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BDI

1º DECÊNDIO ABRIL / 2009


ANO XXIX – Nº 10

Uma publicação
BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO
Fiança – Natureza jurídica
e seus efeitos
no direito atual.
Carlos Roberto Tavarnaro
(p. 3)

ITR – Atuações ilegais


realizadas pela
Receita Federal.
Roberto Padua Cosini
(p. 7)

Despesas condominiais – Loja térrea –


Critério de rateio expresso na convenção (p. 19)

Escritura de compra e venda – Falta de


indicação do CPF dos vendedores (p. 23)
ISSN 1982 - 4599

39 ANOS 9 771982 459001 DLI - DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO


Direção:
Dominique Pierre Faga ÍNDICE
Conselho Editorial:
Dominique Pierre Faga
Alberto Prates dos Santos COMENTÁRIOS E DOUTRINA
Heronides Dantas de Figueiredo
Julio Cesar Borges Fiança – Natureza jurídica e seus efeitos no direito atual (Carlos Roberto Tavarnaro) ............. 03
E-mail: redacao@diariodasleis.com.br
Jornalista Responsável: ITR – Atuações ilegais da Receita Federal (Roberto Padua Cosini) ........................................... 07
Julio Cesar Borges, MTB nº 42073
ISSN: 1982-4599
Colaboradores: LIÇÕES DE DIREITO IMOBILIÁRIO
Adriano Erbolato Melo
Américo Isidoro Angélico Mora do devedor e do credor – Cláusula penal (Prof. Jorge Tarcha) .......................................... 09
André Luiz Junqueira
Arthur Edmundo de Souza Rios
Bianca Castelar de Faria
Bruno Mattos e Silva JURISPRUDÊNCIA
Caio Mario Fiorini Barbosa
Carlos Alberto Dabus Maluf SFH – Inadimplência – Execução extrajudicial – Extinção do contrato (STJ) ............................ 12
Carlos Antônio de Araújo
Carlos Roberto Tavarnaro Execução fiscal – Agravo – IPTU – Alienação – Escritura ineficaz (TJSP) ................................. 15
Daniel Alcântara Nastri Cerveira
Desapropriação – Indenização correspondente ao fundo de comércio e de despesas (TJSP) 16
Daphnis Citti de Lauro
Dilvanir José da Costa Locação em shopping center – Comodato de espaços – Notificação para desocupação (TJSP) .. 17
Felipe Leonardo Rodrigues
Fernanda Souza Rabello Despesas condominiais – Loja térrea – Critério de rateio estabelecido na convenção (STJ) ... 19
Geraldo Beire Simões
Hamilton Quirino Locação – Multa por infração contratual – Admissibilidade (TJSP) ............................................. 21
Iuli Ratzka Formiga
Jaques Bushatsky
Jorge Tarcha
José Hildor Leal JURISPRUDÊNCIA CARTORÁRIA
Kênio de Souza Pereira
Leonardo Henrique M. Moraes Oliveira Registro de imóveis – Escritura de compra e venda – Vendedores estrangeiros – Falta de
Luis Camargo Pinto de Carvalho
indicação do CPF (CSM/SP) ....................................................................................................... 23
Luiz Antonio Scavone Jr.
Marcelo Manhães de Almeida
Registro de imóveis – Recusa – Auto de adjudicação em processo de inventário (CSM/SP) ... 25
Márcio Flávio Lima
Marco Aurélio Bicalho de A. Chagas
Marco Aurélio Leite da Silva
Mário Cerveira Filho BOLETIM CARTORÁRIO
Maury Rouède Bernardes
Michel Rosenthal Wagner A importância dos princípios registrais no sistema jurídico brasileiro
Narciso Orlandi Neto
Ricardo Amin Abrahão Nacle (Henrique Ananias dos Santos Mangualde) ............................................................................... 27
Sandro Alexander Ferreira
Sylvio Campos Lindenberg Filho
Valestan Milhomem da Costa
Valmir Gonçalves da Silva PERGUNTAS & RESPOSTAS
Wilson Bueno Alves
Execução fiscal – Bem de terceiro oferecido à penhora .............................................................. 33
Gerência Comercial:
Telefone e fax: (11) 3673-3155 (PABX) Despesas condominiais – Cobranças sucessivas ........................................................................ 33
E-mail: comercial@diariodasleis.com.br
Foto de Capa: www.sxc.hu IPTU – Aumento decorrente da transformação de uso do imóvel ............................................... 34
Impressão e Acabamento:
Gráfica Josemar Locação – O contrato é título executivo extrajudicial ................................................................... 34
Editora: DIÁRIO DAS LEIS LTDA.
CNPJ(MF) 47.381.850/0001-40
Rua Bocaina, 54 - Perdizes
CEP: 05013-901 - São Paulo - SP NOTÍCIAS
Telefone e Fax: (11) 3673-3155 (PABX)
Site: www.diariodasleis.com.br Juros antes da entrega do imóvel (Renato Ayres Martins de Oliveira) ........................................ 35
E-mail: dl@diariodasleis.com.br
Obs.: Proibida a reprodução total ou par-
cial. Os artigos assinados não refletem ne- ÍNDICES DE CORREÇÃO MONETÁRIA ........................................................ 36
cessariamente
2
a opinião da direção do BDI.
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DOUTRINA
COMENTÁRIOS E DOUTRINA
FIANÇA – NATUREZA JURÍDICA E SEUS EFEITOS NO DIREITO ATUAL
Carlos Roberto Tavarnaro (*)
Esta coluna tem invariavelmente nasce diante de uma novidade, nem 3. de espaços destinados à pu-
se dedicado a matérias afeitas ao uni- sempre a correta interpretação do blicidade;
verso imobiliário e, dentre essas, a fi- espírito do legislador e o respeito pela 4. em “apart-hotéis”, hotéis-resi-
ança locatícia — seus desdobramen- hierarquia legal têm triunfado, não dência ou equiparados, assim consi-
tos, particularidades e implicações — sendo raro a fusão desordenada en- derados aqueles que prestam servi-
tem sido alvo de variados artigos, até tre um e outro disciplinamento culmi- ços regulares a seus usuários e como
porque constitui uma fonte inesgotá- nar por produzir entendimentos equi- tais sejam autorizados a funcionar;
vel de interesse, dada a diversidade e vocados.
amplitude do leque de interpretações b) o arrendamento mercantil, em
O presente artigo almeja trazer qualquer de suas modalidades.
que lhe dizem respeito. à tona a preocupação com o prog-
A propósito, das três garantias nóstico que emerge da análise do De conseguinte, irresistível é a
previstas na Lei do Inquilinato, a mais embate travado entre a Lei ilação de que as mencionadas situa-
usual é a fiança prestada sob a ori- Inquilinária e o Código Civil Brasilei- ções supra reproduzidas são portan-
entação do artigo 39, que prevê a sua ro, no respeitante à matéria “fiança” to as únicas exceções que fogem à
extensividade até a entrega das cha- e suas indeléveis consequências para regra do disciplinamento da Lei
ves do imóvel. a cadeia imobiliária como um todo; Inquilinária de que se cuida.
A complexidade do tema pode pretensão que, além de entrelaçar Dando prosseguimento a abor-
ser plenamente compreendida des- proprietários e locatários, visivelmen- dagem entabulada no artigo anterior,
de que façamos um breve histórico a te alcança a construção civil e o deficit enfocaremos nesta oportunidade,
respeito das profundas mudanças habitacional em nosso país. mais alguns aspectos relativos à na-
sócioeconômicas vivenciadas pós- Da Instituição da Fiança de Loca- tureza jurídica da fiança e seus efei-
Real (1994), conjugadas com o sig- ção, sua vigência e amplitude. tos no direito atual:
nificativo leque de diversos 1. Amparo legal: Do Gradativo Impasse Instalado
regramentos que de forma muito par- 2. O amálgama das exegeses
ticular robusteceram na última déca- Lei 8.245/91:
da o acervo legal pátrio – essencial- Art. 37. No contrato de locação, Assentado tal compreensão do
mente impulsionados pela Carta pode o locador exigir do locatário as assunto, não é intrincado demais
Magna de 1988 – e causaram sensí- seguintes modalidades de garantia. prosseguir com o raciocínio de que
veis alterações subjetivas e objetivas somente irão aplicar-se outros
... “omissis”... regramentos às locações de imóveis
nas relações advindas do segmento
imobiliário e na composição/concilia- II - fiança. urbanos, quando a lei inquilinária re-
ção de interesses divergentes para a Art. 39. Salvo disposição em velar-se insuficiente para dirimir as
busca de um fim comum, o qual em contrário, qualquer das garantias da dúvidas ou solucionar os conflitos,
ambiente de bens imóveis, invariavel- locação se estende até a devolução como aliás textualmente vem fixado
mente desemboca no atendimento da do imóvel. no artigo 79 da mesma:
função social da propriedade, seja ela A especificidade da lei, direcio- Lei 8.245/91
rural ou urbana, residencial ou não. nada às locações dos imóveis urba- No que for omissa esta lei apli-
Comentada revolução de idéias nos e os procedimentos a elas perti- cam-se as normas do Código Civil e
e situações, redimensionadora de nentes, deixam clara a supremacia do Código de Processo Civil.
conceitos e paradigmas, teve o seu de seu regulamento, estabelecendo Entretanto, a tranquilidade, o
marco inicial assinalado pela Lei logo em seu intróito (art. 1º) que: equilíbrio e a segurança dos contra-
8.078 de 11.9.90 (Código de Defesa Continuam regulados pelo Códi- tos de locação firmados (leia-se, fun-
do Consumidor), assistiu a entrada go Civil e pelas leis especiais: damentados pela orientação emana-
em vigor da festejada Lei 8.245 de da do texto inquilinário e sob tal égide
18.10.91 (a chamada nova Lei do a) as locações: legitimados) têm sido ameaçadas
Inquilinato) e presentemente encon- 1. de imóveis de propriedade da pelo recente entendimento de que a
tra-se sob o impacto da promulgação União, dos Estados e dos municípios, interpretação do que dispõe o Códi-
do Estatuto da Cidade e do Código de suas autarquias e fundações pú- go Civil Brasileiro no tocante à fian-
Civil Brasileiro. blicas; ça, lograria trazer embaraços ao fiel
No entanto, em que pesem as 2. de vagas autônomas de ga- cumprimento desta categoria de ga-
boas intenções invariavelmente en- ragem ou de espaços para estacio- rantia locatícia:
volvidas e o aceitável titubeio que namento de veículos; Código Civil

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COMENTÁRIOS E DOUTRINA
Art. 819 (art. 1.483, CC/16). A fi- Art. 56. Nos demais casos de papel de responsável pela estabilida-
ança dar-se-á por escrito e não ad- locação não residencial, o contrato de da relação, a qual embora
mite interpretação extensiva. por prazo determinado cessa, de ple- protraída no tempo, deve imperativa-
A ótica a ser dispensada no tra- no direito, findo o prazo estipulado, mente conservar os direitos e obri-
tamento do tema, passa a cometer independentemente de notificação ou gações sobre os quais sustentou seu
equívocos e a embaralhar seu campo aviso. nascimento.
de visão, quando pipoca a argumen- Parágrafo único: Findo o prazo Entender diferente disto é levia-
tação de que o contrato de locação ajustado, se o locatário permanecer no namente permitir que a triangulação
prorrogado por prazo indeterminado, imóvel por mais de trinta dias sem opo- solidária estribada em três essenci-
representaria a amplitude (extensão) sição do locador, presumir-se-á pror- ais elementos (locador, locatário e fi-
mencionada pela lei civil e portanto, rogada a locação nas condições ajus- ador) inopinadamente sofra a irreme-
vedada ao favor prestado. tadas, mas sem prazo determinado. diavelmente perda de uma de suas
A generalidade aplicada em tal Dando seqüência ao enfoque bases, pela maliciosa criatividade de
tradução, desvirtua e corrompe o proposto, interessante se faz visitar associar-se a prorrogação do contra-
âmago do instituto de fiança locatícia, mais alguns aspectos a respeito dos to (repete-se, cunhada na moderna
porque em síntese retrata o despre- muitos desdobramentos passíveis de lei inquilinária) com uma hipotética
zo pela lei inquilinária e a abertura de verificar na natureza jurídica da fian- interpretação extensiva que subjeti-
perigosa artimanha capaz de fraudar ça e seus efeitos no direito atual: va e genericamente a lei civil faz re-
os contratos firmados de boa fé e ferência.
Da imutabilidade das condições
que, sob essa perspectiva de lealda- contratadas É, de fato, almejar a aplicabi-
de, sempre devem exalar confiança 4. A continuidade da avença lidade de uma lei suplementar (Códi-
às partes envolvidas. go Civil) onde não existe omissão a
O clássico chavão de que “a lei ser suprida (Lei do Inquilinato).
Com efeito, desconsiderar a não contém palavras inúteis” mere-
acessoriedade do contrato de fiança ce, na hipótese sob comento, ganhar E, além de tudo, é levantar uma
que tem sua existência umbilicalmente a luz dos refletores principais, grifan- bandeira (que supostamente sai em
ligada ao contrato principal de locação, do-se em letras garrafais a essência isolada defesa do fiador, mas que
é no mínimo limitar o horizonte legal do equilíbrio contratual quando ocor- culmina por desequilibrar o mercado
atinente à espécie, fulminando assim re a prorrogação já de antemão cal- como um todo) com o aviltamento
a ideal verticalização de tão comple- culada como viável: dos elementares princípios de que:
xa matéria. A lei não prejudicará o direito
“... MANTIDAS AS DEMAIS
Do Contrato Prorrogado no Tempo CLÁUSULAS E CONDIÇÕES DO adquirido, o ato jurídico perfeito e a
3. A dilatação autorizada CONTRATO ...” coisa julgada.
A prorrogação de uma locação “... PRORROGADA A LOCA- - Constituição Federal, art. 5º,
é possibilidade prevista expressa- ÇÃO NAS CONDIÇÕES AJUSTA- XXXVI. Ninguém se escusa de cum-
mente na lei inquilinária: DAS ...” prir a lei, alegando que não a conhe-
ce. (Lei de Introdução ao Código Ci-
Lei 8.245/91 Ora, se o acessório acompanha
vil, art. 3º).
Da locação residencial: o principal, posto que o sopro de vida
do primeiro depende do segundo e a Nesta conformidade, os enfren-
Art. 46. Nas locações ajustadas este está definitivamente acoplado, a tamentos que, por ingenuidade ou
por escrito e por prazo igual ou supe- seqüência de um contrato de locação, astúcia, defendem que a prorrogação
rior a trinta meses, a resolução do com a extrapolação do prazo original- automática do contrato de locação
contrato ocorrerá findo o prazo esti- mente fixado (que acontece não por lograria, como num passe de mági-
pulado, independentemente de noti- acidente ou criação imaginativa, mas ca, alforriar o fiador — como se tal
ficação ou aviso. sim como filha direta de uma textual projeção de elasticidade temporal
§ 1º- Findo o prazo ajustado, se disposição legal), não constitui uma não estivesse entalhada categorica-
o locatário continuar na posse do imó- extensividade imprevisível, capaz de mente na lei inquilinária e assim não
vel alugado por mais de trinta dias automaticamente libertar o fiador; mas fosse desde o início da avença con-
sem oposição do locador, presumir- sim palpável realidade de conheci- dição previamente alertada às partes
se-á prorrogada a locação por prazo mento recíproco das partes interessa- — atentam contra a lisura que, salvo
indeterminado, mantidas as demais das, porque inequívoca e expressa- raras exceções, permeia o pacto
cláusulas e condições do contrato. mente prevista no mesmo texto legal. locatício, assim considerado como
Art. 47. Quando ajustada verbal- De conseguinte, uma das con- ato jurídico perfeito, porque inspira-
mente[1] ou por escrito e com prazo dições que resulta incólume neste do na lei do inquilinato, a qual de
inferior a trinta meses, findo o prazo alargamento da trajetória da locação modo preponderante lhe dá susten-
estabelecido, a locação prorroga-se é justamente a fiança que acolita o tação:
automaticamente, por prazo indeter- contrato principal e que, funcionando O ato que, emanado de agente
minado... como pilar garantidor do cumprimento capaz e tendo por objeto lícito, obe-
Da locação não-residencial: das obrigações, acaba por assumir o dece a forma prescrita em lei, e se

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COMENTÁRIOS E DOUTRINA
entende consumado segundo a lei grenagem imobiliária, permitindo en- Os advogados, administradores
vigente ao tempo em que se consu- tão que o imóvel possa cumprir a fun- de imóveis e magistrados assumem
mou (Dicionário Jurídico da Acade- ção social, para o qual está destina- com o futuro do país uma enorme
mia Brasileira de Letras Jurídicas, ed. do, qual seja, propiciar o acesso à responsabilidade, que é a de preser-
Forense). habitação. var o espírito da nova lei, evitando a
Sob tal prisma, urge a correção Trazer insegurança e instabilida- sua fraude, denunciando os abusos,
do rumo que está perigosamente se de a este segmento, significa concor- incentivando a oferta e a construção
formatando, inclusive para que se rer para uma dupla penalização: mar- de novas unidades, e pacificando o
volte a respeitar o artigo 39 da LI, o ginalizar aqueles candidatos a inqui- mercado, cujo saneamento moral se
qual absolutamente não é sufocado lino que assim verão engrossar suas impõe como condição primeira de sua
pela lei civil (aliás, anterior a esta le- dificuldades para conseguir materia- própria sobrevivência”.
gítima norma especialmente voltada lizar um contrato e ao mesmo tempo Encerrando esta série de co-
à locação), máxime porque a durabi- reduzir a esperança daquele proprie- mentários que essencialmente teve
lidade da garantia até a entrega das tário — que a exemplo dos outros por escopo traçar uma radiografia do
chaves é prática legalmente assegu- brasileiros que heroicamente conse- setor de locação, com a apresenta-
rada, nada havendo de iníquo em sua guiram amealhar um segundo imó- ção dos principais pontos que
adoção, que, em última análise, fun- vel — em poder complementar, com gravitam em torno da responsabilida-
ciona como o fiel da balança, porque o produto da locação, a parca pen- de dos fiadores frente ao comando
propiciadora de estabilidade e segu- são ou a minguada aposentadoria da lei de regência — artigo 39 da Lei
rança aos contratos. recebida. nº 8.245/91 — conjugados com a
Prosseguindo com a temática Isso para não falar na constru- Súmula 214 do Superior Tribunal de
abordada, vale destacar ainda: ção civil — que ocupa o topo do Justiça — STJ, cumpre grafar, neste
ranking da empregabilidade — que ensejo, mais algumas diretrizes apli-
Da possibilidade de liberação do cadas a tal matéria.
garante seguramente será atingida nesta ca-
deia de franco desestímulo ao setor É de anotar, pois, interessante
5. A oportuna orientação cabí- imobiliário. estudo estampado na Revista dos
vel Tribunais, vol. 830, de dezembro de
Da inexorável conclusão
A mirabolante ginástica para ile- 2004, de autoria do Eminente Juiz do
gitimamente desobrigar o fiador, que- 7. Uma visão que alia idealis- Segundo Tribunal de Alçada Civil do
rendo fazer crer que a prorrogação mo e objetividade Estado de São Paulo (atualmente
textualmente prevista reclamasse a O eminente desembargador Desembargador do Tribunal de Jus-
concordância do garante para poder Sylvio Capanema de Souza, em vigo- tiça daquele Estado) Luís Camargo
subsistir até a efetiva entrega das roso artigo publicado no informativo da Pinto de Carvalho, onde com lúcido
chaves, significa subverter o espírito Associação Brasileira dos Advogados raciocínio assume a correta interpre-
da lei e simultaneamente deixar de do Mercado Imobiliário, dispensou um tação do espírito do legislador em seu
considerar a oportunidade da aplica- invulgar tratamento à aplicabilidade da sentido originário para indicar que
ção (neste caso, acertada) do previs- Lei 8.245/91, que associando tintas efetivamente a obrigação da fiança
to na lei civil, assegurando o não poéticas com a lucidez analítica pe- solidariamente assumida não
perenizar da garantia prestada: culiar a um jurista de sua estirpe, ves- esmaece ante o regular fluir do pra-
CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO: te como uma luva neste manifesto, zo contratual da locação, primordial-
inobstante o citado artigo não tenha mente quando for prestada com a
Art. 835 (art. 1.500, CC/16). O
adentrado na seara específica da fi- explícita ressalva de que a respon-
fiador poderá exonerar-se da fiança sabilidade perdura até a real e efeti-
que tiver assinado sem limitação de ança, aqui trazida à lume:
va entrega das chaves, do que se
tempo, sempre que lhe convier, fican- “O interesse dos que militam, de deduz, obviamente, que na vigência
do obrigado por todos os efeitos da boa-fé, no mercado, deve ser o de e mesmo em eventual dilação da re-
fiança durante sessenta dias após a velar, diuturnamente pela correta apli- lação ex locato, exarou-se o consen-
notificação do credor. cação da lei, sendo cada um de nós, timento expresso dos garantes até a
Da relevante posição da fian- seu dedicado guardião. efetiva entrega do objeto da locação:
ça
A nova lei trata o inquilinato com A nossa mais alta Corte de Jus-
6. Sua contribuição para o uni-
notável equilíbrio, dotando-o de todos tiça em matéria infraconstitucional,
verso locatício
os mecanismos no sentido de aque- editou a seguinte súmula, que rece-
O fiador ao viabilizar a locação
cer a oferta e reduzir o valor dos alu- beu o nº 214: “O fiador na locação
– num país em que as outras garan-
guéis, combatendo, de frente, o gran- não responde por obrigações resul-
tias aceitáveis, qual sejam, a caução
de vilão, que é o deficit habitacional. tantes de aditamento ao qual não
e o seguro revelam-se preponderan-
temente inacessíveis para a grande O êxito de suas propostas mo- anuiu.”
maioria da população – assume fun- dernas dependerá de sua aplicação Trata-se de regra de intelecção
damental responsabilidade nesta en- correta e fiel. aparentemente óbvia. O fiador, na

