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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

7ª Vara da Fazenda Pública do DF


Fórum VERDE, 4º andar, Setores Complementares, BRASÍLIA - DF - CEP: 70620-020
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Horário de atendimento: 12:00 às 19:00

Processo n° 0707729-15.2020.8.07.0018

MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL (120)

Polo ativo: IZALCI LUCAS FERREIRA e outros

Polo passivo: REPRESENTANTE DO DISTRITO FEDERAL e outros

SENTENÇA

Vistos etc.

Trata-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, impetrado por FRANCISCO DOMINGOS
DOS SANTOS, ARLETE AVELAR SAMPAIO, FABIO FELIX SILVEIRA, JOSE ANTONIO
MACHADO REGUFFE, LEILA GOMES DE BARROS REGO, IZALCI LUCAS FERREIRA,
PAULA MORENO PARO BELMONTE, ISRAEL MATOS BATISTA e ERIKA JUCA KOKAY
contra ato que imputa aos ACIONISTAS CONTROLADORES DA CEB – COMPANHIA
ENERGÉTICA DE BRASÍLIA, REPRESENTANTE DO DISTRITO FEDERAL e o
REPRESENTANTE DA NOVACAP – COMPANHIA URBANIZADORA DA NOVA CAPITAL,
este legitimado para tal pela Procuração SEI-GDF – NOVOCAP/PRES/DJ/DECONS nº. 48406137,
visando a obtenção de provimento jurisdicional que declare a nulidade da deliberação da 103º Assembleia
Geral Extraordinária da CEB, que em virtude dos votos das autoridades coatoras enquanto representante
dos acionistas controladores (Distrito Federal e NOVACAP), autorizaram a alienação da
CEB-Distribuição sem o crivo legislativo, em desacordo com o disposto no Art. 19, XVIII e XIX, da Lei
Orgânica do Distrito Federal.

Para tanto, alegam os impetrantes que o presente mandamus se insurge contra a decisão das autoridades
coatoras, enquanto representantes do poder público, de autorizarem à alienação, via leilão, de 100% das
ações da CEB-Distribuição, sob argumento de que todo o trâmite decisório para a realização da
privatização aqui atacada ocorreu no âmbito interno da CEB e do Governo do Distrito Federal, sem a
obrigatória autorização legislativa.

Número do documento: 21012818442957300000077344608


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Sustentam que a ausência de autorização legislativa para venda da CEB-Distribuição, em flagrante
violação ao art. 19, XVIII e XIX, da Lei Orgânica do Distrito Federal, e esgotadas todas as possibilidades
de recursos administrativos, diante da iminência do leilão agendado para o dia 04/12/2020, os autores
impetram o presente mandamus com o objetivo de revogar o ato coator, de forma que a discussão quanto
à conveniência e oportunidade da alienação seja encaminhada democraticamente ao poder legislativo.

Esclarecem que a suposta legalidade da venda do controle acionário das CEB-Distribuição calcadas no
entendimento do STF exarado na ADI 5.624/DF, que declarou ser compatível com a Constituição Federal
o art. 29, XVIII, da Lei das Estatais (nº. 13.303/16), que assevera ser dispensável “a realização de
licitação por empresas públicas e sociedades de economia mista” para “compra e venda de ações, de
títulos de crédito e de dívida e de bens que produzam ou comercializem”; porém, a LODF, que para
efeitos jurídicos equipara-se às Constituições Estaduais, ao disciplinar a organização da Administração
Pública Distrital, fez a opção por exigir autorização legislativa para alienação das estatais, inclusive as
subsidiárias.

Alegam que a LODF, longe de ser contraditória com a Lei Federal, apenas a complementa e cria, nos
termos de sua competência, maior exigência para a privatização das subsidiárias das empresas estatais
distritais e que, em nosso federalismo não há hierarquia entre a Lei Federal e as Constituições Estaduais
(e Lei Orgânica do DF), de modo que as normas devem ser interpretadas e harmonizadas tendo como
baliza a Constituição Federal.

