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AgRg no HABEAS CORPUS Nº 817932 - SP (2023/0132380-0)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


AGRAVANTE : JOAO LUIZ RAMOS COSTA DIAS (PRESO)
ADVOGADO : JOSÉ RICARDO SOLER DOS SANTOS - SP394629
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO


PENAL. IMPUGNAÇÃO DEFENSIVA. FALTA GRAVE.
DESOBEDIÊNCIA. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE DOLO
REJEITADA. ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. PROVAS
SUFICIENTES, BASEADAS NOS DEPOIMENTOS DOS AGENTES
E NA JUSTIFICATIVA DO APENADO NÃO ACEITA.
DESCLASSIFICAÇÃO PARA FALTA MÉDIA. INVIABILIDADE.
GRAVIDADE DO FATO. PREVISÃO COMO FALTA GRAVE.
CONTROLE JUDICIAL SOBRE O PAD DEVIDAMENTE
REALIZADO. RECURSO IMPROVIDO.
1- As instâncias ordinárias, soberanas na análise das circunstâncias
fáticas da causa, entenderam que o reeducando violou os arts. 50, inc.
VI, c/c o art. 39, inc. II, ambos da Lei de Execução Penal, cometendo
ato de indisciplina quando desobedeceu ordem do agente penitenciário,
na Unidade Prisional, ao se recusar a entrar no pavilhão. [...] (AgRg
no HC n. 748.272/MS, relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro,
Sexta Turma, julgado em 13/2/2023, DJe de 16/2/2023.)
2- No caso, o recorrente se recusou a obedecer a ordem de retornar para
a cela, devido ao término da recreação. O fato foi provado pelo
depoimento dos agentes de segurança, que presenciaram a conduta. Não
há razoabilidade na justificativa de que o apenado se distraiu, não
agindo com dolo.
3- A prova oral produzida, consistente em declarações coesas dos
agentes de segurança penitenciária se mostraram suficientes para a
caracterização da falta como grave (...). A Jurisprudência é pacífica no
sentido de inexistir fundamento o questionamento, a priori, das
declarações de servidores públicos, uma vez que suas palavras se
revestem, até prova em contrário, de presunção de veracidade e de
legitimidade, que é inerente aos atos administrativos em geral. (HC n.
391.170/SP, Relator Ministro NEFI CORDEIRO, julgado em 1º/8/2017,
publicado em 7/8/2017).
4- "Não está a Autoridade Judicial vinculada às conclusões da instância
administrativa, sendo-lhe possível reexaminar a integralidade do
procedimento de apuração e, se assim o entender, decidir fundamentadamente
pela inocorrência da falta grave, pela ausência de adequação típica da
conduta ou pela ausência de provas da autoria e da materialidade do fato,
desde que, repita-se, faça-o de maneira fundamentada." (REsp 1.789.422/RO,
Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 26/11/2019,
DJe 10/12/2019).
5- Quanto à gravidade da conduta que gerou a falta grave, ela decorre
do fato de que a inobservância das regras existentes num
estabelecimento prisional tem o potencial de gerar desordem, tumulto e
motins, pondo em risco a vida e a integridade física dos presos, dos
agentes penitenciários e até mesmo, eventualmente, de visitantes.
6- Assim, a conduta do sentenciado, efetivamente, amolda-se à previsão
contida no art. 50, inciso VI, c/c art. 50, II, da Lei n. 7.210/1984, que
estabelece constituir falta disciplinar de natureza grave a desobediência.
7- Agravo regimental não provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam
os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de
23/05/2023 a 29/05/2023, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik, Messod Azulay Neto e
João Batista Moreira (Desembargador convocado do TRF1) votaram com o Sr. Ministro
Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Joel Ilan Paciornik.

Brasília, 29 de maio de 2023.

Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA


Relator
AgRg no HABEAS CORPUS Nº 817932 - SP (2023/0132380-0)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


AGRAVANTE : JOAO LUIZ RAMOS COSTA DIAS (PRESO)
ADVOGADO : JOSÉ RICARDO SOLER DOS SANTOS - SP394629
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO


PENAL. IMPUGNAÇÃO DEFENSIVA. FALTA GRAVE.
DESOBEDIÊNCIA. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE DOLO
REJEITADA. ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. PROVAS
SUFICIENTES, BASEADAS NOS DEPOIMENTOS DOS AGENTES
E NA JUSTIFICATIVA DO APENADO NÃO ACEITA.
DESCLASSIFICAÇÃO PARA FALTA MÉDIA. INVIABILIDADE.
GRAVIDADE DO FATO. PREVISÃO COMO FALTA GRAVE.
CONTROLE JUDICIAL SOBRE O PAD DEVIDAMENTE
REALIZADO. RECURSO IMPROVIDO.
1- As instâncias ordinárias, soberanas na análise das circunstâncias
fáticas da causa, entenderam que o reeducando violou os arts. 50, inc.
VI, c/c o art. 39, inc. II, ambos da Lei de Execução Penal, cometendo
ato de indisciplina quando desobedeceu ordem do agente penitenciário,
na Unidade Prisional, ao se recusar a entrar no pavilhão. [...] (AgRg
no HC n. 748.272/MS, relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro,
Sexta Turma, julgado em 13/2/2023, DJe de 16/2/2023.)
2- No caso, o recorrente se recusou a obedecer a ordem de retornar para
a cela, devido ao término da recreação. O fato foi provado pelo
depoimento dos agentes de segurança, que presenciaram a conduta. Não
há razoabilidade na justificativa de que o apenado se distraiu, não
agindo com dolo.
3- A prova oral produzida, consistente em declarações coesas dos
agentes de segurança penitenciária se mostraram suficientes para a
caracterização da falta como grave (...). A Jurisprudência é pacífica no
sentido de inexistir fundamento o questionamento, a priori, das
declarações de servidores públicos, uma vez que suas palavras se
revestem, até prova em contrário, de presunção de veracidade e de
legitimidade, que é inerente aos atos administrativos em geral. (HC n.
391.170/SP, Relator Ministro NEFI CORDEIRO, julgado em 1º/8/2017,
publicado em 7/8/2017).
4- "Não está a Autoridade Judicial vinculada às conclusões da instância
administrativa, sendo-lhe possível reexaminar a integralidade do
procedimento de apuração e, se assim o entender, decidir fundamentadamente
pela inocorrência da falta grave, pela ausência de adequação típica da
conduta ou pela ausência de provas da autoria e da materialidade do fato,
desde que, repita-se, faça-o de maneira fundamentada." (REsp 1.789.422/RO,
Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 26/11/2019,
DJe 10/12/2019).
5- Quanto à gravidade da conduta que gerou a falta grave, ela decorre
do fato de que a inobservância das regras existentes num
estabelecimento prisional tem o potencial de gerar desordem, tumulto e
motins, pondo em risco a vida e a integridade física dos presos, dos
agentes penitenciários e até mesmo, eventualmente, de visitantes.
6- Assim, a conduta do sentenciado, efetivamente, amolda-se à previsão
contida no art. 50, inciso VI, c/c art. 50, II, da Lei n. 7.210/1984, que
estabelece constituir falta disciplinar de natureza grave a desobediência.
7- Agravo regimental não provido.

RELATÓRIO

Trata-se de agravo regimental interposto por JOAO LUIZ RAMOS COSTA


DIAS contra decisão monocrática de minha lavra que não conheceu do habeas corpus
impetrado em seu favor, em que se pleiteou a desclassificação da falta disciplinar grave
consistente em desobediência para falta média (e-STJ, fls. 80/88).

Neste recurso (e-STJ, fls. 92/99), a defesa sustenta que a sanção para falta
disciplinar somente pode ser aplicada se ficar cabalmente provado o dolo do agente em
cometer a infração, sendo que o ônus compete a quem acusa.

Alega que as acusações são sempre baseadas em denúncias anônimas, que as


únicas testemunhas são invariavelmente os mesmos servidores denunciantes e que nunca
há provas documentais da acusação.

Acusa desproporcionalidade na aplicação da falta grave, tendo em vista o


baixíssimo grau de lesividade e da repercussão da suposta conduta ilícita, acrescentando
que o próprio comunicado do evento narra a conduta do sentenciado como falta média .

