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LINDB – Parte II
SISTEMA DE ENSINO
Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
LINDB – Parte II
Sumário
Carlos Elias
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
LINDB – Parte II.. ............................................................................................................................... 5
1. Interpretação................................................................................................................................ 5
1.1. Definição...................................................................................................................................... 5
1.2. Classificação quanto ao Sujeito.. ........................................................................................... 6
1.3. Classificação quanto ao Resultado. . ..................................................................................... 7
1.4. Classificação quanto ao Modo.. ............................................................................................. 8
2. Integração.................................................................................................................................... 11
2.1. Advertências Iniciais............................................................................................................... 11
2.2. Definição...................................................................................................................................12
2.3. Espécies de Integração......................................................................................................... 14
2.4. Equidade: Integração ou não?.............................................................................................. 17
2.5. Autointegração vs Heterointegração. . ................................................................................ 17
2.6. Espécies de Lacunas. . ............................................................................................................ 18
2.7. Revogação ou não dos Arts. 4º e 5º da LINDB...................................................................19
3. Lei no Espaço.............................................................................................................................. 20
3.1. Conceitos Importantes. . ..........................................................................................................21
3.2. Elementos de Conexão. . ........................................................................................................ 22
4. Lei da Segurança Hermenêutica.. ........................................................................................... 33
Questões de Concurso.................................................................................................................. 35
Gabarito............................................................................................................................................49
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LINDB – Parte II
Carlos Elias
Apresentação
Olá, meus amigos e minhas amigas!
Hoje, vamos tratar de uma parte que sempre é cobrada: interpretação, integração e lei no
espaço. Desses três assuntos, penso que o último tempo (lei no espaço) é o que mais gera
dificuldades para os alunos. As questões que os candidatos mais erram costumam ser nesse
tema. Isso significa que quem faz Gran Cursos Online sai em larga vantagem no concurso, pois
consegue aprender o que quase ninguém sabe (rssssss). Vamos em frente!
Resumo
Meus caríssimos e minhas caríssimas, começo com o resumo da aula. Se você tem pressa,
leia, ao menos, o resumo. Todavia, o ideal, porém, é você ler a aula inteira, pois o resumo não
tem detalhamentos nem contém tudo que você tem de saber.
Segue o resumo.
• Interpretar é extrair um sentido possível da norma, ao passo que integrar é suprir lacuna
da norma. Dessa forma, não podemos falar em interpretação quando há omissão legal;
• Há diferentes formas de classificar a interpretação, a saber: (1) quanto ao sujeito: autên-
tica, doutrinária e judicial; (3) quanto ao resultado: extensiva, restritiva e declarativa; e (4)
quanto ao modo: gramatical, sistemática, histórica, teleológica (=sociológica) e racional
(=lógica);
• Havendo omissão na lei, o juiz deverá servir-se dos métodos de integração na seguinte
ordem: analogia, costumes e princípios gerais de Direito (art. 4º, LINDB);
• A equidade, na LINDB, não é método de integração, ao contrário do que sucede no Direito
Trabalhista (CLT) e no Direito Tributário (CTN);
• O Brasil adotou a doutrina da territorialidade moderada, de maneira que, em regra, fatos
ocorridos no território brasileiro submetem-se à legislação brasileira;
• O art. 7º e seguintes da LINDB prevê os elementos de conexão, assim entendidas as
regras que definem quando se aplica a lei brasileira e quando se aplica a estrangeira;
• Lei do domicílio da pessoa (lex domicilii): questões relativas à personalidade, capacida-
de, nome e direito de família;
• Lei do domicílio do casal (lex domicilli): invalidade do matrimônio;
• Lei do domicílio do de cujus ou do ausente (lex sucessionis): sucessão causa mortis;
− Exceção: princípio do prélèvement ou de princípio do favor negotti (art. 10, § 1º, LIN-
DB + art. 5º, XXXI, da CF);
• Lei do lugar do ato (lex loci actus): obrigações contratuais, administrativas ou de ou-
tra natureza;
− Exceção: lei do lugar da execução do ato (lex loci executionis) para a forma, admi-
tidas peculiaridades da lei estrangeira quanto aos pressupostos extrínsecos do ato
(art. 9º, § 1º, da LINDB);
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LINDB – PARTE II
1. Interpretação
1.1. Definição
Amigos e amigas, uma das primeiras preocupações aqui é não confundir interpretação
com integração. Ainda falaremos de integração, mas já te antecipo que integração é meio para
suprir lacunas na lei. Se não há lei, temos de usar um meio de integração para preencher a la-
cuna. Interpretar, porém, só é usado quando há uma lei.
Não caia em peguinha em concurso. Se falarem, na questão, que não há lei, jamais podere-
mos falar em interpretação, mas apenas em integração.
Vamos à parte teórica.
Interpretar é extrair um sentido possível de uma norma. Quando se diz possível, quer-se
dizer que o intérprete não pode romper os limites da norma nem pode “consertá-la”, embora
se saiba que as linhas demarcatórias do campo interpretativo da norma são pouco nítidas.
Todo texto permite mais de um sentido a depender da técnica de interpretação. Uma norma
que proíbe a entrada de animais em um ambiente poderia ser interpretada restritivamente para
permitir o ingresso de cães-guia com uma pessoa com as vistas anuviadas, para usar exemplo
de Recasens Siches.
Nunca se fala em interpretação quando há ausência de norma, pois o objeto da interpreta-
ção é uma norma. Se há lacuna normativa, o caso é de integração – meios para suprir omis-
sões normativas –, e não de interpretação.
Há diferentes perspectivas para a classificar a interpretação, conforme se verá abaixo. Uma
não vincula a outra. Uma interpretação lógica (classificação quanto ao modo), por exemplo,
pode ser doutrinária (quanto ao sujeito) e restritiva (quanto ao resultado) ou pode ter outros
enquadramentos de classificação sob a ótica do sujeito e do resultado.
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Quanto ao resultado, a intepretação pode ser extensiva (ou ampliativa), declarativa e restri-
tiva (ou estrita).
A interpretação extensiva é a que resulta em um sentido que abrange mais casos concre-
tos do que o texto da norma. Os romanos ensinavam que aí o legislador disse menos do que
queria (lex dixit plus quam voluit). Por exemplo, o inciso XI do art. 5º da CF, embora tenha se
reportado à inviolabilidade da “casa”, é interpretado extensivamente pelo STF, que inclui, no
conceito de casa, locais onde há a intimidade dos indivíduos, como o escritório de advocacia.
A interpretação declarativa é a que resulta em um sentido equivalente à norma. O legislador
disse o que queria, nem mais, nem menos. Se o verbete “casa” fosse interpretado declarativamente,
1
O CESPE considerou errada esta assertiva em matéria de Direito Penal: “A exposição de motivos do CP é típico exemplo de
interpretação autêntica contextual” (Analista Judiciário – área Judiciária/STF/2008). Há outra questão do CESPE parece
ter seguido caminho similar ao considerar errada a seguinte questão de direito penal: “No Código Penal, a exposição de
motivos é exemplo de interpretação autêntica, pois é realizada no próprio texto legal” (Oficial de Justiça/TJDFT/2015).
Essa última questão, porém, pode ter sido considerada errada apenas pela sua parte final, pois a exposição de motivos
não está no corpo da lei, e sim fora.
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o STF não teria estendido a proteção da inviolabilidade domiciliar prevista no inciso XI do art.
5º da CF para o escritório de advocacia.
A interpretação restritiva é a que resulta em um sentido que abrange menos casos concre-
tos do que o texto da norma. Diz-se que, nesses casos, o legislador disse mais do que queria
(lex minus dixit quam voluit). Se fosse conferida interpretação restritiva ao verbete “casa” do
art. 5º, XI, da CF, poder-se-ia, por exemplo, excluir a casa de políticos dessa proteção, argumen-
tando que pessoas públicas abrem mão de sua intimidade e, portanto, a proteção da inviolabi-
lidade da casa não os confortaria.
