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A Internacionalização dos Direitos Humanos
Revisão Textual:
Caique Oliveira dos Santos
A Internacionalização
dos Direitos Humanos
• Introdução;
• Direito Internacional dos Direitos Humanos;
• Sistema Global de Direitos Humanos;
• Declaração Universal dos Direitos Humanos;
• Pactos Internacionais de Direitos Humanos.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Conhecer o processo de internacionalização dos direitos humanos;
• Demonstrar capacidade argumentativa;
• Compreender o sistema global de proteção aos direitos humanos.
UNIDADE A Internacionalização dos Direitos Humanos
Introdução
A primeira metade do século XX foi marcada pela ocorrência de duas grandes guer-
ras, promotoras de crueldades jamais testemunhadas no mundo moderno, culminando
com a indispensável criação de instrumentos de respeito aos direitos humanos e de garantia
de paz entre as nações.
Durante o governo nazista de Adolf Hitler, foram construídos vários campos de con-
centração para prisão e extermínio dos judeus, onde aqueles que não eram executados
em câmaras de gás tinham suas vidas ceifadas por doenças infecciosas, trabalhos força-
dos, execuções individuais, fome ou resultado de experiências médicas.
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O movimento de comunhão e assistência entre as nações, iniciado com o fim da Pri-
meira Grande Guerra e consolidado após a Segunda Grande Guerra, convergiu para a
elaboração de tratados internacionais que reconhecessem direitos e criassem regras de
proteção à pessoa humana, formando um sistema de proteção aos direitos humanos.
A Liga das Nações teve um papel importante na proteção aos direitos hu-
manos. Há de se destacar o trabalho do Comitê para os Refugiados, sob
responsabilidade do cientista e político norueguês Fridtjof Nansen, que se
preocupou com o contingente de refugiados pós-Primeira Guerra Mun-
dial e da Revolução Russa e adotou uma série de procedimentos protetivos,
entre eles o Passaporte Nansen, com a identificação e documentação das
pessoas consideradas apátridas. (OLIVEIRA, 2016, p. 54)
Você Sabia?
Apátrida é o termo utilizado para designar aquele que perdeu, oficialmente, sua na-
cionalidade, sem adquirir outra, não sendo considerado nacional por qualquer Estado.
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O Comitê Internacional da Cruz Vermelha é a organização humanitária que, com
base nas Convenções de Genebra, atua como guardião do Direito Internacional Hu-
manitário e tem o objetivo de proteger e conceder assistência às vítimas não apenas de
guerra mas também de outras situações de violência.
Diante dos flagelos terríveis sobre a pessoa humana provocados pela Primeira e pela
Segunda Grande Guerra, foi necessária uma resposta mundial com o objetivo de preser-
var, genericamente, os direitos do homem. Dessa forma, é elaborada a Carta das Nações
Unidas, criando a organização intergovernamental, por ocasião da Conferência de São
Francisco, cidade norte-americana onde seu conteúdo foi discutido, aprovado e assinado
por todos os membros presentes na ocasião, totalizando 50 países.
A ONU tem como principais objetivos em relação aos direitos humanos no mundo
a manutenção da paz e da segurança internacional, a cooperação internacional
tanto social como economicamente e a promoção dos direitos humanos em
âmbito internacional.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, reportada por alguns pela sigla
DUDH, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, em 1948, sobres-
sai como poderosa ferramenta de defesa dos direitos humanos no plano internacional.
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cada nação, sendo o princípio da dignidade humana posto como fundamento da liberdade,
da justiça e da paz mundial. Tendo em vista sua importância, abordaremos adiante a DUDH.
Assim, concluímos que o direito internacional dos direitos humanos tem como prima-
zia a proteção dos direitos humanos por meio de dois fundamentos:
• Uma percepção diferenciada da visão tradicional a respeito da soberania absoluta
dos Estados, que passam a ser monitorados e sofrer responsabilização internacional;
• Ascensão dos indivíduos à posição de sujeitos de direito não somente em âmbito na-
cional mas também internacional, podendo, inclusive, acionar tribunais internacionais.
