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MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
Obrigações Civis
São juridicamente exigíveis, ou seja, o credor tem o poder de exigir judicialmente o
cumprimento. Assim, se o devedor não cumprir, o credor poderá́ obter judicialmente a
condenação do devedor a cumprir e, permanecendo a recusa, poderá́ executar o
património do devedor. A garantia destas obrigações é perfeita.
Obrigações naturais
CC: 402º Correspondem a um mero dever moral ou social, pelo que o seu cumprimento
não pode ser exigido judicialmente, contudo continua a ser um dever de justiça.
As obrigações naturais não podem ser convencionadas livremente pelas partes, pois neste
caso estaríamos perante uma obrigação civil apenas com a especificidade de que o credor
renunciava ao seu direito de exigir ao devedor o cumprimento da obrigação.
Comportamento este que é vedado pelo CC: 809º
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Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
CC: 404º Determina que se deve aplicar às obrigações naturais o regime das obrigações,
excluindo o que se prende com a coação da prestação.
Segundo Menezes Leitão o alcance é mais reduzido que isto pois:
• Não se aplica o regime das fontes das obrigações.
• A sua espontaneidade não é compatível com a estipulação de garantias ou com o
regime de cumprimento e não cumprimento.
• Não se podem extinguir por prescrição.
Gentlemen’s agreements
Trata-se de acordos que versam sobre matéria que normalmente é objeto de verdadeiros
contratos, mas que as partes pretendem subtrair à vinculação jurídica.
CC: 809º Não se pode renunciar previamente aos direitos que a lei consagra, portanto,
não será́ válida a renúncia prévia ao direito de recorrer aos tribunais para exigir o
cumprimento, no caso de o direito de crédito não ser satisfeito voluntariamente pelo
devedor. Depois do incumprimento, o credor pode renunciar a esse direito, desde logo,
deixando de recorrer aos tribunais, mas antes do incumprimento não pode fazer essa
renúncia. Assim, as obrigações naturais apenas poderão constituir-se por força da lei e
não por acordo das partes.
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Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
No segundo caso, fica acordado que o devedor pagará quando quiser. O cumprimento não
pode ser exigido ao devedor porque foi deixado ao seu livre arbítrio o momento de pagar,
mas, se o devedor falecer, será́ sempre exigível aos seus herdeiros.
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Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Toda a prestação consiste numa conduta do devedor, em ele fazer ou não fazer algo, mas
nestas obrigações a conduta do devedor é de entrega de uma coisa.
Exemplo: CC: 879º
A papelaria vende uma caneta ao Bento, logo, deve entregar-lhe a caneta e o Bento deve
entregar-lhe o dinheiro do respetivo preço.
Devido a tal, por vezes há uma aproximação a uma classificação económica, dizem que
as prestações de coisa correspondem ao fornecimento de bens.
CC: 211º Coisas futuras são as que não estão em poder do disponente ou a que este não
tem direito no momento da declaração negocial.
Menezes Leitão e Galvão Teles consideram que a definição não está inteiramente correta,
pois consideram que o conceito deve ser mais amplo que este. Para eles os bens futuros
são os que, não tendo existência, não possuindo autonomia própria ou não se encontrando
na disponibilidade do sujeito, são objeto de negócio jurídico tendo como perspetiva a
aquisição futura dessas características.
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Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Não podemos distinguir entre conduta do devedor e coisa a prestar, como uma realidade
independente da conduta do devedor, assim, o direito do credor tem por objeto a prestação
do devedor, a realização de uma conduta pela qual tem interesse
Devido a tal, por vezes há uma aproximação a uma classificação económica, dizem que
as prestações de facto correspondem à realização de serviços.
Prestação de fazer
Implicam um ato positivo, ou seja, tem por objeto uma ação do devedor.
Exemplo: Carlos assume o dever de cuidar da quinta de Dinis.
Há quem inclua ainda dentro das prestações de facto negativo as prestações de pati, que
se traduzem no dever de tolerar a realização de uma conduta por outrem.
Exemplo: Edmundo vincula-se perante Felícia a deixar que ela passe por uma zona do seu
prédio para ela aceder, por sua vez, ao prédio dela, ainda que não estejam verificados os
requisitos legais para que a Felícia pudesse obter a constituição do direito real de servidão
de passagem.
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Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
O devedor pode ser substituído por outrem na realização da conduta, sem prejuízo do
interesse do credor.
Exemplo: Albano, ourives, está adstrito a entregar um anel ao seu cliente Bento. Tanto o
pode fazer entregando pessoalmente o anel a Bento, como mandando um seu empregado
entregar o anel a Bento.
O devedor não pode ser substituído por outrem na realização da conduta, porque isso
afetará o interesse do credor.
Exemplo: Gilberto, pintor famoso, obrigou-se a pintar o retrato de Hernâni.
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Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Execução específica
No caso de incumprimento do devedor, há uma atuação judicial conducente a permitir
ao credor obter a execução coerciva da prestação e, assim, a realização do mesmo
interesse que ele veria realizado se o devedor cumprisse voluntariamente
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Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Exemplos:
Se a prestação for infungível, não poderá ocorrer a execução específica, uma vez que
o devedor não pode ser substituído na realização da prestação: só ele pode e deve realizar
a conduta devida.
