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14 de Julho de 2020

2º Grau

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e


Territórios TJ-DF : 07131296420208070000 -
Inteiro Teor

Processo
07131296420208070000

Órgão Julgador
8ª Turma Cível

Publicação
29/05/2020

Relator
Robson Teixeira de Freitas

Inteiro Teor
Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO
FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS Gabinete do Desembargador
Robson Teixeira de Freitas Número do processo: 0713129-
64.2020.8.07.0000 Classe judicial: AGRAVO DE INSTRUMENTO
(202) AGRAVANTE: BANCO DO BRASIL SA AGRAVADO:
FRANCISCO VITAL BATISTA DE ALMEIDA D E C I S Ã O Trata-se
de Agravo de Instrumento, com pedido de antecipação de tutela
recursal, interposto por Banco do Brasil S/A em face da r. decisão (ID
60187657 dos autos de origem) que, nos autos da Ação de Indenização
movida por Francisco Vital Batista de Almeira, afastou as
preliminares arguidas pelo Agravante, a prejudicial de mérito de
prescrição e saneou o feito. Defende o Agravante a ilegitimidade
passiva ad causam dele. Aduz, ainda, que deveria ter sido reconhecido
o litisconsórcio necessário com a União Federal, o que atrai a
competência da Justiça Federal para processar o feito. Quanto à
prescrição, sustenta que deve ser aplicado o prazo quinquenal a partir
de 1988, ano em que cessou a distribuição de cotas do PASEP. Pode a
antecipação da tutela recursal para que sejam suspensos os efeitos da
r. decisão agravada. É o breve relatório. Decido. O conhecimento do
presente recurso deve ser parcial, pois as hipóteses de cabimento do
agravo, indicadas no art. 1.015 do CPC/15, não contemplam a decisão
interlocutória de saneamento do feito que verse sobre as condições da
ação. Portanto, conheço do presente agravo somente no que concerne
à alegação de litisconsórcio necessário da União Federal, a atrair a
competência da Justiça Federal, e à prescrição aplicável. Nos termos
dos arts. 995, parágrafo único, e 1.019, I, ambos do CPC/15, o relator
pode suspender a eficácia da decisão recorrida quando configurado o
risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação e demonstrada
a plausibilidade do direito invocado nas razões recursais. O PASEP
(Programa de Formacao do Patrimonio do Servidor Público) foi
instituído pela Lei Complementar nº 8/1970. A Lei Complementar nº
26/1975 (art. 1º) unificou os fundos constituídos com recursos do
Programa de Formacao do Patrimonio do Servidor Público - PASEP e
do Programa de Integracao Social ? PIS (programa equivalente da
iniciativa privada). As contas foram creditadas pela forma de cálculo
descrita no art. 3º da mesma lei. A partir da Constituição Federal de
1988, a arrecadação das contribuições do PASEP deixou de ser vertida
ao fundo constituído em favor dos servidores públicos. Isso porque o
art. 239, da CR/88 destinou os referidos recursos para o Fundo de
Amparo ao Trabalhador ? FAT, custeio do seguro desemprego e abono
salarial aos trabalhadores, bem como para o fomento de programas de
desenvolvimento econômico, por meio do BNDES. Conclusão lógica
da análise do referido dispositivo constitucional é que, após a
promulgação da CR/88, foram cessados os depósitos na conta
individual do participante do PASEP, mantendo-se somente os
rendimentos dos valores depositados até então, respeitando-se,
portanto, a propriedade dos fundos individuais. Importante ressaltar
que a gestão do Fundo PIS-PASEP é de responsabilidade de um
Conselho Diretor, vinculado à Secretaria do Tesouro Nacional do
Ministério da Fazenda, nos termos dos Decretos n 1.608/95 e
4.751/2003. Mas, a Lei Complementar nº 8/1970 (art. 2º) indicou o
Banco do Brasil como administrador dos valores recolhidos nas
contas vinculadas aos participantes do PASEP e como responsável
pela aplicação dos índices oficiais de correção dos saldos determinado
pelo Conselho Monetário Nacional, conforme art. 5º da mesma lei. Da
análise da legislação supracitada, sobretudo do art. 5º da Lei
Complementar nº 8/1970, verifica-se que o Banco do Brasil é o único
responsável pela administração dos valores depositados nas contas
dos participantes do PASEP. E a causa de pedir da demanda ora em
exame é a prática de atos ilícitos justamente na administração dos
valores existentes na conta da Autora, quais sejam, indevida
atualização monetária do quantum e supostos saques indevidos
perpetrados pelo Réu. Nos termos da Súmula nº 150/STJ, ?compete à
Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que
justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou
empresas públicas?. In casu, a causa de pedir se restringe à suposta
ação do Banco do Brasil, como único responsável pela administração
nas contas PASEP. Desse modo, consoante entendimento sumular do
c. Superior Tribunal de Justiça, não há falar em interesse da União a
justificar a competência da Justiça Federal para o processamento e
julgamento da presente ação. Quanto à prescrição, conforme se extrai
da r. decisão agravada, o d. Juízo de origem entendeu que deve incidir
o prazo de 10 anos, previsto no art. 205 do CC, a partir da data em que
