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DESCRIÇÃO

A proteção dos direitos humanos no plano internacional por meio de sistemas internacionais.

PROPÓSITO
Compreender como funcionam os vários sistemas internacionais de proteção dos direitos
humanos existentes na atualidade é de absoluta importância nos âmbitos nacionais e
internacional, considerando um mundo cada vez mais globalizado e internacionalizado.

PREPARAÇÃO
Antes de iniciar este conteúdo, tenha em mãos um dicionário jurídico para entender
determinados termos específicos da área. Tenha, também, a Convenção Europeia de Direitos
Humanos e a Convenção Americana de Direitos Humanos.
OBJETIVOS

MÓDULO 1

Identificar o papel desempenhado pela ONU na proteção dos direitos humanos

MÓDULO 2

Listar os sistemas regionais de proteção dos direitos humanos

MÓDULO 3

Descrever finalidade, competência, composição e atuação do Tribunal Penal Internacional na


proteção dos direitos humanos

INTRODUÇÃO
Entre os estudiosos, é comum a afirmação de que os horrores da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945) e toda a barbárie perpetrada contra a vida e a dignidade humana durante esse
triste período da história da humanidade constituem o ponto de partida para a consagração dos
direitos humanos tais como são conhecidos atualmente.

Os direitos humanos são entendidos hoje como um conjunto de direitos considerado


imprescindível para a existência da vida humana pautada na liberdade, igualdade e dignidade,
direitos esses dos quais todas as pessoas são titulares, pelo simples fato de pertencerem à
raça humana.

Neste conteúdo, estudaremos sobre o surgimento da Organização das Nações Unidas (ONU)
e, por meio desse organismo internacional de caráter global, o estabelecimento de um sistema
global de proteção dos direitos humanos.

Veremos também o surgimento de sistemas regionais de proteção de direitos humanos, com


vistas a complementar a proteção global desses direitos, a partir de organizações
internacionais regionais, tais como a Organização dos Estados Americanos (OEA), o Conselho
da Europa (CE) e a União Africana (UA).

Por fim, focaremos a formação do Direito Penal Internacional, a partir de um conjunto de


normas jurídicas internacionais estabelecedoras de direitos humanos, e a criação e atuação do
Tribunal Penal Internacional, considerando a sua estrutura, competência e funcionamento.

MÓDULO 1

 Identificar o papel desempenhado pela ONU na proteção dos direitos humanos

A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E


OS DIREITOS HUMANOS

Foto: MadGeographer/Wikimedia commons/CC BY-SA 2.0


 O Escritório das Nações Unidas em Genebra, na Suíça, é o segundo maior centro da ONU,
depois da sede das Nações Unidas, em Nova York

Neste módulo, aprenderemos como está estruturado e como opera o sistema universal de
proteção dos direitos humanos, também conhecido como sistema onusiano (Default tooltip)
ou sistema global de proteção dos direitos humanos.
O objetivo do módulo é proporcionar a compreensão da arquitetura existente na área da ONU
para a proteção dos direitos humanos, notadamente por meio da análise de seus principais
instrumentos normativos e da estrutura organizacional especificamente relacionada à proteção
de tais direitos.

A CRIAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E O INÍCIO


DA EDIFICAÇÃO DO TEMPLO DOS DIREITOS
HUMANOS

A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS


HUMANOS É A PORTA DE ENTRADA DO TEMPLO DOS
DIREITOS HUMANOS.

(CASSIN, 1951)

Antes do término da Segunda Guerra Mundial, os países aliados já arquitetavam a construção


de um novo organismo internacional — que viria substituir a antiga Liga das Nações — que
tivesse como um de seus mais importantes objetivos a proteção da vida e a salvaguarda da
dignidade humana em uma escala global.

É nesse contexto que nasce a Organização das Nações Unidas (ONU), criada por meio da
Carta das Nações Unidas (ou Carta de São Francisco), um tratado internacional assinado em
São Francisco (EUA), em 26 de junho de 1945, por ocasião da Conferência de Organização
Internacional da Nações Unidas.

Imagem: FDRMRZUSA/Wikimedia commons/Domínio Público


 Bandeira da ONU.

A Carta das Nações Unidas dispôs que uma das principais finalidades da organização é a
promoção dos direitos humanos e sua efetivação em nível global, assim como a manutenção
da paz e da segurança internacional (arts. 1º; 13.1, b; 55, c; 62, 2; 68 e 76, c). Desse modo,
logo após a sua instituição, a ONU passou a desenvolver trabalhos específicos para o alcance
de tais objetivos. O primeiro resultado desses esforços foi a proclamação da Declaração
Universal dos Direitos Humanos (DUDH), adotada e proclamada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas (Resolução 217 A III) em 10 de dezembro de 1948.

Não há dúvida de que a DUDH constitui um documento marco na história mundial dos direitos
humanos, sendo responsável pela gênese e pelo desenvolvimento da proteção internacional
desses direitos, hoje consubstanciada em um ramo específico do Direito Internacional,
denominado e conhecido globalmente como Direito Internacional dos Direitos Humanos
(DIDH), que visa proteger e promover a dignidade humana em todo o mundo ao consagrar uma
série de direitos (universais, indivisíveis e interdependentes) dirigidos a todas as pessoas, sem
distinção de qualquer natureza, inclusive de nacionalidade ou do Estado em que o indivíduo se
encontre.

A DUDH inaugurou uma nova era na história internacional, dando origem à concepção
moderna ou contemporânea dos direitos humanos, especialmente por ser um instrumento que
transcendeu as fronteiras nacionais, ultrapassando os espaços soberanos em que a precária
proteção dos direitos se encontrava confinada até então, dando voz a uma herança cultural de
toda a humanidade e alçando a proteção desses direitos ao nível internacional.
CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS

Esta Carta foi incorporada ao sistema jurídico-legislativo brasileiro pelo Decreto n.º
19.841, de 22 outubro de 1945.

Foto: Joalpe/Wikimedia commons/Domínio Público


 A brasileira Bertha Lutz na Conferência de

São Francisco, nos Estados Unidos, que elaborou

a Carta da Organização das Nações Unidas – ONU

Seja no plano ideológico, filosófico ou jurídico-normativo, nenhum documento na história da


humanidade tem contribuído tanto para a defesa e garantia dos direitos humanos como a
DUDH, razão pela qual é sempre importante uma reflexão sobre a sua origem, natureza e seu
legado, dentre outros aspectos que envolvem esse notável documento.

Nas palavras de René Cassin (1951, p. 277, tradução nossa, grifo nosso), um dos grandes
juristas responsáveis pela redação do texto final, a DUDH teve como mérito constituir o
“pórtico de entrada do grande templo dos direitos humanos que foi construído a partir dela”.
O ARCABOUÇO NORMATIVO DE PROTEÇÃO
DOS DIREITOS HUMANOS NO ÂMBITO DA ONU

Com a criação da ONU e, mais especificamente, com a proclamação da DUDH, aos poucos o
sistema global de proteção dos direitos humanos foi ganhando forma e contornos cada vez
mais específicos. Impulsionados pela ONU, os Estados-membros da organização
sucessivamente passaram a adotar uma série de tratados internacionais, juridicamente
vinculantes para os Estados, bem como outros instrumentos de caráter não vinculante (por
exemplo, resoluções, declarações, regras mínimas, princípios etc.), todos eles voltados
genérica ou especificamente para a proteção universal dos direitos humanos.

Imagem: MSClaudiu/Wikimedia commons/Domínio Público


 A Declaração Universal dos Direitos

Humanos de 10 de dezembro de 1948.

COMO FRUTO DESSA ATIVIDADE, TEMOS HOJE UM


AMPLO ARCABOUÇO NORMATIVO QUE CONSTITUI O
CORPUS JURIS INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS. ESSES TEXTOS NORMATIVOS
TÊM SIDO APLICADOS EM LARGA ESCALA PARA A
SOLUÇÃO DE MUITOS TIPOS DE CONFLITOS, TANTO
PELAS CORTES E TRIBUNAIS INTERNOS DOS
ESTADOS, COMO PELA JUSTIÇA INTERNACIONAL,
COMPOSTA POR CORTES, TRIBUNAIS, COMISSÕES E
COMITÊS, ENTRE OUTROS ÓRGÃOS
INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS.

Dois tratados de grande importância no âmbito da ONU são o Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e o Pacto Internacional dos Direitos Sociais,
Econômicos e Culturais (PIDSEC), ambos adotados pela Assembleia Geral da ONU em
1966, responsáveis por complementar material e processualmente a DUDH, e que em conjunto
com ela receberam o nome de Carta Internacional dos Direitos Humanos.

Além desses, vale a pena conhecermos outros instrumentos normativos onusianos,


responsáveis por consagrar os direitos humanos para todas as pessoas, independentemente
de qualquer fator comumente utilizado para promover a discriminação. São documentos que
estabelecem uma proteção genérica (para todos) ou específicas (mulheres, negros, crianças,
idosos, pessoas com deficiência etc.) ao redor do globo.

Alguns desses importantes instrumentos, juridicamente vinculantes para os Estados-partes


são:

Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (1948).

Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951).


Convenção Suplementar sobre Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos e das


Instituições e Práticas Análogas à Escravatura (1956).

Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966).

Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial


(1966).

Protocolo de 1967 Relativo ao Estatuto dos Refugiados (1967).

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher


(CEDAW) (1979).


Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes (1984).

Segundo Protocolo Adicional ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1989).

Convenção sobre os Direitos da Criança (1989).

Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e


dos Membros das suas Famílias (1990).

Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação


contra a Mulher (1999).

Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança Referente à Venda de


Crianças, à Prostituição Infantil e à Pornografia Infantil (2000).

Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança Relativo ao Envolvimento de


Crianças em Conflitos Armados (2000).

Protocolo de Prevenção, Supressão e Punição do Tráfico de Pessoas, especialmente Mulheres


e Crianças, Complementar à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional (2000).

Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,


Desumanos ou Degradantes (2002).

Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra o Desaparecimento


Forçado (2006).

Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
Facultativo (2007).

Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais


(2008).

Outras regras que não são juridicamente vinculantes, mas que servem de diretrizes e princípios
para a atuação dos Estados-membros da ONU no tocante à proteção dos direitos humanos
são:

As Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos (Regras de


Mandela), de 1955.

As Regras Mínimas da ONU para Administração da Justiça da Infância e Juventude


(Regras de Beijing), de 1985.

As Regras Mínimas da ONU para Proteção dos Jovens Privados de Liberdade, de 1990.

As Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil (Diretrizes


de Riade), de 1990).

A Declaração e Programa de Ação de Viena, de 1993.

As Regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas não
Privativas de Liberdade para Mulheres Infratoras (Regras de Bangkok), de 2010.


