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Poder Judiciário da União
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Órgão : 2ª TURMA CÍVEL


Classe : APELAÇÃO
N. Processo : 20130110629783APC
(0003445-49.2013.8.07.0018)
Apelante(s) : DEIVIDY DE SOUZA SILVEIRA
Apelado(s) : DISTRITO FEDERAL
Relator : Desembargador MARIO-ZAM BELMIRO
Revisor : Desembargador JOÃO EGMONT
Acórdão N. : 863056

EMENTA

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PROCESSO CIVIL.


CONCURSO PÚBLICO. CORPO DE BOMBEIROS MILITAR
DO DISTRITO FEDERAL. APROVAÇÃO. CONSTATAÇÃO DE
PROCESSO PENAL. CRIME DE ASSÉDIO SEXUAL CONTRA
VÍTIMA MENOR DE IDADE. CONDUTA DESABONADORA.
PRINCÍPIO DA INOCÊNCIA.
1. A má conduta social, moral, e ética concede a Administração
a discricionariedade para, na fase de investigação da vida
pregressa, eliminar o candidato ao exercício de determinados
cargos, em especial aqueles que dizem respeito à Segurança
Pública.
2.A análise dos valores plasmados na Carta Republicana de
1988 exige um juízo de ponderação e permite que, no caso
concreto, o peso de um possa afastar, momentaneamente, a
aplicação de outro, mormente para a configuração da conduta,
no decorrer da sua vida, dos candidatos a funções públicas.
3. O Pretório Excelso (STF) assentou o entendimento de que
não existem direitos absolutos no nosso sistema normativo. "...
Na contemporaneidade, não se reconhece a presença de
direitos absolutos, mesmo de estatura de direitos fundamentais
previstos no art. 5º, da Constituição Federal, e em textos de
Tratados e Convenções Internacionais em matéria de direitos
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humanos...". (HC 93250/MS. Relatora Ministra Hellen Gracie).


4. Recurso desprovido.

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ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 2ª TURMA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, MARIO-ZAM BELMIRO -
Relator, JOÃO EGMONT - Revisor, LEILA ARLANCH - 1º Vogal, sob a
presidência do Senhor Desembargador MARIO-ZAM BELMIRO, em proferir a
seguinte decisão: NEGAR PROVIMENTO. UNÂNIME, de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.
Brasilia(DF), 22 de Abril de 2015.

Documento Assinado Eletronicamente


MARIO-ZAM BELMIRO
Relator

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RELATÓRIO

Cuida-se de recurso de apelação (fls. 248/262), interposto de


sentença (fls. 239/241), proferida pelo Meritíssimo Juiz de Direito da Quinta Vara da
Fazenda Pública, nos autos da Ação sob o Rito Ordinário nº 2013 01 1 062978 3,
ajuizada por DEIVIDY DE SOUZA SILVEIRA, em desfavor do DISTRITO FEDERAL,
a qual julgou improcedente o pedido de nulidade do ato que o eliminou do concurso
público para ingresso nas fileiras no CBMDF – Corpo de Bombeiros Militar do
Distrito Federal
Cumpre relatar que a eliminação do autor no referido certame, se
deu na fase de investigação da sua vida pregressa, onde foi constatada pelo
Comando do Centro de Inteligência da instituição castrense, a existência de
procedimento criminal no qual foi homologada a suspensão condicional do processo.
Foi investigado pela prática de “(...) suposto crime sexual – assédio sexual, contra
sua aluna de 15 anos (...)”, conforme consignado na r. sentença afligida. (fl. 240).
Em suas razões, o apelante reafirma os argumentos trazidos desde
a peça de ingresso, dando forte ênfase ao postulado da presunção de não
culpabilidade, entendendo que “(...) a referida sentença acabou por legitimar a
violação ao princípio constitucional da presunção de inocência ocorrida no presente
caso, perpetuando a aplicação de penalidades decorrentes da apresentação de ação
penal contra o apelante, mesmo que a culpabilidade do mesmo não tenha sido
verificada no processo... tendo sido o apelante aprovado em todas as demais fases
do certame, comprovando que possui ampla capacidade física e psicológica para o
exercício do cargo pleiteado, não poderia um simples fato adverso, o qual ocorreu há
um período considerável, considerá-lo não recomendado na referida fase, visto que
sua atual condição já não mais representa a maturidade e discernimento que
possuía na época da ocorrência dos fatos imputados contra ele (...)”. (fls. 248 e 261).
Colaciona jurisprudência em prol de suas teses, e, ao final
proclama: “(...) tendo o apelante comprovado que os fatos imputados contra ele na
referida ação penal jamais comprometeria o bom exercício do cargo de bombeiro
militar do Distrito Federal, não há alternativa senão o reconhecimento da
inconstitucionalidade e ilegalidade de sua eliminação do referido certame (...)”. (fl.
261).
Comprovante de pagamento de preparo. (fl. 263).
O recorrente fez a juntada de cópia do Termo de audiência
realizada aos 08 de setembro de 2014, nos autos do Processo nº 2012 07 1 035551
6, no qual lhe foi apresentada a seguinte proposta pelo Ministério Público: “...

