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Índice
Introdução
1. O Direito das Obrigações e Princípios Gerais .............................................................. 2
• Características do Direito das Obrigações ............................................................................... 2
• Princípios do Direito das Obrigações
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Direito das Obrigações – 2021/2022
De dinâmica negocial, afastando-se, nesta medida, da natureza estática que caracteriza os direitos reais:
o direito das obrigações vocaciona-se mais para a transferência dos bens, ao passo que o direito das
coisas versa mais sobre o domínio estático dos bens;
Estável, quer no tempo (o direito das obrigações encontra a sua filiação no direito romano), quer no
espaço (o nosso Direito das obrigações filia-se no direito romano-germânico), sendo um ramo menos
recetivo às mudanças socioeconómicas, embora não deixe de ir respondendo aos novos desafios.
Precisamente pela sua relativa estabilidade, este ramo do direito é suscetível de ser codificado num
âmbito supranacional;
É heterogéneo, versando sobre realidades diferentes, mas unificadas pelo conceito de obrigação, como
o contrato, a gestão de negócios, enriquecimento sem causa, a responsabilidade civil, etc.
Não significa isto que o Direito das Obrigações seja todo um direito de autonomia privada. O facto
de o princípio da autonomia privada ser um princípio fundamental do direito das obrigações, não
significa que seja um puro direito de autonomia privada.
Princípio da boa-fé: num sentido subjetivo, a boa-fé corresponde à ignorância de estar a lesar
direitos alheios (exemplo: artigo 1260º); num sentido objetivo, corresponde a uma regra de conduta,
imposta normativamente (ex: adoção de deveres de lealdade, princípio da confiança, prioridade da
substância sobre a forma, de prestar informações, etc.) – sendo que esta deve pautar a conduta das
partes em todas as fases da relação jurídica obrigacional, sendo também visível em institutos como
o abuso do direito (334º CC), entre outros (227º, 239º, 334º, 437º, 762º2).
Ressarcimento dos danos: a regra é a de que quem sofre os danos, arca com as consequências do
mesmo, consubstanciando o instituto da responsabilidade civil um desvio tal regra e que permite
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Restituição do enriquecimento injustificado: nos termos do artigo 497º, nº1 CC, sempre que alguém
obtenha um enriquecimento à custa de outrem sem causa justificativa tem que restituir tudo aquilo
com que injustamente enriqueceu.
O direito das obrigações está regulado e previsto no Livro II do CC, sendo que este está dividido em dois
títulos: Título I – das obrigações em geral, e o Título II – dos contratos em especial.
Nos termos do artigo 397º, a obrigação é o vínculo jurídico pelo qual uma pessoa (devedor) fica
adstrita para com outra (credor) à realização de uma obrigação.
Assim, podemos caracterizar obrigação como uma relação da vida social regulada pelo Direito através
da atribuição a um sujeito ativo (credor) um direito de crédito (= direito a uma prestação) e atribuição
a um sujeito passivo (= devedor) um dever jurídico (= dever jurídico relativo de realizar a prestação).
Este dever jurídico do devedor distingue-se, por exemplo, do estado de sujeição (contrapolo de direito
potestativo) e de ónus jurídico.
Portanto, o que caracteriza a obrigação em relação a estas figuras é o facto de determinada pessoa estar
adstrita para com outra à prática de uma conduta (positiva ou negativa), no interesse desta – isto é, a
prática de uma prestação – o objeto da relação jurídica obrigacional.
• Função da obrigação:
Através de uma relação jurídica obrigacional e da prática, pelo devedor, da prestação que lhe subjaz,
visa-se satisfazer o interesse do credor, titular de um direito de crédito – um direito subjetivo relativo à
obtenção da prestação. Os direitos de crédito podem ter também como objeto uma coisa (ex: prestações
de entrega de coisa, no âmbito de um CCV), no entanto, essa coisa nunca é o objeto imediato, sendo
sempre um objeto mediato. O objeto imediato da obrigação é sempre o comportamento ou conduta a
que o devedor está adstrito.
O titular de um direito de crédito só pode opor o seu direito ao devedor, como resulta do seu caráter
relativo (eficácia interpartes). Por outro lado, no âmbito do direito de crédito, não vigora a regra da
prevalência: os direitos de crédito concorrem todos em pé de igualdade sobre o património do
devedor que se não for suficiente para satisfazer todos os credores, terá de ser rateado e os
credores serão pagos proporcionalmente (artigo 604º). Neste âmbito, se A celebrar com B um CPCV
sobre o prédio X e, posteriormente, celebrar com C um CCV, o CPCV tem, em regra, uma eficácia
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meramente obrigacional, pelo que com esse contrato B adquire um direito de crédito. Ambos os
negócios são válidos, mas A terá de decidir se cumpre com A ou com B, entrando em incumprimento
num deles.
A obrigação estrutura-se com base na relação entre um sujeito ativo e um sujeito passivo [397º], sendo
que o devedor tem necessariamente que estar determinado no momento em que a obrigação se
constitui, ao passo que o credor pode não estar determinado no momento em que a obrigação se
constitui, devendo sim ser determinável, sob pena de ser nulo o negócio jurídico do qual a obrigação
resultaria [511º].
A promessa pública é exemplo de um sujeito ativo indeterminado, mas determinável: A publica um anúncio
em que promete 1000 euros a quem encontrar o seu cão que fugiu: neste caso, o sujeito passivo é o A,
mas o credor está indeterminado, mas é determinável.
Desde logo, o artigo 398º2 estipula que, independentemente de ter, ou não, valor patrimonial (ainda que,
normalmente, seja suscetível de ter conteúdo pecuniário), a prestação deve corresponder a um
interesse do credor digno de proteção legal.
Esta fórmula permite abranger como objeto da obrigação situações não patrimoniais que
correspondam a esse interesse digno de proteção legal – ex: publicação de pedido de
desculpas, desmentir uma difamação, etc.). Por sua vez, já não podem ser objeto de
obrigação situações que se reconduzem a outras ordens normativas, tais como
cumprimento de deveres religiosos ou relativas a uma moral interna ou situações de
mera ordem interna.
Por outro lado, e ainda que as partes possam, livremente, fixar o conteúdo positivo ou negativo da
prestação, há requisitos legais para sua constituição, resultantes da conjugação dos artigos 280º, 400º
e 401º:
Sempre que a prestação resulte de um negócio jurídico, está sujeito à regra geral do artigo 280º e,
nesse sentido, se a prestação for (1) impossível, (2) ilícito, (3) contrário à ordem pública ou bons
costumes e (4) indeterminada, há lugar à nulidade do negócio jurídico;
Contudo, deve esta regra ser articulado com os artigos 400º e 401º.
(1) Possibilidade física e legal: nos termos do 280º1, a impossibilidade física ou legal da prestação tem
como consequência a nulidade do negócio jurídico, no entanto, da articulação com os nº2 e 3º do
artigo 401º resulta que, para que efetivamente se desencadeie a nulidade:
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→ [artigo 401º1] a impossibilidade deve ser originária (isto é, o negócio só é nulo se a prestação
for impossível aquando da constituição do negócio); no caso de impossibilidade superveniente
o negócio é válido, mas tem como consequência a extinção da obrigação (790º).
→ [artigo 401º + 280º1] a impossibilidade deve ser absoluta, impedindo a realização da prestação
para que a validade do negócio seja afetada, e não relativa – isto é, deve impedir a realização da
prestação e não apenas dificultar ou onerar a sua realização, caso em que a validade do negócio
não é afetada.
→ [artigo 401º3] a impossibilidade deve ser objetiva e não subjetiva, devendo ser relativa ao objeto
e não à pessoa do devedor , uma vez que, em princípio, as prestações são fungíveis, o seu
cumprimento pode ser feito por qualquer pessoa [767º1] e, por isso, se este se encontrar
impossibilitado de prestar, pode fazer-se substituir no cumprimento da obrigação – daí que a
impossibilidade económica não seja considerada verdadeira impossibilidade, por se referir
apenas à pessoa do devedor. Pelo contrário, havendo impossibilidade do objeto, a prestação
não é possível – daí que seja possível a obrigação que recaia sobre coisa futura [211º].
(2) Licitude: resulta do artigo 280º1 + 294º, onde se estabelece que o objeto não pode ser contrário a
qualquer disposição de caráter injuntiva, as quais se afiguram como limite à autonomia privada e
cuja violação tem como consequência a nulidade do NJ. É tanto nulo o negócio que seja ilícito
quanto aos meios (meios proibidos por lei para alcançar um resultado lícito), como o que for ilícito
por referência ao resultado (meios lícitos para atingir um fim proibido por lei) [280º1].
(3) Não contrariedade à ordem pública ou bons costumes: versa sobre conceitos indeterminados, cuja
concretização deve ser feita pelo julgador, ainda que se possam apontar aspetos abrangidos pelos
diferentes conceitos.
(4) Determinabilidade: resulta do artigo 280º que a prestação deve ser determinável – não significa
isto que ela tenha de estar determinada aquando da constituição da obrigação; ela deve, sim, ser
suscetível de ser determinada, ou seja, ser determinável. São exemplos de obrigações
indeterminadas as obrigações genéricas [539º] ou obrigações alternativas [543º].
Quando a prestação for indeterminada, é de aplicar também o artigo 400º, ao abrigo do qual a
determinação da prestação pode ser confiada a uma das partes ou a terceiros, que, para tal,
devem ser orientados por juízos de razoabilidade e equidade – e nunca de modo arbitrário –
previamente estabelecidos, que permitam determinar a prestação de forma adequada ao fim da
obrigação e à prossecução do interesse do credor.
Quando tais critérios não hajam sido estabelecidos no negócio, o mesmo deve ser considerado
nulo por indeterminabilidade, nos termos do 280º1, não podendo o artigo 400º impedir a
nulidade.
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• Deveres acessórios: São deveres impostos pelo princípio da boa-fé e que se destinam a permitir
que a execução da prestação corresponda à plena satisfação do interesse do credor, sem causar
danos para qualquer das partes.
São particularmente relevantes no âmbito das relações contratuais duradouras. Ex: contratos
de sociedade, de trabalho, etc. Estes deveres subdividem-se em deveres de informação, de
proteção e de lealdade, e destinam-se a proteger a relação de confiança e de colaboração que
deve existir entre as partes. Permitem tutelar o interesse do credor, mas visam também
evitar que a realização da prestação provoque danos para as partes – significa isto que o
devedor não está apenas vinculado ao dever de prestar, mas também ao cumprimento de
deveres acessórios.
• Sujeições: poderes ou faculdades que o devedor que o devedor pode exercer perante o credor.
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5. Modalidades de Prestação
Apesar de o objeto da obrigação consistir na prestação – a conduta que vincula o devedor –, tal
conduta pode reconduzir-se a várias situações que, por sua vez, carecem de um regime específico.
Como tal, a classificação das obrigações varia conforme o tipo de prestação em causa.
Aquelas obrigações cujo objeto mediato é uma coisa A prestação da obrigação consiste na própria conduta do devedor –
– ou seja, a conduta (prestação, objeto imediato) portanto, não há objeto mediato, apenas o imediato (a própria conduta),
traduz-se na entrega de uma coisa (sendo esta o que se traduz no próprio comportamento a que o devedor está
objeto mediato). vinculado…
Tradicionalmente, dividia-se entre prestação de dar (se a … podendo tal conduta traduzir-se num ato material (ex: pintar uma
prestação envolvesse a transferência da propriedade), entregar parede) ou jurídico (ex: obrigação de celebrar certo contrato).
(se envolvesse a transmissão da simples posse sobre ela) ou
restituir (se envolvesse a restituição da coisa, terminado um
contrato – de comodato, por ex.); mas esta perde utilidade em … podendo tal conduta consistir num facto positivo (facere) ou num
função do facto de, no nosso ordenamento, a transmissão da facto negativo:
propriedade ser um mero efeito do contrato, não resultando a
prestação do cumprimento de uma obrigação [408º].
Prestação de non facere: o devedor fica vinculado a não realizar ou
omitir uma conduta (ex: obrigação de não concorrência);
É útil distinguir, neste âmbito, prestação de coisa
Prestação de pati: o devedor fica obrigado a tolerar uma conduta de
presente ou de coisa futura (211º):
outrem.
Será coisa futura aquele que: As prestações podem ser de facto de terceiro, quando a prestação
envolva a prática de um facto de terceiro.
(1) não tem existência (coisa absolutamente futura),
Por ex, A obriga-se perante B a que C lhe venda um imóvel ou obriga-se perante
(2) não tem autonomia (ex: frutos de uma árvore) B a que C preste consentimento para a venda de determinado imóvel – o
devedor não se obriga a facto próprio, mas a facto de terceiro. A este tipo de
obrigações, embora se traduzam na prática de um facto de terceiro, não
ou vinculam o terceiro – que é alheio a este contrato, mas sim o próprio devedor.
(3) não se encontre no poder do disponente Aqui, é importante distinguir se a obrigação é de meios ou de
aquando da declaração negocial (ex: alguém vende uma resultados:
coisa de que ainda não é proprietário)
− Obrigação de meios, o devedor fica vinculado a procurar, com a
E, por isso, é objeto do negócio jurídico na
diligência necessária, que o terceiro pratique o facto; se o terceiro
perspetiva de vir a adquirir estas características –
não quiser ou não puder praticar o facto, desde que o devedor tenha
sendo tal admitido por via do 399º e 408º2, ainda
atuado com a diligência necessário, o devedor fica exonerado.
que com limitações, e sendo certo que, nos termos
do artigo 280º, o vendedor de coisa futura fica Ex: A obriga-se a desenvolver todos os esforços necessários para que B,
obrigado a exercer as diligências necessárias para jogador de futebol, celebre contrato com determinado clube. Se A, devedor,
que o comprador adquira os bens vendidos. desenvolver todos os esforços para o C celebre esse contrato, ele cumpre
independentemente de o jogador não querer/poder celebrar o contrato.
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Será instantânea a prestação cujo cumprimento se esgota São duradouras as prestações que se prolongam no tempo,
num só momento (ex: a entrega da coisa no CCV – 879º, tendo o tempo uma influência decisiva na conformação da
al.b); o seu conteúdo definido em função do tempo. prestação, podendo ser:
(por ex: o preço está determinado à partida, independentemente de serem Em qualquer um dos casos, a obrigação aumenta em
mais ou menos prestações, de montante inferior ou superior – o que não função do tempo: seja de forma continuada ou periódica,
acontece nas duradouras em que o tempo interfere na extensão – quanto o conteúdo da prestação é conformada consoante o
maior o tempo, maior a extensão global da prestação). decurso do tempo, aumentando a extensão global da
obrigação.
− contrato com prestações duradouras a resolução do contrato não tem efeitos retroativos (ex: em caso de resolução de
contrato arrendamento, essa não tem eficácia retroativa, não abrangendo as prestações já realizadas);
− contrato de prestação instantânea a sua resolução abrange as prestações já realizadas que, por força da resolução do
contrato, terão que ser restituídas. [434º CC, nº1 e 2]
− contrato com prestações duradouras reiteradas ou periódicas, o não cumprimento de uma delas (ex: não pagamento de uma
renda) não determina a perda do benefício do prazo, ou seja, não permite que o senhorio possa, imediatamente, exigir o
pagamento de todas as rendas devidas até ao final do contrato;
− contratos com prestações instantâneas, prestações fracionadas ou repartidas, a falta de realização de uma das
prestações importa o vencimento de todas [781º].
O artigo 924º visa proteger o comprador que adquire a prestações, introduzindo uma limitação ao artigo 781º: o 781º
estipula que sempre que a dívida seja liquidada nas prestações, a falta de uma delas implique o vencimento de todas, mas,
ao abrigo do 924º, não há perda de benefício do prazo se estiver em causa apenas uma prestação que não exceda a oitava
parte da dívida. Se estiver em causa uma prestação que exceda a oitava parte da dívida ou mais do que uma prestação em
causa, então há lugar a perda de benefício do prazo, pelo que poderá o credor exigir o vencimento de todas as prestações.
