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2º GRAU

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-…

jusbrasil.com.br
2 de Fevereiro de 2023

2º Grau

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e


Territórios TJ-DF: 0095633-
54.2009.8.07.0001 DF 0095633-
54.2009.8.07.0001 - Inteiro Teor

Publicado por Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios há 4 anos

Processo
0095633-54.2009.8.07.0001 DF 0095633-54.2009.8.07.0001

Órgão Julgador
1ª TURMA CRIMINAL

Publicação
Publicado no DJE : 28/05/2018 . Pág.: 172/175

Julgamento
9 de Agosto de 2018

Relator
CARLOS PIRES SOARES NETO

Documentos anexos

 EMENTA PARA CITAÇÃO   


2º GRAU
Inteiro Teor
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-…
Poder Judiciário da União Fls. _____
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Órgão : 1ª TURMA CRIMINAL

Classe : APELAÇÃO

N. Processo : 20090110037576APR
(0095633-54.2009.8.07.0001)

Apelante (s) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO


FEDERAL E TERRITÓRIOS E OUTROS

Apelado (s) : OS MESMOS

Relator : Desembargador CARLOS PIRES SOARES


NETO

Revisor : Desembargador GEORGE LOPES

Acórdão N. : 1119272

EMENTA

PENAL E PROCESSO PENAL. APELAÇÕES CRIMINAIS.


CRIMES AMBIENTAIS. ART. 54, § 2º, INCISO V, E § 3º, C/C
ART. 2º E 3º, TODOS DA LEI Nº 9.605/1998.
PRELIMINARES DE NULIDADE. INÉPCIA DA DENÚNCIA.
INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO. FALTA DE JUSTA CAUSA
PARA A AÇÃO PENAL. OFENSA AO PRINCÍPIO DA
IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ. PRELIMINARES
REJEITADAS. MÉRITO. MATERIALIDADE E AUTORIA.
COMPROVADAS. CRIME ÚNICO. NÃO EVIDENCIADO.
CONTINUIDADE DELITIVA. INOCORRÊNCIA. INTERVALO
SUPERIOR A 30 DIAS ENTRE OS CRIMES. CONCURSO
MATERIAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. PRESCRIÇÃO
2º GRAU
RETROATIVA. RECURSOS CONHECIDOS. PARCIALMENTE
Tribunal de Justiça
PROVIDOdo Distrito Federal eDA
O APELO Territórios
DEFESA TJ-…E PROVIDO O DO
MINISTÉRIO PÚBLICO.

1. Observadas as diretrizes impostas no art. 41 do Código de Processo


Penal e verificada a existência da materialidade e indícios mínimos da
autoria dos crimes, não há se falar em inépcia da exordial acusatória.
Nos crimes em que a autoria é exercida em concurso de pessoas,
admite-se a denúncia que demonstra o liame subjetivo entre eles,
especifica os fatos e todas as suas circunstâncias de relevo, de sorte a
permitir o Código de Verificação
:2018ACOMHFE8NCY9HCPO4Y4R3Q7

GABINETE DO DESEMBARGADOR CARLOS PIRES SOARES


NETO 1
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

exercício da ampla defesa e do contraditório, como na espécie. 2. Não


configurada a suscitada prevenção, quando os casos indicados são fatos
totalmente diversos, não guardam conexão entre si, além de serem de
competência de juízos diversos.

3. O delito previsto no art. 54 da Lei nº 9.605/1998 possui natureza


formal, sendo suficiente a potencialidade de dano à saúde humana para
configuração da conduta delitiva, não se exigindo, portanto, resultado
naturalístico. Assim, evidenciada a justa causa para a persecução penal,
mediante o recebimento da inicial acusatória, diante da demonstração
da materialidade dos crimes e dos indícios suficientes de sua autoria.

4. O princípio da identidade física do juiz não possui caráter absoluto,


devendo ser evidenciado concreto prejuízo a quem alega a violação a
ele. O marco para a vinculação ou não do juiz que presidiu a audiência
de instrução e julgamento é a data da conclusão dos autos para
sentença. No caso, os magistrados que atuaram ao longo da complexa
instrução processual, que perdurou quase 3 (três) anos, se afastaram
daquele juízo por motivos legais. Porém, em cumprimento ao § 2º do
art. 399 do Código de Processo Penal, o julgador que presidiu a última
2º GRAU
audiência de instrução, acompanhou a apresentação das alegações
Tribunal de Justiça
finais do Distrito
e teve Federal
acesso e Territórios
a todo TJ-…
acervo probatório, foi quem sentenciou o
feito.

5. As provas evidenciam que os corréus decidiram, por vontade livre e


consciente, mediante condutas comissiva e omissiva, causarem os
danos ambientais denunciados. Não envidaram esforços para realizar
as obras imprescindíveis para evitar o dano ambiental e, após este
consumado, se omitiram em concretizar as condicionantes previstas no
ajustamento de conduta, para obstar a perpetuação daqueles danos ao
Córrego Guará.
6. A multiplicidade de condutas criminosas (seis delitos) torna inviável
o acolhimento da tese de crime único.

7. Para a configuração da continuidade delitiva adota-se a teoria mista,


sendo indispensável o preenchimento dos requisitos objetivos do art.
71 do Código Penal. O cometimento de crimes, não obstante da mesma
espécie, em intervalo

Código de Verificação :2018ACOMHFE8NCY9HCPO4Y4R3Q7

GABINETE DO DESEMBARGADOR CARLOS PIRES SOARES


NETO 2
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

superior a 30 (trinta) dias torna imperiosa a aplicação do concurso


material de delitos.

8. Entre os marcos interruptivos transcorreu o prazo necessário para se


reconhecer a extinção da punibilidade, em razão da prescrição
retroativa, na forma dos arts. 107, inciso IV; 110; 117, inciso IV; 119,
todos do Código Penal, de todos os crimes a que foram condenados
Wagner Canhedo Azevedo (arts. 109, inciso V, c/c art. 115, ambos do
CP) e a pessoa jurídica VIPLAN Viação Planalto Ltda. (arts. 114, inciso
I, do CP); bem como, tão somente, em relação aos delitos ocorridos em
04/10/2006, 19/04/2007 e 11/06/2007, praticados pelo réu Wagner
2º GRAU
Canhedo Azevedo Filho (arts. 109, inciso V, do CP). 9. Recursos
Tribunal de Justiça do Distrito
conhecidos. Federal e Territórios
Parcialmente provida aTJ-…
apelação da Defesa e provida a do
Ministério Público.
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Apelação 20090110037576APR

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 1ª TURMA CRIMINAL


do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, CARLOS
PIRES SOARES NETO - Relator, GEORGE LOPES - Revisor,
MARIO MACHADO - 1º Vogal, sob a presidência do Senhor
Desembargador GEORGE LOPES, em proferir a seguinte

decisão: REJEITAR AS PRELIMINARES. DECLARAR A


PRESCRIÇÃO DOS CRIMES IMPUTADOS A WAGNER
CANHEDO AZEVEDO E `A VIPLAN, E AQUELES
IMPUTADOS A WAGNER CANHEDO AZEVEDO FILHO, NOS
FATOS OCORRIDOS EM 04/10/2006, 19/04/2007 E
11/06/2007. PROVER A APELAÇÃO ACUSATÓRIA.
UNÂNIME.

, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasilia (DF), 9 de Agosto de 2018.

