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SENTENÇA Nº 840/2020/SJVM/JF/AL
PROCESSO Nº: 0809735-40.2019.4.05.8000 - EMBARGOS À EXECUÇÃO
EMBARGANTE: FUNDO DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL e outros
EMBARGADO: REYCON EMPREENDIMENTOS LTDA
ADVOGADO: Felipe Rebelo De Lima e outros
4ª VARA FEDERAL - AL (JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO)

SENTENÇA

Vistos etc.

1.Trata-se de embargos à execução interpostos pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CAIXA,


representando o FUNDO DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL - FAR em face da ação de
execução de título extrajudicial - Processo nº 0807908-91.2019.4.05.8000, que contra si é
movida por REYCON EMPREENDIMENTOS LTDA.

2. Narra a embargante que a parte exequente, nos autos da execução extrajudicial referidos, afirma
que é credora do valor de R$ 7.310.880,00 (sete milhões, trezentos e dez mil, oitocentos e oitenta
reais), por força de três instrumentos contratuais celebrados entre as partes (Contrato por
Instrumento Particular de Compra e Venda de Imóvel e de Produção de Empreendimento
Habitacional no Programa Minha Casa Minha Vida), sendo eles: RESIDENCIAL BRISAS DA
LAGOA I; RESIDENCIAL BRISAS DA LAGOA II e RESIDENCIAL BRISAS DA LAGOA III.

3. Aduz a embargada que vendeu os imóveis objetos dos contratos acima mencionados ao FAR e
até o momento do ajuizamento não havia recebido os valores, apesar da "ciência inequívoca" da
CAIXA acerca da obrigação de paga.

4. Arguiu, preliminarmente, sua ilegitimidade, sustentando que a Lei 10.188/01, é clara ao afirmar
que à CAIXA cabe apenas a operacionalização, cabendo a atribuição de responsabilidade por
pagamentos de dívidas originárias do contrato apenas ao FAR - Fundo de Arrendamento
Residencial.

5. Acrescenta que o FAR e a CAIXA não podem afirmar todos os fatos, pois é a UNIÃO que
fornece os recursos para que o Fundo de Arrendamento possa realizar as obras, e a CAIXA possa
repassar o valor devido, alegando ser imprescindível que a União, a qual representa o Ministério do
Desenvolvimento Regional, seja chamada à lide, tanto na execução principal como nos presentes
embargos à execução, por ser parte interessada no presente feito, bem como para que a mesma
preste todos os esclarecimentos necessários, inclusive referentes ao repasse das verbas e da
declaração de nulidade dos contratos realizados.

6. No mérito, sustenta que a execução não merece prosperar, uma vez que os contratos objeto dos
presentes embargos à execução são inexigíveis, pois a contratação se deu com inobservância de
norma legal cogente, merecendo o reconhecimento da nulidade.

7. Afirma que a CAIXA recebeu o Ofício de nº 522, datado em 10/09/2019, tratando de declaração
de nulidade das contratações formalizadas nos dias 28, 30 e 31 de dezembro pelo FAR, uma vez

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que realizadas sem que houvesse dotação orçamentária conforme Lei Complementar nº 101/00, e
como tal, o título é inexigível, razão pela qual a execução deve ser extinta.

8. Intimada, a CAIXA ofereceu impugnação aos presentes embargos, requerendo a total


improcedência dos pedidos formulados nos presentes embargos.

9. Intimada, a União Federal manifestou-se, sustentando a legitimidade da CAIXA para funcionar


no pólo passivo da execução, como representante do FAR. Acrescentou que com vistas às
disposições previstas no art. 119 do CPC pode participar da ação como assistente da CAIXA.

10. Asseveraa que os contratos objeto da execução são nulos, eis que firmados sem amparo na Lei
de Responsabilidade Fiscal, de nº 101, de 4 de maio de 2000, que estabeleceu normas de finanças
públicas, voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal (art. 1º), normas que não restaram
observadas nem atendidas.

No essencial, relatei. Fundamento e decido.

11. Inicialmente, afasto a alegada ilegitimidade da CAIXA para compor o pólo passivo da execução
de título extrajudicial.

12. É manifesta a legitimidade passiva ad causam da CEF, à vista que o executado Fundo de
Arrendamento Residencial - FAR, é um fundo financeiro de natureza privada, regido pela Lei nº
10.188, de 12/02/2001 e por seu regulamento próprio, tendo por objetivo prover recursos para o
Programa de Arrendamento Residencial - PAR e Programa Minha Casa minha Vida - PMCMV,
para realização de investimentos no desenvolvimento de empreendimentos imobiliários, edificação
de equipamentos de educação, saúde e outros complementares à habitação, e compete à CAIXA o
papel de administrar, gerir, representar judicialmente e extrajudicialmente, elaborar prestação de
contas anual, expedir atos necessários à atuação de Instituições Financeiras que operam nos
programas e manter o equilíbrio econômico-financeiro do fundo.

13. Passo à análise da alegada nulidade da contratação em face da ausência de dotação


orçamentária, o que resultaria na inexigibilidade do título executivo extrajudicial.

