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UNIVERCIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO

Licenciatura em Direito

Modulo de Direito das Obrigações

2º Ano

Tema: Classificação dos contratos quanto a forma, modo e efeitos.

Alima Victorino Maquitoamala Fulumeiro

Código: 11220350

Beira, Maio, 2023


UNIVERCIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO

Licenciatura em Direito

Modulo de Direito das Obrigações

2º Ano

Tema: Classificação dos contratos quanto a forma, modo e efeitos.

Alima Victorino Maquitoamala Fulumeiro

Código: 11220350

Trabalho de pesquisa remetida a Universidade


Aberta ISCED, na Faculdade de Direito para a
Avaliação.

Tutores: MSC. Helio Serafim Candido

Beira, Maio, 2023


Índice

1. Introdução ........................................................................................................................... 1

2. Referencial Teórico ................................................................................................................ 2

2.1. Conceito .......................................................................................................................... 2

2.2. Noção de contrato............................................................................................................ 2

2.3. Função social do contrato ................................................................................................ 2

2.4. Fundamento da obrigatoriedade dos contratos ................................................................ 3

2.5. Principais critérios de classificação dos contratos .......................................................... 4

2.6. Contratos considerados em si mesmo ............................................................................. 4

2.6.1. Quanto à forma ......................................................................................................... 4

2.6.2. Quanto aos efeitos: Unilaterais, bilaterais e plurilaterais. ........................................ 5

2.6.3. Classificação quanto ao modo por que existem: ...................................................... 6

2.8. Contratos pessoais (intuitu personae ou personalíssimos) e contratos impessoais ......... 7

2.9. Contratos instantâneos e contratos de execução continuada ........................................... 7

2.10. Contrato por prazo determinado e contrato por prazo indeterminado .......................... 8

2.11. Contratos consensuais e contratos reais ........................................................................ 9

2.12. Contratos obrigatórios e contratos reais ........................................................................ 9

2.13. Subcontrato e autocontrato ............................................................................................ 9

2.14. Novas manifestações contratuais ................................................................................ 10

2.15. Importância da Classificação ...................................................................................... 11

3. Conclusão............................................................................................................................. 13

4.Referencias bibliográficas ..................................................................................................... 14


1. Introdução

Classificar contratos significa colocá-los em grupos, de acordo com suas semelhanças. A


finalidade é acentuar compatibilidades e procurar as incompatibilidades, para, assim, agrupar
os contratos ou afastá-los. O importante é que as espécies, classificadas numa categoria
contratual, mais se afastem do que se aproximem das espécies classificadas em outra. Além
do que, a partir do momento que um contrato é classificado numa categoria, ele não poderá se
encaixar em categoria oposta. Por exemplo: ou o contrato é unilateral ou é bilateral; ou é
gratuito ou é oneroso. A utilidade da classificação dos contratos tem grande importância
teórica, mas não é só. Venosa1 fala da questão “propedêutica” e do “pré-requisito” do exame
de qualquer contrato. Isso quer dizer que é importante que se saiba a classificação de um
contrato, ao analisá-lo, para poder atingir sua natureza jurídica, seus efeitos e consequências.
A importância da classificação contratual pode ser comparada à importância do diagnóstico
médico, ou seja, somente após a verificação de diversos sintomas é que o médico poderá
diagnosticar. Da mesma forma, após classificar um contrato, o jurista saberá qual sua
natureza jurídica, seus efeitos e as disposições legais aplicáveis. Ensina venosa: “Na
classificação dos contratos, buscamos, destarte, agrupar as várias espécies com características
comuns [...] a finalidade é facilitar o seu exame, quer na elaboração do contrato, quer na
avaliação de suas consequências.”. Dessa forma, este estudo traz uma síntese da classificação
dos contratos na atualidade, decorrente da vigência do Código Civil de 2002 e das mudanças
sociais ocorridas desde o início do século XX.

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2. Referencial Teórico

2.1. Conceito

Contrato é o acordo de vontades que faz nascerem obrigações. É a fonte por excelência das
obrigações no direito.

O contrato é um negócio jurídico, em regra, bilateral, e tem como objetivo criar, modificar ou
extinguir direito entre duas partes.