É princípio geral de direito que normas que restringem direitos ou que impõe sanções de-
vem ser interpretadas restritivamente. O art. 113 do CC chega a impor a intepretação restri-
tiva para negócios jurídicos gratuitos (como uma doação) e renúncias a direitos (como uma
renúncia ao direito hereditário, que não deve ser interpretada extensivamente para abranger
também uma renúncia a uma deixa procedente de testamento descoberto posteriormente à
renúncia).
A interpretação pode ser feita de vários modos (várias maneiras); por isso, quanto ao modo,
ela pode ser gramatical (=literal), sistemática, histórica, teleológica (= sociológica) ou racional
(=lógica).
A interpretação gramatical ou literal é a feita pela busca do sentido denotativo das pala-
vras, seja o sentido técnico, seja o sentido geral ou comum das palavras. Não se confunde com
o sentido popular das palavras, pois as palavras podem ser polissêmicas e ter sentido técnico
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2. Integração
2.1. Advertências Iniciais
Desde logo, faço uma advertência: se há lei, fala-se em interpretação, que é extrair um sen-
tido possível da norma. Não se interpretar o vazio! Interpreta-se uma lei. Por outro lado, se não
há lei (omissão legal), não se pode falar em interpretação, pois não há nada do que se possa
extrair um sentido possível. Aí será o caso de integração, pois temos de preencher essa lacuna
legal. Com essa visão inicial você já se livra de um “peguinha” clássico de concursos.
Dito isso, vamos a uma questão:
a) Errada. A alternativa “a” está errada, pois não é qualquer brocardo que representa princípio
geral de direito. Ele tem de ter suporte em algum valor jurídico da história do direito. Seja como
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for, é fato que os brocardos jurídicos geralmente condensam um princípio geral de direito, mas
nem sempre. O fato é que princípios gerais de direito não podem ser confundidos com máxi-
mas jurídicas, embora estas possam, em muitas situações, resumir alguns princípios gerais de
direito. Os brocardos representam a sabedoria popular, que, em alguns casos, podem conter
princípios gerais de direito. Mas nem sempre é assim. Concordo que a letra “a” é mal redigida,
mas o examinador acabou seguindo a doutrina do Carlos Roberto Gonçalves.
b) Errada. A letra “b” está errada interpretação histórica é aquela que se adapta à história
da lei (mais especificamente ao que foi debatido na sua fase de elaboração, nos debates
legislativos).
c) Certa. A letra “c” retrata um princípio geral de direito, que é um dos modos de integração
das normas jurídicas. A propósito, no Direito de Registros Públicos, falamos do princípio da
disponibilidade, segundo o qual o titular tabular só pode transferir aquilo que titulariza. Esse
princípio decorre da milenar regra de que ninguém pode transferir mais direitos do que tem.
d) Errada. A letra “d” está errada, porque o art. 4º da LINDB fixa hierarquia nesta ordem: analo-
gia, costumes e princípios gerais de direito.
e) Errada. A letra “e” está errada, porque há distinção entre essas espécies de analogia, confor-
me veremos mais abaixo.
Letra c.
2.2. Definição
O ordenamento jurídico nunca é omisso. Ele tem resposta jurídica para qualquer caso. O
caso mais inusual imaginável encontraria resposta do Direito. Em um exemplo ad absurdum,
o ordenamento jurídico seria capaz até de dizer se devem ou não ser aplicadas as regras de
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Além do mais, o art. 140 do CPC, ao mencionar “lacuna no ordenamento” (e não mais “lacuna
ou obscuridade da lei”, como fazia o antigo art. 126 do já revogado CPC/1973), dá a entender
que o foco atualmente não é a aplicação da lei (paradigma da legalidade), e sim o ordenamento
como um todo (paradigma da juridicidade). Essa é a tendência da doutrina moderna.
Preferimos, porém, ainda a doutrina tradicional, pois entendemos que o texto legal repre-
senta a conciliação democrática de todo o ordenamento jurídico por meio do Parlamento, ins-
tância escolhida para tanto. Havendo omissão na lei, deve-se buscar o suprimento primeira-
mente em outra lei similar, ou seja, em outra manifestação do Parlamento. Só na insuficiência
da analogia é que se deve buscar os costumes e, por último, os princípios gerais de direito (o
que abrangeria a aplicação direta de princípios constitucionais). Enfim, a aplicação direta de
princípios constitucionais só deve ser aplicada como meio de integração juntamente com os
princípios gerais de direito, embora se deva admitir sua aplicação indireta como: (1) guia da
interpretação da lei e (2) censura a soluções inconstitucionais.
Para concurso público, o correto é que seja anulada qualquer questão que cobrar esse
tema controverso. Seja como for, recomendamos que o aluno tente identificar, da leitura da
questão, qual das correntes examinador está seguindo. Caso isso não seja viável, recomenda-
mos que o aluno siga a doutrina mais moderna e adote o entendimento de que, embora a regra
seja a observância da ordem do art. 4º da LINDB, ela pode ser flexibilizada.
A analogia é aplicação de uma norma similar (= análoga) para suprir uma omissão norma-
tiva diante de um caso concreto. A analogia pode ser de duas espécies.
A primeira é a analogia legis ou legal, que é a aplicação de um dispositivo semelhante. Dis-
positivo é uma unidade normativa, como um artigo, um parágrafo, um inciso ou uma alínea de
uma lei. Ex.1: o art. 1.899 do CC, que trata de interpretação de cláusula dúbia de testamento,
pode ser aplicada analogicamente para o caso de cláusula dúbia de contratos de doação, pois
testamento e doação são semelhantes por serem formas de liberalidade. Ex.2: o art. 21 da Lei
4.717/65, que prevê prescrição de 5 anos para a ação popular, é estendida analogicamente
para fixar o prazo prescricional de ações civis públicas diante da omissão da Lei de Ação Civil
Pública (Lei n. 7.347/85).
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2.3.2. Costumes
Os costumes são práticas e usos de uma sociedade. São “a regra de conduta criada espon-
taneamente pela consciência comum do povo, que a observa por modo constante e uniforme
e sob a convicção de corresponder a uma necessidade jurídica”, como alertava Vicente Ráo
(2013, p. 272). São o consenso implícito da população de acordo com o seu histórico.
Há três espécies de costume.
O primeiro é o costume segundo a lei (secundum legem), que se aplica quando a lei manda
aplicar os costumes, a exemplo do art. 445, § 2º (costume para prazo decadencial por vício
redibitório de animal no caso de falta de norma diversa), art. 569, II, (costume do lugar para de-
finir modo de pagamento de aluguel no caso de falta de pacto contratual diverso) e do art. 596
(costume para arbitrar remuneração por serviço prestado no caso de falta de pacto contrário),
do CC. Esse tipo de costume não é meio de integração, pois inexiste aí omissão normativa: a
lei manda aplicar o costume ao caso. O costume secundum legem exerce função interpretativa,
pois auxilia na interpretação da norma que o prevê.
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O segundo é o costume contra a lei (contra legem), que incide quando os costumes con-
trariam a lei. Apesar da controvérsia doutrinária, prevalece o entendimento de que o costume
contra legem não é admitido no Brasil e, portanto, o costume não pode revogar uma lei, como
acontecia no Direito Romano, em que o desuso era hipótese de revogação da lei (STJ, REsp
30.705, 6ª T., Rel. Min. Adhemar Maciel, DJ 03/04/1995). O costume contra legem não é téc-
nica integrativa, pois não há omissão legal aí. Embora não seja admitido no Brasil, o costume
contra legem presta-se como incentivo ao legislador para modificar normas anacrônicas. In-
duz, também, mutações constitucionais (novas interpretações da Constituição), contribuindo,
por exemplo, na declaração de inconstitucionalidade de normas que anteriormente eram tidas
por constitucionais.