Exemplo: Bruno, arquiteto, obrigou-se a fazer e entregar em certa data um projeto de uma
dada obra relativa à casa do Carlos, mas não o faz. Em tribunal, o credor poderá requerer
que o mesmo estabeleça a condenação do arquiteto, devedor, no pagamento de uma
determinada quantia, por exemplo, por cada mês de atraso na realização e entrega do
projeto.
Quando está em causa uma prestação infungível, que só o devedor pode realizar, e se
verifica a impossibilidade de ele a realizar, essa impossibilidade acarreta a extinção da
obrigação e libera-o perante o credor – impossibilidade subjetiva CC: 791º
Exemplo: Cristiano, considerado o melhor futebolista do mundo, obriga-se a atuar por
dado clube. Mais tarde, vem a sofrer um acidente automóvel, ficando com graves lesões
nas pernas o resto da vida.
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Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Há divisibilidade sempre que a prestação possa ser fracionada, sem prejuízo para o credor.
CC: 763o/1
A regra geral é a da integralidade do cumprimento. A prestação não pode ser fracionada pelo
devedor. Se isto não for cumprido, podem-se verificar duas situações:
A lei parte do princípio de que o interesse do credor é sempre afetado com a divisão da
prestação, então, deixa nas mãos dele uma opção diversa – CC: 763o/2
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Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Prestações Instantâneas
Integrais
Execução ocorre num momento
Realizadas de uma só vez
único, pelo que o conteúdo e
Exemplo: CC: 882º Entrega
extensão não são delimitados em
da coisa pelo vendedor
função do tempo.
Fracionadas
Montante global é dividido em várias frações, a
realizar sucessivamente
Exemplo: CC: 934º Pagamento a prestações na venda
Continuidade
Prestações Duradouras Não sofre qualquer interrupção
Execução prolonga-se no tempo, Exemplo: CC: 1031º Prestação do locador
pelo que realização dependa sempre
do decurso de um período temporal,
durante o qual a prestação deve ser Periódica
continuada ou repetida. É repetida em certos períodos de tempo
Exemplo: CC: 1038º Pagamento da renda
Obrigações cuja execução corre num único momento ou em que o decurso do tempo ao
longo do qual sejam executadas, em partes, não tem influência sobre o conteúdo da
prestação.
Instantâneas
Esgotam-se num único ato.
Exemplo: Afonso entrega a Bela a joia que lhe vendeu e Bela paga o preço devido.
Fracionadas
A execução da mesma prestação ocorre por partes, no tempo, estando essas partes já
previamente definidas.
Exemplo: a venda a prestações.
Periódicas
Devem ser cumpridas repetidas vezes ou sucessivamente ao longo do tempo, influindo
no conteúdo das prestações.
Exemplo: obrigação do locatário pagar mensalmente a renda.
Continuadas
Devem ser cumpridas ininterruptamente.
Exemplo: obrigação do locador de proporcionar o gozo da coisa locada ao seu locatário.
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Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
O facto de estes contratos se poderem prolongar no tempo implica que a lei deva
assegurar também alguma delimitação à sua duração, sob pena de a liberdade
económica das partes poder ficar seriamente comprometida
FDUL 2020/2021 11
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Em relação aos contratos duradouros há uma maior intensidade das exigências da boa fé
e os deveres acessórios dela decorrentes, nomeadamente, de lealdade, proteção e
informação, já que tais contratos, por terem um prazo muitas vezes longo, tendem a
assentar numa base mais alargada de confiança e de colaboração entre as partes.
O instituo da alteração das circunstâncias CC: 437º tem o seu maior campo de aplicação
nos contratos de execução duradoura, já que haverá maior suscetibilidade de, durante a
vigência do contrato, virem a ocorrer alterações anormais das circunstâncias em que as
partes contrataram.
Estamos perante uma única obrigação cujo Neste caso verifica-se uma
objeto é dividido em frações, com vencimentos pluralidade de obrigações
intervalados. Há uma definição prévia do seu distintas, emergentes de um
montante global e o decurso do tempo não vínculo único que as origina
altera o conteúdo ou a extensão, apenas o modo sucessivamente. Não pode
de realização. haver uma fixação inicial do sue
Exemplo: Na compra e venda a prestações o montante global, pois o decurso
preço é previamente fixado, servindo o decurso do tempo irá determinar o
do tempo apenas para dividir as partes. número de prestações a realizar.
Mesmos nas fracionadas o decurso do tempo não influi no conteúdo da obrigação mas
apenas determina o seu vencimento (805º/2 a)), o qual pode mesmo em certos casos
ocorrer antecipadamente a esse momento (781º).
Pelo contrário, nas prestações duradouras, contínuas ou periódicas, o decurso do tempo
influi no conteúdo e extensão da obrigação, pelo que a extinção ou alteração do contrato
antes do decurso do prazo implica a não constituição ou a alteração da prestação relativa
ao tempo posterior.
FDUL 2020/2021 12
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
À primeira vista, esta distinção seria relevante para efeitos do ónus da prova:
Em ambos os casos aquilo a que o devedor se obriga é sempre a uma conduta (prestação), e
o credor visa um resultado, que corresponde ao seu interesse (398º/2). Por outro lado, ao
devedor cabe sempre o ónus da prova de que realizou a prestação (342º/2) ou de que a falta
de cumprimento não procede de culpa sua (799º), sem o que será sujeito a responsabilidade.
Porém, esta distinção é relevante se considerarmos que há domínios em que vigora uma
responsabilidade objetiva, em que se responde mesmo sem culpa, e que essa só pode
ocorrer em relação a uma obrigação de resultado.