Nesse sentido, foram elaborados diversos tratados de direitos humanos, com alcance
em vários campos de proteção, ensejando a criação de um sistema regionalizado de pro-
teção aos direitos humanos, composto de tribunais capazes de garantir sua efetividade.
Conclui-se que o direito internacional dos direitos humanos tem como objeto a prote-
ção ao indivíduo, independentemente da existência ou inexistência de vínculo com uma
nação, observando-o como parte suscetível diante do desrespeito aos direitos essenciais
ao homem, para tanto estabelecendo obrigações e compromisso das nações para a pro-
teção aos direitos da pessoa humana.
Figura 4 – Sessão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, Paris, França, 1948
Fonte: licra.org
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São órgãos componentes da ONU:
• Assembleia Geral: órgão superior, composto por todos os países-membros, que têm
o mesmo poder de voto e representação;
• Conselho de Segurança: órgão responsável pela segurança e paz internacional,
composto por 15 países-membros, sendo 5 deles membros permanentes (China,
Estados Unidos, França, Inglaterra e Rússia). Os demais membros são escolhidos pela
Assembleia Geral, observando a distribuição geográfica equânime e a colaboração
para a conservação da paz e da segurança internacional;
• Conselho Econômico e Social: órgão composto por 54 membros, eleitos para
mandatos de três anos, observando a representação geográfica que determina 14
vagas para a África, 10 vagas para a América Latina e Caribe, 11 vagas para a
Ásia, 13 vagas para a Europa Ocidental e 6 vagas para a Europa Oriental. É res-
ponsável pela promoção de discussões sobre desenvolvimento sustentável em seus
aspectos econômico, social e ambiental, recomendando diretrizes e apresentando
projetos à Assembleia Geral;
• Conselho de Tutela: órgão com a função de auxiliar os territórios sob a proteção
da ONU a se organizarem como Estados independentes. Suas atividades foram sus-
pensas em 1997, três anos após a independência de Palau, último território tutelado
pela ONU. O Conselho de Tutela apenas se reúne a pedido da Assembleia Geral e
deve ser composto por membros do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral;
• Corte Internacional de Justiça: principal órgão jurídico da ONU, sediado em Haia,
tem como função solucionar, conforme regras de direito internacional, as conten-
das legais apresentadas por Estados e oferecer pareceres consultivos a respeito de
questões jurídicas apresentadas por órgãos ou agências especializadas da ONU. Sua
composição é de 15 juízes, eleitos para mandatos de nove anos, tendo um terço dos
seus membros renovado a cada três anos, com o objetivo de manutenção de conti-
nuidade. Os juízes devem ser pessoas de idoneidade moral, dotados de qualificações
para ocupar os mais altos cargos no Judiciário de seu país de origem e ser juristas
com competência reconhecida em matéria de direito internacional público;
• Secretariado: órgão formado por um Secretário-Geral que dirige funcionários inter-
nacionais que respondem unicamente à ONU, escolhidos dentro de um amplo crité-
rio geográfico, e estão a serviço dos principais órgãos da instituição, administrando
políticas e programas por ela estabelecidos.
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As normas que compõem o sistema global de proteção aos direitos humanos podem,
quanto ao seu alcance, ser classificadas em:
• Normas de alcance geral: aquelas destinadas a todos os indivíduos, abstrata e ge-
nericamente. São os pactos internacionais de direitos civis e políticos e os de direitos
econômicos, sociais e culturais;
• Normas de alcance especial: aquelas destinadas a indivíduos ou grupos específi-
cos, tais como: crianças, mulheres, refugiados e outros. Como exemplo citamos a
Convenção sobre os Direitos da Criança, a Convenção para a Eliminação da Dis-
criminação contra a Mulher, a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação Racial;
Os procedimentos adotados pelo sistema global, por sua vez, são classificados como:
• Convencionais: são aqueles que necessitam de previsão expressa em tratados, pac-
tos e convenções internacionais, bem como são supervisionados pelos órgãos in-
ternacionais de supervisão denominados de Comitês. Apenas os países-membros
da ONU e signatários dos correspondentes tratados se submetem à atuação dos comi
tês específicos;
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• Não convencionais: são aqueles que, apesar de não previstos em tratados, con-
tribuem para eficácia do sistema internacional de proteção, sendo acionados em
situações em que o país violador dos direitos humanos não assinou tratado inter-
nacional. Um exemplo é o sistema de ações urgentes, por meio do qual a ONU
investigará violações observando algumas condições para a tomada de decisão in-
terventiva com foco na concretização da proteção.
