenças de outro país, bem
como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil quando ofenderem a
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes (arts. 16 e 17 da LINDB). A ordem
pública deve estar baseada em valores e princípios constitucionais.
Ainda em relação à homologação de sentença estrangeira, se a decisão for proferida por
países que integram o Mercosul, em razão do Protocolo de “Las Leñas”, o procedimento é mais
célere, mas não dispensa a necessária chancela do Superior Tribunal de Justiça.
O § 7º do art. 7º da LINDB não está em sintonia com a Constituição Federal, porque faz re-
ferência a “chefe de família”, figura que não se coaduna com a igualdade de direitos e deveres
entre os cônjuges e companheiros. Os tutelados e curatelados se ajustarão à lei do domicílio
dos seus tutores e curadores. Se a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no
lugar de sua residência ou naquele em que se encontre (§ 8º e art. 71 do CC).

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1.6. Prova
A LINDB também disciplina a questão da prova de fatos ocorridos no exterior. O art. 13 dis-
põe que a prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quan-
to ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei
brasileira desconheça. Portanto, o ônus e os meios de prova são aqueles estabelecidos pela lei
do país onde o fato ocorreu. Não se admite, entretanto, prova cujo meio não é reconhecido pela
legislação brasileira. Por exemplo, a Constituição Federal veda a utilização de provas ilícitas.
O CPC brasileiro adota o princípio da atipicidade das provas (art. 369), ou seja, além dos
meios de provas previstas em lei, também são admitidas as não previstas, desde que obser-
vados meios lícitos e morais. O sistema processual brasileiro é aberto, pois não especifica os
meios que podem ser utilizados para a demonstração da verdade dos fatos. O uso de provas
atípicas não é ilimitado, pois deve respeitar os direitos e garantias fundamentais de natureza
processual e material.
Se o juiz não conhecer a lei estrangeira, poderá exigir de quem a invoca prova do texto e da
vigência (art. 14 da LINDB). Há regra semelhante no CPC, art. 376, segundo o qual a parte que
alegar direito estrangeiro, entre outros, provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz deter-
minar. O juiz, em caso concreto, verificará a pertinência de se determinar a prova do teor e da
vigência de lei estrangeira que é alegada pelas partes.

1.7. O Direito Público e as Inovações


O direito público e a segurança jurídica: inovações da Lei n. 13.655/2018, que acrescentou
os arts. 20 a 30 à Lei de introdução às normas de Direito brasileiro. É verdade que a referida
legislação não tem relação direta com o direito privado, objeto desta obra, mas, como a LINDB
integra este PDF porque possui regras de vigência, eficácia e aplicação de leis que também in-
teressam ao Direito Civil, serão feitas algumas considerações sobre a nova legislação. O foco
da legislação é o direito público, âmbito de atuação dos agentes políticos, mais especificamen-
te as matérias de Direito Administrativo, Financeiro, Orçamentário e Tributário.
Tais regras não se aplicam, portanto, para temas de direito privado.
De início, é importante ressaltar que, há algum tempo, a discussão acerca da análise con-
sequencialista das decisões judiciais vem tomando conta do cenário mundial. O estudo do
Law and Economics vem demandando, dos operadores do direito, uma análise efetiva dos
efeitos práticos das decisões, não apenas para as partes, mas também para todos os afetados,
principalmente, nos casos em que há grande repercussão econômica.
Desse modo, urge seja realizada uma análise argumentativa das consequências das deci-
sões judiciais ou administrativas, no momento de decidir.
A teoria consequencialista foi introduzida no Brasil por meio da edição da Lei n. 13.655/2015,
que alterou a LINDB para trazer segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do
direito público.
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Nesse contexto, o art. 20 dispõe:

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.

A norma busca evitar que as decisões proferidas tanto em âmbito judicial quanto admi-
nistrativo apresentem apenas argumentos principiológicos vagos e imprecisos, sem a devida
fundamentação, ou seja, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso.

A norma tem o objetivo de reforçar a responsabilidade decisória estatal em face da existên-


cia de normas jurídicas indeterminadas e que, por isso, admitem diversas hipóteses interpreta-
tivas e, portanto, mais de uma solução.
De acordo com o parecer da CCJ da Câmara, tal mudança se justificou pela falta de ca-
pacidade de as normas regularem todas as atividades humanas, cabendo aos operadores do
Direito interpretá-las a aplicá-las com base em princípios e direitos fundamentais. O referido re-
latório ressalta que, apesar de os princípios adaptarem melhor a complexidade da sociedade,
sobretudo em um momento de evolução tecnológica, sua simples aplicação conferiria margem
para amplas divergências interpretativas e contribui para o aumento da insegurança jurídica.
Os professores Carlos Ari Sundfeld e Bruno Meyerhof Salama fazem as seguintes observa-
ções sobre a referida norma:

O projeto de lei sugere um art. 20 para a LICC. Ele trataria das decisões judiciais, administrativas
e controladoras (dos tribunais de contas, hoje ativos e interventivos) que se baseiem em “valores
jurídicos abstratos” (que podem ser entendidos como princípios). É fácil entender a importância
de uma norma desse tipo. Como hoje se acredita cada vez mais que os princípios podem ter força
normativa – não só nas omissões legais, mas em qualquer caso – o mínimo que se pode exigir é
que juízes e controladores (assim como os administradores) pensem como políticos. Por isso, a
proposta é que eles tenham de ponderar sobre “as consequências práticas da decisão” e considerar
as “possíveis alternativas” (art. 20, caput e parágrafo único).

A CF está repleta de valores jurídicos abstratos. Ex.: dignidade da pessoa humana, mora-
lidade, bem-estar e justiça social, meio ambiente ecologicamente equilibrado. São, portanto,
princípios constitucionais que possuem forca normativa (pós-positivismo). Com a norma da
LINDB em comento, o legislador busca conter o ativismo judicial.

Marcio André Lopes Cavalcante nos lembra que, com base na forca normativa dos
princípios constitucionais, o Poder Judiciário, nos últimos anos, condenou o poder público
a implementar uma série de medidas destinadas a assegurar direitos que estavam sendo
desrespeitados:

• Município condenado a fornecer vaga em creche a criança de até cinco anos de idade
(STF RE 956475, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 12/05/2016);
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• Administração pública condenada a manter estoque mínimo de determinado medica-


mento, utilizado no combate a certa doença grave, de modo a evitar novas interrupções
no tratamento (STF, 1ª turma. RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
25/06/2014);
• Estado condenado a garantir o direito à acessibilidade em prédios públicos (STF, 1ª Tur-
ma. RE 440028/SP. Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/10/2013);
• Poder público condenado a realizar obras emergências em estabelecimentos prisionais
(STF. Plenário. RE 592581/RS. Rel. Min Ricardo Lewandowski, julgado em 13/08/2015).

Quando o art. 20 afirma a necessidade da observância das consequências práticas da de-


cisão, a norma busca evidenciar a necessidade de o julgador analisar a realidade fática apre-
sentada, que não deve se desvincular da conclusão final tomada na decisão.
A norma se aplica às decisões proferidas nas esferas administrativa (ex.: PAD), controlado-
ra (ex.: julgamento das contas de um administrador público pelo TC) e judicial (ex.: ACP).
É necessário saber a diferenciação do consequencialismo para o utilitarismo.
O utilitarismo de Jeremy Bentham e John Stuart Mill afirma que as ações são boas quando
tendem a promover a felicidade, maximizar a utilidade e o prazer.
Bentham propunha, por exemplo, a criação de um reformatório para abrigar mendigos, re-
duzindo a presença deles nas ruas. Para ele, quanto mais mendigos nas ruas, menor é a felici-
dade dos transeuntes.
Tal teoria sofre duras críticas, em especial, por violar direitos fundamentais, quando de sua
aplicação.
Assim, apesar da linha tênue entre o consequencialismo e o utilitarismo, é plenamente
possível que o julgador decida com argumentos consequencialistas, sem utilizar premissas
utilitaristas.
O STF, em muitas decisões, utiliza argumentos consequencialistas, por exemplo, Daniel
Sarmento nos conta um caso em que o STF voltou atrás em uma de suas decisões em que
havia proclamado a inconstitucionalidade da lei de conversão da MP que criara o Instituto Chi-
co Mendes, por não ter observado a exigência imposta pela CF, que exige que uma comissão
mista da Câmara e do Senado emita parecer sobre a MP. O STF voltou atrás em tal decisão,
porque, no dia seguinte ao julgamento, o AGU, em questão de ordem, advertiu que centenas
de outras MPs continham o mesmo vício entre elas, algumas haviam criado políticas públicas
essenciais (ex.: Bolsa Família). Assim, temendo as consequências práticas que o referido pre-
cedente ocasionaria, o STF decidiu voltar atrás na invalidação da norma.
O exemplo mais marcante da utilização do consequencialismo pelo STF está previsto na
própria Lei n. 9.868/1999 (Lei da ADI), que em seu art. 27 assegura a modulação dos efeitos da
decisão de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, tendo em vista razões de segurança
jurídica ou de excepcional interesse social.

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Um exemplo dado por Marcio Cavalcante: em tese, pela aplicação do art. 20 da LINDB, o
juiz poderia deixar de condenar o Estado a fornecer a um doente grave determinado tratamen-
to médico de custo muito elevado sob o argumento de que os recursos alocados para fazer
frente a essa despesa fariam falta para custear o tratamento de centenas de outras pessoas
(consequências práticas da decisão).
Prosseguindo, o referido jurista ressalta com razão que esse art. 20 revela uma enorme
contradição. Isso porque defende que o julgador não deva decidir com base em “valores jurí-
dicos abstratos”, sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão. Ocorre
que a própria Lei n. 13.655/2018 introduziu, na LINDB, uma série de expressões jurídicas abs-
tratas, como, por exemplo: “interesses gerais da época”, regularização de modo “proporcional
e equânime”, “obstáculos e dificuldades reais do gestor, “orientação nova sobre norma de con-
teúdo indeterminado”.

Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da


invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possí-
veis alternativas.

O referido parágrafo ressalta a necessidade de motivação de todas as decisões, sejam


proferidas por órgãos administrativos, controladores ou judiciais. Em tal fundamentação, o
julgador deverá demonstrar que a decisão tomada é:
• a necessária e a mais adequada (necessidade e adequação, subprincípios do princípio
da proporcionalidade);
• explicar as razões pelas quais não são cabíveis outras possíveis alternativas.

EXEMPLO
Ao anular uma licitação eivada de fraude, o administrador deve demonstrar que essa medida
é necessária e adequada para resguardar a moralidade administrativa. E considerando que
houve prejuízo ao erário, não seria possível a convalidação (possível alternativa).

O art. 21, em desdobramento do dispositivo anterior, reforça ainda a necessidade dos ór-
gãos de controle e do Judiciário observarem, no âmbito administrativo, com “indicação” e de
forma “expressa”, as consequências jurídicas e administrativas de suas decisões quando de-
cretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa:

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação
de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar
as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos
interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.

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O parágrafo único do art. 21 trata acerca da regularização da situação em caso de invalida-


ção de ato contrato ou ajuste.

EXEMPLO
No caso de invalidação de contrato administrativo, a autoridade pública julgadora que determi-
nar a invalidação deverá definir se serão ou não preservados os efeitos do contrato, como, por
exemplo, se os terceiros de boa-fé terão seus direitos garantidos. Deverá decidir, ainda, se é ou
não caso de pagamento de indenização ao particular que já executou as prestações, conforme
disciplinado pelo art. 59 da Lei n. 8.666/1993 (https://www.conjur.com.br/dl/parecer-juristas-
-rebatem-criticas.pdf)

O art. 22 dispõe o que alguns juristas denominam de primado da realidade.


Em resumo, significa que a realidade deve sempre ser observada no que se refere à inter-
pretação das normas sobre gestão pública.

Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados.
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou nor-
ma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado
ou condicionado a ação do agente.
§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida,
os danos que dela provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenu-
antes e os antecedentes do agente
§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de
mesma natureza e relativas ao mesmo fato

Os elaboradores do projeto justificam que: “a norma em questão reconhece que os di-


versos órgãos de cada ente da Federação possuem realidades próprias que não podem ser
ignoradas. A realidade de gestor da União evidentemente é distinta da realidade de gestor
em um pequeno e remoto município”.
No entanto, fica o alerta: se trata de norma perigosa. Isso porque pode ser utilizada como
uma brecha para vencer comandos legais impositivos, sob a falácia das contingências da
realidade.
As dificuldades orçamentárias não podem ser invocadas como defesa, para não imple-
mentação de políticas públicas mínimas (a teoria da reserva do possível não pode ser invoca-
da diante da garantia do mínimo existencial).
A diretriz a se seguir na interpretação da norma, pelos órgãos de controle, é de que a reali-
dade não pode vencer a garantia de direitos fundamentais da coletividade.

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Por fim, o § 2º do referido artigo elenca as circunstâncias que devem ser levadas em
consideração na aplicação das sanções:
• a natureza e a gravidade da infração cometida;
• os danos que dela provierem para a administração pública;
• as circunstâncias agravantes ou atenuantes; e
• os antecedentes do agente.

No art. 23 e 24 da LINDB há a consagração do direito à segurança jurídica previsto no art.


5º caput da CF, que visa, em sua vertente objetiva, a garantia da certeza e estabilidade das
relações ou situações jurídicas; e em sua vertente subjetiva a proteção à confiança legitima.
Assim prevê o art. 23:

Art. 23. a decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orienta-
ção nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento
de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou con-
dicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo
aos interesses gerais [consagração dos regimes de transição e a modulação dos efeitos de decisão
administrativa baseada em novo entendimento].

Por regime de transição entende-se o regime jurídico de passagem, que possui duração
temporária e busca oferecer condições diferenciadas para viabilizar o cumprimento de nova
interpretação jurídica aos seus destinatários, que sob o regime anterior se encontravam em
posição mais benéfica. Como se fosse uma modulação dos efeitos.
O CPC/15 também apresenta a modulação dos efeitos das decisões, no entanto, proferi-
das pelo STF, nos seguintes termos:

Art. 927, § 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e


dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modu-
lação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.

Com isso, o legislador buscou, por meio do primado da razoabilidade, que o julgador consi-
dere os custos e o tempo necessário para que os administrados se adaptem ao novo cenário.
Nessa linha de raciocínio, o art. 24 consagra a permanência das relações e situações ju-
rídicas já constituídas com base no direito e em orientações gerais da época, ainda que haja
posterior mudança de orientação geral:

Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará
em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de
orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas. Parágrafo único. Consi-
deram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em atos públicos de cará-
ter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática
administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.

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Em crítica ao dispositivo, o MPF, em nota técnica, afirma que se trata de previsão perigosa,
porque amplia em demasia a possibilidade de convalidação de atos viciados, sem ressalvar
nulidade insanáveis:

O dispositivo, a rigor, traz mais justificativas abertas para eventual convalidação de ato ou de con-
trato inexistentes ou nulos. De fato, os atos anuláveis, convalidados, seriam até aceitáveis. O dis-
positivo, no entanto, abre espaço para que, considerando a passagem do tempo, a estabilidade das
relações, a “orientação geral” que não foi à época contestada, o ato inexistente ou o ato nulo se
tornem válidos. Assim, esses atos não seriam mais considerados inexistentes ou nulos com efeitos
ex tunc. Esse tipo de conduta/previsão, no entanto, fere os princípios constitucionais da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Importante relembrar que a validação do ato
administrativo depende da verificação contrastada entre ele e a ordem jurídica, sendo que descom-
passo constatado deve possibilitar a reposição ao estado de legalidade. https://www.conjur.com.
br/dl/nota-tecnica-pgr-lindb.pdf

O art. 30 da LINDB encerra o primado da segurança jurídica afirmando que “as autoridades
públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive
por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas”. E, no parágrafo
único, dispôs que “os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em
relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão”.

Segurança jurídica consiste no conjunto de condições que tornam possível as pessoas o conhe-
cimento antecipado e reflexivo das consequências diretas de seus atos e de seus fatos a luz da
liberdade conhecida. (Jorge Reinaldo Vanossi).