Exemplo: o transportador não conduziu a coisa até ao destino acordado porque a mesma
foi destruída no percurso devido a um acidente do camião de transporte, motivado por
uma falha de travões. Supondo que vigora no âmbito deste contrato de transporte um
regime de responsabilidade objetiva, o transportador será responsável mesmo que, antes
da viagem, tivesse tido o cuidado de levar o camião à oficina e colocar travões novos.
FDUL 2020/2021 13
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Prestações Indeterminadas
Prestações Determinadas
Determinação da prestação ainda
Se encontra completamente
não se encontra realizada, pelo que
determinada no momento da
essa determinação terá de ocorrer até
constituição da obrigação
ao momento do cumprimento.
Uma obrigação indeterminável não chega a nascer por nulidade do negócio respetivo.
Assim, podemos distinguir entre prestações determinadas e indeterminadas, mas sempre
determináveis.
Nesse caso a lei remete precisamente para esses critérios, procedendo assim à
determinação da prestação por essa via. Esta solução consta do CC:883º, relativo à
compra e venda, e do CC: 1158º/2, relativo ao mandato, os quais são extensíveis,
respetivamente, a outros contratos onerosos de transmissão de bens ou de prestação de
serviços pelos CC: 939º + 1156º.
Exemplo: se alguém pede a um mecânico para lhe arranjar o automóvel. As partes podem
acordar que essa informação seja fornecida à outra antes da celebração do contrato,
através da “solicitação prévia do orçamento”. Nesses casos a prestação vem a ser
determinada nas negociações.
Pode-se concluir que o poder de determinar não é absoluto, havendo que ocorrer uma
conformidade à equidade, a qual significa uma adequação ao que é comum nesses
contratos e de acordo com as circunstâncias do caso, havendo que se considerar
simultaneamente o interesse do credor em relação à prestação e as suas especiais relações
económicas.
CC: 400º/2 Quando as partes ou o terceiro não puderem determinar a prestação, ou não
o realizarem no tempo devido, ela deve ser efetuada pelo tribunal
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Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Obrigações genéricas
CC: 539º O objeto da prestação apenas está determinado quanto ao género (ou quanto
ao género, quantidade e qualidade, não havendo ainda individualização).
Para que a obrigação de prestação de coisa genérica possa vir a ser cumprida, terá de
ocorrer uma concretização, através de uma escolha de certos espécimes
(individualização do espécime dentro do género).
Impõe-se que a escolha seja razoável, em vista do interesse do credor, como decorre do
dispostos no CC: 400º/1, onde a expressão “juízos de equidade” tem esse sentido.
• CC: 542º As partes, no uso da sua autonomia privada, podem estipular que a
escolha compita antes ao credor ou a terceiro.
CC: 542º/2 Se o credor não fizer a escolha no prazo devido, o devedor passará a ter a
faculdade de escolha.
CC: 400º/2 + CPC: 1429º Se o terceiro não realizar a escolha no prazo fixado, competirá,
por fim, ao tribunal, a respetiva determinação.
Tem importância para efeitos de risco, uma vez que a regra CC: 796º é a de que o risco
do perecimento de coisa corre por conta do proprietário.
FDUL 2020/2021 15
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Teoria do envio: o momento em que os espécimes do género são enviados para o credor.
o devedor não está obrigado a fazer com que a coisa devida chegue ao credor, mas
também não basta que ele a coloque à disposição do credor.
O devedor compromete-se a enviar a coisa, para que um terceiro a leve ao credor. Estamos
perante obrigações de enviar a coisa CC: 797º
O cumprimento dá-se quando a coisa é entregue ao terceiro para envio.
Não é uma situação onde haja concentração, mas deixa de ser indeterminada pelo que não
há a necessidade que haja a concentração.
FDUL 2020/2021 16
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
3. Quando o género se extinguir a ponto de restar apenas uma das coisas nele
compreendidas
A concentração ocorre por mero facto da natureza, mas não se está perante um desvio da
regra do CC: 540º, uma vez que, caso as coisas sobrantes também desaparecessem,
deixaria a prestação de ser possível com coisas do género estipulado, pelo que o devedor
estaria sempre exonerado em virtude da impossibilidade da prestação.
Nota: não ter o produto em stock não vale, pois conta todos os objetos iguais do mundo
ou que possam ser construídos.
A mora é uma situação de não cumprimento de uma obrigação imputável, podendo ser
do devedor ou do credor. O não cumprimento é por um motivo injustificado,
independentemente de haver ou não culpa.
CC: 813º Se o credor, sem justificação legal, recusar a prestação ou não praticar os atos
de colaboração necessários a recebê-la, incorre em mora.
A obrigação concentra-se a partir da mora do credor.
Exemplo: Caso se tenham combinado que o comprador ia levantar o objeto à loja, contudo
só vai no dia seguinte, nessa noite houve um assalto e levaram todos os computadores,
inclusive o que já estava embalado e etiquetando com o seu nome. O comprador diz que
é alheio e que quer o computador, o vendedor diz que se tivesse vindo no momento
combinado tinha o computador.
Há quem defenda que aqui não há uma verdadeira especificação da obrigação, o que
significa é que o credor suporta o risco, ou seja, há uma transferência do risco nos termos
da mora do credor CC: 815º
Que apesar da obrigação permanecer genérica, o risco do perecimento dessas coisas
correrá por conta do credor.