14. Em se tratando de embargos à execução de título extrajudicial, onde a irresignação da


embargante diz respeito à validade do próprio título executivo, a tarefa do julgador deve ser a de
definir sua exigibilidade ou não.

15. Dito isto, passo a analisar os argumentos dos presentes embargos.

16. A CAIXA recebeu o Ofício de nº 522, 22/2019/DPH/SNH-MDR datado em 10/09/2019, onde o


mesmo refere-se à declaração de nulidade das contratações realizadas nos dias 28, 30 e 31 de
dezembro pelo FAR, objeto da execução de título extrajudicial em questão, sob o fundamento de
que os contratos foram celebrados sem que houvesse dotação orçamentária, embasada no que prevê
a LC nº 101/00.

17. Segundo informa o mencionado Ofício, a autorização que amparou essas contratações
descumpriu orientação da Secretaria de Orçamento Federal do então Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão (SOF-MPDG), expedida em agosto de 2018, no sentido de que o extinto
Ministério das Cidades não contratasse e tampouco selecionasse novos projetos do PMCMV que
viessem a gerar impacto orçamentário e financeiro em 2019, em função da restrição orçamentária.

18. Destaco, por oportuno, que o contrato objeto da execução não se refere apenas a venda dos
terrenos, como se pretende na execução ora embargada, mas diz respeito a Instrumento de Compra

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e Venda de Imóvel e de Produção de Empreendimento Habitacional no Programa Minha Casa


Minha Vida (PMCMV), com recursos do FAR, para o qual as despesas devem, necessariamente,
estar previstas em dotação orçamentária, sob pena de ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal.

19. Se não existe dotação orçamentária para a realização de todo o empreendimento, tampouco há
para a compra dos terrenos, pois tratam-se de obrigações diretamente relacionadas entre si. Não se
pode entender subsistente uma obrigação sem a outra.

20. Com efeito, a nulidade do título executivo acarreta a ausência de certeza, liquidez e
exigibilidade da obrigação, que são matérias de ordem pública, cognoscíveis a qualquer tempo.

21. Em face disso, entendo que em havendo declaração de nulidade do contrato pela esfera
administrativa do governo federal, não há título hábil a permitir a execução extrajudicial, seja ela
parcial (venda dos terrenos), seja ela total (realização do empreendimento Minha Casa Minha
Vida), devendo a questão ser discutida na esfera das vias ordinárias, onde o contratante poderá
demandar o contratado. insurgindo-se contra a declaração de nulidade dos mencionados contratos, e
consequentemente, buscar o que entender de direito em face da declaração de nulidade.

22. Isto posto, julgo procedentes estes embargos à execução, e decreto a extinção da correspondente
execução de título extrajudicial (Processo nº 0807908-91.2019.4.05.8000), condenando o
embargado na verba honorária de sucumbência que, moderadamente, fixo em 1% sobre o valor da
causa, a teor do art. 85, § 3º, V c/c § 4º, III, do mesmo artigo do CPC.

23. Ocorrendo embargos de declaração à sentença prolatada, observado o dobro do prazo previsto
nos arts. 183 e 186 do novel CPC, em 5 (cinco) dias (CPC/2015, art. 1023, caput), dê-se vista dos
autos à parte embargada por iguais 5 (cinco) dias para manifestação (CPC/2015, art. 1023, § 2º),
vindo-me, após, os autos à conclusão.

24. Interposta(s) que seja(m) apelação(ções) à sentença, intime(m)-se a(s) parte(s) apelada(s) a
oferecer(em) contrarrazões de apelação no prazo de 15 (quinze) dias, observado o disposto nos arts.
183 e 186 do Novo CPC, quanto ao dobro do prazo; havendo apelação adesiva ou questões
suscitadas em preliminar de contrarrazões (CPC/2015, art. 1009, § 2º e 1010, § 3º) o apelante
deverá ser intimado a responder em 15 (quinze) dias; decorrido que seja o prazo, remetam-se os
autos ao E. TRF da 5ª Região, com as cautelas de estilo.

25. Não havendo recurso(s) de apelação e posta na sentença a remessa obrigatória ao TRF, a este
remetam-se os autos, na forma da lei.

26. Inocorrente(s) recurso(s) de apelação e não se determinando na sentença a remessa obrigatória


ao TRF, bem por isso transitada em julgado, intimem-se as partes a requererem o que de seu
interesse em 15 (quinze) dias para eventual cumprimento de sentença, observando-se, ainda uma
vez, o quanto contido nos arts. 183 e 186 do Novo CPC, no que diz respeito à dobra do prazo. Nada
sendo requerido, arquivem-se os autos com baixa na distribuição.

27. Sentença não sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório.

28. Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Maceió/AL, 25 de agosto de 2020.

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SEBASTIÃO JOSÉ VASQUES MORAES

Juiz Federal da 4ª Vara

jmpm

Processo: 0809735-40.2019.4.05.8000
Assinado eletronicamente por: 20081407265941200000006973566
SEBASTIÃO JOSÉ VASQUES DE MORAES -
Magistrado
Data e hora da assinatura: 25/08/2020 22:37:53
Identificador: 4058000.6931678

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