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Direito das Obrigações 


​Duarte Canau  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.Direito das Obrigações: Parte Geral 
1.1 Definição de Obrigação 
 
O  artigo  397º  do  CC  apresenta  uma  definição do que é uma obrigação, sendo que 
estaríamos  a  observar  uma  linguagem  semelhante  se  observarmos  uma  definição 
dada por: 
 
Menezes  Leitão  ​-  “não  se  pode  considerar  um  direito  incidente  sobre  os  bens  do 
devedor,  sendo  antes  um  vínculo  pessoal  entre  2  sujeitos  através  do  qual  1  deles 
pode exigir que o outro se comporte de determinada maneira em seu benefício”. 
 
1.2. Características das Obrigações: 
 
Patrimonialidade​-  susceptibilidade  de  a  obrigação  puder  ser  avaliável  em 
dinheiro.  No  entanto  fica  ressalvado  pelo  artigo  398º.2  a  possibilidade  de 
constituir obrigações sem caráter patrimonial. 
 
Antunes  Varela​-  pretende  excluir  do  âmbito  da  obrigação 2 tipos de prestação: os 
simples  caprichos  e  manias;  situações  tuteladas  por  outras  ordens  normativas, 
como a religião; 
Menezes  Cordeiro​-  não  há  obstáculos  a  que  se  constituam  obrigações  relativas  a 
meros  caprichos  ou  manias,  se  corresponderem  a  situações  oriundas  de  outros 
complexos  normativos  é  que  não  será  admissível  a constituição de obrigações com 
esse objeto; 
 
Mediação  devida​-  o  credor  não pode exercer direta e imediatamente o seu direito, 
necessitando  da  colaboração  do  devedor  para  obter  a  satisfação  do  seu  interesse  ( 
só  através  da  conduta  do  devedor  o  credor  consegue  obter  a  satisfação  do  seu 
interesse). 
 
Relatividade:  esta  característica  é  susceptível  de  ser  entendida  em  dois  sentidos 
diferentes: 
- prisma  estrutural​:  o  direito  de  crédito  estrutura-se  com  base  numa  relação 
entre credor e devedor; 
- prisma de eficácia​: o direito de crédito é apenas eficaz contra o devedor 

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Autonomia:  não  poderiam  ser  considerados  como  obrigações  aquelas  situações 
que  embora  estruturalmente  obrigacionais  viessem  a  ser  reguladas  por  outros 
ramos do direito( como a obrigação de pagar impostos); 
 
1.3 Distinção entre Direitos de Crédito e Reais  
 
O  critério  utilizado  para  distinguir  direitos  reais  e  direitos  de  crédito  é  o  ​critério 
do objeto​:  
- Direitos Reais:​ são direitos sobre as coisas; 
- Direitos  de  Crédito:  direitos  a  prestações  (  ou  seja  a  uma  conduta  do 
devedor); 
Outra distinção pronta é a de que: 
- Direitos  de  Crédito:  caracterizam-se  por  necessitar  da  mediação  ou 
colaboração  do  devedor  para  ser  exercido.  O  credor  necessita  assim  da 
colaboração do devedor para satisfazer o seu interesse; 
- Direitos  Reais:  o  credor  não  necessita  da  colaboração  de  ninguém  para 
exercer  o  seu  direito,  já  que  o  seu  direito  incide  direta  e  imediatamente 
sobre uma coisa;  
1.4. Objeto da Obrigação: A Prestação 
 
Prestação-  ​resulta  do  artigo  397º  que  a  prestação  é  a  conduta  que  o  devedor  se 
obriga  a  desenvolver  em  benefício  do  credor.  A  realização  da  prestação  pelo 
devedor  considera-se  como  cumprimento,  importando  a  extinção  da  obrigação 
(762º.1). A prestação pode consistir numa ação como numa omissão (398º.1). 
 
Requisitos da Prestação: 
 
  -Possibilidade Física e Legal: para que a impossibilidade da prestação produza 
a  nulidade  do  negócio jurídico, é necessário que ela constitua uma impossibilidade 
originária (401º.1). 
 
Se  a  prestação  se  vier  a  tornar  supervenientemente  impossível após a constituição 
do negócio, este não é nulo. A obrigação é que se vai extinguir (790º). 
 

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Pelo  artigo  401º.2,  podemos  rever  casos  em  que  a  prestação  é  originariamente 
impossível  mas  a  validade  do  negócio  não  é  afetada  (  casos  em  que  o  negócio  é 
celebrado  para  a  hipótese  de  a  prestação  se  tornar  possível,  ou  em  que  o  negócio 
está  sujeito  a  condição  suspensiva).  É  assim  admissível  a  celebração  de  negócios 
para a eventualidade de a prestação se tornar possível. 
 
As  prestações  são  em  princípio  fungíveis  pelo  que  o  seu  cumprimento  pode  ser 
efetuado  por  qualquer  pessoa  (767º.1).  Se  só  o  devedor  estiver  impossibilitado  de 
prestar deve fazer-se substituir no cumprimento da obrigação.  
 
- Licitude:  ​o  objeto  negocial  não  pode  ser  contrário  a  qualquer  disposição 
que  tenha  caráter  injuntivo  (  280º.1  e  294º)  .  A  ilicitude  pode  ser  de 
resultado  ou  de  meios:  negócio  vise  objetivamente  um  resultado  ilícito  ou 
proponha  a  alcançar  um  resultado  lícito,  através  de  meios  cuja  utilização  é 
proibida por lei; 
- Determinabilidade:  a  prestação  tem  que  ser  determinável  (280º),  no 
entanto  indeterminável  não  se deve confundir com indeterminado, pois em 
caso de indeterminação aplicar-se-á o artigo 400º. 
 
- Não  contrariedade  à  ordem  pública  e  aos  bons  costumes  (280º.2):  pela 
posição  do  Menezes  Cordeiro  dever-se-ão abranger as preferências dos bons 
costumes, as regras de conduta e as de exercício de certas profissões; 
 
1.5. Modalidades de Prestações: 
-Fungível  /  Não  Fungível:  fungível  é  aquela  que  pode  ser  realizada  por  outrem 
que  não  o  devedor  (767º.1),  é  infungível  quando  só  o  devedor  pode  realizar  a 
prestação,  não  sendo  permitida  a  sua  realização  por  terceiro,  sendo  que  a 
substituição  do  devedor  prejudicará  o credor ou só possa mesmo ser realizada pelo 
devedor. 
-  Instantâneas/  Duradouras:  as  instantâneas  são  aquelas  cuja  execução  ocorre 
num  único  momento,  já  as  duradouras  são  aquelas  cuja  execução  se  prolonga  no 
tempo,  em  virtude  de  terem  por  conteúdo  ou um comportamento prolongado no 
tempo ou uma repetição sucessiva de prestações isoladas por um perído do tempo. 
 

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A  realização  global  das  duradouras  dependem  sempre  do  decurso  de  um  período 
temporal,  durante  o  qual  a  prestação  deve  ser  continuada  ou  repetida  ,  podendo 
dividir-se  entre  prestações:  continuadas  (  não  sofrem  qualquer  interrupção, como 
no  fornecimento  de  eletricidade)  e  periódicas  (  sucessivamente  repetidas  em 
períodos de tempo, como o pagamento de juros); 
 
-Resultado  /  Meios:  ​nas  prestações  de  resultado,  o  devedor  vincular-se-ia 
efetivamente  a  obter  um  resultado  determinado,  respondendo  por 
incumprimento  se  esse  resultado  não  fosse  obtido.  Nas  prestações  de  meios,  o 
devedor  não  estaria  obrigado  à  obtenção  do  resultado  mas  apenas  a  atuar  com  a 
diligência necessária para que esse resultado seja obtido.  
 
-Divisível/  Indivisível:  ​há  divisibilidade  sempre  que  a  prestação  possa  ser 
fraccionada, sem prejuízo para o credor. 
 
-  Determinadas/  Indeterminadas:  ​resulta  dos  artigos  280º/400º,  que a prestação 
enquanto  objeto  da  obrigação,  não  necessita  de  se  encontrar  determinada  no 
momento da conclusão do negócio, bastando que seja determinável.   
 
As  primeiras  são  aquelas  em  que  a  prestação  se  encontra  completamente 
determinada  no  momento  da  constituição  da  obrigação.  As  segundas  são  aquelas 
em que a determinação da prestação ainda não se encontra realizada.  
 
1.6. Modalidades das Obrigações: 
Obrigações Naturais  
Prevista  no  artigo  402º.  O  que  as  caracteriza  é  a  não  exigibilidade  judicial  da 
prestação,  resumindo-se  a  sua  tutela  jurídica  à  possibilidade  de o credor conservar 
a prestação espontaneamente realizada. 
Não  podem  ser  convencionadas  livremente  pelas  partes  no  exercício  da  sua 
autonomia  privada.  Só  poderão  admitir-se  obrigações  com  base  em  deveres  de 
ordem moral ou social que correspondam a um dever de justiça  
 
ex:  Uma  dívida  prescrita.  Alguém  que  recebe  uma  quantia  de  dinheiro  de  outra 
pessoa,  devia  ter  devolvido  o  dinheiro  mas  não  devolve.  O  devedor  devia  ter 

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observado  o  dever  de  justiça  subjacente  e  devolver  o  que  lhe  foi  prontamente 
emprestado; 
 
As  obrigações  naturais  não  se  podem  extinguir  por  prescrição,  uma  vez  que  as 
consequências  desta  correspondem  precisamente  em  transformar  uma  obrigação 
civil em natural;  
Existe uma discussão doutrinária sobre a natureza jurídica das obrigações naturais: 
 
- Relações de Facto: 
Guilherme  Moreira​:  são  como  a  posse  em  matéria  de  direitos  reais,  relações  de 
facto  que  derivam  de  certos  efeitos  jurídicos,  e  designadamente  o  de  que  sendo 
voluntariamente  cumpridas  não  se  pode  pedir  a  restituição  do  que  haja  pago, 
produzindo efeitos correspondentes aos que resultam das obrigações;  
  
Jaime  Gouveia​:  A  obrigação  natural  será  pois  o  próprio  dever  moral,  cuja  prática 
realizada pelo devedor, a lei em certos casos, atribui efeitos jurídicos; 
 
- Dever Oriundo de Outras Ordens Normativas: 
Antunes  Varela:  as  obrigações  naturais  são  deveres  oriundos  de  outras  ordens 
normativas  ( ética imperativa), apenas relevantes para o direito se forem deveres de 
justiça  
 
- Obrigações Jurídicas ( cuja lei não permite executar):  
Menezes  Cordeiro  :  ​pelo  artigo  404º a disciplina geral das obrigações civis aplica-se 
às naturais: logo estas são jurídicas, ainda que de vínculo mais frágil;  
- Dever de Justiça 
Menezes  Leitão:    A  obrigação  natural  não  constitui  uma  verdadeira  obrigação 
jurídica,  na  medida  em  que  nela  não  existe  um  vínculo  jurídico  por  virtude  do 
qual  uma  pessoa  fique  adstrita  para  com  outra  à  realização  da  prestação  (397º). A 
existência  de  um  dever dever moral e social corresponde a um dever de justiça, não 
basta  para  se  considerar  subsistente  na  obrigação  natural  um  vínculo  jurídico,  ao 
negar-lhe a faculdade de exigir judicialmente ocumprimento; 
 
Sem  a  faculdade  de  exigir  o  cumprimento,  o  direito  de  crédito  não  tem  conteúdo 
podendo nunca considerar-se como um valor no ativo patrimonial do credor;  

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Obrigações Genéricas:  
Aquelas  em  que  o  objeto  da  prestação  se  encontra  determinado  apenas  quanto ao 
género  ou  seja  a  prestação  encontra-se  determinada  apenas  por  referência  a  uma 
certa quantidade, mas não está ainda concretamente determinada1 ( artigo 539º). 
 
exemplo:​ Obrigação de entrega de 20 garrafas de vinho  
 
A  obrigação  genérica  implica  naturalmente que tenha que ocorrer um processo de 
individualização  de  espécies  do  mesmo  dentro  do  género.  É  a  chamada  escolha  ( 
nos  termos  do  artigo  400º),  que  pode  caber  a  ambas  as partes. A regra é a de que a 
escolha cabe ao devedor ( nos termos do artigo 539º).2 
 
Mas terá o devedor absolutamente livre de escolha ? 
 
Poderá por exemplo, escolher o vinho de pior qualidade aquando da entrega?  
-O  ​professor  Menezes  Cordeiro  responde  a  esta  questão  dizendo  que  o  devedor 
deverá  ser  obrigado  a  entregar  uma  coisa  de  qualidade média, invocando o regime 
da integração dos negócios jurídicos , segundo a boa fé (239º), como referência.   
 
-O  ​professor  Menezes  Leitão  acrescenta  que,  a  partir  do  artigo  400º  ,  resulta  de 
que  a  prestação  deve  ser  realizada  segundo  juízos  de  equidade,  implica  que  esta 
deve ser adequada à satisfação do interesse do credor. 
 
Qual  é  o momento em que tem lugar a transferência de propriedade, sobre as coisas 
que  vão  servir  para  o  cumprimento  da  obrigação  (  importância  para  efeitos  de 
risco)?  
 
Na  obrigação  genérica  a  transferência  da  propriedade  não  pode  ocorrer  no 
momento da celebração do contrato (408º.1). 
A  transmissão  da  propriedade  ocorre  no  momento  da  concentração  da obrigação, 
quando  a  obrigação  passa  de  genérica  a  específica,  não  se  exigindo  que  essa 
concentração seja conhecida de ambas as partes.  
 

1
​Pelo contrário a obrigação é específica quando o género e o espécime das prestações se encontrarem determinados;  
2
​As exceções, sobre quando a escolha podem caber a um terceiro encontram-se no artigo 539º 

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A  lei  portuguesa  consagra  a  “  Teoria  da  Entrega”  (540º), que refere que enquanto 
a  prestação  for  possível  com  coisas  do  género  estipulado  não  fica  o  devedor 
exonerado  pelo  facto  de  terem  perecido  aquelas  com  que  se  dispunha  a  cumprir, 
consagrando  a  irrelevância  da  escolha  para  efeitos  da  concentração  da  obrigação 
genérica. 
 
Se  o  devedor  continua  a  ter  que  entregar  coisas  do  mesmo  género,  significando 
que  a  obrigação  genérica  ainda  não  se  concentrou,  ocorrendo  a​penas  com  o 
cumprimento.  
 
É  esse  o  momento  da  transferência  da  propriedade  da  propriedade  sobre  as  cosias 
objeto  da  obrigação  genérica  (408º.2),  a  transmissão  da  propriedade  sobre  coisas 
genéricas  exige  a  sua  concentração  que  normalmente  apenas  ocorre  mediante  a 
entrega pelo devedor ( artigo 540º). 
As exceções a esta regra encontram-se no artigo 541º. 
Concluímos  que  no nosso direito, a concentração da obrigação genérica, quando a 
(escolha  que  compete  ao  devedor)  apenas  se  dá  no  momento  do  cumprimento, 
podendo até lá o devedor revogar escolhas que anteriormente tenha realizado;   
 
Quando  a  escolha  compete  ao  credor  ou  a  terceiro,  a  nossa  lei  adopta  a  teoria  da 
escolha  do  artigo  (542º),  que  uma  vez  realizada  passa  a  ser  irrevogável.  A  escolha 
por  parte  do  credor  ou  pelo  terceiro  concentra  imediatamente  a  obrigação,  desde 
que declarada respetivamente ao devedor ou a ambas as partes. 
 
Obrigações Alternativas:   
 
Consistem  também  em  modalidades  de  prestações  indeterminadas,  que  se 
caracterizam  por  existirem  duas  ou  mais  prestações  de  natureza  diferente,  em que 
o  devedor  se  exonera  com  a  mera  realização  de  uma  delas,  que  por  escolha,  vier  a 
ser  designada  (  543º).  Só  constituem  obrigações  alternativas  aquelas  que 
pressupõem uma escolha entre prestações.  
 
exemplo:  Se  o  devedor  se  obriga  a  entregar  ao  credor  o  barco  X  ou  automóvel  Y 
cumpre  a  obrigação  se  entregar  qualquer  um  destes  objetos  (  apenas  uma  é 
concretizável através da escolha). 

