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Direitos Humanos

e Cidadania
A Organização dos Estados Americanos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª M.ª Marize Oliveira dos Reis

Revisão Textual:
Caique Oliveira dos Santos
A Organização dos Estados Americanos

• Introdução;
• A Criação da Organização dos Estados Americanos (OEA);
• A Convenção Americana Sobre Direitos Humanos
(Pacto de São José da Costa Rica);
• Os Órgãos de Proteção aos Direitos Humanos no
Sistema Interamericano.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Conhecer a Organização dos Estados Americanos e os órgãos que a compõem;
• Compreender os instrumentos de proteção no sistema interamericano.
UNIDADE A Organização dos Estados Americanos

Introdução
Diante da internacionalização e universalização dos direitos humanos, foram desenvol-
vidos, além do Sistema Global da Organização das Nações Unidas – ONU, sistemas regio-
nais de proteção, divididos em sistema africano, sistema europeu e sistema interamericano.

O sistema europeu, primeiro e mais avançado, foi inaugurado com a aprovação da


Convenção para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais,
em 4 de novembro de 1950, inserindo-se no âmbito do Conselho da Europa, criado em
maio de 1949 como resposta às barbáries ocorridas na Segunda Grande Guerra.

Por sua vez, o sistema africano é o mais jovem, inaugurado em 26 de junho de 1981,
com a adoção da Carta Africana de Direitos do Homem e do Povo, ratificada pelos 54
países-membros da União Africana (UA), com exceção do Marrocos, que foi readmitido
na organização em 2017.

Já o Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos tem como origem re-
mota a criação da União Internacional das Repúblicas Americanas, resultado da Primei-
ra Conferência Internacional Americana, ocorrida em Washington, D.C., entre outubro
de 1889 e abril de 1890. A conferência tinha como objetivo a discussão e recomendação
de um plano de arbitragem para a solução de conflitos possíveis entre os países, assim
como fomentar o intercâmbio comercial, com promoções capazes de proporcionar van-
tagens recíprocas a seus membros.

Dezoito Estados americanos participaram da conferência, na qual deci-


diu-se constituir a “União Internacional das Repúblicas Americanas para
a pronta coleta e distribuição de informações comerciais,” com sede em
Washington, que depois tornou-se a “União Pan-Americana” e, finalmen-
te, com a expansão das suas funções, a Secretaria Geral da OEA. Com
respeito a questões jurídicas, a conferência recomendou a adoção de dis-
posições para governar a extradição; declarou que a conquista não cria
direitos; e produziu orientações para a redação de um tratado sobre arbi-
tragem que evitasse o recurso à guerra como meio de resolver controvér-
sias entre as nações americanas. Essa conferência assentou as bases do
que depois se tornaria o Sistema Interamericano: interesses comerciais
dirigidos no sentido de obter maior integração; preocupações jurídicas
com o fortalecimento dos vínculos entre o Estado e o setor privado num
ambiente pacífico de cooperação e segurança regional; e o estabeleci-
mento de instituições especializadas em diferentes esferas. (OEA, c2021)

Durante muitos anos, os Estados americanos realizaram conferências e reuniões es-


peciais a fim de deliberar a respeito de decisões conjuntas, inclusive no âmbito da ONU.

Surgiu, assim, um conjunto de instituições com o objetivo de promover cooperação


entre os Estados em assuntos específicos. Como exemplo podemos indicar a Organiza-
ção Pan-Americana da Saúde, criada em 1902, que, posteriormente, se tornou o escritó-
rio interamericano da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Instituto Interamericano
da Criança, em 1927, e a Comissão Interamericana de Mulheres, em 1928, entre outros.

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O sistema interamericano ganha grande relevo com a Nona Conferência Interna-
cional Americana, realizada em Bogotá, em 1948, quando 21 Estados participantes
adotaram a Carta da Organização dos Estados Americanos.

A Criação da Organização dos


Estados Americanos (OEA)
A assinatura da Carta da OEA e sua entrada em vigor, em dezembro de 1951, deram
início à organização regional, consolidando um extenso processo de conciliação que se
iniciou em 1945.

Figura 1 – Bandeira da OEA


Fonte: Wikimedia Commons

Antes da definição da denominação Organização dos Estados Americanos, foram


apresentados nomes diversos para a associação dos Estados, tais como “Comunidade
Regional”, “União” e “Organização”, da mesma forma que foram discutidas as utiliza-
ções dos termos “Repúblicas”, Nações” ou mesmo “Estados”.