Paula de Barros Carvalho destaca a característica da bidirecionalidade da segurança jurí-


dica passado/futuro. Quanto ao passado, exige-se um único postulado: a irretroatividade. No
que aponta para o futuro, muitos são os expedientes principiológicos necessários. Como, por
exemplo, a garantia do direito adquirido, do ato jurídico perfeito, da coisa julgada, bem como o
uso da interpretação apresentada por diversas normas, em especial, da analisada acima.
Nos arts. 26 e 27, a lei estabelece a possibilidade da celebração de termos de compromis-
so e ajustamento de conduta na administração pública entre autoridades públicas e particu-
lares. A inserção desse dispositivo é mais um exemplo do abandono de uma administração
pública autoritária para uma administração pautada na consensualidade e participação. Nessa
esteira, em vez da atuação unilateral e impositiva da vontade administrativa, a solução para o
caso concreto deverá ser construída a partir do consenso e da participação social.
Não é a vigência da norma jurídica que será contrastada, mas, sim, a sua melhor interpre-
tação, em razão do alto grau de indeterminação de grande parte de seus comandos. A lei retira
do administrador a responsabilidade de buscar a melhor interpretação da norma e traz a pos-
sibilidade de solução negociada.

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Mostra-se indispensável a prévia manifestação do órgão jurídico (procuradorias) para rea-


lização desse compromisso, bem como audiências públicas em casos de maior repercussão.
Ainda, o art. 27 permite a imposição de compensação em prol daquele que tenha sofrido
prejuízos anormais ou injustos, ou que tenha auferido benefícios indevidos resultantes do pro-
cesso ou da conduta, comissiva ou omissiva, dos envolvidos no âmbito judicial, administrativo
e controlador.
O art. 28 trata da responsabilidade do agente público por decisões ou opiniões técnicas no
caso de dolo ou erro grosseiro.

Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em
caso de dolo ou erro grosseiro.

O erro grosseiro é sinônimo de culpa grave. É culpa resultante de erro técnico ou de viola-
ção deveres de cargo, emprego ou função.
O dispositivo em comento é aplicável, em tese, em caso de responsabilidade regressiva.
Porém, nesse caso, o dispositivo conflita com a regra prevista na CF/988, art. 37, § 6º. Isso
porque a responsabilidade regressiva da CF/1988 se contenta com dolo ou culpa:

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos


responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa (grifei).

O referido artigo trata da responsabilidade pessoal do agente e não da pessoa jurídica ao


qual está vinculado, à semelhança da Lei de Improbidade Administrativa (LIA).
No entanto, difere da Lei de Improbidade Administrativa (LIA), pois o referido dispositivo
(art. 28 da LINDB) trata acerca da responsabilidade civil do agente público.
A LIA, principalmente após as modificações realizadas pela Lei 14.230/2021 se dirige à
esfera de direito administrativo sancionador, conforme prevê o §4º do art. 1 da Lei em questão:
“Aplicam-se ao sistema da improbidade disciplinado nesta Lei os princípios constitucionais
do direito administrativo sancionador”. Nesse diapasão, a Lei 14.230/2021 também alterou
o elemento subjetivo da conduta do agente, para admitir apenas o dolo, como vontade livre e
consciente de alcançar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 da Lei de Improbidade,
não bastando a voluntariedade do agente. Assim, de acordo com o referido diploma, atualmen-
te, apenas atos de improbidade administrativa dolosos são sancionados pela lei.
A culpa grave (erro grosseiro), atualmente, ao que parece, deve ficar restrita à responsabi-
lidade civil no que tange ao ressarcimento ao erário. Afirmamos, “ao que parece”, pois trata-se
de legislação nova, que trouxe alterações alvo de duras críticas pela doutrina, mas que ainda
não foram objeto de apreciação pelas Cortes Superiores.
O objetivo da norma foi de estabelecer limites a responsabilização do gestor e dos profis-
sionais que emitem opiniões técnicas na administração, a fim de extirpar o medo dos agentes

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de boa-fé, quando urge a necessidade de atuação. Em muitos casos, o não agir trará conse-
quências desastrosas, como, por exemplo, o efeito que passou a ser denominado de “apagão
das canetas”.
Outro ponto negativo da insegurança quanto à responsabilização dos agentes ocorre com
a prática de posturas mais conservadoras, ainda que não fossem as melhores cabíveis.
No entanto, Marcio Cavalcante, ao interpretar o dispositivo, afirma que, apesar da expres-
são agente público ser ampla, não lhe parece que o objetivo do legislador tenha sido alcançar
os agentes políticos (incluindo os magistrados).
Segundo o autor: “a tradição histórica do Brasil é a de que os magistrados respondem por
suas decisões, no entanto, apenas nos casos de dolo ou fraude, e apenas regressivamente, ou
seja, depois de o Estado ter sido condenado. Essa é a redação do art. 143, I, do CPC/2015, e do
art. 49, I, da LC n. 35/1979 (LOMAN).
Justifica afirmando que:”a razão para isso é simples. Uma disposição legal que estipule
responsabilidade do juiz por erro grosseiro (culpa) seria inconstitucional por tolher, de forma
desproporcional a independência judicial, afrontando a separação de poderes.” Bem como pelo
fato de que “a decisão judicial é naturalmente passível de recurso. Assim toda decisão judicial
que fosse reformada em instância superior, poderia, em tese, ser considerada como errada”.
Também não seria aplicável aos membros do Ministério Público, da Defensoria Pública e
da Advocacia Pública, haja vista possuírem disposições específicas que não foram revogadas
pelo art. 28 da LINDB, em razão do princípio da especialidade, que disciplinam responsabilida-
de apenas em caso de dolo ou fraude (arts. 181, 184 e 187 do CPC/2015).
O art. 29 apresenta a possibilidade de consultas públicas em qualquer órgão ou poder, quan-
do da edição de atos normativos pela autoridade administrativa (salvo os de mera organização
interna, onde não se faz necessária tal consulta). Reforça a legitimidade democrática da adminis-
tração por meio do instrumento da consulta pública, como forma de participação dos cidadãos
na tomada de decisões administrativa (que se liga à denominada democracia participativa).
Tais novidades normativas ganham relevo no atual momento de pandemia. O que tem de-
mandado dos agentes públicos a adoção de uma série de medidas, que serão alvo de posterior
controle pelos órgãos que possuem atribuição para tanto.
Nesse controle dos atos administrativos praticados, deve ser levado em consideração,
quando da verificação futura dos atos probos ou ímprobos do agente público, o enredo fático
da situação de emergência da pandemia e das medidas adotadas, tais como a quarentena, a
restrição de liberdades, o aumento do poder de polícia, entre outros.

2. Princípios Constitucionais do Direito Civil Contemporâneo


Inicio com uma advertência primordial: saber Direito Civil não é saber os artigos do Código
Civil, é muito mais que isso.
Para entender o Direito Civil e saber relacionar os diferentes institutos, é necessário que
você tenha um conhecimento de como o sistema funciona. Os artigos são desdobramentos
lógicos de todo esse entendimento sistêmico.
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Este primeiro PDF é uma aula teórica, fundamental para se entender os pressupostos para
que se possa analisar todos os institutos de Direito Civil.

3. Histórico do Direito Civil


O Direito Civil teve seu auge no chamado “Estado Liberal”, período em que se exaltava a
liberdade e a autonomia dos indivíduos nas relações privadas e, como consequência, não se
admitia a intervenção do poder público nos assuntos particulares. O “Estado Liberal” teve sua
consolidação com a Revolução Francesa de 1789, embora as ideias liberais tenham iniciado
antes, com vários movimentos sociais, em especial, o Iluminismo.
O próprio Código Civil passou a ser considerado a “Constituição das relações privadas”.
No Estado Liberal, o objetivo do Direito Civil era assegurar a plena autonomia do indivíduo em
suas relações privadas.
A Constituição, basicamente, servia para limitar o poder do Estado, ao passo que o Código
Civil regulava as relações privadas.
Nessa época, os burgueses, que dominavam o Parlamento e ainda tinham receio dos magis-
trados, egressos da nobreza, passaram a controlar os juízes com um sistema “fechado” de leis,
não admitindo, em um primeiro momento, qualquer tipo de interpretação (juiz era a boca da lei).
Apenas no final do século XIX passou-se a admitir a interpretação meramente literal da lei.
No entanto, na Revolução Francesa, a pretexto de uma utópica liberdade, o que se viu foi
apenas o poder ser transferido de uma pessoa (monarca) para uma classe (burguesia), a qual,
na mesma linha do antigo regime absolutista, dominou o povo.
Em uma sociedade desigual, a plena liberdade e autonomia podem ser mais nefastas do
que o poder absolutista ou a centralização de poder, pois, em um Estado “Liberal” ou liberalista,
a vontade do mais forte sempre vai prevalecer sobre a vontade do mais fraco.
Não se questiona a importância da Revolução Francesa, mas não podemos vislumbrar
esse movimento de forma romântica e lúdica, pois a realidade mostrou que a plena liberdade
apenas aumentou o abismo entre os mais ricos e os menos favorecidos, intensificando as de-
sigualdades sociais.
Os movimentos sociais do final do século XIX e de todo o século XX são a prova do fracas-
so do liberalismo pregado pelos burgueses franceses.
Diante da desigualdade provocada pelo liberalismo, o movimento passou a suportar crí-
ticas, principalmente porque os valores humanitários não estavam sendo observados nes-
se período.
O patrimônio preponderava sobre a pessoa humana. O liberalismo tinha como pilares a
propriedade e o contrato. A propriedade era um direito mais do que absoluto.
No Estado Liberal, houve duas etapas: a primeira, a da conquista da liberdade; e a segunda:
a exploração dessa liberdade.

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A Primeira Guerra Mundial foi o marco, no qual teve o início a transição de um Estado Li-
beral para o Estado Social (essa transição coincide com os direitos fundamentais de segunda
geração), o qual, posteriormente, se converteu para o atual Estado Democrático de Direito.
A ideologia do Estado Social era baseada na justiça social e distributiva. A Constituição
nesse Estado apresenta regras sobre a ordem econômica e social, permitindo, assim, a inter-
venção estatal nas relações privadas.
No Estado Social, o Direito Civil passou a transigir com essas ideias de justiça social, se
curvando para a necessidade de regulação das relações privadas pelo Estado sempre que hou-
vesse necessidade desta intervenção estatal.
No entanto, a consolidação dessas ideias no Brasil somente se deu com a CF/1988.
Nesse contexto, o Estado passa a intervir nas relações sociais sempre no intuito de tutelar
o mais fraco no caso concreto.
No âmbito do Direito Civil isso fica evidente, pois começam a se multiplicar normas de or-
dem pública, ampliam-se as limitações à autonomia da vontade, modificam-se os paradigmas,
tudo agora em prol do interesse coletivo e não mais do indivíduo. Com isso, o Estado passa a
intervir nas relações privadas e buscam embora sem sucesso, promover a igualdade concreta,
chamada de igualdade substancial, diferente da mera igualdade formal do sistema liberal.
A autonomia da vontade passa a ser mitigada por princípios e valores sociais e a proprieda-
de, instituto pilar do Estado Liberal ao lado do contrato, no Estado Social somente tem a tutela
estatal se tiver uma função social.
O Direito Civil deixa de ser um instrumento para a garantia da autonomia e liberdade dos
cidadãos para servir como meio de promoção de justiça social nas relações privadas. A Cons-
tituição deixa de ter concepção estritamente política para adotar também uma concepção
jurídica. Assim, todas as normas constitucionais possuem força normativa. O CC passa a inte-
ragir com a CF/1988 em um diálogo de fontes. Faz-se necessário uma releitura do Direito Civil,
agora à luz do Direito Constitucional.
Com o Estado Social, sai de cena o proprietário para dar lugar à pessoa; desponta a afetivi-
dade como valor essencial da família; a função social como limite e conteúdo das obrigações
e da propriedade; a equivalência material; dentre outros valores.
Em resumo: o Direito Civil, a partir dos séculos XIX e XX, suportou profundas transforma-
ções, principalmente por conta da socialização das relações privadas, de uma tutela diferen-
ciada para a pessoa humana, da previsão de direitos fundamentais para a pessoa humana, da
introdução de cláusulas gerais nesse sistema jurídico e da incorporação de princípios essen-
ciais de natureza constitucional, como vetores da nova ordem legal responsável pela regulação
das relações entre atores particulares.
A bipartição do direito em público e privado não corresponde mais à realidade jurídica atu-
al, em virtude da evolução da sociedade que adquiriu maior complexidade nas suas relações
intersubjetivas e, principalmente, devido à constitucionalização que o Direito Civil suportou.

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3.1. Direito Civil Tradicional/Clássico


O Código Civil como fonte normativa principal dispõe os institutos de Direito Civil e busca
conceitos relacionados a esses institutos, realizando uma análise estrutural, formal e concei-
tual. O Direito Civil Clássico é fruto do Pós-Estado liberal, patrimonialista, imperialista forjado
em regras de conduta. Nesse sistema, o legislador resolve previamente seus problemas, já
entrega a solução pronta em uma regra. Os princípios são fontes secundárias apenas para
suprir lacunas.
• Três Pilares do Direito Civil Clássico
− Primeiro pilar de sustentação: positivismo.
o Positivismo clássico: a atividade hermenêutica era ultra/mega restrita (juiz era a
boca da lei). Centralização do Direito no poder legislativo.
o Positivismo normativo: Kelsen, teoria pura do Direito. No positivismo normativo,
você já tem uma evolução, porque já há atividade interpretativa. Kelsen entende
que o sistema jurídico é autossuficiente, ou seja, não conversa com outros siste-
mas. A moral está fora do Direito. É por isso que se chama teoria pura. A análise do
positivismo se liga a validade da norma.
− Segundo pilar: os institutos de Direito Civil são analisados sob uma perspectiva es-
trutural/formal.

EXEMPLO
Caso você tenha posse, basta que a situação fática esteja adequada ao que a lei prevê. Eu
busco uma compatibilidade entre a situação fática e a norma. Eu busco um conceito (o que é
posse? O que é família? O que é direito sucessório?), porque esse conceito é suficiente para
que o seu direito seja legitimado pelo Estado.

Você não precisa dizer o que você vai fazer com ele e esse direito não precisa ter uma fina-
lidade. O que é a estrutura? São os elementos que compõem um instituto de uma obrigação, de
um contrato, de uma família. A CF/1988 não trata de elementos estruturais no Direito Civil. Quan-
do se afirma que a Constituição Federal fundamenta o Direito Civil, essa referência interfere na
finalidade. Não é a CF/1988 que vai dizer o que é posse, o que é propriedade, o que é obrigação.
• Terceiro pilar: Estado Liberal. O Direito Civil clássico foi forjado sob o liberalismo pós-
-Revolução Francesa. Significa que, nesse modelo, o Código Civil é o protagonista das
relações privadas, o que significa que os institutos de Direito Civil são fins em si mesmo.
Você não precisa pretender algo para ter um direito legitimado e tutelado pelo Estado. O
Estado Liberal se liga apenas aos direitos fundamentais de primeira geração, as liberda-
des públicas negativas (ideia de abstenção).

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3.2. Direito Civil Contemporâneo


Estado já constitucionalizado, aberto corporativo, principiológico. O que fundamenta o Di-
reito Civil, o que dá unidade ao Direito Civil não é o Código Civil, mas a CF/1988. Nesse sistema,
os princípios possuem força normativa, de modo que a sua atividade como intérprete é muito
mais sofisticada, muito mais intensa. A solução só se dará em um caso concreto após a argu-
mentação jurídica sofisticada, exigindo, assim, um esforço hermenêutico. E qual o problema
disso? Você terá muitas perguntas e quase nenhuma resposta, porque você terá que buscar
essas respostas à luz do caso concreto. E se tiver respostas, essas serão imediatas, tempo-
rais, tópicas, servem para hoje, amanhã já não servem mais. A ideia de que o conhecimento é
totalmente falível e socialmente condicionado.
No Direito Civil contemporâneo, é a CF/1988 o paradigma das relações jurídicas entre ato-
res privados, que é o objeto de estudo do Direito Civil. Por isso teremos que compreender o
Direito Civil a partir dos fundamentos do elemento constitucional, que são extremamente aber-
tos e valorativos. Crítica: essa principiologia pode levar a várias arbitrariedades.
Como compreender o Direito Civil por meio dessa nova perspectiva de constitucionalização/
vinculado a valores sociais condicionais? Em vez de analisarmos simplesmente uma regra jurí-
dica, devemos buscar qual é o fundamento de cada instituto e qual a finalidade desse instituto.