Esta norma não se refere às dívidas em que o devedor se compromete a levar ou enviar a
coisa até ao local do cumprimento, suportando até então o risco de transporte. Refere-se
apenas às denominadas dívidas de envio ou remessa, em que o devedor não se
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Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
O facto de o credor ainda não ter recebido a prestação é irrelevante, uma vez que, o
cumprimento pode ser realizado a terceiro se assim tiver sido estipulado ou consentido
pelo credor CC: 770º a)
CC: 540º Nas obrigações genéricas, o risco da prestação é suportado pelo devedor.
CC: 790º O credor apenas suporta o risco da extinção do género, o risco da obrigação se
tornar impossível.
FDUL 2020/2021 18
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Obrigações Alternativas
Têm por objeto duas ou mais prestações diferentes, mas o devedor cumpre ao prestar
aquela que vier a ser escolhida.
São obrigações indeterminadas porque, aquando da sua constituição, não fica definido
qual a concreta prestação a realizar pelo devedor.
Exemplo: António obriga-se a entregar o seu Ferrari ou o seu barco a Bruno, pelo preço
de 100.000 euros.
CC: 548º Se a escolha couber ao devedor e ele não a realizar em tempo devido, dá-se a
devolução da escolha à outra parte, o credor.
Menezes Cordeiro: reconhece que se o devedor escolher uma prestação, ele poderá́
sempre, em princípio, até ao cumprimento, revogar a sua escolha.
CC: 549º remete para 542º As partes podem, no uso da sua autonomia privada, estipular
que a escolha compita ao credor ou a terceiro.
CC: 549º remete para 542º/2 Se o credor não fizer a escolha no prazo devido, o devedor
passará a ter a faculdade de escolha.
FDUL 2020/2021 19
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
CC: 543º + 548º No caso das obrigações alternativas, que também são indeterminadas, a
concentração, para o efeito da transferência da propriedade e do risco, dá-se quando a
escolha feita seja comunicada à contraparte.
Pode coincidir com a oferta real da prestação, mas também pode ocorrer anteriormente,
produzindo efeitos, designadamente para operar a transferência de risco, desde que
declarada ao credor.
Não é, por isso, permitida ao devedor a posterior revogação da escolha efetuada, uma vez
que, após a realização da escolha, ele só se exonera efetuando a prestação escolhida.
A escolha é igualmente irrevogável quando compete ao credor ou a terceiro, por força da
remissão do CC: 549º para o 542º
Se, porém, alguma das partes não realizar a escolha no devido tempo, a lei prevê̂ a
devolução dessa faculdade à outra parte (542º/2 ex vi do 549º e 548º), ainda que sob
critérios diferentes.
Exemplo: Ana vendeu a Bento, por determinado preço, um Ferrari ou um barco a motor,
sendo que acordaram que cabia a Bento a escolha da prestação. Bento escolhe o barco e
comunica a Ana a sua escolha, é nesse momento que ele passa a proprietário do barco.
Se depois da escolha declarada, mas antes da entrega da coisa, o barco sofresse algum
dano, por causa não imputável ao devedor, a perda corre por conta do credor, é ele que
assume o risco. Assim, Bento teria que pagar a Ana o preço estipulado e ainda suportava
o perecimento do barco.
FDUL 2020/2021 20
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
FDUL 2020/2021 21
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
A lei não resolve o caso de impossibilidade imputável a uma das partes e a escolha
competir a terceiro.
Menezes Cordeiro e Menezes Leitão entendem que cessará para o terceiro a faculdade de
escolha.
• Se a impossibilidade for imputável ao devedor, passará a ser o credor a poder
escolher entre exigir uma das prestações ainda possíveis, uma indemnização ou a
resolução do contrato CC: 546º, 2ª parte
Aqui não há indeterminação, a prestação a que o credor tem direito está já determinada
no momento de constituição da obrigação respetiva. O devedor apenas tem a faculdade
ou a possibilidade de, ao cumprir, substituir o objeto da prestação por outro.
CC: 408º/1 Sendo determinada e tendo por objeto uma coisa (prestação de coisa), o
contrato produz logo a transferência da propriedade.
Exemplo: é o que ocorre com as obrigações volutarias ou em moeda estrangeira CC: 558º.
Estipulando as partes que o cumprimento se fará em determinada moeda com curso legal
apenas no estrangeiro, por exemplo, o dólar, o credor só pode exigir o respetivo
pagamento em dólares, mas o devedor – a menos que as partes por acordo afastem essa
faculdade – tem a faculdade de, em vez de pagar em dólares, pagar em moeda com curso
legal no nosso país, o euro, segundo o câmbio do dia do cumprimento e do lugar para este
estabelecido.
FDUL 2020/2021 22
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Obrigações Pecuniárias
Têm por (1) objeto a entrega de dinheiro ou moeda, (2) visando proporcionar ao credor
o valor monetário correspondente.
3. De unidade de conta
Resulta de, sendo o valor da moeda relativamente estável, pode ser utilizado como medida
do valor dos bens e serviços de qualquer tipo.
FDUL 2020/2021 23
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Obrigações de quantidade
CC: 550º
Têm por objeto a entrega de uma quantidade de moeda em curso legal no país – no
caso português, essa moeda é o euro.
