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Direito Civil I

→ Leandro Zanitelli

Direito Das Obrigações

• O que são obrigações?


• Diferença entre Negócio Jurídico e Contrato. Conceitos que estão relacionados.
• Validade e Eficácia.

Em que consiste a eficácia de um contrato de compra e venda de uma bicicleta?

→ Não tem a ver com a ideia do recebimento da bicicleta, não tem a ver com o que acontece no
mundo. A eficácia jurídica tem a ver com o que muda juridicamente, o que o negócio altera
com a situação jurídica daqueles que estão relacionados, ou seja, com os direitos e deveres
que o contrato cria.
→ Direitos e Deveres decorrentes da compra e venda de uma bicicleta.

Comprador adquire o dever de pagar a bicicleta e o direito de receber a bicicleta.

Vendedor adquire o direito (correspondente) de receber o dinheiro e o dever de entregar a bicicleta.

(Há uma diferença de ordem lógica entre fazer um contrato e cumprir o contrato)

A ideia de que X não tenha entregado a bicicleta não faz com que o contrato não seja eficaz, tendo
em vista que ao realizar o contrato a situação jurídica já se alterou, ou seja, os envolvidos contraíram
deveres e direitos. Já existe um vínculo.

Esse vínculo de pessoas que contraem direitos e deveres é o que se chama de


obrigação/dívida/débito/relação jurídica obrigacional.

Logo, essa relação (no caso da compra e venda) se estabelece o comprador com um direito e o
vendedor com um dever é o que chamamos de obrigação.

O conceito é mais amplo do que o comumente utilizado. (engloba tanto o direito como o dever)

→ Credor/Sujeito Ativo é aquele que tem um direito de crédito (comprador da bicicleta)


→ Devedor/Sujeito Passivo é aquele que tem um dever de prestar/dever de prestação (vendedor
da bicicleta)

É importante ressaltar que nas relações jurídicas contratuais os agentes são simultaneamente
credores e devedores. Portanto, depende do bem jurídico a que se está analisando. É necessário
utilizar as palavras em um contexto, a fim de não serem confundidas.

→ Dever de Prestação: aquilo que o devedor deve ao credor; envolve a ideia de:
• Dar (entregar a bicicleta)
• Fazer (realizar algo; passear com um cachorro)
• Não fazer (omissão de algo; dever de não fazer algo)

Direito relativo (pessoa específicas) Direito absoluto (qualquer pessoa)

Nas obrigações o direito do credor (direito de crédito) é um exemplo de direito relativo. Isso significa
que o direito do credor é o direito contra a uma ou algumas pessoas determinadas. O direito do credor
é o direito contra uma pessoa em particular/específica.
O que não acontece é o caso de o credor ter direito contra qualquer um que é um direito absoluto. A
propriedade é um direito absoluto. X tem direito absoluto contra todas as pessoas que devem se
abster de estragar sua propriedade. Ex. Direito a vida, direito a propriedade (direitos da personalidade
geralmente são)

Exemplo:

Matheus quer comprar a bicicleta de um colecionador famoso que é da propriedade de Leandro. Os


dois realizam um contrato de compra e venda. Assim, há um contrato de compra e venda valido e
eficaz, fazendo com que haja uma obrigação (Leandro contraiu um dever e Matheus um direito e vice-
versa). Ainda não houve a entrega da bicicleta (entrega da tradição)

Posteriormente, Carol também fica sabendo da bicicleta e se interessa. Ela oferece o triplo do dinheiro
e Leandro acaba realizando um outro contrato e entrega a bicicleta para ela.

Dois contratos sobre a mesma bicicleta.

Matheus busca ajuda e quer saber o que pode fazer. Ele comprou e não recebeu. Ele, por ser um
colecionador, quer a bicicleta.

Pedidos:

→ Direito a bicicleta, com base no contrato valido e eficaz realizado.

Quando o Matheus compra a bicicleta ele não obtém o direito absoluto, mas sim o direito de crédito.
O efeito do contrato não atribui o direito absoluto, mas um direito relativo que seria o direito de
crédito.

O contrato cujo efeito é criar uma obrigação, significando que o Matheus tem direito contra alguém
em particular (Leandro). No caso de uma compra e venda o direito do comprador é contra do
vendedor. O direito do Matheus não é contra a Carol, pois não é contra aquele que está com a
propriedade da bicicleta, mas sim contra aquele que ele fez o contrato.

Ele pode reclamar uma indenização, mas não a bicicleta que não está mais com Leandro.

Caráter relativo do direito de crédito. É importante saber diferenciar esse caráter do direito de crédito
de outros direitos.