Documento Assinado Eletronicamente

CARLOS PIRES SOARES NETO

Relator
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Apelação 20090110037576APR

RELATÓRIO
2º GRAU
Os corréus WAGNER CANHEDO AZEVEDO, WAGNER CANHEDO
Tribunal de Justiça
AZEVEDOdo Distrito
FILHO Federal e Territórios
e VIPLAN VIAÇÃOTJ-…PLANALTO LTDA. foram
denunciados pelos crimes previstos no art. 54, § 2º, inciso V ( causar
poluição que resulta ou possa resultar em danos à saúde
humana, por lançar substâncias oleosas, em desacordo com
as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos ), e no §
3º ( não adotar, quando exigido pela autoridade competente,
medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental
grave ou irreversível ), c/c art. 2º ( diretor e administrador que
concorre para a prática dos crimes ou deixa de impedir a sua
prática, quando podia agir para evitá-la ) e 3º (
responsabilidade da pessoa jurídica ), todos da Lei nº
9.605/1998, conforme denúncia (fls. 2/2D), in verbis:

Entre 04.10.2006 e data que não se pode precisar, em períodos


ininterruptos, porém de ocorrência reiterada, na garagem da empresa
de transportes terrestres de passageiros denunciada, localizada na
SGVC/SUL Lotes 07 e 08 - Região Administrativa do SIA-DF, a
denunciada VIPLAN - VIAÇÃO PLANALTO LTDA. causou poluição e
impactos ao meio ambiente, com significativo potencial de dano à
saúde humana, pelo lançamento de efluentes oleosos derivados
de petróleo e águas residuárias em canal precário de
escoamento contíguo ao lote da empresa, o qual teve
destinação final o Córrego do Guará, corpo hídrico
contribuinte do Lago Paranoá . Assim agiu sem autorização da
Administração Pública e em desacordo com a Resolução CONAMA nº
20.

Os denunciados WAGNER CANHEDO AZEVEDO e WAGNER


CANHEDO AZEVEDO FILHO, respectivamente, presidente e diretor
administrativo-financeiro da empresa denunciada, contribuíram
para o evento criminoso na medida em que, cientes das
irregularidades ambientais e sanitárias, omitiram-se em
implementar solução definitiva e eficaz para impedir o
resultado danoso ao longo dos anos .
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2º GRAU
Apelação 20090110037576APR
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-…
Em 04.10.2006 , a vistoria da Secretaria de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos do Distrito Federal - SEMARH constatou "o
lançamento de efluentes contaminantes contendo relevantes
quantidades de derivados de petróleo (óleos e graxas lubrificantes), nas
galerias de águas pluviais" (fl. 77), os quais constituem elementos
tóxicos de elevado risco à saúde. Destacou o relatório que: "a empresa
VIPLAN, infratora contumaz, vem sendo autuada desde 31.03.1993
devido aos lançamentos dos efluentes contaminantes" (fl. 78). Foi
lavrado, então, o Auto de Infração nº 1195, com interdição parcial de
atividades da empresa.

Nesta ocasião, mesmo alertado pelos agentes fiscais, o denunciado


WAGNER CANHEDO FILHO, sócio-gerente da denunciada VIPLAN,
negou autorização de acesso dos fiscais à fonte causadora da infração
ambiental.

Durante vistoria realizada por analista pericial do MPDFT, em


19.04.2007 , foi constatado que as valas coletoras de águas pluviais
da garagem da denunciada VIPLAN, localizadas nas laterais do lote da
empresa, permaneciam impregnadas com resíduos oleosos (fls. 101-
102). Nesta ocasião, o denunciado WAGNER CANHEDO AZEVEDO
acompanhou a diligência.

Em 11.06.2007 , foi lavrado o Auto de Infração Ambiental nº 1616


da SEMARH/DF à sociedade empresária VIPLAN (fl. 140 do IP), em
razão do lançamento de efluentes líquidos oriundos do pátio da
garagem na galeria de águas pluviais. Atestou-se, nesta ocasião, ainda,
o não cumprimento de três

condicionantes da Licença de Operação nº 268/2006 (fl. 141). Em


23.02.2011 , em vistoria da Agência Reguladora de Águas do Distrito
Federal - ADASA, foi detectado lançamento irregular de águas
residuais, com indício de derivados de petróleo, em rede pública de
drenagem pluvial pela denunciada VIPLAN. Em razão disso, foi
emitido o Termo de Notificação de fl. 454.
2º GRAU
Novamente, em exame de local realizado em 13.04.2012 , o Instituto
Tribunal de Justiça do Distrito Federal
de Criminalística e Territórios
da PCDF constatou TJ-…
"a presença de óleo na boca de
lobo BLSG 1.1, proveniente da empresa Viação Planalto - VIPLAN",
além de água residuária ao longo
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Apelação 20090110037576APR

da vala improvisada próxima à garagem da pessoa jurídica denunciada,


entre o SGCV Sul e o SOF Sul, oriundo de sistemas coletores de águas
pluviais (fls. 332-345). Tal conclusão foi confirmada pelo Relatório de
Vídeo Inspeção nº 109, de 19.04.2012 - CONTER/NOVACAP, às fls.
346-368.

Registre-se que as águas pluviais, residuais e o óleo recolhidos nesse


trecho foram conduzidos sem tratamento e de forma precária à rede
pública de drenagem, com posterior lançamento no Córrego do Guará,
contribuinte do Lago Paranoá.

Tais atos causaram poluição aos corpos hídricos receptores, com dano
efetivo aos ecossistemas terrestres em que estão inseridos e dano
potencial à saúde humana.

Não há registro se foram interrompidos os lançamentos irregulares de


efluentes oleosos e de águas residuais pelos denunciados, nos citados
corpos hídricos (...)(grifo nosso).

Após instrução processual, o d. Juízo da 2ª Vara Criminal de Brasília


julgou procedente a pretensão deduzida na denúncia e condenou os
corréus pelas condutas tipificadas no art. 54, § 2º, inciso V ( cinco
vezes – art. 71 do CP) e no § 3º ( por uma vez ), c/c arts. 2º e 3º,
todos da Lei nº 9.605/1998. Ao réu WAGNER CANHEDO AZEVEDO
foi imposta a pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de reclusão,
mais 15 (quinze) dias-multa, no valor de 5 (cinco) salários
mínimos, conforme valor vigente quando dos delitos , a ser
cumprida em regime inicial aberto , substituída por duas penas
restritivas de direito , sendo uma pecuniária e outra a ser definida,
oportunamente, pelo Juízo de Execuções Penais (fls. 1208v/1209). A
2º GRAU
WAGNER CANHEDO AZEVEDO FILHO determinou-se a sanção de 1
Tribunal de Justiça
(um)do Distrito
ano Federal emeses
e 9 (nove) Territórios
de TJ-…
reclusão, mais 16 (dezesseis)
diasmulta, no valor de 5 (cinco) salários mínimos, no valor
previsto à época dos crimes , a ser cumprida em regime inicial
aberto , substituída por duas penas restritivas de direito , sendo
uma prestação de serviços à comunidade e outra a ser definida,
oportunamente, pelo Juízo de Execuções Penais (fls. 1209v/1210). Por
derradeiro, à pessoa jurídica VIPLAN VIAÇÃO PLANALTO LTDA. foi
cominada a sanção de 16 (dezesseis) dias-multa, sendo cada dia-
multa calculado à razão de
Fls. _____

Apelação 20090110037576APR

15 (quinze) salários mínimos no valor vigente à época do fato


(fls. 1210v).
A Defesa apelou da sentença condenatória (fls. 1225/1226). Nas razões
do recurso (fls. 1247/1317), argui, inicialmente, quatro preliminares de
nulidade. A primeira relativa à suposta incompetência do Juízo, sob o
argumento de que o Juizado Especial de Competência Geral do Guará
encontrava-se prevento para julgamento da presente ação. Isto porque
já havia analisado mesmo crime atribuído as pessoas de Dalmo Josué
do Amaral e Empresa Santo Antônio Transportes e Turismo Ltda.
(Proc. 2007.01.1.132960-0). A segunda preliminar, de inépcia da
denúncia, por considerar que a peça inaugural não observou os
requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal. No entender da
Defesa, a inicial apenas descreveu genericamente o crime, sem
individualizar a conduta criminosa atribuída a cada um dos corréus. A
terceira preliminar, de falta de justa causa para deflagração da ação
penal, alegando que não há prova material (perícia) acerca do efetivo
dano à saúde. A quarta preliminar tem a ver com alegada violação ao
princípio do juiz natural. Aduz a Defesa que nove juízes atuaram ao
longo da instrução processual, sendo que o magistrado prolator da
sentença somente participou da oitiva de uma única testemunha,
sendo, portanto, inapto para julgar o feito.
2º GRAU
Ultrapassadas as preliminares, invoca, ainda, a Defesa prejudicial ao
Tribunal de Justiça
mérito.doPretende
Distrito Federal e TerritóriosaTJ-…
ver reconhecida prescrição retroativa a extinguir a
pretensão punitiva. Neste ponto, salienta que o corréu Wagner
Canhedo Azevedo conta com mais de 79 (setenta e nove) anos de idade,
devendo o prazo prescricional ser reduzido em metade (art. 115 do
Código Penal).

