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Direito Penal

(Prof.: Ridison Lucas)


Direito Penal – Ridison Lucas @profrilu

SUMÁRIO
DIREITO PENAL ............................................................................................................................................................... 2
Crime e Contravenção penal ...................................................................................................................................... 2
Sujeitos do crime ........................................................................................................................................................ 3
Crime e seus elementos ................................................................................................................................................. 3 1

Fato típico e seus elementos ...................................................................................................................................... 3


Conduta .................................................................................................................................................................. 4
Crime doloso (dolo) ................................................................................................................................................ 5
Crime culposo (culpa) ............................................................................................................................................. 7
Crime preterdoloso................................................................................................................................................. 9
Resultado .................................................................................................................................................................... 9
Nexo de causalidade ................................................................................................................................................. 10
Teoria da Equivalência das Condições (ou dos Antecedentes) ou Conditio Sine Qua Non .................................. 11
Teoria da Causalidade Adequada ......................................................................................................................... 11
Teoria da Imputação Objetiva (Claus Roxin) ........................................................................................................ 12
Nexo de Causalidade nos Crimes Omissivos......................................................................................................... 13
Tipicidade.................................................................................................................................................................. 14
Direito Penal – Ridison Lucas @profrilu

DIREITO PENAL
Olá! Vamos iniciar o nosso 3º encontro do Curso de Direito Penal.
Chegou o momento de estudar a Teoria do Crime.
Então vamos lutar com sangue nos olhos até a posse.
Pra cimaaaaaaa! 2
Caveeeeeira!
Prof.: Ridison Lucas
Instagram @profrilu
CRIME E CONTRAVENÇÃO PENAL
Infração penal é um gênero que possui duas espécies: o Crime e a Contravenção Penal.
Na legislação pátria, adotou-se o critério bipartido na definição das infrações penais, ou seja,
estas se subdividem em contravenções penais e crimes, inexistindo diferença conceitual entre as
duas últimas espécies.
O Crime (ou delito) pode ser conceituado sob os seguintes aspectos: material, legal e analítico.
 MATERIAL = Crime é toda ação humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico de
terceiro que, por sua relevância, merece proteção penal. No aspecto material, observa-se
se a conduta tem potencial ou não para causar lesão a bens jurídicos protegidos. O
conceito de crime é pré-jurídico, ou seja, é a concepção da sociedade a respeito do que
pode e deve ser proibido. Dessa forma, se uma lei disciplinar que arrotar em público é
crime, o ato, apesar da previsão legal, não será crime em sentido material.
 FORMAL ou LEGAL = Crime é toda infração penal a que a lei comine pela de reclusão ou
detenção. Sob o prisma formal, crime corresponde à concepção do direito acerca do
delito, em uma visão legislativa do fenômeno. Esse aspecto demonstra o sistema
dicotômico adotado no Brasil, em que a infração penal possui duas espécies: crime e a
contravenção penal. Se a Lei cominar apenas prisão simples ou multa, será contravenção
penal. Veja a Lei de Introdução ao Código Penal:
Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de
reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a
que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou
ambas, alternativa ou cumulativamente.
 ANALÍTICO = Esse aspecto divide o crime em partes. Se faltar uma delas, não será crime.
Surgiram, então, algumas teorias.
 Teoria QUADRIPARTIDA (4 partes): Crime era todo Fato Típico, Ilícito, Culpável e
Punível.
 Teoria TRIPARTIDA (3 partes): Crime é todo Fato Típico, Ilícito e Culpável. Ela é a
teoria que prevalece no Brasil e a base para se estudar a Teoria do Crime.
 Teoria BIPARTIDA (2 partes): Crime é todo Fato Típico e Ilícito. Para ela, a
culpabilidade é mero pressuposto de aplicação da pena. Apesar de não prevalecer,
possui relevância nos nossos estudos, conforme veremos durante as aulas.
Visto isso, observe do art. 1º transcrito nas linhas anteriores, que se a lei cominar pena de
detenção ou reclusão, cumulada ou alternativamente com a pena de multa, estaremos diante de um
Crime. Caso a lei comine a apenas prisão simples ou multa, alternativa ou cumulativamente,
estaremos diante de uma contravenção penal.
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Isso consagra o sistema dicotômico adotado no Brasil, no qual existe um gênero, que é a
infração penal, e duas espécies, que são o crime e a contravenção penal.
As contravenções penais são infrações penais que tutelam bens jurídicos menos relevantes
para a sociedade. Veja do quadro abaixo as principais diferenças entre crimes e contravenções.
INFRAÇÃO PENAL
CRIMES CONTRAVENÇÕES PENAIS
Máximo de cumprimento. 40 anos 5 anos 3
Privação de liberdade Reclusão ou Detenção Prisão simples
Tentativa Cabe Não cabe
Regras de Extraterritorialidade Aplicáveis Não aplicáveis
Reincidência por conduta no Praticado no exterior é levado em Praticado no exterior não
Exterior conta para efeito de reincidência. gera efeitos penais no Brasil.
Ação Penal Pública ou Privada Pública Incondicionada

SUJEITOS DO CRIME
Em regra, sujeito ativo é a pessoa que pratica a conduta delituosa descrita no núcleo do tipo
penal.
RILU, POR QUE VOCÊ DISSE “EM REGRA”?
É que, através do concurso de pessoas, ou concurso de agentes, a pessoa pode ser
responsabilizada mesmo sem ter praticado a conduta prevista no tipo penal, mas colaborou para que
o resultado ocorresse.
O sujeito passivo é aquele que sofre a ofensa causada pelo sujeito ativo. Pode ser de duas
espécies:
 Sujeito passivo mediato ou formal – É o Estado, pois a ele pertence o dever de manter a
ordem pública e punir aqueles que cometem crimes. Todo crime possui o Estado como
sujeito passivo mediato, pois todo crime é uma ofensa ao Estado, à ordem estatuída;
 Sujeito passivo imediato ou material – É o titular do bem jurídico efetivamente lesado. O
Estado também pode ser sujeito passivo imediato ou material, nos crimes em que for o
titular do bem jurídico especificamente violado, como nos crimes contra a administração
pública, por exemplo.
Ninguém pode ser, ao mesmo tempo, sujeito ativo e sujeito passivo imediato de um crime, pois
não se pune a autolesão.

