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Superior Tribunal de Justiça

AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.238.417 - RJ (2018/0014013-6)

RELATOR : MINISTRO ANTONIO SALDANHA PALHEIRO


AGRAVANTE : JEFERSON DE ARAUJO MIRANDA
ADVOGADO : RICARDO CARVALHO BRAGA DOS SANTOS E OUTRO(S) -
RJ143420
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
EMENTA

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRONÚNCIA. PEDIDO
DE RECONHECIMENTO DE INÉPCIA DA DENÚNCIA. NÃO
OCORRÊNCIA. ARGUIÇÃO DE NULIDADE DA PROVA ORAL
REGISTRADA EXCLUSIVAMENTE POR MEIO AUDIOVISUAL.
IMPROCEDÊNCIA. ART. 405, § 2º, DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. FALTA DE DEMONSTRAÇÃO DO
PREJUÍZO. PRONÚNCIA. EXCESSO DE LINGUAGEM NÃO
VERIFICADO.
1. A inépcia da denúncia caracteriza-se pela ausência dos
requisitos insertos no art. 41 do Código de Processo Penal,
devendo a denúncia, portanto, para não incorrer em tal vício,
descrever os fatos criminosos imputados aos acusados com
todas as suas circunstâncias, de modo a permitir ao denunciado
a possibilidade de defesa.
2. Na linha dos precedentes desta Corte, não é necessário que a
denúncia apresente detalhes minuciosos acerca da conduta
supostamente perpetrada, pois diversos pormenores do delito
somente serão esclarecidos durante a instrução processual,
momento apropriado para a análise aprofundada dos fatos
narrados pelo titular da ação penal pública, ainda mais em delitos
de autoria coletiva, como na espécie.
3. Outrossim, "perde força a alegação de inépcia da denúncia
porque deduzida diante da sentença de pronúncia, após o
transcurso de toda a instrução criminal no qual pode a defesa
exercer o contraditório" (AgRg no AREsp n. 1.085.378/MG, relator
Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
19/6/2018, DJe de 28/6/2018).
4. O art. 405, § 2º, do Código de Processo Penal dispensa a
transcrição da audiência realizada por meio audiovisual. Além
disso, o agravante não demonstrou o prejuízo eventualmente
advindo da suscitada nulidade que pudesse justificar a

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excepcional degravação da prova oral colhida na primeira fase do
rito do Tribunal do Júri, notadamente porque ela pode ser repetida
perante o Plenário.
5. "A decisão de pronúncia consubstancia mero juízo de
admissibilidade da acusação, razão pela qual não ocorre excesso
de linguagem tão somente pelo fato de o magistrado, ao proferi-la,
demonstrar a ocorrência da materialidade e dos indícios
suficientes da respectiva autoria, vigendo, nesta fase processual,
o princípio do in dubio pro societate" (AgRg no Ag n. 1.153.477/PI,
relator Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Sexta Turma, julgado
em 6/5/2014, DJe de 15/5/2014).
6. No presente caso, o Magistrado, ao pronunciar o réu, apenas
se referiu a circunstâncias relativas ao binômio
autoria/materialidade que circunstanciavam o evento, não
havendo que se falar em excesso de linguagem, pois obedeceu
fielmente à legislação de regência, mormente ao comando dos
arts. 413 e 414 do Código de Processo Penal.
7. Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima


indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator. Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Sebastião Reis Júnior, Rogerio Schietti Cruz e
Nefi Cordeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 05 de novembro de 2019 (data do julgamento).

Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO

Relator

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AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.238.417 - RJ (2018/0014013-6)

RELATOR : MINISTRO ANTONIO SALDANHA PALHEIRO


AGRAVANTE : JEFERSON DE ARAUJO MIRANDA
ADVOGADO : RICARDO CARVALHO BRAGA DOS SANTOS E OUTRO(S) -
RJ143420
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO ANTONIO SALDANHA PALHEIRO


(Relator):

Trata-se de agravo regimental interposto por JEFERSON DE ARAUJO


MIRANDA contra decisão que conheceu do agravo e negou provimento ao recurso
especial por ele interposto.

Consta dos autos que o agravante – e outros 5 réus – foi pronunciado


pela prática dos crimes do art. 121, § 2º, IV e V, c/c os arts. 29 e 13, § 2º, alínea "a", e do
art. 347, parágrafo único, todos do Código Penal, em concurso material. Foi negado aos
acusados o direito de recorrer em liberdade.

De acordo com a denúncia, embora não tenha sido possível


individualizar o autor direto dos disparos à vítima, os pronunciados, todos policiais
militares, concorreram para o resultado, pois, unidos pelo mesmo vínculo subjetivo, seja
na realização dos disparos seja no encorajamento dos comparsas, estavam presentes
no local do crime prontos para agir, além de não impedir o resultado morte.

A inicial reporta que o delito foi cometido a fim de assegurar a


impunidade dos pronunciados e dos demais policiais militares integrantes do GAT –
Grupamento de Ações Táticas – do 7º Batalhão de Polícia Militar acerca de outro
homicídio praticado também no Complexo do Salgueiro. Segundo a exordial, a ação
pretendia "mandar um recado" (e-STJ fl. 5) e intimidar testemunhas desse crime, pois,
inclusive, a mãe da vítima a que se referem os presentes autos também seria
testemunha do primeiro homicídio.

Ainda conforme a denúncia, após a prática do homicídio, a fraude


processual consistiu em "induzir a erro a autoridade competente, desfazendo o local do

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crime ao determinar a remoção da vítima já falecida (v. fl. 73), antes da realização da
perícia, apresentando, fraudulentamente, na Delegacia de Polícia, por ocasião da
lavratura do auto de resistência, com o fim de simular um confronto armado entre
ANDERSON e os Policiais, uma pistola Taurus, calibre 380, nº KKF50254, diversas
munições e um carregador municiado, bem como um tablete e 81 sacolés de maconha,
como se fossem de propriedade de ANDERSON" (e-STJ fl. 5).