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Na  falta  de  determinação  em  contrário,  a  escolha  pertence  ao  devedor  ( 
543º.2)podendo também competir a terceiro ( 549º) . 
A  escolha  tem  que  se  verificar  entre  uma  ou  outra  das  prestações,  não  sendo 
permitido,  que  aquele  a  quem  incumbe  a  escolha  decida  realizá-la  entre  parte  de 
uma prestação ou parte de outra ( 544º). 
Não  é  permitida  ao  devedor  a  posterior  revogação  da  escolha  efetuada,  uma  vez 
que após a realização da escolha, só é exonerado efetuando a prestação escolhida. A 
escolha  é  igualmente  irrevogável  quando  compete  ao  credor  ou  a  terceiro 
(549º+542º). 
Se  alguma  das  partes  não  realizar  a  escolha  no  tempo  devido  a  lei  prevê  a 
devolução desta faculdade à outra ( 542º.2+548º+549º) . 
As  obrigações  alternativas  têm  um  regime  especial  em  sede  de  impossibilidade  da 
prestação,  quando  esta  se  verifica  antes  de  a  escolha  ter  ocorrido.  Devemos 
distinguir entre várias modalidades de ​impossibilidade​:  
 
→ Casual​( não é imputável a nenhuma das partes- 545º) 
 
exemplo: ​Se o devedor se comprometeu a entregar ao credor o carro X ou barco Y e 
este  último  naufraga  em  virtude  de  um  temporal,  é  o  devedor  que  tem  que 
suportar esse prejuízo, devendo entregar ao credor o carro X. 
 
Imputável a uma das partes: 
→  ​Imputável  ao  Devedor​(  previsto  no  artigo  546º,  ele  deve  efetuar  uma  das 
prestações  possíveis  ou  indemnização  pelos  danos  de  não  ter  realizada  a  prestação 
que se tornou impossível);  
 
→Imputável ao Credor (​ aplica-se à situação o disposto no artigo 547º) 
Se a escolha pertencer: 
Ao  credor:  considera-se  a  obrigação  por  cumprida,  sendo  que  o  mesmo  ao 
impossibilitar  culposamente  uma  das  prestações,  deve  ser  equipara  à  situação  de 
ele a escolher ; 
Ao  devedor:  a  obrigação  considera-se  por  cumprida a menos que o devedor prefira 
realizar outra prestação e ser indemnizado pelos danos que haja sofrido;  
 

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Impossibilidade de ser imputável a uma das partes e a escolha caber a terceiro: 
 
Antunes  Varela  -  se  a  impossibilidade  é  imputável  ao  devedor  (  546º),  a  escolha 
incumbe  a  terceiro.  Será  o  terceiro  a  escolher  entre  realizar  uma  das  prestações 
possíveis ou pedir uma indemnização pelos danos. 
O  terceiro  não  poderia,  optar  pela  resolução  do  contrato.  quando  a 
impossibilidade  for  imputável  ao  credor  (547º),  caberá  igualmente  ao  terceiro 
escolher  considerar  cumprida  a  obrigação  ou determinará ao devedor que realize a 
prestação  possível  e  peça  indenização  pelos  danos  resultantes  de  não  ter  sido 
realizada a prestação que se tornou impossível;  
 
Menezes  Cordeiro​-  quando  a  obrigação  se  torna  impossível,  o  terceiro  perde  a 
faculdade  de  realizar  a escolha, uma vez que ele só pode escolher entre 2 prestações 
possíveis  e  não  entre  uma  prestação  e  uma indeminização. Se a escolha pertencer a 
terceiro  e  a  impossibilidade  for  imputável  ao  devedor  deve  passar  a  ser  o  credor  a 
escolher  a  prestação  possível,  a  indeminização  ou  a  resolução  do  contrato  (546º). 
Se  for  imputável  ao  credor,  deverá  passar  a  ser  o  devedor  a  escolher  entre 
considerar cumprida a obrigação ou realizar a prestação (547º); 
 
Menezes  Leitão​-  Quando  as  partes  deferem  a  escolha  a  terceiro,  fazem-nos 
exclusivamente  para  efeitos  de  determinação  da  prestação  (  400º)  e  não  para 
exercer  os  direitos  que  lhes  competem  quando  a  outra  parte  culposamente 
impossibilita a realização da prestação;  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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ESQUEMA: 

 
Obrigações Pecuniárias: 
 
Têm  dinheiro por objeto, visando proporcionar ao credor o valor que as respetivas 
espécies  monetárias  possuam.  Isto  são  requisitos  cumulativos,  como por exemplo: 
Se  se  entregarem  notas  para  integrar  uma  coleção,  isto  não  será  uma  obrigação 
pecuniária;  
 
 
Modalidades: 
- Quantidade​(  artigo  550º,  tem  por  objeto  uma  quantidade  de  moeda  com 
curso legal no país); 
Dois princípios reguladores: 
□  ​Curso  Legal  (  o  cumprimento  das  obrigações  pecuniárias  deve  ser  realizada 
apenas  com  espécies  monetárias  a  que  o  Estado  reconheça  função  liberatória 
genérica.  Tem  sempre  por  objeto uma quantia de unidades monetárias, devendo o 
cumprimento ser realizado com espécies, ou seja moedas/notas); 
 
□  ​Nominalismo  Monetário  ​(  proporcionar  ao  credor  o  valor  correspondente  às 
espécies monetárias entregues, que possa ser utilizado como meio geral de troca); 

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por  exemplo:  ​Tendo  em  conta  o fenómeno inflação / deflação, o artigo 550º, prevê 
que o cumpriemnto das obrigações pecuniárias se faz pelo valor nominal da moeda 
no momento do cumprimento;  
 
- Moeda  específica  ​(  situações  em  que  a  obrigação  pecuniária  é 
convencionalmente  limitada  a  espécies  metálicas  ou  ao  valor  delas  -  artigo 
552º); 
 
- Moeda  Estrangeira  (  aquelas  em  que  a  prestação  é  estipulada  em  relação  a 
espécies monetárias que têm curso legal apenas no estrangeiro- artigo 558º); 
 
Obrigações de Juros: 
 
Correspondem  à  remuneração  da  cedência  ou  diferimento  da  entrega  de  coisas 
fungíveis  por  um  certo lapso de tempo. Os juros representam assim uma prestação 
devida  como  compensação  ou  indemnização  pela  privação  temporária  de  uma 
quantidade  de  coisas  fungíveis  denominada  de  capital  e  pelo  risco  de  reembolso 
desta;  
 
1.7.Indeterminação e pluralidade das partes na relação obrigacional: 
 
Indeterminação do credor: 
 
No  artigo  511º  é  referido  que  o  credor  não  pode  ficar  determinado  no  momento 
em  que  a  obrigação  é  constituída..  A  indeterminação  temporária  do  credor  pode 
resultar de se aguardar a verificação de um determinado facto futuro e incerto; 
 
exemplo​: Alguém oferecer 100 euros a quem encontrar objeto X 
 
Pluralidade de partes na relação obrigacional 
 
Outro  critério  de  classificação  das  obrigações  reside  número  de  sujeitos  que 
participa  na  relação  obrigacional  .  A  obrigação  pode  abranger  várias  pessoas  com 
outras  várias.  Se  abranger  mais  do  que  2  sujeitos,  tendo  assim  uma  pluralidade de 
devedores, fala-se em obrigação plural. 

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Obrigações conjuntas ou parciárias: 
Cada  um  dos  devedores  só  está  vinculado  a  prestar  ao  credor  ou  credores  a  sua 
parte  na  prestação  e  cada  um  dos credores só pode exigir do devedor ou devedores 
a parte que lhe cabe.  
exemplo:  A,  B  e  C  obrigam-se  a  entregar  a  D  a  quantia  de  900  euros,  D  apenas 
poderá exigir de A que lhe entregue 300 euros, ou seja a sua parte da dívida. 
 
Obrigações solidárias:  
Nelas  qualquer  um  dos  devedores  está  obrigado  perante  o  credor  a  realizar  a 
prestação integral ( artigo 512º).  
 
Características: 
- Identidade da prestação em relação a todos os sujeitos da obrigação; 
- Extensão  integral  do  dever  de  prestar  ou  do  direito  à  prestação  em  relação 
respetivamente a todos os devedores; 
- A  solidariedade  dos  devedores  só  existe  quando resulte da lei ou da vontade 
das partes ( 513º)3; 
 
▢​Solidariedade  Passiva  (a  realização  da  prestação  integral  por  um  dos  devedores 
libera todos os outros devedores em relação ao credor-512º):  
 
- Relações  externas:  em  relação  ao  credor  a  solidariedade  caracteriza-se  por 
uma  maior  eficácia  do  seu  direito  que  se  pode exercer integralmente contra 
qualquer um dos devedores ( 512º.1+ 519º.1)4; 
- Relações  Internas​:  entre  os  devedores  caracteriza-se  pelo  facto  de o devedor 
que  satisfazer  a  prestação  acima  da  parte  que  lhe  competir  adquirir  um 
direito  de  regresso  sobre  os  outros  devedores  pela  parte  que  lhes  compete 
(524º); 
 
▢  Solidariedade  Ativa  (  a  realização  da  prestação  integral  por  um  dos  credores 
libera  o  credor  no  confronto  com  todos  os  credores-512º/  Embora  o  credor  que 
recebeu mais do que lhe compete esteja obrigado a satisfazer aos outros a parte que 

3
​Se nada tiver sido estipulado pelas partes nem resultar da própria lei, a regra não é assim da solidariedade mas da 
conjução) 
4
​Não podendo o benefício da divisão ser invocado depois ( 518º)  

12
lhes  compete  obrigado  a  satisfazer  aos  outros  a  parte  que  lhes  cabe  no  crédito 
comum- 533º ): 
 
- Relações Externas ​: em relação aos credores, apenas um deles pode exigir por 
si  só  a  prestação  integral,  liberando-se  o  devedor  perante  todos  com  a 
realização  da  prestação  a  qualquer  um  dos  credores  (  512º.1).  O  devedor 
pode,  escolher  o  credor  solidário  a  quem  realiza  a  prestação,  enquanto  não 
tiver  sido  judicialmente  citado  por  um  credor  cujo  crédito  se  encontre 
vencido ( 528º.1); 
- Relações  Internas:  ​caracteriza-se  pelo  facto  de  o  credor  cujo  direito  foi 
satisfeito  além  da  parte  que  lhe  competia  na  relação  ter  a  obrigação  de 
satisfazer aos outros a parte que lhes cabe no crédito comum;  
 
Obrigações Plurais Indivisíveis: 
As  obrigações  conjuntas  pressupõe  a  divisibilidade  da  prestação,  já  que  se  a 
prestação  for  indivisível  não  seria  impossível  exigir  apenas  uma  parte  dos 
devedores, sem prejuízo para o interesse do credor ( artigo 535º); 
 
exemplo​:  Se  A,  B  e  C  se  comprometeram  a  entregar  um  automóvel  a  D,  o  credor 
não  poderá  exigir  apenas  de  um  deles  a  realização  de  uma parte da prestação, uma 
vez que essa situação implicaria a destruição do automóvel; 
 
Características:   
- A  lei refere que se se verificar a extinção da obrigação em relação a algum ou 
alguns  dos  devedores,  o  credor  não  fica  inibido  de  exigir  a  prestação  dos 
restantes  obrigados,  contanto  que  lhes  entregue  o  valor  da  parte  que  cabia 
ao devedor ou devedores exonerados (536º);  
- Quanto  à  impossibilidade  da  prestação  por  facto  imputável  a  algum  ou 
alguns dos devedores, a lei dispõe que outros ficam exonerados ( 537º); 
exemplo:  A  destrói  culposamente  o  automóvel  ,  só  ele  deverá  ser  sujeito  à 
indemnização perante impossibilidade culposa (809º.1) 
Se  a  obrigação  for indivisível com pluralidade de credores a lei refere que qualquer 
um deles tem o direito de exigir a indemnização por inteiro. 5 

5
Menezes Cordeiro- regime significa que a criação judicial do devedor por um dos credores transforma a obrigação 
conjunta em solidária; 

13
 
2. Fontes das Obrigações: 
A  obrigação  constitui  um  efeito  jurídico,  que  tem  sempre na sua origem um facto 
que o desencadeia, denominadas por fontes de obrigações; 
As obrigações podem resultar de diversos fenómenos jurídicos, sendo denominado 
fonte  da  obrigação  o  facto  jurídico  de  onde  emerge  a  relação  obrigacional.  A 
enumeração das fontes seguir-se-á. 
 
2.1 Contrato 
Os negócios jurídicos são distinguidos entre : 
- Unilaterais​ ( possuem apenas uma parte); 
- Contratos​ ( possuem duas ou mais partes); 
 
O  professor  ​Antunes  Varela  define contrato como um a​cordo vinculativo, assente 
sobre  2  ou  mais  declarações  de  vontade  contrapostas  ,  mas  perfeitamente 
harmonizados  entre  si,  que  visam  estabelecer  uma  regulamentação  unitária  de 
interesses. 
 
Por  ​parte  deve-se  entender  não  uma  pessoa  mas antes um interesse, o que poderia 
implicar  que duas ou mais pessoas constituírem uma única parte, quando tivessem 
interesses comuns, daí a exigência precisamente da estipulação contratual. 
 
Menezes  Cordeiro  faz  uma  distinção  entre  negócios  unilaterais  e  contratos  , 
baseado num critério dos e​ feitos que venham a ser desencadeados: 
 
→ Baseado nos efeitos que venham a ser desencadeados: nos negócio unilaterais 
os  efeitos  não  diferenciam  as  pessoas  que  eventualmente neles tenham intervindo, 
pois neles há apenas uma pessoa, uma declaração um interesse”. 
 
→Contratos:  ​os  efeitos  diferenciam  duas  ou  mais  pessoas,  isto  é:  fazem,  surgir  a 
cargo  de cada interveniente, regras próprias que devam ser cumpridas e possam ser 
violadas independentemente uma das outras; 
 
O  professor  ​Menezes  Leitão    apresenta  uma  distinção  baseada  na  necessidade  de 
apenas  uma  ou  mais  declarações  negociais  ,  sendo  que  por  exemplo  as  doações 

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seriam  um  contrato  pois  exigem  duas  ou  mais  declarações  negociais  para  a  sua 
efetivação  (  940º).Não  são  os  efeitos  do  negócio  que  permitem  distinguir  os 
contratos dos negócios unilaterais, mas antes o seu modo de formação.  
 
2.2 Modalidade de Contratos 
2.2.1 Forma 
Não  Formais  -​regra  geral  há  uma  desnecessidade  de  qualquer  forma especial para 
a  celebração  do  contrato,  admitindo-se  que  as  declarações  das  partes  podem  ser 
exteriorizadas de qualquer meio. 
 
Formais-  são  excepcionais todas as disposições que exigem sob pena de nulidade, a 
adopção de uma forma especial para a declaração negocial;  
 
2.2.2 Modo de Formação 
Reais  ​Quod  Constitutionem​-  aqueles  cuja  celebração  se  exige  a  tradição  ou 
entrega da coisa de que são objeto. 
 
Consensuais- a​queles em essa entrega é dispensada a entrega. 
 
Tem  vindo  a  ser  discutido  na  doutrina  se  a  exigência  de  tradição  da  coisa  para  a 
constituição  de  certos  contratos  não  poderia  ao  abrigo  da  autonomia  privada  ser 
dispensada.  o  professor Menezes leitão diz que só se pode colocar relativamente às 
situações  em  que  a  referência  à  tradição  aparece  apenas  na  descrição  do tipo legal, 
já  que  sempre  que  a  lei  exige  imperativamente  a  tradição  para  a  constituição  do 
contrato, é claro que as partes não as podem dispensar.  
A  exigência  de  tradição  tem  uma  clara  função  útil  de  não permitir que a execução 
do  contrato  ocorra  numa  fase  posterior  à  da  declaração  negocial,  exigindo  que  a 
execução do contrato se manifeste precisamente nessa declaração negocial.  
 
