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A comunidade internacional e os DH
munidade internacional, chamando atenção para a proteção atribuída aos DH em contextos históricos
distintos. No particular, relacionaremos a importância da ONU e da Carta das Nações Unidas como marcos
fundantes da proteção global ou universal aos DH.

Examinaremos, também, o Tribunal Penal Internacional que foi criado pelo Estatuto de Roma, destacando sua
competência e os tipos de crime que se sujeitam sua jurisdição.

Por fim, explicaremos as chamadas intervenções humanitárias, problematizando seu potencial de proteção
aos DH.

 Objetivos
Examinar a posição que os DH ocupam na comunidade internacional;

Analisar a proteção de DH em contextos históricos distintos;

Avaliar o Tribunal Penal Internacional;

Esclarecer as intervenções humanitárias.

 Créditos
Monica Veiga
Redator

Ana Carolina Pessoa


Designer Instrucional

Victor Maia
Web Designer

Rostan Luiz
Desenvolvedor

 INTRO
 OBJETIVOS
 CRÉDITOS
 IMPRIMIR

DH e a comunidade internacional
Um dos grandes desafios das sociedades contemporâneas, que se desdobra em suas ordens jurídicas, é a proteção
dos direitos humanos, o que ganha especial relevo na esfera internacional e na forma como os Estados nela se
articulam e se posicionam.

Tal relevância, por sua vez, pode ter seu marco temporal moderno na Segunda Guerra Mundial, que lançou as bases
para a consolidação de um discurso de proteção ao ser humano para além das fronteiras geográficas do Estado
Nação.

Por outro lado, esses desafios, na atualidade, podem ser sistematizados em quatro tipos que podem se combinar:

• As questões de violações em razão de conflitos bélicos internos ou mesmo externos;

• O baixo grau de institucionalidade de certos estados que colocam em risco a própria noção do rule of law.
Problemas vinculados à pobreza extrema que colocam sob ameaça a própria existência humana;

• Problemas vinculados à pobreza extrema que colocam sob ameaça a própria existência humana;

• Os riscos aos regimes democráticos que compõe o sistema internacional.

Esses desafios impõem aos estados e à chamada comunidade internacional uma agenda, muitas vezes sujeita a
severas críticas, que demanda legitimação discursiva, quer no plano jurídico ou no plano político.
Nesse panorama chama atenção a forma com que os países lidam com tais cenários e de que maneira se engajam em
processos motivados para a proteção dos direitos.

A proteção de DH em contextos históricos distintos


A proteção de DH tem contornos distintos se levarmos em conta os contextos históricos em que essa discussão se
coloca.

Nesse sentido, o desenho da proteção de DH tem se influenciado também pelos tipos de violações aos direitos
humanos – o que se traduzirá em redes de política externa e compromissos jurídico-políticos assumidos frente a
comunidade internacional e seus organismos. Esses arranjos integram o que chamamos de Direito Internacional
Público.

Podemos ainda dizer que o Direito Internacional Público passou por um desenvolvimento histórico agrupado, segundo
Jorge Miranda (2000), em oito momentos distintos e como consequência segue atualmente algumas tendências:

 UNIVERSALIZAÇÃO
O Direito internacional é um Direito universal e não é mais um Direito euroamericano a partir da
desintegração dos impérios marítimos europeus e do império continental soviético.

 REGIONALIZAÇÃO
Solidariedade e cooperação entre Estados dentro de determinado espaço regional. Como exemplo,
cita-se a criação da União Europeia.

 INSTITUCIONALIZAÇÃO
O Direito Internacional deixa de ser um direito das relações entre Estados para se tornar mais
presente nos organismos internacionais, como a ONU.

 FUNCIONALIZAÇÃO
O Direito Internacional extravasa a esfera das relações externas e penetra nas matérias pertencentes
tanto ao direito interno como ao próprio contexto das relações internacionais.

 HUMANIZAÇÃO
Aspecto humanizador do Direito Internacional que se apresenta com o surgimento do Direito
Internacional dos Direitos Humanos, desde a Carta das Nações Unidas em 1945, o desenvolvimento
da Declaração Universal dos Direitos do Homem em 1948, e os vários tratados internacionais
surgidos no pós-guerra, que se voltaram para a proteção dos direitos humanos.
 OBJETIVAÇÃO
Criação de regras e normas internacionais, presentes no moderno Direito Internacional, que são
independentes e livres da vontade dos Estados.

 CODIFICAÇÃO
A Carta das Nações Unidas prescreveu em seu artigo 13 o incentivo ao desenvolvimento do Direito
Internacional e sua codificação o que é realizado pelas comissões de Direito Internacional e de
Direitos Humanos da própria ONU.

 JURISDICIONALIZAÇÃO
Com o desenvolvimento das regras de proteção internacional dos direitos humanos aumenta-se a
necessidade de criação de tribunais internacionais, como por exemplo o Tribunal Penal Internacional.