O recurso em sentido estrito da defesa foi desprovido nos termos da


seguinte ementa (e-STJ fls. 1.552/1.553):

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. TRIBUNAL DO JÚRI. DECISÃO


DE PRONÚNCIA. IMPUTAÇÃO DOS DELITOS PREVISTOS NOS
ARTIGOS 121, PARÁGRAFO 2º, INCISOS IV E V, N/F DO ARTIGO
29, C/C O ARTIGO 13, PARÁGRAFO 2º, ALÍNEA “A”, E 347,
PARÁGRAFO ÚNICO, TODOS DO CÓDIGO PENAL, EM
CONCURSO MATERIAL.
I. Preliminares de nulidade que não se acolhem. 1) Inépcia da
denúncia. Fatos imputados descritos na mais perfeita sintonia com
o artigo 41 do Código de Processo Penal, permitindo o exercício do
contraditório e da ampla defesa. 2) Prova oral registrada
exclusivamente por meio audiovisual na primeira fase do
procedimento escalonado dos feitos da competência do Tribunal do
Júri. O procedimento para o julgamento dos crimes dolosos contra
a vida é comum ordinário, a ele aplicando-se, portanto, o artigo
405, §§ 1º e 2º, do CPP. A produção da prova oral na primeira
etapa de tal procedimento destina-se à comprovação do jus
accusationis, apresentando como destinatário o juiz togado e não o
Conselho de Sentença. Meio audiovisual inspirado no princípio da
busca da verdade real, de modo a preservar, ao máximo possível, a
fidelidade dos depoimentos colhidos. Se as partes desistem de
produzir prova em Plenário, esta sim, direcionada ao Conselho de
Sentença, devem arcar com o ônus de tal opção, qual seja, de não
dispor da transcrição, nos termos do § 2º do artigo 405 do CPP e
da Resolução n. 105/10 do CNJ. 3) Excesso de linguagem.
Alegação inconsistente. Inexistência de análise profunda ou
valoração da prova. Magistrada de primeiro grau que apenas
realçou a validade formal da prova.
II. Pedidos de absolvição sumária e despronúncia por ausência de
provas. Impossibilidade. Prova da materialidade positivada pelo
auto de exame cadavérico acostado aos autos. Presença de
indícios suficientes de autoria, nos termos da prova oral colhida em
Juízo, sob o crivo do contraditório. Não cabe ao juiz togado valorar
profundamente os elementos de convicção existentes nos autos, a
fim de decidir se a tese de inocência, que não reina absoluta no

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contexto dos autos, é ou não procedente, pois tal atividade se
insere na competência do Conselho de Sentença. Absolvição
sumária que se apresenta possível apenas nas estritas hipóteses
previstas no artigo 415 do CPP, inocorrentes no caso dos autos.
Presença de indícios, ainda, das qualificadoras descritas na inicial
e mantidas na pronúncia, compatíveis com o teor da prova até
então produzida. Tese de estrito cumprimento de dever legal
igualmente a ser submetida ao Conselho de Sentença, máxime
porque não demonstrada de modo absoluto a presença dos
pressupostos necessários ao reconhecimento da justificante.
Acerto da decisão impugnada, cabendo ao Conselho de Sentença
a decisão da causa, em homenagem ao princípio do juiz natural.
Recursos desprovidos.

Opostos embargos de declaração por um dos réus, foram eles


rejeitados.

Irresignada, a defesa interpôs recurso especial, alegando inépcia da


denúncia, com fulcro no inciso I do art. 395 do Código de Processo Penal. Asseriu que a
exordial não havia individualizado as condutas dos denunciados, nem sequer havia
informado qual policial teria efetuado o disparo de arma de fogo contra a vítima.

Argumentou violação aos arts. 411 e 475, ambos do Código de


Processo Penal, defendendo a nulidade da instrução processual por falta de previsão,
na Lei n. 11.689/2008, de utilização de aparato eletrônico ou audiovisual na primeira fase
do rito do Tribunal do Júri. Ressaltou que esses meios só eram admitidos caso
houvesse a integral transcrição dos depoimentos prestados, o que alegadamente não
tinha ocorrido.

Sustentou afronta ao art. 413, § 1º, do Código de Processo Penal,


tendo em vista o excesso de linguagem na decisão que pronunciara o réu. Pontuou que
houve manifestação quanto ao mérito da causa, o que podia influenciar os jurados em
plenário.

Arguiu ofensa ao art. 414 do Código de Processo Penal, aduzindo


inexistência de indícios suficientes de autoria ou de participação do agravante para
fundamentar a pronúncia. Aduziu que o contexto probatório indicava que os fatos
ocorreram de forma lícita, agindo o acusado em estrito cumprimento do dever legal por

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ocasião do confronto entre a guarnição da parte recorrente e a traficância organizada.

Destacou que os depoimentos das testemunhas Ricardo, policial civil,


e Luciano da Silva não foram confirmados em juízo, afrontando o art. 155 do Código de
Processo Penal, uma vez que, na sua ótica, elementos informativos da fase
investigatória não podiam embasar a pronúncia.

Afirmou a não ocorrência do crime de fraude processual, "pois a


ocorrência foi apresentada na delegacia de acordo como os fatos se deram, e a prova
produzida em Juízo demonstra que agiram os réus em estrito cumprimento do dever
legal ou legítima defesa" (e-STJ fl. 1.650).

Inadmitido o apelo extremo, os autos subiram a esta Corte em virtude


de agravo.

O Ministério Público Federal manifestou-se pelo não conhecimento do


agravo, em parecer assim ementado (e-STJ fl. 2.015):

AGRAVOS EM RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO.


DECISÃO DE PRONÚNCIA. RECURSOS ESPECIAIS INTERPOSTOS
COM FUNDAMENTO NO ART. 105, III, ALÍNEA “A” DA CF/88.
RECURSOS ESPECIAIS NÃO ADMITIDOS PELA APLICAÇÃO DAS
SÚMULAS 7 E 83 DO STJ. AGRAVOS QUE NÃO IMPUGNAM
TODOS OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA.
INADMISSIBILIDADE. ARTIGO 932, III DO NOVO CPC. INCIDÊNCIA
DA SÚMULA 182/STJ. PARECER PELO NÃO CONHECIMENTO DO
S AGRAVO S EM RECURSO ESPECIAL.

Na decisão de e-STJ fls. 2.038/2.052 conheci do agravo e neguei


provimento ao recurso especial.

Nas presentes razões, o agravante reitera as arguições de inépcia da


denúncia, nulidade das provas colhidas por meio audiovisual e excesso de linguagem
na decisão de pronúncia.

Assim, requer a reconsideração da decisão agravada ou a submissão


do presente recurso à apreciação da Turma competente.

É o relatório.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO ANTONIO SALDANHA PALHEIRO


(Relator):

A irresignação não merece prosperar, uma vez que o recurso não


apresenta argumento capaz de desconstituir os fundamentos que embasaram a
decisão ora impugnada, de forma que ela merece ser integralmente mantida.

A primeira insurgência refere-se à alegada inépcia da denúncia, sob o


argumento de que a exordial não individualizou as condutas dos denunciados nem
sequer informou qual policial teria efetuado o disparo de arma de fogo contra a vítima.

