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AO JUÍZO DA 1ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

Processo: 0801882-25.2020.4.05.8200
Autora: EDIJANE RAMOS NAZARENO
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL e FUNDO DE ARRENDAMENTO
Rés:
RESIDENCIAL – FAR.

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, instituição financeira sob a forma de


empresa pública, dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada pelo Decreto-Lei
nº 759/69, alterado pelo Decreto-Lei n º 1.259/93, e constituída pelo Decreto n º 66.303/70,regendo-
se atualmente através de seu Estatuto aprovado pelo Decreto nº 5.056/04, arquivado na Junta
Comercial do Distrito Federal, inscrita no CNPJMF sob o nº 00. 360.305/0001-04, com sede no
SBS, Quadra 04, Lote 34, Brasília-DF, por sua Superintendência de Negócios Institucionais – João
Pessoa/PB, cuja Unidade Jurídica se situa na Av. Governador Flávio Ribeiro Coutinho, 115, 2º
andar, MAG Shopping, Manaíra, João Pessoa/PB, 58037-000, onde receberá as intimações e
publicações, por meio do advogado infra-assinado (instrumento de mandato em anexo) e FUNDO
DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL - FAR, fundo financeiro de natureza privada, CNPJ
03.190.167/0001-50, Sbs Q. 04 Lotes, 3/4, 21 Andar Ed. Matriz Asa Sul, Brasília DF, CEP 70092-
900, onde receberão as intimações e publicações, por meio da advogada infra-assinada, tendo sido
citados para os termos da ação em epígrafe, vem, perante Vossa Excelência, apresentar sua

CONTESTAÇÃO

com o intuito de apresentar a realidade dos fatos, impugnando a petição inicial em todos os seus
termos, o que faz pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:
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1. PRELIMINARMENTE

1.1 – DA ILEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL –


RESPONSABILIDADE CIVIL DA CONSTRUTORA C3 ENGENHARIA

De antemão cumpre informar que a presente demanda, em nada diverge de


inúmeras outras semelhantes ajuizadas em face da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, seja no ano
corrente, seja em anos anteriores.
Tais ações idênticas, COSTUMAVAM SER AJUIZADAS na forma de
litisconsortes passivo, em face da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL e da C3 ENGENHARIA
pessoa jurídica de direito privado, constituída sob a forma de sociedade por quotas de
responsabilidade limitada, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 083.859.480001-14 com sede na Rua
Ângelo Varela. Nº 1127 - Tirol, CEP: 59015-010 - Natal, Rio Grande do Norte, diante de tal
ajuizamento, eram costumeiramente EXTINTAS SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO,
INCLUSIVE PELA 1ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA, pois a
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL era naturalmente excluída do polo passivo de tais
demandas e em decorrência lógica, era reconhecida a incompetência absoluta deste juízo para
processar e julgar tais casos.

O entendimento supracitado, firmado pela supracitada vara, pode ser verificado


em inúmeras ações semelhantes, em especial nos autos de n° 0801997-17.2018.4.05.8200 e
0803443-94.2014.4.05.8200, que se encontram anexados aos presentes autos.

Diante da tradição deste douto juízo, merece ser reconhecida a


ilegitimidade passiva da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, tendo em vista que em tais
situações, a CEF apenas atua como agente financeiro, viabilizando a compra do imóvel através de
financiamento, haja vista que a participação na execução da obra só restaria caracterizada se ela
tivesse elaborado o projeto com todas as especificações, escolhido a construtora e negociado o
imóvel diretamente, o que não aconteceu.

Portanto, não é suficiente para sua responsabilização o fato da mesma, em


tese, fiscalizar o atendimento do disposto no art. 5.º-A da Lei n.º 11.977/2009, na redação
dada pela Lei n.º 12.424/2011, razão pela qual NÃO DEVE RESPONDER
AUTOMATICAMENTE POR EVENTUAIS VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO, A CARGO DA
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CONSTRUTORA E SEU CONSTRUTOR RESPONSÁVEL, impondo-se o reconhecimento


de sua ilegitimidade para figurar no polo passivo do presente feito.

Cumpre ainda ressaltar que, com o correto reconhecimento da ilegitimidade


passiva da CAIXA para figurar como demandada no presente caso, a parte demandante teria
que exigir dos verdadeiros responsáveis, eventuais indenizações/reparações, a saber,
CONSTRUTORA C3 ENGENHARIA e o CONSTRUTOR responsável pelo empreendimento.

É fundamental esclarecer que o bem não foi construído pela CEF, muito menos
foi ela a vendedora do imóvel, fugindo de sua órbita a legitimidade para responder pelos vícios
apontados na inicial.

Nesse sentido, aponte-se os seguintes julgados:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO.


RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO AGENTE FINANCEIRO POR
DEFEITOS NA OBRA ILEGITIMIDADE RECONHECIDA. PRECEDENTE.
1. A responsabilidade advém de uma obrigação preexistente, sendo aquela um
dever jurídico sucessivo desta que, por sua vez, é dever jurídico originário.
2. A solidariedade decorre de lei ou contrato, não se presume (art.265, CC/02).
3. Se não há lei, nem expressa disposição contratual atribuindo à Caixa
Econômica Federal o dever jurídico de responder pela segurança e solidez da
construção financiada, não há como presumir uma solidariedade.
4. A fiscalização exercida pelo agente financeiro se restringe à verificação do
andamento da obra para fins de liberação de parcela do crédito financiado à
construtora, conforme evolução das etapas de cumprimento da construção. Os
aspectos estruturais da edificação são de responsabilidade de quem os executa, no
caso, a construtora. O agente financeiro não possui
ingerência na escolha de materiais ou avaliação do terreno no qual que se pretende
erguer a edificação.
5. A Caixa Econômica Federal é parte ilegítima para figurar no pólo passivo
de ação indenizatória que visa o ressarcimento por vícios na construção de
imóvel financiado com recursos do SFH, porque nesse sistema não há
obrigação específica do agente financeiro em fiscalizar, tecnicamente, a solidez
da obra.
6. Recurso especial que se conhece, mas nega-se provimento.
(REsp 1043052/MG, Rel. Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP), QUARTA TURMA, julgado
em 08/06/2010,DJe 09/09/2010)

