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Pode-se dizer que a irregularidade traduz uma resposta menos grave face a uma conduta
administrativa desconforme à juridicidade, assumindo assim uma natureza excecional ou
marginal de Direito Administrativo. É uma reação do sistema que sanciona uma atuação
administrativa desconforme à juridicidade, sem privar essa atuação dos efeitos normais
da conduta válida e sem a sujeitar a uma intervenção negativo-resolutiva.
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Não creio que se possa concluir que a irregularidade administrativa mata a vinculação
administrativa à juridicidade, estando ela prevista apenas para situações excecionais,
pretendendo salvaguardar a segurança jurídica e a tutela do interesse público.
O professor Paulo Otero refere que a administração pública, no desenvolvimento das suas
tarefas, deve sempre agir no interesse público, devendo conferir primazia à satisfação dos
interesses da coletividade sendo, por isso, parcial na defesa de tais interesses, sendo certo
que, por força da Constituição, deve fazê-lo à luz de um postulado de ação pautado pelo
princípio da imparcialidade – age com imparcialidade na defesa com parcialidade do
interesse público.
Por meio deste princípio o procedimento deverá ser estruturado no sentido fazer integrar
no itinerário decisório administrativo os diferentes interesses relevantes para as situações
concretas a decidir. A falta de ponderação, a sua insuficiência ou erro, assim como uma
inexata ponderação dos interesses relevantes consubstanciam violações do princípio da
imparcialidade, sempre passíveis de controlo judicial.
A circunstância de existir uma juridicidade dotada de rigidez não pode fazer esquecer que
em termos paralelos, se observa o progressivo desenvolvimento de um soft law em que
domínios crescentes do agir administrativo, gerando uma Administração Pública apenas
debilitadamente vinculada a parâmetros normativos externos.
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Veja-se duas situações:
2) em sentido diferente, o soft law pode ser resultado de normas que, tendo nascidas
dotadas de força vinculativa, a ordem jurídica deixou de sancionar a sua contrariedade
com a invalidade, reconduzindo a situação a uma mera irregularidade, ou, em alternativa
- cria outra norma dizendo que, apesar de reconhecer existir invalidade, à primeira vista,
lhe nega qualquer efeito anulatório, conferindo-lhe a produção de efeitos normais, como
se nenhuma desconformidade existisse – estaremos perante meras irregularidades – como
sucede pelo disposto nos artigo 163.º/5 do CPA e 283.º/2 e 4 do CCP.
A conduta administrativa que em circunstâncias normais seria inválida por ser contrária
à juridicidade, pode, em determinadas circunstâncias, encontrar um fundamento que, por
via ponderativa ou de habilitação jurídico-positiva, a torne válida, justificada ou
desculpável. Neste contexto, a invalidade não se resume a uma qualquer desconformidade
da conduta administrativa face à juridicidade, sendo importante saber as circunstâncias
de facto subjacentes ao concreto agir administrativo, pois, em determinados cenários,
torna-se válido, ou pelo menos, justificável ou desculpável aquilo que em circunstâncias
ordinárias seria sempre inválido.
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O próprio CCP prevê no seu art. 285.º/3 e 4 a possibilidade de redução ou conversão de
contratos públicos, nos termos do disposto nos art. 292.º e 293.º do Código Civil,
independentemente do seu desvalor jurídico e caso estas não sejam possíveis e o efeito
anulatório se revele desproporcionado ou contrário à boa-fé, pode este ser afastado por
decisão judicial ou arbitral, ponderados os interesses público e privado em presença e a
gravidade do vício do contrato em causa.
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2) a negociação ou concertação no contexto do procedimento administrativo decisório
típico unilateral ou plurilateral incluindo a produção de normas integrantes de um “Direito
regulador” e a preparação de decisões administrativas de elevada complexidade; 3) a
atividade administrativa interna de natureza imperativa ou não imperativa.
1) De acordo com a tese tradicional, estamos perante atos que abdicam da produção de
efeitos jurídicos, dos quais não se pode extrair qualquer efeito em sede de tutela da
confiança – logo a atuação administrativa informal estará numa zona livre de Direito;
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De acordo com o princípio da cooperação administrativa na sua vertente de colaboração
dos órgãos administrativos entre si – colaboração interadministrativa, à luz do art., 66.º
do CPA, é postulada a possibilidade de ser solicitado o auxílio de quaisquer órgãos
administrativos para, atendendo ao contributo pessoal, documental ou técnico,
possibilitem uma melhor preparação ou até a própria base factualmente relevante para a
decisão final por parte do órgão competente. Este processo deverá ser regido pelos
princípios gerais da atividade administrativa – designadamente pelo princípio da boa
administração – art. 5.º do CPA, de acordo com o qual a administração deverá pautar-se
por critérios de eficiência, economicidade e celeridade, evitando, portanto, a ineficiência
e desarticulação entre os procedimentos, optando ainda por se aproximar dos particulares
de forma não burocratizada. De acordo com o princípio da segurança jurídica ao qual está
também sujeita a administração pública, não poderá a administração chegar a uma decisão
totalmente imprevisível, tomada de modo aleatório ou não ponderado.
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6. Todo o procedimento administrativo se resume em dois princípios
antagónicos: o procedimento equitativo e o estado de necessidade
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legalidade excepcional ou extraordinária que procura fazer face a circunstâncias
excepcionais e imprevisíveis, passíveis de suscitar perigos, ameaças ou lesões a
pessoas, bens ou instituições e requerem a necessidade e a urgência de medidas
administrativas tendentes a defender, conservar ou fazer cessar tais ameaças.