Exemplo: Num ano de deflação, 50 euros permitem adquirir mais bens do que os mesmos
50 euros num ano de inflação.
FDUL 2020/2021 24
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
A lei resolve este problema, dando preferência ao valor nominal da moeda para efeitos
do cumprimento
CC: 550º ao prever que o cumprimento das obrigações pecuniárias se faz pelo valor
nominal da moeda no momento do cumprimento
É a consagração legal deste princípio.
Como consequência temos que uma obrigação pecuniária de longo prazo acarreta o risco
de desvalorização da moeda, com a inerente perda do seu poder de compra, e que esse
risco é suportado pelo credor, já que o devedor se libera com a simples entrega da quantia
monetária convencionada.
• A própria lei prevê, para certas situações, a atualização das prestações pecuniárias.
CC: 551º
Determina que, «quando a lei permitir a actualização das prestações pecuniárias, por
virtude das flutuações do valor da moeda, atender-se-á, na falta de outro critério legal,
aos índices dos preços, de modo a restabelecer, entre a prestação e a quantidade de
mercadorias a que equivale, a relação existente na data em que a obrigação se constituiu».
FDUL 2020/2021 25
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
CC: 552º
As partes excluem, contratualmente e validamente, o pagamento em notas de banco, e
convencionam que o pagamento é:
• Limitado a espécies metálicas: obrigações pecuniárias especificas efetivas
CC: 553º Se for estipulado um quantitativo expresso em moeda corrente, considera-se
que a obrigação tem que ser efetuada na espécie monetária estipulada, desde que ela
exista, ainda que tenha variado de valor após a data em que a obrigação foi constituída
FDUL 2020/2021 26
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Puras ou próprias
O pagamento deve ser realizado em certa moeda estrangeira, sem possibilidade de o
pagamento ser feito ou exigido noutra moeda.
Impuras ou impróprias
Quando a moeda estrangeira mais não seja do que a referência e a medida para o
cumprimento obrigatoriamente em moeda nacional.
CC: 558º/2
Se o credor estiver em mora, porque recusou injustificadamente receber o pagamento ou
não praticou os atos de colaboração necessários ao pagamento pelo devedor, como prevê
o CC: 813º, o devedor pode pagar em moeda nacional, ao câmbio da data em que a mora
se deu.
Naturalmente, que o devedor vai considerar se, nessa data, o câmbio lhe é mais favorável
do que à data em que venha a concretizar-se o pagamento ou a sua liberação da dívida.
A lei não prevê o caso em que é o devedor a estar em mora, em atraso do cumprimento,
mas é claro que o devedor terá de indemnizar o credor pelos prejuízos sofridos, como
prevê o CC: 804º
FDUL 2020/2021 27
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Obrigação de juros
Tradicionalmente, o montante dos juros é calculado por aplicação de uma taxa anual ao
capital em dívida, vencendo-se os juros em períodos regulares e sucessivos. Assim, a
obrigação de juros é uma obrigação duradoura periódica e pressupõe sempre uma
obrigação de capital.
Do ponto de vista jurídico, os juros em si são frutos civis (CC: 212º/2) enquanto
produzidos periodicamente em virtude de uma relação jurídica atinente à disponibilidade
de um dado capital alheio.
Essa relação jurídica, neste caso, consiste na cedência das coisas fungíveis com obrigação
de restituição de outro do mesmo género ou no diferimento da sua entrega, sendo o juro
calculado em função do lapso de tempo correspondente à utilização do capital. Os juros
representam assim uma prestação devida como consequência ou indemnização pela
privação temporária de uma quantidade de coisas fungíveis denominada capital e pelo
risco de reembolso desta.
A obrigação de juros aparece como uma obrigação que se constitui tendo como referência
uma outra obrigação e constitui economicamente um rendimento desse mesmo capital.
CC: 561º
A obrigação de juros pressupõe sempre uma obrigação de capital, mas estas
continuam a ser obrigações distintas: desde o momento em que se constitui, o crédito de
juros adquire autonomia em relação ao crédito de capital, pelo que a lei admite que
qualquer deles possa ser cedido ou possa extinguir-se independentemente do outro.
Exemplo: António é credor de Berta por dada quantia que vence juros. Nada impede que
António aceite o pagamento do capital, o que extingue o seu crédito de capital, ainda que
não receba logo o pagamento do seu crédito a juros.
Juros legais
Resultam diretamente da lei, como por exemplo, o CC: 806º
Juros convencionais
São aqueles em que a sua taxa ou quantitativo é estipulado pelas partes.
FDUL 2020/2021 28
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
CC: 1146º A qualificação como usuários de quaisquer juros anuais que excedam os juros
legais acima de 3% ou 5%, conforme exista ou não garantia real, sendo esta regra
estendível a todas as obrigações de juros (CC: 559º-A).
As partes estão impedidas de estipular juros que ultrapassem esses limites e, caso o façam,
a lei determina, em derrogação ao 292º, a fixação dos juros nesses montantes máximos,
ainda que tivesse sido outra a vontade das contraentes.
Em suma...
CC: 559º/1
Pode acontecer que as partes convencionem que uma dada obrigação de capital vença
juros, mas não estipulem a taxa de juros ou o quantitativo devido. Neste caso, a taxa de
juro legal será a fixada por lei – taxa de juro legal – tal como sucede com os juros legais.
A estipulação pelas partes de uma taxa de juro inferior à legal não carece, por si mesma,
de ser reduzida a escrito.