Você Sabia?
República é o nome dado a determinada forma de governo em que quem exerce o po-
der é escolhido por meio de eleição e permanece no exercício do cargo durante um perí-
odo determinado. Nação não deve ser confundida com Estado, uma vez que este é um
conceito jurídico. Por sua vez, a nação antecede o Estado, pois trata-se de um conjunto
de características culturais, como tradições, língua, cultura, costumes, que formam uma
identidade mediante a qual certos indivíduos são ligados, entendendo-se como perten-
centes a um grupo.

Ainda, durante a Nona Conferência Internacional Americana, além da Carta da


OEA, foram aprovados o Tratado Americano sobre Soluções Pacíficas e a Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem.

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• O Tratado Americano sobre Soluções Pacíficas, conhecido como Pacto de Bogotá,


determinou que as controvérsias entre os Estados-membros da OEA devem ser
submetidas a processos de solução pacífica;
• A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem ficou registrada
na história como o primeiro documento internacional de direitos humanos, tendo
sido adotada em 2 de maio de 1948, antecedendo a Declaração Universal dos
Direitos Humanos.

A Carta da Organização dos Estados Americanos, em seu art. 1º, destaca o propósito
do órgão na promoção da solidariedade e colaboração entre os membros, a busca da
ordem e a garantia da paz e da justiça, na defesa da soberania, da independência e da
integridade territorial, mantendo a segurança na América.

A Carta da OEA estabelece igualmente como propósitos essenciais (art. 2):


• Promover e consolidar a democracia representativa, respeitado o prin-
cípio da não intervenção;
• Prevenir as possíveis causas de dificuldades e assegurar a solução pací-
fica das controvérsias que surjam entre seus membros;
• Organizar a ação solidária destes em caso de agressão;
• Procurar a solução dos problemas políticos, jurídicos e econômicos que
surgirem entre os Estados membros;
• Promover, por meio da ação cooperativa, seu desenvolvimento econô-
mico, social e cultural;
• Erradicar a pobreza crítica, que constitui um obstáculo ao pleno desen-
volvimento democrático dos povos do Hemisfério; e
• Alcançar uma efetiva limitação de armamentos convencionais que per-
mita dedicar a maior soma de recursos ao desenvolvimento econômico-
-social dos Estados membros. (OLIVEIRA, 2016, p. 151)

É importante destacar que os objetivos propostos pela Carta da OEA devem ser apli-
cados sempre em conformidade com o previsto na Carta das Nações Unidas, uma vez
que o sistema regional se vincula ao sistema global.

Os órgãos da Organização dos Estados Americanos


A estrutura da OEA é composta de uma relação de órgãos com o objetivo de realizar
os propósitos da organização. Dessa forma, o art. 53 da Carta da OEA prevê:
• Assembleia Geral;
• Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores;
• Conselhos (Conselho Permanente e Conselho Interamericano de Desenvolvi-
mento Integral);
• Comissão Jurídica Interamericana;
• Comissão Interamericana de Direitos Humanos;
• Secretaria-Geral;

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• Conferências Especializadas;
• Organismos Especializados.

Figura 2 – Assembleia Geral da OEA


Fonte: Reprodução

Assembleia Geral
A Assembleia Geral é o órgão superior da OEA, que se reúne uma vez por ano, de
forma ordinária, podendo também se reunir, extraordinariamente, diante de circuns-
tâncias especiais. O local das reuniões é escolhido segundo o princípio de rotatividade.

Nos últimos quatro anos, as reuniões ordinárias da Assembleia Geral ocorreram na


seguinte sequência:
• Washington, D.C., 20 e 21 de outubro de 2020: o principal tema debatido foi o
enfrentamento à pandemia de COVID-19 no continente;
• Medellín, Colômbia, 26 a 28 de junho de 2019: o tema principal abrange as ações
de inovação para fortalecimento do multilateralismo no continente;
• Washington, D.C., 4 e 5 de junho de 2018: entre outros temas, debateu-se a respei-
to da promoção do desenvolvimento integral;
• Cancún, México, 19 a 21 de junho de 2017: o tema destacado foi o fortalecimento
do diálogo e a conciliação para a prosperidade.

Todos os Estados-membros da OEA são parte da Assembleia Geral, possuindo o


direito de representação e voto igualitário, cujas deliberações dão origem a decisões a
respeito de mecanismos, políticas e ações do órgão.

Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores


As Reuniões de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores são realizadas, me-
diante solicitação de qualquer Estado-membro e decisão do Conselho Permanente, com
a finalidade de considerar problemas de caráter urgente e de interesse comum para os
Estados Americanos e para servir de órgão de consulta, deliberando a respeito de ameaça
à paz e à segurança.

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Conselhos
A Carta da OEA confere competências a dois conselhos diretamente ligados à
Assembleia Geral:
• Conselho Permanente: é composto de representantes de todos os Estados-mem-
bros, nomeados na categoria de embaixadores, pelos seus respectivos governos.
Tem como função executar as decisões da Assembleia Geral ou da Reunião de Con-
sulta dos Ministros das Relações Exteriores, zelando pela manutenção das relações
de cordialidade entre os Estados e auxiliando na solução pacífica de controvérsias.
Além de outras atribuições, atua como comissão preparatória, elaborando projeto
para promover a colaboração entre a OEA, a ONU e outras instituições;
• Conselho Interamericano de Desenvolvimento Integral (CIDI): é um órgão
subordinado à Assembleia Geral, criado por meio do Protocolo de Manágua, de
1996, possuindo capacidade decisória em assuntos de cooperação para desenvol-
vimento integral.

Comissões
As Comissões são órgãos por meio dos quais a OEA promove sua finalidade, des-
tacando-se a Comissão Jurídica Interamericana e a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos.
• Comissão Jurídica Interamericana (CJI): é um órgão consultivo jurídico da OEA,
responsável pela promoção contínua e codificação do direito internacional e pela
análise de problemas jurídicos relativos à integração dos países-membros com o
objetivo de promoção do continente;
• Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH): é um dos órgãos com-
ponentes do sistema interamericano responsáveis pela promoção e pela proteção
dos direitos humanos. É composta de sete membros, eleitos entre pessoas de alta
autoridade moral e reconhecido conhecimento a respeito de direitos humanos, para
exercício de mandato de sete anos, sendo permitida apenas uma reeleição. Ne-
nhuma nacionalidade poderá ter mais de uma representação na CIDH. Entre suas
principais funções se destacam:
» a proteção aos direitos humanos no continente americano;
» a fiscalização dos direitos reconhecidos na Convenção Americana sobre Direitos
Humanos.

Em 20.08.1998, a CIDH recebeu a denúncia da brasileira Maria da Penha Maia Fernandes,


que alegava a tolerância da República Federativa do Brasil diante da violência cometida
por seu então esposo, durante muitos anos de casamento, resultando em uma tentativa de
homicídio e sequentes agressões.
O Brasil foi denunciado por não efetivar por mais de 15 anos medidas necessárias para proces-
sar e punir o agressor, apesar das várias denúncias apresentadas às autoridades competentes.
A CIDH, diante da análise de todas as provas de inércia no Estado brasileiro, decidiu pela
determinação de uma série de recomendações a serem cumpridas pelo Brasil.

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A repercussão da denúncia deu origem à Lei nº 11.340/2006, que criou mecanismos para
coibir e prevenir a violência contra a mulher.
Para conhecer o relatório da CIDH, acesse o link. Disponível em: https://bit.ly/3gOf1nP

Qualquer pessoa, grupo de pessoas ou entidade não governamental, legalmente re-


conhecida em um ou mais Estados-membros da OEA, tem legitimidade para apresen-
tação de denúncia ou reclamação de violação dos direitos constantes da Convenção
Americana de Direitos Humanos.

Secretaria-Geral
A Secretaria-Geral da OEA está sediada em Washington, D.C., exercendo funções
determinadas na Carta da OEA, nos tratados e acordos interamericanos e na Assem-
bleia Geral, devendo proporcionar serviços de secretaria e custódia de documentos a
todos os órgãos componentes da organização.

Conferências Especializadas
As Conferências Especializadas são eventos intergovernamentais com o objetivo de
discutir assuntos técnicos específicos e potencializar pontos especiais de cooperação
interamericana.

Organismos Especializados
Os Organismos Especializados são instituições multilaterais com atribuições determi-
nadas em assuntos técnicos de interesse comum aos Estados-membros da OEA. Atual-
mente, constituem Organismos Especializados da OEA:
• o Instituto Interamericano da Criança;
• a Comissão Interamericana de Mulheres;
• o Instituto Indigenista Interamericano;
• o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura;
• a Organização Pan-Americana da Saúde;
• o Instituto Pan-Americano de Geografia e História.