Este princípio surge consagrado no art. 3.º/2 do CPA e assenta nos seguintes
pressupostos cumulativos: 1) existência de circunstância de facto extraordinárias; 2)
uma ameaça séria ou um efetivo e grave perigo ou risco de danos a bens ou interesses
essenciais da coletividade; 3) a essencialidade dos bens e interesses em causa impõe
a indispensabilidade e urgência de uma atuação administrativa, e 4) essa intervenção
só pode ser feita através de preterição de normas habitualmente reguladoras da
Administração Pública.
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ser, por força do princípio constitucional da boa fé, contrariado, salvo indemnizando os
danos decorrentes da frustração da confiança.
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A fundamentação não se basta com qualquer discurso justificativo da decisão
administrativa, precisando, por isso, de ser clara (utilizando linguagem percetível ao
particular), de obedecer a regras de lógica (o conteúdo decisório e as razões de facto e
direito têm de ser coerentes) e de respeitar o princípio da necessidade e de adequação. A
insuficiência da fundamentação equivale à falta de fundamentação.
Há que distinguir duas situações que, por sua vez, atribuem diferentes desvalores
jurídicos.
Os atos anuláveis podem ser alvo de reforma (art 164º/1 e 4, CPA), ou seja, de um ato
administrativo pelo qual se conserva a parte não afetada pela ilegalidade de um ato
anterior. Isto pode ocorrer, por exemplo, se o órgão administrativo se apercebe da
ilegalidade que cometeu e, em vez anular esse ato, reutiliza alguns elementos de forma a
recuperar o mesmo (de acordo com o princípio do aproveitamento dos atos). Desde que
não tenha havido alteração ao regime legal, a reforma tem eficácia retroativa (art 164º/5,
1ªparte, CPA), não esquecendo a possibilidade de anulação dos efeitos lesivos decorridos
da restrição de direitos e interesses legalmente protegidos (art 164º/5, 2ªparte, CPA).
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9. Pode um regulamento criar novos pareceres de natureza vinculativa?
Existem, alguns limites ao poder regulamentar pela Constituição, pelos princípios gerais
de direito e pela lei.
Os princípios gerais de direito podem ser derrogados por normas legais (porque têm a
mesma posição hierárquica), mas não podem ser derrogados diretamente pelos
regulamentos, sob pena de violação de lei e consequentemente, anulabilidade da
aplicação dos regulamentos.
Quanto aos limites impostos por lei, temos de ter em conta as duas vertentes do princípio
da legalidade. Por um lado, à luz do princípio da reserva de lei, o Governo não pode criar
regulamentos que desenvolvam matérias da reserva absoluta de lei da Assembleia da
República (só pode editar normas regulamentares de execução); nos casos de reserva
relativa de lei, para criar um regulamento sobre essa matéria, o Governo necessita de uma
autorização da Assembleia. Por outro lado, de acordo com o princípio de precedência de
lei, o exercício de qualquer atividade administrativa regulamentar tem de ser precedido
de uma lei habilitante.
Os atos administrativos consensuais são atos unilaterais que têm na sua base um acordo
entre a Administração e o destinatário do ato. Podem ser acordos endoprocedimentais ou
contratos administrativos. Traduzem um modelo de Administração onde se verifica a
participação dos interessados, uma autovinculação da Administração e a contratualização
da decisão administrativa.
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Estes atos podem incidir sobre regras procedimentais – são os atos consensuais
procedimentais, que constam nos arts 57º/1 e 2, e 98º/2, CPA –, ou podem incidir sobre
o conteúdo da decisão – são os atos consensuais substantivos, que se encontram nos arts
57º/3 e 77º/4, CPA.
Existem alguns limites a estes atos – a Administração não pode utilizar os atos
consensuais em matérias insuscetíveis de transação, que não são disponíveis por ela e
também não pode fazer, através destes atos, aquilo que a lei lhe proíbe.
11. “Mostra-se muito discutível que o artigo 302º do Código dos Contratos
Públicos assuma natureza dispositiva”
Nos contratos de direito privado, a lei confere poder de autoridade à Administração, mas
para não sacrificar injustamente os contraentes particulares, impõe o respeito pelo objeto
do contrato e o equilíbrio financeiro deste – isto pode levar à alteração das condições
contratuais ou à atribuição de uma indemnização compensatória pela Administração ao
contraente particular.
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Neste caso, temos de analisar o regime da responsabilidade civil extracontratual por atos
de gestão pública ilícitos (encontra-se na Lei nº67/2007), verificando se os quatro
pressupostos estão cumpridos: tem de haver um facto voluntário ilícito (art 9º, da Lei
nº67/2007), a existência de culpa (no art 10º/2, da Lei nº67/2007, há uma presunção de
culpa leve na prática de atos jurídicos ilícitos), a existência de prejuízos (arts 7º/1 e 8, da
Lei nº67/2007) e ainda a necessidade de um nexo de causalidade (arts 3º e 7º, da Lei
nº67/2007).
Nas situações de irrelevância do prejuízo, podemos incluir os casos em que a própria lei
exclui a relevância do prejuízo (por exemplo, o art 2º, da Lei nº67/2007 diz que só são
indemnizáveis os danos especiais e anormais, o que significa que, se o dano resultar de
situações do quotidiano, este não será indemnizável) e os casos em que a vítima não tem
direito a ser indemnizada (se alguém está numa situação ilícita, por exemplo, na
propriedade de droga apreendida).
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Mas o princípio da administração aberta mostra ser dotado de uma maior amplitude, uma
vez que não exige que os requerentes do acesso aos arquivos e registos tenham um
procedimento em curso que lhes diga respeito – é uma forma de limitação do Poder e de
igualdade na participação, concorrência e responsabilidade (habilita o controlo das
decisões).