Assevera que os procedimentos disciplinares se transformaram em um meio de


punição arbitrária pelas autoridades administrativas, pelo fato de não serem cuidadosos e
individualizados e em razão do processo de desjudicialização das Varas de Execuções
Penais, que simplesmente homologam a falta, o que contribui para a revolta dos detentos
e para a crise no sistema carcerário.

Em vista do exposto, requer a reconsideração da decisão agravada ou que o


feito seja submetido a julgamento perante a Quinta Turma desta Corte, provendo-se o
regimental, a fim de desclassificar a falta disciplinar para de natureza média.

É o relatório.
VOTO

O agravo regimental é tempestivo e rechaçou os fundamentos da decisão


combatida, razões pelas quais merece conhecimento.

No entanto, não obstante os esforços do agravante, não constato elementos


suficientes para reconsiderar a decisão.

Estes foram os fundamentos adotados na decisão agravada (e-STJ, fls. 83/88):


De fato, conforme consta do relatório da sindicância e dos depoimentos
testemunhais, os agentes de segurança estavam presentes no momento da
desobediência, ou seja, presenciaram o fato, e ao deporem, foram enfáticos
nesse sentido, de que viram o paciente se recusar a obedecer a ordem de
retornar para a cela, devido ao término da recreação (e-STJ fls. 49 e 32/33).
Já a justificativa do detento não prevaleceu, uma vez que sua afirmação de
que explicou aos policiais de que houve um descuido seu não ocorreu (e-STJ
fl. 51).
Ora, se houve recusa em retornar para a cela, não pode ter havido distração,
uma vez que ouviu o policial, mas se negou a acatar a ordem.
Impende registrar, em relação à materialidade e autoria da infração
disciplinar que ''A prova oral produzida, consistente em declarações coesas
dos agentes de segurança penitenciária se mostraram suficientes para a
caracterização da falta como grave (...). A Jurisprudência é pacífica no
sentido de inexistir fundamento o questionamento, a priori, das declarações
de servidores públicos, uma vez que suas palavras se revestem, até prova em
contrário, de presunção de veracidade e de legitimidade, que é inerente aos
atos administrativos em geral." (HC n. 391.170/SP, Relator Ministro NEFI
CORDEIRO, julgado em 1º/8/2017, publicado em 7/8/2017).
Na mesma linha de entendimento: HC n. 334.732/SP, Relatora Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, julgado em 17/12/2015, publicado em
1º/2/2016.
Pelo conteúdo dos depoimentos, observo claramente a gravidade da falta,
descabendo, assim, sua classificação para média. Afinal, a conduta de
obediência é fundamental para manutenção da ordem, constituindo mais que
um atendimento a uma ordem, uma atitude de respeito. Ainda que não tenham
ocorridos maiores consequências, o fato em si é grave, porque a ordem e
disciplina são o mínimo de condutas esperadas pelos detentos, que devem se
conter à regras.
Nesse sentido, constou do relatório da sindicância: todo detento, ao ser
incluído em qualquer unidade prisional do pais, é informado na presença de
testemunhas de seus deveres e responsabilidade, conforme o disposto no
artigo 27 do Manual de Procedimento Interno dos Estabelecimentos
Prisionais do Estado de São Paulo (e-STJ, fl. 51).
Anote-se, por oportuno, que "a análise da tese de não-configuração da falta
grave, ou de desclassificação para falta de natureza média, não se coaduna
com a via estreita do habeas corpus, dada a necessidade, no caso, de
incursão na seara fático-probatória, incabível nesta sede [...]" (HC n.
259.028/SP, Quinta Turma, Relatora Ministra. LAURITA VAZ, DJe de
7/3/2014).
Assim, a conduta do sentenciado, efetivamente, amolda-se à previsão contida
no art. 50, inciso VI, c/c art. 50, II, da Lei n. 7.210/1984, que estabelece
constituir falta disciplinar de natureza grave a desobediência: [...]
Nessa linha de entendimento, colaciono os seguintes julgados, nos quais
houve configuração de falta grave (desobediência), por desrespeito a simples
ordem: [...]
Diante do exposto, não conheço do presente habeas corpus.

Bem verdade que o ônus da prova cabe a quem alega.

