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AgRg no HABEAS CORPUS Nº 665687 - RS (2021/0142778-5)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


AGRAVANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
AGRAVADO : ELTON DE PONTES DA ROSA (PRESO)
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL

DECISÃO

Trata-se de agravo regimental interposto pelo Ministério Público do Estado do


Rio Grande do Sul contra a decisão, DE MINHA LAVRA, que não conheceu do habeas
corpus impetrado pela Defensoria Pública do Estado do Rio Grande Sul, contudo
concedeu a ordem, de ofício, para despronunciar o paciente, visto que os indícios de
autoria estariam limitados a elementos da fase policial (e-STJ fls. 459/471).

Em suas razões (e-STJ fls. 476/484), o Parquet sustenta que a pronúncia do


paciente não ocorreu com base, apenas, em elementos do inquérito policial, visto que: a)
há prova judicializada acerca da autoria; b) a testemunha presencial não foi inquirida em
juízo por força de ameaças; c) o falecimento da vítima torna prova não repetível as
informações por ela prestadas à autoridade policial no hospital.

Aduz que: "Compulsando-se os autos, localizou-se o depoimento de Devilson


Enedir Soares (fls. 252/253), prestado em juízo, sob o crivo do contraditório e da ampla
defesa, em que a testemunha, ao longo de suas declarações, rememorou acerca do fato e
relatou integrar a guarnição que atendeu à ocorrência policial, oportunidade em que a
esposa da vítima imputou a autoria do delito a “Pinucho”, alcunha do paciente, citado
como um dos líderes do tráfico na região, a ao adolescente Iago, que assumiu sozinho a
prática do crime, apontado como seu braço direito" (e-STJ fl. 477).

Pugna, ao final, pela reconsideração da decisão agravada, restabelecendo a


pronúncia do paciente.

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: segunda-feira, 31 de maio de 2021


Documento eletrônico VDA29087568 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
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Publicação no DJe/STJ nº 3158 de 31/05/2021. Código de Controle do Documento: 6ccd6d31-0a45-4d54-a5b6-3e139a3e1616
É o relatório. Decido.

De início, destaco que os argumentos aduzidos nas razões de agravo


regimental revelam-se plausíveis, o que impõe a reconsideração da decisão agravada.

Como é de conhecimento, sabe-se que, para permitir o julgamento do acusado


perante o Tribunal do Júri, a lei processual penal exige tão somente que haja prova da
existência do crime e indícios suficientes de sua autoria.

Todavia, É ilegal a sentença de pronúncia com base exclusiva em provas


produzidas no inquérito, sob pena de igualar em densidade a sentença que encera o jus
accusationis à decisão de recebimento de denúncia (HC 589.270/GO, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Sexta Turma, julgado em 23/2/2021, DJe de 22/3/2021).

Rememorando o caso dos autos, observo que, na decisão impugnada, esta


relatoria não conheceu do mandamus, contudo a ordem foi concedida, de ofício, para
despronunciar o paciente, Elton de Pontes da Rosa, por inobservância ao art. 155 do CPP.

Isso porque, conforme foi consignado na decisão impugnada, o Tribunal de


Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, no julgamento do Recurso em Sentido Estrito da
defesa, manteve a pronúncia do paciente, com base, em síntese, nos depoimentos da
esposa da vítima que foram colhidos durante o inquérito policial e não repetidos em
Juízo.

Veja-se (e-STJ fls. 403/404):


Pois bem. Consoante dispõem os artigos 413 e 414 do Código de Processo
Penal, a decisão de pronúncia comporta juízo de admissibilidade da
acusação, para a qual devem ocorrer prova da existência do fato
(materialidade) e os indícios acerca da autoria ou participação do agente.
Não se profere, neste momento, juízo de certeza, necessário para a
condenação, motivo pelo qual a vedação expressa do artigo 155 do Código de
Processo Penal não se aplica à referida decisão, salvo se a prova produzida
na fase administrativa for totalmente dissociada do contexto probatório. A
propósito, anote-se:
RSE. JÚRI. HOMICÍDIO QUALIFICADO. DESPRONÚNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. A Constituição Federal prevê expressamente, na alínea
d do inciso XXXVIII de seu artigo 5º, que aos jurados compete o julgamento
dos crimes dolosos contra a vida. Logo, havendo ao menos uma versão que
ampare a existência do fato e a autoria atribuída aos réus, não cumpre ao
juízo togado definição acerca da sua suficiência e confiabilidade para a
condenação; os jurados é que, em julgamento aprofundado do mérito,
deverão se manifestar a respeito, sob pena de frontal violação ao texto
constitucional que prevê sua competência. ART. 155 DO CPP.
RELATIVIZAÇÃO NOS PROCEDIMENTOS DO TRIBUNAL DO JÚRI. A
regra prevista no art. 155 do CPP é de alcance restrito em se tratando de
sentença de pronúncia, de maneira que elementos colhidos exclusivamente
na fase inquisitorial, a menos que se mostrem absolutamente inconfiáveis,