2.2.3 Efeitos 
- Obrigacionais e Reais: 
→  Obrigacionais  (  criação  de direitos de crédito e obrigações, sendo a sua eficácia 
sobre a esfera jurídica das partes imediata); 
→  Reais  ​(  pode  suceder  que  a  sua  eficácia  não  seja  imediata, o que sucede sempre 
que  não  estejam  preenchidos,  no  momento  da  celebração  do  contrato,  os 

15
requisitos  necessários  para  que  o  contrato  dê  origem  a  uma  situação  jurídica  de 
natureza real); 
 
Regra  geral  a  transmissão  de  direitos ocorre por mero efeito do contrato ( 408º.1). 
A  transmissão  da  propriedade  no  momento  da  celebração  do  contrato  apenas 
ocorre  relativamente  a  coisas  que  já  possuam  os  requisitos  necessários  para  sobre 
elas ser constituído um direito real. 
 
Ex:  Em  relação  às  coisas  futuras  a  transferência  da propriedade é diferida para um 
momento posterior ao da celebração do contrato ( 408º.2). 
 
- Cláusula de Reserva e Propriedade: 
Ocorrendo  a  transferência  da propriedade da celebração do contrato no momento 
desta  celebração,  a  transmissão  dos  bens  é  facilitada  em  prejuízo  dos  interesses  do 
alienante.  Daí  resultou  uma  cláusula  de  de  reserva  de  propriedade  (  409º), 
convenção  pela  qual  o  alienante  reservar  para  si  a  propriedade  da  cosia,  ate  ao 
umpriemnto  total  ou  aprcial  das  obrigações  da  outra parte, ou até à verificação de 
qualquer  outro  evento.  A  cláusula  de  reserva  da  propriedade  pode  ser  celebrada 
em  relação  a  quaisquer  bens  (  mas  a  lei  dispõe  que,  no  caso  de  bens  imóveis  ou 
sujeitos a registo só a cláusula constante do registo é oponível a terceiros ( 409.2)  
 
A  cláusula  implica  que  por  acordo  entre  vendedor  e  comprador,  a  transmissão  da 
propriedade  fique  diferida  para  o  momento  do  pagamento  integral  do  preço.  A 
função  é  a  de  defender  o  vendedor  das  eventuais  consequEncias  do 
incumpriemento do comprador.  
A  posição  jurídica  do  comprador  relativamente  à  coisa  a  partir  do  momento  em 
que  é  celebrada  a  cláusula  de  reserva  de  propriedade,  sendo sustentado por alguns 
a “ condição suspensiva”6. 
 
2.2.4 Sinalagmáticos ou não sinalagmáticos 
Esta  denominação  surge  de  o  facto  de  as  obrigações  forem  recíprocas  para  ambas 
as  partes  ou  não,  ficando  assim  ambas  simultaneamente  na  posição  de  credores  e 
devedor.  
 

6
Galvão Telles, Antunes Varela e Almeida Costa; 

16
➥O  professor  ​Menezes  Cordeiro  diz  que  num  contrato  há  adstrição  a  cargo  de 
ambas  as  partes  ,  mesmo  nos  não  sinalagmáticos  (  ou  nos  gratuitos),  os  contratos 
produzem os seus efeitos perante as duas partes, as quais devem respeitá-los. 
 
Em  certas  circunstâncias  apenas  uma  das  partes  fica  vinculada  (  a  outra  irá dispor 
do  direito  potestativo  de  desencadear  para  ambas  as  partes  efeitos  contratuais), 
isto  sucede  na  promessa  unilateral  (  411º)em  que  uma  das  partes  fica  vinculada  a 
ter  de celebrar o contrato definitivo, enquanto a outra pode decidir se quer ou não 
uma  promessa.  è  claramente  diferente  da  sinalagmaticidade:  um  contrato  não 
sinalagmático  fixa  um  regime  relevante  entre  as  partes,  sem  inserir,  uma  delas  na 
posição  potestativa  de tudo desencadear, podendo depender da mera vontade uma 
das partes.  
 
➥O  professor  ​Menezes  Leitão  ​diz  porém  que  esta  classificação  não  se  justificará  , 
ao  dizer  que  se  só  uma  das  partes  tem  uma  obrigação  ou  dizer  que  uma parte está 
vinculada  é  a  mesma  coisa  (  no  exemplo  do  contrato-promessa  unilateral 
parece-nos  clara  a  inexistência  de  sinalagma  ,  pois  só  uma  das  partes  tem  a 
obrigação de celebrar o contrato definitivo). 
 
Os  contratos  sinalagmáticos  opõe-se  assim  aos  não  sinalagmáticos,  que  podem  ser 
unilaterais,  em  que  apenas  uma  das  partes  assume  uma  obrigação  ou  bilaterais 
imperfeitos  em  que  uma  das  partes  assume  uma  obrigação,  mas  a  outra  apenas 
realiza uma prestação em circunstâncias eventuais.  
Reconduz-se  à  existência  de  obrigações  recíprocas  para  ambas  as  partes  do 
contrato ou apenas a uma delas. 
 
Exemplo:  Compra  e  venda  onde  se  pode  vislumbrar  a  existência  de  obrigações 
para  ambas  as  partes:  a  obrigação  de  entrega  da  coisa  para  o  vendedor  e  a 
obrigação de pagamento do preço para o comprador.  
 
Sinalagmáticos  Funcionais:  nexo  entre  as  duas obrigações tem a consequência de 
uma  interdependência  entre  as  duas  prestações  que  se deve manter durante toda a 
vida  do  contrato,  estabelecendo-se  por  isso  que  uma  prestação  não  deve  ser 
executada sem a outra.  
 

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Aspetos do regime: 
- Excepção  de  não  cumprimento  do  contrato  (  cada  uma  das  partes  pode 
recusar a sua prestação enquanto a outra não efetuar a que lhe cabe- 428º); 
- Resolução  por incumprimento ( o contraente fiel pode resolver o contrato 
se a outra parte incumprir a sua obrigação -801º.2); 
- Caducidade  do  contrato  sinalagmático  por  impossibilidade  ( 
impossibilitação  de  uma  das  prestações  e  determina  a  restituição  da  outra  - 
795º1);  
 
2.2.5 Contratos Onerosos e Gratuitos 
→Oneroso​: implica atribuições patrimoniais para ambas as partes 
exemplo:​ Compra e Venda  
 
→Gratuito: ​implica atribuições patrimoniais para apenas uma delas ; 
exemplo:​ Doação 
 
Existe  no  entanto  a  possibilidade  um  contrato  ser  simultaneamente  oneroso  e 
gratuito,  neste  caso  o  contrato  a favor de terceiro em que o promitente que realiza 
a  prestação  de  terceiro  não  recebe  de  qualquer contrapartida deste, ams pode vir a 
recebê-la do promissário;  
 
Dentro dos contratos Onerosos encontramos: 
Contrato  Comutativo  -  quando  as  ambas  as  atribuições  patrimoniais  se 
apresentam como certas; 
Contrato  Aleatório​-  quando  pelo  menos  uma  das  atribuições  patrimoniais  se 
apresenta  como  incerta  que  quando à sua existência, quer quanto ao seu conteúdo 
( ex: contratos de jogo e aposta) 
 
2.2.6. Nominados e Inominados 
Contrato  Nominado-  quando  a  lei  reconhece  como  categoria  jurídica  através  de 
um ​nomen iuris. 
Contrato  Inominado-  ​quando  a  lei não o designa através de um nomen iuris, não 
o reconhecendo, assim nas suas categorias contratuais.  
 
2.2.7 Típicos e Atípicos 

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Contrato Típico-​quando o seu regime se encontra previsto na lei. 
Contrato Atípico-​quando o seu regime não se encontra previsto na lei. 
 
2.2.8 Contratos Mistos  
Contrato  Misto  -  aquele  que  reúne  em  si  regras  de  dois  contratos  total  / 
parcialmente  típicos,  assumindo-se  como  um  contrato  atípico  por  não 
corresponder  integralmente  a  nenhum  tipo  integral  regulado  por  lei  (  resulta  da 
adopção de regras de dois ou mais contratos típicos). 
 
Categorias: 
- Múltiplos:  ​partes  estipulam  que  uma  delas  deve  realizar  prestações 
correspondente  a  dois  contatos  típicos  distintos,  enquanto  a  outra  realiza 
uma única contraprestação comum. 
➥​exemplo:  Se  alguém  vender  um  automóvel  a  outrem  e  simultaneamente 
comprometer a conduzi-lo. 
 
- Duplo:  contratos  em  que  uma  parte  se  encontra  obrigada a uma prestação 
típica  de  tipo  contratual,  enquanto  que  a  contraparte  se  encontra obrigada 
a uma contraprestação típica oriunda de outro tipo contratual. 
➥​exemplo:  ​Alguém  arrenda uma casa contra a obrigação da outra parte de realizar 
serviços de limpeza de prédio.  
 
- Misto  stricto  sensu:  contratos  em  que  é  usada  uma  estrutura  própria  de 
um  tipo  contratual  para  preencher  uma  função  típica  de  outro  tipo 
contratual. 
➥​exemplo:  ​Alguém  vender  uma  casa  pelo  preço  de  1000  €  (  o  preço  é  tão  baixo 
que é meramente simbólico). 
 
- Complementares:  aqueles  em  que  são  adoptados  os  elementos  essenciais  de 
um  determinado  contrato,  mas  aparecem  acessoriamente  elementos  típicos 
de outros contratos. 
➥​exemplo:​Venda  de  um  automóvel  com  a  obrigação  acessória  de  o  vendedor 
realizar a manutenção do veículo. 
 

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Nos  contratos  mistos  qual  o  regime  que  deve  ser  aplicado?  (  uma  vez  que  as 
partes,  ao  reunirem  no  mesmo  contrato  regras  de  dois  ou  mais  negócios  total  ou 
parcialmente  negociados  na  lei,  provocam  sempre  um  conflito  de  regimes  legais 
potencialmente aplicáveis). 
→  ​Almeida  Costa:  ​faz  apelo  aos  critérios  de  integração  dos  negócios  jurídicos 
(239º),  mas  em  primeiro  lugar  deve  ser  averiguada  a  possibilidade  de  aplicação 
analógica  da  disciplina  de  algum  /  alguns  contratos típicos, o que corresponderá à 
teoria da analogia; 
→  ​Menezes  Cordeiro:  ​perante  um  contrato  misto,  devemos  indagar,  com  recurso 
ao  sentido  objetivo  do  conjunto,  à  finalidade  comum  das  partes  e  às  valorações 
envolvidas,  qual  o  centro  de  gravidade  a  relevar.  Na  presença  de  contratos  mistos 
cujo  tipo  básico  contraire  normas  imperativas,  temos:  -  ou  que  se  recorra  ao 
método  da  combinação,  de  modo  a  assegurar  a  aplicação  da  parte  injuntiva;  ou se 
cai  na  nulidade,  por  contrariedade  à  lei  (280º.1  e  294º),  salva  a  hipótese  de 
conversão (293º).  
Mais  relevante  será  a  vontade  das  partes.  Ao  confeccionar  um  contrato  misto, 
poderão  ter  visado, muito simplesmente o afastamento das normas típicas que não 
lhes  conviesse.  A  vontade  contratual  deve  pois  ser  respeitada,  apenas  com  uma 
prevenção:  a  de  que  não  deve  ser  contrariada  pelo  conjunto,  que  prevalece,  salvo 
vício na conformação ou na exteriorização da vontade. 
 
2.2.9 União de Contratos  
Ao  contrário  de nos contratos mistos, na união de contratos a celebração conjunta 
de  diversos  contratos,  unidos  entre  si.  Esta permite que cada contrato mantenha a 
sua autonomia, possibilitando a sua individualização face ao conjunto. 
 
Formas: 
→União  Externa:  ligação  entre  os  diversos  contratos  resulta  apenas  da 
circunstância de serem celebrados ao mesmo tempo. 
→União  Interna:  apresentam-se  ligados  entre si por uma relação de dependência, 
na altura da sua celebração uma das partes estabelece que não aceitaria celebrar um 
dos contratos sem o outro. 
→  União  Alternativa:  partes  declaram  pretender  ou  ou  outro  contrato, 
consoante ocorrer ou não verificação de determinada condição. 
 

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2.3. Contratos Preliminares   
Contratos  cuja  execução  pressupõe  a  celebração  de outros contratos. Muitas vezes 
ocorrem  situações  em  que  falta  esta  efetiva  vinculação  embora  as  partes  assumam 
certos  compromissos  durante  a  fase  das  negociações,  o  que  corresponde  ao 
fenómeno que ​Menezes Cordeiro​ denomina de contratação mitigada. 
 
Vamos agora ver algumas das modalidades mais relevantes. 
 
2.3.1 Contrato-Promessa 
A  definição  encontra-se  prevista  no  artigo  410º.1,  vista  como  a  convenção  pela 
qual  alguém se obriga a celebrar um novo contrato  ou como ​Calvão Silva diria “ a 
convenção  pela  qual  além  se  obriga  a  celebrar  certo  negócio  jurídico  por  forma  a 
abranger  tanto  negócios  bilaterais  ou  contratos  como  negócios  unilaterais”.  O 
contrato-  promessa  caracteriza-se especialmente pelo seu objeto, uma obrigação de 
contratar.  
Este  contrato  tem  uma  convenção  autónoma  do  contrato  definitivo,  uma vez que 
se  caracteriza  normalmente  por ter eficácia meramente obrigacional, mesmo que o 
contrato definitivo tenha eficácia real. 
 
Apesar  desta  autonomia  entre  os  dois  contratos,  a  lei  não  deixou  de  sujeitar  em 
princípio  o  contrato-promessa  ao  mesmo  regime  do  contrato  definitivo  (  410º.1). 
É  o  que  se  denomina  de  ​princípio  da  equiparação.  Efetua-se  uma  extensão  do 
regime  do  contrato  definitivo  ao  contrato-promessa,  sujeitando-se  este  em 
princípio às mesmas regras que vigoram para o contrato definitivo. 
 
Exceções ao princípio da equiparação:   
→  ​disposições  relativas  à  forma  (  a  forma  não  é  necessariamente  a  do  contrato 
definitivo  o  que  permite  que  ao  contrato  promessa  seja  atribuída  uma  forma 
menos solene do que a que seria exigida para o contrato definitivo); 
→​disposições  que  pela  razão  de  ser  não  devam  considerar-se  extensivas  ao 
contrato-promessa  (  implica  o  afastamento  de  todas  as  disposições  relativas  ao 
contrato-prometido,  justificadas  em  função  da  configuração  deste,  e  que  não  se 
harmonizem com a natureza do contrato-promessa);  
 
Modalidades: 

21
- Unilateral:  ​consoante  uma  das  partes  se  vincule  à  celebração  do 
contrato-futuro. 
Esta  modalidade  pode  ser  remunerada,  o  que  sucede  sempre  que  a  outra  parte 
assuma  a  obrigação  de  pagar  ao  promitente  determinada  quantia  como 
contrapartida  pelo  facto  de  se  manter durante certo tempo vinculado à celebração 
de um contrato.   
A lei considera que o direito à celebração do contrato definitivo apenas deve poder 
ser  exercido  dentro  de  um  prazo  limitado,  pelo  que  sempre  que  as  partes  não  o 
estipulem  é possível ao promitente fixar à outra parte de um prazo para o exercício 
do direito, findo qual este caducará ( 411º). 
➥​exemplo:  ​Alguém  que  se  compromete  da  mesma  forma  a  vender  o  imóvel  por 
um  certo  preço  mas  a outra parte não se comprometer a comprar-lho ficando livre 
de o fazer ou não. 
 
  -Bilateral:    consoante  ambas  as  partes  se  vinculam  à  celebração  do 
contrato-futuro; 
➥​exemplo:​Alguém  promete  vender  a  outrem  determinado  imóvel  por  certo 
preço e este outrem, simultaneamente se comprometer a comprar-lho. 
 