o Agravado efetuou o saque dos valores depositados. O Agravante,
como exposto, defende a incidência do prazo quinquenal a partir de
1988, ano em que cessou a distribuição de cotas do PASEP. Adoto
posição diversa de ambos sobre a matéria, tendo em vista que a
relação havida entre as partes é de trato sucessivo. No que tange à
cobrança das diferenças de correção monetária, é sabido que os
depósitos na conta PASEP ocorrem anualmente, motivo pelo qual o
participante tem, ou pode ter ciência a cada ano do valor creditado no
respectivo exercício. Segundo informação disponível no site do Banco
do Brasil: ?Para os correntistas e poupadores do BB, o saldo da cota
pode ser consultado nos terminais de autoatendimento e na internet.
Se o acesso for feito nos terminais de autoatendimento, o caminho é o
seguinte: Acesso a conta com cartão e senha - Extratos - Extratos
diversos - Agenda financeira. Para consulta pela internet, o
correntista deve acessar sua conta, com senha, em um computador
(não está disponível no APP): Conta corrente - Extratos diversos -
Agenda financeira. Para os demais cotistas que optarem por enviar o
saldo da sua cota por meio da transação disponível na internet e
terminais de autoatendimento do BB, o valor é apresentado ao final
da transação, com emissão de um recibo. Alternativamente, poderá
ser solicitada informação em uma das agências do BB.?
(https://www.bb.com.br/pbb/página-inicial/setor-público/governo-
federal/gestao/gestao-de-recursos/pagamento-de-ordens-bancarias,-
salariosebeneficios/pasep/#/) Assim, eventual lesão suportada pelo
Autor/Agravado, nesse particular, se renovaria a cada ano,
circunstância que evidencia a relação jurídica de trato sucessivo. E,
nas relações de trato sucessivo, quando não negado o direito
reclamado, a prescrição atinge apenas as parcelas vencidas antes da
propositura da ação, de acordo com o prazo aplicável à espécie
(intelecção da Súmula nº 85 do STJ). Quanto ao prazo prescricional
incidente na hipótese em exame, a Corte Especial do c. Superior
Tribunal de Justiça sufragou recente entendimento no sentido de que
a pretensão de reparação fundada em responsabilidade civil
contratual, como ocorre na espécie, sujeita-se à prescrição decenal,
verbis: ?CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE
DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL. DISSENSO
CARACTERIZADO. PRAZO PRESCRICIONAL INCIDENTE SOBRE A
PRETENSÃO DECORRENTE DA RESPONSABILIDADE CIVIL
CONTRATUAL. INAPLICABILIDADE DO ART. 206, § 3º, V, DO
CÓDIGO CIVIL. SUBSUNÇÃO À REGRA GERAL DO ART. 205, DO
CÓDIGO CIVIL, SALVO EXISTÊNCIA DE PREVISÃO EXPRESSA DE
PRAZO DIFERENCIADO. CASO CONCRETO QUE SE SUJEITA AO
DISPOSTO NO ART. 205 DO DIPLOMA CIVIL. EMBARGOS DE
DIVERGÊNCIA PROVIDOS. I - Segundo a jurisprudência deste
Superior Tribunal de Justiça, os embargos de divergência tem como
finalidade precípua a uniformização de teses jurídicas divergentes, o
que, in casu, consiste em definir o prazo prescricional incidente sobre
os casos de responsabilidade civil contratual. II - A prescrição,
enquanto corolário da segurança jurídica, constitui, de certo modo,
regra restritiva de direitos, não podendo assim comportar
interpretação ampliativa das balizas fixadas pelo legislador. III - A
unidade lógica do Código Civil permite extrair que a expressão
"reparação civil" empregada pelo seu art. 206, § 3º, V, refere-se
unicamente à responsabilidade civil aquiliana, de modo a não atingir
o presente caso, fundado na responsabilidade civil contratual. IV -
Corrobora com tal conclusão a bipartição existente entre a
responsabilidade civil contratual e extracontratual, advinda da
distinção ontológica, estrutural e funcional entre ambas, que obsta o
tratamento isonômico. V - O caráter secundário assumido pelas
perdas e danos advindas do inadimplemento contratual, impõe seguir
a sorte do principal (obrigação anteriormente assumida). Dessa
forma, enquanto não prescrita a pretensão central alusiva à execução
da obrigação contratual, sujeita ao prazo de 10 anos (caso não exista
previsão de prazo diferenciado), não pode estar fulminado pela
prescrição o provimento acessório relativo à responsabilidade civil
atrelada ao descumprimento do pactuado. VI - Versando o presente
caso sobre responsabilidade civil decorrente de possível
descumprimento de contrato de compra e venda e prestação de
serviço entre empresas, está sujeito à prescrição decenal (art. 205, do
Código Civil). Embargos de divergência providos. (EREsp
1281594/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, Rel. p/ Acórdão
Ministro FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL, julgado em
15/05/2019, DJe 23/05/2019 ? grifou-se) Assim, defiro em parte a
antecipação da tutela recursal para definir a incidência da prescrição
sobre as parcelas devidas ao Autor anteriores a 10 (dez) anos da data
do ajuizamento da ação. Oficie-se, comunicando a presente decisão ao
nobre Juízo a quo. Ao Agravado para apresentar resposta no prazo
legal. Publique-se. Intime-se. Desembargador Robson Teixeira de
Freitas Relator

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