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Serão fungíveis as prestações que podem ser Serão infungíveis as prestações que só podem
realizadas por outra pessoa no lugar do devedor ser realizadas pelo devedor, não podendo este
– sendo esta a regra geral nos termos do artigo substituir-se por outra pessoa no seu
767º, nº1, pelo que, em princípio, o devedor cumprimento.
poderá fazer-se substituir no cumprimento da
prestação. Nos termos do 767º2, a prestação será infungível
quando:
No entanto, o artigo 767º, nº2 estipula situações
em que a prestação é infungível. a) a substituição do devedor no cumprimento
prejudica o credor – infungibilidade natural;
Para efeitos de execução específica da
prestação: se alguém contrata um pintor famoso para pintar
um quadro, não se poderá aceitar que o quadro
seja pintado por outra pessoa
Sendo a prestação fungível, se o devedor não
cumprir o credor pode requerer, judicialmente, b) haja acordo expresso no sentido de que só o
que a prestação seja realizada por outrem à devedor pode realizar a prestação (caso
custa do devedor. O objetivo é que o interesse contrário, a prestação seria naturalmente
do credor fique satisfeito através do fungível) – infungibilidade convencional.
cumprimento do terceiro à custa do devedor,
por via executiva. quando se convencionar que o devedor não se
pode fazer substituir por terceiro, por exemplo,
quando se estabelece que um médico não se
(é possível tanto em prestações de entrega de poderá fazer substituir por outro no tratamento a
coisa determinada, como na prestação de facto um doente, atenta a boa ligação entre ambos.
positiva, quando fungíveis e, também, nas
prestações de facto negativas, ou até nas Para efeitos de execução específica da
prestações que consistam em atividades prestação:
jurídicas. Ver exemplos p.132).
Sendo a prestação infungível, tal já não será
Em caso de impossibilidade subjetiva: possível, podendo, aqui, o credor recorrer ao
disposto no artigo 829º-A, que consagra a sanção
Nas prestações fungíveis, a impossibilidade pecuniária compulsória.
subjetiva da prestação (impossibilidade que diz
respeito à pessoa do devedor) é irrelevante = Em caso de impossibilidade subjetiva da
se o devedor não pode cumprir, tem que se prestação:
fazer substituir por terceiro. Quando a prestação é infungível, a
impossibilidade subjetiva é equiparada à
impossibilidade objetiva, tendo como
consequência a extinção da obrigação. [791º CC]
(ex: o pintor famoso ficar sem a mão direita –
como não se pode fazer substituir, porque há
infungibilidade natural, extingue-se a obrigação)
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judicialmente, efetuar a prestação de forma espontânea (mesmo que induzido em erro quanto à
coercibilidade jurídica da prestação) já não pode pedir restituição do que haja prestado [403º, nº2], desde
que preenchidos os requisitos da espontaneidade e da capacidade do credor.
Exclui-se, por isso, a possibilidade de repetição do indevido prevista no artigo 476º (salvo se o
devedor não tiver capacidade para realizar a prestação).
As obrigações naturais só podem constituir-se com base no artigo 402º - sendo concernentes a valores
de ordem moral ou social que correspondam a um valor de justiça, sendo vedada a hipótese de poderem
ser convencionadas pelas partes no exercício da sua autonomia privada [892º].
Exemplo de obrigação natural legal: dívida prescrita [304º2 do CC]; dívida do jogo e aposta [1245º]; pagamento ao filho de uma
compensação pela obtenção de bens para os pai [1895º2].
A questão que se impõe é a de saber se estas obrigações podem ser consideradas jurídicas, apesar das
diferenças entre elas.
Há autores (nomeadamente o prof. Menezes Cordeiro) que consideram que sim, sendo o regime de
ambas diferentes das restantes apenas por a lei não permitir a sua execução; sendo um dos
argumentos nesse sentido o disposto no artigo 404º.
No entanto, outros autores (prof. Menezes Leitão) consideram que não, afastando a obrigação
natural do conceito de obrigação jurídica, invocando:
− por um lado, o facto de que o credor de uma obrigação natural não pode exigir o cumprimento
(e esta possibilidade de exigir o cumprimento ser um elemento essencial da estrutura da relação
obrigacional, integrando o próprio direito de crédito)
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No caso das obrigações plurais, de que forma se dá a contribuição dos vários devedores para a
realização da prestação a que estão vinculados e em que termos pode cada um dos credores exigir a
realização da prestação?
Uma leitura a contrario do artigo 513º CC – que estipula que a solidariedade de devedores ou credores
só existe quando resulte da lei ou da vontade das partes (consagra as fontes da solidariedade) – permite
concluir que, no que toca às obrigações plurais, a regra é a da parciaridade. Assim, obrigações plurais
só serão solidárias quando a solidariedade tenha sido expressamente convencionada pelas partes OU,
na falta de convenção, quando essa solidariedade resulte de uma imposição legal.
Nas obrigações conjuntas, cada um dos devedores está vinculado apenas a prestar ao(s) credor(es) a
sua parte na prestação e cada um dos credores só pode exigir do(s) devedor(es) a parte que lhe cabe
– ou seja, a prestação é realizada por partes, sendo que cada credor só pode exigir a sua parte no
crédito e cada devedor só tem que prestar a sua parte na dívida. Assim, para que o credor obtenha a
prestação integral, terá que demandar de cada um dos devedores a quota parte da prestação a que estão
adstritos.
Numa situação de pluralidade ativa (vários credores e um devedor), cada um dos credores pode
exigir apenas a parte que lhe compete: se a dívida for de 900 euros e houver 3 credores, cada
credor pode exigir 300 euros;
Numa situação de pluralidade passiva (vários devedores e um credor), cada devedor só tem que
prestar a sua parte na dívida: se a dívida for de 900 euros, se houver 3 devedores, cada um
deles tem, no total, que prestar 300 euros, devendo 100 euros a cada credor;
Numa situação de pluralidade mista, (vários devedores e vários credores): sendo a dívida de
900 euros, cada um dos credores tem direito a um crédito total de 300 euros, podendo exigir a
cada devedor apenas 100 euros; por sua vez, cada devedor será responsável por um crédito
total de 300 euros, devendo prestar a cada credor um total de 100 euros.
Nas situações de solidariedade passiva (vários devedores e um credor), cada um dos devedores está
obrigado perante o credor a realizar a prestação integral. A realização da prestação integral por um dos
devedores libera os restantes devedores perante o credor comum [512º] e, a partir daí, a pessoa que
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haja satisfeito a prestação adquire direito de regresso quanto aos restantes devedores, podendo exigir
de cada um a quota-parte respetiva na dívida [524º].
Se A, B e C tiverem de entregar a D um total de 900 euros, D poderá exigir de qualquer um a totalidade
da prestação e não apenas a parte que lhes couber; se A realizar a dívida integral perante D, terá direito
de regresso sobre B e C relativamente às respetivas partes.
Nas situações de solidariedade ativa (vários credores e um devedor): qualquer um dos credores pode
exigir do devedor comum a totalidade da prestação, sendo que a realização integral da prestação a um
dos credores libera o devedor perante os restantes credores.
A partir daí, o credor que tiver recebido a totalidade do crédito (mais do que aquilo que lhe compete)
fica, então, obrigado a satisfazer aos outros a parte que lhes é devida do crédito comum [533º].
Se A, B e C tiverem de receber de D um total de 900 euros, D poderá pagar a qualquer um dos credores
a totalidade da prestação, ficando liberado perante os restantes; se D pagar a A a totalidade da prestação,
fica liberado perante B e C, tendo D de lhes entregar o valor devido.
Nos casos de solidariedade mista (vários devedores e vários credores), concorrem as 2 situações:
qualquer um dos credores pode exigir de qualquer um dos devedores a prestação integral devida pelos
devedores aos credores.
Aqui, a realização integral da prestação POR UM DOS DEVEDORES a UM DOS CREDORES, libera todos
os devedores em relação a todos os credores.
Neste caso, o devedor que realizou a prestação terá direito de regresso sobre os outros devedores,
podendo exigir deles a parte que lhes compete; e o credor que recebeu a prestação está obrigado a
satisfazer aos outros a parte que lhes couber no crédito comum.
Se A, B e C tiverem de receber de D, E e F um total de 900 euros, qualquer um dos devedores poderá
pagar a qualquer um dos credores a totalidade da prestação, ficando todos os devedores liberados perante
todos os credores: se A pagar a D a totalidade do crédito, A tem direito de regresso perante B e C; e D
tem de entregar a E e F as partes que lhes couberem.
A solidariedade não é a regra, existindo apenas quando (i) assim for expressamente convencionado
pelas partes ou (ii) houver imposição legal (que apenas existe quanto à solidariedade passiva):
• No âmbito do direito comercial, o regime-regra é o regime da solidariedade passiva: nos termos do
artigo 100º do Código Comercial, os coobrigados são solidários caso nada seja dito em contrário (513º
CC → 100º CCom.);
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A solidariedade passiva tem diversas consequências em termos de regime, as quais podem ser
analisadas no âmbito das relações externas (entre o credor e os diversos devedores) e no âmbito das
relações internas (relação dos devedores entre si).
Em relação ao credor, no âmbito das relações externas, a solidariedade caracteriza-se por atribuir uma
maior eficácia ao direito do credor: pode este exercer o seu direito integralmente contra qualquer um
dos devedores [512º, nº1], sendo que o devedor demandado não pode invocar o benefício da divisão
[artigo 518º], tendo que satisfazer a dívida na íntegra.
No entanto, esta maior eficácia não significa que o credor possa repetir sucessivamente a pretensão
perante os vários devedores: a partir do momento em que exige judicialmente a totalidade ou parte da
dívida a um dos devedores, fica impedido de o fazer (quanto a essa parte) quanto aos outros
devedores (519º/1, 2ªpt.), a não ser que haja razão atendível – como a insolvência do demandado ou
dificuldade em obter dele a prestação.
Contudo, se um dos devedores demandado pelo credor opuser ao credor algum meio de
defesa pessoal, o credor continua a poder reclamar dos outros a prestação integral (519º, nº2).
O credor pode, porém, não usufruir deste benefício, renunciando à solidariedade e, assim, optar por
demandar conjuntamente de todos os devedores [517º]. Admissível é, ainda, que o credor renuncie à
solidariedade, mas apenas em favor de algum dos devedores, conservando o direito de exigir a
prestação por inteiro aos restantes devedores [527º].
Em relação aos devedores, no âmbito das relações externas, a solidariedade caracteriza-se pelo facto
de a satisfação do direito do credor (por cumprimento, dação em cumprimento, novação, consignação em depósitoou
compensação) exonerar os restantes devedores [523º]. Com o cumprimento por um dos devedores da
totalidade da dívida, extingue-se a obrigação.
Por outro lado, a dívida pode extinguir-se parcialmente, apenas em relação a um dos devedores,
extinguindo-se a obrigação quanto à parte daquele devedor, como por exemplo:
− Remissão concedida a apenas a um dos obrigados [864º1]: Esta remissão libera os outros
somente na parte do devedor exonerado – o chamado perdão de dívida.
O verdadeiro perdão de dívida deve distinguir-se da situação prevista no nº2 do artigo 864º: quando temos
uma remissão, esta pode ser de dois tipos: 1) um verdadeiro perdão de dívida, querendo-se efetivamente
perdoar a dívida a um dos devedores, liberando-se os restantes dessa parte concreta da dívida; ou 2)
havendo o perdão da dívida de A, conserva-se o direito de exigir a prestação integral aos restantes
devedores – distinguindo-se esta situação do verdadeiro perdão de dívida.
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Já no caso de a prestação não ser cumprida por facto imputável a um dos devedores, todos os
devedores são responsáveis pelo seu valor, no entanto, só o devedor a quem se impute tal facto será
responsável pelos danos acima desse valor [520º].
O devedor que for demandado pelo credor comum pode opor ao credor comum quer os meios de
defesa que lhe são próprios, quer os meios de defesa que são comuns aos outros devedores. O que
não pode é invocar perante o credor meios de defesa pessoais dos outros devedores.
Ex: a prescrição que ocorra relativamente a um dos devedores não se estende aos demais, pelo que se a dívida estiver
prescrita relativamente a B, não pode ser invocada por A perante o credor comum, enquanto meio de defesa pessoal que só
por B pode ser invocado [514º CC].
A solidariedade, nas relações internas, caracteriza-se pelo facto de o devedor que realiza integralmente
a prestação, ou que satisfaz o direito do credor para além da parte que lhe compete, adquirir um
direito de regresso contra os outros devedores, limitado à parte que a cada um cabe na dívida comum
[524º].
Portanto, e na medida em que o direito de regresso desse devedor se limita à parte de cada um dos
devedores, a verdade é que, no plano das relações internas, não podemos considerar existir
verdadeira solidariedade; esta obrigação é conjunta (ou parciária), tendo o credor que demandar de
cada um dos devedores a quota parte da prestação a que estão adstritos. (a menos que as partes
tenham convencionado o regime da solidariedade no plano das relações internas).
Quanto ao plano externo: nos termos do artigo 523º, se o credor comum exige, judicialmente, a
realização integral da prestação a um devedor (em risco de estar) insolvente, o credor não fica inibido
de proceder judicialmente contra os outros.
Quanto ao plano interno: nos termos do artigo 526º, se um dos devedores estiver insolvente, a quota-
parte que lhe cabia é repartida proporcionalmente pelos restantes devedores, incluindo o devedor de
regresso – divide-se a parte do devedor insolvente pelos restantes, que suportam esse risco.
Quanto aos meios de defesa que cada um dos condevedores possuía em relação ao cumprimento da
obrigação – quer comuns, quer pessoais do demandado – podem ser opostos ao devedor de regresso,
a menos que, sendo um meio comum de defesa, não tivesse sido oportunamente utilizados por culpa
desse condevedor na obrigação solidária [526º2]. Quanto à prestação, em específico, essa não é
oponível ao credor de regresso se, por não ter ela ainda decorrido quanto a este, este vier a ser
obrigado a cumprir a obrigação, apesar de prescritas as obrigações dos outros condevedores [521º1],
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Direito das Obrigações – 2021/2022
mas já lhe será oponível se o cumprimento da obrigação se verificou apenas em virtude de ele não ter
invocado a prescrição [521º2].
Em relação aos credores, a solidariedade, nas relações externas, caracteriza-se pelo facto de cada um
dos credores poder, por si só, exigir a realização integral da prestação; sendo a prestação
integralmente realizada pelo devedor, fica este exonerado perante todos os credores [512º1].
Se a dívida é de 900 – B exige de A 900 – A paga a B os 900; B, C e D nada mais podem exigir de A = A fica
exonerado perante todos os credores.
Aliás, o devedor, enquanto não for judicialmente demandado por um dos credores, pode até escolher
qual o credor solidário a quem vai realizar a prestação [528º + 532º].
A solidariedade ativa caracteriza-se pelo facto de o credor que recebeu a prestação integral (ou seja,
credor cujo direito foi satisfeito para além da parte que lhe competia) ter a obrigação de satisfazer a
cada um dos outros a parte que lhes cabia no crédito comum. Ou seja, se A pagou 900 a B, B fica
obrigado a restituir 300 a C e 300 a D. [533º]
Em princípio, na medida em que o 516º presume que os devedores e credores participam em partes
iguais na dívida ou crédito, esta obrigação de regresso será também ela repartida em partes iguais;
pode, porém, acontecer que os credores sejam titulares em termos diferentes, devendo, nesse caso, o
regresso refletir essa diferente repartição.
No entanto, pode acontecer que a obrigação plural seja indivisível, não podendo ser fracionada sem
prejuízo do direito do credor – isto é, prestações em relação às quais é impossível exigir uma apenas
uma parte a um dos devedores sem prejuízo do interesse do credor.