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A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DE
PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO
ÂMBITO DA ONU

Foto: Vassil/Wikimedia commons/CC BY-SA 1.0


 Palácio das Nações, escritório das Nações Unidas em Genebra (Suíça)

Ao lado da proteção de caráter normativo, que se dá por meio dos tratados internacionais e por
textos de outra natureza, conforme elencados anteriormente, o sistema global de proteção dos
direitos humanos conta ainda com órgãos e mecanismos internacionais de proteção e
monitoramento dos direitos humanos, que são responsáveis pela aplicação e efetivação das
normas internacionais relativas a esses direitos e por prestar auxílio aos Estados no tocante ao
fomento e efetivação dos direitos humanos em seus respectivos territórios.

A ONU POSSUI ÓRGÃOS PRÓPRIOS E TAMBÉM


RELAÇÕES DE APOIO ADMINISTRATIVO E TÉCNICO
COM VÁRIOS ÓRGÃOS CRIADOS PELOS DIVERSOS
TRATADOS INTERNACIONAIS ELABORADOS SOB SEU
PATROCÍNIO, VOLTADOS À PROTEÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS. ESSE CONJUNTO DE MECANISMOS DE
PROTEÇÃO GERIDOS TANTO PELOS PRÓPRIOS
ÓRGÃOS ONUSIANOS QUANTO POR AQUELES
PREVISTOS NOS TRATADOS TAMBÉM INTEGRA O
DENOMINADO SISTEMA GLOBAL DE DIREITOS
HUMANOS.

O que os une tais órgãos é a atuação da ONU, quer diretamente, por meio daqueles da própria
organização; ou indiretamente, mediante a atuação de organismos independentes, previstos
em tratados elaborados sob seu patrocínio e que recebem apoio técnico e administrativo da
organização. Vamos conferir quais são os principais deles.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) é o


principal órgão da ONU encarregado de promover e proteger os direitos humanos. Foi criado
pela Resolução n.º 48/141 da Assembleia Geral da ONU, de 1993, a partir de recomendação
da Conferência Mundial sobre Direitos Humanos de Viena, ocorrida no mesmo ano.

[A] FUNÇÃO PRECÍPUA DO OHCHR É PROMOVER E


PROTEGER OS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO E
LIDERAR OS ESFORÇOS DAS NAÇÕES UNIDAS
NESSE SENTIDO, CONFERINDO TAMBÉM MAIOR
RELEVÂNCIA POLÍTICA AO TRATAMENTO DO TEMA
(...) INCLUI, ENTRE SUAS COMPETÊNCIAS
ESPECÍFICAS, O APOIO AOS DEMAIS ÓRGÃOS DA
ONU ENVOLVIDOS COM A MATÉRIA, ABRANGENDO A
COORDENAÇÃO DAS ATIVIDADES QUE
DESENVOLVEM E O ESFORÇO PARA QUE TODAS AS
ÁREAS DAS NAÇÕES UNIDAS INCLUAM
CONSIDERAÇÕES RELATIVAS À PROTEÇÃO DA
DIGNIDADE HUMANA NO TRATAMENTO DOS TEMAS
DE SUA COMPETÊNCIA.
(PORTELA, 2017, p. 914)

Outro importante órgão da ONU é o Conselho de Direitos Humanos, criado em 2006, por
meio da Resolução n.º 60/251 da Assembleia Geral da ONU. O Conselho substituiu a antiga
Comissão de Direitos Humanos (1946-2006), que havia sido criada pelo Conselho Econômico
e Social da ONU (ECOSOC).

Foto: GnuCivodul/Wikimedia commons/CC BY-SA 3.0


 Sala usada pelo Conselho de Direitos Humanos das

Nações Unidas no Palácio das Nações, em Genebra (Suíça).

Sua principal função é promover o respeito universal aos direitos humanos por meio da
supervisão do cumprimento dos compromissos internacionais celebrados pelos entes estatais
na matéria. É composto por 47 Estados-membros, escolhidos por votação secreta da
Assembleia Geral da ONU, para um mandato de três anos. Tem competência para promover e
fiscalizar a observância da proteção de direitos humanos pelos Estados da ONU e fazer,
atualmente, a gestão do Sistema de Procedimentos Especiais e do Mecanismo da Revisão
Periódica Universal (RPU), que são instrumentos pelos quais fiscaliza o cumprimento e a
proteção dos direitos humanos por parte dos Estados-membros da ONU.

Foto: Kjetil r/Wikimedia commons/CC BY-SA 3.0


 Sala usada pelo Conselho Econômico e Social

das Nações Unidas, em Nova York (EUA).

Os Relatores Especiais de Direitos Humanos também são órgãos onusianos de proteção


dos direitos humanos. A partir da criação dos procedimentos especiais pelas Resoluções n.º
1235 (procedimento público) e n.º 1503 (procedimento confidencial) do Conselho Econômico
e Social da ONU (ECOSOC), especialmente em razão do primeiro, surgiu a necessidade de
nomeação de órgãos de averiguação de violações de direitos humanos, cuja abrangência pode
ser geográfica (por país) ou temática.

Tais órgãos podem ser unipessoais ou coletivos e a denominação é variada, isto é, nos casos
unipessoais, há o uso da expressão “Relator Especial” ou ainda “Especialista Independente”;
no caso dos órgãos colegiados, utiliza-se a expressão “Grupo de Trabalho”.

Conforme explica André de Carvalho Ramos (2021), o trabalho desses órgãos “consiste em
realizar visitas aos países, em missões de coleta de dados (fact-finding missions), bem como
em agir diante de violações de direitos humanos solicitando (não podem exigir) atenção do
Estado infrator sobre os casos. Seus relatórios não vinculam, apenas contêm recomendações,
que são enviadas aos Estados e também ao Conselho de Direitos Humanos e Assembleia
Geral da ONU”.

Por fim, importante também mencionar os comitês criados por tratados internacionais de
âmbito universal, que têm como principal atribuição monitorar o cumprimento das obrigações
assumidas pelos Estados dentro do sistema global ao aderirem ou ratificarem determinado
tratado. Estão voltados, portanto, a assegurar a observância das normas convencionais, seja
de um único tratado ou de uma restrita série de acordos específicos.

São exemplos desses comitês: o Comitê de Direitos Humanos; o Comitê de Direitos Sociais,
Econômicos e Culturais; o Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial; o Comitê sobre
a Eliminação da Discriminação contra a Mulher; o Comitê contra a Tortura; o Comitê para os
Direitos da Criança; o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência; e o Comitê
contra Desaparecimentos Forçados.

Foto: Flickr upload bot/Wikimedia commons/CC BY-SA 2.0


 Sra. Navanethem Pillay, alta comissária para os Direitos

Humanos, no Dia da Eliminação da Discriminação Racial de 2010.

ESSES COMITÊS GERALMENTE PODEM TER A SUA


COMPETÊNCIA RECONHECIDA PELOS ESTADOS
PARA ANALISAR PETIÇÕES DE INDIVÍDUOS QUE
LHES SERÃO DIRIGIDAS NOTICIANDO VIOLAÇÕES DE
DIREITOS HUMANOS.

Em termos conclusivos, podemos afirmar que, no âmbito da ONU, existe atualmente um


sofisticado sistema de proteção dos direitos humanos em nível universal voltado para todas as
pessoas pelo simples fato de serem humanas, sem discriminação de qualquer natureza.

Agora, o professor Luciano Meneguetti apresenta os órgãos e mecanismos de proteção e


monitoramento dos direitos humanos na ONU.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. ACERCA DO SISTEMA UNIVERSAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS


HUMANOS, INSTITUÍDO NO ÂMBITO DA ONU, ASSINALE A ALTERNATIVA
INCORRETA:

A) Visando à proteção global dos direitos humanos, a ONU possui órgãos próprios e também
relações de apoio técnico e administrativo com vários órgãos criados por tratados
internacionais elaborados sob seu patrocínio.

B) O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos é o principal órgão da
ONU encarregado de promover e proteger os direitos humanos em nível global.

C) O Sistema de Procedimentos Especiais e o mecanismo da Revisão Periódica Universal são


instrumentos de fiscalização do cumprimento dos direitos humanos pelos Estados-membros da
ONU, e são operacionalizados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos
Humanos.

D) O Conselho de Direitos Humanos da ONU tem como principal função a promoção do


respeito universal aos direitos humanos por meio da supervisão do cumprimento dos
compromissos internacionais celebrados pelos Estados.
E) Os comitês criados por tratados de âmbito universal têm como principal atribuição monitorar
o cumprimento das obrigações assumidas pelos Estados ao aderirem ou ratificarem um tratado
de direitos humanos.

2. SOBRE O CORPUS JURIS UNIVERSAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS


HUMANOS, ASSINALE ABAIXO A ALTERNATIVA CORRETA:

A) A Carta Internacional dos Direitos Humanos é formada pelo Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticos e pelo Pacto Internacional dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais.

B) Integram o corpus juris universal de proteção dos direitos humanos apenas os tratados
internacionais celebrados sob o patrocínio da ONU.

C) A Carta das Nações Unidas é considerada o pórtico de entrada do grande templo dos
direitos humanos.

D) As Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos, conhecidas como as
Regras de Mandela, de 1955, têm a natureza jurídica de tratado internacional, razão pela qual
devem ser obedecidas pelos Estados-membros da ONU, sob pena de sanção.

E) O arcabouço de proteção dos direitos humanos da ONU é formado por tratados


internacionais e por diversos outros instrumentos que, mesmo não sendo juridicamente
vinculantes, são importantes para direcionar os Estados na efetivação desses direitos.

GABARITO

1. Acerca do Sistema Universal de Proteção dos Direitos Humanos, instituído no âmbito


da ONU, assinale a alternativa incorreta:

A alternativa "C " está correta.

Tais procedimentos são operacionalizados pelo Conselho de Direitos Humanos, e não pelo Alto
Comissariado.

2. Sobre o corpus juris universal de proteção dos direitos humanos, assinale abaixo a
alternativa correta:

A alternativa "E " está correta.


O corpus juris universal de direitos humanos é composto por tratados e vários outros
instrumentos que promovem os direitos humanos.

MÓDULO 2

 Listar os sistemas regionais de proteção dos direitos humanos

SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DE


DIREITOS HUMANOS
Paralelamente à ONU, outras organizações internacionais regionais começaram a surgir após
o término da Segunda Guerra Mundial, tais como a Organização dos Estados Americanos
(OEA), em 1948; o Conselho da Europa (CE), em 1949; e, um pouco mais tarde, a
Organização da Unidade Africana (OUA), de 1963, que teve como sucessora a União
Africana (UA), em 2002. Na área dessas organizações também surgiram e passaram e ser
desenvolvidos sistemas regionais de proteção dos direitos humanos, com vistas a
complementar a proteção global desses direitos, anteriormente instituída pela ONU. Na
atualidade coexistem, em uma relação de complementariedade, o sistema global e os sistemas
regionais de proteção dos direitos humanos.

Foto: Ssolbergj/Wikimedia commons/CC BY-SA 3.0


 Sessão da Assembleia Parlamentar do Conselho

da Europa na antiga Casa da Europa em Estrasburgo em 1967.

