Recorrente: Judite Mendonça Saguia Recorrido: Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
DECISÃO
Trata-se de recurso especial, tempestivo, com
fundamento no artigo 105, inciso III, alíneas “a” e “c”, da Constituição da República, interposto em face do acórdão proferido pela 3ª Câmara Criminal, assim ementado:
“RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. JÚRI. HOMICÍDIO
QUALIFICADO E OCULTAÇÃO DE CADÁVER. JUDICIUM ACCUSATIONIS. PEDIDO DE IMPRONÚNCIA E AFASTAMENTO DE QUALIFICADORA. DESCABIMENTO. 1. Na espécie, a recorrente foi pronunciada pela acusação de ter assassinado seu ex- companheiro e emparedado o corpo dentro de sua própria casa, inconformada com o término do relacionamento. 2. A materialidade restou evidenciada através do laudo da autópsia e laudo de local de constatação de morte. Tampouco existe dúvida quanto à presença de indícios de autoria, tendo em vista que a prova oral aponta para a acusada como a autora dos golpes que mataram o ofendido. 3. Nessas condições, é de ser mantida a decisão de pronúncia, de conteúdo declaratório, que se baseia em juízo de probabilidade fundado em suspeita, em que o juiz proclama admissível a acusação para que seja decidida no plenário do Júri. A certeza só advirá na segunda fase do procedimento, com a submissão do caso ao juiz natural da causa. Assim, havendo controvérsia em relação à prova, seu conteúdo deve ser valorado pelo Tribunal do Júri, para que dê a palavra definitiva. 4. Qualificadora que deve ser submetida à análise do Conselho de Sentença, já que o
Beco da Música, 175 – Sala 210 – Lâmina IV
Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20021-315 Tel.: + 55 21 3133-2000 – E-mail: Assinado em gb2vp@tjrj.jus.br 30/10/2023 13:08:41 SUELY LOPES MAGALHAES:7555 Local: 2VP - GABINETE 1465
Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro
Segunda Vice-Presidência
conjunto probatório indica a possibilidade da
acusada ter praticado o crime por motivo fútil, pelo fato de que o ofendido queria terminar o relacionamento amoroso com a acusada. Recurso desprovido.” (fls. 1416/1421)
Inconformada, a recorrente requer a reforma do
acórdão, sem indicar, contudo, quais dispositivos infraconstitucionais tiveram sua vigência negada. (fls. 1433/1445).
As contrarrazões foram apresentadas às fls.
1450/1462.
É o relatório. Decido.
Em sede de admissibilidade de recurso, necessária a
verificação da regularidade formal da interposição, a qual deve conter a exposição do fato e do direito, a demonstração do cabimento do recurso, as razões e o pedido, nos termos do art. 1.029, e incisos, do CPC.
Da leitura das razões recursais percebe-se que o
recorrente não indicou quais foram os artigos de lei supostamente violados. Cuida-se, pois, de motivação recursal deficiente e incapaz de permitir a compreensão acerca da controvérsia em torno na questão de direito, uma vez que não demonstram no que consistiu a alegada contrariedade.
O inconformismo sistemático, manifestado em recurso
carente de fundamentos relevantes, que não demonstre como o acórdão recorrido teria ofendido o dispositivo alegadamente violado e que nada acrescente à compreensão e ao desate da quaestio iuris - posto que indique corretamente o permissivo constitucional sobre o qual se sustenta -, não atende aos pressupostos de regularidade formal dos recursos de natureza excepcional e impede a exata compreensão da controvérsia, circunstâncias que atraem a incidência da Súmula 284 do STF. Nesse sentido: Beco da Música, 175 – Sala 210 – Lâmina IV Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20021-315 Tel.: + 55 21 3133-2000 – E-mail: gb2vp@tjrj.jus.br 1466
Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro
Segunda Vice-Presidência
“AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO SIMPLES. FALTA DE INDICAÇÃO DE DISPOSITIVOS INFRACONSTITUCIONAIS VIOLADOS. CONTROVÉRSIA NÃO DELIMITADA. SÚMULA 284/STF. PLEITO DE ANULAÇÃO DO JULGAMENTO DO CONSELHO DE SENTENÇA. ALEGAÇÃO DE CONDENAÇÃO CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS QUANTO AO RECONHECIMENTO DA QUALIFICADORA DA TRAIÇÃO. DECISÃO DO TRIBUNAL MOTIVADA. SOBERANIA DO JÚRI E SUPORTE EM PROVAS. REEXAME DE MATÉRIA DE CUNHO FÁTICO PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. Na decisão ora agravada, foi exposto que, no tocante à controvérsia, na espécie, incide o óbice da Súmula n. 284/STF, uma vez que não houve a indicação do permissivo constitucional autorizador do recurso especial, aplicando-se, por conseguinte, a referida súmula. É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia. 2. O conhecimento do recurso especial, seja ele interposto pela alínea "a" ou pela alínea "c" do permissivo constitucional, exige, necessariamente, a indicação do dispositivo de lei federal que se entende por contrariado, sob pena de incidência, por analogia, da Súmula n. 284 do STF (AgRg no AREsp n. 1.366.658/SP, Ministro Rogério Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 27/5/2019). 3. O julgador se amparou no fato de que o conjunto probatório apresentado mostrou-se suficiente, a ponto de determinar a autoria do crime praticado pelo agravante. Diante desses fatos, a Corte Local negou provimento ao recurso de apelação, preservando a condenação perpetrada pelo Tribunal do Júri. 4. Para se desconstituir o acórdão recorrido, em relação à análise feita pelo órgão julgador, e afastar a sentença condenatória do Conselho de Sentença, seria necessário o exame aprofundado do conteúdo fático e probatório dos autos, o que é vedado, em
Beco da Música, 175 – Sala 210 – Lâmina IV
Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20021-315 Tel.: + 55 21 3133-2000 – E-mail: gb2vp@tjrj.jus.br 1467
Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro
Segunda Vice-Presidência
recurso especial, ante o óbice contido na
Súmula 7 desta Corte. 5. Inexiste contrariedade ao art. 593, III, "d", do Código de Processo Penal, pois o acórdão recorrido indicou expressamente que a decisão dos jurados não é manifestamente contrária à prova dos autos, "vez que há elementos de prova aptos a sustentar a tese escolhida pelo Conselho de Sentença", destacando o depoimento do policial condutor, o interrogatório judicial do agravado, depoimento de testemunhas e demais provas dos autos. [...] Consoante jurisprudência pacífica desta Corte Superior, "é inviável, por parte deste Sodalício, avaliar se as provas constantes dos autos são aptas a desconstituir a decisão dos jurados, porquanto a verificação dos elementos de convicção reunidos no curso do feito implicaria o aprofundado revolvimento de matéria fático-probatória, o que é vedado na via eleita, conforme disposição da Súmula 7 desta Corte" (AgRg no AREsp n. 1.303.184/CE, Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 11/12/2018, DJe 4/2/2019) - (AgInt no AREsp n. 1.442.041/CE, Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe 20/5/2019). 6. Agravo regimental improvido.” (AgRg no AREsp 1773624/CE, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 27/04/2021, DJe 04/05/2021)
À conta de tais fundamentos, DEIXO DE ADMITIR o
recurso especial.
Publique-se.
Desembargadora SUELY LOPES MAGALHÃES
Segunda Vice-Presidente
(Documento datado e assinado digitalmente)
Beco da Música, 175 – Sala 210 – Lâmina IV
Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20021-315 Tel.: + 55 21 3133-2000 – E-mail: gb2vp@tjrj.jus.br