O terceiro é o costume na falta de lei (praeter legem), que incide diante da omissão legal, o
costume serve para suprir essa lacuna normativa a fim de disciplinar o caso concreto. É essa
espécie de costume que é meio de integração. Esse tipo de costume tem função supletiva, pois
supre lacuna na norma.
Os princípios gerais de direito são noções de justiça de acordo com a história do Direito.
Abrange regras clássicas como a de não causar dano a outrem, a de vedar o enriquecimento
sem causa etc. Os brocardos latinos tradicionais não podem ser confundidos com princípios
gerais de direito, embora, em muitas situações, consigam sintetizar ideias de alguns princí-
pios. Os brocardos (as máximas ou os adágios jurídicos) são mais uma expressão didática
da experiência do que propriamente um princípio geral de direito. É o que adverte Carlos
Roberto Gonçalves.
Os princípios gerais de direito são bem mais amplos do que os brocardos e, por isso, não
podem ser confundidos com eles. Por exemplo, o princípio da vedação ao enriquecimento
sem justa causa é um princípio geral de direito e, na sua amplitude, acaba estando por trás de
inúmeros brocardos latinos, como este: Juris Praecepta sunt haec: honeste vivere, alterum non
laedere, suum cuique tribuere (tais são os preceitos do direito: viver honestamente, ofender
ninguém, dar a cada um o que lhe pertence). Os brocardos, em suma, embora nem sempre
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representem princípios gerais de direito, possuem um valor jurídico próprio, por serem ideias
da experiência que devem ser levadas em conta pelo jurista, como lembra Miguel Reale.
A equidade não é um método de integração na LINDB, embora seja reconhecida como tal
no Direito Trabalhista (art. 8º, CLT) e no Direito Tributário (art. 108, CTN).
Na LINDB, a equidade é, na verdade, um recurso auxiliar à aplicação da lei. É uma ferramen-
ta de que se vale o legislador quando tem que disciplinar uma situação repleta de variáveis
casuísticas e reconhece ser inviável preestabelecer regras objetivas de antemão para todas
as possibilidades concretas. É praticamente um “cheque em branco” que o legislador concede
ao juiz para, diante de uma determinada situação, este dar a solução mais justa (mais equi-
tativa). Por essa razão, o art. 140, parágrafo único, do CPC estabelece que “o juiz só decidirá
por equidade nos casos previstos em lei”. O uso da equidade, portanto, depende de uma lei
que autorize o juiz a tanto. Como exemplos, pode-se citar: (1) art. 928, parágrafo único, CC:
manda aplicar equidade no arbitramento da indenização a ser paga pelo incapaz; (2) art. 944,
parágrafo único, CC: permite redução equitativa do valor da indenização diante de manifesta
desproporção entre o grau de culpa e o dano; (3) art. 1.586, CC: autoriza juiz a fixar a guarda
de criança pelos genitores da maneira que a sua criatividade equitativa recomendar caso haja
motivos graves que impeçam a guarda compartilhada ou unilateral; (4) art. 1.740, II, CC: auto-
riza juiz a, mediante pedido do tutor, decidir “como houver por bem” sobre a forma de correção
do menor; (5) art. 413, CC: juiz pode reduzir equitativamente o valor da cláusula penal quando
for desproporcional.
O conteúdo da equidade é aplicar concepções de justiça. Nesse sentido, a título de exem-
plo, o velho brocardo ubi eadem ratio, ibi eadem jus (onde há a mesma razão fundamental,
há a mesma regra) é um milenar conceito de justiça que pode ser tido como um exemplo
de equidade.
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Há diferentes espécies de lacunas no Direito, entendido no seu sentido amplo que abrange
todas as fontes jurídicas (leis, costumes etc.), o que permite classificar as lacunas no Direito
em: (1) normativa; (2) ontológica; (3) axiológica; e (4) de conflito ou antinomia.
A lacuna normativa é quando inexiste norma disciplinando um caso concreto. Para colma-
tar essa lacuna, o art. 4º da LINDB prevê a integração.
A lacuna ontológica ocorre quando há uma norma para o caso concreto, mas ela é des-
provida de eficácia social (= não aplicável na prática). Trata-se da “lei que não cola”, para usar
expressão popular. Ontologia se reporta à razão de ser das coisas; ora, a razão de ser das nor-
mas é que elas tenham aplicação prática na sociedade. Se falta essa eficácia social, o Direito
padece de uma lacuna ontológica. Ex.: o já revogado art. 240 do CP, embora criminalizasse o
adultério, não era aplicado na prática.
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A lacuna axiológica sucede quando há uma norma para o caso concreto, mas ela é injusta
ou insatisfatória. Axiologia diz respeito a valores. Se uma norma não condiz com os valores de
Justiça, falta uma norma justa para o caso concreto: o Direito padece de lacuna axiológica nes-
se ponto. Ex.: no Brasil Colônia, havia regra autorizando o trabalho escravo, mas ela era injusta,
de sorte que o Direito do Brasil Colônia sofria de lacuna axiológica nessa parte.
A lacuna de conflito (também chamada de antinomia) reporta-se ao caso de haver mais de
uma norma em divergência para o mesmo caso concreto, o que faz com o que o Direito não
dê uma solução ao caso concreto. Nesses casos, há de utilizar-se as técnicas de solução de
antinomia, seja os tradicionais (critérios cronológico, hierárquico e da especialidade), seja os
modernos, como o Diálogo das Fontes.
Com o advento do novo CPC em 2015, pairam discussões acerca da possível revogação
tácita dos arts. 4º e 5º da LINDB. O art. 4º da LINDB, ao colocar a lei em posição de suprema-
cia em relação às demais fontes – fixando que outras fontes que serviriam para suprir lacunas
da lei –, seria incompatível com o CPC/2015, que, no seu art. 140, não reiterou a preferência
da lei que decorria do antigo art. 126 do CPC/1973. Este velho dispositivo afirmava que o juiz
deve aplicar as normas legais em primeiro lugar e, só no caso de omissão delas, é que deve-
ria socorrer-se dos meios integrativos (analogia, costumes e princípios gerais de direito). Há
quem sustente que o CPC/2015 superou o paradigma da legalidade, que enaltecia a lei em
detrimento das demais fontes, e prestigiou o paradigma do ordenamento jurídico, que mescla
todas as fontes jurídicas em um bloco único de normatividade. Essa mudança de paradigma
estaria em todo o CPC/2015, que seria incisivo em remeter-se ao ordenamento jurídico, e não
à lei, ao tratar de solução de casos concretos (p.ex., art. 8º e 140). Nesse sentido, o art. 5º da
LINDB, ao tratar da aplicação da lei, teria sido revogado pelo art. 8º do CPC/2015, que trata de
aplicação do ordenamento jurídico (e não mais da lei) e invoca outros princípios para guiar a
aplicação da lei.
Não nos parece ser esse o melhor caminho; os arts. 4º e 5º da LINDB seguem em vigor.
Quanto ao art. 4º da LINDB, é incontestável que, ao se deparar com um caso concreto disci-
plinado em lei (norma escrita), o juiz não pode ignorar o texto legal e resolver o caso com base
em outras fontes jurídicas. A própria súmula vinculante 10/STF veda que o juiz deixe de aplicar
uma lei, salvo se a declarar inconstitucional. A lei é a fonte primacial de que deve servir-se o
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juiz diante de um caso. Acontece que, como todo texto, a lei dá ensanchas a várias possíveis
interpretações e é exatamente nesse momento de escolha da interpretação mais adequada
que podem entrar em cena as demais fontes jurídicas, como os princípios. Se há lei, as outras
fontes jurídicas servem como leme na interpretação da lei: é a lei que será aplicada, mas sob a
interpretação obtida com o auxílio das demais fontes jurídicas. Caso, porém, a lei seja omissa,
aí sim as demais fontes jurídicas devem ser utilizadas, observada a ordem prevista no art. 4º
da LINDB. A primeira fonte jurídica é a analogia, pois cabe ao operador do Direito buscar, em
outras manifestações do legislador, uma regra que sirva analogicamente para resolver o caso
concreto. Inexistindo regra análoga, deve-se servir dos costumes e dos princípios gerais de
direito respectivamente. Ao empregar a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito,
o jurista deverá servir-se também de todas as fontes jurídicas (como os princípios constitucio-
nais) para guiar a sua escolha entre as diversas soluções oferecidas por cada meio integrativo.
