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FACULDADE DE DIREITO
Nelson Chiparanga
Nampula
Novembro de 2020
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE DIREITO
Nelson Chiparanga
Nampula
Novembro de 2020
Índice
1 Introdução..........................................................................................................................5
2.2 Conceito.....................................................................................................................6
2.5.2 Espécies................................................................................................................9
2.6.2.4 Aceitação....................................................................................................14
2.6.2.4.1 Aceitação tácita......................................................................................15
2.8.1 Caducidade.........................................................................................................19
2.8.2 Denúncia............................................................................................................20
2.8.3 Revogação..........................................................................................................20
2.8.4 Rescisão..............................................................................................................20
2.8.5 Resolução...........................................................................................................21
3 Conclusão.........................................................................................................................22
4 Bibliografia......................................................................................................................23
1 Introdução
O presente trabalho, com o tema direito dos contratos, aborda sobre a teoria geral dos
contratos, que circunscreve-se no ramo de direito das obrigações, onde as a autonomia
privada rege toda a relação contratual.
O direito das obrigações nota uma área muito necessária na vida social e jurídica, na
medida em que a autonomia privada vê-se essencial, sem deixar de mencionar a importância
do simples compromisso, do mero consenso na geração dos efeitos obrigacionais ganhou
força com o advento do humanismo e do renascimento (e em boa parte da reforma e de seu
contrapeso, a contra-reforma), na medida em que promoveram o indivíduo, ressaltando seu
papel no mundo.
Tudo passou a se explicar com base na vontade, até as organizações sociais (os
Estados e os governos somente se constituíam por força da vontade de seus súbditos, melhor
dizendo, através do consenso de seus súbditos: e a noção moderna de contrato, de tão natural
que passou a ser considerada passou para além do Direito; e se falou em “contrato social”).
5
2 Direito dos contratos
2.2 Conceito
Para Orlando Gomes o negócio jurídico bilateral, ou plurilateral, sujeita as partes a
observância de conduta idónea a satisfação dos interesses que a regulam.1
Roberto Senise Lisboa: trata-se do ajuste de vontades por meio do qual são
constituídos, modificados ou extintos os direitos que uma das pessoas tem, muitas vezes, em
benefício de outra.2
Código Civil Italiano, art. 1.321. il contrato è l’acoordo di due ou più parti per
costituire, regolare ou estinguere tra loro um rapporto giuridico patrimoniale. (o contrato e
um acordo de duas partes ou mais, para constituir, regular ou extinguir entre elas uma relação
jurídica patrimonial).
1
GOMES, Orlando, Contratos, 17.edicao. editora Forense, Rio de Janeiro, 1996. P. 10
2
SENISE, Roberto, Manual de Direito civil, 3.edicao, Volume III, editora RT, São Paulo, 2005. P. 41
6
2.3 Condições de validade dos contratos
Os contratos, enquanto negócios jurídicos que são, desdobram-se em três planos
distintos, existência, validade e eficácia.
7
negócio jurídico, ponto em que residem limitações ainda maiores à liberdade da pessoa
humana. Trata-se, portanto, da liberdade contratual.3
A autonomia privada é o poder que os particulares têm de regular, pelo exercício de sua
própria vontade, as relações que participam, estabelecendo-lhe o conteúdo e a respectiva
disciplina jurídica. Sinónimo de autonomia da vontade para grande parte da doutrina
contemporânea, com ela porém não se confunde, existindo entre ambas sensível diferença. A
expressão autonomia da vontade tem uma conotação subjectiva, psicológica, enquanto a
autonomia privada marca o poder da vontade no direito de um modo objectivo, concreto e
real.4
3
TARTUCE, Flávio, Direito civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie, editora Método, São
Paulo, 2006. P. 70
4
AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. 5.edicao, editora Renovar, Rio de Janeiro, 2003. P. 348.
8
Segundo Orlando Gomes, a função económico-social do contrato foi reconhecida,
ultimamente, como a razão determinante de sua protecção jurídica. Sustenta-se que o Direito
intervém, tutelando determinado contrato, devido à sua função económico-social. Em
consequência, os contratos que regulam interesses sem utilidade social, fúteis ou
improdutivos não merecem protecção jurídica. Merecem-na apenas os que têm função
económico-social reconhecidamente útil.5
O princípio da função social do contrato está contido em uma cláusula geral que se
revela vinculante, sobretudo do ponto de vista axiológico, pois permite sejam permeados
valores constitucionais a orientar a autonomia contratual. Impõe deveres referentes a
interesses extracontratuais socialmente relevantes.
