Você está na página 1de 31

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE CIDADE

PEDIDO DE AJG

xxxxxx, brasileiro, estado civil, profissão, CPF xxxxxx,


carteira de identidade n.º xxxxxx, residente e domiciliado na Rua xxxxxx, n.º xxx, ,
bairro em cidade/, CEP: xxxxx, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por
intermédio de sua procuradora (procuração anexa), mui respeitosamente à presença
de Vossa Excelência, ajuizar

AÇÃO REVISIONAL DE CORREÇÃO MONETÁRIA DO


FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO (FGTS)

em desfavor da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, pelas


razões de fato e de direito que passa a expor.

I. PRELIMINARES:

a) Sobrestamento do feito em razão da decisão nos


autos da ADI 5090:

Na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5.090/DF, que


versa sobre Correção Monetária das contas do FGTS, o Exmº Relator Ministro Luís
Roberto Barroso determinou a suspensão de todos os processos que discutem a
mesma matéria até o julgamento definitivo da mencionada ADI. Vejamos:

Considerando: (a) a pendência da presente ADI 5090, que


sinaliza que a discussão sobre a rentabilidade do FGTS
ainda será apreciada pelo Supremo e, portanto, não está
julgada em caráter definitivo, estando sujeita a alteração

1
(plausibilidade jurídica); (b) o julgamento do tema pelo
STJ e o não reconhecimento da repercussão geral pelo
Supremo, o que poderá ensejar o trânsito em julgado das
decisões já proferidas sobre o tema (perigo na demora);
(c) os múltiplos requerimentos de cautelar nestes autos; e
(d) a inclusão do feito em pauta para 12/12/2019, defiro
a cautelar, para determinar a suspensão de todos os
feitos que versem sobre a matéria, até julgamento do
mérito pelo Supremo Tribunal Federal. Publique-se.
Intime-se. Brasília, 6 de setembro de 2019. Ministro Luís
Roberto Barroso Relator”.

Isto posto, considerando que a presente ação versa


sobre matéria idêntica e que existe Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI nº 5090
pendente de julgamento com determinação de suspensão de todos os processos que
versem sobre a correção monetária do FGTS, requer o autor que este Nobre Julgador
determine o sobrestamento do processo em análise.

b) Da legitimidade passiva da Caixa Econômica


Federal:

Resta claro a legitimidade passiva e exclusiva da Caixa


Econômica Federal, na medida que a presente ação versa sobre correção monetária
dos depósitos de FGTS, conforme precedentes do STJ, senão vejamos:

Súmula 249/STJ – A Caixa Econômica Federal tem


legitimidade passiva para integrar processo em que se
discute correção monetária do FGTS.

Logo, não há dúvidas que a ré é parte legítima para


integrar o processo em que se discute a correção monetária do referido fundo.

c) Da prescrição:

No que tange ao prazo prescricional, já está amplamente


assentado na doutrina e jurisprudência, que em relação ao pleito de correção
monetária do FGTS, a prescrição é trintenária.

Neste sentido, decisão do STJ:

2
RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. FGTS. CORREÇÃO
DOS SALDOS DAS CONTAS VINCULADAS. DIFERENÇAS
DE EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. TEMA JÁ JULGADO
PELO REGIME DO ART. 543-C DO CPC E DA RESOLUÇÃO
N. 8/08 DO STJ, QUE TRATAM DOS RECURSOS
REPRESENTATIVOS DE CONTROVÉRSIA.(...)3. No REsp n.
1.112.520 - PE, por seu turno, firmou-se o seguinte
entendimento: 4. Outrossim, não deve prevalecer a
interpretação da recorrente quanto à ocorrência de
prescrição quinquenal, pois este Tribunal já decidiu que é
trintenária a prescrição para cobrança de correção
monetária de contas vinculadas ao FGTS, nos termos das
Súmula 210/STJ: "A ação de cobrança das contribuições
para o FGTS prescreve em (30) trinta anos".(...)1.

Assim, a ação ora proposta não está alcançada pela


prescrição trintenária, conforme se demonstrará adiante.

II. DOS FATOS:

Inicialmente vale esclarecer que o FGTS - Fundo de


Garantia por Tempo de Serviço é regido pelas disposições da Lei nº 8.036, de 11 de
maio de 1990, por normas e diretrizes estabelecidas pelo seu Conselho Curador e
gerido pela Caixa Econômica Federal. Também está previsto no art. 7º, III da
Constituição Federal.

A obrigatoriedade de correção monetária e de


remuneração por meio de juros dos depósitos efetuados nas contas vinculadas do
FGTS está prevista nos artigos 2º e 13 da Lei nº 8.036/90:

Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas


vinculadas a que se refere esta lei e outros recursos a ele
incorporados, devendo ser aplicados com atualização

1
STJ, REsp 1150446 RJ 2009/0143136-0, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
Julgamento: 10/08/2010, Órgão Julgador: T2 - SEGUNDA TURMA, Publicação: DJe
10/09/2010.

3
monetária e juros, de modo a assegurar a cobertura de
suas obrigações.
Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão
corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados
para atualização dos saldos dos depósitos de poupança e
capitalização juros de (três) por cento ao ano.

Ressalte-se que o parâmetro fixado para a


atualização dos depósitos dos saldos de poupança e consequentemente dos
depósito do FGTS é a Taxa Referencial – TR, conforme prescrevem os artigos 12
e 17 da Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991, com redação da lei nº 12.703, de 7 de
agosto de 2012, cuja dicção é a seguinte:

Art. 12. Em cada período de rendimento, os depósitos de


poupança serão remunerados:I - como remuneração básica,
por taxa correspondente à acumulação das TRD, no período
transcorrido entre o dia do último crédito de rendimento,
inclusive, e o dia do crédito de rendimento, exclusive;II - como
remuneração adicional, por juros de: (Redação dada pela Lei n
º 12.703, de 2012)a) 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês,
enquanto a meta da taxa Selic ao ano, definida pelo Banco
Central do Brasil, for superior a 8,5% (oito inteiros e cinco
décimos por cento); ou (Redação dada pela Lei n º 12.703, de
2012)b) 70% (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano,
definida pelo Banco Central do Brasil, mensalizada, vigente na
data de início do período de rendimento, nos demais
casos. (Redação dada pela Lei n º 12.703, de 2012)(...)
Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) passam a ser
remunerados pela taxa aplicável à remuneração básica dos
depósitos de poupança com data de aniversário no dia 1°,
observada a periodicidade mensal para remuneração.
Parágrafo único. As taxas de juros previstas na legislação em
vigor do FGTS são mantidas e consideradas como adicionais à
remuneração prevista neste artigo.

Retrata a Lei nº 8.177/91 a forma como a TR será


calculada:

4
Art. 1° O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial
(TR), calculada a partir da remuneração mensal média líquida
de impostos, dos depósitos a prazo fixo captados nos bancos
comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com
carteira comercial ou de investimentos, caixas econômicas, ou
dos títulos públicos federais, estaduais e municipais, de acordo
com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário
Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao
conhecimento do Senado Federal.§ 1° A TR será mensalmente
divulgada pelo Banco Central do Brasil, no máximo até o oitavo
dia útil do mês de referência. (Revogado pela Lei nº 8.660, de
1993)§ 2° As instituições que venham a ser utilizadas como
bancos de referência, dentre elas, necessariamente, as dez
maiores do País, classificadas pelo volume de depósitos a
prazo fixo, estão obrigadas a fornecer as informações de que
trata este artigo, segundo normas estabelecidas pelo Conselho
Monetário Nacional, sujeitando-se a instituição e seus
administradores, no caso de infração às referidas normas, às
penas estabelecidas no art. 44 da Lei n° 4.595, de 31 de
dezembro de 1964.§ 3° Enquanto não aprovada a metodologia
de cálculo de que trata este artigo, o Banco Central do Brasil
fixará a TR.

