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19/09/2023, 17:04 · Processo Judicial Eletrônico - TRF3 - 1º Grau

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO (119) Nº 5020024-11.2019.4.03.6100 / 12ª Vara Cível Federal de


São Paulo
IMPETRANTE: ASSOCIACAO NACIONAL DOS CONTRIBUINTES DE TRIBUTOS
Advogado do(a) IMPETRANTE: GERMANO CESAR DE OLIVEIRA CARDOSO - DF28493
IMPETRADO: DELEGADO DA DELEGACIA ESPECIAL DE ADMINISTRACAO TRIBUTARIA EM SAO PAULO/SP -
DERAT, UNIAO FEDERAL - FAZENDA NACIONAL

SENTENÇA

Processo nº 5020024-11.2019.4.03.6100

Vistos em sentença.

Trata-se de Mandado de Segurança Coletivo, com pedido de liminar, impetrado por ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DOS CONTRIBUINTES DE TRIBUTOS contra ato do Sr. DELEGADO DA DELEGACIA
ESPECIAL DE ADMINISTRACAO TRIBUTARIA EM SAO PAULO/SP - DERAT, objetivando a declaração
da inexigibilidade de recolhimento da contribuição a terceiros devida ao INCRA, SEBRAE, SESC,
SENAC e o Salário Educação sobre os valores que ultrapassem o valor-limite de 20 (vinte) salários
mínimos da base de cálculo destas contribuições.

A inicial veio instruída com procuração e documentos.

Intimada, a representante judicial da impetrada, União Federal, apresentou manifestação.


Preliminarmente, aduziu ilegitimidade ativa da associação e o descabimento do “mandamus”. No
mérito, pugnou pela improcedência do pedido (ID 24793354).

Intimada, a impetrante se manifestou sobre as alegações da União (ID 26366077).

Notificada, autoridade impetrada prestou informações (ID 27688081).

O Ministério Público Federal opinou pela denegação da segurança.

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Houve emenda da inicial quanto ao valor da causa (ID 34465434).

Os autos vieram conclusos para sentença.

É o relatório. FUNDAMENTO E DECIDO.

Recebo a emenda da inicial.

DA PRELIMINAR

Afasto a alegação de ilegitimidade ativa da associação.

Em se tratado de representação na forma do art. 5º, inc. XXI, da CF/88, as associações estão aptas
a promover ações coletivas para a tutela de quaisquer direitos subjetivos dos associados, desde
que tais direitos guardem relação de pertinência material com os fins institucionais da
associação. Nesse âmbito, a atuação da entidade associativa se dará por meio do mandando de
segurança coletivo (CF/88, inc. LXX, b).

Do cabimento do “mandamus”

Por seu turno, entendo que a discussão acerca do cabimento de mandado de segurança para fins
de discussão da lide se encontra intimamente ligada com a análise do próprio mérito da
demanda, razão pela qual será com este apreciada.

DO MÉRITO

Feitas estas considerações, passo ao caso concreto.

A controvérsia cinge-se ao reconhecimento do direito à limitação da base de cálculo das


contribuições devidas a terceiros INCRA, SEBRAE, SESC, SENAC e o Salário Educação a 20 (vinte)
vezes o valor do salário mínimo.

Verifico que procedem as alegações do autor.

A parte narra que se sujeita ao recolhimento de contribuições destinadas a terceiros incidentes


sobre a folha de salários e demais rendimentos, em conformidade com a Constituição Federal e
demais leis reguladoras do assunto.

Expõe que, com o advento da Lei nº 6.950/81, foram estabelecidas restrições ao salário de
contribuição da mencionada contribuição a terceiros, dentre as quais do recolhimento mediante
a apuração da base de cálculo com a limitação de 20 (vinte) vezes o máximo salário mínimo,
prevista no seu parágrafo único do artigo 4º:

“Art 4º - O limite máximo do salário-de-contribuição, previsto no art. 5º da Lei nº 6.332, de 18 de


maio de 1976, é fixado em valor correspondente a 20 (vinte) vezes o maior salário-mínimo
vigente no País.

Parágrafo único - O limite a que se refere o presente artigo aplica-se às contribuições parafiscais
arrecadadas por conta de terceiros.”

Entretanto, com a edição do Decreto Lei nº 2.318/86 teria ocorrido a revogação expressa do limite
de 20 salários mínimos relativamente apenas às contribuições previdenciárias cota patronal,
preservando-se o limite para as contribuições aos terceiros, de acordo com o artigo 3º, senão
vejamos:

“Art 3º Para efeito do cálculo da contribuição da empresa para a previdência social, o salário de
contribuição não está sujeito ao limite de vinte vezes o salário mínimo, imposto pelo art. 4º da Lei
nº 6.950, de 4 de novembro de 1981.”