Exemplo: se A, B e C estão obrigados, perante D, à entrega de automóvel, não é possível exigir a todos
os devedores apenas a própria parte que lhe cabe na dívida comum, já que não é possível dividir o
automóvel sem destruir o objeto que constitui o interesse do credor.
Assim, nos termos do artigo 535º, sendo indivisível a obrigação plural, o credor só pode exigir o
cumprimento da obrigação de todos os obrigados, ou seja, só poderá demandar conjuntamente todos
os devedores e só de todos em conjunto pode exigir o cumprimento da obrigação…
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Direito das Obrigações – 2021/2022
o artigo 536º estabelece que, nesse caso, o credor não fica inibido de exigir a prestação dos restantes
obrigados, contanto que lhes entregue a parte que cabia ao devedor exonerado.
Assim, apesar da indivisibilidade da prestação, o facto de ela se extinguir em relação a algum(ns) do(s)
devedor(es) não acarreta necessariamente a sua extinção integral, sendo admitido um acréscimo de
responsabilidade dos restantes obrigados, desde que seja compensado por uma contraprestação de
entrega do valor da parte do(s) devedor(s) exonerado(s).
Por exemplo: no âmbito de uma obrigação plural passiva em que A, B e C estão obrigados a restituir automóvel a D,
e sendo esta uma obrigação indivisível, se a dívida se extinguir quanto a todos os devedores, não impede que o
credor exija de B e C a entrega do automóvel, desde que lhes entregue o valor da parte que cabia ao devedor
exonerado.
→ No que respeita à impossibilidade da prestação por facto imputável a alguns dos devedores
(ex: destruição do automóvel):
Nos termos do artigo 537º, os outros devedores ficam exonerados, já que se a prestação se torna
impossível de cumprir por culpa de um dos devedores, então só esse é sujeito a indemnização por
impossibilidade culposa [801º1] e, quanto aos outros devedores, a obrigação extingue-se, porque a
causa da impossibilidade não lhes é imputável [790º].
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Direito das Obrigações – 2021/2022
Neste sentido, os direitos de crédito carecem de mediação do devedor para que possam
ser exercidos: isto é, se se tem direito a um crédito, e se este é uma prestação, alguém
tem que cumprir essa prestação – para que o credor obtenha o crédito, precisa que o
devedor o satisfaça. Contrariamente, nos direitos reais o credor não necessita de
colaboração para poder exercer o seu direito, já que este incide única e exclusivamente
sobre a coisa que constitui objeto do direito real.
• Neste sentido, em termos estruturais, os direitos de crédito são direitos subjetivos relativos: os
direitos de crédito assentam numa relação obrigacional entre o credor e o devedor e tendo o
direito em questão eficácia interpartes – isto é, o direito de crédito só pode, salvo exceções, ser
oponível pelo credor ao devedor, sendo a sua oponibilidade a terceiros limitada.
Os direitos reais, por sua vez, são direitos subjetivos absolutos: sendo indiferentes a qualquer
tipo de relação, na medida em que incidem apenas sobre a coisa e podendo ser exercida
contra toda a qualquer pessoa – oponibilidade erga omnes, que é plena.
• Deste caráter absoluto dos direitos reais resultam as características da inerência e sequela: o facto
de o direito real ser inerente à coisa que constitui seu objeto, não se podendo separar dela
(inerência) manifesta-se de forma dinâmica no poder que o titular do direito real tem de perseguir
a coisa onde quer que ela se encontre (sequela), mesmo que a coisa se encontre na posse ou
detenção de um terceiro, por exemplo, ao intentar uma ação de reivindicação. Significa isto que,
independentemente da quantidade de transmissões de uma coisa, se se mostrar ser titular de um
direito real sobre ela, esse direito pode sempre ser exercido.
• Por outro lado, os direitos reais regem-se pela regra da prevalência, prevalecendo entre si pela
ordem da sua constituição – i.e, em caso de conflito, prevalece o direito mais antigo em causa
(ainda que esta regra tenha várias exceções, como a que resulta do registo). Assim, não é possível
que existam dois direitos reais incompatíveis sobre a mesma coisa, prevalecendo apenas o
primeiro a ser constituído.
Pelo contrário, os direitos de crédito não são hierarquizados por ordem de constituição,
mas antes concorrem todos em pé de igualdade sobre o património do devedor, o qual,
se não for suficiente para satisfazer todos os credores, terá de ser rateado e os credores
serão pagos proporcionalmente (artigo 604º1).
Neste âmbito, se A celebrar com B um CPCV sobre o prédio X e, posteriormente, celebrar com C um CCV, o
CPCV tem, em regra, uma eficácia meramente obrigacional, pelo que com esse contrato B adquire um direito
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Direito das Obrigações – 2021/2022
de crédito. Ambos os negócios são válidos, mas A terá de decidir se cumpre com A ou com B, entrando em
incumprimento num deles.
• os direitos de crédito são atípicos, já que, no âmbito do direito das obrigações, vigora o princípio
da autonomia privada, cujo corolário é o princípio da liberdade contratual, ao passo que os
direitos reais estão sujeitos ao princípio da tipicidade – 1306º CC.
A nossa lei trata expressamente destes direitos, referindo-se a eles no artigo 407º CC e no artigo
1682º-A. Entre estes direitos, temos o direito do locatário – 1022º; direito do comodatário – 1129º, e o
direito do depositário – 1185º.
1) A posição clássica da nossa doutrina, defendida, entre nós, pelo prof. Galvão Teles e Antunes
Varela, qualifica os direitos pessoais de gozo como direitos de crédito.
2) Uma posição minoritária, defendida, nomeadamente, pelo prof. Oliveira Ascensão reconhece
natureza real, pelo menos, ao direito do locatário.
3) Há ainda autores, entre eles o prof. Andrade Mesquita, que defendem que os direitos pessoais de
gozo constituem um terceiro género: os direitos pessoais de gozo enquadrar-se-iam entre os
direitos reais e direitos de crédito, entendendo que não seriam direitos reais por serem
estruturalmente relativos (e não absolutos), nem direitos de crédito por serem direitos imediatos
sobre uma coisa corpórea (o titular de um direito pessoal de gozo não necessita da colaboração
do devedor para exercer o seu direito).
Esta posição intermédia que configura os direitos pessoais de gozo como terceiro género
acaba por concebê-los como direitos mistos, o que implicaria que estes reunissem
características contraditórias entre si.
Assim, no que toca à sua qualificação, o principal debate opõe as teorias personalistas às teorias
realistas:
Apesar destes dois argumentos que apontam para a qualificação destes direitos enquanto direitos de
crédito, é de reconhecer que eles apresentam algumas características que os aproximam dos direitos
reais:
− os direitos pessoais de gozo gozam de uma tutela que é diferente e mais forte do que a tutela
de que gozam os direitos de crédito, extravasando a simples ação de cumprimento e execução
própria dos direitos de crédito, uma vez que o legislador faculta aos titulares dos direitos
pessoais de gozo a possibilidade de recurso às ações possessórias: ou seja, os titulares de
direitos pessoais de gozo podem recorrer a estas ações contra terceiros que privem o titular
do direitos pessoais de gozo da coisa ou que o perturbem no exercício do seu direito. O artigo
1037º, nº2, relativo à locação, determina que o locatário privado da sua coisa ou perturbado no
exercício do seu direito pode usar, mesmo contra o locador, os meios facultados ao
possuidor.
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Direito das Obrigações – 2021/2022
− Por outro lado, os titulares de direitos pessoais de gozo podem exercer o gozo sobre a coisa,
normalmente, sem necessidade de intervenção de qualquer pessoa – ou seja, o locatário,
comodatário, depositário não precisam de recorrer à outra parte no contrato para obter a
satisfação do seu direito, podendo obter diretamente o gozo da coisa a partir do momento em
que a mesma lhes é entregue.
− O artigo 407º, que versa sobre incompatibilidade de direitos pessoais de gozo, estabelece uma
hierarquia segundo a ordem da sua constituição e serviço – critério este próprio dos direitos
reais.
Contudo, a verdade é que o legislador pretendeu, seguramente, qualificar os direitos pessoais de gozo
como direitos de crédito:
(i) é que, embora estes confiram ao seu titular o gozo de uma coisa, esse gozo resulta de uma
obrigação positiva que é assumida pela outra parte.
Ex: direito do locatário – resulta da celebração de um contrato de locação (arrendamento ou aluguer),
sendo certo que o direito de gozo sobre a coisa que o locatário adquire resulta da obrigação que é
assumida pela outra parte, significando isto que nestes direitos pessoais de gozo não existe propriamente
um direito imediato sobre a coisa – como característico dos direitos reais –; o que se exige é a
colaboração do devedor – característica dos direitos de crédito.
(ii) Além disso, a inserção dos direitos pessoais de gozo no capítulo Contratos em especial
(Livro II, Título II), também indicia a qualificação destes direitos como direitos de crédito.
A verdade é que não podemos deixar de os classificar como direitos de crédito, havendo
características que apontam no sentido da adesão às teses personalistas:
− se é certo que, para os direitos reais, é necessário que exista legitimidade por parte de quem
transfere o direito (nemo plus iuris), o mesmo não é exigido para a constituição de direitos de
crédito: no caso de conflito entre contratos, ambos são válidos, valendo o critério da
preferência.
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Direito das Obrigações – 2021/2022
− Por sua vez, os direitos pessoais de gozo são tuteláveis relativamente à outra parte através
das ações relativas aos contratos que os constituíram, bastando, neste caso, a invocação do
respetivo contrato.
Assim, pese embora existam características que os aproximam de direitos reais, os direitos pessoais
de gozo devem ser qualificados como tendo natureza obrigacional.
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Direito das Obrigações – 2021/2022
Será fonte de uma obrigação o facto jurídico de onde emerge a relação obrigacional, sendo que há
uma grande variedade de factos jurídicos suscetíveis de fazer nascer uma relação obrigacional.
Os contratos
O contrato constitui o resultado de duas ou mais declarações negociais contrapostas, mas
convergentes, de onde resulta uma estipulação de efeitos jurídicos harmoniosa e unitária. Pressupõe-
se, por isso, uma proposta e uma aceitação das quais deve resultar um consenso recíproco sobre
todas as cláusulas.
De modo geral, e atendendo ao artigo 219º, não é necessária qualquer forma especial para a
celebração do contrato, salvo quando assim seja exigido, sob pena de nulidade [220º].
O Contrato-Promessa [410º]
Nos termos do nº1 do artigo 410º, o contrato-promessa é a convenção pela qual alguém se obriga a
celebrar um outro contrato, ou seja, é um contrato preliminar de um contrato definitivo (que, no
momento, não podem ainda celebrar, por qualquer motivo), nascendo da sua celebração uma
obrigação de prestação de facto jurídico – a celebração de um futuro contrato.
Vale lembrar que o contrato-promessa é um contrato autónomo relativamente ao definitivo, pelo que
terá efeito meramente obrigacional ainda que o contrato definitivo tenha eficácia real.
Apesar desta autonomia, o artigo 410º consagra o princípio da equiparação, por via do qual o
legislador estende o regime do contrato definitivo ao contrato-promessa, sujeitando-o às mesmas
disposições. (ex: se o artigo 877º proíbe a venda a filhos e netos [877º], também proibirá a celebração de
contratos promessa entre ambos)
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Direito das Obrigações – 2021/2022
− Disposições que, pela sua razão de ser, não são extensivas ao contrato-promessa: não são
de aplicar ao contrato promessa as disposições relativas ao contrato prometido que não se
coadunem com a natureza deste.
• Ex. I: o artigo 879º/1,al.a) consagra um dos efeitos de celebração do contrato de compra e venda – o
efeito real que se traduz na transmissão da propriedade. Naturalmente, esta disposição não se aplica ao
contrato promessa pela sua razão de ser: o contrato-promessa não é um contrato translativo da coisa ou
do direito, dele nascendo apenas a obrigação de celebrar um novo contrato;
• Ex.II: o artigo 892º consagra a nulidade da venda de bens alheios – nesta disposição, o que está em
causa é a falta do requisito de legitimidade para celebrar um CCV, que é um contrato constitutivo de
direitos reais, e que é punida com a nulidade. Ora, naturalmente, a mesma não se aplica ao contrato-
promessa porque este não é constitutivo ou translativo de direitos reais, tendo apenas natureza
obrigacional. Portanto, não está vedada a possibilidade de se celebrar um CCV de compra e venda, ainda
que sobre bens alheios, já que não se exige ao promitente-comprador qualquer requisito de legitimidade.
• Ex. III: o artigo 1682ºA/1, al. a) impede que um dos cônjuges possa, isoladamente, proceder à alienação,
oneração, arrendamento ou constituição de outros direitos pessoais de gozo sob imóveis próprios ou
comuns. Esta disposição, pela sua razão de ser, também não é aplicável ao contrato promessa, já que
este não transfere nem um direito real, nem um direito pessoal de gozo, o que significa que não está
vedada a possibilidade de qualquer um dos conjugues, isoladamente, celebrar validamente um contrato
promessa sob bens imóveis próprios ou comuns – isto porque nada impede os cônjuges de contrair
obrigações sem consentimento [1690º1].
Não há qualquer obstáculo à constituição de dois contratos-promessa incompatíveis sobre o mesmo bem – há
apenas a constituição de dois direitos de crédito, que não são hierarquizáveis entre si por data de constituição,
mas que concorrem simultaneamente sobre o património do devedor [604º1].
Modalidades de contrato-promessa:
• Contrato-Promessa Unilateral:
Este contrato pode ser remunerado, sendo-o sempre que a outra parte assuma a obrigação de pagar ao
promitente uma determinada quantia como contrapartida, pelo facto de o promitente se manter vinculado
durante um certo tempo à celebração do contrato (preço de imobilização).
De todo o modo, a lei considera que o direito à celebração do contrato definitivo apenas deve ser exercido
dentro de um prazo limitado, sendo que este prazo pode ser estipulado pelas partes e, se tal não
acontecer, é possível que o promitente possa requerer ao tribunal a fixação de um prazo razoável para
que a outra parte exerça o seu direito, sob pena de o direito caducar [411º].
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Direito das Obrigações – 2021/2022
Requisitos do contrato-promessa
[Artigo 410º2] Forma do contrato-promessa
Não sendo a forma do contrato-promessa abrangida pelo princípio da equiparação com o contrato
definitivo, a mesma será sujeita a liberdade de forma [219º].
No entanto, excetuam-se a esta flexibilidade situações em que, para o contrato prometido, se exige um
documento autêntico ou particular – aqui, tem o contrato prometido de assumir forma de documento,
bastando que seja particular (ainda que para o contrato prometido se exija documento autêntico) –
[410º2].
Este documento tem apenas de ser assinado pela parte que se vincula à celebração do contrato
definitivo: apenas o promitente, no caso de contrato-promessa unilateral ou ambas as partes,
no caso de contrato-promessa bilateral.
Qual a validade de um contrato-promessa bilateral, mas assinado apenas por um dos promitentes?
pode ser válido como contrato-promessa unilateral, de modo a que subsista a obrigação pela parte que
o assinou?
Devemos considerar que é nulo porque não observa a forma prevista no 410º/2; que, apesar de ser nulo,
pode ser aproveitado como contrato promessa unilateral e, caso possamos, deve este aproveitamento
ser feito através de mecanismos da redução ou da conversão.
→ Tese da nulidade total com possibilidade de conversão (Galvão Teles, Antunes Varela)
[293º]:
De acordo com estes autores: o contrato-promessa bilateral exige assinaturas das partes, pelo que a
ausência de uma delas determinaria a nulidade total por falta de forma exigida legalmente. No entanto,
e porque seria injusto não possibilitar o aproveitamento do negócio, este deve ser, ainda assim,
aproveitado enquanto negócio unilateral – por via da conversão.