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COMENTÁRIOS E DOUTRINA
locação responde tão somente pelas divergência, em recurso especial nº clareza.
obrigações assumidas. Assim, por 302.209, do qual foi relator o eminen- Bem por isso, o citado Eduardo
exemplo, se, no curso do contrato, te Ministro Gilson Dipp: Espínola Filho lecionava, forrado de
locador e locatário deliberam elevar “CIVIL. LOCAÇÃO. FIANÇA. IN- razão: “Em qualquer hipótese, a situ-
o aluguel acima do originalmente TERPRETAÇÃO NÃO EXTENSIVA. ação deve ter ficado expressa, com
contratado, o fiador somente respon- RESPONSABILIDADE RESTRITA AO clareza, no contrato, pois o Código
derá por esse excedente se com ele PERÍODO ORIGINALMENTE CON- Civil é peremptório na afirmação de
houver anuído; ou, se no contrato fi- TRATADO. CONTINUIDADE DA GA- que “A fiança dar-se-á por escrito e
cou pactuado que responderia pelas RANTIA SEM ANUÊNCIA DO FIA- não admite interpretação extensiva
obrigações até o termo final do con- DOR. IMPOSSIBILIDADE. CLÁUSU- (art. 1.483)” (ob. cit., p. 161), a eviden-
trato, para que continuasse a respon- LA QUE OBRIGUE O FIADOR ATÉ A ciar que não se há de falar em inter-
der, no caso de prorrogação, somen- EFETIVA ENTREGA DAS CHAVES. pretação extensiva ou restritiva dian-
te com sua anuência, em aditamento IRRELEVÂNCIA. SÚMULA 214/STJ. te de cláusula expressa a respeito.
sua responsabilidade prosseguiria.
I - A obrigação decorrente da fi- Ensina o mestre peninsular
Como, entretanto, em matéria de ança locatícia deve se restringir ao Francesco Ferrara, em obra clássica
locação, o contrato se prorroga auto- prazo originalmente contratado, traduzida pelo eminente Prof. Manu-
maticamente por força de lei, o diplo- descabendo se exigir do garantidor o el A. D. de Andrade, que “A interpre-
ma inquilinário trouxe a regra expres- adimplemento de débitos que tação literal é o primeiro estádio da
sa, como exposto, de que a responsa- pertinem ao período de prorrogação interpretação. Efetivamente, o texto
bilidade do fiador se estende até a de- da locação, à qual não anuiu, conso- da lei forma o substrato de que deve
volução do imóvel, ou seja, não tendo ante a regra dos artigos 1.003 e 1.006 partir e em que deve repousar o in-
o fiador limitado sua responsabilidade, do Estatuto Civil. Precedentes. térprete. Uma vez que a lei está ex-
ela vai até a extinção da locação, com pressa em palavras, o intérprete há
II - A impossibilidade de conferir
a devolução do prédio alugado. de começar por extrair o significado
interpretação extensiva à fiança
Isso se nos afigura de ululante locativa, consoante pacífico entendi- verbal que delas resulta, segundo a
obviedade. Não há se falar em mento desta Eg. Corte, torna, na hi- sua natural conexão e as regras gra-
anuência com relação prorrogação pótese, irrelevante, para o efeito de maticais. O sentido das palavras es-
legal do contrato e extensão das res- se aferir o lapso temporal da obriga- tabelece-se com base no uso
ponsabilidades determinadas por lei. ção afiançada, cláusula contratual linguístico, o qual pode ser diverso
Não há aditamento do contrato para que preveja a obrigação do fiador até conforme os lugares e os vários cír-
isso ocorrer e, via de consequência, a entrega das chaves, bem como culos profissionais. Normalmente as
não há ao o que anuir. aquela que pretenda afastar a dispo- palavras devem entender-se no seu
sição prevista no art. 1500 do Códi- sentido usual comum, salvo se da
Quando se fala em aditamento,
go Civil. conexão do discurso ou da matéria
está-se falando em outro contrato, ain-
tratada derivar um significado espe-
da que simples e complementar, com III - Consoante dispõe a Súmula cial técnico. (...) Deve-se partir do
nova manifestação de vontade dos 214 desta Corte: “O fiador na loca- conceito de que todas as palavras
contratantes, com alteração da obri- ção não responde por obrigações re- têm no discurso uma função e um
gação original. Como explicita Pláci- sultantes de aditamento ao qual não sentido próprio, de que neste não há
do e Silva, aditamento significa “o au- anuiu. nada de supérfluo ou contraditório, e
mento de cláusulas em um contrato
IV - Embargos de divergência por isso o sentido literal há de surgir
já elaborado e mesmo registrado ou a
acolhidos. da compreensão harmônica de todo
parte acrescida ao final de um docu-
Por tudo que já foi exposto, o contexto” (Interpretação e Aplicação
mento para alterar ou explicar algu-
palmar a ilegalidade desse julgado. das Leis, Saraiva, 1934, pp. 34-5).
mas das condições ali exaradas, ou
mesmo para corrigir omissões eviden- A argumentação calcada na dis- Não pode ser ignorado que o
ciadas”. Isso, repita-se, não existe em posição contida no Código Civil an- Código Civil é lei geral em relação à
se tratando de prorrogação legal da terior (art. 1.483), de que a fiança não Lei nº 8.245/91. Assim, aplica-se ao
locação, pois contrato prorrogado por deve receber interpretação extensi- caso o § 2º do art. 2º da Lei de Intro-
lei não é contrato aditado. va, absolutamente não se presta a tal. dução, que é uma típica lex legum,
ao dispor que “A lei nova, que esta-
Não obstante isso, invocando É elementar que nenhuma regra beleça disposições gerais ou especi-
essa súmula, a Colenda Corte que a geral de interpretação pode prevalecer ais a par das já existentes, não revo-
emitiu (STJ) passou a proferir decisões contra dispositivo expresso, contido em ga nem modifica a lei anterior”.
que rompem com a tradição do direito qualquer corpo de leis, seja geral, seja Por conseguinte, e repetindo,
pátrio sobre a matéria e que são, com especial, e nem sobre regra contratual, sendo a Lei do Inquilinato, manifes-
todas as vênias possíveis, manifesta- relativa a matéria dispositiva. tamente, lei especial em relação ao
mente contra legem, ou seja, violam o Norma interpretativa somente Código Civil, é de palmar evidência,
texto da lei do inquilinato. tem aplicação no vazio legal ou tendo em conta as mais elementares
A título exemplificativo, transcre- contratual, que não é o caso, pois o regras de hermenêutica, que o dis-
vemos a ementa dos embargos de texto da lei inquilinária é de meridiana positivo especial nela contido, no sen-

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tido de que “qualquer das garantias diz o sempre invocado em matéria de uma violação jurídica”.
da locação se estende até a efetiva interpretação e hermenêutica, Carlos Aliás, a inoportunidade e a ile-
devolução do imóvel”, não pode ter Maximiliano, “a exegese restritiva galidade da interpretação dada pelo
sua aplicação reprimida com base na corresponde, na atualidade, ao que STJ à essa Súmula nº 214 têm feito
lei geral. Não se podendo olvidar, outrora se denominava declarativa que tanto os juízes de primeiro grau,
ademais, que a lei inquilinária é da estrita; apenas declara o sentido ver-
como os Tribunais, na sua generali-
mesma força hierárquica do Código dadeiro e o alcance exato; evita a di-
dade, ignorem o alcance que essa
Civil. latação, porém não suprime coisa al-
Corte lhe tem dado.
Aliás, possivelmente para impe- guma” (Hermenêutica e Aplicação do
Direito, n° 220). Como fecho desta matéria, opor-
dir interpretações apressadas como
essa, no sentido da exoneração do Assim, não se pode aceitar a tuna se faz a lembrança de que em
fiador após o termo final do contrato, exoneração de responsabilidade dos concisas considerações, como é o
é que o Código Civil vigente diz ex- fiadores, pelo simples vencimento do caso deste artigo, não pode ser exau-
pressa e desnecessariamente o ób- prazo do contrato locatício, sem a rido o momentoso tema, tendo uni-
vio, no art. 2.036: “A locação de pré- existência de cláusula contratual ex- camente a intenção de instigar à re-
dio urbano, que esteja sujeita à lei pressa nesse sentido, haja vista o flexão, que tanto se alimenta das múl-
especial, por esta continua a ser texto legal da lei de locações, com tiplas nuances advindas de palpitan-
regida”. comando diverso, em termos explí- tes temáticas ligadas ao instituto da
citos e categóricos. fiança locatícia.
É sempre bom lembrar que não
se pode falar em interpretação exten- Por isso, cumpre recordar com (*) O autor é Advogado, consul-
siva se esta se afina rigorosamente Ferrara (ob. cit., p. 70) que “O juiz que tor, empresário e incorporador do
com o texto legal. Basta a interpreta- por uma suposta equidade e oportu- setor imobiliário do Estado do Paraná
ção literal, como demonstrado. Como nidade intenta mudar a lei, comete - tavarnaro.com.br

O IMPOSTO TERRITORIAL RURAL (ITR);


O ATO DECLARATÓRIO AMBIENTAL (ADA);
E A ILEGALIDADE DE DETERMINADAS ATUAÇÕES QUE VÊM
SENDO REALIZADAS PELA RECEITA FEDERAL DO BRASIL (RFB)

Roberto Padua Cosini (*)

A rigor do que estabelece a le- artigo 8º, do Decreto nº 4.382/02). do poder público, as restrições cria-
gislação fiscal, considera-se imóvel Por esse motivo, a legislação fis- das pelo Código Florestal para um
rural, para efeito de determinação da imóvel rural atinentes às áreas de
cal não só estabelece a forma pela
base de cálculo do ITR, a área contí- reserva legal e de preservação per-
qual o contribuinte apura a área de
nua formada de uma ou mais parce- manente, são de eficácia geral, ple-
seu imóvel rural que deve ser sub-
las de terras, localizada na zona ru- na e imediata, e salvo as exceções
metida à tributação, como também
ral do município, ainda que, em rela- legais deve o proprietário da área
exclui do campo de incidência do im-
ção a alguma parte do imóvel, o su- abster-se de utilizá-la, sendo certo
posto as áreas que, dada a sua qua-
jeito passivo detenha apenas a pos- que para a análise que deve ser feita
lificação legal, não devem ser tribu-
se. É o que se extrai da análise con- para o cálculo do ITR essas áreas po-
tadas (Art. 10, § 1º, II, “a” da Lei nº
junta dos seguintes dispositivos le- dem ser excluídas.
9.393/96).
gais: Lei nº 9.393/96 e Decreto nº O ADA foi criado pela Portaria
4.382/02. Essa última hipótese, que se
Ibama 162/97, cujas informações
refere à não-incidência do imposto
Por tratar-se de tributo sujeito ao nele contidas servem para instruir o
lançamento por homologação, o ITR sobre determinadas áreas, contem- Ibama, dentre outras, com informa-
é apurado e pago pelo próprio contri- pla as áreas de preservação perma- ções referentes às áreas de preser-
buinte, independentemente de qual- nente e de reserva legal previstas vação permanente e de reserva le-
quer procedimento prévio da adminis- pela Lei nº 4.771, de 15 de setembro gal situadas no imóvel rural, e ape-
tração tributária, sujeitando-se, como de 1965 (Código Florestal). sar de sua entrega ser importante
tal, à posterior homologação pelo fis- O que se tem atualmente, é que para fins de apuração do ITR, a falta
co (artigo 10, da Lei nº 9.393/96 c/c o independentemente de qualquer ato do ADA não deve ser confundida com

1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 7


COMENTÁRIOS E DOUTRINA

sua entrega atrasada. introduzido no ordenamento pátrio em pelas normas infralegais, não pode-
Em vista do atraso na entrega 2000 (MP nº 1.956-53/00), assim de- ria ensejar a presunção de que as
do ADA, mesmo diante de um proce- termina: áreas excluídas da base de cálculo
dimento fiscal, no qual solicita-se farta “Art. 10. (...). § 7º. A declaração do ITR não existam.
documentação técnica a respeito das para fim de isenção do ITR relativa Noutras palavras, a apresenta-
áreas de não incidência declaradas às áreas de que tratam as alíneas ‘a’ ção intempestiva de um documento
pelo proprietário, instaurado para e ‘d’ do inciso II, § 1º, deste artigo, não poderia gerar a presunção abso-
apurar se o valor de imposto pago não está sujeita à prévia comprova- luta de que as áreas caracterizadas
(ITR) foi correto diante das informa- ção por parte do declarante, ficando como reserva legal e de preservação
ções prestadas na DITR, vem sendo o mesmo responsável pelo pagamen- permanente não existe, sobretudo
constante as autuações que agentes to do imposto correspondente, com porque, se a própria lei determina que
da RFB vêm promovendo em vista de juros e multa previstos nesta Lei, caso o contribuinte NÃO está obrigado a
não reconhecerem essas áreas de fique comprovado que a sua decla- comprovar, previamente, que seu
não incidência, sem sequer produzir ração não é verdadeira, sem prejuí- imóvel possui áreas amparadas pela
um documento técnico sequer que zo de outras sanções aplicáveis.” isenção do ITR, não pode um instru-
pudesse contrariar os laudos técni- Nota-se, pois, que a declaração mento infralegal fazê-lo, como
cos elaborados por engenheiros do contribuinte, no sentido de que comumente vem sendo alegado pela
agrônomos apresentados nos proce- existe, em seu imóvel rural, alguma RFB ao sustentar seus atos com base
dimentos fiscalizatórios. daquelas áreas legalmente excluídas em decreto e portarias.
Nesse sentido, a despeito de ter do campo de incidência do ITR, como Por essas razões, sobretudo
procedido corretamente à declaração é o caso das áreas de preservação porque comprovada a efetiva existên-
e ao recolhimento do ITR apurado, permanente e reserva legal, ou sob cia e conservação de áreas que de-
considerando verdadeiramente as regime de servidão florestal ou veriam ser excluídas da base de cál-
áreas de preservação permanente e ambiental, NÃO depende de prévia culo do ITR (aquelas que, por lei, não
de reserva legal, o proprietário vem comprovação. integram o conceito de área tributável
sendo surpreendido com a lavratura Nesse sentido, existem diver- da propriedade rural), a autuação fis-
de auto de infração e notificação de sas decisões de nossos tribunais, cal não merece subsistir.
lançamento de imposto a pagar so- como por exemplo: STJ, 1ª Turma, Por fim, a RFB vem esquecen-
bre as áreas de não incidência, e pior, Rel. Min. Denise Arruda, REsp do-se de analisar o estimulo à prote-
sujeitando o autuado ao pagamento 812.104/AL; e 2ª Turma. Rel. Min. ção ambiental a determinadas áreas
de multa e juros moratórios. Eliana Calmon, REsp 665.123/PR; e que a regra de não incidência do ITR
Com relação a esse aspecto, TRF da 3ª Região, 3ª Turma, AMS nº procurou estabelecer, já que, se vem
que se refere à exclusão – pelo pró- 2003.61.02.014652-0/SP, Rel. Juiz autuando proprietários preocupados
prio contribuinte – de áreas que não Silvio Gemaque. em preservar áreas de interesse
estão sujeitas à tributação pelo ITR, ambiental, acaba por desestimulá-
Observa-se, pois, que o Poder
los, embora deva ficar bastante cla-
é importante que se faça o seguinte Judiciário já reconheceu que o ADA
ro, que o respeito a essas áreas deve
destaque: a Medida Provisória nº não é imprescindível para que o con-
ser absoluto, independente de isen-
1.956-53 trouxe, no ano de 2000, lou- tribuinte exclua, da base de cálculo
ção tributária, em vista do que está
vável disposição em favor dos con- do ITR, as áreas de preservação per-
previsto na legislação ambiental, prin-
tribuintes rurais, assegurando-os con- manente e de reserva legal.
cipalmente quanto às sanções crimi-
tra os desmedidos abusos então co-
Aliado ao fato de a exigência do nais e administrativas nos caso de
metidos pelo fisco. ADA para redução da base de cálcu- desrespeito a essas áreas.
Com a redação atribuída pela lo do ITR ser indevida, a sua não- (*) O autor é Advogado da Miguel
Medida Provisória nº 2.166-66/01, o apresentação, ou ainda, a sua apre- Neto Advogados Associados - SP.
§ 7º, do artigo 10, da Lei nº 9.393/96, sentação fora do prazo estabelecido (robertopc@mnadv.com.br)

8 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10


DIREITO
LIÇÕES DE DIREITO IMOBILIÁRIO
MORA DO DEVEDOR E DO CREDOR – CLÁUSULA PENAL
Jorge Tarcha (*)

No estudo que estamos efetuando sobre o inadimplemento de um direito pessoal, apresentamos o conceito de
mora, que é o descumprimento relativo desse tipo de direito.
Vimos na lição anterior algumas consequências da mora, a saber: as perdas e danos e seus dois componentes,
que são o dano emergente e os lucros perdidos.
Citamos, ainda, mais algumas consequências da mora: a incidência de juros, a correção monetária, as multas
(cláusula penal) e o sinal, ou arras.
Nessa menção, apenas sumária, podemos citar a exceção de contrato não cumprido:
Código Civil, art. 476 – “Nos contratos bilaterais, nenhum dos contraentes, antes de cumprida a sua obrigação,
pode exigir o adimplemento da do outro.”
Algumas dessas consequências da mora serão objeto de um estudo mais detalhado.
Assim, no estudo das perdas e danos como consequência da mora, não poderemos deixar de abordar a questão
dos lucros cessantes.
Vimos na lição anterior as modalidades de perdas e danos, a saber: o dano emergente e os lucros perdidos.
Código Civil, art. 402 – “Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidos ao credor,
abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.”
Como preleciona WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO, os danos se enquadram em duas classes: positivos e
negativos.
Os primeiros consistem numa real diminuição do patrimônio do credor da obrigação. No linguajar jurídico dizemos
que ele empobreceu.
Já os danos negativos consistem na privação de um ganho que o credor tinha o direito de esperar.
Em outras palavras: o dano, ou dano emergente, é o deficit no patrimônio do credor, a concreta redução por este
sofrida em sua fortuna.
Já o lucro cessante é o que esse credor razoavelmente deixou de auferir, em virtude do inadimplemento do deve-
dor.
Aqui faz-se necessário estabelecer o que seja um ganho razoável.
Trata-se de um valor a ser examinado em cada caso concreto, segundo o critério do juiz.
Observe-se que a apuração do dano é mais fácil que o conhecimento do valor dos lucros cessantes.
SÍLVIO DE SALVO VENOSA oferece o seguinte exemplo: Um motorista de táxi sofreu um abalroamento em seu
veículo.
Será indenizado pelo valor dos reparos (dano emergente).
Mas, a título de lucros cessantes, deve ser indenizado, de forma razoável, pelos dias em que não pôde trabalhar
com seu instrumento de trabalho.
A apuração dessa indenização por lucros cessantes levará em conta a féria razoável, média, comum, ordinária,
para os dias não trabalhados.
A cautela do juiz deve ser, de um lado, no sentido de não proporcionar uma vantagem ao credor, atribuindo-lhe um
pagamento acima daquilo que ele razoavelmente deixou de ganhar.
De outro lado, não pode o juiz minimizar a indenização a ponto de a tornar inútil.

