Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO E PROCESSO PENAL
PROGRAMA DE MONITORIA
DIREITO PENAL I
Professor Orientador: Luís Augusto Sanzo Brodt
Monitor: Wilson Alves Ferreira
Semestre: 2019/1
CADERNO DO MONITOR
INTRODUÇÃO
Os crimes são definidos por meio da descrição da conduta proibida. Por exemplo,
ao definir o crime de homicídio, nosso Código Penal descreve a conduta proibida de
matar: art. 121: matar alguém. Essa descrição é chamada de tipo penal.
Para Nilo Batista, a melhor expressão é Direito Penal porque a pena é condição de
existência jurídica do crime e que mesmo a medida de segurança constitui-se com caráter
retributivo, possuindo, portanto, um matiz penal. No Brasil adotou-se Direito Penal. A
expressão Direito Criminal vigorou aqui somente com o Código Criminal de 1930.
O Direito Penal criminaliza condutas, mas não se pergunta sobre o ser destas condutas,
o que elas representam na biografia do sujeito, da problemática geral das condutas criminosas
na vida social etc. A Criminologia é a ciência que estuda a criminalidade do ponto de vista
biopsicossocial, estudando, portanto, a conduta criminosa e seu autor.
Criminologia crítica: essa vertente, que emana do paradigma da reação social, utiliza os
postulados marxistas para demonstrar que o Direito Penal se concentra na classe
trabalhadora como estratégia de controle e vigilância da classe dominante para proteger
seus bens.
Direito Penal subjetivo: É o jus puniendi, ou seja, o direito de punir, cuja titularidade
pertence exclusivamente ao Estado. Praticado o crime por alguém, nasce para o Estado
esse jus puniendi. Alguns doutrinadores são críticos a essa ideia, como Nilo Batista, que
prefere falar em poder de punir e não direito de punir. Vale ressaltar que o art. 22, I, da
Constituição Federal, define que cabe privativamente à União legislar sobre Direito
Penal.
Dogmática Penal (Ciência Penal): O termo Direito Penal também diz respeito ao saber
da Ciência Penal, que desempenha papel de analisar valorativa e criticamente o texto
legal da norma penal, sendo o sistema de interpretação da legislação penal, que recebe
também o nome de Dogmática Penal. O método dogmático se completa com as seguinte
fases: Reunião do conjunto de leis do Direito Penal objetivo > Interpretação deste
conjunto > Construção de conceitos e institutos > Organização dos institutos e formação
do sistema penal.
Direito Penal substantivo e Direito Penal adjetivo: Esta distinção já não vigora mais
em nossa dogmática, mas sempre é lembrada por nossos doutrinadores. Direito Penal
substantivo, também chamado de direito penal material, seria o direito penal
propriamente dito, composto por normas que definem crimes e cominam as respectivas
sanções. Direito Penal adjetivo, ou formal, seria o direito processual penal, que determina
a forma como deve ser aplicado o direito penal, sendo o instrumento de aplicação do
direito penal substantivo.
Direito Penal comum e Direito Penal especial: O Direito Penal comum é aquele cujas
normas podem ser aplicadas através da Justiça Comum. Já o Direito Penal especial é
aquele cujas normas somente são aplicadas por órgãos da Justiça Especial. Assim, no
Brasil há dois ramos do Direito Penal especial: o Direito Penal Militar e o Direito Penal
Eleitoral, que são aplicados pela Justiça Militar e pela Justiça Eleitoral, respectivamente.
É necessário destacar que essa distinção não pode ser confundida com legislação penal
comum (o Código Penal) e legislação penal especial, também conhecida como legislação
extravagante, que é constituída por leis penais fora do Código Penal.
A doutrina majoritária defende que o Direito Penal serve para garantir o convívio
em sociedade por meio da proteção dos bens jurídicos mais importantes. Argumenta-se
que ao criminalizar condutas que violem bens jurídicos, o Direito Penal dá a eles a
proteção necessária, pois coibiria aquelas condutas.
Claus Roxin define bem jurídico como circunstâncias reais dadas ou finalidades
necessárias para uma vida segura e livre, que garanta a todos os direitos humanos e civis
de cada um na sociedade ou para o funcionamento de um sistema estatal que se baseia
nestes objetivos.
Vale ressaltar, no entanto, que uma doutrina minoritária, como a de Juarez Cirino,
aduz que o direito penal é uma forma grave de controle social, servindo para conter a
classe explorada (trabalhadora) de condutas que possam ameaçar os privilégios da classe
dominante. Para ele, essa é a função real do Direito Penal, mas que é oculta em face ao
objetivo tradicional e declarado, defendido pela doutrina majoritária.
“A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” (art. 5º, XXXL, CF). Uma
lei penal somente incide sobre uma conduta se estava vigente no momento da
ação ou omissão. Todavia, existe uma exceção, que é quando a nova lei de
2
Curiosidade: esse Código é o exemplo da mais longa vacatio legis de que se tem notícias.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 6
qualquer modo beneficia o réu, aí ela retroage (in bonam partem) e atinge fatos
ocorridos mesmo antes de sua entrada em vigor.
Apenas a lei em sentido estrito é fonte formal do Direito Penal, ou seja, apenas a
lei pode definir crimes e cominar penas. Entretanto, o costume também pode ser
admitido in bonam partem para beneficiar o réu. Embora exista divergência, o
exemplo comum é o do crime de casa de prostituição, que foi praticamente
abolido pela existência generalizada de motéis (costume).
Analogia significa a aplicação da lei penal a fatos não previstos, mas semelhantes
aos previstos. É proibida a analogia quando constitui prejuízo para o réu. Ao
contrário, se for in bonam partem, é permitida. É necessário ressaltar que analogia
se distingue de interpretação analógica, que é uma interpretação extensiva
autorizada pela própria norma, como por exemplo o art. 121, §2º, I, do CP, que
define o crime homicídio qualificado pelo motivo (“se o homicídio é cometido
mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe”. O
“motivo torpe” é um termo genérico, o que permite uma interpretação de forma
extensiva para incluir outros motivos torpes não expressamente previstos).
3
O STF lamentavelmente ignorou a literalidade do texto constitucional para admitir o cumprimento provisório da pena.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 8
princípio, somente pode ser objeto de punição a conduta humana que afete o direito de
outras pessoas, ou seja, não autolesão não pode(ria) ser criminalizada.
4
Súmula 599 do STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 9
razoabilidade, que exerce uma função controladora. Razoável é aquilo que tem aptidão
para atingir os objetivos a que se propõe, sem, contudo, representar excesso algum.
O princípio do non bis in idem impede que uma pessoa sofra pena duas vezes
por um mesmo fato. Nosso Código Penal expressa esse princípio ao tratar da pena
cumprida no estrangeiro. Se uma pessoa cumpre pena por um crime cometido no
estrangeiro e vem ser punida no Brasil pelo mesmo crime, deve-se levar em conta o non
bis in idem nos seguintes termos “a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta
no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas”
(art. 8º do CP). Assim, quando as penas aplicadas ao agente no estrangeiro e no Brasil
forem diferentes, como no caso em que lá se aplica ao fato cometido pena restritiva de
direito e aqui, privativa de liberdade, então a pena cumprida no estrangeiro diminui a
pena a ser imposta no Brasil. Se, porém, as penas previstas para o fato são iguais (em
ambos os países se aplica a privativa de liberdade, por exemplo), então a pena cumprida
no estrangeiro é computada naquela a ser cumprida no Brasil. Exemplificando: Mévio
cumpre 2 anos de reclusão no estrangeiro. No Brasil, pelo mesmo fato é condenado a 3
anos de reclusão. Logo, Mévio deverá cumprir apenas 1 ano de pena no Brasil.
Norma penal é o comando imperativo que o Estado dirige aos cidadãos na matéria
específica que se refere ao poder punitivo. A norma penal em sentido estrito
(incriminadora) é formada pelo tipo penal, o preceito primário e a sanção penal (preceito
secundário). O tipo descreve a conduta proibida. O preceito primário expressa o
imperativo de proibição ou comando, ou seja, a vontade estatal de estender a
determinados bens jurídicos a proteção penal, proibindo ou ordenando atos. A sanção,
também chamada de preceito secundário, ameaça de punição a violação do preceito
primário (coercibilidade).
CLASSIFICAÇÃO
Fonte significa lugar de origem. Fonte do Direito Penal significa de onde emanam
as normas penais. As fontes do Direito Penal podem ser classificadas em
Princípios gerais do direito são as normas que não estão escritas, mas estão presentes
em todo o sistema jurídico, orientando o ordenamento jurídico em sua interpretação e
integração. Ex.: ideal de justiça.
Assim, basta saber quando o crime foi praticado e aplicar a lei vigente à época do fato
(tempus regit actum). Mas como saber quando o crime foi praticado? Para isso, é necessário recorrer
ao art. 4º do CP, que dispõe o seguinte:
Art. 4º. Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
resultado.
A disposição acima significa que nosso ordenamento jurídico adotou a Teoria da Atividade6
para definir o tempo do crime. Segundo esta teoria, o momento do crime é aquele em que o sujeito
ativo realizou a conduta proibida, o que importa é o tempo da ação ou omissão e não do resultado.