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podem ser usados como indícios para proferir a decisão. Precedente.
FORMAS DE PARTICIPAÇÃO. ADMISSÃO, NA ORIGEM, DA CONDUTA
DEMANDANTE, COM EXCLUSÃO DAS DEMAIS. INCONFORMIDADE
MINISTERIAL. PEDIDO DE ACOLHIMENTO INTEGRAL DA ACUSAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE MÍNIMO SUPORTE INDICIÁRIO
PARA O ACOLHIMENTO DA INCONFORMIDADE. QUALIFICADORAS.
MOTIVO TORPE ADMITIDO NA ORIGEM. INCONFORMIDA DE
DEFENSIVA. PEDIDO DE AFASTAMENTO. ACOLHIMENTO. RECURSO
QUE DIFICULTOU A DEFESA DA VÍTIMA. AFASTAMENTO NA ORIGEM.
INCONFORMIDADE MINISTERIAL. PEDIDO DE RECONHECIMENTO.
DESACOLHIMENTO. Quando absolutamente nenhum elemento fático
ampara a imputação de circunstância qualificadora narrada na denúncia, a
sua exclusão é medida de rigor, pela improcedência manifesta. RECURSO
MINISTERIAL DESPROVIDO. RECURSO DEFENSIVO PARCIALMENTE
PROVIDO. UNÂNIME.
(Recurso em Sentido Estrito n. 70082036435, 2ª Câmara Criminal, Tribunal
de Justiçado RS, Relator: LUIZ MELLO GUIMARÃES, Julgado em:
29/8/2019 - destaquei)
No caso em comento, conquanto a defesa do réu sustente a tese de negativa
de autoria, há uma versão nos autos que admite a pronúncia e a submissão
do acusado a julgamento perante o Tribunal do Júri, que é aquela extraída
das declarações fornecidas pela esposa da vítima (Sabrina), que ao ser
reinquirida na fase administrativa, apontou o réu e o adolescente Iago como
sendo os autores do crime.
As declarações prestadas por Sabrina na fase administrativa assumiram
caráter de irrepetível, visto que não foi localizada para ser ouvida em juízo,
sendo o seu exame de competência do Tribunal Popular. Nesse sentido,
colaciono o seguinte julgado:
RSE. JÚRI. PRELIMINAR. AJUSTE DA CAPITULAÇÃO DE CRIME
CONEXO. NARRATIVA DE ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA ARMADA, COM
EQUIVOCADA CAPITULAÇÃO DE ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO.
EMENDATIO LIBELI. (...) IMPOSSIBILIDADE PARA ORÉU W. R.
EXISTÊNCIA DE DEPOIMENTO QUE O APONTA COMO UM DOS
AUTORES DOS DELITOS. Se um depoimento não repetido em juízo, porque
a testemunha não foi localizada, é ou não digno de credibilidade, bem como
se é ou não suficiente para ensejar condenação, cabe apenas ao Conselho de
Sentença decidir, haja vista a competência que lhe é constitucionalmente
assegurada. ART. 155 DO CPP. RELATIVIZAÇÃO NOS PROCEDIMENTOS
DO TRIBUNAL DO JÚRI. A regra prevista no art. 155 do CPP é de alcance
restrito em se tratando de sentença de pronúncia, de maneira que elementos
colhidos exclusivamente na fase inquisitorial, a menos que se mostrem
absolutamente inconfiáveis, podem ser usados como indícios para proferir a
decisão. Precedente. (...)
EMENDATIO LIBELI OPERADA DE OFÍCIO. RECURSO MINISTERIAL
DESPROVIDO. RECURSOS DEFENSIVOS PARCIALMENTE PROVIDOS.
UNÂNIME.
(Recurso em Sentido Estrito n. 70082590605, 2ª Câmara Criminal, Tribunal
de Justiçado RS, Relator: LUIZ MELLO GUIMARÃES, Julgado em:
24/10/2019)
Assim sendo, os indícios suficientes de autoria ou de participação,
compreendidos como prova tênue, de menor valor persuasivo, que permitam
afirmar a probabilidade da concorrência do acusado para a consumação do
delito contra a vida, estão representados nos autos, atuando com acerto a
autoridade judiciária de primeira instância ao encaminhar o processo para
julgamento pelo Tribunal do Júri, não se afigurando viável, neste momento
processual, nem a prolação de uma decisão absolutória sumária, pois isso
requer a certeza cabal da não atuação do pronunciado, o que não se verificou