Vencidas todas as teses anteriores, no mérito, a Defesa sustenta que os


corréus devem ser absolvidos, em face de insuficiência probatória.
Assevera que, pela teoria do domínio do fato, “não se pode admitir que
a autoria do suposto crime ambiental pelo simples fato de os réus
pertencerem ao corpo gerencial da empresa” (fl. 1257). Ademais, não
evidenciado que os corréus participaram diretamente dos crimes
denunciados e a perícia realizada pelos órgãos de fiscalização não
encontrou resíduos oleosos no córrego, o que foi corroborado pela
prova oral judicializada. Sustenta, ainda, que inexiste a omissão
caracterizadora do crime do art. 54, § 3º, da Lei nº 9.605/1998.

Por fim, no tocante à pena, requer a redução da pena-base ao mínimo


legal, considerando a favorabilidade das circunstâncias judiciais; o
afastamento da continuidade delitiva, aduzindo ser crime único; e a
minoração da pena pecuniária, proporcionalmente à sanção corporal.
O Ministério Público não apresentou contrarrazões formais (fls.
1318/1320).
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Apelação 20090110037576APR

Por outro lado, o Ministério Público também recorreu (fl. 1213) e, em


suas razões recursais (fls. 1213v/1218), pugna pela aplicação do
concurso material de crimes, ao invés da continuidade delitiva.
Fundamenta que não preenchido o requisito temporal, tendo em vista
que houve grande espaçamento de tempo entre cada um dos crimes.
Contrarrazões da Defesa (fls. 1222/1224), pela manutenção da r.
sentença recorrida.
A d. Procuradoria de Justiça Criminal (fls. 1330/1376) manifestou-se
pelo conhecimento de ambos os recursos. No tocante às razões
recursais da Defesa , apregoa: a) o acolhimento parcial da
2º GRAU
prejudicial de prescrição em relação a todos crimes a que foram
Tribunal de Justiça do Distrito
condenados o réuFederal
Wagnere Territórios
CanhedoTJ-…
Azevedo e a ré VIPLAN LTDA., e,
apenas em relação aos delitos ocorridos em 04/10/2006, 19/04/2007 e
11/06/2007 que incorreu Wagner Canhedo Azevedo Filho; b) a rejeição
das demais preliminares invocadas; e c) no mérito, o desprovimento do
apelo. Concernente à apelação manejada pelo Ministério
Público , posicionou-se pelo conhecimento e provimento ,
aplicando-se o concurso material de crimes, afastando-se a
continuidade delitiva.
É o relatório.
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Apelação 20090110037576APR

VOTOS

O Senhor Desembargador CARLOS PIRES SOARES NETO -


Relator

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço de ambos os


recursos.

Consta dos autos que os corréus foram denunciados (fls. 2/2D) pela
prática de crimes contra o meio ambiente consistentes no
lançamento de rejeitos oleosos derivados de petróleo e de águas
residuárias contaminadas com a referida substância, em canal precário
de escoamento contíguo ao lote da empresa VIPLAN Viação Planalto
Ltda., em decorrência da atividade-fim praticada por esta (transporte
coletivo e terrestre de passageiros). Tais agentes contaminantes
tiveram como destinação final o Córrego do Guará, contaminando esse
corpo d'água.

A conduta na qual incorreram os corréus, tipificada no art. 54, § 2º,


inciso V, da Lei nº 9.605/1998 , teve início em 04/10/2006 e foi
reiterada em 19/04/2007, 11/06/2007, 23/02/2011 e
13/04/2012 , totalizando, assim, cinco crimes . Também
incorreram, no tipo penal omissivo previsto no art. 54, § 3º, da Lei
nº 9.605/1998 , quando, em 11/06/2007 , ao serem cientificados do
Auto de Infração Ambiental nº 1616 - SEMARH/DF, em razão do
2º GRAU
lançamento de efluentes líquidos oriundos do pátio da garagem na
Tribunal de Justiça
galeriadodeDistrito
águasFederal e Territórios
pluviais, TJ-… as medidas exigidas na Licença
não adotaram
de Operação nº 268/2006, a fim de evitar e/ou corrigir o dano
ambiental que reiteradamente causaram.

Os corréus WAGNER CANHEDO AZEVEDO e WAGNER CANHEDO


AZEVEDO FILHO concorreram como coautores em tais crimes por se
tratarem de diretores/administradores , na forma do art. 2º da
Lei nº 9.605/1998 [1] , os quais tinham o dever legal de impedir a
prática dos aludidos delitos. De igual sorte, também é penalmente
responsável a pessoa jurídica VIPLAN VIAÇÃO PLANALTO LTDA., a
teor do art. 3º da referida legislação [2].

Após toda a instrução processual, os denunciados foram condenados


pela prática dos crimes previstos no art. 54, § 2º, inciso V (por 5 vezes -
continuidade delitiva) ( causar poluição pelo lançamento de
resíduos ), e no § 3º (por uma vez) ( deixar de adotar, quando
exigidas, medidas de precaução em caso de risco de dano
ambiental grave ou irreversível ), c/c art. 2º ( diretor e
administrador que concorre para a prática dos crimes ou
deixa de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-
la ) e 3º ( responsabilidade da pessoa jurídica ), todos da Lei
Federal nº 9.605/1998.

Ao réu WAGNER CANHEDO AZEVEDO foi imposta a pena de 1


Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

(um) ano e 6 (seis) meses de reclusão, mais 15 (quinze) dias-


multa, no valor de 5 (cinco) salários mínimos, conforme
valor vigente quando dos delitos , a ser cumprida em regime
inicial aberto , substituída por duas penas restritivas de
direito . A WAGNER CANHEDO AZEVEDO FILHO determinou-se a
sanção de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de reclusão, mais 16
(dezesseis) dias-multa, no valor de 5 (cinco) salários
mínimos, no valor previsto à época dos crimes , a ser cumprida
em regime inicial aberto , substituída por duas penas
restritivas de direito . E, à pessoa jurídica VIPLAN VIAÇÃO
2º GRAU
PLANALTO LTDA. foi cominada a sanção de 16 (dezesseis) dias-
Tribunal de Justiça
multa, dosendo
Distrito cada
Federaldia-multa
e Territórioscalculado
TJ-… à razão de 15 (quinze)
salários mínimos no valor vigente à época do fato .

1. RECURSO DA DEFESA
1. 1. DA PRELIMINAR DE NULIDADE: INCOMPETÊNCIA DO
JUÍZO

A Defesa inicia as razões de seu inconformismo ao arguir a preliminar


de incompetência do Juízo. Argumenta que o Juizado Especial de
Competência Geral do Guará encontrava-se prevento para o
julgamento da presente ação, tendo em vista que, anteriormente, já
havia analisado o mesmo crime atribuído a Dalmo Josué do Amaral e a
Empresa Santo Antônio Transportes e Turismo Ltda. (Proc.
2007.01.1.132960-0).

Idêntica tese já havia sido ventilada pela Defesa (fls. 626/658 e


664/680) e plenamente refutada na instância originária (fls. 721/722),
em fundamentos que persistem.