Logo, a metodologia de cálculo foi há muito tempo


definida pela Banco Central-Conselho Monetário Nacional (CMN), e hoje está vigente
sob a forma da Resolução nº 3.354, de 31 de março de 2006.

Ocorre que, há muito tempo, a TR não reflete mais a


correção monetária, tendo se distanciado completamente dos índices oficiais de
inflação. Nos meses de setembro, outubro e novembro de 2009, janeiro e fevereiro de
2010, fevereiro e junho de 2012 e de setembro de 2012 em diante, a TR tem sido
completamente anulada, como se não existisse qualquer inflação no período passível
de correção, o que acabou por causar prejuízos ao Autor na medida que sua conta de
FGTS não sofreu a devida correção monetária.

Por fim, pretende a parte autora comprovar que tem


direito à substituição da TR pelo INPC + 3% ao ano, IPCA-E ou qualquer outro
índice a ser fixado por Vossa Excelência, a ser aplicado sobre os depósitos
constantes das contas vinculadas de FGTS do(s) Autor(es), desde janeiro de 1999 até

5
o trânsito em julgado deste processo (para reposição das perdas inflacionárias do
trabalhador nas contas do FGTS, inclusive nos meses em que a TR foi igual zero.

Por outro lado, a parte autora, data venia, entende que:

a) Após a ADI 4357/DF (precatórios), por meio dos votos já


conhecidos, a correção monetária foi interpretada como uma
garantia constitucional, que somada a diversos dispositivos legais
acarretou na revogação tácita do artigo 13 da lei 8036/90;

b) A omissão legislativa do poder público trouxe lesão ao autor e


milhões de brasileiros, em especial quando deixou de realizar as
alterações legislativas necessárias a fim de evitar (nos últimos 14
anos) danos e prejuízos a milhões de brasileiros – fato que
acarreta em responsabilidade civil e direito a respectiva
indenização;

c) Não bastasse isso, por outro lado, há equivoco na própria forma


de cálculo da T.R, como apontado nos fundamentos abaixo, fato
que permite o direito ao respectivo recálculo e consequente
condenação as diferenças apuradas.

Em suma, pretende também o autor, subsidiariamente,


provar erro na forma de cálculo da T.R, fato que também lhe garante direito à devida
correção, conforme ficará demonstrado a seguir.

III. NO MÉRITO - DOS FUNDAMENTOS


JURÍDICOS:

a) Análise da correção monetária e do FGTS:

Como recém mencionado, o art. 13 da Lei n. 8.036/90


determina que as contas do FGTS devem ser corrigidas monetariamente de acordo
com o índice aplicado na atualização dos saldos dos depósitos de poupança. Tal

6
índice é justamente a TR - taxa referencial, a qual compõe a remuneração básica
daqueles depósitos.

Ao declarar o direito dos trabalhadores receberem


um fundo de garantia por tempo de serviço, o art. 7º, inciso III, da Constituição
Federal de 1988, deixa implícito que o valor respectivo não pode sofrer perdas
inflacionárias, em razão da aplicação de critérios de atualização monetária que
impedem a plena funcionalidade do FGTS, como fator compensatório do tempo
de serviço dos trabalhadores.

Nesse sentido, a taxa referencial não acompanha a


variação do poder aquisitivo da moeda, o que se pode comprovar por meio da
comparação com outros indexadores econômicos. Em sendo assim, não se
constitui em fator de indexação adequado para a reposição de perdas
inflacionárias, o que evidencia que o intuito da norma constitucional não vem
sendo concretizado pela aplicação desse índice de correção monetária, o qual
implica gradativa redução do valor real dos depósitos fundiários.

Quando o STF enfrentou o tema da natureza da TR,


disse através do voto vencedor da ADI 493-0/DF que a taxa referencial não é fator de
atualização monetária, conforme transcrição abaixo:

A Taxa Referencial (TR) não é índice de correção monetária,


pois, refletindo as variações do custo primário da captação dos
depósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a
variação do poder aquisitivo da moeda.

Como dito alhures, aplicação de índice de correção


monetária se presta para recuperar o poder de compra do valor emprestado. Este
poder de compra é diretamente influenciado por um processo inflacionário.

Acontece, Excelência, que é de conhecimento geral que


a aplicação da TR como índice de correção monetária de forma alguma atingiu o
propósito em determinados períodos. Na verdade, desde fevereiro de 1991 até a data
de hoje, razão inclusive que fez surgir no Poder Judiciários diversas ações
questionando a sua aplicação e legalidade.

7
Tanto é assim, que o Supremo, em diversos casos
semelhantes a este (ADIs nº 4357, 4372, 4400, 4425 e 5.348), não considerou a
aplicação da TR como índice de correção, por considerá-lo inadequado para recompor
a perder do poder de compra.

Além disso, seguindo o mesmo raciocínio, no julgamento


da ADI nº 493-0, o Supremo entendeu que também não seria possível aplicar a TR
aos contratos do Sistema Financeiro de Habitação, uma vez que aquele Tribunal não
reconhecia a TR como índice hábil a promover a atualização monetária.

Ação direta de inconstitucionalidade . - Se a lei alcançar os


efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a ela,
será essa lei retroativa (retroatividade mínima) porque vai
interferir na causa, que e um ato ou fato ocorrido no passado . -
O disposto no artigo 5, XXXVI, da Constituição Federal se
aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer
distinção entre lei de direito público e lei de direito privado, ou
entre lei de ordem pública e lei dispositiva. Precedente do
S.T.F. . - Ocorrência, no caso, de violação de direito adquirido.
A taxa referencial (TR) não é índice de correção monetária,
pois, refletindo as variações do custo primário da captação
dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita
a variação do poder aquisitivo da moeda. Por isso, não há
necessidade de se examinar a questão de saber se as normas
que alteram índice de correção monetária se aplicam
imediatamente, alcançando, pois, as prestações futuras de
contratos celebrados no passado, sem violarem o disposto no
artigo 5, XXXVI, da Carta Magna . - Também ofendem o ato
jurídico perfeito os dispositivos impugnados que alteram o
critério de reajuste das prestações nos contratos ja celebrados
pelo sistema do Plano de Equivalência Salarial por Categoria
Profissional (PES/CP). Ação direta de inconstitucionalidade
julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade dos
artigos 18, "caput" e parágrafos 1 e 4; 20; 21 e parágrafo único;
23 e parágrafos; e 24 e parágrafos, todos da Lei n. 8.177, de 1
de maio de 1991. (STF - ADI: 493 DF, Relator: Min. MOREIRA
ALVES, Data de Julgamento: 25/06/1992, TRIBUNAL PLENO,
Data de Publicação: DJ 04-09-1992 PP-14089 EMENT VOL-
01674-02 PP-00260 RTJ VOL-00143-03 PP-00724)

E não é só. Na análise das ADI 4425 e 4357, o STF


destacou que a TR não pode ser utilizada como índice de atualização monetária, pois
não é capaz de espelhar o processo inflacionário brasileiro.