1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 9


LIÇÕES DE DIREITO IMOBILIÁRIO

A cláusula penal como consequência da mora


Todo o Direito das Obrigações está intimamente ligado à cláusula penal.
Isso porque o principal efeito de uma obrigação é a sua execução.
Ora, a cláusula penal constitui um verdadeiro seguro contra todo e qualquer inadimplemento das obrigações.
Conceito de cláusula penal
É um pacto acessório, cuja finalidade é garantir, em benefício do credor, através do estabelecimento de uma pena,
o fiel e o exato cumprimento da obrigação principal.
Sua natureza jurídica
A cláusula penal é uma obrigação de natureza acessória.
Por meio desse instituto se insere uma multa na obrigação, para a parte que deixar de dar cumprimento ou apenas
retardá-lo.
A cláusula penal tem duas faces
De um lado tem a finalidade de uma indenização prévia de perdas e danos.
Com efeito, já vimos que é difícil e trabalhoso o cálculo das perdas e danos, na hipótese de inadimplemento de
uma obrigação pessoal.
O credor tem de provar o valor do dano, a culpa do devedor (nos casos de responsabilidade civil subjetiva) e o
nexo entre a ação do agente e o dano que ele causou.
Ora, o estabelecimento de uma cláusula penal, sob a forma de multa moratória (que veremos adiante) resolve, em
parte, esse tormentoso problema.
Em lugar de um complicado cálculo de indenização pelo descumprimento, o contrato pode estabelecer um castigo,
uma sanção para a mora.
A cláusula penal como sanção (castigo)
De outro lado, a cláusula penal tem a função de penalizar o devedor moroso.
Há um evidente efeito de intimidação na cláusula penal. O devedor sabendo que se sujeitará a um maior pagamen-
to, envidará maiores esforços para cumprir sua obrigação.
Trata-se, portanto, de um reforço para o cumprimento da obrigação, uma forma de garantia de adimplemento.
O instituto é utilizado com extrema frequência nos contratos. Num contrato de locação, por exemplo, estipula-se
uma multa, caso o locatário pague o aluguel após determinado dia do mês fixado.
As duas modalidades de cláusula penal
No mesmo exemplo do contrato de locação, geralmente são encontradas duas formas tradicionais de cláusula
penal.
A primeira é a cláusula penal moratória, que já vimos acima, e que é aplicada no caso de atraso no pagamento
(inadimplemento relativo ou mora).
A segunda modalidade de cláusula penal é a compensatória.
Ela será aplicada sob a forma de uma multa no caso de infração de qualquer das cláusulas do contrato. Como, por
exemplo, a entrega antecipada do imóvel, antes do término do contrato escrito.
Extinta a obrigação, extingue-se a cláusula penal
Sendo a cláusula penal uma obrigação acessória de um contrato principal, a regra geral é de que o acessório
segue o principal.
Regras fundamentais
As disposições legais sobre a cláusula penal são de quatro naturezas, dizendo respeito:

10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10


LIÇÕES DE DIREITO IMOBILIÁRIO

1. à forma de cláusula penal;


2. ao conteúdo;
3. à obrigação de pagar a pena; e
4. à resolução da cláusula penal.
1) Forma da cláusula penal
Não há forma especial estabelecida, valendo o disposto no artigo 107 do Código Civil.
Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamen-
te a exigir.
Por outro lado, tanto pode vir estipulada juntamente com a obrigação principal, como em ato posterior.
Nesse sentido, reza o artigo 409 do Código Civil:
Art. 409. A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução
completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora.
2) Conteúdo da cláusula penal
O artigo 409, acima transcrito, fornece esse conteúdo. A cláusula penal pode referir-se:
a) à inexecução completa;
b) a alguma cláusula especial;
ou c) à simples mora.
No primeiro caso, converte-se em alternativa, em benefício do credor (art. 410) e, sobre obrigações alternativas
(artigos 252 e seguintes).
Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-
se-á em alternativa a benefício do credor.
Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.
Isto é, o credor pode pedir o valor da multa, ou o cumprimento da obrigação. Porém, escolhida uma via, não pode
o credor exigir também a outra.
O devedor, pagando a multa, nada mais deve, porque aí já está fixada antecipadamente uma indenização pelo
descumprimento da obrigação.
É evidente que, se a prestação não tem mais utilidade para o credor, só lhe restará cobrar a multa. Lembrem-se do
exemplo do vestido de noiva entregue no dia seguinte ao do casamento.
Na multa compensatória a opção será do credor. Se ele entender que seus prejuízos pelo inadimplemento foram
mais vultosos que o valor da multa, partirá para a via das perdas e danos.
Se, por outro lado, entender que a multa lhe cobre os prejuízos, ou ainda, se não deseja se submeter a uma
custosa e difícil prova de perdas e danos, optará pela cobrança da multa.
Caso de inadimplemento relativo
Diferentemente opera a multa pela mora. Aqui, pela sua natureza, a prestação sempre será útil para o credor.
Como já foi visto, a multa moratória atua como um efeito intimidativo para que o devedor não atrase no cumprimen-
to de sua avença.
Se o fizer, pagará a prestação de forma mais onerosa, ou seja, mais cara.

(*) O autor é Advogado, Professor de Direito Imobiliário. Autor dos livros: Direito Imobiliário, Uma Abordagem
Didática, edição particular; Títulos de Crédito, Editora Plêiade; Contratos Mercantis, Editora Graph Press; Despesas
Ordinárias e Extraordinárias de Condomínio, Editora Juarez de Oliveira. Autor do curso a distância, por correspondên-
cia, sobre locação de imóveis, da empresa Diário das Leis. E-mail: jorgetarcha@jorgetarcha.com.br
1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 11
JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA
SFH – MÚTUO HABITACIONAL – INADIMPLÊNCIA – EXECUÇÃO
EXTRAJUDICIAL – EXTINÇÃO DO CONTRATO (STJ)
Recurso Especial nº 886.150 - PR (2006/0160511-1) RELATÓRIO
Relator: Ministro Francisco Falcão O Exmo. Sr. Ministro Francisco Falcão: A Caixa Eco-
Recorrente: Caixa Econômica Federal - CEF nômica Federal interpõe o recurso vertente, com arrimo
na alínea “c” do permissivo constitucional, visando à re-
Recorrido: José Vatiro Kimura e outro forma de acórdão proferido pelo Tribunal Regional Fede-
EMENTA ral da 4ª Região, que restou ementado nestes termos:
SFH. Mútuo habitacional. Inadimplência. Execu- “SFH. Cautelar e Ação revisional de contrato. Carta
ção extrajudicial. Decreto-lei nº 70/66. Adjudicação do de arrematação averbada no cartório de imóveis. Carên-
imóvel. Extinção do contrato de financiamento imobi- cia de ação não caracterizada.
liário. Propositura de ação. Ausência de interesse pro- O encerramento da execução extrajudicial não re-
cessual. presenta a impossibilidade do mutuário discutir, em juízo,
I - Diante da inadimplência do mutuário, foi ins- os critérios de correção da dívida, reclamando, inclusive,
taurado procedimento de execução extrajudicial com a devolução de valores pagos a maior.
respaldo no Decreto-lei nº 70/66, tendo sido este con- Sentença cassada” (fl. 273).
cluído com a adjudicação do bem imóvel objeto do
contrato de financiamento. Defende a recorrente dissentir tal aresto daquele outro
proferido pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região,
II - Propositura de ação pelos mutuários, posteri- quando do julgamento da AC n. 1999.01.00.061148-8/PI,
ormente à referida adjudicação do imóvel, para dis- ao argumento de que “ao se deparar com um pedido
cussão de cláusulas contratuais, com o intuito de res- revisional de contrato extinto, a E. Corte prolatora do
sarcirem-se de eventuais pagamentos a maior. acórdão paradigma manifestou sua contrariedade à revi-
III - Após a adjudicação do bem, com o conseqüen- são do pacto após a respectiva extinção, ocasionada pela
te registro da carta de arrematação no Cartório de Re- adjudicação havida em procedimento de execução
gistro de Imóveis, a relação obrigacional decorrente do extrajudicial”.
contrato de mútuo habitacional extingue-se com a Ainda, afirma que “o ato de alienação do imóvel atra-
transferência do bem, donde se conclui que não há in- vés do procedimento de execução extrajudicial previsto
teresse em se propor ação de revisão de cláusulas pelo Decreto-lei n. 70/66 sepulta a relação obrigacional
contratuais, restando superadas todas as discussões com fonte no contrato de mútuo”.
a esse respeito.
Entende, pois, existir dissídio interpretativo acerca do
IV - Ademais, o Decreto-lei nº 70/66 prevê em seu conteúdo dos arts. 3º e 267, VI, do CPC, afirmando ser
art. 32, § 3º, que, se apurado na hasta pública valor notória a falta de interesse de agir dos autores ao propo-
superior ao montante devido, a diferença final será rem ação revisional de cláusulas do mútuo habitacional
entregue ao devedor. após a adjudicação extrajudicial do imóvel objeto do con-
V - Recurso especial provido. trato extinto.
ACÓRDÃO É o relatório.
Vistos e relatados os autos em que são partes as VOTO
acima indicadas, decide a Primeira Turma do Superior O Exmo. Sr. Ministro Francisco Falcão (Relator): Te-
Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar provimento ao nho como satisfeitos os requisitos de admissibilidade
recurso especial, na forma do relatório e notas recursal, pelo que conheço do apelo nobre.
taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo A recorrente sustenta existir dissídio interpretativo
parte integrante do presente julgado. Os Srs. Ministros acerca dos arts. 3º e 267, VI, do CPC, com julgado do
Luiz Fux, Teori Albino ZavasckI e Denise Arruda votaram Tribunal Regional Federal da 1ª Região, pelo qual:
com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o
Sr. Ministro José Delgado. Custas, como de lei. “Processual Civil - Ação ordinária - Contrato - SFH -
Adjudicação do imóvel extrajudicial - Inadimplência - Am-
Brasília (DF), 19 de abril de 2007 pla defesa e contraditório - Decreto lei nº 70/66 -
Ministro Francisco Falcão, Relator Constitucionalidade - Apelação improvida.

12 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10


JURISPRUDÊNCIA

1 - O regular procedimento administrativo de execu- que não há mais qualquer interesse processual para qual-
ção extrajudicial, instaurado com base no Decreto-lei 70/ quer das ações ora em julgamento” (fls. 231/232).
66, não afronta os princípios de ampla defesa e do con- Posteriormente, o Juiz Singular procedeu ao exame
traditório. da regularidade do procedimento executivo extrajudicial
2 - Consumada a alienação do imóvel, torna-se im- levado a cabo, entendendo pela higidez da referida exe-
pertinente o questionamento relativo ao reajuste e a for- cução (cf fls. 234).
ma de pagamento das prestações da casa própria (SFH), A controvérsia reside, pois, em se vislumbrar (ou não)
questão que pode ser suscitada judicialmente, porém, remanescente o interesse de agir dos mutuários que, a
antes do leilão do imóvel. despeito de regularmente avisados do trâmite da execu-
3 - É pacífico o reconhecimento da constitucionalidade ção extrajudicial do mútuo habitacional em razão de sua
do Decreto-lei nº 70/66. Precedentes do STF, STJ e TRF’s. inadimplência, decidem ajuizar ação para discutir as
4 - Recurso improvido.” clausulas do referido contrato.

Do inteiro teor do referido paradigma, merece desta- Sabe-se que o interesse processual “se
que o seguinte excerto: consubstancia na necessidade de o autor vir a juízo e na
utilidade que provimento jurisdicional poderá lhe propor-
“...inoportuno o momento para a Apelante rebelar-se cionar” (NERY JR, Nelson e NERY, Rosa Maria de
contra o alegado descumprimento do contrato pelo agen- Andrade. Código de Processo Civil Comentado. 7ª ed.
te financeiro, pois tomou conhecimento da instauração do revista e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003,
procedimento de execução extrajudicial e nada providen- p. 329).
ciou. Descabida a discussão após a adjudicação do imó-
vel.” Na hipótese em estudo, tem-se que os autores so-
mente após a conclusão do processo executivo
O acórdão ora hostilizado, todavia, entendeu persis- extrajudicial, ou seja, depois de adjudicado o imóvel, in-
tir o interesse de agir dos autores nos seguintes termos: gressaram com ação para discutir as cláusulas do contra-
“...tenho que o fato de ter sido concluído o procedi- to de financiamento habitacional.
mento de que trata o Decreto-Lei nº 70/66, ora reputado O acórdão recorrido vislumbrou a existência de inte-
constitucional, com a expedição da carta de arrematação resse de agir na medida em que, discutidas as cláusulas
em favor dos atuais proprietários do imóvel e averbação do mútuo, se verificados pagamentos efetuados a maior,
de dita carta no Cartório de Imóveis antes do ajuizamento poderiam os autores pleitear por sua repetição.
da ação principal, não elide a possibilidade dos mutuários
ingressar (sic) em juízo para discutir a regularidade do Já o julgado paradigma assere a inexistência do in-
procedimento extrajudicial levado a efeito pelo agente fi- teresse de agir da parte, visto que uma vez concluída a
nanceiro e também questionar os critérios de reajuste das execução extrajudicial do imóvel objeto do contrato de
prestações de demais encargos de financiamento, recla- mútuo habitacional, o que significa que o contrato em si
mando, inclusive, a restituição das importâncias pagas a teria sido extinto, não há por que discutir suas cláusulas.
maior” (fl. 271). Tenho que o melhor direito encontra-se no entendi-
Ocorre que a r. sentença entendera pela carência de mento sufragado pelo acórdão paradigma.
ação apenas no que se referia ao pedido de revisão de Com efeito, o imóvel financiado fora levado à execu-
cláusulas contratuais, visto que ajuizada a actio posterior- ção extrajudicial prevista pelo Decreto-lei nº 70/66 diante
mente à execução extrajudicial do bem financiado, estan- da inadimplência dos mutuários, o que se encontrava de-
do, assim, extinto o contrato, confira-se: vidamente previsto no contrato por eles firmado (cf sen-
“A Caixa Econômica Federal argüiu, preliminarmen- tença à fl. 234).
te, falta de interesse processual dos autores, pois o bem Os mutuários recorridos teriam deixado transcorrer
imóvel dado em garantia hipotecária por ocasião da ob- todo o procedimento executivo do Decreto-lei nº 70/66,
tenção do financiamento já foi arrematado em leilão públi- até o seu termo, com a adjudicação do bem a terceiro,
co por José Kijiro Tsuji. bem como com a transcrição da Carta de Arrematação no
Com razão a ré. Constata-se que o imóvel já foi arre- Registro de Imóveis, para somente aí proporem ação com
matado por José Kijiro Tsuji, que nele já residia na condi- o objetivo de discutir as cláusulas contratuais, sob a
ção de locatário, tendo sido a Carta de Arrematação presunção de que haveriam realizados pagamentos a
expedida em 18 de outubro de 1999 (fls. 104/108). maior.
Dessa forma, com a arrematação do bem, teve fim o Ora, a execução extrajudicial somente se operou em
contrato de mútuo e perdeu o objeto a cautelar, de modo função da inadimplência dos mutuários e, apesar de de-

1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 13


JURISPRUDÊNCIA

vidamente noticiados do procedimento executivo 04.08.2003, p. 317).


extrajudicial, quedaram-se inertes em se valer de ação Ocorre que o caso em tela é diferente do que ensejou
judicial para a rediscussão das cláusulas do contrato en- a manifestação desta Corte naquele sentido.
quanto ainda não consumada a execução do bem, o que,
Como já anotado, a hipótese ora em estudo trata de
segundo jurisprudência desta Corte Especial, teria até
situação em que o agente financeiro, e não o devedor,
mesmo o condão de suspender o referido procedimento
diante da inadimplência do mutuário, opta por promover a
executivo. Esse o momento propício para tal discussão,
execução extrajudicial do contrato, nos moldes do Decre-
mesmo porque passível de elidir a condição de
to-lei nº 70/66, o que, uma vez concluído tal procedimen-
inadimplência dos mutuários.
to, implica na extinção da avença antes celebrada.
Após a adjudicação do bem, com o conseqüente re-
Destaque-se, novamente, para o fato de que o deve-
gistro da carta de arrematação no Cartório de Registro de
dor, em momento algum em que se processava a execu-
Imóveis, a relação obrigacional decorrente do contrato de
ção extrajudicial, atuou no sentido de descaracterizar sua
mútuo habitacional extingue-se com a transferência do
condição de inadimplente. Ao revés, deixou que se fin-
bem, donde se conclui que perde o objeto a ação de revi-
dasse a execução extrajudicial, para somente após vir à
são de cláusulas contratuais.
Justiça alegar suposta ocorrência de “pagamentos a mai-
É certo que este STJ já manifestou entendimento no or” de sua parte, o que não se coaduna com o que de fato
sentido de que o mutuário que não mais pode arcar com sucedeu, especialmente considerando que o que desen-
o adimplemento das prestações do mútuo habitacional, cadeou o procedimento executivo extrajudicial, em primei-
tem o direito de propor ação para extinguir a avença e ro lugar, foi exatamente a inadimplência do mutuário.
reaver parte dos valores por ele já recolhidos. Sobre o
Ademais, importante salientar que o Decreto-lei nº
assunto destaco o seguinte julgado:
70/66 prevê expressamente o ressarcimento ao devedor
“Promessa de compra e venda. Extinção do contra- em caso de montante apurado pela hasta superior ao to-
to. Comprador inadimplente. tal das importâncias devidas, confira-se:
- A orientação que terminou prevalecendo na Segunda “Art. 32. Não acudindo o devedor à purgação do débi-
Seção, depois de inicial controvérsia, é no sentido de que o to, o agente fiduciário estará de pleno direito autorizado a
promissário comprador que se torna inadimplente em razão publicar editais e a efetuar no decurso dos 15 (quinze) dias
da insuportabilidade do contrato assim como pretendido exe- imediatos, o primeiro público leilão do imóvel hipotecado.
cutar pela promitente vendedora tem o direito de promover a
...
extinção da avença e de receber a restituição de parte subs-
tancial do que pagou, retendo a construtora uma parcela a § 3º Se o lance de alienação do imóvel, em qualquer
título de indenização pelo rompimento do contrato. dos dois públicos leilões, for superior ao total das impor-
tâncias referidas no caput deste artigo, a diferença afinal
- Essa quantia a ficar retida varia de caso para caso;
apurada será entregue ao devedor.”
ordinariamente tem sido estipulada entre 10% e 20%, para
cobertura das despesas com publicidade e corretagem, Nesse panorama, não há como vislumbrar o interes-
podendo ser majorada quando o imóvel vem a ser ocupa- se processual dos autores à medida que a ação por eles
do pelo comprador. Não há razão para que tudo ou quase ajuizada após o termo da execução extrajudicial, com a
tudo do que foi pago fique com a vendedora, uma vez que adjudicação do bem, em nada lhes será útil, vez que ex-
por força do desfazimento do negócio ela fica com o imó- tinto o contrato de financiamento, ficando, pois, supera-
vel, normalmente valorizado, construído também com o das as discussões a respeito de suas cláusulas.
aporte do comprador. Ante o exposto, dou provimento ao presente recurso
- Precedente. especial.

- Recurso conhecido e provido em parte” (REsp nº É como voto.


476775/MG, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de Brasília, 19 de abril de 2007

14 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10


JURISPRUDÊNCIA

EXECUÇÃO FISCAL – AGRAVO DE INSTRUMENTO – IPTU – ALIENA-


ÇÃO POR ESCRITURA PÚBLICA DECLARADA INEFICAZ – ILEGITIMI-
DADE DE PARTE PASSIVA DO AGRAVANTE (TJSP)
ACÓRDÃO tário ou então sobre o arrematante.
Agravo de Instrumento - Agravante que adquirira Pela decisão de fl. 27 foi negado o pretendido efeito
por escritura pública datada de 29.03.1989, o imóvel ativo, bem como deferido os benefícios da Justiça Gratui-
objeto da tributação do IPTU do exercício de 2005, ta.
devidamente averbada no 18º C.R., desta capital - Con- Decorreu o prazo legal para apresentação de
tudo, por sentença proferida pelo Juízo da 24ª Vara contraminuta, conforme certidão de fl. 29.
da Comarca da Capital foi declarada a ineficácia da
É o relatório.
alienação - Assim, o agravante é parte ilegítima para
figurar no pólo passivo da execução - Deram provi- O presente recurso comporta provimento.
mento ao recurso. Com efeito, o agravante demonstrou “quantum satis”
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo pelas cópias reprográficas do 18º Cartório de Registro de
de Instrumento nº 731.081-5/2-00, da Comarca de São Imóveis desta capital (fls. 14/18), que adquiriu o imóvel
paulo - Execução Fiscal, em que é agravante Manuel objeto da tributação do IPTU de José Hauy e s/m, Elizabete
Carreira Junior, sendo agravada Prefeitura Municipal de Estanqueiro Hauy, por escritura pública datada de 29 de
São Paulo. março de 1989, que por sua vez, haviam adquirido de
Paulo Bedini, também por escritura pública datada de 25
Acordam, em Décima Quinta Câmara de Direito Pú-
de novembro de 1988, as quais foram averbadas à mar-
blico do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, pro-
gem da matrícula 65.169, respectivamente, R. 7 e R. 6.
ferir a seguinte decisão: “deram provimento ao recurso, v.
u.”, de conformidade com o voto do Relator, que integra Ocorre que, por sentença proferida pelo Juízo da 24ª
este acórdão. Vara Cível da Comarca da Capital, foi declarada a ineficá-
cia das alienações objeto dos R. 06 e R. 07, da matrícula
O julgamento teve a participação dos Desembargadores
65.169.
Arthur Del Guércio (Presidente, sem voto), Rodrigo Enout
e Erbetta Filho. Nessas condições, a declaração de ineficácia das
referidas alienações retroagem às respectivas datas, ou
São Paulo, 27 de março de 2008.
seja: 29.03.1989 e 25.11.1988.
Osvaldo Capraro, Relator
A respeito do tema escreveu Pontes de Miranda:
VOTO
“Se o juiz reconhece a nulidade, desconstitui o negó-
Trata-se de agravo de instrumento tirado contra de- cio jurídico nulo: pode-se dizer que a sua sentença tem a
cisão reproduzida à fl. 24, que indeferiu a exclusão do ora força de extinguir, ex tunc, o ato jurídico, repelindo o su-
agravante do pólo passivo da execução fiscal, ao argu- porte fático gravemente deficitário; não se pode dizer que
mento de que a arrematação do imóvel ocorreu em data tem eficácia de extinguir os efeitos do negócio jurídico, ex
posterior ao fato gerador do tributo em execução. tunc. Não extingue o nada. A sentença de anulação, sim:
Insurge-se o agravante alegando que, conforme extingue, ex tunc, negócio jurídico e, pois, a eficácia que
averbação nº 09 na Certidão do Cartório de Registro de se produzia” - “In” Tratado de Direito Privado. Parte Geral,
Imóveis, foi declarado por sentença judicial, a ineficácia da Tomo 4, Atualizado por Vilson Rodrigues Alves, Editora
transmissão do bem em relação ao ora agravante, por frau- Bookseller, página 73.
de à execução. A averbação ocorreu em 2002, porém a Inegável, pois, que o agravante é parte ilegítima para
transmissão havia sido operada em 1989. (fls. 16 e verso). figurar no pólo passivo da execução, devendo ser excluído.