Atualmente, existem três sistemas que se encontram estruturados em diferentes continentes:

Imagem: Tohaomg/Wikimedia commons/Domínio Público


 Bandeira do Conselho da Europa.

O sistema europeu de proteção dos direitos humanos, arquitetado no âmbito do Conselho


da Europa (CE).

Imagem: desconhecido/Wikimedia commons/CC BY-SA 4.0


 Bandeira da Organização dos Estados Americanos.

O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos, arquitetado no âmbito da


Organização dos Estados Americanos (OEA).

Imagem: UAmtoj/Wikimedia commons/Domínio Público


 Bandeira da União Africana.

O sistema africano de proteção dos direitos humanos, arquitetado no âmbito da União


Africana (UA).

Apesar da existência de alguns documentos voltados à proteção dos direitos humanos no


plano regional árabe-islâmico, não é possível afirmar, na atualidade, a existência de um
sistema árabe-islâmico de proteção dos direitos humanos, o que ainda é uma grande
aspiração. Nesse contexto, é possível destacar a existência de alguns poucos instrumentos: (i)
a Declaração Universal Islâmica de Direitos Humanos, de 1981; (ii) a Declaração dos
Direitos Humanos do Cairo ou Declaração dos Direitos Humanos do Islam, adotada em
1990 pela Organização para a Cooperação Islâmica (OCI); e (iii) a Carta Árabe dos Direitos
do Homem, adotada pelo Conselho da Liga dos Estados Árabes, em 1994 e atualizada em
2004.

VALE DESTACAR TAMBÉM QUE OS DIREITOS


HUMANOS PARA OS POVOS ÁRABES GERALMENTE
SE APRESENTAM COMO UM PODER DERIVADO DE
UM PODER DIVINO, O QUE ACABA POR PRODUZIR
SITUAÇÕES COMPLEXAS E VIOLADORAS DE
DIREITOS HUMANOS PARA DETERMINADOS
SEGMENTOS SOCIAIS, COMO MULHERES E
CRIANÇAS.
Por sua vez, no continente asiático não existe até o presente momento qualquer documento
relevante sobre a proteção dos direitos humanos e sequer uma expectativa de conclusão de
uma convenção regional ou sub-regional de direitos humanos.

Antes de passarmos à análise específica de cada um dos sistemas regionais, é necessário


esclarecer que eles atuam paralela e complementarmente ao sistema global. Portanto, esses
sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos não se excluem, ao contrário, se
completam. Como já vimos, a finalidade do sistema global é atuar de forma ampla em todos os
Estados soberanos, ao passo que os sistemas regionais têm uma atuação complementar
àquele, buscando aperfeiçoar e fortalecer as determinações dos moldes gerais, bem como
tratar das especificidades relativas aos direitos humanos em cada âmbito regional.

Rhona K. M. Smith (2014, p. 87), ao apontar algumas vantagens dos sistemas regionais,
destaca que, “na medida em que um número menor de Estados está envolvido, o consenso
político se torna mais facilitado, seja com relação aos textos convencionais, seja quanto aos
mecanismos de monitoramento. Muitas regiões são ainda relativamente homogêneas, com
respeito à cultura, à língua e às tradições, o que oferece vantagens”.

O SISTEMA REGIONAL EUROPEU DE


PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
O sistema europeu de proteção dos direitos humanos é atualmente o mais desenvolvido dos
sistemas regionais. Foi o primeiro efetivamente instalado, fato que se deu em 4 de novembro
de 1950, com a adoção da Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e
das Liberdades Fundamentais ou simplesmente Convenção Europeia de Direitos
Humanos (CEDH). A Convenção foi elaborada no âmbito do Conselho da Europa, órgão
criado em 5 de maio de 1949, com o objetivo de unificar a Europa.

O ARCABOUÇO NORMATIVO

A CEDH é o tratado-regente do sistema europeu, que entrou em vigor internacional em 3 de


setembro de 1953, e continua a ser o mais expressivo catálogo europeu de direitos humanos.
Logo em seu art. 1º, estabelece a obrigação geral de os Estados-partes respeitarem os direitos
humanos.

A principal finalidade da CEDH é disciplinar as diretrizes referentes à proteção dos direitos da


pessoa humana e garantir os instrumentos para sua aplicação. Ela também institucionaliza um
compromisso dos Estados europeus em cumprir efetivamente as normas protetivas nela
previstas, não adotando quaisquer concepções contrárias em seus respectivos ordenamentos
jurídicos internos.

Imagem: UAmtoj/Wikimedia commons/CC BY-SA 3.0


 Edifício do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem em Estrasburgo, na França.

A CEDH também determina a submissão dos países europeus ao Tribunal Europeu dos
Direitos do Homem (TEDH), órgão criado para atuar jurisdicionalmente caso haja o
desrespeito às normas impostas pela Convenção, julgando e condenando os Estados
violadores de suas disposições e de outras normas integrantes do sistema europeu de
proteção.

A CEDH é estruturada basicamente em três partes. A primeira (arts. 2º a 18) regulamenta os


direitos e as liberdades fundamentais de natureza civil e política, que se baseiam no direito à
vida, na proibição da tortura, na proibição da escravidão e do trabalho forçado, na garantia da
liberdade, da segurança, da vida privada e familiar, do processo judicial equitativo e nas
liberdades de expressão, pensamento, consciência e religião, na liberdade de reunião e de
associação, na proibição da discriminação, entre outros. A segunda parte do texto (arts. 19 a
51) diz respeito à estrutura interna e funcionamento da Corte EDH, órgão responsável por
julgar os casos de violação de direitos humanos consagrados e positivados pela Convenção.
Por fim, a terceira parte (arts. 52 a 59) estabelece disposições gerais, tais como a assinatura e
ratificação, as reservas, a denúncia e a aplicação territorial.

Além do texto principal da CEDH, vários outros instrumentos normativos foram criados para a
consagração desses direitos no continente europeu, com destaque para os protocolos relativos
à Convenção, que ampliaram o rol dos direitos protegidos. A seguir, estão destacados os
protocolos mais importantes:

Protocolo n.º 1 (1952), que dispôs sobre o direito de propriedade; o Protocolo n.º 2
(1993), que trata do direito à educação.

Protocolo n.º 4 (1963), que cuida da liberdade de locomoção.

Protocolo n.º 6 (1983), que dispôs sobre a abolição da pena de morte em tempo de paz.

Protocolo n.º 7 (1984), que estabeleceu o direito de apelar em questões de natureza


criminal, o direito a uma justa compensação por erro judiciário e o direito à igualdade
entre os cônjuges.

Protocolo n.º 12 (2000), que prevê o direito à não discriminação.

Protocolo n.º 13 (2002), que trata da abolição da pena de morte em tempo de guerra.


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Junto à CEDH e aos seus protocolos, o sistema europeu conta atualmente com mais de 185
instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos, todos adotados pelo Conselho
da Europa. Dentre eles, merecem destaque a Convenção Europeia para a Prevenção da
Tortura e de Tratamentos Desumanos e Degradantes (1987), a Carta Europeia para as Línguas
Regionais ou de Minorias (1992) e a Convenção para a Proteção de Minorias Nacionais (1995).

OS ÓRGÃOS COMPONENTES DO SISTEMA


De início, com a finalidade de monitorar os direitos previstos na CEDH e desenvolver métodos
eficazes na produção de resultados protetivos dos direitos consagrados, a própria Convenção
estabeleceu três órgãos distintos, cada um com competências específicas previamente
instituídas: a Comissão Europeia de Direitos Humanos, a Corte Europeia de Direitos
Humanos e o Comitê de Ministros do Conselho da Europa.

Imagem: File Upload Bot (Magnus Manske)/Wikimedia commons/CC BY-SA 3.0


 Salão da Corte Europeia de Direitos Humanos.

Enquanto um dos órgãos inicialmente criados pela CEDH, a Comissão tinha uma competência
política e “semijudicial”. Sua função era analisar as queixas ou comunicações apresentadas
pelos Estados-membros do sistema europeu e também pelos indivíduos (ONGs ou grupos de
indivíduos), acerca de uma violação da Convenção, buscando resolver o problema de uma
maneira mais informal e conciliatória, privilegiando-se a busca pela solução rápida.

A Comissão realizava uma espécie de juízo de admissibilidade das petições protocoladas,


atuando como mecanismo de filtragem para decidir quais petições seriam consideradas
admissíveis. Também atuava propondo aos litigantes a solução pacífica dos conflitos e também
aplicando medidas protetivas de caráter preliminar. Caso restassem infrutíferas as tentativas de
conciliação e solução dos litígios, à Comissão cabia submeter o caso à Corte.
UM DOS ÓRGÃOS MAIS IMPORTANTES CRIADOS
PELA CEDH FOI A CORTE, INSTITUÍDA EM 20 DE
ABRIL DE 1959, COM FUNÇÃO JURISDICIONAL. A SUA
PRINCIPAL TAREFA ERA A APLICAÇÃO DAS
PREMISSAS DA CONVENÇÃO AO JULGAR OS CASOS
QUE LHE ERAM SUBMETIDOS E A COMINAÇÃO DE
EVENTUAIS SANÇÕES AOS PAÍSES VIOLADORES
DOS DIREITOS PROTEGIDOS, REALIZANDO ASSIM O
JUÍZO DE MÉRITO DOS CASOS.

Ao logo do tempo, contudo, o sistema europeu passou por vários processos de


aperfeiçoamento, concretizados por diversos Protocolos (tratados modificativos e
complementares à CEDH). Em razão do Protocolo n.º 11 (1998), profundas alterações foram
realizadas no âmbito do sistema, dentre elas a extinção da Comissão e da Corte inicialmente
criadas (que atuavam em tempo parcial) e a criação do Tribunal Europeu dos Direitos do
Homem (TEDH), agora único e permanente, com competência obrigatória para a realização
dos juízos de admissibilidade e de mérito dos casos de violações de direitos humanos que lhe
são submetidos.

Nesse contexto, vale ressaltarmos que o sistema europeu também se destaca por ser o único
sistema regional de proteção dos direitos humanos que permite o acesso direto de indivíduos,
ONGs e grupos de indivíduos ao TEDH (jus standi), a fim de que possam, por meio do
exercício do direito de petição (CEDH, art. 34), exigir uma reparação devido à violação de
direitos por um Estado-parte na CEDH. Essa alteração ocorreu por meio do Protocolo n.º 11;
antes dele, somente Estados e a extinta Comissão eram legitimados para provocar a Corte.