Aula: 11-03

O direito a honra é um direito absoluto (envolve todos). Quando alguém comete uma difamação
acaba por ofender esse direito.

No âmbito do direito penal essa ação é um crime e no direito civil é um ilícito civil, também chamado
de delito. Portanto, é um ilícito civil assim como é um ilícito penal, apenas há diferentes
consequências.

No direito civil as consequências são indenizatórias.

Logo a ofensa ao direito a honra faz urgir um outro direito que é o direito a indenização.

O direito a indenização (a vítima) vs dever de indenizar (ofensor, agente) --- relação obrigacional
(direito e um dever correspondente, o direito não e contra qualquer um, mas contra alguém
específico)

Esse caso, também é uma obrigação.


Portanto, dos delitos também surge uma obrigação.

Contratos e delitos surgem obrigação que se chama causa de obrigação/fonte;

Há ainda além dos contratos e delitos há outras fontes como, por exemplo, o pagamento indevido;
exemplo; zanitelle faz um pix errado (achou que era para x, mas mandou para y) nesse caso Y deve
devolver o pix;

As fontes (delito e contratos) envolvem duas grandes áreas do direito civil, sendo a parte do direito
da responsabilidade civil e direito contratual, respectivamente. Essas duas áreas pertencem a super
área do direito civil (direito das obrigações)

• Civil II e III (contratos)


• Civil IV (responsabilidade civil)

Portanto, essas duas áreas fazem parte do direito das obrigações tendo em vista que tratam de fatos
jurídicos cuja eficácia e obrigacional. o que nasce de um delito e de um contrato são obrigações

diferença entre negócio jurídico e contrato

Os contratos são negócios jurídicos que possui duas particularidades. E um negócio com duas ou mais
partes. não se chama todos os negócios de contrato pois há aqueles unilaterais (testamento) os
contratos também são negócios com efeito obrigacional. logo os contratos são negócio jurídicos cujo
efeitos se encontra a obrigação.

→ Se a compra e venda transferisse propriedade não seria um contrato pois se tornaria dono e
não credor.
→ No brasil quem compra não se torna dono, mas sim credor.

Introdução as obrigações contratuais

Ha uma ênfase em contratos.

Se a obrigação não é contratual, geralmente, o que o devedor deve e dinheiro. e uma obrigação
indenizatória. há certos temas que não irão surgir quando a obrigação e dinheiro. Como por exemplo
o caso da bicicleta. Portanto há muitos problemas que irão surgir apenas quando a obrigação for
dinheiro.

Ex. X vende um cavalo e esse cavalo morre. e agora?

Os problemas geralmente aparecem no contexto de contratos.

As obrigações contratuais possuem de particular o fato de que as obrigações cujo conteúdo variam de
acordo com o contrato, ou seja, variam de acordo com a vontade das partes; logo quando eu mato
alguém, difamo a consequência não depende de mim (é definida em lei). Mas quando eu faço um
contrato as obrigações irão decorrer dos agentes. Logo a maleabilidade de um contrato e maior do
que as outras obrigações

Para entender as obrigações que um contrato estabelece e necessário compreender o que um


contrato diz.

Interpretação contratual

Consiste na definição do conteúdo do contrato no qual será definido o que cada uma das partes deve;

Normas interpretativas podem ser de duas espécies (nem todas são previstas em lei)
1. Normas Cogentes/imperativas (NIC)

Exemplo: Art. 734; Art 192;

Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens,
salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade.

É uma norma para um certo tipo de contrato que é o de transporte. Por que essa é uma norma
interpretativa? Pois, ela diz como se deve entender os contratos de transporte. Interpretação diz
respeito ao conteúdo do contrato.

É cogente pois se aplica/define uma parte do conteúdo do contrato independente do que as partes
disseram ou deram a entender.

Se eventualmente as partes escrevem que não há responsabilidade, será compreendido que o


transportador tem sim (nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade)

Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes. (qualquer tipo de
contrato)
Os prazos de prescrição são aqueles que o credor tem para exercer seu direito ou exigir a prestação.
Independentemente do que as partes tenham querido, o conteúdo quanto a parte de prescrição é
definido pela lei;

2. Normas Dispositivas/Supletivas (NID)

Exemplo: Art. 551; Art. 331

Art. 551. Salvo declaração em contrário, a doação em comum a mais de uma pessoa entende-se
distribuída entre elas por igual. (contrato específico)
É uma norma interpretativa (entende-se). Se aplica quando não houver uma declaração em contrário
realizada pelas partes. Ela é tapa buraco.