CRIME E SEUS ELEMENTOS


Segundo a Teoria Finalista Tripartida, crime é todo fato típico, ilícito e culpável. Estes são os 3
elementos do crime que passaremos a estudar.
CRIME = FATO TIPÍCO + ILICITUDE + CULPABILIDADE

FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS


O FATO TÍPICO, primeiro elemento do crime, é formado pelas seguintes partes: Conduta,
Resultado, Nexo de Causalidade e Tipicidade. A não presença de um destes elementos torna a
conduta atípica, logo, não será crime.
FATO TÍPICO = CONDUTA + RESULTADO + NEXO DE CAUSALIDADE + TIPICIDADE
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CONDUTA
Várias teorias explicam o conceito de conduta. Vejamos aquelas que interessam para provas.
 Teoria CAUSAL-NATURALÍSTICA (ou clássica) = conduta é a ação humana, bastando um
movimento corporal para que exista conduta. Ela está em desuso por não levar em
consideração a vontade do agente (dolo ou culpa). Para a teoria causal, o dolo é a culpa
seriam objeto de análise na culpabilidade. Esta é a teoria adotada pelo Código Penal 4
Militar.
 Teoria NEOKANTISTA = conduta é um comportamento humano voluntário que produz
modificação no mundo exterior. Por ela, o dolo e a culpa fazer parte da culpabilidade.
 Teoria SOCIAL = conduta é a ação humana e voluntária, dotada de alguma relevância
social.
 Teoria FUNCIONALISTA TELEOLÓGICA OU MODERADA (Claus Roxin) = a noção de
conduta deve estar vinculada à função do Direito Penal. Assim, conduta seria a ação ou
omissão, dolosa ou culposa, que provoque uma ofensa relevante ao bem jurídico.
 Teoria do FUNCIONALISMO SISTÊMICO ou RADICAL (Gunther Jakobs) = a conduta seria a
ação ou omissão, dolosa ou culposa, que viola o sistema e frustra a expectativa normativa
(expectativa de que todos cumpram a norma). O que importa é se houve violação à norma,
não importando se há alguma ofensa a bens jurídicos. A missão do direito penal é a
proteção da norma e a punição do indivíduo desviante. O crime é a quebra da confiança da
sociedade provocada pelo individuo, produzindo com isso a disfunção social. O direito
entra em campo para consertar essa disfunção. Para essa filosofia de direito penal, quem
não obedece às normas de forma reiterada é inimigo da sociedade (direito penal do
inimigo) e a pena é a demonstração de vigência da norma.
 Teoria FINALISTA (Hans Welzel) = conduta é a ação humana (positiva ou negativa)
voluntária (vontade) dirigida a uma determinada finalidade. Conduta = Ação ou Omissão
(aspecto objetivo) + Vontade (aspecto subjetivo). Só há conduta se for dirigida a alguma
finalidade. Para a Teoria Finalista, o dolo e a culpa fazem parte do aspecto subjetivo da
conduta e a ausência deles gera a atipicidade do fato. Ela é a teoria utilizada no Brasil.
Assim, conduta é a ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a uma finalidade.
Sua existência pressupõe um comportamento humano, pois não há crime praticado por animais. As
pessoas jurídicas, embora possam ser sujeitos ativos de crimes, somente podem praticar conduta
penalmente relevante em casos excepcionais previstos no ordenamento jurídico (como é o caso dos
crimes ambientais).
Apesar das divergências entre as teorias, há 3 (três) elementos que se mostram presentes em
praticamente todos os sistemas penais: exteriorização do pensamento, consciência e voluntariedade.
Somente existirá conduta se houver a exteriorização do pensamento, mediante um movimento
corpóreo (ação) ou abstenção indevida de um movimento (omissão). O Direito Penal não pune o
pensamento, por mais imoral ou criminoso que seja.
Apenas atos conscientes entram no campo da ilicitude penal, daí o motivo de fatos praticados
em estado de sonambulismo ou hipnose não ser típicos.
A conduta precisar ser, ainda, voluntária, ou seja, fruto da vontade consciente do agente, não
existindo conduta punível no caso de movimento reflexos, sonambulismo e na coação física
irresistível (absoluta) dada a involuntariedade. Nos atos instintivos, o agente responde pelo crime,
pois são conscientes e voluntários, pois há um querer (mesmo que primitivo).
A conduta criminal pode ser por formada por apenas um ato ou por vários. No crime de
homicídio, por exemplo, a ação de matar pode ser executada com apenas um ato (um disparo de
arma de fogo) ou por uma sequência deles (vários golpes de instrumento contundente). Esses
crimes, que admite fracionamento em diversos atos são chamados de PLURISSUBSISTENTES.
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Porém, no crime de injúria verbal, o tipo penal descreve uma conduta que só pode ser praticada
por um ato, não tem como fracionar. Ou você exterioriza a injúria verbal ou não. São crimes
UNISSUBSISTENTES e, conforme estudaremos mais a frente, não admite tentativa. Já pensou alguém
ser punido por tentar falar uma injúria verbal? Não dá! Ou fala ou não fala.
A teoria finalista, adotada no Brasil, considera que a conduta penalmente punível deve ser
dolosa ou, nos casos previstos em lei, culposa. Dolo e Culpa fazem parte da conduta. A teoria causal,
contudo, entende que eles fazem parte da culpabilidade.
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O dolo e a culpa são elementos subjetivos do tipo penal. Com a teoria finalista de Hans Welzel,
eles foram transportados da Culpabilidade para o Fato Típico (conduta). Podemos afirmar, assim,
que a conduta, pela teoria finalista, não é apenas objetiva (sinônimo de ação humana). Ela é uma ação
humana dirigida a um fim ilícito ou não.
A conduta é formada por um elemento físico (fazer ou não fazer, ou seja, ação ou omissão) e um
