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Poder Judiciário da União Fls.

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Órgão : CONSELHO ESPECIAL


Classe : ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE
N. Processo : 20180020033219AIL
(0003310-18.2018.8.07.0000)
Arguinte(s) : DESEMBARGADOR RELATOR DA APC
20150111131334
Arguido(s) : MESA DIRETORA DA CÂMARA LEGISLATIVA
DO DISTRITO FEDERAL
Relator : Desembargador WALDIR LEÔNCIO LOPES
JÚNIOR
Acórdão N. : 1135545

EMENTA

ARGUIÇÃO INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE.


LEI DISTRITAL N. 5.523/2015. ALTERA DENOMINAÇÃO DA
PONTE COSTA E SILVA PARA HONESTINO GUIMARÃES.
INICIATIVA PARLAMENTAR. MATÉRIA DE COMPETÊNCIA
PRIVATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO. VIOLAÇÃO
AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES E DA
RESERVA DE ADMINISTRAÇÃO. NÃO CONFIGURADA.
NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA PÚBLICA.
PARTICIPAÇÃO POPULAR. PROCEDÊNCIA. NORMA
DECLARADA INCONSTITUCIONAL. OFENSA AO ART. 362,
II, DA LODF. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL
CONFIGURADA.
1. A Lei Distrital n. 5.523/2015, que atribui nova denominação à
ponte situada nas imediações da QI 10 do Lago Sul e da via L4
Sul, a qual passou a ser nomeada de Ponte Honestino
Guimarães, não tratou a respeito de nenhuma das matérias
relacionadas nos incisos I a VII do §1º do art. 71 da LODF, cuja
iniciativa é privativa do Chefe do Poder Executivo, de forma que
deve ser observada a regra geral prevista no caput do aludido
artigo, sendo, portanto, possível a iniciativa parlamentar para o
início do processo legislativo.
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2. É necessária a realização de audiência pública, com a ampla


participação da população, para a alteração da denominação
de logradouros públicos, de modo a conferir maior proteção ao
patrimônio cultural, propiciar maior realização do princípio
democrático, por meio da participação popular, assim como
assegurar maior legitimidade à atividade legislativa (art. 362,
inciso II, da LODF).
3. Nesses termos, acolhe-se o incidente para declarar a
inconstitucionalidade Lei Distrital n. 5.523, de 26 de agosto de
2015, em sua totalidade.

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ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do CONSELHO


ESPECIAL do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, WALDIR
LEÔNCIO LOPES JÚNIOR - Relator, J.J. COSTA CARVALHO - 1º Vogal, ANA
MARIA AMARANTE - 2º Vogal, ROBERVAL CASEMIRO BELINATI - 3º Vogal,
SÉRGIO ROCHA - 4º Vogal, ARNOLDO CAMANHO - 5º Vogal, JOÃO TIMÓTEO
DE OLIVEIRA - 6º Vogal, FÁTIMA RAFAEL - 7º Vogal, TEÓFILO CAETANO - 8º
Vogal, NILSONI DE FREITAS CUSTODIO - 9º Vogal, JOÃO BATISTA TEIXEIRA -
10º Vogal, JESUINO RISSATO - 11º Vogal, JOSAPHA FRANCISCO DOS
SANTOS - 12º Vogal, GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA - 13º Vogal, MARIO
MACHADO - 14º Vogal, ROMEU GONZAGA NEIVA - 15º Vogal, CARMELITA
BRASIL - 16º Vogal, CRUZ MACEDO - 17º Vogal, SANDRA DE SANTIS - 18º
Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador ROMÃO C. OLIVEIRA, em
proferir a seguinte decisão: PROCEDENTE. JULGAMENTO UNÂNIME., de acordo
com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasilia(DF), 6 de Novembro de 2018.

Documento Assinado Eletronicamente


WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR
Relator

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RELATÓRIO

Cuida-se de Arguição de Inconstitucionalidade suscitada pelo


Desembargador Getúlio Moraes Oliveira, Relator da APC n. 2015.01.1.113133-4,
oriunda da 7ª Turma Cível desta Corte de Justiça, em relação à Lei Distrital n.
5.523/2015, de iniciativa parlamentar, que altera a denominação da Ponte Costa e
Silva para Ponte Honestino Guimarães.
Na origem, Stelson Santos Ponce de Azevedo, Genesco Murilo de
Castro Benatto, Marco Antonio dos Santos, Ricardo Santos de Campos, Raphael
Leon Peres Thomazine Brocchi, Miriam Rodrigues Lopes de Barros, Guilherme da
Silva Santos Júnior, Alexandre Victor Borges Scavardoni, cidadãos brasileiros em
pleno exercício de seus direitos políticos, ajuizaram Ação Popular em face do Distrito
Federal, de Rodrigo Sobral Rollemberg e de Leo Carlos Cruz, em decorrência da
publicação da Lei Distrital n. 5.523, de 26 de agosto de 2015, a qual atribui nova
denominação à ponte situada nas imediações da QI 10 do Lago Sul e da via L4 Sul
na altura do Trecho 1 do Setor de Clubes Sul.
Alegam os autores que a Câmara Legislativa do Distrito Federal
aprovou e o Governador do DF sancionou projeto de lei de iniciativa parlamentar
destinado à alteração na denominação da Ponte Costa e Silva, a qual passou a ser
nomeada de Ponte Honestino Guimarães.
Na ação, os proponentes sustentam que a referida norma é
inconstitucional por apresentar vício de iniciativa, posto que foi proposta por
parlamentar, em desacordo com as disposições contidas no art. 71, § 1º, inc. VI, da
Lei Orgânica do Distrito Federal, que preconiza, para tanto, a competência do Poder
Executivo.
Asseveram que a norma em comento apresenta vício de forma,
ante a inobservância de formalidade essencial consubstanciada na ausência de
consulta à população, conforme dispõe o art. 362, inciso II, da LODF, além de
infringir a Lei Distrital n. 4.052/2007, que exige a realização de audiência pública
como condição para a alteração do nome de logradouros, vias, monumentos
públicos, núcleos urbanos e rurais, regiões administrativas e bairros.
Asseveram que a aprovação da norma fere os princípios da
moralidade administrativa, da proporcionalidade e da supremacia do interesse
público, causando dano moral coletivo, os quais devem ser devidamente reparados.
Ao fim, requereram a condenação solidária dos requeridos por
danos morais coletivos, cujos recursos deverão ser destinados ao Fundo Federal de

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Direitos Difusos; a condenação dos réus em obrigação de fazer, consistente na


restauração do nome original da ponte, bem como em arcar com os custos para a
confecção das placas com o nome definido pela Lei nº 5.523/2015; por fim, a
condenação no pagamento das custas e dos honorários advocatícios.
Após regular processamento da ação, o Juízo da Vara de Meio
Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do Distrito Federal julgou
parcialmente procedente a pretensão deduzida na inicial para:

“declarar a nulidade da alteração do nome da segunda ponte do Lago


Paranoá para ‘Ponte Honestino Guimarães’. A nova renomeação do
logradouro, que é ato necessário, na medida em que não se pode
restabelecer o dano moral coletivo representado pelo nome do ditador,
deverá aguardar a necessária sanatória do ato legislativo, ocasião em que
as placas atualmente existentes deverão ser substituídas pelo nome que
enfim atenda às exigências legais pertinentes”.