Outras entidades estabelecidas pela Assembleia Geral


Diante de seus objetivos e consecução de seus fins, a Assembleia Geral também pode
estabelecer outras entidades. Assim, por ocasião da Convenção Americana sobre Di-
reitos Humanos, foi criada a Corte Interamericana de Direitos Humanos como
órgão jurisdicional autônomo, a respeito do qual estudaremos no item 4.2.

A Convenção Americana Sobre Direitos


Humanos (Pacto de São José da Costa Rica)
Pacto de São José da Costa Rica é o termo mais utilizado ao se reportar à Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, identificando o local onde foi aprovada, em 22.11.1969.

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Entretanto, o pacto entrou em vigor apenas em 18.07.1978, nove anos após sua
aprovação, ocasião em que foi cumprida a exigência de depósito de instrumentos de
ratificação ou adesão por 11 dos Estados-membros da OEA.

Ratificação: termo que designa o processo necessário para que uma legislação ou um tra-
tado possa ter efeito legal vinculativo para as suas entidades signatárias. É um processo de
confirmação de um compromisso anteriormente firmado.

No Brasil, apenas em 1992, ocorreu a ratificação formal ao pacto, por meio do Decre-
to Legislativo nº 27/1992, que autorizou o depósito da Carta de Adesão, e da promulga-
ção do Decreto nº 678, de 06.11.1992, tornando-se uma importante coluna de proteção
dos direitos humanos em nosso país, consagrando direitos relacionados à integridade da
pessoa humana, à liberdade e à proteção judicial, além dos direitos políticos e civis.

O principal propósito do Pacto de São José da Costa Rica é solidificar, em todo o


hemisfério, mediante instituições democráticas e com fundamento no respeito aos di-
reitos humanos essenciais, um regime de liberdade pessoal e de justiça social. Para tal,
enumera obrigações aos Estados-membros, estabelecendo, logo em seu primeiro artigo,
a obrigação de respeitar os direitos e liberdades reconhecidos no pacto e garantir seu livre
e pleno exercício a toda pessoa sujeita a sua jurisdição, “sem discriminação alguma por
motivos de raça, cor, sexo, língua, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra índole,
origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra posição so-
cial”. Ademais, reconhece, no inciso 2 do mesmo artigo, que pessoa é todo ser humano.

Ao ratificar o pacto, o Estado-membro passa a ter o dever de adotar e proteger, em


seu ordenamento jurídico, o exercício de direitos e liberdades. Assim, o Estado-membro
que ratifica o Pacto de São José da Costa Rica se compromete em:
• adotar as medidas necessárias para a proteção, a promoção e o exercício das obri-
gações, se os direitos celebrados não estiverem assegurados em seu ordenamento
jurídico ou necessitarem de adaptação;
• não elaborar leis que afrontem ou diminuam o gozo dos direitos consagrados;

São direitos civis e políticos celebrados no Pacto de São José da Costa Rica:
• Direito à personalidade jurídica: manifestado na capacidade de todo ser humano
ser titular de direitos e de deveres;
• Direito à vida: proteção da vida pela lei, em geral, a partir da concepção. Abolição
da pena de morte e, no caso de países onde já tenha sido abolida, é proibido seu
restabelecimento. Proibição de aplicação de pena de morte em crimes políticos.
No caso de país que adote a pena de morte, esta somente será aplicada pela prática
de crimes mais graves, excluindo de aplicação a mulher grávida e aqueles que, no
momento do delito, for menor de 18 anos ou maior de 70 anos;
• Direito à integridade pessoal, incluindo a proibição da tortura e das penas
ou dos tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes: são proibidos atos que
desrespeitem a integridade pessoal física, moral e psíquica;