2.5.2 Espécies.
A interpretação contratual e dita declaratória quando tem como único escopo a
descoberta da intenção comum dos contratantes no momento da celebração do contrato. E
5
GOMES, Orlando, ob cit, P. 20
9
chamada de integrativa ou construtiva quando objectiva o aproveitamento do contrato,
mediante o suprimento das lacunas e pontos omissos deixados pelas partes.
10
Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. São aqueles
negócios que envolvem uma liberalidade, como na doação. Devem ter interpretação estrita,
pois representam renúncia de direitos.
11
2.6 Formação Do Contrato
Um contrato é, como já sabemos, um acordo formado por duas ou mais declarações que
produzem efeitos jurídicos. Essas declarações têm de ter um sentido concordante, isto é, tem
de haver um consenso.
Forma escrita, documento particular (escrito e assinado, artigo 373 º); suporte escrito e
assinado.
Alguns casos em que a própria lei exige que o contrato assuma uma determinada forma
são a compra e venda de imóveis (escritura pública ou documento particular autenticado,
artigo 875), alguns contratos de trabalho (contrato de trabalho com trabalhador estrangeiro,
artigo 5 código de trabalho), contratos de arrendamento urbano (documento particular, artigo
1069), entre muitos outros.
6
ASCENSÃO, José de Oliveira, Direito civil, 5ª ed., Coimbra, Coimbra Editora, 2012. P. 39
12
As exigências legais de forma têm algumas razões de ser, vantagens e desvantagens.
Como vantagens podemos identificar a reflexão das partes, a certeza e segurança jurídica, a
conveniência de apoio técnico, bem como meio de prova. Por outro lado, estas exigências de
forma reduzem a fluência e celeridade do tráfego jurídico, e aumentam os custos associados à
contratação.
Quando temos uma forma legalmente prescrita, temos de saber se estamos perante um
requisito de substância (forma ad substantiam), que é um requisito do negócio, ou um
requisito de prova (forma adprobationem) porque os regimes são diferentes.
No primeiro caso vigora o artigo 220 segundo o qual, quando a forma é um requisito do
negócio, a sua inobservância gera nulidade. Contudo, há algumas excepções que afastam esta
regra, como é o caso do artigo 410º sobre a limitação da legitimidade para invocar a falta de
foram. Temos aqui casos de limitação da legitimidade para invocar a invalidade do contrato
por inobservância da forma legalmente exigida. Há também casos de inalegabilidades
formais: invocação da invalidade de um negócio pela parte que o provocou intencionalmente,
que pode ser reconduzida ao exercício abusivo do direito.7
7
ASCENSÃO, José de Oliveira, Ob Cit, p. 40
13
2.6.2.1 Efeitos da proposta
Quais são os efeitos de uma proposta completa, precisa, firme e formalmente
adequada? A pessoa que faz a proposta, o proponente passa a estar numa posição de sujeição.
Isto significa que vai ver a produção de determinados efeitos jurídicos na sua esfera jurídica
dependente do destinatário da proposta. Por sua vez, o destinatário adquire um direito
potestativo de aceitar e, se o fizer, formar o contrato.
Basicamente, uma declaração negocial que não cumpra algum dos requisitos
supracitados para ser considerada como proposta, pode ser qualificada como um convite a
contratar.8
Esta acaba por ser uma questão muito controversa, mas o artigo 230 º nº3 é claro e
arruma a discussão a acerca da admissibilidade das propostas feitas ao público em geral. Os
exemplos mais comuns de propostas não recipiendas são o envio de catálogos, a exposição de
mercadorias em montras, a difusão de mensagens publicitárias e a disponibilização de auto-
serviços.
2.6.2.4 Aceitação
A aceitação tem de ser conforme com a proposta e formalmente adequada.
Sobre o primeiro requisito, conformidade, temos o artigo 233 º que estatui que a
"aceitação com aditamentos, limitações ou outras modificações importa a rejeição da
proposta Quer isto dizer que a aceitação tem de ir ao encontra da proposta.