ADMINISTRATIVO. PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS


E MORAIS, EM FACE DA CEF E DA SULAMÉRICA COMPANHIA
NACIONAL DE SEGUROS. IMÓVEL FINANCIADO. VÍCIOS DE
CONSTRUÇÃO. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO AGENTE
FINANCEIRO. ILEGITIMIDADE PASSIVA "AD CAUSAM" DA CEF.
EXCLUSÃO DO FEITO. SENTENÇA ANULADA. CONTENDA ENTRE
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PARTICULARES QUE DEVE TRAMITAR NA JUSTIÇA ESTADUAL.


REMESSA DOS AUTOS.

1 - Atuação da CEF, como agente financeiro, nos financiamentos da casa própria,


que nem sempre lhe responsabiliza por eventuais vícios da construção. Existência
de diversas modalidades de tipo legal e contratual de "negócio de aquisição da casa
própria" no SFH, as quais abrangem imóveis de alta, média, baixa e baixíssima
renda, estando cada linha de financiamento sujeita a regime legal e contratual
diverso, conforme seja para aquisição, construção ou mesmo reforma e, também, o
limite do valor a ser financiado, o momento da contratação do mútuo (antes,
durante
ou depois de concluída a obra) e a construtora.

2 - Papel exercido pelo agente financeiro que é delineado conforme o caso, não se
aplicando a função social da CEF, por exemplo, a todos os contratos em que figure
como agente, sendo possível, inclusive, a realização do financiamento, diretamente
ao particular que, não precisa ser, necessariamente, hipossuficiente. A CEF não é
parte legítima para figurar no polo passivo de demanda que verse sobre vícios
redibitórios, já que não tem que responder por vícios na construção de imóvel
financiado com recursos do SFH.

3 - Questão da legitimidade passiva, em comento, que sempre depende do tipo


de financiamento e das obrigações a cargo do agente financiador que pode
agir como agente financeiro em mútuos concedidos fora do SFH: (1)
meramente como agente financeiro em sentido estrito, assim como as demais
instituições financeiras públicas e privadas, na concessão de financiamentos
com recursos do SBPE (alta renda) e do FGTS (média e alta renda); e (2)
como agente executor de políticas federais para a promoção de moradia para
pessoas de baixa ou baixíssima renda. Precedente do STJ no REsp nº
897045/RS (DJe 15/04/2013).

4 - No caso de ser um mero agente financeiro, não há como lhe atribuir


responsabilidade por eventual defeito de construção da obra financiada, pois a
circunstância do contrato de financiamento ser celebrado durante a
construção, ou no mesmo instrumento do contrato de compra e venda, firmado
com o vendedor, não implica a responsabilidade do agente financeiro pela
solidez e perfeição da obra, vez que as obrigações de construir e de fornecer os
recursos para a obra são diferentes, autônomas e sujeitas a leis e contratos
próprios.

5 - CEF que aparece apenas como financiadora, em sentido estrito, não tendo
responsabilidade sobre a perfeição do trabalho realizado pela construtora
escolhida, a qual responde pela obra. A responsabilidade do agente financeiro,
em caráter solidário, enseja previsão contratual e gera obrigação de fiscalizar.
Esse não é o caso dos autos.

6 - CEF que tem o direito e não o dever de fiscalizar, podendo ensejar sanções
administrativas, mas não ser invocado pela construtora, pela seguradora ou
pelos adquirentes das unidades para a sua responsabilização direta e solidária
por eventuais vícios de construção. Só no caso de financiamento referente aos
programas de política de habitação social, em que a CEF atua como agente
executor, operador ou financeiro, de acordo com a legislação específica a cada
caso, concedendo financiamentos a entidades organizadoras ou a mutuários
finais é que se pode identificar hipóteses em que haja culpa da CEF na
construção. Só a parceria com a construtora pode ensejar a responsabilidade
solidária.
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7 - STJ que já decidiu que, nas hipóteses em que a CEF atua na condição de
agente financeiro em sentido estrito, não ostenta legitimidade para responder
pelos vícios de construção na obra financiada. Responsabilidade contratual que
diz respeito apenas ao cumprimento do contrato de financiamento -liberação do
empréstimo, nas épocas acordadas, e à cobrança dos encargos estipulados no
contrato.

8 - Corte Superior que firmou o entendimento de que, inexistindo lei ou expressa


disposição contratual atribuindo à CEF o dever jurídico de responder pela
segurança e solidez da construção financiada, não há como presumir uma
solidariedade. Aspectos estruturais da edificação que são de responsabilidade de
quem os executa. CEF que não possui ingerência na escolha de materiais ou
avaliação do terreno no qual que se pretende erguer a edificação.

9 - Preliminar de ilegitimidade passiva "ad causam" suscitada pela CEF


acolhida, para excluí-la do feito. Contenda entre particulares. Encaminhamento
dos autos à Justiça Estadual -foro adequado para o processamento da causa
objeto da ação.

10 - Apelação Cível da CEF provida, para anular a sentença e determinar a


remessa dos autos à douta Justiça Comum Estadual, para os fins pertinentes.
Apelação da Sul América Companhia Nacional de Seguros prejudicada.

(AC 00010897020124058501, Desembargadora Federal Joana Carolina Lins


Pereira, TRF5 - Terceira Turma, DJE - Data::07/05/2013 - Página::211.)