No caso, ficou provado, por meio de declaração dos depoimentos dos agentes
(cujas palavras se revestem de presunção de veracidade e legitimidade), os
quais presenciaram os fatos, que o agravante foi visto se recusando a obedecer a ordem
de retornar para a cela, devido ao término da recreação (e-STJ fls. 49 e 32/33). Nesse
sentido, conforme explicado, sua justificativa de que estava distraído e como tal, não
houve dolo, é incongruente, já que ele foi visto se recusando a acatar uma ordem.
Distração seria se ele não tivesse ouvido, mas ouviu, tanto que respondeu negativamente.
Além disso, ele deve saber de seus deveres e responsabilidades, porque deles foi
informado quando incluído no estabelecimento penal.

Como se pode ver, a conduta do recluso não foi apenas apurada por meio de
depoimento dos agentes de segurança, houve a oportunidade de justificativa do detento, o
qual teve uma defesa técnica agindo em seus favor.

Além disso, o relatório da sindicância foi elaborado e justificado. A própria


Lei de Execução Penal atribui ao diretor do estabelecimento prisional o poder de apurar e
aplicar sanções disciplinares (arts. 47 e 48, ambos doa LEP).

Não existe, tampouco, a alegada "desjudicialização" do Judiciário, termo


criado pela defesa para sustentar que "caracteriza-se vedação de acesso à justiça, as
condenações administrativas, quando formalmente em ordem, na grande maioria dos
casos, são simplesmente confirmadas pelas Varas de Execuções Penais, que emitem
condenações simétricas: 'determinação de regressão de regime, reinício da contagem do
lapso para fins de progressão, a perda de 1/3 dos dias remidos e mau comportamento
durante doze meses posteriores a falta', sem sequer analisar os motivos do ato faltoso" (e-
STJ fl. 97).

Lembro, no ponto, que, nos termos do art. 66, inciso III, alínea f, da Lei de
Execução Penal, compete ao Juízo das Execuções decidir sobre os incidentes da execução
penal. Desse modo, a sua atribuição no procedimento de apuração de falta grave não se
limita apenas ao exame das formalidades a serem observadas pelas instâncias
administrativas, mas demanda que ele apresente fundamentação própria e expressa, ainda
que sucintamente ou per relationem, acerca da ocorrência ou não da falta grave.
De fato, não está a Autoridade Judicial vinculada às conclusões da instância
administrativa, sendo-lhe possível reexaminar a integralidade do procedimento de
apuração e, se assim o entender, concluir pela inocorrência da falta grave, pela ausência
de adequação típica da conduta ou pela ausência de provas da autoria e da materialidade
do fato, desde que, repita-se, faça-o de maneira fundamentada.

Nesse sentido, ressaltou o Exmo. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, em


decisão monocrática proferida no HC n. 506.343/SC:
"Segundo a tese jurídica firmada no REsp n. 1.378 557/RS, sob a sistemática
dos recursos repetitivos, o poder disciplinar na execução das penas compete à
autoridade administrativa a que estiver sujeito o condenado. Cabe ao Diretor
da Unidade Prisional apurar os fatos e realizar sua subsunção à norma legal,
nos termos dos arts. 47 e 48 da Lei de Execução Penal.
Como as esferas judicial e administrativas são independentes, sujeita-se a
decisão do Conselho Disciplinar ao crivo homologatório do Juízo da
Execução.
Isso não equivale a dizer que o juiz está vinculado à decisão administrativa.
Deveras, 'é possível o controle judicial sobre decisão de Conselho Disciplinar
que, no uso de suas atribuições, tipificou o fato atribuído ao sentenciado
como falta média, podendo o Juízo da execução penal desconstituir o
procedimento administrativo no todo ou em parte' (AgRg no RHC n.
80.729/MG, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, 5ª T., DJe 27/9/2017).
Inafastável, pois, a possibilidade de o Magistrado verificar se as provas
produzidas durante a sindicância lastreiam, ou não, o reconhecimento da
falta disciplinar, além de averiguar a observância do devido processo legal
(principalmente dos princípios do contraditório e da ampla defesa) durante o
PAD." (HC 506.343, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, DJe
02/05/2019; negritei.)