6
Existem, ainda, outras duas teorias:
i. Teoria do Resultado: o momento do crime é aquele em que o resultado foi produzido.
ii. Teoria da ubiquidade (mista): o momento é tanto aquele da ação ou omissão quanto o do resultado.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 13
Exemplifiquemos: Diego, nascido em 10/12/2000, quer matar seu desafeto Lúcio e então desfere
diversos disparos contra ele em 09/12/2018. A vítima é hospitalizada, mas morre em 20/12/2018.
Neste caso, para analisar a responsabilidade penal de Diego, é necessário observar a teoria da
atividade. No momento da ação, ele tinha 17 anos (um dia antes de completar 18 anos). Assim, ainda
que à época da morte da vítima ele já seja maior de 18 anos, não poderá sofrer pena (e sim medida
socioeducativa) em razão de sua inimputabilidade no momento da ação, pois o que importa é o tempo
da ação e não o do resultado.
Como dito, em regra, a lei penal é aplicável ao fato praticado durante sua vigência em razão
da máxima tempus regit actum. No entanto, pode haver sucessão de leis no tempo que excepcionam
essa regra, sendo necessária atenção para saber qual norma aplicar.
Nesse sentido, a Constituição prevê princípio da irretroatividade da lei penal maléfica (art.
5º, XL, CF). Assim, a lei penal que de qualquer modo prejudicar o agente (seja ele investigado,
indiciado, denunciado, réu, condenado ou preso) não pode retroagir. Portanto, é expressamente
proibida a retroatividade lei penal prejudicial. Ademais, o art. 5º, XL, da CF, ainda determina que a
lei penal benéfica retroagirá, ou seja, impõe a retroatividade da lei penal benéfica.
Art. 5º, XL. A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
Diante disso, podemos ter as seguintes situações de choque entre leis no tempo:
Abolitio criminis: é a o caso em que um crime é abolido do ordenamento jurídico, ou seja, o fato
anteriormente descrito como crime deixa de o ser. Em outras palavras, o fato é descriminalizado.
O exemplo mais citado é o do crime de adultério, que era previsto no art. 240 do CP e foi
revogado pela Lei 11.106/05. Neste caso, a lei nova que revoga o tipo penal é retroativa e deve
ser aplicada a todos os fatos ocorridos anteriormente. Essa hipótese é prevista no art. 2º, caput, do
CP, que diz o seguinte:
Art. 2º. Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude
dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Novatio legis incriminadora: uma nova lei passa a considerar como crime fato anteriormente não
incriminado. Portanto, é irretroativa, por força do art. 5º, XL, da CF. Recentemente, a Lei
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 14
13.718/18 criou alguns crimes, como o crime de divulgação de cena de estupro e de cenas de sexo
e de pornografia não autorizadas. Por ser uma lex gravior, aplica-se somente aos fatos praticados
após sua entrada em vigor.
Novatio legis in mellius: A lei nova, apesar de não descriminalizar a conduta, melhora a situação
do agente. É uma lex mitior, devendo retroagir e atingir também os fatos praticados antes de sua
vigência. Um exemplo muito recente é o da Lei 13.654/18, que modificou o art. 157 do CP (crime
de roubo) e passou a desconsiderar o emprego de arma branca como causa de aumento de pena do
crime de roubo (passou a prever que somente o “emprego de arma de fogo” aumenta a pena).
Assim, se uma pessoa foi condenada por roubo majorado pelo emprego de faca (arma branca), ela
agora tem direito a ver reduzida a sanção penal sofrida. A previsão está no parágrafo único do art.
2º do CP:
Art. 2º, parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
Novatio legis in pejus: A lei nova que prejudica de qualquer forma o agente é irretroativa,
aplicando-se somente aos fatos praticados após sua entrada em vigor. Um exemplo é o da Lei
13.718/18, que agravou a pena no caso de estupro coletivo.
Nos casos em que lei agrava de qualquer modo a situação do agente, a lei anterior terá ultra-
atividade, ou seja, será aplicada aos fatos praticados durante sua vigência, mesmo depois de
revogada. Assim, podemos concluir que a lei penal possui extra-atividade no tempo, podendo ser
retroativa ou ultra-ativa a depender do caso.
Retroatividade
Extra-atividade
Ultra-atividade
Com a retroatividade, a lei penal benéfica atingirá todos os fatos, mesmo aqueles praticados
antes de sua vigência. Podemos representá-la da seguinte forma:
retroatividade
Por outro lado, a Lei 6.368/76, embora revogada, será aplicada aos fatos praticados durante
sua vigência. Assim, se uma pessoa praticou tráfico ilícito de entorpecentes em 2005, mas somente
foi julgada em janeiro de 2007, será condenada à pena prevista na lei que vigorava à época do fato,
mesmo tendo sido revogada. É o que chamamos de ultra-atividade da lei penal.
ultra-atividade
Em regra, a ultra-atividade é benéfica, mas o legislador previu duas hipóteses em que a lei
revogada terá ultra-atividade ainda que seja mais gravosa, que é nos casos das leis temporárias e leis
excepcionais, nos termos do ar. 3º do CP.
Art. 3º. A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
A lei excepcional é criada parar reger circunstâncias anormais e vigora enquanto elas
subsistirem. Assim, a lei excepcional é sujeita a uma condição, ou seja, sua revogação depende de um
evento futuro e incerto. Exemplo: é criada uma lei para ser aplicada durante uma grave situação de
calamidade pública. Neste caso, a lei será revogada quando a calamidade se encerrar.
A lei temporária é criada para reger fato certo e temporário, sendo sujeita a um termo, ou seja,
sua revogação tem uma data futura e certa. Por exemplo, uma lei é criada para ser aplicada durante a
Copa do Mundo de Futebol, que se inicia em 01/06/2022 e se encerra em 01/07/2022.
Nos dois casos, a consequência será a mesma, a lei penal será aplicada aos fatos praticados
durante sua vigência, mesmo depois de revogadas e ainda que a lei posterior seja benéfica ao agente
(exceção à regra da retroatividade da lei penal benéfica).
LEI INTERMEDIÁRIA
LEX TERTIA
A lex tertia é a conjugação de leis penais no tempo, aplicando-se ao mesmo fato pontos
positivos de uma lei vigente e da lei revogada. Exemplo: a antiga lei de drogas previa a pena de
reclusão de 3 a 12 anos para o crime de tráfico ilícito de entorpecentes. A Lei 11.343/06 revogou a lei
anterior e cominou a pena de 5 a 15 anos de reclusão para o referido crime. Porém, a lei nova possui
uma parte benéfica que não existia na lei anterior, que é uma causa de diminuição da pena de um
sexto a dois terços. Assim, cabe o questionamento: é possível aplicar a pena da lei anterior e a causa
de diminuição da lei posterior? A resposta é NÃO7. Não é possível a conjugação de leis no tempo
(lex tertia) no Direito brasileiro, porque, na prática, estaria se criando uma nova lei, o que violaria o
princípio da separação dos poderes (art. 2º da CF).
Especial atenção é necessária em relação aos crimes continuados e aos crimes permanentes no
que diz respeito à aplicação da lei penal no tempo. Antes de prosseguir, temos que definir esses
crimes:
Crime permanente: é que aquele crime cuja consumação se prolonga no tempo. O crime de
sequestro o exemplifica bem, enquanto os sequestradores mantêm a vítima restrita de liberdade, o
crime está se consumando. Há uma continuidade temporal da consumação, que não se encerra
num dado momento.
Crime continuado: ocorre “quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes da mesma espécie, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e
outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro” (art. 71,
caput, CP). Exemplo: uma pessoa furta 10 reais todos os dias no caixa do supermercado onde
trabalha. Neste caso, todos os furtos serão tratados como um crime único em continuidade
delitiva.
Súmula 711. A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é
anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
Assim, se os sequestradores mantêm a vítima presa por meses e neste ínterim uma lei entra
em vigor aumentando a pena do crime de sequestro, ela será aplicada ao fato. Da mesma forma, no
7
Súmula 501 do STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei 11.343/06, desde que o resultado da incidência das suas
disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei 6.368/76, sendo vedada a
combinação de leis.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 17
exemplo supracitado de crime continuado, se uma lei aumenta a pena do crime de furto e a pessoa
continua furtando naquelas circunstâncias, a lei penal gravosa será aplicada.
Em princípio, a lei penal produz efeitos nos limites territoriais de cada Estado
soberano. Porém, tendo em vista que a criminalidade hoje transcende os limites do
Estado nacional, legislações passaram a prever que, em certos casos, a lei penal
ultrapassa aqueles limites para encontrar o criminoso onde quer que se encontre.
Art. 6º. Considera- se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou a omissão, no todo ou em parte,
bem como onde se produziu o resultado ou deveria produzir-se o resultado.
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência
Princípio da territorialidade
8
Existem, ainda, outras duas teorias:
i. Teoria da Atividade: o lugar do crime é aquele em que foi realizada a ação ou omissão.
ii. Teoria do Resultado: o lugar do crime é em que o resultado foi produzido.