Asseveram, também, que a Lei das Estatais, em seu art. 29, XVIII, não veda a autorização legislativa para
privatização das subsidiárias das estatais, ao passo que a Lei Orgânica estabelece confecção de lei
específica. Assim, ante a ausência de contradição entre as normas, não há justificativa para ser afastada a
exigência de lei específica para privatização das estatais e suas subsidiárias conforme dispõe o art. 19 da
LODF.

Argumentam, ainda, que, ao analisar a situação econômica da CEB-Distribuição constata-se sua condição
de subsidiária responsável por aproximadamente 96% das receitas de sua controladora; no cerne
constitutivo da CEB-Distribuição houve a transformação da maior parte dos ativos da Companhia
Energética de Brasília (Grupo CEB) em ativos da CEB-D; de acordo com o Relatório de Administração
da CEB de 2019, do total de 1.046 trabalhadores do Grupo CEB, exatos 935 atuam na CEB-Distribuição,
sendo apenas 81 trabalhadores que desempenham suas funções na controladora CEB Holding, o que
significa que 89% dos trabalhadores do Grupo CEB atuam na CEB-Distribuição; tais fatos demonstram
que a subsidiária é muito maior que a própria controladora e, portanto, é possível constatar uma explícita
distorção daquilo que se entende por uma relação entre empresa controlada e controladora nos termos do
que foi definido pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 5.624/DF.

Sustentam os impetrantes que a criação da CEB-Distribuição foi precedida de autorização legislativa;


assim, da mesma forma como a criação de empresas públicas e sociedades de economia mista deve dar-se
por meio de lei, também a alienação da sociedade, que corresponde à retirada do Estado do domínio
econômico, deve ocorrer da mesma forma conforme determina o princípio do paralelismo ou paridade das
formas; e que no caso da Petrobrás, existe lei genérica que autoriza a alienação de ações de suas
subsidiárias (art. 64 da Lei Federal nº 9.478/97), o que não ocorre no caso do Grupo CEB, uma vez que a
Lei Distrital nº. 2.710/01 apenas autoriza a criação de subsidiárias, e não a alienação de suas ações,
tampouco a perda do controle acionário.

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Pleitearam a concessão de medida liminar.

Finalizam pugnando pela concessão da segurança.

O DISTRITO FEDERAL ingressou espontaneamente nos autos e apresentou a peça de ID 78224614,


alegando, em preliminares, decadência da impetração e ilegitimidade passiva das autoridades coatoras e,
no mérito, postulou pelo indeferimento da liminar e denegação da ordem em função da legalidade da
alienação.

No dia 26 de novembro de 2020, foi prolatada decisão indeferindo a medida liminar pleiteada. Na
oportunidade, foi reconhecida a ilegitimidade ativa dos impetrantes FRANCISCO DOMINGOS DOS
SANTOS, ARLETE AVELAR SAMPAIO, FABIO FELIX SILVEIRA, JOSE ANTONIO
MACHADO REGUFFE, LEILA GOMES DE BARROS REGO, IZALCI LUCAS FERREIRA,
além de terem sido refutadas as preliminares de ilegitimidade passiva das autoridades coatoras e de
decadência levantadas pelo DISTRITO FEDERAL (ID 78242006).

Contra tal decisum foi interposto agravo de instrumento, tendo a em. Des. Relatora do AGI nº
0751111-15.2020.8.07.0000 concedido parcialmente a liminar pleiteada pelos impetrantes (ID 78887905).

Sobreveio r. decisão do em. Ministro Presidente do e. Superior Tribunal de Justiça sustando os efeitos da
decisão proferida pela Desembargadora relatora Fátima Rafael, no Agravo de Instrumento n. 0751111-
15.2020.8.07.0000, conforme se verifica do documento de ID 79681128.

A COMPANHIA ENERGÉTICA DE BRASÍLIA - CEB requereu seu ingresso no feito em epígrafe na


qualidade de terceira interessada, conforme petição de ID 78443670, o que foi deferido pelo Juízo ao ID
78939222.