Diante do exposto, é imperioso que seja reconhecido que a CAIXA


ECONÔMICA FEDERAL é parte ilegítima para figurar polo passivo da presente lide, tendo em
vista que a solidariedade da responsabilidade não pode ser presumida, decorrendo apenas de lei ou
de previsão contratual, nos termos do art. 265, do CC/02. Portanto, é parte legitima para responder
por eventuais prejuízos a Construtora C3 Empreendimentos e o Construtor, responsáveis técnicos
pela concepção e execução da obra, inclusive suas consequências.

Assim sendo, pede-se a exclusão da Caixa do polo passivo da presente


demanda, com fulcro no art. 485, inciso VI do CPC.

1.2 - DA IMPOSSIBILIDADE DE ACORDO

Considerando o comando inserto no art. 334 do Novo Código de Processo


Civil, bem como alinhando à política conciliatória sempre trilhada por esta empresa pública na
resolução de seus conflitos judiciais, informa o réu que a matéria tratada nestes autos não se
encontra na esfera da política de acordo da instituição, havendo impossibilidade de se transacionar
no presente caso.
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1.3 – DA FALTA DE INTERESSE DE AGIR

Cumpre informar que a presente demanda não possui condições de ser


analisada no mérito, tendo em vista a falta de interesse de agir da parte autora.

Pela leitura da exordial, verifica-se que a demanda refere-se ao Residencial


Irmã Dulce. Tendo em vista as diversas denúncias e ações judiciais dos mutuários em relação ao
referido empreendimento, foi gerada uma apuração por parte do Ministério Público Federal por
meio do Inquérito Civil nº 1.24.000.000420/2013-21.

Em resposta ao inquérito supracitado, a CAIXA solicitou por diversas vezes o


posicionamento da Construtora C3 Engenharia, porém esta se negou a fazer os reparos dos vícios
de construção, razão pela qual foi negativada no CONRES - Cadastro Informativo de Pessoas
Físicas e Jurídicas com Relacionamento com a CAIXA, conforme documento em anexo.

Ato contínuo, a instituição bancária, ora ré, se disponibilizou a providenciar


contratação de empresa visando resolver as pendências deixadas pela construtora, consoante se
observa em resposta ao ofício 6088 MPF, em anexo.

Ressalta-se que o Ministério Público Federal tem acompanhado de perto


todos os fatos.

O Código de Processo Civil prevê, em seu art. 17, determinados pressupostos


processuais necessários, que consistem no interesse e na legitimidade. O interesse de agir é
requisito processual que deve ser analisado em três dimensões: necessidade, utilidade e
adequação.

Há utilidade quando o processo pode proporcionar ao demandante o resultado


favorável pretendido. Já a existência da necessidade da jurisdição fundamenta-se na premissa de
que a jurisdição tem de ser encarada como última forma para a solução do conflito.
Finalmente, o interesse de agir como adequação se traduz na
idoneidade/congruência do instrumento processual ao pedido formulado, isto é, deve o
demandante utilizar o meio processual adequado à resolução do pedido.

No caso em tela, como se pode observar pelas alegações da exordial, a


parte autora objetiva o pagamento da reforma do imóvel, eliminando todos os vícios
construtivos, entretanto, não restam dúvidas de que a parte requerente carece de interesse de
agir na modalidade necessidade.

Assim sendo, requer a Caixa o reconhecimento da falta de interesse de agir da


parte autora e consequente extinção do processo sem resolução do mérito, nos termos do art. 485,
VI do CPC/15.

1.3.1 - DA FALTA DE INTERESSE DE AGIR: AUSÊNCIA DE NEGATIVA


ADMINISTRATIVA

Como mencionada anteriormente, o interesse de agir é requisito processual que deve ser
analisado em três dimensões: necessidade, utilidade e adequação.
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Segundo a doutrina de Luiz Guilherme Marinoni, Teoria geral do processo, 2013, p.


191/192, as condições incidem não propriamente sobre o direito de ação exercido sempre que se
provoca o Judiciário, mas sim sobre o seu regular exercício, o que é necessário para um
pronunciamento de mérito.

O interesse em agir, ou interesse processual, é uma condição da ação com previsão legal
expressa (CPC, art. 17 do CPC), que possui três aspectos: utilidade, adequação e necessidade.
Objetivando melhor compreensão dos aspectos, elenco trechos do voto do Min. ROBERTO
BARROSO no RE 631.240/MG:

[...] 7. A utilidade significa que o processo deve trazer proveito para o autor,
isto é, deve representar um incremento em sua esfera jurídica. Assim, por
exemplo, diz-se que não tem interesse em recorrer a parte que obteve
provimento totalmente favorável. Em tal hipótese, eventual recurso não
será conhecido, ou seja, não terá o mérito apreciado.

8. A adequação, por sua vez, traduz a correspondência entre o meio


processual escolhido pelo demandante e a tutela jurisdicional pretendida.
Caso não observada a idoneidade do meio para atingir o fim, não pode haver
pronunciamento judicial de mérito, uma vez que o requerente carece de
interesse na utilização daquela via processual para os objetivos almejados.
Por exemplo: caso o autor pretenda demonstrar sua incapacidade para o
trabalho por prova pericial, não poderá lançar mão de mandado de
segurança, ação que inadmite dilação probatória.

9. A necessidade, por fim, consiste na demonstração de que a atuação do


Estado-Juiz é imprescindível para a satisfação da pretensão do autor. Nessa
linha, uma pessoa que necessite de um medicamento não tem interesse em
propor ação caso ele seja distribuído gratuitamente. [...]