Em suma, o CPC/2015 é compatível com o art. 4º da LINDB. Este segue em vigor, seja pelos
motivos acima, seja porque seria imprudente presumir que um diploma de tal envergadura teria
“esquecido” de revogar expressamente um dispositivo tão destacado como o art. 4º da LINDB.
No tocante ao art. 5º da LINDB, é verdade que o art. 8º do CPC é mais completo, o que au-
torizaria a ilação de que teria havido revogação tácita por este dispositivo ter regulamentado
inteiramente a matéria. Todavia, não enxergamos incompatibilidade entre os textos nem utili-
dade em proclamar a revogação do art. 5º da LINDB, de maneira que, em nome do diálogo das
fontes, preferimos entender que os dois dispositivos podem ser aplicados concomitantemen-
te, realçando que, na aplicação da lei ou de qualquer outra fonte, deve-se buscar atender não
somente aos fins sociais e ao bem comum, mas também os diversos princípios constitucio-
nais (dignidade da pessoa humana, proporcionalidade, razoabilidade, legalidade, publicidade
e eficiência). Temos, pois, que também o art. 5º da LINDB não foi revogado, mas deve ser lido
em conjunto com o art. 8º do CPC pela via do diálogo das fontes.
3. Lei no Espaço
Vamos tratar agora de um tema que é de Direito Internacional Privado, mas que, por estar
na LINDB, costuma ser muito cobrado em concurso.
Enquanto o Direito Internacional Público versa sobre questões jurídicas envolvendo rela-
ções entre os Estados soberanos e os organismos internacionais, o Direito Internacional Pri-
vado trata de temas relacionados a situações dos indivíduos e de atuações no plano interna-
cional, abrangendo questões como nacionalidade, condição jurídica do estrangeiro, conflito de
leis e conflito de jurisdição.
Na LINDB, há regras específicas sobre a aplicação da lei no espaço, ou seja, sobre regras
tratando de conflitos da lei brasileira com a estrangeira para reger situações jurídicas. O nosso
foco será esse.
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Ao tratar de lei no espaço, há alguns conceitos básicos, que serão tratados a seguir.
O primeiro conceito é o de “doutrina da territorialidade moderada”. O Brasil adotou essa
doutrina, de acordo com a qual, em regra, qualquer fato ocorrido em território brasileiro deve
submeter-se à legislação brasileira. Diz-se moderada essa doutrina, porque se admitem exce-
ções, a exemplo de questões de direito de família, que são regidas pela lei do país de domicílio
da pessoa (ainda que esta esteja em território brasileiro), conforme art. 7º da LINDB.
O segundo conceito é o de estatuto pessoal. No vernáculo, “estatuto” significa um conjun-
to de normas. Ex.: estatuto do desarmamento (conjunto de normas sobre uso de armas). Por
isso, no Direito Internacional Privado, estatuto pessoal significa a aplicação da lei do país de
origem da pessoa, ou seja, o conjunto de regras do país de origem da pessoa. Ao tratar de apli-
cação da lei do país de origem, pode-se reportar a duas situações: a da lei do país de domicílio
de uma pessoa (lex domicilii) ou ao país da nacionalidade (lex patriae). Na LINDB, não se adota
a lex patriae, salvo de forma mesclada com outras regras, como no caso do § 1º do art. 10 da
LINDB. Adota-se, apenas, a lex domicilii, como nas questões relacionadas a direito de família,
conforme o art. 7º da LINDB. Pode-se, pois, dizer que, em questões de direito de família, apli-
ca-se o estatuto pessoal.
O terceiro conceito é o elemento de conexão. Elementos de conexão são regras que de-
finem se aplica a lei brasileira ou a estrangeira. São, pois, regras que conectam (daí o nome
elementos de conexão) o ordenamento brasileiro com os estrangeiros diante de situações
jurídicas ocorridas no território dos diversos países. No Brasil, os principais elementos de co-
nexão estão nos arts. 7º ao 13 da LINDB.
Por fim, é bom saber que, nos consulados brasileiros, os brasileiros que estão no exterior
podem servir-se de atos típicos do Registro Civil das Pessoas Naturais (como os registros
de nascimento, óbito, casamento etc.) e de Tabelionato (como o de lavratura de escrituras
públicas).
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O país que uma pessoa escolhe para viver (domicílio) é que deve orquestrar a sua vida civil
nos aspectos mais inerentes à pessoa. Por essa razão, o art. 7º da LINDB estabelece que se
aplica a lei do domicílio da pessoa (lex domicilii) para disciplinar questões relativas à persona-
lidade, capacidade, nome e direito de família. Assim, uma brasileira que decida domiciliar-se
na Arábia Saudita não poderá invocar a lei brasileira para se considerar capaz civilmente, pois,
nesse caso, aplicar-se-á a lei arábe, para a qual – por suposição – a mulher casada é incapaz
e, por isso, precisa estar representada ou assistida para praticar atos jurídicos (como celebrar
um contrato).
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A lei do lugar da celebração do casamento rege as regras relativas aos impedimentos ma-
trimoniais e à formalidade do casamento (lex loci celebrationis). Todavia, a invalidade do ma-
trimônio será regida pela lei do domicílio dos nubentes ou, caso estes tenham domicílios em
países diversos, a lei do primeiro domicílio do casal (lex domicilli). Assim, se uma mulher domi-
ciliada no Brasil casasse com um homem domiciliado na Arábia Saudita, ela não poderia pedir
a nulidade do casamento com base na lei brasileira (ex.: pedir nulidade por conta do desconhe-
cido passado criminoso do marido, conforme art. 1.557, II, CC), caso o primeiro domicílio do
casal fosse na Arábia Saudita. Se dois turcos, domiciliados na Turquia, casarem-se no Brasil, a
lei brasileira regerá apenas as formalidades do casamento (habilitação, cerimônia perante juiz
de paz etc.) e os impedimentos matrimoniais (é impedido casamento entre irmãos, por exem-
plo), mas a invalidade do casamento será regida pela lei turca, pois é a lei do domicílio comum
dos nubentes.
Como extensão da lex loci domicilii, o país escolhido como domicílio deve reger não ape-
nas a vida, mas também a morte da pessoa. Por essa razão, o art. 10 da LINDB estatui que se
aplica a lei do domicílio do de cujus ou do ausente para disciplinar a sua sucessão causa mortis
(ou seja, a repartição da sua herança). Trata-se da lex sucessionis.
O § 1º do art. 10 da LINDB, que é reproduzido no art. 5º, XXXI, da CF, fixa uma exceção que
dá prestígio a quem tenha nacionalidade brasileira: aplica-se a lei mais favorável ao cônjuge (o
que deve abranger o companheiro por interpretação extensiva compatível com a igualdade dos
modelos de família à luz do art. 226 da CF) ou aos filhos brasileiros para a sucessão hereditária
relativa aos bens situados no Brasil. Em outras palavras, falecendo uma pessoa que era do-
miciliada na Arábia Saudita e deixando um filho árabe e uma filha brasileira, os bens situados
no Brasil deverão ser rateados entre os filhos herdeiros de acordo com a lei mais favorável à
filha: supondo que a lei árabe (que é a lei do domicílio do de cujus5) estabeleça que apenas o
5
Há uma controvérsia doutrinária acerca de definir o que é a “lei pessoal do de cujus no texto do § 1º do art. 10 da LINDB (A
sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus”) e no XXXI do art.