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• Proibição da escravatura, da servidão e do trabalho forçado ou obrigatório:
inclui-se aqui a proibição de tráfico de escravos e mulheres;
• Direito à liberdade e à segurança pessoais, incluindo a proibição da prisão ou
detenção arbitrárias: o indivíduo apenas será privado de sua liberdade física em
situações e condições previstas no ordenamento jurídico do país, em acordo com
suas Constituições, devendo ser conduzido à presença de autoridade competente,
para ser julgado em tempo razoável ou colocado em liberdade. O indivíduo não
pode ser preso por falta de pagamento de dívida, com exceção da dívida de obriga-
ção alimentar, após expedido mandado por autoridade judiciária competente;
• Garantias judiciais: todo indivíduo tem o direito de ser ouvido por um juiz ou
tribunal competente, dentro de prazo razoável e com as devidas garantais para
a apuração de qualquer acusação penal contra ele apresentada e também para
reconhecimento de seus direitos e obrigações civis, trabalhistas, fiscais e de outra
ordem. É proibida a retroatividade da lei penal, alcançando ato praticado antes da
proibição legal ou, ainda, aplicação de lei mais severa editada após o cometimento
do ato delituoso;
• Direito à indenização em caso de erro judiciário: a vítima de prisão injusta ou
arbitrária terá direito à indenização pelo Estado;
• Direito à privacidade: as autoridades públicas e particulares são proibidas de in-
vasão abusiva na vida privada e na intimidade do indivíduo, devendo a lei proteger
contra tais investidas e contra as ofensas à honra ou à reputação das pessoas;
• Liberdade de consciência e religião: o Estado não poderá impor ou favorecer
uma religião, restringindo a liberdade de conservação de crença ou mesmo de mu-
dança religiosa. Importante lembrar que tal liberdade pode ser limitada por lei, com
o objetivo de proteger a segurança, a saúde, a ordem, a moral pública e os direitos
e as liberdades dos outros indivíduos;
• Liberdade de pensamento e expressão: como ponto fundamental do modelo
democrático, o exercício da liberdade de expressão deve ocorrer de forma ampla,
sendo admitida qualquer restrição apenas excepcionalmente em situações em que
seu exercício colocaria em risco outros direitos. Ainda, o pacto proíbe a censura
prévia, determinando como exceção somente aquela realizada para proteção da
infância e da adolescência;
• Direito de resposta em caso de difusão de informações inexatas ou ofensivas:
o indivíduo vítima de publicação ou divulgação de informações incorretas e ofensi-
vas que lhe causem danos, como à honra e à reputação, terá direito de resposta e
poderá buscar a responsabilização legal do autor em outras esferas (administrativa,
civil e penal);
• Direito de reunião: é protegida a reunião pacífica, mantida sem a utilização de
armas ou qualquer mecanismo de coerção;
• Direito à liberdade de associação: os indivíduos têm direito de livremente se as-
sociarem com fins religiosos, políticos, econômicos, trabalhistas, sociais, culturais,
ideológicos e de qualquer outro caráter;
• Proteção da família: a família deve ser protegida pela sociedade e pelo Estado,
sendo reconhecida como núcleo fundamental e natural da sociedade. O casamento

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deve ser celebrado de forma livre e consentida pelos cônjuges, com a determinação
legal de igualdade de direitos e paridade de responsabilidades durante sua extensão
e na hipótese de dissolução, em que será assegurada proteção aos filhos, com ex-
clusivo interesse e conveniência dos menores;
• Direito a um nome: o prenome e o nome de seus pais constituem um direito de
todo indivíduo, não somente como instrumento de identificação pessoal mas tam-
bém de vínculo familiar e social, sendo garantido o direito ao registro que formaliza
seu vínculo com o Estado e os direitos relacionados a tal;
• Direitos da criança: o pacto determina a adoção de medidas que assegurem medidas
de proteção à infância, de forma conjunta, por sua família, pela sociedade e pelo Es-
tado, com o objetivo de garantir o pleno desenvolvimento físico, emocional e afetivo;
• Direito à nacionalidade: o vínculo de nacionalidade é aquele que liga o indivíduo a
determinado Estado, seja de forma originária, ao nascer e independentemente de
manifestação estatal, seja de forma adquirida, por meio de um processo de natura-
lização que depende de manifestação da vontade do interessado e da concordância
do Estado, que poderá ou não a conceder;

Critérios para atribuição de nacionalidade originária:


• Ius sanguinis (critério sanguíneo ou da consanguinidade): é nacional de deter-
minado país o filho de outro nacional, independentemente do local do nascimento;
• Ius solis (critério territorial ou da territorialidade): é nacional aquele que nasce no
território do Estado, independentemente da nacionalidade dos pais.

