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CURSO: Direito 1º Ano

DISCIPLINA: Direito
das Organizações
Internacionais – D.O.I
Prof. Mestre Paulo Monteiro
Aula do dia 11/05/2023.
SUMÁRIO: As principais atribuições ou competências da
Organização das Nações Unidas.
• A manutenção da paz e da segurança internacional;
• A proteção dos Direitos Humanos;
• A descolonização;
• A cooperação económica e social para o desenvolvimento. Questões
ambientais;
• O desenvolvimento do Direito Internacional.
Nota introdutória
 As atribuições ou competências das Organizações Internacionais não
depende da sua classificação mas sim, pelo propósito ou fins da sua
criação. Posto isto, nas várias O.I.s que já tivemos a oportunidade de
estudar, constatamos que o foco é a especificidade de cada uma delas;
 A Organização das Nações Unidas – ONU é considerada o mais
importante organismo internacional atualmente existente, importante por
reunir praticamente todas as nações do mundo. Ela surgiu ao final da
Segunda Guerra Mundial (1939- 1945) em substituição à antiga Liga das
Nações- SDN e o seu objetivo é promover a paz e a segurança mundial e
outras finalidades.
Continuação

 Ao analisarmos o estudo sobre a ONU e da sua Carta,


poderemos constatar quais são os fins que as Nações Unidas
visam alcançar e os princípios gerais que norteiam a sua
atividade;
 Uns e outros encontram-se enunciados no capítulo I da Carta
após o seu preâmbulo ter indicado os motivos que presidiram
à instituição da organização.
Objectivos da ONU

Ao abrigo do artigo 1º da Carta das Nações Unidas, os objectivos da


referida organização são os que passamos a indicar:
 A manutenção da paz e a segurança internacionais;
O desenvolvimento das relações cordiais e amistosas entre os Estado,
como condição indispensável à manutenção da paz;
O incremento de uma estreita cooperação internacional, com vista à
resolução de problemas económicos, sociais, culturais, e humanitários,
comuns aos vários Estados;

O respeito efetivo pelos direitos humanos;

 A ONU a funcionar como o ponto de encontro de todos os


Estados da Comunidade Internacional, visando a orientação
e a harmonização das suas atividades particulares para a
prossecução dos objetivos comuns antes indicados.
Princípios gerais da ONU

Em conformidade com o artigo 2º da Carta das Nações Unidas,


poderemos elencar alguns princípios gerais que regem as Nações
Unidas:
 Princípio de Igualdade Soberana dos Estados;
O princípio de boa fé nas relações entre os Estados membros e
no cumprimento das obrigações daí resultantes;
Princípio da solução pacífica das controvérsias, conflitos entre
Estados;

O não recurso a força;


O respeito pelo princípio da Integralidade territorial dos
Estados;
O princípio da Universalidade da Organização;
O princípio de manutenção da paz e da segurança
internacionais.
Continuação.

A principal instância decisória da ONU é o Conselho de Segurança,


formado por um grupo muito restrito de países. Na verdade, esses
países são os antigos vencedores da Segunda Guerra Mundial: Rússia
(ex-União Soviética), Estados Unidos, França, Reino Unido e a China
(essa última não participou ativamente da Segunda Guerra, mas
conseguiu grande prestígio e poder internacionais, capazes de assegurar
uma vaga no Conselho);

• O poder desse Conselho de Segurança é elevado, pois é


ele quem toma as principais decisões da ONU. Além
disso, os cinco membros permanentes têm o chamado
poder de veto, em que qualquer um deles pode barrar
uma decisão, mesmo que todos os outros países sejam
favoráveis.
1- A manutenção da paz e da segurança
internacional.
• A fim de assegurar uma acção pronta e eficaz por parte das Nações Unidas, os seus
membros conferem ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade na
manutenção da paz e da segurança internacionais, artigo 24º da CNU;
• A solução pacífica das controvérsias - As partes numa controvérsia, que possa vir
a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais, procurarão, antes de
tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação,
arbitragem, via judicial, recurso a organizações ou acordos regionais, ou qualquer
outro meio pacífico à sua escolha, nº 1 do artigo 33º da carta;
ACÇÃO EM CASO DE AMEAÇA À PAZ, RUPTURA DA PAZ
E ACTO DE AGRESSÃO – Capítulo VII da Carta , artigos 39º,
40º e 41º
 O Conselho de Segurança determinará a existência de qualquer ameaça à paz,
ruptura da paz ou acto de agressão e fará recomendações ou decidirá que
medidas deverão ser tomadas;
 A fim de evitar que a situação se agrave, o Conselho de Segurança poderá, antes
de fazer as recomendações ou decidir a respeito das medidas previstas no Artº.
39;
 O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem envolver o
emprego de forças armadas, deverão ser tomadas para tornar efectivas as suas
decisões e poderá instar os membros das Nações Unidas a aplicarem tais
medidas.
2- A proteção dos Direitos Humanos :
Sistema de proteção dos Direitos humanos das Nações
Unidas
 A promoção e proteção dos direitos humanos é um dos principais objetivos da
Nações Unidas. Com a adoção da Delcaração Universal de Direitos Humanos, em
10 de dezembro de 1948, a ONU começou a desenvolver diversos padrões e
normas internacionais de Direitos Humanos, bem como mecanismos para
promover e proteger esses direitos;
 Essa universalização dos direitos humanos propiciou a formação de um sistema
global de proteção dos direitos humanos no âmbito das Nações Unidas, cujos
principais mecanismos são: o Conselho de Direitos Humanos da ONU, a Revisão
Periódica Universal, os Relatores Especiais e os Órgãos de Monitoramento.
Alguns instrumentos jurídicos internacionais na
proteção dos Direitos humanos.
 Declaração Universal dos Direitos Humanos, 10 de Dezembro, de 1948;
Declaração sobre os Direitos dos povos indígenas e minorias;
Declaração sobre os direitos das pessoas pertencentes a minorias
nacionais, étnicas, religiosas e linguísticas;
Convenção internacional sobre a eliminação de todas as formas de
discriminação racial;
Declaração sobre a eliminação de violência contra as mulheres…
3- A descolonização
• Quando as Nações Unidas foram fundadas em 1945, cerca de 750
milhões de pessoas (quase um terço da população mundial) vivia em
territórios colonizados. Hoje, menos de 2 milhões de pessoas vivem
sob o domínio colonial nos 17 territórios autónomos existentes;