5º da CF. Consideramos que, como o caput do art. 10 da LINDB adota a lei do domicílio do de cujus (que é uma lei pessoal,
ou seja, é um estatuto pessoal) como a regra da sucessão causa mortis, o seu § 1º deve ser interpretado em compatibili-
dade com ele, de maneira que a expressão “lei pessoal do de cujus se refere à lei do domicílio. Há, contudo, quem, na dou-
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filho primogênito herda tudo, excluindo as filhas, a sucessão do falecido aí quanto aos bens
que estão no Brasil deve ser feita de acordo com a lei brasileira, que, por assegurar igualdade
entre os filhos, é mais benéfica à filha brasileira. Nesse exemplo, porém, os bens situados fora
do Brasil serão rateados de acordo com a lei do domicílio do de cujus, ou seja, a lei árabe, o que
será pior para a filha brasileira.
Essa aplicação da lei mais favorável ao nacional diante do conflito de uma lei brasileira
com a estrangeira é designada de princípio do prélèvement ou de princípio do favor negotti. Há,
porém, quem distinga essas expressões, estabelecendo que o favor negotti se reserva a situ-
ações envolvendo o Direito Comercial, ao passo que o prélévement é mais amplo, alcançando
também o Direito Civil.
Um outro exemplo de prélévement é dado pelo art. 42, parágrafo único, do Decreto n.
2.044/1908, que estabelece que, caso o estrangeiro seja incapaz segundo a lei de seu domicí-
lio, será aplicada para ele a lei brasileira se esta for mais benéfica e lhe reconhecer capacidade
com o objetivo de mantê-lo obrigado pelas declarações que fizer. Eis o texto do referido dispo-
sitivo: “Tendo a capacidade pela lei brasileira, o estrangeiro fica obrigado pela declaração, que
firmar, sem embargo da sua incapacidade, pela lei do Estado a que pertencer”.
trina, entenda que a “lei pessoal do de cujus aí pode ser tanto a lei do domicílio do de cujus quanto a lei da sua nacionalidade,
de maneira que o juiz deverá, no caso concreto, verificar qual é a lei mais favorável ao cônjuge ou filho brasileiros entre as
três possíveis: a lei brasileira e as duas leis que podem ser tidas por pessoais do de cujus (lei do seu domicílio e lei da sua
nacionalidade). Nesse sentido ampliativo, é o pensamento de Valério de Oliveira Mazzuoli (2016).
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reger o seu caso, visto que essa obrigação administrativa nasceu nos EUA, cujas leis discipli-
narão o caso.
Essa regra sofre parcial restrição quando se tratar de obrigação que, embora tenha nascido
em outro país, exige uma forma especial e destina-se a ser executada (cumprida) no Brasil. A
forma especial significa que o modo de exteriorização dessa obrigação não é livre, mas deve
se materializar de determinado modo (escrito, escritura pública etc.). Nesses casos, como a
obrigação há de ser adimplida no Brasil, é preciso que ela seja exteriorizada no Brasil de acor-
do com a forma exigida pela lei brasileira. Por isso, o art. 9º, § 1º, da LINDB estabelece que aí
a forma da obrigação deve observar a lei brasileira. Esse dispositivo, porém, admite as pecu-
liaridades da lei estrangeira quanto aos pressupostos extrínsecos do ato, reconhecendo que
a lei estrangeira pode conter peculiaridades que impediriam a formalização da obrigação em
consonância com a lei brasileira e que, portanto, frustrariam a prática de um ato no estrangeiro
(como a celebração de um contrato). O art. 9º, § 1º, da LINDB prevê o elemento de conexão
batizado como lex loci executionis (lei do lugar da execução do ato), que se aplica apenas para
a forma da obrigação, admitidas peculiaridades da lei estrangeira quanto aos pressupostos
extrínsecos.
Alerte-se que, quanto aos aspectos do negócio não relativos à forma – como a nulidade de
cláusulas contratuais –, continua em pleno vigor a regra geral da lex loci actus. Por exemplo,
um contrato, celebrado em outro País, de compra e venda de um apartamento em Copacabana
com valor superior a 30 salários-mínimos depende, no Brasil, da observância a dois requisitos
formais: (a) extrínsecos: deve ser por escritura pública, por força do art. 108 do CC; (b) intrín-
secos: o contrato de compra e venda depende da indicação, por escrito, do objeto, do preço, da
identificação das partes etc., conforme Lei n. 7.433/85, Decreto n. 93.240/86, art. 167 e ss da
Lei n. 6.015/73, art. 4º, parágrafo único, da Lei n. 4.591/64 e art. 481 e seguintes do CC. Esse
contrato deve ser executado no Brasil: a transferência do apartamento só se aperfeiçoará com
o registro no competente Cartório de Imóveis situado no Rio de Janeiro. Por isso, esse contrato
deve observar os requisitos formais da lei brasileira, admitido, porém, que o requisito extrín-
seco siga a lei estrangeira se esta for diferente da brasileira (ex.: se a lei estrangeira admite
venda de imóveis sem escritura pública, o negócio poderá ocorrer por meio de um instrumento
particular, ou seja, por um documento produzido pelas partes sem a intervenção de um oficial
público, como um contrato digitado no computador pessoal das partes e por elas assinado).
Amigos e amigas, talvez você tenha achado isso um pouco complicado. Vamos esclarecer
com as seguintes questões:
• Se você viajar para Dubai e fechar uma excussão lá, indago: você pode invocar o Código
de Defesa do Consumidor brasileiro? Não, por conta da lex loci actus;
• Se você, nessa viagem a Dubai, encontrar o milionário Sheikh Zayed e decidir vender o
seu apartamento no Rio de Janeiro para ele celebrando o contrato lá em Dubai mesmo,
indago: (a) você pode fazer o contrato por instrumento particular (um papel qualquer
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manuscrito ou impresso de sua impressora) ou por escritura pública? (b) nesse contrato,
o que você precisa escrever? Resposta à questão “a”: você precisa fazer por escritura
pública, porque a lei brasileira a exige para venda de imóveis de valor superior a 30 sa-
lários-mínimos, conforme art. 108 do CC; todavia, se em Dubai não houver tabelião e
se lá as vendas de imóveis forem feitas por instrumento particular, você poderá fazer o
contrato em instrumento particular. Resposta à questão “b”: o conteúdo do contrato, ou
seja, as informações que têm de estar no contrato deverá observar a lei brasileira por
força da lex loci executionis.
No caso de compras a distância (ex.: uma compra na internet), aplica-se a regra da lei do
país do proponente, pois aí se presume que o interessado “viajou” nas ondas virtuais da Inter-
net até o domicílio de quem fez a proposta. Assim, se acesso o site da Iceland Air para cobrar
uma passagem aérea para a Islândia, o meu contrato será presumidamente celebrado na Islân-
dia, local de domicílio do proponente (a Iceland Air). Trata-se do art. 9º, § 2º, da LINDB.
O STJ, porém, faz uma ressalva. No caso de compra de produtos no exterior, é aplicável o
Código de Defesa do Consumidor – CDC (lei brasileira, portanto) para o caso de o vendedor ser
uma multinacional de renome que tenha filial no Brasil e que tenha marketing direcionado ao
Brasil. O motivo é que, com o marketing no Brasil, capaz de seduzir os consumidores brasilei-
ros, a multinacional começou a praticar os atos iniciais do contrato que viria a ser, no exterior,
concretizado, de modo que o contrato pode ser tido por celebrado no Brasil também. Foi o que
o STJ decidiu no caso que chamamos de “caso Panasonic”: um brasileiro que havia comprado
uma câmara em uma loja da Panasonic Incorporation em Nova Iorque (EUA) e que identificou
um defeito de fabricação no Brasil conseguiu a aplicação do CDC no caso concreto e, com
base nesse diploma brasileiro, conseguiu a condenação da filial da Panasonic no Brasil para
responder por esse vício do produto (STJ, REsp 63.981/SP, 4ª T. Rel. p/ Acórdão Min. Sálvio de
Figueiredo Teixeira, DJ 20/11/2000).