Primeiro, os corréus não estão sendo penalmente processados pelo


mesmo crime em que incorreu Dalmo Josué do Amaral e a pessoa
jurídica Empresa Santo Antônio Transportes e Turismo Ltda., da qual
aquele era o responsável. Às fls. 486/490 verifica-se que àqueles foi
imputada a conduta criminal culposa tipificada no art. 54, § 1º,
da Lei nº 9.065/1998 [3] , e que culminou com a extinção da
punibilidade em razão da prescrição retroativa para o diretor, bem
como transação penal para a pessoa jurídica.

Assim, diversamente do que quer levar a crer a Defesa, não configurada


a suscitada prevenção, quando os casos indicados se tratam de fatos
totalmente diversos e não guardam nenhuma conexão entre si, além de
serem de competência de Juízos diversos.
No presente caso, a denúncia (fls. 2/2D) atribuiu aos corréus a prática
de crimes dolosos apenados com sanção superior a quatro anos
de reclusão (art. 54, § 2º, inciso V, e § 3º, c/c art. 2º e 3º, todos da
Lei Federal nº 9.605/1998). Por não se tratarem de "infrações
penais de menor potencial
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Apelação 20090110037576APR
2º GRAU
ofensivo , (...) a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois)
Tribunal de Justiça
anos, do Distrito Federal
cumulada ou não ecom
Territórios TJ-… 61 na Lei nº 9.099/1995),
multa"(art.
inviável que o feito seja julgado pelo Juizado Especial de
Competência Geral do Guará .

Coaduno, também, com a argumentação lançada no parecer da i.


Procuradoria de Justiça, in verbis:

Demais disso, a discussão quanto ao correto enquadramento da


conduta dos réus (se doloso ou culposa) é matéria que corresponde ao
mérito processual, sendo que, para fins de análise quanto à
competência do órgão jurisdicional, basta que o Ministério Público faça
o endereçamento da exordial acusatória e a narrativa da denúncia
corrobore essa opção. Logo, com base na teoria da asserção, se da
leitura da denúncia, o Magistrado destinatário verificou que se tratava
de uma narrativa que contemplava infrações penais de competência da
Justiça do Distrito Federal, cujas sanções superam a 2 anos de pena
privativa de liberdade, bem como ocorridas em localidade sob a
jurisdição da Circunscrição Judiciária de Brasília, correta a decisão de
recebimento e consequente fixação da competência perante a 2ª Vara
Criminal de Brasília. (fl. 1340).

Rejeitada, então, a preliminar de incompetência do Juízo.


1. 2. DA PRELIMINAR DE NULIDADE: INÉPCIA DA
DENÚNCIA

A segunda preliminar suscitada pela Defesa versa sobre a alegação de


inépcia da denúncia, por considerar que não observou os requisitos do
art. 41 do Código de Processo Penal. Aduz que o crime imputado aos
corréus foi descrito genericamente, sem a individualização da conduta
atribuída a cada um deles.

Contudo, não lhe assiste razão.

O aludido dispositivo estabelece os requisitos a serem observados na


elaboração da inicial acusatória, verbis:
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Apelação 20090110037576APR
2º GRAU
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso,
Tribunal de Justiça do Distrito
com todas Federal e Territórios
as circunstâncias, TJ-…
a qualificação do acusado ou
esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do
crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

Diferentemente do pregado pela Defesa, a denúncia (fls. 2/2D) expôs


suficientemente os fatos criminosos, com todas as circunstâncias em
que ocorreram e com a indicação dos réus como supostos autores dos
fatos, além de classificar os delitos, com o que estão devidamente
preenchidos os requisitos legais do art. 41 do Código de Processo Penal.

Assim, plenamente salvaguardado o exercício da ampla defesa e do


contraditório.

Outrossim, depreende-se da análise dos autos que a Defesa já havia


levantado a mesma preliminar, a qual foi rejeitada pelo Juízo a quo em
duas oportunidades (fls. 721/722 e 1200/1211), in litteris:

Quanto à eventual inépcia da denúncia, é cediço que nos crimes


ambientais e societários, em que a responsabilidade é da pessoa
jurídica e dos seus administradores, a jurisprudência pátria tem
abrandado a exigência de descrição pormenorizada da conduta
praticada. Nesse diapasão, entendo que da simples leitura da peça
acusatória, observa-se que a conduta imputada pela acusação está clara
e suficientemente descrita, o quadro fático está em conformidade com
os elementos de prova carreados nos autos, além de contar a indicação
dos réus como autores do fato, suas qualificações e o tipo penal da
conduta perpetrada, permitindo o exercício pleno do contraditório e da
ampla defesa. Presente, portanto, os requisitos do artigo 41 de Código
Processo Penal, motivo pelo qual rejeito a preliminar de inépcia (fl.
722).
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR
2º GRAU
Também não há como prosperar a alegação de que a exordial não
Tribunal de Justiça do Distrito
individualiza Federal ede
a conduta Territórios
cada umTJ-…
dos corréus - os dois responsáveis
pela empresa, bem como esta, a pessoa jurídica.

Nos crimes em que a autoria é exercida em concurso de pessoas, nas


hipóteses em que for impossível a identificação completa da ação ou
omissão de cada um dos acusados na infração penal, como na espécie,
tem-se admitido a denúncia que demonstra o liame subjetivo entre
eles, especifica os fatos e todas as suas circunstâncias de relevo, de
sorte a permitir o exercício da ampla defesa.
Confira-se a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, neste
mesmo prisma:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO


QUALIFICADO. INÉPCIA DA DENÚNCIA. AUSÊNCIA DE
INDIVIDUALIZAÇÃO DA CONDUTA DO ACUSADO. PEÇA
INAUGURAL QUE ATENDE AOS REQUISITOS LEGAIS EXIGIDOS E
DESCREVE CRIMES EM TESE. AMPLA DEFESA GARANTIDA.
MÁCULA NÃO EVIDENCIADA. 1. Não pode ser acoimada de inepta a
denúncia formulada em obediência aos requisitos traçados no artigo 41
do Código de Processo Penal, descrevendo perfeitamente a conduta
típica, cuja autoria é atribuída ao recorrente devidamente qualificado,
circunstâncias que permitem o exercício da ampla defesa no seio da
persecução penal, na qual se observará o devido processo legal. 2. Nos
chamados crimes de autoria coletiva, embora a vestibular
acusatória não possa ser de todo genérica, é válida quando,
apesar de não descrever minuciosamente as atuações
individuais dos acusados, demonstra um liame entre o seu
agir e a suposta prática delituosa, estabelecendo a
plausibilidade da imputação e possibilitando o exercício da
ampla defesa. Precedentes. (...) 6. Recurso desprovido. (RHC
91.141/DF, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado
em 22/03/2018, DJe 02/04/2018 - grifo nosso).
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR
2º GRAU
Esta Corte perfilha o mesmo entendimento:
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-…

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME AMBIENTAL. ART. 48. CAPUT DA


LEI 9605/98. PRELIMINAR. INÉPCIA DA DENÚNCIA. REJEITADA.
(...) 1. Não há que se falar em inépcia da inicial acusatória se esta
contempla a exposição do fato criminoso, com as suas circunstâncias,
consoante dispõe o art. 41 do Código de Processo Penal, não restando
demonstrado qualquer prejuízo ao contraditório e à ampla defesa (...)
7. Recurso conhecido. Parcial provimento. (Acórdão n. 990430,
20080111441765APR, Relator: DEMETRIUS GOMES CAVALCANTI 3ª
TURMA CRIMINAL, Data de Julgamento: 26/01/2017, publicado no
DJE: 03/02/2017. Pág.: 275/285);

APELAÇÕES CRIMINAIS. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA ARMADA COM


PARTICIPAÇÃO DE ADOLESCENTE. PRELIMINAR. DENÚNCIA
GERAL. POSSIBILIDADE (...). I. No delito de associação criminosa, é
permitida a denúncia geral, em que, apesar de não detalhar as ações
imputadas a cada um dos denunciados, demonstra a ligação entre os
comportamentos e os fatos delitivos, bem como delimita a atuação de
cada um no grupo. Não se confunde com denúncia genérica, vedada no
processo penal, por não descrever o nexo de imputação. (...) IX. Parcial
provimento aos recursos para reduzir as penas. (Acórdão n. 1086915,
20120310250988APR,
Relator: SANDRA DE SANTIS, Revisor: ROMÃO C. OLIVEIRA, 1ª
TURMA CRIMINAL, Data de Julgamento: 05/04/2018, publicado no
DJE: 09/04/2018. Pág.: 92/97).