Todavia, o princípio da transparência não é ilimitado nem permite um acesso total aos
arquivos e registos administrativos – tem de haver uma ponderação de outros bens,
interesses e valores constitucionalmente tutelados. Isto levou a que o legislador, no art
268º/2, CRP excluísse ou limitasse o acesso a matérias relativas à segurança interna e
externa (incluindo as questões referentes ao segredo de Estado, salvaguarda da
independência nacional, unidade e integridade do Estado), à investigação criminal (e
ainda o segredo de justiça), ao sigilo fiscal e à intimidade das pessoas enquanto garantia
de respeito pela reserva da vida privada e também da proteção de dos dados pessoais (a
Administração está vinculada a proteger a segurança e integridade dos suportes e sistemas
de aplicação utilizados para esse efeito, à luz do princípio da proteção dos dados
pessoais).
A natureza das normas que conferem atribuições tem duas conceções radicalmente
opostas na doutrina.
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Por um lado, o professor Diogo Freitas do Amaral apresenta-nos a tese da
incomunicabilidade, segundo a qual cada entidade ou pessoa coletiva tem as suas próprias
atribuições, não existindo qualquer sobreposição de atribuições entre diferentes entidades
(é um sistema de fronteira rígida).
Por outro lado, o professor Paulo Otero considera haver comunicabilidade de atribuições,
uma vez que, além de o legislador utilizar critérios vagos para identificar as atribuições
das entidades públicas, há matérias onde podem intervir, em níveis diferentes, diversas
entidades públicas – isto comprova-se pelo princípio da subsidiariedade no âmbito da
competência (pertence às entidades de menor âmbito aquilo que por elas possa ser feito;
se elas não o fizerem com tanta eficiência, passa para a esfera das entidades de maior
âmbito), pela supletividade do direito do Estado (se as entidades públicas menores não
elaborarem normas sobre uma determinada matéria, aplica-se a lei do Estado; mas esta
lei também poderá deixar de ser aplicada a partir do momento em que entidades de menor
âmbito elaboram outras leis) e ainda pela prevalência do direito do Estado (nos casos de
conflito entre a vontade intraestadual e a vontade do Estado resulta, normalmente, a
prevalência da vontade estadual).
Com efeito, adotando a posição do professor Paulo Otero, pode existir uma delegação
intersubjetiva, ou seja, uma delegação de poderes entre pessoas coletivas diferentes.
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O princípio da legalidade será então preterido se outro interesse, igualmente tutelado pela
constituição, se afigurar, no caso concreto, como de valor superior ao interesse que o
princípio da legalidade protege- é aquilo a que Paulo Otero chama um agir administrativo
contra legem. Apesar de o princípio da legalidade ser o que mais é testado nestas
circunstâncias, é importante não esquecer os outros que estão sempre agregados à atuação
administrativa: O princípio da proporcionalidade tem aqui um papel importante, visto que
limita os atos praticados pela administração no estado de necessidade de modo a que se
os fins pudessem ter sido alcançados de outra forma- em menor proporção e menos
rigorosos- a operação deixa de estar coberta pelo estado de necessidade e passa a ser
invalida; o principio da igualdade implica ao administrador provar que qualquer facto
ocorrido que implique um tratamento desigual, não poderia ter sido evitado; e os
princípios da justiça, da imparcialidade, e da prossecução do interesse público têm grande
relevância na condução do agir administrativo em estado de necessidade.
Desta maneira, embora a maior parte da doutrina entenda que estamos perante uma
exceção ao princípio da legalidade, entendemos que estamos perante uma legalidade
excecional e não uma exceção ao princípio da legalidade, uma vez que não dispensa uma
habilitação legal expressa no nº 3 do artigo 2º do CPA.
O código diz no artigo 148º que só são atos administrativos os que produzem efeitos
externos. Não obstante isso o código vem regular a delegação de poderes, ou a
convocatória das reuniões dos órgãos colegiais, ou as atas dos órgãos colegiais. Os órgãos
administrativos normalmente competentes para decidir em determinada matéria podem,
sempre que para tal estejam habilitados por lei, permitir, através de um ato de delegação
de poderes, que outro órgão ou agente da mesma pessoa coletiva ou outro órgão de
diferente pessoa coletiva pratique atos administrativos sobre a mesma matéria.
O CPA mais recente, na sua noção permite abranger delegação intersubjetiva, art. 44 nº1
in fine, ou outro órgão de diferente pessoa coletiva pratique atos administrativos sobre
mesma matéria, ou seja, a delegação de poderes intersubjetiva que não é nada mais de
que delegação de poderes entre órgãos de pessoas coletivas diferentes.
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Um dos requisitos de ato de delegação de poderes é, de facto, a publicação no “Diário da
república ou na publicação oficial da entidade pública, e na internet, no sítio institucional
da entidade em causa”, tal como disposto nos artigos 42º/2, 158º/2 e 159º. O requisito
quanto à publicação é um requisito de eficácia que, na falta no mesmo, o ato de delegação
é ineficaz.
Como explicar esta delegação de poderes? Segundo Freitas do Amaral, defendendo a tese
da transferência de exercício, este é o ato através do qual o delegante transfere o exercício
de poderes, sendo que o delegado nunca tem a titularidade dos poderes apesar de os
exercer, passando a ter uma titularidade vazia. Há, assim, uma incomunicabilidade entre
cada pessoa coletiva: cada pessoa coletiva tem as suas próprias atribuições e, não havendo
qualquer sobreposição de atribuições, há um “sistema de fronteira rígida”. Assim, a falta
do ato de delegação é um ato ferido de incompetência relativa que resulta na nulidade do
mesmo. Contudo, a nosso ver, podemos apontar falhas a este raciocínio: o delegante
continua a exercer os poderes, mantendo a titularidade sendo ainda que, esta tese admite
que um órgão da AP exerça poderes apenas com fundamento num ato administrativo
(exercer em nome próprio poderes alheios resulta em incompetência).