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Caso Meliá
O retrocitado Caso Panasonic não pode ser banalizado. Veja este caso, que chamamos de
Caso Meliá.
Consumidor, em viagem ao México, celebrou contrato de plano de férias sob a modalidade
de Time Sharing com a empresa mexicana Meliá Mexico (Sol Meliá VC, México S.A.) e, depois,
ajuizou ação para rescindir o contrato contra a empresa brasileira Meliá Brasil (Meliá Brasil
Administração Hoteleira e Comercial Ltda.). O STJ entendeu que a Meliá Brasil não é parte
legítima para o processo, pois, apesar de a empresa brasileira integrar o grupo multinacional
Meliá, não havia nenhuma prova de correlação entre essa empresa e a mexicana para efeito da
celebração desse contrato. Seria inaplicável a teoria da aparência aí, pois o consumidor sabia
que estava a celebrar o contrato com uma empresa mexicana de acordo com a lei mexicana.
Havia clareza para o consumidor de que seu contrato era com a empresa mexicana. Além do
mais, apesar de nada ter sido dito pelos ministros nesse julgamento, o fato é que não havia um
marketing direcionado ao Brasil para a venda de planos de férias em regime de Times Sharing
(STJ, REsp 1616587/SP, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão Ministro Ricar-
do Villas Bôas Cueva, DJe 26/10/2018).
Situação diversa é aquela em que, no Brasil, o consumidor celebra contrato com empre-
sa brasileira que se vale do nome empresarial de uma multinacional estrangeira para vender
produtos. Nesse caso, a empresa brasileira é considerada fornecedora aparente e, por isso,
responde solidariamente por qualquer dano causado ao consumidor. Nesse sentido, o STJ já
aceitou que a Sony do Brasil S/A fosse punida com multa administrativa do Procon por não
prestar assistência técnica para os produtos da marca Sony que são vendidos, de maneira que
é irrelevante aí que esses produtos sejam fabricados pela empresa norte-americana Sony Ame-
rica Inc (STJ, REsp 1709539/MG, 2ª Turma, Rel. Ministro Herman Benjamin, DJe 05/12/2018).
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Aplica-se a lei do lugar da coisa quando se tratar de relações jurídicas concernentes à coi-
sa (como os direitos reais) e de sua qualificação (ex.: definir a coisa como móvel ou imóvel).
Trata-se da regra do lex rei sitae, que é a lei do lugar onde a coisa está situada (art. 8º, LINDB).
Se um brasileiro adquire um imóvel nos EUA, as regras de direito de propriedade serão regidas
pela lei norte-americana, e não pela brasileira.
O STJ – ao nosso sentir, de modo atécnico – entendeu que a lex rei sitae deve ser aplicada
também para reger a sucessão causa mortis relativa a bens imóveis quando houver testa-
mento. O motivo disso seria o fato de que, havendo imóveis em vários Países, a regra da lex
sucessionis (art. 10 da LINDB) deve ser afastada quanto aos imóveis em proveito da lex rei
sitae (ar.t 9º, da LINDB) em homenagem ao princípio da pluralidade de juízos sucessórios,
segundo o qual deverá haver um juízo de inventário para cada País onde houver imóveis em
razão da competência jurisdicional exclusiva do juízo do local do imóvel, conforme arts. 12,
§ 1º, da LINDB e 23, I, do CPC (STJ, REsp 1362400/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe
05/06/2015). Entendemos que a competência jurisdicional exclusiva do juízo do local é regra
meramente processual e, portanto, é irrelevante para a definição da regra de direito material
que será aplicada ao caso concreto, razão por que, independentemente da situação dos bens
móveis e imóveis deixados pelo de cujus e do lugar onde haverá de processar os inventários, a
lei regente da sucessão hereditária deve ser a do domicílio do falecido (art. 10, LINDB).
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Quanto à norma que rege os bens móveis que o proprietário trouxer consigo ou se destina-
rem a transporte para outros lugares, prevalece a lei do lugar do domicílio do proprietário (art.
8º, § 1º, LINDB). Esse elemento de conexão, que é batizado de mobília sequuntur personam,
somente é aplicado aos bens móveis em deslocamento (ou seja, às coisas in transitu), em es-
tado de mobilidade, pois os bens móveis que não estiverem em mobilidade serão regidos pela
lei do lugar onde estiverem (lex rei sitae). Assim, o direito real de propriedade que um brasileiro
tem sobre um computador é regido pelo lugar onde o bem estiver. Se esse computador estiver
nos EUA (numa casa que o brasileiro tem, por exemplo), vige a lei norte-americana, ainda que
o brasileiro seja domiciliado no Brasil, pois não se trata de uma coisa in transitu. Todavia, se
esse brasileiro viaja para Cuba de férias portando o seu computador, o seu direito real de pro-
priedade sobre o computador observará a lei do domicílio brasileiro, e não a lei cubana, pois
se trata de coisa in transitu.
Há bens móveis com elementos de conexão próprios, a exemplo das aeronaves, que se-
guem as regras de sua matrícula na forma do Código Brasileiro de Aeronáutica e da Convenção
Internacional de Cabo Verde (Decreto n. 6.395/2008), e das embarcações, que seguem a Lei n.
7.652/1988.
Regras relativas a provas e ao ônus de prova são de direito material, e não de direito proces-
sual, pois se vinculam à própria essência do direito. De nada adianta assegurar, por exemplo,
um direito de crédito se não houver como comprovar esse direito. Prova e direito se imiscuem
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visceralmente. A lei que disciplina o fato deve também reger a lei das provas. Por essa razão,
segundo o art. 13 da LINDB, aplica-se a lei do lugar do nascimento do fato (lex loci) para disci-
plinar questões relativas aos meios de prova (tipos de provas admissíveis) e ao ônus probató-
rio (quem deve provar o fato).
A doutrina dá interpretação restritiva desse dispositivo para fixar que o modo como a pro-
va deve ser produzida em juízo (ex.: o momento processual, o prazo para apresentar a prova
em juízo etc.) não deve ser abrangido pela regra do art. 13 da LINDB por se cuidar de questão
meramente processual, para a qual se aplica o elemento de conexão conhecido como lex fori:
aplica-se a lei do lugar do juízo (do foro) para as regras processuais, pois obviamente um juízo
italiano não conduzirá o processo sob as regras procedimentais do CPC brasileiro.
O art. 13 da LINDB condena, porém, o emprego de provas desconhecidas pelos tribunais
brasileiros. Se, por exemplo, um determinado País admite um “ordálio” como meio de prova
(ordálios eram meios mágicos para comprovar fatos, como, por exemplo, verificar a inocência
de um indivíduo caso este sobreviva após ser arremessado em um rio com uma rocha amar-
rada aos seus pés), esse tipo de prova fantasiosa não é admitida no Brasil e, portanto, ela não
poderá ser utilizada. Isso excepciona, portanto, a lex loci prevista no art. 13 da LINDB.
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Conforme art. 17 da LINDB, em regra, leis, atos e sentenças estrangeiros têm plena eficácia
no Brasil. Quem, por exemplo, casou em Las Vegas é considerado casado no Brasil, pois o ato
estrangeiro (casamento) tem eficácia no Brasil. A única exceção corre à conta de casos em
que há violação à ordem pública, aos bons costumes e à soberania nacional. Se, por exemplo,
um contrato estipula uma pena de morte para o devedor em um País estrangeiro que admita
esse meio coercitivo, esse contrato não terá eficácia no Brasil por violar a ordem pública.