São 2 pilares: fundamento e finalidade.

No Direito Civil contemporâneo, todos os institutos são instrumentais, em outras palavras,


tudo é meio para algo.

EXEMPLO
A família é meio para que eu possa tutelar a dignidade das pessoas que integram aquele
núcleo. A família tem que ser propícia para que as pessoas possam desenvolver plenamente a
sua personalidade e ter uma realização pessoal plena.

O ECA possui norma expressa afirmando que a adoção é irrevogável. No entanto, o STJ, inter-
pretando tal regra, dispõe que: nem sempre a adoção é irrevogável, somente o será se o vínculo
de filiação que decorre da adoção trouxer dignidade para o adotado, senão ele pode desconstituir
esse vínculo e ir procurar outro. Os direitos aqui são funcionalizados e (i) devem ter um objetivo
(=finalidade); necessariamente nós trabalhamos com uma (ii) visão instrumental dos institutos.
TUDO é instrumento para o objetivo maior do Direito Civil: a concretização da dignidade da
pessoa humana.
Três Paradigmas/Pilares do Direito Civil Contemporâneo
1º pilar: PÓS-POSITIVISMO.

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Se no positivismo o ordenamento jurídico é fechado, no pós-positivismo o Direito se re-


laciona com a moral. Esses valores morais ingressam no ordenamento jurídico por meio de
princípios. Teoria da constituição contemporânea (neoconstitucionalismo): a norma jurídica é
o gênero, possui como espécie os princípios (mandados de otimização/ prima facie na medida
do possível) e as regras (descrições objetivas de conduta/mandados definitivos). Consagra a
teoria da ponderação de Robert Alexy. Os princípios são responsáveis por levar para dentro do
sistema esses valores morais. De sorte que hoje há direitos da personalidade, boa-fé objetiva,
função social. No pós-positivismo, nós vamos ter de conferir legitimidade às nossas decisões
pela argumentação jurídica feita com base em princípios.
No Brasil, nos possuímos um sistema misto: de regras e de princípios. Mas o pós-positivis-
mo muda toda a nossa postura de análise e de entendimento do Direito Civil em relação a essas
questões, principalmente, no âmbito da hermenêutica. Valores morais que estão na CF/1988 vão
passar a interagir com essas regras, serão seu fundamento. Esse é o Direito Civil Constitucional.
Direito Civil Constitucional é você interpretar regras e princípios que estão no Código Civil de
acordo com os valores sociais constitucionais, em razão do constitucionalismo contemporâneo.
2º pilar: ANÁLISE ESTRUTURAL/FUNCIONAL DOS INSTITUTOS DE DIREITO CIVIL.
No novo modelo contemporâneo, para que possamos entender um instituto, além dos ele-
mentos que o caracterizam, temos que agregar à estrutura uma ideia de finalidade. Porque é
a partir dessa finalidade que conseguiremos verificar no caso concreto se o seu direito está
afinado com os valores sociais constitucionais que justifiquem/fundamentem seu direito. Sig-
nifica que essa finalidade integra o conteúdo do seu direito.
De todo direito decorrem poderes.

EXEMPLO
Se você tem o direito de propriedade, desse direito decorrem poderes do proprietário (visão
clássica/liberal). No entanto, no atual paradigma, o direito deve atender a uma função (finali-
dade). Desse modo, o titular do direito passa a não só possuir poderes, como também deverá
cumprir certos deveres.

Em outras palavras, o Direito Civil hoje = Função + Poder/Dever.

EXEMPLO
A capacidade de fato ou de exercício é o poder que você tem de exercer direitos. No entanto,
hoje, essa sua capacidade é condicionada pela finalidade, sob pena de configurar abuso de
poder.

O positivismo trabalha com a ideia da validade formal: norma é justa porque é válida, é
uma análise em abstrato. Aqui no pós-positivismo, não; o parâmetro não é de validade, mas de
justiça, que nós vamos ter de apurar na análise de cada caso concreto. Do caso concreto para
a norma e não da norma para o caso concreto, como era no Direito Civil clássico.

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No positivismo, a valoração era realizada apenas pelo legislador. A valoração no pós-positi-


vismo é feita em duas etapas: valoração do legislador e a valoração do intérprete no momento
da aplicação dessa norma.
Assim, a Constituição deixa de ter um papel estritamente político, não se limitando mais
a regular a estrutura do Estado. Com o fim do liberalismo, nossas constituições também in-
gressaram na “onda” social, passando a tratar dos mais variados assuntos, em especial, de
questões relacionadas às relações privadas.
A mudança de postura do legislador constitucional, levando princípios e regras de direito
privado a migrarem para o Texto Maior, faz com que o Direito Civil seja estudado sob uma pers-
pectiva constitucional.
O Direito Civil sempre monopolizou as regras e os princípios de direito privado, mas agora
passa a interagir com a Constituição Federal, pondo fim àquele paralelismo existente entre
essas duas fontes normativas no Estado Liberal. Como ressaltei linhas atrás, a Constituição
Federal passa a ser o fundamento e a causa de justificação do Direito Civil e seus institutos. A
consequência é a necessidade de submeter o Direito Civil a um controle de validade, que é a
sua adequação com os valores sociais constitucionais.
O Direito Civil constitucional encontra fundamento e justificativa na Constituição Federal.
A Constituição Federal é que confere unidade ao Direito Civil. O Direito Civil contemporâneo é
direito/função e poder/dever.
Esse novo movimento é chamado por alguns doutrinadores de “Direito Civil constitucional”,
expressão relacionada a regras de hermenêutica. O Direito Civil continua a incorporar o conjun-
to de princípios e regras disciplinadoras das relações jurídicas de natureza privada. Isso não
mudou com essa interação entre Direito Civil e Constituição Federal.
Todavia, como alguns princípios e regras de direito privado migraram para o texto consti-
tucional, exige-se do intérprete uma nova postura em relação ao Direito Civil. Qual seria essa
nova postura? Parece óbvio, mas o Direito Civil deve ser interpretado e aplicado de acordo e em
consonância com os princípios constitucionais fundamentais.
O Direito Civil constitucional está diretamente vinculado ao neoconstitucionalismo, que
tem como um de seus pilares a constitucionalização dos direitos em geral, e do Direito Civil
em especial. Vale ressaltar, no entanto, que isso não significa que o Direito Civil passa a ser
ramo do direito público. O Direito Civil continua a ser o conjunto de normas jurídicas, regras e
princípios, que disciplina e regula, fundamentalmente, relações jurídicas entre atores privados.

3.3. Características do Direito Civil Pós-Positivismo


Em razão da constitucionalização do Direito Civil, os institutos são analisados não apenas
na sua perspectiva estrutural (elementos que integram cada instituto), mas também funcional.
O Direito Civil contemporâneo passa a ser o resultado da análise dos elementos estruturais

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(código Civil) e funcional (valores constitucionais que fundamento e legitimam os institutos


jurídicos – Constituição Federal).
No pós-positivismo, as regras jurídicas são gênero, dos quais são espécies as regras e
os princípios. O sistema civil passa a ser aberto. Os princípios passam a ter força normativa
primária. A pessoa humana é inserida no centro do sistema jurídico e a ela deve ser garantida
uma vida digna. A pessoa humana passa a ser um fim em si mesma.
A moral e a ética interagem com o direito no pós-positivismo. O sistema se abre para dialo-
gar com esses valores sociais. No pós-positivismo, a norma, para ser justa, deve estar adequa-
da a valores morais, que no atual modelo estão relacionados à finalidade e função do direito,
que justifica e legitima todos os institutos de Direito Civil. No positivismo, os princípios são
fontes secundárias e supletivas de direito.
Vale destacar, por fim, que o pós-positivismo se conecta com o neoconstitucionalismo, pois
é o fundamento jusfilosófico deste. O neoconstitucionalismo tem as seguintes características:
constitucionalização do direito – irradiação das normas e valores constitucionais para todo o
sistema; princípios com força normativa; reaproximação entre direito e moral; judicialização
da política e das relações sociais; modificação da teoria das normas, fontes e interpretação
(hermenêutica) e teoria dos direitos fundamentais edificados na dignidade da pessoa humana.

Mas qual a consequência do pós-positivismo para o direito civil?

Abertura valorativa do sistema civil: as normas possuem valores e o sistema passa a per-
mitir a valoração quando da concreção da norma. Como se viabiliza essa abertura valorativa?
Princípios – equiparados a normas jurídicas – passam a ter força normativa. Consequência:
se impõe um constante diálogo do intérprete com a norma jurídica (desse diálogo emerge a
compreensão) e a funcionalização (finalidade) dos direitos subjetivos.
Tal diálogo exige uma nova teoria da interpretação: a compreensão em uma dimensão his-
tórica, o intérprete não pode ignorar a concreta situação histórica em que se encontra. Proces-
so de comunicação envolve relação de intersubjetividade. A verdade deixa de ser metafísica,
passa a ser algo construído. A compreensão é seguida de uma reconstrução para situação
presente do intérprete, compreensão e aplicação como atos simultâneos. O conhecimento
é falível e precário. Tudo é datado, o olhar é permeado pela historicidade e, portanto, sempre
socialmente condicionado (filtrado por nossas vivências e tradições). Não há neutralidades
científicas, os conceitos e compreensões se assentam em pré-conceitos e pré-compreensões.
As verdades são precárias e datadas.
A tradicional dicotomia entre direito público e direito privado, de origem romana, é abalada
pelo Estado Democrático de Direito.
Tal dicotomia tende a desaparecer sem maiores traumas. No Estado Social, o público pre-
valece sobre o privado e, por conta disso, tudo passa a ter interesse público, mesmo que diga

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respeito a uma relação privada. Por exemplo, um contrato de compra e venda entre dois atores
ou protagonistas privados, em princípio, não teria qualquer interesse público, razão pela qual o
Código Civil seria suficiente para regular esse negócio jurídico. Certo? Em termos.
Sem dúvida, esse negócio interessa aos atores privados, mas, em virtude do princípio da
função social, previsto na norma constitucional (também no Código Civil, é verdade, art. 421),
passa a interessar também e, principalmente, à coletividade, pois, em razão da função social,
os efeitos dessa relação jurídica transcendem o negócio para repercutir na coletividade, ou
seja, na esfera jurídica de terceiros não integrantes daquele contrato.
O contrato deverá ser útil para os protagonistas da relação e, principalmente, para a coleti-
vidade. Logo, se esse contrato for excelente para as partes, mas prejudicial ao meio ambiente
ou às relações de trabalho, poderá ser invalidado por ausência de função social.
Tepedino (Temas de direito civil) ressalta a superação dessa dicotomia ao dizer que é inevi-
tável a alteração dos confins entre o direito público e o direito privado, de tal sorte que a distin-
ção deixa de ser qualitativa e passa a ser meramente quantitativa, nem sempre se podendo de-
finir qual exatamente é o território do direito público e qual é o território do direito privado. Em
outras palavras, pode-se provavelmente determinar os campos do direito público ou do direito
privado pela prevalência do interesse público ou do interesse privado, não pela inexistência de
intervenção pública nas atividades de direito privado ou pela exclusão da participação do cida-
dão nas esferas da administração pública. A alteração tem enorme significado hermenêutico e
é preciso que venha a ser absorvida pelos operadores do direito.
Não confunda publicização do Direito Civil com constitucionalização.
Paulo Luiz Neto Lobo afirma que:

A denominada publicização o compreende o processo de crescente intervenção estatal, especial-


mente no âmbito legislativo, característica do Estado Social do século XX. Tem-se a redução do
espaço de autonomia privada para a garantia da tutela jurídica dos mais fracos. A ação interven-
cionista ou dirigista do legislador terminou por subtrair do Código Civil matérias inteiras, em alguns
casos transformadas em ramos autônomos, como o direito do trabalho, o direito agrário, o direito
das águas, o direito da habitação, o direito de locação de imóveis urbanos, o estatuto da criança e
do adolescente, os direitos autorais, o direito do consumidor. O fato de haver mais ou menos normas
cogentes não elimina a natureza originária da relação jurídica privada, vale dizer, da relação que se
dá entre titulares de direitos formalmente iguais; não é esse o campo próprio do direito público. É
certo que o Estado Social eliminou o critério de distinção tradicional, a saber, o interesse; o interesse
público não é necessariamente o interesse social, e os interesses públicos e privados podem estar
embaralhados tanto no que se considerava direito público, quanto no direito privado. Muitos propug-
nam pela superação da velha dicotomia, que resiste à falta de outra mais convincente e mantém sua
utilidade no plano didático. Independentemente do grau de intervenção estatal, se o exercício do di-
reito se dá por particular em face de outro particular, ou quando o Estado se relaciona paritariamente
com o particular sem se valer de seu império, então o direito é privado. Em suma, para fazer sentido,
a publicização deve ser entendida como o processo de intervenção legislativa infraconstitucional,
ao passo que a constitucionalização tem por fito submeter o direito positivo aos fundamentos de
validade constitucionalmente estabelecidos. (Constitucionalização do direito civil).

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4. Princípios Constitucionais e sua Relevância para o Direito Civil


A melhor definição de princípio é de autoria do mestre Celso Antônio Bandeira de Mello,
que define princípio jurídico “como mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce
dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espí-
rito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir
a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido
harmônico” (Curso de direto administrativo).
Atualmente, a força normativa dos princípios constitucionais e a eficácia jurídica dos direi-
tos sociais previstos na Constituição Federal são uma realidade. Em razão disso, passa a ser
construída uma teoria dos direitos fundamentais, baseada no princípio constitucional e cláu-
sula geral da dignidade da pessoa humana. A nossa Constituição passa a colocar a pessoa hu-
mana no centro das relações jurídicas, lhe conferindo uma tutela diferenciada, principalmente,
no âmbito dos direitos fundamentais.
Como a pessoa humana passa a ter tutela especial do Estado, a preservação de sua digni-
dade constitui o próprio fundamento do Estado Democrático de Direito. Os direitos fundamen-
tais cumprem esse papel, qual seja, preservar a dignidade, para garantir à pessoa humana o
mínimo necessário para ter uma vida digna. É o que a Corte Constitucional Alemã chamou de
“mínimo existencial”, ou seja, o Estado Social deve garantir à pessoa humana um conjunto de
direitos fundamentais para que tenha o mínimo para sua existência, sendo que esse “mínimo”
se refere a questões espirituais (garantia da honra, por exemplo) e materiais (subsistência, a
impenhorabilidade do bem de família é exemplo disso).
Os valores constitucionais sociais podem ser apostos nos seguintes parâmetros cons-
titucionais:

Dignidade da Pessoa Humana

A CF/1988, no art. 1º, III, dispõe que a República Federativa do Brasil tem por fundamento a
dignidade da pessoa humana. Tal cláusula geral de tutela da pessoa humana repercute direta-
mente nas relações privadas, em que os princípios de Direito Civil terão a função de identificar
valores existenciais, ou seja, valores que garantem à pessoa humana viver com dignidade.
O princípio da dignidade da pessoa humana insere o ser humano no centro do sistema
jurídico, em torno do qual gravitam todos os demais institutos.
É por isso que existe no CC, por exemplo, a teoria do patrimônio mínimo: patrimônio como
meio para garantir o mínimo existencial material para a pessoa viver com dignidade. Em decor-
rência disso, é nula a doação de todos os bens (art. 548, CC).
O STJ, no Resp. 1.026.981/RJ, de relatoria da ministra Nancy Andrighi, julgado em
04/02/2010, em matéria relacionada a benefícios previdenciários para a união de pessoas do

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mesmo sexo, ressaltou, como fundamento principal para justificar o reconhecimento desse
direito, a dignidade da pessoa humana.
O atual Código Civil nitidamente humanizou as relações jurídicas privadas ao deixar em se-
gundo plano as questões e valores meramente patrimoniais. Os valores existenciais certamen-
te devem prevalecer sobre os valores patrimoniais. É a pessoa se sobrepondo ao patrimônio.
O principal objetivo da inclusão do capítulo acerca dos direitos da personalidade (de forma
não exaustiva), logo no início do CC, é demonstrar que a tutela da pessoa humana e de sua
condição existencial é o principal objetivo da lei. Esse seria o Código do “ser” e não do “ter”.
A dignidade da pessoa humana é uma cláusula geral, a base de todo o ordenamento jurí-
dico e o princípio norteador das relações privadas. Embora indeterminada, como os demais
princípios, a dignidade da pessoa humana também possui um núcleo essencial. A dificuldade
do intérprete será justamente concretizar esse princípio, pois seu grau de generalidade e abs-
tração é muito intenso. A dignidade da pessoa humana não pode ser um “soldado de reserva”
ou um “remédio para todos os males”, como está ocorrendo na atualidade, devendo ser a
condição ou pressuposto fundamental de legitimidade de toda e qualquer relação jurídica, e
não a própria relação. Essa confusão deve ser dirimida: a preservação de direitos essenciais
da pessoa humana é a garantia da dignidade. Portanto, a dignidade é a base das relações in-
tersubjetivas, o solo sobre o qual será construído todo o edifício de relações intersubjetivas. A
dignidade é anterior, o alicerce e o fundamento das manifestações privadas. Por isso, a digni-
dade da pessoa humana é um princípio e não o complexo de relações.