Com efeito, procede a alegação da parte impetrante.


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Conforme consolidado nos Tribunais pátrios, a promulgação do artigo 3º da Decreto Lei nº


2.318/86 revogou expressamente apenas o caput do artigo 4º da Lei nº 6.950/81, mantendo
integralmente a limitação em relação às contribuições parafiscais previstas no parágrafo único.

Transcrevo precedente nesse sentido:

“AGRAVO INTERNO. TRIBUTÁRIO. SALÁRIO-EDUCAÇÃO. CARÁTER TRIBUTÁRIO DA EXAÇÃO.


AUSÊNCIA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA ANTERIORIDADE. BASE DE
CÁLCULO. LIMITE. REVOGAÇÃO APENAS PARA CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS DEVIDAS PELAS
EMPRESAS. CONTRIBUIÇÕES A TERCEIROS. LIMITE PRESERVADO. DECISÃO MANTIDA.
AGRAVOIMPROVIDO.
(…)

7. No tocante à arrecadação, nos termos do art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 6.950/81, foi
estabelecido limite máximo para base de cálculo das contribuições parafiscais. No entanto,
sobreveio o Decreto-Lei nº 2.318/86, com disposição que retirou o limite para o cálculo da
contribuição da empresa. Assim, ocorreu expressa revogação do limite apenas para as
contribuições previdenciárias devidas pelas empresas, preservando-se o limite somente para as
contribuições a terceiros. Neste sentido, correta a r. sentença apelada, ao ressaltar que, a Lei nº
9.426/96 constitui-se no diploma regulador específico do salário-de-contribuição, de modo que a
Lei nº 6.950/81, que cuidava unicamente de alterar a legislação previdenciária, não se pode
sobrepor aos ditames da nova lei, posterior e específica, até porque suas disposições, na questão
em foco, são eminentemente conflitantes com a nova regra.

8. A decisão monocrática recorrida encontra-se adrede fundamentada. De qualquer sorte a


matéria debatida nos autos já foi devidamente dirimida, sendo, inclusive objeto da Súmula n° 732
do Supremo Tribunal Federal e do RE n° 660.993-RG (DJe 22/02/2012), apreciado no regime da
repercussão geral.

9. Não há elementos novos capazes de alterar o entendimento externado na decisão


monocrática. 10. Agravo interno improvido.” (TRF3 – APELAÇÃO CÍVEL – 1917527/SP, 0009810-
15.2011.4.03.6104, Relator(a) DESEMBARGADORA FEDERAL CONSUELO YOSHIDA, SEXTA TURMA,
Data do Julgamento 13/12/2018, e-DJF3 Judicial 1 DATA:11/01/2019).

Diante do exposto, CONCEDO A SEGURANÇA, extinguindo o processo, com resolução de mérito,


nos termos do art. 487, I, do CPC/2015, para reconhecer o direito ao recolhimento das
contribuições destinadas a terceiros incidentes sobre a folha de salários, mediante a apuração da
base de cálculo, com a limitação de 20 (vinte) vezes o salário mínimo, em conformidade com a Lei
nº 6.950/81.

Declaro o direito da impetrante, após o trânsito em julgado desta sentença, obter a compensação
dos valores indevidamente recolhidos pelo quinquênio que antecede o ajuizamento da ação,
tendo por base de cálculo a verba em relação à qual a presente decisão declarou a inexigibilidade
da exação, com contribuições administradas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil. Deverá
ser apurado o montante através de procedimento administrativo, atualizado pelo mesmo índice
aplicável à atualização de créditos tributários referentes a contribuições sociais patronais sobre a
folha de pagamentos, pelo período entre cada pagamento indevido e a efetiva compensação.

Custas ex lege.

Sem condenação em honorários advocatícios, conforme artigo 25 da Lei nº 12.016/2009, bem


como Súmulas 512 do Excelso Supremo Tribunal Federal e 105 do Colendo Superior Tribunal de
Justiça.

Sentença sujeita a reexame necessário, nos termos do artigo 14, § 1º, da Lei nº 12.016/2009.

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Interposto recurso tempestivamente, com o preenchimento dos demais requisitos legais, será
recebido apenas no efeito devolutivo, nos termos do art. 1.012, § 1º, V, do CPC/2015.

Em caso de não preenchimento dos requisitos para o recebimento do recurso, certifique


oportunamente a Secretaria. Atendidos os pressupostos, dê-se vista à parte contrária para
contrarrazões.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Cumpra-se.

SãO PAULO, 29 de outubro de 2020.

Assinado eletronicamente por: TIAGO BITENCOURT DE DAVID


29/10/2020 17:16:31
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ID do documento: 41070521

20102917163187100000037166578
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