Forma: 
Relativamente  à  forma,  o  contrato-promessa  segue  por  esse  motivo,  o  regime 
geral,  que  se  baseia  precisamente  na  liberdade  de  forma  (  219º).  Há  uma  exceção, 
presente  no  artigo  410º.2,  quando  a  lei  nos  exige  um  documento  autêntico  ou 
particular  para  o  contrato  prometido  é  também  exigido  documento  para  o 
contrato-promessa  ainda  que  o  contrato  exija  um  documento  particular  apenas 
será necessário um documento autêntico. 
➥​exemplo: ​O contrato promessa de compra e venda de um imóvel, sujeita por lei a 
escritura pública ou documento particular autenticado ( 875º) . 
 
O contrato promessa bilateral, assinado apenas por um dos promitentes pode 
ser válido como promessa unilateral? 
 
Tese  da  Conversão  (  Galvão  Telles  e  Antunes  Varela)  →parte  do  pressuposto  de 
que  se  apresentaria  como  injusto  permitir  o  aproveitamento  do  negócio,  mas  que 
este  deve  ser  realizado  através  de  mecanismo  da  conversão  e  não  da  redução  (  que 

22
pressupõe  uma  invalidade  parcial-292º)  e  o contrato-promessa bilateral a que falte 
uma  das  assinaturas  apresenta-se  como  completamente  nulo,  por  falta  de  forma 
exigida  por  lei.  A  natureza  sinalagmática  do  contrato  promessa  bilateral  torná-lo 
diferente  do  contrato-promessa  unilateral.  Não  se  estaria  assim  perante  um 
aproveitamento  parcial do negócio, mas perante a sua transformação num negócio 
de tipo ou pelo menos de conteúdo diferente.  
 
Tese  da  Redução  (  Almeida  Costa,  Calvão  Silva) → se no contrato-promessa a lei 
só  exige  a  assinatura  para  a  declaração  negocial  do  contraente  que  se  vincula  à 
promessa,  a  nulidade  por  falta  de  forma  no  contrato-promessa  bilateral  será 
parcial  se  apenas  um  dos  contraentes  não  assinar  o  contrato  o  que  justifica  a 
aplicação do regime da redução ( 292º). è o que melhor tutela os interesses da parte 
que  pretende  o  aproveitamento  do  negócio(  estabelece  em  princípio  a  solução, 
afasta  apenas  quando  se  demonstre  que  a  vontade  hipotética  das  partes  iria  em 
sentido contrário). 
 
Posição  Intermédia  ​(  Menezes  Cordeiro)  →  sendo  a  promessa  unilateral 
visceralmente  diferente  da  bilateral,  a  situação  nunca  poderia  ser  de  invalidade 
parcial  mas  antes  de  invalidade  total  pelo  que,  em  princípio  só  a  conversão 
poderia  salvar  o  negócio.  No  entanto,  reconhece  que  a  redução  pode em concreto 
salvaguardar  melhor  os  interesses  do  contratante  vinculado  propugna  uma 
aplicação  melhor  os  interesses  do  contraente  vinculado  propugna  uma  aplicação 
conjunta dos dois preceitos remetendo ainda para a boa fé ( por base do 239º). 
 
Transmissão dos direitos e obrigações emergentes do contrato-promessa 
O  412º esclarece que os direitos e as obrigações emergentes do contrato-promessa ( 
não  exclusivamente  pessoais),  se  transmitem  por  morte  aos  sucessores,  ficando  a 
transmissão por ato entre vivos sujeita às regras gerais. 
 
Execução específica: 
No  contrato-promessa  os  promitentes  vinculam-se  a  uma  prestação  de  facto 
jurídico.  A  lei  admite  a  execução  especifíca  desta  obrigação,  consiste  em  que  o 
devedor  ser  substituído  no  cumprimento,  obtendo  o  credor  a  satisfação  do  seu 
direito  por  via judicial ( o tribunal emitirá uma sentença que produzirá os mesmos 

23
efeitos  jurídicos  da  declaração  negocial  que  não  foi  realizada,  operando-se  assim  a 
constituição do contrato definitivo). 
 
Pelo  artigo  830º  resulta  que o não cumprimento da promessa atribui à outra parte 
do  direito  a  recorrer  à  execução  específica.  A  execução  específica  deixa  de  ser 
possível  a  partir  do  momento  em  que  se  verifique  uma  impossibilidade  definitiva 
de  cumprimento,  como  no  caso  de  o  bem  que  se  prometeu  vender  já  ter  sido 
alienado a um terceiro, ou não ser possível obter a licença de utilização do imóvel. 
 
Há 2 exceções para a execução específica: 
- existência de uma convenção em contrário; 
- execução específica ser incompatível com a natureza da obrigação assumida; 
 
2.3.1.1Articulação com o regime do sinal: 
 
Sinal  -  ​cláusula  acessória  dos  contratos  onerosos,  mediante  a  qual  uma  das  partes 
entrega  à  outra,  por  ocasião  da  celebração  do  contrato,  uma  coisa  fungível(  em 
regra dinheiro). 
➥​exemplo:  António  e  Bento  obrigam-se  reciprocamente  a  vender  e  comprar  a 
certo  preço  1  imóvel,  acordando  Bento  na  entrega  a António o sinal de 5000€. Se 
Bento  incumprir terá António o direito de exigir que aquele lhe entregue 10000€, 
se for ao contrário Bento tem o direito de fazer seus os 5000 € 
 
 
O  sinal  funciona  então  como  fixação  das  consequências  do  incumprimento,  uma 
vez  que  se  a  parte  que  constitui  o  sinal  deixou de cumprir a sua obrigação, a outra 
parte tem o direito de fazer a sua coisa entregue . 
→  ​Não  Cumprimento  a  partir  de  quem  recebeu  o  sinal​:  tem  este  que  o  devolver 
em dobro (442º2) 
→ ​Cumprimento do contrato​: a coisa entregue será imputada na prestação devida ( 
442º.1). 
 
Através  do  Sinal  as  partes  visam estabelecer as consequências do incumprimento e 
do incumpriemto definitivo ( Santos Júnior e Menezes Leitão)7. 

7
​Contra: Menezes Cordeiro que admite a exigibilidade do sinal logo que haja incumprimento aprazado  

24
Funcionamento: 
O  artigo  442º.1,  refere-se  ao  regime  do  sinal  em  geral,  indicado  o  seu 
funcionamento  em  caso  de  cumprimetno  da  obrigação.  A  primeira  parte  do 
442º.2, explica o funcionamento em caso de não cumprimento do sinal. 
Já  a  segunda  parte  do  442º.2  fala  especificamente  do  funcionamento  do  sinal  do 
contrato-promessa.  Uma  questão  controvertida  tem  sido  saber  se  a  exigência  do 
aumento  do  valor  da  coisa  o  do  direito,  a  que  se  refere  o  contrato-prometido, 
pressupõe que tenha sido constituído sinal ou basta-se com a tradição da coisa 
 
➩  ​Menezes  Cordeiro  +Menezes  Leitão​:  deve  ser  exigida  a  constituição  de  sinal, 
uma  vez  que,  quando  este  não  é  estipulado,  a  tradição  de  coisa  para  o  promitente 
comprador  apresenta-se como um ato de mera tolerância do promitente vendedor, 
não havendo razão para que ele seja prejudicado por esse ato 
➩  ​Galvão  Telles  +  Januário  Gomes​:  o  aumento  do  valor  da  coisa  ou  do  direito 
tem  lugar  mesmo  que  não  tenha sido estipulado o sinal, já que não haveria motivo 
para só aplicar este regime quando o sinal exista em alternativa a este. 
 
A  perda  do  sinal  ou  a  sua  restituição  em  dobro  pressupõe  o  incumprimento 
definitivo  (  442º.2).  Já  a  opção  pelo  aumento  do valor da coisa, na medida em que 
admite  ainda  um  psoterior  cumpriemnto,  pode  ocorrer  em  caso  de  simples  mora 
(442º.3 onde ainda se refere a execução específica). 
 
Qual  a  natureza  deste  direito  ao  aumento  do  valor  da  coisa  ou  do  direito,  que  se 
reconhece  ao  promitente  comprador  que  recebeu  a  tradição  da  coisa  em  caso  de 
incumpriemnto da outra parte? 
➪  Antunes  Varela:  sustentou  não  constituir  uma  indeminização,  mas  antes  uma 
forma especial de sanção pecuniária compulsória. 
➪  Galvão  Telles:  trata-se  de  uma  indeminização  compensatória,  destinada  a 
ressarcir  os  prejuízos  causados  pelo  incumprimento  definitivo  do 
contrato-promessa,  atento  o  facto  de  surgir  em  paralelismo  com  a  exigência  do 
sinal em dobro. 
 
Perante  uma  situação  em  que  o  promitente-vendedor,  tendo  antecipadamente 
realizado  a  tradição  da  coisa,  se  enriquecer  à  custa  do  promitente  comprador 
através  da  restituição  do  sinal em dobro, atenta a valorização entretanto verificada 

25
na  coisa  entregue,  a  lei  vem  determinar  que  essa  valorizaç  possa  ser  atribuída  ao 
promitente-comprador, em alternativa à indemnização convencionada 
 
Funções do Sinal: 
➪​Menezes  Cordeiro:  ​o  regime  vigente  procedeu  à  junção  das  diversas  funções  do 
sinal,  uma  vez  que  tem natureza confirmatória-penal e dá consistência ao contrato 
e  funciona  como  indemnização  e  natureza  penitencial  “  quando  funcione  como 
preço  arrependimento  permitindo  ao  interessado  resolver  o  contrato,  mediante  o 
pagamento que resulte do próprio sinal. 
 
Atribuição  do  direito  de  retenção  ao  promitente  que  obteve  a  tradição  da 
coisa: 
O  artigo  755º.1.f  reporta-se  à  situação  do  beneficiário  da  promessa  que  haja 
obtido  a  traditio  ​da  coisa  ,  atribuindo  a  este  um  direito  de  retenção  sobre  essa 
coisa para a garantia do seu crédito ao aumento do valor da coisa ( 442º). 
 
2.3.2. Eficácia real do contrato-promessa  
A  lei  permite  ainda  a atribuição de eficácia real ao contrato-promessa, no caso de a 
promessa  respeitar  a  bens  imóveis  ou  móveis  sujeitos  a  registo,  e  a  partes 
declararem  expressamente  a  atribuição  de  eficácia real e procedam ao seu registo ( 
413º.1). 
O  direito  à  celebração  do  contrato  definitivo  prevalecerá  sobre  todos  os  direitos 
reais que não tenham registo anterior ao registo da promessa. 
Em relação à natureza do beneficiário da promessa com eficácia real: 
➥Menezes Cordeiro​- verdadeiro direito real de aquisição; 
➥Almeida  Costa  -  direito  de  crédito  sujeito  a  um  regime  especial  de 
oponibilidade a terceiros; 
 
2.4. Pacto Preferência 
Previsto  no  artigo  414º  constitui à semelhança do contrato-promessa um contrato 
preliminar  de  outro  contraente.  O  obrigado  à  preferência  não  se  obriga  a 
contratar,  mas  apenas  a  escolher  alguém  como  contraente  no  caso  de  decidir 
contratar,  se  esse  alguém  como  contraente  no  caso  de  decidir  contratar  esse 
alguém  como  contraente,  no  caso  de  decidir  contratar,  se  esse alguém lhe oferecer 
as mesmas condições que conseguiu negociar a um terceiro. 

26
É  um  contrato  unilateral,  em  que  apenas  uma  das  partes  assume  uma  obrigação 
ficando  a  outra  parte  (  o  titular  da  preferência  )  livre  de  exercer  ou  não  o  seu 
direito.  
 
Forma: 
Encontra-se  sujeito  ao  mesmo  regime  do  contrato-promessa  (415º),  significa  que 
regra  geral  a  sua  validade  não  depende  de  forma  especial,  apenas  exigindo 
documento particular se for exigido documento autêntico ou particular. 8 
 
Direitos de preferência com eficácia real: 
O  pacto  de  preferência  atribui  apenas  ao  seu  beneficiário  um  direito  de  crédito 
contra  outra  parte,  estando  sujeito  a  características  comuns do direito de crédito ( 
relatividade e não possibilidade de ser oposto a terceiros). 
A  lei  admite  também  porém  que  ao  direito  de  preferência  seja  atribuída  eficácia 
real, desde que, respeitando a bens imóveis ou a móveis sujeitos a registo.  
 
Estaremos  posteriormente  perante  ​preferências  legais  ​as  quais  têm  sempre 
eficácia  real,  permitindo  aos  que  dela  desfrutam  exercer  o  seu  direito  de 
preferência,  mesmo  perante  o  terceiro  adquirente.  Estas  surgem  porque  por  vezes 
a  lei  concede  a  certos  titulares  de  direitos  reais  de  gozo  sobre  determinada  coisa  a 
preferência na venda ou dação em cumprimento da coisa a esse objeto desse direito 
( exemplo: arrendatário 1091º). 
 
Obrigação de preferência: 
Regulada  genericamente  nos  artigos  416º  a  418º.  A  forma  de  cumpriemnto  da 
obrigação de preferência prevista no artigo 416º. 
Resulta  desta  norma  em primeiro lugar, a forma adequada de cumprir a obrigação 
de  preferência  é  efetuar  uma  comunicação  para  preferência.  A  lei  não  exige  uma 
forma  específica  para  essa  comunicação,  o  que  implica  que  ela  possa  ser 
inclusivamente verbal, ao abrigo do artigo 219º. 
 
As  partes  quase  sempre  optam  por  fazer  estas  comunicações  por  escrito,  como 
forma  de  se  preverem  para  a  hipótese  de  posterior  discussão  judicial.  Caso  o 

8
​Não se aplica ao pacto de preferência o regime do 410º.3, pelo que esse documento não estará em caso algum sujeito a 
mais formalidades.  

27
titular  da  preferência  rejeite  uma  proposta  contratual  ou  convite  a  contratar  não 
perde  o  seu  direito  de  preferência.  Se,  no  entanto  vier  a  ser  celebrado  o  contrato 
em  consequência  dessa  proposta/  convite,  o  direito  de  preferência  extinguir-se-á 
por inutilidade. 
 
A  comunicação  por  preferência  não  pode  ser  realizada  logo  que  o  obrigado  se 
encontre  na  situação  de  “querer  vender”  ao  contrário  do  que  parece  resultar  do 
416º.  Exigir-se-á  antes  uma  negociação  com  terceiro,  com  o  qual  sejam  acordadas 
as  cláusulas  a  comunicar  designadamente  preço  e  condições  de  pagamento.  A 
comunicação  para  preferência  terá,  que  ser  efetuada  antes  da  celebração  de  um 
contrato definitivo com o referido terceiro ➝ Caso contrário: Incumprimento 
 
➥​Conteúdo da comunicação para a preferência: 
A  lei  esclarece  que  não  basta  indicar  elementos  gerais  do  negócio,  mas  que  terão 
igualmente  de  ser  comunicadas  todas  as  estipulações  particulares  acordadas, 
relevantes para o exercício da preferência. 
 
➥​Comunicação para a preferência e o nome de terceiro: 
Deverá  a comunicação conter o nome de terceiro com que a foram comunicadas as 
condições: 
➩  ​Oliveira  Ascensão:  lei  faz  apenas  referência  à  cláusula  do  contrato  e o nome do 
terceiro não parece estar abrangido 
➩​Menezes  Cordeiro​:  o  princípio  da  boa  fé  impõe  que  o  nome  de  terceiro  que 
tenha que ser obrigatoriamente indicado na comunicação para a preferência. 
➩  ​Menezes  Leitão:  o  nome  de  terceiro  adquirente  desde  que  esteja  determinado, 
tem  de  ser  sempre  indicado  na  comunicação  para  a  preferência,  havendo  que 
mencionar a situação indeterminação no caso contrário. 
Se  a  comunicação  não  indicar  o  nome  do  terceiro,  não  há  qualquer  hipótese  de  o 
titular da preferência verificar a veracidade das condições comunicadas. 
 