Há parâmetros mínimos de aferição que devem sempre ser observados para concretiza-
ção normativa da dignidade da pessoa humana:

• não instrumentalização (a pessoa não é meio, mas fim em si mesma);


• autonomia existencial (direito de fazer escolhas, projetos de vida e de atuar segundo
essas escolhas, projetos);
• direito ao mínimo existencial – condições espirituais e materiais mínimas para a digni-
dade;
• direito ao reconhecimento – necessidade de respeito aas identidades singulares.

Vale ressaltar que a dignidade da pessoa humana não é um princípio qualquer. É a base de
todos os princípios, superior, o que leva a doutrina à conclusão correta de que somente poderia
conflitar com ele mesmo.

Solidariedade Social

As relações privadas hoje são relações de cooperação, de mútua assistência. Com a soli-
dariedade, modificam-se os conceitos de adimplemento, inadimplemento e a caracterização
da relação entre credor e devedor.

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Atualmente, credor e devedor são ambos titulares de direitos fundamentais e, por conta da
solidariedade que norteia a obrigação moderna, há entre eles uma relação de mútuo respeito e
cooperação, um auxiliando o outro, sempre na busca de um adimplemento satisfatório para o
credor e menos oneroso para o devedor.
A teoria do adimplemento substancial nada mais é do que um desdobramento do princípio
da solidariedade constitucional. Em caso de adimplemento parcial, mas substancioso, ou seja,
quase total, é possível preservar a obrigação, evitando a resolução desta com base no inadim-
plemento mínimo.
Tal princípio busca uma conciliação entre as exigências coletivas e os interesses
particulares. O Direito Civil agora suporta grande alteração em seu conteúdo. Os valores
mudaram. As relações são privadas, o direito é privado, mas o interesse público sempre deve
preponderar, o que não desnatura sua essência privada.

Igualdade Substancial

A igualdade substancial é diferente da igualdade formal. A formal era aquela garantida pelo
Estado Liberal, que partia do princípio de que todos deviam ter o mesmo tratamento, como se
todos tivessem os mesmos poderes. Todos sabiam que a vontade do mais forte, no liberalis-
mo, sempre prevalecia sobre a vontade do mais fraco. Tal ideia ingênua de igualdade provocou
intensas injustiças sociais, permitindo que a oligarquia burguesa explorasse essa igualdade,
“garantida” pelo Estado Liberal.
Com o Estado Social, o princípio da isonomia passou a ter outro significado. Não basta que
todos sejam iguais perante a lei, deve o Estado tratar igualmente os iguais e desigualmente os
desiguais, na medida da sua desigualdade. O Código de Defesa do Consumidor expressa esse
sentimento, ao tratar desigualmente fornecedores e consumidores, porque, na essência, são
desiguais. É essa igualdade substancial que repercute nas relações privadas.
O Código Civil também busca essa igualdade nas relações privadas, quando no art. 157,
permite a anulação do negócio jurídico se restar caracterizada a lesão (as relações devem nas-
cer equilibradas); no art. 317, que prevê a revisão judicial de qualquer obrigação se, por motivo
imprevisível, houver desequilíbrio da prestação comparada em dois momentos (formação e
execução da obrigação) e no art. 478, que admite a resolução do contrato se houver excessiva
onerosidade (as relações devem se manter equilibradas).
A igualdade material também dá sustentação aos princípios da função social e da boa-fé
objetiva, paradigmas do Direito Civil. A relação jurídica somente terá função social, entre outros
motivos, se a dignidade das pessoas estiver sendo preservada, se houver solidariedade ou
cooperação mútua e se, principalmente, houver equilíbrio econômico e financeiro e tratamento
materialmente igualitário, ou seja, desigual para pessoas desiguais, na exata medida e
proporção desta desigualdade.

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Interessante a constatação de Cristiano Chaves, segundo o qual a Magna Carta assumiu


verdadeiro papel reunificador do sistema, passando a demarcar limites da autonomia privada,
da propriedade, do controle de bens e da proteção de núcleos familiares, entre outros institutos
de direito privado (Direito civil: teoria geral).
Embora os princípios e regras de direito privado tenham migrado para a Constituição Fede-
ral, o Código Civil continua sendo o ramo do direito que agrega o conjunto de princípios e nor-
mas que disciplinam as relações jurídicas comuns de natureza privada. A expressão “direito
civil constitucional” é uma variação hermenêutica ou mudança de postura no ato de interpretar
a Lei Civil, ou seja, significa o processo de elevação ao plano constitucional dos princípios fun-
damentais de Direito Civil.

5. Paradigmas do Direito Civil Contemporâneo


O Direito Civil contemporâneo, constitucionalizado e inserido em um modelo ou sistema
pós-positivista, se submete a alguns paradigmas: socialidade, eticidade e operabilidade.
Operabilidade: para conferir maior flexibilidade (e porque não poder) ao intérprete, a Lei
Civil faz uso sistemática de cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados. A técnica
adotada pela Lei Civil permitirá análise concreta, efetiva, pontual e adequada na solução de
casos complexos e difíceis. Todavia, tais cláusulas abertas não são um salvo conduto para o
intérprete introduzir valores pessoais, subjetivos e arbitrários na interpretação e aplicação de
norma. É óbvio que essa valoração e essa integração deverão ser de acordo com os valores
fundamentais do sistema, ainda que (e principalmente se) estes valores não coincidam com
os valores pessoais do intérprete.
Socialidade: superação do individualismo e do sentido absoluto da vontade. Os direitos
subjetivos, baseados na vontade, passam a ter uma função. Essa funcionalização do direito é a
adequação da vontade com os valores sociais constitucionais. Direito civil, passa a ser direito/
função, poder/dever.
A função social nada mais é do que finalidade. O interesse individual do titular do direito
somente será legítimo se a finalidade que o justifica for concretizada. Por isso, além de po-
deres, o titular do direito também possui deveres, positivos e negativos, capazes de manter a
adequação entre direito e finalidade. A finalidade e a funcionalidade passam a conformar os
direitos. Não seria uma limitação, mas causa de justificação.
Eticidade: retratada no princípio da boa-fé objetiva ou boa-fé de comportamento/conduta,
que difere da boa-fé subjetiva, boa-fé de conhecimento. Nas relações privadas, tal princípio
impõe às partes padrão ético de comportamento e conduta em suas relações.
O princípio da boa-fé objetiva tem três funções de alta relevância no direito civil atual:
• Função de Interpretação/Integração (art. 113 do CC): parâmetro de interpretação para
atos jurídicos e sentido estrito e negócio jurídico;

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• Função de controle (art. 187 do CC): a boa-fé objetiva impõe limites ao exercício de di-
reitos subjetivos e potestativos, fundamento da teoria do abuso de direito, seja por ação
ou omissão. No abuso de direito, o titular do direito, ao exercê-lo, não age de acordo com
a função ou finalidade que legitima e justifica o seu próprio direito. Portanto, o abuso de
direito nada mais é do que uma incompatibilidade concreta e material entre o direito e a
finalidade que o justifica;
• Função de complemento (art. 422 do CC): criação de deveres anexos, colaterais, secun-
dários, ainda que implícitos ou não explícitos nas obrigações em geral, como dever de
lealdade, proteção, informação, entre outros, essenciais para o adimplemento de obri-
gações, pois a violação destes deveres de conduta poderá caracterizar inadimplemento
(violação positiva do contrato), independente do cumprimento da prestação principal.

6. Diferença Básica entre Cláusula Geral e Conceito Jurídico Indeter-


minado

Tanto a cláusula geral quanto o impropriamente denominado conceito jurídico indetermi-


nado possuem conteúdo vago, abstrato e genérico. Os poderes que deles derivam exigem do
intérprete o preenchimento de seus conteúdos com valores.
Mas o que os diferencia? Preenchido o conceito jurídico indeterminado, o resultado (solu-
ção jurídica) já está previsto ou preestabelecido na norma. A consequência jurídica é dada pelo
legislador e não pelo intérprete.

EXEMPLO
No caso do art. 317 do CC, caberá ao intérprete preencher o sentido da expressão “motivos
imprevisíveis” com valores pessoais. Preenchido esse conteúdo, a consequência jurídica, qual
seja, a revisão judicial da obrigação, já está prevista na lei.

Já nas cláusulas gerais, o intérprete preenche os valores e atribui a solução que lhe pareça
a mais correta. Nas cláusulas gerais, tanto a integração quanto a consequência são levadas a
efeito pelo intérprete. Como exemplo, o princípio da função social, previsto no art. 421 do CC.
Portanto, é na consequência jurídica (efeito) que se localiza a principal diferença entre
cláusula geral e conceito jurídico indeterminado.
Como exemplo do poder delegado pelo legislador no CC ao aplicador do direito, há as re-
lações privadas devem se nortear pelos princípios da boa-fé objetiva e da função social. No
entanto, em nenhum momento a Lei Civil define, com limites bem precisos, boa-fé objetiva e
função social. Qual a razão para isso? Simples: no caso concreto, o operador do direito terá a
obrigação de verificar se, naquela relação jurídica privada, em si considerada, foram observa-
dos tais princípios. Em termos abstratos, é praticamente impossível resolver um conflito entre
particulares. A análise do caso concreto, mais do que nunca, passou a ser fundamental para a
realização da tão sonhada justiça social.

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Atualmente, alguns princípios constitucionais, como a dignidade da pessoa humana, soli-


dariedade social e igualdade substancial são a base de sustentação de todas as relações jurí-
dicas privadas e, nesse contexto, norteiam a aplicação de todas as normas, regras e princípios,
existentes na legislação civil.
O Direito Civil, hoje, é baseado em princípios e regras e não mais apenas em regras objeti-
vas descritivas de condutas.

7. Diferença entre Regras e Princípios


As regras jurídicas possuem um conteúdo objetivo e previamente definido pelo legislador.
As regras de conduta são descritas de forma objetiva para terem incidência em uma situação
jurídica determinada.
As regras jurídicas nada exigem do intérprete. O legislador, previamente, já valorou a norma
jurídica. Para lidar com um sistema de regras jurídicas, como ocorria durante o Estado Liberal,
basta “conhecer a lei”. Desse sistema fechado, que é o mundo das regras jurídicas, vem o adá-
gio “aplicação da lei ao caso concreto”. É suficiente a subsunção, a adequação da conduta ao
disposto na lei.
Não há conflitos entre regras jurídicas. Por isso que se diz que as regras são aplicadas no
sistema do “tudo ou nada”. Ou o fato se amolda à regra jurídica ou não se amolda. Havendo
várias regras, apenas uma pode se encaixar na situação concreta, ao passo que as demais são
automaticamente excluídas.
O “princípio” tem um conteúdo mais rico, pois identifica valores a serem preservados, em
especial valores existenciais, tendo em vista que a pessoa humana foi colocada no centro do
sistema jurídico.
Não há como comparar essa categoria de norma jurídica com as regras. Os princípios
contêm relatos com maior grau de abstração, não especificam a conduta a ser seguida, não
descrevem situações em termos objetivos e se aplicam a um conjunto amplo e indeterminado
de fatos e situações. Os princípios são dotados de generalidade e abstração. Não se prestam
a definições precisas e objetivas, o que permite que a norma se adapte, ao longo do tempo, a
diferentes realidades. Daqui a 200 anos ainda se discutirá o que é função social do contrato.
Isso porque os princípios retratam valores, e estes se alteram com o passar dos tempos.
No que se refere à aplicação, ante a possibilidade de colisão dos princípios, o intérprete
deverá fazer escolhas fundamentais por um juízo de “ponderação”. Na “ponderação”, identifica
as normas pertinentes, seleciona os fatos relevantes e, com a conclusão, atribui o peso ou a
ponderação do mais relevante, utilizando-se do princípio da proporcionalidade (e seus subprin-
cípios: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito).
Para definir essas diferenças entre regras e princípios, Gomes Canotilho (Direito constitu-
cional e teoria da Constituição) adota os seguintes critérios:

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• Grau de abstração: os princípios jurídicos são normas com um grau de abstração relati-
vamente mais elevado do que as regras de direito;
• Grau de determinabilidade na aplicação do caso concreto: os princípios, por serem va-
gos e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras (do legislador ou do juiz),
enquanto as regras são suscetíveis de aplicação direta;
• Caráter de fundamentabilidade no sistema das fontes dos direitos: os princípios são
normas de natureza ou com um papel fundamental no ordenamento jurídico devido à
sua posição hierárquica no sistema das fontes (os princípios constitucionais) ou à sua
importância estruturante dentro do sistema jurídico (princípio do Estado de Direito);
• Proximidade da ideia de direito: os princípios são standards juridicamente vinculantes,
radicados nas exigências de justiça (Dworkin) ou na ideia de direito (Larenz), as regras
podem ser normas vinculativas com um conteúdo meramente funcional;
• Natureza normogenética: os princípios são fundamentos de regras, isto é, são normas
que estão na base ou constituem a ratio de regras jurídicas, desempenhando, por isso
uma função normogenética fundamentante.

Segundo Robert Alexy, a distinção entre regras e princípios não é de grau, mas sim uma
distinção qualitativa. Isso porque os princípios são mandatos de otimização, ordenam que
algo seja realizado na maior medida possível (podem ser satisfeitos em vários graus), dentro,
porém, das possibilidades fáticas e jurídicas existentes.
Para Alexy a solução de um conflito entre regras somente ocorre se se introduzir em uma
das regras em conflito uma cláusula de exceção, capaz de dar fim ao conflito ou se uma das
regras for declarada invalida.
Já a colisão entre princípios é resolvida a partir de uma relação de precedência condicio-
nada. De modo que um deles terá precedência em face do outro, sob determinadas condições.
E isso dependerá do sopesamento a ser realizado entre os interesses/bens jurídicos tutelados
pelos princípios colidentes.
Em resumo, para Alexy, o conflito entre regras deve ser solucionado pela dimensão da vali-
dade, devendo-se operar a subsunção; enquanto o conflito entre princípios deve ser resolvido
pela dimensão peso, aplicando-se a máxima da ponderação/sopesamento.