O MM. Juiz julgou improcedentes os pedidos reparatórios.


Interpostas apelações, a e. 7ª Turma Cível deste Tribunal acolheu a
informação do presente incidente, a fim de que este Conselho Especial aprecie,
incidenter tantum, a eventual inconstitucionalidade da Lei Distrital n. 5.523/2015.
Instada a se manifestar, a Câmara Legislativa do Distrito Federal
prestou informações às fls. 333-336. Nelas, defende a constitucionalidade da norma
impugnada, ao argumento de que inexiste qualquer vício de inconstitucionalidade,
especialmente em face da Lei Orgânica do Distrito Federal.
Afirmou, em síntese, que aquela Casa Legislativa detém
competência para legislar sobre o tema. Nesses termos, requereu a rejeição da
presente arguição de inconstitucionalidade.
O Governador do Distrito Federal apresentou informações às fls.
338-352, nas quais pugna pela declaração de constitucionalidade da norma legal
impugnada. Sustenta que, nos termos do art. 71, § 1º, da LODF, não há reserva de
iniciativa legislativa ao Chefe do Executivo para a alteração de nome de logradouro
público. Destaca que houve ampla publicidade durante o processo legislativo de

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elaboração da norma analisada. Assegura, por fim, que eventual conflito aparente de
normas infraconstitucionais situa-se no plano da legalidade, sendo, portanto,
incabível a declaração a inconstitucionalidade do aludido preceito normativo, em
sede de arguição de inconstitucionalidade.
A d. Procuradoria de Justiça, no parecer de fls. 354-363, oficiou pelo
acolhimento da arguição de inconstitucionalidade, para que seja declarada a
inconstitucionalidade da Lei distrital n. 5.523/2015, por inobservância do art. 362,
inciso II, da Lei Orgânica do Distrito Federal.
É o relatório.

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VOTOS

O Senhor Desembargador WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR - Relator


Inicialmente, registro que o art. 97 da Constituição Federal
determina que somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos
membros do respectivo órgão especial poderá o Tribunal declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.
Nessa linha de orientação, o CPC/2015 trata do incidente de
arguição de inconstitucionalidade, nos seguintes termos:

Art. 948. Arguida, em controle difuso, a inconstitucionalidade de lei ou ato


normativo do poder público, o relator, após ouvir o Ministério Público e as
partes, submeterá a questão à turma ou à câmara à qual competir o
conhecimento do processo.

Art. 949. Se a arguição for:


I - rejeitada, prosseguirá o julgamento;
II - acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao
seu órgão especial, onde houver.

Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao


plenário ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já
houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal
sobre a questão.(grifo nosso)

Nesse sentido são os artigos 287 e 288 do Regimento Interno deste


Tribunal de Justiça:

Art. 287. A inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público


poderá ser arguida incidentalmente perante o Conselho Especial ou
qualquer outro órgão fracionário nos julgamentos de sua competência.
§ 1º Ouvida a parte contrária no prazo de 15 (quinze) dias, os autos serão

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encaminhados ao Ministério Público para parecer no prazo de 30 (trinta)


dias.
§ 2º Em seguida a questão será submetida ao órgão colegiado ao qual
competir o conhecimento do processo.
§ 3º A arguição será decidida por maioria simples.

Art. 288. Se a arguição for:


I - rejeitada, prosseguirá o julgamento;
II - acolhida, lavrar-se-á acórdão e a questão será submetida ao
Conselho Especial, com o encaminhamento do processo.

Parágrafo único. Será rejeitada a arguição de inconstitucionalidade quando


já houver pronunciamento do Conselho Especial do Tribunal de Justiça ou
do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.(grifo nosso)

Para compatibilizar o mandamento constitucional da reserva de


plenário com a previsão contida no art. 949, II, do CPC/2015 e no RITJDFT, deve-se
ter em consideração que o papel do órgão fracionário do Tribunal, no controle difuso
de constitucionalidade, é o exame da admissibilidade do incidente, nos casos em
que o órgão se convença de que existem elementos concretos de
inconstitucionalidade. Não compete à Turma ou Câmara, entretanto, decidir o mérito
da arguição, sob pena de violar o art. 97 da CF e o enunciado da Súmula Vinculante
n. 10.
Sobre a instauração do incidente pelo órgão fracionário, leciona
Daniel Amorim Assumpção Neves (in Manual de direito processual civil. Volume
único. 8. ed. Salvador: Ed. Juspodvum, 2016, p. 1349):

(...)Após as devidas intimações previstas pelo art. 948 do Novo CPC, o


órgão fracionário colegiado deverá se manifestar a respeito da
admissibilidade do incidente processual criado. Na análise do incidente
pelo órgão fracionário tem-se exclusivamente uma análise a respeito
da admissibilidade do incidente, cabendo ao órgão analisar temas que
digam respeito essencialmente ao seu cabimento, tal como a
impugnação de ato que não provém do Poder Público e do qual não seja

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dependente a decisão do recurso, do processo de competência originária ou


do reexame necessário.
O órgão fracionário não pode decidir o mérito do incidente porque
assim o fazendo estará violando o art. 97 da CF (reserva de plenário),
nos termos do enunciado da Súmula Vinculante n. 10/STF: "Viola a
cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão
fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta
sua incidência, no todo ou em parte". (grifo nosso)

A propósito, confira-se aresto do c. STF:

E M E N T A: AGRAVO DE INSTRUMENTO - SOCIEDADE CIVIL DE


PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PROFISSIONAIS RELATIVOS AO
EXERCÍCIO DE PROFISSÃO LEGALMENTE REGULAMENTADA -
COFINS - MODALIDADE DE CONTRIBUIÇÃO SOCIAL - DISCUSSÃO EM
TORNO DA POSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL DE A ISENÇÃO
OUTORGADA POR LEI COMPLEMENTAR (LC Nº 70/91) SER REVOGADA
POR MERA LEI ORDINÁRIA (LEI Nº 9.430/96) - EXAME DA QUESTÃO
CONCERNENTE ÀS RELAÇÕES ENTRE A LEI COMPLEMENTAR E A LEI
ORDINÁRIA - EXISTÊNCIA DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL - QUESTÃO
PREJUDICIAL DE CONSTITUCIONALIDADE (CPC, ARTS. 480 A 482) -
POSTULADO DA RESERVA DE PLENÁRIO (CF, ART. 97) -
INOBSERVÂNCIA, NA ESPÉCIE, DA CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DO
"FULL BENCH" - CONSEQÜENTE NULIDADE DO JULGAMENTO
EFETUADO POR ÓRGÃO MERAMENTE FRACIONÁRIO - RECURSO DE
AGRAVO IMPROVIDO. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE E
POSTULADO DA RESERVA DE PLENÁRIO. - A estrita observância, pelos
Tribunais em geral, do postulado da reserva de plenário, inscrito no art. 97
da Constituição, atua como pressuposto de validade e de eficácia jurídicas
da própria declaração jurisdicional de inconstitucionalidade dos atos do
Poder Público. Doutrina. Jurisprudência. - A inconstitucionalidade de leis ou
de outros atos estatais somente pode ser declarada, quer em sede de

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fiscalização abstrata (método concentrado), quer em sede de controle


incidental (método difuso), pelo voto da maioria absoluta dos membros
integrantes do Tribunal, reunidos em sessão plenária ou, onde houver, no
respectivo órgão especial. Precedentes. - Nenhum órgão fracionário de
qualquer Tribunal, em conseqüência, dispõe de competência, no
sistema jurídico brasileiro, para declarar a inconstitucionalidade de leis
ou atos emanados do Poder Público. Essa magna prerrogativa
jurisdicional foi atribuída, em grau de absoluta exclusividade, ao
Plenário dos Tribunais ou, onde houver, ao respectivo Órgão Especial.
Essa extraordinária competência dos Tribunais é regida pelo princípio
da reserva de plenário inscrito no artigo 97 da Constituição da
República. Suscitada a questão prejudicial de constitucionalidade
perante órgão meramente fracionário de Tribunal (Câmaras, Grupos,
Turmas ou Seções), a este competirá, em acolhendo a alegação,
submeter a controvérsia jurídica ao Tribunal Pleno. EQUIVALÊNCIA,
PARA OS FINS DO ART. 97 DA CONSTITUIÇÃO, ENTRE A
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE E O JULGAMENTO, QUE,
SEM PROCLAMÁ-LA EXPLICITAMENTE, RECUSA APLICABILIDADE A
ATO DO PODER PÚBLICO, SOB ALEGAÇÃO DE CONFLITO COM
CRITÉRIOS RESULTANTES DO TEXTO CONSTITUCIONAL. Equivale à
própria declaração de inconstitucionalidade a decisão de Tribunal, que, sem
proclamá-la, explícita e formalmente, deixa de aplicar, afastando-lhe a
incidência, determinado ato estatal subjacente à controvérsia jurídica, para
resolvê-la sob alegação de conflito com critérios resultantes do texto
constitucional. Precedentes (STF). (AI 472897 AgR, Relator(a): Min.
CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 18/09/2007, DJe-131
DIVULG 25-10-2007 PUBLIC 26-10-2007 DJ 26-10-2007 PP-00079 EMENT
VOL-02295-08 PP-01560 - grifo nosso)

No caso, extrai-se do acórdão da APC n. 2015.01.1.113133-4, que o


i. Desembargador suscitante entendeu ser necessário o exame da
constitucionalidade da norma distrital apontada, diante de sua possível
incompatibilidade com o princípio da publicidade (CF, art. 37), e com o artigo 71, §
1º, inciso VI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, não havendo manifestação a esse
respeito pelo Conselho Especial desta Corte de Justiça. O entendimento do

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suscitante foi aceito pela e. 7ª Turma Cível, que acolheu a preliminar de instauração
do incidente de inconstitucionalidade.
Desse modo, não havendo vício procedimental, admito o
incidente.
A controvérsia gira em torno da validade ou não de norma distrital
que determinou a alteração da denominação da ponte situada nas imediações da QI
10 do Lago Sul e da via L4 Sul, de Ponte Costa e Silva para Ponte Honestino
Guimarães.
Eis o teor da norma impugnada:

Dá nova denominação à ponte sobre o Lago Paranoá que liga a QI 10 do


Lago Sul à via L4 Sul.

O GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL,


Faço saber que a Câmara Legislativa do Distrito Federal decreta e eu
sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º A ponte que liga a Estrada Parque Dom Bosco na altura da QI 10 da
Região Administrativa do Lago Sul à via L4 Sul na altura do Trecho 1 do
Setor de Clubes Esportivos Sul passa a denominar-se Ponte Honestino
Guimarães.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.

De acordo com a parte autora, o referido diploma é formalmente


inconstitucional porque, sendo de iniciativa parlamentar, contrariou as normas que
tratam acerca da iniciativa legislativa privativa do Chefe do Poder Executivo para a
propositura de normas que disponham sobre assuntos afetos ao plano de
preservação do conjunto urbanístico de Brasília.
Em pesquisa ao sítio eletrônico da Câmara Legislativa do Distrito
Federal, verifica-se que a Lei Distrital n. 5.523/2015 é oriunda do Projeto de Lei n.
130/2015, de iniciativa do Deputado Distrital Ricardo Vale.
Acerca da matéria, sabe-se que o vício formal diz respeito ao
processo de formação da lei e pode atingir tanto a fase de iniciativa (vício subjetivo)

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como as demais fases do processo legislativo (vício objetivo).


Sobre a inconstitucionalidade formal, lecionam Gilmar Ferreira
Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco que "os vícios formais afetam o ato
normativo singularmente considerado, sem atingir seu conteúdo, referindo-se aos
pressupostos e procedimentos relativos à formação da lei. Os vícios formais
traduzem defeito de formação do ato normativo, pela inobservância de princípio de
ordem técnica ou procedimental ou pela violação de regras de competência. Nesses
casos, viciado é o ato nos seus pressupostos, no seu procedimento de formação, na
sua forma final." (in Curso de direito constitucional, 7ª Edição, Editora Saraiva, p.
1.108).
O parâmetro de controle apontado, inicialmente, é o artigo 71, § 1º,
inciso VI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, que assim dispõe:

Art. 71.Ainiciativa das leis complementares e ordinárias, observada a


forma e os casos previstos na Lei Orgânica, cabe: (Caput com a
redação da Emenda à Lei Orgânica nº 86, de 2015.)
I - a qualquer membro ou comissão da Câmara Legislativa; (Inciso acrescido
pela Emenda à Lei Orgânica nº 86, de 2015.)
II - ao Governador; (Inciso acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº 86, de
2015.)
III - aos cidadãos; (Inciso acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº 86, de
2015.)
IV - ao Tribunal de Contas, nas matérias do art. 84, IV, e do art. 86; (Inciso
acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº 86, de 2015.)
V - à Defensoria Pública, nas matérias do art. 114, § 4º. (Inciso acrescido
pela Emenda à Lei Orgânica nº 86, de 2015.)
§ 1º Compete privativamente ao Governador do Distrito Federal a iniciativa
das leis que disponham sobre:
(...)
VI - plano diretor de ordenamento territorial, lei de uso e ocupação do
solo, plano de preservação do conjunto urbanístico de Brasília e
planos de desenvolvimento local; (Inciso acrescido pela Emenda à Lei
Orgânica nº 80, de 2014.) (grifos nossos)

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Por certo, o ordenamento jurídico não confere ao Poder Legislativo a


faculdade de apresentar projetos de lei que interfiram no plano diretor de
ordenamento territorial, no uso e ocupação do solo, no plano de preservação do
conjunto urbanístico de Brasília e nos planos de desenvolvimento local, porquanto tal
competência é reservada ao Chefe do Executivo, como decorrência de sua função
precípua de administrar o patrimônio e a máquina pública.
Qualquer ingerência normativa do Poder Legislativo nas questões
diretamente relacionadas às atribuições institucionais do Executivo representa
inegável afronta ao princípio da separação dos poderes.
Para a convivência harmoniosa entre os Poderes, a fim de evitar
interferências indevidas do legislador nos assuntos afetos às atribuições dos órgãos
e entidades ligados ao Executivo, a doutrina e a jurisprudência do c. STF passaram
a invocar o princípio da reserva de administração, que é muito bem explicitado no
aresto abaixo colacionado:

E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINÁRIO - EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO RECURSO DE AGRAVO - DECISÃO
QUE SE AJUSTA À JURISPRUDÊNCIA PREVALECENTE NO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL - CONSEQÜENTE INVIABILIDADE DO RECURSO
QUE A IMPUGNA - SUBSISTÊNCIA DOS FUNDAMENTOS QUE DÃO
SUPORTE À DECISÃO RECORRIDA - RECURSO DE AGRAVO
IMPROVIDO.
- O princípio constitucional da reserva de administração impede a
ingerência normativa do Poder Legislativo em matérias sujeitas à
exclusiva competência administrativa do Poder Executivo. É que, em
tais matérias, o Legislativo não se qualifica como instância de revisão
dos atos administrativos emanados do Poder Executivo. Precedentes.
Não cabe, desse modo, ao Poder Legislativo, sob pena de grave
desrespeito ao postulado da separação de poderes, desconstituir, por
lei, atos de caráter administrativo que tenham sido editados pelo Poder
Executivo, no estrito desempenho de suas privativas atribuições
institucionais. Essa prática legislativa, quando efetivada, subverte a
função primária da lei, transgride o princípio da divisão funcional do

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poder, representa comportamento heterodoxo da instituição


parlamentar e importa em atuação "ultra vires" do Poder Legislativo,
que não pode, em sua atuação político-jurídica, exorbitar dos limites
que definem o exercício de suas prerrogativas institucionais.
(RE 427574 ED, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em
13/12/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-030 DIVULG 10-02-2012
PUBLIC 13-02-2012 RT v. 101, n. 922, 2012, p. 736-741)(grifos nossos)

Nesse cenário, a Lei Orgânica do Distrito Federal, em seu artigo 71,


§1º, VI, estabeleceu como competência privativa do Governador do Distrito Federal
a iniciativa de leis que disponham sobre: "plano diretor de ordenamento territorial, lei
de uso e ocupação do solo, plano de preservação do conjunto urbanístico de Brasília
e planos de desenvolvimento local".
No que diz respeito à Lei Distrital n. 5.523/2015, ao analisá-la sobre
o prisma do princípio da reserva de administração, bem como ao cotejá-la com as
regras de repartição de competência legislativa dispostas na LODF, não se verifica
a alegada inconstitucionalidade formal, uma vez que o diploma atacado versa,
precipuamente, sobre a alteração da denominação de um logradouro público,
sem qualquer interferência no planejamento urbano da capital.
Com efeito, o tema tratado no dispositivo não se encontra na
competência privativa do chefe do Executivo local.
Sobre o tema, a Procuradoria-Geral de Justiça se manifestou nos
seguintes termos (fl. 357), que pela pertinência colaciono a seguir:

Da leitura da íntegra da referida lei, que tramitou regularmente por quatro


meses na Câmara Legislativa, é possível concluir que esta, ao alterar a
denominação de uma das pontes de acesso ao Lago Sul, em homenagem
póstuma a uma personalidade importante da história do Distrito Federal, não
violou o artigo 71, § 1º, inciso VI, da Lei Orgânica distrital.
Isso porque tal dispositivo constitucional versa sobre a competência
privativa do Governador para iniciar o processo legislativo relativo ao projeto
de lei do 'plano de preservação do conjunto urbanístico de Brasília', o que
não se confunde com a alteração de nome da ponte, hipótese esta afeta tão
somente ao patrimônio histórico e cultural do Distrito Federal.

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Portanto, outra não é a conclusão senão a de que a lei impugnada não se


insere no rol taxativo de matérias privativas à iniciativa do Governador e
sequer pode integrá-lo por meio de uma interpretação ampliativa, sob pena
de incorrer em odiosa limitação ao poder de instauração do processo
legislativo.

Como se pode ver, a norma impugnada não tratou a respeito de


nenhuma das matérias relacionadas nos incisos I a VII do §1º do art. 71 da LODF,
cuja iniciativa é privativa do Chefe do Poder Executivo. Dessa forma, incide, no caso,
a regra geral prevista no caput do aludido artigo, sendo, portanto, possível a
iniciativa parlamentar para o início do processo legislativo.
Assim, não há falar em ofensa ao princípio da separação de
poderes, tampouco ao princípio da reserva de administração, já que a lei impugnada
não usurpou a competência legislativa do Chefe do Executivo distrital. Ausente,
portanto, a inconstitucionalidade formal apontada pelos requerentes.
Noutro passo, sustentam os requerentes que a norma em comento
padece de vício de inconstitucionalidade, a qual estaria em confronto com o disposto
no art. 362, inciso II, da Lei Orgânica do Distrito Federal, in verbis:

Art. 362.Serão obrigatoriamente apreciados em audiência pública:


I - projetos de licenciamento de obras e serviços que envolvam impacto
ambiental;
II - atos que envolvam modificação do patrimônio arquitetônico,
histórico, artístico, paisagístico ou cultural do Distrito Federal;
III - obras que comprometam mais de cinco por cento do orçamento do
Distrito Federal.
§ 1º A audiência prevista neste artigo deverá ser divulgada em pelo menos
dois órgãos de imprensa de circulação regional, com a antecedência mínima
de trinta dias.
§ 2º O órgão concedente dará conhecimento das audiências públicas ao
Ministério Público competente. (grifos nossos)

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Importante registrar que o i. Desembargador não suscitou a


possibilidade de inconstitucionalidade da norma analisada com base no referido
artigo da norma constitucional distrital.
O dispositivo da LODF determina como condição obrigatória para a
modificação do patrimônio arquitetônico, histórico, artístico, paisagístico ou cultural
do Distrito Federal a realização de audiência pública, com a participação da
população.
Analisando a norma constitucional distrital, observa-se que o
dispositivo legal comporta dupla interpretação, no que tange ao termo "modificação
do patrimônio".
Em uma primeira acepção, mais ampla, pode-se concluir que a
mens legis abrange todos os casos em que se verifica qualquer modificação ou
alteração nas características do patrimônio, seja estrutural, física, arquitetônica,
destinação, localização, qualificação, denominação, entre outros.
Numa acepção mais restrita, leva-se em consideração apenas a
modificação do patrimônio em si, como por exemplo, alguma alteração do desenho
arquitetônico do monumento.
À luz dos vetores da proporcionalidade e da adequação, deve ser
analisado qual dessas interpretações confere maior proteção ao patrimônio público
que se busca tutelar por meio da norma em análise.
A Constituição Federal define o conteúdo do patrimônio cultural
brasileiro, estabelecendo a obrigatoriedade do poder público, com a colaboração
da comunidade, de promover e proteger o patrimônio cultural brasileiro. Confira-se:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza


material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se
incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços

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destinados às manifestações artístico-culturais;


V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e
protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários,
registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de
acautelamento e preservação.
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da
documentação governamental e as providências para franquear sua
consulta a quantos dela necessitem.
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de
bens e valores culturais.
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da
lei.
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de
reminiscências históricas dos antigos quilombos.
§ 6 º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual
de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária
líquida, para o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a
aplicação desses recursos no pagamento de:
I - despesas com pessoal e encargos sociais;
II - serviço da dívida;
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos
investimentos ou ações apoiados. (grifos nossos)

Assim, a interpretação mais ampla do art. 362 da Lei Orgânica


distrital vai ao encontro à previsão constitucional citada, de forma que confere maior
proteção ao patrimônio cultural e propicia maior realização do princípio democrático,
por meio da participação popular, assim como assegura mais autenticidade e
legitimidade à atividade legislativa.
Nesse sentido, o art. 37 da Constituição Federal elenca os princípios
basilares da Administração Pública, entre eles a publicidade, in verbis:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes

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da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos


princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: (...)"

Lecionando acerca dos princípios da administração, Gilmar Ferreira


Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco, tecem ensinamentos acerca do princípio da
publicidade (in Curso de direito constitucional. 10 ed. ver. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2015, pág. 861-862):

O princípio da publicidade está ligado ao direito de informação dos cidadãos


e ao dever de transparência do Estado, em conexão direta com o princípio
democrático, e pode ser considerado, inicialmente, como apreensível em
duas vertentes: (1) na perspectiva do direito à informação (e de acesso
à informação), como garantia de participação e controle social dos
cidadãos (a partir das disposições relacionadas no art. 5º, CF/88), bem
como (2) na perspectiva da atuação da Administração Pública em sentido
amplo (a partir dos princípios determinados no art. 37, caput, e artigos
seguintes da CF/88). (grifos nossos)

A partir do Estado Democrático de Direito, no momento em que o


Estado dedica sua atenção para o administrado, para o cidadão, ganha força a ideia
de democracia participativa, na qual as decisões administrativas são tomadas após o
debate com os destinatários das políticas públicas.
Surge, então, a Administração Pública Dialógica, a qual prioriza a
participação do administrado, a consensualidade, a eficiência, a transparência e a
confiança na administração.
Nessa concepção, o cidadão, individualmente considerado, passa a
ter ampla responsabilidade pela busca do bem comum, atuando conjuntamente com
a Administração Pública no desenvolvimento de políticas para o bem estar coletivo.
A seguir, trago à baila ensinamentos de Rafael Maffini acerca da
Administração Pública Dialógica:

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incumbidas de realinhar o direito administrativo ao seu papel atual no


Estado de direito contemporâneo, deflui a noção jurídica que vem sendo
denominada de "administração pública dialógica", pela qual, como se
depreende da própria expressão que a designa, se busca impor como
condição para a atuação administrativa a prévia realização de um
verdadeiro e efetivo diálogo com todos aqueles que terão suas esferas
de direitos atingidas pela atuação estatal. (...) Todo esse arcabouço
teórico referente à noção de "administração pública dialógica", do qual se
colocam em posição proeminente primados jurídicos de relevância ímpar,
tais como o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa, a noção
de participação, entre outros aspectos dotados de status constitucional,
pode ser igualmente considerado uma decorrência lógica da noção de
"proteção da confiança", enquanto faceta subjetiva do princípio da
segurança jurídica. (...) A relação ora proposta entre a segurança jurídica (e
o seu consectário "proteção da confiança") e os direitos fundamentais ao
contraditório e à ampla defesa (que, a par do princípio da participação,
fundamental o conceito de "administração pública dialógica") se deve ao
fato de que os destinatários da função administrativa não podem ser
surpreendidos com a imposição de atos que lhe são prejudiciais ou
com a extinção de condutas que lhe são benéficas, de modo abrupto,
sem que se lhes assegurem tanto a ciência quanto à iminência de
ocorrência de tais eventos danosos, quanto a efetiva participação
tendente a evitar que eventuais prejuízos lhes sejam ocasionados. Daí
a ideia de que a segurança jurídica e a proteção da confiança, em sua
faceta procedimental, impõem sejam asseguradas a ciência e a participação
prévia como condição formal para a eventual imposição de gravame pelo
poder público na esfera de direitos dos cidadãos, aí incluído, por óbvio, a
extinção de condutas administrativas que lhes são favoráveis. (...)
(MAFFINI, Rafael. Administração pública dialógica (proteção procedimental
da confiança) em torno da súmula vinculante nº 3, do Supremo Tribunal
Federal. Revistade Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 253, p. 159-172,
jan. 2010. ISSN 2238-5177. Disponível em: . Acesso em: 01 Ago. 2018. doi:
http://dx.doi.org/10.12660/rda.v253.2010.8051).