elemento subjetivo (dolo ou culpa). Ausente qualquer deles, não haverá conduta. Assim, na hipótese
de força maior ou caso fortuito, não haverá dolo ou culpa, por conseguinte, não haverá conduta,
quebrando-se o fato típico.
CRIME DOLOSO (DOLO)
Algumas teorias buscam conceitua-lo.
 Teoria da Vontade = dolo é a vontade (desejo) consciente dirigida ao resultado.
 Teoria da Representação = haverá dolo quando o agente realizar a conduta prevendo o
resultado como certo ou provável.
 Teoria do Assentimento ou Consentimento = aquele que, prevendo o resultado, assume o
risco de produzi-lo, age dolosamente.
Existem outras teorias que podem ser cobradas em provas.
 Teoria da indiferença: estabelece a distinção entre dolo eventual e culpa consciente por
meio do "alto grau de indiferença por parte do agente para com o bem jurídico ou sua
lesão.
 Teoria da decisão contrária ao bem jurídico = quando o agente produz um resultado típico
por integrar a realização de seu plano, diferenciando-se de um mero descuido.
O Código Penal define crime doloso.
Art. 18 - Diz-se o crime:
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-
lo;
Veja que foram adotadas a teoria da vontade (agente quis) e a do assentimento (agente assumiu
o risco).
A consciência da ilicitude, ou seja, de que a conduta era contrária ao Direito, não pertence ao
dolo; ela integra a culpabilidade, conforme veremos nas próximas aulas.
Na primeira parte do art. 18, I, do CP, temos o DOLO DIRETO, que ocorre quando o agente tem a
vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. O dolo direto pode ser de 1º ou 2º grau. O
primeiro é a regra, isto é, quando o agente quis o resultado.
O dolo direito de 2º grau, também chamado de dolo de consequências necessárias, ocorre na
hipótese de o sujeito querer praticar a conduta contra uma pessoa, mas o resultado da sua conduta
gera resultados necessários em outras pessoas e ele aceita isso.
HÃ? ESTOU VOANDO, RILU...
Calma! Vamos lá. É a situação hipotética em que o agente, pretendo matar o seu desafeto, que
faria uma viagem de avião, coloca um bomba no meio de transporte. No caso, a intenção é de matar o
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desafeto, mas a conduta gera consequências obrigatórias na vida de outras pessoas. Assim, o agente
responde por dolo direto de 1º grau em relação ao seu desafeto e por dolo direito de 2º grau em face
das outras vítimas.
Existe, ainda, o DOLO INDIRETO, que se divide em DOLO EVENTUAL e DOLO ALTERNATIVO. A
parte final do art. 18, I, do CP, fala sobre o DOLO EVENTUAL, que ocorre quando o sujeito pratica
uma conduta e não quer o resultado, mas assume o risco de ele ocorrer. O resultado não é inerente
ao meio escolhido; ele pode ocorrer ou não.
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Trata-se de hipótese na qual o agente não tem vontade de produzir o resultado criminoso, mas,
analisando as circunstâncias, sabe que este resultado pode ocorrer e não se importa, age da mesma
maneira (dane-se).
Imagine, de forma hipotética, que Alquingelson decida levantar num certo dia e praticar tiro
esportivo no seu sítio, mesmo sabendo que os projeteis possuem longo alcance e que há casas na
vizinhança. O sujeito não quer que ninguém seja atingido, mas sabe que isso pode ocorrer e não se
importa, pratica a conduta assim mesmo. Se Alquingelson atingir alguém, estará praticando crime
doloso por dolo eventual.
No dolo alternativo, como diz o próprio nome, o agente pratica a conduta sem estabelecer um
resultado específico, isto é, qualquer dos resultados possíveis é válido. É o caso de alguém utilizar
instrumento para matar ou causar lesão corporal em alguém. No exemplo, o sujeito não quer apenas
matar; ele quer um ou outro resultado.
 Dolo direito = 1º ou 2º grau
 Dolo indireto = Eventual ou Alternativo
O dolo também pode ser classificado das seguintes formas:
 Dolo Genérico = é a vontade de concretizar os elementos do tipo; está presente em todos
os crimes dolosos.
 Dolo Específico = ocorre quando o tipo penal exige alguma intenção específica. Observe
que o crime de Extorsão mediante sequestro, além de exigir o dolo genérico de
sequestrar, também exige um dolo específico (fim de obter qualquer vantagem).
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
 Dolo Antecedente, Atual ou Subsequente = Antecedente é ocorre antes do início da
execução da conduta. Atual ocorrendo no momento em que está exercendo a conduta.
Subsequente ocorre quando o agente, embora tendo iniciado a conduta com uma
finalidade lícita, altera seu ânimo, passando a agir de forma ilícita (é o caso, por exemplo,
do art. 168 do CP).
Apropriação indébita
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a
detenção:
 Dolo de dano = quando o agente visa lesar o bem jurídico.
 Dolo de perigo = o sujeito visa somente expor o bem jurídico a perigo, sem intenção de
lesão.
 Dolo Natural = é a concepção dominante no Brasil, em que a intenção exige dois
elementos: consciência e vontade.
 Dolo Normativo = a intenção exige 3 elementos: consciência, vontade e consciência da
ilicitude. Essa teoria esta superada, pois o terceiro elemento faz parte da culpabilidade.
 Dolo Geral = ocorre quando o agente pratica uma conduta objetivando alcançar um
resultado e, após acreditar de forma errônea tê-lo atingido, realiza outro comportamento,
o qual acaba por produzi-lo. Por exemplo, imagine que Takakara Numuro golpeia, com a
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intenção de matar, um cidadão chamado Boca de Tucunaré; acreditando ter consumado o