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Direito Administrativo, embora entendamos que, por analogia, ela pode ser utilizada para os
demais ramos do Direito.
A propósito da nova lei e da síntese de seu conteúdo, transcrevemos aqui lições do profes-
sor Flávio Tartuce:
“Na verdade, as novas previsões não dizem respeito diretamente ao Direito Privado, mas ao Direito
Público, fugindo ao objeto principal da presente obra. A Lei da Introdução às Normas do Direito Bra-
sileiro, assim, distancia-se mais ainda do Direito Civil, o que agora justifica plenamente a sal mudan-
ça de nome, como antes aqui foi destacado [antigamente, o nome era “Lei de Introdução ao Código
Civil”]. Quanto às provas, acreditamos que esse conteúdo deva ser cobrado na disciplina de Direito
Administrativo, e não no âmbito do Direito Civil.
Como bem pondera Carlos Eduardo Elias de Oliveira, professor de Direito Civil e assessor jurídico
do Senado Federal, que tem participado ativamente da elaboração de várias normas recentes, o
diploma que surge poderia ser batizado de Lei da Segurança Hermenêutica na Administração Públi-
ca, pois ‘seu objetivo foi, em síntese, implantar um ambiente de menor instabilidade interpretativa
para os agentes públicos e para os atos administrativos, os quais sambam nas asas vacilantes das
surpresas provocadas pela superveniência de interpretações jurídicas advindas especialmente de
órgãos de controle’ (OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. A segurança hermenêutica... Disponível em:
<www.flaviotartuce.adv.br>.
O autor divide a norma em três grupos temáticos, o que serve muito bem para resumir o seu conte-
údo. O primeiro diz respeito à clareza normativa (arts. 29 e 30). O segundo à responsabilização do
agente por infração hermenêutica (arts. 22 e 28). O terceiro grupo está relacionado à invalidade de
atos administrativos, o que ele fraciona em quatro subgrupos: a) princípio da motivação concreta
(arts. 20 e 21, caput); b) regime de transição (art. 23), princípio da menor onerosidade da regulariza-
ção (art. 21, parágrafo único) e irregularidade sem pronúncia de nulidade (art. 21, parágrafo único, e
22, caput e § 1º); c) convalidação por compromisso com ou sem compensações (arts. 26 e 27); e d)
invalidade referencial (art. 24 da LINDB).”
(TARTUCE, Flávio. Direito Civil: lei de introdução e parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 60).
Para provas de concurso, a tendência é a cobrança do texto literal. O resumo acima é sufi-
ciente para esta exposição teórica. Para aprofundamentos, reportamos a texto nosso intitula-
do “A segurança hermenêutica nos vários ramos do direito e nos cartórios extrajudiciais: reper-
cussões da LINDB após a lei n. 13.655/2018” (http://www.flaviotartuce.adv.br/assets/uploads/
artigosc/dee82-carlos-elias-mudancas-lindb.docx).
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final desta aula. E não deixem de nos falar acerca das suas impressões sobre essa nossa aula.
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DIREITO CIVIL
LINDB – Parte II
Carlos Elias
QUESTÕES DE CONCURSO
002. (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2009 Suponha que, no dia 20 de janeiro, tenha sido
publicada lei estabelecendo, no art. 2º, que os proprietários de veículos populares pagariam, na
ocasião do abastecimento, 20% a menos do preço fixado na bomba de combustível. Suponha,
ainda, que, no art. 5º, a referida lei tenha definido veículo popular como aquele com motoriza-
ção até 1.6. Considerando essa situação hipotética, julgue o item a seguir.
Caso o juiz constate erro na definição de veículo popular pela referida lei, ele poderá, em pro-
cesso sob seu exame, corrigi-lo sob a fundamentação de que toda lei necessita ser interpreta-
da teleologicamente e de que, na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se
dirige e às exigências do bem comum.
Interpretar é extrair um sentido possível da lei, e não um sentido impossível nem para corrigir
uma lei. Logo, não é possível usar interpretação teológica para “corrigir” uma lei. Juiz não pode
corrigir lei; ele tem de aplicá-la ou, se for o caso, declará-la inconstitucional. Por isso, está er-
rada a questão.
Errado.
O gabarito final é correto pelo fato de a questão reproduzir os arts. 4º e 5º da LINDB. Seria,
porém, viável questionar esse gabarito pelo fato de que o enunciado está tratando de “omissão
legal” (lacuna legal), ou seja, de falta de lei, e não de “aplicação da lei”. O art. 5º da LINDB, que
está parcialmente reproduzido ao final da questão, trata de “aplicação da lei”, e não de “inte-
gração normativa”. Em suma, poder-se-ia impugnar a questão acusando-a de misturar o art. 4º
da LINDB (que trata de meios de integração, ou seja, de meios para suprir lacuna legal) com o
art. 5º (que lida com aplicação da lei). Seja como for, o gabarito oficial foi o de que tudo estava
correto com base no entendimento (razoável!) de que sempre o juiz deve buscar os fins sociais
e às exigências do bem comum. Veja esses preceitos:
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.
Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem
comum.
Certo.
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LINDB – Parte II
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Ponderação não é meio de integração, ao contrário do exposto na questão (art. 4º, LINDB).
Errado.
É vedado o non liquet no Direito Brasileiro: o juiz sempre tem de dar uma solução aos proble-
mas, mesmo quando faltar lei ou quando esta for obscura. No caso de lacunas legais, o juiz
deve valer-se de meios de integração (art. 4º, LINDB).
Errado.
DICA!
LACUNA NORMATIVA = ausência total de norma prevista para
um determinado caso concreto. É para esses casos que há os
meios de integração para suprir a lacuna, como a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito (art. 4º, LINDB).
LACUNA ONTOLÓGICA = presença de norma para o caso con-
creto, mas que não tenha eficácia social (= sem condições fáti-
cas de ser aplicada na prática, como no caso de uma lei a que
ninguém obedece ou de uma lei que estabelece obrigações
impossíveis materialmente).
LACUNA AXIOLÓGICA = presença de norma para o caso con-
creto, mas cuja aplicação seja insatisfatória ou injusta. É quan-
do há uma “norma injusta”.
Errado.
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Lei estrangeira não pode ofender a ordem público, os bons costumes nem a soberania nacio-
nal, ao contrário do exposto na questão. É o art. 17 da LINDB:
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade,
não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons
costumes.
Errado.
Art. 7º A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
Errado.
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É a lei do domicílio do sucessor, conforme art. 10, § 2º, da LINDB, que assim dispõe:
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto
ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
§ 2º A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.
Errado.
Se a lei pessoal do falecido for mais benéfica, ela deve ser aplicada nesse caso. Trata-se do art.
10, § 1º, da LINDB e do art. 5º, XXXI, da CF:
Art. 10, § 1º, LINDB: A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que
não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
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Art. 5º, XXXI, da CF: A sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei bra-
sileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a
lei pessoal do ‘de cujus’.
Errado.
Ao contrário do afirmado na questão, aplica-se a lei do lugar do bem (lex rei sitae), conforme
art. 8º, caput, da LINDB. A única exceção seria na hipótese de coisas in transitu (coisas móveis
carregadas pelo titular de forma passageira ou destinadas a transporte), para as quais se apli-
caria a lei do domicílio do proprietário (art. 8º, § 1º, LINDB). A questão não trata das coisas in
transitu; logo, o gabarito é errado. Veja o art. 8º, caput e § 1º, da LINDB:
Art. 8º Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país
em que estiverem situados.
§ 1 Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele
trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.
Errado.