Assim, a nosso ver, concordamos com a tese apresentada pelo prof. Paulo Otero no
sentido em que a lei de habilitação tem 2º efeitos que resultam num fenómeno de
elasticidade. Ou seja, habilita-se não só o delegante a exercer os poderes como habilita a
sua delegação. Se o delegante exercer primeiro a competência, ele impossibilita que o
delegado exerça sobre essa mesma matéria. Neste caso, o professor defende a
comunicabilidade de atribuições uma vez que: o legislador utiliza critérios vagos para
identificar as atribuições das entidades públicas e muitas das matérias onde podem
intervir, intervêm em graus diferentes.
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Há que delimitar os dois conceitos referidos no enunciado: durante a instrução podem ser
solicitados e/ou emitidos pareceres, artigos 91º e 92º, que consistem em opiniões
formuladas por especialistas nas matérias sobre as quais incidem ou por órgãos
administrativos consultivos.
Por outro lado, existe a audição de pessoas – os interessados, regra geral na fase da
instrução também. Como disposto no artigo 121º, a audiência é o momento por excelência
da participação dos particulares no procedimento administrativo, constituindo a
concretização legislativa do imperativo constitucional de participação dos interessados na
formação das decisões que lhes digam respeito – 265º/7 CRP.
De facto, os pareceres ainda que vinculativos, não constituem atos isolados mas
fundamentação do ato definitivo, e, por isso, fazendo dele parte integrante. O facto de
serem vinculativos não impõem a sua adoção sem cumprimento do art.º 100.º O
cumprimento do art.º 100.º do CPA pode pôr em causa tais pareceres, pelo que, nesse
caso, a entidade a quem compete decidir terá de submeter o resultado da participação dos
interessados à consideração das entidades que emitiram tais pareceres, só depois podendo
ser legalmente praticado o ato.
Apenas haverá dispensa de audiência prévia nos termos do artigo 124º, em situações
específicas e restritivamente excecionais, das enunciadas no art. 124º - e mesmo nas
cláusulas consagradas pelo CPA, deverá haver lugar a interpretação restritiva, em virtude
da consagração constitucional fundamentalística do direito à audiência prévia dos
interessados. Desta forma, as circunstâncias que servem de base à não realização da
audiência têm que ser fundamentadas mediante a demonstração da sua verificação em
concreto. A preterição do direito de audiência prévia constitui uma formalidade essencial
cuja preterição acarreta vício de forma e a invalidade do ato administrativo (como é um
direito fundamental o ato será nulo, nos termos do Art. 161º/2 d).
À luz do atual código, a audiência prévia deve ocorrer terminada a instrução antes da
decisão final. Como o parecer é vinculativo, a audiência prévia ser depois do parecer faz
com que não tenha muita utilidade, a não ser que depois do parecer se dê a oportunidade
de reformular. Isto é a única hipótese, porque o órgão decisor depois de ter o parecer já
não tem como tomar em consideração o que o interessado disse, questionando-se a
possibilidade de dupla audiência prévia.
Com base na audiência prévia que conteste o parecer, deve o mesmo ser remetido para o
que emitiu o parecer para este decidir se quer manter ou alterar o conteúdo do parecer,
tendo sempre como certo que o órgão decisor não se pode afastar da natureza vinculativa
do parecer.
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18. O disposto no artigo 134º/3 do CPA, será aplicável atos inexistentes?
Para que exista aceitação é necessário que o ato administrativo produza efeitos. Nos
termos do art.134º/1 CPA o ato nulo não produz quaisquer efeitos afastando-se, assim, a
figura da aceitação. Contudo, e por via do estabelecido no art.134º/3 CPA, se forem
reconhecidos efeitos putativos a aceitação pode ser relevante, isto é, se forem
reconhecidos alguns efeitos jurídicos a situações de facto decorrentes de atos nulos pode
haver lugar a aceitação. Em suma, são os atos anuláveis os que constituem o objeto da
aceitação, sendo que estes são juridicamente eficazes e obrigatórios até ao momento da
anulação. No que se refere aos atos inexistentes não se reconhece a aceitação. Se os
requisitos de eficácia do ato não forem cumpridos, ou seja se o ato for ineficaz, não há
aceitação uma vez que esta se aplica aos atos eficazes (que sejam do conhecimento dos
interessados).
Para alguns autores a inexistência jurídica não é uma figura autónoma sendo reconduzida
a nulidade. Contudo, o professor discorda, considerando que a inexistência diferencia-se
da nulidade porque esta última só existe quando há incumprimento de norma habilitante,
sendo que a inexistência pode existir em ausência de juridicidade legislativa.
O regente considera que existem duas situações que nos podem reconduzir ao
reconhecimento da inexistência: casos de falta de identificabilidade mínima dos atos ou
condutas; casos em que a própria constituição nos determina que o desvalor é
inexistência.
O professor regente diz que, de facto, existe inexistência jurídica se uma lei não é
promulgada ou se uma lei não for referendada. Neste sentido, se a ADM aplicar uma lei
inexistente, ocorre uma invalidade consequente e o ato é inexistente. Quer isto dizer que
há inexistência quando se aplicam normas que são inexistentes. Qual o regime jurídico
aplicável à inexistência? De facto, é aplicável o regime jurídico da nulidade (artigo 162º).