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proposta de Suspensão Condicional do Processo, pelo prazo de dois anos, com o


cumprimento das seguintes condições no período de prova...”. (fl.267).
Contrarrazões do Distrito Federal, argumentando que “... ocorreu a
perda superveniente do interesse de agir, o que impõe a extinção do processo, sem
análise do mérito...”, e, no mérito, pela manutenção do julgado em todos os seus
termos. (fls. 278 e 283).
Distribuídos aleatoriamente com prevenção de órgão, vieram-me os
autos conclusos. (fls. 289/290).
É o relatório.

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VOTOS

O Senhor Desembargador MARIO-ZAM BELMIRO - Relator


Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.
Passo a analise do argumento do Distrito Federal, consignado em
suas contrarrazões ao recurso, de perda superveniente do interesse de agir.
Fundamenta a preliminar na não concessão de provimento antecipatório, e
subsequente não participação do apelante nas demais fases do concurso público.
Sem razão o Distrito Federal.
Perfilho do entendimento segundo o qual não há se falar em perda
superveniente do interesse em razão da homologação final do concurso, tendo em
vista que permanece o binômio necessidade/utilidade do provimento jurisdicional,
pois, uma eventual procedência do pedido, resultará na revisão da situação do autor
no resultado do certame.
Assim tem decidido este colendo Tribunal de Justiça. Leia-se:

"ADMINISTRATIVO. PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO. CONCURSO


PÚBLICO. CARGO DE ATENDENTE DE REINTEGRAÇÃO SOCIAL.
SECRETARIA DE ESTADO DE JUSTIÇA, DIREITO HUMANOS E
CIDADANIA DO DISTRITO FEDERAL. IMPUGNAÇÃO. TÉRMINO DA
VALIDADE DO CERTAME. PERDA SUPERVENIENTE DO INTERESSE DE
AGIR. INOCORRÊNCIA. CASSAÇÃO DA SENTENÇA. TEORIA DA CAUSA
MADURA. ANÁLISE DO MÉRITO. FASE DE SINDICÂNCIA E ANÁLISE DE
VIDA PREGRESSA. ENTREGA DE DOCUMENTOS. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DAS ALEGAÇÕES. ENTREGA DO ENVELOPE COM
DOCUMENTOS FALTANTES. IMPOSSIBILIDADE DE
PROSSEGUIMENTO NO CERTAME.
1.Não ocorre a perda superveniente do interesse de agir ou do objeto
ante a homologação do resultado final do concurso durante a
tramitação do processo, quando está sendo discutida possível
ilegalidade em etapas do certame, mesmo que o candidato não tenha
participado das demais fases do concurso.
2.Constitui ônus do candidato a entrega de toda a documentação exigida no
edital para a análise da fase de sindicância e vida pregressa. Se assim não
procede e não demonstra, judicialmente, os fatos constitutivos do seu

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direito, não se admite o seu prosseguimento no certame.


3.Recurso conhecido e não provido". (Acórdão nº 630016.
20100111386954APC. Relator Desembargador Getúlio de Moraes Oliveira.
3ª Turma Cível. Data de Julgamento: 20/09/2012).

"CONCURSO PÚBLICO. ENCERRAMENTO. INTERESSE DE AGIR.