9
O material brasileiro compreende uma faixa de doze milhas marítima de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar
do litoral continental e insular, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no
Brasil (art. 1º, caput, da Lei 8.617/93)
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 18
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar10 (art. 5º, §1º, CP).
Princípio da extraterritorialidade
Crimes:
Princípio da
universalidade
(cosmopolita)
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
As três primeiras previsões acima (art. 7º, I, a, b, c) têm fundamento no princípio real
(da defesa, de proteção) em que se tutela determinados bens jurídicos que o Estado
considera essenciais, buscando então punir a violação a esses bens onde quer que tenha
ocorrido. A quarta previsão (art. 7º, I, d) se fundamenta no princípio da universalidade ou
cosmopolita (ou justiça universal), que aduz que as leis penais devem ser aplicadas onde
quer que se encontrem os agentes quando os crimes são de relevância internacional e há
cooperação entre os Estados para coibi-los.
10
Alto-mar é o “mar de ninguém”, ou seja, aquela faixa do mar não submetida à soberania de qualquer país.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 19
se verifique a presença das condições previstas no art. 7º, §2º, do CP. Os crimes sujeitos
à extraterritorialidade condicionada são os seguintes:
Crimes:
Princípio da
universalidade
(cosmopolita) a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir
Princípio da
personalidade/ b) praticados por brasileiro
nacionalidade
ativa
Princípio da
representação c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou
(bandeira) de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não
sejam julgados
11
A doutrina chama essa condição de “dupla tipicidade”, ou seja, o crime deve ser fato típico no estrangeiro e no Brasil.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 20
e) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
f) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta
a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
EXTRADIÇÃO
O art. 82 da Lei de Migração define que a extradição não será concedida quando:
I- o indivíduo cuja extradição é solicitada ao Brasil for brasileiro nato; II- o fato que
motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente; III- o
Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando;
IV- a lei brasileira impuser pena de prisão inferior a 2 anos; V- o extraditando estiver
respondendo a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo
em que se fundar o pedido; VI- a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a
lei brasileira ou a do Estado requerente; VII- o fato constituir crime político ou de
opinião; VIII- o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal
ou juízo de exceção; IX- o extraditando for beneficiário de refúgio ou asilo territorial.
O art. 83 da referida lei ainda define que a extradição somente pode ser
concedida, no caso de condenado, se a pena imposta for privativa de liberdade, ou seja, o
Brasil não concede a extradição se o condenado for sofrer pena de morte, por exemplo.
DEPORTAÇÃO E EXPULSÃO
IMUNIDADE DIPLOMÁTICA
Mesmo não podendo aplicar a sua lei penal, o país em que se encontra o
diplomata pode declará-lo “persona non grata”, obrigando que ele saia do país em prazo
determinado.
IMUNIDADES PARLAMENTARES
12
O STF, em julgamento sobre Questão de Ordem suscitada na Ação Penal 937, decidiu restringir a prerrogativa de foro
aos crimes relacionados à função exercida.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 23
Em razão do princípio da simetria (art. 27, §1º, CF), as imunidades materiais e
formais de que gozam os senadores e deputados federais também são aplicáveis aos
deputados estaduais. Contudo, segundo entendimento do STF, as imunidades dos
deputados estaduais limitam-se às autoridades judiciárias dos respectivos Estados-
membros. Destarte, a prerrogativa de foro do deputado estadual será o Tribunal de Justiça
respectivo e a competência para sustar o processo ou revogar prisão será da Assembleia
Legislativa.
CONTAGEM DO PRAZO
Nas matérias de direito material penal13, como os prazos de prisão, a contagem do
prazo é definida no art. 10 do CP, segundo o qual o dia do começo inclui-se na contagem.
Além disso, o referido dispositivo legal dispõe que os dias e os meses são contados de
acordo com o calendário comum. O art. 11 do CP ainda define que desprezam-se, nas
penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia e, na pena de
multa, as frações de reais.
Como o dia do começo foi incluído na contagem, devemos excluir o último. Assim, a
resposta de nosso exemplo é 23 de dezembro de 2018.
TEORIA DO CRIME
No Brasil, adotamos o sistema bipartido14 de infrações penais, ou seja, nosso
ordenamento jurídico admite duas espécies de infrações penais: crime (sinônimo de delito) e
contravenção penal. Nos termos do art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal, crime e
contravenção penal se diferenciam no campo da pena: se a infração é punida com reclusão ou
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa, está se
falando de crime; se punida isoladamente com prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa
ou cumulativamente, trata-se de contravenção penal. Sendo assim, sempre que punida com
detenção ou reclusão, a infração será crime; sempre que punida com prisão simples ou apenas
com multa será contravenção penal.
As contravenções penais são infrações com menor potencial ofensivo. Nelson Hungria
as chamava de “crimes anões”. São disciplinadas pela Lei de Contravenções Penais (LCP).
Nos termos do art. 61 da Lei 9099/95, as contravenções penais e os crimes com pena
máxima cominada de até 2 anos são infrações de menor potencial ofensivo.
Reclusão: é a pena privativa de liberdade aplicada aos crimes mais graves e deve ser
cumprida em regime inicial fechado, semiaberto ou aberto. Ex.: art. 121, caput, do CP
(homicídio simples).
Detenção: é a pena privativa de liberdade aplicada aos crimes mais leves e deve ser
cumprida em regime inicial semiaberto ou aberto. A diferença básica é que na detenção
não cabe o regime inicial fechado, mas o condenado pode regredir de regime e ir para o
fechado após o início do cumprimento. Ex.: art. 163, caput, do CP (dano simples).
Prisão simples: é a pena privativa de liberdade aplicada nos casos de contravenção penal.
Ex.: art. 21 da LCP (vias de fatos).
Conceitos de crime:
14
O ordenamento jurídico de outros países adota o sistema tripartido, como na França, onde crime e delito são infrações
distintas. Crimes são as infrações penais com pena superior a 10 anos e os delitos são os infrações com pena inferior a 10
anos.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 25
Formal: crime é a infração da norma penal.
Material: crime é a conduta que ofende os bens jurídicos importantes da sociedade.
Analítico: crime é o fato típico, ilícito e culpável.
No Brasil, nosso Código Penal adotou o conceito analítico de crime. Logo, para
que uma conduta seja considerada crime é necessária a verificação de três elementos:
tipicidade, ilicitude e culpabilidade. A análise do fato deve seguir esta ordem. Primeiro
verifica-se se o fato constitui uma conduta penalmente relevante revestida de tipicidade,
depois se é ilícita e, finalmente, se o agente é culpável.
DOLOSO
sendo ele comissivo ou omissivo, pode ser classificado ainda em tipo doloso e tipo
culposo. O tipo doloso é aquele que exige o dolo para sua configuração. O tipo culposo é
aquele que exige a causação de um resultado com imprudência, imperícia ou negligência.
O mais importante dos tipos é o tipo comissivo doloso. Veja sua estrutura.
Elementos do tipo
-Ação
Tipo
-Resultado objetivo
DOLOSO -Nexo causal
-Dolo Tipo
subjetivo
TIPO -Elemento subjetivo especial
COMISSIVO
CULPOSO
O tipo comissivo doloso é formado por elementos objetivos, que formam o tipo
objetivo (ação, resultado e nexo de causalidade), e por elementos subjetivos, que formam
o tipo subjetivo (dolo e elemento subjetivo especial).
Teoria causalista
Teoria Finalista
Crítica: o finalismo não consegue explicar os tipos culposos, pois neste caso a
vontade não importa para a configuração do delito, o que importa é a causação do
resultado sem a observância do dever objetivo de cuidado (com negligência, imprudência
ou imperícia). Finalistas respondem, muito insatisfatoriamente, que nos crimes culposos
há sim um exercício da atividade final. O agente propõe-se a um fim, escolhe o meio e
manifesta a vontade. Entretanto, neste caso, o fim é lícito. Exemplo: pessoa propõe-se
chegar em casa, escolhe o carro para isso e manifesta sua vontade ao ir para casa, porém,
por uma imprudência, acabou matando alguém
Teorias Sociais
A três teorias a seguir fazem parte das mais modernas teorias acerca da conduta.
São as chamadas teorias funcionalistas, que se desdobram em três: funcionalismo
teleológico (teoria pessoal), funcionalismo sistêmico e funcionalismo redutor. Vejamos.
Atos inconscientes: são os atos em que falta a consciência psíquica do agente, como nos
casos de sonambulismo e hipnotismo. Vale ressaltar que a pessoa não pode ter se
colocado intencionalmente no estado de inconsciência (como no caso de embriaguez
preordenada16) e nem ter a possibilidade de prever o resultado (como no caso da mãe que
sabe que tem um sono agitado e mesmo assim se deita com seu bebê e acaba o matando).
Atos reflexos: são atos que independem do controle e previsão humanos, ocorrem em
decorrência de uma situação reflexa. Exemplo: Mévio tem um ataque epilético e lesiona
Caio, em decorrência dos reflexos do ataque.