• Direito de propriedade: todo indivíduo tem direito ao uso e ao gozo de seus bens,
sejam eles bens móveis, imóveis, corpóreos e incorpóreos ou mesmo intangíveis,
subordinando-se ao interesse social, ao bem-estar da coletividade. Também é proi-
bido o confisco de bens. O Estado, apenas mediante pagamento de indenização
justa e por interesse social ou utilidade pública, conforme previsão legal, poderá
exigir bem privado;
• Liberdade de residência e de circulação: todo indivíduo tem liberdade de ir e vir,
livremente circular e residir em território de Estado em que se encontre legalmente.
O nacional não pode ser expulso ou privado de ingressar no território com o qual
tenha vínculo. É proibida a expulsão do estrangeiro ou sua entrega a outro país,
onde o seu direito à liberdade pessoal ou à vida esteja em risco de violação por
motivo de opinião política, condição social, raça, nacionalidade ou religião;
• Direitos políticos e de participar na direção dos assuntos públicos: todo cidadão,
preenchidos os requisitos legais (por exemplo: idade, nacionalidade e capacidade
civil), deve ter direito a votar e ser votado em eleições legítimas e periódicas, por
meio de voto secreto, igualitário e universal;
• Direito à igualdade perante a lei: a lei não pode discriminar pessoas e excluí-las
da proteção jurídica, devendo ser, portanto, elaborada para todos e aplicada igual-
mente a todos;

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• Direito à tutela judicial: o indivíduo tem direito a instrumentos ou meios processu-
ais para assegurar a proteção aos direitos fundamentais previstos na Constituição
do Estado-membro, nas leis nacionais e no Pacto de São José da Costa Rica.

A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, aqui chamada de Pacto de São


José da Costa Rica, permite a suspensão dos direitos declarados em seu texto quando
o Estado-membro enfrenta situação de guerra, perigo público ou outra emergência que
ameace sua independência ou segurança. A suspensão deverá ser aplicada de forma ra-
zoável e por período necessário à contenção da situação excepcional. As medidas toma-
das não devem ser incompatíveis com as obrigações impostas pelo direito internacional,
tampouco podem alcançar os direitos chamados inderrogáveis, quais sejam:
• direito à vida;
• direito ao reconhecimento da personalidade jurídica;
• direito à integridade pessoal;
• proibição da escravidão e da servidão;
• princípio da legalidade e da retroatividade;
• liberdade de consciência e religião;
• proteção da família;
• direito ao nome;
• direitos da criança;
• direito à nacionalidade;
• direitos políticos;
• garantias de exercícios de direitos fundamentais.

Os Órgãos de Proteção aos Direitos


Humanos no Sistema Interamericano
O Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos conta com dois órgãos
protetivos dos direitos constantes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e
seus protocolos, sendo eles:
• a Comissão Interamericana de Direitos Humanos;
• a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Comissão Interamericana de Direitos Humanos


A Comissão Interamericana de Direito Humanos (CIDH) foi criada em 1959 e iniciou
suas atividades de investigação no ano de 1960. Em 1965, obteve a autorização para
exercício da atividade jurisdicional, recebendo e processando denúncias ou petições
sobre casos individuais de violações dos direitos humanos, conforme já abordado no
item 2.1.4, tendo como principal função a promoção do cumprimento e da defesa dos
direitos humanos.

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Figura 3 – Comissão Interamericana de Direitos Humanos


Fonte: oas.org

Corte Interamericana de Direitos Humanos


A Corte Interamericana de Direitos Humanos, com sede em São José, na Costa Rica,
possui competência consultiva, manifestada por solicitação de qualquer dos Estados-
-membros da OEA, para emissão de interpretação de cláusulas previstas no Pacto de
São José da Costa Rica, e competência contenciosa, manifestada apenas diante dos
20 Estados-membros que reconhecem a jurisdição da corte, com competência para jul-
gar casos que envolvem violação de direitos humanos praticada por Estados-membros,
proferindo decisão de responsabilização internacional.

Figura 4 – Corte Interamericana de Direitos Humanos


Fonte: geledes.org.br

Embora a OEA seja composta de 35 Estados, apenas 20 dos Estados-membros reconhece-


ram a competência contenciosa da Corte Interamericana. São eles: Argentina, Bar-
bados, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti,
Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname e
Uruguai.
Assim, todos os Estados-membros da OEA podem consultar a Corte Interamericana com a
finalidade de obter opinião a respeito dos dispositivos do Pacto de São José, mas somente
aqueles Estados que reconheceram a competência da corte a ela se submetem.

