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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


Segunda Vice-Presidência

Recurso Especial Criminal nº 0056540-17.2010.8.19.0001


Recorrente: Judite Mendonça Saguia
Recorrido: Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro

DECISÃO

Trata-se de recurso especial, tempestivo, com


fundamento no artigo 105, inciso III, alíneas “a” e “c”, da
Constituição da República, interposto em face do acórdão
proferido pela 3ª Câmara Criminal, assim ementado:

“RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. JÚRI. HOMICÍDIO


QUALIFICADO E OCULTAÇÃO DE CADÁVER. JUDICIUM
ACCUSATIONIS. PEDIDO DE IMPRONÚNCIA E
AFASTAMENTO DE QUALIFICADORA. DESCABIMENTO.
1. Na espécie, a recorrente foi pronunciada
pela acusação de ter assassinado seu ex-
companheiro e emparedado o corpo dentro de
sua própria casa, inconformada com o término
do relacionamento. 2. A materialidade restou
evidenciada através do laudo da autópsia e
laudo de local de constatação de morte.
Tampouco existe dúvida quanto à presença de
indícios de autoria, tendo em vista que a
prova oral aponta para a acusada como a
autora dos golpes que mataram o ofendido. 3.
Nessas condições, é de ser mantida a decisão
de pronúncia, de conteúdo declaratório, que
se baseia em juízo de probabilidade fundado
em suspeita, em que o juiz proclama
admissível a acusação para que seja decidida
no plenário do Júri. A certeza só advirá na
segunda fase do procedimento, com a submissão
do caso ao juiz natural da causa. Assim,
havendo controvérsia em relação à prova, seu
conteúdo deve ser valorado pelo Tribunal do
Júri, para que dê a palavra definitiva. 4.
Qualificadora que deve ser submetida à
análise do Conselho de Sentença, já que o

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conjunto probatório indica a possibilidade da


acusada ter praticado o crime por motivo
fútil, pelo fato de que o ofendido queria
terminar o relacionamento amoroso com a
acusada. Recurso desprovido.” (fls.
1416/1421)

Inconformada, a recorrente requer a reforma do


acórdão, sem indicar, contudo, quais dispositivos
infraconstitucionais tiveram sua vigência negada. (fls.
1433/1445).

As contrarrazões foram apresentadas às fls.


1450/1462.

É o relatório. Decido.

Em sede de admissibilidade de recurso, necessária a


verificação da regularidade formal da interposição, a qual
deve conter a exposição do fato e do direito, a demonstração
do cabimento do recurso, as razões e o pedido, nos termos do
art. 1.029, e incisos, do CPC.

Da leitura das razões recursais percebe-se que o


recorrente não indicou quais foram os artigos de lei
supostamente violados. Cuida-se, pois, de motivação recursal
deficiente e incapaz de permitir a compreensão acerca da
controvérsia em torno na questão de direito, uma vez que não
demonstram no que consistiu a alegada contrariedade.

O inconformismo sistemático, manifestado em recurso


carente de fundamentos relevantes, que não demonstre como o
acórdão recorrido teria ofendido o dispositivo alegadamente
violado e que nada acrescente à compreensão e ao desate da
quaestio iuris - posto que indique corretamente o permissivo
constitucional sobre o qual se sustenta -, não atende aos
pressupostos de regularidade formal dos recursos de natureza
excepcional e impede a exata compreensão da controvérsia,
circunstâncias que atraem a incidência da Súmula 284 do STF.
Nesse sentido:
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“AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO
SIMPLES. FALTA DE INDICAÇÃO DE DISPOSITIVOS
INFRACONSTITUCIONAIS VIOLADOS. CONTROVÉRSIA
NÃO DELIMITADA. SÚMULA 284/STF. PLEITO DE
ANULAÇÃO DO JULGAMENTO DO CONSELHO DE
SENTENÇA. ALEGAÇÃO DE CONDENAÇÃO CONTRÁRIA À
PROVA DOS AUTOS QUANTO AO RECONHECIMENTO DA
QUALIFICADORA DA TRAIÇÃO. DECISÃO DO TRIBUNAL
MOTIVADA. SOBERANIA DO JÚRI E SUPORTE EM
PROVAS. REEXAME DE MATÉRIA DE CUNHO FÁTICO
PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
1. Na decisão ora agravada, foi exposto que,
no tocante à controvérsia, na espécie, incide
o óbice da Súmula n. 284/STF, uma vez que não
houve a indicação do permissivo
constitucional autorizador do recurso
especial, aplicando-se, por conseguinte, a
referida súmula. É inadmissível o recurso
extraordinário, quando a deficiência na sua
fundamentação não permitir a exata
compreensão da controvérsia.
2. O conhecimento do recurso especial, seja
ele interposto pela alínea "a" ou pela alínea
"c" do permissivo constitucional, exige,
necessariamente, a indicação do dispositivo
de lei federal que se entende por
contrariado, sob pena de incidência, por
analogia, da Súmula n. 284 do STF (AgRg no
AREsp n. 1.366.658/SP, Ministro Rogério
Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 27/5/2019).
3. O julgador se amparou no fato de que o
conjunto probatório apresentado mostrou-se
suficiente, a ponto de determinar a autoria
do crime praticado pelo agravante. Diante
desses fatos, a Corte Local negou provimento
ao recurso de apelação, preservando a
condenação perpetrada pelo Tribunal do Júri.
4. Para se desconstituir o acórdão recorrido,
em relação à análise feita pelo órgão
julgador, e afastar a sentença condenatória
do Conselho de Sentença, seria necessário o
exame aprofundado do conteúdo fático e
probatório dos autos, o que é vedado, em

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recurso especial, ante o óbice contido na


Súmula 7 desta Corte.
5. Inexiste contrariedade ao art. 593, III,
"d", do Código de Processo Penal, pois o
acórdão recorrido indicou expressamente que a
decisão dos jurados não é manifestamente
contrária à prova dos autos, "vez que há
elementos de prova aptos a sustentar a tese
escolhida pelo Conselho de Sentença",
destacando o depoimento do policial condutor,
o interrogatório judicial do agravado,
depoimento de testemunhas e demais provas dos
autos. [...] Consoante jurisprudência
pacífica desta Corte Superior, "é inviável,
por parte deste Sodalício, avaliar se as
provas constantes dos autos são aptas a
desconstituir a decisão dos jurados,
porquanto a verificação dos elementos de
convicção reunidos no curso do feito
implicaria o aprofundado revolvimento de
matéria fático-probatória, o que é vedado na
via eleita, conforme disposição da Súmula 7
desta Corte" (AgRg no AREsp n. 1.303.184/CE,
Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado
em 11/12/2018, DJe 4/2/2019) - (AgInt no
AREsp n. 1.442.041/CE, Ministro Ribeiro
Dantas, Quinta Turma, DJe 20/5/2019).
6. Agravo regimental improvido.”
(AgRg no AREsp 1773624/CE, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado
em 27/04/2021, DJe 04/05/2021)

À conta de tais fundamentos, DEIXO DE ADMITIR o


recurso especial.

Publique-se.

Desembargadora SUELY LOPES MAGALHÃES


Segunda Vice-Presidente

(Documento datado e assinado digitalmente)

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