Coação física irresistível: o ser humano passa a ser apenas massa mecânica, um
instrumento. A vontade é totalmente suprimida. Exemplo: Tício empurra Patrícia sobre
uma vitrine, o que a quebra. Não se pode falar em conduta penalmente relevante de
Patrícia sobre o crime de dano, pois seu corpo foi mero instrumento mecânico de Tício.
Força maior (ou força da natureza): ocorre quando um fato natural atua sobre alguém,
suprimindo toda sua vontade. Exemplo: Uma tempestade provoca que Angélica, dentro
15
O art. 20, caput, do CP, é apontado como uma comprovação de que o legislador reconheceu a teoria finalista.
16
É o caso da pessoa que se embriaga para conseguir praticar o crime.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 29
de seu carro, danifique a vitrine da loja de Caio. Não há conduta penalmente relevante
aqui.
TIPICIDADE
São elementos objetivos descritivos: ação, sujeitos, bem jurídico, resultado e nexo
de causalidade. Veremos cada um deles a seguir.
Ação
Ação é o verbo, também chamado de núcleo, com a descrição exata da conduta. Ex.:
CP, art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro. ⇒ a ação do tipo é
Sujeito
O sujeito pode ser ativo ou passivo. O sujeito ativo é o agente que realiza a conduta
descrita no tipo penal. Ex.: CP, art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem.
⇒ sujeito ativo é aquele que ofende a integridade física de outrem. Sujeito passivo é pessoa
titular do bem jurídico ofendido pela conduta delituosa. Ex.: no exemplo supracitado, sujeito
passivo é quem tem sua integridade física ofendida.
É importante assinalar que o sujeito ativo deve ser uma pessoa humana. Todavia, a
vigente Lei 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), autorizada pelo art. 225, §3º, da Constituição
Federal, definiu a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Destarte, a pessoa jurídica pode
sofrer sanção penal ao cometer crimes ambientais. Entretanto, isso não implica em negar que o
sujeito ativo é sempre uma pessoa humana, porque a responsabilidade penal da pessoa jurídica é
por “ricochete” (indireta), pois depende da prática de fato punível por pessoa física, que atuou
em seu nome ou benefício. Assim, nestes crimes ambientais sempre tem uma pessoa humana
administradora da pessoa jurídica que realiza a conduta do tipo. Por isso, uma parte da doutrina,
incluindo o Professor Brodt, considera inconstitucional a referida lei por ferir o princípio da
pessoalidade, estabelecido expressamente no art. 5º, XLV, da CF. Para essa doutrina, o
princípio da pessoalidade veda a responsabilidade penal da pessoa jurídica por se tratar de
punição de uma pessoa (jurídica) por ação cometida por outra (humana).
Bem jurídico
Todos os tipos penais possuem também um bem jurídico tutelado. Ex.: CP, art. 138 -
Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime. ⇒ o bem jurídico é a
honra. Cabe a questão então: qual o conceito de bem jurídico? Roxin conceitua bens jurídicos
como “circunstâncias reais dadas ou finalidades necessárias para uma vida segura e livre, que
garanta a todos os direitos humanos e civis de cada um na sociedade ou para o funcionamento
de um sistema estatal que se baseia nestes objetivos”. Assim, bens jurídicos são a vida, a
liberdade, o patrimônio etc.
Os bens jurídicos podem ser necessidades individuais, como a liberdade, mas também
podem ser necessidades coletivas, como o meio ambiente, que é um bem jurídico
supraindividual, cuja titularidade é da coletividade. Os bens jurídicos supraindividuais são
legítimos porque, a rigor, estão a serviço dos indivíduos, pois cada pessoa necessita
individualmente de um meio ecologicamente equilibrado (um ar respirável etc). Outro bem
jurídico coletivo é a soberania do país, uma vez que interessa a toda a coletividade, a um
número indeterminado de pessoas.
Resultado
O resultado naturalístico é a alteração no mundo exterior. Ex.: CP, art. 121. Matar
alguém. ⇒ o resultado naturalístico é a morte de alguém. Há tipos penais, porém, que não
exigem resultado naturalístico, como é o caso dos crimes de mera conduta. Ex.: CP, art. 150.
Violação de domicílio: “permanecer” na casa alheia não gera nenhuma alteração no mundo
exterior. Todavia, mesmo nos crimes de mera conduta, há sempre um resultado normativo.
Nexo de causalidade
Nos crimes em que é exigido o resultado naturalístico, ou seja, nos crimes materiais,
exige-se ainda o nexo de causalidade, que é o liame entre a conduta penalmente relevante e o
resultado naturalístico. É o que “liga” a conduta ao resultado. É o elemento do tipo que
estabelece quem deu causa ao resultado. Ex.: Pedro morreu em razão do tiro de João. João deu
causa ao resultado morte de Pedro. Entre o resultado e a conduta de João há um vínculo.
E quando eu sei que uma pessoa deu causa ao resultado? Devo recorrer à Teoria da
conditio sine qua non (condição sem a qual não) ou teoria da equivalência dos antecedentes
causais (todas as condições são equivalentes), segundo a qual causa é aquela condição sem a
qual não o resultado não teria ocorrido. E como sei que a condição é sine qua non? Por meio do
processo hipotético de eliminação: imagina-se que o comportamento não ocorreu, e procura-se
verificar se o resultado teria surgido mesmo assim, ou se, ao contrário, o resultado
desapareceria em consequência da inexistência do comportamento suprimido. Se concluir-se
que o resultado teria ocorrido mesmo com a supressão da conduta, então não há nenhuma
relação de causa e efeito entre um e outra, porque mesmo suprimindo esta, o resultado existiria.
Se ocorre o contrário, então o comportamento deu causa. Ex.: Mévio atira em Tício, levando
este à morte. Se o disparo não tivesse sido feito, Tício não morreria. Logo, o comportamento de
Mévio deu causa ao resultado. Incluindo um outro agente: Patrícia, amiga de Mévio, o
A resposta para a questão é dada pela Teoria da Imputação Objetiva, que se propõe a
estabelecer critérios normativos para identificar entre as ações que causaram o resultado, quais
efetivamente exigem a sanção penal.
CP, Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Para cada teoria do delito (causalista, finalista etc) é dada uma resposta diferente ao
regresso ao infinito.
Culpabilidade
=e
Ilicitude
Os pais de Mévio
Dolo e culpa seriam absolvidos
por falta de
Tipicidade culpabilidade
Ilicitude
Tipicidade
Os pais de Mévio
seriam absolvidos
Dolo e culpa por falta de
tipicidade subjetiva
O ponto de partida é a finalidade do direito penal. Claus Roxin aponta como finalidade do
direito penal a proteção de bens jurídicos. Sendo assim, somente podem ser consideradas típicas
aquelas ações consideradas perigosas para o bem jurídico, isto é, capazes de afetar o bem jurídico. Se
a ação não é perigosa, não há por que proibi-la no âmbito penal.
Quando uma ação é considerada perigosa a ponto de justificar a punição penal? É aquela ação
que tenha criado um risco proibido de que o resultado ocorresse. Além disso, é imprescindível que
esse risco tenha se realizado no resultado.
1.1. Riscos irrelevantes: Ex.: um pai entusiasmado com a aprovação do filho em Direito
na UFMG dá a ele um carro. O filho muito louco pega o carro, bate e morre.
Posicionado o homem prudente no momento em que o pai deu o carro, ele concluiria
que o objetivo do pai ali seria apenas presentear o filho e não matá-lo. Há o risco, pois
dirigir é perigoso, mas é irrelevante.
Outro exemplo: Um tio dá uma passagem aérea ao sobrinho com a intenção de matá-
lo em uma eventual queda de avião (o tio fica rezando para o avião cair). O homem
prudente não interpreta esta atitude como uma atitude apta a matar, afinal a
possibilidade de o avião cair é remota. Na posição de Greco, sequer há criação de
risco aqui. Não é necessário perquirir se é permitido ou não.
1.2. Diminuição do risco: Ex.: Vitória lança um tijolo para atingir a nuca de Maria. A
amiga de Maria então a empurra para salvá-la e o tijolo atinge o ombro dela, ferindo-a.
A amiga causou a lesão no ombro Maria (há nexo causal), mas o resultado produzido
é menos grave que aquele que iria decorrer da ação anterior (a pedra atingiria a nuca
da garota, poderia até matar!). O terceiro prudente interpretaria o fato como heroico e
não como alguém que desejasse a lesão no ombro da amiga. Houve aqui uma
diminuição do risco.
Com base nesses três explicados critérios, não haverá a desaprovação jurídica do risco criado
nas seguintes hipóteses:
2.1. Risco permitido: quando a pessoa observa todas as normas necessárias à conduta. Por
exemplo: a pessoa dirige segundo todas as normas de segurança, mas uma criança se joga
sobre o caso. Ele não é objetivamente imputável pelo resultado. Outro exemplo: se o lutador
obedece todas as regras do esporte, o risco será permitido.
