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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES (Art.

233 a 240 - CC)

Quando se fala em obrigações, se fala em relação jurídica entre credor e devedor.

O código civil traz 6 modalidades de Obrigações que são:


1. Obrigações de Dar;
2. Obrigações de Fazer;
3. Obrigações de Não Fazer;
4. Obrigações Alternativas;
5. Obrigações Divisíveis e Indivisíveis;
6. Obrigações Solidárias.

CONCEITO DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES:

“Consiste num complexo de normas que rege relações jurídicas de ordem


patrimonial, as quais têm por objeto prestações de um sujeito em proveito de outro.
Disciplina as relações jurídicas de natureza pessoal, visto que seu conteúdo é a
prestação patrimonial, ou seja, a ação ou omissão do devedor tendo em vista o
interesse do credor, o qual por sua vez, tem o direito de exigir o seu cumprimento,
podendo, para tanto, movimentar a máquina judiciária, se necessário. – (Maria
Helena Diniz, Curso de direito civil brasileiro, v.2, p.3.)

1. CONCEITO DE DIREITO OBRIGAÇÃO

“Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir
do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de uma determinada prestação.
Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter
transitório, cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível. -
(GONÇALVES, Carlos Roberto. Coleção Direito Civil Brasileiro 2020: Obrigações.
Vol. II. 18 ed. Saraiva. 2020). ”

Quando se fala em direito obrigacional é o mesmo que se falar em direito de crédito


ou direito pessoal obrigacional.

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No conceito trazido pelo professor Carlos Roberto Gonçalves, podemos absorver
várias informações importantes:

PRIMEIRO, é possível identificar os elementos obrigacionais, quais sejam: o vínculo,


os sujeitos (ativo e passivo) e a prestação econômica.

Por SEGUNDO, é possível identificar uma característica das obrigações: o caráter


transitório (pois perdura somente até o seu cumprimento).

1.1. ELEMENTOS DAS OBRIGAÇÕES

Os elementos das relações obrigacionais são:

Elemento Subjetivo ou Pessoal - são os sujeitos da relação obrigacional, sendo o


credor e o devedor.

Elemento Objetivo ou Material - são as prestações de dar, fazer ou não fazer e o


objeto da prestação.

Elemento Ideal ou Imaterial - é o vínculo jurídico entre o credor e o devedor

a) Elemento Subjetivo ou Pessoal


São os sujeitos da relação obrigacional, sendo o credor (sujeito ativo) e o devedor
(sujeito passivo). O credor é aquele tem o direito de exigir uma prestação do devedor.
O devedor é aquele que tem que realizar uma prestação em favor do credor.

Os sujeitos das relações obrigacionais, tanto o credor quanto o devedor, podem ser
determinados ou indeterminados (momentaneamente).

Exemplo1: João, por força de um contrato de compra e venda, deverá pagar para
Marcos o valor de R$10.000,00 (credor e devedor determinados - João: DEVEDOR
e Marcos: CREDOR);

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Exemplo2: Maria faz uma rifa para arrecadar dinheiro para despesas de seu bebê.
Suponha que Maria venda todos os números. Enquanto Maria não realizar o sorteio
do número o credor é indeterminado, após o sorteio Maria saberá quem é o seu
credor. Visualize que o sujeito é indeterminado momentaneamente.

b) Elemento Objetivo ou Material


Consiste na prestação de dar, fazer ou não fazer e também no objeto da prestação.

Prestação é a ATIVIDADE do DEVEDOR para satisfazer o crédito do CREDOR.


Essa atividade pode ser:

1) POSITIVA, pois exige uma ação do DEVEDOR, o DEVEDOR tem que dar ou fazer
algo;

2) NEGATIVA, pois exige uma omissão do DEVEDOR, o DEVEVOR não deve fazer
algo;

A relação obrigacional possui 2 objetos: Objeto direto (imediato); Objeto indireto


(mediato).

1) OBJETO DIRETO (IMEDIATO) é a própria prestação em si, é a atuação do


devedor em dar, fazer ou não fazer algo.

2) OBJETO INDIRETO (MEDIATO) é o objeto da prestação, a própria coisa (o bem


em si).