A COMPANHIA URBANIZADORA DA NOVA CAPITAL DO BRASIL – NOVACAP peticionou


nos autos requerendo seu ingresso no feito epígrafe e prestando as informações requeridas (ID 79971253).

A autoridade coatora apresentou informações por meio da petição de ID 81518335.

O Ministério Público se manifestou ao ID 81753106, pela denegação da segurança.

Vieram os autos conclusos para sentença.

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É o relatório.

DECIDO.

De início, DEFIRO o pedido formulado pela COMPANHIA URBANIZADORA DA NOVA


CAPITAL DO BRASIL – NOVACAP para ingresso no feito em epígrafe. ANOTE-SE.

Trata-se de ação mandamental na qual os impetrantes buscam a obtenção de provimento jurisdicional


que declare a nulidade da deliberação da 103º Assembleia Geral Extraordinária da CEB, que em virtude
dos votos das autoridades coatoras enquanto representante dos acionistas controladores (Distrito Federal e
NOVACAP), autorizaram a alienação da CEB-Distribuição sem o crivo legislativo, em desacordo com o
disposto no Art. 19, XVIII e XIX, da Lei Orgânica do Distrito Federal.

Não há questões processuais pendentes, sendo certo que as preliminares arguidas pelas autoridades
coatoras já foram repelidas pelo Juízo ao ID 78242006, inclusive a alegação de inadequação da via eleita,
em face do preceito da primazia do mérito.

Presentes os pressupostos processuais e condições da ação, passo ao exame do mérito, onde observo que o
caso é de denegação da segurança pleiteada na peça exordial.

Com efeito, a questão posta em julgamento cinge-se ao alegado direito líquido e certo dos impetrantes,
deputados distritais, deliberarem sobre a conveniência e oportunidade da privatização da CEB
Distribuição, com fundamento no art. 19, XVIII e XIX, da LODF, que teria feito a opção por exigir
autorização legislativa para alienação das estatais, inclusive as subsidiárias, no âmbito do Distrito Federal.

Ora, é preciso destacar que, quanto à alegação de necessidade de autorização da Câmara Legislativa do
Distrito Federal, o STF reconheceu, por ocasião do julgamento da ADI 5624, a desnecessidade de
autorização legislativa quando da venda da participação acionária de uma subsidiária, nos seguintes
termos:

MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONCESSÃO


PARCIAL MONOCRÁTICA. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO. ART. 29,
CAPUT DA LEI 13.303/2016. VENDA DE AÇÕES. ALIENAÇÃO DO CONTROLE ACIONÁRIO DE
EMPRESAS PÚBLICAS, SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA OU DE SUAS SUBSIDIÁRIAS E
CONTROLADAS. NECESSIDADE DE PRÉVIA AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA E DE
LICITAÇÃO. VOTO MÉDIO. MEDIDA CAUTELAR PARCIALMENTE PELO PLENÁRIO. I – A
alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de economia mista exige autorização
legislativa e licitação pública. II – A transferência do controle de subsidiárias e controladas não exige

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a anuência do Poder Legislativo e poderá ser operacionalizada sem processo de licitação pública,
desde que garantida a competitividade entre os potenciais interessados e observados os princípios
da administração pública constantes do art. 37 da Constituição da República. III – Medida cautelar
parcialmente referendada pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal. (ADI 5624 MC-Ref, Relator(a):
RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 06/06/2019, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-261 DIVULG 28-11-2019 PUBLIC 29-11-2019) (destaquei).

A propósito do tema, a Justiça do Distrito Federal já se manifestou sobre a questão posta em julgamento,
por ocasião do indeferimento da tutela de urgência nos autos da ação popular em trâmite perante a 4ª Vara
Cível de Brasília, Proc. nº 0706848-38.2020.8.07.0018, na qual o MM. Juiz de Direito Titular, Dr.
Giordano Resende Costa, bem analisou a tese da necessidade de autorização legislativa específica para
privatização da CEB Distribuição, por decisão exarada em 19/10/2020, verbis:

... o argumento central da peça inicial é falho e contrário ao entendimento do Supremo Tribunal Federal,
pois a sociedade requerida pode vender a sua participação acionária nas subsidiárias sem a necessidade de
autorização legislativa.