2.2. Autocolocação em perigo: esse critério tem mais importância na Alemanha que no
Brasil. O Estado brasileiro é paternalista. Já a Alemanha não protege a pessoa dela mesma. Lá
a participação em suicídio não é punida. Se a pessoa conscientemente quer se suicidar e
alguém a ajuda na empreitada, o ajudante não é punido pelo Direito alemão. Em sentido
contrário, o Código Penal Brasileiro pune a participação em suicídio (art. 122 do CPB).
Assim, na Alemanha definitivamente a autocolocação em perigo não é uma hipótese de
desaprovação jurídica do risco criado.
Em debate: o médico é obrigado a fazer transfusão de sangue em testemunha de Jeová, ainda
que ela se negue? Há divergência. Há entendimento no sentido de que o médico é obrigado,
Pausa para dúvida: A teoria da imputação objetiva pode ser usada no Brasil? Sim, pois na
opinião majoritária, a teoria não é incompatível com a lei brasileira, ao contrário, existem
dispositivos que lhe dão embasamento.
3) Realização do risco proibido no resultado: se chegou nesta etapa, é porque foi criado um
risco e este risco é proibido (desaprovado). Para atribuir o resultado a quem gerou esse risco é
necessário perquirir se esse resultado realmente decorreu da ação perigosa que gerou o risco
proibido. É necessário investigar se o resultado está dentro do âmbito de proteção da norma
violada. Adotada essa ideia, estão fora do âmbito de proteção da norma as seguintes
hipóteses:
3.1. Lesão ou curso causal sem relação com o risco proibido: neste caso, o agente pratica
uma conduta que cria um risco proibido e o resultado se realiza, mas este não se encontra no
âmbito de proteção da norma porque não tem relação com a lesão ou curso causal. Ex.: uma
vítima, esfaqueada pelo autor, é hospitalizada, vindo a falecer em razão de um incêndio no
hospital. Para Greco, o incêndio no hospital não seria um curso causal capaz de legitimar a
proibição, porque o homem prudente não teria qualquer razão para imaginar que o hospital
pegaria fogo.
3.2. Danos tardios: exemplo: uma vítima de lesões corporais, alguns anos depois, perde o
equilíbrio em razão da lesão nunca completamente curada e cai, sofrendo várias fraturas.
Greco afirma que neste caso a punição não se legitima porque as segundas lesões sequer
passam pelo filtro da prognose póstuma objetiva (o homem prudente não iria prever). Mas
ainda que fosse previsível, não se poderia legitimar a proibição porque isso seria fazer do
agente um eterno fiado da integridade física da vítima, a ser responsabilizado caso esta viesse
a tropeçar e se machucar em algum momento do futuro, o que violaria o núcleo imponderável
de liberdade do agente.
3.3. Danos resultantes de choques: se uma mãe ao ouvir a notícia de que o filho foi
assassinado, sofre um ataque do coração e falece, o assassino não responde por mais esta
morte. Isso porque esse dano resultante do choque ultrapassa os limites do objetivamente
previsível e invade o núcleo imponderável de liberdade. Todavia, Greco acentua casos em que
a pessoa responsável pelo dano resultante de choque poderá ser punida. Ex.: uma velhinha
ADEQUAÇÃO TÍPICA
O Direito Penal não pune apenas o crime consumado, mas também sua tentativa. No
Código Penal não há um tipo penal com a descrição “tentar matar alguém”, mas ainda assim
a tentativa de homicídio é punida.
Nesse contexto, para verificar se a conduta é típica ou não, é necessário recorrer à
adequação típica, que se classifica da seguinte forma:
Nesse sentido, a adequação típica seria a seguinte: art. 121, caput, c/c art. 14, II, ambos
do Código Penal. “c/c” significa “combinado com”, ou seja, ambos os artigos são combinados
para que se chegue à adequação típica do homicídio tentado.
Outro exemplo de adequação típica mediata é em relação ao concurso de pessoas,
regulado no art. 29 do CP17. Uma pessoa que mata outra com um tiro responde por homicídio,
mas quem a emprestou a arma, conhecendo a finalidade do autor, também responde. A pessoa
que empresta arma para outra matar alguém também incide nas penas de homicídio. Neste
caso, a adequação típica se dá com a combinação do artigo do homicídio com o artigo de
concurso de pessoas: art. 121, caput, c/c art. 29, ambos do CP.
Todos os tipos comissivos dolosos exigem o dolo para sua tipicidade. O dolo vem
implícito nos tipos penais. Exemplo: art. 163 do CP20 (crime de dano). O tipo não fala em
“destruir, inutilizar ou deteriorar dolosamente coisa alheia”, mas é crime doloso em razão do
art. 18, parágrafo único, do CP, que dispõe que “salvo os casos expressos em lei, ninguém
pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente”.
Esse dispositivo enuncia a regra geral dos tipos penais: são dolosos. Assim, quando há
exceção ao dolo, a lei deve mencionar expressamente a hipótese do tipo culposo, como é o
caso do art. 121, §3º, do CP (“Se o homicídio é culposo: Pena – detenção, de um a três
anos”). No caso do exemplo do crime de dano, não há nenhuma menção ao tipo culposo, daí
que não existe crime de dano culposo (deve necessariamente ser doloso).
18
Art, 13, §1º, do CP: a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só,
produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
19
Proposta por Julio Glaser e desenvolvida por Oskar Bulow.
20
Art. 163, caput, do CP: Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. Pena- detenção, de um a seis meses, ou multa.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 40
DOLO
Dolo é consciência e vontade. Consciência de estar praticando uma conduta que reúne
os elementos descritos no tipo. A pessoa com dolo tem consciência que sua conduta preenche
todos os elementos objetivos do tipo. Exemplo: se alguém sabendo que o celular é alheio, o
subtrai e empreende fuga, terá praticado a conduta de furto com dolo. Outro exemplo: uma
pessoa se distrai e subtrai o celular alheio achando que era seu (pensou que coisa própria).
Neste último caso não houve dolo. A pessoa realizou a conduta sem ter consciência sobre um
dos elementos do tipo objetivo do crime de furto, especificamente o coisa alheia, pois achava
que a coisa era sua (coisa própria). O tipo penal do furto consiste em “subtrair, para si ou para
outrem coisa alheia móvel”.
A consciência é o primeiro elemento do dolo e é chamada de elemento cognitivo. A
vontade é o segundo elemento e é chamada de elemento volitivo, consistente na vontade de
realizar a conduta descrita no tipo. No finalismo, o dolo é natural.
Antes do finalismo, vigorava o causalismo. Nesta teoria, o dolo era chamado de dolo
normativo e fazia parte da culpabilidade. Não tinha nada a ver com a tipicidade. O dolo além
de ser integrado pela consciência do fato e pela vontade, era também integrado pela
consciência da ilicitude. Exemplo: uma estrangeira alemã, que realizou dois abortos legais na
Alemanha, descobre no Brasil que estava grávida e procura um médico, que lhe diz que o
aborto no país é legal. Neste caso, ela possuía consciência do fato (sabia que abortaria) e tinha
vontade de praticar a conduta, mas não possuía consciência da ilicitude. Assim, no causalismo
a alemã não teria dolo e, em consequência, seria absolvida por falta de culpabilidade.
No finalismo, o dolo integra a tipicidade e é composto apenas pela consciência do
fato e pela vontade. A consciência da ilicitude passa a ser elemento autônomo da
culpabilidade. Assim, para a teoria finalista, a alemã praticou um fato doloso, uma vez que o
dolo é composto apenas pela consciência e pela vontade. Todavia, assim como no causalismo,
ela seria absolvida por falta de culpabilidade, uma vez que esta é integrada pela consciência
da ilicitude.
CAUSALISMO FINALISMO
Tipicidade Tipicidade
Culpabilidade
Dolo normativo
Ilicitude
Culpabilidade
O CP não define dolo, mas diz quando o crime é doloso (art. 18, I, do CP: diz-se o crime
doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo).
Dolo direto: Art. 18, I, primeira parte, do CP: quando o agente quis o resultado.
Dolo direto de 1º grau: O agente age de forma direta para produzir o resultado.
Ex.: A atira em B com a intenção de matá-lo.
Dolo direto de 2º grau: também chamado de dolo de consequência necessária. O
resultado é consequência inevitável (necessária) da conduta, daí que pode se dizer
que foi dolosa. Ex.: A quer matar B e coloca um explosivo no carro deste. O meio
escolhido, o explosivo no veículo, provocará inevitavelmente o crime de dano. Ora,
destruir o carro também é conduta dolosa em razão de ser a consequência necessária
do meio escolhido. Se há mais pessoas no carro para além daquelas que ele queria
matar, responderá em relação à morte das demais por dolo eventual.
Dolo eventual: Art. 18, II, segunda parte, do CP: “ou assumiu o risco de produzi-
lo”. No dolo eventual, a pessoa prevê o resultado e ainda assim não deixa de
praticar a ação, porque ela não se importa com ele. Fórmula de Frank: “se o agente
diz a si próprio: seja como for, dê no que der, em qualquer caso, não deixo
de agir, é responsável a título de dolo eventual”. Ex.: A está numa corrida de
racha, com várias pessoas na rua, prevê que pode matar alguém, mas mesmo
assim pouco se importa se isto realmente acontecer, assumindo o risco de
produzir a morte.