Os contratos são classificados em função das obrigações que originam, de como são
formados, dos requisitos específicos e particulares e das prestações que geram para as partes
contratantes.

2.2. Noção de contrato

Dentro da teoria dos negócios jurídicos, é tradicional a distinção entre os atos unilaterais e os
bilaterais. Aqueles se aperfeiçoam pela manifestação da vontade de uma das partes, enquanto
estes dependem da coincidência de dois ou mais consentimentos. Os negócios bilaterais, isto
é, os que decorrem de acordo de mais de uma vontade, são os contratos. Portanto, o contrato
representa uma espécie do gênero negócio jurídico. E a diferença específica entre ambos
consiste na circunstância de o aperfeiçoamento do contrato depender da conjunção da
vontade de duas ou mais partes.

Por conseguinte, cada vez que a formação do negócio jurídico depender da conjunção de duas
vontades encontramo-nos na presença de um contrato, que é, pois, o acordo de duas ou mais
vontades, em vista de produzir efeitos jurídicos.

Em face de tal conceito, o âmbito do contrato não se circunscreve apenas ao Direito das
Obrigações, estendendo-se aos outros ramos do direito privado e mesmo ao direito público.
Todavia, embora não se possa negar o aspecto contratual de muitas relações jurídicas que se
estabelecem mediante o acordo de vontades e fora do terreno patrimonial, uma parte
considerável da doutrina procura limitar o conceito de contrato, em sentido estrito, aos ajustes
que constituam, regulem ou extingam relações patrimoniais.
2.3. Função social do contrato

O contrato exerce uma função e apresenta um conteúdo constante: o de ser o centro da vida
dos negócios. É o instrumento prático que realiza o mister de harmonizar interesses não

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coincidentes. Defluindo da vontade das partes, ele só se aperfeiçoa quando, pela transigência
de cada um, alcançam os contratantes um acordo satisfatório a ambos.

A instituição jurídica do contrato é um reflexo da instituição jurídica da propriedade. Ele é o


veículo da circulação da riqueza e, por conseguinte, só se pode concebê-lo como instituição
pura de direito privado, em regimes que admitem a propriedade individual.

Aliás, o extraordinário desenvolvimento do comércio, que impôs a necessidade da célebre


evolução da teoria contratual só foi possível, por outro lado, em virtude do aperfeiçoamento
do contrato. O contrato será o instrumento imprescindível e o elemento indispensável à
circulação dos bens. E não há exagero em se dizer que o direito contratual foi um dos
instrumentos mais eficazes da expansão capitalista em sua primeira etapa.

2.4. Fundamento da obrigatoriedade dos contratos

Uma vez ultimado o contrato liga as partes concordantes, estabelecendo um vínculo


obrigacional entre elas. Algumas legislações vão a ponto de afirmar que as convenções
legalmente firmadas transformam-se em lei entre as partes.

Tal vínculo se impõe aos contratantes, que, em tese, só o podem desatar pela concordância de
todos os interessados. E o descumprimento da avença por qualquer da parte, afora os casos
permitidos em lei, sujeita o inadimplente à reparação das perdas e danos (CC, art. 389).

A explicação da obrigatoriedade dos contratos assenta em preocupação que ultrapassa as raias


do interesse particular para atender a um anseio de segurança que é de ordem geral. Pois o
problema deve ser encarado não sob o ângulo individual, mas sob o social. Aquele que, por
livre manifestação da vontade, promete dar, fazer ou não fazer qualquer coisa, cria uma
expectativa no meio social, que a ordem jurídica deve garantir. O propósito de se obrigar,
envolvendo uma espontânea restrição da liberdade individual, provoca consequências que
afetam o equilíbrio da sociedade. Por conseguinte, a ordenação jurídica, na defesa da
harmonia das relações inter-humanas, cria elementos compulsórios do adimplemento.

Com efeito, é a lei que torna obrigatório o cumprimento do contrato. E o faz compelir aquele
que livremente se vinculou a manter sua promessa, procurando, desse modo, assegurar as
relações assim estabelecidas.

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O contrato se aperfeiçoa pela coincidência de duas ou mais manifestações unilaterais da
vontade. Se estas se externarem livre e conscientemente e se foram obedecidas as prescrições
legais, a lei as faz obrigatórias, impondo a reparação das perdas e danos para a hipótese de
inadimplemento.