É um precedente obrigatório, nos termos do artigo 927, I, do Código de Processo Civil e não pode este
Juízo não o observar. (ID 74920106 - Pág. 3-4 daqueles autos).

Da mesma forma, essa questão já foi afastada pelo TCDF em sessão ocorrida em 28/10/2020, em sede de
representação dos empregados da CEB (decisão que ainda não foi publicada).

Daí porque incabível o argumento de que configura desvio de finalidade a aplicação da hipótese da ADI
5624 ao presente caso.

Como se isso não bastasse, constata-se que a Companhia Energética de Brasília – CEB, que é a entidade
matriz ou entidade-mãe, configura uma holding, formada pelas seguintes empresas (subsidiárias e
coligadas):

HOLDING - COMPANHIA ENERGÉTICA DE BRASÍLIA - CEB

As empresas subsidiárias integrais:

CEB DISTRIBUIÇÃO S/A – Lei DF nº 383/92

CEB GERAÇÃO S/A – Lei DF nº 2.648/2000

CEB PARTICIPAÇÕES S/A (CEBPar) – Lei DF nº 1.788/97

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CEB LAJEADO S/A (CEBLajeado) – Lei DF nº 2.515/99

As empresas coligadas:

CIA BRASILIENSE DE GÁS S/A (CEBGAS) – Lei DF nº 2.518/2000

BSB ENERGÉTICA S/A;

CORUMBÁ CONCESSÕES S/A;

ENERGÉTICA CORUMBÁ III S/A.

Desta forma, não há que se falar que a alienação da CEB Distribuição S/A conduzirá, de fato ou de
direito, ao desaparecimento da matriz, pois diversas outras empresas fazem parte da holding.

Aliás, não é a quantidade de empregados ou o maior volume de receitas que dita quem é o controlador ou
o controlado em uma holding, mas sim quem tem a maioria do capital votante, que é a responsável pelos
atos de controle e gestão da entidade controlada.

Além disso, o STF já firmou entendimento acerca da correta interpretação do disposto no inc. XX, do art.
37, da CF, no caso da criação das subsidiárias da Petrobrás nos anos 90, nos seguintes termos:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 9478/97. AUTORIZAÇÃO À


PETROBRÁS PARA CONSTITUIR SUBSIDIÁRIAS. OFENSA AOS ARTIGOS 2º E 37, XIX E XX,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INEXISTÊNCIA. ALEGAÇÃO IMPROCEDENTE. 1. A Lei 9478/97
não autorizou a instituição de empresa de economia mista, mas sim a criação de subsidiárias distintas da
sociedade-matriz, em consonância com o inciso XX, e não com o XIX do artigo 37 da Constituição
Federal. 2. É dispensável a autorização legislativa para a criação de empresas subsidiárias, desde
que haja previsão para esse fim na própria lei que instituiu a empresa de economia mista matriz,
tendo em vista que a lei criadora é a própria medida autorizadora. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada improcedente. (Supremo Tribunal Federal. Plenário, ADI 1649 / DF, Rel.
Maurício Corrêa, Data: 24/03/2004) (destaquei)

Assim, instituídas com fundamento no art. 64 da Lei Federal nº 9.478/97, houve dispensa de autorização
legislativa específica para a criação das empresas subsidiárias da Petrobrás, desde que houvesse previsão
para esse fim na própria lei que instituiu a empresa de economia mista matriz, o que se aplica ao presente
caso, pois tanto a referida Lei Federal como a Lei Distrital nº. 2.710/2001 apenas autorizam a criação de
subsidiárias e nada falam sobre a alienação de suas ações ou a perda do controle acionário.

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Ora, se é dispensável autorização legislativa específica para criação das subsidiárias, decorre,
logicamente, sua dispensa para sua extinção ou transferência do controle acionário, nos exatos termos da
ADI 5624.

Não bastasse isso, não têm razão os impetrantes quando sustentam ofensa ao disposto no art. 19 da
LODF.

