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PAULO OTERO, “Direito do procedimento administrativo, Volume I “(1ª edição, 2016), pp.106
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PAULO OTERO, “Manual de direito administrativo, Volume I” (2019), pp.63
administrativo e o conteúdo da decisão final. A aplicação deste princípio, só será
possível nos casos elencados na letra do ART.163º/5 CPA, dos quais3:
Para além da tipificação não expressa no ART.163º/5 CPA, podemos encontrar alguns
exemplos deste princípio na ordem jurídica portuguesa, nomeadamente no ART.199º do
Código do processo civil, quando prevê a possibilidade de aproveitamento do ato
processual em caso de erro na forma do processo desde que não diminua as garantias do
Réu.
Os atos anuláveis podem ainda ser revogados (ARTS.136º e 138º CPA), no prazo de um
ano. O decurso do prazo em questão tem sido alvo de alguma divergência doutrinária,
tendo em conta que o ato anteriormente inválido acaba por se consolidar na ordem
jurídica, levando a que FREITAS DO AMARAL 4 defenda que o ato acaba por se sanar
simplesmente pelo decurso do prazo, equiparando-se a um ato válido”. Já VASCO
PEREIRA DA SILVA5 defende que o mero decurso deste prazo não deverá validar o
ato administrativo anulável, impossibilitando apenas a sua impugnação judicial, sendo
que tal não invalidará a possibilidade de apreciação de ilegalidade para efeitos de
responsabilidade civil, nos termos do ART.38º do código do Processo nos Tribunais
Administrativos (doravante CPTA).
3
https://dre.pt/dre/lexionario/termo/principio-aproveitamento-ato-administrativo
4
FREITAS DO AMARAL, “curso de direito administrativo”, Vol. II, pp.464 - 465
5
VASCO PEREIRA DA SILVA, “em busca do ato administrativo perdido”, Almedina, Coimbra 1998
1.2 O “costume jurisprudencial” no princípio do aproveitamento do ato
administrativo anulável
“(...) a averiguar se houve violação do artº100º do CPA, falta de audiência prévia, e a tal
acontecer qual a repercussão na validade do ato contenciosamente impugnado.
(...) O artº103º vem tipificar as situações em que a formalidade referida não é exigível e os casos
em que pode ser dispensada. (...) Não se afigura, em face da matéria dos autos, que se verifique
qualquer das situações enunciadas - de inexistência ou dispensa de audiência prévia. A
audiência dos interessados configura uma formalidade essencial cuja preterição determina a
invalidade do ato praticado no procedimento em que esta foi preterida. (...) A desvalorização
dos vícios de forma pode ocorrer por uma de duas vias, a saber, a degradação de formalidades
essenciais em não essenciais e a desvalorização dos vícios formais(...). Olhando a matéria dos
autos, não se afigura demonstrado que a finalidade da formalidade preterida tenha sido
alcançada por qualquer forma, não havendo lugar à degradação do vício (...)”6
“O Recorrente sustenta que para o caso de se entender que a decisão administrativa devia conter
a referência expressa á legislação aplicável e uma expressa indicação das cláusulas contratuais
violadas, como entendeu o tribunal a quo, sendo consequentemente anulável por enfermar de
vicio de forma por falta de fundamentação de direito, então devia aquele tribunal ter decidido
aproveitar o ato impugnado, ao abrigo da teoria do aproveitamento dos atos administrativos.
A jurisprudência dos tribunais superiores desta jurisdição tem entendido que «o tribunal pode
negar relevância anulatória ao vício» se ficar convencido que «a representação errónea dos
factos ou do direito aplicável não interferiu com o conteúdo da decisão administrativa porque
não afetou as ponderações» Cfr. Ac. do STA, de 07.02.2002, processo n.º 46611 e CJA, n.º101,
Set./Out. 2013, pág.65. compreendidas na discricionariedade ao mesmo tempo que, sendo o ato
vinculado, o seu conteúdo seria sempre o que foi mesmo que os vícios não existissem.