• A onda de descolonização, que mudou a face do planeta, nasceu com a


ONU e representa o seu primeiro grande sucesso como Organização
mundial;
Os poderes do Conselho de Tutela da
ONU – Artigos 87º e seguintes
• A Carta da ONU, que estabelece o Princípio da Autodeterminação
dos Povos criou também o Conselho de Tutela como um dos
principais órgãos da ONU;
• Como o processo de descolonização continuou a avançar, a
Assembleia Geral, em 1960, adotou a Declaração sobre a Concessão
da Independência aos Países e Povos Coloniais. A Declaração
afirmou o direito de todas as pessoas à autodeterminação e proclamou
o fim rápido e incondicional do colonialismo;

• Em 1990, a Assembleia proclamou a Década Internacional pela Erradicação


do Colonialismo (1990-2000), que incluía um plano de ação específico. Em
2001, foi seguida por uma Segunda Década Internacional pela Erradicação
do Colonialismo;
• Desde a criação das Nações Unidas, 80 ex-colónias conquistaram a
independência que alcançaram a autodeterminação através da independência
ou da associação livre com um Estado independente;
• Ainda existem territórios, revendicando o avanço em direção à
autodeterminação.
4- A cooperação económica e social para o
desenvolvimento e questões ambientais
• O Conselho Econômico e Social (Ecosoc) das Nações Unidas é a instância
responsável por levar adiante o debate sobre o desenvolvimento sustentável em
suas dimensões econômica, social e ambiental;
• O Fórum Político de Alto Nível, que tem a responsabilidade de fazer o
acompanhamento da Agenda 2030 e seus Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), examina a síntese do segmento anterior, bem como o progresso
alcançado, as lições aprendidas e os desafios futuros;
• O Mesmo Fórum Político reconheceu que a pandemia exacerbou as
vulnerabilidades e as desigualdades pré-existentes no mundo.
5- O desenvolvimento do Direito
Internacional

Trabalhar em grupo de 3 elementos


“ Em que medida, a ONU contribua para o
desenvolvimento do Direito Internacional…”
Aula do dia 20 de Junho 2022.

SUMÁRIO: A responsabilidade das Organizações


Internacionais.

Responsabilidade de direito internacional


Responsabilidade de direito privado e cláusulas de
arbitragem.
Considerações preliminares

• Analisar o conceito da responsabilidade em seu prisma


jurídico-internacional;
• Entender que existe uma diversidade de sujeitos extra-estatais
no sistema internacional contemporâneo;
• A responsabilidade das O.I.s na centralidade do nosso estudo;
• As consequências e efeitos da responsabilidade das O.I.s.
Nota introdutória

• Segundo o jurista Francês L. DUPUY, a responsabilidade


constitui o epicentro de um sistema jurídico, independentemente
de ser um sistema jurídico interno ou externo;
• Convém salientar que, a responsabilidade dos sujeitos de direito
pelos comportamentos danosos a direitos e interesses de outrem
afigura-se como característica inerente à própria concepção de
ordem jurídica;

• A eficácia de qualquer ordenamento jurídico, repousa, em grande
medida, sobre o grau de concretização do conjunto de regras que
regulam a definição das condutas lesivas a direitos subjetivos e suas
conseqüências;
• Portanto, a invasão da esfera jurídica de um sujeito por outra pessoa
jurídica também gera responsabilidade no âmbito das relações
internacionais;
• Posto isto, a negação de tal princípio implicaria a destruição do próprio
direito internacional, posto que não admitir a responsabilidade
conseqüente a uma violação.
OBS

Pode-se afirmar, primordialmente, que a


responsabilidade pressupõe a existência de dois ou
mais sujeitos reconhecidos pelo sistema jurídico em
espécie, com relação aos quais uma obrigação
juridicamente vinculada encontra-se ofendida.
1- Os elementos constitutivos do ato internacionalmente
ilícito.