Assim, a moderna noção de administração pública é aquela que

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busca, na medida do possível, a aproximação com o cidadão, como forma de


ampliar a eficiência administrativa e, sobretudo, realizar os direitos e garantias
individuais.
Nesse cenário, faz-se necessário analisar se a norma impugnada
teve seu processo legislativo com ampla participação popular, por meio da
realização de audiências públicas e ampla publicidade.
Consta, dos autos, que o Projeto de Lei n. 130/2015, de iniciativa do
Deputado Distrital Ricardo Vale, foi protocolado na CLDF no dia 5/2/2015 (fls. 131-
140). No dia 30/6/2015, a Secretaria Legislativa solicitou, ao Setor de Apoio às
Comissões Permanentes que o aludido PL fosse encaminhado àquela Secretaria
para inclusão na pauta da sessão daquele mesmo dia (fls. 143-144).
Em 30/6/2015, conforme notas taquigráficas e registros de votações
simbólicas carreados às fls. 145-160, o Projeto de Lei n. 130/2015 foi aprovado pelo
Plenário da Câmara Legislativa do DF.
A propósito, por ocasião da discussão do PL n. 130/2015 pelo
Plenário da CLDF, o deputado distrital Raimundo Ribeiro sugeriu a realização de
audiência pública para discussão do tema. Nas palavras do deputado: "Nesse
sentido, é que eu queria, Deputado Ricardo Vale, rendendo as homenagens de
estilo, dizer que e gostaria muito de poder participar de um debate, de uma
audiência pública em que nós pudéssemos, primeiro, discutir a possibilidade da
mudança e, segundo, passar para o item seguinte, que é discutir os nomes que são
propostos tanto para retirada quanto para inclusão." (fl. 150).
Na mesma linha, a deputada Liliane Roriz, que presidia a sessão de
votação, também suscitou a hipótese de realização de audiências públicas, com a
participação da população, para que os cidadãos pudessem ser consultados acerca
da mudança na denominação da ponte (fl. 157).
Com efeito, não houve prévia participação popular na edição da lei,
por meio de audiências públicas.
Conforme as manifestações dos parlamentares durante a discussão
do tema, trazer, à população, a oportunidade de discutir acerca da mudança na
denominação de logradouros públicos, para que possam sugerir, inclusive, qual
personalidade pública gostariam de homenagear dando nome ao monumento
público, confere mais legitimidade à atividade legislativa.
O que se está em debate é a preservação da história e da cultura
nacional, como também da capital do país, de forma que se mostra salutar a
participação da população, proporcionando um debate mais amplo e democrático.
No caso, a disposição normativa derivada da Lei Distrital n.

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5.523/2015, que atribui nova denominação à ponte situada nas imediações da QI 10


do Lago Sul e a via L4 Sul, não se encontra em sintonia com o art. 362, inciso II,
da Lei Orgânica do Distrito Federal.
Essas são as razões pelas quais acolho a presente arguição, a fim
de declarar a inconstitucionalidade, incidenter tantum, da Lei Distrital n. 5.523/2015,
pois incompatível com a Lei Orgânica do Distrito Federal (LODF, art. 362, inciso II).
É o meu voto.

O Senhor Desembargador J. J. COSTA CARVALHO - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

A Senhora Desembargadora ANA MARIA AMARANTE - Vogal


Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do
presente incidente de argüição de inconstitucionalidade de lei, suscitado pelo em.
Des. Relator da APC n. 2015.01.1.113133-4.
Com a devida licença, adoto, como sucinto relatório, o do parecer da
il. Procuradoria de Justiça lançado às fls. 355 e seguintes.

"Cuida-se de Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade,


nos autos da Apelação n. 2015.01.1.113133-4, em face do
disposto na Lei Distrital n. 5.523/2015, de iniciativa
parlamentar, que altera a denominação da Ponte Costa e Silva
para Ponte Honestino Guimarães.
Em homenagem ao postulado constitucional de reserva de
plenário (art. 97, CF/88), o Desembargador Relator da
Apelação suscitou, de ofício, o presente incidente de arguição
de inconstitucionalidade como questão prejudicial para o
deslinde da questão posta nos autos, o que foi acolhido pela 7ª
Turma Cível do Tribunal de Justiça local (fls. 310/320).
Sustenta-se, em breve síntese, que a lei impugnada teria
violado, além do princípio da publicidade, os artigos 71, § 1º,

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inciso VI, e 362, inciso II, da Lei Orgânica do Distrito Federal,


que tratam respectivamente, da competência privativa do
Governador para iniciar o processo legislativo relativo ao
projeto do 'plano de preservação do conjunto urbanístico de
Brasília' e da exigência de apreciação em audiência pública de
'atos que envolvam a modificação do patrimônio arquitetônico,
histórico, artístico, paisagístico ou cultural do Distrito Federal'.
O Presidente da Câmara Legislativa defendeu a competência
daquela Casa Legislativa para dispor sobre o tema, tendo
requerido a rejeição da presente arguição de
inconstitucionalidade (fls. 333/336).
O Distrito Federal também sustentou a constitucionalidade da
lei sob análise, tendo ressaltado ainda que eventual
inobservância de legislação infraconstitucional pela lei
questionada situa-se no plano da legalidade, insuscetível de
apreciação em sede de arguição de inconstitucionalidade (fls.
338/352)."

Em resumo, os proponentes originários da ação popular asseveram


que a norma impugnada, além de apresentar vício de forma, relativamente ao art.
71, § 1º, inc. VI, da LODF, também infringiria o art. 362, inc. II, da apontada Lei
Orgânica, em razão da inobservância de consulta prévia à população, bem assim a
Lei Distrital n. 4.052/2007, que, do mesmo modo, exige a realização de audiência
pública como condição para alteração do nome de logradouros, vias, monumentos
públicos, núcleos urbanos e rurais, regiões administrativas e bairros.
Asseveram, por fim, que a aprovação da norma ora impugnada fere
os princípios da moralidade administrativa, da proporcionalidade e da supremacia do
interesse público, de maneira a causar dano moral coletivo, os quais devem ser
devidamente reparados.
No caso dos autos, a matéria relativa à constitucionalidade ou não
da apontada Lei Distrital n. 5.523/15, de iniciativa parlamentar, que alterou a
denominação da Ponte Costa e Silva para Ponte Honestino Guimarães, se mostra
imprescindível ao julgamento da causa, lançada na APC n. 2015.01.1.113133-4.
Referido normativo encontra-se assim redigido, verbis:

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"LEI Nº 5.523, DE 26 DE AGOSTO DE 2015.