Desse modo, em que pese o STJ já tenha proferido o


seu posicionamento quanto ao tema, por ainda estar pendente o julgamento da ADI
5090 e, tendo em vista o entendimento declarado diversas vezes pelo STF (ADIs nº

8
4357, 4372, 4400, 4425 e 5.348) no sentido de que a TR não alcança mais o processo
inflacionário, requer que, em observância ao art. 927 do CPC, seja seguida a atual
jurisprudência do Supremo.

Tem-se, em resumo, que a Lei nº 8.036/90, determina


que ao saldo de suas contas deve ser obrigatoriamente aplicado correção monetária.
Não sendo a Taxa Referencial (TR) hábil a atualizar monetariamente tais saldos,
entende-se que a TR é inaplicável para tal fim por não alcançar de 1999 até hoje uma
forma minimamente compatível com a inflação, surgindo assim a necessidade de
aplicar o INPC ou IPCA-E.

Não podemos nos esquecer de que a cultura da correção


monetária está de tal forma arraigada ao nosso sistema econômico, que o próprio
Código Civil de 2002, traz diversos dispositivos garantindo atualização monetária:

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por


perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo
índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado.

Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora


der causa, mais juros, atualização dos valores monetários
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e
honorários de advogado.

Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em


dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo
índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros,
custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena
convencional.

Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato,


poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução
for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o
contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o
equivalente, com atualização monetária segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de
advogado.

9
Art. 772. A mora do segurador em pagar o sinistro obriga à
atualização monetária da indenização devida segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos, sem prejuízo dos juros
moratórios.

Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa


de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido,
feita a atualização dos valores monetários.

Atualmente no país há dois tipos de índices de correção


monetária. Índices que refletem a inflação e, portanto, recuperam o poder de compra
do valor aplicado, como o IPCA e o INPC, e um índice que não reflete a inflação, e
consequentemente não recupera o poder de compra do valor aplicado – a Taxa
Referencial/TR.

Historicamente, é preciso lembrar que a Taxa Referencial


nunca foi igual à inflação. Nem quando se experimentou hiperinflação, nem quando se
experimentou a deflação. Todavia, os índices da TR, do INPC e do IPCA, sempre
andaram próximos. Em outras palavras, imperava a razoabilidade nos índices da TR
para que pudessem atingir a finalidade de correção do valor do capital.

ANO TR INPC IPCA


1991 335,51% 475,11% 472,69%
1992 1.156,22% 1.149,05% 1.119,09%
1993 2.474,73% 2.489,11% 2,477,15%
1994 951,19% 929,32% 916,43%
1995 31,6207% 21,98% 22,41%
1996 9,5551% 9,125% 9,56%

Não obstante, o cenário começa a mudar a partir de


1999, quando a TR se distancia expressivamente do INPC e do IPCA, ao ponto de
hoje a inflação superar 6% ao ano e a TR ser igual a zero. Logo, ela não se presta
para o fim de manter o poder aquisitivo dos depósitos do FGTS, que são um
patrimônio do trabalhador.

Assim, é possível concluir que o FGTS há muito é um


fundo iníquo por não ter recomposição inflacionária dos seus recursos.

10
Ao contrário de outros investimentos, o FGTS não é um
fundo de livre disposição por parte do trabalhador, não podendo ele decidir sponte
própria quais as aplicações que lhe são mais convenientes ou rentáveis. O trabalhador
tem que se submeter a políticas econômicas e sociais que lhe são altamente
prejudiciais.

Ora, mas a própria Lei do FGTS diz em seu artigo 2º


que é garantida a atualização monetária e juros. Quando a TR é igual a zero este
artigo é descumprido. Quando a TR é mínima e totalmente desproporcional em
relação à inflação, este artigo também é descumprido e o patrimônio do
trabalhador é subtraído por quem tem o dever legal de administrá-lo.

Levando em conta que a relação jurídica entre os


trabalhadores e a Caixa é de direito pessoal, o artigo 233 do Código Civil se torna
inafastável, na medida em que determina que a obrigação de dar coisa certa abrange
os acessórios, ainda que não mencionados.

Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios


dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do
título ou das circunstâncias do caso.

Ora, acessórios de dinheiro são os juros e a correção


monetária.

b) DO DIREITO AO RECÁLCULO DA TR – Análise da


aplicação do redutor à formula de cálculo.

É importante mencionar que em 06/11/2013 o MM. Juiz


Federal do Juizado Especial Federal de Presidente Prudente/SP, nos autos nº
0000305-36.2013.4.03.6328, proferiu importante julgado em ação que se discute a
possibilidade de substituição de índice da TR por outro que melhor recomponha as
perdas inflacionárias. O Douto Juiz Federal retratou que “é fato notório que a TR vem
decaindo significativamente desde 1999, como sustentado pela parte autora,
chegando, nos dias atuais, a zero.” Em sua fundamentação, expressamente relatou
que a forma de cálculo da T.R pode ser retificada, e ainda, por meio de seus
fundamentos verificou-se:

11
Embora seja prevista em lei, a metodologia de cálculo da
TR é estipulada por ato infralegal. Essa metodologia variou ao longo do tempo, mas
sempre abrangeu dois passos: calcula-se uma média das taxas de juros praticadas
pelas maiores instituições financeiras, geralmente na captação de CDB e RDB; aplica-
se sobre esta média um redutor.

Em suma, a Resolução Bacen/CMN 1.805, de


27/03/1991, determinava a coleta de uma amostra das 30 maiores instituições
financeiras e que se calculasse a média das taxas de juros praticadas pelas 20
maiores; sobre essa média ponderada de remuneração seria aplicado o redutor de 2
pontos percentuais mensais, a fim de expurgar os efeitos da tributação e da taxa real
histórica de juros da economia (art. 3º, inc. III). Posteriormente, a Resolução 1979, de
30/04/1993, fixou esse redutor em 1,5 ponto percentual mensal para os meses de
maio e junho de 1993,1,3 p.p.m. para o mês de julho de 1993, e 1,2 p.p.m. a partir de
agosto de 1993.

Em seguida, a Resolução 2.075, de 26/05/1994, alterou a


forma de cálculo dessa média de remuneração, e fixou o redutor em1,2 p.p.m., mas
agora mencionando apenas a taxa média real histórica de juros da economia, não
mais se falando em expurgo da tributação. Posteriormente, esse redutor foi
alterado para 1,6 p.p.m. pela Resolução 2.083, de 30/06/1994.

A partir da Resolução 2.097, de 27/07/1994, passou-se a


calcular a TR com base na TBF. Essa resolução voltou a mencionar que o
redutor se destinava a expurgar do cálculo os efeitos da tributação e a taxa real
de juros da economia.

Com a Resolução 2.437, de 30/10/1997, passou-se a


não mais explicitar a finalidade do redutor, cuidando-se apenas de estipular sua
forma de apuração, metodologia esta que se mantém até os dias atuais, com
pequenas alterações não significativas para o que interessa à Resolução da
presente demanda.