A denúncia imputou aos acusados as condutas descritas no art. 121, §


2º, IV e V, c/c os arts. 29 e 13, § 2º, alínea "a", e no art. 347, parágrafo único, todos do
Código Penal, em concurso material, conforme a narrativa fática a seguir transcrita
(e-STJ fls. 4/5):

No dia 29 de julho de 2011, por volta das 23:00 h, na Estrada das


Palmeiras, localidade conhecida como "Chiqueiro" ou "Curral",
Bairro Salgueiro, São Gonçalo/RJ, os denunciados DANIEL
BENITEZ, JOVANIS FALCÃO, JEFERSON DE ARAÚJO, CHARLES
TAVARES, SÉRGIO JUNIOR, ALEX RIBEIRO e JUNIOR MEDEIROS,
compunham grupo de homens que, consciente e voluntariamente,
em unidade de ações e em comunhão de desígnios; com vontade
de matar, efetuaram disparos de armas de fogo contra a vítima
ANDERSON MATHEUS DA SILVA, causando-lhe as lesões
corporais descritas no AEC – Auto de Exame Cadavérico – de fls.
87/88, as quais, por sua natureza, sede e extensão foram a causa
exclusiva e eficiente de sua morte.
Embora não tenha sido possível individualizar o autor direto dos
ferimentos letais causados à vítima ANDERSON, certo é que os
sete denunciados concorreram para sua prática, pois, unidos pelo
mesmo vínculo subjetivo, seja na realização dos disparos ou no
encorajamento dos comparsas, estavam presentes no local do
crime prontos para agir, também efetuando disparos de arma de
fogo, caso necessário. Além disso, os denunciados não impediram
o resultado, sendo que tinham, por lei, obrigação de evitá-lo.
O crime foi cometido com emprego de recurso de dificultou a
defesa da vítima, vez que os denunciados estavam em

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superioridade numérica e de meios em relação ao ofendido.
O homicídio de ANDERSON foi praticado para assegurar a
impunidade dos denunciados e também dos demais policiais
militares integrantes do GAT – Grupamento de Ações Táticas – do
7º Batalhão de Polícia Militar, sob o comando do denunciado
DANIEL BENITEZ, os quais eram investigados na condição de
autores do homicídio de DIEGO DA CONCEIÇÃO BELIENE, ocorrido
em 03/06/11 também no Complexo do Salgueiro.
A vítima ANDERSON era filho de Daniele da Silva, a qual teria
presenciado as circunstâncias do assassinato de DIEGO BELIENE
em 03/06/11 e prestado declarações na Delegacia, sendo que a
ação dos denunciados teve o objetivo de "mandar um recado" e
calar a testemunha Daniele da Silva, além de outras eventuais
testemunhas da comunidade do Salgueiro que se dispusessem a
depor contra a guarnição do GAT comandada por DANIEL
BENITEZ.

DA FRAUDE PROCESSUAL
Nas mesmas circunstâncias de tempo e local acima descritas, os
denunciados DANIEL BENITEZ, JOVANIS FALCÃO, JEFERSON DE
ARAÚJO, CHARLES TAVARES, SÉRGIO JUNIOR, ALEX RIBEIRO e
JUNIOR MEDEIROS, cientes da ilicitude de seu atuar, em comunhão
de ações e desígnios, inovaram artificiosamente o estado do local
onde ocorreu o citado homicídio de ANDERSON, a fim de induzir a
erro a autoridade competente, desfazendo o local do crime ao
determinar a remoção da vítima já falecida (v. fl. 73), antes da
realização da perícia, apresentando, fraudulentamente, na
Delegacia de Polícia, por ocasião da lavratura do auto de
resistência, com o fim de simular um confronto armado entre
ANDERSON e os Policiais, uma pistola Taurus, calibre 380, no
KKF50254, diversas munições e um carregador municiado, bem
como um tablete e 81 sacolés de maconha, como se fossem de
propriedade de ANDERSON (v. autos de apreensão de fls. 32/34 e
37).

Assim decidiu a Corte estadual (e-STJ fl. 1.556):

As preliminares de nulidade processual merecem ser rechaçadas.


Ao contrário do que se sustenta, a denúncia não padece do vício
da inépcia, satisfazendo, plenamente, as exigências contidas no
artigo 41 do Código de Processo Penal, pois o Ministério Público,
ao deflagrar a ação penal, descreveu de forma suficientemente
clara as condutas imputadas aos réus. Além disso, apta está a
denúncia, mesmo quando nela não esteja pormenorizada a atuação
de cada um dos denunciados, desde que permita o exercício da

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ampla defesa. E, no caso dos autos, os recorrentes não
demonstraram qualquer dificuldade para compreender de que fatos
deveriam se defender, motivo pelo qual se rejeita tal arguição.

Conforme consignei na decisão ora agravada, a narrativa fática


descrita na peça acusatória apontou suficientemente os elementos do tipo penal de
homicídio, permitindo o contraditório e a ampla defesa. É sempre importante
rememorar, diante do contexto em análise, não ser necessário que a denúncia
apresente detalhes minuciosos acerca da conduta supostamente perpetrada, pois
diversos pormenores do delito somente serão esclarecidos durante a instrução
processual, momento apropriado à análise aprofundada dos fatos narrados pelo titular
da ação penal pública, ainda mais em delitos de autoria coletiva, como na espécie.

Diante desse cenário, de forma acertada, concluiu o Tribunal de origem


que a exordial acusatória preenchera os requisitos do art. 41 do Código de Processo
Penal, expondo os fatos e circunstâncias necessários ao exercício do direito de defesa,
não havendo que se falar, por isso, em inépcia da peça inicial.

Relembro que a denúncia há de ser simples e objetiva, "atribuindo a


alguém a responsabilidade por um fato, tão-somente. A denúncia deve conter a
exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias, com a adequada
indicação da conduta ilícita imputada ao réu, de modo a propiciar a ele o pleno exercício
do direito de defesa. Toda denúncia é uma proposta da demonstração prática de um
fato típico e antijurídico imputado a determinada pessoa, sujeita a efetiva comprovação
e a contradita, e, como assentado na jurisprudência, apenas deve ser repelida quanto
não houver indícios da existência do crime ou, de início, seja possível reconhecer,
indubitavelmente, a inocência do acusado ou, ainda, quando não houver, pelo menos,
indícios de sua participação. Assim, descritos, na denúncia, comportamentos típicos,
ou seja, sendo factíveis e obviados os indícios de autoria e materialidade delitivas, não
se pode trancar a ação penal" (STF, AP n. 396/RO, relatora a Ministra Cármen Lúcia,
DJe de 27/4/2011).

Em conclusão, "[é] relevante consignar, outrossim, que a


superveniência da decisão de pronúncia enfraquece a alegação da defesa. Com efeito,

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para a prolação da decisão de pronúncia, tem-se uma instrução prévia, na qual deverá
ficar comprovada a materialidade do crime doloso contra a vida, bem como os indícios
suficientes de autoria ou de participação, a autorizar a submissão do réu a julgamento
pelo Tribunal do Júri. Nesse contexto, não é possível na via eleita revolver o espectro
probatório dos autos a fim de analisar a alegação de ausência de justa causa por
ausência de indícios de autoria" (RHC n. 75.487/ES, relator Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 21/9/2017, DJe de 27/9/2017).