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O Brasil promulgou a Declaração de Reconhecimento da Competência Obrigatória da Corte
Interamericana de Direitos Humanos em novembro de 2002, ressalvando a reciprocidade
entre as demais nações e a aplicação apenas a fatos ocorridos a partir de dezembro de 1988.

A composição da corte é de sete juízes, eleitos em votação secreta e por meio do voto
da maioria absoluta dos Estados-membros da OEA. Como requisito é exigido que o can-
didato seja jurista de alta autoridade moral, com reconhecida competência em matéria
de direitos humanos e preencha as exigências necessárias para exercício da mais elevada
função judicial do Estado de sua nacionalidade. Por exemplo, no caso de um candidato
de nacionalidade brasileira, deve-se preencher os mesmos requisitos exigidos ao cargo
de ministro do Supremo Tribunal Federal.

Você Sabia?
O Supremo Tribunal Federal, órgão máximo do Judiciário brasileiro, compõe-se de 11
ministros, escolhidos entre cidadãos com mais de 35 anos e menos de 65 anos de idade,
de notável saber jurídico e reputação ilibada.
Entende-se como cidadão de reputação ilibada aquele indivíduo que usufrui de reco-
nhecida idoneidade moral na sociedade, que é a qualidade da pessoa íntegra, sem man-
cha em sua reputação.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos desempenha papel muito importante


na proteção dos direitos humanos. Contudo, é importante destacar que a postulação
junto à corte apenas é permitida aos Estados-membros, de forma que indivíduos
não possuem a capacidade de acessar e submeter seus casos à decisão dela.
A efetividade da atuação da Corte Interamericana de Direitos Humanos é garantida
pela determinação de definitividade e impossibilidade de apelação, constante do Pacto
de São José da Costa Rica, que ainda determina que a sentença que reconhecer a ocor-
rência de uma violação de direito ou liberdade protegidos no pacto:
• deverá determinar que seja assegurado à vítima o gozo do seu direito ou liberdade
violados;
• poderá determinar que sejam reparadas as consequências da medida ou do aconte-
cimento que tenha configurado a violação desses direitos;
• poderá determinar o pagamento de indenização justa à vítima.
Assim, conclui-se que a decisão proferida pela Corte Interamericana de Direitos Hu-
manos poderá apresentar um caráter mandamental, assegurando o exercício do direito
ou liberdades violados e sua reparação, e, separada ou cumulativamente, um caráter
indenizatório, manifestado por meio da ordem de pagamento de indenização monetária
à vítima ou aos seus familiares.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Sites
OEA
No site da OEA, são encontradas diversas informações a respeito do órgão, sua estrutura,
sua história, serviços e prestação de contas.
https://bit.ly/3dUR0cI

 Filmes
Central
Dirigido por Tatiana Sager, o documentário tem como tema o Presídio Central de Porto
Alegre, considerado o pior do país pela CPI do Sistema Carcerário, da Câmara dos Depu-
tados, em 2008, e alvo de denúncias de violações dos direitos humanos feitas à OEA em
2013. Policiais militares, familiares e presos falam sobre o cotidiano da cadeia, descrevendo
graves problemas, como a superlotação. Cenas mostram o interior das galerias, onde os
agentes não entram e os próprios presidiários, organizados em facções, detêm o comando.
https://youtu.be/csDHf_YLt2Y
Enquanto viver, luto!
Com direção de Iléa Ferraz, esse documentário retrata dez casos de violências e violações
de direitos humanos contra mulheres negras relatados à Comissão de Direitos Humanos da
OEA em setembro de 2016.
https://youtu.be/sObPzMU07jQ
Esse viver ninguém me tira
Dirigido por Caco Ciocler, esse documentário conta a história de Aracy Guimarães Rosa,
que trabalhava como chefe do setor de passaportes do consulado brasileiro quando decidiu
ajudar judeus a emigrarem para o Brasil, contrariando o regime nazista e as circulares se-
cretas emitidas pelo governo de Getúlio Vargas.
https://youtu.be/CBeYOzuH9fc
Silêncio das inocentes
Sob direção de Ique Gazzola, o documentário aborda a temática da violência contra a mu-
lher. Inicia-se com o depoimento de Maria da Penha, que deu nome à lei que ampara mu-
lheres em situação de violência e que, após anos de abusos, violências e de inércia estatal,
denunciou o Brasil junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, resultando em
uma série de medidas importantes para defesa das mulheres.
https://youtu.be/8Qsq6DrYDxE

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Referências
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