Atualmente, a fórmula de cálculo da TR está


regulamentada na Resolução CMN nº 3.354/2006 (com alterações posteriores).
Consiste, basicamente, em dois passos:

12
1) calcula-se a Taxa Básica Financeira (TBF) da
economia a partir da remuneração mensal média dos Certificados e Recibos de
Depósitos Bancários emitidos a taxas de mercado prefixadas, com prazo de 30 a 35
dias corridos, praticados pelas 20 maiores instituições financeiras captadoras de tais
recursos (até a Res/CMN 4.240/2013 a amostra era composta pelas 30 maiores
instituições);

2) aplica-se à TBF um redutor, que pode ser ou não


parcialmente arbitrado pelo Bacen, dependendo do patamar da TBF (a fórmula consta
do art. 5º da Res/CMN 3.354/2006). A aplicação do redutor não poderá resultar em
coeficiente inferior a zero.

A primeira conclusão que se pode extrair da análise de


todas essas normas mencionadas é que:

a) até a e Resolução 2.437, de 30/10/1997, essa


regulamentação incluía no redutor a “taxa real de juros da economia”, parcela não
prevista na lei de regência, que permite apenas o expurgo dos tributos (“impostos”, no
dizer do art. 1º da Lei 8.177/1991). O expurgo dessas duas parcelas (tanto dos tributos
como da taxa real de juros) até seria razoável, já que, extraindo tais fatores da taxa
média praticada, ter-se-ia apenas a correção monetária arbitrada pelo mercado
financeiro.

Considerando que o FGTS é isento de tributos, e que é


remunerado por juros específicos, não haveria porque receber aqueles adicionais.

B) Posteriormente à mencionada Resolução, no entanto,


essa conclusão já não é válida, pois o redutor é calculado por uma fórmula específica
e não há mais menção ao expurgo da taxa real de juros da economia.

Entretanto, é inelutável concluir que o redutor aplicado na


forma de cálculo da TR não cumpre o papel legalmente a ele destinado, que seria o de
expurgar da média das taxas de juros do mercado os efeitos da tributação (art. 1º
da Lei 8.177/1991).

13
Analisando as séries históricas da TR e da TBF, desde
julho de 1997, extraídas do sítio do Bacen na
internet(https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?
method=prepararTelaLocalizarSeries), vê-se que, a partir do ano de 1999, o redutor
sempre representou mais de 75% da TBF, chegando ao patamar de 100% na maioria
dos dias desde julho de 2012 (a TBF e a TR são calculadas diariamente, embora os
veículos de comunicação costumem divulgar apenas seus valores mensais).

Ora, não é crível que os tributos incidentes nas


operações financeiras de captação de CDB e RDB representem patamares tão
altos. Aliás, quando o redutor é de 100%, deveria se concluir que os tributos
abrangeram a totalidade do rendimento, o que não é razoável.”

Assim, se a TR, embora tenha seus parâmetros


legalmente previstos de forma razoável, está, por hipótese, sendo calculada de forma
equivocada, faz jus ao autor requerer a retificação deste cálculo em face de quem
tem a competência legal para fazê-lo.

Em resumo, a fixação da TR em patamares tão baixos é


decorrência de uma da metodologia de cálculo estipulada pela instância administrativa
equivocada, razão pela qual assiste direito à parte autora de ver este índice retificado
quanto a forma de cálculo .

Independentemente da discussão sobre a natureza


jurídica do FGTS, vamos aqui partir do pressuposto, assentado pela jurisprudência,
principalmente do STJ, que a TR é índice de correção monetária.

Tanto o artigo 1º da lei nº 8.177/91 quando o artigo 5º da


Lei nº 10.192/01 (que convolou a MP 1.053/95) atribuíram ao Banco Central a
regulamentação da metodologia de cálculo da TR, conforme critério estabelecido na lei
e a expedição das instruções necessárias ao cumprimento do artigo que criou a TBF.

Art. 1° O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial


(TR), calculada a partir da remuneração mensal média líquida
de impostos, dos depósitos a prazo fixo captados nos bancos
comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com
carteira comercial ou de investimentos, caixas econômicas, ou

14
dos títulos públicos federais, estaduais e municipais, de acordo
com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário
Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao
conhecimento do Senado Federal. . (Lei nº 8177/91)
Artigo 5º Fica instituída Taxa Básica Financeira – TBF, para ser
utilizada exclusivamente como base de remuneração de
operações realizadas no mercado financeiro, de prazo de
duração igual ou superior a sessenta dias.
Parágrafo único. O Conselho Monetário Nacional expedirá as
instruções necessárias ao cumprimento do disposto neste
artigo, podendo inclusive, ampliar o prazo mínimo previsto no
caput. (Lei nº 10.192/01)

No mister de regulamentar a TR, o Banco Central/CMN


vem ao longo dos anos criando e reinventando fórmulas para encontrá-la. Pelo menos
desde a Resolução 2.075, de 26 de maio de 1994, há fórmulas para encontrar a TR.
Todavia, é com a instituição da Taxa Básica Financeira, pela Medida Provisória
1.053/95, de 30 de junho de 1995, que a forma de cálculo da TR sofre uma expressiva
reviravolta.

Desde a Resolução 2.437, de 30 de outubro de 1997, a


TR é calculada levando em conta a Taxa Básica Financeira e um Redutor.

A Resolução 3.354/06, hoje vigente sobre o assunto, diz


o seguinte:

Art. 1º Estabelecer que, para fins de cálculo da Taxa Básica


Financeira - TBF e da Taxa Referencial - TR, de que tratam os
arts. 1º da Lei 8.177, de 1º de março de 1991, 1º da Lei 8.660,
de 28 de maio de 1993, e 5º da Lei 10.192, de 14 de fevereiro
de 2001, deve ser constituída amostra das 30 maiores
instituições financeiras do País, assim consideradas em função
do volume de captação efetuado por meio de certificados e
recibos de depósito bancário (CDB/RDB), com prazo de 30 a
35 dias corridos, inclusive, e remunerados a taxas prefixadas,
entre bancos múltiplos, bancos comerciais, bancos de
investimento e caixas econômicas.
Art. 2º A TBF e a TR são calculadas a partir da remuneração
mensal média dos CDB/RDB emitidos a taxas de mercado

15
prefixadas, com prazo de 30 a 35 dias corridos, inclusive, com
base em informações prestadas pelas instituições integrantes
da amostra de que trata o art. 1º, na forma a ser determinada
pelo Banco Central do Brasil.
Art. 4º Para cada dia do mês - dia de referência -, o Banco
Central do Brasil deve calcular a TBF, para o período de um
mês, com início no próprio dia de referência e término no dia
correspondente ao dia de referência no mês seguinte,
considerada a hipótese prevista no § 2º, inciso IV. (...)
Art. 5º Para cada TBF obtida, segundo a metodologia descrita
no art. 4º, deve ser calculada a correspondente TR, pela
aplicação de um redutor "R", de acordo com a seguinte
fórmula:
TR = max {0,100 {[ (1 + TBF/100) / R ] - 1}} (em %).
§ 1º O valor do redutor 'R' deve ser calculado para todos os
dias, inclusive não-úteis, de acordo com a seguinte fórmula:
R = (a + b . TBF/100), onde:Resolução nº 3354, de 31 de
março de 2006.
TBF = TBF relativa ao dia de referência;
a = 1,005;
b = valor determinado de acordo com a tabela abaixo, em
função da TBF obtida, segundo a metodologia descrita no art.
4º, em termos percentuais ao ano:
TBF (% a.a.) b
TBF maior que 16 0,48
TBF menor ou igual a 16 e maior que 15 0,44
TBF menor ou igual a 15 e maior que 14 0,40
TBF menor ou igual a 14 e maior que 13 0,36
TBF menor ou igual a 13 e maior ou igual a 11 0,32
Redação dada pela Resolução 3.446, de 05/03/2007.
§ 2º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a determinar
o valor do parâmetro "b" no caso de a TBF obtida ser
inferior a 11% a.a. (onze por cento ao ano).