homicídio, o infrator joga o corpo da vítima no rio, mas ela acaba morrendo afogada, pois
estava apenas inconsciente. Apesar de a intenção de praticar o crime através de golpes de
arma, o agente atingiu a sua finalidade, ainda que por outro meio, devendo responder por
homicídio consumado.
No caso do dolo geral, entende-se que o agente responde por apenas um crime (originalmente
previsto), aplicando-se a teoria (ou princípio) unitária. 7

CRIME CULPOSO (CULPA)


Nos crimes culposos, o agente viola um dever geral de cautela (cuidado) e acaba lesando um
bem jurídico de terceiro. A violação ao dever objetivo de cuidado por ocorrer das seguintes formas:
 NEGLIGÊNCIA (negativa) = é uma espécie de conduta negativa, em que o sujeito não toma
a devida cautela para que a conduta não gere um resultado lesivo. A omissão (relapso)
ocorre antes do resultado (que é sempre posterior). É a ausência de precaução, a falta de
adoção das cautelas exigíveis por parte do agente. Os pais que não guardam um vidro de
veneno, deixando sobre a mesa, atuam de forma negligente.
 IMPRUDÊNCIA (positiva) = ocorre com a quebra de regras de conduta ensinadas pela
experiência. Consiste no agir de forma precipitada, afoita, imprudente, arriscada ou
perigosa, aferida pelo comportamento do homem médio. O sujeito faz algo que a
prudência não recomenda. Ex.: pessoa que não sabe lidar com arma de fogo, fica
manuseando e acaba provocante um disparo, matando outrem.
 IMPERÍCIA (positiva) = decorre do desconhecimento de uma regra técnica profissional. É
a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. Deriva da prática de certa
atividade, omissiva ou comissiva, por alguém incapacitado para tanto, por falta de
conhecimento ou inexperiência.
Art. 18 - Diz-se o crime:
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência,
negligência ou imperícia.
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido
por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.
Um dos elementos do crime culposo é a tipicidade, ou seja, nem todos os tipos penais admitem
responsabilidade na modalidade culposa, mas apenas aqueles em que houver previsão expressa em
Lei.
A regra é a responsabilidade por dolo; a modalidade culposa depende de expressão previsão
legal. Veja, por exemplo, que o crime de Peculato tem disposição legal estabelecendo pena quando for
culposo, mas o crime de Emprego irregular de verbas ou rendas públicas não contém previsão
idêntica. Assim, o peculato pode ser doloso ou culposo, mas o crime previsto no art. 315 do CP
admite apenas na forma dolosa.
Peculato
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer
outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a
posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja
subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário.
Peculato culposo
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:
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Pena - detenção, de três meses a um ano.


§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à
sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de
metade a pena imposta.