Alternativo: aquele em que o agente prevê a pluralidade de resultados e pretende
que sua conduta atinja qualquer um deles. Ex.: A atira em B, sabendo que pode
lesioná-lo ou matá-lo, mas quer qualquer um destes resultados.
Geral: o agente, supondo já ter alcançado o resultado por ele visado, pratica
nova ação que efetivamente o provoca. Segundo a doutrina majoritária, neste
caso, o dolo da primeira conduta se transfere para o resultado. Ex.: K atira em
B, e acha que este veio a morrer, não sendo, no entanto, verdade. Então, o joga de
cima de uma ponte para ocultar o que achava ser um cadáver. B vem então a morrer
de traumatismo craniano, decorrente do impacto da queda. Neste caso, o dolo da
primeira conduta (dolo de matar), se transfere para o resultado, respondendo K por
homicídio doloso. A doutrina minoritária defende, porém, que há tentativa de
homicídio (primeira conduta: K tentou matar B) e homicídio culposo (segunda
conduta: K matou B culposamente). Aqui ocorre um erro sobre o nexo causal, ou
seja, o agente erra sobre o que realmente causou o resultado.
A definição de crime culposo está no art. 18, II, do CP: diz-se o crime culposo quando
o agente deu causa ao resultado com imprudência, negligência ou imperícia. A culpa deve estar
expressa no tipo! Ex.: art. 121, § 3º, CP (homicídio culposo): o tipo faz menção explícita à
modalidade culposa do homicídio – “Se o homicídio é culposo”. Outro exemplo: art. 129, §5º, do CP:
“se a lesão é culposa”.
São elementos do tipo comissivo culposo: ação perigosa (risco proibido), resultado e
previsibilidade objetiva.
Os tipos culposos são chamados de tipos abertos porque precisam ser preenchidos por
avaliação do juiz (se a pessoa atuou com cuidado). Não confundir com a norma penal em branco,
nesta há um complemento por meio de outra norma ou regulamento.
A previsão legal de culpa (art. 18, II, CP) estabelece uma relação causal entre uma
violação do bem jurídico e as condutas objetivas imprudentes, negligentes ou imperitas. Como
a lei não define o que seja “imprudência”, “negligência” ou “imperícia”, isso ficou a cargo da
jurisprudência e doutrina:
Espécies de culpa
Culpa inconsciente (própria): é a maioria dos casos. Ocorre quando o agente não previu o
resultado, embora poderia ter previsto segundo a previsibilidade objetiva: imprevisão do que
era previsível. Ex.: Aroldo ultrapassa a velocidade máxima permitida e atropela uma criança
que não tinha visto que estava atravessando a rua para pegar uma bola. Aroldo responde
pelas lesões provocadas na criança porque o resultado era previsível.
Culpa consciente (imprópria): O agente prevê, porém acredita, por ingenuidade ou excesso
de confiança, que o resultado não vai ocorrer. Esse conceito é próximo do de dolo eventual,
mas dele difere porque neste o agente não se importa com o resultado.
TIPOS OMISSIVOS
Há tipos comissivos, que, como visto, descrevem um “fazer algo”, como é o caso do
tipo de homicídio (“matar alguém”). Todavia, existem também os tipos omissivos, que se classificam
em tipo omissivo próprio e tipo omissivo impróprio. Vejamos.
Tipo omissivo próprio: o tipo penal descreve um “não fazer algo” (uma abstenção de
comportamento), cujo preceito é um “fazer algo”, sendo então a norma penal mandamental.
Exemplos: art. 135 do CP (omissão de socorro); art. 269 do CP (omissão de notificação de
doença). Os tipos omissivos próprios, portanto, são compostos por um verbo nuclear (ação)
21
A jurisprudência vem tratando os casos de homicídios no trânsito como sendo de dolo eventual. No entanto, faz isso
porque a sociedade vem exigindo penas mais duras para estes delitos, em clara tendência punitivista. Nossos
Tribunais atribuem dolo eventual a condutas que na verdade podem ser culposas (conscientes), pois a pena para crime
doloso é maior.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 44
que descreve um “não fazer algo”, uma situação22, um nexo normativo e um sujeito ativo
comum. Além disso, o tipo omissivo próprio não faz menção a um resultado naturalístico.
Em relação a não menção a um resultado naturalístico na omissão própria, é que não é
possível tirar de uma omissão uma força para criar um resultado em sentido naturalístico. O
pode ocorrer é um aumento de pena em razão do resultado produzido (ex.: parágrafo único do
art. 135 do CP).
Quanto ao nexo normativo, o legislador presume que se a pessoa que se omitiu tivesse agido,
teria se evitado um resultado mais grave. Todavia, não há um nexo de causalidade
propriamente dito, porque com a teoria da conditio sine qua non, não é possível afirmar com
segurança se o resultado teria deixado de existir. Trata-se aqui de uma presunção do
legislador, por isso o nexo é normativo.
A respeito do sujeito ativo comum, é preciso afirmar que o dever de ajuda aqui decorre do
dever de solidariedade necessária a todos que vivem em sociedade. É um dever imposto a
todos. Então, se o sujeito é maior e capaz e ver uma criança abandonada deve prestar
assistência a ela para não incorrer no crime de omissão de socorro.
Tipo omissivo impróprio (comissivo por omissão): ocorre quando um agente não faz (omite)
uma ação predeterminada exigida a ele face ao Direito. Assim, o sujeito que deveria evitar o
injusto é punido pelo tipo penal comissivo que corresponde ao resultado. O sujeito que
deveria evitar o injusto é chamado de garantidor. Esta posição consiste no dever atribuído a
alguém para garantir a proteção ao bem jurídico de outrem, atribuição dada devido à posição
que mantém em relação ao titular do bem (o sujeito ativo é especial). Quem tem esta
posição está definido no rol extensivo do § 2º do art. 13, do CP. Vejamos
O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância. É o exemplo dos pais em
relação aos filhos menores. Se uma mãe vê seu filho afogando e nada faz, mesmo podendo
fazer, responde não por omissão de socorro e sim por homicídio (delito comissivo). Outro
exemplo é o do agente penitenciário que vê o detento sendo morto e nada faz.
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado. É o exemplo da mulher
que se comprometeu a cuidar do filho da família vizinha. Outro é o exemplo do salva-vidas
em um parque aquático em relação às crianças que lá brincam.
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. É o chamado
dever de ingerência. É o exemplo do aluno do 2º período de Direito da UFMG que joga um
calouro na piscina. Com esse comportamento, ele criou o risco da ocorrência do resultado.
Finalmente, vale dizer: não basta ter o dever de agir, é necessário ter a possibilidade de agir.
Imagine o exemplo de um filho que está se afogando, mas o pai não sabe nadar. Caso o filho
morra, não se pode falar em delito omissivo impróprio.
Na adequação típica dos crimes omissivos impróprios é sempre necessário fazer menção ao
art. 13, §2º, do CP para afirmar que o sujeito passivo tinha um dever especial de agir.
22
Art. 135, caput, do CP: Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada
ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o
socorro da autoridade pública.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 45
Diferença entre o tipo omissivo próprio e o tipo omissivo impróprio: no
próprio há um tipo penal descrevendo a abstenção de conduta (omissão) e
qualquer pessoa tem o dever de agir previsto. No impróprio, somente está
investido no dever de agir quem está na posição de garantidor e a omissão
é equiparada à comissão, devendo a pessoa responder pelo tipo comissivo
correspondente ao resultado.
Para que um fato seja típico, é necessário que ele preencha todos os elementos objetivos e
subjetivos previstos no tipo penal. Na falta de qualquer elemento, o fato será atípico. Mas existem
algumas causas excludentes de tipicidade (ou causas de atipicidade da conduta) mais comuns, como:
ausência de conduta penalmente relevante, princípios da insignificância e adequação social (bem
jurídico), falta de causalidade (nexo causal), risco permitido (imputação objetiva), caso fortuito, erro
de tipo e consentimento do ofendido. A maior parte das hipóteses já foram vistas. Vejamos as três
últimas.
CASO FORTUITO
O caso fortuito é a hipótese em que o fato ocorre de forma imprevisível e inevitável. O ato
ocorre ao acaso e o agente não age com dolo ou culpa. Exemplo: suicida se joga em frente ao carro
de Mévio em plena Avenida Brasil. Mévio não pode ser imputado pelo resultado morte, pois este foi
consequência de um caso fortuito.
ERRO DE TIPO
Como visto, o dolo é composto por dois elementos: cognitivo (consciência do fato) e volitivo
(vontade de praticar o fato). Quando o agente erra sobre algum elemento do tipo, o dolo é
excluído, fazendo com que, consequentemente, a tipicidade seja excluída no caso dos tipos dolosos.
O erro de tipo consiste em uma falsa percepção da realidade que incide sobre um elemento
constitutivo do tipo, fazendo com que o agente não saiba o que está fazendo (falta-lhe o elemento
cognitivo do dolo). O erro de tipo está previsto no caput do art. 20 do CP: o erro sobre elemento
constitutivo do tipo legal exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
Vejamos um exemplo.