O peculiar nesta determinação do Banco Central/CMN,


que de resto se repete desde 1997, é que a TBF e TR são exatamente iguais em sua
gênese até o momento em que se determina que se aplique um redutor à TBF para se
chegar à TR.

16
Não há na Lei da TR previsão de aplicação de redutor,
assim como não há na Lei que criou a TBF. Todavia, causa estranheza que diante
de um comando aberto como o do art. 5º da MP nº 1.503/95 (Lei nº 10.192/01), o
Banco Central/CMN, com amplos poderes para regulamentar o assunto, não tenha
instituído um redutor, mas o tenha feito ao regulamentar o artigo 1º da lei nº 8.177/91,
que não era tão flexível.

Segue quadro comparativo entre os percentuais da TR,


INPC e IPCA, desde 1997, os depósitos nas contas vinculadas do FGTS dos
trabalhadores estão perdendo poder de compra, notadamente a partir de 1999.

ANO TR INPC IPCA


1997 9,7849% 4,34% 5,22%
1998 7,7938% 2,49% 1,65%
1999 5,7295% 8,43% 8,94%
2000 2,0962% 5,27% 5,97%
2001 2,2852% 9,44% 7,67%
2002 2,8023% 14,74% 12,53%
2003 4,6485% 10,38% 9,30%
2004 1,8184% 6,13% 7,60%
2005 2,8335% 5,05% 5,69%
2006 2,0377% 2,81% 3,14%
2007 1,4452% 5,15% 4,46%
2008 1,6348% 6,48% 5,90%
2009 0,7090% 4,11% 4,31%
2010 0,6887% 6,46% 5,91%
2011 1,2079% 6,07% 6,50%
2012 0,2897% 6,17% 5,84%
2013 (até março) 0,00% 2,05% 1,94%

Veja, Excelência, que hoje o trabalhador que tem seu


dinheiro aplicado no FGTS, e de lá não pode retirá-lo para outro investimento,
está sendo remunerado com 0,247% de juros ao mês e mais nada. Não há nem
correção monetária nem Taxa Referencial (independentemente da sua natureza
jurídica), em flagrante ofensa ao artigo 2º da Lei nº 8.036/90, que impõe a
correção monetária dos valores depositados pelo empregador.

17
Ainda que se argumente que a aplicação do Redutor pelo
Banco Central/CMN seja legal, sua redução a zero em um cenário de inflação superior
a 6% ao ano, configura flagrante afronta ao artigo 2º da Lei nº 8.036/90, que determina
a atualização monetária, bem como ao artigo 233 do Código Civil, quando sonega os
acessórios da obrigação de dar.

Mas é necessário ir mais além e revisitar o entendimento


jurisprudencial sobre a TR como índice de correção monetária, máxime a partir da
instituição de um redutor que tem por efeito zerar o índice da TR em um ambiente de
inflação.

O quadro comparativo mostra que a TR não se presta


como atualizador monetário do FGTS, pelo menos desde janeiro de 1999. Desde
o momento em que o Banco Central/CMN estabeleceu um redutor para a TR, ela
deixou de ser um índice confiável para atualizar monetariamente as contas do
FGTS, porque se descola dos índices de inflação, sendo reduzido ano a ano. A
finalidade da correção monetária é manter o poder de compra do capital, e esta
finalidade nem de perto vem sendo alcançada pela TR. A anulação total da TR é
só o desfecho desta política predatória para o trabalhador. Há a nítida
expropriação do patrimônio do trabalhador, na medida em que se nega a ele a devida
atualização monetária.

O Poder Judiciário há de se opor a este esbulho,


confisco, expropriação que o trabalhador está sofrendo, desde janeiro de 1999,
com as constantes reduções da TR em relação aos índices de inflação,
culminando na sua completa nulidade, ininterruptamente, desde setembro de
2012.

Em 1991 e 1992, quando o STF julgou a ADI 493-0/DF,


ele deixou bem assentado que a TR não constituía índice que refletia a variação
do poder aquisitivo da moeda. Esta característica da TR tem se confirmado ao
longo dos anos. A sua aplicação aos saldos dos depósitos do FGTS tem gerado
“gigantesca destruição de valor” do patrimônio do trabalhador. Há anos, os
trabalhadores que tem depósitos no FGTS não experimentam ganhos reais em
sua aplicação. Ao contrário. Há muito tempo, os trabalhadores tem rendimentos

18
inferiores à inflação, mesmo levando em conta a remuneração dos juros de 3%
ao ano.

Assim, pugna a parte Autora pelo recálculo da TR,


excluindo-se o redutor aplicado, porquanto se faz desproporcional, irrazoável e está
em descompasso com a exigência de correção da lei 8036/90, arts. 2º e § 2º do art. 9º,
do mesmo modo contraria a garantia constitucional da correção monetária com a
interpretação sistemática dos artigos art. 7º , inciso IV; inciso X do art. 37; §§ 8º e 17
do art. 40; inciso III do § 4º do art. 182; caput do art. 184; §§ 3º e 4º do art. 201;
arts. 33. 46 e 78 do ADCT – todos da Constituição Federal.

Do mesmo modo, reflete o mais novo posicionamento de


diversos ministros do STF, quando na votação da ADI 4357/DF (dos precatórios),
elevam a correção monetária a uma garantia constitucional, in verbis: segundo o
ministro CARLOS AYRES BRITO, em seu voto da ADI 4357/DF (DOS
PRECATÓRIOS), bem como em seu artigo científico “ O regime constitucional da
correção monetária”,. In: Revista de Direito Administrativo, vol. 203, Rio de Janeiro:
Renovar, jan-mar 1996, p. 41-58 (...) a correção monetária, é instituto jurídico-
constitucional, porque tema específico ou a própria matéria de algumas normas
figurantes do nosso Magno Texto, tracejadoras de um peculiar regime jurídico para
ela. Instituto que tem o pagamento em dinheiro como fato-condição de sua incidência
e, como objeto, a agravação quantitativa desse mesmo pagamento. Agravação,
porém, que não corresponde a uma sobrepaga, no sentido de constituir obrigação
nova que se adiciona à primeira, com o fito de favorecer uma das partes da relação
jurídica e desfavorecer a outra. Não é isso. Ao menos no plano dos fins a que visa a
Constituição, na matéria, ninguém enriquece e ninguém empobrece por efeito de
correção monetária, porque a dívida que tem o seu valor nominal atualizado ainda é a
mesma dívida (...)

c) Da Garantia Constitucional à Correção Monetária e


da revogação do art. 13 da Lei 8036/90 e da revogação da resolução nº 3354/2006
do Conselho Monetário Nacional.

A Lei de Introdução às Normas do direito Brasileiro


estabelece em seu artigo 5º que na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a
que ela se dirige e às exigências do bem comum.

19
A lei 8036/90, no art. 2º e no § 2º do art. 9º entre outros
tem um fim social indiscutível, proteger o trabalhador e constituir um patrimônio
que lhe sirva de arrimo em várias situações de sua vida.