http://www.gde.mj.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/aa17f1476d8618758025790900315
3f2?OpenDocument&ExpandSection=1
Determina-se no n.º 5 do art.º 163.º do CPA que o tribunal não invalide o ato, ou o contrato,
quando se demonstre inequivocamente que o vício de que padece não implicaria uma
modificação subjetiva, nem uma alteração do seu conteúdo essencial. Para aferirmos se no caso
existe a referida identidade de conteúdo entre o ato anulável e o que teria sido proferido caso o
IFAP tivesse fundamentado a decisão proferida á luz das disposições legais aplicáveis, importa
verificar se de acordo com a disciplina legal aplicável, em face dos factos apurados, só aquela
decisão se impunha que tivesse sido adotada.(...)Deste modo, não sendo seguro que a concreta
decisão de restituição das ajudas não podia ser outra, não estão reunidas as condições para o
aproveitamento do ato.”7
“b) O fim visado pela exigência procedimental ou formal preterida tenha sido alcançado por
outra via”
10
“o aproveitamento do ato decorreria da admissão «inevitável» de que «os sectores da
administração de massas (...) nem sempre estão em posição de aplicar ou respeitar todos os requisitos
de legalidade, pelo que, de modo a «salvaguardar a capacidade funcional da administração em face da
escassez de recursos», deveria passar a tolerar-se «uma certa inobservância das regras administrativas,
», conducente, afinal ao reconhecimento jurídico de uma «ilegalidade justificada pela função» - ANDRÉ
SALGADO DE MATOS, A invalidade do ato administrativo no projeto de revisão do CPA, Cadernos de
Justiça Administrativa, n. o100 (Jul-Ago), 2013,p. 64.
11
MARCELO REBELO DE SOUSA /ANDRÉ SALGADO DE MATOS, Direito Administrativo Geral,
Tomo III, 2010, p. 56.
12
Esta rejeição total ao princípio do aproveitamento do ato administrativo inválido, sobrevaloriza
os vários momentos do procedimento administrativo, descurando qualquer relevância à economia
processual e eventual ponderação dos interesses com vista a alcançar a defesa do interesse público e a
defesa dos interesses legalmente protegidos dos particulares
o Abarca os atos administrativos, atendendo-se verdadeiramente à finalidade do
ato administrativo e não às formalidades que compõem o mesmo.
o MÁRIO AROSO DE ALMEIDA refere que nesta alínea não se exige que o ato
seja vinculado, mas sim que todos os valores protegidos pela norma
procedimental ou formal violada tenham sido assegurados por uma outra via,
por forma a verificarmos que a ilegalidade em questão não teve qualquer efeito
sobre a decisão e o seu conteúdo, pelo que seria desnecessário dar relevância à
invalidade em questão.
o Circunscreve a sua aplicação às situações em que exista violação de regras
formais ou procedimentais, exigindo- se “os valores protegidos pela norma
procedimental ou formal violada tenham sido assegurados por outra via, de
modo a poder afirmar-se que a ilegalidade cometida não teve qualquer efeito
sobre a substância da decisão, pelo que não se justifica que tenha relevância
invalidante em relação a ela”.13
o A doutrina e a jurisprudência consideram que estamos diante do mecanismo da
“degradação das formalidades essenciais em não essenciais”
“c) Se comprove, sem margem para dúvidas, que, mesmo sem o vício, o ato teria sido
praticado com o mesmo conteúdo.”
13
MÁRIO AROSO DE ALMEIDA, Teoria Geral do Direito Administrativo, 2015, cit., p.278.
14
CARVALHO, ANA CELESTE - A anulação e o princípio do aproveitamento do ato administrativo in O Novo Código do
procedimento Administrativo, CEJ, Lisboa, 2016
implementação progressiva do princípio do aproveitamento dos atos administrativos e
na consequente liberalização na aceitação da “degradação” da invalidade dos atos
administrativos, conduzindo à referida reforma de 2015 do CPA.
Bibliografia
https://dre.pt/dre/lexionario/termo/principio-aproveitamento-ato-administrativo
https://www.icjp.pt/sites/default/files/media/1004-2427.pdf
https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/39355/1/ulfd139118.pdf
http://julgar.pt/wp-content/uploads/2015/05/JULGAR-26-01-Carlos-Cadilha-Implicações-Novo-
regime-CPTA.pdf
https://e-publica.pt/api/v1/articles/34493-algumas-reflexoes-sobre-o-artigo-163-n-5-do-cpa-o-
novo-principio-do-aproveitamento-do-acto-administrativo.pdf.
VASCO PEREIRA DA SILVA, “em busca do ato administrativo perdido”, Almedina, Coimbra
1998