Exemplo: se o DEVEDOR se obrigou a dar um carro.


Objeto Direto (imediato) = dar; Objeto Indireto (mediato) = o carro.

c) Elemento Ideal ou Imaterial


É o vínculo jurídico obrigacional entre o credor e o devedor. Além da existência do
débito o devedor tem o dever de satisfazer o débito com o credor, mesmo contra sua
vontade.

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Exemplo: João, por força de um contrato de compra e venda, deverá pagar para
Marcos o valor de R$10.000,00. Mesmo que João não pague voluntariamente,
Marcos poderá ajuizar uma ação para obrigar o patrimônio de João a suportar a
dívida. Assim, a dívida pode ser satisfeita mesmo sem qualquer ato voluntário do
devedor (João).

O vínculo obrigacional que une o DEVEDOR ao CREDOR consiste na obrigação do


devedor em cumprir com as suas obrigações voluntariamente, sendo que se o
DEVEDOR não cumprir com a obrigação, poderá o CREDOR exigir o cumprimento
por meio do Poder Judiciário.

2. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES x DIREITO REAL

Conforme o conceito exposto acima é possível resumir que obrigações é uma


relação jurídica entre credor e devedor para o cumprimento de uma determinada
prestação.

Já os direitos reais constituem uma situação jurídica em que tem um determinado


sujeito e se relaciona com determinado bem.

Contudo, é possível que se utilize uma relação obrigacional para adquirir um direito
real, por exemplo, em contrato de compra e venda em que há a transmissão de um
direito real sobre um bem (propriedade), por meio de uma obrigação (transferência
e pagamento).

Os direitos reais estão na lei (Art. 1.225, CC), enquanto os obrigacionais podem ser
criados, a partir da previsão legal, pelas partes, ou seja, não estão elencados em um
rol taxativo.

Por exemplo, na celebração de um contrato de compra e venda de imóvel, estar-se-


á compactuando uma obrigação.

O objeto desse contrato é um direito real, mas a simples pactuação da obrigação


não gera o direito real.

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Assim, em uma compra e venda de uma casa, por exemplo não basta assinar o
contrato, para que você seja o dono (proprietário) do imóvel. A assinatura do contrato
cria uma obrigação, mas em se tratando de bem imóvel, o direito real só se transmite
com o registro e em se tratando de bem móvel, o direito real será transmitido com a
tradição/entrega do bem, conforme disposição dos artigos 1.226 e 1.227, vejamos:

Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou


transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição.

Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos


por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro
de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos
expressos neste Código.

Exemplo: Em um contrato de compra e venda feito por João (vendedor) e Maria


(compradora) de uma bicicleta pelo valor de R$10.000,00. O contrato é feito e
assinado por ambas as partes. Maria entrega o dinheiro no ato da assinatura do
contrato e João promete entregar a bicicleta no dia seguinte. Na volta para casa,
João encontra com Marcos (que não sabia da venda) e oferece a mesma bicicleta
pelo mesmo valor. Ele, de boa-fé, aceita, paga o preço e João entrega a bicicleta
para ele. Quem é o proprietário da bicicleta? Marcos! Pois foi com quem se deu a
entrega do bem móvel, conforme disposição do artigo 1.226 do CC. Maria pode
ajuizar ação reivindicatória contra Marcos ou João? Não, pois não é cabível uma
ação reivindicatória contra Marcos nem contra João com base no contrato de compra
e venda, porque nele há somente uma relação obrigacional com João, ainda que o
objeto seja a propriedade da bicicleta, porque a propriedade não se concretizou (não
houve a tradição). E agora? Maria fica sem a bicicleta e sem o dinheiro que pagou?
NÃO! Maria poderá ajuizar, contra João, uma ação obrigacional (dar/entregar)
em virtude do estipulado em contrato. CONCLUSÃO: o direito obrigacional, por
si só, não gera o direito real, porque temos a aplicabilidade dos artigos 1.226 e 1.227
do Código Civil que tratam da forma com a qual o direito real é transmitido (tradição
ou registro).