Diante de tudo que foi demonstrado, o juiz atenderá aos


fins sociais da Lei 8036/90 ao reconhecer que correção monetária, reposição dos
índices inflacionários de forma a garantir o poder de compra daquele dinheiro ali
depositado no Fundo, é efetivamente devida pela Caixa.

Nesse sentido, referida garantia ao “poder de compra” ou


à devida correção monetária que recomponhas ao menos, as perdas da inflação, deve
ser interpretada como uma garantia constitucional.

Vale retratar a própria lei 8036/90, no art. 2º e no § 2º do


art. 9º são claras ao exigir a correção monetárias para os valores depositados nas
contas vinculadas do FGTS, senão vejamos:

Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas


vinculadas a que se refere esta lei e outros recursos a ele
incorporados, devendo ser aplicados com atualização
monetária e juros, de modo a assegurar a cobertura de suas
obrigações.
Art. 9o As aplicações com recursos do FGTS poderão ser
realizadas diretamente pela Caixa Econômica Federal e pelos
demais órgãos integrantes do Sistema Financeiro da
Habitação - SFH, exclusivamente segundo critérios fixados
pelo Conselho Curador do FGTS, em operações que
preencham os seguintes requisitos: (Redação dada pela Lei
10.931, de 2004)
§ 2º Os recursos do FGTS deverão ser aplicados em
habitação, saneamento básico e infraestrutura urbana. As
disponibilidades financeiras devem ser mantidas em
volume que satisfaça as condições de liquidez e
remuneração mínima necessária à preservação do poder
aquisitivo da moeda.

Por outro lado, a parte autora pugna também pela


REVOGAÇÃO DA RESOLUÇÃO DO CMN nº 3.354/2006. Nesse sentido,

20
verificamos que até a Resolução 2.437, de 30/10/1997, essa regulamentação incluía
no redutor a “taxa real de juros da economia”, parcela não prevista na lei de
regência, que permite apenas o expurgo dos tributos (“impostos”, no dizer do art. 1º da
Lei 8.177/1991). O expurgo dessas duas parcelas (tanto dos tributos como da taxa real
de juros) até seria razoável, já que, extraindo tais fatores da taxa média praticada, ter-
se-ia apenas a correção monetária arbitrada pelo mercado financeiro.

Contudo, com a nova resolução 3354/2006, a forma de


cálculo da T.R foi alterada e encontra-se em total descompasso com diversos
preceitos constitucionais e legais quanto à correção monetária.

A Resolução veio “ilegal” retirar a finalidade social do art.


2º e art.9º, §2º da Lei 8036/90, pautado na real manutenção da correção monetária.

Logo, nula essa Resolução pelo “desvio de finalidade”


,uma vez que o art. 2º da citada lei determina que deve ser aplicados atualização
monetária aos depósitos do FGTS. NO mesmo sentido, o parágrafo segundo do
artigo 9º corresponde ao direito constitucional a uma correção monetária dado pela lei
ao trabalhador registrado, pois é expresso a vontade de que seja mantido o poder
de compra dos valores depositados no fundo.

Ainda, “as disponibilidades financeiras devem ser


mantidas em volume que satisfaça as condições de liquidez e remuneração mínima
necessária à preservação do poder aquisitivo da moeda”.

Assim, apesar do STJ ter decidido que a TR foi o índice


legal eleito para a correção dos saldos das contas vinculadas ao FGTS, é recente o
entendimento do STF de que o direito a correção monetária é direito
constitucional e constitui forma de manutenção do poder de compra de um
determinado valor e a TR não alcança tal objetivo.

SEGUNDO o ministro CARLOS AYRES BRITO, em


seu voto da ADI 4357/DF (DOS PRECATÓRIOS), bem como em seu artigo científico “
O regime constitucional da correção monetária”,. In: Revista de Direito
Administrativo, vol. 203, Rio de Janeiro: Renovar, jan-mar 1996, p. 41-58

21
(...) a correção monetária, é instituto jurídico-
constitucional, porque tema específico ou a própria matéria de algumas normas
figurantes do nosso Magno Texto, tracejadoras de um peculiar regime jurídico para
ela. Instituto que tem o pagamento em dinheiro como fato-condição de sua incidência
e, como objeto, a agravação quantitativa desse mesmo pagamento. Agravação,
porém, que não corresponde a uma sobrepaga, no sentido de constituir obrigação
nova que se adiciona à primeira, com o fito de favorecer uma das partes da relação
jurídica e desfavorecer a outra. Não é isso. Ao menos no plano dos fins a que visa a
Constituição, na matéria, ninguém enriquece e ninguém empobrece por efeito de
correção monetária, porque a dívida que tem o seu valor nominal atualizado ainda é a
mesma dívida (...)

Ainda, prossegue o ministro CARLOS AYRES BRITO,


em seu voto da ADI 4357/DF (DOS PRECATÓRIOS),

(...) Sendo assim, impõe-se a compreensão de que, com a


correção monetária, a Constituição manda que as coisas mudem..., para que
nada mude; quero dizer: o objetivo constitucional é mudar o valor nominal de uma
dada obrigação de pagamento em dinheiro, para que essa mesma obrigação de
pagamento em dinheiro não mude quanto ao seu valor real. É ainda inferir: a correção
monetária é instrumento de preservação do valor real de um determinado bem,
constitucionalmente protegido e redutível a pecúnia. Valor real a preservar que é
sinônimo de poder de compra ou “poder aquisitivo”, tal como se vê na redação do
inciso IV do art. 7º da C.F., atinente ao instituto do salário mínimo. E se se coloca
assim na aplainada tela da Constituição a imagem de um poder aquisitivo a
resguardar, é porque a expressão financeira do bem juridicamente protegido passa a
experimentar, com o tempo, uma deterioração ou perda de substância, por efeito,
obviamente, do fato econômico genérico a que se dá o nome de “inflação”. Daí
porque deixar de assegurar a continuidade desse valor real é, no fim das contas,
desequilibrar a equação econômico-financeira entre devedor e credor de uma
dada obrigação de pagamento, em desfavor do último.

Nesse contexto, em sendo confirmada essa posição, o


STJ não poderia mais entender que o FGTS deve ser corrigido pela poupança, como
se fosse um índice eleito, vez que correção monetária (cujo conceito constitucional,
como já dito, se equivale àquele previsto no parágrafo segundo do artigo 9º da Lei
8036/90), que é diferente de uma simples correção, impede a eleição de índice,

22
somente se satisfazendo com o índice que de fato reflita a recomposição do
poder de compra de um valor perdido com a inflação.

Assim, requer o reconhecimento do direito subjetivo


constitucional da correção monetária a que faz juz os autores por força de seu
enquadramento na situação prevista no artigo 9, parágrafo segundo, cuja redação
se enquadra no conceito constitucional de correção monetária, bem como a
consequente a aplicação do índice que melhor reflita a inflação no período em
questão, utilizando-se da analogia para escolha de tal índice, pelo que estar-se-ia
dando cumprimento a mandamento legal.

Nesse sentido, pugna-se de revogação do art. 13 da lei


8036/90, a partir do momento em que a TR deixou de refletir a recomposição do poder
de compra da moeda, já que o artigo 13 existe para dar efetividade ao artigo 9º,
parágrafo segundo, da Lei 8036/90, o qual prevê a CORREÇÃO MONETÁRIA
propriamente dita, nos moldes da CF. Frise-se, assim o faz não como apenas um
índice legal eleito para corrigir determinado valor. Isto é, o artigo 13 foi revogado pela
CF a partir do momento em que deixou de ser considerado como índice de correção
monetária na forma da CF, ou seja, a partir do momento em que deixou de ser
suficiente para recompor o poder de compra dos valores depositados no fundo
corroído pela inflação.