Efetuada  a  comunicação  para  a  preferência  o  titular  tem  que  exercer  o  seu direito 
no  prazo  de  8  dias,  salvo  se  o  pacto  de  preferência  o  vincular  a  um  prazo  mais 
curto / longo. 
Exercida  a  preferência  ambas  as  partes  perdem  a  liberdade  de  decidir  celebrar  ou 
não contrato ➞Se voltarem atrás:​ Ilicitude 

28
Ambas  as  partes  formulam  uma  proposta  de  contrato  e  respetiva  aceitação,  que 
em  princípio  deveria  implicar  sem  mais  a  celebração  do  contrato  definitivo  desde 
que estejam preenchidos os seus requisitos de forma. 
O  direito  de  preferência  só  surge  caso  o  brigado  tome  a  decisão  de  celebrar  o 
contrato  em  relação  ao  qual  tenha  concedido  a  preferência,  não  havendo 
naturalmente  incumprimento  da  obrigação  de  preferência  se  o  obrigado  celebrar 
um  contrato  de  natureza  diferente  do  contrato  preferível,  mesmo  que  esse 
contrato  implique  a  não  celebração  em  definitivo  do  contrato  preferível.  Há  2 
hipóteses  que  a  lei  considera  poderem  ainda  justificar  a  manutenção  da 
preferência: 
- união de contratos ( 417º); 
- contratos mistos ( 418º); 
 
2.4.1. Violação da obrigação de preferência 
➣Indemnização por incumprimento em caso simples eficácia obrigacional: 
A  partir  do  momento  em  que  o  obrigado  à  preferência  celebra  com  terceiro  um 
contrato  incompatível  com  a  preferência,  sem  efetuar  a  qualquer  comunicação 
para  a  preferência  ou  tendo-a  efetuado,  se  o  titular  tiver  comunicado  dentro  do 
prazo, a intenção de exercer a preferência. 
​⇩  
Incumprimento + Direito de Indemnização ao titular da preferência(798º) 
 
➣ Ação de preferência em caso de haver eficácia real 
O titular da preferência não possui apenas um direito de crédito à preferência, mas 
também  um  direito  real  de  aquisição  que  pode  ser  erga  omnes,  mesmo  a 
posteriores adquirentes da propriedade.  
 
Legitimidade  passiva  para  a  ação  de  preferência  ⇒  ​Almeida  Costa  +  Menezes 
Cordeiro “​o obrigado à preferência não seria, enquanto tal parte legítima para ação 
de  preferência.  só  sendo  caso  o  titular  da  preferência  decida  simultaneamente 
exigir uma indemnização.  
 
Problema  da  simulação  do  preço:  ​E  se  as  partes  no  intuito  de  enganar  terceiros 
podem  por  acordo  celebrar  um  negócio  que  não  corresponda  à  sua  verdadeira 

29
vontade,  com  a  indicação  de  um  preço  superior  ou  inferior  no  intuito  de 
defraudar o exercício da competência ? 
→  Preço  Superior:  o  negócio  será  nulo  (  240º.2),  a  preferência  é  naturalmente 
exercida em relação ao negócio válido.  
→​Preço  Inferior  :  ​Menezes Cordeiro sustenta a não permissão aos simuladores de 
exigir  que  a  preferência  seja  realizada  pelo  preço  real  equivale  a  autorizar  um 
enriquecimento ilegítimo do preferente à custa dos simuladores que nada justifica. 
Sustentado  através  de  uma  interpretação do 243º.2, não considerado a situação do 
preferente  neste  caso  como  a  de  um  terceiro  de  boa  fé  ,  pois  o  direito  de  adquirir 
por  determinado  preço  só  se constituiria com a sentença que julgasse procedente a 
ação de preferência.  
 
2.4.2. Natureza da obrigação de preferência: 
➪​Manuel de Andrade e Galvão Telles​: obrigação de contratar  
➪​Menezes  Cordeiro​:  obrigação  de  conteúdo  positivo  (  escolher  o  titular  de 
preferência como contraparte, casos se decidir a contratar); 
 
2.5. Conteúdo dos contratos 
2.5.1. Contrato a favor de terceiro 
Previsto  no  443º  ,  reporta-se  a  ➝contrato  em  que  uma  das  partes  se compromete 
perante  outra  a  efetuar  uma  atribuição  patrimonial  (  realização  de  uma  prestação 
443º.1/  liberação  de  uma  obrigação ou na cessação de um crédito) em benefício de 
outrem estranho ao negócio. 
 
Pode ser decomposto em 3 relações: 
⟼  cobertura  (  relação  contratual  entre  promitente  e  promissário,  no  âmbito  da 
qual  se  estabelecem  direitos  e  obrigações  e  a  estipulação  a  favor  de  um  terceiro 
com uma mera cláusula acessória).  
⟼  ​atribuição  (  estabelece  entre  o  promissário  e  o  terceiro  e  justifica  a  outorga 
desse  direito  ao  terceiro,  tendo  por  base  um  interesse  do  promissário  nessa 
concessão- 443º.1) 
⟼  execução  (  consiste  na  relação  entre  o  promitente  ao  terceiro,  no  âmbito  da 
qual ele vem a executar a determinação do promissário). 
 
Regime normal do contrato a favor de terceiro: 

30
O  contrato  a  favor  de  terceiro  faz  nascer  automaticamente  um  direito  para  o 
terceiro,  o  qual  se  constitui  independentemente  de  aceitação  deste  (  444º.1).  A lei 
prevê  ainda  a  possibilidade  de  o  terceiro  aderir  à  promessa  ( 447º.1) , a sua função 
é  antes  impedir a revogação da promessa a qual pode ser efetuada enquanto adesão 
não  for  manifestada  (  448º.1).  A  revogação  compete ao promissário, mas necessita 
do  acordo  do  promitente,  quando  a  promessa  tenha  sido  efetuada  no  interesse de 
ambos ( 448º.2) . 
 
O  contrato  a  favor  de terceiro faz nascer diretamente um crédito na esfera jurídica 
do  terceiro  (  44º.1),  legitimando-o  a  exigir  o  cumpriemnto da promessa. Também 
o  promissário  pode  exigir  do  promitente  o  cumprimento  da  sua  obrigação 
(444º.2),  em  virtude  de  ter  sido  ele  a  acordar  com  o  promitente  a  realização  da 
prestação a terceiro e possuir interesse jurídico no seu cumprimento.9 
 
Regimes especiais de contratos a favor de terceiros : 
➢ Promessa de liberação de dívida como falso contrato a favor de terceiro: 
Costuma  realizar-se  uma  distinção  entre  os  verdadeiros  contratos  a  favor  de 
terceiro  (  443º  e  444º.1  e  2)  e  os  falsos  contratos  a  favor  de  terceiro  exemplo  a 
promessa de liberação (444º.3). 
Situação  em  que  o  promitente  e  promissário  acordam  numa  obrigação  de 
resultado:  a  de  que  o  promitente  obterá  a  extinção  de  uma  dívida  que  o 
promissário  tem  para  com  terceiro.  O  promitente  não  se  obriga  a  realizar  uma 
prestação  a  terceiro,  mas  apenas  a  conseguir  obter  a  ligação  da  dívida  do 
promissário. 
➢ Promessas em benefício de pessoas indeterminadas ou no interesse público 
Designação  do  beneficiário  da  prestação,  não  se  referir  a  uma  pessoa 
indeterminada  mas  antes  a  um  conjunto  indeterminado  de  pessoas  ou  a 
corresponder mesmo a um interesse público.  
 
➥exemplo:  Caso  de  alguém  acordar  com  um  restaurante  que  ele  forneceria  uma 
refeição na noite de Natal aos pobres de determinada região; 
Caso  de  alguém  se  comprometer  a  não  urbanizar  a  um  terreno  em  ordem  a 
permitir a conservação de uma floresta. 

9
​Para Miguel Teixeira de Sousa, existe aqui apenas uma única posição jurídica objetiva que permite a aquisição da 
prestação que é o direito de crédito do terceiro, independentemente de a vinculação subjetiva do promitente ocorrer 
tanto em relação ao terceiro como ao promissário.  

31
➢Promessa de contribuir depois da morte do promissário 
Faz  exceção  ao  regime  do  444º.1,  uma  vez  que  oterceiro  nãop  ode  exigir  o 
cumpriemtno da promessa antes da verificação da morte do promissário. A lei vem 
presumir  que  a  estipulação  das  partes  é  no  sentido  de  que  o  terceiro  só  adquire 
direito  com  a  morte do promissário (451º.1) mas que, se aquele falecer antes deste, 
os seus herdeiros são chamados no lugar dele à titularidade da promessa ( 451º.2). 
 
Outra  característica  é  o  facto  de  a  promessa  ser  sempre  revogável  enquanto  o 
promissário for vivo, independentemente da aceitação do terceiro ( 448º.1). 
 
2.6. Contrato para a pessoa a nomear 
Quando  um  dos  intervenientes  no  contrato  se  reserva  a  faculdade  de  designar  a 
outrem para adquirir os direitos ou assumir as obrigações deste contrato ( 452º.1). 
Os  efeitos  do  contrato  vão  repercutir-se  diretamente  na  esfera  do  nomeado.  Não 
ocorre  qualquer  transmissão  entre  o nomeante ou nomeado. Não ocorre qualquer 
transmissão  entre  o  nomeante  ou  nomeado,  ocorrendo  o  fenómeno  da 
substituição  de  contraentes  após  nomeação,  o  contraente  nomeado  adquire  os 
direitos  e  assume  as  obrigações  provenientes  do  contrato  a  partir  do  momento  a 
celebração dele ( 455º.1) . 
Para  poder  produzir  os  seus  efeitos,  a  nomeação  do  deve  observar  determinados 
requisitos legais, deve ser feita por escrito e no prazo convencionado.  
 
2.7.Negócios Unilaterais 
No  princípio  da  autonomia  privada  consiste  na  celebração  de  contratos,  daí 
resulta uma certa limitação à constituição de obrigações por negócio unilateral: 
- a constituição de obrigações por negócio unilateral implicaria a constituição 
de um direito de crédito na esfera jurídica alheia sem acordo do seu titular; 
- admitir  a  eficácia  dos  negócios unilaterais como constitutivos de obrigações 
poderá  conduzir  à  criação  de  vinculações  precipitadamente  assumidas,  sem 
a prévia obtenção do acordo das partes em relação a elas. 
O artigo 457º estabelecer um princípio da tipicidade dos negócios unilaterais 
 
Menezes  Cordeiro  defende  a  ausência  de  tipicidade  dos  negócios  unilaterais  com 
fundamento  no  caráter  totalmente  livre  da  proposta contratual. Sendo a proposta 
contratual  um  negócio  unilateral,  e  sendo  a  sua  celebração  possível  em  relação  a 

32
qualquer  contrato,  o  princípio  da  tipicidade  fica  esvaziado  de  conteúdo,  uma  vez 
que  a  lei  prevê  um  tipo  de  negócio  suficientemente  abrangente  para  permitir  a 
atipicidade negocial. 
 
2.7.1. Promessa de cumprimento e reconhecimento de dívida 
A  promessa  de  cumprimento  e  reconhecimento  está  referida  no  artigo  458º.1.  A 
lei  exige  em  termos  de  forma  que  a  promessa  ou  reconhecimento  constem  do 
documento  escrito  (  se  outras  formalidades  não  forem  exigidas  para  a  prova  da 
relação fundamental- 458º.2)  
 
2.7.2. Promessa Pública 
Declaração  negocial  dirigida  ao  público,  através da qual se promete uma prestação 
a  quem  se  encontre  em  determinada  situação  ou  pratique  certo  facto  positivo/ 
negativo.  Situação  implica  imediatamente  e  sem  necessidade  de  aceitação  da 
vinculação do promitente a essa promessa ( 459º.1)  
A  declaração  é  emitida  através  de  anúncio  público,  poderá  revestir  formas 
variadas,  abrangendo  qualquer  meio  de  comunicação  social  ou  difusão  pública de 
mensagens,  seja  esta  de  maior  ou  menor  alcance  (  imprensa,  rádio,  televisão  ou 
internet). 
Essa declaração negocial deve ter como conteúdo a promessa de prestação que uma 
vez  emitida  tem  efeito  a  constituição  imediata  de  uma  obrigação  ,  ficando  o 
promitente  desde  logo  vinculado  à  promessa  (  459º.1),  Está-se  por  isso  neste  caso 
perante uma obrigação de sujeito passivo indeterminado, mas determinável (511º). 
Se  na  produção  do  resultado  previsto  tiverem  cooperado  várias  pessoas,  conjunta 
ou  separadamente  e  todas  tiverem  direito  à  prestação  far-se-á  uma  divisão 
equitativa ( 463º). 
 
2.7.3. Concurso Público 
Modalidade  especial  de  negócio  unilateral,  distinta  da  promessa  pública  em 
virtude  de  a  oferta  da  prestação  ocorrer  como  prémio  de  um  concurso,  o  que 
justifica  que  tenha  que  ser  fixado  o  prazo para a apresentação dos concorrentes. A 
decisão  sobre  a  decisão  sobre  a  admissão  dos  candidatos  e  sobre  a  atribuição  do 
prémio  caberá  às  pessoas  designadas  no  anúncio  como júri do concurso ou se não 
houver designação do promitente ( 463º.2). 
 

33
3. Fonte das obrigações baseadas no princípio do 
ressarcimento dos danos 
3.1 A responsabilidade civil  
Responsabilidade  Civil  -  conjunto  de  factos  que  dão  origem  à  obrigação  de 
indemnizar os danos sofridos por outrem.  
Consiste  por  isso,  numa  fonte  de  obrigações  baseada  no  princípio  do 
ressarcimento dos danos.  
 
Pode ser classificada em responsabilidade por: 
→  ​Risco​(  483º.2  e  499º):  imputação  de  acordo  com  critérios  objetivos  de 
distribuição do risco; 
→  Sacrifício:  ​prescinde-se  de  um  juízo  de  desvalor da conduta do agente, sendo a 
imputação  do  dano  baseada  numa  compensação  do  lesado,  justificado  pelo 
prejuízo suportado.  
→  ​Culpa  (  é  a  regra  geral-  483º.1):  a  responsabilização  do  agente  pressupõe  um 
juízo  moral da sua conduta que leve a efetuar uma censura ao seu comportamento. 
Pode ainda ser classificada em:  
⬋ ⬊ 
Delitual ( Extracontratual) -483º ​ O
​ brigacional ( Contratual)-798º 
Está em causa a violação de deveres Resulta do incumprimento das  
genéricos de respeito, de normas obrigações 
gerais destinadas à proteção de outrem. 
⇓ ⇓ 
Regime Unitário de obrigação de Indemnização (562º)  
 
Diferenças entre regimes: 
- Presume-se  a  culpa  na  responsabilidade  obrigacional  (799º.1),  mas  não  na 
delitual ( 487º.1); 
- A  responsabilidade  delitual  tem  prazos  de  prescrição  mais  curtos  (  498º), 
enquanto  que  a  responsabilidade  obrigacional  é  sujeita  aos  prazos  de 
prescrição mais gerais das obrigações ( 309º)  
- É diferente o regime da responsabilidade por atos de terceiro ( 500º e 800º) ; 
- Em  caso  de  pluralidade  de  responsáveis  na  responsabilidade  delitual  o 
regime  aplicável  é  o  da  solidariedade  (  497º),  na  responsabilidade 

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obrigacional  tal  só  acontecerá  se  esse  regime  já  vigora  para  a  obrigação 
incumprida;  
A  ​diferença  entre  a  responsabilidade  delitual  e  a  responsabilidade  obrigaciona​l  é 
que: 
-enquanto  a  responsabilidade  delitual  surge  como  consequência  da  violação  de 
direitos  absolutos  )  aparecem  assim  desligados  de  qualquer  relação  inter-subjetiva 
previamente existente entre lesante e lesado); 
-  já a obrigacional pressupõe a existência de uma relação intersubjetiva, que atribui 
ao  lesado  um  direito  à  prestação  surgindo  como  consequência  da  violação  de  um 
dever emergente dessa relação específica;  
  
3.2. Responsabilidade civil por factos ilícito 
3.2.1 responsabilidade delitual  
O  artigo  483º  vem  a  estabelecer  uma  cláusula  geral  de  responsabilidade  civil 
subjetiva,  fazendo  depender  a  sua  constituição  da  obrigação  de  indemnização  da 
existência  de  uma  conduta  do  agente,  a  qual  representa  a  violação  de  um  dever 
imposto  pela  ordem  jurídica,  sendo  o  agente  censurável,  a  qual  tenha  provocado 
danos que sejam em consequência de um conduta. 
 