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no caso concreto, nem de despronúncia, uma vez que a autoria a cargo do
recorrente está sugerida nos autos.
Impende registrar, ainda, que os jurados possuem a competência
constitucional de julgar os crimes dolosos contra a vida e, para tanto, devem
analisar os autos de “capa a capa”. Desse modo, toda e qualquer prova
carreada aos autos é apta para o Conselho de Sentença firmar seu
convencimento.
No tocante à alegada inconstitucionalidade do princípio do in dubio pro
societate, sustentada pela defesa em seu arrazoado, registro que não se
desconhece o julgado do Pretório Excelso, nos autos do ARE 1.067.392/CE
(Segunda Turma; Rel. Ministro GILMAR MENDES, j. 26/MAR/2019) que, por
maioria de votos, concedeu habeas corpus de ofício, para o efeito
restabeleceu sentença de impronúncia anteriormente proferida por
magistrado de primeiro grau. Na oportunidade, o e. Ministro Relator deixou
assentado que o princípio do in dubio pro societate não encontra amparo
constitucional ou legal e “acarreta o completo desvirtuamento das premissas
racionais de valoração da prova”. Disse, ainda, que esse princípio desvirtua
por completo o sistema bifásico do procedimento do júri brasileiro,
esvaziando a função da decisão de pronúncia.
Sem embargo, há outros julgados do próprio Supremo Tribunal Federal
afirmando a constitucionalidade do princípio do in dubio pro societate. Por
todos:
Agravo regimental nos embargos de declaração no recurso extraordinário
com agravo. 2. Penal e Processo Penal. Sentença de pronúncia. In dubio pro
societate. Princípio constitucional. 3. Uso de parecer ministerial como razões
de decidir. Ausência de inconstitucionalidade. Precedentes. 4. Indeferimento
de perícia em decisão fundamentada. Imprestabilidade do objeto a ser
periciado. Possibilidade. 5. Agravo regimental a que se nega
provimento.(ARE 1082664 ED-AgR, Relator(a): Ministro GILMAR MENDES,
Segunda Turma, julgado em 26/10/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
235, DIVULG 5/11/2018, PUBLIC 6/11/2018)
A par dessa divergência jurisprudencial, anoto que no caso retratado no ARE
1.067.392/CE, o princípio do in dubio pro societate foi afastado porque
existia uma “preponderância de provas no sentido da não participação dos
imputados nas agressões que ocasionaram o falecimento da vítima”. Segundo
se apreende do julgado, as testemunhas que incriminavam o réu eram apenas
de “ouvir dizer”. No caso em comento, contudo, o acusado não está sendo
pronunciado a partir de declarações de testemunhas indiretas, mas sim do
relato da esposa da vítima, que ao ser ouvida na fase pré-processual,
apontou o réu como sendo um dos autores do crime, razão pela qual o
encaminhamento do recorrente à julgamento perante o e. Tribunal do Júri é
medida que se impõe. - negritei.

Somado a isso, esta relatoria destacou que o Tribunal de origem, em sede de


embargos de declaração no Recurso em Sentido Estrito, manteve o seu posicionamento a
respeito da pronúncia com base, somente, nos elementos da fase policial, citando,
inclusive, antigos precedentes do STJ, dentre eles, um de minha relatoria, os quais
encontram-se desatualizados com a atual jurisprudência dos Tribunais Superiores,
segundo a qual: Não se admite a pronúncia de acusado fundada exclusivamente em
elementos informativos obtidos na fase inquisitorial (Informativo de Jurisprudência n.
638 - AgRg no REsp 1.740.921/GO, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, Quinta Turma,

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julgado em 6/11/2018, DJe de 19/11/2018).

Destaco, no ponto, a fundamentação contida no voto condutor dos aclaratórios


a revelar que a Corte local utilizou-se, de fato, da antiga jurisprudência desta Corte
Superior que permitia a pronúncia do réu com base em elementos da fase policial.

Veja-se (e-STJ fls. 454/455):