O processo de proteção universal foi alavancado pela DUDH, que colocou o direito
humano na conjuntura global, reconhecendo a todos os homens o direito a ter direitos,
como uma questão inata à humanidade, e o alcance da tutela dos direitos humanos a toda
a comunidade internacional, não ficando mais restrito ao espaço limitado pelo Estado.
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Pactos Internacionais de Direitos Humanos
Com o objetivo de conceder uma aplicabilidade jurídica plena às resoluções contidas
na Declaração Universal dos Direitos Humanos, foram elaborados, em 1966, dois
pactos internacionais.
A elaboração desses pactos foi a solução encontrada pela ONU diante da divisão
ocorrida no mundo, após a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em dois blocos,
sendo um capitalista e o outro socialista. Tal divisão também refletiu em duas concep-
ções de proteção aos direitos humanos, sendo o primeiro grupo voltado para os direitos
liberais, ligados aos direitos civis e políticos, enquanto o outro, do bloco socialista, ligado
aos direitos sociais, econômicos e culturais.
Alguns direitos, contudo, não estão sujeitos à suspensão, mesmo em situações ex-
cepcionais. Constituem o núcleo inderrogável de direitos do pacto internacional, isto
é, são direitos que em nenhuma hipótese ou circunstância podem ser suspensos pelo
Estado-parte, pela essencialidade no contexto de proteção aos direitos civis e políticos.
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Aqueles direitos que, atendidas as regras de direito internacional possam sofrer sus-
pensão de sua aplicabilidade, devem acatar algumas condições importantes, tais como:
• Compatibilidade com as obrigações impostas pelo direito internacional, não promo-
vendo qualquer discriminação;
• Proibição de suspensão dos direitos que compõem o núcleo inderrogável de direitos;
• Ocorrência de situação anormal que coloque em risco a integridade da nação e seja
reconhecida por órgão oficial e competente;
• Aplicação apenas durante o período exigido pela situação excepcional.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Filmes
A lista de Schindler
Conta a história de um empresário alemão que salvou centenas de refugiados ju-
deus durante a Segunda Guerra Mundial, empregando-os em suas fábricas.
https://youtu.be/gG22XNhtnoY
A informante
Após o período da Guerra da Bósnia, uma policial americana descobre uma rede de
corrupção que causa um dos maiores escândalos envolvendo a ONU, com ativida-
des diplomáticas de duplo sentido abrangendo membros das forças de paz da ONU.
https://youtu.be/UORzwLPJg80
Decisão de risco
Mostra o debate militar e político a respeito dos danos colaterais mínimos em ação
coordenada da Inglaterra com o objetivo de capturar três perigosos terroristas em
Nairobi, no Quênia.
https://youtu.be/Y_utqwncwQU
The Post: a guerra secreta
Durante a Guerra do Vietnã, dois jornais americanos se deparam com documentos si-
gilosos a respeito de ações do Estado norte-americano e lutam para garantir a liberdade
de expressão contra um governo que busca encobrir todos os fracassos da operação.
https://youtu.be/k-tiJlEm76A
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Referências
BONAVIDES, P. Do Estado liberal ao Estado social. 8. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2007.
CASTILHO, R. Direitos humanos. 5. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. (e-book)
COMPARATO, F. K. A afirmação histórica dos direitos humanos. 12. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019. (e-book)
GUERRA, S. Direitos humanos: curso elementar. 5. ed. São Paulo: Saraiva: 2017. (e-book)
LEITE, C. H. B. Manual de direitos humanos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. (e-book)
MALHEIRO, E. Curso de direitos humanos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016. (e-book)
MONDAINI, M. Direitos humanos: breve história de uma grande utopia. São Paulo:
Edições 70, 2020. (e-book)
________. Temas de direitos humanos. 11. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. (e-book)
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