Dessa forma, não se vislumbra qualquer nulidade na peça acusatória,


não sendo hipótese de inépcia, com o que deve ser repelida a
preliminar suscitada.

1. 3. DA PRELIMINAR DE NULIDADE: FALTA DE JUSTA


CAUSA PARA AÇÃO PENAL
Fls. _____

Apelação 20090110037576APR
2º GRAU
A terceira preliminar arguida pela Defesa se refere à suposta falta de
Tribunal de Justiça do Distrito
justa causa paraFederal e Territórios
deflagração da açãoTJ-…
penal. Neste ponto, alega ser
imprescindível a existência de perícia específica que demonstre, sem
sombra de dúvida, que a conduta criminosa imputada aos corréus
gerou efetivamente dano à saúde para pessoas e/ou a destruição da
flora e fauna existentes na região do Córrego do Guará.

Anteriormente a Defesa já havia arguido essa mesma preliminar de


nulidade (fls. 626/658 e 664/680), que findou por ser rechaçada pelo
Juízo originário (fls. 721/722 e 1205), em fundamentos que subsistem:

Ademais, não assiste razão à tese defensiva de atipicidade da conduta


pela inexistência de prova pericial para a comprovação do elemento
normativo do tipo previsto no art. 54, "caput", da Lei 9.605/98, qual
seja causar poluição de qualquer natureza "em níveis tais que resultem
ou possam resultar em danos à saúde humana" , tendo em vista que o
Laudo Pericial (fl. 335/336) deixa claro que "O lançamento de águas
residuárias e derivados de petróleo em redes de águas pluviais causa
poluição e danos aos corpos hídricos receptores e aos ecossistemas
terrestres em que estão inseridos" , bem como destaca que "As águas
pluviais, residuárias e o óleo recolhido no trecho em tela do SGCV Sul
são conduzidos sem tratamento para os dois canais de parede de terra
examinados que se ligavam de forma precária a uma rede de águas
pluviais , para posterior lançamento no Córrego do Guará, contribuinte
do Lago Paranoá. O Lago Paranoá é atualmente utilizado para
atividades de lazer, aquáticas e pesca comercial (...)".

Ora, a conduta típica prevista no art. 54, da Lei 9.605/98 prevê que a
poluição causada pelo agente deve resultar ou ter a potencialidade de
resultar danos à saúde humana ou a mortalidade de animais ou a
destruição significativa da flora. Com efeito, conclui-se que o laudo
pericial supracitado atesta que as condutas dos denunciados
foram suficientes para causar, ainda que potencialmente,
prejuízo à saúde das pessoas, a mortalidade de animais e a
destruição
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR
2º GRAU
significativa da flora .
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-…
A ausência de indicação do efetivo dano à saúde das pessoas não
implica o reconhecimento de falta de justa causa, porquanto a conduta
tipificada no art. 54 da Lei n. 9605/98 se trata de crime formal,
que não exige resultado naturalístico . Havendo nos autos
laudo pericial que atestou que a conduta praticada era
suficiente para causar ou potencialmente poderia
determinar prejuízo à saúde das pessoas, afigura-se presente
a justa causa para a ação penal . (RMS 50.393/PA, Rel. Ministro
FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 12/09/2017, DJe
20/09/2017) (fl. 1205 - grifo nosso).

Nesta toada, a justa causa para a propositura da ação penal, seja ela
pública ou privada, se manifesta por elementos da materialidade do
delito e indícios de quem seja o seu autor. No caso dos autos, contra os
corréus são imputadas as condutas tipificadas no art. 54, § 2º, inciso V,
e no § 3º, c/c art. 2º e 3º, todos da Lei nº 9.605/1998, litteris:

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que


resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que
provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da
flora:

§ 2º Se o crime:
(...)

V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou


detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências
estabelecidas em leis ou regulamentos:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem


deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente,
medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou
irreversível.
Fls. _____
2º GRAU
Apelação 20090110037576APR
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-…
Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes
previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da
sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de
conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou
mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de
outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-
la. Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa,
civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a
infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou
contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua
entidade.

A própria descrição do tipo penal não deixa dúvida se tratar de crime


formal , ao mencionar que incorre no crime quem "causar poluição de
qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar
em danos à saúde humana". Estar-se diante de crime de perigo
abstrato , que independe, por consectário, de resultado naturalístico.
Basta a indicação da potencialidade lesiva da conduta , sendo,
portando, desnecessária a comprovação efetiva do dano à saúde das
pessoas e dos animais que tem acesso ao Córrego Guará ou a
destruição da flora ciliar a esse corpo de água.
Destaca-se julgado do C. Superior Tribunal de Justiça, seguido por este
e. Tribunal de Justiça, no sentido de que o crime em apuração é de
perigo abstrato , sendo suficiente a mera possibilidade de resultar
em dano à saúde humana ou animal para configurar o tipo penal. In
verbis:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME


AMBIENTAL. PRINCÍPIOS DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL E DA PREVENÇÃO. POLUIÇÃO MEDIANTE
LANÇAMENTO DE DEJETOS PROVENIENTES DE SUINOCULTURA
DIRETAMENTE NO SOLO EM DESCONFORMIDADE COM LEIS
2º GRAU
AMBIENTAIS. ART. 54, § 2º, V, DA LEI N. 9.605/1998. CRIME
Tribunal de Justiça
FORMAL.do Distrito Federal e Territórios
POTENCIALIDADE TJ-… DE CAUSAR DANOS À
LESIVA
SAÚDE
Fls. _____

Apelação 20090110037576APR

HUMANA EVIDENCIADA. CRIME CONFIGURADO. AGRAVO


REGIMENTAL PROVIDO. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. I. Os
princípios do desenvolvimento sustentável e da prevenção, previstos no
art. 225, da Constituição da Republica, devem orientar a interpretação
das leis, tanto no direito ambiental, no que tange à matéria
administrativa, quanto no direito penal, porquanto o meio ambiente é
um patrimônio para essa geração e para as futuras, bem como direito
fundamental, ensejando a adoção de condutas cautelosas, que evitem
ao máximo possível o risco de dano, ainda que potencial, ao meio
ambiente. II. A Lei n. 9.605/1998, ao dispor sobre as sanções penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente e dar outras providências, constitui um divisor de águas em
matéria de repressão a ilícitos ambientais. Isto porque ela trouxe um
outro viés, um outro padrão de punibilidade em matéria de crimes
ambientais, trazendo a figura do crime de perigo . III. O delito
previsto na primeira parte do art. 54, da Lei n. 9.605/1998, possui
natureza formal, porquanto o risco, a potencialidade de dano
à saúde humana, é suficiente para configurar a conduta
delitiva, não se exigindo, portanto, resultado naturalístico .
Precedente. IV. A Lei de Crimes Ambientais deve ser interpretada à luz
dos princípios do desenvolvimento sustentável e da prevenção,
indicando o acerto da análise que a doutrina e a jurisprudência tem
conferido à parte inicial do artigo 54, da Lei n. 9.605/1998, de que a
mera possibilidade de causar dano à saúde humana é idônea
a configurar o crime de poluição, evidenciada sua natureza
formal ou, ainda, de perigo abstrato . V. Configurado o crime de
poluição, consistente no lançamento de dejetos provenientes da criação
de cerca de dois mil suínos em sistema de confinamento em 3 (três)
pocilgas verticais, despejados a céu aberto, correndo por uma vala que
os levava até às margens do Rio do Peixe, situado em área de
2º GRAU
preservação permanente, sendo a atividade notoriamente de alto
Tribunal de Justiça do Distrito
potencial Federal
poluidor, e Territóriossem
desenvolvida TJ-…o devido licenciamento
ambiental, evidenciando a potencialidade do
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

risco à saúde humana. VI. Agravo regimental provido e recurso especial


improvido, restabelecendo-se o acórdão recorrido. (STJ - AgRg no
REsp 1418795/SC, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Rel. p/
Acórdão Ministra REGINA HELENA COSTA, QUINTA TURMA,
julgado em 18/06/2014, DJe 07/08/2014 - grifo nosso);

PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME AMBIENTAL. REJEIÇÃO


DA DENÚNCIA. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. INDÍCIOS SUFICIENTES. PROVIMENTO. 1. Havendo
indícios sobre a tipicidade penal em matéria ambiental, interpretada de
forma diversa dos parâmetros do direito comum, dirá o Juiz do
Conhecimento quando da prolatação da sentença. 2. Recurso provido.
(TJDFT - Acórdão n. 1040678, 20170110018456RSE,
Relator: JOÃO TIMÓTEO DE OLIVEIRA 2ª TURMA CRIMINAL, Data
de Julgamento: 17/08/2017, Publicado no DJE: 22/08/2017. Pág.:
161/169).

No Informativo nº 624/STJ, publicado em 18/05/2018, noticiou-se


que a 3ª Seção do c. Superior Tribunal de Justiça, ao julgar, à
unanimidade, o EREsp 1.417.279-SC, da relatoria do Min. Joel Ilan
Paciornik, entendeu que o delito previsto no art. 54 da Lei nº
9.605/1998 possui natureza formal, sendo suficiente a
potencialidade de dano à saúde humana para configuração
da conduta delitiva, não se exigindo, portanto, resultado
naturalístico e, consequentemente, a realização de perícia .

No caso em apreço, o laudo pericial técnico de fls. 332/336 consignou:


2º GRAU
(...) A coleta e o lançamento de água pluviais e residuárias são
Tribunal de Justiça do Distrito
atividades Federalque
poluidoras e Territórios
demandam TJ-…licenciamento ambiental e
outorga dos órgãos competentes. O lançamento direto de
derivados de petróleo em redes de água, esgoto e corpos
hídricos causa poluição e não encontra base legal na legislação
brasileira. A Lei nº 6.938/1981 (artigo 3º) entende
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

que a poluição degrada a qualidade ambiental, prejudica a


saúde, a segurança e o bem estar da população, criam
condições adversas às atividades social e econômicas , entre
outros (...) (fl. 335 - grifo nosso).

Então, devidamente evidenciada a justa causa para a persecução penal,


mediante o recebimento da inicial acusatória, diante da demonstração
da materialidade dos crimes e dos indícios suficientes de sua autoria,
revelando elevada ofensividade das condutas atribuídas aos corréus.

Nota-se que a questão de fundo que paira sobre a alegação de falta de


justa causa para instauração da ação penal versa, mais
apropriadamente, ao mérito recursal, que melhor será tratada
oportunamente.
Rejeita-se, assim, a preliminar de nulidade por alegada ausência de
justa causa.

1. 4. DA PRELIMINAR DE NULIDADE: OFENSA AO


PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ

A quarta preliminar trazida à baila pela Defesa, tem a ver com a


alegada violação ao princípio do juiz natural. Aduz que nove juízes
atuaram ao longo da instrução processual, sendo que o magistrado
prolator da sentença somente participou da oitiva de uma única
testemunha, sendo, portanto, inapto para julgar o feito.
É assente na jurisprudência que é a data da conclusão para sentença
o marco que define a vinculação do juiz que presidiu a audiência
de instrução e julgamento. Logo, se o juiz que presidiu a última
audiência de instrução estiver designado para outro Juízo ou
2º GRAU
estiver afastado, por motivo legal, na data da conclusão para sentença,
Tribunal de Justiça do Distrito
este decisum Federal
deverá sereproferido
Territórios pelo
TJ-… magistrado que estiver em
exercício no Juízo, seja ele titular ou substituto.
O mencionado princípio, extraído do art. 399, § 2º, do Código de
Processo Penal, não comporta interpretação absoluta, mas sim relativa,
devendo a parte que invocar sua violação comprovar efetivo
prejuízo , nos moldes do princípio pas de nullité sans grief.

Nessa linha, deveria o apelante descrever de forma clarividente o


prejuízo experimentado. Entretanto, não o fez a contento. Limita-se a
afirmar que "o último Juiz, a realizar a última instrução, proferiu
sentença e não analisou as provas dos autos, ignorando todas as provas
existentes que corroboram as alegações dos
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

recorrentes, no sentido de que não agiram com dolo" (fl. 1280). A


seguir, nas razões do inconformismo, a Defesa transcreve toda prova
oral colhida durante a instrução processual (fls. 1282/1299).

Carece de razão a Defesa.

Na hipótese dos autos, a denúncia foi recebida, parcialmente, em


19/12/2014 (fls. 519/520) e, depois, integralmente, em 10/06/2015 (fl.
594). Desde essa data (2015), ao menos, sete juízes deste e. Tribunal de
Justiça presidiram as oito audiências de instrução (fls. 768, 809, 828,
889, 916, 1007, 1042 e 1085), sem contar os outros três magistrados de
outras circunscrições que atuaram na forma de cartas precatórias (fls.
938, 947/948 e 1057).

Não obstante a sucessão de magistrados que operaram ao longo da


complexa instrução processual, os quais, em sucessão, foram se
afastando daquela circunscrição por motivos legais, o julgador
togado que presidiu a última audiência de instrução, o MM.
Juiz André Ferreira de Brito (fl. 1085), foi quem sentenciou o
feito (fls. 1200/1211), por ser competente para tal ato, em fiel
cumprimento ao § 2º do art. 399 do Código de Processo Penal
. Ao proferir a sentença, o magistrado analisou todos os depoimentos
colhidos sob o crivo do contraditório, porque, assim como a Defesa,
2º GRAU
teve pleno acesso às mídias acostadas aos autos (fls. 769, 810, 829,
Tribunal de Justiça do Distrito
890, 917, Federal
939, 949, 1058 e Territórios TJ-…quais foram gravadas, em
e 1090), nas
recurso audiovisual, as declarações de todas as testemunhas, tanto as
arroladas pelo Ministério Público, como as indicadas pela Defesa.

Além disso, o MM. Juiz André Ferreira de Brito acompanhou a


apresentação das alegações finais de ambas as partes (fls. 1151/1159 e
1165/1198), exercendo a atribuição plena no Juízo de origem.
Não se divisa, pois, prejuízo à Defesa, tampouco lesão ao devido
processo legal.

Sobre o tema, assim tem se posicionado essa e. Corte de Justiça:

PENAL E PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. RECEPTAÇÃO


SIMPLES. PRELIMINAR DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ REJEITADA. (...) 1. Rejeita-se a
preliminar de nulidade por suposta ofensa ao princípio da identidade
física do juiz, se o juiz substituto da vara sentenciou o feito, uma vez
que se encontrava legalmente designado para exercer essas atribuições,
bem como realizou a
Fls. _____

Apelação 20090110037576APR

última audiência de instrução do processo. (...) 7. Apelação conhecida,


preliminar rejeitada e, no mérito, parcialmente provida. (Acórdão n.
978188, 20150310019997APR, Relator: JOÃO BATISTA TEIXEIRA,
Revisor: JESUÍNO RISSATO, 3ª TURMA CRIMINAL, Data de
Julgamento: 03/11/2016, Publicado no DJE: 09/11/2016. Pág.:
123/136);

PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. APROPRIAÇÃO


INDÉBITA MAJORADA. NULIDADE DA SENTENÇA. PRINCÍPIO DA
IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ. NULIDADE INEXISTENTE. O
magistrado que sentenciou o feito presidiu a última audiência de
instrução criminal, realizando a oitiva de testemunha e acompanhando
2º GRAU
a apresentação das alegações finais orais das partes, razão pela qual
Tribunal de Justiça
não hádoque
Distrito
falarFederal e Territórios
em cassação TJ-…
da sentença pela aplicação do princípio
da identidade física do juiz. (Acórdão n. 957725, 20100110636548APR,
Relator: ESDRAS NEVES, Revisor: ROMÃO C. OLIVEIRA, 1ª TURMA
CRIMINAL, Data de Julgamento: 28/07/2016, Publicado no DJE:
02/08/2016. Pág.: 191/197).