[...]11. Como se percebe, o interesse em agir é uma condição da ação


essencialmente ligada aos princípios da economicidade e da eficiência.
Partindo-se da premissa de que os recursos públicos são escassos, o que
se traduz em limitações na estrutura e na força de trabalho do Poder
Judiciário, é preciso racionalizar a demanda, de modo a não permitir o
prosseguimento de processos que, de plano, revelem-se inúteis,
inadequados ou desnecessários. Do contrário, o acúmulo de ações
inviáveis poderia comprometer o bom funcionamento do sistema judiciário,
inviabilizando a tutela efetiva das pretensões idôneas. [...] (grifo nosso)

A exigência de prévio requerimento administrativo se leciona com o interesse de agir


sob o aspecto da necessidade, para provocar a inércia do Judiciário, obrigatoriamente à parte
autora tem que comprovar que a ação é necessária. Se esse não tiver sido demonstrado, não
deve a demanda prosseguir.

Vejamos o trecho da sentença prolatada em conformidade com o ordenamento jurídico


brasileiro:
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“Para que haja interesse de agir, é preciso que a ação seja necessária, o
que só ocorre quando o direito alegado não puder ser alcançado
administrativamente, ou seja, antes do Judiciário ser instado a se
pronunciar, a parte adversa deve ter recusado a pretensão, sob pena de
transferência para o Judiciário de um papel que não lhe compete, qual seja,
a análise primária de requerimentos administrativos.” (grifo nosso)
No caso específico do caso tratado nos autos, existe um índice de resolubilidade de 80%, no
atendimento do “Programa de Olhe na Qualidade” Minha Casa Minha Vida, não se justificando
interpor ação judicial, sem antes oportunizar a solução pela construtora e intermediação pela CEF.

No caso em tela, verifica-se que não foi submetido à análise desta Empresa Pública, pedidos
relacionados à pretensão abordada nos autos, inexistindo, assim, recusa ou resistência à pretensão.

Igualmente, está comprovado o alto índice de solução administrativa para a pretensão da


parte autora, de forma que não merece ser analisada.

1.4 DA IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA

A parte requerente ao atribuir o valor da causa arbitrou quantia de R$ 41.604,35 (Quarenta e


um mil, seiscentos e quatro reais e trinta e cinco centavos), quantia está absolutamente irrazoável,
mormente quando posta em contesto com os fatos narrados na inicial, pautada meramente em
parâmetros oriundos do seu próprio imaginário.

No intuito de trazer a veracidade dos fatos, a CAIXA apresenta LAUDO


PERICIAL realizado pelo PERITO JUDICIAL, ENGENHEIRO CIVIL ROMMEL
BEZERRA PAIVA, CREA/PB n° 160348057-9, em autos semelhantes ao presente caso.

Conforme pode ser verificado no laudo supracitado, o valor estimado para


eventuais reparações de tais vícios, considerando o material e a mão de obra especializada,
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não ultrapassaria o montante de R$ 4.438,19 (QUATRO MIL, QUATROCENTOS E VINTE


E OITO REAIS E DEZENOVE CENTAVOS).

Ressalta-se que o perito declarou de modo expresso que tal montante


incluiria o custo para contratação de uma empresa executora.

Para demonstração do supra alegado, é suficiente observar os pedidos


formulados pela parte promovente, assim como a completa inexistência de documentos que possam
ser utilizados como fundamento probatório, afastando assim, qualquer possibilidade de
fundamentação para atribuição de tal valor à presente causa.

Sendo assim, tal valor revela-se flagrantemente desproporcional. O valor da


causa faz refletir a competência relativa deste juízo, de sorte que a tentativa aqui perpetrada de
dirigir o julgamento a determinada Vara ou juízo encontra óbice no princípio do juiz natural, e não
pode prosperar.

Destarte, premente é a redução do valor da causa para patamares mais


aceitáveis, e provimento neste sentido se espera desse prudente Juízo.

2. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

2.1 - DA IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO

Inicialmente, necessário esclarecer que não existe previsão de cobertura


securitária para o caso em concreto, tanto por não existir seguro em imóveis do PMCMV Faixa I
com recursos do FAR, como por inexistir cobertura de vícios construtivos em qualquer apólice do
mercado.

Nesse contexto, urge trazer à baila o entendimento jurisprudencial do nosso


Egrégio Superior Tribunal de Justiça (STJ), cuja transcrição segue abaixo:

"Encontra-se consolidado no STJ o entendimento de que a relação


obrigacional estabelecida entre o mutuário e a CEF se limita ao
contrato de mútuo garantido por hipoteca, não tendo o agente
financeiro responsabilidade por eventual vício de construção, ainda
que financiado no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação. Deve
ser reconhecida, portanto, a ilegitimidade passiva da CEF. (TRF4, AC
5000016-66.2010.404.7113, Quarta Turma, Rel. Des. Candido Alfredo
Silva Leal Junior, DJe 26/06/2013). (Grifou-se)

No caso do empreendimento Residencial Irmã Dulce, visando o bom


funcionamento do programa, a Caixa, em nome do FAR, adotou uma postura de intermediação e se
comprometeu a resolver as pendências com os mutuários, conforme toda a documentação em
anexo.

Todavia, resta claro que todos os danos foram ocasionados pela


CONSTRUTORA C3 EMPREENDIMENTOS, por mau adimplemento do contrato de construção
objeto da presente demanda.
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Desde o início da entrega do empreendimento em questão foram verificadas


algumas irregularidades pontuais, que estavam sendo corrigidas pela Construtora C3. Ocorre que os
vícios foram se alastrando para mais unidades habitacionais e diversas reuniões foram feitas com os
representantes legais para solucionar as pendências, entretanto nada foi feito pela construtora.

