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Processo: 0801882-25.2020.4.05.8200
Autora: EDIJANE RAMOS NAZARENO
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL e FUNDO DE ARRENDAMENTO
Rés:
RESIDENCIAL – FAR.
CONTESTAÇÃO
com o intuito de apresentar a realidade dos fatos, impugnando a petição inicial em todos os seus
termos, o que faz pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:
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1. PRELIMINARMENTE
É fundamental esclarecer que o bem não foi construído pela CEF, muito menos
foi ela a vendedora do imóvel, fugindo de sua órbita a legitimidade para responder pelos vícios
apontados na inicial.
2 - Papel exercido pelo agente financeiro que é delineado conforme o caso, não se
aplicando a função social da CEF, por exemplo, a todos os contratos em que figure
como agente, sendo possível, inclusive, a realização do financiamento, diretamente
ao particular que, não precisa ser, necessariamente, hipossuficiente. A CEF não é
parte legítima para figurar no polo passivo de demanda que verse sobre vícios
redibitórios, já que não tem que responder por vícios na construção de imóvel
financiado com recursos do SFH.
5 - CEF que aparece apenas como financiadora, em sentido estrito, não tendo
responsabilidade sobre a perfeição do trabalho realizado pela construtora
escolhida, a qual responde pela obra. A responsabilidade do agente financeiro,
em caráter solidário, enseja previsão contratual e gera obrigação de fiscalizar.
Esse não é o caso dos autos.
6 - CEF que tem o direito e não o dever de fiscalizar, podendo ensejar sanções
administrativas, mas não ser invocado pela construtora, pela seguradora ou
pelos adquirentes das unidades para a sua responsabilização direta e solidária
por eventuais vícios de construção. Só no caso de financiamento referente aos
programas de política de habitação social, em que a CEF atua como agente
executor, operador ou financeiro, de acordo com a legislação específica a cada
caso, concedendo financiamentos a entidades organizadoras ou a mutuários
finais é que se pode identificar hipóteses em que haja culpa da CEF na
construção. Só a parceria com a construtora pode ensejar a responsabilidade
solidária.
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7 - STJ que já decidiu que, nas hipóteses em que a CEF atua na condição de
agente financeiro em sentido estrito, não ostenta legitimidade para responder
pelos vícios de construção na obra financiada. Responsabilidade contratual que
diz respeito apenas ao cumprimento do contrato de financiamento -liberação do
empréstimo, nas épocas acordadas, e à cobrança dos encargos estipulados no
contrato.
Como mencionada anteriormente, o interesse de agir é requisito processual que deve ser
analisado em três dimensões: necessidade, utilidade e adequação.
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O interesse em agir, ou interesse processual, é uma condição da ação com previsão legal
expressa (CPC, art. 17 do CPC), que possui três aspectos: utilidade, adequação e necessidade.
Objetivando melhor compreensão dos aspectos, elenco trechos do voto do Min. ROBERTO
BARROSO no RE 631.240/MG:
[...] 7. A utilidade significa que o processo deve trazer proveito para o autor,
isto é, deve representar um incremento em sua esfera jurídica. Assim, por
exemplo, diz-se que não tem interesse em recorrer a parte que obteve
provimento totalmente favorável. Em tal hipótese, eventual recurso não
será conhecido, ou seja, não terá o mérito apreciado.
“Para que haja interesse de agir, é preciso que a ação seja necessária, o
que só ocorre quando o direito alegado não puder ser alcançado
administrativamente, ou seja, antes do Judiciário ser instado a se
pronunciar, a parte adversa deve ter recusado a pretensão, sob pena de
transferência para o Judiciário de um papel que não lhe compete, qual seja,
a análise primária de requerimentos administrativos.” (grifo nosso)
No caso específico do caso tratado nos autos, existe um índice de resolubilidade de 80%, no
atendimento do “Programa de Olhe na Qualidade” Minha Casa Minha Vida, não se justificando
interpor ação judicial, sem antes oportunizar a solução pela construtora e intermediação pela CEF.
No caso em tela, verifica-se que não foi submetido à análise desta Empresa Pública, pedidos
relacionados à pretensão abordada nos autos, inexistindo, assim, recusa ou resistência à pretensão.
Nobre Julgador, o (a) promovente não faz jus a nenhum ressarcimento a título de
danos materiais, conforme explica-se abaixo:
PISO:
Cerâmica esmaltada em banheiro e cozinha / área de serviço, com rodapé. Cimentado nas demais
áreas internas. Nas áreas comuns (hall) e escadas, piso cimentado.
PAREDES:
Azulejo no box e na parede hidráulica do banheiro até a altura de 1,50m. Barrado impermeável
sobre a pia e o tanque.
Em primeiro lugar, importa informar que a colocação de calhas não estava prevista
no projeto do empreendimento desde o início.
Vale salientar que a Norma NBR 15.575 entrou em vigor no ano de 2013 e a
obra foi entregue em 06/09/2012, ou seja, não cabe a aplicação da referida norma ao
empreendimento em questão.