JUS STANDI

Legitimidade conferida aos indivíduos para comunicar diretamente a violação de direitos


humanos para um órgão internacional, no caso o TEDH.
Com sede em Estrasburgo, o TEDH é regulado pela CEDH e tem competência contenciosa
para se pronunciar sobre todas as questões relativas à interpretação e à aplicação da
Convenção (arts. 32 a 46). Pode receber petições de qualquer pessoa singular, ONG ou grupo
de particulares que se considerem vítimas de violação dos direitos previstos na Convenção
pelos Estados-partes (art. 34) e também pode apreciar denúncias feitas por um Estado-parte
sobre a violação de tais direitos por outro Estado-parte (art. 33). Contudo, para que o Tribunal
possa conhecer as questões que lhe são submetidas, condições de admissibilidade devem
estar presentes, dentre elas, o esgotamento dos recursos internos (art. 35).

Além da competência contenciosa, o TEDH tem também uma competência consultiva,


segundo a qual, por solicitação do Comitê de Ministros, formula pareceres e opiniões
consultivas sobre questões jurídicas relativas à interpretação da CEDH e de seus protocolos
(arts. 47 e 48).

O TEDH é composto por um número de juízes equivalente ao número de Estados-partes da


CEDH (art. 20). Todos eles exercem suas funções a título individual — com independência e
não como representantes de seus Estados de origem — e devem gozar da mais alta reputação
moral, bem como reunir as condições requeridas para o exercício de altas funções judiciais ou
ser jurisconsultos de reconhecida competência (art. 21). Os juízes são eleitos, por maioria de
votos expressos, pela Assembleia Parlamentar, com base em uma lista de três candidatos
indicados por cada Estado-parte da CEDH (art. 22), para um período de nove anos, não sendo
reelegíveis (art. 23).

Quanto à sua estrutura interna de funcionamento, o TEDH atua por meio de um Tribunal
Singular, comitês, seções e Tribunal Pleno (art. 26). As decisões, quando proferidas pelo
Tribunal Pleno, são definitivas (art. 44) e têm força vinculante para os Estados condenados,
que devem cumprir integralmente as condenações fixadas nas sentenças proferidas (art. 46).

O SISTEMA REGIONAL INTERAMERICANO


DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos está arquitetado no âmbito da
OEA, uma organização de vocação regional, criada pela Carta da Organização dos Estados
Americanos (ou Carta da OEA), aprovada na IX Conferência Internacional Pan-Americana,
realizada em Bogotá, em 1948. Pode-se afirmar que tal sistema foi “inaugurado” formalmente
por esse tratado, que destacou em seu preâmbulo a necessidade de contemplar um sistema
capaz de garantir o respeito aos direitos humanos no continente americano.

Na mesma Conferência em que foi adotada a Carta da OEA, os Estados americanos também
proclamaram a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948), que foi o
primeiro instrumento regional americano específico sobre direitos humanos.

Foto: Ras67/Wikimedia commons/Domínio Público


 Edifício da sede da União Pan-Americana

em Washington em 1943.

O ARCABOUÇO NORMATIVO

A Convenção Americana Sobre Direitos Humanos (CADH), também conhecida como Pacto
de San José da Costa Rica, é o tratado-regente do sistema interamericano de proteção dos
direitos humanos. Foi adotada na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos
Humanos, ocorrida em San José, Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, e entrou em vigor
internacional em 18 de julho de 1978.

Trata-se do texto de direitos humanos mais importante e expressivo das Américas, tornando-se
um dos pilares da proteção dos direitos humanos, ao consagrar direitos políticos e civis, bem
como os relacionados à integridade pessoal, à liberdade e à proteção judicial. Em seu art. 1º,
estabelece a obrigação geral de os Estados-partes respeitarem os direitos e as liberdades nela
reconhecidos e garantirem seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua
jurisdição, sem discriminação de qualquer natureza.

Além de prever um amplo rol de direitos civis e políticos, a principal finalidade da CADH é
estabelecer as diretrizes referentes à proteção dos direitos da pessoa humana, garantindo
importantes mecanismos para sua aplicação. Ela também institucionaliza um compromisso dos
Estados-partes em cumprir efetivamente as normas protetivas nela previstas, não adotando
quaisquer concepções contrárias em seus respectivos ordenamentos jurídicos internos.

A CADH é estruturada basicamente em três partes. A primeira (arts. 1º a 32) regulamenta os


direitos e as liberdades fundamentais de natureza civil e política, que se baseiam no direito à
vida, à integridade pessoal, na proibição da escravidão e da servidão, no direito à liberdade
pessoal, nas garantias judiciais, na proteção da honra e da dignidade, na liberdade de
consciência e de religião, na liberdade de pensamento e de expressão, no direito à
nacionalidade, na proteção da família, nos direitos políticos e de personalidade, entre outros.

A segunda parte (arts. 33 a 73) diz respeito à estrutura interna e funcionamento dos órgãos de
proteção dos direitos humanos componentes do sistema. Por fim, a terceira parte (arts. 74 a
82) trata das disposições transitórias, abordando tópicos como assinatura, ratificação, reserva,
emenda, protocolo e denúncia à Convenção, bem como disposições gerais sobre a Comissão
e a Corte.

O Brasil aderiu à CADH em 25 de setembro de 1992, mediante o depósito da carta de adesão


junto à Secretária-Geral da OEA, momento em que entrou em vigor no plano internacional para
o Estado brasileiro. No plano interno, o Congresso Nacional aprovou a Convenção por meio do
Decreto Legislativo n.º 27, de 26 de maio de 1992, mas somente entrou em vigor no plano
doméstico brasileiro em 6 de novembro de 1992, com a promulgação do Decreto n.º 678, pelo
presidente da República, momento em que passou a integrar o direito brasileiro, conforme a
prática brasileira de internalização dos tratados.

ALÉM DA CARTA OEA, DA DECLARAÇÃO AMERICANA


DOS DIREITOS E DEVERES DO HOMEM E DA
CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS
HUMANOS, O SISTEMA INTERAMERICANO CONTA
AINDA COM DIVERSOS OUTROS INSTRUMENTOS
(TRATADOS E DECLARAÇÕES) QUE COMPÕEM O
CORPUS JURIS INTERAMERICANO.

Dentre os principais instrumentos juridicamente vinculantes podemos citar os seguintes:

Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985).

Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos


Econômicos, Sociais e Culturais, conhecido como Protocolo de San Salvador (1988).

Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Humanos referente à Abolição da Pena de


Morte (1990).

Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher,


conhecida como Convenção de Belém do Pará (1994).

Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas (1994).


Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as


Pessoas Portadoras de Deficiência (1999).

Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de


Intolerância (2013).

Convenção Interamericana contra Toda Forma de Discriminação e Intolerância (2013).

Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos das Pessoas Idosas
(2015).

Dentre os instrumentos que não possuem força jurídica vinculante para os Estados, podemos
destacar a Declaração de Princípios sobre Liberdade de Expressão (2000), a Carta
Democrática Interamericana (2001), e a Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos
Indígenas (2016).

OS ÓRGÃOS COMPONENTES DO SISTEMA

Visando garantir a promoção, fiscalização e efetiva proteção dos direitos humanos previstos na
CADH e nos demais instrumentos normativos do sistema interamericano, foram instituídos dois
importantes órgãos: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e a Corte
Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), previstos no art. 33 da CADH e
disciplinados especialmente em outros dispositivos da Convenção.

Foto: bmszealand/shutterstock.com
 Sede da Corte Interamericana de Direitos Humanos,

na cidade de San Jose, na Costa Rica.

A COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

Foto: Bestbudbrian/Wikimedia commons/CC BY-SA 4.0


 Edifício da sede da União Pan-Americana em Washington, nos EUA.

A Comissão é um órgão criado inicialmente pela OEA para “promover o respeito e a defesa dos
direitos humanos e servir como órgão consultivo da Organização” sobre a matéria (Carta da
OEA, art. 106 e CADH, art. 41). Por determinação da norma prevista na Carta da OEA, a
CADH regulamentou a Comissão, dispondo sobre a sua organização, suas funções, sua
competência e seu procedimento em seus arts. 34 a 51 (salvo disposição em contrário, os
artigos citados a seguir estão previstos na CADH). Além dessas previsões, a Comissão conta
também com um Estatuto e um Regulamento.

Situada em Washington, D.C. (EUA), a Comissão realiza pelo menos dois períodos ordinários
de sessões por ano, no lapso determinado previamente, bem como tantas sessões
extraordinárias quantas considerem necessárias.

É composta por sete membros, denominados comissários ou comissionados, que devem ser
pessoas de alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos (art.
34). Esses membros são eleitos a título pessoal (não como representantes dos seus Estados
de origem), pela Assembleia Geral da OEA, de uma lista de candidatos propostos pelos
governos dos Estados-membros, sendo que cada governo pode propor até três candidatos,
nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro Estado-membro da OEA. Quando
for proposta uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser de Estado diferente
do proponente (CADH, art. 36). No tocante ao mandato de seus membros, eles serão eleitos
por quatro anos e só poderão ser reeleitos uma única vez, não podendo fazer parte da
Comissão mais de um comissário de um mesmo Estado (art. 37).

A CADH criou um sistema de petições individuais e de comunicações interestatais,


possibilitando à Comissão o recebimento de denúncias ou queixas contendo alegações de
violações de direitos humanos protegidos pela Convenção e por outros instrumentos
normativos do SIDH (Default tooltip) . O procedimento de petição individual é considerado de
adesão obrigatória para os Estados que aderem ou ratificam a CADH (art. 44). Por outro lado,
o procedimento de comunicação interestatal (entre Estados) é estabelecido pela própria
Convenção como facultativo (art. 45).

Para que um procedimento de petição individual contendo uma denúncia ou queixa de violação
dos direitos humanos previstos na CADH possa ser iniciado junto à Comissão, devem estar
presentes algumas condições de admissibilidade, conforme o estabelecido pelo art. 46 da
Convenção. Em suma, são elas: (i) o esgotamento dos recursos internos (local remedies
rule (Default tooltip) ); (ii) a ausência do decurso do prazo de 6 meses, contados do
esgotamento dos recursos internos, para a apresentação da petição; (iii) ausência de
litispendência internacional; (iv) ausência de coisa julgada internacional; e (v) identificação do
peticionário.
A Comissão já apreciou diversos casos envolvendo várias espécies de violação de direitos
humanos pelo Estado brasileiro, sendo que um deles resultou em uma recomendação ao país
para elaboração de uma lei voltada à prevenção e ao combate à violência doméstica, que
resultou na edição da Lei n.º 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha.

A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

O segundo órgão de proteção dos direitos humanos do SIDH é a Corte Interamericana de


Direitos Humanos (Corte IDH), uma instituição judicial autônoma que é um órgão da CADH.
Sua criação decorre diretamente do art. 33, “b”, da Convenção.

A CORTE IDH TEM SUA PRINCIPAL DISCIPLINA


JURÍDICA NA CADH, QUE ESTABELECEU A SUA
ORGANIZAÇÃO, SUAS COMPETÊNCIAS, FUNÇÕES,
SEUS PROCEDIMENTOS E SUAS DISPOSIÇÕES
COMUNS NOS ARTS. 52 A 73. ASSIM COMO A
COMISSÃO, ALÉM DA REGULAÇÃO PREVISTA NA
CONVENÇÃO, A CORTE TAMBÉM CONTA COM
NORMAS REGULAMENTADORAS EM SEU ESTATUTO
E REGULAMENTO.