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RESUMO
Parte I – LINDB

A LINDB traça aspectos gerais sobre a aplicação das normas jurídicas. Norma de sobre
direito ou lex legum (norma sobre normas).
Fontes do Direito: de onde vem ou formas de expressão.
Se dividem em:
• Fontes formais: constam expressamente na LINDB, e se dividem em primárias (Leis); e
secundárias (analogia, costumes e princípios gerais do direito);
• Fontes informais, não estão previstas na LINDB: doutrina, jurisprudência e equidade.

Fontes formais secundárias = fontes indiretas ou mediatas. São os denominados métodos


de integração normativa.
Analogia: consiste em aplicar a uma data situação que não está prevista em lei uma norma
jurídica próxima (analogia legis ou propriamente dita) ou um conjunto de normas jurídicas que
possuem sintonia com aquele caso (analogia iuris).
Analogia # interpretação extensiva. Na analogia, rompe-se com os limites previstos na nor-
ma, havendo integração jurídica. Na interpretação extensiva, apenas amplia-se o seu campo,
havendo subsunção.
Costumes: práticas reiteradas no tempo.
Princípios gerais do direito: fontes basilares para qualquer ramo do direito. PGD consagra-
dos no CC: eticidade (ética e boa-fé), socialidade (função social), operabilidade (simplicidade
e efetividade – cláusulas gerais).
Inclui-se também os princípios base do Direito Civil constitucional: dignidade da pessoa
humana, solidariedade social, igualdade substancial.
Equidade: admitida no sistema jurídico somente em caso de previsão legal expressa.
Vigência da lei: força vinculante ou obrigatoriedade. Brasil: 45 dias, salvo previsão em con-
trário. Estado estrangeiro: três meses.
Princípio da obrigatoriedade simultânea ou vigência sincrônica: vigência em todo o territó-
rio nacional simultaneamente.
Princípio da continuidade ou permanência: em regra, a lei terá vigência por prazo ou perí-
odo indeterminado, até que outra a revogue. (revogação total: ab-rogação/ revogação parcial:
derrogação).
Em regra, não se admite a repristinação (volta da vigência de lei anterior, por ter sido revo-
gada a lei que a revogou) no Direito brasileiro, salvo disposição expressa.
As situações jurídicas já consolidadas sob a vigência da lei antiga devem ser preservadas
pela nova legislação (art. 6º, LINDB, proteção ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à
coisa julgada).
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Eficácia da lei no espaço, regra: estatuto pessoal.


Exceção: obrigações (lei do local onde foi constituída); relações jurídicas cujo objeto seja
imóvel (lei do lugar da coisa); sucessão (art. 10, § 1º, LINDB).
Casamento: estatuto pessoal, com algumas situações especais previstas nos §§ do art.
7º da LINDB. Para a capacidade: país do domicílio; impedimentos e formalidades: local do ca-
samento, com a exceção acima referida; invalidade: lei do país do primeiro domicílio conjugal;
e regime de bens: lei do país do domicílio dos nubentes ou, de forma alternativa, do primeiro
domicílio, se estes forem diferentes.
Prova: a prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar,
quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que
a lei brasileira desconheça (art. 13, LINDB).
Inovações LINDB – Direito público:
• Art. 20 e 21;
• Reforçar a responsabilidade decisória, principalmente quando do uso dos princípios
como razão de decidir (art. 489, § 1º, II do CPC/2015);
• Teoria consequencialista: análise das consequências práticas da decisão;
• Regularização da situação por meio do princípio da proporcionalidade (adequação e
necessidade) e análise das possíveis alternativas;
• Art. 22: primado da realidade;
• No entanto, a teoria da reserva do possível, não pode ser invocada diante da garantia do
mínimo existencial;
• Art. 23, 24, 30: direito à segurança jurídica (direito fundamental previsto no caput do art.
5º da CF/1988);
• Segurança jurídica: vertente objetiva (garantia da certeza e estabilidade das relações ou
situações jurídicas); e em sua vertente subjetiva (proteção à confiança legitima);
• Consagração do regime de transição e modulação dos efeitos no novo entendimento;
• Arts. 26 e 27: celebração de termos de compromisso. Novo modelo de administração
pública consensual e participativa (art. 29 da LINDB – consultas públicas);
• Art. 28: responsabilidade civil e pessoal do agente público que agir com dolo ou erro
grosseiro.

Parte II – Princípios Constitucionais do Direito Civil Contemporâneo

Direito Civil tradicional/clássico – 3 pilares: positivismo, institutos sob uma perspectiva for-
mal/estrutural, Estado Liberal. Princípios são fontes secundarias, apenas para suprir lacunas.
Direito Civil contemporâneo – pilares: pós-positivismo e análise funcional dos institutos.
Constitucionalização do Direito Civil. Valorização dos princípios. Filtragem constitucional.
Abertura valorativa do sistema, enfraquecimento da dicotomia público/privado.

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Princípios constitucionais no Direito Civil contemporâneo: dignidade da pessoa humana


(pessoa humana como centro do sistema jurídico civilista); solidariedade social (função social
– poder/dever, direito/função); igualdade substancial/material (também da sustentação aos
princípios da função social e boa-fé objetiva).
Boa-fé objetiva: cláusula geral que serve como parâmetro de interpretação dos negócios
jurídicos (art. 113 do CC), esta limita o exercício dos direitos subjetivos, sob pena de carac-
terizar o abuso de direito (art. 187 do CC) e cria deveres anexos, colaterais, secundários ou
instrumentais (art. 422 do CC).
Três paradigmas do Direito Civil (princípios implícitos no CC):
• Operabilidade: conferir flexibilidade ao sistema, por meio das cláusulas gerais e concei-
tos jurídicos indeterminados;
• Socialidade: os direitos subjetivos, baseados na vontade, passam a ter uma função.
Essa funcionalização do direito é a adequação da vontade com os valores sociais cons-
titucionais;
• Eticidade: retratado no princípio da boa-fé objetiva ou boa-fé de comportamento/conduta.

Cláusula geral # conceito jurídico indeterminado: ambos possuem conteúdo vago, abstra-
to e genérico. Se diferenciam na consequência jurídica (efeito).
Conceito jurídico indeterminado, o resultado (solução jurídica) já está previsto ou preesta-
belecido na norma.
Cláusulas gerais, o intérprete preenche os valores e atribui a solução que lhe pareça a
mais correta.
Diferença entre regras e princípios:
• Regras: conteúdo objetivo, incidência em uma situação jurídica determinada, aplica-se
por subsunção, pelo sistema “tudo ou nada”, dimensão validade;
• Princípios: conteúdo amplo, maior grau de abstração, dotados de generalidade abstra-
ção; colisão entre princípios: juízo de ponderação, dimensão peso.

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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (2019/MPE-GO/PROMOTOR DE JUSTIÇA) A Lei n. 13.655/18 trouxe importantes modi-
ficações para a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Sobre tais modificações, é
correto afirmar:
a) A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação
de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, deverá indicar de modo expresso
suas consequências jurídicas e administrativas, sendo vedado ao julgador, contudo, indicar as
condições para que a regularização ocorra.
b) A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto á validade de ato, con-
trato, ajuste, processo ou norma administrativa, cuja produção já se houver completado, levará
em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior
de orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.
c) Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou
norma administrativa, serão consideradas as circunstancias jurídicas que houverem imposto,
limitado ou condicionado a ação do agente.
d) O agente público responder· pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso
de dolo, culpa ou erro grosseiro.

002. (VUNESP/2019/TJ-RJ/JUIZ SUBSTITUTO) Em conformidade com a Lei de Introdução


às Normas do Direito Brasileiro (L.I.N.D.B.), na redação dada pela Lei n. 13.655/2018,
a) em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa, in-
clusive os de organização interna, deverá ser precedida de consulta pública para manifestação
de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão.
b) a decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, poderá impor
compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do pro-
cesso ou da conduta dos envolvidos.
c) admite-se a celebração de compromisso entre a autoridade administrativa e os interessa-
dos, com vistas à eliminação de irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na
aplicação do direito público, inclusive envolvendo transação quanto a sanções e créditos ou
estabelecendo regimes de transição.
d) para o fim de excluir a responsabilidade pessoal do agente público, é possível requerer
autorização judicial para celebração de compromisso entre a autoridade administrativa e os
interessados para eliminação de irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na
aplicação do direito público.
e) quando necessário por razões de segurança jurídica ou de interesse geral, o ente interessa-
do proporá ação declaratória de validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma adminis-
trativa, cuja sentença fará coisa julgada com eficácia erga omnes.

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003. (MPE-GO/2019/MPE-GO/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO) Sobre a vigência das


normas no Direito Brasileiro, disciplinada pelo Decreto-Lei n. 4.657/42 (Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro), é incorreto afirmar:
a) Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias
depois de oficialmente publicada, contudo, nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei
brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.
b) Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revo-
gue, sendo certo que a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando
seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
Ademais, a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes,
não revoga nem modifica a lei anterior.
c) O entendimento de que, quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito, não constitui norma formal no Direito
Brasileiro, mas um princípio norteador da atuação do magistrado.
d) A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito ad-
quirido e a coisa julgada, sendo que, de acordo com a definição legal, reputa-se ato jurídico
perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.

004. (FUNDEP GESTÃO DE CONCURSOS/2019/DPE-MG/DEFENSOR PÚBLICO) A Lei Fede-


ral n. 13.655/2018 acrescentou vários dispositivos à Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro (LINDB), inserindo normas de hermenêutica afetas ao direito público para melhorar a
qualidade da atividade jurídico-decisória na gestão pública. Assegura, assim, máxima efetiva-
ção dos princípios da eficiência e, principalmente, da segurança jurídica.
Nesse panorama, assinale a alternativa correta.
a) Embora a segurança jurídica seja uma preocupação da norma, as respostas a consultas
emitidas não terão caráter vinculante em relação ao órgão ou à entidade a que se destinam,
mas, sim, informativo.
b) Os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu
cargo são irrelevantes quando da interpretação de normas sobre gestão pública, haja vista a
indisponibilidade do interesse público.
c) As instâncias controladora e judicial, embora obrigadas a motivar suas decisões, não devem
considerar as consequências práticas da medida imposta, que é atividade de competência ex-
clusiva da administração pública.
d) A edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo os de mera organização
interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação de interessados.

005. (VUNESP/2019/TJ-AC/JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO) Segundo o que dispõe, expres-


samente, a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, na hipótese de expedição de uma
licença sobre a qual exista incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito

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público, havendo a necessidade de eliminar esse problema, a autoridade administrativa pode-


rá, atendidas as disposições legais,
a) celebrar compromisso com os interessados.
b) recomendar alteração legislativa antes da decisão.
c) ingressar com ação declaratória no Poder Judiciário.
d) contratar parecer de escritório de advocacia especializado.

006. (CESPE/2019/MPE-PI/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO) Quando lei que trata de


matéria afeta ao direito civil continua a regulamentar fatos anteriores a sua revogação, ocor-
re a chamada
a) ultratividade.
b) retroatividade benigna.
c) retroatividade mínima.
d) represtinação.
e) vigência diferida.

007. (VUNESP/2018/TJ-SP/JUIZ SUBSTITUTO) Segundo a Lei de Introdução às Normas do


Direito Brasileiro, quando se houver de aplicar lei estrangeira,
a) ter-se-á em vista a disposição da lei estrangeira, mas considerando as remissões por ela
feita à lei de outro Estado estrangeiro.
b) não se terá em conta a norma primária, mas o direito internacional privado alienígena, apli-
cando-se o retorno.
c) ter-se-á em vista a norma primária, aplicando-a diretamente, o que significa a inaplicabilida-
de do retorno.
d) caberá ao juiz verificar se o caso é de aplicabilidade direta da norma primária, ou se o caso
exige retorno.

008. (FUNDAÇÃO CEFETBAHIA/2018/MPE-BA/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO)


Com base na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e sua aplicação, analise as
assertivas e identifique com V as verdadeiras e com F as falsas.
( ) Segundo os princípios da obrigatoriedade e da continuidade, informadores da eficácia das
leis, uma lei eficaz deve ser cumprida por todos, ainda que a desconheçam.
( ) A revogação de uma lei pode ser total ou parcial. Quando toda a lei antiga for revogada pela
nova, a esta força dá-se o nome de derrogação.
( ) Segundo a Lei de Introdução ao Código Civil, nenhuma lei nova prejudicará direito adquirido,
o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Isso significa que o princípio da irretroatividade das leis
fica sacramentado.
( ) Publicada uma lei, pode ser que ela contenha erros que careçam de correção. Neste caso,
os erros serão corrigidos e a lei republicada recomeçando o prazo da vacatio legis.

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009. (VUNESP/2018/TJ-MT/JUIZ SUBSTITUTO) Assinale a alternativa que corresponde à re-


gra constante da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro que positivou o princípio da
vigência sincrônica.
a) Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
b) Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção,
o prazo de início da vigência começará a correr da nova publicação.
c) A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adqui-
rido e a coisa julgada.
d) Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias de-
pois de oficialmente publicada.
e) A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revo-
ga nem modifica a lei anterior.

010. (FCC/2018/MPE-PB/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO) A sucessão por morte ou


ausência obedece à lei
a) brasileira, quanto aos bens situados no Brasil, se aqui abrir-se a sucessão, independente-
mente do domicílio ou nacionalidade do defunto ou desaparecido.
b) da nacionalidade do defunto ou desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação
dos bens, mas a sucessão de bens de estrangeiros, situados no Brasil, será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre
que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
c) do país em que se abriu a sucessão, mas a capacidade para suceder se regula pela lei do
domicílio do herdeiro, salvo se brasileiro, quanto aos bens situados no Brasil, se a lei brasileira
lhe for mais favorável, sendo então esta a aplicável.
d) do país em que se abrir a sucessão, mas a capacidade para suceder se regula pela lei da
nacionalidade do herdeiro.
e) do país em que era domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e
a situação dos bens, mas a sucessão de bens de estrangeiros situados no Brasil será regulada
pela lei brasileira, em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente,
sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.

011. (FCC/2018/DPE-AM/DEFENSOR PÚBLICO/REAPLICAÇÃO) Fátima Aparecida, brasi-


leira, viaja a Las Vegas, a passeio. Vai a um cassino, no qual perde no jogo valor em dólares
equivalente a R$ 20.000,00. Volta ao Brasil sem pagar a dívida e é acionada judicialmente.
Considerada a legalidade da cobrança no país estrangeiro, aplica-se a lei
a) brasileira, por ser a devedora aqui domiciliada, analisando-se somente o conceito de obriga-
ção natural da dívida de jogo para ser ou não eficaz para a cobrança.
b) brasileira, pela inexistência de previsão de cabimento de leis estrangeiras às obrigações,
ainda que constituídas fora do país.

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c) norte-americana, por se tratar de atividade legal naquele país, examinando-se no Brasil so-
mente os aspectos formais da constituição da obrigação, para ser eficaz a cobrança judicial
em nosso país.
d) norte-americana, no tocante ao direito material, uma vez que a obrigação foi constituída nos
Estados Unidos, examinando-se sua compatibilidade ou não com a lei brasileira no exame dos
conceitos de ordem pública, soberania e bons costumes.
e) brasileira, porque aplicar-se a lei estrangeira para obrigações contraídas por cidadã brasilei-
ra infringiria a soberania nacional e os bons costumes.

012. (FUNDEP GESTÃO DE CONCURSOS/2018/MPE-MG/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBS-


TITUTO) Assinale a alternativa CORRETA:
a) A repristinação restabelece os efeitos da lei revogada com eficácia ex tunc (retroativa).
b) Com o advento da Emenda 66/10, o reconhecimento do divórcio realizado no estrangeiro
não se subordina a prazo.
c) O casamento perante agente consular, de brasileiros que regressaram ao País, será provado,
em regra, pelo traslado no cartório do registro civil do domicílio.
d) Na sucessão por comoriência serão reunidas, em acervo único, as heranças provindas da
morte simultânea dos cônjuges.