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Sobre esta matéria o regente considera que o 162/3º só se aplica a casos de inexistência
derivada, e nunca a casos de inexistência originária. Os casos de inexistência originário é
um problema de ausência de identificabilidade do ato, não fazendo sentido existir tutela.
19. Fora das situações previstas no artigo 140º/2 do CPA será equacionável, à luz
da unidade da ordem jurídica, a revogação de atos constitutivos de direitos
válidos?
Quanto aos atos constitutivos de direitos, a regra geral é a não revogabilidade, exceto em
relação ao diposto no artigo 167º/2 – quando são favoráveis ao particular; quando os
particulares derem a sua concordância e o direito não for indisponível. Ainda, a alínea c)
deste mesmo artigo vem permitir que a superveniência de conhecimentos técnico-
científicos ou a alteração de circunstâncias possam fundamentar a revogação.
Por outro lado, também há que ressalvar a existência da responsabilidade da AP por facto
lícito ou pelo sacríficio – a conduta é válida mas pode gerar caráter desfavorável.
Sublinhe-se ainda que nesta responsabilidade tem com fundamento direto o art. 62º/2 da
CRP – quando há expropriação ou requisição há direito a uma “justa indemnização” – é
um direito fundamental, que corresponde a uma responsabilidade civil extracontratual por
facto lícito. Duas notas: o conceito constitucional de expropriação não é apenas a privação
de utilização de propriedade privada, significa sim privação de todo e qualquer direito de
conteúdo patrimonial privado por razões de interesse público. A justa indemnização não
se basta com os danos emergentes ou com as despesas extraordinárias – ela comporta
ainda os lucros cessantes. Na base deste entendimento há um princípio constitucional da
justa ou igualitária repartição dos encargos públicos – qual é a lógica? Se são razões de
interesse público que justificam que A seja lesado em nome da coletividade, então é justo
que toda a coletividade indemnize aquele que foi sacrificado em benefício da
coletividade.
Se isso é face a direitos objeto de proteção constitucional, qual a razão pela qual direitos
patrimoniais provenientes de atos administrativos devem ter uma garantia de
irrevogabilidade superior, tal como elencado no artigo 170º/2?
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20. Em que medida se pode hoje dizer que a distinção entre contratos
administrativos e contratos de direito privado da Administração Pública
perdeu a tradicional relevância?
Primeiramente, será importante explicitar que contratos administrativos são todos aqueles
que, à luz do Direito Administrativo criem, modifiquem ou extingam relações jurídico-
administrativas.
Ao invés de um modelo de atuação administrativa assente numa exclusiva regulação pelo
Direito Administrativo, verifica-se, cada vez mais, por efeito de uma lógica neoliberal, a
existência de áreas de flexibilização reguladores envolvendo a aplicação do Direito
Privado.
Esta aplicação faz-se por duas razões. A nível comunitário, o CCP procede à transposição
de Diretivas Europeias criando um conjunto homogéneo de normas relativas aos
procedimentos pré-contratuais públicos, pelo que o seu conteúdo vai além da mera
reprodução das regras constantes das diretivas. Na verdade, o CCP envolve não só a
transposição e concretização dessas regras, na medida em que o legislador comunitário
reservou para o legislador nacional, em vários domínios, uma margem de livre decisão,
mas também a regulação de todos os procedimentos que não se encontram abrangidos
pelos âmbitos objetivo e subjetivo das diretivas, mas que não deixam, por isso, de revestir
a natureza de procedimentos pré-contratuais públicos - pelo que devem beneficiar de um
tratamento legislativo integrado.
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Por outro lado, a nível constitucional, a noção de relações jurídica administrativa, tal
como elencado no artigo 212º/2 CRP, surge como sendo que uma situação jurídica
plurilateral atinente a atribuições da AP prosseguidas através de meios de direito público.
A diferenciação existe sim, ao nível do regime da execução, em particular a aplicabilidade
da Parte III do Código dos Contratos Públicos aos contratos administrativos.
Quanto à matéria relativa ao regime substantivo dos contratos públicos, a primeira nota
que importa realçar prende-se com a circunstância da parte III do CCP apenas se aplicar
aos contratos públicos que revistam a natureza de contrato administrativo, deixando-se,
desta forma, à margem dos mesmos instrumentos contratuais cuja fase de formação se
encontra sujeita às regras estabelecidas na parte II do CCP.
Assinalada a inexistência de sobreposição de âmbitos objetivos de aplicação entre as
partes II e III do CCP, importa ter presente a segunda opção de fundo relativamente à
parte III e que se relaciona com o facto de esta assentar numa estrutura bipartida.
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Os contratos de Direito Privado da AP não se diferenciam dos contratos de Direito
Administrativo pelos sujeitos públicos intervenientes e nem sempre também pelo Direito
regulador do respetivo procedimento de formação, tal como elencado nos artigos 1º/2 do
CCP e 202º/2 do CPA.
Entendeu-se que não seria justo responsabilizar-se os funcionários por faltas leves porque
a atividade da AP é difícil e implica mexer em quantias avultadas e diversos interesses
significativos. Relaciona-se com a figura do código civil mas com uma diferença. Não
temos situações concretas com previsões especificas de responsabilidade pelo risco, mas
sim uma regra de que há responsabilidade pelo risco quando se trata de uma atividade
especialmente perigosa. A jurisprudência é restritiva e o caso clássico é o manuseamento
de explosivos. A responsabilidade pelo risco é uma responsabilidade que é excluída em
caso de força maior (evento imprevisível ou inevitável mas exterior ao funcionamento do
serviço público) ou em caso de culpa do lesado.