PERDA SUPERVENIENTE. CANDIDATO APROVADO FORA DO
NÚMERO DE VAGAS PREVISTO NO EDITAL. EXPECTATIVA DE
DIREITO.
1. A homologação do resultado final do concurso, nas ações em que
se discute nulidade de fase do certame, não leva à perda
superveniente do interesse processual.
2.Salvo em caso de preterição à ordem de classificação, a aprovação em
concurso público, em colocação superior à do número de vagas oferecido
no edital, não gera, para o candidato, direito subjetivo à nomeação. O
mesmo se diz quanto àquele que obtém, na fase eliminatória do concurso,
classificação superior à exigida para prosseguir nas demais fases do
certame.
3.Segurança denegada".(Acórdão nº 670677, 20120020300892MSG.
Relator Desembargador Jair Soares, Conselho Especial, Data de
Julgamento: 16/04/2013)

"ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. PRELIMINARES:


FALTA DE INTERESSE DE AGIR E INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.
REJEIÇÃO. MÉRITO: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA. PREVISÃO LEGAL.
AUSÊNCIA DE CRITÉRIOS OBJETIVOS NO EDITAL. NULIDADE.
NOMEAÇÃO E POSSE. DESCABIMENTO.
1.Não há de se falar em falta do interesse de agir, em razão da
homologação do resultado final do concurso público, se está sendo
discutida possível ilegalidade em etapas do próprio certame.
2.Quando a matéria é eminentemente de direito e o conjunto de provas
carreadas aos autos encontra-se suficientemente apto à análise do mérito,
não há de se falar em inadequação da via eleita em sede de mandado de
segurança.
3. Segurança concedida". (MSG 20100020128255, Relator Desembargador
Arnoldo Camanho de Assis. Conselho Especial. Julgamento em
03/05/2011).

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Logo, não há perda superveniente do interesse de agir.


No mérito, sem razão o autor/apelante.
Transcrevo excerto de voto do eminente Desembargador J.J. Costa
Carvalho, proferido no Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 2013 00 2
012305 8, interposto em face da negativa de antecipação dos efeitos da tutela,
proferida pelo ínclito Magistrado, in verbis:

"(...) Com a devida venia, entendo que a dicção do juízo merece prevalecer.
É que o agravante não reuniu os elementos necessários ao deferimento da
medida de que trata o artigo 273 do estatuto processual civil. Embora não
desconheça a existência de precedentes fundados na tese de que, em
situações dessa natureza, há de se prevalecer a presunção de
inocência, considerando que não sobreveio, ainda, qualquer decisão
judicial definitiva acerca do ilícito penal a que o autor/agravante está
respondendo, entendo que há outros valores a se preservar na
situação em foco, especialmente diante da nobre e respeitada
atividade de bombeiro militar, objeto do concurso público noticiado
nos autos. Ou seja, conforme acentuado pelo juízo, no corpo de seu
pronunciamento, "...a segurança pública e a disciplina e hierarquia
militar devem, por ora, preponderar sobre a presunção de não
culpabilidade". Na hipótese, o agravante restou alijado do certame
porque, na fase de investigação social e funcional, se constatou a
existência de ação penal contra si, por violação ao regramento
colocado no artigo 216-A, caput, combinado com o seu parágrafo 2º,
do Código Penal. O regramento editalício, no particular, assinala que "...os
candidatos serão submetidos à sindicância de vida pregressa e
investigação social, de caráter unicamente eliminatório, para fins de
avaliação de sua conduta pregressa e idoneidade moral, requisitos
indispensáveis para aprovação no concurso público". Ou seja, na
indigitada fase, apura-se o comportamento social do candidato, a fim
de se verificar se ele encontra-se munido de predicados reveladores de
conduta moral inabalável para bem exercer a atividade de bombeiro

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militar. Embora não se discuta que a ação penal referida, apesar de já