013. (CESPE/2017/DPU/DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL) De acordo com a legislação de re-


gência e o entendimento dos tribunais superiores, julgue o próximo item.
Uma lei nova, ao revogar lei anterior que regulamentava determinada relação jurídica, não po-
derá atingir o ato jurídico perfeito, o direito adquirido nem a coisa julgada, salvo se houver de-
terminação expressa para tanto.

014. (MPE-SC/2016/MPE-SC/PROMOTOR DE JUSTIÇA/MATUTINA) De acordo com o De-


creto-lei n. 4657/42 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro) são formas de integra-
ção jurídica a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Quanto aos costumes, a
legislação refere-se a espécie praeter legem, ou seja, aquele que intervém na falta ou omissão
da lei, apresentando caráter supletivo.

015. (FCC/2015/TJ-PI/JUIZ SUBSTITUTO) Lei nova que estabelecer disposição geral a par
de lei já existente,
a) apenas modifica a lei anterior.
b) não revoga, nem modifica a lei anterior.
c) derroga a lei anterior.
d) ab-roga a lei anterior.
e) revoga tacitamente a lei anterior.

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016. (MPDFT/2015/MPDFT/PROMOTOR DE JUSTIÇA ADJUNTO) Analise os itens seguin-


tes, com base da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB):
I – Havendo omissão quanto ao prazo de entrada em vigor de lei nacional, deve-se considerar
que começa a vigorar quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.
II – A omissão legislativa pode ser suprida pela aplicação analógica de outras leis vigentes.
III – A nova lei em vigor modifica as relações jurídicas constituídas por decisão judicial irrecor-
rível proferida com base em lei por ela revogada.
IV – Quando a pessoa não tiver domicílio, considera-se domiciliada no lugar de sua residência
ou onde se encontre.
V – A lei nova que estabeleça disposições gerais previstas em lei anterior revoga essa.
Escolha a alternativa que contém os itens CORRETOS:
a) I, II e IV.
b) I, III e IV.
c) I, IV e V.
d) II, IV e V.
e) III, IV e V.

017. (FAPEC/2015/MPE-MS/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO) Segundo a Lei de In-


trodução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei n. 4.657/42):
a) em caso de lacuna normativa, a revogação de uma lei opera efeito repristinatório automático.
b) o desuso é causa de revogação da lei.
c) nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia em
4 (quatro) meses depois de publicada.
d) aplica-se o princípio da vigência sincrônica quando a lei for omissa quanto ao período de
vacatio legis.
e) na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do
bem comum, sendo certo que ao interpretá-la decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.

018. (FCC/2015/TJ-AL/JUIZ SUBSTITUTO) “Os termos que obtiveram na linguagem jurídica


um significado específico, como, por exemplo, contrato, crédito, impugnabilidade, nulidade de
um negócio jurídico, herança, legado, são usados nas leis, na maioria das vezes, com este
significado especial. Deste modo, eliminam-se inúmeras variantes de significado do uso lin-
guístico geral e o círculo dos possíveis significados, adentro do qual se há-se proceder à sele-
ção com base noutros critérios, estreita-se em grande medida. Com o esclarecimento do uso
linguístico jurídico preciso, a interpretação pode, em certas ocasiões, chegar ao seu termo, a
saber, quando nada indicie no sentido de que a lei se desviou, precisamente nesta passagem,
daquele uso”.
(LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência do Direito. Tradução de José Lamego.
Fundação Calouste Gulbenkian 2. ed. Lisboa, 1989. p. 386)

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Esse texto corresponde


a) à interpretação lógica da lei.
b) aos usos e costumes como fonte interpretativa do direito.
c) à interpretação literal da lei.
d) à analogia.
e) à interpretação sistemática da lei.

019. (FCC/2014/TJ-AP/JUIZ) Direito Civil Baseado em antiga parêmia – ubi eadem ratio, ibi
eadem dispositio – escreve Miguel Reale: “É de presumir-se que, havendo correspondência de
motivos, igual deve ser o preceito aplicável” (Filosofia do Direito. V. 1, 7. ed. São Paulo: Saraiva,
1975. p. 128). Esse texto refere-se
a) à eficácia da lei no tempo e no espaço.
b) à aplicação das leis segundo sua hierarquia.
c) aos princípios gerais do Direito.
d) à analogia.
e) à equidade

Prova Oral Magistratura – LINDB

020. O que são fontes materiais, formais e não formais?

021. Em que consiste a interpretação sistemática?

022. O que se entende por vedação ao non liquet?

023. Em que consiste repristinação das leis?

Princípios do Direito Civil Contemporâneo

024. (TRT-16ª/2015/TRT-16ª REGIÃO/MA/JUIZ DO TRABALHO SUBSTITUTO) Acerca do Di-


reito Civil brasileiro, assinale a opção CORRETA:
a) O Direito Civil volta-se à solução de problemas abstratamente previstos, independentemente
de sua expressão concreta e simplificada.
b) Diante da ausência de legislação, o aplicador do Direito valer-se-á de outras fontes, tais
como analogias, costumes e princípios gerais de direito. Para tanto, recorrerá à doutrina e à
jurisprudência, sendo-lhe vedado, no entanto, o recurso à equidade.
c) O princípio da eticidade, utilizando-se de critérios éticos, tem como base o valor da pessoa
humana como fonte de todos os demais valores, o que possibilita a relativização do princípio
do pacta sunt servanda, quando o contrato estabelecer vantagens exageradas para um contra-
tante em detrimento do outro.

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d) A obrigatoriedade da lei surge a partir da sua publicação oficial, o que implica, salvo disposi-
ção em contrário, na sua vigência e vigor imediatos, tanto no âmbito nacional quanto no âmbito
internacional.
e) O princípio da socialidade reflete a prevalência dos valores coletivos sobre os individuais,
razão pela qual o direito de propriedade individual, de matriz liberal, deve ceder lugar ao direito
de propriedade coletiva, tal como preconizado no socialismo real.

025. (MPE-SC/2014/MPE-SC/PROMOTOR DE JUSTIÇA/MATUTINA) Analise o enunciado


da questão abaixo e assinale se ele é Certo ou Errado.
Com relação à distinção lógica entre princípios e regras jurídicas, Dworkin sustenta que as
regras são aplicáveis à maneira de um “tudo ou nada” (all-or-nothing), ou são completamente
aplicáveis ou não possuem nenhuma aplicação. Os princípios, por outro lado, constituem-se
em razões para decidir, não sendo aplicáveis automaticamente quando satisfeitas as condi-
ções previstas como suficientes a sua aplicação.

026. (PUC-PR/2007/TRT-9ª REGIÃO/PR/JUIZ DO TRABALHO/1ª PROVA/2ª ETAPA/ADAP-


TADA) Julgue a seguinte proposição:
Segundo a doutrina, o princípio da boa-fé objetiva tem, dentre outras funções, a de delimitar o
exercício de direitos subjetivos.

027. (MPDFT/2004/MPDFT/PROMOTOR DE JUSTIÇA) Assinale a alternativa incorreta.


a) Em contraste com o sentido individualista que condicionava o Código Civil anterior, o “senti-
do social” é uma das características mais marcantes do Código Civil ora em vigor.
b) O Código anterior possuía excessivo rigorismo formal, ou seja, quase sem referência à equi-
dade, boa-fé, justa causa ou quaisquer critérios éticos. Já o atual Código Civil conferiu ao Juiz
não só o poder de suprir lacunas, como também para resolver, onde e quando previsto, de con-
formidade com valores éticos.
c) O princípio da boa-fé objetiva, adotado pelo Código Civil Brasileiro, em nada se identifica
com a tradicional forma de interpretação dos contratos, que prevê que as cláusulas obscu-
ras do contrato devem ser interpretadas segundo a boa-fé, mas refere-se ao comportamento
das partes quando aos deveres que são anexos ou conexos ao vínculo jurídico estabelecido
entre elas.
d) O Novo Código Civil positiva a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, em sua
parte geral, restando patente a possibilidade de sua implementação incidental, ao indicar que
o pedido pode ser formulado pela parte ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir
no processo.
e) O Novo Código Civil trouxe importante inovação no direito de família, principalmente ao es-
tabelecer, a partir de sua entrada em vigor, a absoluta igualdade entre os filhos.

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028. (FGV/TJ-MG/JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO/2022) A Lei de Introdução às Normas do


Direito Brasileiro dispõe sobre o conflito de leis no tempo:
Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique
ou revogue.
§ 1º. A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela
incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2º. A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não
revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3º. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora per-
dido a vigência.
Analise as afirmativas a seguir
I – Como o Código Civil é a “Constituição do homem comum”, emenda à Constituição Fede-
ral, editada posteriormente ao Código Civil de 2002, não revoga regras codificadas, quando
conflitantes.
II – A criação dos chamados “microssistemas” não exclui a aplicação do Código Civil às rela-
ções jurídicas abrangidas pelos ditos “microssistemas”.
III – O Código de Defesa do Consumidor se tornou incompatível com o Direito Empresarial,
após a vigência do Código Civil de 2002.
IV – Tendo em vista a necessidade da criação dos chamados “microssistemas”, desde o sécu-
lo XX passou a ser recomendado evitar a interpretação do Direito como unidade sistemática,
a fim de se garantir a supremacia da Constituição Federal, a centralidade do Código Civil e a
segurança jurídica.
Está correto o que se afirma em
a) I, II, III e IV.
b) II e IV, somente.
c) II, somente.
d) IV, somente.

029. (CEBRASPE/MPE-SC/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO/2021) A respeito de fun-


damentos e noções gerais de direito, julgue o item a seguir.
Com o seu avanço, a doutrina jurídica tornou-se fonte material de direito no caso de falta da lei
e passou a ser assim prevista na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

030. (CEBRASPE/MPE-SC/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO/2021) Na interpretação


de normas sobre gestão pública, o operador do direito deve ater-se à legalidade, sendo-lhe ve-
dado cotejar as nuances fáticas.

031. (CEBRASPE/MPE-AP/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO/2021) De acordo com a


Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), decisão acerca da validade de de-
terminado contrato administrativo deve ser tomada considerando-se

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a) as circunstâncias práticas que condicionaram a ação do agente público.


b) a forma como os demais contratos eram celebrados no âmbito do órgão.
c) a possibilidade de ser utilizada a interpretação extensiva, desde que mantido íntegro o objeto.
d) a possibilidade de haver alteração contratual que não desvirtue o objeto.
e) a analogia com as normas de direito civil, se o vício resultar de lacuna na lei aplicável.

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GABARITO
1. b
2. b
3. c
4. d
5. a
6. a
7. c
8. V, F, V, V
9. d
10. e
11. d
12. b
13. E
14. C
15. b
16. a
17. d
18. b
19. d
20. Discursiva
21. Discursiva
22. Discursiva
23. Discursiva
24. c
25. C
26. C
27. e
28. c
29. E
30. E
31. a

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GABARITO COMENTADO
001. (2019/MPE-GO/PROMOTOR DE JUSTIÇA) A Lei n. 13.655/18 trouxe importantes modi-
ficações para a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Sobre tais modificações, é
correto afirmar:
a) A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação
de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, deverá indicar de modo expresso
suas consequências jurídicas e administrativas, sendo vedado ao julgador, contudo, indicar as
condições para que a regularização ocorra.
b) A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto á validade de ato, con-
trato, ajuste, processo ou norma administrativa, cuja produção já se houver completado, levará
em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior
de orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.
c) Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou
norma administrativa, serão consideradas as circunstancias jurídicas que houverem imposto,
limitado ou condicionado a ação do agente.
d) O agente público responder· pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso
de dolo, culpa ou erro grosseiro.

a) Errada.

LINDB, Art. 21. Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o
caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem
prejuízo aos interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em
função das peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.

b) Certa. Art. 24 da LINDB.


c) Errada.

Art. 22, § 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, proces-
so ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto,
limitado ou condicionado a ação do agente.
d) Errada.

Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em
caso de dolo ou erro grosseiro. Lembre-se que segundo a doutrina erro grosseiro não é sinô-
nimo de simples culpa, mas sim de culpa grave.
Letra b.

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002. (VUNESP/2019/TJ-RJ/JUIZ SUBSTITUTO) Em conformidade com a Lei de Introdução


às Normas do Direito Brasileiro (L.I.N.D.B.), na redação dada pela Lei n. 13.655/2018,
a) em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa, in-
clusive os de organização interna, deverá ser precedida de consulta pública para manifestação
de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão.
b) a decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, poderá impor
compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do pro-
cesso ou da conduta dos envolvidos.
c) admite-se a celebração de compromisso entre a autoridade administrativa e os interessa-
dos, com vistas à eliminação de irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na
aplicação do direito público, inclusive envolvendo transação quanto a sanções e créditos ou
estabelecendo regimes de transição.
d) para o fim de excluir a responsabilidade pessoal do agente público, é possível requerer
autorização judicial para celebração de compromisso entre a autoridade administrativa e os
interessados para eliminação de irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na
aplicação do direito público.
e) quando necessário por razões de segurança jurídica ou de interesse geral, o ente interessa-
do proporá ação declaratória de validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma adminis-
trativa, cuja sentença fará coisa julgada com eficácia erga omnes.

a) Errada.

LINDB. Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administra-
tiva, salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifes-
tação de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão.

b) Certa. Art. 27 da LINDB.


c) Errada. O art. 26 da LINDB não prevê tal possibilidade.

Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do
direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após
oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes razões
de relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação
aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial.
§ 1º O compromisso referido no caput deste artigo:
I – buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com os interesses gerais;
III – não poderá conferir desoneração permanente de dever ou condicionamento de direito reconhe-
cidos por orientação geral;
IV – deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu cumprimento e as san-
ções aplicáveis em caso de descumprimento.

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d) Errada. Embora seja possível a celebração de termo de compromisso para eliminar irregula-
ridade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito público (art. 26), isso
por si só não eliminará a responsabilidade do agente público.
e) Errada. Não existe tal previsão na LINDB.
Letra b.

003. (MPE-GO/2019/MPE-GO/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO) Sobre a vigência das


normas no Direito Brasileiro, disciplinada pelo Decreto-Lei n. 4.657/42 (Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro), é incorreto afirmar:
a) Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias
depois de oficialmente publicada, contudo, nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei
brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.
b) Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revo-
gue, sendo certo que a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando
seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
Ademais, a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes,
não revoga nem modifica a lei anterior.
c) O entendimento de que, quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito, não constitui norma formal no Direito
Brasileiro, mas um princípio norteador da atuação do magistrado.
d) A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito ad-
quirido e a coisa julgada, sendo que, de acordo com a definição legal, reputa-se ato jurídico
perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.

a) Errada.

LINDB, Art. 1º, § 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e
cinco dias depois de oficialmente publicada. Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei
brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.
b) Errada.

Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revo-
gue. § 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela
incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2º A lei nova,
que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a
lei anterior. § 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogado-
ra perdido a vigência.
c) Certa. Art. 4º da LINDB.
d) Errada.

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LINDB, Art. 6º, § 1º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito,
o direito adquirido e a coisa julgada. Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei
vigente ao tempo em que se efetuou.
Letra c.

004. (FUNDEP GESTÃO DE CONCURSOS/2019/DPE-MG/DEFENSOR PÚBLICO) A Lei Fede-


ral n. 13.655/2018 acrescentou vários dispositivos à Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro (LINDB), inserindo normas de hermenêutica afetas ao direito público para melhorar a
qualidade da atividade jurídico-decisória na gestão pública. Assegura, assim, máxima efetiva-
ção dos princípios da eficiência e, principalmente, da segurança jurídica.
Nesse panorama, assinale a alternativa correta.
a) Embora a segurança jurídica seja uma preocupação da norma, as respostas a consultas
emitidas não terão caráter vinculante em relação ao órgão ou à entidade a que se destinam,
mas, sim, informativo.
b) Os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu
cargo são irrelevantes quando da interpretação de normas sobre gestão pública, haja vista a
indisponibilidade do interesse público.
c) As instâncias controladora e judicial, embora obrigadas a motivar suas decisões, não devem
considerar as consequências práticas da medida imposta, que é atividade de competência ex-
clusiva da administração pública.
d) A edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo os de mera organização
interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação de interessados.

a) Errada.