Leia aqui o Decreto 19.841, em que o Brasil ratifica a Carta das Nações Unidas.

A Organização das Nações Unidas


Hoje, a grande rede de proteção de DH e que um valor simbólico no cenário internacional é a Organização das Nações
Unidas (ONU).

A ONU, abreviação de Organização das Nações Unidas (UN, United Nations, em inglês) é uma instituição supranacional,
isto é, além dos Estados nação, tem por objetivo principal garantir a paz no mundo mediante o relacionamento
amistoso entre os países. Está situada em Nova York, nos Estados Unidos.

A Organização das Nações Unidas


Essa organização tem com objetivos:
• Salvar as gerações futuras do flagelo da guerra;
• Reafirmar a fé nos direitos humanos fundamentais;
• Criar as condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações emanadas de tratados e outras fontes do direito
internacional possam ser mantidos;
• Promover o progresso social e melhores padrões de vida num cenário de maior liberdade.

Infelizmente, embora em muitos casos ela não tenha atingido seus objetivos pacifistas, a ONU desempenha, também,
um importante papel humanitário, buscando amenizar as desigualdades sociais no mundo, fomentando ações que
buscam, por exemplo, combater a fome e a desnutrição.

Para ler mais sobre a ONU, clique aqui.

Para saber como surgiu a ideia de criação da ONU e como ela se tornou realidade, clique aqui.
Apesar de sua importância no mundo contemporâneo, como grande defensora de DH, cabe ressaltar que a ONU não
dispõe de poder de coerção (salvo para os casos relacionados às ameaças contra a paz e à segurança internacionais e
que estão previstos no capítulo VII da Carta).

Ainda assim, suas decisões tem importância pelo significado ético-humanitário.

A Carta das Nações Unidas

A Carta das Nações Unidas de 1948, ou também chamada de Carta de São Francisco, é o documento que concebeu a
ONU e procurou estabelecer, como uma de suas prioridades, a criação de um sistema internacional que protegesse os
Direitos Humanos de forma ampla.

Adotada e assinada em 26 de junho de 1945, passou a ter vigência no dia 24 de outubro de 1945. A Carta estimula os
direitos às liberdades fundamentais sem distinção por motivos de sexo, raça, religião ou idioma.

No entanto, tal propósito se tornou, e ainda se torna, dificultoso pela necessidade de não ingerência dessas
determinações dentro dos assuntos internos dos Estados signatários da Carta.
Fonte: UN/DPI - Foto de M. Bolomey - Carta das Nações Unidas, com assinaturas da União Soviética e dos Estados
Unidos.

O Tribunal Penal Internacional – TPI


O Tribunal Penal Internacional/TPI, conhecido como Internacional Criminal Court (ICC) em inglês ou Court Pénale
Internacionale (CPI) em francês, é uma organização independente, não pertencendo a ONU e que foi criada
pelo Estatuto de Roma em 2002.  Disponível em:

Tem por finalidade processar e julgar, subsidiariamente ao Poder Judicial dos Estados (isto é, se não houver
julgamento interno pelo Estado) acusados de crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e
crimes de agressão.

 GENOCÍDIO
Nos termos do art 6º do Estatuto de Roma, entende-se por genocídio qualquer um dos atos praticado
com intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso,
enquanto tal:
• Homicídio de membros do grupo;
• Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo;
• Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição física, total
ou parcial;
• Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo;
• Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.

 CRIMES CONTRA A HUMANIDADE


Estão previstos no art. 7º e são entendidos quando cometidos no quadro de um ataque, generalizado
ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque. Caracterizam-
se por:
• Homicídio;
• Extermínio;
• Escravidão;
• Deportação ou transferência forçada de uma população;
• Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais
de direito internacional;
• Tortura;
• Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou
qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável;
• Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais,
nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, tal como definido no parágrafo 3o, ou em função
de outros critérios universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional,
relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime da competência do
Tribunal;
• Desaparecimento forçado de pessoas;
• Crime de apartheid;
• Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou
afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental.

 CRIMES DE GUERRA
São definidos pelo Estatuto tendo como base as violações graves do direito internacional humanitário
contidas principalmente nas Convenções de Genebra e seus Protocolos adicionais de 1977.
Pressupõe-se que sejam cometidos dentro de um contexto de guerra e que o crime tenha relação
com esta. O que diferencia os crimes de guerra dos crimes contra a humanidade é a necessidade de
existência de um conflito, tenha ele caráter internacional ou não.

 CRIMES DE AGRESSÃO
Tendo em vista a controvérsia que existe a seu respeito, o Estatuto de Roma deixou a questão por
ainda ser definida.