Portanto, a ausência dos aludidos itens não constitui falha de construção. Na
verdade, são parâmetros definidos para o tipo de imóvel construído, em conformidade com o
orçamento aprovado para tanto, sem, no entanto, constituir descumprimento das exigências
técnicas para construção, tanto é que o empreendimento foi devidamente aprovado pelas
autoridades públicas encarregadas de fiscalizar o atendimento das normas técnicas de
construção e conceder o HABITE-SE.
Vale ressaltar ainda que os contratos objetos dos autos são integralmente subsidiados
com recursos oriundos do FAR, do qual os mutuários adquirem o imóvel pagando módica quantia
mensal.
O FAR tem como uma das finalidades a cobertura, prevista na Lei, para os
financiamentos de Compra e Venda de Imóvel e de Produção de Empreendimento Habitacional no
Programa Minha Casa Minha VIDA - PMCMV para famílias com renda de 0 a 3 SM, dentro do
Programa de Arrendamento Residencial - PAR. Tem, portanto, como objetivo reduzir o déficit
habitacional em municípios, viabilizando imóveis residenciais para famílias de classes menos
favorecidas.
O PMCMV, nesse caso, funciona da seguinte forma: a União aloca os recursos por
UF levando em consideração o déficit habitacional, as construtoras apresentam projetos em parceria
com Estados, Municípios, ou independentemente, a CAIXA analisa projetos e contrata as obras
(processo semelhante ao PAR) e os Estados e Municípios indicam famílias a serem atendidas. Por
fim, as famílias assinam o contrato, por 10 anos de aquisição, pelo FAR, de empreendimentos na
planta, que depois de concluídos são alienados às pessoas físicas.
Cumpre informar que tais valores estão dispostos no corpo da inicial sem
nenhum zelo, conforme trecho abaixo:
Portanto, caso realmente restem comprovados vícios construtivos, não deve ser
acolhido o valor pedido pelo(a) promovente a título de reparação.
A CAIXA, caso entenda este Juízo pela configuração de vícios construtivos no caso
em análise, o que se admite por argumentação, evidenciará que nenhuma responsabilidade lhe pode
ser atribuída, no que respeita à recuperação do imóvel.
Art . 19. Quando a concepção geral que caracteriza um plano ou, projeto
for elaborada em conjunto por profissionais legalmente habilitados, todos
serão considerados co-autores do projeto, com os direitos e deveres
correspondentes. (g.n.)
A própria Lei 6496/77, em seu art. 2.º estabelece que a ART definirá, "para os
efeitos legais os responsáveis técnicos pelo empreendimento de engenharia, arquitetura e
agronomia".
Neste passo, convém trazer à baila o art. 265 do Código Civil, que estabelece de
forma expressa que, "a solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes".
Diante de tão clara disposição legal não há como ter dúvidas. A CAIXA jamais pode
ser responsabilizada pelos danos decorrentes dos vícios de construção, nem mesmo em caráter de
solidariedade, seja por absoluta falta de previsão legal, seja por ausência de previsão contratual
nesse sentido.
Neste caso, resta evidente que a ação deveria ter sido proposta apenas contra o
construtor, pois se este descumpriu as normas técnicas de construção, as quais estava obrigado
seguir, deve assumir as consequências de sua conduta. Não tendo a CAIXA, assim, qualquer
responsabilidade pelos danos pleiteados, eis não praticou qualquer ato ilícito a ensejar indenização.
Consoante exposto acima, a CAIXA tem plena convicção de que não possui
qualquer responsabilidade pelos problemas apresentados no imóvel.
Nos termos do art. 896 do Código Civil/2002, a solidariedade não se presume, mas
resulta da lei ou da vontade das partes. Diante de tão clara disposição legal, não há como ter
dúvidas. A eventual responsabilidade do agente financeiro jamais poderá ter caráter de
solidariedade, seja por absoluta falta de previsão legal, seja por ausência de previsão contratual
nesse sentido.
Pela natureza dos danos narrados na inicial, e se considerando que o imóvel foi
adquirido há menos de quatro anos, e, ainda, o prazo de garantia da obra para quaisquer vícios
decorrentes de construção, conclui-se que a responsabilidade por eventuais danos, se é que estes
existem, somente poderiam ser atribuídas ao construtor, ao alienante e, em última análise, ao
garante.
3. REQUERIMENTOS FINAIS
4) Acaso afastadas as preliminares, o que aqui não se espera, requer que seja
reconhecida a TOTAL IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS PLEITEADOS NA INICIAL,
com a consequente condenação da parte promovente em custas processuais e honorários
advocatícios;
5) Uma vez considerando este juízo que assiste razão à parte autora, o que não se
espera, requer que seja levado em consideração o laudo judicial acostado aos autos, cujo montante
para reparação dos vícios não ultrapassa o montante de R$ 4.438,19 (Quatro mil, quatrocentos e
vinte e oito reais e dezenove centavos).