recebida a denúncia, se encontre em estágio embrionário, uma coisa
não se pode contestar: pesa sobre o agravante a prática de ilícito penal
de todo reprovável e esta circunstância, a princípio, depõe contra a
sua envergadura ética, tisnando o requisito da idoneidade moral e
conduta ilibada, exigido para o ingresso nas fileiras da corporação.
Nesse contexto, não é permitido inferir a presença da verossimilhança de
sua alegação, porque, no caso, e ao menos por ora, deve ser conferida
higidez à conclusão tomada pelo Centro de Inteligência da Corporação
, quando conclui que a conduta do agravante não se afigura
incontestável sob o ponto de vista social, o que o torna inabilitado ao
exercício da função de bombeiro militar. A investigação social é
medida de extrema importância e relevância social, na medida em que
permite uma seleção em conformidade com o critério de idoneidade
moral exigido para o exercício de determinados cargos, não podendo
ter o seu âmbito de abrangência limitado a condenações penais
transitadas em julgado. Com efeito, tratando-se a avaliação da conduta
pregressa um procedimento legal, a limitação de não recomendação
apenas aos candidatos com condenação penal transitada em julgado,
na forma defendida pelo agravante, consistiria na absoluta inocuidade
da própria sindicância. Se assim fosse, bastaria à Administração que
exigisse dos candidatos uma certidão criminal, porque
automaticamente seriam considerados inaptos aqueles que tivessem
alguma anotação. Por oportuno, trago à colação o seguinte precedente
desta e. Corte de Justiça que, de algum modo, respalda as considerações
retro expendidas: PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. SOLDADO
POLICIAL MILITAR. SINDICÂNCIA DA VIDA PREGRESSA E
INVESTIGAÇÃO SOCIAL. EXCLUSÃO DE CANDIDATO. LIMINAR
VISANDO A SUSPENSÃO DO ATO ADMINISTRATIVO. INDEFERIMENTO.
REQUISITOS LEGAIS NÃO PREENCHIDOS. DECISÃO MANTIDA. (...).
Cumpre frisar que a jurisprudência do colendo STJ assentou
entendimento de que o Edital do concurso público pode exigir a
avaliação de conduta social, como requisito essencial para aprovação
do candidato. A investigação social não se resume a analisar a vida
pregressa do candidato quanto às infrações penais que porventura
tenha praticado. Serve, também, para avaliar sua conduta moral e

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social no decorrer de sua vida, visando aferir seu comportamento


frente aos deveres e proibições impostos ao ocupante de cargo
público da carreira policial. 4. Recurso conhecido e não provido.
(20100020162777AGI, Relator HUMBERTO ADJUTO ULHÔA, 3ª Turma
Cível, julgado em 09/12/2010, DJ 27/01/2011 p. 98). (fls. 230/231).

No caso, há que se ponderar a respeito do perfil moral daqueles que


buscam ser investidos em funções públicas peculiares, a exigir do candidato uma
postura ética e moral dentro de padrões que homenageiem o princípio da moralidade
previsto no artigo 37, da Carta Federal de 1988.
O Estatuto do CBMDF - Corpo de Bombeiros Militar do Distrito
Federal, prima por essa linha de orientação, a exigir, categoricamente, dos seus
agentes, a comprovação de procedimento irrepreensível e idoneidade moral
inatacável, consoante se vêem nos dispositivos abaixo transcritos:

"Art. 29 - O sentimento do dever, o brio do bombeiro-militar e o decoro


da classe impõem a cada um dos integrantes do Corpo de Bombeiros,
conduta moral e profissional irrepreensíveis com a observância dos
seguintes preceitos da ética do bombeiro-militar:
I - amar a verdade e a responsabilidade como fundamentos da dignidade
pessoal;
II - exercer, com autoridade, eficiência e probidade, as funções que lhe
couberem em decorrência do cargo;
III - respeitar a dignidade da pessoa humana;
IV - cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos, as instruções e as
ordens das autoridades competentes;
V - ser justo e imparcial nos julgamentos dos atos e na apreciação do mérito
dos subordinados;
VI - zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual, físico e, também, pelo
dos subordinados, tendo em vista o cumprimento da missão comum;
VII - praticar a camaradagem e desenvolver, permanentemente, o espírito
de cooperação;
VIII - empregar todas as suas energias em benefício do serviço;
IX - ser discreto em suas atitudes e maneiras e em sua linguagem

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escrita e falada;
X - abster-se de tratar, fora do âmbito apropriado, de matéria sigilosa de
qualquer natureza;
XI - acatar as autoridades civis;
XII - cumprir seus deveres de cidadão;
XIII - proceder de maneira ilibada na vida pública e na particular;
XIV - garantir a assistência moral e material ao seu lar e conduzir-se como
chefe de família modelar;
XV - conduzir-se, mesmo fora do serviço ou na inatividade, de modo
que não sejam prejudicados os princípios da disciplina, do respeito e
do decoro de bombeiro-militar;
XVI - observar as normas de boa educação;