A norma dispositiva só se aplica se as partes não tiverem dito ou dado a entender o contrário/algo
diverso, ou seja, só se aplica na dúvida.

Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode
o credor exigi-lo imediatamente. (qualquer tipo de contrato)

O credor não possui tempo para exigir sua prestação, pode ser realizada imediatamente.

→ X encomenda um armário sob medida para Y. Eles realizam o contrato e não definem uma
data de entrega. No silencio das partes aplicaria o Art.331, contudo, está subtendido que
haverá um tempo para que o móvel seja fabricado. Não se aplica o art.331 nesse caso.

Como saber qual norma é o que?

As vezes o texto da lei sugere qual é NID ou NIC. Como nos casos anteriores.

Art. 836 primeira parte;

Art. 836. A obrigação do fiador passa aos herdeiros;

O fiador é aquele que se compromete para socorrer alguém.


X faz uma dívida com Y, que possui receio da solvência de X. Nesse caso Z entra em cena e ocupa
posição de fiadora na dívida de X. Se X não pagar Z paga Y. Esse artigo diz respeito à morte do fiador,
alegando que, em caso da morte do fiador a obrigação passa aos herdeiros. Será necessário que haja
escrito o contrário desse artigo no contrato, o que força a classificação da norma.

→ É uma norma interpretativa. Mas ela é cogente ou dispositiva?

O texto não se faz nenhuma ressalva, mas isso não significa que é uma norma cogente. O texto não
ajuda nesse caso. Não se deve presumir.

O que fazer nesse caso?

→ Atitude pragmática: buscar jurisprudência, doutrinas...


→ O entendimento é que se trata de uma norma dispositiva

Outra perspectiva (próxima aula)

Aula: 14-03

O direito a honra é um direito absoluto. Mas quando alguém infringe esse direito, há a criação do
direito a indenização que é e um direito relativo, pois gera um direito de crédito.

Na estrutura da relação jurídica obrigacional será sempre um direito relativo. Se não for não gerará
um direito de crédito e, portanto, não será uma obrigação.

(Retornando a última aula)

A outra maneira de enfrentar o problema:

Já há um litígio. Sendo juiz como resolver o problema?

Um juiz razoável pode buscar na jurisprudência buscando manter o entendimento que tem
prevalecido.

Mas se não houver nenhuma posição muito definida sobre o artigo, a decisão em que ele tomar não
irá surpreender. Se X fosse o primeiro a decidir sobre o artigo, ou seja, se qualquer decisão a ser
tomada não coloque em risco a segurança jurídica, qual seria a melhor a ser tomada?

O importante e entender a diferença entre NID e NIC. As vezes não será fácil definir qual norma e
qual.

• Em que medida deve se dar espaço para a vontade das partes?


• Zanitelli na posição de juiz em questões assim se pergunta se há algum interesse público
relevante envolvido, pois essa seria uma razão para impor limites ao contrato; se X fizer um
contrato de fiança e o credor aceita livrar os herdeiros da responsabilidade alguém tem a ver
com isso? Não; a única pessoa que perde com essa cláusula e o credor; mas se o credor juiz
aceitando a cláusula, não há interesse de terceiros; além disso, e importante analisar se
determinada cláusula torna o contrato opressivo; deve analisar se a cláusula causa
desequilíbrio (sendo lesivo);
• Portanto se fosse juiz trataria também o artigo como uma norma dispositiva;
• Se um contrato for realizado de modo opressivo para alguma das partes, mesmo que tenha
sido acordado, ele deve continuar sendo valido?

3) Modalidades de obrigações:
3.1 Obrigações de Meios e de Resultado

Exemplo: X está fazendo aniversario amanhã. Y encomenda flores e deixa como marcada a entrega
das flores as 8:00. Ha duas maneiras de conceber a obrigação que decorre desse contrato. Uma
delas e qual a obrigação?

1. A prestação e que as flores sejam entregues amanhã as 8:00, portanto, a prestação consiste
na entrega das flores, as flores chegarem a sua destinatária; (obrigação de resultado)
2. O que o devedor deve ao credor? não e propriamente a entrega, mas sim tomar
providencias, usar dos meios cabíveis para que as flores cheguem ao seu destino; logo o
devedor deve tomar as providências para que as flores cheguem a casa de X as 8:00;
(obrigação de meios)

Qual a diferença?

O florista separou o buquê, preparou a entrega, mandou alguém em direção a casa de X com
antecedência para chegar na hora. Contudo, um imprevisto ocorre e acontece que alguém sequestra
um ónibus na rua de X e não há como ele entrar na rua, o entregador não consegue chegar a tempo;
houve prestação?