A execução deve recair então sobre o antigo proprie- Ante o exposto, deram provimento ao recurso.

1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 15


JURISPRUDÊNCIA

DESAPROPRIAÇÃO – IMISSÃO NA POSSE – INDENIZAÇÃO CORRES-


PONDENTE AO FUNDO DE COMÉRCIO E DE DESPESAS COM DES-
MONTE E MUDANÇA DE MAQUINÁRIO (TJSP)
ACÓRDÃO mento do efeito suspensivo requerido, vindo aos autos
Desapropriação - Imissão provisória na posse - contraminuta da agravada e informações prestadas pelo
Impugnação feita pelos expropriados no sentido de juízo monocrático.
que não teriam sido apreciados os pedidos de indeni- É o relatório.
zação relativa ao fundo de comércio, o do desmonte A desapropriação discutida nestes autos tem por
de máquinas e despesas com mudança, assim como objeto imóvel situado na Avenida Presidente Wilson, 4.832,
a realização de inspeção judicial. com frente também para a Rua Roberto Koch nº 473/471,
Prematuro o pedido de indenização relativa ao Bairro Vila Carioca, para construção da linha “2” do ME-
fundo de comércio, o qual, ainda que pertinente, será TRÔ, sendo oferecido o valor de R$ 2.312.000,00.
objeto da avaliação definitiva que se seguirá à imissão Feita avaliação prévia, o digno perito judicial apurou
provisória na posse. a quantia de R$ 7.124.707,40.
A necessidade de inspeção judicial será, nos ter- Descontentes com o valor apurado, os agravantes
mos do que foi assentado acima, definido no momen- apresentaram laudo divergente com estimativa do valor
to oportuno. do imóvel em R$ 9.750.900,00 e, ante o deferimento de
As despesas com desmonte e mudança do imissão na posse por parte da expropriante, requereram
maquinário não têm fundamento legal, ante a expres- fosse feita inspeção judicial, medida que, ainda que
sa concordância manifestada pela expropriante em tempestivamente requerida, não fora objeto de aprecia-
sua manifestação relativa ao laudo provisório - Re- ção por parte do juízo monocrático.
curso improvido. No tocante à questão referente ao fundo de comér-
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo cio, impõem-se as seguintes considerações:
de Instrumento nº 747.415-5/0-00, da Comarca de São Ensina José Carlos de Moraes Salles: “O interesse
Paulo - Fazenda Pública, em que são agravantes Roberto que o expropriado aufere do bem em vias de desapropri-
Dallal e outros, sendo agravada Companhia do Metropoli- ação é elemento vital de real valia para fixação do
tano – METRÔ. “quantum” indenizatório e, como tal, deve ser levado em
Acordam, em Sétima Câmara de Direito Público do conta pelo magistrado ao desenvolver o raciocínio lógico
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a que o orientará no estabelecimento daquele “quantum”.
seguinte decisão: “negaram provimento ao recurso, v. u.”, E prossegue:
de conformidade com o voto do Relator, que integra este
acórdão. “Seabra Fagundes, com sua inegável autoridade,
chega a afirmar que este elemento é o que “mais profun-
O julgamento teve a participação dos Desembargadores
da repercussão deve ter no estabelecimento do preço”
Walter Swensson (Presidente, sem voto), Coimbra
(Ob. Cit. 1949, p. 341).
Schmidt e Nogueira Diefenthaler.
Efetivamente, se o ressarcimento devido ao expro-
São Paulo, 10 de março de 2008.
priado deve corresponder à quantia que preencha, em seu
Constança Gonzaga, Relatora. patrimônio, o vazio deixado pelo desfalque sofrido com a
VOTO desapropriação, é de evidência cristalina a valia desse
Insurgem-se os agravantes contra a r. decisão pro- elemento no momento em que o juiz passa a aplicar seu
ferida em ação de desapropriação, por meio da qual não intelecto no difícil e árduo trabalho de estabelecer as co-
teriam sido apreciados os pedidos de indenização relati- ordenadas que irão levá-lo à fixação do justo preço.
va ao fundo de comércio, o desmonte de máquinas e des- Suponha-se, por exemplo, a situação de expropria-
pesas de mudança apresentados em contestação; e mais, do que explore no imóvel objeto da desapropriação, ativi-
não teria sido apreciado o pedido de realização de inspe- dade comercial. Nesse caso, atingido seu patrimônio pela
ção judicial efetuado a fls. 124/130 dos autos principais e, expropriação, o desfalque correspondentemente não será
por isso, conseqüentemente, o valor apurado pelo perito apenas o bem desapropriado, mas também o relativo aos
judicial estaria aquém do justo preço. prejuízos que afetarem aquela atividade sobre o fundo de
O recurso foi regularmente processado, com deferi- comércio”.

16 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10


JURISPRUDÊNCIA

Depois, citando arestos dos Egrégios Tribunais de priado, sem a necessidade do pagamento prévio e inte-
Alçada de São Paulo, conclui: gral (negritus nosso) da indenização, eis que tal providên-
cia só se aplica no caso de indenização final que precede
“Observa-se, portanto, que o referido Tribunal paulista
a transferência definitiva do domínio” (STF-RT 747/191).
considerou válido o estabelecimento de indenização pe-
las perdas e danos e lucros cessantes, no feito A necessidade de inspeção judicial, nesse caso, de-
expropriatório, desde que devidamente comprovados no verá ser analisada em fase oportuna, quando da realiza-
curso da ação” (Ob. Cit. “A Desapropriação à Luz da Dou- ção da perícia definitiva do bem e não neste momento,
trina e Jurisprudência”, págs. 517/519, 5ª ed.). como querem os expropriados.

Assim sendo, ainda que subsistente a inclusão no Quanto às despesas com desmonte do maquinário
valor da indenização a ser paga aos expropriados do cor- e, conseqüentemente, daquelas necessárias à mudança
desse maquinário, como expressamente admitido pela
respondente ao fundo de comércio, não é no momento da
expropriante em sua manifestação acerca do laudo provi-
imissão provisória na posse que deve ser aferido o res-
sório (fls. 209 vº), deverão ser feitas às suas expensas,
pectivo montante.
não prosperando, por isso, também quanto a este tópico,
Nesse sentido: o inconformismo dos agravantes.
“É constitucional o disposto no artigo 15 do Dec.-Lei Destarte, pelo meu voto, nego provimento ao recur-
3.365/41, que admite, em casos de urgência, a imissão so, para que seja dado regular cumprimento ao mandado
provisória na posse pelo poder público no imóvel expro- de imissão na posse.

LOCAÇÃO EM SHOPPING CENTER – CONTRATO VINCULADO A


COMODATO DE ESPAÇOS NA ÁREA INTERNA DO SHOPPING – NOTI-
FICAÇÃO PARA DESOCUPAÇÃO NÃO ATENDIDA – POSSE PRECÁRIA
– REINTEGRAÇÃO DEVIDA (TJSP)
Apelação com Revisão nº 729.364-0/8 - Comarca de o relatório e o voto do relator, que ficam fazendo parte
São Paulo - 25ª Vara Cível - Processo nº 509.692/00 - integrante deste julgado, nesta data, deram provimento
Turma Julgadora da 34ª Câmara - Relator: Des. Gomes parcial ao recurso, por votação unânime.
Varjão Revisor: Des. Irineu Pedrotti - 3º Juiz: Des. Nestor Gomes Varjão, Relator.
Duarte - Juiz Presidente: Des. Gomes Varjão - Data do
julgamento: 16.04.2008 - Apelante: Souza Cruz S/A - Ape- VOTO
ladas: Maria Rosimeire de Aguiar e Maria Rosemeire de A r. sentença de fls. 118/120, cujo relatório se adota,
Aguiar Tabacaria ME julgou improcedente ação de reintegração de posse c.c
Estando o contrato de locação dos quiosques vin- cobrança, revogando a liminar anteriormente concedida
culado ao comodato dos espaços na área interna do e condenando a autora ao pagamento de custas, despe-
shopping center, e tendo a apelada desatendido à no- sas processuais e honorários advocatícios fixados em 20%
tificação para desocupá-los, sua posse tornou-se pre- sobre o valor da causa.
cária, autorizando a utilização da reintegração. Hipó- Apela a autora (fls. 124/132). Alega que há uma rela-
tese em que a própria apelante, na condição de loca- ção contratual entre ela e a administradora do Shopping
dora, não tinha mais direitos sobre os espaços, dado Paulista, MPK Administração e Serviços S/C Ltda., por
o término do contrato de cessão de uso firmado entre meio da qual foram cedidos, pela primeira à segunda, a
ela e a administradora do shopping. título oneroso, dois espaços comerciais. Afirma que tal
Não tendo a apelante se desincumbido de com- relação não se confunde com aquelas mantidas com a
provar que os pagamentos não eram comumente rea- apelada, quais sejam, o comodato verbal dos espaços e
lizados por meio de depósito bancário, não há que se a locação dos quiosques, cuja reintegração se requer.
cogitar de inadimplência da apelada. Assevera que, de acordo com a cláusula oitava do con-
trato de locação, esta estava condicionada ao comodato
Recurso parcialmente provido. que, por sua vez, estava condicionado ao contrato de ces-
Vistos, relatados e discutidos estes autos, os são de direito de uso de espaços firmado com a MPK.
desembargadores desta turma julgadora da Seção de Di- Aduz estarem presentes os requisitos dos arts. 926 e se-
reito Privado do Tribunal de Justiça, de conformidade com guintes do CPC e que há prova do esbulho, consistente

1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 17


JURISPRUDÊNCIA

na notificação enviada em 10 de novembro de 1999. Sus- cientemente. Assim, tendo desatendido à notificação para
tenta que a apelada deixou de pagar os aluguéis vencidos desocupar os espaços acima descritos, sua posse tor-
em dezembro de 1999 e janeiro de 2000, infringindo a nou-se precária, autorizando a utilização da ação de rein-
cláusula 7ª do contrato que prevê que, em caso de mora, tegração (fls. 29/30). Ressalte-se, a esse respeito, que a
é possível promover a reintegração de posse e cobrar a apelada se comprometeu a desocupar os espaços antes
multa de 20%. Por isso, requer a reforma da r. sentença. de decorrido o prazo de trinta dias previsto na cláusula 2,
Recurso contrariado (fls. 139/146). § 1º do contrato de locação, caso tal conduta fosse ne-
cessária para que a Souza Cruz S/A cumprisse suas obri-
É o relatório.
gações perante o Shopping Paulista (fls. 20, cláusula 2, §
A recorrente firmou com MPK Administração e Ser- 2º).
viços Ltda. contrato de cessão de uso de espaços das
E não poderia ser de outro modo, uma vez que a
áreas comuns do Shopping Paulista e do West Plaza, para
própria apelante já não tinha mais direitos sobre os espa-
viger no período compreendido entre 1º de abril de 1998 e
ços, dado o término do contrato de cessão de uso firma-
31 de março de 1999. Por meio do referido instrumento,
do com a MPK Administração e Serviços S/C Ltda. Tanto
assumiu a obrigação de pagamento de R$ 127.944,00
assim é que a recorrente também foi intimada para
(cento e vinte e sete mil, novecentos e quarenta e quatro
desocupá-los, sob pena de pagamento de multa diária (fls.
reais), como remuneração pela possibilidade de divulgar
26/27).
sua marca e comercializar seus produtos dentro dos es-
paços internos dos shoppings supramencionados (fls. 24/ A cobrança das prestações vencidas em dezembro
25). de 1999 e janeiro de 2000 não merece prosperar. Foram
juntados aos autos os comprovantes de depósito bancá-
Por outro lado, a apelante também firmou com Maria
rio relativos a tais parcelas (fls. 108). E o contrato ressal-
Rosemeire de Aguiar Tabacaria ME um contrato de loca-
va expressamente a possibilidade de pagamento dos alu-
ção de dois quiosques, com 2,3 metros quadrados, loca-
guéis mediante depósito em conta bancária (fls. 21; cláu-
lizados no Shopping Paulista, e previsto para viger no pe-
sula 6, parágrafo único). Assim, não tendo a apelante se
ríodo de 1º de abril de 1998 a 31 de março de 1999 (fls.
desincumbido de comprovar que o pagamento era realiza-
20/23). Por meio de tal contrato, a apelada se obrigou ao
do de outra forma, não há que se cogitar de inadimplência.
pagamento da quantia de R$ 866,00 (oitocentos e ses-
senta e seis reais) mensais (fls. 21; cláusula 6). Compro- Por fim, o contrato previa que o pagamento deveria
meteu-se, ainda, a proceder à venda e veiculação de ser feito todo dia 05 do mês seguinte ao vencido (cláusula
merchandising de produtos da apelante, com exclusivida- 6; fls. 21). O depósito referente a dezembro de 1999 foi
de (fls. 21; cláusula 4). realizado no dia 6, uma vez que o dia anterior era um
domingo, estando, portanto, correto. Já os encargos da
A recorrente afirma, em sua petição inicial, que o
mora deverão incidir sobre o pagamento relativo ao mês
contrato de locação dos quiosques está vinculado a um
de janeiro de 2000, que só foi feito no dia 10 (fls. 108, doc.
contrato verbal de comodato, que tem por objeto o uso
2).
dos espaços na área interior e comum do shopping. O
comodato, por sua vez, só teria vigência enquanto tam- Ante o exposto, julgo parcialmente procedente a ação
bém estivesse em vigor o contrato de cessão de uso fir- para reintegrar a autora na posse dos quiosques locados,
mado entre ela e a MPK Administração e Serviços S/C bem como para condenar a apelada ao pagamento da
Ltda. Fundamenta sua pretensão no artigo 8º do contrato multa de 20% sobre a quantia de R$ 866,00 (oitocentos e
de locação dos quiosques, o qual estabelece que “o pre- sessenta e seis reais), corrigida monetariamente de acor-
sente contrato está vinculado ao contrato de comodato, do com a Tabela Prática do Tribunal de Justiça e acresci-
firmado entre as partes, tendo por objeto o espaço onde da de juros de 1% ao mês, ambos contados a partir do
se encontra instalado o móvel ora locado”. Em resumo, vencimento, qual seja, o dia 05 de janeiro de 2000. Dada
as partes teriam realizado dois contratos: um verbal, rela- a sucumbência mínima da apelante, condeno a apelada
tivo ao comodato do espaço; e outro escrito, referente à ao pagamento das custas, despesas processuais e hono-
locação dos quiosques. rários advocatícios fixados em R$ 600,00 (seiscentos re-
ais), com fundamento no artigo 20, § 4º do Código de Pro-
Depreende-se, portanto, que a apelada tinha plena
cesso Civil.
ciência da vinculação do contrato de locação dos quios-
ques com o comodato, tanto que a ela anuiu livre e cons- É meu voto.

18 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10


JURISPRUDÊNCIA

DESPESAS CONDOMINIAIS – LOJA TÉRREA – DESPESAS COMUNS –


CRITÉRIO DE RATEIO EXPRESSO NA CONVENÇÃO (STJ)
Recurso Especial nº 763.607 - SP (2005/0099976-4) vos), corrigidos monetariamente desde a citação. Opos-
Relator: Ministro Jorge Scartezzini tos embargos de declaração, estes foram rejeitados.

Recorrente: Francisco Xavier Piccolotto Naccarato e As partes apelaram. O autor, pleiteando a inclusão
outro na condenação das parcelas vincendas, com base no ar-
tigo 290 do Código de Processo Civil. E os réus, por sua
Recorrido: Condomínio Edifício Center Plaza vez, visando a anulação do decisum monocrático, por
EMENTA cerceamento de defesa. A colenda Nona Câmara do Tri-
Recurso Especial - Ação de cobrança - Taxas bunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo deu parcial
condominiais - Critério de rateio expresso na conven- provimento ao recurso do autor e negou o apelo dos réus,
ção - Conformidade com a Lei 4.591/64 - Validade - nos termos da seguinte ementa:
Recurso não conhecido. “Cobrança – Despesas de condomínio – Reforma de
1 - A teor da jurisprudência desta Corte, havendo elevadores – Contradição acerca de provas – Falta de
disposição expressa na Convenção Condominial a res- suma da contestação – Nulidades não caracterizadas –
peito do critério de rateio das despesas comuns, em Preliminar rejeitada – Responsabilidade pelas despesas
conformidade com o disposto no artigo 12, § 1º, da – Reconhecimento – Pavimentos de estacionamentos que
Lei 4.591/64, aquela deve ser observada. são unidades condominiais – Mantida a r. sentença, mas
com a inclusão das prestações vincendas, por força do
2 - Recurso não conhecido. art. 290 do CPC – Negado provimento ao recurso e provi-
ACÓRDÃO do, em parte, o recurso do autor.” (fl. 182).
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam No presente Recurso Especial, interposto com fun-
os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal damento exclusivo na alínea “a” do permissivo constituci-
de Justiça, na conformidade dos votos e das notas onal, sustenta-se que, tendo sido solicitada a produção
taquigráficas a seguir, por unanimidade, em não conhe- de provas a respeito da completa ausência de utilidade
cer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, dos elevadores para os pavimentos onde se situam as
com quem votaram os Srs. Ministros César Asfor Rocha garagens de propriedade dos recorrentes e, por conse-
e Aldir Passarinho Júnior. guinte, de inviabilidade da cobrança, não poderia a ins-
Brasília, DF, 16 de fevereiro de 2006. tância ordinária julgar antecipadamente a lide – indeferin-
do as provas requeridas – para acolher a pretensão. As-
Ministro Jorge Scartezzini , Relator
sim, aduzem, para tanto, violação aos artigos 130, 330, I,
RELATÓRIO e 332, todos do Código de Processo Civil.
O Exmo. Sr. Ministro Jorge Scartezzini (Relator): In- Contra-razões apresentadas às fls. 244/253.
fere-se dos autos que Condomínio Edifício Center Plaza
Inadmitido o recurso pelo Tribunal de origem, foi in-
ajuizou Ação de Cobrança, em desfavor de Francisco
terposto, então, agravo de instrumento, que, por sua vez,
Xavier Piccolotto Naccarato e José Paulo Piccolotto restou provido para determinar a subida dos autos para
Naccarato, objetivando o pagamento pelos réus – propri-
essa Corte, vindo-me conclusos.
etários do 4º, 5º, 6º e 7º pavimento – das despesas de
É o relatório.
reforma dos elevadores vencidas e não pagas, relaciona-
VOTO
das ao período compreendido entre abril/1999 a feverei-
ro/2000. O Exmo. Sr. Ministro Jorge Scartezzini (Relator):
Senhores Ministros, como relatado, insurgem-se os re-
Em contestação, os réus alegaram que os elevado- correntes, com fundamento na alínea “a” do permissivo
res objeto de reforma não lhes ofereciam nenhuma utili- constitucional, alegando, em síntese, cerceamento de
dade, porquanto sem comunicação com os pavimentos defesa no indeferimento, pelas instâncias ordinárias, de
onde se situam as respectivas garagens. Ao final, reque- produção de provas a respeito da completa ausência de
reram a produção de prova testemunhal e pericial. utilidade dos elevadores para os pavimentos onde se si-
O douto juízo de primeiro grau, julgando antecipada- tuam as garagens de propriedade dos recorrentes e, por
mente a lide, acolheu o pedido, condenando os réus a conseguinte, de inviabilidade da cobrança. Em razão dis-
pagarem a quantia correspondente a R$ 7.933,19 (sete so, aduzem violação aos artigos 130, 330, I, e 332, todos
mil, novecentos e trinta e três reais, e dezenove centa- do CPC, que rezam respectivamente, verbis:

1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 19


JURISPRUDÊNCIA

“Art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento ficar esclarecido que as vagas nas garagens coletivas não
da parte, determinar as provas necessárias à instrução poderão ser alienadas, por não se constituírem unidade
do processo, indeferindo as diligências inúteis ou mera- autônoma, salvo os casos de alienação juntamente com
mente protelatórias. a unidade autônoma. Já no tocante às garagens dos pavi-
Art. 330. O juiz conhecerá diretamente do pedido, mentos 4º ao 7º, contrariamente, a convenção, no art. 50,
proferindo sentença: estabeleceu que poderão ser elas alienadas independen-
temente de o adquirente ser condômino, em evidente clas-
I – quando a questão de mérito for unicamente de sificação dos estacionamentos do 4º ao 7º pavimentos
direito, ou, sendo de direito e de fato, não houver necessi- como unidades autônomas.” (fls. 184/185)
dade de produzir prova em audiência.
Assim, posta a questão nestes termos, correta a
Art. 332. Todos os meios legais, bem como os moral- responsabilização dos ora recorrentes pelas despesas em
mente legítimos, ainda que não especificados neste Có- questão, porquanto em conformidade com a jurisprudên-
digo, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que cia desta Corte. A propósito:
se funda a ação ou a defesa.”
“Condomínio. Loja térrea com acesso independente.
O recurso não merece prosperar. Cotas condominiais. Critério de rateio expresso na con-
Com efeito, inicialmente importa salientar que, para venção de condomínio. Validade.
se apreciar a conveniência ou não no indeferimento de - Havendo disposição expressa na convenção de
provas pelas instâncias ordinárias, seria necessário a in- condomínio, estabelecendo o critério de rateio dos encar-
cursão na seara fática, o que é inviável em sede de Re- gos condominiais ordinários, prescindível é que haja ou-
curso Especial (Súmula 07/STJ). tra regra específica obrigando o proprietário da loja térrea
De outro lado, tal circunstância não assume relevo a arcar com essas despesas.
quando a jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido Recurso especial conhecido, mas improvido.” (REsp
de que, havendo disposição expressa na Convenção 537.116/RS, Rel. Min. BARROS MONTEIRO, DJ de 05/
Condominial a respeito do critério de rateio das despesas 12/05)
comuns, em conformidade com o disposto no artigo 12, §
1º, da Lei 4.591/64, aquela deve ser observada. “Civil. Condomínio. Convenção aprovada e não re-
gistrada. Obrigatoriedade para os condôminos. Preceden-
Ao que se extrai dos autos, o Tribunal local, tratando tes. Loja autônoma. Despesas comuns. Critério de rateio
do assunto, ressaltou que houve fixação, pela convenção expresso na convenção, conforme art. 12, § 1º, lei 4.591/
condominial, da responsabilidade de todos os condôminos 64. Validade. recurso não conhecido.
pelas despesas dos elevadores, inclusive de reforma, vale
dizer, não houve qualquer isenção quanto a tais encargos I – A convenção de condomínio aprovada e não re-
em favor das unidades pertencentes aos recorrentes. gistrada tem validade para regular as relações entre as
Nesse particular, disse o acórdão hostilizado, verbis: partes, não podendo o condômino, por esse fundamento,
recusar-se ao seu cumprimento.
“No caso, consoante a documentação existente nos
autos, devem os réus responder pelo pagamento dos va- II – É livre a estipulação do critério de rateio das des-
lores cobrados. pesas comuns, pela convenção de condomínio, nos ter-
mos do art. 12 da Lei 4.591/64.
(...) da leitura da convenção condominial, não se vê
III – A verificação da aprovação ou não da conven-
a exclusão da responsabilidade propugnada pelos réus.
ção pelo mínimo de dois terços dos condôminos implica
Os elevadores pertencem ao edifício. A manutenção do
em reexame de provas, vedado a esta instância, nos ter-
prédio, sobretudo do topo exige a utilização dos elevado-
mos do enunciado nº 7 da súmula/STJ.
res. No 18º pavimento, encontra-se a caixa d’água, que
serve a todos, inclusive os proprietários dos estaciona- IV – A simples transcrição de ementas não é sufici-
mentos do 4º ao 7º pavimentos. Todos os condôminos ente para a caracterização da divergência jurisprudencial.”
devem contribuir para as despesas dos elevadores, inclu- (Resp 128.418/RJ, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira,
sive de reforma. Aliás, como proprietários dos 4º ao 7º DJ de 13/09/99)
pavimentos, incabível qualquer cogitação de que não se- “Civil – Unidade condominial não sujeita às taxas
riam condôminos. A indicação de unidades autônomas cer- gerais.
tamente inclui os proprietários dos estacionamentos. Não I – A jurisprudência e a doutrina firma entendimento
há outra possibilidade de se entender o preceituado no no sentido de que a unidade condominial com acesso di-
art. 41 da Convenção. reto à via pública não está sujeita às taxas gerais atinentes
Importante ver que houve necessidade de, no art. 46, aos demais apartamentos, salvo se a convenção dispõe

20 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10


JURISPRUDÊNCIA

em contrário. utilidade lhes prestam. Está neste caso o proprietário de


II – Recurso conhecido e provido. (Resp 61.141/GO, loja no rés-do-chão, e com saída livre, quanto às despe-
Rel. Min. WALDEMAR ZVEITER, DJ de 04/11/96) sas de manutenção de elevadores. Está neste caso aquele
que é proprietário de apartamento sem direito a garagem,
Aliás, a doutrina não destoa do entendimento ora
quanto às despesas com esta. E, assim em diante, em
apresentado, senão vejamos, verbis:
outras hipóteses análogas. Mas é evidente que prevale-
“Cada proprietário de apartamento só está obrigado, ce, e obriga, a disposição em contrário, inserta na con-
em princípio, a concorrer, na proporção de sua parte, nas venção de condomínio. Está, ainda, o condômino, mes-
despesas do edifício que estejam discriminadamente apro- mo nesses casos, sujeito às despesas necessárias à con-
vadas em assembléia geral. servação e segurança do edifício.” (in “Caio Mário da Sil-
E não há solidariedade entre os condôminos. Daí os va Pereira”, Condomínio e Incorporações, 10ª ed., Edito-
fornecimentos feitos ao edifício só poderem ser cobrados ra Forense, p. 143/144)
à sua administração, respondendo cada condômino pela Não vislumbro, pois, a aludida violação infraconsti-
quota-parte que lhe tocar na composição da despesa co- tucional.
mum.
Ante o exposto, não conheço do recurso.
Cumpre, entretanto, observar que não se podem atri-
buir os ônus de tais despesas a comunheiros que nada É como voto.
têm, direta ou indiretamente, com serviços que nenhuma Brasília, 16 de fevereiro de 2006

LOCAÇÃO – MULTA POR INFRAÇÃO CONTRATUAL – ALEGADO EX-


CESSO INOCORRENTE – PROPORCIONALIZAÇÃO; COBRANÇA – PA-
GAMENTO DO PRINCIPAL ACRESCIDO DE MULTA E JUROS INCIDEN-
TES SOBRE O VALOR CORRIGIDO – ADMISSIBILIDADE (TJSP)
Apelação com Revisão nº 779.860-0/7 - Comarca de VOTO
São Paulo - 10ª Vara Cível - Processo nº 82.600/99 - Tur- Visto.
ma Julgadora da 31ª Câmara - Relator: Des. Antonio Rigolin
Trata-se de ação de cobrança proposta por Roberto
- Revisor: Des. Armando Toledo - Data do julgamento:
de Mamede Costa Leite em face de Roberto Cintra de
01.04.2008 - Apelantes: Roberto Cintra de Oliveira e s/m
Oliveira Filho, Roberto Cintra de Oliveira e sua mulher
Maria Helena Cintra de Oliveira e Roberto Cintra de Olivei-
Maria Helena Cintra de Oliveira.
ra Filho - Apelado: Roberto de Mamede Costa Leite
A r. sentença, cujo relatório se adota, julgou proce-
ACÓRDÃO dente o pedido, condenando os réus ao pagamento do
Locação. Ação de cobrança. Multa por infração valor reclamado no aditamento apresentado, devidamen-
contratual. Proporcionalização feita. Alegação de ex- te corrigido e acrescido de juros de mora, além das ver-
cesso rejeitada. Procedência reconhecida. Recurso bas sucumbenciais.
improvido. Inconformados, apelam os vencidos alegando a ocor-
Locação. Aluguel e encargos. Ação de cobrança. rência de cerceamento de defesa, uma vez que ficaram
Condenação ao pagamento do principal, multa e ju- impossibilitados de produzir provas. Além disso, pleiteiam
ros. Forma de cálculo. Incidência dos juros sobre o a reforma da sentença afirmando que há cobrança ex-
valor do principal corrigido e da multa. Recurso pro- cessiva de correção monetária e juros, incidindo em “bis
vido. in idem”, além de aplicar multa diversa da pactuada. Di-
zem, também, que a multa relativa à rescisão contratual
Vistos, relatados e discutidos estes autos, os
deve ser reduzida a dois alugueres, pois houve cumpri-
desembargadores desta turma julgadora da Seção de Di-
mento parcial do contrato. Por fim, pleiteiam a redução do
reito Privado do Tribunal de Justiça, de conformidade com
valor da verba honorária para 10%.
o relatório e o voto do relator, que ficam fazendo parte
integrante deste julgado, nesta data, negaram provimen- Recurso tempestivo e bem processado, oportuna-
to ao recurso, por votação unânime. mente preparado e respondido.
Antonio Rigolin, Relator. É o relatório.

1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 21


JURISPRUDÊNCIA

2. Em sua petição inicial, afirmou o autor que a loca- em mora também com relação à cláusula penal, que era
ção foi contratada pelo prazo de trinta meses e teve início exigível desde logo.
em 1º de janeiro de 1998. Entretanto, em 21 de dezembro Ora, verificado o inadimplemento de ambas as obri-
do mesmo ano, estando o locatário a dever aluguéis e gações pecuniárias, sobre os respectivos valores devem
encargos e já proposta a ação de despejo, acabou ele por ser computados os juros de mora de 1% ao mês, nos
desocupar o imóvel. precisos termos do artigo 1.064 do Código Civil de 1916
Como deixou de atender ao pagamento de obriga- (art. 407 do atual).
ções e da multa por infração contratual, pleiteou o autor a Bem é de ver, ademais, que a correção monetária
condenação respectiva. nada acrescenta ou tira, apenas mantém o valor da dívi-
Desde logo, impõe-se observar que a restituição das da, de modo a afastar os efeitos da inflação. Traduz, en-
chaves se deu depois de praticamente concluído o perío- fim, o mesmo valor, e por assim ser, é evidente que a
do de doze meses, o que determina o reconhecimento de base de cálculo da multa e dos juros só pode ser o mon-
que houve parcial cumprimento do contrato, determinan- tante corrigido. Pensar de modo diverso seria admitir in-
do a redução proporcional do valor da multa fixada na clá- justo locupletamento, pois deveria o credor obter a exata
usula 11ª do contrato, nos termos do artigo 4º da Lei nº satisfação do seu direito.
8.245/91. Simples análise do demonstrativo apresentado pelo
Entretanto, verifica-se que o valor pleiteado é de R$ credor permite reconhecer que o critério adotado foi exa-
2.561,99, que é exatamente proporcional ao período res- tamente esse, não havendo razão para falar em excesso
tante da locação, ou seja, dezoito meses. Portanto, o lo- de cobrança. Não existe, como claramente se percebe,
cador cobra valor em estrita conformidade com os termos uma situação de bis in idem, como afirmam os apelantes,
do mencionado dispositivo legal, não havendo qualquer pois são verbas distintas incidindo em virtude de previsão
lesão ao direito dos apelantes. legal e contratual.
Superado esse ponto, verifica-se que os apelantes Diante dessas evidências, não há razão para falar
não questionam a existência da dívida, discutindo apenas em cerceamento de defesa, uma vez que se mostrava
os encargos pretendidos. desnecessário qualquer outro complemento probatório
De acordo com o contrato, em caso de inadimplência, (art. 330, I, do CPC). A verificação do conteúdo do de-
são devidos os juros de 1% ao mês e multa de 20%, afora monstrativo não depende de conhecimento técnico espe-
a correção monetária. cializado, de modo que não se justifica a pretendida reali-
A incidência da multa ocorre em virtude da zação de prova pericial, de todo desnecessária (art. 420,
inadimplência, como forma de reparar os danos daí decor- parágrafo único, inciso I, do CPC).
rentes. Por se tratar de cláusula penal moratória, a sua Aliás, tinham os apelantes o ônus de apresentar de-
aplicação é cumulativa. Bem observa Orlando Gomes que, monstrativo com a precisa indicação de suas eventuais
“além do cumprimento da obrigação principal, tem o credor divergências a respeito da forma de calcular as verbas, o
o arbítrio de exigir do devedor que também lhe pague a que deveria ser apresentado com a contestação, e não
indenização prefixada na cláusula. Há, portanto, acrésci- ocorreu.
mo no seu direito de crédito, não tendo a indenização cará- Quanto aos honorários advocatícios, apresenta-se
ter substitutivo, mas, simplesmente, complementar”(1). perfeitamente razoável e adequado o arbitramento efetu-
Assim, no caso em exame, configurada a mora do ado, não existindo razão para acolher o pleito de redução.
devedor nos respectivos vencimentos das prestações (art. Vale destacar que o montante de 15% sobre o débito é
1.056 do Código Civil de 1916, art. 389 do atual), nesse perfeitamente condizente com o trabalho desenvolvido e
momento nasceu a obrigação de efetuar o pagamento da até mesmo com a atuação na via recursal, guardando ple-
multa moratória respectiva. Isto é, o valor do principal pas- na conformidade com o artigo 20, § 3º, do CPC.
sou a ser acrescido do percentual relativo à indenização Enfim, não comporta acolhimento o inconformismo,
dos prejuízos decorrentes do inadimplemento culposo. portanto, devendo prevalecer a solução determinada pela
Desse modo, o cálculo deve compreender a r. sentença.
somatória do valor do principal e da respectiva indeniza-
3. Ante o exposto, nego provimento ao recurso.
ção, que já deveriam ter sido pagos no dia imediatamente
seguinte ao do vencimento. Por isso, incorreu o devedor (1) “Obrigações”, nº 187, p. 189, Forense.

22 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10


JURISPRUDÊNCIA
JURISPR CART
UDÊNCIA CARTORÁRIA
REGISTRO DE IMÓVEIS – ESCRITURA DE COMPRA E VENDA – VEN-
DEDORES ESTRANGEIROS CUJO PARADEIRO É IGNORADO – FALTA
DE INDICAÇÃO DOS NÚMEROS DO CPF DOS VENDEDORES A NÃO
PREJUDICAR O REGISTRO (CSM/SP)
ACÓRDÃO Campo e manteve sua recusa quanto ao registro de es-
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apela- critura de venda e compra referente ao imóvel da matrí-
ção Cível nº 860-6/6, da Comarca de São Bernardo do cula nº 80.779, sob o fundamento de que dela não cons-
Campo, em que são apelantes Luiz Paulo Daltrino e taram os números de inscrição dos outorgantes-vende-
Lourdes Galhardi Daltrino e apelado o 1º Oficial de Regis- dores no Cadastro de Pessoas Físicas - CPF.
tro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Sustentam os apelantes, outorgados-compradores,
Jurídica da mesma Comarca. que os vendedores são estrangeiros, não residentes no
Acordam os Desembargadores do Conselho Superi- Brasil, os quais se encontram em local incerto e não sabi-
or da Magistratura, por votação unânime, em dar provi- do. Afirmam que o negócio, na verdade, foi celebrado em
mento ao recurso, de conformidade com os votos do 1993, por instrumento particular juntado aos autos, sendo
Desembargador Relator e do Desembargador Revisor que que o registro do formal de partilha a favor dos vendedo-
ficam fazendo parte integrante do presente julgado. res só sobreveio em 1998, tudo, de qualquer forma, antes
do advento de normatização sobre a inscrição no CPF.
Participaram do julgamento, com votos vencedores,
Salientam a plena regularidade da aquisição, a impossibi-
os Desembargadores Roberto Vallim Bellocchi, Presiden-
lidade de localizar os alienantes e o grave prejuízo em
te do Tribunal de Justiça e Jarbas Mazzoni, Vice-Presi-
perspectiva (fls. 52/55).
dente do Tribunal de Justiça.
O Ministério Público, em derradeira manifestação,
São Paulo, 08 de julho de 2008
opina pela manutenção da recusa e da sentença, por seus
Ruy Camilo, Corregedor Geral da Justiça e Relator fundamentos (fls. 61/63).
VOTO É o relatório.
Registro de Imóveis. Dúvida. Escritura pública de As peculiaridades da hipótese concreta estão a re-
venda e compra. Casal de estrangeiros como vende- velar que o acesso almejado não representa ameaça ao
dores, hoje em lugar incerto e não sabido, que rece- sistema.
beram o imóvel em inventário, com formal de partilha
De se notar que o imóvel está devidamente matricu-
registrado em 1998, qualificados no R.1 da matrícula.
lado, encontrando-se os ora alienantes nomeados e qua-
Qualificação idêntica à constante da escritura,
lificados no derradeiro registro, sendo certo que não se
notadamente quanto a nomes, profissões, estado ci-
discute, aqui, a possibilidade, ou não, de seu ingresso no
vil e números de documentos de identidade. Falta dos
fólio real como sujeitos de direito, mesmo porque ali já
números de inscrição dos vendedores no CPF. Situa-
figuram. Cogita-se, isto sim, de transmissão que fazem
ção tabular anterior ao advento de normas imperati-
(de modo a serem excluídos do álbum) aos recorrentes,
vas a respeito. Cabimento do registro postulado, da-
por venda.
das as peculiaridades do caso, como corolário dos
princípios da especialidade pessoal e da continuida- Deveras, já existe na matrícula (fls. 72) registro váli-
de. Recurso provido. do em nome dos vendedores (R.1), efetuado em 20 de
julho de 1998, com seus dados de qualificação, referente
Cuida-se de apelação interposta por Luiz Paulo
ao ingresso do formal de partilha oriundo do inventário de
Daltrino e sua mulher Lourdes Galhardi Daltrino contra
sentença que julgou procedente a dúvida suscitada pelo José Ramiro Cao Hermida.
1º Oficial de Registro de Imóveis de São Bernardo do Tal registro precedeu o advento de normas

1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 23


JURISPRUDÊNCIA CARTORÁRIA

impositivas referentes à inscrição no Cadastro de Pesso- zenda.


as Físicas CPF (Dec. 3.000/99, Instrução Normativa 461/ Alegam os recorrentes, outorgados-compradores,
04 e Dec. nº 4.166/02) e foi realizado na vigência do art. que os vendedores são estrangeiros, que não residem no
176, § 1º, III, 2, a, da Lei nº 6.015/73, que perdura. De se país e que se encontram em local incerto e não sabido.
observar, neste diapasão, que há plena coincidência en- Asseveram que o negócio, verdadeiramente, foi celebra-
tre os dados de qualificação pessoal constantes do regis- do em 1993, por instrumento particular juntado aos autos,
tro citado e os consignados na escritura de venda e com- sendo que o registro do formal de partilha a favor dos ven-
pra apresentada, tais como nomes, profissões, números dedores só aconteceu em 1998, tudo, de qualquer modo,
de documentos de identidade e estado civil. antes do surgimento da normatização sobre a inscrição
Assim, sob a égide dos princípios da especialidade no CPF/MF. Destacam a cabal regularidade da aquisição,
pessoal, com identificação segura dos alienantes, e da a dificuldade de localizar os alienantes e a séria probabili-
continuidade, uma vez que figuram em registro lançado dade de prejuízo.
na matrícula, achando-se tabularmente legitimados para A Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo não pro-
transferir o imóvel no âmbito de cadeia dominial, exsurge vimento do recurso.
a viabilidade do ato registrário postulado.
É a síntese do necessário.
Confira-se, nesse rumo, o escólio de Afrânio de Car-
As particularidades do caso sub examem estão a in-
valho: A seqüência natural é a indagação da identidade
dicar que o pretendido ingresso ao registro, não repre-
das partes e do imóvel constantes do título submetido ao
senta ameaça ao sistema.
registro. Há que verificar se esses dois elementos da re-
lação jurídica, pessoal e real, se acham precisamente in- Por proêmio, nota-se que, na matrícula anterior, há
dicados no título e coincidem com os consignados no elementos suficientes que identificam e qualificam os
registro. Acompanhando a ordem lógica deles, atende- alienantes, não se podendo discutir, neste momento, a
se em primeiro lugar à identidade das partes, a fim de possibilidade, ou não, de sua admissão no fólio real como
se chegar logo à certeza sobre o sujeito do direito, sem sujeitos de direito, pois nele já figuram.
a qual não é curial prosseguir, sendo, portanto, elimi- Realmente, já existe na referida matrícula, registro
natórias estas duas verificações: a) identidade das par- válido em nome dos vendedores. Este registro ocorreu
tes nomeadas no título com as pessoas a quem os no- antes do advento das normas imperativas referentes à
mes pertencem; b) identidade da parte disponente do di- inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas CPF (Decreto
reito com a pessoa inscrita no livro como titular dele (Re- nº 3.000/1999, Instrução Normativa nº 461/2004 e Decre-
gistro de Imóveis, 4ª edição, Forense, Rio de Janeiro, 1998, to nº 4.166/2002) e foi efetuado na vigência do artigo 176,
pág. 243). § 1º, III, 2, a, da Lei nº 6.015/1973, que permanece.
Bem demonstrada, como dito, essa identidade, para Observa-se, ainda, que há perfeita concordância en-
efeito registrário, a isto se restringindo a análise aqui le- tre os dados de qualificação pessoal constantes do regis-
vada a efeito. Assim, em face da peculiaridade e tro citado e os declarados na escritura de venda e compra
especificidade do caso concreto analisado nos autos, afi- apresentada.
gura-se possível o registro postulado.
Assim, bem demonstrada essa identidade, perante a
Diante do exposto, dou provimento ao recurso, para peculiaridade e especificidade do caso em concreto ana-
julgar improcedente a dúvida. lisado nos autos, apresenta-se viável o registro postula-
Ruy Camilo, Corregedor Geral da Justiça e Relator do.
VOTO Por essas razões, dá-se provimento ao recurso, jul-
gando-se improcedente a dúvida.
1. Trata-se de recurso interposto contra sentença que
julgou procedente dúvida suscitada pelo 1º Oficial de Re- 2. Recurso provido. Dúvida julgada improcedente.
gistro de Imóveis da Comarca de São Bernardo do Cam- Registro de escritura pública de venda e compra, em con-
po, que recusou o registro de escritura pública de venda e formidade com os elementos indicativos na matrícula an-
compra, sob o alicerce de que dela não constaram os terior. Princípios da especialidade e da continuidade res-
números de inscrição dos outorgantes-vendedores no peitados.
Cadastro de Pessoas Físicas CPF, do Ministério da Fa- Jarbas Mazzoni, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça

24 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10


JURISPRUDÊNCIA CARTORÁRIA

REGISTRO DE IMÓVEIS – RECUSA A REGISTRO DE AUTO DE ADJUDI-


CAÇÃO DE BEM IMÓVEL LAVRADO EM PROCESSO DE INVENTÁRIO –
DOCUMENTO QUE NÃO FIGURA ENTRE OS PASSÍVEIS DE REGISTRO
PELA LEI REGISTRÁRIA (CSM/SP)
ACÓRDÃO Ministério Público, a dúvida foi julgada procedente para o

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apela- fim de manter a recusa do Oficial em registrar o título,

ção Cível nº 848-6/1, da Comarca de Campinas, em que devido à não apresentação de formal de partilha extraído

é apelante Francisco de Assis Campos Guerra e apelado dos autos do inventário em que se deu a adjudicação re-

o 1º Oficial de Registro de Imóveis da mesma Comarca. ferida (fls. 36 e 37).