2.5. Principais critérios de classificação dos contratos

No que tange à capacidade jurídica de contratar, a regra geral prevista no art. 104 do Cód.
Civil. menciona que para a validade do negócio jurídico requer-se agente capaz, objeto lícito
possível, determinado ou determinável e forma prescrita e não defesa em lei.

Observe-se que a incapacidade absoluta atinge menores de 16 anos, pessoas que em razão de
enfermidades possam estar privadas de seu discernimento e da possibilidade de exprimirem
sua vontade.

A incapacidade relativa é própria aos maiores de 16 anos e menores de 18 anos. Atingem


também os doentes, ébrios, viciados, pessoas excepcionais sem desenvolvimento mental e
pródigos. As pessoas jurídicas, por sua vez, são representadas na forma de seus atos
constitutivos.

A classificação de contratos, que ora se propõe, está lastreada em grande parte na Professora
Maria Helena Diniz (2006: 112).

2.6. Contratos considerados em si mesmo

2.6.1. Quanto à forma

Quanto à forma como se aperfeiçoam, podem ser:

a) Solenes e Não solenes.

Por contratos solenes deve se entender aqueles em que a lei exige como requisito de
validade uma forma especial. Por isso são também chamados de contratos formais.
Exemplos: compra e venda, doação, permuta de bem imóvel, pois dependem de escritura
pública. Outros exemplos: penhor, seguro, fiança exigem a forma escrita, portanto, também
são contratos solenes. Em todos os casos, a violação da forma gera nulidade do contrato.

Por contratos não solenes deve se entender aqueles que se formam pelo simples acordo de
vontades, independentemente de forma especial. Por isso são chamados de contratos

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informais ou não formais. Exemplos: locação, comodato, parceria, etc. Nesses casos,
qualquer forma é válida, inclusive a verbal e a tácita. Nada obsta, porém, que as partes
promovam estes contratos estipulando que os mesmos não valerão sem instrumento público,
conforme preceitua o art. 109, CC. Em tal situação, o instrumento público passa a ser da
substância do negócio jurídico, figurando, portanto, como requisito de validade do acto.

b) Consensuais e Reais.

Os contratos consensuais são os que perfazem com o simples acordo de vontades,


independentemente da coisa ou de forma especial. Exemplos: compra e venda de bem móvel,
locação, transporte, etc.

Os contratos reais são os que se formam somente com a entrega da coisa. Exemplo: depósito,
mandato, comodato, etc. Nesses contratos o acordo de vontades é insuficiente para o
aperfeiçoamento do negócio, valendo, tão somente, como contrato preliminar.

2.6.2. Quanto aos efeitos: Unilaterais, bilaterais e plurilaterais.

Unilaterais criam obrigações unicamente para uma das partes. Ex: doação pura, mútuo,
comodato, mandato, fiança.

Prestação a cargo de uma só parte, mesmo envolvendo duas partes e duas declarações de
vontade.

Bilaterais geram obrigações para ambos os contratantes. Ex: compra e venda locação,
contrato de transporte.

Obrigações são recíprocas. A prestação de um representa de acordo com a vontade de ambas


as partes, a contraprestação, a compensação pela outra. Não é necessário que as prestações
sejam equivalentes segundo um critério objetivo, basta que cada parte veja na prestação da
outra uma compensação suficiente à sua própria.

Basta que as prestações principais tenham esse nexo de reciprocidade, podendo haver
prestações acessórias ou deveres de conduta apenas de uma das partes.

Nestes, pode uma das partes recusar-se à prestação que lhe incumbe se, depois de concluído o
contrato, sobrevier à outra contratante diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer
ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou.

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Plurilaterais contêm mais de duas partes. Há várias partes, como ocorre no contrato de
sociedade, em que cada sócio é uma parte. Rotatividade dos membros. Principal
característica: mediante sua realização, as partes perseguem um fim comum. Exclusão do rol
dos contratos por ser na verdade um ato coletivo e haver a ausência do elemento
‘consentimento’.

A classificação em unilateral e bilateral é feita sob o prisma dos efeitos dos contratos e não
sob o da formação.