Surgem-nos assim os seguintes pressupostos da responsabilidade civil  
 
3.2.1.1 Facto  
O  facto  voluntário  do  lesante  trata-se  de  uma  situação  de  responsabilidade  civil 
subjetiva,  que  nunca  poderia  ser  estabelecida  sem  existir  um  comportamento 
dominável  pela  vontade  que  possa  ser  imputável  a  um  ser  humano  e  visto  como 
expressão da conduta de um sujeito responsável. 
Não  se  exige  que  o  comportamento  do  agente  seja  intencional  ou  sequer  que 
consista  numa  atuação,  bastando  que  exista  uma  conduta  que  lhe  possa  ser 
imputada  em  virtude  de  estar  sobre  o  controlo  da  sua  vontade  (  não  são  por  isso 
factos  voluntários,  por  estarem  fora  do  controle  da  vontade  agente 
acontecimentos como rajadas de vento ou terramotos). 
 
Ao  agente  podem  não  constituir  factos  voluntários  sempre  que  lhe  falte  a 
consciência ou não possa exercer o domínio sobre a sua vontade.  

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➥exemplo​:  Não  envolve  por  isso  a  responsabilidade  civil  a  situação  de  o  agente 
destruir  um  vaso  de  porcelana  precioso,  porque  cai  sobre  ele  em  consequência  de 
uma síncope cardíaca 
 
Se  existir  algum  domínio  da  vontade  já pode, porém haver responsabilidade como 
na hipótese de a destruição do vaso ter regulado de um gesto brusco do agente. 
O facto voluntário do agente pode revestir 2 formas: 
➞ Ação ( 483º): imputação da conduta ao agente apresenta-se como simples; 
➞  Omissão  (  486º)  :  essa imputação ao agente exige algo mais: a sua oneração com 
um dever específico de praticar o ato omitido 
 
Para  alguém  ser  responsável  por  omissão  pelos  danos sofridos por outrem se exija, 
para  além  dos  outros  pressupostos  da  responsabilidade  delitual,  um  dever 
específico, que torne um particular sujeito garante da não ocorrência desses danos. 
 
Conforme  resulta  do  artigo  486º,  esse  dever  específico  de  garante  pode  ser  criado 
por  contrato.  A  doutrina  dos  deveres  de  segurança  ou  da  prevenção  de  perigos 
delituais, permitiu alargar a responsabilidade delitual por omissão. 
 
⟹Sempre  que  alguém  possui  coisas  ou  exerce  uma  atividade  que  se  apresentam 
como  potencialmente  susceptíveis  de  causar  danos  a  outrem,  tem  igualmente  o 
dever  de  tornar as providências adequadas a evitar a ocorrência de danos, podendo 
responder por omissão se o não fizer; 
 
➥  ​exemplo:  ​Se  um  ramo  cai  de  uma  árvore  seca  e  provoca  danos,  o  proprietário  é 
responsável  por  não  a  ter cortado// Se uma criança atinge outra com uma arma de 
caça o dono pode ser responsabilizado por a ter deixado em sítio acessível;  
 
3.2.1.2. Ilicitude  
Exigência  expressa  da  ilicitude  do  facto  praticado  pelo  agente,  que  nos  termos  do 
artigo  483º  pode  consistir  na  violação  de  direitos  subjetivos  alheios,  ou  de 
disposições  legais  destinadas  a  proteger  interesses  alheios  (  334º,335,  484º e 485º). 
Surge  assim  como  um  juízo  de  desvalor  atribuído  pela  ordem  jurídica  ,  ficando  a 
dúvida  em  determinar  que  o  juízo  de  desvalor  se  refere  em  relação  ao 
comportamento do agente ou sobre o seu próprio resultado. 

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Poderíamos  por  vezes  considerar  ilícitos  comportamentos  que  são  perfeitamente 
conformes  ao  tráfego  apenas  porque  são  casualmente  adequados  a  produzir  o 
resultado.  Se  o  agente  atuou  conforme  as  regras  do  tráfego  parece  incorreto 
considerar presente a ilicitude 
➥  ​exemplo:  ​O  condutor  de  comboios  que,  conduzindo  corretamente,  mata  um 
suicida.  
 
A  ilicitude  não  se  aufere  em  relação  ao  resultado  mas  pressupõe  antes  uma 
avaliação  do  comportamento  do  agente.  A  ilicitude  é  avaliada  através  da 
prossecução  de  um  fim  não permitido pelo Direito. Não há ilicitude sempre que o 
comportamento  do  agente  apesar  de  representar  uma  lesão  de  bens  jurídicos,  não 
prossiga qualquer fim proibido por lei. 
No  caso  das  atuações  meramente  negligentes  não  se  mostra  suficiente  a  simples 
lesão  de  bens  jurídicos,  tendo  que  lhe  acrescer  a  violação  do  dever  objetivo  de 
cuidado por agente.  
 
➢Violação de direitos subjetivos 
O artigo 483º.1 consiste na violação de direitos subjetivos. 
 
Características desta modalidade de ilicitude:  
- O  facto  de  ao  se  exigir  uma  lesão  de  um  direito  subjetivo  específico,  se 
limitar  a  indeminização  à  frustração  de  utilidades  proporcionadas  por  esse 
direito,  não  se  admitindo  assim  nesta  sede  a  tutela  dos  danos  puramente 
patrimoniais;  
- O  483º.1,  não  se  reconduz  à  tutela  genérica  do  património  do  sujeito,  mas 
antes  à  tutela  das  utilidades  que  lhe  proporciona  o  direito  subjetivo  objeto 
de violação. 
São  abrangidos por esta modalidade ilicitudes sobre bens jurídicos pessoais como a 
vida, corpo saúde e liberdade, cuja proteção tem aliás dignidade constitucional. 
Outros  direitos  absolutos  como  os  direitos  reais  e  os  direitos  de  autor 
encontram-se tutelados pela responsabilidade civil. 
Os  direitos  de  crédito  não  são  abrangidos , pelo 483º ( uma vez que conforme já se 
referiu  a  sua  tutela  apenas  se  efetua  nos  termos  da  responsabilidade 
contratual-798º). 
 

37
Haverá  ilicitude  sempre  que  sejam  violados  direitos  de  personalidade,  como  o 
direito  ao  nome  (  72º  e  74º)  e  à  não  divulgação  de  escritos  confidenciais  (  75º  a 
78º), à imagem ( 79º) e à intimidade privada ( 80º). 
A  tutela  jurídica  da  personalidade  física  e  moral  (  70º),  que  prevê  a  sua  proteção 
pela responsabilidade civil ( 70º.2). 
 
➢ Ilicitude por violação das normas de proteção  
O  483º.1  refere-se  às  disposições  legais  destinadas  a  proteger  interesses  alheios  ➩ 
Normas de proteção 
Normas  que  embora  dirigidas  à  tutela  de  interesses  particulares  não  atribuem  aos 
titulares  desses  interesses  um  verdadeiro  subjetivo,  por  não  lhes  atribuírem  em 
exclusivo o aproveitamento de um bem. 
Esta categoria de ilicitude tem os seguintes pressupostos:  
- não  adopção  de  um  comportamento,  definido  em  termos  precisos  pela 
norma; 
- fim dessa imposição seja dirigido à tutela de interesses particulares; 
- verificação  de  um  dano  no  âmbito  do  círculo  de  interesses  tutelados  por 
esta via;   
➢T ​ ipos delituais específicos 
- Abuso de Direito (334º) 
Vem  estabelecer  a  ilegitimidade  do  exercício  do  direito  sempre  que  o  seu  titular 
exceda manifestamente os limites impostos pela boa fé.  
No âmbito da responsabilidade civil, a previsão assume 2 funções:  
- limitar  as  possibilidades  de  exclusão  da  ilicitude  por  parte  de  quem  exerce 
um direito subjetivo próprio; 
- estabelecer  o  caráter  ilícito  dos  comportamentos  que  se  apresentem  como 
contrários aos vetores referidos;  
 
- Não cedência em caso de colisão de direitos ( 335º)  
➥  ​exemplo:  ​Vários  comproprietários  pretendem  utilizar aos mesmo tempo a coisa 
comum;  
Se  não se verificar essa cedência naturalmente que estará preenchido o requisito da 
ilicitude para efeitos da responsabilidade civil.  
 
- Ofensa ao crédito ou bom nome ( 484º)  

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Esta  previsão  abrange  indistintamente  a  afirmação  ou  difusão  de  quaisquer  fatos 
sejam eles falsos ou verdadeiros?  
→  ​Pessoa  Jorge​:  desde  que  a  divulgação  não  integrasse  os  pressupostos  de  um 
previsão penal, não haveria responsabilidade pela divulgação de factos verdadeiros, 
já que teria que se considerar ilícita a atividade das agências de informações.  
→  ​Antunes  Varela​:  considerou  abrangida  também  aqui  a  divulgação  de  factos 
verdadeiros  já  que  este  representa  igualmente  uma  ofensa  ao  crédito  ou  do  bom 
nome; 
→​Menezes  Cordeiro  +  ​Almeida  Costa​:  embora  a  regra  seja  a  irrelevância  da 
veracidade  ou  falsidade  do  facto,  sempre  que  a  difusão  corresponda  a  interesses 
legítimos  deve-se  admitir  a  exclusão  da  responsabilidade  com  base  na  ​exceptio 
veritatis​.  
→  Ribeiro  de  Faria​:  ​a  divulgação  de  factos  verdadeiros  apenas  deverá  envolver  a 
responsabilização  do  agente  se  for  efetuada  dolosamente,  pelo  que  a  não  se 
considerar  consagrada  esta  solução  no  484º,  não  poderá  admitir-se  a  inclusão  no 
seu âmbito de divulgação de atos verdadeiros.   
 
- Responsabilidade por conselhos, recomendações e informações(485º) 
A  regra  geral  prevista  no  artigo  485º.1  é  a  irrelevância  para  efeitos  de 
responsabilidade  civil  ainda  que  tenha  atuado  com  negligência.  O  artigo  485º.2 
admite  porém  a  responsabilidade  do  autor  pelos  danos  sofridos pelo seu repôr em 
3 situações:  
 
1-  ​Quando  se  haja  assumido  a  responsabilidade  pelos  danos​( assume a natureza de 
uma  garantia  contra  a  ocorrência  de  danos  na  esfera  do  receptor  caso,  seja 
adoptado o comportamento indicado). 
2-  ​Quando  exista  um  dever  jurídico  de  dar  o  conselho,  recomendação  ou 
informação  e  se  tenha  procedido  com  negligência  ou  intenção  de  prejudicar  ( 
situações  em  que  a  lei  impõe  deveres  jurídicos  de  prestação  de  informação  ou  de 
aconselhamento | ex: deveres de informação relativos a valores mobiliários); 
3- ​Procedimento do agente constitua facto punível  
 
O  que  sucede  se  não  se  verificar  qualquer  destas  3  situações  mas  o  agentes  tiver 
atuado em dolo? 

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- Pessoa  Jorge  +  Almeida  Costa:  a  atuação  dolosa  do  agente  está  igualmente 
abrangida pela exclusão da responsabilidade prevista no artigo 485º.1; 
- Menezes  Cordeiro:  sustenta  que  qualquer  atuação  dolosa  envolve 
necessariamente  responsabilidade  por  parte  do  agente  relativamente  aos 
danos causados pela informação falsa;  
 
➢​ Causas de exclusão da ilicitude: 
- Exercício de um direito: 
Se  alguém  tem  um direito subjetivo e o exerce, não deve responder pelos danos daí 
resulte para outrem. 
➥  ​exemplo:  ​Se  alguém  tiver  uma  licença  de  caça  poderá  caçar  num  determinado 
terreno  em  que  tal  lhe  seja  permitido,  sem  que  o  seu  proprietário  possa  reclamar 
indemnização pelas peças de caça abatidas. 
 
- Cumprimento de um dever: 
Vigorando  para  o sujeito o dever de adoptar determinada conduta este pode ver-se 
forçado a acatá-la ainda que para isso tenha que infringir outros deveres relativos. 
➥  ​exemplo:  ​O  médico  que  apenas  dispõe  de  um  número  limitado  de  unidades 
para  efetuar  transfusões  de  sangue  pode,  em  caso  de  excesso  de  sinistrados,  optar 
por privilegiar os doentes em maior risco, sem que atua ilicitamente;  
 
- Legítima Defesa: 
Prevista  no  artigo  337º,  consiste  numa  atitude  defensiva  do  agente  que  estando  a 
ser vítima de uma agressão põe termo a essa geração pelos seus próprios meios. 
Deve-se observar os p ​ ressupostos10: 
 
➛ Existência de uma Agressão;  
➛ Contra a pessoa/ património do agente ou de terceiro; 
➛ Atualidade e contrariedade à lei dessa agressão; 
➛ Impossibilidade de recurso aos meios normais; 
➛  Proporcionalidade  (  prejuízo  causado  pelo  ato  não  seja  manifestamente 
superior ao que pode resultar da agressão); 
 
 

10
​O medo invencível justifica o ato ,ainda que haja excesso (337º.2) 

40
- Ação Direta:  
Prevista no artigo 336º, tendo os seguintes pressupostos: 
➛ realização/ proteção de um direito subjetivo do próprio agente; 
➛ impossível recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais; 
➛  a  atuação  do  agente  seja  indispensável  para  evitar  a  inutilização  prática  do 
direito; 
➛o agente não exceda o que for necessário para evitar o prejuízo; 
➛  o  agente  não  sacrifique  interesses superiores aos que a sua atuação visa realizar/ 
assegurar; 
 
- Estado de Necessidade: 
O  artigo  339º  prevê  o  regime  do  estado  de  necessidade,  ao  contrário  da  legítima 
defesa,  apenas justifica o sacrifício de bens patrimoniais . Permitindo que o agente 
remova  um  perigo  de  um  dano  a  o  correr  na  sua  própria  esfera  de  terceiro  ainda 
que  em  certos  casos  imponha  uma  obrigação  de  compensar  danos  sofrido  pelo 
lesado ( 339º.2). 
 
- Consentimento do lesado: 
Previsto  no  artigo  340º.1  ,  destinando-se  a  responsabilidade  civil  à  tutela  de 
interesses  privados  e  normalmente  disponíveis,  o  seu  titular  poderá  renunciar  a 
essa  tutela.  A  existência  de  consentimento  retira  ao ato lesivo a sua natureza ilícita 
(  exige-se  no  entanto que os atos consentidos não se apresentem como contrários a 
uma proibição legal ou aos bons costumes- artigo 340º.2). 
 
O  consentimento  poderá  ser  expresso  ou  tácito.  No  caso  de  lesões  causadas  em 
práticas  desportivas  perigosas  (  como  o  boxe),  é  de  considerar  que  a  participação 
nelas envolve uma aceitação tácita e recíproca do risco dos acidentes.  
 
3.2.1.3 Culpa 
Culpa-  ​juízo  de  censura  ao  agente  por  ter  adoptado  a  conduta  que  adoptou, 
quando  de  acordo  com  o  comando  legal  estaria  obrigado  a  adoptar  uma  conduta 
diferente . 
Em  sentido  normativo,  é  a  omissão  da  diligência  que  seria  exigível  ao  agente  de 
acordo com o padrão de conduta que a lei impõe.  
 

41
➢  ​Imputabilidade  como  pressuposto  da  culpa e o regime da responsabilidade 
dos inimputáveis: 
Para  que  o  agente  possa  ser  censurado  pelo  seu  comportamento  é  sempre 
necessário  que  ele  conhecesse  ou  devesse  conhecer  o  desvalor  do  seu 
comportamento e que tivesse podido escolher a sua conduta:  
→  ​falta  de  imputabilidade  quando  o  agente  não  tem  a  necessária  capacidade para 
entender  a  valorização  negativa do seu comportamento ou lhe falte a possibilidade 
de o determinar livremente;   
→  imputabilidade  é  um  pressuposto  do  juízo  de  culpa,  o  agente  fica  isento  de 
responsabilidade  se  praticar  o  facto  em  estado  de  inimputabilidade  (  488º.1),  a  lei 
presume  que  se  verifica sempre que o agente seja menor de 7 anos ou interdito por 
anomalia psíquica ( 488º.2) . 
 