LINDB, Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplica-
ção das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consul-
tas. Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em
relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.
b) Errada.

LINDB, Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos
e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo
dos direitos dos administrados.
c) Errada.

LINDB, Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em va-
lores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
d) Certa. Art. 29 da LINDB.
Letra d.

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LINDB e Introdução ao Direito Civil
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005. (VUNESP/2019/TJ-AC/JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO) Segundo o que dispõe, expres-


samente, a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, na hipótese de expedição de uma
licença sobre a qual exista incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito
público, havendo a necessidade de eliminar esse problema, a autoridade administrativa pode-
rá, atendidas as disposições legais,
a) celebrar compromisso com os interessados.
b) recomendar alteração legislativa antes da decisão.
c) ingressar com ação declaratória no Poder Judiciário.
d) contratar parecer de escritório de advocacia especializado.

LINDB, Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação
do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá,
após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes
razões de relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a legis-
lação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial.
Letra a.

006. (CESPE/2019/MPE-PI/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO) Quando lei que trata de


matéria afeta ao direito civil continua a regulamentar fatos anteriores a sua revogação, ocor-
re a chamada
a) ultratividade.
b) retroatividade benigna.
c) retroatividade mínima.
d) represtinação.
e) vigência diferida.

Ultratividade: é o fenômeno por meio do qual uma lei, já revogada, produz efeitos mesmo após
a sua revogação (é exceção à regra).
Perceba que o fenômeno em fomento não autoriza a norma regular fatos posteriores a
sua vigência.
Ao reverso, certo é que a ULTRATIVIDADE da norma a permite regular os efeitos pendentes dos
fatos passados (em respeito a retroatividade mínima adota em nosso ordenamento jurídico), e
não regular os fatos futuro.

EXEMPLO: arts. 2035 e 2041 do CC.

Atividade: a lei atual está em vigor e atinge fatos atuais.


Retroatividade: a lei atual está em vigor e atinge fatos passados.
Letra a.

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007. (VUNESP/2018/TJ-SP/JUIZ SUBSTITUTO) Segundo a Lei de Introdução às Normas do


Direito Brasileiro, quando se houver de aplicar lei estrangeira,
a) ter-se-á em vista a disposição da lei estrangeira, mas considerando as remissões por ela
feita à lei de outro Estado estrangeiro.
b) não se terá em conta a norma primária, mas o direito internacional privado alienígena, apli-
cando-se o retorno.
c) ter-se-á em vista a norma primária, aplicando-a diretamente, o que significa a inaplicabilida-
de do retorno.
d) caberá ao juiz verificar se o caso é de aplicabilidade direta da norma primária, ou se o caso
exige retorno.

Como as normas de direito internacional vigentes nos diferentes países não apresentam uma
uniformidade surgem os conflitos, uma vez que as leis de um país podem ordenar a aplicação
de determinado direito material a certa relação jurídica, ao passo que as de outro Estado po-
dem dar outra solução para o mesmo fato. Para resolver esses conflitos, existem duas corren-
tes doutrinárias:
• Do reenvio, retorno ou devolução: vislumbra no reenvio uma vantagem para o País que o
admite, uma vez que seus magistrados estatuem como teria feito a jurisdição nacional
do estrangeiro;
• Referência ao direito material estrangeiro: a norma de direito internacional remete o apli-
cador para reger dada relação jurídica ao direito estrangeiro.
O Brasil adotou a segunda teoria, conforme prescreve o art. 16, LINDB (“quando, nos termos
dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição
desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei”). Assim, quando um juiz
brasileiro tiver que apreciar a capacidade de um brasileiro domiciliado no estrangeiro (ex.: Por-
tugal), deve aplicar a lei do domicílio desta pessoa (no caso Portugal, por força do art. 7º, LIN-
DB), pouco importando se a lei de Portugal se submeta (em retorno ou reenvio) à lei brasileira.
Portanto, pela corrente adotada pelo Brasil, o juiz deverá atender exclusivamente à norma (de
direito internacional privado) de seu país, sem se preocupar com a de outro Estado.
Em outras palavras, a teoria do retorno (reenvio ou devolução) é uma forma de interpretação
de normas do direito internacional privado, em que há a substituição da lei nacional pela lei
estrangeira. Despreza-se a ordenação nacional, dando preferência ao ordenamento jurídico
estrangeiro. Nesse sentido, o art. 16, LINDB proíbe o juiz nacional de aplicar o retorno, cabendo
apenas a aplicação do direito internacional privado brasileiro para determinar o direito mate-
rial cabível.
Letra c.

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008. (FUNDAÇÃO CEFETBAHIA/2018/MPE-BA/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO)


Com base na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e sua aplicação, analise as
assertivas e identifique com V as verdadeiras e com F as falsas.
( ) Segundo os princípios da obrigatoriedade e da continuidade, informadores da eficácia das
leis, uma lei eficaz deve ser cumprida por todos, ainda que a desconheçam.
( ) A revogação de uma lei pode ser total ou parcial. Quando toda a lei antiga for revogada pela
nova, a esta força dá-se o nome de derrogação.
( ) Segundo a Lei de Introdução ao Código Civil, nenhuma lei nova prejudicará direito adquirido,
o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Isso significa que o princípio da irretroatividade das leis
fica sacramentado.
( ) Publicada uma lei, pode ser que ela contenha erros que careçam de correção. Neste caso,
os erros serão corrigidos e a lei republicada recomeçando o prazo da vacatio legis.

1º Afirmativa: VERDADEIRA.
Sistema da obrigatoriedade simultânea: Regula a obrigatoriedade das leis no país.

LINDB, Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco
dias depois de oficialmente publicada.
Princípio da continuidade: uma lei prolonga seus efeitos pelo tempo.

Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revo-
gue.
Não se pode alegar “o não conhecimento das leis”:

Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.


2º Afirmativa: FALSA.
A revogação de uma lei pode ser:
• TOTAL = Ab-rogação [Macete: AB(soluta)];
• PARCIAL = Derrogação.
3º Afirmativa: VERDADEIRA.
A lei nova tem efeito imediato e geral, atingindo somente os fatos pendentes – facta pendentia
– e os futuros – facta futura – realizados sob sua vigência, não abrangendo fatos pretéritos –
facta praeterita.

Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adqui-
rido e a coisa julgada.
4º Afirmativa: VERDADEIRA.

Art. 1º, § 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a
correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
Verdadeira./Falsa./Verdadeira./Verdadeira.

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009. (VUNESP/2018/TJ-MT/JUIZ SUBSTITUTO) Assinale a alternativa que corresponde à re-


gra constante da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro que positivou o princípio da
vigência sincrônica.
a) Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
b) Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção,
o prazo de início da vigência começará a correr da nova publicação.
c) A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adqui-
rido e a coisa julgada.
d) Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias de-
pois de oficialmente publicada.
e) A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revo-
ga nem modifica a lei anterior.

A questão pede que o concursando marque a alternativa que se refere ao princípio da vigência
sincrônica.
a) Errada. Retrata o princípio da continuidade normativa (art. 1º da LINDB).
c) Errada. Retrata o princípio da irretroatividade (art. 6º da LINDB).
d) Certa. LINDB, Art. 1º, caput, LINDB – Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em
todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. (PRINCÍPIO DA VIGÊNCIA
SINCRÔNICA = PRINCÍPIO DO PRAZO ÚNICO).
e) Errada. Retrata o princípio da especialidade (art. 1º, § 2º, da LINDB).
Letra d.

010. (FCC/2018/MPE-PB/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO) A sucessão por morte ou


ausência obedece à lei
a) brasileira, quanto aos bens situados no Brasil, se aqui abrir-se a sucessão, independente-
mente do domicílio ou nacionalidade do defunto ou desaparecido.
b) da nacionalidade do defunto ou desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação
dos bens, mas a sucessão de bens de estrangeiros, situados no Brasil, será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre
que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
c) do país em que se abriu a sucessão, mas a capacidade para suceder se regula pela lei do
domicílio do herdeiro, salvo se brasileiro, quanto aos bens situados no Brasil, se a lei brasileira
lhe for mais favorável, sendo então esta a aplicável.
d) do país em que se abrir a sucessão, mas a capacidade para suceder se regula pela lei da
nacionalidade do herdeiro.
e) do país em que era domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e
a situação dos bens, mas a sucessão de bens de estrangeiros situados no Brasil será regulada

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pela lei brasileira, em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente,
sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.

LINDB, Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o
defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em bene-
fício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais
favorável a lei pessoal do de cujus.
§ 2º A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.
Código Civil, Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido.
Letra e.

011. (FCC/2018/DPE-AM/DEFENSOR PÚBLICO/REAPLICAÇÃO) Fátima Aparecida, brasi-


leira, viaja a Las Vegas, a passeio. Vai a um cassino, no qual perde no jogo valor em dólares
equivalente a R$ 20.000,00. Volta ao Brasil sem pagar a dívida e é acionada judicialmente.
Considerada a legalidade da cobrança no país estrangeiro, aplica-se a lei
a) brasileira, por ser a devedora aqui domiciliada, analisando-se somente o conceito de obriga-
ção natural da dívida de jogo para ser ou não eficaz para a cobrança.
b) brasileira, pela inexistência de previsão de cabimento de leis estrangeiras às obrigações,
ainda que constituídas fora do país.
c) norte-americana, por se tratar de atividade legal naquele país, examinando-se no Brasil so-
mente os aspectos formais da constituição da obrigação, para ser eficaz a cobrança judicial
em nosso país.
d) norte-americana, no tocante ao direito material, uma vez que a obrigação foi constituída nos
Estados Unidos, examinando-se sua compatibilidade ou não com a lei brasileira no exame dos
conceitos de ordem pública, soberania e bons costumes.
e) brasileira, porque aplicar-se a lei estrangeira para obrigações contraídas por cidadã brasilei-
ra infringiria a soberania nacional e os bons costumes.

A cobrança de dívida de jogo contraída por brasileiro em cassino que funciona legalmente no
exterior é juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os bons costumes e a sobera-
nia nacional. STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.974-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
em 13/6/2017 (Info 610).
É juridicamente possível, pois não foi contraída em cassino ilegal no Brasil, logo não se aplica
o art. 814 do CC:

Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a
quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou
interdito.

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Por se tratar de dívida contraída licitamente no exterior, deve-se aplicar, quanto ao direito ma-
terial, a legislação do país respectivo, conforme art. 9º da LINDB:

LINDB, Art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.
LINDB, Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade,
não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons
costumes.

O STJ decidiu que dívida de jogo contraída licitamente no exterior não ofende:
• A soberania nacional: porque não retira o poder do Brasil em relação ao seu território
nem cria nenhuma forma de dependência ou subordinação a outros Estados soberanos;
• A ordem pública: porque, não se tratando de uma noção rígida, deve ser avaliado de
forma sistemática e considerando a evolução da sociedade. Assim, existem atualmente
no Brasil diversos jogos de azar legalizados, os quais em nada se diferenciam dos jogos
estimulados nos cassinos. Para o STJ, não há, portanto, uma absoluta incompatibilidade
entre a lei do Estado de Nevada, que autoriza os cassinos supervisionados pelo Estado,
com a ordem jurídica vigente no Brasil,
• Os bons costumes: o meio social e o ordenamento jurídico brasileiro não considera aten-
tatórios aos bons costumes os jogos de azar (tanto é que diversos deles são autoriza-
dos no Brasil, como loterias, raspadinhas, sorteios e corridas de cavalo). Além disso, o
próprio art. 814 do CC, em sua parte final, afirma que não se pode recobrar a quantia que
voluntariamente se pagou a título de dívida de jogo ou aposta. Ora, se fosse contrário
aos bons costumes, não haveria essa regra de irrepetibilidade.
Fonte: https://www.dizerodireito.com.br/2017/12/e-possivel-que-o-cassino-cobre-no.html
Letra d.

012. (FUNDEP GESTÃO DE CONCURSOS/2018/MPE-MG/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBS-


TITUTO) Assinale a alternativa CORRETA:
a) A repristinação restabelece os efeitos da lei revogada com eficácia ex tunc (retroativa).
b) Com o advento da Emenda 66/10, o reconhecimento do divórcio realizado no estrangeiro
não se subordina a prazo.
c) O casamento perante agente consular, de brasileiros que regressaram ao País, será provado,
em regra, pelo traslado no cartório do registro civil do domicílio.
d) Na sucessão por comoriência serão reunidas, em acervo único, as heranças provindas da
morte simultânea dos cônjuges.

Com a EC 66/10, que instituiu o divórcio direto, a homologação de sentença estrangeira


de divórcio para alcançar eficácia plena e imediata não mais depende de decurso de

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prazo, seja de um ou três anos, bastando a observância das condições gerais estabeleci-
das na LINDB e no Regimento Interno do STJ. (SEC 4.445/EX, 17.6.2015).

a) Errada.

LINDB, Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou
revogue.
§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido
a vigência.
b) Certa. o STJ se manifestou a respeito dessa regra do art. 7º, § 6º, da LINDB, dizendo que não
é mais necessário aguardar qualquer prazo.
c) Errada. A jurisprudência do STJ entende que o casamento realizado no exterior que tenha
seguido o rito necessário e condizente com a lei do país em que foi celebrado constitui ato
jurídico perfeito, ou seja, possui validade e existência.

JURISPRUDÊNCIA
CASAMENTO REALIZADO NO ESTRANGEIRO, SEM QUE TENHA SIDO REGISTRADO NO
PAÍS. O casamento realizado no exterior produz efeitos no Brasil, ainda que não tenha
sido aqui registrado. Recurso especial conhecido e provido em parte, tão só quanto à
fixação dos honorários de advogado. (STJ, Relator: Ministro ARI PARGENDLER, Data de
Julgamento: 26/11/2002, T3 – TERCEIRA TURMA).

d) Errada. Ocorre o desaparecimento do vínculo sucessório entre comorientes.


Nesse sentido ensina Maria Berenice Dias:

não havendo a possibilidade de saber quem é herdeiro de quem, a lei presume que as mortes foram
concomitantes. Desaparece o vínculo sucessório entre ambos. Com isso, um não herda do outro e
os bens de cada um passam aos seus respectivos herdeiros.

Fonte: https://www.conjur.com.br/2013-mar-27/comoriencia-afasta-recebimento-heranca-direito-representacao
Letra b.

013. (CESPE/2017/DPU/DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL) De acordo com a legislação de re-


gência e o entendimento dos tribunais superiores, julgue o próximo item.
Uma lei nova, ao revogar lei anterior que regulamentava determinada relação jurídica, não po-
derá atingir o ato jurídico perfeito, o direito adquirido nem a coisa julgada, salvo se houver de-
terminação expressa para tanto.

CF/1988: Art. 5º, XXXVI – A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada.

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LINDB, Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada.
Errado.

014. (MPE-SC/2016/MPE-SC/PROMOTOR DE JUSTIÇA/MATUTINA) De acordo com o De-


creto-lei n. 4657/42 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro) são formas de integra-
ção jurídica a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Quanto aos costumes, a
legislação refere-se a espécie praeter legem, ou seja, aquele que intervém na falta ou omissão
da lei, apresentando caráter supletivo.

LINDB, Art. 4º: Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes
e os princípios gerais de direito.
Costumes secundum legem: incidem quando há referência expressa aos costumes no texto
legal. Quando da sua aplicação não há integração, mas subsunção, eis que a própria norma
jurídica é que é aplicada.
Costumes praeter legem: aplicados quando a lei for omissa, sendo denominados costumes
integrativos, eis que ocorre a utilização propriamente dita dessa ferramenta de correção
do sistema.
Costumes contra legem: incidem quando a aplicação dos costumes contraria o que dispõe a
lei. Não é admitido.
Certo.