Ora, o recorrente foi submetido a procedimento criminal,


concomitantemente a sua participação no certame, no qual confessou o seu
comportamento por demais reprovável na vida de qualquer cidadão, e
potencialmente mais gravoso na vida de quem pretende exercer cargo de
segurança, policiamento e salvação de cidadãos comuns.
No ponto, assim se pronunciou o ínclito julgador a quo:

"(...) Em consulta aos sistemas informatizados do TJDFT, constatei que


foi homologada a suspensão condicional do processo, com fulcro no
artigo 89 da Lei nº 9.099/95, que determina que, se o acusado cumpre
as condições impostas, expirado o prazo de prova, sem revogação da
suspensão, será declarada extinta a punibilidade e, portanto, não há
admissibilidade de culpa. Nessa esteira, o acusado continua gozando
da presunção de inocência. Por outro lado, referida presunção de
inocência não afasta a ocorrência dos fatos que ora se discute, eis que
o autor reconheceu, em sede de ação penal, ter trocado mensagens de
cunho sexual com sua aluna, senão vejamos: "que o declarante admitiu
que havia mantido conversas íntimas com sua aluna (...); que admite
que o tom das conversas era imoral e inadequado (...)" - fl. 74; "o
interrogando reconhece que trocava mensagens com palavras de

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cunho sexual com sua aluna (...); embora não soubesse sua idade,
tinha consciência que ela era menor de idade; chegou a trocar diversas
mensagens no facebook, onde falavam de sexo - fl. 93". Este fato, por
si só, está eivado de tamanha reprovabilidade que,
independentemente da suspensão condicional do processo e de futura
extinção da punibilidade, macula a conduta social do requerente. Os
termos da não recomendação do candidato, conforme acima transcrito
, não se baseia simplesmente na mera existência de processo criminal
. A fundamentação se estende ao considerar a identificação de "um
fato grave no passado do candidato, o que o torna incompatível com a
função de Bombeiro Militar". Portanto, considerando a seriedade da
carreira que o autor pretende ocupar, é razoável admitir-se que a
Administração Pública selecione candidatos que possuam idoneidade
moral irrepreensível. Este magistrado não ignora o posicionamento do
Eg. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios no sentido
de que o candidato não pode ser inabilitado na fase de investigação
social e funcional tão-somente por responder a processo criminal, em
decorrência do princípio constitucional da presunção de inocência,
segundo o qual, ninguém pode ser considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória. Não obstante, na hipótese
em apreço, foi demonstrada conduta reprovável, incompatível com a
carreira militar, que ultrapassa a mera existência de processo penal em
curso e, caso ignorada, coloca em risco a própria credibilidade da
instituição. Vale dizer que a investigação social não se limita à simples
constatação da existência de processo criminal, mas principalmente
da conduta moral e social do candidato. Por tais razões, a
improcedência dos pedidos iniciais é medida que se impõe (...)".

Em consonância com esse raciocínio, destaco os seguintes arestos:

"RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCUSO


PÚBLICO MILITAR. INVESTIGAÇÃO SOCIAL. FATOS QUE
CONFIGURAM CRIME. APURAÇÃO NA VIA CRIMINAL. EXCLUSÃO DO

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CERTAME. POSSIBILIDADE.
1. A investigação social, em concurso público, não se resume a
analisar a vida pregressa do candidato quanto às infrações penais que
porventura tenha praticado. Serve, também, para avaliar a sua conduta
moral e social no decorrer de sua vida, visando aferir seu
comportamento frente aos deveres e proibições impostos ao ocupante
de cargo público da carreira policial e de outras carreiras do serviço
público não menos importantes.
2. As condutas apuradas pela Comissão de Investigação Social do
concurso, as quais foram devidamente apuradas na esfera penal, tendo,
algumas, sentença condenatória com trânsito em julgado, são incompatíveis
com o que se espera de um policial militar, em cujas atribuições funcionais
se destacam a preservação da ordem pública e manutenção da paz social.
[...]."(STJ, ROMS no. 22089-MS, STJ, 5ª. Turma, Rel. Min. Félix Fischer,
dec. un. pub. DJU 13.8.2007, p. 390).

"MANDADO DE SEGURANÇA. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO.