Conforme  resulta  do  artigo  488º.1,  a  falta  de  imputabilidade  não  exclui  no 
entanto  a  responsabilidade.  Quem  inconscientemente  causou  danos  a  outrem  em 
virtude  de  ter  ingerido  substâncias  psicotrópicas  ou  se  ter  deixado  adormecer  a 
conduzir veículos automóveis, não deixa de responder por esses danos. 
 
A  possibilidade  de  por  motivos  de  equidade  (  489º.1),  responsabilizar  total  / 
parcialmente  o  inimputável  pelos  danos  que  este  causar,  desde  que  não  seja 
possível obter a devida reparação das pessoas a quem incumbe a sua vigilância. 
 
Em  relação  a  esta  norma  é  manifesta  a  subsidiariedade  em  relação  à 
responsabilidade  dos  vigilantes  (  491º),  exigindo-se  que  portanto  para  a  sua 
aplicação  ou  que  não  exista  vigilante  ou  que,  existindo  ele  não  seja  responsável 
pela  situação,  ou  ainda  que,  sendo  responsável,  não  tenha  meios  para  pagar  a 
devida reparação.  
 
➢​ O dolo e a negligência 
O artigo 483º prevê 2 formas de culpa: 
- dolo ​( intenção do agente praticar o facto); 
- negligência  ​(  não  se  verifica  essa  ​intenção,  mas  o  comportamento  do 
agente  não  deixa  de  ser  censurável  em  virtude  de  ter  omitido  a  diligência  a 
que estava legalmente obrigado); 

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Se  o  agente  agir  em  com  dolo  atua  logo  ilicitamente  desde  que  lese  algum  direito 
subjetivo  alheio  ou  um  interesse  objeto  de  uma  norma  de  proteção.  Se  não  existir 
uma  atuação  dolosa  do  agente,  só  haverá  ilicitude,  se  o  agente  violar  um  dever 
objetivo de cuidado na lesão de bens jurídicos. 
 
Existem  2  graus  de  negligência  (  em  ambas  as  situações  não  deseja  efetivamente  a 
verificação do facto) : 
➛  Consciente  (  violado  dever  de  diligência  a  que  estava  obrigado,  representa  a 
verificação  do  facto  como  consequência  possível  da  sua  conduta,  mas  atua  sem  se 
conformar com a sua verificação) 
➥  ​exemplo:  ​Alguém  que  conduz  em  desrespeito  às  regras  de  trânsito  admite  a 
possibilidade de provocar uma acidente, mas convence-se que tal não acontecerá) 
 
➛​Inconsciente  (  violado  o  dever  de  diligência  a  que  estava  obrigado  não  chega 
sequer a representar a verificação do facto) 
➥  ​exemplo:  ​Alguém  infringe  as  regras  de  trânsito  sem  sequer  equacionar  a 
possibilidade de provocar um acidente; 
 
Existem ​3 graus de dolo​:  
➛  dolo  direto​(o  agente  quer  a  verificação  do  facto  sendo  a  sua  conduta  dirigida 
diretamente a produzi-lo); 
➥ e​ xemplo: ​Se alguém pretendendo a morte de outrem o atingir a tiro; 
 
➛dolo  necessário  (o  agente  não  dirige  a  sua  atuação  diretamente  a  produzir  a 
verificação do facto, mas aceita-o como consequência necessária da sua conduta); 
➥  ​exemplo:  ​O  indivíduo  que  coloca  uma  bomba  numa  embaixada, sabe que a sua 
atuação  irá  inevitavelmente  implicar  a  morte  ou  ferimentos  graves  para  os  que  se 
encontrarem no respetivo edifício; 
 
➛  dolo  eventual  (  o  agente  representa  a  verificação  como  consequência  possível 
da sua conduta e atua, conformando-se com a sua verificação);  
➥  ​exemplo:  ​A  violação  de  regras  de  trânsito  pelo  agente  consistem  em  ele  entrar 
conscientemente  na  auto-estrada  a  alta  velocidade  em  contra-mão, 
comportamento que toda a gente que irá conduzir a um acidente;  
 

43
Dolo Eventual // Negligência Consciente: 
- a  diferença  poderá  residir  no  grau  de  probabilidade  com  que  o  resultado  é 
representado  pelo  agente,  havendo  dolo  eventual  quando  o  agente 
representasse  o  resultado  como  extremamente  provável  e  negligência  no 
caso contrário; 
- haverá  dolo  eventual  se o agente, na hipótese de ter considerado como certo 
o resultado da sua conduta não tivesse adoptado comportamento diferente;  
 
➢ Critérios de apreciação e graduação da culpa: 
O juízo de censura ao agente pode ser feito por 2 formas: 
- Apreciando  a  ​culpa  em  concreto​,  exigindo  ao  agente  a  diligência  que  ele 
põe habitualmente nos seus próprios negócio/ de que é capaz; 
- Apreciação  da  ​culpa  em  abstrato​,  exigindo  a  lei  ao  agente  da  diligência 
padrão dos membros da sociedade a diligência do homem médio (487º.2)11; 
 
Para  vários  efeitos  é  relevante  a  graduação  da  culpa  em  relação  à  obrigação  da 
determinação da obrigação de indemnização:  
 
1​-  ​No  artigo  494º,  em casos negligência do agente a indeminização pode ser fixada 
em  montante  inferior  aos  danos  causados,  tendo  em  consideração  o  grau  de 
culpabilidade,  a  par  da  situação  económica  do  agente  e  do  lesado  e  demais 
circunstâncias do caso; 
2​-  ​Pluralidade  de  responsáveis  pelos  danos  (490º),  caso  em  que  a  obrigação  de 
indemnização  é  solidária  (497º.1),  repartindo-se  nas  relações  internas  de  acordos 
com a medida das respectivas culpas, que se presumem iguais (497º.2+507º.2); 
3​-  Releva  em  caso  de  concurso  com  a culpa do lesado, caso em que é a ponderação 
das  culpas  de  ambos  que  poderá  determinar  a  concessão,  redução  ou  exclusão  de 
indemnização ( 570º) 
 
Graduação da culpabilidade: 
- Culpa  Grave  ​(  situação  de  negligência  grosseira,  em  que  a  conduta  do 
agente  só  seria  susceptível  de  ser  realizada  por  uma  pessoa  especialmente 
negligente); 

11
Não deixa de exigir, no entanto, uma análise das circunstâncias do caso, ou seja, do condicionalismo da situação e da 
atividade em causa. A diligência exigida a um profissional qualificado na sua atividade não seja a mesma que é exigida a 
um transeunte em passeio. 

44
- Culpa  Leve  (  situação  em  que  a  conduta  do  agente  não  seria  susceptível  de 
ser  praticada  por  um  homem  médio,  correspondendo  assim  a  sua atuação à 
omissão da diligência do b​ onus pater familias​); 
- Culpa  Levíssima12  (  corresponde  à  situação  em  que  a  conduta  do  agente  só 
não  seria realizada por uma pessoa excepcionalmente diligente, uma vez que 
mesmo o homem médio não a conseguiria evitar).  
 
➢​ Prova da Culpa 
Incumbe  ao  lesado  a  prova  da  culpa  do  autor  da  lesão  (487º.1).  em  caso  de 
probatio  diabolica  (  prova  difícil  de realizar), esse ónus a cargo do lesado reduz em 
grande medida as suas possibilidades efetivas de obter indeminização. 
A  lei  estabelece  presunções  de  culpa  (  verificando-se  uma  inversão  do  ónus  da 
prova-  350º.1),  por  conta  do  lesante.  As  presunções  genericamente  ilidíveis  ( 
350º.2),  as  dificuldades  de  prova  neste  domínio  tornam,  em  caso  de  presunção  de 
culpa,  muito  mais  segura  a  obtenção  de  indeminização  pelo  lesado.  Exemplos  de 
presunção de culpa: 
- Danos causados por incapazes: 
Danos  causados  pelos  incapazes  naturais  (  491º),  estabelecendo  uma presunção de 
culpa  das  pessoas  a  quem  incumbe  a  vigilância,  pode  ser  ilidida  através  da 
demonstração  de  que  cumpriram  o  seu  dever  de  vigilância.  A  responsabilização 
parte  da  presunção  de  não  cumprimento  do  dever  de  vigilância,  por  parte  das 
pessoas  sobre  as  quais  este  recai  por  lei,por  negócio  ou  indicada  através da prática 
de um facto danoso pelo incapaz natural ( menor ou deficiente físico / mental) 
Se  o  vigiado  for  considerado  imputável  (488º)  e  continuar  a  existir  a 
responsabilidade  do  vigilante,  caso  em  que  ambos  responderão  solidariamente 
(497º).  Se  o  vigiado  for  inimputável,  só  o  vigilante  responderá  (491º),  só  se 
admitindo  ação  contra  o  vigiado,  por  motivos  de  equidade  no  caso  de  ser 
impossível exigir responsabilidade ao vigilante ( 489º) . 
 
-Danos causados por edifícios ou outras obras: 
O  artigo  492º1,  pressupõe  o  vício  da  construção  ou  defeito  de  conservação, 
estabelecendo nesse caso uma presunção de culpa que recai sobre o proprietário ou 
possuidor  do  edifício.  Transfere-se  para  a  pessoa  obrigada,  por  lei  ou  negócio 
jurídico, a conservar o edifício/ obra (492º.2). 

12
​A culpa levíssima não é nesta sede considerada atualmente como culpa 

45
→​Antunes  Varela:  A aplicação desta presunção de culpa depende da prova de que 
existia  um  vício  de  construção  ou  um  defeito  de  conservação  no  edifício  ou  obra 
que ruiu deveria ser realizada pelo lesado. 
→​Menezes  Leitão:  Fazer  recair  esta  prova  sobre  o  lesado  equivale  a  retirar  grande 
parte  do  alcance  à  presunção  de  culpa.  Salvo  no  caso  extraordinários  (  como  nos 
terramotos),  a  ruína  de  um  edifício  ou  obra  é  um  facto  que  indica  só  por  si  o 
incumpriemnto  de  deveres  relativos  à  construção/  conservação  dos  edifícios  ,  não 
se  justificando  por  isso  que  recaia  sobre  o  lesado  o  ónus  suplementar  de 
demonstrar a forma como ocorreu esse incumprimento. 
 
- Danos causados por coisas ou animais: 
A  culpa  presumida  por  parte  de  que  tiver  em  seu  poder  coisa  móvel  ou  imóvel, 
com  o  dever  de  vigiar  bem  como  animais  (493º).  Pressupõe  em  face  da 
perigosidade  imanente  de  certas  coisas  o  surgimento  de um dever de segurança no 
tráfego  (  como  paióis  explosivos,  depósitos  de  gasolina,  máquinas  industriais, 
árvores secas). 
Normalmente  a  obrigação  de  vigilância  recairá  sobre  o  proprietário  da  coisa  ou 
animal,  podendo  porém  recair sobre detentores onerados com essa obrigação, caso 
em que o proprietário deixará de ser sujeito a responsabilidade. 
 
- Danos resultantes de atividades perigosas: 
O  artigo  493º.2  presume  a  culpa  daquele  que  causar  danos  a  outrem  no  exercício 
de  uma  atividade,  perigosa  por  sua  própria  natureza  ou  pela  natureza  dos  meios 
utilizados.  Constitui  uma  cláusula  geral  que  necessita  de  um  preenchimento 
valorativo em relação à qualificação da atividade como perigosa.   
 
➢​ Causas de exclusão de culpa: 
A  culpa  pode  ser  excluída  sempre  que  o  agente  se  encontre  em  determinada 
situação  que  afasta  a  possibilidade  de  a  ordem  jurídica  estabelecer  um  juízo  de 
censura em relação ao seu comportamento.  
 
- Erro desculpável 
A  atuação  do  agente  resulte  de  uma  falsa  representação  da  realidade,  que  não  lhe 
possa,  em  face  das  circunstâncias,  ser  censurada  (  o  artigo  338º  reside  sobre  os 
pressupostos da legítima defesa ou do estado de necessidade). 

46
➥  ​exemplo:  Alguém  anda  a  ser  perseguido  numa  floresta  por  um  grupo  de 
assaltantes  e  na  fuga  depara  com  2  homens  armados  que  julga  fazerem  parte  do 
grupo,  pelo  que  os  resolve  atingir  os  dois  a  tiro,  vindo  porém  mais  tarde  a 
descobrir  que  esses  dois  homens  eram  simples  caçadores.  Neste  caso,  ocorrerá  a 
exclusão  da  culpa  do  agente  ,  uma  vez  que  a  sua  reação  é  compreensível  naquelas 
circunstâncias. 
 
-Medo Invencível: 
A  atuação  do  agente  tenha  sido  provocada  por  um  medo  que  ele  não  conseguiu 
ultrapassar,  sem  que  tal  lhe  possa,  em  face  das  circunstâncias, ser censurado. Pode 
surgir  em  resultado  de  atuações  humanas  (  a  coação  psicológica  por  um  terceiro), 
como  em  resultado  de  fatores  objetivos  (  perigo  desencadeado  por  fenómenos 
naturais).  
No  entanto,  se  o  perigo  ameaçava  um  bem pessoal do agente ou terceiro e se não é 
censurável  ao  agente  não  ter  sido  capaz de vencer o medo que o atingiu, a situação 
representa  uma  causa  de  exclusão  da  culpa,  o  que  justifica  a  ausência  de 
responsabilidade.  O  medo  em  causa  de  exclusão  da  culpa,  diz  respeito  ao  excesso 
de legítima defesa.  
 
- Desculpabilidade: 
Embora  não  se  verificando medo nem erro, em face das circunstâncias do caso não 
lhe fosse exigível comportamento diferente. 
➥  ​exemplo:  ​Um médico que causa danos ao doente numa intervenção cirúrgica de 
emergência,  em  virtude  de  num  estado  de  emergência  geral  provocado  por  uma 
catástrofe. 
 
➢ Concurso da culpa do lesado: 
A  culpa  do  lesante  pode  concorrer  com  a  existência simultânea de culpa do lesado 
(  487º.2),  como  a  omissão  de  diligência  que  teria  levado  um  bom  pai  de  família, 
nas  circunstâncias  do  caso.  Tendo  sido  demonstrada  a  culpa  do  lesante  (  570º.1), 
no  caso  de  culpa  do  lesante  não  ter  sido  provada  apenas  presumida,  a  culpa  do 
lesado salvo disposição em contrário, exclui o dever de indeminizar ( 570º-2). 
 
O  regime  da  culpa  do  lesado,  demonstra  que  não  sendo  o  juízo  de  censura 
exclusivamente  estabelecido  em  relação  à  conduta  do  lesante,  não seria justificado 

47
obrigá-lo  a  indemnizar  todos  os  danos  sofridos  pelo  lesado,  havendo  antes  que 
efetuar  uma  ponderação  de  ambas  as  culpas  e  das  consequências  que  delas 
resultaram,  sendo  em  função  dessa  ponderação  que  se  estabelecerá  a 
indemnização. 
a  existência  de  dolo  do  lesante  exclui  a  possibilidade  de  ponderação  da  culpa  do 
lesado, uma vez que o 570º não estabelece esse requisito. 
➥  ​exemplo:  Se  alguém  atingir  outrem  com  uma  faca,  no  intuito  de  lhe  causar 
danos  corporais  e  os  danos  vêm  ser  consideravelmente  agravados  por  o  lesado  se 
recusar  a  tratar  o  ferimento,  a  agravação  dos danos sofridos deve ser-lhe imputada 
e não ao lesante. 
 
A  lei  estabelece equiparação entre a culpa do lesado e a culpa dos seus auxiliares ou 
das  pessoas  de  que  ele  se  tenha  utilizado  (  artigo  571º),  evitando assim que o juízo 
da  culpa  que pode recair sobre o lesado seja prejudicado pela interposição da culpa 
de alguma destas entidades.  
 