Em outros termos, o que está errado não é a poupança


(que engloba a TR) como forma de remuneração de determinado montante, mas a
poupança como forma de correção monetária, nos exatos termos em que foi eleita
pela Lei 8036/90 através do parágrafo segundo do artigo 9º e do art. 2º da mesma lei.

Enfim, requerer a revogação de determinado artigo legal


não é atribuir a atividade legiferante ao judiciário, e sim permite fazer valer um
determinado direito subjetivo, nos moldes previstos na própria CF.

Por fim, diante do exposto o artigo 13 da lei 8036/90 fere


expressamente o conjunto de dispositivos constitucionais que garantem o direito
subjetivo à correção monetária, ou seja art. 7º , inciso IV; inciso X do art. 37; §§ 8º e
17 do art. 40; inciso III do § 4º do art. 182; caput do art. 184; §§ 3º e 4º do art. 201;
arts. 33. 46 e 78 do ADCT.

23
E então, nada obsta que o juiz considere índices previsto
em outra legislação.

Até por uma questão de equidade, o melhor índice que


pode substituir a TR é o índice que corrige monetariamente o salários dos
trabalhadores e os benefícios previdenciários. Este índice está previsto na Lei 12.382
de 25 de fevereiro de 2011, cujos primeiros artigos trazem a seguinte dicção:

Art. 1o O salário mínimo passa a corresponder ao valor de R$


545,00 (quinhentos e quarenta e cinco reais).
Parágrafo único. Em virtude do disposto no caput, o valor
diário do salário mínimo corresponderá a R$ 18,17 (dezoito
reais e dezessete centavos) e o valor horário, a R$ 2,48 (dois
reais e quarenta e oito centavos).
Art. 2o Ficam estabelecidas as diretrizes para a política de
valorização do salário mínimo a vigorar entre 2012 e 2015,
inclusive, a serem aplicadas em 1o de janeiro do respectivo
ano.
§ 1o Os reajustes para a preservação do poder aquisitivo
do salário mínimo corresponderão à variação do Índice
Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, calculado e
divulgado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE, acumulada nos doze meses anteriores ao
mês do reajuste.
§ 2o Na hipótese de não divulgação do INPC referente a um
ou mais meses compreendidos no período do cálculo até o
último dia útil imediatamente anterior à vigência do reajuste, o
Poder Executivo estimará os índices dos meses não
disponíveis.
§ 3o Verificada a hipótese de que trata o § 2o, os índices
estimados permanecerão válidos para os fins desta Lei, sem
qualquer revisão, sendo os eventuais resíduos compensados
no reajuste subsequente, sem retroatividade.
§ 4o A título de aumento real, serão aplicados os seguintes
percentuais:
I - em 2012, será aplicado o percentual equivalente à taxa de
crescimento real do Produto Interno Bruto - PIB, apurada pelo
IBGE, para o ano de 2010;II - em 2013, será aplicado o
percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB,
apurada pelo IBGE, para o ano de 2011; III - em 2014, será

24
aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real
do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2012; e IV - em
2015, será aplicado o percentual equivalente à taxa de
crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de
2013.
§ 5o Para fins do disposto no § 4o, será utilizada a taxa de
crescimento real do PIB para o ano de referência, divulgada
pelo IBGE até o último dia útil do ano imediatamente anterior
ao de aplicação do respectivo aumento real.

Não há porque ter dois pesos e duas medidas. Se o


salário mínimo é corrigido monetariamente pelo INPC, o depósito do FGTS que, em
últimas análise, é um salário indireto do trabalhador, também há de sê-lo.

E observe que o objetivo da Lei em corrigir o salário


mínimo pelo INPC decorre exclusivamente da necessidade de preservar seu
poder aquisitivo. A necessidade de preservar o poder aquisitivo é um constante em
todas as transações financeiras, e ela só aperfeiçoa quando repõe efetivamente as
perdas inflacionárias.

d) DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO PODER


PÚBLICO POR ATO LESIVO – DIREITO À RESPECTIVA INDENIZAÇÃO

Em última análise, busca a presente ação afastar os


nefastos efeitos da inflação, em relação a aplicação da TR como índice de correção
dos depósitos do FGTS. Para tanto, tentamos percorrer alguns caminhos, seja por
meio da substituição do índice atual (T.R) por outro índice, seja pelo direito ao
recálculo ou revisão na forma de cálculo da T.R. Objetiva-se, assim, a necessária
manutenção do poder aquisitivo da remuneração, expungindo-se o desequilíbrio do
ajuste no que deságua em vantagem indevida para o Poder Público, a aproximar-se,
presente a força que lhe é própria, do fascismo.

Data venia, entendemos que não se pode adotar


entendimento que implique supremacia absoluta do Estado, em conflito com o regime
democrático e republicano.

No mesmo sentido, o Recurso Especial nº 1.112.524/DF,


da relatoria do Ministro Luiz Fux, à época no Superior Tribunal de Justiça: “A

25
correção monetária plena é mecanismo mediante o qual se empreende a
recomposição da efetiva desvalorização da moeda, com o escopo de se
preservar o poder aquisitivo original, sendo certo que independe de pedido
expresso da parte interessada, não constituindo um plus que se acrescenta ao
crédito, mas um minus que se evita”.

A necessária observância à equação econômico-


financeira está presente na jurisprudência do Supremo, como dão conta os acórdãos
proferidos na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.733/ES, da relatoria do
Ministro Eros Grau, e na Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº
2.599, da relatoria do Ministro Moreira Alves.

No mais, atentem para a interpretação sistemática dos


dispositivos constitucionais. Há garantia constitucional da correção monetária nas
relações jurídicas.

A interpretação sistemática da Constituição Federal, em


diversos dispositivos (art. 7º , inciso IV; inciso X do art. 37; §§ 8º e 17 do art. 40;
inciso III do § 4º do art. 182; caput do art. 184; §§ 3º e 4º do art. 201; arts. 33. 46 e
78 do ADCT) somada a interpretação da própria lei 8036/90, art. 2º e art.9º, §2º,
impõe-se concluir que o legislador constitucional assegurou UMA GARANTIA
CONSTITUCIONAL A CORREÇÃO MONETÁRIA, pois, se assim não fosse, estaria
consagrada, paradoxalmente, com a garantia constitucional, uma perversa opção
política para reduzi-los por simples omissão, quando e no quanto fosse desejável à
Administração, bastando, para tanto, que os Chefes do Poder Executivo se
abstivessem de enviar mensagem de reajustamento ao Legislativo para a correção
das perdas inflacionárias da moeda (Curso de direito administrativo, 2009, pp. 336 e
337).

Forte nessas premissas, o artigo 37 da Carta da


República trouxe os princípios aos quais está submetida a Administração Pública
direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios – legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Mais do que isso, remeteu à observância dos incisos que


se seguem. O inciso X prevê que a remuneração dos servidores públicos e o subsídio
de que trata o § 4º do artigo 39, também da Constituição, somente poderão ser fixados

26
ou alterados por lei específica, respeitada a iniciativa privativa em cada caso,
assegurada a revisão geral anual, sempre na mesma base e sem distinção de índices.