Nessa senda, os julgados do Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


HOMICÍDIO QUALIFICADO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO
COMPROVADO. ALEGAÇÃO DE INÉPCIA. ANÁLISE
PREJUDICADA PELA SUPERVENIÊNCIA DA PRONÚNCIA.
INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. AFASTAMENTO DE
QUALIFICADORAS. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO IMPROVIDO.
1. O acórdão proferido em habeas corpus, por não guardar o
mesmo objeto/natureza e extensão material almejados no recurso
especial, não serve para fins de comprovação de divergência
jurisprudencial.
2. Prejudicada a análise de inépcia da denúncia ante a
prolação da sentença de pronúncia.
3. O acolhimento da tese de insuficiência probatória da autoria e a
exclusão das qualificadoras do motivo torpe e do recurso que
impossibilitou a defesa da vítima demandariam amplo revolvimento
das provas dos autos, vedado pela incidência da Súmula 7/STJ.
4. Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp 1.322.074/PE,
relator Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
11/06/2019, DJe 25/06/2019, grifei.)

HABEAS CORPUS. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. INÉPCIA DA


DENÚNCIA. INEVIDÊNCIA. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS
DO ART. 41 DO CPP. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO
SUFICIENTE. MATÉRIA APRECIADA PELA SEXTA TURMA NO
JULGAMENTO DO HC N. 463.130/RJ E DO HC N. 463.299/RJ.
AUSÊNCIA DE ALTERAÇÃO NO CENÁRIO FÁTICO-PROCESSUAL.
DELONGA NA TRAMITAÇÃO PROCESSUAL. INEVIDÊNCIA.
1. Na denúncia, especialmente em relação aos crimes de
autoria coletiva, não é exigível a descrição pormenorizada
da conduta típica, mas apenas delineamento geral dos fatos
imputados ao réu, de sorte a oportunizar o exercício das
garantias constitucionais à ampla defesa e ao contraditório.

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Na hipótese, a exordial acusatória está instruída com
indícios mínimos de autoria e materialidade delitiva e
preenche os requisitos do art. 41 do Código de Processo
Penal.
2. Concluindo a instância de origem pela existência de elementos
suficientes a fundamentar a justa causa necessária ao recebimento
da denúncia, inviável a desconstituição do julgado, no intuito
defensivo de rejeição da incoativa, visto que seria necessário a
esta Corte o revolvimento do contexto fático-probatório, o que é
vedado na via eleita.
[...]
5. Ordem denegada. (HC 489.902/RJ, relator Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 16/05/2019, DJe
27/05/2019, grifei.)

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO


QUALIFICADO E HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO. TESE DE
INÉPCIA DA DENÚNCIA. SUPERVENIÊNCIA DE DECISÃO DE
PRONÚNCIA. PREJUDICIALIDADE. PRISÃO PREVENTIVA.
MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA. MESMOS FUNDAMENTOS.
GRAVIDADE CONCRETA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS
DA PRISÃO. INSUFICIÊNCIA, NO CASO. ORDEM DE HABEAS
CORPUS CONHECIDA EM PARTE E, NESSA EXTENSÃO,
DENEGADA.
1. Segundo a orientação desta Corte Superior de Justiça, a
superveniência da decisão de pronúncia prejudica a análise
da tese de inépcia da denúncia. Precedentes.
[...]
5. Ordem de habeas corpus conhecida em parte e, nessa extensão,
denegada. (HC 460.943/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA
TURMA, julgado em 23/04/2019, DJe 30/04/2019, grifei.)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. DECISÃO


MONOCRÁTICA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE.
NÃO OCORRÊNCIA. ART. 34, XVIII, "B", DO RISTJ. HOMICÍDIOS
TENTADOS E CONSUMADOS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. ALEGAÇÃO DE INSUFICIÊNCIA DE
INDÍCIOS DE AUTORIA. NECESSIDADE DE AMPLO REEXAME DA
MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. INVIABILIDADE. INÉPCIA DA
DENÚNCIA. NÃO CONFIGURAÇÃO. REQUISITOS DO ART. 41 DO
CPP ATENDIDOS. PRISÃO PREVENTIVA. SEGREGAÇÃO
CAUTELAR DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA NA GARANTIA DA
ORDEM PÚBLICA. REITERAÇÃO DELITIVA. INEXISTÊNCIA DE
NOVOS ARGUMENTOS HÁBEIS A DESCONSTITUIR A DECISÃO

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IMPUGNADA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
[...]
II - Inviável o acolhimento do pedido de trancamento da ação penal
na espécie, fundado na alegação de ausência de indícios
suficientes de autoria, porquanto a tese não foi comprovada, de
plano. Afastar a conclusão das instâncias ordinárias demandaria
amplo reexame da matéria fático-probatória, procedimento
incompatível com a via do habeas corpus.
III - A inicial acusatória descreveu as condutas delituosas
imputadas em autoria coletiva pelo paciente e os outros
cinco codenunciados, praticadas em contexto de chacina
entre facções criminosas rivais, que atiraram contra vítimas
que participavam de uma festa junina, o que possibilita a
apresentação de denúncia sem a individualização exata, que
poderá ser melhor determinada durante a instrução
processual.
[...]
V - Neste agravo regimental não foram apresentados argumentos
novos capazes de alterar o entendimento anteriormente firmado,
devendo ser mantida a r. decisão impugnada por seus próprios
fundamentos.
Agravo regimental desprovido. (AgInt no HC 473.446/GO, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 19/02/2019,
DJe 26/02/2019, grifei.)

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO.
PRONÚNCIA. 1) VIOLAÇÃO AO ART. 41 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL - CPP. INÉPCIA DA DENÚNCIA.
INOCORRÊNCIA. SUPERVENIÊNCIA DE SENTENÇA DE
PRONÚNCIA. 2) OFENSA AO ARTIGO 76, III, DO CPP.
INOCORRÊNCIA. CONEXÃO INTERSUBJETIVA E INSTRUMENTAL.
3) VIOLAÇÃO AO ART. 384 DO CPP. PRINCÍPIO DA
CORRELAÇÃO. OBSERVÂNCIA. 4) VIOLAÇÃO AO ART. 222, § 2º,
DO CPP. OBSERVÂNCIA QUE NÃO ACARRETA VIOLAÇÃO. 5)
VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 155 E 413, § 1º, AMBOS DO CPP.
EXCESSO DE LINGUAGEM. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. 6) VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 413,
CAPUT E § 1º, 414 E 415, II E III, TODOS DO CPP. ÓBICE DO
REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO, CONFORME SÚMULA
7/STJ. AFASTAMENTO DE QUALIFICADORA. DESCABIMENTO.
NÃO MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE. 7) VIOLAÇÃO A
DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL. MATÉRIA QUE NÃO PODE SER
APRECIADA. 8) AGRAVO DESPROVIDO.
1. A denúncia que descreve os fatos imputados ao réu de