Aplica-se a lei do lugar do bem (lex rei sitae), conforme art. 8º, caput, da LINDB.
Errado.
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A regra é a aplicação da lei do lugar da obrigação (lex loci actum), ao contrário do exposto na
questão (art. 9º, caput, da LINDB). Essa regra é parcialmente flexibilizada quando se tratar de
uma obrigação contraída no exterior e destinada a ser cumprida no Brasil. Nesse caso, apenas
no tocante à forma da obrigação, aplicar-se-á a lei do lugar da execução (lex loci actum), admi-
tida peculiaridades da lei estrangeira quanto aos pressupostos extrínsecos do ato (art. 9º, § 1º,
LINDB). Por isso, está errada a questão. Veja o art. 9º, caput e § 1º, da LINDB:
Art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.
§ 1º Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será
esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do
ato.
§ 2º A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente.
Errado.
Regras de responsabilidade civil são dadas pela lei do lugar da obrigação (lex loci actum), pois
responsabilidade civil é uma decorrência da obrigação. Trata-se da correta interpretação do
art. 8º da LINDB. Logo, está errada a questão.
Errado.
A parte final da questão está errada: os tribunais brasileiros não admitem provas desconheci-
das pela lei brasileira (art. 13, LINDB). Por exemplo, não faz sentido que os tribunais brasileiros
admitam a tortura como meio de prova, ainda que esse meio de prova seja admitido no país
estrangeiro em que ocorreu o fato. Trata-se de prova desconhecida pela legislação brasileira.
Veja o referido dispositivo da LINDB:
Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao
ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira
desconheça.
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Lembramos que, para prova de fatos (direito material: meios de prova e ônus de produzir a pro-
va), aplica-se a lei do lugar do fato (lex loci), conforme art. 13 da LINDB. Todavia, para o modo
de produzir a prova em juízo (direito processual: o procedimento processual a ser adotado,
como os prazos), aplica-se a lei do lugar do foro (lex fori), pois o juiz brasileiro evidentemente
tem de seguir as regras procedimentos da lei brasileira. Não faz sentido um juiz seguir regras
procedimentais de um Código de Processo Civil estrangeiro!
Errado.
Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as funda-
ções, obedecem à lei do Estado em que se constituírem.
§ 1º Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem os
atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira.
Certo.
Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as funda-
ções, obedecem à lei do Estado em que se constituírem.
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§ 2 Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles tenham
º
constituído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens
imóveis ou suscetíveis de desapropriação.
§ 3º Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos
representantes diplomáticos ou dos agentes consulares.
Errado.
A homologação é pelo Superior Tribunal de Justiça – STJ: art. 15 da LINDB foi derrogado pelo
art. 105, I, “i”, da CF. O procedimento de homologação de sentença estrangeira segue o art. 963
do CPC e os arts. 216-A e ss do RISTJ (Regimento Interno do STJ).
Errado.
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Atos estrangeiros, como os contratos, não podem ter eficácia no Brasil apenas se violarem a
ordem pública, os bons costumes e a soberania nacional (art. 17, LINDB). STJ entendeu que
dívidas de jogos licitamente contraídas no exterior não viola os bons costumes brasileiros e,
por isso, podem ser cobradas no Brasil. Condenou, assim, um turista brasileiro a pagar mais
de dois milhões de reais ao famoso hotel Wynn Las Vegas LLC, que ajuizou ação monitória
aqui no Brasil para cobrar dívida de jogo. O que viola os bons costumes é os brasileiros irem
a Las Vegas ou outras cidades estrangeiras onde o jogo é lícito e dar um “calote” (STJ, REsp
1628974/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 25/08/2017). Por isso, o
gabarito é letra “C”.
Letra c.
Trata-se de competência absoluta e exclusiva, e não relativa nem concorrente (art. 12, § 1º,
LINDB e art. 23, § 1º, CPC).
Errado.
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LINDB – Parte II
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Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possí-
veis alternativas.
Sobre os arts. 20 a 30 da LINDB, reportamo-nos a texto nosso, que detalha o assunto: “A se-
gurança hermenêutica nos vários ramos do direito e nos cartórios extrajudiciais: repercussões
da LINDB após a lei n. 13.655/2018” (http://www.flaviotartuce.adv.br/assets/uploads/artigosc/
dee82-carlos-elias-mudancas-lindb.docx).
Certo.
O objetivo foi, sobretudo, dar maior segurança ao gestor, que, antes da nova lei (Lei n.
13.655/2018, que acresceu os arts. 20 a 30 à LINDB), era sujeito a constrangimentos causados
pelos órgãos de controle. A propósito, ensina o professor Flávio Tartuce:
Como bem pondera Carlos Eduardo Elias de Oliveira, professor de Direito Civil e assessor jurídico
do Senado Federal, que tem participado ativamente da elaboração de várias normas recentes, o
diploma que surge poderia ser batizado de Lei da Segurança Hermenêutica na Administração Públi-
ca, pois ‘seu objetivo foi, em síntese, implantar um ambiente de menor instabilidade interpretativa
para os agentes públicos e para os atos administrativos, os quais sambam nas asas vacilantes das
surpresas provocadas pela superveniência de interpretações jurídicas advindas especialmente de
órgãos de controle. (TARTUCE, Flávio. Direito Civil: lei de introdução e parte geral. Rio de Janeiro:
Forense, 2020, p. 60).
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LINDB – Parte II
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Vale também para esfera judicial. Veja, por exemplo, os arts. 20, 21, 23 e 24 da LINDB:
Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possí-
veis alternativas.
Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação
de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar
as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos
interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.
Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orienta-
ção nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento
de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou con-
dicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo
aos interesses gerais.
Parágrafo único. (VETADO).
Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará
em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de
orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.
Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em
atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as
adotadas por prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.
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É necessário levar em conta as dificuldades reais enfrentadas pelo gestor. Trata-se do que
designamos de “parâmetro da contextualização”, que exige do órgão de controle um grau de
empatia em relação ao gestor (“colocar-se no lugar à época do fato”), tudo nos termos do art.
22 da LINDB:
Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou nor-
ma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado
ou condicionado a ação do agente.
§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida,
os danos que dela provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenu-
antes e os antecedentes do agente.
§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de
mesma natureza e relativas ao mesmo fato.
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a) Errada. É o contrário (art. 22, § 3º, LINDB), pois se objetiva evitar “bis in idem”.
b) Errada. Texto legal não fala de circunstâncias pessoais, e sim de circunstâncias agravantes
e atenuantes, além de falar também em antecedentes do agente (art. 22, § 2º, LINDB).
c) Certa. É o art. 22, § 2º, LINDB.
d) Errada. Só sanções da mesma natureza e relativas ao mesmo fato, e não qualquer sanção
administrativa (art. 22, § 3º, LINDB).
Letra c.
Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em
caso de dolo ou erro grosseiro.
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Há caráter vinculante ao órgão ou ente destinatário até revisão, conforme art. 30, pu, da LINDB:
Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das
normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas.
Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em rela-
ção ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.
Errado.
É o art. 29 da LINDB:
Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa,
salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação
de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão.
§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais condições da con-
sulta pública, observadas as normas legais e regulamentares específicas, se houver.
§ 2º (VETADO).
Certo.
Está equivocado por dois motivos: (1) a preferência é pelo meio eletrônico, e não presencial; e
(2) a consulta pública “poderá”, e não “deverá”, ser precedida de consulta pública. Trata-se do
art. 29 da LINDB.
Errado.
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GABARITO
2. E 14. E 26. C
3. C 15. C 27. E
4. E 16. E 28. E
5. E 17. E 29. d
6. E 18. E 30. E
7. E 19. E 31. E
8. C 20. C 32. c
9. E 21. E 33. E
10. E 22. E 34. E
11. E 23. c 35. C
12. E 24. C 36. E
13. E 25. E
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Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.
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