Nessa mesma perspectiva:


PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.
EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE. APREENSÃO DE APARELHO
CELULAR E CHIP NA UNIDADE PRISIONAL. ABSOLVIÇÃO.
REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. AGRAVO DESPROVIDO.
1. A pretendida absolvição da falta grave (apreensão de aparelho celular e
"chip", inseridos na unidade prisional), em razão da alegada ausência de
provas da autoria, é questão que demanda aprofundada análise do conjunto
probatório produzido em juízo, providência vedada na via estreita do remédio
constitucional. Precedentes.
2. "Não está a Autoridade Judicial vinculada às conclusões da instância
administrativa, sendo-lhe possível reexaminar a integralidade do
procedimento de apuração e, se assim o entender, decidir
fundamentadamente pela inocorrência da falta grave, pela ausência de
adequação típica da conduta ou pela ausência de provas da autoria e da
materialidade do fato, desde que, repita-se, faça-o de maneira
fundamentada." (REsp 1.789.422/RO, Rel. Ministra LAURITA VAZ,
SEXTA TURMA, julgado em 26/11/2019, DJe 10/12/2019).
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC n. 626.808/MG, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma,
julgado em 9/2/2021, DJe de 17/2/2021.)

RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE. POSSE DE


INSTRUMENTO APTO A AGRESSÃO. AUSÊNCIA DE ANÁLISE DE
MÉRITO. AUTORIA, MATERIALIDADE E TIPICIDADE DA FALTA
GRAVE. VIOLAÇÃO DO DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES
JUDICIAIS. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO.
1. Nos termos do art. 66, inciso III, alínea f, da Lei de Execução Penal,
compete ao Juízo das Execuções decidir sobre os incidentes da execução
penal. Desse modo, a sua atribuição no procedimento de apuração de falta
grave não se limita apenas ao exame das formalidades a serem observadas
pelas instâncias administrativas, mas demanda que ele apresente
fundamentação própria e expressa, ainda que sucintamente ou per
relationem, acerca da ocorrência ou não da falta grave e de sua adequada
tipificação legal.
2. Não está a Autoridade Judicial vinculada às conclusões da instância
administrativa, sendo-lhe possível reexaminar a integralidade do
procedimento de apuração e, se assim o entender, decidir
fundamentadamente pela inocorrência da falta grave, pela ausência de
adequação típica da conduta ou pela ausência de provas da autoria e da
materialidade do fato, desde que, repita-se, faça-o de maneira
fundamentada.
3. Não pode a decisão judicial esquivar-se da análise das alegações de mérito
das partes acerca da falta grave sob o argumento de que estaria limitada a
um exame meramente formal do procedimento administrativo disciplinar.
4. Recurso especial provido para cassar a decisão impugnada e determinar
que outra seja proferida, com a análise da autoria e da materialidade da falta
grave e das alegações de mérito das partes a esse respeito.
(REsp n. 1.789.422/RO, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado
em 26/11/2019, DJe de 10/12/2019.)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO PENAL.


TRÁFICO DE DROGAS. RECONHECIMENTO DE FALTA GRAVE PELO
JUÍZO DA EXECUÇÃO QUANDO O APENADO É ABSOLVIDO NA
ESFERA ADMINISTRATIVA. POSSIBILIDADE. RESSALVA AO
ENTENDIMENTO FIRMADO NO RESP REPRESENTATIVO DA
CONTROVÉRSIA Nº 1.378.557/RS. DECISÃO MANTIDA.
I - Segundo restou decidido no REsp n. 1.378.557/RS, submetido à sistemática
dos recursos repetitivos, o poder disciplinar na execução das penas será
exercido pela autoridade administrativa a que estiver sujeito o condenado,
cabendo ao Diretor da Unidade Prisional apurar a conduta faltosa do detento
e realizar a subsunção do fato à norma legal, nos termos dos arts. 47 e 48,
ambos da Lei de Execução Penal.
II - Em que pese seja da autoridade administrativa (Diretor da Unidade
Prisional ou Conselho Disciplinar) a atribuição de apurar e de classificar a
infração disciplinar, as decisões por ela proferidas são atos administrativos,
passíveis, portanto, de controle de legalidade pelo Poder Judiciário,
conforme reconhecido no julgamento do REsp. n. 1.378.557/RS.
III - In casu, ao contrário do alegado pela combativa defesa, uma vez
provocado, pode o d. Juízo da Execução verificar a legalidade da decisão e a
própria natureza da falta disciplinar, seja para afastar a falta grave, nos
casos em que a conduta não se enquadra nas hipóteses taxativamente
previstas nos arts. 50 e 52, ambos da Lei de Execução Penal, seja para
reconhecê-la, quando constatado que a conduta praticada pelo detento está
tipificada em referidos dispositivos, não estando vinculado, enfatize-se, à
decisão do Diretor da Unidade Prisional ou do Conselho Disciplinar.
Precedentes.
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp n. 1.813.064/MG, relator Ministro Felix Fischer, Quinta
Turma, julgado em 25/6/2019, DJe de 1/8/2019.)