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Superior Tribunal de Justiça
forma a permitir o exercício da defesa não é considerada
inepta. Precedentes.
1.1. No caso em tela, perde força a alegação de inépcia da
denúncia porque deduzida diante da sentença de pronúncia,
após o transcurso de toda a instrução criminal no qual pode
a defesa exercer o contraditório. Precedentes.
2. Diante de conexão intersubjetiva e instrumental, reconhecida
pelo Tribunal de origem, devida é a alteração do juízo competente,
na forma do art. 76 do CPP.
3. A sentença de pronúncia deve observar o princípio da
correlação com os fatos descritos na denúncia, o que ocorreu no
caso em tela, pois o fato noticiado após a instrução criminal não
alterou os fatos apontados como de responsabilidade do réu.
[...]
6. In casu, o reconhecimento da absolvição sumária, da
impronúncia e o afastamento da qualificadora demandaria o
reexame fático-probatório, providência vedada pelo enunciado n. 7
da Súmula do Superior Tribunal de Justiça - STJ, pois o Tribunal de
origem, com base na prova dos autos, apresentou fundamentação
concreta para ratificar a pronúncia pelo delito de homicídio
qualificado.
6.1. Ainda, o afastamento de qualificadora na sentença de
pronúncia também requer a demonstração de manifesta
inocorrência. Precedentes.
7. Descabe em recurso especial a análise de violação a princípios e
dispositivos constitucionais, sob pena de usurpação da
competência do Supremo Tribunal Federal - STF.
8. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp 1.085.378/MG,
relator Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
19/06/2018, DJe 28/06/2018, grifei.)

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA.


RECONHECIMENTO APÓS A PROLAÇÃO DA SENTENÇA
CONDENATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. PRECLUSÃO. AUTORIA
COLETIVA. DESNECESSIDADE DE INDIVIDUALIZAÇÃO MINUCIOSA
DAS CONDUTAS. CONSTITUIÇÃO DE MILÍCIA PRIVADA. ART.
288-A DO CÓDIGO PENAL. CONDENAÇÃO BASEADA EM
PROVAS PRODUZIDAS NA FASE JUDICIAL, ALÉM DE ELEMENTOS
INFORMATIVOS COLHIDOS EXTRAJUDICIALMENTE. AUSÊNCIA
DE ILEGALIDADE. DOSIMETRIA. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE.
SÚMULA 284/STF.
1. O pleito de reconhecimento da inépcia da denúncia, quando já
há sentença condenatória, confirmada por acórdão de apelação, é
totalmente descabido, pois impossível analisar mera higidez formal

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Superior Tribunal de Justiça
da acusação se o próprio intento condenatório já foi acolhido e
confirmado em grau de recurso.
2. Nos crimes de autoria coletiva, admite-se a ausência de
individualização minuciosa das condutas em não sendo
possível esmiuçar e especificar, com riqueza de detalhes, a
atuação de cada envolvido, desde que haja um mínimo de
liame com os fatos, como na espécie.
[...]
5. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1.497.490/RJ,
relatora Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 06/10/2015, DJe 27/10/2015, grifei.)

A segunda tese refere-se à nulidade da instrução processual por falta


de previsão, na Lei n. 11.689/2008, de utilização de aparato eletrônico ou audiovisual na
primeira fase do rito do Tribunal do Júri. Aduz a defesa que esses meios só são
admitidos caso haja a integral transcrição dos depoimentos prestados, o que
alegadamente não ocorreu.

Essa nulidade foi rechaçada pelo Tribunal a quo, conforme os


fundamentos adiante transcritos (e-STJ fls. 1.556/1.558):

Também não assiste razão ao recorrente Jeferson de Araújo


Miranda ao arguir a nulidade das provas colhidas por meio
audiovisual.
De acordo com a sistemática do Código de Processo Penal, os
procedimentos dividem-se em comum e especial. O procedimento
comum, por sua vez, subdivide-se em ordinário, sumário e
sumaríssimo, enquanto o especial subdivide-se naqueles
destinados a julgar os crimes de responsabilidade de funcionários
públicos, os crimes contra a honra, os crimes contra a propriedade
imaterial, além daqueles previstos por leis extravagantes.
Quanto ao procedimento comum, o sumário destina-se ao
julgamento dos crimes cuja sanção máxima for inferior a 04 anos de
privação de liberdade, enquanto o sumaríssimo destina-se às
infrações de menor potencial ofensivo.
Por fim, o procedimento comum ordinário comporta duas
subdivisões: o julgamento dos crimes apenados com pena máxima
igual ou superior a 04 anos de privação de liberdade, da
competência do juiz singular, e o julgamento dos crimes dolosos
contra a vida, da competência do Tribunal do Júri.
Em assim sendo, não faz sentido afirmar que a regra inserta no
artigo 405 do Código de Processo Penal não possa ser aplicada ao

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procedimento dos feitos da competência do Tribunal do Júri, se
ambos os procedimentos são comuns ordinários.
Registre-se, por oportuno, que o parágrafo 5º, do artigo 394, do
Código de Processo Penal autoriza expressamente que as regras
do procedimento ordinário sejam aplicadas subsidiariamente aos
procedimentos especial, sumário e sumaríssimo. Por óbvio, não se
referiu tal parágrafo também ao procedimento do Júri, porque,
como já observado, este é, igualmente, comum ordinário.
O segundo aspecto que merece ser abordado é o que diz respeito
ao destinatário da prova produzida na primeira fase do
procedimento dos crimes dolosos contra a vida.
O que inspirou o legislador a introduzir os parágrafos 1º e 2º no
artigo 405 do Código de Processo Penal foi o ideal de garantir, na
busca da verdade real, uma maior fidelidade na colheita da prova
oral, pois, não raras vezes, a transcrição fria no papel fazia perecer
a emoção vivenciada por aqueles que presenciavam a tomada do
depoimento. E a importância de se preservar a prova tal qual
colhida reside, sobretudo, na necessidade de permitir à segunda
Instância dela conhecer do modo mais fidedigno possível.
E, em se tratando de um ideal maior, decerto não poderia ser
subtraído dos feitos da competência do Tribunal do Júri, que são,
justamente, em grande parte, os de maior gravidade.
Por outro lado, como cediço, a primeira fase do procedimento
escalonado destina-se, principalmente, à comprovação, por parte
do autor da ação penal, do jus accusationis, isto é, da procedência
do seu direito de acusar. E tanto é assim que o magistrado, ao
pronunciar o réu, apenas declara a presença de prova da
materialidade do delito e de indícios suficientes de autoria. Tal
decisão, tal como ocorre no procedimento comum ordinário dos
crimes da competência do juiz singular, poderá ser proferida na
audiência de instrução e julgamento, logo após os debates que se
seguirem à produção da prova oral gravada por meio audiovisual.
E na segunda etapa do procedimento, já perante o Conselho de
Sentença, nova oportunidade têm as partes de produzir prova oral,
igualmente a ser gravada por meio audiovisual. E é essa a prova,
produzida em tal etapa, que tem como destinatários os jurados,
pois na segunda fase, e somente nela, possui o autor da ação
penal o ônus de comprovar o seu jus puniendi.
Destarte, como princípio geral, repita-se, a prova que se destina à
formação da convicção dos jurados não é aquela produzida na
primeira fase e sim aquela produzida em plenário.
Se por uma questão de economia processual ou tática de defesa
as partes desistem da produção de prova em plenário, se
reportando àquela que foi colhida na primeira fase do
procedimento, naturalmente deverão arcar com os ônus de tal