Parte da doutrina vislumbra uma doutrina intermediária: contrato bilateral imperfeito. É o


unilateral que por circunstância acidental, ocorrida no curso da execução, gera alguma
obrigação para o contratante que não se comprometera. Pode ocorrer com o depósito ou o
comodato quando surgir para o depositante ou comodante a obrigação de indenizar certas
despesas realizadas pelo comodatário e pelo depositário. Ou aquele contrato que já na sua
celebração atribui prestações às duas partes, mas não em reciprocidade.

O contrato bilateral imperfeito subordina-se ao regime dos contratos unilaterais porque


aquelas contraprestações não nascem com a avença, mas de fato eventual posterior à sua
formação, não sendo, assim, consequência necessária de sua celebração.

2.6.3. Classificação quanto ao modo por que existem:

a) Principal: trata-se de contrato fruto da convergência de vontades, estabelecendo relação


jurídica originária entre as partes.

b) Acessório ou adjeto: espécie de contrato que se constitui em função do contrato


principal, sendo garantia ou complementação deste.

c) Derivado: configura um contrato novo que só surge em razão da existência de uma


relação jurídica contratual pretérita. Não se comunica, porém com o contrato principal.

2.7. Contratos principais e contratos acessórios

Reciprocamente considerados, os contratos classificam-se em principais e acessórios.


Contratos principais são os que têm existência própria, independente, autônoma. Em sendo
nulos ou extintos, assim também o serão os acessórios ou dependentes, que, por seu turno,
dependem da existência de outros.

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Gomes (2001, p. 78) ensina que:

A função predominante dos ‘contratos acessórios ‘ é garantir o cumprimento


de obrigações contraídas em ‘contrato principal’, como o penhor, [...], a
hipoteca, a fiança e a caução, mas não são apenas acessórios os ‘contratos de
garantia’, senão ‘todos’ os que têm como pressuposto outro contrato.

O contrato acessório, porém, pode exercer certa influência sobre o principal, como no caso do
credor que pode pedir imediato pagamento, se perece ou se deteriora a coisa dada em
garantia. Ainda, segundo o autor, há diferentes formas de contratos acessórios: os
preparatórios (mandato), os integrativos (aceitação do terceiro beneficiário na estipulação em
seu favor), e os complementares (adesão a um contrato aberto).

2.8. Contratos pessoais (intuitu personae ou personalíssimos) e contratos impessoais

No que atende a pessoa do contratante, os contratos são pessoais ou impessoais. Os contratos


pessoais são aqueles em que a pessoa do contraente é considerada pelo outro como elemento
determinante de sua conclusão. A pessoa do contratante tem influência decisiva na
manifestação de vontade do outro, que considera sua habilidade particular, idoneidade,
aptidão, competência. Geralmente geram obrigação de fazer. Nos contratos impessoais, a
pessoa do contratante é juridicamente indiferente, não sendo importante quem executará a
obrigação, desde que seja cumprida. Gera obrigação de fazer. Os contratos pessoais são
intransmissíveis, bem como não podem ser cedidos e são anuláveis, em havendo erro
essenciais sobre a pessoa do contratante. É o caso do contrato de um cantor para fazer uma
apresentação, de determinada cozinheira para preparar uma iguaria, de artista para fazer uma
obra de arte.

2.9. Contratos instantâneos e contratos de execução continuada

Quanto ao tempo de sua execução, os contratos podem ser: de execução imediata ou


instantânea e de execução continuada ou sucessiva.

De execução imediata ou instantânea é o contrato em que a solução se efetua


de uma só vez e por prestação única, tendo por efeito a extinção cabal da
obrigação, como acontece no contrato de compra e venda à vista, em que o
comprador, contra a entrega da coisa, faz o pagamento do preço em um só ato
(PEREIRA, 2000, p. 41).

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Tais contratos podem ser de execução diferida, como ocorre no contrato de compra e venda,
quando as partes estipulam data posterior à formação do contrato para ser realizado o
pagamento. Os contratos de duração ou de trato sucessivo são os que se protraem no tempo,
caracterizando-se pela prática ou abstenção de atos reiterados, solvendo-se num espaço mais
ou menos longo de tempo. Por exemplo: o contrato de compra e venda em prestações; na
locação; na prestação de serviços; no fornecimento de mercadoria.