CC: 1146º/1
Se nenhuma garantia real tiver sido constituída, a lei considera que deve haver a
possibilidade de fixar uma taxa de juro um pouco superior, uma vez que o risco que o
credor corre (do devedor não cumprir) é maior.
Outras distinções:
Juros remuneratórios
CC: 1145º/1
Têm uma finalidade remuneratória, correspondente ao preço do empréstimo do dinheiro.
O credor priva-se do capital por tê-lo cedido ao devedor por meio de mútuo, exigindo
uma remuneração por essa cedência.
Juros compensatórios
CC: 480º + 1167º
Destinam-se a proporcionar ao credor um pagamento que compense uma temporária
privação de capital, que ele não deveria ter suportado.
Juros moratórios
CC: 806º
Têm natureza indemnizatória de danos causados pela mora, visando recompensar o
credor pelos prejuízos sofridos em função da mora.
Juros indemnizatórios
Destinam-se a indemnizar os danos sofridos por outro facto praticado pelo devedor
(maxime, o incumprimento da obrigação).
FDUL 2020/2021 29
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
CC: 560º
Trata do chamado vencimento de juros pelos próprios juros. A regra é a de que uma tal
estipulação é proibida e, como tal, se for feita, será́ nula.
Exceções:
• Se houver convenção das partes posterior ao vencimento;
• Se for efetuada uma notificação judicial ao devedor para capitalizar os juros
vencidos ou proceder ao seu pagamento, sob pena de capitalização.
CC: 560º/1
A lei consagra a regra que o juro não vence o juro, a menos que haja convenção posterior
ao vencimento, ou seja efetuada uma notificação judicial ao devedor para capitalizar os
juros ou proceder ao seu pagamento, sob pena de capitalização.
CC: 560º/2
Só nesses dois casos há lugar à capitalização de juros e só podem ser capitalizados os
juros correspondentes a um período mínimo de um ano.
CC: 560º/3
A lei determina ainda que não são aplicáveis estas restrições, se forem contrárias a regras
ou usos particulares do comércio.
FDUL 2020/2021 30
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
CC: 511º Estipula que a pessoa do credor pode não ficar determinada no momento da
constituição da obrigação, mas deve ser determinável em momento posterior, sob pena
de nulidade do negócio jurídico.
Têm sido apontadas duas razões/situações para que o credor não fique logo determinado:
• O credor ter uma ligação indireta ou mediata com a obrigação, só podendo ser
determinado através da sua qualidade de sujeito de uma relação de outra
natureza.
Exemplo: No caso de um título de crédito ao portador, como um bilhete de cinema, o
devedor está logo determinado, é a entidade que explora o cinema, mas o credor só ficará
determinado pela posse do título. O credor da prestação do espetáculo do cinema será a
pessoa que, na posse do bilhete de cinema, se apresentar no cinema para assistir ao filme.
Em ambos os casos, aquando da constituição da obrigação, não se sabe quem virá a ser o
seu credor da obrigação, embora este seja determinável. Atenta a relevância desta
circunstância no regime da relação obrigacional, justifica-se reconhecer as obrigações de
credor indeterminado como categoria autónoma.
Há quem defenda que sim, visto que não há nenhuma norma na lei que, à semelhança do
artigo 511º, preveja que o devedor pode não estar determinado nesse momento, ainda que
tenha de ser determinado depois.
Contudo, Menezes Cordeiro discute se a pessoa do devedor não pode estar indeterminada
no momento da constituição da obrigação, baseando-se em disposições legais das quais
decorre essa possibilidade.
Exemplo: CC: 498º/1 prevê a prescrição do direito de indemnização do lesado no prazo
de três anos a contar do conhecimento desse mesmo direito e mesmo que desconheça a
pessoa do responsável, o que pode resultar de este não ser logo conhecido quando o dano
se verificou e, nem mesmo, entretanto, ter sido identificado pelo lesado.
FDUL 2020/2021 31
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
CC: 397º A obrigação é o vínculo jurídico pelo qual uma pessoa fica adstrita para com
outra à realização de uma prestação
Em todas estas situações o objeto da obrigação pode ser o mesmo, mas varia o número
de pessoas que se vincula a esse comportamento ou que tem o direito de o exigir.
FDUL 2020/2021 32
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Pluralidade de credores: cabe a cada sujeito uma parte do crédito, nunca um credor
podendo exigir mais do que a sua parte.
Pluralidade de devedores: cabe a cada sujeito uma parte do débito comum, nunca um
devedor tendo que cumprir mais do que a sua parte.
2 credores 2 devedor
A pluralidade é de 2, porque há 2 credores e 2
devedores, e o número de vínculos é de 4. O Prof.
Almeida e Costa diz que o número de vínculos se
obtém pela multiplicação do número de credores
pelo número de devedores (2x2=4).
Exemplo: António Bento e Carlos devem 900 euros a David. O credor David só pode
exigir 300 euros a cada um dos devedores e cada um destes só está vinculado a pagar
aquele valor e nada mais.
FDUL 2020/2021 33
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
CC: 534º As partes dos credores no crédito comum ou dos devedores no débito comum
presumem-se iguais, quando outra proporção não resultar especificamente da lei ou do
negócio jurídico.
CC: 513º Em regra, as obrigações plurais divisíveis são conjuntas ou parciárias, visto
que, segundo este preceito, só haverá solidariedade quando a lei especificamente a
estabeleça ou as partes a hajam convencionado.