• Segundo a lição do professor L. DUPUY, 1986, qualifica-se de gerador


todo fato imputável a um sujeito de direito internacional e susceptível de
engendrar a sua responsabilidade internacional;
• Entretanto, nessa concepção, a relação jurídica secundária pode originar-
se tanto de fatos lícitos quanto de ilícitos;
• É , necessário destacar que a responsabilidade sob análise vincula-se à
existência de um ato internacionalmente ilícito, diante do que não será
apreciado o fato lícito na condição de gerador de responsabilidade
internacional.
1.1 – A ocorrência de um ato
internacionalmente ilícito
a) O comportamento consistente em uma ação ou
omissão é atribuível à organização internacional, em
consonância com o direito internacional;
b) Essa conduta constitui violação de uma obrigação
internacional do organismo.
1.2 – A vinculação da culpa à obrigação primária
violada
Em regra geral, o problema da culpa na condição de
elemento fundamental da ilicitude acarreta a
classificação tradicional nos três tipos básicos de
responsabilidade jurídica:
1- subjetiva (par faute): exige a presença da culpa na
formação da vontade do agente violador da obrigação;

2- Objetiva relativa (strict liability): prescinde do fator culpa, mas


admite a ocorrência de causas de justificação de conduta (legítima defesa,
força maior, estado de necessidade etc.);
3- Objetiva absoluta : desconsidera o elemento subjetivo para sua
verificação, mas, diferentemente do anterior, não admite causas
justificadoras do comportamento do agente ofensor, a fim de
salvaguardar a prevalência dos interesses da vítima (Ex: danos
decorrentes do exercício regular de atividades nucleares).
2- As organizações Internacionais:
Responsabilidades jurídicas internacionais
A responsabilidade das organizações internacionais pressupõe o
reconhecimento de uma personalidade jurídica internacional, separada
e distinta da de seus membros;
Uma organização internacional possui personalidade jurídica no
campo do direito internacional se o ato constitutivo da entidade confere
a seus órgãos competência para o exercício de certas funções em
relação aos respectivos membros e, especialmente, o poder de firmar
compromissos internacionais que estabeleçam obrigações e direitos
perante a Comunidade (H. KELSEN, 1967);
Continuação

 Às organizações internacionais é permitida a participação no sistema


jurídico internacional sob vários aspectos, conforme reconhecido pela
Corte Internacional de Justiça – CIJ na opinião consultiva acerca da
Reparação por Danos Sofridos a Serviço das Nações Unidas (ICJ,
1949, p. 174);
 As O.I.s não são como um Estado, ou que sua personalidade legal e
seus direitos e deveres sejam idênticos aos de uma entidade estatal, mas
que, efetivamente, é um sujeito de direito internacional capaz de
assumir direitos e obrigações perante essa mesma ordem jurídica.
2.1- As características básicas da imputação de
responsabilidade das O.I.s
 Formada por uma associação voluntária de sujeitos de direito
internacional;
 Instituída por ato jurídico originário e internacional;
 Regulada por ordenamento jurídico próprio;
 Constituída por órgãos funcionais próprios;
 Incorporada de poderes específicos;
 Possuidora de sede própria.
2.2- As atuações das O.I.s enquanto
sujeito do Direito internacional
 A organização internacional passa, a partir da sua criação, a atuar como
sujeito de direitos e obrigações dentro da sua estrita esfera institucional
(princípio de especialidade);
 Uma das atuações de uma O.I no âmbito internacional é a capacidade de
firmar tratados com Estados e/ou outras organizações internacionais, como
clássica evidência da personalidade internacional;
Portanto, diante dessa capacidade jurídica de ação, podem tais entidades
perpetrar ofensas a suas obrigações internacionais, devendo responder
juridicamente em função disso.
3- As contribuições das O.I.s na codificação das normas
internacionais

• Uma das grandes iniciativas para a codificação do Direito


internacional, foi a criação da C.D.I (Comissão do Direito
Internacional das Nações Unidas), para fins de codificação, desde
1949;
• Entretanto, ao término do trabalho de codificação referente à
responsabilidade dos Estados, a CDI incluiu o tema da
responsabilidade das organizações internacionais em seu programa
de trabalho a longo prazo;
Continuação

• A Comissão de Direito Internacional, estabeleceu a pedra angular


da responsabilidade das organizações internacionais ao considerar
que “todo ato internacionalmente ilícito de uma organização gera
sua responsabilidade internacional”.
• Em 2003, a Comissão formulou um conjunto de 16 (dezesseis)
artigos comentados acerca da responsabilidade das organizações
internacionais por atos internacionalmente ilícitos.
BIBLIOGRAFIA

ZACKLIN, Ralph: La Responsabilité des


Organizations internationales- COLLOQUE DE
LA SOCI ÉTÉ FRANÇAISE POUR LE DROIT
INTERNATIONAL, Paris, 1991.

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