Sampaio (2002, p. 41) apresenta os efeitos dessa classificação, apontando


que: [...] nos contratos instantâneos, a resolução por inexecução ou a
anulação, repõe as partes ao estado anterior, o que não ocorre, em geral,
com os de duração;...a prescrição da ação para exigir o cumprimento de
prestações vencidas, nos contratos de duração, começa a correr da data do
vencimento de cada prestação; a teoria da imprevisão tem vez nos contratos
de duração e, nos contratos instantâneos, apenas naqueles de execução
diferida [...].

2.10. Contrato por prazo determinado e contrato por prazo indeterminado

No que diz respeito ao tempo de duração do contrato, ele pode ser por prazo determinado e
por prazo indeterminado. Quando as partes estipulam prazo certo, uma data para terminar a
vigência do contrato, será por prazo determinado. E será por prazo indeterminado quando as
partes não fixarem uma data ou prazo para seu término.

Venosa (2003a, p. 417) aduz que “[...] consequência importante da distinção diz respeito à
necessidade de dar notícia à outra parte da intenção do contratante em terminar a vigência da
avença nos contratos por prazo indeterminado”.

Mesmo sendo o contrato por prazo determinado, pode se transformar em indeterminado se as


partes continuarem no cumprimento das avencas contratuais após o decurso do prazo
determinado. A própria lei, como a do inquilinato, trata da transformação do contrato de
tempo determinado para indeterminado. Mas, se não houver lei ou cláusula contratual nesse
sentido, a denúncia do contrato terá o prazo de 30 dias para a notificação de não
continuidade. O contrato poderá ser prorrogado com manifestação expressa ou tácita das
partes. Se as partes prorrogarem o contrato e a ele agregarem novas cláusulas, haverá uma
renovação do contrato, caso contrário, haverá a recondução contratual.

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2.11. Contratos consensuais e contratos reais

A classificação em Contratos Consensuais e Contratos Reais tem sua origem na tipificação


das causas civis de obrigações estabelecidas no Direito Romano, que foi convertida pela
doutrina romanista, numa classificação didática. No Direito Romano, para constituir uma
obrigação precisa-se o pronunciamento de palavras solenes (stipulatio), ou a subscrição de
um documento, ou a entrega da coisa ou da manifestação da vontade, como já citado no início
deste trabalho. Assim, os contratos verbis e litteris eram considerados formais, os reais,
quando a entrega da coisa opera como pressuposto da criação da obrigação. Os consensu são
aqueles que se aperfeiçoam pelo mero consentimento.

2.12. Contratos obrigatórios e contratos reais

É na doutrina de Diez-Picazo (1996, p. 140), que se pode encontrar essa classificação dos
contratos em obrigatórios e reais.

O sentido de contratos reais, na doutrina moderna, é completamente diverso do sentido


apurado no item anterior, que se refere aos contratos que prescindem da entrega da coisa para
seu aperfeiçoamento. Contrato real, atualmente, significa o contrato que produz como
“efeito” a constituição, a transmissão, a modificação ou a extinção de um direito real. São
contratos com “eficácia real” diante dos contratos obrigatórios, cujo efeito se limita a
constituir, entre as partes, uma relação obrigacional e atribuir direitos de crédito. Os estudos
dos alemães, nesse sentido, para diferenciar a idéia de contrato real, entre os contratos reais,
que dependem da entrega da coisa, dos contratos reais, com eficácia jurídico-real, utilizam
terminologia específica. Aos primeiros denominam Realvertrag; e, aos segundos, dingliches
Verträge.

2.13. Subcontrato e autocontrato

Da mesma forma que existe contrato acessório a um principal, como é o caso da fiança, há
também contratos que são derivados de um principal. Existe um contrato base do qual surge o
derivado, denominado, ainda, de subcontrato.

“No subcontrato, uma das partes do contrato-base participa do outro, tendo em vista sua
posição originária na primeira avença” (VENOSA, 2003b, p. 424).