Exemplos: A cada sujeito cabe uma parte idêntica à dos outros na relação obrigacional:
FDUL 2020/2021 34
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Obrigações solidárias
Qualquer uma das partes, credores e devedores, se obriga a realizar ou a exigir a prestação
integral.
Solidariedade passiva
FDUL 2020/2021 35
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
CC: 519º/1
Essa maior eficácia não se traduz na possibilidade de o credor repetir sucessivamente a
pretensão perante os vários devedores, uma vez que a exigência da totalidade ou da parte
da prestação a um dos devedores impede o credor de exercer nessa parte o seu direito
contra os restantes, exceto se houver razão atendível, como a insolvência ou o risco de
insolvência do demandado.
CC: 519º/2
Se um dos devedores opõe eficazmente ao credor um meio de defesa pessoal, continua
ele a poder reclamar dos outros a prestação integral.
CC: 517º
O credor pode, no entanto, optar por demandar conjuntamente todos os devedores, caso
em que renuncia à solidariedade.
CC: 527º
É ainda admitida a possibilidade de o credor renunciar à solidariedade apenas a favor de
algum dos devedores, caso em que conserva o direito à prestação por inteiro sobre os
restantes.
CC: 523º
Em relação aos devedores, a solidariedade caracteriza-se pelo facto de a satisfação do
direito do credor, por cumprimento, novação, consignação em depósito ou compensação,
mesmo que desencadeada apenas por um dos devedores, exonerar igualmente os
restantes.
CC: 790º
Outras causas de extinção da obrigação, que incidirem sobre a totalidade da dívida, como
a impossibilidade objctiva da prestação sobre a totalidade da dívida, como a
impossibilidade objectiva da prestação exoneram naturalmente todos os devedores.
CC: 520º
Se a prestação vier a ser não cumprida por facto imputável a um dos devedores, todos
eles são responsáveis pelo seu valor, mas só o devedor ou os devedores a quem o facto é
imputável respondem pelos danos acima desse valor.
FDUL 2020/2021 36
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
por facto imputável a Bento. Bento, Carlos e Daniela pagam solidariamente o valor da
prestação, mas Bento responde pelos demais danos que António possa ter sofrido e que
excedam o valor da prestação. Também pode acontecer que a dívida se extinga apenas
em relação a um dos devedores. Ou seja, verifica-se uma extinção parcial da obrigação,
visto que os demais devedores solidários ficam exonerados em relação à parte do débito
comum que cabia ao devedor exonerado.
CC: 514º
Em relação aos meios de defesa, o devedor, uma vez demandado pode opor ao credor os
meios de defesa que lhe são próprios e os que são comuns aos outros devedores, mas não
pode utilizar meios de defesa dos outros devedores.
CC: 524º
Nas relações entre os devedores, a solidariedade caracteriza-se pelo facto de o devedor
que satisfizer a prestação acima da parte que lhe competir adquirir um direito de regresso
sobre os outros devedores, pela parte que a estes compete.
O direito do regresso do devedor que realizou a prestação é limitado à parte de cada um
dos outros devedores na obrigação comum, não se estendendo, o regime da solidariedade
às relações internas.
CC: 526º/1
No entanto, o devedor que pagou não suporta integralmente o risco de insolvência ou de
impossibilidade subjetiva de cumprimento de cada um dos devedores, já que a lei prevê
que nesses casos a quota-parte do devedor que não cumpra é dividida pelos restantes,
incluindo o credor de regresso e os devedores que pelo credor hajam sido exonerados da
obrigação ou do vínculo de solidariedade.
CC: 526º/2
Esse benefício de repartição deixa de aproveitar ao credor de regresso, se foi por
negligência sua que não lhe foi possível cobrar a parte do seu condevedor na obrigação
solidária.
CC: 525º
Nº1 Os meios de defesa que cada um dos condevedores possuía em relação ao
cumprimento da obrigação, quer sejam comuns, quer pessoais do demandado, podem ser
igualmente opostos ao credor de regresso, Nº2 a menos que não tivesse sido
oportunamente utilizado por culpa desse devedor.
CC: 521º
Nº1 Especificamente quanto à prescrição, esta não é oponível ao credor de regresso se,
por não ter ela ainda decorrido em relação a ele, este vier a ser obrigado a cumprir a
obrigação, apesar de prescritas as obrigações dos outros condevedores, Nº2 mas já lhe
será oponível se o cumprimento da obrigação se verificou apenas em virtude de ele não
ter invocado a prescrição.
FDUL 2020/2021 37
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Solidariedade ativa
CC: 528º/1
O devedor pode, aliás, escolher o credor solidário a quem realiza a prestação, enquanto
não tiver sido judicialmente citado por um credor cujo crédito se encontre vencido.
CC: 528º/2
Neste último caso, deve realizar a prestação integral a esse credor, excepto se a
solidariedade ativa tiver sido estabelecida em seu favor.
CC: 517º
Os credores solidários podem optar por demandar conjuntamente o devedor, podendo este
igualmente demandar conjuntamente os seus credores.
CC: 532º
Se o devedor a quem um dos credores se dirigiu cumprir a prestação integralmente, a
obrigação extingue-se perante todos os credores e o devedor fica exonerado da dívida.