Art. 155 do CP: Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel.
Invencível (inevitável): exclui o dolo e a culpa. Aqui o erro não poderia ser evitado em
nenhuma circunstância.
Vencível (evitável): exclui somente o dolo, mas o agente pode responder por culpa, se o tipo
prevê a modalidade culposa, pois o erro poderia ser evitado.
Exemplo: dois amigos acampam em uma floresta e um deles, muito engraçadinho, se veste
com uma fantasia de onça para assustar o outro, que realmente acredita se tratar de um animal
selvagem e, por isso, atira no amigo fantasiado. Nesse caso, como o amigo que atirou errou
sobre o elemento “alguém” do tipo de homicídio (art. 121, caput, do CP: matar alguém), não
pode responder por homicídio doloso. No entanto, é necessário verificar se o agente agiu com
culpa ou não, a partir do critério do homem prudente. Se o agente poderia ter previsto e
evitado se fosse mais cuidadoso, então responderá por homicídio culposo (neste caso, o erro
de tipo é vencível). Se, porém, qualquer pessoa não poderia ter previsto que o animal na
verdade se tratava de uma pessoa fantasiada, então o erro de tipo é inevitável e exclui o dolo e
a culpa e o agente não responde por crime algum.
Por fim, importante ressaltar que o art. 20, caput, do CP é apontado como principal
argumento para afirmar que o legislador da parte geral do Código Penal optou pela teoria
finalista do delito. Isso porque para o finalismo o dolo é elemento do tipo penal, enquanto que
para o causalismo o dolo compõe a culpabilidade. Se o erro de tipo exclui o dolo, então o dolo
faz parte do tipo.
CONSENTIMENTO DO OFENDIDO
A classificação dos crimes é feita a partir dos elementos que integram o tipo penal.
Nesse sentido, os crimes se classificam da seguinte forma:
1. Quanto à conduta:
23
Supralegal porque não é previsto em lei, é fruto de construção jurisprudencial e doutrinária.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 48
a) Crime comissivo: o tipo penal descreve um “fazer algo”, cujo preceito é
um “não fazer algo”, sendo então a norma penal proibitiva. Ex.: art. 123
do CP (infanticídio).
b) Crime omissivo próprio: o tipo penal descreve um “não fazer algo”, cujo
preceito é um “fazer algo”, sendo então a norma penal mandamental. Ex.:
art. 269 (omissão de notificação de doença).
c) Crime comissivo impróprio (comissivo por omissão): consiste na omissão
equiparada à comissão quando o agente está na posição de garantidor.
a) Crime doloso (art. 18, I, CP): quando o agente quis o resultado ou assumiu
o risco de produzi-lo. É a regra geral dos delitos e está implícito no tipo,
ou seja, quando o tipo penal não fizer menção expressa à culpa, ele é
doloso (art. 18, parágrafo único, CP). Ex.: art. 121, caput, CP (homicídio
simples): tipo não faz menção à culpa, logo, é doloso.
b) Crime culposo (art. 18, II, CP): quando o agente deu causa ao resultado
com imprudência, negligência ou imperícia. Deve estar expresso no tipo!
Ex.: art. 121, § 3º, CP (homicídio culposo): o tipo faz menção explícita à
modalidade culposa do homicídio – “Se o homicídio é culposo”.
c) Crime preterdoloso: é uma espécie de crime qualificado pelo resultado. Todo
crime preterdoloso é crime qualificado pelo resultado, mas a recíproca não
é verdadeira. Crime qualificado é aquele em que uma circunstância em
que o delito é praticado agrava a pena, estabelecendo uma nova margem
penal (estabelece novos limites mínimo e máximo). Exemplo: o art. 121,
caput, do CP prevê o crime de homicídio simples, cuja pena é de seis a
vinte anos de reclusão. O art. 121, §2º, do CP prevê o crime de homicídio
qualificado, cuja pena é de doze a trinta anos de reclusão. A qualificadora
mudou os limites mínimo e máximo da pena do crime.
Nos crimes preterdolosos, o resultado mais grave é a circunstância para a
qualificadora. E este resultado só pode ser atribuído a título de culpa.
Nesse contexto, temos o art. 19, do CP, que dispõe que “Pelo resultado
que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver
causado ao menos culposamente”.
Para que haja um crime preterdoloso, é sempre necessário dois resultados,
um doloso (antecedente) e outro culposo (consequente), nesta ordem.
Exemplo: Mévio dá, com a intenção de lesionar, um soco extremamente
forte em Patrícia Angélica, que vem a cair, bater a cabeça e morrer. Mévio
queria produzir o resultado lesão, mas, por culpa dele, produziu também o
resultado morte. Mévio responde pelo crime do art. 129, §3º, do CP (lesão
corporal seguida de morte):
Art. 129, § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena -
reclusão, de quatro a doze anos.
Nota-se que o referido artigo somente cabe quando não há dolo do agente
no resultado morte (o resultado consequente ou final deve ser culposo).
Quando há dolo, ele é punido pelo art. 121, CP.
a) Crime comum: o sujeito passivo pode ser qualquer pessoa. Ex.: art.
163 do CP (dano): qualquer pessoa pode sofrer o crime de dano.
Observação: Pessoa jurídica pode figurar como sujeito passivo, mas
somente nos crimes em que haja compatibilidade, por ex., nos crimes
patrimoniais.
b) Crime próprio: o tipo exige condição especial de sujeito passivo. Ex.:
art. 134 do CP (exposição ou abandono de recém-nascido)24: o tipo
exige que o sujeito passivo seja recém-nascido.
c) Crime bi-próprio: Sujeitos ativo e passivo têm condições especiais
exigidas pelo tipo. Ex.: art. 123 do CP (infanticídio): sujeito ativo deve
ser a mãe e o sujeito passivo, o filho.
24
Art. 134, caput, do CP: Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria. Esse último elemento é
elemento subjetivo especial (fim especial de agir).
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 50
unitária e coincidente com a consumação. Assim, nessa espécie de crime é
impossível a modalidade de tentativa. Ex.: art. 140 do CP (injúria):
quando a injúria é verbal sua prática é unitária, constitui-se em um único
ato.
b) Crime plurissubsistente: sua execução pode se desdobrar em vários atos,
admitindo, portanto, a tentativa. Ex.: art. 121 do CP (homicídio): o crime
de homicídio pode ser executado mediante um único ato, mas a execução
pode ser fracionada em vários atos.
a) Crime simples: O tipo penal tutela apenas um bem jurídico. Ex.: art. 121 do CP:
tutela apenas a vida.
b) Crime complexo: O tipo tutela mais de um bem jurídico. Ex.: art.157 do
CP (roubo): tutela o patrimônio e a paz psíquica, se cometido com grave
ameaça, ou a integridade física, se cometido mediante violência.
a) Crime de dano: é aquele que exige, para a consumação, uma lesão efetiva
ao bem jurídico. Ex.: art. 129 do CP (lesão corporal).
b) Crime de perigo: Há a probabilidade de dano, podendo o delito se
consumar com a simples criação de perigo para o bem jurídico, sem
produzir efetivamente um dano. O crime de perigo, por sua vez, se
classifica em:
25
O capítulo I do Título VIII da Parte Especial do Código Penal traz uma lista de crimes de perigo comum.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 51
Considerações: A doutrina e jurisprudência majoritárias
aceitam esta classificação dos crimes de perigo (perigo
concreto e perigo abstrato). Entretanto, uma corrente
minoritária, inclusive o Prof. Brodt, defende que todos os
delitos de perigo são concretos (todos os crimes de perigo
exigem comprovação da exposição a perigo) e que os crimes
de perigo abstrato são, em verdade, inconstitucionais por
ofenderem o princípio da lesividade (ofensividade). Isso porque
a presunção pode ser falsa. Por ex.: uma pessoa embriagada que
dirige um veículo em uma praia deserta pode ser punida por isso
(art. 306 da Lei 9.503/97), sendo que no caso não houve perigo
algum a ninguém (a não ser ao próprio agente). A punição aqui
decorre unicamente da violação da norma jurídica, o que é
dissonante do fim do Direito Penal, que é a proteção dos bens
jurídicos.
a) Uninuclear (simples): o tipo penal possui apenas um núcleo (verbo). Ex.: art.
121 – Matar alguém.
b) Plurinuclear (misto): tipo penal possui mais de um núcleo. Pode ser:
O art. 14, I, do CP diz que o crime é consumado quando nele se reúnem todos
os elementos de sua definição legal. Por exemplo, o art. 121, caput, do CP
define o homicídio como “matar alguém”. Logo, o crime de homicídio será
consumado quando o sujeito passivo morrer.