Continuando nosso estudo sobre o TPI, vamos nos apropriar das explicações que o Itamaraty nos oferece:

“O Brasil apoiou a criação do Tribunal Penal Internacional, por entender que uma corte penal eficiente, imparcial e
independente representaria um grande avanço na luta contra a impunidade pelos mais graves crimes internacionais. O
Governo brasileiro participou ativamente dos trabalhos preparatórios e da Conferência de Roma de 1998, na qual foi
adotado o Estatuto do TPI.
Com sede em Haia (Países Baixos), o TPI iniciou suas atividades em julho de 2002, quando da 60ª ratificação ao
Estatuto [...]. O TPI julga apenas indivíduos – diferentemente da Corte Internacional de Justiça, que
examina litígios entre Estados. A existência do Tribunal contribui para prevenir a ocorrência de violações dos direitos
humanos, do direito internacional humanitário e de ameaças contra a paz e a segurança internacionais. O Brasil
depositou seu instrumento de ratificação ao Estatuto de Roma em 20 de julho de 2002, sendo incorporado ao
ordenamento jurídico brasileiro por meio do Decreto nº 4.377, de 25 de setembro de 2002.”
O Itamaraty adverte “como qualquer instrumento jurídico internacional, o Estatuto de Roma é produto de seu tempo e é
passível de ajustes para seu aprimoramento.”

E ainda para o Itamaraty, “O Brasil tem exercido papel de liderança nas reuniões em que os Estados partes tratam de
ajustes com vistas a promover maior aceitação e a consolidação do TPI – a exemplo das discussões que levaram à
adoção, em 2010, na Conferência de Revisão de Campala (Uganda), das emendas relativas ao crime de agressão, que
estabelecem as condições para que o TPI possa exercer sua jurisdição sobre esse crime”.

Para alguns autores o TPI marca uma nova era na História do Direito internacional e das Relações Internacionais.

Intervenções Humanitárias
Conflitos geram impactos sobre os direitos humanos – considerados, no mundo contemporâneo, como eixo de
proteção da pessoa humana, tanto na esfera interna dos Estados quanto na esfera internacional.

Quando esses conflitos, dentro de um


Estado soberano, geram consequências
devastadoras para a população que nele
se encontra?

Seria lícito e aceitável que outros países


interviessem em Estados soberanos, com
a justificativa de ajudar e salvar a
população atingida?

Há uma responsabilidade de proteger que


autorizaria as intervenções em nome dos
direitos humanos?
Essas são as perguntas que se colocam quando estudamos as intervenções humanitárias e como tais ações
repercutem na esfera de soberania nacional dos estados. E as respostas não são simples, pois não existe uma norma
que autorize expressamente a intervenção humanitária.

Muito pelo contrário: a Carta da ONU estabelece o princípio da não intervenção como norteador da conduta dos
Estados no âmbito internacional.

A Carta, em seu artigo segundo, itens 3 e 4, estabelece que “todos os Membros deverão resolver suas controvérsias
internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais” e
que “todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a
integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os
Propósitos das Nações Unidas”.

No entanto, no mesmo documento, o artigo 42 do capítulo VII preconiza o uso da força (aérea, naval ou terrestre) para
manter ou reestabelecer a paz e a segurança.

Tais dispositivos nos permitem concluir que se não se cita explicitamente na Carta a intervenção armada com
justificativa humanitária, também não se cita nenhuma proibição à guerra, seja ela justa ou injusta. Dessa forma, a
resposta para as intervenções humanitárias não está estampada na norma de Direito Internacional.

Há, porém, que sustente que é possível estabelecer duas exceções a esse princípio:

I. legítima defesa individual ou coletiva;


II. quando o Conselho de Segurança da ONU (CS) determinar que uma situação constitui uma ameaça à paz ou
segurança internacional.

A questão fica ainda mais complexa quando as intervenções, ditas humanitárias, e geral com o uso de força bélica,
ocorrem sem que o estado que sofre a intervenção tenha solicitado a presença de ajuda externa, como no caso do
Kosovo em 1999, ou na Líbia em 2011, ou mesmo quando não houver a autorização do CS da ONU.

Para aqueles que admitem as intervenções, quando há o intuito protetivo e ações respaldadas no discurso da
necessidade de defesa de DH, sustenta-se que mais importante do que a soberania de um estado que agride seus
próprios habitantes é a proteção aos direitos.

Nesse cenário, a intervenção humanitária não deve ser vista somente como um instrumento justificador para que
potências econômicas e militares aproveitem de sua superioridade para adentrar o território de outro estado que
possua, por exemplo, riquezas de interesse do Estado interventor. Há, nessas ações, a responsabilidade de proteger,
baseado nos DH, que impõe uma obrigação de agir em prol dessa proteção.

Qual é a importância simbólica da responsabilização perante o TPI de Ahmad al-Faqi al-Mahdi (também conhecido
como Abu Turab), acusado de “crimes de guerra” por ter dirigido e participado na destruição, em Julho de 2012, de
vários bens classificados pela Unesco como Património da Humanidade na cidade de Tombuctu, no Norte do Mali?

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