Acordam os Desembargadores do Conselho Superi- Inconformado com a respeitável decisão, interpôs o

or da Magistratura, por votação unânime, em negar provi- interessado Francisco de Assis Campos Guerra,

mento ao recurso, de conformidade com os votos do tempestivamente, o presente recurso. Sustenta que o auto

Desembargador Relator e do Desembargador Revisor que de adjudicação apresentado ao Oficial Registrador é títu-

ficam fazendo parte integrante do presente julgado. lo hábil para ingresso no registro imobiliário, por se tratar
de ordem judicial expedida nos autos do inventário dos
Participaram do julgamento, com votos vencedores,
bens deixados pelo falecimento do pai da cedente dos
os Desembargadores Roberto Vallim Bellocchi, Presiden-
direitos hereditários, única herdeira do de cujus. Assim,
te do Tribunal de Justiça e Jarbas Mazzoni, Vice-Presi-
segundo entende, o título encontra-se entre aqueles
dente do Tribunal de Justiça.
elencados na Lei n. 6.015/1973 como passíveis de ingres-
São Paulo, 1º de julho de 2008. so no fólio predial, não havendo, por outro lado, com o
Ruy Camilo, Corregedor Geral da Justiça e Relator registro pretendido, qualquer ofensa ao princípio da conti-
nuidade registral, já tendo sido recolhido o imposto de
VOTO
transmissão inter vivos (fls. 39 a 42).
Registro de Imóveis. Dúvida julgada procedente.
A Douta Procuradoria Geral da Justiça manifestou-
Negativa de acesso ao registro de auto de adjudica-
se no sentido de ser negado provimento ao recurso (fls.
ção de bem imóvel lavrado em processo de inventá-
47 a 49). É o relatório.
rio. Documento que não corporifica título passível de
ingresso no fólio real Inteligência do disposto no art. O Apelante pretende o registro de auto de adjudica-
221, IV, da Lei n. 6.015/1973. Exigência, ainda, de com- ção de bem imóvel matriculado sob n. 40.466 no 1º Re-
provação do recolhimento do ITCMD, à luz das nor- gistro de Imóveis de Campinas, lavrado nos autos do pro-
mas dos arts. 1.027, IV, e 1.031, § 2º, do CPC, a menos cesso de inventário dos bens deixados pelo falecimento
que nos autos do inventário tal imposto não tenha sido de Graciano Horta Lisboa, a partir de escritura pública de
considerado devido na hipótese. Recusa mantida. Re- cessão dos direitos sobre referido bem, em que figurou
curso não provido. como outorgante a herdeira Maria da Graça Horta Lisboa
(fls. 10 a 12).
Cuidam os autos de dúvida de registro de imóveis
suscitada pelo Primeiro Oficial de Registro de Imóveis da A recusa manifestada pelo Oficial Registrador mere-
Comarca de Campinas, a requerimento de Francisco de ce ser prestigiada, pois que fundada em motivos legíti-
Assis Campos Guerra, referente ao ingresso no registro mos.
predial de auto de adjudicação do imóvel objeto da matrí- Com efeito, nos termos do art. 221, IV, da Lei n. 6.015/
cula n. 40.466 da referida serventia, recusado pelo regis- 1973, são admitidos a registro, como títulos extraídos de
trador. Após regular processamento, com impugnação por autos judiciais, as cartas de sentença, os formais de par-
parte do interessado e manifestação do representante do tilha, as certidões e os mandados. Trata-se de rol taxativo,

1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 25


JURISPRUDÊNCIA CARTORÁRIA

que não admite ampliação, de sorte que não se pode ad- Ruy Camilo, Corregedor Geral da Justiça e Relator
mitir o ingresso no registro de qualquer outro título estra- VOTO
nho ao aludido catálogo legal (Walter Ceneviva, Lei dos
1. Trata-se de apelação interposta contra sentença
Registros Públicos Comentada. 18ª ed. São Paulo: Sarai-
que julgou procedente dúvida e manteve recusa de regis-
va, 2008, p. 502), como o pretendido auto de adjudicação.
tro de auto de adjudicação.
Observe-se que, diversamente do sustentado pelo
Recorre o apelante, aduzindo, em síntese, que o auto
Recorrente, auto de adjudicação não se confunde com
de adjudicação apresentado ao Oficial Registrador é títu-
mandado, este sim passível de registro. O auto, no caso,
lo apto para se ingressar no registro imobiliário, pois, tra-
nada mais é do que o registro escrito nos autos do pro-
ta-se de ordem judicial expedida nos autos do inventário
cesso de um ato praticado (a adjudicação), não conten-
dos bens deixados pelo falecimento do pai da cedente
do, em si, ordem de qualquer natureza emitida pelo ma-
dos direitos hereditários, única herdeira do de cujus.
gistrado. Já o mandado é uma ordem ou determinação
Destarte, conforme seu entendimento, o título encontra-
escrita emanada da autoridade judicial para que se faça
se no rol da Lei nº 6.015/1973 como passível de ingresso
ou se deixe de fazer alguma coisa.
no fólio predial, não havendo qualquer ofensa ao princípio
Considere-se, ainda, no ponto, que título suscetível da continuidade com o registro pretendido, já que recolhi-
de ingressar no fólio real, na espécie, seria o formal de do o imposto de transmissão inter vivos.
partilha expedido nos autos do inventário, se existissem
A Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo
vários bens inventariados, além daquele cujos direitos fo-
improvimento do recurso.
ram cedidos ao Recorrente, ou, então, a carta de adjudi-
cação, se não existissem outros bens inventariados ou se É a síntese do necessário.
adjudicado o bem em favor do beneficiário antes da expe- O recurso não comporta acolhimento.
dição do formal de partilha; nunca, porém, o auto de adju-
Com efeito, o artigo 221, inciso IV, da Lei nº 6.015/
dicação.
1973, trata-se de rol taxativo, que não admite ampliação,
Assim, não estando o auto de adjudicação em ques- de modo que não se admite o ingresso no registro de qual-
tão entre os títulos discriminados na lei como passíveis quer outro título estranho ao referido elenco legal, como o
de ingresso no fólio real, impõe-se reconhecer que, na pretendido auto de adjudicação.
hipótese, falta título hábil para autorizar o registro.
Assim, no caso em questão, falta título hábil para
Por outro lado, correta, também, a exigência do Ofi- autorizar o registro, pois, o auto de adjudicação não está
cial Registrador no tocante à comprovação do recolhimen- entre os títulos discriminados na lei como passíveis de
to do ITCMD, já que, nos termos dos arts. 1.027, IV, e ingresso no fólio real.
1.031, § 2º, do CPC, tanto para a expedição do formal de
Outrossim, no que concerne à exigência do Oficial
partilha quanto para a expedição da carta de adjudicação,
Registrador quanto a comprovação do recolhimento do
impõe-se o prévio recolhimento dos impostos devidos e,
ITCMD, também lhe assiste razão, visto que, nos termos
em princípio, do imposto de transmissão causa mortis. A
dos artigos 1.027, inciso IV e 1.031, § 2º, ambos do Códi-
menos que, nos autos do inventário, não tenha sido con-
go de Processo Civil, se impõe de antemão o recolhimen-
siderado devido, na hipótese, o imposto em questão, o
to dos impostos devidos.
que igualmente deve ser comprovado.
Desse modo, nega-se provimento ao recurso.
Como se pode perceber, correta se mostram a res-
peitável sentença apelada e a recusa manifestada pelo 2. Recurso improvido. Registro inviável. Título não
Oficial Registrador. passível de ingresso no fólio real. Exigência de recolhi-
mento do ITCMD.
Nesses termos, pelo meu voto, à vista do exposto,
nego provimento ao recurso. Jarbas Mazzoni, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça

26 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10


BOLETIM CARTORÁRIO
O Boletim Cartorário, criado em março de 1990, por Antonio Albergaria
Pereira, é organizado pelo Instituto de Estudos Albergaria - IDEAL, sob a
coordenação de seus Diretores, Valestan Milhomem da Costa e Valmir Gonçalves da Silva.

A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS REGISTRAIS


NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO

Henrique Ananias dos Santos Mangualde (*)

1. INTRODUÇÃO
Os princípios são os alicerces de todo ordenamento jurídico. É através deles que são formuladas regras básicas e
gerais, sob as quais se extraem normas de procedimento para a compreensão de um determinado sistema jurídico. A
conduta de um agente aplicador de direito deve estar sempre amparada pelos princípios vigentes nos mais diversos
segmentos jurídicos.
A tarefa de aplicar o direito não se restringe única e exclusivamente ao disposto nas leis escritas. A hermenêutica,
que se define como a arte de interpretar as leis, deve adentrar ao caso concreto desvinculada de apenas um preceito
normativo expresso, mas sim, ancorada por um conjunto de princípios aplicáveis em uma determinada situação.
O Direito encontra-se fundamentado em princípios universais ou restritos à sua área de atuação. Os princípios
universais, também chamados de princípios gerais de direito, são enunciações jurídicas de valor genérico que visam à
compreensão e integração do ordenamento jurídico como um todo. Os restritos em sua área de atuação, por sua vez,
não vislumbram influenciar de maneira difusa a totalidade do ordenamento, tendo eficácia limitada à sua área de atua-
ção.
O sistema registral imobiliário brasileiro está amparado tanto pelos princípios gerais de direito como pelos privati-
vos à sua área de incidência. O conjunto desses princípios formula as regras gerais e básicas, sob as quais todo
registrador de imóveis deve ater-se na análise de um título submetido a registro. Segundo Nicolau Balbino Filho:
Como todo complexo normativo, o direito imobiliário registral fundamenta-se numa série de princípios gerais que
dotam suas normas de um sentido unitário. Esses princípios não são axiomas incontestáveis, mas criações técnicas,
instrumentos idôneos destinados a alcançar finalidades especificas perseguidas pela instituição registral. Tais finalida-
des se legitimam por considerações éticas e úteis, motivadas pela necessidade de proteger a boa-fé e de facilitar o
comércio jurídico ( FILHO, Nicolau Balbino, 2001, pg 35).
Pois bem, passaremos à questão em debate, qual seja, as espécies de princípios registrais imobiliários e a sua
importância no cenário jurídico nacional.
2. PRINCÍPIO DA INSCRIÇÃO
Um dos principais princípios inseridos no sistema registral imobiliário é o princípio da inscrição. Este princípio pode
dividir-se em dois aspectos: o primeiro é o aspecto material, que define a necessidade da inscrição para que a constitui-
ção, transmissão, modificação ou extinção dos direitos reais por ato entre vivos se consubstancie. O segundo, definido
como formal, é o modo sob o qual o assento será lançado no registro.
No Brasil, adota-se a modalidade do registro por extrato, ou seja, constando apenas os pontos principais e indis-
pensáveis do título submetido a registro. Entretanto, nada impede o registro em inteiro teor do título apresentado no
Registro Auxiliar, tal como prevê o artigo 178, VII da Lei 6015/73.
A inscrição opera-se para os bens imóveis da mesma maneira que a tradição para os bens móveis e está prevista
no artigo 1227 do Código Civil: “Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se
adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos
expressos neste Código.”
Afrânio de Carvalho define de uma maneira clara e sucinta que:
A inscrição é o modo de aquisição de direitos reais nos negócios entre vivos que são os mais numerosos, mas a
aquisição não se dá apenas nesses negócios, por acordo de vontades. Quando se dá fora deles, por força da lei, como
na herança, também se exige a inscrição dela, a fim de manter sem ruptura a cadeia de titulare (CARVALHO, Afrânio de,
1998, pg 143).

1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 27


BOLETIM CARTORÁRIO

A inscrição, no sistema jurídico brasileiro, não é dotada do chamado efeito saneador, sob o qual o registro compro-
va a absoluta titularidade do bem, independentemente de algum vício anterior a ele. Tal fato está respaldado pelo artigo
1231 do Código Civil. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário.
O principio da inscrição pode se manifestar sob o efeito declarativo, constitutivo ou extintivo. O primeiro visa a dar
publicidade ao ato registrado, uma vez que a sua constituição se deu anteriormente. Serve apenas para gerar um
caráter “erga omnes” às mutações jurídicas concretizadas antes do título ingressar no registro de imóveis. Um exemplo
dessa modalidade de inscrição é o direito proveniente de sucessão. O direito de propriedade já é transferido aos
herdeiros no momento da morte do “de cujus” (princípio da saisine). A inscrição do formal de partilha tem a função
exclusiva de levar ao conhecimento de todos a existência do referido direito, além de garantir a continuidade da cadeia
dominial existente na matrícula do imóvel.
O efeito constitutivo, por sua vez, é aquele indispensável à formalização do direito. No momento do registro ocorre
a mutação jurídico-patrimonial imobiliária. É o que ocorre, por exemplo, no registro de uma escritura pública de compra
e venda de um imóvel. Todas as condições pactuadas no negócio jurídico estão inseridas na escritura, entretanto o
direito real de propriedade somente consubstancia-se com o registro na matrícula respectiva.
Por fim, temos o efeito extintivo, previsto no artigo 252 da Lei 6015/73: “O registro, enquanto não cancelado, produz
todos os efeitos legais ainda que, por outra maneira, se prove que o título está desfeito, anulado, extinto ou rescindido.”
Para que ocorra a extinção de determinado direito averbado ou registrado sobre um determinado imóvel é preciso que
seja levado ao ofício de registro de imóveis competente um título que comprove o cancelamento do referido direito.
Uma averbação de indisponibilidade de bens decorrente de uma ordem judicial, por exemplo, só haverá como cancela-
da quando o oficial de registro, munido da documentação necessária, inscrever o ato na matrícula. Em geral, a inscrição
extintiva se dá por averbação mediante cumprimento de decisão judicial transitada em julgado, a requerimento unânime
das partes que tenham participado do ato, se capazes com as firmas reconhecidas pelo tabelião ou a requerimento da
parte interessada, instruída com documento hábil, nos termos do artigo 250 da Lei 6015/73.
Há doutrinadores que definem, ainda, um outro efeito para a inscrição, o translativo. Este efeito fica no meio termo
entre a inscrição constitutiva e a extintiva e tem a função de fazer nascer o direito para uma parte ao mesmo tempo em
que o extingue para outra, como por exemplo, no registro de uma escritura de compra e venda.
3. PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA
Outro princípio de fundamental importância no registro de imóveis é o da segurança jurídica. Este princípio encon-
tra-se intimamente ligado ao Estado Democrático de Direito e aos demais princípios que garantem a funcionalidade
deste, tais como o devido processo legal, o direito adquirido e a irretroatividade da lei, dentre outros.
O registrador, por ser um operador do direito dotado de fé pública, deve se cercar de todas as garantias que
comprovem que o negócio jurídico por ele inscrito está envolvido da totalidade dos aspectos legais previstos. O registro
de imóveis, apesar de dotar de presunção juris tantum, tem a função de garantir aos interessados e à sociedade como
um todo que o bem registrado não será objeto de procedimentos arbitrários, ilegais ou temerários. A segurança jurídica,
inserida no sistema registral, acarreta clareza e presunção de veracidade aos negócios jurídicos imobiliários submeti-
dos a registro.
Filio-me a corrente que defende a idéia de que o “juízo prudencial” do registrador imobiliário deve estar envolvido
da maior seguridade possível. Questões polêmicas, sujeitas a julgamentos distintos entre os mais diversos Tribunais
brasileiros, devem ser precedidas, ao meu entender, de um procedimento de dúvida (artigo 198 da Lei 6015/73). Os
registradores, apesar de serem autônomos, devem se convencer de que o seu ofício visa à segurança jurídica das
partes interessadas e essa só será alcançada, quando se tratar de questões controvertidas na doutrina, com o procedi-
mento do contraditório e da ampla defesa, amparado pelo crivo jurisdicional.
4. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO E DA FÉ PÚBLCA
Os princípios da presunção e da fé pública possuem significados autônomos, apesar de estarem inseridos conjun-
tamente pela grande maioria da doutrina. Afrânio de Carvalho define de maneira concisa e esclarecedora:
Estes dois princípios têm cada qual seu significado próprio, mas foram amalgamados durante certo tempo no
nosso país por uma corrente da doutrina que pretendeu dar ao primeiro, previsto na lei, a eficácia do segundo, omitido
nela. Ao passo que o primeiro reforça a eficácia da inscrição, sem a tornar, contudo, saneadora, pois mantém o primado
do direito subjetivo, o segundo abre uma brecha nesse primado ao admitir que a inscrição se torne saneadora relativa-
mente ao terceiro de boa fé que, confiando nela, adquire o direito. A regra é a tutela do direito subjetivo, ou a segurança
jurídica; a exceção é a tutela do terceiro de boa-fé, ou a segurança do comércio (CARVALHO, Afrânio de, 1998, pg 161).
A presunção no direito brasileiro é restrita (exceto no Registro Torrens), ou seja, admite prova em contrário, não
possuindo o efeito saneador, como já exposto nesta obra. Entretanto, o ônus da prova não caberá à parte portadora de
um determinado direito constante de uma inscrição e sim ao terceiro prejudicado. A presunção significa que o registro

28 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10


BOLETIM CARTORÁRIO

ou a averbação prevalece contra ou a favor da parte nele inserida, até prova em contrário. Uma pessoa que adquire um
imóvel através de uma compra e venda, por exemplo, é tido como proprietária do referido imóvel para todos os efeitos
legais, salvo se comprovado judicialmente que o comprador, por algum motivo, não fez jus a essa aquisição.
A fé-pública, por sua vez, é a proteção provisória do titular de um direito e a garantia de um terceiro interessado de
que o que está expresso na matrícula corresponde à realidade jurídica do imóvel. O artigo 3º da Lei 8935/1994 ao definir
que o oficial registrador é um profissional de direito dotado de fé pública gera certeza à sociedade como um todo de que
todos os títulos submetidos a registro estarão amparados pelo mais alto grau de confiabilidade, respeitabilidade e
eficácia. Ressalva-se, entretanto, que o registro garante a proteção ao direito inscrito e não aos fatos narrados no título
registrado.
Parte da doutrina entende que a qualificação do título pelo registrador deve se restringir à forma do mesmo. Filio-
me, porém, à corrente que defende a qualificação de fundo, ou seja, a análise profunda do título, verificando-se tanto o
cumprimento de todos os requisitos formais quanto à possibilidade da constituição do direito material em si. Somente
dessa maneira, o oficial tornar-se-á merecedor de carregar consigo o instituto da fé pública, acarretando na credibilidade
plena do sistema registral brasileiro.
5. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
O registro imobiliário, por ser um serviço público exercido em caráter privado através de uma delegação, deve
estar embutido na natureza administrativa da atividade. Pelo fato da administração pública ter como dever a transparên-
cia dos seus atos, o registro de imóveis também deve seguir tal orientação. O princípio da publicidade registral é aquele
que garante o acesso a toda sociedade dos fatos inscritos nas matrículas dos imóveis. Nicolau Balbino Filho define que:
“[...] a publicidade é um expediente destinado a gerar cognoscibilidade. Alude-se a cognoscibilidade e não a conhe-
cimento, porque, sendo seu destinatário final a pessoa, o efetivo conhecimento dependerá, a final, da atitude e da
vontade do destinatário em conhecer o que se dá à publicidade” ( FILHO, Nicolau Balbino, 2001, pg 145).
A publicidade pode ser material ou formal. A primeira se define como o conjunto de direitos intrínsecos a uma
inscrição. Tais direitos são dotados, no Brasil, de uma eficácia juris tantum. Já a publicidade formal gera a possibilidade
de qualquer pessoa de acessar o conteúdo de um registro. Essa modalidade de publicidade manifesta-se através das
certidões, cuja obtenção está prescrita no artigo 17 da Lei 6015/73: “Qualquer pessoa pode requerer certidão do regis-
tro sem informar ao oficial ou ao funcionário o motivo ou interesse do pedido.”
Outra classificação da publicidade se dá quanto aos seus efeitos, podendo ser declarativa ou constitutiva. A decla-
rativa tem como função levar ao conhecimento de terceiros a existência de um determinado direito ou ônus anterior-
mente constituído. Um exemplo é a averbação da penhora, que tem como único objetivo exteriorizar um ônus surgido
anteriormente em um processo de execução. Já a constitutiva surge concomitantemente ao direito, como ocorre, por
exemplo, na compra e venda.
Além das funções já explicitadas, a publicidade é de grande valia para a garantia da oponibilidade erga omnes.
Aquele que teve um direito lesado em um determinado ato inscrito tem o direito de ter o conhecimento do prejuízo por
ele auferido e buscar os meios legais adequados para reverter tal situação. O princípio da publicidade coíbe a inscrição
de atos fraudulentos e ilegais, feitos às escuras. Todos os atos praticados pelo registro de imóveis podem ser conheci-
dos a qualquer tempo por qualquer pessoa.
6. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE
O princípio da especialidade visa a individualizar os dados constantes de um registro, decorrente de um determina-
do título. A especialidade pode ser objetiva, subjetiva ou fato jurídico inscritível. A objetiva está prevista no artigo 225 §2º
da Lei 6015/73: “Consideram-se irregulares, para efeito de matrícula, os títulos nos quais a caracterização do imóvel
não coincida com a que consta no registro anterior .” O imóvel deve estar caracterizado de maneira idêntica no título
apresentado e na matrícula para que um novo registro possa ser efetuado. Por exemplo, se na matrícula consta que o
imóvel situa-se na Rua X e no título consta Rua Y será necessário apresentar uma certidão de alteração de denomina-
ção de logradouro emitida pela Prefeitura Municipal do respectivo Município, para que esta seja previamente averbada
e se promova a congruência entre o constante do instrumento a ser registrado e o mencionado no livro dois do Registro
de Imóveis. A Lei 7433/85 permitiu aos tabeliães consignarem, nas escrituras públicas que tratem de imóveis urbanos,
exclusivamente o número do registro ou matrícula no Registro de Imóveis, sua completa localização, logradouro, núme-
ro, bairro, cidade, Estado e os documentos e certidões constantes do § 2º do art. 1º desta mesma Lei.
A especialidade subjetiva determina que as partes inseridas no título a ser registrado estejam plenamente individu-
alizadas e identificadas, constando o nome, domicilio e nacionalidade das mesmas, bem como o estado civil, a profis-
são, o CPF (Cadastro de Pessoas Físicas) ou do Registro Geral de Identidade, tratando-se de pessoa física; e a sede
social e o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas), tratando-se de pessoa jurídica, tudo conforme preconiza o
artigo 176 §1º, II, 3, a, da Lei 6015/73.