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Superior Tribunal de Justiça
escolha e, diante da atual sistemática processual, tal ônus
estender-se-á à ausência de transcrição dos depoimentos
gravados. E isto porque o parágrafo 2º do artigo 405 do
Código de Processo Penal, aplicável ao caso, como já vimos,
estabelece expressamente que não haverá transcrição na
hipótese de registro por meio audiovisual.
No mesmo sentido, inclusive, disciplinou o Conselho Nacional de
Justiça na sua Resolução n. 105/10. (Grifei.)

Conforme rememorei na decisão monocrática combatida, em


consonância com o princípio constitucional que assegura a todos, no âmbito judicial e
administrativo, a razoável duração do processo, a Lei n. 11.719, de 20 de junho de 2008,
deu nova redação ao art. 405 do Código de Processo Penal, admitindo, durante as
audiências, o uso dos recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou similar.

Por oportuno, confira-se o teor do mencionado dispositivo legal:

Art. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro


próprio, assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo
dos fatos relevantes nela ocorridos.
§ 1º Sempre que possível, o registro dos depoimentos do
investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos
meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou
técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior
fidelidade das informações.
§ 2º No caso de registro por meio audiovisual, será encaminhado
às partes cópia do registro original, sem necessidade de
transcrição.

A lei processual, conforme se observa, buscando racionalizar o modo


de produção das provas em audiência e garantir maior fidelidade às informações
obtidas no curso do processo, possibilita o registro integral dos procedimentos
realizados, dispensando, outrossim, a redução a termo dos depoimentos do acusado,
das vítimas e das testemunhas.

Nesse contexto, somente em situações manifestamente teratológicas,


quando demonstrado o evidente dano ao direito de defesa do réu, será possível a
degravação dos depoimentos, sob pena de se comprometer a garantia disciplinada no
art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal.

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Diante desse cenário, observo que o acórdão local encontra-se em
harmonia com a jurisprudência desta Casa, firmada no sentido de que, "de acordo com
o art. 405, § 2º, do Código de Processo Penal, na redação dada pela Lei n. 11.719/2008,
não há necessidade de transcrição dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido
e testemunhas registrados por meio audiovisual" (RMS n. 33.974/MT, relator Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 16/4/2013, DJe de 26/4/2013).

No mesmo sentido:

HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO EM SUBSTITUIÇÃO AO


RECURSO CABÍVEL. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DO REMÉDIO
CONSTITUCIONAL. NÃO CONHECIMENTO.
[...]
HOMICÍDIO QUALIFICADO, OCULTAÇÃO DE CADÁVER E PORTE
DE ARMA DE USO RESTRITO. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE
TRANSCRIÇÃO DE DEPOIMENTOS COLHIDOS NA PRIMEIRA
FASE DO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI.
APLICABILIDADE DO ARTIGO 405 DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL. DESNECESSIDADE DE DEGRAVAÇÃO. MÁCULA
INEXISTENTE.
1. Não havendo qualquer norma especial quanto à forma de
registro dos testemunhos obtidos na primeira fase do
procedimento dos crimes dolosos contra a vida, aplica-se o
artigo 405 da Lei Penal Adjetiva, consoante o disposto no
artigo 394, § 2º, do mesmo diploma legal, que dispensa a
transcrição do registro por meio audiovisual. Precedente.
2. Segundo orientação do Conselho Nacional de Justiça,
disponibilizado no Manual Prático de Rotinas das Varas
Criminais e de Execução Penal, não há necessidade de
degravação no caso de depoimentos colhidos por gravação
audiovisual, cabendo ao interessado promovê-la, a suas
expensas e com sua estrutura, se assim o desejar, "ficando
vedado requerer ou determinar tal providência ao Juízo de
primeiro grau".
3. A providência almejada no presente mandamus, a par de
carecer de previsão legal, não se mostra pertinente no
procedimento dos crimes dolosos contra a vida, já que a
colheita da prova oral pode ser repetida no Plenário do
Tribunal do Júri. Jurisprudência do STJ.
4. Habeas corpus não conhecido. (HC 339.357/RS, relator Ministro
JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 08/03/2016, DJe
16/03/2016, grifei.)

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


PENAL. PROCESSO PENAL. TRIBUNAL DO JÚRI. SEGUNDA FASE.
DEGRAVAÇÃO DA AUDIÊNCIA. DESNECESSIDADE. ART. 475,
PARÁGRAFO ÚNICO DO CPP. ART. 405, §§ 1º E 2º DO CPP.
CELERIDADE PROCESSUAL. NECESSIDADE NÃO
DEMONSTRADA. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A celeridade processual trazida pelas Leis n. 11.689/2008 e
11.719/2008 não pode ser esquecida, sob pena de se vulnerar o
direito fundamental à razoável duração do processo.
2. O parágrafo único do art. 475 do CPP tem a mesma redação do
§ 1º do art. 405 do CPP que, em seu § 2º, reza: "No caso de
registro por meio audiovisual, será encaminhado às partes cópia do
registro original, sem necessidade de transcrição". Este dispositivo
legal, embora não se refira ao procedimento do Júri, serve de norte
à interpretação do parágrafo único do art. 475 do CPP.
3. Se feita a degravação, a transcrição do registro, por óbvio,
constará dos autos. Em outras palavras, é inexigível a transcrição
dos depoimentos e do interrogatório colhidos no plenário do
Tribunal do Júri.
4. A degravação da audiência de instrução e julgamento, em
meio magnético ou audiovisual, só se justifica em casos
excepcionais e devidamente comprovada a sua
necessidade.
5. Para ser declarada a nulidade do art. 475 do Código de
Processo Penal, deve haver a demonstração inequívoca do
prejuízo sofrido pela parte, sob pena de convalidação.
6. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 714.484/MT,
relator Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado
em 10/5/2016, DJe 19/5/2016, grifei.)

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO.