Em 22 de maio 1979, durante o VII Período Extraordinário de Sessões da Assembleia Geral da


OEA, os Estados-partes na CADH elegeram os membros que, por sua capacidade pessoal,
seriam os primeiros juízes a compor a Corte. A sua primeira reunião foi realizada em 29 e 30
de junho de 1979, na sede da OEA, em Washington. Atualmente a sede da Corte está situada
em San José, capital da Costa Rica.

De acordo com o art. 1º do seu estatuto, a Corte “é uma instituição judiciária autônoma cujo
objetivo é a aplicação e a interpretação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos”,
exercendo suas funções em conformidade com as disposições da Convenção e do seu
Estatuto. Trata-se, portanto, de um tribunal “com o propósito primordial de resolver os casos
que lhe são apresentados por supostas violações aos direitos humanos protegidos pela
Convenção Americana” (GUERRA, 2015, p. 166).

Em relação ao seu funcionamento, de acordo com o art. 22.1 do seu estatuto, a Corte pode
realizar sessões ordinárias e extraordinárias (pois não é um tribunal permanente como o
TEDH), sendo que os períodos ordinários de sessões serão determinados regularmente pela
própria Corte (art. 22.2) e os períodos extraordinários de sessões serão convocados pelo
presidente ou por solicitação da maioria dos juízes (art. 22.3).

Conforme estabelece o art. 11 de seu regulamento, a Corte realizará os períodos ordinários de


sessões que se fizerem necessários durante o ano para o pleno exercício de suas funções, nas
datas que tiver fixado em sua sessão ordinária imediatamente anterior.

No tocante à sua composição, conforme dispõe o art. 52.1 da CADH, a Corte IDH é composta
de sete juízes, nacionais dos Estados membros da OEA, eleitos a título pessoal, que devem
ser pessoas de alta autoridade moral e de reconhecida competência em matéria de direitos
humanos, reunindo as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções
judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os
propuser como candidatos.

Seus juízes são eleitos por um período de seis anos e só poderão ser reeleitos uma vez (art.
54.1). A eleição ocorre por meio de votação secreta e pelo voto da maioria absoluta dos
Estados-partes da Convenção, na Assembleia Geral da OEA, de uma lista de candidatos
propostos pelos mesmos Estados (CADH, art. 53.1). Cada governo pode propor até três
candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro Estado membro da
OEA. Quando for proposta uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser
nacional de Estado diferente do proponente (CADH, art. 53.2). Não deve haver dois juízes da
mesma nacionalidade compondo a Corte simultaneamente (CADH, art. 52.2).

De acordo com a CADH, a Corte IDH pode exercer uma função consultiva (art. 64), segundo
a qual emite pareceres ou opiniões em resposta às consultas que lhe são dirigidas pelos
Estados, bem como uma função contenciosa (arts. 61, 62 e 63), de acordo com a qual
analisa e julga os casos de violações de direitos humanos que lhe são submetidos.

A competência contenciosa da Corte não é automática, mas precisa ser reconhecida


expressamente pelo Estado-parte da CADH. Assim, para que a Corte possa exercer sua
jurisdição contenciosa sobre determinado Estado, no momento da adesão ou ratificação (ou
em qualquer outro momento), o ente estatal deve declarar expressamente que reconhece
como obrigatória, de pleno direito e sem convenção especial a competência da Corte em
todos os casos relativos à interpretação ou aplicação da Convenção (CADH, art. 62.1).
NO BRASIL, ESSE RECONHECIMENTO FOI APROVADO
PELO CONGRESSO NACIONAL POR MEIO DO
DECRETO LEGISLATIVO N.º 89, DE 3 DE DEZEMBRO
DE 1998. POR MEIO DE NOTA TRANSMITIDA AO
SECRETÁRIO-GERAL DA OEA NO DIA 10 DE
DEZEMBRO DE 1998, O BRASIL RECONHECEU A
JURISDIÇÃO E A COMPETÊNCIA OBRIGATÓRIA DA
CORTE IDH, CONFORME DISPOSTO NO DECRETO N.º
4.463, DE 8 DE NOVEMBRO DE 2002.

Acerca da legitimidade para provocar a Corte IDH, de acordo com o art. 61 da CADH, somente
os Estados-partes (que tenham também reconhecido a jurisdição da Corte) e a Comissão têm
o direito de submeter casos para sua apreciação e julgamento. Contrariamente ao que ocorre
no âmbito do sistema europeu, no SIDH os indivíduos dependem da Comissão ou de outro
Estado (actio popularis (Default tooltip) ) para que suas vindicações possam chegar à Corte
IDH, pois até o presente momento lhe é vedado o direito de ação internacional (jus standi).

As sentenças proferidas pela Corte IDH são de cumprimento obrigatório por parte dos Estados-
partes na CADH em todo caso em que forem partes, conforme disposto no art. 68.1 da CADH.
O art. 67 da CADH determina que a sentença é definitiva e inapelável, sendo que no caso de
divergência sobre o sentido ou alcance da decisão, a Corte deverá interpretá-la, a pedido de
qualquer das partes.

Desde o ano de 2006, a Corte IDH já julgou dez casos envolvendo o Brasil, sendo que apenas
em um deles o país não foi condenado. São eles: Caso Ximenes Lopes vs. Brasil (2006); Caso
Nogueira de Carvalho e outros vs. Brasil (2006); Caso Escher e outros vs. Brasil (2009); Caso
Garibaldi vs. Brasil (2009); Caso Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”) vs. Brasil
(2010); Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil (2016); Caso Cosme Rosa
Genoveva, Evando de Oliveira e outros (“Favela Nova Brasília”) vs. Brasil (2017); Caso do
Povo Indígena Xucuru e seus membros vs. Brasil (2018); Caso Herzog e outros vs. Brasil
(2018); e Caso Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e seus
familiares vs. Brasil (2020).

Além dos casos já julgados, até o presente momento outros três casos envolvendo o país
encontram-se pendentes de julgamento. São eles: Caso Barbosa de Souza e outros vs. Brasil
(2019), Caso Barbosa de Souza e outros vs. Brasil (2020) e Caso Tavares Pereira e outros vs.
Brasil (2021).

A execução forçada das decisões da Corte IDH, em sentido próprio, não existe. Os casos de
não cumprimento dessas decisões por parte de um Estado condenado podem ser levados ao
conhecimento da Assembleia Geral da OEA por meio de um relatório anual. Desse modo, é
ativado um shaming mechanism (mecanismo da vergonha), visando motivar o Estado
envolvido à execução da decisão.

CASO EMPREGADOS DA FÁBRICA DE


FOGOS DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS E
SEUS FAMILIARES VS. BRASIL

Foi o caso submetido à Corte em 19 de setembro de 2018. A Comissão Interamericana


de Direitos Humanos submeteu à jurisdição da Corte Interamericana o Caso Empregados
da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e seus familiares contra a República
Federativa do Brasil. O caso está relacionado à explosão de uma fábrica de fogos de
artifício em Santo Antônio de Jesus, ocorrida em 11 de dezembro de 1998, em que 64
pessoas morreram e 6 sobreviveram, entre elas 22 crianças. A Comissão determinou que
o Estado violou: i) os direitos à vida e à integridade pessoal das supostas vítimas e de
seus familiares, uma vez que não cumpriu suas obrigações de inspeção e fiscalização,
conforme a legislação interna e o Direito Internacional; ii) os direitos da criança; iii) o
direito ao trabalho, pois sabia que na fábrica vinham sendo cometidas graves
irregularidades que implicavam alto risco e iminente perigo para a vida e a integridade
pessoal dos trabalhadores; iv) o princípio de igualdade e não discriminação, pois a
fabricação de fogos de artifício era, no momento dos fatos, a principal e, inclusive, a única
opção de trabalho dos habitantes do município, os quais, dada sua situação de pobreza,
não tinham outra alternativa senão aceitar um trabalho de alto risco, com baixa
remuneração e sem medidas de segurança adequadas; e v) os direitos às garantias
judiciais e à proteção judicial, pois nos processos civis, penais e trabalhistas conduzidos
no caso, o Estado não garantiu o acesso à justiça, a determinação da verdade dos fatos,
a investigação e punição dos responsáveis, nem a reparação das consequências das
violações de direitos humanos ocorridas.
Agora, o professor Luciano Meneguetti apresenta os órgãos de proteção dos direitos humanos
no âmbito interamericano.

O SISTEMA REGIONAL AFRICANO DE


PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Foto: RogDel/Wikimedia commons/Domínio Público


 Cúpula do 50º Aniversário da União Africana em Adis Abeba, Etiópia.

O sistema regional africano de proteção dos direitos humanos está estruturado no âmbito da
União Africana (UA) e nasceu somente em 1981, com a adoção da Carta Africana dos
Direitos Humanos e dos Povos (CADHP), também conhecida como Carta de Banjul. A Carta
foi aprovada na Conferência Ministerial da então Organização da Unidade Africana (hoje
denominada União Africana), em Banjul, Gâmbia, entrou em vigor internacional em 1986, e
constitui-se o tratado-regente do referido sistema.
EM UMA ESCALA DE DESENVOLVIMENTO, O SISTEMA
EUROPEU É O MAIS DESENVOLVIDO E O SISTEMA
INTERAMERICANO SE ENCONTRA EM UMA POSIÇÃO
INTERMEDIÁRIA. JÁ O SISTEMA AFRICANO É AINDA
INCIPIENTE E SE ENCONTRA EM PROCESSO DE
CONSTRUÇÃO, EVOLUÇÃO E AMADURECIMENTO.

O ARCABOUÇO NORMATIVO

A CADHP está estruturada em três partes. A primeira (arts. 1º a 29) elenca os direitos e os
deveres dos cidadãos, contemplando-se, inclusive, além dos direitos de 1ª e 2ª geração,
também os direitos de 3ª geração, tais como o direito ao meio ambiente sadio, ao
desenvolvimento e à paz. A segunda parte (arts. 30 a 63) estabelece as medidas de
salvaguarda da Carta, dispondo sobre a composição e a organização da Comissão Africana
dos Direitos Humanos e dos Povos (Comissão ADHP), sobre o processo perante a Comissão,
além dos princípios aplicáveis. Por fim, a última parte (arts. 64 a 68) fixa disposições diversas,
tais como a entrada em vigor da Carta e o processo para emenda ou revisão do texto.

Vários outros instrumentos integram o arcabouço normativo do sistema africano de direitos


humanos, tais como a Convenção da UA que Regula Aspectos Específicos dos Problemas
dos Refugiados na África (1969), a Carta Africana dos Direitos e Bem-Estar da Criança
(1990), o Protocolo à Carta Africana dos Direitos Humanos e Dos Povos sobre os
Direitos das Mulheres na África (2003), a Carta Africana para a Democracia, Eleições e
Governação (2011) e o Protocolo à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos
sobre os Direitos das Pessoas Idosas na África (2018). Há, ainda, outras disposições não
dotadas de força vinculante, como princípios e diretrizes.