Lembre-se, ainda, que todos os atos administrativos podem ser submetidos à


apreciação judicial. Assim, ainda que possua a autoridade administrativa certa
discricionariedade no exercício de dosimetria da penalidade administrativa – conforme
previsto no art. 59 da LEP –, não se pode admitir que essa discricionariedade se convole
em arbitrariedade, isto é, em abuso de poder, sem que haja a devida intervenção judicial.

Nesse sentido:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO
PENAL. FALTA GRAVE. ABSOLVIÇÃO PELO CONSELHO DISCIPLINAR.
RECONHECIMENTO DA FALTA PELO JUÍZO DA EXECUÇÃO.
POSSIBILIDADE.
1. É possível o controle judicial – pelo juízo da execução penal – sobre
decisão de Conselho Disciplinar que, no uso de suas atribuições, concluiu
pela absolvição da acusação de eventual falta disciplinar de natureza grave
imputada a reeducando do sistema prisional. (HC n. 365.431/MG, Ministra
Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 8/11/2016).
2. Havendo elementos para autorizar o controle judicial sobre decisão
administrativa, cabe ao Juízo da execução fiscalizar/rever as decisões
aplicadas em sede administrativa pelo Conselho Disciplinar.
3. Agravo regimental improvido.
(AgRg no RHC n. 74.016/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JUNIOR,
Sexta Turma, DJe 13/6/2017).

Quanto à gravidade da conduta que gerou a falta grave, ela decorre do fato de
que a inobservância das regras existentes num estabelecimento prisional tem o potencial
de gerar desordem, tumulto e motins, pondo em risco a vida e a integridade física dos
presos, dos agentes penitenciários e até mesmo, eventualmente, de visitantes.

Diante de todo esse contexto, a conduta da desobediência é perfeitamente


reconhecida como falta grave tanto no art. 50, inciso VI, c/c art. 50, II, da Lei n.
7.210/1984 quanto na jurisprudência desta Corte.

Ante o exposto, nego provimento a este agravo regimental.

É como voto.
TERMO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA
AgRg no HC 817.932 / SP
Número Registro: 2023/0132380-0 PROCESSO ELETRÔNICO
MATÉRIA CRIMINAL
Número de Origem:
00015196720228260154 00039827920228260154 15196720228260154 39827920228260154

Sessão Virtual de 23/05/2023 a 29/05/2023

Relator do AgRg
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK

Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO

IMPETRANTE : JOSE RICARDO SOLER DOS SANTOS


ADVOGADO : JOSÉ RICARDO SOLER DOS SANTOS - SP394629
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : JOAO LUIZ RAMOS COSTA DIAS (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

ASSUNTO : DIREITO PROCESSUAL PENAL - EXECUÇÃO PENAL E DE MEDIDAS


ALTERNATIVAS - PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE - FALTA GRAVE

AGRAVO REGIMENTAL

AGRAVANTE : JOAO LUIZ RAMOS COSTA DIAS (PRESO)


ADVOGADO : JOSÉ RICARDO SOLER DOS SANTOS - SP394629
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

TERMO

A QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de 23/05/2023 a 29/05


/2023, por unanimidade, decidiu negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik, Messod Azulay Neto e João Batista
Moreira (Desembargador convocado do TRF1) votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Joel Ilan Paciornik.
Brasília, 30 de maio de 2023

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