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2.1. OBRIGAÇÕES HÍBRIDAS

São situações que possuem concomitantemente o direito obrigacional e o direito real,


porque não tem como atribuir um status exclusivamente de direito real ou como
sendo exclusivamente de direito obrigacional

São exemplos de obrigações híbridas:

2.1.1. OBRIGAÇÕES PROPTER REM


É a obrigação própria da coisa. É a obrigação que se origina com a coisa, transmite-
se com a coisa, chamada de obrigação ambulatorial. Aonde a coisa vai, ela vai junto,
porém, existe uma relação de credor e devedor.

Exemplos: IPTU, IPVA, TAXA CONDOMINAL - A relação obrigacional surge a partir


de um direito real – a propriedade do imóvel.

2.1.2. ÔNUS REAIS


São obrigações que acabam limitando o uso/gozo da propriedade, acabam gerando
efetivamente uma relação entre sujeitos, gera um verdadeiro gravame.

Recai sobre uma determinada coisa e restringe num ou noutro grau o direito que o
titular tem em relação ao direito real, logo não é possível, por exemplo, transferir o
direito real.

Exemplo: direitos reais de garantia como anticrese, no qual o bem é utilizado para
o pagamento de uma dívida.

2.1.3. OBRIGAÇÕES COM EFICÁCIA REAL


É a obrigação na qual se dá uma eficácia real – concede-se eficácia de direito real –
erga omnes, pois em regra o direito obrigacional possui eficácia inter partes.

Quando se fala em direito real, uma grande característica é que esses direitos são
direitos erga omnes (para todos e contra todos) e as obrigações, por sua vez, são
inter partes.

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Isso porque um direito obrigacional, vai produzir efeitos exclusivamente entre credor
e devedor, exclusivamente entre as partes.

Quando temos uma obrigação e atribuímos a ela uma eficácia real, essa obrigação
está produzindo um efeito, em vez de somente inter partes, uma eficácia contra
todos, erga omnes.

Exemplo: Marcos alugou seu apartamento para João pelo prazo de 36 meses;
quando completa 1 ano, Marcos decide vender o imóvel.
De acordo com a lei de inquilinato (Art. 27, Lei n. 8.245/1991), o locador deve deixar
que o locatário exerça o direito de preferência, devendo notificar o locatário de que
pretende vender o imóvel para saber se esse locatário tem interesse em comprar o
imóvel. Imagine que João, locatário, manifesta recusa na compra do imóvel e um
terceiro manifesta interesse. Esse terceiro, adquirente do imóvel, é obrigado a
respeitar as regras do contrato de locação e manter João no imóvel? Não, podendo,
inclusive, retirar o locatário do imóvel. A ação promovida pelo novo dono será uma
ação de despejo? Não, porque ele não é parte no contrato de locação. Será uma
ação de imissão na posse. Existe algum mecanismo que o locatário possa utilizar
para que, mesmo com a alienação do imóvel, ele não seja retirado do imóvel? Sim,
se àquela obrigação houver sido dado o efeito erga omnes, ou seja, uma obrigação
com eficácia real. Neste caso, com observância do artigo 576 do CC, vejamos:

Art. 576. Se a coisa for alienada durante a locação, o adquirente não ficará
obrigado a respeitar o contrato, se nele não for consignada a cláusula da
sua vigência no caso de alienação, e não constar de registro.
§ 1º O registro a que se refere este artigo será o de Títulos e Documentos
do domicílio do locador, quando a coisa for móvel; e será o Registro de
Imóveis da respectiva circunscrição, quando imóvel.
§ 2º Em se tratando de imóvel, e ainda no caso em que o locador não
esteja obrigado a respeitar o contrato, não poderá ele despedir o locatário,
senão observado o prazo de noventa dias após a notificação.

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É uma cláusula de extrema importância que os locatários devem observar na hora
de assinar o contrato de aluguel. Ela garante a permanência do inquilino no imóvel
durante a vigência do contrato, mesmo que o imóvel seja vendido a outra pessoa.

Dessa forma, com a clausula e o registro na matricula, a obrigação inter partes,


passará a ter uma eficácia real, a partir da promoção do registro e que seja previsto
uma cláusula nesse sentido.

Uma obrigação que, no início é de efeito inter partes, mas tem-se a atribuição de
uma eficácia real, logo passará a produzir efeito erga omnes, contra todos.

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