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Como ninguém pode transferir mais direito do que tem, o contrato derivado restringe-se ao
contrato-base, mas ambos coexistem. Apenas ocorre uma das partes do contrato principal que
será, também, parte no subcontrato. É o que ocorre na sublocação, na subempreita, no
submandato, no subcomodato. Em cada um dos contratos, base e derivado, só há duas partes.
São contratos separados, mas não independentes, pois têm o mesmo objeto. Por fim, a
subcontratação poderá ser proibida pela lei ou pela vontade das partes, e, se houver
desobediência, será motivo para a rescisão do contrato-base. Quanto ao autocontrato, é sabido
que se faz necessária a concorrência de duas vontades, para que se constitua um contrato.
Ocorre que “[...] nas situações em que o representante conclui ele mesmo o contrato por si e
pelo representado, existe uma configuração formal de ‘autocontrato’”, ensina Venosa (2003b,
p. 427).

O que ocorre no autocontrato é que há uma manifestação de vontade prévia de uma das
partes, configurada num instrumento de representação (procuração), mas no momento da
formação do contrato, juntamente com a vontade da outra parte, ambas se consolidam em
uma só pessoa. Não se trata de um “contrato consigo mesmo”, ou seja, uma pessoa que
contrata com ela própria, mas essa pessoa expressa sua vontade e representa a vontade da
outra parte, em condições excepcionais e definidas.

Tal estrutura contratual é bastante criticada, devido à problemática da manifestação da


vontade. Mas quando o mandatário recebe expressamente poderes estritos e delimitados do
mandante, sem maior âmbito de atuação, o instituto pode ser admitido se não usar da
representação em seu próprio benefício (Art. 1177 do CC).

Importa ressaltar a diferença entre a representação convencional e a legal, em casos de


autocontrato. Na primeira, o autocontrato pode ser aceito, desde que expressamente permitido
e com delimitação dos poderes. Da segunda, cuida os Arts. 497 e 498 do CC, e, regra geral,
repele a Auto contratação, a não ser que haja comprovação de real vantagem em favor do
representado.

2.14. Novas manifestações contratuais

Característica das novas manifestações contratuais, reflexo do consumo em massa, é a


despersonalização do contratante, que pode ser observada em formas contratuais modernas,
como o contrato de adesão e o contrato coletivo, tratados anteriormente. Mas, para promover

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proteção, uniformização e agilidade nas relações contratuais, outras figuras apareceram, tais
como: o contrato-tipo; o contrato coativo; e o contrato dirigido ou regulamentado.

O contrato-tipo pressupõe que as partes, em igualdade econômica, podem utilizar contrato


com cláusulas predispostas. Contém o esquema concreto dos futuros contratos individuais, de
forma que os contratantes nada mais têm a fazer do que subscrevê-los. Requer forma escrita.

Os futuros contratantes pertencem a categorias contrapostas e organizadas de


interessados, podendo ou não ser representadas por associações respectivas,
como, por exemplo, o contrato estipulado entre um grupo de industriais e
diversos fornecedores de matéria-prima (GOMES, 2001, p. 127).

O contrato coativo representa o “máximo do dirigismo contratual”, podendo ser configurados


os contratos entre as concessionárias de serviço público de fornecimento de água, luz, esgoto,
gás, telefone e os usuários desses serviços. A concessionária não pode negar o serviço
público ou escolher o usuário com quem contratar, nem o usuário pode prescindir do serviço.
Na verdade, as partes são obrigadas a contratar, diante da consequência do privilégio
concedido às concessionárias que detêm o monopólio dos serviços públicos.

Importa distinguir se a norma é imperativa ou cogente, ou se é dispositiva. Na primeira, a


imperatividade poderá estar imbuída no próprio espírito da lei, ou em expressões como: “é
proibido, é nulo”. Na segunda, há a liberdade de disposição das partes, especialmente quando
houver expressões do tipo: “salvo disposição em contrário”.

2.15. Importância da Classificação

O legislador preocupou-se em estabelecer regras específicas aos contratos bilaterais, que não
atingem os unilaterais, como dispõem os Arts. 472. Assim também, no mesmo sentido os
Arts. 473, 474, 475, 476, 477, 478, 479, 480, entre outros. Daí a importância em se saber se
determinado contrato é unilateral ou bilateral, de acordo com a carga obrigacional das partes,
para considerar a possibilidade de aplicação dos dispositivos acima citados ou não. Dessa
forma, aos contratos bilaterais aplica-se o disposto quanto ao distrato e à cláusula resolutiva.
O contrato poderá ser rescindido unilateralmente ou por ambas as partes, mas a parte que não
deu causa ao descumprimento pode pedir o desfazimento judicial do contrato (cláusula
resolutiva implícita ou tácita).