1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 29


BOLETIM CARTORÁRIO

Por fim, temos a especialidade do fato jurídico inscritível do título. Essa modalidade prevê que só serão submetidos
a registro, os títulos que cumpram todos os requisitos legais de um determinado negócio jurídico. Parte da doutrina
entende que somente serão passíveis de registro, os títulos elencados no artigo 167 da Lei 6015/73, por se tratar de
uma relação numerus clausus. Penso, porém, de maneira diversa. O direito evolui a cada dia e não há como prever
expressamente todas as situações que poderiam influenciar de maneira direta ou indireta um registro de um imóvel. A
sociedade inova, o direito avança e o pensamento do oficial de registro também deve evoluir. São inúmeras situações
que ocorrem diariamente e que não eram previstas em 1973, quando da elaboração da Lei de Registros Públicos. A
sociedade familiar não constituída por um casamento é um exemplo disso. Entendo ser plenamente possível o registro
de um contrato de união estável, homologado judicialmente, embora tal ato não esteja previsto na Lei 6015. Não há
como fechar os olhos para a realidade fática do mundo atual e os oficiais, como profissionais do direito, devem buscar
o dinamismo e a evolução de sua atividade.
7. PRINCÍPIO DA PRIORIDADE
Um dos principais princípios norteadores do registro imobiliário é o da prioridade. A prioridade se define como a
preferência dada a alguém relativamente ao tempo de seu direito. Na área registral, esse princípio tem como caracterís-
tica garantir primazia ao beneficiário de um direito em oposição a outros direitos constituídos sobre o mesmo imóvel. Tal
prioridade se dá, em regra, pela ordem cronológica dos títulos apresentados, como determina o artigo 186 da Lei 6105/
73: “O número de ordem determinará a prioridade do título, e esta a preferência dos direitos reais, ainda que apresen-
tados pela mesma pessoa mais de um título simultaneamente.” Sendo assim, ao receber um número no protocolo, o
título dota-se de prioridade sobre os que vierem posteriormente e recaírem sobre o mesmo imóvel. A preferência se dá
com a prenotação e não com o registro em si, como preceitua o artigo 1246 do Código Civil: “O registro é eficaz desde
o momento em que se apresentar o título ao oficial de registro e este o prenotar no protocolo.”
Luis Carlos Fagundes Viana dá ao princípio o seguinte significado:
Pela prioridade, que encontra fundamento legal no artigo 186, a apresentação do título assegura a precedência do
direito. Constitui-se, em verdade, em norma de solução de concurso de direitos reais incidentes sobre o imóvel, resol-
vendo-a pela ordem de prenotação (VIANNA, Luis Carlos Fagundes, 2002, pg 17).
Como exposto acima, o princípio da prioridade caracteriza-se pela máxima que define: prior in tempore potior in
jure, ou seja, o primeiro no tempo é o mais poderoso no direito. Entretanto tal premissa comporta uma exceção, as
hipotecas. Nestas, o número de ordem determina a prioridade e esta a preferência entre as hipotecas. Uma hipoteca de
primeiro grau possui primazia sobre a segunda, esta possui prioridade sobre a terceira e assim sucessivamente. Quan-
do se apresentar ao oficial de registro, título de hipoteca que mencione a constituição de uma anterior, não registrada,
sobrestará ele na inscrição da nova, depois de a prenotar, até trinta dias, aguardando que o interessado inscreva a
precedente; esgotado o prazo, sem que se requeira a inscrição desta, a hipoteca ulterior será registrada e obterá
preferência (artigo 1495 do Código Civil).
A prioridade pode ser exclusiva ou gradual. A primeira faz com que o registro de um título exclua possibilidade de
inscrição de outro que garanta um direito completamente antagônico ao registrado. Se o proprietário A vende a B uma
casa cujo registro foi efetivado no registro de imóveis, uma escritura de compra e venda em que A vende a C a mesma
casa não é passível de registro.
A prioridade gradual por sua vez gera precedência ao título prenotado primeiramente em face de um posterior que
ingressar no ofício registral, embora ambos sejam compatíveis entre si. Um exemplo é a hipoteca de primeiro grau, que
como já explicitado, é dotada de preferência sobre a de segundo grau. Contudo, uma matrícula comporta o registro das
duas hipotecas.
8. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE
O princípio da continuidade define que todos os atos praticados pelo registro de imóveis devem obedecer a uma
seqüência lógica, concatenada, sem espaços vazios entre um ato e outro. Tal princípio está intimamente ligado ao da
especialidade e visa a estabelecer uma correspondência entre toda a cadeia dominial de um determinado imóvel. Está
previsto no artigo 195 da Lei 6015/73: “Se o imóvel não estiver matriculado ou registrado em nome do outorgante, o
oficial exigirá a prévia matrícula e o registro do título anterior, qualquer que seja a sua natureza, para manter a continui-
dade do registro.” E no artigo 237 do referido diploma legal: “Ainda que o imóvel esteja matriculado, não se fará registro
que dependa da apresentação de título anterior, a fim de que se preserve a continuidade do registro.”
Afrânio de Carvalho disserta de maneira elucidativa que:
A sua essência repousa na necessidade de fazer com que o registro reflita com a maior fidelidade possível a realidade
jurídica. Ao exigir-se que todo aquele que dispõe de um direito esteja inscrito como seu titular no registro, impede-se que
o não-titular dele disponha. A pré-inscrição do disponente do direito, da parte passivamente interessada, constitui, pois
uma necessidade indeclinável em todas as mutações jurídico-reais (CARVALHO, Afrânio de, 1998, pg 254).

30 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10


BOLETIM CARTORÁRIO

Existem algumas exceções ao princípio da continuidade. O usucapião extraordinário, por exemplo, não necessita
de justo título e boa fé do usucapiendo para se consumar. Sendo assim, a simples sentença proferida pelo juiz de direito
já é um título hábil para registro, independentemente se há uma matrícula prévia ou se a cadeia dominial do imóvel
usucapido está completa. Mas, de modo geral, o oficial deve sempre se pautar pela continuidade registral, visando a
eliminar obscuridades, incertezas e inseguranças sobre um determinado registro.
9. PRINCÍPIO DA CINDIBILIDADE
O princípio da cindibilidade não está expresso em um texto normativo. Entretanto, quase unanimidade da doutrina
e da jurisprudência o vem adotando. Esse princípio baseia-se no fato de que o registrador é um profissional de direito
dotado da mais elevada capacidade jurídica e que possui um juízo de admissibilidade capaz de extrair do título tudo
aquilo que validamente pode ser inscrito. Numa escritura de compra e venda de vários imóveis, por exemplo, em que
alguns cumprem todos os requisitos legais e outros deixam alguns aspectos pendentes, o oficial tem toda a liberdade
para registrar os que estão aptos e fornecer uma nota de devolução constando todas as exigências dos inaptos. São
vários os julgados neste sentido, dentre os quais podemos citar esta decisão do Conselho Superior de Magistratura de
São Paulo:
AÇÃO CÍVEL N.º 339-6/9 - CARTA DE ARREMATAÇÃO. CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS MUNICIPAIS –
IPTU. ITBI – RECOLHIMENTO. CONSTRUÇÃO – AVERBAÇÃO – CINDIBILIDADE DO TÍTULO – PRINCÍPIO DE
INSTÂNCIA – ESPECIALIDADE OBJETIVA. DÚVIDA – PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO – TUTELA ANTECIPA-
DA – PREJUDICIALIDADE – CUMPRIMENTO DE EXIGÊNCIA. DÚVIDA. Não obstante prejudicada a dúvida, é possí-
vel, desde já, ressalvar que a exigência de prévia averbação da edificação indicada na carta de arrematação, como
condição para o registro, poderá ser superada mediante aplicação do princípio da cindibilidade do título, com regis-
tro da arrematação do terreno, ficando para momento posterior a averbação da construção que depende, por seu turno,
do atendimento de requisitos específicos, em especial a apresentação, pelo interessado, do certificado de regularidade
expedido pela Prefeitura Municipal e da Certidão Negativa de Débitos do INSS relativa à obra.
De forma simples e concisa podemos definir a cindibilidade como a possibilidade de o registrador aproveitar todo
o conteúdo do título cujos requisitos legais foram cumpridos, não utilizando o que não pode ser objeto de inscrição.
10. PRINCÍPIO DA INSTÂNCIA
Via de regra, o ato registral é de iniciativa exclusiva do interessado, sendo vedado ao oficial a prática do ato ex
officio. De acordo com Nicolau Balbino Filho:
O princípio de instância, ou de rogação, como também é conhecido, significa que a atividade do registrador não
pode ser espontânea, pois seus atos dependem de provocação da parte interessada. O registrador não pode, inclusive,
expedir certidões ou prestar informações sem que lhe sejam requeridas (FILHO, Nicolau Balbino, 2001, pg 193).
Na maioria das vezes o requerimento do interessado é feito pela via oral, contudo, existem situações em que a lei
exige expressamente a forma escrita, como se observa no parágrafo único do artigo 246 da Lei 6015/73, que prevê a
necessidade de requerimento com firma reconhecida para as averbações de mudança de denominação e de numera-
ção dos prédios, da edificação, da reconstrução, da demolição, do desmembramento e do loteamento de imóveis e da
alteração do nome por casamento ou por desquite, ou, ainda, de outras circunstâncias que, de qualquer modo, tenham
influência no registro ou nas pessoas nele interessadas.
O artigo 217 da Lei 6015/73 prevê que o registro e a averbação poderão ser provocados por qualquer pessoa,
incumbindo-lhe as despesas respectivas. Entretanto, não se pode auferir a este artigo uma interpretação restritiva. A
compreensão deve se pautar na idéia de que o requerimento pode ser feito por “qualquer pessoa interessada”. A
unificação de matrículas de imóveis contíguos, por exemplo, só pode ser requerida pelo proprietário dos mesmos
(artigo 234 da Lei 6015/73). O portador do requerimento, por sua vez, pode ser qualquer pessoa, uma vez que este não
exerce direito algum sobre o mesmo, tendo somente o dever de ingressar o título no fólio registral no tempo e modo
acordados com a parte interessada.
Há, porém, situações em que o oficial deve agir de ofício, como na averbação dos nomes dos logradouros, decre-
tados pelo poder público (artigo 167, II, 13 da Lei 6015/73). É também aplicável a intervenção do oficial, independente-
mente de requerimento, quando este verificar erros cometidos por ele ou seus prepostos na transposição dos elemen-
tos constantes do título submetido a registro.
11. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Por fim, trataremos de um dos princípios basilares de todo o ordenamento jurídico nacional, o da legalidade.
Consagrado no artigo 5º, II, da Constituição Federal (ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa,
senão em virtude de lei), o princípio da legalidade deve ser aplicado de maneira incisiva no registro imobiliário. A
aplicação desse princípio, porém, causa divergências na doutrina, dividindo-a em dois segmentos.

1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 31


BOLETIM CARTORÁRIO

O primeiro segmento sustenta que o exame dos títulos submetidos a registro deve ser exclusivamente formal. Ou
seja, o oficial deve se ater somente à qualificação de forma para registrar o ato. Estando cumpridos todos esses
requisitos, a inscrição pode ser efetivada.
A outra parte da doutrina defende que o oficial de registro, por ser um profissional de direito dotado de fé pública,
deve atentar para o cumprimento de todos os requisitos materiais e formais exigidos para que se alcance um determi-
nado direito. Tal verificação, denominada qualificação de fundo, deve atuar inclusive perante os títulos judiciais.
Filio-me à corrente que defende a qualificação de fundo por parte do oficial. A função do registrador é justamente
gerar uma segurança de que o direito inscrito na matrícula corresponde à realidade jurídica. A simples averiguação da
forma acarreta em uma instabilidade da sociedade e em uma falta de credibilidade do registro. A presunção de veraci-
dade dos atos registrais deve ser plena. Vejamos, por exemplo, um formal em que o juiz homologa a partilha conceden-
do direito de representação ao filho de um herdeiro renunciante. Por ser um operador do direito, dotado de notável saber
jurídico, o oficial verifica que tal situação é inconcebível, nos termos do artigo 1811 do Código Civil. Entendo ser perfei-
tamente cabível a formulação de uma exigência, solicitando que tal empecilho seja suprido.
O oficial, ao utilizar-se do princípio da legalidade, deve sempre relacioná-lo com o da segurança jurídica que é
inerente ao registro público. Não há como se inscrever atos manifestamente nulos, simplesmente pelo fato de estarem
cumpridos todos os requisitos formais. O registro deve servir como um filtro, capaz de pormenorizar e eliminar todas as
“impurezas” intrínsecas aos mais diversos títulos a ele submetidos.
12. CONCLUSÃO
Os princípios registrais imobiliários têm a função de direcionar os oficiais na prática dos mais variados atos. A
maioria das soluções para os mais diversos entraves jurídicos não são encontradas única e exclusivamente em textos
normativos, mas sim, na principiologia. Princípio é originado da palavra começo, início. E um problema só pode ser
solucionado, se soubermos a origem dele. Daí a importância principiológica.
Os princípios são de extrema importância na exegese do sistema registral imobiliário. O conhecimento pleno deles
impede os oficiais de inscreverem atos dotados de vícios e incertezas. Os textos legais originam-se de princípios e
estes devem resguardar toda a atividade inerente ao registro de imóveis.
Ao utilizar-se de todos os princípios abordados no presente artigo, os registradores imobiliários contribuirão de
maneira intensa para a maior respeitabilidade da classe, bem como para que o registro de imóveis concretize a sua
principal função, a de guardião dos direitos reais.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Código civil (2002). Código civil. 56. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. (Veja em www.diariodasleis.com.br)
BRASIL. Lei 6015, de 31 de Dezembro de 1973. Dispõe sobre os Registros Públicos, e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, 31 de Dezembro de 1973. (Veja em www.diariodasleis.com.br)
BRASIL. Lei 7433, de 18 de dezembro de 1985. Dispõe sobre os requisitos para a lavratura de escrituras públicas
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 18 de dezembro de 1985. (Veja em www.diariodasleis.com.br)
BRASIL. Lei 8935, 18 de Novembro de 1994. Regulamenta o art. 236 da Constituição Federal, dispondo sobre
serviços notariais e de registro. Diário Oficial da União, Brasília, de 18 de Novembro de 1994. (Veja em www.diariodas
leis.com.br)
CARVALHO, Afrânio de, Registro de Imóveis, 4ª ed. 1998, pg 143, Rio de Janeiro, ed. Forense.
CARVALHO, Afrânio de, Registro de Imóveis, 4ª ed. 1998, pg 161, Rio de Janeiro, ed. Forense.
CARVALHO, Afrânio de, Registro de Imóveis, 4ª ed. 1998, pg 254, Rio de Janeiro, ed. Forense.
FILHO, Nicolau Balbino, Direito Imobiliário Registral, 2001, pg 35, ed. Saraiva.
FILHO, Nicolau Balbino, Direito Imobiliário Registral, 2001, pg 145, ed. Saraiva.
FILHO, Nicolau Balbino, Direito Imobiliário Registral, 2001, pg 193, ed. Saraiva.
MELO JR, Regnoberto M., Lei de Registros Públicos Comentada, 1º Volume, Ed. Freitas Bastos.
RIOS, Arthur, Manual de Direito Imobiliário, 3ª ed., 2006, Curitiba, Ed. Juruá.
VIANNA, Luís Carlos Fagundes, Elementos do Registro de Imóveis, 2002, pg 17, São Paulo, Ed. Juarez de
Oliveira.
(*) O autor é Bacharel em direito pela PUC-MG, escrevente do 4º Ofício de Registro de Imóveis de Belo Horizonte.

32 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10


PERGUNT
PERGUNTAS
GUNT RESPOSTAS
AS & RESPOSTAS
EXECUÇÃO FISCAL – BEM DE TERCEIRO OFERECIDO À PENHORA
Pergunta: Sobre registro de penhora em execução fiscal da União, o art. 9º, inc. IV da Lei nº 6.830/80 (Lei de
Execução Fiscal) permite que seja oferecido à penhora pelo executado bens de TERCEIRO. Assim, o executado,
em ação de execução fiscal promovida pela Fazenda Nacional, pode, por exemplo, indicar à penhora bens de
outra pessoa, é claro, com a anuência dela. Pergunta: O registro da penhora, no caso, importa em violação ao
princípio da continuidade? Deve o oficial fazer constar a anotação de que a penhora está ocorrendo na circuns-
tância prevista no art. 9º, IV da Lei 6.830/80? (P.M.P.C.S. – Guarapari, ES)
Resposta: Tratando-se de matéria controvertida, veja os seguintes apontamentos e julgados: Primeiramente, por
determinação legal os §§ 1º e 2º do art. 9º da LEI 6.830/80 (Lei de Execuções Fiscais), diz que o executado poderá indicar
à penhora bens oferecidos por terceiros, JUNTANDO-SE AOS AUTOS A PROVA DESTE OFERECIMENTO. Neste caso
o juiz poderá mandar expedir o mandado para o registro da penhora, diante da prova do oferecimento do imóvel de
terceiro, que será vinculado à execução juntamente com o executado. De outro lado, nos termos do art. 592 do Código de
Processo Civil, ficam sujeitos à execução os bens do sucessor, do sócio; do devedor, quando em poder de terceiros; do
cônjuge e os alienados ou gravados com ônus real em fraude à execução. O Egrégio Conselho Superior da Magistratura
do Estado de São Paulo (Apelação Cível n° 33.111-0/3, de Limeira, DOE - PJ n° 211, de 1°.11.96) já se manifestou no
sentido de que: “Na esteira de recente precedente deste Conselho Superior da Magistratura (Apelação Cível n° 21.506-0/
3 de Atibaia, Rel. Des. Alves Braga), em orientação que merece ser mantida, cumpre frisar que, após reconhecimento por
decisão judicial da fraude de execução, possível será o registro da penhora, sem vulneração ao princípio da continuidade.
PROCESSO CIVIL – PROCEDIMENTOS REGISTRO IMOBILIÁRIO TÍTULOS JUDICIAIS – PENHORA. Este estudo foi
editado pela Corregedoria Geral da Justiça, com o apoio da ARISP - Associação dos Registradores Imobiliários de São
Paulo, para facilitar a compreensão dos procedimentos relativos ao registro imobiliário dos títulos judiciais. O ato praticado
é o de registro, e não de averbação (artigo 167, I, 5, da Lei 6.015/73), e tem caráter obrigatório (artigo 659, § 4º, do Código
de Processo Civil). A penhora será feita através de mandado, ou de certidão extraída dos autos de execução, da qual
conste cópia do auto ou termo de penhora. O mandado ou certidão serão expedidos para seu registro no Cartório de
Registro de Imóveis respectivo, cabendo ao exeqüente o seu cumprimento (Normas de Serviço, Cap. XX, 48). Assim, é
desnecessária a diligência por oficial de justiça, bastando sua entrega à parte interessada para cumprimento. Advirta-se
que não é possível, para o registro da penhora, o simples ofício. O mandado ou certidão deverão conter, obrigatoriamente:
I. Nome do juiz e especificação do respectivo cargo; II. Natureza e número do processo; III. Nome e qualificação das partes
de forma completa, do exequente e do executado. Deverá haver perfeita coincidência entre o executado e o titular de
domínio do imóvel penhorado. O imóvel há que pertencer ao executado. Somente é possível o registro da penhora em
nome de terceiro se a ele alienado pelo executado, desde que tenha sido caracterizada, no processo, a fraude de execu-
ção, por decisão que reconhecer a ineficácia da alienação em relação ao exequente, circunstância que deverá constar do
mandado ou das certidões; IV. Nome do depositário, que deve constar obrigatoriamente, verificando-se se a sua assinatu-
ra foi aposta ao auto ou termo de penhora; V. Indicação do imóvel penhorado com suas características essenciais, inclu-
sive o número da matrícula e/ou transcrição; VI. Especificação do valor da execução; VII. Autenticação das peças apre-
sentadas e assinatura do juiz. ARRESTO-SEQUESTRO - Devem ser observados todos os requisitos exigidos para o
registro de mandado ou certidão de penhora, apenas com destaque para que, nos arrestos e sequestros, deverá ser
consignada a natureza cautelar da medida. (...)