015. (FCC/2015/TJ-PI/JUIZ SUBSTITUTO) Lei nova que estabelecer disposição geral a par
de lei já existente,
a) apenas modifica a lei anterior.
b) não revoga, nem modifica a lei anterior.
c) derroga a lei anterior.
d) ab-roga a lei anterior.
e) revoga tacitamente a lei anterior.

LINDB, Art. 2º, § 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existen-
tes, não revoga nem modifica a lei anterior.
Letra b.

016. (MPDFT/2015/MPDFT/PROMOTOR DE JUSTIÇA ADJUNTO) Analise os itens seguin-


tes, com base da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB):

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I – Havendo omissão quanto ao prazo de entrada em vigor de lei nacional, deve-se considerar
que começa a vigorar quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.
II – A omissão legislativa pode ser suprida pela aplicação analógica de outras leis vigentes.
III – A nova lei em vigor modifica as relações jurídicas constituídas por decisão judicial irrecor-
rível proferida com base em lei por ela revogada.
IV – Quando a pessoa não tiver domicílio, considera-se domiciliada no lugar de sua residência
ou onde se encontre.
V – A lei nova que estabeleça disposições gerais previstas em lei anterior revoga essa.
Escolha a alternativa que contém os itens CORRETOS:
a) I, II e IV.
b) I, III e IV.
c) I, IV e V.
d) II, IV e V.
e) III, IV e V.

I – Certo.

Art. 1º. Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias de-
pois de oficialmente publicada.
II – Certo.

Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.
III – Errado.

Art. 6º. A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adqui-
rido e a coisa julgada.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.
IV – Certo.

Art. 7º. A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
§ 8º Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou
naquele em que se encontre.
V – Errado.

Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revo-
gue.
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga
nem modifica a lei anterior.
Letra a.

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017. (FAPEC/2015/MPE-MS/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO) Segundo a Lei de In-


trodução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei n. 4.657/42):
a) em caso de lacuna normativa, a revogação de uma lei opera efeito repristinatório automático.
b) o desuso é causa de revogação da lei.
c) nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia em
4 (quatro) meses depois de publicada.
d) aplica-se o princípio da vigência sincrônica quando a lei for omissa quanto ao período de
vacatio legis.
e) na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do
bem comum, sendo certo que ao interpretá-la decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.

Pelo princípio da vigência sincrônica entende-se que a obrigatoriedade da lei é simultânea, por-
que entra em vigor a um só tempo em todo o país, ou seja, 45 dias após sua publicação, não
havendo data estipulada para sua entrada em vigor.

LINDB, Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco
dias depois de oficialmente publicada.
Letra d.

018. (FCC/2015/TJ-AL/JUIZ SUBSTITUTO) “Os termos que obtiveram na linguagem jurídica


um significado específico, como, por exemplo, contrato, crédito, impugnabilidade, nulidade de
um negócio jurídico, herança, legado, são usados nas leis, na maioria das vezes, com este
significado especial. Deste modo, eliminam-se inúmeras variantes de significado do uso lin-
guístico geral e o círculo dos possíveis significados, adentro do qual se há-se proceder à sele-
ção com base noutros critérios, estreita-se em grande medida. Com o esclarecimento do uso
linguístico jurídico preciso, a interpretação pode, em certas ocasiões, chegar ao seu termo, a
saber, quando nada indicie no sentido de que a lei se desviou, precisamente nesta passagem,
daquele uso”.
(LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência do Direito. Tradução de José Lamego.
Fundação Calouste Gulbenkian 2. ed. Lisboa, 1989. p. 386)
Esse texto corresponde
a) à interpretação lógica da lei.
b) aos usos e costumes como fonte interpretativa do direito.
c) à interpretação literal da lei.
d) à analogia.
e) à interpretação sistemática da lei.

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Interpretação lógica: leva em consideração a finalidade da norma jurídica.


Interpretação sistemática: procura extrair o conteúdo da norma jurídica por meio da análise
sistemática do ordenamento jurídico.
Interpretação literal: modalidade que revela o significado da letra da lei.
Letra b.

019. (FCC/2014/TJ-AP/JUIZ) Direito Civil Baseado em antiga parêmia – ubi eadem ratio, ibi
eadem dispositio – escreve Miguel Reale: “É de presumir-se que, havendo correspondência de
motivos, igual deve ser o preceito aplicável” (Filosofia do Direito. V. 1, 7. ed. São Paulo: Saraiva,
1975. p. 128). Esse texto refere-se
a) à eficácia da lei no tempo e no espaço.
b) à aplicação das leis segundo sua hierarquia.
c) aos princípios gerais do Direito.
d) à analogia.
e) à equidade

REQUISITOS para o emprego da analogia: INEXISTÊNCIA de dispositivo legal prevendo e disci-


plinando a hipótese do caso concreto; SEMELHANÇA entre a relação não contemplada e outra
regulada na lei; IDENTIDADE de fundamentos lógicos e jurídicos no ponto comum as duas
situações.
Letra d.

Prova Oral Magistratura – LINDB

020. O que são fontes materiais, formais e não formais?

De acordo com a doutrina, fontes materiais são aquelas que determinam o direito objetivo,
ou seja, os fatores sociais, econômicos, éticos que influenciam na elaboração legislativa. As
fontes formais por sua vez são os meios pelos quais o direito objetivo se manifesta. Segundo
Caio Mario, são fontes formais a lei, a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito
(embora haja divergência doutrinaria). Por fim, as fontes não formais são a doutrina e a ju-
risprudência.

021. Em que consiste a interpretação sistemática?

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LINDB e Introdução ao Direito Civil
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A interpretação sistemática é aquela que considera que a lei não existe isoladamente, de
modo que a interpretação deve considerar todas as normas relacionadas a determinado ramo
do direito.

022. O que se entende por vedação ao non liquet?

A vedação ao non liquet consiste em dizer que o juiz não poderá deixar de decidir alegando au-
sência de norma jurídica para o caso concreto. Nesse sentido, dispõem o art. 140 do CPC/15:
o juiz não se exime de decidir sob alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento.

023. Em que consiste repristinação das leis?

A repristinação consiste na recuperação de vigência de uma lei que já fora revogada. Via de
regra a repristinação não é admitida no direito brasileiro, salvo quando houver previsão ex-
pressa na lei.

Princípios do Direito Civil Contemporâneo

024. (TRT-16ª/2015/TRT-16ª REGIÃO/MA/JUIZ DO TRABALHO SUBSTITUTO) Acerca do Di-


reito Civil brasileiro, assinale a opção CORRETA:
a) O Direito Civil volta-se à solução de problemas abstratamente previstos, independentemente
de sua expressão concreta e simplificada.
b) Diante da ausência de legislação, o aplicador do Direito valer-se-á de outras fontes, tais
como analogias, costumes e princípios gerais de direito. Para tanto, recorrerá à doutrina e à
jurisprudência, sendo-lhe vedado, no entanto, o recurso à equidade.
c) O princípio da eticidade, utilizando-se de critérios éticos, tem como base o valor da pessoa
humana como fonte de todos os demais valores, o que possibilita a relativização do princípio
do pacta sunt servanda, quando o contrato estabelecer vantagens exageradas para um contra-
tante em detrimento do outro.
d) A obrigatoriedade da lei surge a partir da sua publicação oficial, o que implica, salvo disposi-
ção em contrário, na sua vigência e vigor imediatos, tanto no âmbito nacional quanto no âmbito
internacional.
e) O princípio da socialidade reflete a prevalência dos valores coletivos sobre os individuais,
razão pela qual o direito de propriedade individual, de matriz liberal, deve ceder lugar ao direito
de propriedade coletiva, tal como preconizado no socialismo real.

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Daniel Carnacchioni

O princípio da eticidade é aquele que impõe a justiça e a boa-fé nas relações civis.
Pacta sunt servanda é utilizado para expressar a ideia de que os pactos firmados pelas partes de-
vem ser respeitados, contudo, conforme sabemos, nem todo pacto é válido, pois existem princípios
que relativizam essa ideia, dentre eles, o da eticidade, pois objetiva trazer mais segurança para as
relações firmadas na sociedade, haja vista que exige dos indivíduos, boa-fé em suas condutas.
Letra c.

025. (MPE-SC/2014/MPE-SC/PROMOTOR DE JUSTIÇA/MATUTINA) Analise o enunciado


da questão abaixo e assinale se ele é Certo ou Errado.
Com relação à distinção lógica entre princípios e regras jurídicas, Dworkin sustenta que as
regras são aplicáveis à maneira de um “tudo ou nada” (all-or-nothing), ou são completamente
aplicáveis ou não possuem nenhuma aplicação. Os princípios, por outro lado, constituem-se
em razões para decidir, não sendo aplicáveis automaticamente quando satisfeitas as condi-
ções previstas como suficientes a sua aplicação.

A norma chamada “regra” aplica-se segundo o modo do tudo ou nada, de maneira, portanto,
disjuntiva. Em havendo um conflito entre regras, a solução será conforme os critérios clássicos
de antinomia: hierarquia, especialidade e cronologia.
A norma chamada “princípio” possui uma dimensão que as regras não possuem: a de peso.
Resolve-se um conflito entre princípios em consideração ao peso de cada um, conforme a in-
dagação sobre quão mais importante é um em relação ao outro.
FONTE: Curso de Direito Constitucional, Gilmar Mendes e Paula Branco, p. 82-83.
Certo.

026. (PUC-PR/2007/TRT-9ª REGIÃO/PR/JUIZ DO TRABALHO/1ª PROVA/2ª ETAPA/ADAP-


TADA) Julgue a seguinte proposição:
Segundo a doutrina, o princípio da boa-fé objetiva tem, dentre outras funções, a de delimitar o
exercício de direitos subjetivos.

A atuação do princípio da boa-fé objetiva como limite ao exercício regular dos direitos subje-
tivos representa uma das principais funções que o destacam. Trata-se da função de controle
(art. 186 CC).
Certo.

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Daniel Carnacchioni

027. (MPDFT/2004/MPDFT/PROMOTOR DE JUSTIÇA) Assinale a alternativa incorreta.


a) Em contraste com o sentido individualista que condicionava o Código Civil anterior, o “senti-
do social” é uma das características mais marcantes do Código Civil ora em vigor.
b) O Código anterior possuía excessivo rigorismo formal, ou seja, quase sem referência à equi-
dade, boa-fé, justa causa ou quaisquer critérios éticos. Já o atual Código Civil conferiu ao Juiz
não só o poder de suprir lacunas, como também para resolver, onde e quando previsto, de con-
formidade com valores éticos.
c) O princípio da boa-fé objetiva, adotado pelo Código Civil Brasileiro, em nada se identifica
com a tradicional forma de interpretação dos contratos, que prevê que as cláusulas obscu-
ras do contrato devem ser interpretadas segundo a boa-fé, mas refere-se ao comportamento
das partes quando aos deveres que são anexos ou conexos ao vínculo jurídico estabelecido
entre elas.
d) O Novo Código Civil positiva a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, em sua
parte geral, restando patente a possibilidade de sua implementação incidental, ao indicar que
o pedido pode ser formulado pela parte ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir
no processo.
e) O Novo Código Civil trouxe importante inovação no direito de família, principalmente ao es-
tabelecer, a partir de sua entrada em vigor, a absoluta igualdade entre os filhos.

O princípio da igualdade de direitos entre os filhos foi instituído pela CF/1988 previsto no art.
227, § 6º, e, além disso, o CC/2002 diferencia, no direito sucessório, a condição de irmão unila-
teral e bilateral, conforme art. 1841 (“concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com
irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar”). Logo,
não há “igualdade absoluta” no CC.
Letra e.

028. (FGV/TJ-MG/JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO/2022) A Lei de Introdução às Normas do


Direito Brasileiro dispõe sobre o conflito de leis no tempo:
Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique
ou revogue.
§ 1º. A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela
incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2º. A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não
revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3º. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora
perdido a vigência.
Analise as afirmativas a seguir

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I – Como o Código Civil é a “Constituição do homem comum”, emenda à Constituição Fede-


ral, editada posteriormente ao Código Civil de 2002, não revoga regras codificadas, quando
conflitantes.
II – A criação dos chamados “microssistemas” não exclui a aplicação do Código Civil às rela-
ções jurídicas abrangidas pelos ditos “microssistemas”.
III – O Código de Defesa do Consumidor se tornou incompatível com o Direito Empresarial,
após a vigência do Código Civil de 2002.
IV – Tendo em vista a necessidade da criação dos chamados “microssistemas”, desde o sécu-
lo XX passou a ser recomendado evitar a interpretação do Direito como unidade sistemática,
a fim de se garantir a supremacia da Constituição Federal, a centralidade do Código Civil e a
segurança jurídica.
Está correto o que se afirma em
a) I, II, III e IV.
b) II e IV, somente.
c) II, somente.
d) IV, somente.

I – Errado. Uma PEC, após aprovada e promulgada passa a ter força de lei modificando o
texto Constitucional. Assim, caso tal modificação seja incompatível ou conflitante com as dis-
posições do Código Civil, haverá a revogação das mesmas, segundo a regra do § 1º do art.
2º da LINDB.
II – Certo. A criação de microssistemas para fins de tratar especificamente de um tema já
abordado por uma lei pré-existente, assim como a promulgação de uma lei que estabeleça dis-
posições gerais a respeito de uma lei específica, não implica em sua revogação. É o que dita o
§ 2º do art. 2º da LINDB.
III – Errado. Não há o que se falar em incompatibilidade uma vez que em se tratando de Direito
do Consumidor, o CC trata apenas de disposições gerais, enquanto o CDC elenca disposições
específicas, assim, estamos diante novamente da regra do § 3º do art. 2º da LINDB.
IV – Errado. Como assevera Bobbio, o ordenamento jurídico é composto de um complexo de
normas que não existem isoladamente, mas que são ligadas umas às outras formando um sis-
tema normativo. Assim, partindo da perspectiva da hierarquia das normas de Kelsen, a Cons-
tituição (norma superior), servirá de base para as demais normas infraconstitucionais, o que
inclue o CC e os chamados microssistemas, formando uma unidade sistemática.
Letra c.

029. (CEBRASPE/MPE-SC/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO/2021) A respeito de fun-


damentos e noções gerais de direito, julgue o item a seguir.

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LINDB e Introdução ao Direito Civil
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Com o seu avanço, a doutrina jurídica tornou-se fonte material de direito no caso de falta da lei
e passou a ser assim prevista na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

Em que pese a doutrina ser considerada uma fonte do direito, ela não é citada pela LINDB. Por
isso é vista como fonte informal de direito.

Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.
Errado.

030. (CEBRASPE/MPE-SC/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO/2021) Na interpretação


de normas sobre gestão pública, o operador do direito deve ater-se à legalidade, sendo-lhe ve-
dado cotejar as nuances fáticas.

Pelo contrário, a redação do art. 22 da LINDB, espelha o que a doutrina denominou de primado
da realidade:

Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados.
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou nor-
ma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado
ou condicionado a ação do agente.
Errado.

031. (CEBRASPE/MPE-AP/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO/2021) De acordo com a


Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), decisão acerca da validade de de-
terminado contrato administrativo deve ser tomada considerando-se
a) as circunstâncias práticas que condicionaram a ação do agente público.
b) a forma como os demais contratos eram celebrados no âmbito do órgão.
c) a possibilidade de ser utilizada a interpretação extensiva, desde que mantido íntegro o objeto.
d) a possibilidade de haver alteração contratual que não desvirtue o objeto.
e) a analogia com as normas de direito civil, se o vício resultar de lacuna na lei aplicável.

Art. 22, § 1º, da LINDB: Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajus-
te, processo ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem
imposto, limitado ou condicionado a ação do agente.
Letra a.

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Daniel Carnacchioni
Juiz do TJDFT (titular da 2ª Vara da Fazenda Pública e atualmente juiz assistente da Presidência do TJ-
DFT). Pós-graduado, mestre em Direito e doutorando em Direito Civil. Autor de obras jurídicas, em especial,
do Manual de Direito Civil pela editora JusPodivm. Professor da Fundação Escola Superior do MPDFT.
Palestrante sobre temas do Direito Civil.

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