8
ASCENSÃO, José de Oliveira, Ob Cit, p. 45
14
adoptar, pelo que a aceitação terá de revestir forma idêntica, sob pena de ser considera como
mera contraproposta. Esta regra retira-se do artigo 223 º nº 1 in fine, que nos indica que, em
caso de forma convencional, presume-se que as partes não querem vincular-se senão pela
forma convencionada.
Resta acrescentar sobre este ponto que, de acordo com o artigo 226 n 2, a declaração
não chega a produzir efeito se, entre a emissão e a sua recepção, o declarante perder o direito
de disposição da coisa.
9
FARIA, Jorge Leite Areias Ribeiro de, Direito das obrigações, Vol.I, Coimbra, Almedina, 2003. P. 89
15
2.6.2.4.3 Vigência da proposta: caducidade
O artigo 228º fala-nos da questão em torno da duração da proposta contratual e
contém muitas regras. Sobre a caducidade da proposta temos três situações possíveis:
No nº2 lemos que se, porém, ao mesmo tempo que a proposta, ou antes dela, o
destinatário receber a retractação do proponente ou tiver por outro meio conhecimento dela,
fica a proposta sem efeito. A lógica desta disposição está no facto de a retractação ser anterior
à proposta. Sobre a proposta ao pública, diz-nos o nº3 que esta pode ser revogada, desde que
essa revogação seja feita na forma da oferta ou em forma equivalente.
16
a) Contratos consensuais: sao aqueles que se aperfeicoam simplesmente pela declaracao
da vontade dos contratantes. Ex: contrato de compra e venda.
b) Contratos reais: sao aqueles que, para se aperfeicoarem, precisam da efetiva entrega
da coisa (traditio rei). A declaracao de vontade e elemento necessario, porem
insuficiente, devendo ocorrer a entrega do bem para que o contrato seja celebrado. Ex:
contrato de mutuo.
a) Solenes: aqueles cuja forma e determinada pela lei. Ex: compra e venda de imóvel.
Insta observar que a desobediência a forma prevista em lei gera nulidade do negócio
jurídico.
b) Não solenes: aqueles em que não há forma especial para sua celebração, seguindo,
pois, o principio da liberdade das formas (principio do consensualismo). Ex: contrato
de mandato.
Parte da doutrina diferencia o contrato solene do contrato formal. Segundo esta linha de
pensamento, os contratos solenes são aqueles em que há exigência de escritura pública para a
sua celebração, como o contrato de compra e venda de imóvel. Por outro lado, os contratos
formais são aqueles em que há regras especiais para sua formação, como a exigência de
forma escrita.
17
2.7.5 Contratos Bilaterais e Unilaterais
Quanto às obrigações recíprocas, os contratos podem ser:
a) Unilaterais: impõem deveres a apenas uma das partes. Ex.: contrato de doação. Obs.:
atentar para os chamados contratos bilaterais imperfeitos.
b) Bilaterais: impõem deveres recíprocos a ambas as partes. São chamados de contratos
sinalagmáticos. Ex.: contrato de locação.
c) Plurilaterais (contratos plurimos): há direitos e deveres recíprocos entre todos os
sujeitos envolvidos no contrato. Ex.: contrato de sociedade.
Todo contrato bilateral é oneroso, mas nem todo contrato unilateral é gratuito. Ex: mútuo
feneratício, que é unilateral, porém oneroso, pois há pagamento de juros.
a) Principais: são independentes, existindo por si só. Ex: contrato de compra e venda.
b) Acessórios: são aqueles que guardam uma relação de dependência com outro contrato,
existindo em função dele. Ex: contrato de fiança, que é acessório a um contrato de
mútuo.
18
Obs.: contratos coligados. Os contratos coligados constituem situação intermediária entre
os contratos principais e acessórios, pois se tratam de dois contratos principais por natureza,
mas que, por vontade das partes, estão unidos por um nexo funcional. Ex: A compra de um
terreno com imóvel para moradia (contrato principal) e a compra de outro terreno, vizinho,
para área de lazer (contrato secundário).
2.8.1 Caducidade
A caducidade pode ser definida como a forma de extinção ex. nunc de uma situação jurídica,
ipso iure, pelo decurso do tempo, a sua principal causa, ou pela verificação de qualquer facto
superveniente a que se atribua um efeito extintivo ao vínculo contratual. É uma forma de
extinção automática porque não depende de um acto ou declaração. 10 Em termos sintéticos, as
características mais importantes da caducidade são o seu efeito automático e apenas para o
futuro. O contrato deixa de produzir efeitos a partir da altura em que caduca.