Isto é: o contrato-promessa bilateral não pode ser aproveitado por via da redução, porque, por um lado,
a redução pressupõe uma nulidade meramente parcial (e a falta de assinatura corresponde a uma
nulidade total) e, por outro lado, a natureza sinalagmática do contrato-promessa bilateral é
completamente diferente da natureza do contrato unilateral e, como tal, a sua passagem a negócio
unilateral nunca seria um aproveitamento parcial, mas sim uma mudança radical de tipo de negócio
jurídico.
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Direito das Obrigações – 2021/2022
Estes autores partem do pressuposto de que a falta de uma das assinaturas é uma nulidade parcial. Ora,
uma vez que a lei exige a assinatura do contrato-promessa daquele que se vincula à promessa, se, no
contrato-promessa bilateral apenas um assinar, então a nulidade será parcial e, por isso, justifica-se a
opção pela redução, não havendo razão para considerar o negócio nulo nessa parte. Este regime tutela
os interesses da parte interessada na realização do negócio, por consagrar a solução do aproveitamento
do negócio nessa parte, a não ser que se prove que não seria essa a vontade hipotética das partes.
Ora, o ónus da prova recai sobre a parte não interessada no aproveitamento do negócio, que terá que
provar que o negócio não teria sido concluído sem a parte viciada.
Ora, tanto a jurisprudência como a doutrina maioritária têm decidido a favor de se considerar a
nulidade parcial com possibilidade de redução porque (1) é a que mais favorece o aproveitamento do
negócio já que, deste ponto de vista, o contrato-promessa bilateral valerá como contrato-promessa
unilateral, mantendo-se vinculada a parte que assinou e porque (2) se o nosso legislador consagra a
existência do contrato-promessa unilateral, não faria sentido, neste caso, considerar o negócio
totalmente nulo.
Portanto, prevalecendo a tese da redução, o contrato-promessa bilateral que seja assinado apenas por
uma das partes será valido como promessa unilateral, mantendo-se a vinculação do promitente que
assinou, a menos que a parte não interessada no aproveitamento conseguir provar que este contrato
não ficaria concluída do promitente que assinou.
PORTANTO, quando temos um contrato de promessa bilateral, assinada apenas por um dos promitentes
» nulidade:
Contudo, podemos aproveitar este negócio jurídico enquanto contrato-promessa unilateral, por duas
vias:
o conversão (293º) – o ónus recai sobre a parte interessada; assentando na vontade hipotética das
partes
o redução (292º): o ónus recai na parte não interessada na redução do negócio, prescindindo-se do
apuramento da vontade hipotética das partes já que a parte deve provar que as partes não queriam.
Quer a nulidade seja total (usamos a conversão) ou parcial (e usamos a redução) culminam na
unilateralidade da promessa. A real diferença reside no ónus da prova:
A tese da redução é a mais equilibrada, favorecendo a manutenção do contrato, sendo mais razoável
colocar o ónus do lado do promitente vendedor. Na prática, o efeito final é o mesmo, passando a
promessa a ser unilateral; o que se altera é o lado sobre o qual recai o ónus.
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Direito das Obrigações – 2021/2022
Ausência de requisitos: É esta uma exigência relativa, não à forma, mas a formalidades necessárias
para que possamos estar perante um negócio plenamente válido – não sendo cumpridas, o contrato
será inválido, na forma de nulidade atípica:
esta nulidade não está sujeita ao regime geral do artigo 286º, porque não pode ser invocada por
terceiros nem ser oficiosamente conhecida pelo tribunal, só podendo ser invocada pelo
promitente adquirente (a menos que seja provocada unicamente por culpa sua – aí, o promitente
alienante também a poderá invocar, desde que prove tais factos).
O promitente adquirente pode invocá-la a todo o tempo, uma vez que este regime de invalidade
misto foi estabelecido no seu interesse em evitar a aquisição de imóvel clandestino.
Artigo 412º: Transmissão de direitos e obrigações emergentes do contrato-promessa:
Nos termos do artigo 412º, quando os direitos e obrigações emergentes do contrato-promessa não
sejam exclusivamente pessoais, podem transmitir-se por morte aos sucessores das partes [412º1],
ficando a transmissão por ato entre vivos sujeita às regras gerais [412º2].
Esta transmissão permite que, em caso de morte das partes, o cumprimento da respetiva obrigação seja
requerido ou exigido aos herdeiros. No entanto, as partes podem celebrar o contrato-promessa tendo
em conta, especificamente, a pessoa do outro contraente, ou seja, atribuir ao contrato promessa este
caráter estritamente pessoal e, neste caso, tal natureza estritamente pessoal do contrato-promessa
impede a transmissão por morte, nos termos do artigo 2025º CC – esta situação é exceção.
A execução específica [830º]
Apesar de o devedor não poder ser coagido a emitir a declaração negocial a que se obrigara, o credor
pode obter a satisfação do seu direito por via judicial: o devedor é substituído no cumprimento, o qual
é suprido pelo tribunal, quando este emite uma sentença que produz os mesmos efeitos da declaração
negocial que não foi cumprida – constituindo-se o contrato definitivo, por força da sentença.
O direito de recorrer à execução específica nasce quando a parte com quem se celebrou contrato-
promessa se recusa a cumpri-la, não celebrando o contrato definitivo – sendo certo que este conceito
de “incumprimento” é amplo, sendo suficiente a simples mora para que a outra parte possa recorrer à
execução específica.
Exemplo: A e B celebram um contrato promessa no dia 1 de janeiro de 2020 e ficou acordado que a
escritura pública de compra e venda (celebração do contrato definitivo) teria lugar no dia 1 de julho de
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Direito das Obrigações – 2021/2022
2020 – se nesse mesmo dia A (promitente vendedor) não comparecer, incorre em mora – uma forma de
não cumprimento que permite à outra parte o recurso à execução\ao específica.
Isto é assim mesmo que o registo da venda ocorra apenas depois do registo da ação específica,
uma vez que até à decisão da ação específica continua a existir apenas um direito de crédito –
que, pela sua natureza, não é suscetível de prevalecer sobre direitos reais, mesmo que seja feito
o registo.
• A execução específica também será afastada quando existir convenção nesse sentido: naturalmente,
a execução específica não é imperativa, podendo ser afastada por acordo das partes.
Aliás, nos termos do artigo 830º2, presume-se que a execução específica foi afastada pelas partes
quando estas constituem um sinal* (penitencial) ou acordem numa penalização para o incumprimento,
porque se presume que, nestes casos, o que as partes pretendem, caso haja incumprimento, não é a
execução específica, mas unicamente a obtenção da indemnização. Esta presunção é ilidível mediante
prova em contrário [350º2], uma vez que é possível, já que nada o impede, que as partes convencionem
os dois regimes (possibilidade de execução específica + constituição de sinal ou penalização), cabendo
ao credor optar pela alternativa que lhe for mais conveniente.
Contudo, ao abrigo do nº3 do artigo 830º, o direito à execução específica não pode ser
derrogado, nem haver presunção nesse sentido, pelas partes nas promessas constantes do
artigo 410º3 – promessas relativas à constituição ou transmissão do direito real sobre edifício
ou fração autónoma dele, já construído, em construção ou a construir (tratando-se de prédio
rústico, contudo, a estipulação de sinal afasta em princípio, a execução específica). Portanto, o
direito à execução específica não pode ser afastado quando estejamos perante contratos-
promessa relativos a contratos definitivos por via dos quais se constituam ou transmitam direitos
reais sobre um edifício ou uma fração autónoma dele, já construído, em construção ou a
construir. Como tal, no caso de haver sinal ou cláusula penal, não será de presumir que houve
um afastamento da execução específica.
• A execução específica também não será possível quando for incompatível com a natureza da
obrigação: o que pode acontecer (1) por a índole específica do processo de formação do contrato
prometido ou (2) a sua natureza pessoal não for compatível com a sua constituição por sentença judicial.
Ex.I: contratos-promessa relativos a contratos reais quoad constitutionem (penhor de coisas, mútuo,
comodato e depósito), em que se exige a tradição da coisa para se poder celebrar o contrato definitivo –
não é possível a execução específica uma vez que o tribunal não pode substituir-se ao promitente na
tradição da coisa;
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Direito das Obrigações – 2021/2022
Ex.II: o contrato-promessa de contrato de trabalho não pode ser alvo de execução específica, atento o
caráter pessoal da prestação de trabalho [103º3 CT].
Quando nos referimos, a propósito do artigo 830º2, a “sinal”, devemos fazer uma interpretação restritiva:
quando a norma fala em “sinal” devemos entender sinal penitencial e não sinal confirmatório.
Ora, se fizéssemos uma interpretação literal deste artigo, seríamos levados a afastar, quase
sempre, a execução específica.
Ex: se A dá os 50000 euros a B, está a confirmar a sua vinculação = sinal confirmatório.
Nesse caso, devemos entender que ele não quis afastar a convenção específica. Pelo
contrário, tratando-se de sinal penitencial, entender-se ia que há convenção em contrário,
devendo ser acordado.
Há, no entanto, casos em que o sinal não tem este caráter confirmatório, mas antes um caráter
penitencial, consubstanciando uma espécie de “preço pelo arrependimento”.
Por exemplo, A e B iniciam negociações com vista à celebração de um contrato de compra e venda; B ainda
não está totalmente seguro da sua intenção de celebrar esse contrato, mas celebra o contrato de promessa
entregando uma determinada quantia que, e na intenção das partes, é uma espécie de preço de
arrependimento, ou seja, se B se arrepender de celebrar o contrato definitivo, A fica com aquela quantia.
Portanto, se estamos perante sinal penitencial, devemos entender que existe convenção em contrário,
sendo de afastar a execução específica. Sendo um sinal meramente confirmatório, a execução não é de
afastar.
(2) Hipótese de o promitente faltoso poder invocar a exceção de não cumprimento do contrato, caso
em que a ação improcede se ele não consignar em depósito a sua prestação no prazo que lhe foi
fixado pelo tribunal [830º5]. Pretende-se evitar que ele beneficie da exceção de não cumprimento do
contrato [428º].
A articulação do regime do contrato-promessa com o regime do sinal
O sinal consiste numa cláusula acessória dos contratos onerosos, mediante o qual uma das partes
entrega à outra, por ocasião da celebração do contrato, uma coisa fungível. O sinal funciona como uma
fixação das consequências do incumprimento, uma vez que, se a parte que constitui o sinal deixar de
cumprir a sua obrigação (= não cumprir o contrato-promessa), a outra parte tem o direito de fazer sua
a coisa entregue.
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Direito das Obrigações – 2021/2022
No entanto, se o não cumprimento for imputável à parte que recebeu o sinal, ela terá que restituir o
sinal em dobro, resultando tal do disposto no artigo 442º do CC.
Por outro lado, verificando-se o cumprimento do contrato-promessa, aquilo que foi entregue a título de
sinal será imputado na prestação devida, valendo então como princípio de pagamento, ou será
restituído, caso a imputação não seja possível (tal resulta do disposto no artigo 442º1 do CC).
As consequências do não cumprimento da promessa, nos casos em que haja sinal, resultam do artigo
442º do CC, e são fixadas em função do sinal:
− Se o incumprimento for devido à parte que constitui o sinal: O artigo 442º do CC refere que a
outra parte tem a faculdade de fazer sua a coisa entregue (neste caso, no âmbito da
responsabilidade civil contratual, o promitente vendedor teria direito a uma indemnização, mas
ela assume-se na forma do sinal, ou seja, o promitente vendedor deixa-se ficar com o sinal,
servindo ele de indemnização; no entanto, se o promitente vendedor recorrer à execução
específica, a tutela do promitente fiel por via da responsabilidade contratual extingue-se, não
sendo ambos cumulativas).
− Se o incumprimento da promessa for imputável à parte que recebeu o sinal: O artigo 442/2
do CC refere que a parte que recebeu o sinal terá que restituir o sinal em dobro.
Nota para o facto de que o legislador não faz referência aos casos em que o cumprimento seja
imputável a ambas as partes: Nestes casos, a solução mais lógica seria a restituição do sinal em
singelo (ambas as partes teriam o direito a ser indemnizadas uma pela outra).
− Exigir o sinal em dobro: Caso opte por esta opção, terá direito a um valor de 20.000€.
− Exigir a chamada indemnização pelo aumento do valor da coisa: Diz respeito ao estabelecido
na parte final do artigo 442/2 do CC.
Esta introdução tem uma explicação histórica, na medida em que foi introduzida no CC na
década de 1980, em que se vivia um período de forte inflação, e de grande especulação
imobiliária; havia uma desvalorização das quantias em dinheiro, e uma valorização dos bens
imóveis). O lapso temporal entre a celebração do contrato-promessa e do contrato definitivo
levava a que, devido à forte inflação, deixasse de haver uma correspondência económica entre
o preço estipulado no contrato-promessa e o valor objetivo do bem. Para o promitente
vendedor, era preferível vender a um terceiro pelo valor do bem, no momento, ainda que
tivesse consciência de que teria que restituir ao promitente comprador o dobro do sinal (ainda
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Direito das Obrigações – 2021/2022
assim, o promitente vendedor conseguia lucrar, mediante tal inflação). Por uma questão de
segurança jurídica, o legislador permitiu ao promitente comprador que optasse.
No momento em que foi celebrado o contrato, o valor do imóvel era de 100.000€, e à data do
incumprimento da promessa, o valor do apartamento já era de 150.000€, pelo que deve substituir-se
aos 150.000€ os 100.000€ (preço convencionado) e deve igualmente somar-se ainda o sinal que tenha
sido pago (10.000€), o que dará um total de 60.000€ a serem restituídos pelo promitente vendedor,
em caso de incumprimento.
→ O artigo 442/3 do CC determina que, em qualquer dos casos previstos no número anterior, o
contraente não faltoso poderá requerer, em alternativa, a execução específica do contrato – trata-
se também de uma disposição exclusivamente aplicável ao contrato-promessa, mas que deve ser
interpretada com cautela, na medida em que, interpretada à letra, parece entender-se que o
contraente não faltoso teria sempre a possibilidade de optar pela execução específica, em
alternativa ao regime previsto no artigo 442/2 do CC, o que não é verdade, porque a execução
específica tem os seus próprios pressupostos, podendo, no caso em concreto, estar afastada (no
entanto, quer tenha ou não havido tradição da coisa, poder-se-á recorrer à execução específica,
uma vez que estejam preenchidos os seus pressupostos).
→ O artigo 442/3/parte final do CC prevê que o contraente faltoso possa oferecer-se para cumprir a
promessa, caso o outro promitente pretenda requerer a indemnização pelo aumento do valor da
coisa, sendo que tal oferta paralisaria a possibilidade de se invocar a indemnização pelo aumento
do valor da coisa (esta situação é designada por alguns autores como exceção de cumprimento do
contrato-promessa).
→ O artigo 442/4 do CC estabelece que o sinal serve, efetivamente, para fixar as consequências do
incumprimento, e que essas são as previstas no artigo 442/2 do CC, não podendo, além dela, ser
exigido qualquer outro tipo de indemnização.
Direito de retenção ao promitente que obteve a tradição da coisa
O direito de retenção (emergente do incumprimento do contrato-promessa) está previsto no artigo
755º, al.f) do CC. Trata-se de um direito que permite a retenção da coisa (direito real de garantia) pelo
crédito resultante do não cumprimento do contrato-promessa, quando imputável à outra parte [442º] e
que é atribuído ao promitente que (1) obteve a tradição da coisa, só existindo tal direito (2) enquanto
não forem satisfeitos estes créditos.
Permite-se, por isso, que o promitente comprador que obteve a tradição da coisa possa,
legitimamente, recusar a entrega do imóvel enquanto o promitente vendedor não satisfizer o crédito
que resulta do artigo 442º2 do CC (enquanto o promitente vendedor não lhe entregar a indemnização,
ou o valor relativo ao aumento do preço da coisa).