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Esta assume-se como uma desconformidade entre a conduta administrativa e uma norma
que, apesar de ser contrariada, não gera um efeito invalidante; a irregularidade revela a
resposta do ordenamento a uma situação de incumprimento venial da juridicidade pela
administração publica: estão em causa vícios que, sem envolverem a invalidade, se
referem “apenas a alguns efeitos puramente laterais” – traduz a resposta menos grave face
a uma conduta administrativa desconforme à juridicidade.
A irregularidade sanciona a atuação desconforme sem privar essa atuação dos efeitos
normais, produzindo os mesmos efeitos que a conduta válida.
O fundamento da irregularidade encontra-se numa conjugação entre os princípios da
proporcionalidade, da proibição do excesso de formalismo e do aproveitamento das
condutas jurídicas.
Na irregularidade os vícios “produzem uma tão pequena lesão do interessa público que
seria do ponto de vista dele antieconómico tolher a possibilidade normal de produção dos
efeitos jurídicos do ato”. A atuação irregular pode ser corrigida mas não pode ser anulada
com fundamento na irregularidade, eliminando a valência destrutiva de efeitos que a
invalidade acarreta.
A irregularidade não envolve sanções sobre os atos em causa, sem prejuízo de não excluir
que o seu autor seja responsabilizado; a irregularidade, sem produzir efeitos sobre o ato
que dela padece, torna-se mera fonte de eventual responsabilidade para quem o emanou,
violando o dever de agir regularmente.
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Pode ser o legislador, que vem derrogar e flexibilizar as outras normas que impunham
essa conduta. Podem ser os tribunais. Mas hoje por força do 163o/5 a própria ADM pode
definir a mera irregularidade e está obrigada a aplicar este artigo – ela agiu violando a lei
e contrariando a lei mas vem depois ela própria dizer que o ato é meramente irregular.
Assim, em vez da irregularidade ter um mero efeito a posteriori mas pode ter agora um
efeito a priori – a ADM pode logo escolher preterir a formalidade nos termos do 163o/5,
cria-se uma nova norma de conduta.
De algum modo, significa que nos casos de irregularidade temos duas normas: há uma
norma A) que diz “deves agir desta maneira” e impõe uma conduta. Há uma norma B)
que no fundo diz “se não cumprires A) a tua conduta não é inválida”. Coloca-se a dúvida
de saber qual é o sentido da irregularidade dentro do ordenamento. Isto pode ter duas
explicações: A irregularidade afasta a norma invalidante. A norma invalidante seria a
norma C que seria a resposta sancionatória a invalidade da norma A; A irregularidade
afasta então a imperatividade da norma A. Derroga-se a norma que impõe uma conduta.
Pode por outro lado ser objetivo da irregularidade ser afastar a norma A e não a norma C;
De facto, podem existir efeitos em sede de responsabilidade civil e disciplinar, sendo que
as lesões produzidas ao abrigo de atos meramente irregulares geram responsabilidade por
facto ilícito ou lícito. Contudo, há que questionar se o 163º/5 converte o ato em lícito ou
não.
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O concurso publico é publicitado no Diário da República através de anúncio conforme
modelo aprovado por portaria dos ministros responsáveis pela edição do DR e pelas áreas
das finanças e das obras públicas – art. 130/1 º CPP.
Os órgãos administrativos têm a competência que lhes é diretamente conferida por lei –
é a lei que atribui o poder aos órgãos. Cada órgão tem um conjunto de poderes aptos a
prosseguir os fins da entidade pública na qual se integra. Para que um órgão possa delegar
poderes é preciso uma lei habilitante que permite ao delegante exercer os poderes e
habilita a delegação. A delegação intersubjetiva dá-se entre órgãos de pessoas coletivas
diferentes – quando o delegado age sobre poderes delegáveis que não foram delegados,
os atos que o delegado pratica através da declaração intersubjetiva não publicada, são
feridos de incompetência relativa porque ambos os órgãos são competentes sobre a
mesma matéria, apenas faltou requisito. O desvalor correspondente à incompetência
relativa é a anulabilidade.
Aos poderes do superior hierárquico correspondem certos deveres dos subalternos. Estes
são de vária índole: há os que dizem diretamente respeito à relação de serviço (como o
dever de obediência; assiduidade, zelo, aplicação, respeitos pelos superiores, etc...), mas
há também outros que extravasa já o âmbito da relação (deveres de obediência).
O dever de obediência consiste na obrigação de o subalterno cumprir as ordens e
instruções dos seus legítimos superiores hierárquicos, dadas em objeto de serviço e sob a
forma legal. Resultam os seguintes requisitos: os comandos hierárquicos provenham de
legitimo superior hierárquico, que sejam dadas em matéria de serviço, e que revistam a
forma legalmente prevista.
Logo, não existe dever de obediência quando o comando emane de quem não seja
legitimo superior do subalterno (por este não ser órgão da Administração ou não pertencer
à cadeia hierárquica onde este está inserido), quando respeite a um assunto da vida
particular ou quando tenha sido dada verbalmente se a lei exigia que fosse escrita. Nestes
casos, a ordem é extrinsecamente ilegal, logo não impende sobre o subalterno a obrigação
de a acatar. Mas o que sucede quando, cumprindo os requisitos apresentados, o comando
seja intrinsecamente ilegal, isto é, implique, se for acatada, a prática de um ato ilegal por
parte do subalterno? Tal divide a doutrina.