DESCABIMENTO. HOMICÍDIO. TRIBUNAL DO JURI. AUDIÊNCIA NA
PRIMEIRA FASE DO PROCEDIMENTO DO JÚRI REALIZADA POR
MEIO AUDIOVISUAL. DEGRAVAÇÃO. DESNECESSIDADE.
ORIENTAÇÃO DO CNJ. ART. 475, PARÁGRAFO ÚNICO DO CPP.
INCIDÊNCIA NO FASE DO PLENÁRIO DO JÚRI. AUSÊNCIA DE
ILEGALIDADE MANIFESTA. ORDEM DENEGADA.
[...]
- Consoante o art. 405, § 2º do CPP, bem como orientação do
Conselho Nacional de Justiça não há necessidade de
degravação no caso de depoimentos registrados em meio

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Superior Tribunal de Justiça
audiovisual, cabendo ao interessado promovê-la, a suas
expensas e com sua estrutura, se assim o desejar, "ficando
vedado requerer ou determinar tal providência ao Juízo de
primeiro grau".
[...]
Ordem denegada. (HC 247.920/RS, relatora Ministra MARILZA
MAYNARD, Desembargadora convocada do TJSE, SEXTA TURMA,
julgado em 3/6/2014, DJe 18/6/2014, grifei.)

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO


QUALIFICADO. (1) IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DE RECURSO
ORDINÁRIO. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. (2) TRIBUNAL DO
JÚRI. PRIMEIRA FASE. DEGRAVAÇÃO DA AUDIÊNCIA.
DESNECESSIDADE. ART. 405, § 2.º DO CPP E ORIENTAÇÃO DO
CNJ. (3) ART. 475, PARÁGRAFO ÚNICO DO CPP. INCIDÊNCIA
APENAS NA SEGUNDA FASE DO JÚRI. AUSÊNCIA DE
ILEGALIDADE MANIFESTA. (4) WRIT NÃO CONHECIDO.
[...]
2. Há determinação legal no sentido de não ser necessária a
degravação de depoimentos colhidos por meio audiovisual,
nos termos no artigo 405, § 2.º do CPP. Há mais, o Conselho
Nacional de Justiça orienta no mesmo sentido.
[...]
4. Habeas corpus não conhecido. (HC 239.454/RS, relatora
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 18/6/2014, DJe 4/8/2014, grifei.)

O Supremo Tribunal Federal possui idêntica orientação:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO


QUALIFICADO. 1. INEXISTÊNCIA DE PEDIDO DE SUSTENTAÇÃO
ORAL. DESNECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PARA A SESSÃO DE
JULGAMENTO DE HABEAS CORPUS NO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. 2. PROVA ORAL COLHIDA POR MEIO AUDIOVISUAL.
ALEGAÇÃO DE NECESSIDADE DE DEGRAVAÇÃO SOB PENA DE
CERCEAMENTO DE DEFESA. AUSÊNCIA DE PEDIDO DE
DEGRAVAÇÃO DA DEFESA. PRECLUSÃO DA MATÉRIA.
DISPONIBILIZAÇÃO DA CÓPIA DO REGISTRO ORIGINAL DO
DEPOIMENTO COLHIDO EM AUDIÊNCIA. PREJUÍZO NÃO
DEMONSTRADO. PRESCINDIBILIDADE DA DEGRAVAÇÃO, NOS
TERMOS DO ART. 405, § 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
1. Não havendo pedido de sustentação oral da Defensoria Pública,
a falta de intimação para a sessão de julgamento não suprime o
direito da defesa do Recorrente de comparecer para efetivar essa

Documento: 1884409 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 11/11/2019 Página 19 de 4
Superior Tribunal de Justiça
sustentação. Precedentes. [...] 3. Registro na ata da audiência de
que a cópia do registro original do depoimento colhido, nos termos
do art. 405 do Código de Processo Penal, está disponível nos
autos. O princípio do pas de nullité sans grief exige, sempre
que possível, a demonstração de prejuízo concreto pela
parte que suscita o vício. Precedentes. Prejuízo não
demonstrado pela defesa. 4. Nos termos do art. 405, § 2º, do
Código de Processo Penal, é desnecessária a degravação da
audiência realizada por meio audiovisual, sendo obrigatória
apenas a disponibilização da cópia do que registrado nesse
ato. A ausência de transcrição não impede o acesso à prova.
5. Recurso ao qual se nega provimento. (RHC 116.173,
relatora Ministra CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em
20/08/2013, DJe 10/09/2013, grifei.)

A parte agravante sustenta afronta ao art. 413, § 1º, do Código de


Processo Penal, tendo em vista o excesso de linguagem na decisão que pronunciou o
réu. Pontua que houve manifestação quanto ao mérito da causa, o que poderá
influenciar os jurados em plenário.

De fato, anota-se que "a decisão de pronúncia consubstancia mero


juízo de admissibilidade da acusação, razão pela qual não ocorre excesso de linguagem
tão somente pelo fato de o magistrado, ao proferi-la, demonstrar a ocorrência da
materialidade e dos indícios suficientes da respectiva autoria, vigendo, nesta fase
processual, o princípio do in dubio pro societate" (AgRg no Ag n. 1.153.477/PI, relator
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Sexta Turma, julgado em 6/5/2014, DJe de
15/5/2014).

Conforme ressaltei na decisão agravada, a leitura da pronúncia


evidencia a utilização adequada da linguagem para esse específico ato processual, não
havendo mácula no decisum.

Por oportuno, confiram-se os seguintes excertos da pronúncia (e-STJ


fls. 1.375/1.376):

A materialidade do crime restou suficientemente provada nos autos


pelo AEC de fls. 981101, bem como pelos depoimentos prestados
em juízo, de forma que restou comprovada a morte da vítima
Anderson Matheus, por ação de terceiros.
Verifica-se, também, que há indícios suficientes da participação dos

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Superior Tribunal de Justiça
acusados no ilícito cometido, vez que a prova testemunhal
produzida nesta fase do iudixum accusationis indicou que os
acusados teriam participado do homicídio na forma imputada na
denúncia.
Em relação aos acusados Charles Tavares, Jeferson Miranda e
Jovanis Falcão, observa-se que a participação desses ficou
indiciada pelas declarações da testemunha Ricardo Henrique e da
informante Daniele, ambas em mídia de fl. 984, aliadas à palavra
dos acusados em sede policial, ocasião em que confessaram ter
participado da incursão que resultou na morte da vítima Anderson
Matheus, conforme fls. 16/23.
Por fim, ressalte-se que a quebra de sigilo telefônico dos acusados
também trouxe indícios da participação de todos eles nos fatos em
tela.
Em relação aos acusados Sergio Costa Júnior, Alex Ribeiro, Junior
Medeiros, verifica-se que os indícios de participação estão
presentes nos documentos de fls. 322/341 e 436/448 (GPS das
viaturas), fls. 430/433 (escala de serviço do 7º BPM), bem como no
apenso sigiloso: (extratos telefônicos e ERBs).
Cumpre registrar que as qualificadoras previstas nos incisos IV e V
do § 2° do artigo, 121, do Código Penal, se encontram
devidamente indiciadas nos autos, conforme declarações das
testemunhas Ricardo Henrique e Daniele, em mídia de fl. 984.
Outrossim, o crime capitulado no artigo 347, parágrafo único, do
Código Penal deve ser apreciado pelo Conselho de Sentença,
diante da conexão com o homicídio, nos termos do artigo 76, III e
78, I do CPP.
Portanto, diante da inexistência de prova cabal que conduza à
absolvição sumária, impõe-se a pronúncia dos acusados, pois
somente os jurados podem avaliar as teses defensivas relativas ao
mérito.