CONCURSO PÚBLICO. TÉCNICO PENITENCIÁRIO. ELIMINAÇÃO NA
FASE DE SINDICÂNCIA DE VIDA PREGRESSA E INVESTIGAÇÃO
SOCIAL. INSCRIÇÃO EM CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO E
EMISSÃO DE CHEQUES SEM PROVISÃO DE FUNDOS. ELEMENTOS
DESABONADORES DA IDONEIDADE MORAL. SEGURANÇA
DENEGADA.
1. A Lei Distrital nº.3.669/2005 dispõe, como requisito essencial ao
ingresso na carreira atinente à atividade penitenciária, a comprovação
de idoneidade e conduta ilibada, o que impõe a plena regularidade da
previsão editalícia de fase composta de sindicância de vida pregressa
e investigação social.
2.A comprovação de idoneidade e conduta ilibada percorre aspectos
que não se limitam à seara criminal, adentrando, por outro lado, a
outros meandros da vida social do candidato, o que engloba, por
exemplo, a verificação do equilíbrio e responsabilidade na gestão particular
de suas finanças.
3.A verificação da existência de registro de inadimplência no serviço de
proteção ao crédito e no cadastro de emitente de cheques sem provisão de
fundos ilustra elementos desabonadores da idoneidade moral necessária à
assunção da função pública em disputa, de forma que obstaculizar o avanço

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no certame de candidato nesta situação é medida razoável e proporcional,


tendo em vista o legítimo interesse da Administração em selecionar futuros
agentes públicos probos, que poderão honrar com suas atribuições,
mantendo-se firmes aos apelos de corrupção, que, infelizmente, é de prática
recorrente nos estabelecimentos prisionais pátrios.
4.Segurança denegada".(Acórdão nº 358224. 20080020154810MSG.
Relator Desembargador J.J. Costa Carvalho. Conselho Especial. Julgado
em 12/05/2009).

Nesse mesmo sentido tenho me manifestado. Relembrem-se:

"PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CÍVEL. CONCURSO


PÚBLICO. TÉCNICO PENITENCIÁRIO. LIMINAR INDEFERIDA.
SINDICÂNCIA DE VIDA PREGRESSA. ELIMINAÇÃO. INSCRIÇÃO DO
NOME NOS ÓRGÃOS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO. CARÊNCIA DE
AÇÃO. HOMOLOGAÇÃO DO CONCURSO. INTERESSE PROCESSUAL
REMANESCENTE.
1.A homologação do concurso com subsequente posse dos candidatos
aprovados não afasta o direito de o candidato ver apreciado o mérito de sua
irresignação. Assim, não há que se falar em perda superveniente do
interesse de agir se o concurso efetuou as etapas subsequentes.
2.A comprovação de idoneidade e conduta ilibada percorre aspectos
que não se limitam à seara criminal. Adentra, também na vida social do
candidato, o que engloba, por exemplo, a verificação do equilíbrio e
responsabilidade na gestão particular de suas finanças.
3.A idoneidade moral é essencial para o cargo vindicado, sob pena de
colocar-se em risco a sociedade para a qual o serviço é prestado. A
investigação da vida pregressa e da conduta social dos candidatos às
carreiras policiais e afins é dotada de suma importância no processo
seletivo, devendo o Poder Público excluir do certame aqueles que
tenham praticado condutas que atentem contra a ordem pública.
4.Recurso provido para cassar a sentença e julgar improcedente o pedido

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inicial. (Acórdão nº 644266. 20080111349763APC. Relator Desembargador


Mario-Zam Belmiro. 3ª Turma Cível. Julgamento: 27/06/2012).

Destarte, diante da constatação de irregular comportamento


pregresso na vida social do candidato, incompatível com o que se espera do
exercício da função de Bombeiro Militar, não há qualquer pecha a inquinar o ato
administrativo atacado que o inabilitou no concurso ora em exame.
Por tais fundamentos, nego provimento ao recurso para manter a r.
sentença objurgada, em todos os seus judiciosos termos.
É o meu voto.

O Senhor Desembargador JOÃO EGMONT - Revisor


Com o relator.

A Senhora Desembargadora LEILA ARLANCH - Vogal


Com o relator.

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DECISÃO

NEGAR PROVIMENTO. UNÂNIME

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