10
COSTA, Mário Júlio de Almeida, Direito das obrigações, 12ª ed., Coimbra, Almedina, 2014. P. 245
19
2.8.2 Denúncia
A denúncia é uma forma de extinção dos contratos unilateral, ad libitum, para o futuro
de um contrato de duração indeterminada, impedindo a sua prossecução ou renovação
automática. Ao contrário da caducidade, a denúncia não é um efeito automático, depende de
um acto jurídico, de uma declaração.11
Se olharmos para o artigo 1103 vemos que a sua epígrafe é "denúncia justificada".
Ora, se se faz depender o direito de denunciar o contrato de um conjunto de pressupostos,
estamos na verdade a falar de uma espécie de resolução sem efeitos retroactivos. Nestes casos
temos de ser capazes de ler os artigos e, mediante a sua análise, depreender qual é que é o
instituto de cessação que lá está mediante a observação de certas características. A epígrafe
do artigo pouco importa.
2.8.3 Revogação
Na sua base, a revogação afasta-se muito da denúncia e da caducidade. A revogação é,
no fundo, um novo contrato que resulta pura e simplesmente da previsão do artigo 406 nº l.
Também pode ser conhecida por distrato e funda-se numa lógica muito simples: se as partes
entraram no contrato livremente e por mútuo acordo, também devem poder sair dele de
acordo com os mesmos pressupostos.12
2.8.4 Rescisão
Apesar de ainda se usar esta terminologia na linguagem corrente, a figura da rescisão
já não existe no nosso ordenamento jurídico. Há semelhança do que se passa com o
empréstimo, esta figura desapareceu com o novo Código Civil já que eram institutos do
Código de Seabra. O que importa aqui é ver o que é que se quer na realidade dizer e perceber
qual é a forma de extinção contratual que deveria lá estar.
É de realçar que, no entanto, a rescisão vem referenciada uma vez no nosso código
civil actual, no artigo 702º nºl. A professora considera que este foi um deslize do legislador.
11
Idem, p. 250
12
COSTA, Mário Júlio de Almeida, Ob CIt, p. 254
20
2.8.5 Resolução
A resolução está regulada por um regime jurídico geral, previsto pelo artigo 4325 e ss.
Acontece que nenhum destes artigos nos fornece uma definição legal da resolução, pelo que a
professor Joana Farrajota define-a como a forma de cessação dos contratos unilateral, e que
possui efeitos retroactivos (artigo 4335), pelo menos tipicamente.
Assim sendo, esta figura confunde-se com a denúncia unilateral e com a denúncia
justificada, que vimos como casos especiais. Daqui depreendemos que as fronteiras não são
estanques.13 A fonte deste instituto pode ser legal ou convencional, isto por força do artigo
4325 n51. Ou seja, o próprio contrato pode ter uma cláusula que preveja a possibilidade de
resolução. Neste sentido, discute-se se há limites à autonomia das partes. Há uma querela
doutrinária enorme em torno da resolução que resulta da convenção das partes, precisa mente
no que toca aos limites desta.
13
Idem, p. 258
21
3 Conclusão
Concluindo, todos sabem que a Revolução Francesa foi o marco da superação política do
Antigo Regime que ainda dividia a sociedade em estratos, com privilégios para alguns grupos
e a discriminação de outros. A Revolução foi a reacção da burguesia à perpetuação dessa
condição medieval nas instituições políticas (“pas des diferences”, “pas des priviléges”) e
suas conseqüências mais imediatas foram o fim das diferenças, a garantia da igualdade de
tratamento a todos os indivíduos (“egalité”) e o levantamento das restrições impostas aos
cidadãos comuns (“liberté”). Não é à toa que liberdade e igualdade tenham sido os dois
primeiros brados do lema revolucionário.
Foi precisamente a partir desse ponto, assegurada a liberdade para a realização dos
interesses económicos da burguesia, aliada à igualdade presumida de condições entre os
indivíduos, que pode florescer a ideia, transformada em dogma, da autonomia da vontade, ou
seja, o dogma da liberdade incondicionada do indivíduo para situar-se como bem lhe
aprouvesse perante o mundo.
22
4 Bibliografia
Doutrina