A consequência é o achatamento incompatível com a


própria relação jurídica mantida, decorrendo desse fenômeno a quebra de equação
inicial e o enriquecimento sem causa por parte do Estado.

Trata-se de ato omissivo do Estado e com auto


aplicabilidade do preceito constitucional alusivo à revisão.

Vejam, a propósito, o acórdão relativo ao Mandado de


Segurança nº 22.439, da relatoria do Ministro Maurício Corrêa – a atrair a incidência
do disposto no § 6º do mencionado artigo 37 da Lei Maior: § 6º - As pessoas jurídicas
de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

A norma constitucional, evoluindo em relação a teorias


passadas que consagravam a irresponsabilidade pública, previu a responsabilidade
objetiva do Estado pelos atos praticados por agentes públicos.

No campo da omissão, haverá o dever de indenizar


quando ficar concretamente demonstrado que, existindo a obrigação legal de agir e a
possibilidade de evitar a lesão, ocorreu o fato danoso.

Nesse sentido, a ausência de reposição das perdas


inflacionárias deveria ter sido realizada por meio de alterações legais respectivas e
simples – perdas inflacionárias que vem ocorrendo há mais de 10 anos. Logo, a
substituição do índice de correção era ônus que competia especificamente a parte ao
Poder Público e a requerida, sendo que a completa omissão trouxe LESÃO a parte
autora e todos os trabalhadores do país.

Ainda, nesse sentido:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer


dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,

27
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito
privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa

Logo, como bem determina o art. 37, §6º, a parte Autora


faz jus à devida indenização pelos danos causados por omissão pelo poder público,
que deixou de legislar ou modificar os dispositivos legais que causaram prejuízos aos
autores (em especial a manutenção do art. 13 da lei 8036/90). Em última análise,
pugna pela devida indenização que deve refletir a diferença entre as perdas
inflacionárias a partir de 1999 até hoje, diante da aplicação da T.R como índice de
correção.

IV. DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUÍTA:

Conforme faz certo a Declaração de Pobreza juntada aos


autos, o Requerente é pessoas pobre, na acepção jurídica do termo, não tendo
condições de dispor dos valores referentes a custas, despesas processuais,
honorários advocatícios, e demais gastos necessários ao ingresso em Juízo sem
privação dos meios necessários à própria subsistência.

Frente ao exposto, com fundamento no artigo 5º, inciso


LXXIV, c/c artigo 4º, da Lei 1.060/50, e sob as cominações da Lei 7.115/83, requer a
concessão da gratuidade da Justiça.

V. AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO:

Nos termos do art. 334, § 5º do Código de Processo Civil,


o Autor desde já manifesta, pela natureza do litígio, tendo em vista que a Requerida
não reconhece o direito do Autor a devida correção das contas e por isso manifesta o
desinteresse em na audiência de conciliação e/ou autocomposição.

28
VI. DOS PEDIDOS:

Antes o exporto, REQUER a V.EXA:

a) Primeiramente, que seja admitida a presente petição


inicial, com expedição de citação postal à parte ré, para querendo contestar a presente
ação;

b) Após, que seja determinada a suspensão dos autos de


acordo com a decisão da medida cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade
5.090 Distrito Federal, até o deslinde da controvérsia;

c) Logo após o julgamento da ADIN 5.090 Distrito


Federal, para que se dê sequência ao feito, mediante levantamento da suspensão
decorrente da dita afetação;

d Ao final, seja a presente ação julgada totalmente


procedente, requerendo-se:

d.1) que a TR seja substituída pelo INPC ou,


alternativamente, pelo IPCA-E, + 3% ao ano como índice de correção dos
depósitos de FGTS efetuado em nome do AUTOR em relação as parcelas vencidas e
vincendas, com a consequente aplicação do novo índice sobre os depósitos
constantes das contas vinculadas do Autor ; ou

d.2) a aplicação de qualquer outro índice que reponha


as perdas inflacionárias do trabalhador nas contas do FGTS, no entender deste
Doutor Juízo, sobre as parcelas vencidas e vincendas, com a consequente aplicação
do novo índice sobre os depósitos constantes das contas vinculadas do (s) Autor (es);

d.3) Seja revogado o art. 13 da lei nº 8036/90 e que seja


revogada ou decretada a nulidade da atual resolução do Conselho Monetário
Nacional nº 3.354/2006, conforme fundamentos exposto, com aplicação de outro
índice outro índice que reponha as perdas inflacionárias do trabalhador nas contas do
FGTS;

29
d.4) Subsidiariamente, pugna pelo recálculo da T.R,
requerendo-se desde já perícia técnica contábil. Ainda, requer seja realizado os
cálculos sem a aplicação do referido redutor (da fórmula de cálculo da T.R) ou no caso
de aplicação, que os cálculos sejam realizados com o redutor para expurgar do cálculo
os efeitos da tributação e a taxa real de juros da economia – enfim, requer seja
utilizado a forma que mais se aproxime/recomponha as perdas inflacionárias
(pela utilização da T.R como índice de correção do FGTS) entre janeiro de 1999
até o data do efetivo pagamento;

d.5) Em última análise, pugna pela devida indenização


pautada no art. 37, §6º da Constituição Federal, diante da aplicação da T.R como
índice de correção do FGTS, que deve refletir as diferenças entre as perdas
inflacionárias a partir de 1999 até o devido pagamento;

e) Ao final, a condenação da CEF para:

e.1) pagar, a favor do Autor o valor correspondente às


diferenças de FGTS em razão da aplicação da correção monetária pelo INPC ou
IPCA-E + 3% ao ano ou qualquer outro índice que ao menos recomponha as perdas
inflacionárias - nos meses em que a TR foi zero ou menor que a inflação do período,
nas parcelas vencidas e vincendas;
e.2) pagar, a favor do (s) Autor(es) o valor
correspondente às diferenças de FGTS em razão da revisão na forma do cálculo da
T.R - nos meses em que a TR foi zero ou menor que a inflação do período, nas
parcelas vencidas e vincendas, desde Janeiro de 1999;
e.3) Pagar, a favor do Autor o valor correspondente às
diferenças de FGTS em razão da aplicação da correção monetária pelo IPCA, desde
janeiro de 1999, nos meses em que a TR não foi zero, mas foi menor que a inflação do
período; ou
e.4) pagar, a favor do (s) Autor(es) o valor
correspondente devida indenização pautada no art. 37, §6º da Constituição
Federal, diante da aplicação da T.R como índice de correção do FGTS, que deve
refletir as diferenças entre as perdas inflacionárias a partir de 1999 até o devido
pagamento;
e.5) Sobre os valores devidos pela condenação de que
tratam os itens acima, deverão incidir correção monetária desde a inadimplência da
Caixa, bem como os juros legais.

30
d) A realização de perícia técnica judicial para
comprovar o disposto nos pedidos;

e) A condenação da Caixa ao pagamento das custas e


honorários advocatícios de 20% sobre o valor da condenação.

f) A concessão da gratuidade da justiça, porquanto a


parte autora não possui condições financeiras para recolhimento de custas ou
despesas processuais. Subsidiariamente, requer sejam as custas recolhidas ao
final;
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova
admitidos em direito, principalmente prova documental, bem como perícia contábil que
irá comprovar as perdas nas contas do FGTS.

Atribui-se à causa o valor de R$

Nestes termos,
Pede deferimento.

Cidade/data

advogado
OAB

31

Você também pode gostar