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Direito das Obrigações – 2021/2022
O contrato-promessa que tenha eficácia real está sujeito a forma solene – exigindo-se escritura
pública ou documento particular autenticado, a menos que não seja exigida essa forma para o
contrato prometido – e, aí, bastará um documento particular (com reconhecimento de
assinaturas).
− por um lado, há quem defenda que este será um direito real de aquisição
(Oliveira de Ascensão);
− por outro, há autores que consideram tratar-se de um direito de crédito –
embora, neste caso, oponível a terceiros (Antunes Varela).
− Consideramos, de acordo com a primeira posição, que este será um direito
real de aquisição.
Esta discussão funda-se no facto de a lei não ter esclarecido de que forma obter o
cumprimento da promessa com eficácia real, no caso de ocorrer uma venda a
terceiros:
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Direito das Obrigações – 2021/2022
o Menezes Cordeiro considera que a forma adequada passaria por uma ação
de reivindicação adaptada contra o terceiro.
• Quando B intenta uma ação de execução específica, a sentença que daí provier vai retroagir os
seus efeitos à data do registo do contrato-promessa
• Ou seja, tudo se passa como se B tivesse adquirido o direito na data do registo provisório, que
será antes da alienação de A a C = portanto, o direito real de aquisição de B prevalece sobre
outros, retroagindo a sentença à data do registo do contrato-promessa; este registo é anterior à
alienação a terceiro, pelo que prevalecerá.
No entanto, há uma situação específica em que o direito do comprador, mesmo tendo o contrato-
promessa eficácia obrigacional (ou real?), poderá vir a prevalecer sobre o direito do terceiro:
• Ora, na pendência da ação de execução específica, já depois da ação ter sido registada e
intentada, mas ainda antes de ter sido produzida sentença, o promitente vendedor aliena o
imóvel a terceiro.
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Direito das Obrigações – 2021/2022
• Neste caso, o direito do promitente comprador irá prevalecer sobre o direito do terceiro, em
virtude do registo da ação de execução específica, que é um registo provisório que se irá
converter em definitivo quando for proferida sentença, mas a data do registo manter-se-á a
mesma.
Portanto, é esta a única situação em que o direito do promitente-comprador poderá prevalecer sobre o
direito de um terceiro: Se a alienação a terceiro for efetuada depois de intentada e registada a ação de
execução específica, o direito do promitente comprador prevalecerá sobre o direito de um terceiro, na
medida em que os efeitos da sentença irão retroagir à data do registo provisória da ação de execução
específica.
Não estamos perante uma obrigação de contratar (como sucedia com o contrato-
promessa), mas sim de, em caso de se decidir contratar, escolher determinada pessoa
como contraente, se essa pessoa lhe oferecer as mesmas condições que conseguiu
negociar com terceiro;
Relativamente à forma do pacto de preferência:
• Contudo, esta disposição merece críticas: a lei não exige nenhuma forma específica para
a comunicação, nem para o exercício do direito de preferência, pelo que as mesmas estão
sujeitas a liberdade de forma, nos termos do artigo 219º - ora, tal solução parece
questionável, já que o prazo para o exercício do direito é curto (8 dias), tornando-se difícil
provar, em Tribunal, que esta comunicação foi feita ou a caducidade do direito.
• Por outro lado, esta comunicação tem que ter sempre como referência o contrato
preferível (aquele que o obrigado haja negociado com um terceiro) – só depois disso
poderá comunicar ao titular da preferência as exatas condições em que poderá preferir,
por referência a esse contrato. Portanto, não é considerada comunicação a mera emissão
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• Relativamente ao conteúdo da comunicação, resulta do 416º que desta deve constar quer o
projeto de venda, quer as cláusulas do contrato que pretende celebrar com terceiro: não basta
comunicar os elementos gerais do negócio, tendo também que ser comunicadas quaisquer
estipulações particulares que tenham sido acordadas com terceiro, nomeadamente as
condições de pagamento, desde que estas estipulações particulares sejam relevantes para a
decisão de exercer, ou não, o direito de preferência.
▪ Há ainda outra posição, defendida por Pires de Lima e Antunes Varela, que
considera que, em princípio, não será necessário que de tal comunicação
conste nome de terceiro, devendo, contudo, ser comunicado, sempre que
o não exercício do direito de preferência implique que fiquem a subsistir
relações jurídicas entre o terceiro e o titular do direito de preferência.
Uma vez recebida a comunicação, o titular do direito deve responder no prazo de 8 dias,
decidindo se exerce o direito de preferência, exceto se lhe tiver sido conferido prazo mais
curto ou mais longo. Nada dizendo, o direito caduca, ficando o obrigado à preferência livre
para celebrar contrato com terceiro.
Violação da obrigação de preferência:
Há incumprimento definitivo da obrigação de preferência:
Este incumprimento determina que o titular da preferência adquira o direito a uma indemnização.
Contudo, as consequências são diferentes se:
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A verdade é que, não impondo a lei qualquer forma para a comunicação, e quando o
contrato preferível não estiver sujeito a forma, o contrato fica concluído, e é válido,
quando o titular do direito de preferência responde afirmativamente. Assim, se na
comunicação estiverem todos os elementos necessários à celebração do contrato,
podemos considerar que uma resposta definitiva à comunicação pode implicar a
celebração do contrato.
Há, ainda, casos de preferências legais, em que a lei confere a determinado titulares de direitos reais
ou direitos pessoais de gozo sobre determinada coisa a preferência na venda ou dação em
cumprimento da coisa que constitui objeto desse direito. Nesses casos, as preferências têm sempre
eficácia real, podendo os seus titulares exercer o seu direito de preferência contra terceiros, como nos
casos de:
• Comproprietário [1409º];
• Arrendatário [1091º];
• Proprietário de solo [1535º]
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Direito das Obrigações – 2021/2022
O direito convencional de preferência não prevalece contra os direitos legais de preferência [422º], já
que não faria sentido que as partes, por acordo, pudessem afastar direitos atribuídos legalmente.
Tendo eficácia meramente obrigacional, e se A decidir alienar a terceiro sem que haja feito a
comunicação a B, B pode apenas exigir uma indemnização, não podendo fazer prevalecer sobre o
direito real do terceiro – responsabilidade contratual.
Quando a preferência goza de eficácia real, cumpridos os requisitos [413º ex vi. 421º], o
titular do direito de preferência não é apenas titular do direito de crédito, mas sim de um direito real
de aquisição, o qual permite que o titular da preferência possa haver para si a coisa objeto da
preferência, mesmo que a coisa tenha sido, entretanto, alienada a um terceiro – através da ação de
preferência [421º2 1410º].
(Sendo certo que o 1410º se refere ao direito legal de preferência do comproprietário, aplica-
se a todos os pactos de preferência com eficácia real, bem como os demais pactos de
preferência.)
A ação de preferência:
Esta deve respeitar os requisitos do 1410º:
i. A ação de preferência deve ser intentada dentro de um prazo de 6 meses, contados a partir da
data em que o titular da preferência teve conhecimento dos elementos essenciais da
alienação;
ii. Como condição de procedência exige-se que o autor, titular da preferência, deposite o preço
devido nos 15 dias posteriores à propositura da ação.
Quanto à legitimidade passiva na ação de preferência, discute-se contra quem deve ser intentada a
ação de preferência: contra o terceiro, contra o obrigado à preferência, ou contra ambos?
Uma posição maioritária (prof. Almeida Costa e Menezes Cordeiro) defende que a ação de
preferência deve ser intentada contra o terceiro, não sendo necessário intentá-lo contra o
obrigado à preferência a menos que o titular da preferência quisesse, simultaneamente, exigir
dele uma indemnização.
Uma posição minoritária (Antunes Varela e Menezes Leitão) vai no sentido de que a ação de
preferência deve ser intentada contra ambos – haveria situação de litisconsórcio necessário
passivo entre o obrigado à preferência e o terceiro (33º CPC), pelo que o titular deverá interpor
a ação de preferência contra o obrigado à preferência contra o obrigado e contra o terceiro
adquirente, em simultâneo.
Quanto ao valor do depósito: outra questão que suscita divergência doutrinal prende-se com saber se
o titular deve consignar em depósito apenas o preço ou, além disso, deve também depositar as
despesas que o terceiro teve com a venda (nomeadamente, inerentes à escritura)?
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Direito das Obrigações – 2021/2022
o O 1410º determina que deve ser depositado apenas o preço e, nesse sentido, tem-se
maioritariamente entendido que apenas o preço deve ser consignado em depósito ainda que,
vindo a ser julgada procedente a ação, o titular da preferência possa vir a ter que reembolsar o
terceiro das despesas que o terceiro teve que suportar com a venda.
Quanto ao problema da simulação de preço [240º]: pode acontecer que o obrigado à preferência e o
terceiro celebrem um negócio que não corresponda à sua verdadeira vontade (negócio simulado), com
o intuito de enganar terceiros, podendo esta simulação passar por indicar um preço muito superior
(com vista a inviabilizar a própria preferência) ou muito inferior (evitando impostos relativos à
transmissão).
Quando o preço declarado é superior ao preço real, é pacífico que o titular do direito de preferência
deve exercer o direito de preferência pelo preço real. Sendo o negócio simulado nulo (240º2 CC) e o
negócio dissimulado válido, a preferência deverá ser exercida relativamente a este negócio
dissimulado.
Quando o preço declarado for inferior ao preço real, a questão é mais complexa, já que, aqui, o
negócio simulado, sendo NULO, tem um preço que é inferior ao real. A doutrina divide-se:
• Há autores que entendem que o preferente pode exercer o direito de preferência pelo preço
declarado;
• Há autores que entendem que, nesta situação, o direito de preferência só poderá ser exercido
pelo preço real – porque o inferior resulta de negócio simulado nulo;
• A jurisprudência tem considerado que, neste caso, o direito de preferência deve ser exercido
pelo preço real, mesmo que isso implique a prova da simulação.
Negócios Unilaterais
Em princípio, a forma privilegiada de constituição de obrigações com fundamento no princípio da
autonomia privada consiste na celebração de contratos, pelo que, em princípio, só o contrato pode ser
fonte de obrigações (princípio do contrato).
O princípio do contrato significa que para a constituição de uma obrigação, exige-se, não apenas
uma declaração negocial do devedor, mas também uma declaração negocial do credor
convergente com essa declaração do devedor. Isto é, em regra, para que alguém se obrigue, é
necessária a celebração de um contrato que, necessariamente, inclui duas declarações de
vontade convergentes.
Apesar disto, excecionalmente, a constituição de obrigações pode ter como fonte um negócio jurídico
unilateral: o artigo 457º determina que a promessa unilateral de uma prestação obriga apenas nos casos
previstos na lei – ao mesmo tempo que consagra, a contrario, o princípio do contrato, não o faz em
termos absolutos, na medida em que também estipula a tipicidade dos negócios unilaterais enquanto
fonte de obrigações.
Assim, salvo nos casos estipulados na lei, a emissão de uma simples declaração negocial não é
vinculante para o seu autor em termos de constituição de obrigações, sendo exigível, para tal, que se
celebre um contrato.
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Apesar de esta norma estar sistematicamente inserida na secção respeitante aos negócios unilaterais,
tal inserção é incorreta, na medida em que esta promessa não é um negócio unilateral constitutivo de
obrigações – para sê-lo teria de revestir as características de um negócio abstrato e teria que permitir
às partes a constituição de obrigação sem indicação de respetiva fonte.
Embora não seja necessário demonstrar a fonte da obrigação – já que tal fonte se presume – esta
presunção pode ser ilidida, demonstrando que a relação fundamental não existe, o que significa que
não podemos considerar esta promessa um negócio abstrato constitutivo de obrigações.
A promessa-pública, por sua vez, já constitui negócio unilateral constitutivo de obrigações, que consiste
numa declaração negocial dirigida ao público, através da qual se promete uma prestação a quem se
encontre em determinada situação ou pratique certo facto positivo ou negativo.
o A promessa pública é, por isso, uma declaração que pode ser emitida através de anúncio público,
o qual pode abranger várias formas, abranger qualquer meio de comunicação social ou de
difusão pública de mensagens, quer tenha um alcance maior ou menor.
(Ex: mensagem publicada num jornal, na qual se oferece determinada quantia a quem encontrar
cão desaparecido numa determina zona e o entregue a seu dono).
o Não tendo prazo de validade, só se poderá extinguir por revogação [460º] – esta terá
que ser realizada na forma da promessa ou em forma equivalente e nunca depois da
situação referida já se ter verificado ou de o facto já ter sido praticado [461º2].
É uma modalidade especial de negócio unilateral, diferente da promessa pública porque no CP a oferta
da prestação ocorre como prémio de um concurso – por isso, deve ser fixado prazo para apresentação
dos concorrentes, sem o qual o negócio não será válido. Posteriormente, a decisão sobre a admissão
dos candidatos e sobre a atribuição do(s) prémio(s) cabe às pessoas indicadas no anúncio como júri do
concurso.
Assim, tanto o concurso público como a promessa pública consubstanciam exceções ao princípio do
contrato.
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Reconduzem-se à Responsabilidade Civil todos os factos que originam uma obrigação de indemnização
pelos danos sofridos por outrem – a responsabilidade civil é, por isso, uma fonte de obrigações que se
baseia no princípio do ressarcimento dos danos.
A responsabilidade civil funciona como exceção ao princípio casum sentit dominus, nos termos do
qual os danos devem ser suportados pela esfera jurídica em que ocorrem, já que permite transferir o
dano da esfera do lesado para a esfera do lesante, que fica com a obrigação de indemnizar.
No entanto, para tal, é necessário um título de imputação, isto é, é necessário que a responsabilidade
lhe possa ser atribuída por qualquer via, que pode ser a culpa, risco ou sacrifício e, consoante o título,
poderemos distinguir a responsabilidade:
Responsabilidade por culpa: a regra é a responsabilidade por culpa [483º1], pelo que, em
regra, a responsabilidade do agente pressupõe uma censura subjetiva do comportamento do
agente por ter adotado a conduta que adotou. Além da função da reparação do dano, tem
uma função preventiva e punitiva. (Esta função punitiva decorre de várias normas, desde logo do
artigo 494º, que prevê a possibilidade de, em caso de mera culpa, a indemnização ser fixada em
montante inferior ao dano; do artigo 497º2 e do 570º.)
Responsabilidade pelo risco: admitida apenas excecionalmente, nos casos previstos na lei
[483º2]: prescinde-se do juízo de censura da conduta do agente e a imputação ao agente é
efetuada de acordo com critérios objetivos de distribuição do risco. a função primordial da
responsabilidade é, também, a reparação do dano, no entanto, e ainda que em termos
limitados, a responsabilidade desempenha aqui uma função acessória de prevenção.
Tal cláusula faz depender a obrigação de indemnizar da existência de uma conduta do agente (facto
voluntário) que represente a violação de um dever imposto pela ordem jurídica (ilicitude), sendo o
agente censurável (culpa), da qual tenham resultado danos (dano) que sejam consequências causais
dessa conduta (nexo de causalidade entre o facto e o dano).
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O facto voluntário traduz-se num comportamento do agente dominável pela vontade, que possa ser
imputado a um humano (por este se encontrar no controlo da sua vontade) enquanto expressão da
conduta de um sujeito responsável.
Portanto, não se exige intenção, bastando que a conduta seja suscetível de controlo humano, daqui se
excluindo acontecimentos exteriores causadores de danos.
Ex: se alguém, em consequência de um ciclone, for arrastado e embater num agente que fica danificado,
não estamos perante facto voluntário porque não estamos perante facto suscetível de ser controlado pela
vontade.
Esta pode traduzir-se numa ação ou numa omissão: aqui, além dos pressupostos do artigo 483º, é
exigido algo mais – este só é responsável quando, sobre ele, incida um dever especial de praticar o ato
omitido [486º]. Naturalmente, não existe um dever genérico de evitar a ocorrência de danos para outra
pessoa – para que haja efetiva responsabilidade, além dos pressupostos gerais, deve recair sobre um
sujeito em particular um dever de evitar a ocorrência de danos.