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Enquanto uma parte da doutrina, denominada de corrente hierárquica, onde se
encontra Otto Mayer, defende que existe sempre dever de obediência sendo que admitir
o contrário seria subverter a razão de ser da hierarquia; outra parte da doutrina, a corrente
legalista, defendida por Hauriou, defende que não existe dever de obediência em relação
a ordens julgadas ilegais. Em Portugal, a primeira tese foi defendida pelo Professor
Marcello Caetano ainda que temperada nos termos das leis portuguesas. Já o Professor
João Tello de Magalhães Collaço adotou a segunda tese.
À primeira vista, parece não haver grande problema: se o nosso sistema é
submetido ao princípio da legalidade, então não se pode sequer admitir que os subalternos
cumpram ordens ilegais. Mas não é tão simples: primeiro, admitir o direito/dever de
desobedecer a ordens ilegais é um fator de indisciplina nos serviços público, permitindo
ao subalterno examinar e questionar a interpretação da lei perfilhada pelo respetivo
superior hierárquico; depois, consagra que entre duas interpretações diferentes da lei, o
sistema jurídico deve por princípio preferir a do subalterno. Deste modo, o Professor
Freitas do Amaral inclina-se para a corrente legalista mas numa versão moderada, dadas
as considerações realizadas.
Porém, o mais importante não é explicar uma tese, mas conhecer o que nos diz o
direito vigente. O sistema que prevalece atualmente é um sistema legalista mitigado, que
resulta do art. 271º, n.º2 e 3 CRP e do art. 177º LGTFP (Lei Geral do Trabalho em
Funções Públicas). Logo, não há dever de obediência: senão em relação aos comandos
emanados de legítimo superior hierárquico, em objeto de serviço e com forma legal (art.
271º, n.º2 CRP e art. 73º, n.º8 LGTFP); mesmo em relação a estas, não há dever quando
o cumprimento do comando implique a prática de um crime (art. 271º, n.º3 CRP e 177º,
n.º5 LGTFP) ou quando os comandos provenham de ato nulo (art. 162º, n.º1 CPA). Há
dever de obediência: em relação a todos os restantes comandos, i.e., as que emanarem de
legítimo superior hierárquico, em objeto de serviço, com forma legal, e não implicarem a
prática de um crime nem resultarem de um ato nulo; contudo, se forem comandos ilegais,
o funcionário ou agente que lhes der cumprimento só ficará excluído da responsabilidade
pelas consequências da execução da ordem se antes da execução tiver reclamado ou tiver
exigido a transmissão ou confirmação delas por escrito (objeção de consciência) (art.
177º, n.º1 e 2 LGTFP). Quando, porém, tenha sido dada ordem de cumprimento imediato,
basta para a exclusão da responsabilidade de quem a cumprir que a reclamação seja
enviada logo após a execução (art. 177º, n.º4 LGTFP).
O Professor Paulo Otero levanta a questão do fundamento para a obediência aos
comandos ilegais se traduzir numa exceção ao princípio da legalidade. Conclui, aliás, que
não, porque resulta da própria lei ser legal o cumprimento de uma ordem ilegal. É uma
legalidade especial circunscrita ao âmbito interno da atividade administrativa. Porém, o
Professor Freitas do Amaral não concorda com esta teoria. Para este autor, as leis
ordinárias que imponham o dever de obediência a ordens ilegais só serão legítimas se, e
na medida em que, puderem ser consideradas conformes à CRP. Esta exige a
subordinação aos órgãos e agentes administrativos à lei (art. 266º, n.º2). Porém, há um
preceito constitucional que expressamente legitima o dever de obediência às ordens
ilegais que não impliquem a prática de um crime (art. 271º, n.º3). Conclui, pois, que o
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dever de obediência às ordens ilegais é uma exceção ao princípio da legalidade, mas é
uma exceção que é legitimada pela própria CRP.
Os atos administrativos consensuais são atos que resultam de uma anterior forma de
autovinculação bilateral da administração traduzida num acordo ou convenção com o(s)
destinatário(s) do ato – acordo endoprocedimental – visando a definição dos termos deste.
Por seu lado o ato administrativo (conceção do prof. Freitas do Amaral) é tido como o ato
jurídico unilateral praticado por um órgão da administração no exercício do poder
administrativo e que visa a produção de efeitos jurídicos sobre uma situação individual
num caso concreto.
A administração, nos atos consensuais, não deixa de prosseguir o interesse público, nem
ostentando o estatuto de “parte interessada”, deve aplicar-se-lhe o regime da atividade
unilateral da administração. A interpretação e modificação do ato deve processar-se com
especial respeito pelo princípio do contraditório e a revogação do ato pode constitui a
administração na obrigação de indemnizar o administrado em termos de danos
emergentes e de lucros cessantes.
(opinião minha: uma vez que que o ato administrativo consensual não é unilateral e
pressupõe um acordo é mais próximo de um contrato, até porque não se aplica o regime
da atividade unilateral)
Envolve o a obrigatoriedade de ser ouvido todo aquele contra o qual se desenvolve uma
atividade administrativa lesiva da liberdade e da propriedade.
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Este princípio determina que, em todas as matérias suscetíveis de envolver consequências
prejudiciais para os destinatários, os procedimentos devam ser estruturados no sentido de
garantir: a participação dos interessados na formação das decisões ou deliberações que
lhes digam respeito, podendo falar-se num direito “de se explicar”; efetivação do direito
ao contraditório, envolve várias faculdades para os interessados (direito de serem
notificados da audiência com antecedência para poder conhecer o caso e preparar a
defesa, direito de acesso aos documentos, direito efetivo de produção de meios de defesa
antes da decisão, direito a fazerem-se acompanhar de advogado); produção de uma
decisão final, adotada no respeito pelos postulados da igualdade e da imparcialidade;
fundamentação da decisão administrativa, indicando as razões de facto e de direito que
justificaram a solução; a emissão de uma decisão final dentro de um prazo razoável e
dotada de publicidade; o acesso à justiça administrativa, visando a defesa de posições
jurídicas lesadas por condutas procedimentais contrárias à legalidade.