Além do cumprimento, a extinção da obrigação e a exoneração do devedor também
acontece se ocorrer qualquer uma das causas previstas no CC: 837º
Também pode acontecer que a dívida se extinga apenas em relação a um dos credores.
Ou seja, verifica-se uma extinção parcial da obrigação, visto que os demais devedores
solidários ficam exonerados em relação à parte do débito comum que cabia ao devedor
exonerado.
Exemplos:
CC: 863º/1 caso de remissão (perdão de dívida) concedida por um dos credores ao
devedor.
CC: 864º/3 há uma exceção, neste caso: um dos credores exonera um devedor perante os
restantes credores, mas apenas na parte que respeita ao credor remitente, portanto, os
restantes credores solidários podem exigir a sua parte do crédito.
CC: 868º e 869º/2 caso de confusão atinente a um credor solidário e ao devedor.
FDUL 2020/2021 38
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
CC: 790º
A obrigação também se extingue e o devedor é exonerado perante todos os credores, por
se ter tornado objetivamente impossível o cumprimento, não sendo a impossibilidade
imputável ao devedor.
CC: 529º/1
Se essa impossibilidade for imputável ao devedor, a solidariedade mantém-se quanto ao
crédito de indemnização.
CC: 529º/2
Se essa impossibilidade for imputável a um dos credores solidários, o devedor fica
exonerado, mas aquele credor terá de indemnizar os demais credores.
CC: 514º/1
O devedor, uma vez demandado por um dos credores, poderá opor a este quer os meios
pessoais de defesa, quer os meios de defesa comuns, isto é, que possa invocar contra todos
os credores.
CC: 514º/2
Contudo, não pode invocar meios de defesa que respeitem apenas a algum outro credor.
CC: 533º
Nas relações entre os credores, a solidariedade ativa caracteriza-se pelo facto de o credor
cujo direito foi satisfeito além da parte que lhe competia na relação ter a obrigação de
satisfazer aos outros a parte que lhes cabe no crédito comum.
Existe assim como que um direito de regresso activo dos outros credores sobre o credor
que recebeu a prestação.
CC: 516º
Em princípio, a lei presume que são iguais as partes dos credores na obrigação solidária,
pelo que a obrigação de regresso será cumprida em partes iguais. Pode, porém, acontecer
que os credores sejam titulares em termos diferentes, caso em que o regresso tomará em
linha de conta essa diferente repartição, ou que só um dos credores tenha o benefício do
crédito. Neste último caso, apena se esse credor poderá exercer o direito de regresso, o
qual será pela totalidade, se a prestação for realizada a outro credor, ou será excluído, se
a prestação lhe for realizada a ele próprio.
Solidariedade mista
Exemplo: Ana, Bruna e Carla obrigam-se a pagar 900 euros a Daniela, Ema e Filipa. A
Bruna pagou os 900 euros a Filipa. Agora, a Bruna pode exigir 300 euros à Bruna e 300
euros à Carla, e a Flipa tem de entregar 300 euros à Daniela e 300 euros à Ema.
FDUL 2020/2021 39
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
Pluralidade de devedores
CC: 535º/1
Sendo vários devedores, o credor só de todos pode exigir a realização da prestação, salvo
se tiver sido estipulada a solidariedade ou esta resultar da lei.
Exemplo: Alda e Bela estão vinculadas a entregar a César um automóvel, tendo este que
fazer a exigência da entrega do automóvel a ambas as devedoras. Porém, se a
solidariedade tiver sido estabelecida por lei ou pelas partes, César pode exigir a entrega
do automóvel a Alda ou a Bela.
CC: 536º
Se a obrigação indivisível se extinguir apenas em relação a algum dos devedores, o credor
pode exigir a prestação dos restantes devedores, desde que lhes entregue o valor da parte
que caberia ao devedor exonerado.
CC: 537º
Se a impossibilidade objetiva for imputável a algum devedor, os outros devedores ficam
exonerados, e a esse cabe-lhe indemnizar o credor.
Se a impossibilidade objetiva não for imputável a nenhum devedor, a obrigação extingue-
se e todos os devedores ficam desonerados.
Exemplo: Ana, Bela e Carla devem entregar a Dinis um cavalo de raça. Ana, por engano,
ao alimentar o cavalo, confundiu uma caixa de ração com uma caixa de veneno, matando
o cavalo. Ana responderá perante o credor Dinis, enquanto que Bela e Carla ficam
exoneradas, não lhes cabendo nenhuma responsabilidade.
Pluralidade de credores
CC: 538º
Qualquer um dos credores pode exigir a realização da prestação. Contudo, enquanto o
devedor não houver sido judicialmente citado em ação intentada por um dos credores que
lhe exija o cumprimento, o devedor, para se exonerar, terá de cumprir sempre a todos os
credores.
FDUL 2020/2021 40
Sofia Cunha | Direito das Obrigações I
A lei não contempla uma solução legal para estas situações, mas parece que a solução
certa será a que se prevê expressamente para:
• Remissão CC: 865º/2 um dos credores remitiu a dívida ao devedor
• Confusão CC: 870º/2 deu-se a confusão entre o credor e o devedor
Por analogia com o 536º, a solução geral deve ser: os restantes credores só podem exigir
a prestação do devedor se lhe entregarem o valor da parte que cabia ao credor
relativamente ao qual a obrigação se extinguiu.
Obrigações correais
Obrigações disjuntivas
FDUL 2020/2021 41