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ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça por unanimidade, negar provimento ao
agravo regimental, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Nilson Naves e Maria Thereza de Assis Moura votaram com a Sra.
Ministra Relatora.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Paulo Gallotti e Og Fernandes.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Nilson Naves.
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AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.043.279 - PR (2008/0066044-4)
RELATÓRIO
Em suas razões de recurso, alegou o réu que não agiu com dolo eventual, consoante
consta da denúncia, e sim com culpa consciente, o que a fasta a possibilidade de sua pronúncia,
não podendo ser ele submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri, tão-somente com fundamento
no ultrapassado princípio in dubio pro societate. Com base em tais fundamentos, pediu a
desclassificação do crime de homicídio doloso (art. 121, caput, do CP), para o crime de homicídio
culposo cometido na direção de veículo automotor (art. 302, parágrafo único, V, do Código de
Trânsito) (f. 107).
A Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por
unanimidade de votos, deu provimento ao presente recurso de apelação para desclassificar o
crime de homicídio doloso (art. 121, caput, do CP) para o crime de homicídio culposo cometido na
direção de veículo automotor (art. 302, do Código de Trânsito), determinando o prosseguimento
do julgamento. Eis os fundamentos:
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DECLARAÇÃO contra o acórdão n.º 21083 (f. 134/152), que desclassificou o delito de
homicídio doloso (dolo eventual) para homicídio culposo, alegando a existência de omissão,
porque ignorou a conclusão do laudo pericial, segundo o qual o réu dirigia em alta velocidade, em
via pública, e contradição, porque, embora considere a matéria polêmica, desclassificou a
imputação. No final, pediu provimento ao recurso para o suprimento dos vícios e com possíveis
efeitos infringentes.
Estes foram rejeitados pela Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado
do Paraná, por unanimidade de votos, conforme a seguinte ementa:
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AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.043.279 - PR (2008/0066044-4)
VOTO
Quanto à divergência, falta o cotejo analítico, nos moldes do que determina o art. 255, do
RISTJ, impedindo o conhecimento do recurso quanto a esse aspecto.
De se referir que não basta a simples transcrição de ementas ou trechos do julgado
divergente, devendo a parte realizar o confronto explanatório da decisão recorrida com o acórdão
paradigma, a fim de apontar a divergência jurisprudencial existente.
A falta de análise dos julgados com o fito de evidenciar sua similaridade fática evidencia
o descumprimento das formalidades insculpidas nos artigos 541, parágrafo único, do Código de
Processo Civil, e 255, §§ 1º e 2º, do Regimento Interno desta Corte. Nesse sentido, aponto os
seguintes precedentes desta Corte:
Quanto à alegada ofensa reflexa do art. 5º, XXXVIII, "d", da Constituição Federal, vale
ressaltar que a missão constitucional desta Corte é a de unificar a aplicação da legislação federal,
o que inviabiliza a análise do tema.
Quanto à ocorrência de dolo eventual no caso, o acórdão ora guerreado assim
fundamentou a desclassificação:
Diz-se o crime:
I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo;.
A doutrina penal brasileira instrui que o dolo, conquanto constitua elemento subjetivo do
tipo, deve ser compreendido sob dois aspectos: o cognitivo, que traduz o conhecimento dos
elementos objetivos do tipo, e o volitivo, configurado pela vontade de realizar a conduta típica.
EUGÊNIO RAÚL ZAFFARONI em seu "Manual de Direito Penal Brasileiro" (Parte
Geral, RT, 5ª ed., p. 458, em co-autoria com JOSÉ HENRIQUE PIERANGELI) ensina que:
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Em outros termos, o elemento cognitivo consiste no efetivo conhecimento de que o
resultado poderá ocorrer, isto é, o efetivo conhecimento dos elementos integrante do tipo penal
objetivo. A mera possibilidade de conhecimento, o chamado “conhecimento potencial”, não basta
para caracterizar o elemento cognitivo do dolo.
No elemento volitivo, por seu turno, o agente quer a produção do resultado de forma
direta – dolo direto – ou admite a possibilidade de que o resultado sobrevenha – dolo eventual.
Ingressando no estudo do dolo eventual, cabe destacar que, para sua configuração, ambos
os requisitos acima expostos são indispensáveis: o conhecimento e a vontade.
Confira-se CÉSAR ROBERTO BITENCOURT (p. 59):
A partir da noção doutrinária acima elucidada e considerando que o dolo eventual não é
extraído da mente do acusado, mas das circunstâncias do fato, o que se conclui é que a denúncia
limitou-se a narrar o elemento cognitivo do dolo, o seu aspecto de conhecimento pressuposto ao
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querer (vontade).
Portanto, para que se conclua pela ocorrência de dolo eventual, deve-se evidenciar como
e em que momento o sujeito assumiu o risco de produzir o resultado, isto é, admitiu e aceitou o
risco de produzi-lo. Deve-se demonstrar a antevisão do resultado, isto é, a percepção de que é
possível causá-lo antes da realização do comportamento.
No entanto, a exordial acusatória não logrou demonstrar as circunstâncias hábeis a
caracterizar a indiferença do paciente pela morte da vítima, o “tanto faz” se o atleta
permanecesse vivo ou viesse a falecer, o “se acontecer, azar o dele”.
A análise cuidadosa da denúncia finaliza o posicionamento de que não há descrição do
elemento volitivo consistente em “assumir o risco do resultado”, em aceitar, a qualquer custo, o
resultado, o que é imprescindível para a configuração do dolo eventual.
O tipo penal culposo, além de outros elementos, pressupõe a violação de um dever
objetivo de cuidado e que o agente tenha a previsibilidade objetiva do resultado, a possibilidade de
conhecimento do resultado, o “conhecimento potencial” que não é suficiente ao tipo doloso.
Neste sentido:
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Ante o exposto, nego provimento ao agravo.
É o voto.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA
AgRg no
Número Registro: 2008/0066044-4 REsp 1043279 / PR
MATÉRIA CRIMINAL
Números Origem: 4007654 400765401 400765402 7603
Relatora
Exma. Sra. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG)
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro NILSON NAVES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOSÉ ALVES PAULINO
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ
RECORRIDO : JUAREZ HERCULANO CÓRDOVA
ADVOGADO : MIGUEL NICOLAU JUNIOR E OUTRO(S)
ASSUNTO: Penal - Crimes contra a Pessoa (art.121 a 154) - Crimes contra a vida - Homicídio ( art. 121 ) -
Doloso
AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : JUAREZ HERCULANO CÓRDOVA
ADVOGADO : MIGUEL NICOLAU JUNIOR E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do
voto da Sra. Ministra Relatora."
Os Srs. Ministros Nilson Naves e Maria Thereza de Assis Moura votaram com a Sra.
Ministra Relatora.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Paulo Gallotti e Og Fernandes.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Nilson Naves.
Brasília, 14 de outubro de 2008