Com efeito, limitou-se o julgador a apontar a existência de provas de


materialidade e de indícios de autoria.

Dessarte, irretocável a decisão. O Magistrado, ao pronunciar o réu,


apenas se referiu a circunstâncias relativas ao binômio autoria/materialidade que
circunstanciam o evento, não havendo que se falar em excesso de linguagem, pois
obedeceu fielmente à legislação de regência, mormente ao comando dos arts. 413 e
414 do Código de Processo Penal.

A propósito:

Documento: 1884409 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 11/11/2019 Página 21 de 4
Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. TRIBUNAL DO JÚRI.
DECISÃO DE PRONÚNCIA. IUDICIUM ACCUSATIONIS.
DEPOIMENTO COLHIDO NA FASE DE INQUÉRITO POLICIAL,
PORÉM NÃO CONFIRMADO INTEGRALMENTE EM JUÍZO.
OUTROS ELEMENTOS PROBATÓRIOS. CONVENCIMENTO DA
MATERIALIDADE DO FATO E DA EXISTÊNCIA DE INDÍCIO DE
AUTORIA OU DE PARTICIPAÇÃO. PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO
SOCIETATE. ORDEM DENEGADA.
1. "A decisão de pronúncia consubstancia mero juízo de
admissibilidade da acusação, razão pela qual não ocorre excesso
de linguagem tão somente pelo fato de o magistrado, ao proferi-la,
demonstrar a ocorrência da materialidade e dos indícios suficientes
da respectiva autoria, vigendo, nesta fase processual, o princípio
do in dubio pro societate." (AgRg no Ag 1.153.477/PI, Rel. Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Sexta Turma, julgado em 6/5/2014, DJe
15/05/2014).
2. Na espécie, não somente a prova produzida em sede policial,
que foi contraditada como ilícita, serviu como substrato para a
pronúncia, haja vista que outras circunstâncias conduziram o
colegiado a pronunciar a acusada, em estrita observância às
diretrizes estabelecidas no art. 413 do Código de Processo Penal,
quais sejam, o convencimento acerca da materialidade do fato e da
existência de indícios suficientes de autoria ou de participação.
3. Desse modo, não há que se buscar o escoro no princípio do in
dubio pro societate para que a ré seja pronunciada, em vista dos
outros elementos probatórios que conduziram a essa conclusão.
4. Ainda que assim não fosse, seria possível invocar o aludido
princípio, tendo em vista que a decisão de pronúncia encerra tão
somente juízo de admissibilidade, não de mérito, daí o porquê da
limitação da fundamentação da pronúncia à indicação da
materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de
autoria ou participação, como estabelecido no art. 413, § 1º, do
CPP. Precedentes.
[...]
6. Ordem denegada. (HC 150.007/SP, relator Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, relator para acórdão Ministro ANTONIO
SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 21/9/2017, DJe
04/10/2017.)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO


QUALIFICADO. PRONÚNCIA. FALTA DE INDÍCIOS DE AUTORIA.
INCIDÊNCIA DA QUALIFICADORA. EXAME APROFUNDADO DAS
PROVAS. VEDAÇÃO. INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS.
SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. PRONÚNCIA QUE ATENDEU AO
ART. 413, § 1º, DO CPP. EXCESSO DE LINGUAGEM.

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Superior Tribunal de Justiça
INOCORRÊNCIA. EXCESSO DE PRAZO. NÃO CONFIGURAÇÃO.
TRAMITAÇÃO REGULAR. DESPROVIMENTO.
[...]
2. Hipótese em que a magistrada a quo foi extremamente cautelosa
e limitou-se a demonstrar os indícios de autoria, de modo a
autorizar que o exame mais aprofundado da questão fosse
delegado ao Tribunal do Júri competente. Em nenhum momento a
Juíza excedeu-se ou afirmou a certeza da culpa. Assim, não se
constata excesso de linguagem na pronúncia.
3. A suposta falta de individualização da conduta não foi, nesse
enfoque específico, enfrentada pelo Tribunal de origem, vedada a
supressão de instância. A Corte estadual concluiu que a pronúncia
atendeu ao disposto no art. 413, § 1º, do Código de Processo
Penal, o que de fato se constata da leitura da sentença. A
fundamentação limitou-se à indicação da materialidade do fato e
dos indícios de autoria, conforme determinação legal. Ausente,
portanto, qualquer ilegalidade.
[...]
5. Recurso ordinário a que se nega provimento. (RHC 72.083/RJ,
relatora Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 06/09/2016, DJe 16/09/2016.)

Não há que se falar, portanto, em anulação da decisão de pronúncia


por excesso de linguagem.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É o voto.

Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO


Relator

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Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2018/0014013-6 AREsp 1.238.417 /
RJ
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00021514620148190000 00047415220128190004 0012012 00161873520108190000


00175342820098190004 00420156220128190000 00600689120128190000
02640018120098190004 03636051520098190004 161873520108190000
175342820098190004 20090040176248 201200824217 201724700836
21514620148190000 2640018120098190004 3636051520098190004
420156220128190000 47415220128190004 600689120128190000

EM MESA JULGADO: 05/11/2019

Relator
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. LUIZ AUGUSTO DOS SANTOS LIMA
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : CHARLES DE AZEVEDO TAVARES
ADVOGADO : ALZIRA DE CASTRO GARCIA DIAS E OUTRO(S) - RJ021572
AGRAVANTE : JEFERSON DE ARAUJO MIRANDA
ADVOGADO : RICARDO CARVALHO BRAGA DOS SANTOS E OUTRO(S) - RJ143420
AGRAVANTE : JUNIOR CEZAR DE MEDEIROS
ADVOGADO : ÚRSULA RIBEIRO FERREIRA E OUTRO(S) - RJ153530
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CORRÉU : DANIEL SANTOS BENITEZ LOPEZ
CORRÉU : JOVANIS FALCAO JUNIOR
CORRÉU : SERGIO COSTA JUNIOR
CORRÉU : ALEX RIBEIRO PEREIRA

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a vida - Homicídio Qualificado

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : JEFERSON DE ARAUJO MIRANDA
ADVOGADO : RICARDO CARVALHO BRAGA DOS SANTOS E OUTRO(S) - RJ143420
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

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Superior Tribunal de Justiça
A Sexta Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos
do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Sebastião Reis Júnior, Rogerio Schietti Cruz e Nefi
Cordeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.

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