Emprego irregular de verbas ou rendas públicas


Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da
estabelecida em lei: 8
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
RILU, E SE ESSE CRIME PREVISTO NO ART. 315 FOSSE PRATICADO DE FORMA
CULPOSA?
Excelente pergunta! Estaríamos diante de ATIPICIDADE do fato por não haver previsão legal da
responsabilidade por culpa. Em provas eles poderiam colocar também a expressão INDIFERENTE
PENAL.
Além disso, a culpa pode ser classificada das formas que veremos a seguir.
 CULPA CONSCIENTE e INCONSCIENTE
A culpa consciente ocorre quando o sujeito PREVÊ o resultado como possível, mas acredita que
não irá ocorrer. O agente com culpa consciente prevê, mas não aceita, a superveniência do resultado
de sua conduta. Ela parece com o dolo eventual, pois o agente pratica a conduta apesar de prever o
resultado.
A diferença é no elemento volitivo (vontade), pois no dolo eventual o sujeito assume o risco de
produzir o resultado, não se importando se vai ocorrer ou não, mostrando-se indiferente (dane-se).
Já na culpa consciente o agente não assume o risco, pois acredita, verdadeiramente, que ela não
ocorrerá. Ele confia na sua habilidade e acaba produzindo por negligência, imperícia ou imprudência.
Hipoteticamente, se um agente dirige um veículo em alta velocidade e vê um pedestre
atravessando a rua, tentando, sem êxito, evitar o atropelamento, ocorrerá a culpa consciente. Mas se,
na mesma situação, em vez de buscar evitar o acidente, ele continua com a direção imprudente,
pensando “se morrer, morreu”, será o caso de dolo eventual.
Na culpa inconsciente, o agente NÃO PREVÊ que o resultado possa ocorrer. Nem sequer passa
na cabeça dele que o resultado possa ocorrer. Todavia, o resultado era previsível e ele que não
previu.
 CULPA PRÓPRIA e IMPRÓPRIA
A culpa própria é a que estudamos, isto é, aquela em que o agente NÃO QUER o resultado. Ela
pode ser consciente ou inconsciente.
A culpa imprópria ocorre quando o agente realiza um comportamento doloso, desejando
produzir o resultado, mas acaba sendo responsabilizado por culpa, em face de um erro precedente,
que o fez compreender mal a situação e interpretar equivocadamente os fatos. Esse caso vai ocorrer
nas hipóteses do art. 20, §1º, e art. 23, parágrafo único, ambos do CP. No entanto, por ora, você só
precisar saber a diferença de culpa própria para imprópria. Os dispositivos legais que citei serão
estudados no momento oportuno.
RILU, POR QUE VOCÊ NÃO EXPLICA LOGO ESSES ARTIGOS?
É que estou estabelecendo uma sequência lógica e o mais didática possível para você
compreender o assunto. Quero ver meus alunos evoluindo passa a passo e sem atropelar as coisas.
Tudo isso faz parte de um planejamento para atingirmos o melhor resultado possível nas provas.
Confia! Bora lutar juntos!
 Culpa mediata ou indireta
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Imagine que um assaltante aborde um motorista que estava parado no semáforo, com o susto, a
pessoa acelera o veículo e colide com outro automóvel, gerando a morte dos envolvidos. No caso, o
assaltante não responderá pelo resultado indireto (culpa mediata), salvo se: a) haja nexo causal entre
a conduta inicial e o resultado posterior e b) o resultado possa ser considerado como um
desdobramento previsível e esperado.
Além das classificações que estudamos, é importante saber que NÃO EXISTE compensação de
culpas no Direito Penal, ou seja, quando o infrator e a vítima agirem com culpa ao mesmo tempo. É a
9
situação hipotética, em que dois motoristas colidem seus veículos após ambos cruzarem no sinal
vermelho, caso em que ambos responderão pelo delito.
A concorrência de culpas acontece quando duas ou mais pessoas agem culposamente e juntas,
gerando um resultado, caso em que todas responderão pelo resultado.
O crime culposo é composto pelos seguintes elementos:
 Conduta voluntária = ela não é destinada à produção do resultado.
 Tipicidade = precisa de previsão legal da responsabilidade por culpa.
 Resultado involuntário (naturalístico) = o agente não quis produzir o resultado, salvo
na culpa imprópria.
 Nexo causal = relação entre a conduta e o resultado ocorrido.
 Quebra de dever de cuidado objetivo = Negligência, imperícia ou imprudência.
 Previsibilidade objetiva do resultado = o resultado deve ser previsível, conforme o
homem médio. É previsível o fato cujo possível superveniência não escapa à
perspicácia comum.
ELEMENTOS
Crime DOLOSO Crime Culposo
Conduta dolosa Conduta voluntária
Tipicidade Tipicidade
Resultado Resultado involuntário (não querido e
nem assumido)
Nexo Causal Nexo causal
Quebra de dever de cuidado objetivo
Previsibilidade objetiva do resultado

CRIME PRETERDOLOSO
Nele, o resultado vai além da intenção do agente. O sujeito deseja um resultado e o atinge, mas a
sua conduta acaba ensejando outro evento, que ele não queria (decorreu por culpa). O agente age
com dolo no antecedente e culpa no consequente.
É o caso da lesão corporal seguida de morte (art. 129, §3º, do CP), crime em que o sujeito
provoca lesões corporais na vítima, mediante conduta dolosa. Entretanto, por conta de sua
imprudência na execução (excesso), acaba por provocar a morte da vítima, que era um resultado não
pretendido. É caso de dolo no antecedentes e culpa no consequente.
O crime preterdoloso é uma espécie dos crimes qualificados pelo resultado.

RESULTADO
Existe o resultado JURÍDICO (ou normativo) e o NATURALÍSTICO (ou material). O resultado
jurídico é a lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico protegido pelo Direito Penal. Todo crime gera
resultado jurídico (não há crime sem ele). É que não há delito sem que ocorra lesão ou perigo a
algum bem penalmente protegido. Aproveitando o ensejo, os crimes são classificados, de acordo com
o resultado jurídico, da seguinte forma:
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 Crime de Dano (ou lesão) = quando a consumação exige a efetiva lesão ao bem jurídico
tutelado. Ex.: Homicídio (art. 121, CP).
 Crime de Perigo (ou ameaça) = a consumação acontece apenas com a exposição do bem
jurídico a uma situação de risco. Os crimes de perigo se dividem em: perigo concreto (o
risco é uma elementar do tipo penal) e perigo abstrato (o perigo não está previsto no tipo
penal, ele é presumido). Veja, por exemplo, o art. 130 do CP (Perigo de Contágio Venéreo).
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato 10
libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que
está contaminado:
O tipo penal acima é de perigo abstrato, pois não há que se provar que a relação sexual era
capaz de transmitir a doença (o tipo penal exige a exposição). A conduta prevista no art. 130
independe de vontade ou intenção em transmitir a moléstia venérea, bastando que o agente saiba ou
deva saber que tenha contraído a doença venérea.
Apesar de todo crime produzir resultado jurídico (princípio da ofensividade). Nem todo delito
produz resultado naturalístico.
Resultado naturalístico é a modificação do mundo real provocada pela conduta do agente. Para
entender melhor, vamos observar alguns tipos de crimes.
 CRIME MATERIAL = o tipo penal descreve a conduta e um resultado naturalístico,
exigindo a ocorrência de ambos para a consumação do crime, como é o caso do homicídio.
 CRIME FORMAL = o tipo penal descreve a conduta e um resultado naturalístico, mas este
último não é exigido para fins de consumação. Veja, por exemplo, o crime de extorsão:
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com
o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a
fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Observe que o tipo penal exige a conduta (constranger) e o resultado naturalístico (obtenção
de vantagem indevida). Ocorre que a consumação do crime de extorsão não exige que a vantagem
econômica seja obtida, BASTA O INTUITO. Assim, apesar da previsão, o crime do art. 158 do CP não
exige resultado naturalístico para consumar. Da mesma forma ocorre no tipo penal de extorsão
mediante sequestro:
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
 CRIMES DE MERA CONDUTA = o tipo penal não faz nenhuma referência a resultado
naturalístico, descrevendo apenas a conduta punível independentemente de qualquer
modificação no mundo exterior. Veja que o crime de Omissão de Socorro, previsto no art.
135 do CP, não fala sobre o resultado naturalístico. Não precisa da morte, nem lesão de
terceira pessoa.
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou
ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses
casos, o socorro da autoridade pública:
Assim, apenas os crimes materiais exigem o resultado naturalístico para ocorrer consumação.