3.2.1.4. Dano 
É uma condição essencial da responsabilidade, entendida como a supressão de uma 
vantagem  de  que  o  sujeito  beneficiava  ou  a  frustração  de  uma  utilidade  que  era 
objeto de tutela jurídica. 
  
Cabe fazer uma distinção entre: 
- Dano  em  sentido  real  (  avaliação  em  abstrato  das  utilidades  que  eram 
objeto  de  tutela  jurídica,  o  que  implica  a  sua  indemnização  através  do 
objeto  lesado-restauração  natural-  ou  da  entrega  de  outro  equivalente  - 
indemnização específica); 
- Dano  em  sentido  material  (  avaliação  concreta  dos  efeitos  da  lesão  no 
âmbito  do  património  do  lesado,  consistindo  assim  a  indemnização  na 
compensação  da  diminuição  verificada  nesse  património  em  virtude  da 
lesão);  
➥  ​exemplo:  Se  alguém  embate  no  carro  de  outra  pessoa,  o  dano  em  sentido  real 
consistirá  na  perda  ou  na  deterioração  do  automóvel.  O  dano  em  sentido 
patrimonial  corresponderá  às  alterações  que  se  verificam  no património do lesado 
em  consequência  dessa  perda/  deterioração  designadamente  das  despesas  do 
conserto).  

48
 
Dano  
⇙ ⇘ 
Real Patrimonial 
⇙ ⇘ 
Dano Emergente Lucro Cessante 
 
O  artigo  562º  estabelece  o  princípio  geral,  o  que  implica  que  a  lei  dê  primazia  à 
reconstrução  natural  do  dano  ou  à  sua  indemnização  em  espécie,  no  âmbito  da 
obrigação de indemnização. 
O  critério  predominante  é  o  da  determinação  do  dano  em  sentido  real,  devendo 
proporcionar-se  ao  lesado  as  mesmas  utilidades  que  ele  possuía  antes  da  lesão, 
através da reconstituição do bem afetado ou da entrega de um bem idêntico. 
Quando  não  é  possível  reparar  o  bem  ou  entregar  outro  equivalente  ou  quando 
essa  forma  de  indemnização  não  seja  o  suficiente  para  reparar  todos  os  danos 
sofridos  pelo devedor, ou ainda quando se torna absolutamente desproporcionado 
em  face  dos  sacrifícios  que  importa  exigir  do  lesante  a  reconstituição  natural  do 
dano, a lei vem estabelecer que a indenização seja fixada em dinheiro.  
 
➢ Danos Emergentes e Lucros Cessantes 
Dano  Emergente​-  corresponde  à  situação  em  que  alguém  em  consequência  da 
lesão vê frustrada uma utilidade que já tinha adquirido; 
Lucro  Cessante​- corresponde àquela situação em que é frustrada uma utilidade que 
o lesado iria adquirir, se não fosse a lesão (564º.1). 
 
Ambos  devem  ser  abrangidos  pelo  dever  de  indemnizar,  os  lucros  cessantes  só  se 
verificam  se  se  o  lesado,  no  momento  da  lesão,  for  titular  de  uma  expectativa 
jurídica  que  lhe  permitisse  a  aquisição  de  um  benefício  tendo  deixado  essa 
aquisição de se verificar. 
 
➢ Danos presentes e Danos futuros  
Os  danos consideram-se presentes se já se encontrarem verificados no momento da 
fixação  da  indemnização,  sendo  futuros  no  caso  contrário.  A  lei  vem  referir  no 
artigo  564º.2,  que  o  facto  de  o  dano  ainda  não se ter verificado não é fundamento 
para  excluir  a  indemnização,  bastando-se  o  tribunal  com  a  previsibilidade  da 

49
verificação  de  o  dano  para  afixar.  A  fixação  da  indemnização  naquele  momento 
depende, da determinabilidade do dano futuro;  
 
➢Danos patrimoniais e Não Patrimoniais : 
Danos  Patrimoniais  -  correspondem  à  frustração  de  utilidades  susceptíveis  de 
avaliação  pecuniária,  como  na  hipótese  da  destruição  de  coisas  pertencentes  ao 
lesado.  
Danos  Não  Patrimoniai​s-  aqueles  que  correspondem  à  frustração  de  utilidades 
não  susceptíveis  de  avaliação pecuniária como desgosto resultante da perda de um 
ente querido 
 
A  distinção  tem  que  ver  com  o  tipo  de  utilidades  que  esse bem proporciona e que 
se vieram a frustrar com a lesão.  
➥  ​exemplo:  ​Se  alguém  causa  uma  lesão  uma  lesão  no  corpo  de  outrem,  este  sofre 
danos  não  patrimoniais,  correspondentes  à  dor  e  ao  sofrimento  físico suportados, 
mas  pode  também  sofrer  danos  patrimoniais,  correspondentes  à  redução  do valor 
da sua força de trabalho: 
 
Do  artigo  496º.1  resulta  assim  claramente  a  admissibildiade  genérica  do 
ressarcimento  dos  danos  não  patrimoniais.  A  lei  refere-nos  que  a  indemnização 
pelos  danos  não  patrimoniais  é  fixada equitativamente, tomando em consideração 
não  apenas  a  extensão  dos  danos  causados  ,  mas  também  o  grau  de  culpabilidade 
do  agente,  a  situação  económica  deste  e  do  lesado  e  as  demais  circunstâncias  ( 
496º.4+494º) → A indemnização por danos não patrimoniais não reveste natureza 
exclusivamente ressarcitória, mas também cariz punitivo.  
 
➢ A Morte como dano 
Determinar  a  possibilidade  de  indemnização  da  morte  de  uma  pessoa. 
Efetivamente,  as  ofensas  de  que  resulte  a  morte  de  uma  pessoa  podem  dar origem 
aos seguintes danos: 
- perda da vida da própria vítima; 
- danos  não patrimoniais sofridos pelos familiares da vítima em consequência 
da sua morte; 
- no  caso  de  a  morte  não  ser  instantânea,  danos  não  patrimoniais  sofridos 
pela vítima e pelos seus familiares até à ocorrência da morte;  

50
→​Antunes  Varela  +  Oliveira  Ascensão  :  ​contestam  a  possibilidade  de  atribuição 
de  indemnização  pela  perda  da  vida  dizendo  que  o  artigo  68º  diz  que  a 
personalidade  jurídica  cessa  com  a  morte,  pelo  que  a  morte  não  permitirá  a 
aquisição  de  qualquer  direito,  não  podendo  consequentemente  o  direito  de 
indemnização ser transmitido.  
→  Menezes  Cordeiro  +  Menezes  Leitão:  propugnam  que  independentemente  do 
artigo  68º.1,  a  vida  constitui  um  bem  jurídico  cuja  lesão  faz  surgir  na  esfera 
jurídica  da  vítima  o  direito  a  uma  indemnização  que  naturalmente  se  transmitirá 
aos seus herdeiros ( 2024º). 
 
Os  artigos  496º.2  ,3  e  4  referem-se  aos  danos  não  patrimoniais  sofridos  pelas 
pessoas  em  consequência  da  morte  da  vítima.  O  facto  que  é  susceptível  de 
provocar  dor  e  sofrimento  numa  série  de  outras  pessoas,  desde  os  familiares, 
amigos  até  simples  conhecidos  ou  admiradores  (o  legislador  restringiu  a  apenas 
cônjuge e filhos em disposições mais comuns ). 
 
O  496º.4  trata  os danos não patrimoniais ocorridos antes dessa morte, sendo que a 
lesão  que  causou  a  morte,  no  caso  de  esta  não  ter  sido  instantânea,  pode  ter 
produzido  dor  e  sofrimento  quer  na  vítima,  quer  nos  seus  familiares  mais 
próximos.  
 
➢​ Perda de oportunidade como dano: 
A  doutrina  que  aceita  a  indemnização  com  base  na  determinação  das 
probabilidades  que  a  oportunidade  tinha  de  se  verificar,  nunca  concedendo, 
mesmo perante fortíssimas probabilidades mais do que uma indemnização parcial.  
 
A  perda  de  oportunidade  é vista como um dano emergente, considerando-se que a 
oportunidade  corresponderia  a  um  benefício  esse  que  deve  calcular  com  base  nas 
probabilidades de realização da oportunidade.  
 
3.2.1.5 Nexo de causalidade entre o facto e o dano 
A  indemnização  estabelecida  no  483º  resultado  danos  resultantes  da  violação,  o 
que  implica  exigir  que  esse  comportamento  seja  causa  dos  danos  sofridos,  ou  seja 
que haja um nexo de causalidade entre o facto e o dano. 

51
O  facto  pode  ser  causa  do  dano  em  termos  muito  remotos,  que  torna  difícil 
responsabilizar o agente por este. 
➥  ​exemplo:  ​O  comerciante  que  vende  uma  vaca  a um lavrador que a coloca junto 
dos  seus  outros  animais,  acabando  todos  por  vir  a  perecer  da  doença  que  a  vaca 
tinha  mas  que o comerciante dissimulou, sendo que todos os animais morrerão e o 
agricultor acaba por tomar a sua própria vida.  
 
O  comerciante  não  pode  ser  responsabilizado  por  todos  os  danos  que  advenham 
desse  evento  por  isso  terem  de  os  avaliar  por  um  critério  jurídico,  o  do  nexo  de 
causalidade entre facto e dano.  
 
➢ Teoria do escopo da norma violada: 
Para  o  estabelecimento  do  nexo  de  causalidade  é  apenas  necessário  averiguar  se os 
danos  que  resultaram  do  facto  correspondem  à  frustração  das  utilidades  que  a 
norma  visava  conferir  ao  sujeito  através  do  direito  subjetivo  ou  da  norma 
proteção. 
A  questão  de  determinação  do  nexo  acaba  por  se  reconduzir  a  um  problema  de 
interpretação  do  conteúdo  e  fim  específico  da  norma  que  serviu  de  base  à 
imputação dos danos.  
A  obrigação  de  reparar  os  danos  causados  constitui  uma  consequência  jurídica de 
uma norma relativa à imputação de danos. 
➥  ​exemplo:  ​O  alarme  que  não  esteja  em  funcionamento  é  causa  relativamente  a 
um  roubo  de  um  estabelecimento,  uma  vez  que  o  objetivo  da  sua  instalação  é 
impedir os mesmos.  
 
➢Processos Causais Virtuais: 
Verifica-se  sempre  que  o  dano  resultante  da  causa  real  se  tivesse  igualmente 
verificado, na ausência desta, por via de outra causa, denominada a causa virtual. 
➥  ​exemplo:  ​Alguém  ter  envenenado  um  cavalo,  mas  alguém  se  ter  antecipado  e  o 
tiver  abatido,  o  disparo  será  a  causa  real  da  morte  e  o  veneno  será  a  causa  virtual, 
que iria produzir o mesmo efeito.   
 
Menezes  Leitão+Menezes  Cordeiro:  a  causa  virtual  é  todavia  irrelevante, 
verificando-se  a  imputação  delitual  dos  danos  a  um  agente  obviamente que ele irá 
responder  pelos  danos  causados  (  483º),  não  prevendo  a  lei  que  essa 

52
responsabilidade  seja  interrompida  pela  causa  virtual  o  que  se  afigura  de  absurdo 
face às funções preventivas e punitivas prosseguidas na responsabilidade delitual.  
 
3.3. Responsabilidade obrigacional  
Prevista  no  artigo  798º,  resulta  uma  clara  equiparação  dos  pressupostos  da 
responsabilidade obrigacional aos pressupostos da responsabilidade civil delitual.13 
 
A  diferença  essencial  reside  no  diferente  regime  do  ónus  da  prova,  face  à 
presunção  de  culpa  que  recaia  sobre  o  devedor  (  799º).  Na  responsabilidade 
obrigacional  são  tutelados  todos  os  prejuízos  sofridos  e  os  benefícios que o credor 
deixou  de  obter  pelo  facto  de  lhe  não  ter  sido  realizada  a prestação devida ( 798º), 
o que permite a tutela nesta sede dos danos patrimoniais.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

13
​Menezes Cordeiro considera que os pressupostos se concentram numa só esfera , ou seja nesta modalidade todos os 
pressupostos seriam presumidos.   

53
Índice: 
1.Direito das Obrigações: Parte Geral​……………...……………...……………...………………………………...1 
1.1 Definição de Obrigação…………...……………...……………...…………………………………………..…………...1 
1.2.  Características  das 
Obrigações:…………...……………...……………...………………………………..…………...1 
1.3 Distinção entre Direitos de Crédito e Reais …………...……………...……………...………………..………….2 
1.4. Objeto da Obrigação: A Prestação…………...……………...……………...………………………………………..2 
1.5.  Modalidades  de 
Prestações…………...……………...……………...……………………………………………...…...3 
1.6. Modalidades das Obrigações…………...……………...……………...…………………………………………..…...4 
1.7.Indeterminação e pluralidade das partes na relação obrigacional…………...……………...………...….11 
 
2. Fontes das Obrigações​…………...……………...……………...…………………………………..……..…………...14 
2.1 Contrato…………...……………...……………...……………………………………………………………...…………...14 
2.2 Modalidade de Contratos…………...……………...……………...…………………………………………..………15 
2.2.1 Forma…………...……………...……………...………………………………………………………....……………......15 
2.2.2 Modo de Formação…………...……………...……………...…………………………………………..…….……...15 
2.2.3 Efeitos…………...……………...……………...…………………………………………..…………………..…………...15 
2.2.4 Sinalagmáticos ou não sinalagmáticos…………...……………...……………...…………………….…………16 
2.2.5 Contratos Onerosos e Gratuitos…………...……………...…………...…………………………………………18 
2.2.6. Nominados e Inominados…………...……………...……………...………………………………..………..……18 
2.2.7 Típicos e Atípicos…………...……………...……………...…………………………………………..………….…...18 
2.2.8 Contratos Mistos…………...……………...……………...…………………………………………..………..……...19 
2.2.9 União de Contratos…………...……………...……………...…………………………………………..…………....20 
2.3. Contratos Preliminares …………...……………...……………...…………………………………………..…………20 
2.3.1 Contrato-Promessa…………...……………...……………...…………………………………………..………….....21 
2.3.1.1Articulação com o regime do sinal…………...……………...……………...………………………………..…24 
2.3.2.  Eficácia  real  do 
contrato-promessa…………...……………...……………...……………………………………26 
2.4. Pacto Preferência…………...……………...……………...…………………………………………..……………….....26 
2.4.1. Violação da obrigação de preferência…………...……………...……………...…………………………..……29 
2.4.2. Natureza da obrigação de preferência…………...……………...……………...…………………………...….30 
2.5. Conteúdo dos contratos…………...……………...……………...……………………………..………..…………...30 
2.5.1.  Contrato  a  favor  de 
terceiro…………...……………...……………...………………………………………...…..30 
2.6.  Contrato  para  a  pessoa  a 
nomear…………...……………...……………...…………………………………………32 
2.7.Negócios Unilaterais…………...……………...……………...…………………………………………..……………...32 
2.7.1.  Promessa  de  cumprimento  e  reconhecimento  de 
dívida…………...……………...………………..……33 
2.7.2. Promessa Pública…………...……………...……………...…………………………………………..………….…...33 
2.7.3. Concurso Público…………...……………..……………...…………………………………………..………….......33 

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3. Fonte das obrigações baseadas no princípio do ressarcimento dos danos​….………..............34 
3.1 A responsabilidade civil …………...……………...……………...…………………………………..……..………….34 
3.2. Responsabilidade civil por factos ilícito…………...……………...……………...…………………..……..…..35 
3.2.1 responsabilidade delitual …………...……………...……………...…………………………………..……..……..35 
3.2.1.1 Facto …………...……………...……………...…………………………………..……..………………………….…...35 
3.2.1.2. Ilicitude…………...……………...……………...…………………………………..……..…………………..……...36 
3.2.1.3 Culpa…………...……………...……………...…………………………………..……..……………………………....41 
3.2.1.4. Dano…………...……………...……………...…………………………………..……..………………………….…...48 
3.2.1.5 Nexo de Causalidade entre Facto e Dano…………...……………...……………...…….………………….51 
3.3. Responsabilidade Obrigacional ……………………………………………………………………………………....53 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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