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Pode ocorrer, ainda, nos contratos de obrigações sucessivas, que a parte que deve cumprir a
obrigação inicial, se recuse a fazê-lo até que a outra satisfaça a que lhe compete ou dê
garantia bastante para tal; isso se, após concluído o contrato, sobrevier ao contratante
diminuição em seu patrimônio que torne duvidosa a prestação pela qual se obrigou. (Art. 477
CC). São casos de exceção (defesa) do contrato não cumprido, na forma total e parcial. Na
primeira incumbe a prova ao contratante que não cumpriu a obrigação (Art. 476 CC); na
segunda o ônus da prova recai na pessoa que invoca a exceção, pois é presumido regular o
pagamento aceito (Art. 477 CC). A exceção do contrato não cumprido pode ser renunciada
por uma ou ambas as partes, e não poderá ser arguida. Mas, esses casos são cuidadosamente
analisados pelo julgador, posto que pode haver situações de abuso e má-fé, além da proteção
oferecida pelo Código de Defesa do Consumidor. Deve ser, portanto, evitada a renúncia.

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3. Conclusão

Diante das formas de classificação de contratos expostas, conclui-se que é de salutar


importância este tema, posto que proporcione uma facilidade no estudo e entendimento dos
efeitos contratuais, pois cada classificação de contrato remete a certas e determinadas
consequências, como afirmado anteriormente. Dessa forma, espera-se ter atingido o objetivo
com a publicação destes artigos, ou seja, proporcionar aos alunos de graduação, ampla
pesquisa, visando à facilitação do estudo das relações contratuais, tendo como passo inicial a
classificação dos contratos.

O presente estudo deverá ter sequência para analisar outras classificações dos contratos,
completando (tornando mais abrangente) as possibilidades de classificação, abordando: os
Contratos Principais e os Contratos Acessórios; Contratos Pessoais e Contratos Impessoais;
Contratos Instantâneos e Contratos de Execução Continuada; Contratos por Tempo
Determinado e Contratos por Tempo Indeterminado; Contratos Consensuais e Contratos
Reais; Contratos Obrigacionais e Contratos Reais; Contratos Formais, Não Formais, Solenes
e Não Solenes; Contratos Individuais, Coletivos e Normativos; Contratos Causais e Contratos
Abstratos; Contratos Civis e Contratos Mercantis; Contratos Preliminares e Contratos
Definitivos; Subcontrato e Autocontrato; as Novas Manifestações Contratuais (Contrato-
Tipo; Contrato Coativo; Contrato Dirigido ou Regulamentado) e, por fim, os contratos
relativamente ao seu objeto.

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4.Referencias bibliográficas

Amaral, F.(2003) Direito Civil: Introdução. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar.

Andrade. M. A. R.(1992). Teoria Geral da Relação Jurídica. v. 1 e 2. 7. Reimpressão.


Coimbra: Almedina.

Azevedo Á. V.(2002). Teoria Geral dos Contratos Típicos e Atípicos. São Paulo: Atlas.

Beviláqua, C.(1979). Código civil dos Estados Unidos do Brasil comentado. Rio de Janeiro:
Rio. (Edição Histórica, v. 1-2)

Borges, N. (2002). A Teoria da Imprevisão no Direito Civil e no Processo Civil - com


referências ao Código de 1916 e ao novo Código Civil. São Paulo: Malheiros.

Cordeiro, A. M.(1986). Direito das Obrigações. v. 1 e 2. Reimpressão. Lisboa: Associação


Acadêmica da Faculdade de Direito de Lisboa.

Diniz, M. H.(2003). Direito Civil Brasileiro: Teoria das Obrigações Contratuais e


Extracontratuais. v. 3. 18. ed. São Paulo: Saraiva.

Telles, I. G.(1965). Manual dos contratos em geral. Lisboa: Faculdade de Direito de


Lisboa.

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