Destarte, resta evidente a impossibilidade jurídica do pedido da parte autora


perante a CAIXA, tendo em vista que aquela requer que esta Empresa Pública proceda com a
reforma da sua residência eliminando todos os vícios construtivos de forma isolada, o que se mostra
impossível, uma vez que em tese, seria necessária a realização de reparos no BLOCO em todo o
empreendimento, e não apenas na unidade habitacional da requerente.

2.2 - DA IMPOSSIBILIDADE DE DEVOLUÇÃO DE VALORES GASTOS – DANO


MATERIAL

Nobre Julgador, o (a) promovente não faz jus a nenhum ressarcimento a título de
danos materiais, conforme explica-se abaixo:

Na época da contratação do empreendimento não era exigido pela especificação


mínima do programa, estabelecida pelo Ministério das Cidades, a colocação de piso cerâmico em
todos os cômodos. A previsão normativa à época segue transcrita abaixo:

PISO:
Cerâmica esmaltada em banheiro e cozinha / área de serviço, com rodapé. Cimentado nas demais
áreas internas. Nas áreas comuns (hall) e escadas, piso cimentado.
 

PAREDES:
Azulejo no box e na parede hidráulica do banheiro até a altura de 1,50m. Barrado impermeável
sobre a pia e o tanque.

Diante do exposto acima, já se pode entender que tal requerimento da parte


promovente não merece prosperar, mas iremos além:

É incontroverso no ordenamento jurídico pátrio, doutrina e jurisprudência, a


necessidade de que os danos materiais sejam provados.

No caso em apreço, falta um requisito essencial para uma possível indenização


por danos morais, as PROVAS.

Portanto, o pedido de ressarcimento no montante de R$ 3.000,00 (três mil reais)


não deve ser concedido por este juízo.

2.3 DA INEXISTÊNCIA DOS VÍCIOS APONTADOS NA EXORDIAL

Por outro lado, em razão do que orienta o princípio da eventualidade, quanto às


alegações generalizadas, cumpre apresentar alguns esclarecimentos:
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Em primeiro lugar, importa informar que a colocação de calhas não estava prevista
no projeto do empreendimento desde o início.

O projeto também não previa a colocação de piso cerâmico.

 A colocação de beirais com apenas 40 cm é dimensão prevista também no projeto


de construção; outrossim, não foi previsto no projeto e orçamento o reboco nos muros, apenas
chapisco. Por fim, quanto ao interfone, de acordo com o próprio manual do proprietário em seu item
3, pág. 13, está prevista apenas colocação de tubulação e fiação, a responsabilidade de aquisição e
instalação dos equipamentos, bem como a manutenção e conservação desse sistema ficará sob a
responsabilidade do morador.

Vale salientar que a Norma NBR 15.575 entrou em vigor no ano de 2013 e a
obra foi entregue em 06/09/2012, ou seja, não cabe a aplicação da referida norma ao
empreendimento em questão.
 
Portanto, a ausência dos aludidos itens não constitui falha de construção. Na
verdade, são parâmetros definidos para o tipo de imóvel construído, em conformidade com o
orçamento aprovado para tanto, sem, no entanto, constituir descumprimento das exigências
técnicas para construção, tanto é que o empreendimento foi devidamente aprovado pelas
autoridades públicas encarregadas de fiscalizar o atendimento das normas técnicas de
construção e conceder o HABITE-SE.

Nessa lógica de argumentação da parte autora, a responsabilidade pelos fatos


narrados deve ser imputada também à PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA/PB e
às demais autoridades públicas encarregadas de análise quanto à regularidade do
empreendimento. Afinal, o imóvel possuía HABITE-SE, alvará de construção, ART do CREA e
projeto aprovado.

Vale ressaltar ainda que os contratos objetos dos autos são integralmente subsidiados
com recursos oriundos do FAR, do qual os mutuários adquirem o imóvel pagando módica quantia
mensal.

O FAR tem como uma das finalidades a cobertura, prevista na Lei, para os
financiamentos de Compra e Venda de Imóvel e de Produção de Empreendimento Habitacional no
Programa Minha Casa Minha VIDA - PMCMV para famílias com renda de 0 a 3 SM, dentro do
Programa de Arrendamento Residencial - PAR. Tem, portanto, como objetivo reduzir o déficit
habitacional em municípios, viabilizando imóveis residenciais para famílias de classes menos
favorecidas.

O PMCMV, nesse caso, funciona da seguinte forma: a União aloca os recursos por
UF levando em consideração o déficit habitacional, as construtoras apresentam projetos em parceria
com Estados, Municípios, ou independentemente, a CAIXA analisa projetos e contrata as obras
(processo semelhante ao PAR) e os Estados e Municípios indicam famílias a serem atendidas. Por
fim, as famílias assinam o contrato, por 10 anos de aquisição, pelo FAR, de empreendimentos na
planta, que depois de concluídos são alienados às pessoas físicas.

Os empreendimentos são realizados com observâncias das normas técnicas


obrigatórias, sendo certo que em razão de questões orçamentárias, o tipo de construção não
comporta itens adicionais, o que, no entanto, não constitui vício de construção, tanto é que o
projeto, sem os referidos itens pleiteados pelo autor, foi aprovado pelas autoridades públicas.
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Diante do exposto, pugna pela improcedência dos pedidos formulados na inicial.

2.4 DO VALOR ARBITRADO E COBRADO PELO AUTOR PARA REPARAÇÃO DOS


VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO

De antemão, cumpre ressaltar que é extremamente desproporcional o valor que a


própria parte requerente “apurou” para reparação dos supostos vícios de construção.

Cumpre informar que tais valores estão dispostos no corpo da inicial sem
nenhum zelo, conforme trecho abaixo:

Logo, o montante de R$ 41.604,35 (Quarenta e um mil, seiscentos e quatro reais e


trinta e cinco centavos), demonstra quantitativo irrazoável e repleto de desproporcionalidade.