Consigno, ainda, que não se desconhece o julgado citado pelo embargante
(AgRg no REsp 1.740.921/GO, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, Quinta
Turma, julgado em 6/11/2018, DJe 19/11/2018), no sentido de que a decisão
de pronúncia não pode estar calcada tão somente em indícios obtidos no
inquérito policial. Entretanto, há julgados do mesmo sodalício, inclusive
mais recentes, em sentido contrário, qual seja, de que a decisão que submete
o acusado a julgamento perante o Tribunal do Júri pode ser fundamentada
em elementos colhidos tão somente na fase policial, sem que isso afronte o
artigo 155 do CPP, dado o seu conteúdo meramente declaratório. Pela
pertinência, anoto:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL DA DEFESA E DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. HOMICÍDIO NO TRÂNSITO. 1. OFENSA AO
SISTEMA ACUSATÓRIO. PRODUÇÃO DEPROVA DE OFÍCIO.
IMPARCIALIDADE DO MAGISTRADO. 2. INDEFERIMENTO DE OITIVA
DA VÍTIMA HOSPITALIZADA. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. 3.
SENTENÇA DE PRONÚNCIA. ELEMENTOS INDICIÁRIOS. 4.
DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO. DOLO EVENTUAL X CULPA
CONSCIENTE. 5. PREQUESTIONAMENTO EXPLÍCITO DE MATÉRIA
CONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DOS VÍCIOS DO ART. 619 DO CPP. 6.
COEXISTÊNCIA DEDOLO EVENTUAL COM QUALIFICADORAS - MEIO
CRUEL E MOTIVO FÚTIL. 7. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. (...) 3.1. Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior,
é admissível o uso do inquérito policial como parâmetro de aferição dos
indícios de autoria imprescindíveis à pronúncia, sem que isto represente
violação ou negativa de vigência ao art. 155 do CPP. 3.2. Ademais, na
hipótese, o Magistrado de primeiro grau fundamentou a existência de indícios
de autoria nos depoimentos testemunhais e no interrogatório do réu. 4.1. O
pleito defensivo de desclassificação da conduta/impronúncia encontra óbice
na impossibilidade de revolvimento do material fático-probatório dos autos
em sede de recurso especial, a teor da Súm. 7/STJ. Não se pode generalizar a
exclusão do dolo eventual em comportamentos humanos voluntários
praticados no trânsito. 5.1. A jurisprudência desta Corte é uníssona ao
afirmar que mesmo os recursos que pretendem o prequestionamento de tema
constitucional demandam a demonstração concomitante da existência de um
dos vícios do art. 619 do CPP, o que inocorreu no caso dos autos. 6.1.
Inexiste incompatibilidade entre o dolo eventual e o reconhecimento do meio
cruel para a consecução da ação, na medida em que o dolo do agente, direto
ou indireto, não exclui a possibilidade de a prática delitiva envolver o
emprego de meio mais reprovável, como veneno, fogo, explosivo, asfixia,
tortura ou outro meio insidioso ou cruel [...] (art. 121, § 2º, inciso III, do CP).
6.2. A anterior discussão entre autor e vítima não é suficiente para afastar a
qualificadora do motivo fútil, cuja incidência é possível, ainda que se trate de
dolo eventual. 7.1. Agravo regimental a que se nega provimento (AgRg no
REsp 1.573.829/SC, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
Quinta Turma, julgado em 9/4/2019, DJe 13/5/2019).
HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DO JÚRI. SENTENÇA DE PRONÚNCIA.
INDÍCIOS DE AUTORIA BASEADOS EM PROVAS OBTIDAS DURANTE

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INQUÉRITO POLICIAL. ALEGADA VIOLAÇÃO DO ART. 155 DO CPP.
NÃO OCORRÊNCIA. PARECER ACOLHIDO. 1. A decisão de pronúncia
encerra simples juízo de admissibilidade da acusação e exige a existência do
crime e apenas indícios de sua autoria, não demanda os requisitos de certeza
necessários à prolação de um édito condenatório. As dúvidas, nessa fase
processual, resolvem-se contra o réu e a favor da sociedade, a teor do
disposto no art. 413 do Código Processual Penal. Precedentes. 2. A
jurisprudência desta Corte admite que os indícios de autoria imprescindíveis
à pronúncia decorram dos elementos probatórios colhidos durante a fase
inquisitorial, sem que isso represente afronta ao art. 155 do Código de
Processo Penal. 3. O entendimento do Superior Tribunal de Justiça é de que a
eficácia probatória do testemunho da autoridade policial não pode ser
desconsiderada tão somente pela sua condição profissional, sendo
plenamente válida para fundamentar um juízo, inclusive, condenatório. 4. No
caso, o acórdão impugnado concluiu pela presença dos indícios de autoria
após ampla análise do conjunto probatório, não estando a pronúncia
fundamentada - como quer fazer crer o impetrante - somente em elementos
colhidos no inquérito policial, mas poderia ter sido. 5. Para se chegar a
conclusão diversa da que chegou o Tribunal de Justiça, seria inevitável o
revolvimento do arcabouço probatório carreado aos autos principais,
procedimento sabidamente inviável na via eleita. 6. Ordem denegada. Pedido
de reconsideração prejudicado (HC 485.765/TO, Rel. Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, Sexta Turma, julgado em 21/2/2019, DJe 28/2/2019). Frente
ao exposto, voto por desacolher os embargos de declaração. - negritei.