(Autoria do Projeto: Deputado Ricardo Vale)
Dá nova denominação à ponte sobre o Lago Paranoá que liga
a QI 10 do Lago Sul à via L4 Sul.
O GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL,
Faço saber que a Câmara Legislativa do Distrito Federal
decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º. A ponte que liga a Estrada Parque Dom Bosco na altura
da QI 10 da Região Administrativa do Lago Sul à via L4 Sul na
altura do Trecho 1 do Setor de Clubes Esportivos Sul passa a
denominar-se Ponte Honestino Guimarães.
Art. 2º. Esta Lei entre em vigor na data de sua publicação.
Art. 3º. Revogam-se as disposições em contrário."
Por outro lado, a redação dos dispositivos suscitados pelos
proponentes e que supostamente teriam sido violados, são os
seguintes:
"Art 71. A iniciativa das leis complementares e ordinárias,
observada a forma e os casos previstos nesta Lei Orgânica,
cabe:
I- a qualquer membro ou comissão da Câmara Legislativa;
II- ao Governador;
III - aos cidadãos;
IV - ao Tribunal de Contas, nas matérias do art. 84, IV, e do
art. 86;
V- à Defensoria Pública, nas matérias do art. 114, § 4o.
§ Io Compete privativamente ao Governador do Distrito Federal
a
iniciativa das leis que disponham sobre:
(...)
VI - plano diretor de ordenamento territorial, lei de uso e
ocupação do solo, plano de preservação do conjunto
urbanístico de Brasília e
planos de desenvolvimento local."

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Ao interpretar referida norma, observa-se que ao Poder Legislativo


Distrital não é conferida a faculdade de apresentação de projetos de lei que
interfiram no plano diretor de ordenamento territorial, no uso e ocupação do solo,
plano de preservação do conjunto urbanístico de Brasília ou nos planos de
desenvolvimento locais, uma vez que esta se refere às competências reservadas ao
Chefe do Poder Executivo, em decorrência de suas funções precípuas.
Nesses termos, conforme bem lançado no parecer ministerial, cujos
excertos trago à colação, com a devida vênia, não há violação ao referido art. 71, §
1º, inc. VI, da LODF (fl. 357). Vejamos:

"Da leitura da íntegra da referida lei, que tramitou regularmente


por quatro meses na Câmara Legislativa, é possível concluir
que esta, ao alterar a denominação de uma das pontes de
acesso ao Lago Sul, em homenagem póstuma a uma
personalidade importante da história do Distrito Federal, não
violou o artigo 71, § 1º, inciso VI, da Lei Orgânica distrital.
Isso porque tal dispositivo constitucional versa sobre a
competência privativa do Governador para iniciar o processo
legislativo relativo ao projeto de lei do "plano de preservação do
conjunto urbanístico de Brasília", o que não se confunde com a
alteração de nome da ponte, hipótese esta afeta tão somente
ao patrimônio histórico e cultural do Distrito Federai.
Portanto, outra não é a conclusão senão a de que a lei
impugnada não se insere no rol taxativo de matérias privativas
à iniciativa do Governador e sequer pode integrá-lo por meio de
uma interpretação ampliativa, sob pena de incorrer em odiosa
limitação ao poder de instauração do processo legislativo.
Nesse sentido, inclusive, é o entendimento capitaneado pelo
Supremo Tribunal Federal ao asseverar que "A iniciativa
reservada, por constituir matéria de direito estrito, não se
presume nem comporta interpretação ampliativa, na medida em
que - por implicar limitação ao poder de instauração do
processo legislativo - deve, necessariamente, derivar de norma

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constitucional explícita e inequívoca".1


Tal constatação, portanto, colabora na demonstração de que as
leis destinam-se, em regra, tanto para a sociedade quanto para
o administrador público, devendo ser cumpridas, nessa última
hipótese, pelos órgãos e entidades legalmente constituídos
para tanto.
Entendimento semelhante, aliás, tem sido reconhecido
reiteradamente pelo Conselho Especial do Tribunal de Justiça
do Distrito Federal e Territórios em situações análogas.
Confira-se, a seguir:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONAL! DADE. LEI


DISTRITAL 3.681, DE 13 DE OUTUBRO DE 2005. PROJETO
DE LEI DE INICIATIVA DE PARLAMENTAR. DIPLOMA QUE
NÃO INVADE COMPETÊNCIA RESERVADA AO PODER
EXECUTIVO E NÃO CRIA ATRIBUIÇÕES ÀS SECRETARIAS,
ÓRGÃOS E/OU ENTIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.
Verificando-se que a Lei Distrital 3.861/2005, de iniciativa
parlamentar, não ofende ao disposto no art. 71, § Io, IV, da Lei
Orgânica do Distrito Federal, conquanto o Parlamento se houve
no espaço que lhe é destinado, fomentando a proteção e a
defesa da saúde e do meio ambiente, sem promover alteração
no rol de atribuições de órgão da Administração Pública
distrital, julga-se improcedente a ação direta de
inconstitucionalidade.2

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


DISTRITAL . N. 3.342, DE 30/03/2004. INICIATIVA
PARLAMENTAR. ALEGAÇÃO DE INSTITUIÇÃO DE NOVAS
ATRIBUIÇÕES AOS ÓRGÃOS PÚBLICOS DO DISTRITO
FEDERAL. VÍCIO DE INICIATIVA. COMPETÊNCIA

1
STF, RTJ 179/77, Rei. Min. CELSO DE MELLO, Pleno. Sem grifo no original.
2
TJDFT, 20060020011713ADI, Relator ROMÃO C. OLIVEIRA, Conselho Especial, julgado em 707/2007, DJ
01/10/2007 p. 112. Sem grifo no original.

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PRIVATIVA DO GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL.


DESCABIMENTO.
-Não há que se falar em violação aos comandos normativos
previstos na Lei Orgânica do Distrito Federal se o dispositivo
legal apontado, em tese, como inconstitucional não traz
qualquer alteração na estrutura administrativa distrital. A Lei
Distrital n. 3.342/2004, ao assegurar aos pacientes de epilepsia
o direito a todos os meios terapêuticos reconhecidos pelo
Conselho Federal de Medicina e ao estabelecer que o Poder
Público provera os meios necessários ao cumprimento da
norma, não criou uma nova estrutura para atuar na aplicação
das determinações contidas no preceito legal atacado,
tampouco qualquer responsabilidade diversa daquelas
inseridas nas competências dos órgãos de saúde do Distrito
Federal, mas tão-somente buscou ampliar o atendimento aos
portadores da doença, atividades inerentes a estas entidades
públicas, dando efetividade às disposições da Lei Orgânica
Distrital relativas à proteção à saúde. -A lei impugnada não
adentra em matéria orçamentária do Distrito Federal, uma vez
que os recursos necessários ao cumprimento da norma
encontram-se assegurados no Fundo de Saúde do Distrito
Federal, criado pela Lei Complementar n. 11/1996, que
disponibiliza recursos necessários para as ações do Sistema
Único de Saúde - SUS. -Ação julgada improcedente. Unânime.3

Por outro lado, relativamente ao apontado art. 362, inc. II, da LODF,
observa-se, ao se fazer uma interpretação mais ampla, a inconstitucionalidade
argüida, tendo em vista o estabelecimento incondicional da necessidade de oitiva da
população local para que seja feita qualquer alteração que envolva o patrimônio
historio ou cultural do DF.
A aludida norma encontra-se assim lançada:

3
TJDFT, 20050020116031 ADI, Relator OTÁVIO AUGUSTO, Conselho Especial, julgado em
24/10/2006, DJ 03/04/2007 P. 140. Sem grifo no original.