Se compreendemos a prestação quanto à 1 maneira, não ocorreu a prestação, já que a entrega não
ocorreu.

Se compreendemos a prestação quanto a 2 maneira, sim. Ele fez tudo que estava ao seu alcance foi
feito, as flores apenas não chegaram por causa de uma eventualidade; houve prestação, o devedor
fez aquilo que lhe incumbia;

O que irá mudar de uma obrigação para outra e a prestação (aquilo que na relação obrigacional o
devedor deve ao credor)

• Resultado: geralmente são as entregas; a prestação consiste no resultado, o devedor apenas


presta se houver a entrega, o resultado;
• Meios: a prestação é tomar as devidas providencias para que o resultado seja alcançado; se o
devedor fez o que estava ao seu alcance, mas por alguma contingência o resultado não e
alcançado o devedor prestou;

No direito brasileiro, geralmente as obrigações são obrigações de resultado. Há exceções; nas


obrigações contratuais e a norma interpretativa que irá se aplicar ao menos na dúvida;

Portanto, se nada houver tido sido dito no contrato, a obrigação da floricultura é de resultado. Para
que haja a prestação e necessário que as flores sejam entregues;

Qual seria a diferença se ao invés de não conseguir entrar pela rua e a floricultura ter esquecido de
enviar as flores? A diferença não importa, o que importa e que ambos não prestaram;

A semelhança é que em nenhum dos casos o devedor prestou; quais as consequências?

A questão principal e se houve prestação ou não.

Exceções:

• Obrigações de meios
Resultado consideravelmente aleatório: o devedor tem pouco controle; depende consideravelmente
de outros fatores além dele; nesses casos deve se compreender a obrigação como uma obrigação de
meios;

Exemplo: X procura um médico para tratar de um cancer. O resultado seria a cura do cancer. A cura
não depende apenas do médico e, portanto, a cura de uma doença e um exemplo de um resultado
consideravelmente aleatório; a prestação e de utilizador dos meios idôneos para tratar do câncer;
fazer tudo que está ao seu alcance;

Exemplo 2: advogado contratado para uma certa causa, a vitória pode ou não ser dele. Ela depende
de outros fatores além do trabalho do advogado; a prestação e o advogado realizar tudo que estiver
ao seu alcance;

Exemplo 3: X contrata um personal de academia e diz que quer ganhar 10kg de massa. A prestação
será de o personal realizar o máximo possível, depende em grande medida de outros fatores além de
sua atuação profissional;

A norma interpretativa diz que a obrigação e de utilizar dos meios possíveis para atingir o resultado;

A questão em jogo e a prestação. e importante saber se o devedor prestou ou não.

Ônus da prova; nas obrigações de meios (tradicionalmente) o credor tem um especial onus da prova,
ou seja, o ônus da prova de que a prestação não se realizou.

No exemplo do médico. Para saber se ele prestou ou não, não precisamos saber se ele se curou ou
não, pois sua prestação e tratar, fazer o possível, o que a medicina permite. o médico valeu dos meios
idôneos para curar o paciente? pode ser que ele tenha cometido algum erro, assim, não prestou.
Tradicionalmente entendia-se que o ônus da prova incumbia ao credor, ou seja, não é o médico que
deveria provar, mas sim o paciente, a família do paciente;

Atualmente, por causa do código de consumidor esse ônus da prova foi invertido, não é o paciente,
mas sim o médico afazer prova; medicina estética;

independentemente de como o ônus da prova e atribuído isso não afeta a naturezas da obrigação

A obrigação do médico não muda de obrigação de meios para resultado so porque invertemos o ônus
da prova, o médico deve demonstrar-se fez tudo que estava ao seu alcance, provando isso, ele puma
coisa e a. natureza da obrigação

Nas obrigações de resultado o ônus de prova é do devedor;

o devedor deve provar porque não houve o resultado

Clausulas de sucesso

Ex.: X e um advogado trabalhista e faz o acordo de que os clientes apenas pagarão honorários se ele
ganhar. Y quer reclamar uma ação. X diz que apenas irá cobrar caso ele ganhe a ação. a obrigação do
advogado e de meios ou resultado? seria essa uma exceção? essa cláusula condiciona a obrigação do
advogado ao sucesso.

A obrigação continua sendo de meios, já que a cláusula não diz respeito ao advogado como devedor;
a cláusula é de condição suspensiva que suspende a obrigação e coloca o advogado na posição de
credor; para que o advogado se torne credor é necessário um evento futuro e incerto, não tem a ver
com o advogado na posição de devedor;

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