Entretanto, conforme foi salientado pelo Ministério Público do Estado do Rio


Grande do Sul nas razões deste agravo regimental, verifica-se da sentença de pronúncia
que o caso apresenta particularidades aptas a manter a pronúncia do paciente.

No ponto, colhe-se da sentença de pronúncia que (e-STJ fls. 314/322):


O MINISTÉRIO PÚBLICO, por seu agente, denunciou ELTON DE PONTES
DA ROSA, já qualificado nos autos, como incurso nas sanções previstas no
art. 121, § 2º, incisos III e IV, nos moldes do artigo 29, caput, e com a
incidência do art. 61, inciso I, todos do Código Penal, pela prática do
seguinte fato delituoso:
"No dia 11 de março de 2013, por volta das 19h20min, na Rua José do
Patrocínio, em via pública, no Bairro Marechal Floriano, nesta Cidade, por
motivos não suficientemente esclarecidos no inquérito policial, mas muito
provavelmente em decorrência de desavenças originadas pelo tráfico de
drogas (em face dos maus antecedentes do denunciado e do perfil da vítima),
mediante emboscada, recurso que dificultou a defesa do ofendido e gerando
em perigo comum ELTON DE PONTES DA ROSA, em comunhão de esforços
e união de vontades com o menor IAGO MORAES MACIEL, matou Rogério
Saboleski, mediante múltiplos disparos de armas de fogo (não apreendidas),
alvejando-o no tórax e no abdômen, consoante o auto de necropsia das fls. 19
e 20 no inquérito policial, que aponta como causa da morte choque séptico
resultante de complicações clínicas decorrentes de múltiplos ferimentos por
arma de fogo, que levaram o ofendido a óbito em 29 de julho de 2013, porém,
sem que houvesse quebra no desdobramento do nexo causal entre os disparos
e os eventos que evoluíram ao êxito letal. Na oportunidade, ELTON PONTES
DA ROSA e seu comparsa inimputável aguardavam em via pública, nas
proximidades da casa de familiares do ofendido, armados, a espera deste. Ao
avistarem a aproximação de Rogério, ELTON PONTES DA ROSA e o
inimputável IAGO MORAES MACIEL surpreenderam e desferiram tiros

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contra vítima. Após, empreenderam fuga. Rogério Saboleski morreu seis
meses depois em leito hospitalar, em decorrências dos ferimentos. O delito foi
cometido mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, porque o
denunciado surpreendeu o ofendido que, desarmado e com o filho nos braços,
não esperava a agressão com arma de fogo. O delito foi praticado mediante
emboscada pois o denunciado e seu comparsa inimputável aguardavam a
chegada da vítima na casa de familiares. O denunciado, em sua ação
homicida, gerou risco comum ao filho e a esposa a vítima que se encontravam
na linha de tiro do agente. O denunciado ELTON DE PONTES DA ROSA, é
reincidente, conforme certidão judicial criminal."
A denúncia foi recebida em 23/6/2014 (fl. 66).
Após a citação do acusado (fls. 75/76), este apresentou resposta à acusação
(fls.78/79). Afastada a absolvição sumária e designada audiência de
instrução (fl. 80).
Durante a instrução, foram inquiridas as testemunhas IAGO MORAES
MACIEL (fls. 181/183) e DEVILSON ENEDIR SOARES (fls. 196/197) e,
ao final, o réu foi interrogado (fl. 225). Ademais, homologada a desistência
na inquirição da testemunha SABRINA DE VARGAS DE LIMA (fl. 167).
Encerrada a instrução e substituídos os debates orais por memoriais escritos,
na forma do art. 403, § 3° do CPP.
Atualizados os antecedentes criminais do réu (fls. 220/224).
Em memoriais, o Ministério Público pugnou pela procedência da pretensão
punitiva, a fim de pronunciar o acusado como incurso no art. 121, § 2°,
incisos III e IV, nos moldes do artigo 29, caput, e com incidência do art. 61,
inciso I, todos do Código Penal (fls. 226/229).
A Defesa de Elton requereu a impronúncia do réu e, subsidiariamente, a
exclusão das qualificadoras narradas na exordial (fls. 230/235).
Os autos vieram concluso para sentença.
É O RELATO.
PASSO A DECIDIR.
A pronúncia é uma decisão de mero juízo de admissibilidade da acusação,
devendo o julgador, em seu exame, ficar adstrito à existência de prova da
materialidade do delito e suficientes indícios de sua autoria ou participação,
nos termos do artigo 413, caput, do Código de Processo Penal.
Aliás, nem mesmo poderia ser diferente, já que a análise dos fatos e das
provas que apontam para a autoria deverá ser realizada pelos jurados,
representantes da sociedade, que são os juízes naturais da causa. Nessa
senda, diante dessas considerações iniciais, passa-se à análise do fato
narrado na denúncia.
Na hipótese em apreço, sinalizo que devidamente comprovada a
materialidade delitiva, tendo em vista os boletins de ocorrências n°
9100/2013/151008 e n° 26988/2013/151008 (fls. 07/08 e 19/20), auto de
necropsia (fls. 23/24) e, ainda, o prontuário médico da vítima (fls. 83/130).
Com relação aos indícios de autoria, verifico que igualmente estão presentes,
conforme prova produzida na instrução, vejamos.
Inicialmente, a testemunha IAGO MORAES MACIEL (fls. 181/183), cunhado
do acusado, mencionou que executou a vítima sozinho, pois Rogério teria
matado seu tio Kevlen, em 2012. Disse que a mulher da vítima (Sabrina) não
gostava do inquirido e do denunciado, e esta falou que os dois teriam
cometido o crime. Relatou que quem matou o Kevien foi o Rogério e o Mateus
Saboleski, o qual foi morto pela polícia. Afirmou que comprou a arma do
crime na sua vila, dos "pedreiros" que usam pedra de crack e não lembra
quanto tempo antes do crime. Disse que o denunciado não participou do
crime, afirmando que Elton estava em casa no momento do delito. Narrou que
ficou esperando a vítima sozinho, mas que a mulher de Rogério e a família da
vítima não gostava do depoente e de Elton, e, assim, teriam falado que os dois
participaram do crime. Relatou que é primo da vítima, mas as famílias não