Este dever específico pode resultar de um contrato (exemplo: contrato de trabalho ou prestação
de serviços por via do qual alguém deve vigiar um doente mental, de modo a impedir suicídio
ou outros danos) ou de imposição legal (ex: 491º, 492º, 493º).
(2) ILICITUDE:
O nosso legislador tipificou as posições jurídicas cuja lesão pode envolver responsabilidade civil,
estabelecendo uma cláusula geral limitada.
Por isso, há uma exigência expressa de ilicitude do facto praticado pelo agente, que se traduz num juízo
de censura objetivo sobre a própria conduta (ou seja, um desvalor da própria conduta), e pode assumir
duas variantes tipificadas no artigo 483º1:
I. Violação de direitos alheios: um ato será ilícito quando violar as utilidades proporcionadas por direitos
absolutos – tantos direitos relativos a bens jurídicos pessoais (integridade física, vida, corpo, etc.), os
direitos de personalidade, os direitos reais, os direitos de propriedade industrial e os direitos de autor.
Já os direitos de crédito não são abrangidos pelo 483º1, já que a tutela dos direitos de
crédito efetua-se através das normas relativas à responsabilidade civil contratual [artigo
798º] – ou através de previsões específicas, como é o caso do abuso de direito.
II. Violação de disposições legais destinadas a proteger interesses alheios: são as designadas
“normas de proteção”, isto é, normas que, embora se dirijam à tutela de interesses particulares (ou
exclusivamente ou em conjunto com o interesse público) não atribuem aos titulares desses interesses
um verdadeiro direito subjetivo a essa tutela. Incluir-se-ão aqui as normas de proteção, tanto de Direito
Penal, primário ou secundário como de mera ordenação social (ex: violação das regras do código da
estrada, etc).
No entanto, para que uma violação de normas de proteção configure ilicitude, devem estar
preenchidos três subrequisitos:
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Direito das Obrigações – 2021/2022
1) É preciso que o agente não tenha adotado o comportamento que é definido pela norma em
termos precisos: é necessário que alguém tenha desrespeitado um dado comando,
constituindo isso a base para se poder estabelecer um juízo de ilicitude;
2) É necessário que o fim dessa imposição se dirija à tutela de interesses particulares: não
basta que haja o desrespeito por uma qualquer norma jurídica, mas sim o desrespeito por
uma norma que, especificamente, consista na tutela de interesses particulares (não
bastando que os tutele apenas reflexamente, no âmbito de uma tutela do interesse público
– caso em que se afasta a possibilidade de um particular exigir indemnização).
3) É preciso que o dano sofrido esteja abrangido pelo círculo de interesses que a norma visa
tutelar, ou seja, é preciso que um dos fins da norma violada seja precisamente prevenir
aquele dano que foi sofrido pelo lesado, excluindo-se a possibilidade de indemnização em
caso de outros danos que surjam em sequência do desrespeito pela norma.
Apenas quando verificadas estes requisitos se poderá acionar a responsabilidade civil com
fundamento nesta segunda variante da ilicitude – trata-se de conceder ao lesado uma
indemnização por um dano que ele sofreu em virtude da violação de uma norma de proteção, e
não em consequência da violação de um direito subjetivo.
Para além destas duas categorias gerais de ilicitude, e existem ainda previsões específicas de
comportamentos ilícitos no CC, enquanto fonte de ilicitude extracontratual. Estas previsões específicas
são, por exemplo:
→ Artigo 334º – Abuso de direito: considera-se ilegítimo o exercício do direito sempre que o titular
excede, manifestamente, os limites impostos pela boa-fé, pelos bons costumes ou pelo fim social
ou económico desse direito.
→ Artigo 484º – Ofensa do crédito ou do bom nome: apesar de existir previsão específica, esta norma
não seria necessária, uma vez que a ofensa ao crédito ou do bom nome já seriam suscetíveis de
gerar RC, nos termos do 483º1.
Discute-se se o que esta aqui em causa é apenas a afirmação ou difusão de factos falsos, que
ofendam o crédito ou o bom nome, ou se também a afirmação ou difusão de factos verdadeiros,
poderá gerar responsabilidade civil. Apesar de surgir controvérsia quanto a esta questão, a posição
dominante entende que:
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3. Sempre que o procedimento do agente constitua facto punível – sempre que a lei
estabelece sanção punitiva para a deficiente prestação de conselhos, recomendações
ou informações, poderá, igualmente, exigir-se do agente uma indeminização pelos
danos sofridos.
Relativamente a este artigo, a questão que se coloca é a de saber o que se sucede quando, apesar de
não se verificar nenhuma destas 3 situações, o agente tiver atuado com dolo? Estará esta situação
prevista no 485º, nº1 ou se, pelo facto da atuação do agente ter sido dolosa, deverá haver
responsabilidade?
− Almeida Costa não estando em causa nenhuma das situações previstas no nº2, a situação dolosa
estaria abrangida pela regra da exclusão da responsabilidade prevista no nº1, admitindo que o
agente possa ser responsabilizado, desde que no caso concreto se verifiquem pressupostos do
abuso de direito: a fonte da ilicitude seria, nestes termos, o artigo 334º do CC.
− Menezes Cordeiro e Menezes Leitão entendem que sendo a atuação dolosa, haverá
responsabilidade do agente relativamente aos danos que o lesado possa ter sofrido, em
consequência dessa informação falsa, dolosamente prestada. No será portanto abrangida pela
regra da exclusão da responsabilidade prevista no nº1 do 485º. Quando o legislador consagrou
esta regra teve certamente em vista casos em que o conselho, recomendação ou informação
tenha sido prestado com negligência, não querendo, certamente, abranger casos em que o agente
agiu dolosamente, com o intuito de prejudicar.
Uma vez que a ilicitude pressupõe a violação de um direito de outrem, os danos puramente
patrimoniais, em princípio, não são ressarcíveis, em sede do RC extracontratual, já que são danos que
alguém sofre sem que tenha havido prévia violação de um direito subjetivo absolutamente protegido
Exemplo: alguém com culpa provoca um acidente numa autoestrada. Em consequência, o trânsito é
cortado, mas centenas de condutores acabam por ficar presos nesse engarrafamento e o facto de
ficarem presos causa vários tipos de danos (dia de trabalho que perderam, faltar a reuniões, etc) –
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vários danos surgiram em virtude do acidente contra quem o condutor embateu, mesmo que este
acidente não tinha ocorrido diretamente contra mim.
Ora, esses danos não decorrem da prévia violação de um direito subjetivo absolutamente protegido,
pelo que não serão compensados em sede de responsabilidade contratual, por não existir a violação
de um direito subjetivo absoluto. Contudo, há uma exceção: quando apenas houver a violação de uma
disposição legal que proteja interesses alheios e se estiverem preenchidos os pressupostos do abuso
de direito.
Exercício de um direito: se alguém tem um determinado direito subjetivo e o exerce, não deve
responder pelos danos que daí resultem para outras pessoas – desde que tais danos decorram da
fruição das utilidades legítimas do seu direito, não deixando de responder se causar danos não
enquadráveis no exercício do seu direito subjetivo.
Legítima defesa (337ºCC + 21º CRP): a ilicitude também se exclui quando há uma atitude
defensiva do agente que se encontra a ser vítima de uma agressão e termina com ela pelos seus
próprios meios. Para que se possa considerar que o agente agiu em legítima defesa, é necessário
que se verifiquem os pressupostos previstos nesta norma:
1. Tem de existir uma agressão – uma conduta humana finalisticamente dirigida à provocação
de uma lesão para outrem, independentemente de ser uma agressão contra a
pessoa/património do próprio agente ou de terceiro;
2. Essa agressão seja atual e contraria à lei: a agressão em causa deve estar já em execução
ou ser iminente – pelo que não são justificáveis as atitudes do agente contra ações já passadas
ou que são meramente previsíveis/futuras; por outro lado, a agressão deve ter caráter ilícito,
violando comandos normativos – isto é, atos lícitos não admitem legítima defesa como
breação, não sendo esta justificável.
3. É preciso que haja impossibilidade de recurso aos meios normais: a legítima defesa só é
admissível, excluindo a ilicitude da atitude, no caso de não ser possível recorrer, em tempo
útil, aos meios normais (ex: chamar as autoridades pode implicar demasiado tempo). Nesse
caso, o agente não é obrigado a fugir para evitar a agressão, podendo defender-se
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Direito das Obrigações – 2021/2022
4. O prejuízo causado pelo ato não seja manifestamente superior ao que possa resultar da
agressão: apesar de os danos decorrentes da defesa poderem exceder a lesão que resultaria
da agressão, a verdade é que o prejuízo causado pela defesa não pode ser desproporcionado,
revelando-se manifestamente superior àquele que resultaria da agressão.
Por exemplo, matar alguém que estaria prestes a proceder a um furto de pequena relevância não é razoável; já uma
defesa semelhante seria justificada no caso de se pretender evitar agressões físicas graves ou um crime de
violação.
Portanto, se houver um excesso de legítima defesa, não há uma exclusão da ilicitude, pelo que
o ato será igualmente ilícito; no entanto, a lei prevê [337º2º], ainda assim, que o ato possa ser
justificado, desde que este excesso corresponda a perturbação ou medo não culposo do
agente.
Nesse caso, estaremos, não perante uma causa de exclusão da ilicitude, mas perante
uma causa de exclusão da culpa.
Ação direta (336º): para que um ato se considere justificado ao abrigo desta causa de justificação,
é necessário que:
(2) seja impossível recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais;
(3) a atuação do agente seja indispensável para evitar a inutilização prática do direito;
(5) o agente não sacrifique interesses superiores aos que a sua atuação visa realizar ou
assegurar.
O nº2 determina, no entanto, que o consentimento do lesado não excluí a ilicitude do ato
quando contrario à proibição legal ou contrario aos bons costumes (ex: alguém consentir que outrem
o mate, não exclui a responsabilidade do autor do ato).
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Direito das Obrigações – 2021/2022
A culpa consiste num juízo de censura subjetivo que recai sobre o agente por este ter adotado
determinada conduta quando estava legalmente obrigado a agir de forma diferente. Assim, num sentido
normativo, entende-se existir culpa quando haja uma omissão da diligência que seria exigível ao agente,
de acordo com o padrão de conduta que a lei impõe.
A imputabilidade como pressuposto da culpa
Para que o agente possa ser efetivamente censurado pelo seu comportamento, é necessário que o
agente conhecesse ou devesse conhecer o desvalor do seu comportamento, sendo ainda necessário
que o agente tivesse podido escolher a sua conduta – naturalmente, só compreendendo a valorização
negativa do seu comportamento é que o agente poderá ser censurado por ter adotado a conduta que
adotou; só será capaz de culpa o agente capaz de reconhecer esse desvalor.
Tal significa que a culpa tem como pressuposto a imputabilidade: o agente só pode ser alvo do juízo de
censura em que se traduz a culpa se, no momento da prática do facto, conhecia ou devia conhecer o
desvalor do seu comportamento e se tinha possibilidade de escolher a sua conduta – ou seja, o agente
só é capaz de culpa se for imputável.
Como tal, considera-se existir falta de imputabilidade quando o agente não tem a necessária capacidade
para entender a valorização negativa do seu comportamento ou quando ao agente falta a possibilidade
de o determinar livremente [488º2].
No entanto, nos termos do artigo 488º1, a falta de imputabilidade não exclui a responsabilidade sempre
que esta, sendo devida a um facto culposo do agente, seja transitória.
(Ex: agente consumiu drogas e em consequência disso, causou danos a outrem; ou em consequência do
consumo, adormeceu a conduzir – casos em que o agente se colocou culposamente neste estado, o que
significa que, neste caso, a RC não será excluída).
• Relativamente à indemnização por pessoa não imputável: nos termos do artigo 489º, quando não
seja possível obter a reparação do dano das pessoas a quem incumbe a sua vigilância, há a
possibilidade de, por motivos de equidade, responsabilizar, total ou parcialmente, o inimputável pelos
danos que este causar (remissão do 488º para 489º). Esta responsabilidade do inimputável tem
carater subsidiário relativamente as pessoas a quem incumbe a sua vigilância.
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Direito das Obrigações – 2021/2022
− Esta situação pode resultar do facto de não haver ninguém a quem incumbe a sua vigilância, ou
a pessoa que está incumbida da sua vigilância, não tem meios que permitem satisfazer a
indeminização do lesado.
− Este artigo pressupõe, ainda, que a responsabilidade do inimputável, apenas não ocorra porque
o agente é inimputável, ou seja, é necessário que o agente tenha praticado um facto ilícito que
seria considerado culposo caso ele fosse imputável (e só não é culposo porque o agente é
inimputável).
Modalidades da culpa [483º, nº1]: o dolo e a negligência
O dolo constitui a forma mais grave de culpa e corresponde à intenção do agente de praticar o facto
a) Dolo direto: verifica-se quando o agente quer a verificação do facto e, portanto, a sua conduta
dirige-se diretamente a produzir esse facto (ex: quando alguém atinge outra pessoa a tiro, querendo matá-
la).
b) Dolo necessário: o agente não dirige a sua atuação diretamente a produzir a verificação do facto,
mas aceita a verificação do facto como uma consequência necessária da sua conduta. Ou seja,
o intuito do agente não é provocar aquele facto, mas esse facto é aceite pelo agente como uma
consequência inevitável da sua conduta. Por exemplo: uma bomba numa embaixada com o intuito de
protestar contra um país irá, necessariamente, causar mortes.
c) Dolo eventual: o agente representa a verificação do facto como uma consequência possível,
mas não direta nem necessária, da sua conduta e atua conformando-se com a sua verificação.
(ex: alguém infringe as regras de trânsito, ao entrar na autoestrada a alta velocidade e em contramão – ainda que tal
não seja feito de forma a diretamente causar um acidente, e sabendo que dessa conduta não decorrerá
necessariamente um acidente, a probabilidade de tal acontecer é algo que é representado e aceite pelo agente quando
adota a conduta.
A qualificação desta conduta como negligência consciente ofenderia o bom-senso, já que dificilmente se
concebe que o agente não pudesse prever a probabilidade de um acidente como consequência de uma
conduta deste género.)
Na negligência ou mera culpa, não se verifica intenção de praticar o facto, mas o comportamento
adotado pelo agente não deixa de ser censurável porque o agente omitiu a diligência a que estava
legalmente obrigado.
b) Inconsciente – o agente, violando o dever de diligência a que estava obrigado, não chega
sequer a representar a verificação do facto. Ou seja, o agente atua em desrespeito por um dever
mas não equaciona sequer a hipótese de se verificar o facto. (ex: alguém infringe as regras de trânsito,
mas não equaciona sequer a possibilidade de poder causar um acidente)
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Direito das Obrigações – 2021/2022
Esta distinção assume uma relevância muito maior no âmbito do direito penal do que no âmbito do
direito civil; no âmbito do direito civil, ambas são formas de culpa e, portanto, são pressupostos da
responsabilidade civil.
Há, no entanto, algumas normas, em que o legislador atribui relevância a esta distinção: por exemplo,
no artigo 494º do CC, o legislador prevê a possibilidade de tal de limitação da indemnização no caso de
mera culpa.
Portanto, em abstrato, é imposto ao agente que haja dentro do padrão dos membros da sociedade,
adotando a diligência do homem médio, medianamente instruído e diligente - o bonus pater famílias.
Este padrão abstrato não deixa de exigir uma análise das circunstâncias do caso concreto e do tipo de
atividade em causa, sendo de considerar que, em determinadas situações e atividades, a diligência
exigida é superior à diligência mediana padrão (por exemplo: a ocorrência de uma situação de emergência exigirá
diligências diferentes consoante o agente seja um enfermeiro ou uma pessoa que não tem tal qualificação, sendo a apreciação
da culpa diferente).