Considerando o momento consumativo, o crime pode ser classificado em:
Princípio da especialidade (lex specialis derogat legi generali): está previsto no art. 12 do
CP e consiste no conceito de que a “lei especial afasta a lei geral”. Segundo esse
princípio, para resolver o conflito aparente entre normas é necessário observar qual norma
é mais especial, pois esta será a aplicável. A norma mais especial será aquela que
contempla elementos especializantes em relação a outra norma. Analisemos o exemplo
acima. O infanticídio, além de conter o elemento “matar alguém”, possui outros
especializantes (o sujeito ativo deve ser a mãe sob efeito do estado puerpural, o sujeito
passivo deve ser o próprio filho e o momento deve ser durante ou logo após o parto).
Portanto, a norma aplicável ao caso em análise é a do art. 123, pois esta norma especial
afasta a aplicação da norma geral (art. 121). Entre os dois tipos há uma relação de
especialidade. Outro exemplo é o do art. 334-A, caput, do CP (contrabando) e o art. 33,
caput, da Lei 11343/06 (tráfico de drogas), sendo esta norma especial e aquela, geral.
Princípio da subsidiariedade (lex principalis derogat legi generali): a lei principal afasta a
subsidiária. Subsidiária é a norma que descreve uma violação menor ao bem jurídico, ou
seja, é menos grave e encontra-se compreendido em outro tipo como fase normal de
execução do crime mais grave. Há uma relação de fato principal e fato subsidiário
(“soldado de reserva”). Divide-se em subsidiariedade expressa e tácita:
Expressa: a própria lei traz o critério de a “a norma com pena maior afasta a
aplicação da norma com pena menor”. Um exemplo é o art. 132 do CP
(perigo para a vida ou saúde de outrem) em relação ao tipo de homicídio (art.
121). Veja: Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e
iminente. Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui
crime mais grave. Os dois tipos tutelam a vida, mas em graus de agressão
diferentes. Se for um caso de homicídio tentado, por exemplo, afasta-se a
incidência do art. 132.
Tácita: aplica-se no caso dos crimes complexos, que são aqueles que tutelam
mais de um bem jurídico, como o roubo (tutela o patrimônio e a integridade
física ou psíquica). Pode surgir o conflito entre o roubo e o furto, mas o furto
é uma fase normal de execução do roubo, que é mais grave. A
subsidiariedade tácita, assim como a consunção, não é prevista no CP, sendo
fruto de construção doutrinária e jurisprudencial.
Além do fato anterior impunível, pode existir também um fato posterior impunível e outro
punível. Vejamos.
-Fato anterior (antefato) impunível: é o caso do crime-meio que é absorvido pelo crime-
fim. O crime-meio não é punível.
-Fato posterior (pós-fato) impunível: é o caso de violação posterior contra o mesmo bem
jurídico da mesma vítima anterior. Exemplo: sujeito furta TV e depois a quebra. O fato
posterior (danificação da TV – crime de dano) é impunível porque violou o mesmo bem
jurídico (patrimônio) da mesma vítima.
-Fato posterior (pós-fato) punível: é o caso de violação posterior contra bem jurídico
diverso ou contra vítima distinta. Exemplo: sujeito mata alguém e depois oculta o
cadáver. O fato posterior (ocultação de cadáver) é punível porque a conduta anterior
violou um bem jurídico (homicídio - vida) e a posterior violou outro (ocultação de
cadáver – sentimento de respeito aos mortos).
O fato será ilícito quando sobre a conduta típica não incidir nenhuma causa
excludente de ilicitude. As causas legais excludentes de ilicitudes (ou causas de
justificação) estão previstas no art. 23 do CP: estado de necessidade, legítima defesa,
estrito cumprimento do dever legal e exercício regular do direito. A doutrina e
jurisprudência construíram ainda uma causa supralegal excludente de ilicitude, que é o
consentimento do ofendido27.
No caso de não incidir nenhuma causa excludente de ilicitude sobre o fato típico,
então este será ilícito. O fato típico e ilícito é chamado de INJUSTO PENAL. Porém,
vale ressaltar que somente é crime o fato típico, ilícito e culpável.
27
O consentimento do ofendido é causa de atipicidade quando a oposição da vítima faz parte da descrição típica da
conduta.
Monitoria de Direito Penal I
Wilson Ferreira Página 56
Concepção incendiária (Max Enerst Mayer): o tipo é entendido como indício (ratio
cognoscendi) da ilicitude. Assim, normalmente, o fato típico também será ilícito, mas não
sempre, há exceção (quando incide alguma causa justificante). Portanto, tipo e ilicitude estão
em relação de regra e exceção. “Onde há fumaça, pode ter fogo”, onde há tipicidade, pode ter
ilicitude.
Concepção de Edmund Mezger: o tipo é a própria razão de existência da ilicitude (ratio
essendi).
Importante ressaltar, ainda, que não pode alegar estado de necessidade aquele que tem,
nas condições em que atua, o dever legal de correr o risco do sacrifício do próprio bem (art. 24,
§1º, CP).
É a situação da pessoa que reage, com emprego moderado dos meios necessários,
na proteção de um bem jurídico próprio ou alheio, contra injusta agressão humana atual
ou iminente. Com isso, a ordem jurídica visa a proteção dos bens juridicamente tutelados.
Para haver legítima defesa é necessário existir uma agressão injusta. Agressão
injusta é aquela agressão humana contrária ao Direito (ilícita). Assim, pode existir
legítima defesa contra inimputáveis, pois eles praticam ilícitos penais (só não são
culpáveis).
A ponderação de bens jurídicos aqui é mais flexível, pois há uma agressão injusta,
mas é necessário sempre observar o emprego moderado dos meios necessários. Não se
pode alegar legítima defesa se alguém é xingado e, por isso, dá tiros no ofensor.
a) Dever legal: é necessário que haja um dever legal, que é oriundo unicamente da lei.
b) Estrito cumprimento: A permissão para a realização da conduta está vinculada
aos estritos limites da lei que instituiu o dever.
Elemento subjetivo: o finalismo exige que a conduta que se pretende justificar tenha sido
orientada por vontade compatível com o dever legal imposto. Assim, se um policial
prende uma pessoa motivado não pelo dever que lhe é imposto, mas por vingança pessoal,
ainda que a pessoa esteja em flagrante delito, não haverá a excludente de estrito
cumprimento do dever legal, de acordo com o finalismo.
Também é uma excludente em branco. Tendo aquele que realiza a conduta examinada
o direito de fazer o que fez, não pode haver crime. Exemplo: intervenções cirúrgicas são ações
típicas de lesão corporal, mas os médicos tem o direito de fazê-las.
Requisitos:
Aqui temos a figura do erro de tipo permissivo, que ocorre quando, diante das
circunstâncias, o agente supõe uma situação de fato que, se existisse, tornaria sua ação
legítima, por estar amparada por uma excludente de ilicitude. Por exemplo, pode o agente
colocar-se em atitude de defesa, supondo estar na iminência da agressão injusta a um
bem jurídico próprio ou de outrem, e, assim, acometer o suposto agressor (legítima
defesa putativa). Nesse caso, em que o agente se supõe erroneamente, não há dolo. Se o
erro, no entanto for culposo (evitável), o agente responde culposamente, se for previsto o
crime culposo.
Erro sobre os pressupostos fáticos sobre causa excludente de ilicitude (art. 20, §1º, do
CP): é erro de tipo permissivo e exclui o dolo, mas permite a punição por crime
culposo, se previsto.
Erro sobre a existência ou limites de causa excludente de ilicitude (art. 21 do CP): é
erro de proibição indireto que, se inevitável, exclui a culpabilidade, e se evitável
atenua a pena.
CULPABILIDADE
Menores de 18 anos (art. 27). O critério aqui é puramente etário (biológico), basta o
indivíduo ser menor de 18 anos para ser considerado inimputável. Embora seja
inimputável e por isso não pratique crime, o menor de 18 anos pode praticar ato
infracional, podendo contra ele ser imposta uma medida socioeducativa. No entanto,
isso está fora do alcance do direito penal, ficando a cargo do direito da criança e do
adolescente.
A embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior (art. 28, §1º). O
CP diz que a emoção e a paixão NÃO excluem a imputabilidade (art. 28, I). Da mesma
forma, NÃO exclui a imputabilidade a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool
ou substância de efeitos análogos (art. 28, II). Somente exclui a imputabilidade a
embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, que faz o agente ser
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento (art. 28, §1º).
Nesse contexto, em Direito Penal temos as seguintes espécies de embriaguez:
O agente tem sua conduta dirigida pela vontade, porém, esta é viciada pela coação. A
finalidade delitiva manifestada no ato é isenta de reprovação, pois não decorre da decisão livre
do agente. Somente será punido quem realiza a coação (coator). Exemplo: Mévio coloca uma
arma na cabeça de Tício e o ameaça de morte, caso ele não digite a senha do banco que gere.
Se Tício digitar a senha, terá agido sob coação moral irresistível.
Exemplo: Um policial recebe a ordem superior para prender uma pessoa. Policiais
têm o dever legal de prender pessoas em determinadas circunstâncias, por isso a ordem
aqui é aparentemente legal. Depois se descobre que o superior queria apenas se vingar da
pessoa que mandou prender sem motivo algum. O policial, inferior (coato), não responde
pela privação de liberdade da vítima.