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Publicação no DJe/STJ nº 3158 de 31/05/2021. Código de Controle do Documento: 6ccd6d31-0a45-4d54-a5b6-3e139a3e1616
gostavam uma da outra. Que o problema com Rogério surgiu quando este
ajudou a matar seu tio com quinze tiros. Disse que momentos antes do fato,
ficou esperando Rogério chegar e atirou nele, exatamente atrás de sua casa,
longe da residência de Rogério. Que viu a vítima empurrando um carro em
um posto de combustível e a aguardou passar por trás de sua casa, visto que
a vítima, para ir deste posto até sua casa, teria que passar por trás da
residência do depoente, quando então atirou na vítima pela frente, matando-
a. Que a casa da vítima ficava em uma rua um pouquinho longe da sua. Falou
que não lembra o nome da esposa de Rogério, a qual conhecia sua mãe, e
como ela estava por perto no momento do fato, começou a gritar. Que estava
ela, o filho dela e o Rogério juntos no momento do fato, mas, mesmo assim,
atirou na vítima, pois foi a única oportunidade que teve de matá-la. Negou
que o "tal de Douglas" estivesse com ele durante o homicídio, visto que a
Sabrina, esposa do Rogério, teria dito que Douglas também teria participado
no crime. Afirmou que Rogério tinha matado seu tio na sua vila, viu esse
crime e acabou, então, ficando com raiva da vítima, matando-a.
A testemunha DEV1LSON ENEDIR SOARES (fls. 196/197), Policial
Militar lotado no 12° BPM, disse que não lembrava do fato. Afirmou que
sempre trabalhou em Caxias e atualmente está recluso no Presídio Policial
Militar em Porto Alegre, devido a um colega ter efetuado um disparo em uma
perseguição e que prenderam toda guarnição. O depoente ao ser questionado
sobre o seu depoimento policial, lembrou da pessoa denunciada, vulgo
"Pinujo". Disse que se recordava dele, narrando que Elton era "um dos
que" comandavam o tráfico na região da Vila do Cemitério, inclusive lago
Morais Maciel seria um dos "braço direito" dele. Declarou que a guarnição
chegou ao local para atender o fato e que foi abordado pela mulher de
Rogério, a qual foi conduzida para a delegacia e relatou que os executores
de seu marido seriam lago e Elton. Falou ainda, não sabe exatamente se foi
antes ou depois do crime, que ele e a guarnição prenderam Elton com uma
espingarda calibre 12, uma pistola 9 milímetros, um revólver calibre 38 e
uma quantidade de maconha e que "Pinujo", nessa operação, não atirou com
ele, visto que fora surpreendido e nem teria visto os policiais chegando para
efetuar a referida diligência.
O réu ELTON DE PONTES DA ROSA (fl. 225), em seu depoimento policial
optou por ficar em silêncio.
Importante, ainda, referir o relato da testemunha Sabrina em sede policial,
mulher da vítima Rogério, esclarecendo que não foi localizada para prestar
depoimento em juízo, vejamos (f. 10):
[...]
Em sua reinquirição na fase policial (fl. 14), Sabrina retificou que quem
estava junto com lago era Elton de Pontes da Rosa, de alcunha "Pinujo".
Que após os fatos, conversou com seu marido, vítima, o qual confirmou que
foram Elton e lago que atiraram nele. Disse ainda que não conhecia pelo
nome as pessoas que moravam na vila e, por isso, achou que Douglas
Saboleski fosse quem estava junto com lago, por serem irmãos.
Destaco que o depoimento de Sabrina, esposa da vítima, não pode ser
colhido em juízo, ante a sua não localização, tornando-se, portanto, prova
irrepetível.
[...]
Deste modo, diante do contexto de prova apresentado, com testemunha
presencial apontando a autoria sobre o acusado, a pronúncia mostra-se a
medida mais acertada, haja vista que estão presentes os pressupostos do art.
413 do Código de Processo Penal, ou seja, a materialidade está comprovada
e há indícios suficientes de autoria. - negritei.