Insta ressaltar, ainda, as ponderações exaradas no parecer da i.


Procuradoria de Justiça, as quais peço vênia para transcrever:

(...) a alegação da Defesa chega a ser tão absurda que, se fosse possível
dar azo a ela, importaria no reconhecimento de uma espécie de
vinculação absoluta do magistrado a determinado processo, de forma
que o juiz que presidir a primeira audiência de instrução estaria
vinculado às demais, que não poderia ser presidida por nenhum outro.

E, no caso destes autos, que teve a denúncia recebida em


dezembro de 2014 e teve a instrução encerrada apenas em
outubro de 2017, perfeitamente natural que mais de um
magistrado tenha oficiado no feito ao longo desse tempo,
pois, em quase 3 (três) anos de trâmite processual na 2ª
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

Vara Criminal de Brasília, é certo que o titular do Juízo


esteve de férias, licenças provavelmente lhes foram
concedidas, bem como outras formas de afastamento
legalmente previstas se efetivaram .

Tudo isso justifica e autoriza que as audiências tenham sido


conduzidas por juízes diversos (fls. 1348/1349 - grifo nosso).

Desta feita, não há ofensa ao princípio da identidade física do juiz, com


o que se repulsa a preliminar suscitada, prosseguindo-se na análise da
prejudicial ao mérito.
2º GRAU
2. DO MÉRITO: INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-…
Deve ser analisada em primeiro lugar a tese absolutória ventilada pela
Defesa por ser prejudicial ao exame da extinção da punibilidade, em
face da prescrição retroativa.

Neste ponto, a Defesa entende ser o caso de absolvição por


insuficiência probatória. Assevera que, pela teoria do domínio do fato,
"não se pode admitir que a autoria do suposto crime ambiental pelo
simples fato de os réus pertencerem ao corpo gerencial da empresa" (fl.
1257). Ademais, alega não estar evidenciado que os corréus
participaram diretamente dos crimes denunciados e a perícia realizada
pelos órgãos de fiscalização não encontrou resíduos oleosos no córrego,
o que foi corroborado pela prova oral judicializada.

Entretanto, sem qualquer razão à Defesa.

Os crimes ambientais pelos quais foram denunciados os corréus


culminaram com a perturbação do equilíbrio ecológico do Córrego
Guará. Necessário tecer algumas linhas sobre a importância desse
corpo hídrico para essa Capital, de sorte a medir a extensão e a
gravidade da conduta praticadas pelos corréus.

O Córrego Guará possui cerca de 6,13 km de extensão, sendo


abastecido por outras nascentes existentes na Reserva Ecológica do
Guará, esta criada pelo Decreto Distrital nº 11.262, de 16/09/1988
(DODF nº 180, págs. 1-2), compreendendo área de 194 (cento e
noventa e quatro) hectares, com espécies nativas do cerrado. Esse
córrego passa seu curso sobre a área compreendida entre a Estrada
Parque Indústria e Abastecimento (EPIA - DF 003) e a Estrada Parque
Aeroporto (EPAR), pouco após sua confluência com o córrego Riacho
Fundo, e, posteriormente, deságue no Lago Paranoá [4] .
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

Inegável a importância da Reserva Ecológica Guará, batizada por


Parque Ecológico Ezechias Heringer, por se tratar de Unidade de
Conservação APA (Área de Proteção Ambiental) do Planalto Central,
abrigando centenas de espécies de plantas, entre árvores, arbustos,
flores, trepadeiras e cerca de 100 espécies de orquídeas catalogadas.
2º GRAU
Tal parque ostenta atributos ambientais sensíveis como nascentes, o
Tribunal de Justiça
córregodoobjeto
Distritoda
Federal e Territórios
presente TJ-… espécies endêmicas, contando
ação e várias
com densa mata de galeria cerrado típico, que protege os recursos
hídricos do local[5].
É sabido que a drenagem do Córrego Guará já está, de certo modo,
comprometida em razão das ocupações já existentes ao redor da bacia,
com destaque às cidades do Guará I e II e ao Setor de Indústria e
Abastecimento. Além desse comprometimento urbano, do qual não há
como escapar, o córrego não ostenta condições de receber efluentes,
tratados ou não, diante da carência de unidade de tratamento de água
no local. Em havendo ação contaminante em tal corpo d'água, os danos
teriam impactos tanto na população que vive às suas margens, como no
Lago Paranoá, que recepciona suas águas[6].

Feitas essas considerações iniciais, acerca da importância de proteção


do Córrego Guará, para a vida sustentável nessa Capital, passa-se ao
exame das provas dos autos, a testificarem a materialidade dos crimes
denunciados e a autoria atribuída aos corréus.

Primeiro, a materialidade dos delitos é facilmente extraída pelo acervo


documental acostado aos autos.

O Relatório de Vistoria nº 248/2005, datado de 25/11/2005, elaborado


pela Divisão de Perícias Externas do Ministério Público do
Distrito Federal (fls. 12/14), constatou, por meio de inspeção
robotizada , que havia lançamento de esgoto e resíduos de
petróleo no Córrego Guará em duas valas, improvisadas,
existentes na área divisa entre a Companhia Urbanizadora da Nova
Capital do Brasil (Novacap) e o Setor de Oficinas Sul (SOF Sul). Na
nota de esclarecimento, o Relatório Técnico nº 276/2005, de
16/12/2005, há informação de que o "lançamento de óleo na rede de
drenagem [é] originário da empresa VIPLAN" (fl. 18). As valas
mencionadas nos relatórios encontram-se fotografadas às fls. 8/9 e
15/16.

No croqui de fl. 118 é possível visualizar, com nitidez, a localização da


empresa VIPLAN e sua proximidade com o Córrego Guará.
2º GRAU
Em 08/05/2006, a Companhia de Saneamento Ambiental do
Tribunal de Justiça do Distrito
Distrito Federal Federal e Territórios
(CAESB), TJ-…nº 89/06-PRS (fl. 26), comunica
na carta
que, após vistoriar o local, comprovou que a empresa VIPLAN
era uma das responsáveis
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

pelo lançamento de derivados de combustível nas valas


acima mencionadas . No mesmo sentido e solicitando a adoção de
medidas urgentes cabíveis, está o ofício nº 349/2006 da Novacap
encaminhado à Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do
Distrito Federal (SEMARH) (fl. 74). Tal documento é instruído com a
Vistoria nº 286/2006, realizada em 04/10/2006 , que verifica a
presença de "lançamento de efluentes contaminantes contendo
relevantes quantidades de derivados de petróleo (óleos e graxas
lubrificantes), nas galerias de águas pluviais (NOVACAP), em vala a
céu aberto, e em rede de esgoto (CAESB)" (fl. 77), salientando que
"a empresa VIPLAN, infratora contumaz, vem sendo autuada
desde 31 de março de 1993, devido aos lançamentos dos
efluentes contaminantes" (fl. 78). Ao periciarem a referida
empresa, ora corré, visualizaram "dois sistemas separadores de
água/óleo", mas que "não cumpriam sua função" (fl. 78), pois
estavam "abandonados, destampados, impregnados de óleo,
com a caixa coletora de óleo transbordando, ocasionando a
passagem de grandes volumes de óleo para a galeria de águas
pluviais e rede de esgoto" (fl. 79). Os peritos concluem que "o
lançamento de efluentes contendo derivados de petróleo (BTEX) pode
contaminar o solo, o subsolo e o lençol freático. O consumo de água
subterrânea proveniente dos diversos poços tubulares profundos,
inclusive pela empresa autuada, pode ter consequências gravosas à
saúde. Estudos apontam que águas contaminadas por BTEX causam
leucemia" (fls. 79/80).