É que, tal como no art. 37, XIX e XX, da CF, o art. 19, XVIII, XIX e § 7º da LODF, estabelece que:

XVIII – somente por lei específica pode ser:

a) criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de


fundação, cabendo a lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação;

b) transformada, fundida, cindida, incorporada, privatizada ou extinta entidade de que trata a alínea a;

XIX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades
mencionadas no inciso anterior, assim como a participação de qualquer delas em empresa privada;

§ 7º Para a privatização ou extinção de empresa pública ou sociedade de economia mista a que se refere o
inciso XVIII deste artigo, a lei específica dependerá de aprovação por dois terços dos membros da
Câmara Legislativa.

I - A privatização de empresa pública ou sociedade de economia mista, de que trata o inciso VXIII deste
artigo, condicionada à autorização legislativa nos termos deste parágrafo, depende de manifestação
favorável da população, sob a forma de referendo;

II - a lei que autorizar a privatização, mediante alienação de ações de empresa pública e sociedade de
economia mista, estabelecerá a exigência de cumprimento pelo adquirente de metas de qualidade do
serviço de atendimento aos objetivos sociais inspiradores da constituição da entidade.

Note-se, desta forma, que o mencionado § 7º do art. 19 da LODF faz referência apenas ao inciso XVIII,
que trata da entidade matriz, a qual é exigida expressamente lei específica para criação e extinção.

Logo, para criação (e extinção) das empresas subsidiárias resta aplicação somente do disposto no inciso
XIX, do art. 19, da LODF e, conforme já explanado, o STF já dispensou lei específica para criação (e, por
tabela, para extinção), no referido julgamento da ADI 1649.

Ademais, é preciso destacar que a Lei Distrital nº 383/92, com as alterações feitas pela Lei nº 1.787/97, já
autorizou à CEB, nos termos de seu artigo 2º, a constituição ou subscrição de capital de sociedades,
inclusive subsidiárias integrais. E seu art. 3º autorizou o Governo do Distrito Federal a alienar ações
disponíveis que tiver no capital social da CEB, aplicando-se o produto em investimentos energéticos da
própria empresa.

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A propósito, conforme acuradamente pontuou o ilustre Procurador do Distrito Federal subscritor da peça
defensiva, a partir dos ensinamentos da profa. Odete Medauar, não há que confundir a sociedade de
economia mista matriz com suas subsidiárias:

De outro lado, no caso das sociedades que tenham participação majoritária (controle) ou totalitária
(subsidiária integral) a questão hoje se resolve pelo não enquadramento de tais subsidiárias no conceito de
sociedade de economia mista. A simples conjugação do capital público com o privado não lhe confere a
natureza de sociedade de economia mista, sendo imprescindível, em qualquer âmbito, a autorização legal
para lhe caracterizar como tal (ID 78224614 – Pág. 9-10).

Portanto, sob qualquer prisma que se possa analisar a presente questão não há direito líquido e certo a ser
amparado no presente mandamus, a despeito do louvável esforço argumentativo despendido pelos ilustres
advogados dos impetrantes, sendo, de rigor, a denegação da segurança.

Ante o exposto, DENEGO A SEGURANÇA pleiteada nos presentes autos.

Declaro resolvido o mérito da demanda, com fulcro no artigo 487, inciso I, do Código de Processo
Civil.

Custas pelos impetrantes.

Sem condenação em honorários advocatícios, tendo em vista o disposto no artigo 25 da Lei


12.016/09 e nas Súmulas 105 do STJ e 512 do STF.

Sentença registrada eletronicamente nesta data.

Publique-se. Intimem-se.

Operado o trânsito em julgado da sentença, feitas as anotações de praxe, dê-se baixa e arquivem-se os
autos.

Expeça-se ofício à em. Des. Rel. do AGI nº 0751111-15.2020.8.07.0000 (ID 78887905), para que seja
informada do teor da presente sentença.

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BRASÍLIA/DF, 28 de janeiro de 2021.

PAULO AFONSO CAVICHIOLI CARMONA

Juiz de Direito

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