Com efeito, verifica-se que, ao contrário da fundamentação lançada pelo

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Tribunal de origem - e que, consequentemente, levou esta relatoria a conceder a ordem -,
há prova judicializada da autoria, visto que, após detida análise dos autos, extrai-se da
sentença de pronuncia acima transcrita o depoimento do policial Devilson Enedir Soares,
prestado em juízo, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, em que a testemunha,
ao longo de suas declarações, rememorou acerca do fato e relatou integrar a guarnição
que atendeu à ocorrência policial, oportunidade em que Sabrina, a esposa da vítima
(Rogério), imputou a autoria do delito a “Pinucho”, alcunha do paciente, citado como um
dos líderes do tráfico na região, e ao adolescente Iago, que assumiu sozinho a prática do
crime, apontado como seu braço direito.

Ressalta-se que Sabrina, testemunha presencial do crime e esposa da vítima,


não foi localizada para inquirição em juízo, notadamente por sofrer ameaças de morte,
conforme o relato prestado em sua reinquirição na fase policial (e-STJ fl. 36):
lago e Elton estão ameaçando a mesma através da tia de seu marido, Marta
Saboleski. Que eles falam pra Marta que vão matar todos Saboleski da Vila
do Cemitério, e que assim que seu marido sair do hospital, ele será o
primeiro. Diz que teme por sua vida, e que inclusive não vai mais na Vila do
Cemitério, pois lago e Elton andam sempre armados de pistola, normalmente
próximo ao Bar e a escadaria que se encontra um pouco pra cima do prédio
onde moram os Saboleski. E ou no "cantão", onde eles moram.

Além disso, conforme foi ressaltado pelo agravante, é de extrema relevância


ao caso dos autos o depoimento informal da própria vítima, a qual, logo após a chegada
ao hospital para o tratamento de seus ferimentos, imputou ao paciente, Elton, e ao
adolescente Iago a prática delitiva.

Nesse ponto, extrai-se do depoimento prestado na fase policial pelo inspetor de


polícia Hamilton Link que (e-STJ fl. 34):
Informo, que juntamente com a autoridade de plantão, Del. Caio Márcio
Brisolla Fernandes, desloquei-me até o Hospital Pompéia, N/C, afim de
colher informações a respeito de uma ocorrência de tentativa de homicídio
(OC: 151008/9070/2013), cujo autor dos disparos se encontrava em
atendimento no referido hospital.
No deslocamento, nos foi repassada a informação de que acabara de dar
entrada naquele local um indivíduo de nome ROGÉRIO SABOLESKI, vítima
de disparo de arma de fogo.
Em conversa informal com ROGÉRIO, na presença dos médicos que o
atendiam, o mesmo informou serem autores dos disparos um indivíduo de
alcunha PINUCHO e outro de nome IAGO SABOLESKI. Informou ainda
que tais indivíduos são moradores de um locai chamado Cantão.
Os médicos que prestavam os primeiros atendimentos informaram que foram
visualizadas sete perfurações no corpo da vitima, porém não podendo
precisar quantos eram de entrada e quantos de saída, e que um projetil
permanecia no corpo desta. - negritei.

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Portanto, o falecimento da vítima, que prestou relevantes informações à
autoridade policial no seu leito de morte, torna a prova não repetível.

Ora, conforme foi dito, a pronúncia não pode restar lastreada, exclusivamente,
em provas colhidas durante a investigação policial, nos moldes do art. 155 do Código de
Processo Penal, aplicável à primeira fase do julgamento dos processos submetidos ao rito
do Tribunal do Júri. Todavia, o mesmo dispositivo apresenta excepciona a hipótese de
utilização de provas não repetíveis, in verbis:
art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação
dada pela Lei nº 11.690, de 2008) - negritei.