Portanto, caso realmente restem comprovados vícios construtivos, não deve ser
acolhido o valor pedido pelo(a) promovente a título de reparação.

2.5 - DA RESPONSABILIDADE LEGAL DO CONSTRUTOR PELOS VÍCIOS DE


CONSTRUÇÃO – CAIXA MERO AGENTE FINANCEIRO

A CAIXA, caso entenda este Juízo pela configuração de vícios construtivos no caso
em análise, o que se admite por argumentação, evidenciará que nenhuma responsabilidade lhe pode
ser atribuída, no que respeita à recuperação do imóvel.          

Restando comprovado tratar-se de VÍCIO DE CONSTRUÇÃO, caberá ao


construtor, ex vi legis, a responsabilidade na reparação dos danos sofridos pelo imóvel vendido,
bem como os danos experimentados por seus proprietários.

Os vícios de construção, se constatados, são de responsabilidade exclusiva da(s)


construtora(s) e dos engenheiros responsáveis que assumiram a responsabilidade técnica pelo
projeto e pela execução da obra, conforme se infere das Anotações de Responsabilidade Técnica
(ART), que são obrigatórias à consecução de qualquer obra do tipo. Indubitável a responsabilidade
exclusiva das construtoras que assumiram os empreendimentos. O engenheiro ou a empresa que
aceitaram o encargo da responsabilidade técnica pela obra, são também responsáveis pela obra,
como dispõe a Lei 5.194/66 que disciplina a profissão de engenheiro:

Art . 19. Quando a concepção geral que caracteriza um plano ou, projeto
for elaborada em conjunto por profissionais legalmente habilitados, todos
serão considerados co-autores do projeto, com os direitos e deveres
correspondentes. (g.n.)

Art. 20. Os profissionais ou organizações de técnicos especializados que


colaborarem numa parte do projeto, deverão ser mencionados
explicitamente como autores da parte que lhes tiver sido confiada,
tornando-se mister que todos os documentos, como plantas, desenhos,
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cálculos, pareceres, relatórios, análises, normas, especificações e outros


documentos relativos ao projeto, sejam por eles assinados.
Parágrafo único. A responsabilidade técnica pela ampliação,
prosseguimento ou conclusão de qualquer empreendimento de
engenharia, arquitetura ou agronomia caberá ao profissional ou
entidade registrada que aceitar esse encargo, sendo-lhe, também,
atribuída a responsabilidade das obras, devendo o Conselho Federal
dotar resolução quanto às responsabilidades das partes já executadas ou
concluídas por outros profissionais. (g.n.)

Deveras, é o engenheiro quem assume a responsabilidade pela regularidade,


lisura, segurança e solidez do empreendimento e, consequentemente, por eventuais de vícios
de construção, responsabilidade esta inerente à profissão de engenheiro civil.

A própria Lei 6496/77, em seu art. 2.º estabelece que a ART definirá, "para os
efeitos legais os responsáveis técnicos pelo empreendimento de engenharia, arquitetura e
agronomia".

Com efeito, a responsabilidade por tal vício é direcionada à construtora e engenheiro,


pois são esses quem eventualmente poderiam ter causado o dito "dano" ao imóvel. Outrossim,
teria decorrido do exercício natural de sua atividade, construção civil.
 
Por consequência, em eventual ação de reparação dos danos decorrente de vícios de
construção, jamais a CAIXA poderá ser responsabilizada, pois, responsável é o construtor, se
concluído que o dano foi decorrente de vício de construção, ante a absoluta ausência de previsão
legal para se transferir à CAIXA tal ônus.

De fato, inexiste qualquer dispositivo de lei, seja na legislação específica do SFH,


seja na legislação ordinária, que imponha à instituição financeira a responsabilidade solidária
com o construtor ou engenheiro por eventuais vícios de construção constatados nos imóveis
financiados. Portanto, os vícios de construção não devem ser atribuídos à CAIXA, já que não
promoveu a construção do imóvel.

Corroborando o entendimento aqui explanado vejam-se as decisões a seguir


transcritas.

AGTR Nº 67413/PB (2006.05.00.012070-8)


AGRTE : CEF - CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
ADV/PROC : JUSTINIANO DIAS DA SILVA JÚNIOR E OUTROS
AGRDO : FABIO JONES DE BRITO CAVALVANTI E CÔNJUGE
ADV/PROC : ABEL AUGUSTO DO REGO COSTA JUNIOR E OUTRO
ORIGEM : 4ª VARA FEDERAL DA PARAÍBA
RELATOR : DES. FEDERAL JOSÉ BAPTISTA DE ALMEIDA FILHO
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. VÍCIO DE
CONSTRUÇÃO. RESPONSABILIDADE DA CEF.
IMPOSSIBILIDADE.
1. O Código Civil em seu art. 618, atribui ao empreiteiro a
responsabilidade, pois a partir da sua conclusão e entrega, o mesmo deve
garantir durante 05 (cinco) anos pela solidez e segurança da construção.
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2. quem deveria responder pelos vícios de construção seria o construtor,


conforme prevê o art. 618 do Código Civil e, na falta deste, a Caixa
Seguros S/A, que tem personalidade jurídica de direito privado.
3. não há como imputar a CEF qualquer responsabilidade, só porque
atuou como agente financiador e na qualidade de credora hipotecária; tal
responsabilidade só poderia recair sobre a agravante de forma
presumida, o que vai de encontro ao que preceitua o art. 265 do Código
Civil quando afirma que a solidariedade não se presume; resulta da lei
ou da vontade das partes.
4. agravo de instrumento provido.
Recife, 31 de outubro de 2006.
Des. Federal JOSÉ BAPTISTA DE ALMEIDA FILHO
Relator
 