ALÉM DA CADHP E DOS INSTRUMENTOS REGIONAIS


ACIMA MENCIONADOS, OS ESTADOS AFRICANOS
TAMBÉM ADERIRAM E RATIFICARAM A MAIORIA DOS
INSTRUMENTOS NORMATIVOS DE PROTEÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS DO SISTEMA GLOBAL (ONU).

OS ÓRGÃOS COMPONENTES DO SISTEMA

Diferentemente dos sistemas europeu e interamericano, que inicialmente estabeleceram dois


órgãos de proteção dos direitos humanos (uma Comissão e uma Corte), a CADHP criou
apenas a Comissão ADHP. Foi somente em 2004, quando entrou em vigor o Protocolo à Carta
ADHP, adotado em 1998, que surgiu a Corte Africana dos Direitos Humanos e dos Povos
(Corte ADHP). Por isso, costuma-se dizer que o sistema africano se desenvolveu em duas
etapas.

A COMISSÃO AFRICANA DOS DIREITOS HUMANOS E


DOS POVOS

À semelhança da extinta Comissão EDH e da Comissão IDH, a função da Comissão ADHP, em


funcionamento desde 1987, é promover os direitos humanos e dos povos e assegurar sua
respectiva proteção no continente africano. Ressalta-se que este foi o primeiro e único órgão
de proteção dos direitos humanos criado pela Carta ADHP (art. 30).

A Comissão é composta por onze membros, que devem ser escolhidos entre personalidades
africanas que gozem da mais alta consideração, conhecidas pela sua alta moralidade, sua
integridade e sua imparcialidade, e que possuam competência em matéria dos direitos
humanos e dos povos (art. 31). São eleitos, a título individual (para uma atuação com
independência), por escrutínio secreto pela Conferência dos Chefes de Estado e de Governo,
de uma lista de pessoas apresentadas para esse efeito pelos Estados-partes na Carta ADHP
(art. 33). Os membros da Comissão são eleitos para um mandato de seis anos, sendo
renovável (art. 36).

A Comissão ADHP exerce sua função de proteção dos direitos humanos mediante aceitação (i)
de petições individuais, que lhe são enviadas por indivíduos ou ONGs, denunciando
violações de direitos previstos na Carta ADHP, bem como (ii) de comunicações estatais,
feitas pelos Estados-partes da Carta, nas quais igualmente denunciam tais violações.

A CORTE AFRICANA DOS DIREITOS HUMANOS E DOS


POVOS

A Corte ADHP foi criada pelo Protocolo à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos
Povos (art. 1º), adotado em 10 de junho de 1998, por ocasião da 34ª Sessão Ordinária da
Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da Organização de Unidade Africana (atual
União Africana), reunida em Ouagadougou, no Burkina Faso. O Protocolo entrou em vigor
internacional em 25 de janeiro de 2004 e a Corte foi oficialmente inaugurada em 2006, tendo a
sua sede permanente em Arusha, República Unida da Tanzânia.

Conforme dispõe o próprio preâmbulo do Protocolo, a criação da Corte ADHP tem como
finalidade o fortalecimento da proteção dos direitos humanos e dos povos consagrados na
Carta ADHP, visando conferir maior eficácia à atuação da Comissão.

A Corte é composta por onze juízes, que devem ser nacionais dos Estados-membros da UA.
São eleitos por sua capacidade individual e devem ter elevada reputação moral e reconhecida
competência em matéria de direitos humanos e dos povos, não podendo haver dois juízes
nacionais do mesmo Estado (Protocolo, art. 11). Os juízes são eleitos para um mandato de seis
anos e podem ser reeleitos uma única vez (Protocolo, art. 15.1).

Podem submeter casos à Corte ADHP: (i) a Comissão ADHP; (ii) o Estado-parte que submeteu
o caso perante a Comissão; (iii) o Estado-parte contra o qual o caso na Comissão foi
submetido; e, (iv) as organizações africanas intergovernamentais (Protocolo, art. 5.1).

O Protocolo também prevê que a Corte “poderá conferir a relevantes organizações não
governamentais com status de observadora perante a Comissão e a indivíduos a prerrogativa
de submeter-lhe casos diretamente, de acordo com o art. 34 (6) do Protocolo” (art. 5.3). Esse
dispositivo convencional revela a previsão de acesso direto de indivíduos e ONGs à Corte
ADHP (jus standi), ainda que tal fato esteja condicionado ao aceite do Estado, conforme prevê
o art. 34.6 do Protocolo.

Tal como ocorre com a Corte IDH, a Corte ADHP tem uma competência consultiva e também
contenciosa.

COMPETÊNCIA CONSULTIVA
No exercício de sua competência consultiva, a pedido de um Estado-membro da União
Africana, da própria UA, de um de seus organismos ou de uma organização africana
reconhecida pela UA, a Corte ADHP pode emitir pareceres ou opiniões consultivas sobre a
interpretação da Carta ADHP ou de outro instrumento de direitos humanos (Protocolo, art. 4º).

COMPETÊNCIA CONTENCIOSA
No tocante à sua competência contenciosa, a Corte ADHP tem competência por todos os
casos e litígios que lhe forem apresentados relativos à interpretação e aplicação da Carta
ADHP, do Protocolo sobre o estabelecimento da Corte e de outros instrumentos de direitos
humanos que tenham sido ratificados pelos Estados envolvidos (Protocolo, art. 3º).

As decisões da Corte ADHP são vinculativas para os Estados-partes envolvidos no litígio, que
estão obrigados a garantir a execução da decisão em seus respetivos territórios (Protocolo, art.
30). O monitoramento da execução de uma decisão é responsabilidade de um Conselho de
Ministros (Protocolo, art. 29.2). A execução forçada das decisões da Corte em sentido próprio
não existe. Os casos de não cumprimento dessas decisões por parte de um Estado podem ser
levados ao conhecimento da Assembleia dos Chefes de Estado e de Governo em um relatório
anual. Desse modo, deve ser ativado um shaming mechanism (mecanismo da vergonha),
visando motivar o Estado envolvido à execução da decisão.

Em 2008, foi adotado o Protocolo Relativo aos Estatutos do Tribunal Africano de Justiça e
dos Direitos Humanos, mediante o qual se faz uma fusão do Tribunal Africano dos Direitos do
Homem e dos Povos e do Tribunal de Justiça da União Africana (este último, criado pelo
Protocolo do Tribunal de Justiça da União Africana, adotado pela Conferência da União em
Maputo, Moçambique, em 2003).

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. ACERCA DOS SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS


HUMANOS, É CORRETO AFIRMAR:

A) Que o sistema europeu, constituído pela Comissão Europeia de Direitos Humanos e pela
Corte Europeia de Direitos Humanos, atualmente é o mais desenvolvido dentre os sistemas
regionais.

B) Que o sistema interamericano tem como tratado-regente a Convenção Americana sobre os


Direitos Humanos.

C) Que o sistema africano possui dois importantes órgãos de proteção dos direitos humanos
que são a Comissão e a Corte Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, embora não conte
ainda com um tratado-regente para a completa regulação do sistema.

D) Que esses sistemas não guardam nenhuma relação com o sistema onusiano de proteção
dos direitos humanos, não atuando de maneira complementar a este último.

E) Que o sistema interamericano garante o jus standi ao indivíduo perante a Corte


Interamericana de Direitos Humanos.

2. SOBRE O SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS,


ARQUITETADO NO ÂMBITO DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS
AMERICANOS, É INCORRETO AFIRMAR:

A) Que a Comissão Interamericana é composta por sete comissários que devem ser pessoas
de alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos.

B) Que juízes da Corte Interamericana são eleitos por um período de sete anos e só poderão
ser reeleitos uma única vez.

C) Que a Convenção Americana criou um sistema de petições individuais e de comunicações


interestatais para que a Comissão possa receber denúncias e queixas contendo alegações de
violações de direitos humanos.

D) Que a Corte Interamericana é uma instituição judiciária autônoma cujo objetivo é a aplicação
e a interpretação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

E) Que o Brasil aderiu à Convenção Americana sobre Direitos Humanos e também reconheceu
a jurisdição da Corte Interamericana, razão pela qual pode ser julgado por ela.

GABARITO

1. Acerca dos sistemas regionais de proteção dos direitos humanos, é correto afirmar:

A alternativa "B " está correta.


A alternativa A está incorreta, pois o sistema europeu tem hoje apenas um órgão, que é o
TEDH. A alternativa C está incorreta, visto que o sistema africano tem como tratado regente a
CADHP; a alternativa D está incorreta, pois os sistemas regionais e onusiano são
complementares e não excludentes; a alternativa E está incorreta, dado que o indivíduo não
pode acessar diretamente a Corte, apenas a Comissão Interamericana.

2. Sobre o sistema interamericano de direitos humanos, arquitetado no âmbito da


Organização dos Estados Americanos, é incorreto afirmar:

A alternativa "B " está correta.

Justificativa: Estando todas as demais alternativas corretas, a alternativa “b” está incorreta
porque os juízes da Corte Interamericana são eleitos para um mandato de seis anos, permitida
uma reeleição.

MÓDULO 3

 Descrever finalidade, competência, composição e atuação do Tribunal Penal


Internacional na proteção dos direitos humanos.

O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E O


DIREITO PENAL INTERNACIONAL

Foto: Ech25/Wikimedia commons/Domínio Público


 Artilharia Real durante o treinamento em Ellesmere, na Inglaterra, em agosto de 1943.

A história da humanidade é marcada por incontáveis guerras através dos séculos, sendo esse
um de seus aspectos mais sombrios. Como é de conhecimento geral, o mundo já presenciou
duas grandes guerras mundiais, sendo que a Segunda Guerra constituiu o mais sangrento e
brutal conflito armado já ocorrido. Milhões de vidas foram ceifadas, tanto combatentes como
civis. O número exato nunca saberemos.

Além dessas guerras de abrangência mundial, inúmeros conflitos armados já ocorreram


internamente a muitos países ao redor do globo. Tristemente, as guerras civis também têm
sido frequentes na história humana, deixando por vezes um rastro de atrocidades e violações
da vida e da dignidade humana.

É nesse contexto que surge a conhecida expressão genocídio, aqui entendido como o
extermínio em massa de pessoas ou, mais tecnicamente, como uma ação coordenada para
exterminar uma nação, um povo ou um grupo étnico. A história humana é marcada por
genocídios, tais como os que ocorreram na Circássia (1864 a 1867), na Armênia (1915 a
1922), no Holocausto (1939 a 1945), no Camboja (1975 a 1979), em Ruanda (1994) e na
antiga Iugoslávia (1995), que conjuntamente a muitos outros, vitimaram milhões de pessoas.