Ao ensejo:
PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO
SUBSTITUTIVA DO RECURSO PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO.
HOMICÍDIO QUALIFICADO. MATERIALIDADE PROVADA. INDÍCIOS
DE AUTORIA AFERÍVEIS COM BASE EM ELEMENTOS DE
INFORMAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL. PRONÚNCIA.
POSSIBILIDADE. FALECIMENTO DA TESTEMUNHA NO CURSO DA
AÇÃO PENAL. PROVA NÃO REPETÍVEL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
AFASTADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
[...]
3. Ademais, no caso dos autos, o depoimento colhido na fase policial não
pode ser repetido em juízo, diante do falecimento da testemunha no curso da
ação penal, o que afasta o apontado constrangimento ilegal.
4. Habeas corpus não conhecido.
(HC 360.574/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Quinta
Turma, julgado em 2/8/2016, DJe de 10/8/2016) - negritei.

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.
SONEGAÇÃO FISCAL. ART. 1º, I, DA LEI N. 8.137/1990. VIOLAÇÃO AO
ART. 155 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - CPP. CONDENAÇÃO
EXCLUSIVAMENTE AMPARADA EM PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO FISCAL. CABIMENTO. PROVA NÃO REPETÍVEL.
CONTRADITÓRIO DIFERIDO. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Consoante a literalidade do disposto no art. 155, caput, do CPP, há uma
ressalva para o cabimento de condenação exclusivamente com base em
elemento não repetível colhido na fase administrativa. Precedentes.
1.1. No presente caso, considerando que o procedimento administrativo fiscal
é prova documental não repetível que admite o contraditório diferido para
refutá-la, a condenação com base exclusivamente nele é cabível.
2. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no AREsp 1.404.660/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK,
Quinta Turma, julgado em 19/11/2019, DJe de 28/11/2019) - negritei.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

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HOMICÍDIO QUALIFICADO. INTERPOSIÇÃO COM BASE NA ALÍNEA
"C" DO INCISO III DO ART. 105 DO PERMISSIVO CONSTITUCIONAL.
AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.
TESE DE PRONÚNCIA BASEADA EM TESTEMUNHO DE "OUVIR
DIZER". FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. PRONÚNCIA COM BASE
EM DEPOIMENTO PRESTADO APENAS NO INQUÉRITO.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. PROVA IRREPETÍVEL POR MORTE
DO DEPOENTE. HABEAS CORPUS DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A não demonstração da incompatibilidade de entendimentos e da similitude
fática entre as demandas torna inviável o conhecimento do recurso interposto
com base em divergência jurisprudencial.
2. A tese de que a pronúncia foi baseada em testemunho de "ouvir dizer" não
pode ser analisada por este Tribunal Superior, pois não houve emissão de
juízo de valor acerca do assunto pela Corte de origem, situação que atrai a
incidência das Súmulas 282 e 356, ambas do STF.
3. A jurisprudência consolidada no STJ afirma que "é possível admitir a
pronúncia do acusado com base em indícios derivados do inquérito policial,
sem que isso represente afronta ao art. 155 do CPP" (HC n. 402.042/RS, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, DJe 30/10/2017).
4. In casu, o Tribunal a quo pronunciou o ora agravante por entender haver
elemento probatório suficiente para submetê-lo a julgamento pelo Tribunal
do Júri - notadamente pelo depoimento colhido na fase inquisitória. Além
disso, destacou ser o testemunho em questão prova irrepetível, diante da
morte do depoente.
5. Não há, na hipótese, manifesta ilegalidade a autorizar a concessão de
ordem de habeas corpus de ofício, pois, além de ser possível a pronúncia com
base em elementos probatórios colhidos no inquérito, não há evidências nos
autos que o testemunho mencionado no acórdão haja sido de "ouvir dizer".
6. Agravo regimental não provido.
(AgRg no AREsp 1.609.833/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
Sexta Turma, julgado em 6/10/2020, DJe de 16/10/2020) - negritei.

Por se tratar de prova não repetível, entendo que o depoimento da vítima do


crime de homicídio (Rogério), aliado ao depoimento judicial prestado pelo policial que
atendeu a ocorrência, demonstram que há indícios suficientes de autoria, para fins de
pronúncia, em relação ao acusado ELTON DE PONTES DA ROSA, de alcunha
"Pinucho".

Ante o exposto, reconsidero a decisão, DE MINHA LAVRA, acostada às e-


STJ fls. 459/471, para negar seguimento ao mandamus, mantendo a decisão de pronúncia,
a fim de que o paciente seja submetido a julgamento perante o Tribunal do Júri.

Intimem-se.

Brasília, 28 de maio de 2021.

Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA


Relator

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