Ou seja, em regra, recai sobre o lesado o ónus de provar a culpa do lesante, o que significa que,
para fazer valer o seu direito a uma indeminização, o lesado terá que demonstrar em tribunal o
caráter culposo/objetivamente censurável da conduta do lesante. A verdade é que esta prova
difícil de se fazer e se o lesado não conseguir fazer a prova da culpa do lesante, na dúvida, o
tribunal vai decidir contra quem tem o ónus de provar e não provou.
Aqui, há uma presunção legal da responsabilidade pelos danos que o incapaz natural cause a terceiros
das pessoas obrigadas, por lei ou negócio jurídico, à vigilância de outrem, em virtude da sua
incapacidade natural
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Direito das Obrigações – 2021/2022
Esta presunção de culpa pode ser ilidida se as pessoas a quem incumbia a vigilância demonstrarem que
cumpriram o dever de vigilância ou demonstrarem que os danos se teriam igualmente produzido, ainda
que o dever de vigilância tivesse sido cumprido.
Na RC, a causa virtual é uma causa que produziria o dano, caso este não tivesse sido
produzido por uma outra causa que é a causa real. A regra, no âmbito da RC é a
irrelevância da causa virtual: nem podemos responsabilizar o autor da causa virtual
nos mesmos termos em que se responsabiliza o autor da causa rela, nem a causa virtual
permite afastar a responsabilidade do autor da causa real.
• Se o vigiado for imputável, perante o lesado, responde o vigiado que é imputável, quer o vigilante
(491º), sendo que, sendo ambos responsáveis perante o lesado, a responsabilidade é solidaria
(497º).
Referente à situação de responsabilidade pelos danos causados pela ruína de edifícios, ou outras obras,
que sejam devidos a um vício de construção, ou a um defeito de conservação, e consagra uma presunção
de culpa que recai sobre o proprietário ou possuidor do edifício.
• Tal como acontece nos casos de responsabilidade por culpa presumida, também aqui esta
presunção pode ser afastada, quer:
2) Mediante a prova de que, mesmo com a diligência devida, se não teriam evitado os danos:
Esta opção corresponde à atribuição de relevância negativa à causa virtual.
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Direito das Obrigações – 2021/2022
Os danos causados por coisas ou animais estão previstos no artigo 493/1 do CC: Prevê uma
responsabilidade por culpa presumida, que recai sobre aquele que tenha em seu poder coisa móvel ou
imóvel com dever de vigiar (= terá que ser uma coisa com uma perigosidade imanente, tal como um
depósito de combustíveis, explosivos, instrumentos cortantes, venenos, etc.), bem como sobre aquele
que tenha assumido o encargo da vigilância de quaisquer animais, e relativamente aos danos que a coisa
ou o animal causem a terceiros.
− Tendo em conta a perigosidade das coisas acima elencadas, que são suscetíveis de causar danos a
terceiros, e tendo em conta a perigosidade imanente a um animal, igualmente suscetível de causar
danos a terceiros, este tipo de coisas, assim como os animais, fazem surgir um dever de vigilância,
que recai sobre o detentor da coisa ou do animal.
− Normalmente, o dever de vigilância recairá sobre o proprietário da coisa ou do animal, mas poderá
recair sobre um terceiro, que esteja onerado com esse dever de vigilância (= um depositário, um
comodatário, etc.).
Os danos causados por atividades perigosas estão previstos no artigo 493º/2 do CC: A perigosidade
da atividade decorrerá da sua natureza, ou da natureza dos meios utilizados.
Esta responsabilidade, embora seja ainda uma situação de responsabilidade subjetiva, afasta-se dos
restantes casos de responsabilidade por culpa presumida, podendo mesmo dizer-se que é quase uma
situação de responsabilidade objetiva de culpa.
• Tal consideração deve-se ao facto de, no caso das restantes presunções de culpa, pelo facto de elas
virem agravar a posição do lesante, o legislador ter procurado, de algum modo, amenizar esta
posição do lesante, atribuindo relevância negativa à causa virtual. Ora, neste caso, além de tal não
se verificar, parece ainda que o legislador exige a demonstração de um grau de diligência superior
àquele que é exigido nas restantes presunções de culpa.
• Assim sendo, não basta a prova da ausência de culpa, que é apreciada de acordo com o critério do
artigo 487/2 do CC, sendo igualmente preciso que a pessoa sobre quem recai a presunção de culpa
demonstre que entregou todas as providências exigidas pelas circunstâncias, com o fim de prevenir
os danos (o artigo 493/2/parte final do CC parece apontar para um critério de apreciação da culpa
mais rigoroso do que aquele que está previsto no artigo 487/2 do CC).
o Esta presunção da culpa não envolve, em simultâneo, uma dispensa do nexo de causalidade,
o que significa que, apesar de se presumir a culpa, se exige esta prova do nexo de
causalidade (= a demonstração de que a atividade perigosa foi, juridicamente, a causa
daquele dano).
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Direito das Obrigações – 2021/2022
1) Erro desculpável: Ocorre sempre que a atuação do agente resulte de uma falsa representação da
realidade, a qual, em face das circunstâncias, não pode ser censurada ao agente.
− O legislador refere-se a uma hipótese de erro desculpável no artigo 338º do CC, relativamente aos pressupostos da ação
direta.
− A existência de erro desculpável afasta a responsabilidade (por excluir ou afastar o requisito da culpa).
Por exemplo: se alguém anda a ser perseguido por assaltantes e, na fuga, se depara com pessoas armadas
que julga pertencerem a esse grupo, matando-os e vindo a descobrir mais tarde serem eles caçadores, a
sua reação consubstancia um erro desculpável e passível de afastar a existência de culpa.
2) Medo invencível: Ocorre sempre que a atuação do agente seja determinada por um medo que o
agente não consegue ultrapassar, pelo que, em face das circunstâncias, o agente não pode ser
censurado.
→ Este medo invencível poderá originar o estado de necessidade desculpante, o qual pode resultar
quer de atuações humanas (tais como a coação psicológica de um terceiro), quer de fatores
objetivos (tal como uma situação de perigo desencadeada por uma situação de um fenómeno
natural).
Neste caso, se o agente sacrificar bens alheios fora dos pressupostos em que lhe é lícito fazê-
lo (nomeadamente por esses bens serem de valor superior ao bem ameaçado pelo perigo que
se pretendia prosseguir), a responsabilidade do agente poderá ser excluída, por inexistência do
requisito da culpa, que seria excluída.
→ Também se prevê o medo como causa de exclusão de culpa a propósito da legítima defesa: o
artigo 337º/2 do CC consagra, a propósito da legítima defesa, a hipótese de, havendo excesso
de legítima defesa – que não permitiria excluir a ilicitude, a responsabilidade do agente pode ser
afastada, não por exclusão do requisito da ilicitude, mas por exclusão do requisito da culpa
(neste caso, pelo facto de a mesma ter ocorrido em virtude de um medo invencível).
3) Desculpabilidade: É uma forma genérica de exclusão da culpa, que se verifica sempre que, não
existindo nem erro, nem medo invencível, em face das circunstâncias, não seria possível exigir do agente
um comportamento diferente.
Pode acontecer que, por algum motivo especial, uma atuação que, em princípio, seria censurável, não
o possa ser, no caso concreto – por exemplo, uma atuação de um médico que, numa intervenção, causa danos a um
doente, sendo que essa intervenção foi feita num cenário de catástrofe que o obrigara a trabalhar por 18h seguidas e em que,
em face das circunstâncias do caso concreto, não era possível exigir do médico um outro comportamento.
Neste caso, a culpa poderá ser afastada com este fundamento – não há erro, nem há medo, mas, em
face das circunstâncias do caso concreto, não era possível exigir do agente um comportamento diferente
(= apesar de poder haver aqui um erro médico, as circunstâncias do caso em concreto tornam esse erro
desculpável, o que é uma causa de exclusão da culpa e, nesse sentido, permite afastar a
responsabilidade civil, excluindo a indemnização).
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Direito das Obrigações – 2021/2022
Assim, havendo culpa do lesado, e concorrendo a sua culpa com a culpa do lesante, o artigo 570º/1 do
CC determina que cabe ao tribunal a determinar, com base na gravidade das culpas de ambas as partes,
e nas consequências que delas resultaram, se a indemnização deve ser totalmente concedida, reduzida
ou excluída.
No entanto, nos casos em que a culpa do lesante não tiver sido provada (sendo apenas uma culpa
presumida) a culpa do lesado, nos termos do artigo 570º/2 do CC, na falta de disposição em contrário,
irá excluir o dever de indemnizar, devendo este preceito ser aplicado também, por maioria de razão,
aos casos de responsabilidade pelo risco.
NOTA: onde diz “salvo presunção de culpa” no artigo 487º1 remeter para artigos 491º, 492º e 493º)
(4) DANO
Tendo em conta que a função primordial da responsabilidade civil é uma função de ressarcimento dos
danos, o dano é mesmo a condição essencial da responsabilidade. Isto é, por muito censurável que seja
o comportamento do agente, se não existirem danos, não há responsabilidade civil (sem prejuízo de
poder haver responsabilidade penal). O dano pode ser entendido em dois sentidos:
→ Dano em sentido real: Corresponde a uma avaliação, em abstrato, das utilidades que eram
objeto de tutela jurídica, o que implicaria a sua indemnização através da reparação do objeto
lesado – a chamada restauração natural – ou através da entrega de um objeto equivalente ou da
entrega de um objeto equivalente – a chamada indemnização específica. (ex: se alguém em bate num
carro, o dano em sentido real corresponde à perda/deterioração do automóvel)
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Direito das Obrigações – 2021/2022
decorre deste artigo que o nosso legislador deu primazia à reconstituição natural do dano, ou à sua
indemnização em espécie. Portanto, primordialmente, dá-se primazia ao entendimento do dano em
sentido real.
• Não sendo possível a reconstituição natural do bem ou de outro equivalente, de modo a compensar
o dano em sentido real, ou quando tal não seja suficiente ou acarrete um sacrifício desproporcionado
ao lesante, proceder-se-á à indemnização em dinheiro, passível de compensar ao dano entendido
em sentido patrimonial: assim, nos termos do artigo 566º, que parece atinente ao dano entendido
em sentido patrimonial, estipula-se a indemnização em dinheiro – esta tem um caráter subsidiário
relativamente à reconstituição natural do dano e/ou à sua indemnização em espécie.
→ Lucro cessante: Corresponde à frustração de utilidades que o lesado ainda não tinha adquirido, ou
seja, que viria a adquirir, mas que, no momento da lesão, ainda não existiam no património do
lesado.
O artigo 564º/1 determina que o dever de indemnizar compreende não só o prejuízo causado (= danos
emergentes), mas também os benefícios que o lesado deixou de obter, em virtude da lesão (= lucros
cessantes). No entanto, há casos pontuais, expressamente previstos na lei, em que o legislador
circunscreve a obrigação de indemnizar aos danos emergentes – previstas nos artigos 899º e 909º do
CC.
Danos presentes vs. danos futuros
→ Danos presentes: São assim considerados se já se encontram verificados no momento da fixação
da indemnização.
→ Danos futuros: São assim considerados quando ainda não se verificaram, no momento em que for
fixada a indemnização.
Para tal é, no entanto, necessário que os danos sejam previsíveis – a fixação da indemnização,
naquele momento, depende da determinabilidade do dano futuro (= se o dano futuro não for, no
momento em que é fixada a indemnização, determinável, em objeto ou em quantidade, a
indemnização desse dano futuro terá que ser remetida para uma fase ulterior, que será a fase de
execução da sentença).
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Direito das Obrigações – 2021/2022
Aqui, incluem-se a privação do uso de coisas ou prestações (por exemplo, o dano que resulta
de alguém ser privado do uso do seu automóvel, ou o dano que resulta de alguém ser
impedido de realizar uma viagem que já tinham contratado), que são situações em que há
suscetibilidade de avaliação pecuniária.
→ Danos não patrimoniais/danos morais: São aqueles que correspondem à frustração de utilidades
não suscetíveis de avaliação pecuniária (v.g. desgosto, sofrimento, em consequência da perda de
um familiar).
A distinção entre ambos relaciona-se, não com a natureza do bem que foi afetado, mas com o tipo de
utilidades que esse bem proporcionava e que, com a lesão, foram prejudicados.
Atribuição de uma indemnização por danos não patrimoniais?
Durante muito tempo, discutiu-se a suscetibilidade de atribuição de uma indemnização por danos não
patrimoniais, e tal discutia-se na medida em que:
Pelo facto de os danos não patrimoniais não serem suscetíveis de avaliação pecuniária, eles não
eram suscetíveis de reparação;
Entendia-se até que a atribuição de uma indemnização no âmbito deste tipo de danos fomentaria o
enriquecimento da vítima, sem que se tivesse verificado qualquer diminuição no seu património
Falava-se ainda da comercialização dos sentimentos, caso essa indemnização fosse concedida, o
que daria uma visão materialista da sociedade.
Atualmente, este ponto já está completamente ultrapassado, considerando-se que os danos
patrimoniais que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do Direito, serão indemnizados. No entanto,
pelo facto de não serem suscetíveis de avaliação pecuniária, será mais correto falar-se em
compensação, ao invés de indemnização. Apesar de não eliminar o dano sofrido, a compensação
permite conceder ao lesado utilidades que lhe conferem alguma compensação pelo dano sofrido,
representando uma sanção para o lesante por ter privado o lesado das utilidades proporcionadas pelos
bens de que foi privado.
Esta questão é resolvida pelo artigo 496º/1 do CC, que consagra, e de forma expressa, a
ressarcibilidade de danos não patrimoniais.
A indemnização relativa a danos não patrimoniais é fixada equitativamente, tendo em conta 1) não só a
extensão dos danos causados, mas também 2) o grau de culpabilidade do agente, 3) a situação
económica do agente e do lesado, e 4) as demais circunstâncias do caso (= a indemnização por danos
não tem apenas uma função ressarcitória, mas também uma função punitiva).
Esta distinção não está relacionada com a natureza do bem afetado, mas com o tipo de utilidades que
esse bem proporcionava, e que se vieram a frustrar, em consequência da lesão – por exemplo, se
alguém causar uma lesão física a outrem, a pessoa que sofre a lesão, sofre quer danos não
patrimoniais (correspondentes à dor e sofrimento físico que suportou), quer danos patrimoniais (que
podem resultar, neste caso, no valor correspondente à frustração da sua capacidade de trabalho).
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Direito das Obrigações – 2021/2022
Quem tem direito a indemnização, em caso de lesão que culmine na morte de uma pessoa?
Uma lesão da qual resulte a morte da vítima pode dar origem a vários danos, desde logo:
(2) Danos não patrimoniais sofridos pelos familiares da vítima: Em consequência da sua morte
(3) Nos casos em que a morte não é instantânea, importam ainda os danos não patrimoniais
sofridos, quer pela vítima, quer pelos seus familiares, até à ocorrência da morte.
É certo que, por via do artigo 496º1, todos estes danos são danos não patrimoniais indemnizáveis; no
entanto, a principal questão coloca-se relativamente ao dano que consiste na perda da vida da própria
vítima, o chamado dano morte em sentido restrito, relativamente ao qual:
✓ Uma posição minoritária (Antunes Varela e Oliveira Ascensão) contestava a possibilidade de ser
atribuída uma indemnização por este dano, com base no argumento de que, com a morte, cessa a
personalidade jurídica, nos termos do artigo 68º/1 do CC.
Ora, cessando a personalidade jurídica, a morte não permitiria à vítima adquirir qualquer direito
e, não o podendo adquirir (= porque a sua personalidade jurídica cessou com a morte),
também não haveria qualquer direito a essa indemnização que pudesse ser transmitido aos
seus sucessores.