Foto: Buidhe/Wikimedia commons/Domínio Público


 Judeus holandeses no campo de concentração

de Buchenwald, na Alemanha.

COMO UMA REAÇÃO A ESSE TRISTE QUADRO,


ALGUNS PAÍSES E, POSTERIORMENTE, TODA A
SOCIEDADE INTERNACIONAL ESTABELECERAM UM
CONJUNTO DE NORMAS JURÍDICAS DESTINADAS À
PUNIÇÃO DOS RESPONSÁVEIS PELOS HORRENDOS
CRIMES COMETIDOS, BEM COMO CRIARAM ÓRGÃOS
ESPECÍFICOS PARA REALIZAR O JULGAMENTO E
APLICAÇÃO DAS PENAS IMPOSTAS.

Surge assim o Direito Internacional Penal (DIP), entendido como um ramo do Direito ou das
Ciências Jurídicas que se ocupa de assuntos criminais em uma esfera global, mediante o
estabelecimento de normas jurídicas voltadas à tipificação de condutas que configuram graves
crimes que atingem a consciência da humanidade. Essas normas criam e regulamentam a
jurisdição e a competência para o julgamento e a aplicação de sanções penais por órgãos
internacionais de natureza penal, vinculados à Justiça Internacional, tal como reconhecida pela
sociedade internacional. Nas palavras de Kai Ambos (2005, p. 1), trata-se do “conjunto de
todas as normas de Direito Internacional que estabelecem consequências jurídico-penais”.

Foto: Jarekt/Wikimedia commons/Domínio Público


 Ex-oficiais nazistas no banco dos réus no

Julgamento de Nurembergs, entre 1945 e 1948.

Adjacente ao conjunto de normas voltado à punição de indivíduos responsáveis por genocídios


e massacres em larga escala, tribunais penais também passaram a ser instituídos com o
objetivo específico de julgar os crimes cometidos nesse cenário. A título de exemplo, citamos o
Tribunal de Nuremberg, o Tribunal Militar Internacional de Tóquio e os Tribunais Penais
para Ruanda e para a ex-Iugoslávia.

Esses tribunais, que são conhecidos como tribunais de exceção ou tribunais ad hoc, sempre
foram muito criticados, especialmente por serem constituídos em caráter temporário ou
excepcional, após a ocorrência dos fatos (e não ex post facto). Outra crítica preponderante se
deve à sua composição por juízes que, em tese, não teriam a imparcialidade necessária para o
julgamento, uma vez que não são previamente investidos de jurisdição de acordo com leis
estabelecidas, ofendendo-se com isso o princípio do juiz natural, consagrado no Direito
Internacional e no âmbito do Direito interno dos Estados.

É nesse cenário que a sociedade internacional viu a necessidade de criar um Tribunal Penal
Internacional de caráter permanente e com competência legalmente instituída para o
julgamento dos graves e bárbaros crimes que atentam contra a consciência coletiva de toda a
humanidade. Ademais, seria até mesmo falacioso falar-se na proteção internacional dos
direitos humanos (global e regional), conforme estudamos nos módulos anteriores, sem a
contrapartida da instituição da responsabilidade criminal dos indivíduos no plano
internacional (MAZZUOLI, 2019).

O ESTATUTO DE ROMA DO TRIBUNAL


PENAL INTERNACIONAL E A CRIAÇÃO DO
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL (TPI)
O TPI foi criado pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, um tratado
internacional adotado pela Conferência das Nações Unidas de Plenipotenciários para o
Estabelecimento de um Tribunal Penal Internacional, em 17 de julho de 1998. Entrou em vigor
em 1° de julho de 2002, conforme estabelecido em seu art. 126, e somente os Estados que
expressaram formalmente o seu consentimento são obrigados a se submeter às previsões do
TPI.

Foto: Hypergio/Wikimedia commons/CC BY-SA 4.0


 Edifício do Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda.

O Brasil é um dos Estados-partes do referido tratado, submetendo-se à jurisdição do TPI. O


Estatuto foi aprovado pelo Congresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo n.º 112, de 6
de junho de 2002. Posteriormente, foi ratificado pelo país por meio do depósito do instrumento
de ratificação em 14 de junho de 2002, passando a integrar o ordenamento jurídico brasileiro
por meio do Decreto n.º 4.388, de 25 de setembro de 2002. Além da ratificação do Estatuto,
que foi suficiente para caracterizar a submissão do Estado brasileiro à jurisdição do TPI,
visando reforçar o reconhecimento do Tribunal, a Emenda Constitucional n.º 45, de 30 de
dezembro de 2004, incluiu o § 4º ao art. 5º da CRFB (Default tooltip) , que assim dispôs: “O
Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado
adesão”.

O Estatuto de Roma do TPI é composto por 128 artigos que abrangem um preâmbulo e 13
partes assim divididas:

I – Criação do Tribunal

II – Competência, admissibilidade e direito aplicável

III – Princípios gerais de direito penal

IV – Composição e administração do Tribunal

V – Inquérito e procedimento criminal

VI – O julgamento

VII – As penas

VIII – Recurso e revisão

IX – Cooperação internacional e auxílio judiciário

X – Execução da pena
XI – Assembleia dos Estados-partes

XII – Financiamento

XIII – Cláusulas finais


Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal

PRINCIPAIS ASPECTOS DO TRIBUNAL


PENAL INTERNACIONAL
Instalado oficialmente em 11 de março de 2003, em Haia, na Holanda, o TPI foi criado
(Estatuto, art. 1º) mediante o reconhecimento pelos Estados de que “milhões de crianças,
homens e mulheres têm sido vítimas de atrocidades inimagináveis que chocam profundamente
a consciência da humanidade”, e que “os crimes de maior gravidade, que afetam a comunidade
internacional no seu conjunto, não devem ficar impunes e que a sua repressão deve ser
efetivamente assegurada através da adoção de medidas em nível nacional e do reforço da
cooperação internacional”, conforme dispõe o Preâmbulo do Estatuto.

O Tribunal, que é independente e tem personalidade jurídica internacional (Estatuto, art. 4.1), é
“uma instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de
maior gravidade com alcance internacional (...) e será complementar às jurisdições penais
nacionais” (Estatuto, art. 1º), sendo que a competência e o funcionamento do Tribunal são
regidos pelo seu Estatuto constitutivo. Precisamos destacar, portanto, que a sua atuação é
subsidiária, pois de acordo com o próprio Estatuto, atua “complementarmente” à jurisdição
dos Estados soberanos, não visando substituir esta última.

 ATENÇÃO
É importante salientarmos que o TPI julga indivíduos (pessoas físicas) pelo cometimento dos
crimes de sua competência, diferentemente das demais cortes internacionais de direitos
humanos estudadas nos módulos anteriores, competentes para julgar Estados por violações de
direitos humanos.

COMPETÊNCIA

Os crimes de competência do TPI, que são imprescritíveis (Estatuto, art. 29), estão previstos
no art. 5º do Estatuto, sendo eles: o crime de genocídio; os crimes contra a humanidade; os
crimes de guerra; e o crime de agressão.

CRIME DE GENOCÍDIO

De acordo com o Estatuto, o genocídio é entendido como qualquer ato praticado com intenção
de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, o que
compreende segundo o art. 6º:

Homicídio de membros do grupo.

Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo.

Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição
física, total ou parcial.

Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo.

Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.



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CRIMES CONTRA A HUMANIDADE

O Estatuto compreende qualquer ato cometido no quadro de um ataque, generalizado ou


sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque.
Compreende-se especificamente os vários atos descritos no art. 7º do Estatuto, 15 ao todo,
pelos quais pode ser cometido um crime contra a humanidade. Dentre eles, destacam-se:

Foto: EtienneDolet/Wikimedia commons/Domínio Público


 Imagem do Genocídio Armênio perpetrado pelo

Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial.

Homicídio

Extermínio

Escravidão
Deportação ou transferência forçada de uma população

Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas
fundamentais de direito internacional

Tortura

Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização


forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável

Desaparecimento forçado de pessoas

Crime de apartheid


Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal

Conforme afirma Valerio Mazzuoli (2019), a “expressão ‘crimes contra a humanidade’


geralmente conota quaisquer atrocidades e violações de direitos humanos perpetrados no
planeta em larga escala, para cuja punição é possível aplicar-se o princípio da jurisdição
universal”.

CRIMES DE GUERRA

Também conhecidos como crimes contra as leis e costumes aplicáveis em conflitos


armados, “são fruto de uma longa evolução do direito internacional humanitário, desde o
século passado, tendo sido impulsionado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha,
ganhando foros de juridicidade com as quatro Convenções de Genebra, de 12 de agosto de
1949, e com as bases teóricas do direito costumeiro de guerra” (MAZZUOLI, 2019).

Imagem: Paebi/Wikimedia commons/Domínio Público


 Assinatura da primeira Convenção de Genebra em 1864, retratada por Charles Édouard
Armand-Dumaresq.

Conforme dispõe o Estatuto, os crimes de guerra são entendidos como graves violações às
Convenções de Genebra, consistentes nos atos enumerados no art. 8.2(a) do Estatuto,
dirigidos contra pessoas ou bens protegidos nos termos. Destacam-se as Convenções de
Genebra que estabelecem o Direito Internacional Humanitário, isto é, o Direito aplicável na
guerra – jus in bello, notadamente para a proteção dos direitos humanos.

Ainda conforme estabelece o art. 8.2(b) do Estatuto, também são considerados crimes de
guerra “outras violações graves das leis e costumes aplicáveis em conflitos armados
internacionais no âmbito do direito internacional”, conforme os atos enumerados no referido
dispositivo convencional.

Foto: Soerfm/Wikimedia commons/CC BY-SA 2.0

O Estatuto determina que, no caso de conflitos armados que não sejam de índole internacional,
também são considerados crimes de guerra as graves violações do artigo 3º comum às quatro
Convenções de Genebra, consistentes nos atos descritos no art. 8.2(c) do Estatuto, cometidos
contra pessoas que não participem diretamente nas hostilidades, incluindo os membros das
forças armadas que tenham deposto armas e os que tenham ficado impedidos de continuar a
combater devido à doença, lesão, prisão ou a qualquer outro motivo, assim como outras graves
violações das leis e costumes aplicáveis aos conflitos armados que não têm caráter
internacional, no quadro do Direito Internacional, conforme os atos enumerados no art. 8.2(e)
do Estatuto.

CRIME DE AGRESSÃO

Inicialmente, não havia no Estatuto de Roma uma definição do que seria o crime de agressão.
Previa-se somente que o Tribunal poderia exercer a sua competência em relação a tal crime
desde que, nos termos dos arts. 121 e 123 do Estatuto, fosse aprovada uma disposição
definindo o crime em questão — obrigatoriamente compatível com as disposições pertinentes
da Carta das Nações Unidas (art. 5.2) — e que se enunciassem as condições em que o
Tribunal teria competência relativamente a esse crime.
A definição do crime foi adotada por meio da emenda do Estatuto de Roma do TPI, na primeira
Conferência de Revisão do Estatuto em Kampala, Uganda, em 2010, de modo que o crime de
agressão foi definido como “o uso de força armada por um Estado contra a soberania,
integridade ou independência de outro Estado”. Em 15 de dezembro de 2017, a Assembleia
dos Estados-partes adotou, por consenso, uma resolução sobre a ativação da jurisdição do
Tribunal sobre o crime de agressão a partir de 17 de julho de 2018.

COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO

No tocante à sua composição, o TPI é composto pelos seguintes órgãos: a Presidência,


responsável pela administração do Tribunal; uma Seção de Recursos, uma Seção de
Julgamento em Primeira Instância e uma Seção de Instrução; o Gabinete do Procurador; e a
Secretaria (Estatuto, art. 34).

NOS TERMOS DO ESTATUTO, O TPI É UMA PESSOA


JURÍDICA DE DIREITO INTERNACIONAL QUE TEM A
CAPACIDADE NECESSÁRIA PARA O DESEMPENHO
DE SUAS FUNÇÕES E DE SEUS OBJETIVOS NO
TERRITÓRIO DE QUALQUER ESTADO-PARTE E, POR
ACORDO ESPECIAL, NO TERRITÓRIO DE QUALQUER
OUTRO ESTADO, CONFORME O DISPOSTO NO
PRÓPRIO ESTATUTO (ART. 4º).

O TPI é composto atualmente por 18 juízes, eleitos pela Assembleia dos Estados-partes no
Estatuto. Seus membros devem ser pessoas de elevada idoneidade moral, imparcialidade e
integridade, que reúnam os requisitos para o exercício das mais altas funções judiciais nos
seus respectivos países, e têm mandatos de nove anos não renováveis (Estatuto, art. 36). No
âmbito de suas atividades, garantem julgamentos justos e proferem suas sentenças, emitem
mandados de prisão ou intimações para o comparecimento perante o Tribunal, autorizam as
vítimas a participar dos julgamentos e ordenam medidas de proteção às testemunhas, dentre
outras atividades. Também elegem, entre si, o presidente do Tribunal e dois vice-presidentes.
O Tribunal possui três divisões judiciais, que julgam as matérias em diferentes fases do
processo: pré-julgamento, julgamento e recursos.

Em suma, os juízes de pré-julgamento (geralmente três juízes por caso) decidem se há


evidências suficientes para um caso ir a julgamento e, em caso afirmativo, confirmam as
acusações e submetem o caso para julgamento.

Os juízes de julgamento (geralmente três juízes por caso) conduzem julgamentos justos,
decidindo se há evidências suficientes para provar, além de qualquer dúvida razoável, que o
acusado é culpado da acusação e, em caso afirmativo, os julgam pronunciado a sentença em
público, momento no qual emitem ordens de reparação às vítimas, incluindo a restituição, a
compensação e a reabilitação.

Por fim, os juízes de recursos (cinco juízes) apreciam os recursos apresentados pelas partes,
podendo confirmar, reverter ou alterar uma decisão sobre a culpa ou inocência, ou sobre a
sentença e, se necessário, solicitam um novo julgamento perante uma Câmara de Julgamento
diferente.

Agora, o professor Luciano Meneguetti discorre sobre o Tribunal Penal Internacional.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. “FOI A CRIAÇÃO DO TPI, POR MEIO DO ESTATUTO DE ROMA DE 1998,


QUE EFETIVAMENTE IMPULSIONOU A TEORIA DA RESPONSABILIDADE
PENAL INTERNACIONAL DOS INDIVÍDUOS, NA MEDIDA EM QUE SE
PREVIU PUNIÇÃO INDIVIDUAL ÀQUELES PRATICANTES DOS ILÍCITOS
ELENCADOS NO ESTATUTO” (MAZZUOLI, VALÉRIO DE OLIVEIRA.
CURSO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. 12. ED. RIO DE
JANEIRO: FORENSE, 2019. E-BOOK.).

COM BASE NO TEXTO, CONCLUI-SE QUE O REFERIDO ESTATUTO:

A) Estabelece o TPI como uma instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas
responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional, e substituirá as
decisões eventualmente proferidas pelas jurisdições penais nacionais.

B) Dispõe como crimes de competência do TPI o crime de genocídio, os crimes contra a


humanidade, os crimes de guerra e o crime de agressão, sendo que para este último ainda não
há uma definição expressa.

C) Estabelece que os crimes de competência do TPI são imprescritíveis, exceto o crime de


agressão, por não contar ainda com uma definição expressa.

D) Prevê como crime contra a humanidade qualquer ato cometido no quadro de um ataque,
generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse
ataque, compreendendo especificamente os vários atos descritos no próprio Estatuto.

E) Determina que os crimes contra a humanidade também são conhecidos como crimes contra
as leis e costumes aplicáveis em conflitos armados.

2. SOBRE O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL, ASSINALE ABAIXO A


ALTERNATIVA CORRETA:

A) Seus juízes são eleitos para mandatos de nove anos, permitida uma reeleição.

B) Seus juízes são eleitos para mandatos de cinco anos, não renováveis.

C) Seus juízes são eleitos para mandatos de nove anos, não renováveis.

D) Seus juízes são eleitos para mandato de seis anos, permitida uma reeleição.

E) Seus juízes são eleitos para mandato de seis anos, não renováveis.

GABARITO

1. “Foi a criação do TPI, por meio do Estatuto de Roma de 1998, que efetivamente
impulsionou a teoria da responsabilidade penal internacional dos indivíduos, na medida
em que se previu punição individual àqueles praticantes dos ilícitos elencados no
Estatuto” (MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 12. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2019. E-book.).

Com base no texto, conclui-se que o referido Estatuto:

A alternativa "D " está correta.

A alternativa correta está de acordo com os termos do art. 7º do Estatuto de Roma. A


alternativa A está incorreta, pois o TPI atua complementarmente às jurisdições estatais; a
alternativa B está incorreta, visto que o crime de agressão já foi definido; a alternativa C está
incorreta, dado que o crime de agressão já foi definido e o Estatuto estabelece que todos os
crimes são imprescritíveis (art. 29); a alternativa E está incorreta, pois os crimes de guerra são
conhecidos conforme o previsto na alternativa.

2. Sobre o Tribunal Penal Internacional, assinale abaixo a alternativa correta:

A alternativa "C " está correta.

Os juízes são eleitos para o exercício de um mandato de nove anos que não é renovável, nos
termos do art. 36.9(a) do Estatuto de Roma.

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final deste estudo, podemos concluir que os direitos humanos atualmente não apenas são
tutelados pelos ordenamentos jurídicos internos dos países, mas também contam com
sofisticados esquemas de proteção no âmbito internacional.

Conforme estudamos, o sistema global de proteção dos direitos humanos, instituído no âmbito
da ONU, conta com um amplo arcabouço normativo e com uma rede integrada de órgãos e
mecanismos destinados à promoção, fiscalização e tutela dos direitos e da dignidade humana
para todas as pessoas do globo, sem discriminação de qualquer natureza.

Além do sistema onusiano, vimos que a proteção dos direitos humanos se dá também por meio
dos sistemas regionais, que hoje são três — europeu, interamericano e africano — e estão
estruturados no âmbito de organizações internacionais específicas, buscando tutelar os direitos
humanos em distintas regiões do globo, considerando as características e peculiaridades de
cada região.

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
AMBOS, K. A construção de uma parte geral do Direito Penal Internacional. In: AMBOS,
K.; JAPIASSÚ, C. E. A. Tribunal Penal Internacional: possibilidades e desafios. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2005, p. 1-31.

CASSIN, R. La Déclaration Universelle et la Mise en Oeuvre des Droits de L’homme. In:


Recueil des Cours de l’Académie de Droit International; tomo 79, II, 1951, p. 237-367.

COMISSÃO AFRICANA DOS DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS. Carta Africana dos
Direitos Humanos e dos Povos. Consultado na internet em: 9 mai. 2021.

COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Convenção Americana Sobre


Direitos Humanos. Consultado na internet em: 9 mai. 2021.

GUERRA, S. Direitos Humanos: curso elementar. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
MAZZUOLI, V. de O. Curso de Direito Internacional Público. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019. E-book.

PORTELA, P. H. G. Direito Internacional Público e Privado: incluindo noções de Direitos


Humanos e de Direito Comunitário. Salvador: JusPODIVM, 2017.

RAMOS, A. de C. Curso de Direitos Humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. E-book.

SMITH, R. K. M. Textbook on International Human Rights. 6. ed. Oxford: Oxford University


Press, 2014.

TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM. Convenção Europeia dos Direitos do


Homem. Consultado na internet em: 9 mai. 2021.

EXPLORE+
Que tal aprofundar o seu estudo sobre direitos humanos e os sistemas que os protegem?

Para um estudo sobre a história da Declaração Universal dos Direitos Humanos e sua
importância para a construção dos direitos humanos, leia o artigo de autoria de Luciano
Meneguetti Pereira, intitulado A Declaração Universal dos Direitos Humanos e sua Importância
na Gênese, Desenvolvimento e Consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos,
disponível no site Academia.edu.

Acerca da força jurídica da Declaração Universal dos Direitos Humanos, veja artigo de autoria
de Luciano Meneguetti Pereira, intitulado Reflexões sobre a Natureza Jurídica e a Força
Vinculante da Declaração Universal dos Direitos Humanos aos 70 (1948-2018), disponível no
site Academia.edu.

Sobre a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos, você ainda pode assistir
no YouTube ao vídeo intitulado Há 70 anos: adotada a Declaração Universal dos Direitos
Humanos.

Para entender as diferenças e similaridades entre os sistemas regionais de direitos humanos,


assista à palestra Análise comparativa e crítica dos sistemas regionais de proteção dos direitos
humanos, promovida pela Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e o Instituto de Pesquisa
de Relações Internacionais (IPRI).
Uma visão específica e aprofundada do sistema europeu de proteção dos direitos humanos é
apresentada no artigo de Valerio Mazzuoli, intitulado O Sistema Regional Europeu de Proteção
dos Direitos Humanos, disponível na Revista Cadernos da Escola de Direito.

Ainda sobre a proteção dos direitos humanos no continente europeu, leia o artigo de autoria de
Luciano Meneguetti Pereira e Ana Paula Grossi, intitulado A Proteção dos Direitos Humanos no
Continente Europeu: Breves Apontamentos, disponível na Revista Fides.

Para conhecer os demais casos brasileiros que foram julgados na Corte Interamericana de
Direitos Humanos, busque pelo portal da Corte IDH.

Por fim, para complementar os seus estudos, acesse o material sobre os sistemas
internacionais de proteção dos direitos humanos, desenvolvido pela Procuradoria Federal dos
Direitos do Cidadão.

CONTEUDISTA
Luciano Meneguetti Pereira

 CURRÍCULO LATTES

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