AGRAVO. EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL DE IMÓVEL FINANCIADO
PELO SFH. PEDIDO DE SUSPENSÃO.  DECRETO-LEI N.º 70/66 -
RESPONSABILIDADE CIVIL DO CONSTRUTOR. ISENÇÃO DA
CREDORA HIPOTECÁRIA.
- A instituição financeira tem legitimidade para ajuizar ação de execução
por título extrajudicial objetivando receber importância relativa a contrato
celebrado para fins de aquisição de habitação.
- A alegação de possível vício de construção em nada interfere na relação
jurídica entre o mutuário e a CEF, tendo em vista que esta se limitou a
financiar o imóvel.  A responsabilidade pelos defeitos da construção, nos
termos contratuais, ficou a cargo do construtor.
- Agravo de instrumento provido. Prejudicado o agravo regimental.
(TRF - 5ª Região, Agravo de Instrumento n.º 20100/PB, 1ª Turma, Rel. Juiz
Castro Meira, julgado em 17/06/1999, DJ 23/07/1999 pág. 000220)
(sem negritos no original)
 
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISÃO
QUE EXCLUIU A CEF DA LIDE.  FALTA DE INTERESSE DO AGENTE
FINANCEIRO. VÍCIO DE CONSTRUÇÃO.
1.  À vista do instrumento contratual juntado aos autos, conclui-se
inexistir qualquer responsabilidade da Caixa Econômica Federal pelo
vício apresentado na construção do imóvel financiado. Correta a decisão
agravada que excluiu a empresa pública da lide.
2.  Agravo improvido.
(TRF - 1ª Região, AG n.º 1997.01.00.041023-1/DF, 4ª Turma, Rel. Juiz
Hilton Queiroz,  julgado em 02/09/1998, DJ 08/10/1998 pág. 95)

Não pode a CAIXA ser responsabilizada por ato ilícito do engenheiro no


desempenho de atividade autônoma desse. Nesse aspecto, à CAIXA cabe apenas a incumbência de
fazer a medição e mensuração do serviço executado. Não tem por isso, como equivocadamente
deduziu o autor, responsabilidade pelos atos do construtor, que, conforme texto expresso de lei,
é o responsável legal pela regularidade, solidez e segurança do empreendimento.

Admitir esse tipo de responsabilidade seria o mesmo que imputar responsabilidade


ao agente financeiro apenas por ter concedido empréstimo para viabilizar um determinando
empreendimento comercial, em razão de danos causados aos consumidores por defeitos nos
serviços prestados pela empresa, tendo em vista que a instituição financeira também realiza análise
prévia sobre diversos aspectos do empreendimento para a concessão do empréstimo.
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Neste passo, convém trazer à baila o art. 265 do Código Civil, que estabelece de
forma expressa que, "a solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes".

Diante de tão clara disposição legal não há como ter dúvidas. A CAIXA jamais pode
ser responsabilizada pelos danos decorrentes dos vícios de construção, nem mesmo em caráter de
solidariedade, seja por absoluta falta de previsão legal, seja por ausência de previsão contratual
nesse sentido.

A tese de uma suposta responsabilidade solidária da CAIXA apenas em razão da


vistoria prévia realizada no bem, não encontra respaldo no ordenamento jurídico, carece de
qualquer amparo legal.

Trilhando o mesmo sentido, o STJ e os Tribunais Regionais Federais firmaram


entendimento de que o agente financeiro é isento de qualquer responsabilidade pela construção do
imóvel, porquanto sua fiscalização se restringe a medição da obra para efeito de liberação de
parcelas, in verbis:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DA


HABITAÇÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO AGENTE
FINANCEIRO POR DEFEITOS NA OBRA. ILEGITIMIDADE
RECONHECIDA. PRECEDENTE. 1. A responsabilidade advém de uma
obrigação preexistente, sendo aquela um dever jurídico sucessivo desta
que, por sua vez, a dever jurídico originário. 2. A solidariedade decorre
de lei ou contrato, não se presume (art. 265, CC/02). 3. Se não há lei,
nem expressa disposição contratual atribuindo a Caixa Econômica
Federal o dever jurídico de responder pela segurança e solidez da
construção financiada, não há como presumir uma solidariedade. 4. A
fiscalização exercida pelo agente financeiro se restringe a verificação do
andamento da obra para fins de liberação de parcela do credito
financiado a construtora, conforme evolução das etapas de cumprimento
da construção. Os aspectos estruturais da edificação são de
responsabilidade de quem os executa, no caso, a construtora. O agente
financeiro não possui ingerência na escolha de materiais ou avaliação do
terreno no qual que se pretende erguer a edificação. 5. A Caixa
Econômica Federal e parte ilegítima para figurar no pólo passivo de ação
indenizatória que visa o ressarcimento por vícios na construção de imóvel
financiado com recursos do SFH, porque nesse sistema não ha obrigação
especifica do agente financeiro em fiscalizar, tecnicamente, a solidez da
obra. 6. Recurso especial que se conhece, mas nega-se provimento. (RESP
200800642851, HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP), STJ - QUARTA
TURMA, 09/09/2010).