Por outro lado, argumentavam que a admissão de uma indemnização em virtude da perda da
vida da própria vítima, faria com que a mesma tivesse uma função exclusivamente primitiva,
afastando-se da sua função primordial, que é ressarcitória.
Assim sendo, consideravam que a indemnização deveria cingir-se apenas aos danos sofridos
pelos familiares, em decorrência da morte da vítima, e não à própria perda da vida da vítima,
que não seria indemnizável.
✓ Uma posição maioritária (defendida, entre outros, por Galvão Teles e Menezes Cordeiro),
contestavam os anteriores argumentos, na medida em que consideravam que o dano morte era,
em si mesmo, indemnizável.
A verdade é que a jurisprudência tem aderido a esta tese da indemnizabilidade do dano morte, posição
à qual também Menezes Leitão adere: considera este que, de facto, a perda da vida é o dano máximo
que o seu titular pode suportar, pelo que representaria um grande paradoxo valorativo permitir que os
herdeiros pudessem pedir uma indemnização pelos danos sofridos com a lesão de outros bens
pessoais – como a saúde, liberdade ou honra – e não o pudessem fazer pelo dano morte.
Como tal, a perda da vida reconduz-se a um dano autónomo, transmitindo-se o direito a indemnização
para os herdeiros da vítima com base no artigo 2024º, de acordo com as classes sucessíveis do 2133º.
Assim sendo, quando o artigo 496º, n.ºs 2, 3 se referem à indemnização “por morte da vida” não se
referem ao dano vida em sentido estrito, mas antes aos danos não patrimoniais sofridos por outras
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Direito das Obrigações – 2021/2022
pessoas em consequência da morte da vítima – é que este dano é suscetível de provocar dor e
sofrimento numa multiplicidade de pessoas. Por isso, o legislador, nestes artigos, circunscreve, no
fundo, as pessoas que podem vir invocar o direito de indemnização pelos danos não patrimoniais que
sofreram, em consequência da sua morte.
Os direitos destas pessoas estendem-se, ainda, nos termos do artigo 496º4, aos danos não
patrimoniais que estas pessoas possam ter sofrido até à ocorrência da morte da vítima, nos
casos em que a mesma não ter sido instantânea, estendendo-se o direito à indemnização a
estes danos.
Ao estabelecer a obrigação de indemnizar, o artigo 483º limita essa indemnização aos danos que
resultem da violação – ou seja, exige-se que os danos sofridos se afigurem como resultado da
conduta, existindo um nexo de causalidade entre o facto e o dano.
Contudo, e uma vez que um facto pode ser causador de um dano em termos muito pouco claros e
remotos, é preciso perceber dentro de que limites se pode admitir esse nexo, isto é, qual é o critério
que nos permite selecionar, entre várias causas, aquela que, em sentido jurídico, deve ser considerada
a causa do dano?
No âmbito da doutrina, já foram propostos vários critérios para se deduzir qual deve ser considerada a
causa do dano:
a) teoria da equivalência das condições / teoria da conditio sine qua non: considera causa de um dano
toda e qualquer condição que tenha concorrido para a produção desse dano, em termos tais que a não
ocorrência dessa condição implicaria que o dano deixasse de se verificar. Ou seja, o que caracteriza o
conceito de causa de um dano é o facto de se tratar de uma condição imprescindível para a ocorrência
do dano, em termos tais que, se não fosse essa condição, o dano nunca se teria verificado.
Esta teoria não faz qualquer apreciação da relevância jurídica dessas condições – quer isto dizer que
toda e qualquer condição sem a qual o dano não se teria verificado deve ser considerada causa do
dano, e todas as condições imprescindíveis para a ocorrência do dano são consideradas equivalentes,
estão no mesmo plano, e podem ser consideradas causas em sentido jurídico.
Esta teoria, quando aplicada ao Direito, acaba por conduzir a resultados absurdos, precisamente
por não fazer a apreciação da relevância das condições que levaram à produção do dano – ao não
fazer qualquer seleção, acaba igualmente por não fornecer um critério exato de causalidade.
Exemplo: Imagine-se que A contrata um motorista para o transportar à situação de comboio. O motorista
atrasa-se, e esses 10 minutos foram o suficiente para que A perdesse o comboio, tivesse que apanhar o
próximo, o qual veio a descarrilar, e matou A – para esta teoria, o atraso do motorista pode ser considerado
como causa entre o facto e o dano (= a morte de A).
b) Teoria da última condição: considera como causa do dano apenas a última condição que se
verificou antes do dano ocorrer (= aquela que precede diretamente o dano).
Esta teoria deve, no entanto, ser rejeitada, na medida em que o dano pode não ser diretamente
produzido – a ação não tem que produzir diretamente o dano; este pode ser produzido de uma forma
indireta.Por outro lado, também não é justo colocar toda a relevância do processo causal na última
condição, apenas por se tratar da última condição.
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Direito das Obrigações – 2021/2022
Para se aferir a idoneidade, em termos abstratos, do facto para a produção do dano, será
necessário um juízo de prognose póstuma → este juízo consiste numa averiguação que deve ser
feita (1) a posteriori, postumamente à prática do facto e (2) procedendo à avaliação da
probabilidade de aquele facto provocar aquele dano, por via de um juízo de prognose em que se
tente apurar a previsibilidade do dano, quando praticado o facto que o originou.
Para o efeito de averiguar essa adequação, o julgador deverá considerar quer as circunstâncias
normais (= que levam qualquer observador externo a efetuar um juízo de adequação), mas
também as circunstâncias anormais, desde que essas sejam conhecidas ou cognoscíveis pelo
agente que praticou o dano.
Será mediante este juízo de prognose póstuma que o julgador estará em condições de concluir
pelo preenchimento, ou não, deste 6º pressuposto da responsabilidade civil extracontratual (o
nexo de causalidade adequada que deve existir entre o facto e a produção do dano).
Assim, pode dizer-se que a redação do artigo 563º, pese embora parta da teoria da equivalência
das condições, na medida em que efetua uma seleção, adota esta teoria: de acordo com o artigo
563º do CC, não basta que o facto, em concreto, tenha sido causa do dano (= sendo conditio
sine qua non do dano), mas é preciso que, em abstrato, o facto seja adequado a produzir o
dano (no exemplo acima dado, ainda que, em concreto, o atraso do motorista tenha resultado na morte de A, em
abstrato, esse facto não seria considerado como produtor de tal dano).
• Conceção do risco criado: Que se baseia na ideia de que cada pessoa que cria uma situação de
perigo deve responder pelos riscos que resultam dessa criação.
• Conceção do risco proveito: Que se baseia na ideia de que a pessoa deve responder pelo risco
das atividades de que tira proveito.
• Conceção do risco autoridade: Que se baseia na ideia de que a pessoa deve responder pelos
danos resultantes das atividades que tem sobre o seu controlo.
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O nosso legislador adotou uma conceção restritiva de responsabilidade pelo risco, ao consagrar
taxativamente a sua admissibilidade apenas nos casos previstos na lei, nos termos do 483º2 (no CC e
em diplomas legais avulsos, não havendo responsabilidade pelo risco fora dos casos previstos na lei,
nem é possível aplicar analogicamente estas normas a outras situações que não estejam previstas na lei
como tal).
O que é necessário é que a função praticada pelo comissário possa ser imputada ao comitente, o que
ocorre quando os atos do comissário são praticados no interesse e por conta do comitente (= isto é,
quando é o comitente que suporta as despesas e os ganhos da atividade do comissário), o que acontece
quer quando, por exemplo:
˙ entre comitente e comissário existe um contrato de trabalho (1152º), ou
˙ quando entre ambos existe um contrato de prestações de serviços (um contrato de mandato – 1157º - por ex.), ou
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˙ noutras situações em que os resultados da atividade praticada pelo comissário se repercutam diretamente na esfera
do comitente
Por sua vez, já não haverá comissão nas situações em que, tendo sido encomendado um serviço a
outrem, esse serviço corresponde a uma função que é exercida autonomamente pelo devedor, o que
acontece em determinados contratos de prestação de serviços, como é o caso do contrato de empreitada
(1207º) (o empreiteiro é devedor relativamente ao dono da obra, mas não um comissário seu), contrato de
depósito (1185º), contrato de transporte, etc.
(2) Prática de facto danoso pelo comissário no exercício da função que lhe foi confiada pelo
comitente:
Se a imputação ao comitente se justifica por ele ter confiado ao comissário uma função que lhe cabia
desempenhar, a sua responsabilidade não deve ir além da função que foi por si confiada – portanto, a
zona de riscos a suportar pelo comitente é delimitada pela função de que o comitente encarrega o
comissário (= como tal, todos aqueles factos que extravasem o âmbito dessa função já não deverão ser
imputados ao comitente).
Este requisito (“no exercício da função”) tem sido interpretado de uma forma restritiva por alguma
doutrina, no sentido de excluir os danos causados por ocasião da função – esta interpretação
restritiva, ainda assim, não é consensual e, segundo a interpretação maioritária, ele deve antes ser
interpretado num sentido amplo, ou seja, no sentido de que, mesmo aqueles danos que são
causados por ocasião da função devem considerar-se como causados no exercício da função.
Posto isto, podemos concluir que, de acordo com a nossa doutrina maioritária, para que o dano se
possa considerar causado no exercício da função, basta que exista um nexo entre a função e o dano,
tendo ele sido originado no exercício da função – basta que seja no exercício dessa função que os
danos sejam originados.
De facto, se o comitente tira proveito da função exercida pelo comissário, é justo que responda pelos
danos que este cause no exercício da mesma – e, aqui, é indiferente que os danos causados decorram
de atos intencionais ou que não se coadunem com as instruções do comitente [500º2].
Por exemplo, se um segurança de uma discoteca, intencionalmente, decidir agredir um cliente, ainda que esse
ato, praticado no exercício da função, tenha sido intencional, por esse ato, responde objetivamente o
comitente. Ou se, por outro lado, o operário provoca danos por conduzir de forma contrária às indicações que
recebera.
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• RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DEMAIS ENTIDADES PÚBLICAS POR ATOS DE GESTÃO PRIVADA – ARTIGO 501º
O artigo 501º do CC remete para o disposto no artigo 500º, naquelas situações em que o comitente é o
Estado, ou outra pessoa coletiva pública.
Esta responsabilidade do Estado ou outra pessoa coletiva pública é limitada aos atos de gestão privada,
ou seja, aqueles atos em que o Estado ou as pessoas coletivas públicas atuam desprovidas do seu poder
de autoridade (= na veste de particulares).
Se, por acaso, a atuação do Estado ou das entidades públicas corresponder ao exercício de
poderes de autoridade, já não se aplicará o artigo 501º do CC, mas as normas de Direito Público
(nomeadamente, de Direito constitucional e de Direito Administrativo).
Os pressupostos para que exista esta responsabilidade são os mesmos do artigo 500/3 do CC.
(2) RELATIVAMENTE À RESPONSABILIDADE PELO RISCO PELA UTILIZAÇÃO DE COISAS PERIGOSAS
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o Casos em que há culpa do lesado: Por exemplo, quando há um aviso a indicar que o
cão é perigoso e a pessoa decide ir fazer-lhe festas.
o Aqui, aplica-se o artigo 570º do CC, cabendo ao tribunal decidir se
mantém, se reduz ou exclui a indemnização.
− Ter a direção efetiva do veículo significa ter o poder de facto e exercer o controlo sobre
o veículo, independentemente da titularidade ou não de algum direito sobre o mesmo (v.g.
alguém que furta um veículo não é titular de nenhum direito sobre ele, mas tem um poder
de facto e exerce um controlo sobre o veículo).
− Sempre que falte o poder de facto, exclui-se a direção efetiva: O proprietário do veículo a
quem o automóvel foi furtado perde o poder de facto sobre o veículo, deixando assim de
ter a direção efetiva sobre ele.
b) Os danos provenientes dos riscos inerentes às próprias vias de circulação: Um veículo que
derrapa devido a óleo na estrada, ou neve no pavimento.
c) Os danos provenientes dos riscos inerentes à própria pessoa do condutor: Uma pessoa que,
ao conduzir, sofre um ataque cardíaco e, com isso, prova um acidente.
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− Quando o acidente for imputado ao próprio lesado: Tal só exclui esta responsabilidade
objetiva quando a culpa do lesado tenha sido a única causa do dano.
• Quer isto dizer que, nos casos em que o acidente seja imputável ao lesado, mas
o mesmo não tenha culpa, a responsabilidade objetiva já não será excluída.
− Da mesma forma, quando o acidente seja imputável a terceiro: Para que haja exclusão
desta responsabilidade objetiva, é preciso que a culpa do terceiro seja a única causa do
dano, podendo inclusive o terceiro responder a título de culpa, ou a outro título.
• Por exemplo, o proprietário que deixa escapar o animal, que atravessa a rua
inesperadamente e provoca um acidente, o proprietário do animal responde
objetivamente nos termos do artigo 502º do CC, e se o acidente se deve
exclusivamente a este terceiro, mesmo que este não tenha culpa, haverá uma
exclusão da responsabilidade objetiva.
2) Quando o acidente resultar de força maior estranha ao funcionamento do veículo: Força maior
estranha ao funcionamento do veículo será “qualquer acontecimento imprevisível, cujas consequências
não possam ser evitadas, desde que esse acontecimento seja exterior ao veículo”.
− Se o veículo for projetado por um ciclone, ou arrastado por uma chuva torrencial, haverá
aqui uma exclusão da responsabilidade objetiva.
O artigo 504º/4 do CC parece fazer concluir, através de uma interpretação a contrario, que será possível
excluir a responsabilidade relativamente aos danos causados nas coisas transportadas.
Este tipo de responsabilidade está sujeito a limites máximos, previstos no artigo 508º do CC.
Esta circunstância demonstra a necessidade que pode haver por parte do lesado em provar a culpa
do lesante: se o lesado conseguir fazer a prova da culpa, a responsabilidade do lesante será
subjetiva (artigo 483º do CC), o que significa que deixará de estar sujeita a estes limites máximos.
A culpa do condutor do veículo tem, de acordo com as regras gerais do ónus da prova, que ser provada
pelo lesado: No entanto, o nosso legislador, no âmbito da condução de veículos, consagra a situação
de culpa presumida, o que significa que recai sobre o condutor comissário uma presunção de culpa,
prevista no artigo 503/1/1ª parte do CC.
o No entanto, se conduzia o veículo fora do exercício das suas funções de comissários – aí sim,
passa a responder objetivamente, nos termos do artigo 503/1 do CC.
− Quer isto dizer que, quando o veículo for conduzido por um condutor comissário, o lesado
está dispensado de fazer prova da sua culpa; já nos casos em que o comissário o conduz
fora das suas funções, ele está a utilizar o veículo no seu próprio interesse, respondendo
assim nos termos do artigo 503/1 do CC.
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− Esta presunção de culpa permite que o comitente, caso o comissário não consiga ilidir
essa presunção, possa exercer contra ele o direito de regresso pela indemnização que
tiver pago ao lesado, com fundamento na responsabilidade pelo risco.
O artigo 506º do CC refere-se à colisão de veículos: O artigo 506/1 do CC refere que, se de uma colisão
entre dois veículos resultarem danos em relação aos dois, ou apenas a um deles, não havendo culpa de
nenhum dos condutores, a responsabilidade é repartida na proporção do risco (havendo colisão entre um
veículo ligeiro e um veículo pesado, não havendo culpa de ambos, o risco de um veículo pesado será
superior ao risco de um veículo ligeiro).
o Tendo os danos sido causados por apenas um dos veículos, sem culpa de ambos os condutores,
só a pessoa por eles responsável será obrigada a indemnizar.
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o Relativamente a este artigo, questionou-se se o facto de colidirem dois veículos, sendo um deles
conduzido por um condutor comissário, e outro pelo proprietário do veículo (que o utiliza no seu
próprio interesse), se não se provasse a culpa de nenhum dos condutores, se deveria:
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