NEXO DE CAUSALIDADE
Trata-se de um vínculo que une a conduta ao resultado que produziu. É uma espécie de ponte
que une uma coisa (conduta) a outra (resultado). Ocorre que nem todo crime produz resultado
naturalístico, conforme estudamos, logo, não há ponte em todos os crimes. Assim, o requisito nexo de
causalidade é aplicável apenas aos crimes materiais.
Direito Penal – Ridison Lucas @profrilu

Sobre o tema, existem algumas teorias.


TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DAS CONDIÇÕES (OU DOS ANTECEDENTES) OU
CONDITIO SINE QUA NON
Ela define que é considerada causa do crime toda conduta sem a qual o resultado não teria
ocorrido, sendo um antecedente invariável e incondicionado de algum fenômeno, sem distinção
entre causa e condição. 11
Assim, para saber se a conduta causou ou não crime, devemos retirar a conduta e observar se o
resultado seria mantido. O problema dela é que chegamos a alguns absurdos, como é caso de afirmar
que a conduta dos pais do criminoso entraria na regra (se eles não tivessem colocado a pessoa no
mundo, o crime não iria acontecer).
Para evitar esses problemas, utiliza-se a presença ou não de dolo (vontade de praticar a
infração). Por isso, considera-se causa a conduta indispensável ao resultado que tenha sido prevista e
querida pelo agente.
Essa foi a teoria adotada, com regra, pelo Código Penal.
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é
imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem
a qual o resultado não teria ocorrido.

TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA


Essa teoria também foi adotada pelo CP, mas para uma situação específica: concausa
superveniente relativamente independente que, por si só, produz o resultado,
CONCAUSA? ESSES TERMOS SÃO COMPLICADOS, RILU. SOCORRO, MEU DEUS!
Talvez a primeira passagem pelo conteúdo não seja tão fácil assim, mas você precisa persistir.
Estude, revise e evolua dia a dia. Em breve você vai é dar aula disso aqui. Estamos diante de um
divisor de águas, quando os alunos chegam ao estudo da teoria do crime, muitos (a maioria) sentem
dificuldade e fogem. Outros enfrentam. Assim, não seja a maioria! É o momento de ir com calma para
compreender o tema.
Causa é o motivo, a razão de aquele fato ter ocorrido. Concausa é uma circunstância que atua
paralelamente à conduta do agente. Imagine a hipótese em que A atira em B e, a caminho do hospital,
o motorista da ambulância, visivelmente embriagado, não toma dos devidos cuidados, gerando um
capotamento do veículo; a vítima falece alguns minutos depois. O tiro foi a causa e a conduta do
motorista a concausa.
As concausas podem ser ABSOLUTAMENTE independentes (não precisam da causa principal
para produzir o resultado) ou RELATIVAMENTE independentes (atuam em conjunto com a causa
principal para produzir o resultado).
Imagine que João coloca veneno na bebida de Alquingelson com a intenção de matar; Maria,
sem que João soubesse, também queria matar a vítima e tinha colocado outro tipo de veneno na
bebida alguns minutos antes. Alquingelson falece e a perícia verifica que a morte ocorreu pelo
veneno utilizado por Maria. No caso, Maria responderá por homicídio consumado (o ato dela foi
suficiente para produzir o resultado e não precisou se juntar à conduta de João). Ele, por sua vez,
responderá por homicídio tentado.
As concausas absolutamentente independentes podem ser: preexistentes (já existiam antes da
conduta, como é o caso de uma doença), concomitantes (surgem durante a conduta) ou
supervenientes (surgem após a conduta, caso do exemplo da ambulância).
No exemplo do homicídio de Alquingelson, João não responde pela consumação do resultado,
pois ele não deu causa (teoria da equivalência dos antecedentes). Se tirar a conduta dele do evento, a
vítima faleceria do mesmo jeito. Assim, só Maria que responde pelo delito na forma consumada.
Direito Penal – Ridison Lucas @profrilu