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"Art. 362. Serão obrigatoriamente apreciados em audiência


pública:
(...)
II - atos que envolvam modificação do patrimônio arquitetônico,
histórico, artístico, paisagístico ou cultural do Distrito Federal;
(...)
§ 1º. A audiência prevista neste artigo deverá ser divulgada em
pelo menos dois órgãos de imprensa de circulação regional,
com antecedência mínima de trinta dias.
§ 2º. O órgão concedente dará conhecimento das audiências
públicas ao Ministério Público competente."
Conforme bem retratado no parecer ministerial, cujos excertos
também adoto, com a devida licença (fl. 360), "atoda evidência
que as denominações tradicionais dos lugares, enquanto
signos da identidade e da memória da sociedade, são
compreendidas e classificadas como partes integrantes do
patrimônio cultural imaterial e, portanto, passíveis de tutela
pelo Poder Público, nos termos preconizados pelo artigo 216
da Constituição da República4.

4
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I- as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III- as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,
ecológico e científico.
§ I o O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural
brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de
acautelamento e preservação.

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Fls. _____
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O referido dispositivo da Constituição conceitua patrimônio


cultural como sendo os bens "de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira".
Manifesta, portanto, a inobservância da referida regra
constitucional, na medida em que o projeto de lei aprovado não
foi precedido da realização da necessária audiência pública, a
tornar inequívoco o vício material de inconstitucionalidade da
lei questionada".

Este Tribunal, em inúmeras ocasiões, por intermédio de seu


Conselho Especial, declarou a inconstitucionalidade de leis que deixaram de
observar a condicionante da audiência da população interessada, como é o caso das
ADI's n. 2005 00 2 004997-1 e 2005 00 2 001183-9, já que patentes seriam os vícios
materiais nesses casos.
Desse modo, não há dúvida de que a denominação de logradouro
público tem importância histórica e cultural para a população que o circunda, cujo
preceito constitucional é de destaque (art. 216).
Por este motivo, em razão da inobservância da lei ora impugnada,
com o previsto no inciso II, do art. 362, da LODF - já que se mostra indene de
dúvidas a ausência de prévia audiência para ouvir a população interessada -, não
poderá ter outra solução, que não o acolhimento da presente argüição, com o fim de
declarar a inconstitucionalidade, incidenter tantum, da Lei Distrital n. 5.523/2015,
uma vez que incompatível com a Lei Orgânica do DF.
É como voto.

O Senhor Desembargador ROBERVAL CASEMIRO BELINATI - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador SÉRGIO ROCHA - Vogal

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Fls. _____
Argüição de Inconstitucionalidade 20180020033219AIL

Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador JOÃO TIMÓTEO - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

A Senhora Desembargadora FÁTIMA RAFAEL - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador TEÓFILO CAETANO - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

A Senhora Desembargadora NILSONI DE FREITAS - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador JOÃO BATISTA TEIXEIRA - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador JESUÍNO RISSATO - Vogal

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Fls. _____
Argüição de Inconstitucionalidade 20180020033219AIL

Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador JOSAPHÁ FRANCISCO DOS SANTOS - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador MARIO MACHADO - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

A Senhora Desembargadora CARMELITA BRASIL - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

O Senhor Desembargador CRUZ MACEDO - Vogal


Acompanho o eminente Relator.

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A Senhora Desembargadora SANDRA DE SANTIS - Vogal


Arguição de inconstitucionalidade na Apelação Cível
2015.01.1.113133-4, suscitada pelo Desembargador Relator, Getúlio Moraes
Oliveira, acerca da validade da Lei Distrital n. 5.523/2015 em confronto com a Lei
Orgânica do DF.
Os autos originais noticiam ação popular contra a mudança do nome
da ponte sobre o Lago Paranoá, que liga a QI 10 do Lago Sul à via L4 Sul,
anteriormente denominada Ponte Costa e Silva. A novel lei nomeou-a de Ponte
Honestino Guimarães.
Entendeu o e. Relator, na apelação cível, submeter ao Plenário
possível malferimento ao princípio da publicidade e vício de iniciativa, já que a Lei
teve origem parlamentar.
Entendo, como o Relator da presente arguição de
inconstitucionalidade, não haver malferimento à competência do chefe do executivo
local.
O artigo 71, §1º, inc. VI, da LODF versa sobre a iniciativa privativa
do Governador em matérias que envolvem o plano diretor de ordenamento territorial,
lei de uso e ocupação do solo, plano de preservação do conjunto urbanístico de
Brasília e planos de desenvolvimento local.
A mudança de nome de logradouros, pontes etc. não faz parte
daquelas normas, que tratam de questões mais complexas, mormente de
planejamento urbano. A interpretação da Lei Orgânica do DF acerca das
competências privativas é restritiva.
Entretanto, a população não foi consultada acerca da alteração do
nome. Nos termos do artigo 362 da LODF:

Art. 362.Serão obrigatoriamente apreciados em audiência


pública:
............................................................................................
II - atos que envolvam modificação do patrimônio arquitetônico,
histórico, artístico, paisagístico ou cultural do Distrito Federal;

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A denominação de bem público integra, sem dúvida, a cultura e


história de uma cidade. Vários são os homenageados em Brasília, por questões
diversas. As modificações devem ser precedidas de consulta popular, sob pena de
desatendimento à Lei Orgânica do DF.
A publicidade dos atos legislativos é requisito obrigatório, com o fim
de garantir transparência e legitimidade. Com razão o Desembargador Relator
quando invoca a possibilidade de inconstitucionalidade da Lei 5.523/2015, a qual foi
votada em dois turnos em apenas um dia e não foi precedida de audiência pública
para debate. A matéria suscitou muitas manifestações dos parlamentares, como
noticiaram os autos, o que demonstra a importância de consulta pública prévia.
Acompanho o voto do Relator para acolher a arguição e declarar
incidentalmente a inconstitucionalidade da Lei 5.523/2015.

DECISÃO

Procedente. Julgamento unânime.

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