DESPESAS CONDOMINIAIS – COBRANÇA – O QUE SE FAZER PARA


EVITAR COBRANÇAS SUCESSIVAS
Pergunta: Um condomínio está cobrando despesas condominiais de um apartamento devedor. Deve hoje as
parcelas de 01/2006 a 04/2008. Entretanto, as parcelas de 01/2006 a 12/2007 estão em fase de execução. Enquanto
as parcelas 01/08 a 04/2008 estão fora do processo. O apartamento foi levado ao praceamento/leilão e devidamen-
te arrematado. O valor depositado cobre todos os débitos. Como o condomínio tem que proceder para receber as
quotas fora do processo? Necessita entrar com outro processo de cobrança? (D.J.P. – Santos, SP)
Resposta: Diz J. Nascimento Franco, em seu livro “Condomínio”, Editora Revista dos Tribunais - 5.ª Ed. 2005, Pág.
349: Para se evitar ajuizamento de sucessivas ações de cobrança, o condomínio autor pode incluir no pedido inicial a
cobrança, com acréscimo de juros e correção monetária, das prestações que se vencerem até a prolação da sentença,
hipótese em que só se exige a juntada, aos autos, dos recibos não resgatados até aquela fase do processo (RT 753/
1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 33
PERGUNTAS & RESPOSTAS

275). Aliás, em se tratando de prestações periódicas e sucessivas, mesmo que da inicial não conste mencionado pedido,
deverá o juiz determinar o depósito das que se forem vencendo, em face do que dispõe o art. 290 do CPC) (...)” Veja os
seguintes julgados: 1 - CONDOMÍNIO - DESPESAS CONDOMINIAIS - COBRANÇA - PARCELA VINCENDA - JUNTADA
DE BOLETO – DESNECESSIDADE. O fato de não ter o autor juntado boletos referentes às prestações vincendas não
importa em indeferimento do pedido, uma vez que a inclusão delas na condenação deriva do próprio texto legal. 2º TACIVIL
/ SP Ap. s/ Rev. 799.908-00/9 - 6ª Câm. - Rel. Juiz ANDRADE NETO - J. 4.2.2004. SOBRE O TEMA FONTE: Ap. s/ Rev.
799.908-00/9 - 6ª Câm. - Rel. Juiz ANDRADE NETO - J. 4.2.2004, com a seguinte referência: NELSON NERY JUNIOR e
ROSA MARIA DE ANDRADE NERY - “Código de Processo Civil Comentado e Legislação Processual Civil Extravagante
em Vigor”, Ed. RT, 3ª ed., 1997, pág. 571. 2 - CONDOMÍNIO - DESPESAS CONDOMINIAIS - COBRANÇA - DESPESA
EXTRAORDINÁRIA - PARCELA VINCENDA - INCLUSÃO - APROVAÇÃO PELA ASSEMBLÉIA - OCORRÊNCIA -
ADMISSIBILIDADE - APLICAÇÃO DO ARTIGO 290, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. Pode a condenação em ação
de cobrança de despesas condominiais abranger as parcelas vincendas relativas à despesas extraordinárias, desde que
devidamente aprovadas em assembléia condominial, e até o limite das prestações consignadas na ata da assembléia, não
havendo incompatibilidade entre a natureza das despesas extraordinárias e a regra contida do artigo 290 do Código de
Processo Civil. 2º TACIVIL / SP Ap. s/ Rev. 824.529-00/5 - 7ª Câm. - Rel. Juiz AMÉRICO ANGÉLICO - J. 16.12.2003.

IPTU – LOCADOR É RESPONSÁVEL PELO AUMENTO NO VALOR DE-


CORRENTE DA TRANSFORMAÇÃO DE USO DO IMÓVEL DE
RESIDENCIAL PARA COMERCIAL
Pergunta: Tenho um cliente que é hoje proprietário de 32 unidades de um edifício que totaliza 50 unidades,
sendo que tal edifício foi construído pelo meu cliente e a convenção condominial elaborada por ele mesmo. Em
um artigo da convenção está disposto que as unidades poderão ser alugadas para fins residenciais e não
residenciais. Ocorre que cerca de três anos promovemos um processo administrativo para transformar todas
atuais unidades do meu cliente em não residencial, ou seja, o processo é de transformação de uso (mudança de
tipologia) porém, atualmente uma única unidade, o aptº 101, do referido prédio que é alugado há 20 anos para
fins residenciais foi transformado para não residencial; inclusive consta no IPTU de dois anos até a presente
data como não residencial. Dessa forma, o IPTU sofreu alteração no valor, o IPTU passou a ser cobrado como
não residencial, sendo o valor muito maior do que o residencial, e o proprietário recebeu uma cota de diferença
de IPTU no valor de R$ 6.813,50, referente a transformação de uso da unidade (residencial para não residencial).
Essa diferença deverá ser paga pelo proprietário da unidade ou repassada ao inquilino que mora há vinte anos
na unidade e foi alugada como residencial? (M.F.R. – Rio de Janeiro, RJ)
Resposta: No caso, a cota de diferença do IPTU é de responsabilidade do locador proprietário. Sendo de interesse
do proprietário a transformação de residencial para não residencial, o mesmo deverá arcar com a diferença. Nos termos
do art. 22, inciso VII da Lei 8.245/91, o locador é responsável pelo pagamento do IPTU, a não ser que transfira este
encargo ao locatário. No caso da consulta, o IPTU com valor a nível residencial foi transferido ao locatário em cláusula
contratual, mas não a diferença pela transformação de uso, de interesse exclusivo do proprietário.

LOCAÇÃO – O CONTRATO É TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL


Pergunta: Tenho um imóvel não residencial alugado através de contrato escrito, o qual passou a ser por
prazo indeterminado; a inquilina não está pagando o aluguel desde 12/2007. Posso ingressar com uma ação de
execução dos aluguéis e encargos contratuais com base no inciso V do art. 585 do CPC, mesmo tendo o
contrato passado a ser por prazo indeterminado? Ou a lei somente me assegura neste caso (contrato por prazo
indeterminado) ajuizar a ação de despejo por falta de pagamento cumulada com a cobrança de aluguéis e multa
contratual? (M.R.A. – Maceió, AL)
Resposta: O contrato de locação é título executivo extrajudicial, seja a prazo determinado ou indeterminado, para
que seja ajuizada a ação executiva com base no art. 585, inciso V, do CPC, conforme redação dada pela Lei nº 11.382,
de 06.12.2006. Normalmente se ajuiza Ação de Despejo por Falta de Pagamento cumulada com cobrança contra o
locatário e fiadores, tendo em vista que corre-se o risco de ser contestada nos embargos à execução por título executivo
extrajudicial, a liquidez, certeza e exigibilidade. Caso o locatário não purgue a mora, o despejo será decretado e terá
continuidade a cobrança dos aluguéis e encargos nos mesmos autos.

34 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10


NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
JUROS ANTES DA ENTREGA DO IMÓVEL?

Renato Ayres Martins de Oliveira (*)

Tem sido prática constante nos negócios imobiliários a inclusão de cláusulas que estipulam cobrança de juros
compensatórios nos contratos de aquisição de unidades imobiliárias ainda na planta, a serem construídas com os
recursos despendidos mensalmente pelos compradores, na medida em que avançam as obras.
Essa cobrança ainda durante a fase de construção importa na exigência de encargos justamente dos quais os
empreendedores recebem o capital necessário para o cumprimento da parte que lhes toca no contrato, sendo, portanto,
inegavelmente abusiva e arbitrária a cobrança, porque está descompassada das proteções asseguradas aos consumi-
dores no ordenamento jurídico.
Nessa situação, os juros, que a rigor devem incidir sobre capital cedido a outrem, como forma de remuneração
desses recursos, são cobrados exatamente de quem adianta os recursos para a obra, em completa inversão à lógica
que autoriza a cobrança do sobredito encargo. Isso porque os adquirentes é quem antecipam os valores necessários à
execução da obra, o que torna absurda, antes da entrega das chaves, a incidência de juros sobre gastos suportados
exclusivamente por esses consumidores.
Com efeito, a ilegalidade que se aponta diz respeito aos juros compensatórios, e não propriamente aos juros
moratórios, os quais não se confundem com aqueles porque visam tão somente a retribuir a perda patrimonial do credor
que deixou de receber no tempo devido a obrigação a que tinha direito, sendo a cobrança, a priori, legítima. Diferente-
mente destes, os juros compensatórios incidem sobre capital cedido a outrem, traduzindo forma de remuneração des-
ses recursos, ou, em outras palavras, o preço do dinheiro emprestado (frutos civis), de tal modo que sua cobrança só se
legitima quando tenha havido essa efetiva disponibilização de capital para um terceiro, diferentemente do que se dá nos
contratos que têm por objeto a aquisição de imóveis a serem ainda construídos.
A bem dizer, a disponibilização de capital na fase de construção do imóvel é feita pelos adquirentes em benefício do
vendedor, que é financiado em grande parte pelos investimentos feitos por aqueles primeiros. Os empreendedores se
comprometem a vender imóvel que ainda não existe ao tempo da contratação, obrigando-se a construí-lo e a entregá-
lo dentro de prazo certo, sendo isso o bastante para tornar ilegal a cobrança dos juros compensatórios ainda durante a
fase das obras, à exceção do que diz respeito ao valor correspondente à fração do terreno cujo preço não tenha sido
pago à vista.
A invalidade de tal cobrança é reconhecida pelo item 14, da Portaria 03, da Secretaria de Direito Econômico do
Ministério da Justiça, que considera abusiva a cláusula que ‘estabeleça no contrato de compra e venda de imóvel, a
incidência de juros antes da entrega das chaves’.
A incidência dos juros compensatórios somente é tolerada após a expedição do ‘habite-se’ pelos órgãos compe-
tentes, visto que a partir deste momento é que os empreendedores ficam desapossados do bem, o que justifica a
compensação financeira à conta da cobrança dos juros.
O correto e legítimo é corrigir o preço contratado até a entrega do bem aos adquirentes e, a partir daí, sim, caso
estes optem pelo financiamento, é que poderiam os empreendedores fazerem incidir juros sobre o saldo do preço
corrigido monetariamente, pois somente a partir da entrega do bem é que os adquirentes terão aptidão de usufruí-lo e
os empreendedores ficarão privados do mesmo.
A partir do reconhecimento de que os empreendedores exigiram e receberam quantias indevidas a título de juros
compensatórios, em gesto de indisfarçável violação ao direito de seus parceiros contratuais de somente serem cobra-
dos daquela verba depois de receberem as chaves das respectivas unidades imobiliárias, orienta-se aos adquirentes de
imóveis ‘na planta’ o ajuizamento de ação de repetição de indébito para obterem a devolução em dobro dos valores
pagos (CDC, art. 42, parágrafo único), com juros moratórios e atualização monetária.
(*) O autor é Advogado do C. Martins & Advogados, RJ, Procurador do Estado do Rio de Janeiro, especialista no
setor de advocacia contenciosa, tributária, direito público e consultoria de contratos cíveis e comerciais.
(O Estado de São Paulo, 04.01.2009)

1º DECÊNDIO ABRIL/2009 – Nº 10 BDI - BOLETIM DO DIREITO IMOBILIÁRIO 35


ÍNDICES DE CORREÇÃO MONETÁRIA
TR POUPANÇA FGV - % IBGE - % FIPE - %
MESES
% % I G P- M IGP/DI I P C -D I IPA-D I INCC-DI INPC IPC - A IPC
Mar./2007 0,1876 0,6885 0,34 0,22 0,48 0,11 0,27 0,44 0,37 0,11
Abr. 0,1272 0,6278 0,04 0,14 0,31 0,02 0,45 0,26 0,25 0,33
Mai. 0,1689 0,6697 0,04 0,16 0,25 (-) 0,04 1,15 0,26 0,28 0,36
Jun. 0,0954 0,5959 0,26 0,26 0,42 0,09 0,92 0,31 0,28 0,55
Jul. 0,1469 0,6476 0,28 0,37 0,28 0,42 0,31 0,32 0,24 0,27
Ago. 0,1466 0,6473 0,98 1,39 0,42 1,96 0,26 0,59 0,47 0,07
Set. 0,0352 0,5354 1,29 1,17 0,23 1,64 0,51 0,25 0,18 0,24
Out. 0,1142 0,6148 1,05 0,75 0,13 1,02 0,51 0,30 0,30 0,08
Nov. 0,0590 0,5593 0,69 1,05 0,27 1,45 0,36 0,43 0,38 0,47
Dez. 0,0640 0,5643 1,76 1,47 0,70 1,90 0,59 0,97 0,74 0,82
Ano 2007 1,45% 7,70% 7,75% 7,89% 4,60% 9,44% 6,15% 5,16% 4,46% 4,38%
Jan./2008 0,1010 0,6015 1,09 0,99 0,97 1,08 0,38 0,69 0,54 0,52
Fev. 0,0243 0,5244 0,53 0,38 0,004 0,52 0,40 0,48 0,49 0,19
Mar. 0,0409 0,5411 0,74 0,70 0,45 0,80 0,66 0,51 0,48 0,31
Abr. 0,0955 0,5960 0,69 1,12 0,72 1,30 0,87 0,64 0,55 0,54
Mai. 0,0736 0,5740 1,61 1,88 0,87 2,22 2,02 0,96 0,79 1,23
Jun. 0,1146 0,6152 1,98 1,89 0,77 2,29 1,92 0,91 0,74 0,96
Jul. 0,1914 0,6924 1,76 1,12 0,53 1,28 1,46 0,58 0,53 0,45
Ago. 0,1574 0,6582 (-) 0,32 (-) 0,38 0,14 (-) 0,80 1,18 0,21 0,28 0,38
Set. 0,1970 0,6980 0,11 0,36 (-) 0,09 0,44 0,95 0,15 0,26 0,38
Out. 0,2506 0,7519 0,98 1,09 0,47 1,36 0,77 0,50 0,45 0,50
Nov. 0,1618 0,6626 0,38 0,07 0,56 (-) 0,17 0,50 0,38 0,36 0,39
Dez. 0,2149 0,7160 (-) 0,13 (-) 0,44 0,52 (-) 0,88 0,17 0,29 0,28 0,16
Ano 2008 1,6348% 7,9036% 9,8100% 9,1000% 6,0730% 9,8048% 11,8735% 6,4809% 5,9027% 6,1632%
Jan./2009 0,1840 0,6849 (-) 0,4356 0,0146 0,8312 (-) 0,3277 0,3332 0,6400 0,4798 0,4646
Fev. 0,0451 0,5453 0,2603 (-) 0,1254 0,2137 (-) 0,3089 0,2679 0,3099 0,5501 0,2726
Mar. 0,1438 0,6445

SINDUSC ON/CUB - % (*) DÓLAR - R$


MESES IMPOSTO DE R ENDA RETIDO NA FONTE
MG RJ RS SC SP C O M ER C IA L PARALELO
Fev./2007 0,19 0,10 0,08 0,32 0,16 2,121 2,300
Base de Cálc ulo A l íq u o ta ( % ) Parcela a
Mar. 0,22 2,44 0,28 0,17 0,15 2,050 2,250 Deduzir (R$)
(R$)
Abr. 0,31 0,13 0,82 0,56 0,71 2,033 2,200 Até 1.434,59 Isento
Mai. 0,36 0,02 0,22 3,17 1,21 1,9289 2,100 De 1.43 4,60 até
Jun. 0,23 0,45 2,06 0,16 1,43 1,926 2,100 2.150,00 7,5 107,59
Jul. 0,35 0,05 0,22 0,75 0,58 1,877 2,090 De 2.15 0,01 até
Ago. 0,24 0,29 0,08 (-) 0,02 0,50 1,962 2,150 2.866,70 15 268,84
Set. 0,40 0,23 0,27 0,26 0,26 1,838 2,100 De 2.86 6,71 até
Out. 0,68 0,63 0,45 0,72 0,78 1,744 2,050 3.582,00 22,5 483,84
Acima 3.582,00 27,5 662,94
Nov. 0,52 0,12 0,23 0,31 0,68 1,783 2,000
Dez. 4,19 0,10 0,08 0,55 0,59 1,771 1,990 DEDUÇÕES:
Ano 2007 8,64% 4,65% 5,26% 7,20% 7,50% (-) 17,05% (-) 16,03% a) R$ 14 4,20 por depen dente; b ) Pensã o alime n-
Jan./2008 0,76 0,37 0,10 0,16 0,07 1,760 2,000 tar integral; c) R$ 1.434,59 para aposentados,
Fev. 0,35 0,88 0,62 0,48 0,38 1,698 1,920 pensionistas e transferidos para a reserva re-
Mar. 0,47 4,80 0,49 0,37 0,20 1,753 1,900 munerada que tenham 65 anos de idade ou
Abr. 0,37 0,22 0,26 0,32 0,41 1,663 1,900 mais; d) contrib uição à P revidên cia Soc ial.
Mai. 0,73 0,26 1,42 5,55 2,72 1,628 1,850 UPC (R$) - Jan. / Mar. - 2009 = 21,67
Jun. 1,40 0,95 4,53 (-) 0,04 2,14 1,597 1,820 Salário -Mínim o - Mar. - 2009 = 465,00
Jul. 1,01 0,53 1,28 2,78 0,60 1,566 1,750 UFE SP(S P) (R$) - 2008 = 14,88 - 2009 = 15,85
Ago. 2,94 0,92 1,82 1,03 1,36 1,6344 1,8200 UFM /SP (R $) - 2008 = 87,20 - 2009 = 92,09
Set. 0,81 0,76 0,48 0,44 0,74 1,9143 2,0500 OBSERVAÇÕES:
Out. 0,84 0,61 0,13 0,36 1,69 2,1153 2,2200 TR e P oupan ça - Per centua l corres ponde nte
Nov. 0,44 0,31 0,35 0,09 0,21 2,3331 2,4500 ao primeiro dia útil do mês, a ser creditado
Dez. 0,31 0,44 0,26 0,28 (-) 0,04 2,3370 2,5000 trinta dias após; D ólar - Co tações do últim o dia
Ano 2008 10,9000% 11,1500% 12,2900% 12,3200% 10,9600% 31,9600% 25,6300% ú t il d o m ê s. ( *) A té 0 2 /2 0 0 7 , c o n f. N B R
Jan./2009 2,79 0,13 0,09 (-) 0,08 0,21 2,3162 2,5500 12.721/1999; a partir de março/2007,
Fev. 0,17 0,42 0,00 0,58 0,42 2,3784 2,5000 conf. NBR 12.721/2006.

COEFICIENTES ACUMULADOS ATÉ O MÊS ANTERIOR


REAJUSTE EM D EZEMBR O/2008 REAJUSTE EM JANEIRO /2009
Indexador B i m. T r im . Q u ad r im . Sem. Anual Indexador B i m. T r im . Q u ad r im . Sem. Anual
I G P -M / F G V 1,0136 1,0147 1,0114 1,0497 1,1188 I G P -M / F G V 1,0026 1,0123 1,0134 1,0280 1,0981
I G P -D I /F G V 1,0116 1,0153 1,0114 1,0421 1,1120 I G P -D I /F G V 0,9962 1,0071 1,0108 1,0182 1,0910
I P C /F G V 1,0103 1,0094 1,0108 1,0240 1,0627 I P C /F G V 1,0109 1,0156 1,0147 1,0215 1,0607
I N P C /I B G E 1,0088 1,0103 1,0124 1,0276 1,0720 I N P C /I B G E 1,0067 1,0117 1,0133 1,0213 1,0648
I P C -A / IB G E 1,0081 1,0107 1,0136 1,0265 1,0639 I P C -A / IB G E 1,0064 1,0109 1,0136 1,0218 1,0590
I P C / FI P E 1,0089 1,0127 1,0165 1,0309 1,0686 I P C /F I P E 1,0055 1,0105 1,0143 1,0228 1,0616

REAJUSTE EM F EVEREIRO/2009 REAJUSTE EM M ARÇO/2009


Indexador B i m. T r im . Q u ad r im . Sem. Anual Indexador B i m. T r im . Q u ad r im . Sem. Anual
I G P -M / F G V 0,9944 0,9982 1,0079 1,0057 1,0815 I G P -M / F G V 0,0998 0,9970 1,0008 1,0116 1,0786
I G P -D I /F G V 0,9957 0,9964 1,0073 1,0071 1,0805 I G P -D I /F G V 0,9989 0,9945 0,9951 1,0097 1,0750
I P C -D I /F G V 1,0136 1,0193 1,0240 1,0245 1,0592 I P C /F G V 1,0105 1,0157 1,0214 1,0253 1,0614
I N P C /I B G E 1,0093 1,0132 1,0182 1,0219 1,0643 I N P C /I B G E 1,0095 1,0124 1,0163 1,0229 1,0625
I P C -A / IB G E 1,0076 1,0112 1,0158 1,0213 1,0584 I P C -A / IB G E 1,0103 1,0132 1,0168 1,0240 1,0590
I P C / FI P E 1,0063 1,0102 1,0152 1,0229 1,0611 I P C /F I P E 1,0074 1,0090 1,0129 1,0218 1,0619

OBS .: Para reajuste anual de aluguel: multiplique o valor pelo indexador contratado.
Veja os índices co mpletos em nosso site: www.diariodasleis.com.br

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