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O equilíbrio financeiro do contrato é tanto mais importante, quanto maior a duração
previsível do vínculo contratual que se estabelece. O equilíbrio financeiro “consiste na
manutenção das bases económicas inerentes à realização pelo cocontratante das
prestações contratuais, vigentes à data da celebração do contrato, em obediência ao
princípio da honesta equivalência das prestações” (SILVA, 2010,p.196)
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Neste contexto, há duas distinções essenciais: se o ato administrativo é ou não constitutivo
de direitos, envolvendo a temática da segurança jurídica em torno dos direitos adquiridos;
se a situação de facto que se encontra na base da decisão administrativa é ou não variável,
sendo que falamos em caso decidido administrativo quando a situação de facto é
insuscetível de ser alterada no futuro (invariável).
O agir administrativo nem sempre assenta numa estrutura unilateral, existindo casos em
que este se expressa num ato multilateral, envolvendo um acordo entre duas (ou mais)
vontades, e adotando a forma final de um contrato.
O contrato administrativo pode extinguir-se por revogação, ou seja, por acordo mediante
o qual as partes extinguem o contrato (artigo 331º, do CCP), ou unilateralmente, através
da resolução (rescisão), que tanto pode ocorrer por iniciativa do cocontratante, como por
iniciativa do contraente público.
No que toca à segunda, tal como a sua designação indica, verifica-se por razões de
interesse público, que se inscrevem necessariamente na órbita das funções do Estado e da
Administração Pública. A resolução contratual com fundamento consagrado no artigo
334º do CCP, apresenta uma vertente objetiva, traduzida no emergir de novas
necessidades, e uma vertente subjetiva, manifestada na reponderação ou reavaliação das
circunstâncias preexistentes ou contemporâneas da decisão de contratar.
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Assim, o contraente público, na margem de discricionariedade que lhe assiste, reinterpreta
as necessidades resultantes do interesse público, bem como a adequação da sua
prossecução através do contrato, e conclui pela necessidade de pôr termo àquele, optando
pela via de resolução. Esta via apenas é possível mediante o pagamento ao cocontratante
de justa indemnização, correspondente aos danos emergentes e lucros cessantes (devendo,
quanto a estes, ser deduzido o benefício que resulte da antecipação dos ganhos previstos).
31. O ajuste direto e o concurso público na formação dos contratos têm fundamentos
distintos à luz dos princípios gerais do procedimento administrativo
O artigo 1º, nº4, do CCP diz-nos, desde logo, que os princípios aplicáveis à contratação
pública são os da transparência, da igualdade e da concorrência; por seu turno, as diretivas
comunitárias fazem referência aos princípios da igualdade de tratamento, da não
discriminação e da transparência.
Para a formação dos contratos cujo objeto abranja prestações que estão ou sejam
suscetíveis de estar submetidas à concorrência de mercado dispõe o n.º 1 do artigo 16.º,
do CCP que as entidades adjudicantes devem adotar um dos seguintes tipos de
procedimentos: (a) Ajuste direto; (b) Concurso público; (c) Concurso limitado por prévia
qualificação; (d) Procedimento de negociação; (e) Diálogo concorrencial.
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De acordo com a noção contida no artigo 112.º do CCP, o ajuste direto é o “procedimento
em que a entidade adjudicante convida uma ou várias entidades à sua escolha a apresentar
propostas, podendo com elas negociar aspetos da execução do contrato”. Assim, é o
procedimento mediante o qual a entidade adjudicante convida a apresentar proposta as
poucas empresas que livremente escolhe, excluindo quem não tenha sido convidado,
privilegiando-se certos operadores económicos.
Assim, através da escolha deste procedimento, não se garante o mais amplo acesso ao
procedimento, não se estimulando a máxima auscultação do mercado. Devido à sua
característica de procedimento fechado, mais facilmente colide com o princípio da
concorrência.
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Contrariamente, a contratação pública sustentável rege-se por alguns princípios de
atuação que passam pela adoção de estratégias que visem a racionalização do consumo
(público), privilegiem os produtos/serviços com menor impacto ambiental e social e
concretizem ideias economicamente sustentáveis.
Deste modo, o poder judicial tem a obrigação de não condenar o Estado à ruína,
procedendo a situações de levantamento da personalidade jurídica pública, procurando
não criar obrigações financeiras que onerem as gerações futuras – há, novamente, uma
vinculação ao princípio da sustentabilidade face às gerações futuras.
Ora, o princípio em causa não pode ser afastado do direito fundamental ao processo
equitativo, consagrado no artigo 6º, nº1, da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.
Assim, apesar de, em Portugal, a Constituição não consagrar expressamente este
princípio, tanta este como os seus subprincípios nucleares (informação, fundamentação
notificação e participação), têm sido acolhidos pela jurisprudência constitucional, deles
se extraindo a existência de um princípio implícito de justo procedimento.
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Assim, não falamos de princípio geral de Direito Administrativo, que apenas teria como
consequência da sua violação a mera anulabilidade. Falamos sim de um direito
fundamental ao procedimento administrativo, resultante do artigo 41º da Carta Dos
Direitos Fundamentais da União Europeia, estando o Estado português sujeito à sua
aplicação, por via da sua vinculação ao Direito da União Europeia (assim, este princípio
tem origem europeia/federativa). É, ainda, acolhido constitucionalmente, através da
cláusula aberta do artigo 16º, nº1, CRP.
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