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DE


HABITAÇÃO. VICIOS DE CONSTRUÇÃO. RESPONSABILIDADE
SOLIDARIA DA CEF NAO RECONHECIDA. MERA MEDIÇÃO DA
OBRA PARA LIBERAÇÃO DO FINACIAMENTO PARA CONSTRUÇÃO.
MUTUO. VICIO MATERIAL OU FORMAL NAO COMPROVADO.
AUSENCIA DE PLANILHA DE EVOLUÇÃO DA DIVIDA.
IMPROCEDENCIA. 1. O agente financeiro é isento de responsabilidade
por vícios de construção de imóvel quando a sua fiscalização restringe-se
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a medição das obras efetivamente executadas para fins de liberação das


parcelas do financiamento, ou seja, quando se direciona apenas a
fiscalização da efetiva aplicação do empréstimo. 2. "Se não ha lei, nem
expressa disposição contratual atribuindo a Caixa Econômica Federal o
dever jurídico de responder pela segurança e solidez da construção
financiada, não ha como presumir uma solidariedade. A fiscalização
exercida pelo agente financeiro se restringe a verificação do andamento da
obra para fins de liberação de parcela do credito financiado a construtora,
conforme evolução das etapas de cumprimento da construção. Os aspectos
estruturais da edificação são de responsabilidade de quem os executa, no
caso, a construtora. O agente financeiro não possui ingerência na escolha
de materiais ou avaliação do terreno no qual que se pretende erguer a
edificação. (REsp 1043052/MG, DJe 09/09/2010) 3. [...] . 6. Apelação da
Autora não provida. (AC 200101000329113, DESEMBARGADORA
FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA, TRF1 - QUINTA TURMA,
28/01/2011).

[...] Ademais, o entendimento desta Corte que o agente financiador e


apenas responsável pela fiscalização das etapas da construção da obra
(para evitar que a construtora embolse todo o dinheiro e deixe, por falta
de recursos, a obra inacabada), e não pela fiscalização da qualidade do
material empregado no decorrer da construção (AC 200071110022330,
VANIA HACK DE ALMEIDA, TRF4 TERCEIRA TURMA, 10/05/2006).

Se a responsabilidade pela construção do imóvel é da construtora e a existência de


vícios construtivos não possuem cobertura securitária, não há como imputar qualquer
responsabilidade à CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, que figurou apenas como agente financeiro.

Desta forma, partindo do pressuposto de que ninguém está obrigado a fazer ou


deixar de fazer algo senão em virtude de lei, eventual decisão responsabilizando a CAIXA pelos
danos materiais decorrentes dos vícios de construção, não obstante a absoluta ausência de ato ilícito
da CAIXA, teria o nítido caráter de legislar no caso concreto, e o que é pior, contra texto expresso
de lei.

Neste caso, resta evidente que a ação deveria ter sido proposta apenas contra o
construtor, pois se este descumpriu as normas técnicas de construção, as quais estava obrigado
seguir, deve assumir as consequências de sua conduta. Não tendo a CAIXA, assim, qualquer
responsabilidade pelos danos pleiteados, eis não praticou qualquer ato ilícito a ensejar indenização. 

2.6 - DA INEXISTÊNCIA DE SOLIDARIEDADE ENTRE O AGENTE FINANCEIRO E


O CONSTRUTOR/ALIENANTE/GARANTE

Consoante exposto acima, a CAIXA tem plena convicção de que não possui
qualquer responsabilidade pelos problemas apresentados no imóvel.

Todavia, acaso se entenda de forma diferente, atenta ao princípio da eventualidade,


passa a demonstrar esta instituição financeira que inexiste solidariedade entre a mesma, na
qualidade de agente financeiro, e o outro ente envolvido na querela judicial, qual seja a empresa
construtora do empreendimento.
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Nos termos do art. 896 do Código Civil/2002, a solidariedade não se presume, mas
resulta da lei ou da vontade das partes. Diante de tão clara disposição legal, não há como ter
dúvidas. A eventual responsabilidade do agente financeiro jamais poderá ter caráter de
solidariedade, seja por absoluta falta de previsão legal, seja por ausência de previsão contratual
nesse sentido.

Pela natureza dos danos narrados na inicial, e se considerando que o imóvel foi
adquirido há menos de quatro anos, e, ainda, o prazo de garantia da obra para quaisquer vícios
decorrentes de construção, conclui-se que a responsabilidade por eventuais danos, se é que estes
existem, somente poderiam ser atribuídas ao construtor, ao alienante e, em última análise, ao
garante.

Assim, no caso dos autos, jamais se pode atribuir a responsabilidade à CAIXA,


enquanto agente financeiro, pelas obras de recuperação do imóvel, dado que não existe lei ou ato
normativo que imponha essa responsabilidade.

Do exposto, conclui-se que caso alguma responsabilidade venha a ser atribuída à


CAIXA, o que se admite apenas a titulo de argumentação, essa responsabilidade jamais poderá ser
decorrente da sua condição de agente financeiro. Interpretação contrária ensejaria frontal violação
ao art. 896 do Código Civil, e deve ser imediatamente rechaçada.

3. REQUERIMENTOS FINAIS

Ex positis, considerando o narrado, requer a V. Excelência:

1) Acolhimento da preliminar de falta de legitimidade passiva da CAIXA


ECONÔMICA FEDERAL;

2) Acolhimento da preliminar de falta de interesse de agir da parte autora;

3) Acolhimento da preliminar de impossibilidade jurídica do pedido;

4) Acaso afastadas as preliminares, o que aqui não se espera, requer que seja
reconhecida a TOTAL IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS PLEITEADOS NA INICIAL,
com a consequente condenação da parte promovente em custas processuais e honorários
advocatícios;

5) Uma vez considerando este juízo que assiste razão à parte autora, o que não se
espera, requer que seja levado em consideração o laudo judicial acostado aos autos, cujo montante
para reparação dos vícios não ultrapassa o montante de R$ 4.438,19 (Quatro mil, quatrocentos e
vinte e oito reais e dezenove centavos).

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos,


inclusive depoimento pessoal da parte promovente, sob pena de confissão, assim como pela juntada
posterior de documentos pela ré.

João Pessoa – PB, 29 de julho de 2023

CLAUDIA ELISA DE MEDEIROS TEIXEIRA


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Advogada - OAB/PB nº 26.221


JURIR/JP - CAIXA

MARLYSON FERREIRA DE VASCONCELOS


Estagiário – JURIR/JP

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