Agora vamos entender melhor sobre as concausas relativamente independentes. Elas não
produzem por si só o resultado. Elas se juntam à causa para, em conjunto, produzir o resultado.
Também podem ser preexistentes, concomitantes ou supervenientes.
Imagine que Eva, com a intenção de matar, desfere vários golpes de faca em Zé Ninguém, que
era hemofílico e a infratora sabia desse fato. A vítima falece, sendo que a doença contribuiu de forma
considerável para o evento. Esse é um exemplo de causa preexistente (doença) relativamente
independente. No caso, Eva responderá por homicídio consumado.
12
RILU, MAS SE A VÍTIMA NÃO FOSSE HEMOFÍLICA, TALVEZ O HOMICÍDIO NÃO
OCORRESSE.
Pois é, mas se tirar a conduta de Eva do exemplo, Zé Ninguém estaria vivo. Assim, a conduta
dela foi a causa da morte.
ENTENDI, RILU! ESTOU GOSTANDO.
É isso mesmo. Vamos devagar para montar o caderno de Direito Penal. Além disso, é
importante gostar do processo de formação do caderno. Foca no processo que o resultado é
consequência. É hora de plantar!
Voltando ao assunto, o problema ocorre nas concausas supervenientes relativamente
independentes. No exemplo da ambulância, se a vítima falecer em virtude do acidente e não dos
ferimentos causados pelo infrator, quem atirou para matar responderia apenas por tentativa de
homicídio?
RILU, ACREDITO QUE SIM, POIS A SUA CONDUTA NÃO FOI A CAUSA DA MORTE. SE
SUPRIMIR A CONDUTA, O RESULTADO NÃO ACONTECERIA.
Certo! Estou gostado, você está compreendo o assunto. Mas então me responda, se o infrator
teve a intenção (vontade) de produzir o homicídio, por qual motivo ele não responde pelo resultado?
VISH, MAINHA DO CÉU. SEI NÃO, RILU.
É que para essas situações específicas o Código Penal adotou a Teoria da Causalidade
Adequada. O acidente de trânsito, apesar de produzir o resultado de forma independente, não
ocorreria se o infrator não tivesse atirado, ou seja, sem a conduta do agente que atirou, o homicídio
não ocorreria, considerando que a vítima não estaria naquela ambulância. Trata-se de uma concausa
relativamente independente.
Agora imagine se a vítima fosse socorrida e, chegando ao Hospital, submetida a uma cirurgia;
durante o procedimento, o ferimento infecciona e João morre por infecção hospitalar. Agora estamos
diante de uma causa superveniente (infecção) que não produziu por si só o resultado; a infecção
agregada aos ferimentos causaram a morte da vítima, situação em que o infrator responderá por
homicídio consumado. Veja o Código Penal:
§1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a
imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores,
entretanto, imputam-se a quem os praticou.

TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA (CLAUS ROXIN)


Com a finalidade de limitar a responsabilidade penal, ela busca aparar arestas das outras
teorias, definindo que a imputação só poderia ocorrer quando o agente tivesse dado causa ao fato
(causalidade física) mas, ao mesmo tempo, houvesse uma relação de causalidade NORMATIVA, assim
compreendida como a criação de um risco não permitido para o bem jurídico que se pretende
tutelar. Para a Teoria da Imputação Objetiva, a conduta deve:
Direito Penal – Ridison Lucas @profrilu

 Criar ou aumentar um risco


 Risco deve ser proibido pelo Direito
 Risco deve ser criado no resultado
 Contrariar a finalidade da norma protetiva (âmbito de proteção da norma de cuidado)
Esses critérios são considerados elementos normativos do tipo (implícitos), de sorte que, na
ausência de um deles, não haverá tipicidade (o tipo objetivo não estará configurado).
Há também a chamada HETEROCOLOCAÇÃO EM PERIGO, situação na qual a vítima, por 13
exemplo, pede ao agente, que está em sua companhia, que pratique uma conduta arriscada,
acreditando, firmemente, que não ocorrerá qualquer resultado danoso. Roxin citou os seguintes
exemplos:
 Apesar da tempestade, o freguês quer que o condutor de um barco faça com ele a
travessia do Rio Memel. O condutor desaconselha a que se proceda a travessia, apontando
para os perigos nela envolvidos. O freguês insiste, o condutor acaba correndo o risco, o
barco afunda e o freguês afoga-se;
 O passageiro, que deseja chegar a tempo em um compromisso, ordena ao condutor que
ultrapasse a velocidade máxima permitida. Em virtude da velocidade elevada, acontece
um acidente, no qual o passageiro vem a falecer;
 O dono de um carro, já incapaz de dirigir por motivo de embriaguez, atendendo aos
pedidos de um dos participantes da festa, permite que ele vá em seu carro. O passageiro
morre em um acidente causado pela alcoolização do motorista.
Basicamente, a Teoria da Imputação objetiva surgiu para conter os excessos da teoria da
conditio sine qua non. A finalidade dela não é substituir a teoria regra, mas atuar de forma corretiva
da causalidade, isto é, das impurezas trazidas pela Teoria da equivalência dos antecedentes causais
adotada pelo Código Penal.
Desse modo, a imputação objetiva possui essência de complementariedade, sendo como um
"filtro" para descobrir se o resultado poderá ser atribuído ao agente, ou seja, não basta ser causa, tem
que ter dolo ou culpa.
Assim, a Teoria da imputação objetiva possui natureza jurídica de excludente de tipicidade
dentro da análise do nexo de causalidade.
Ela prevê, por exemplo, que não haverá nexo de causalidade se o agente atuar dentro do risco
permitido, mesmo que a sua conduta gere resultado previsto em lei como crime.
Imagine a situação em que Teobaldo, para proteger sua namorada Teocreia de um
atropelamento, a empurra salvando sua vida, mas nela provoca lesões corporais (diminuiu o risco).
No caso, o fato não será típico por quebra do nexo de causalidade.
NEXO DE CAUSALIDADE NOS CRIMES OMISSIVOS
Nos crimes omissivos, também não há resultado naturalístico.
RILU, SE NOS CRIMES OMISSIVOS NÃO HÁ RESULTADO NATURALÍSTICO, TAMBÉM NÃO
HÁ NEXO DE CAUSALIDADE, NÉ?
Muita calma nessa hora. Primeiro precisamos diferenciar Crimes Omissivos Puros (ou
próprios) de Crimes Omissivos Impuros (ou Impróprios).
Nos crimes omissivos próprios, o próprio tipo penal estabelece que a omissão é infração penal.
O Crime de Omissão de Socorro, previsto no art. 135 do CP, ocorre com a simples omissão,
independentemente de qualquer resultado. É um caso de dever legal de agir. Trata-se de um crime
omissivo próprio.
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou
Direito Penal – Ridison Lucas @profrilu

ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses


casos, o socorro da autoridade pública(...)
No crime omissivo próprio há somente a omissão de um dever de agir, imposto
normativamente, dispensando a relação de causalidade naturalística (é um dever genérico imposto a
todos). São crimes de mera conduta, pois o tipo penal sequer faz referência à ocorrência de um
resultado naturalístico.
Nos crimes omissivos impróprios (também chamados de comissivos por omissão), não há um 14
tipo penal estabelecendo que a omissão é crime. O agente será responsabilizado pela ocorrência de
um resultado por omissão quando tinha um dever de agir específico. É a hipótese, por exemplo, de
um pai que descobre a prática de crime contra seu filho e, podendo, não adota nenhuma providência
para impedir a consumação do crime.
Na situação, o pai praticou um crime omissivo impróprio, pois tinha o dever específico de
proteção e cuidado do filho. Ele tinha o dever de agir para impedir o resultado. Nos crimes omissivos
impróprios a análise do resultado é relevante, pois é ele que será imputado àquele que se omitiu. Se
ocorrer homicídio do filho, o pai responderia por homicídio; se fosse lesão corporal, seria este crime
e assim sucessivamente.
Veja que o tipo penal incriminador descreve uma conduta positiva (ação) e o sujeito responde
pelo crime por estar juridicamente obrigado a impedir a ocorrência do resultado e , mesmo podendo
fazê-lo, omitiu-se.
Art. 13 (...) Relevância da omissão
§2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia
agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do
resultado.
RILU, AINDA NÃO ENTENDI QUAL É O RESULTADO NATURALÍSTICO, POIS, NO EXEMPLO,
O CRIME NÃO OCORREU POR UMA CAUSA IMPUTÁVEL AO PAI.
Bem, de fato a conduta do pai não deu causa ao resultado, pois este ocorreu por ação de outra
pessoa (o atual cônjuge, por exemplo). Contudo, pela TEORIA NATURALÍSTICA-NORMATIVA, o
resultado será imputado ao Pai em razão do descumprimento do dever de vigilância e cuidado.
É que, nos crimes omissivos impróprios, a relação de causalidade que liga ao resultado não é
física (a omissão não deu causa ao resultado). Ela é NORMATIVA (Teoria Normativa), isto é, a
imputação se deve em razão do descumprimento de uma norma que impõe o dever específico de agir
no caso concreto.
 Nos crimes provenientes de AÇÃO (comissivos), há uma relação de causalidade física (ou
natural).
 Nos crimes omissivos impróprios a relação de causalidade é normativa.
 Nos crimes omissivos próprios a relação de causalidade naturalística é dispensada (não
há relação de causalidade).

TIPICIDADE
A tipicidade é a adequação perfeita entre o fato natural, concreto, e a descrição abstrata contida
na lei. A tipicidade pode ser forma ou material. A TIPICIDADE FORMAL é a adequação da conduta do
agente a um fato descrito como típico pela norma penal. Veja a conduta prevista para o tipo penal
furto:
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Direito Penal – Ridison Lucas @profrilu

Se alguém subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel, ocorrerá a tipicidade formal
(adequação típica). Mas se a subtração for de coisa própria, não! É que o tipo penal exige que a coisa
seja alheia. A adequação típica pode ser:
 Direta ou Imediata = a conduta se amolda exatamente ao descrito na norma penal.
 Indireta ou Mediata = utiliza-se uma norma de extensão para que a conduta do agente
se amolde ao tipo penal. É o caso, por exemplo, de alguém emprestar uma arma para a
prática de homicídio. Para que o agente que emprestou a arma responda por homicídio 15
(art. 121) é necessário aplicar o art. 29 (participação).
A TIPICIDADE MATERIAL ocorre com a ofensa considerável ao bem jurídico tutelado. Nos casos
de aplicação do princípio da insignificância, falta a tipicidade material.
Desse modo, há adequação típica no ato de subtrair um pirulito do supermercado (tipicidade
formal), mas a conduta deixa de ser crime por não ofender de forma mínima os bens jurídicos
protegidos pela norma penal, faltando tipicidade material.
Exige-se, assim, a concomitância da tipicidade forma e material para que o fato seja típico.
STF e STJ estabeleceram requisitos para a aplicação do princípio da insignificância.
 STF (requisitos objetivos – não levam em conta características pessoais do infrator, como
o cargo):
 Mínima ofensividade da conduta
 Ausência (nenhuma) de periculosidade social da ação
 Reduzido (ou reduzidíssimo) grau de reprovabilidade do comportamento
 Inexpressividade da lesão jurídica
 STJ (requisito subjetivo):
 Importância do objeto material do crime para a vítima, de forma a verificar se, no caso
concreto, houve ou não, de fato, lesão.
Além da insignificância da conduta, na hipótese de aplicação do princípio da Adequação Social
da Conduta, isto é, tolerância da sociedade frente a uma conduta que é tipificada como crime,
também não haverá tipicidade. É a situação dos Pais que furam a orelha da filha (não há
responsabilização por lesão corporal).
Ufa, agora que estudamos o fato típico, vale ressaltar que, diante de causa de exclusão
(insignificância, sonambulismo, coação física irresistível, movimentos reflexos, caso fortuito, força
maior e etc.), ocorrerá atipicidade do fato, também chamado de indiferente penal. Em outras
palavras, NÃO SERÁ CRIME!
@profilu

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