O Relatório de Vistoria nº 60/2006, de 07/07/2006, do Instituto


Brasília Ambiental ( IBRAM) (fls. 408/411), com as fotos de fls.
412/419, mencionou que, "apesar das autuações anteriores, a infração é
recorrente", havendo 'vala a céu aberto contaminada por efluentes
2º GRAU
oleosos oriundos da garagem da VIPLAN' (fl. 410), sugerindo que o
Tribunal de Justiça do Distrito
Ministério PúblicoFederal e Territórios
intervisse TJ-… a elaborar termo de
com vistas
ajustamento de conduta entre a autuada, a CAESB, a NOVACAP e o
IBRAM.

Em 07/05/2007, novamente o Ministério Público vistoriou a


garagem da VIPLAN (Relatório de Vistoria nº 93/07 - DPD/DPE - fls.
94/107), quando "verificou-se também que as valas coletores de águas
pluviais, localizadas nas laterais do lote da empresa, permanecem
ainda impregnadas com resíduos oleosos", sendo que os efluentes
coletados por essa vala são direcionados para a rede de águas pluviais
(fl. 102). Evidenciado, também, que, em 19/04/2007 , o sistema de
separação de água e óleo que havia sido construído nas
instalações da empresa corré era insuficiente para a
demanda, pois constatado que as valas coletoras de águas
pluviais localizadas nas laterais da VIPLAN permaneciam
impregnadas com resíduos oleosos .

Persistia, então, a conduta criminosa a danificar o meio ambiente.


Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

Em 20/08/2007, o IBRAM noticia que a empresa VIPLAN, não


obstante as anteriores condicionantes para expedição de
licença de operação, não havia tomado as providências
necessárias e continuava a lançar, sem o devido tratamento,
efluentes líquidos contaminados com óleos, na galeria de
águas pluviais e valas improvisadas, as quais, ao final,
contaminavam o Córrego Guará . Por essa razão, em 11/06/2007
, foi lavrado o Auto de Infração nº 1616, o qual foi recebido pela
empresa autuada (fl. 140).

Em 28/09/2007, mais uma vez, a VIPLAN recebeu auto de infração


ambiental nº 1617 (fl. 421), desta vez, acompanhado de advertência por
escrito (fls. 422/424).

Não obstante a persistência em autuar a empresa corré, o Relatório nº


280/2010, de 10/08/2010, expedido pela Delegacia Especial de
Proteção ao Meio Ambiente e à Ordem Urbanística (DEMA),
2º GRAU
noticiou que a VIPLAN continuava a lançar águas residuárias
Tribunal de Justiça do Distrito
nas valas Federalpluviais
de águas e Territórios
, asTJ-…
quais "correm a céu aberto pelo
canteiro central que separa o SGCVS [Setor de Garagens e
Concessionárias de Veículos]do SOF/Sul" (fl. 212).

Em 23/02/2011 , a Agência Reguladora de Águas, Energia e


Saneamento Básico do Distrito Federal (ADASA) expediu Termo
de Notificação nº 003/2011 - SFS/ADASA, comunicando à VIPLAN
que, após vistoriar o local, detectou "lançamento irregular de águas
residuárias, com indícios de óleos e graxas, em rede pública de
drenagem urbana", concedendo o prazo de 15 (quinze) dias para
que a notificada procedesse a correção do problema , sob pena
de abertura de Processo Administrativo (fl. 454). No ofício nº
10/2011/STF/ADASA, de 01/03/2011, encaminhado ao IBRAM, a
ADASA relatou o descarte irregular de efluentes oleosos sem
tratamento realizado pela VIPLAN, resultando contaminação de canal
público e, por consequência, do Córrego Guará, o que configura o dano
ambiental denunciado (fl. 456).

Consta, também, o Relatório de Vistoria nº 075/2011 do IBRAM (fls.


457/458), datado de 18/03/2011, no sentido de que o dano ambiental
persistia, isto é, que a empresa VIPLAN não cumpriu o prazo
anteriormente concedido para impedir o dano ambiental.

A CAESB, em 16/06/2011, vistoriou o local concluindo pela


persistência da conduta causadora do dano ambiental denunciado (fls.
276/278).

Em 13/04/2012 , o Instituto de Criminalística , com objetivo de


quantificar e datar os danos ambientais no local, elaborou o Laudo de
Perícia Criminal nº 7.177/12 (fls. 332/345). Concluíram os dois peritos
que "o óleo derivado de petróleo originava-se da empresa Viação
Planalto - VIPLAN" e que "o lançamento
Fls. _____

Apelação 20090110037576APR

de águas residuárias e derivados de petróleo em redes de águas pluviais


causa poluição e danos aos corpos hídricos receptores e aos
ecossistemas terrestres em que estão inseridos" (fl. 336). No croqui que
2º GRAU
instrui o referido exame (fl. 337) visualiza-se toda a rede de águas
Tribunal de Justiça do utilizada
pluviais Distrito Federal e Territórios
pela empresa TJ-…
corré para lançamento de resíduos
oleosos, bem como as valas improvisadas empregadas para escoamento
dos agentes poluentes (fls. 339 e 342), as quais acabam, por fim, a
desembocar no Córrego Guará. Para percuciente exame do local,
os peritos contrataram empresa de sondagem robótica que
percorreu todo o caminho dos líquidos residuários até seu
lançamento final do córrego (fls. 346/368).

Após toda a exposição do acervo probatório documental que instrui a


presente ação penal, é patente a materialidade dos delitos narrados na
exordial.

De igual sorte, a autoria atribuída aos corréus findou por ser


comprovada.

Inicialmente, cumpre salientar que o contrato social de fls. 252/262


estipula que a Diretoria Administrativa/Financeira da VIPLAN Viação
Planalto Ltda. é representada isoladamente por qualquer dos diretores,
Wagner Canhedo Azevedo ou Wagner Canhedo Azevedo Filho,
denotando que os corréus são responsáveis pelos atos
praticados pela pessoa jurídica VIPLAN Viação Planalto Ltda. (fl.
257).

Neste ponto, sustenta a Defesa que, tratando-se de crimes cometidos


por pessoa jurídica, não basta o exercício de cargo direção para ser
imputado, em coautoria, pela conduta delituosa praticada por aquela,
por se tratar de responsabilidade objetiva. E, conforme a teoria do
domínio do fato, "não se pode admitir que a autoria do suposto crime
ambiental pelo simples fato de os réus pertencerem ao corpo gerencial
da empresa" (fl. 1257).
Entretanto, em seus interrogatórios judiciais, os corréus
asseveraram que tinham o poder decisório na administração
da empresa corré , detendo total domínio sobre todas as ações
praticadas pela VIPLAN Viação Planalto Ltda., tanto o é que puderam,
com maestria, descrever as operações da empresa.

Eis as transcrições dos pontos relevantes dos interrogatórios dos


corréus, assim como mencionado na r. sentença recorrida, in verbis:
2º GRAU
Wagner Canhedo Azevedo negou os fatos descritos na denúncia.
Tribunal de Justiça
Alegou do que
Distrito Federal
todo óleo e Territórios
descartado TJ-…pela empresa é
reaproveitado para aquecimento de caldeiras que fazem a
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

recapagem de pneus . Informou que toda água pluvial do setor


desemboca em uma determinada rede local onde há mais de dez ou
quinze empresas, podendo tal óleo ser de outra empresa. Reafirmou
que a VIPLAN possui caixa separadora e bacia coletora de todo óleo
queimado (mídia - fl. 1090). Esclareceu que trabalha na empresa
até hoje (mídia - fl. 1090, 3:00 min), bem como que acompanha
sempre o funcionamento da garagem e de toda parte coletora
de óleo (mídia fl. 1090, 4:00 min - 4:30 min). Relatou, ainda, que
descarta qualquer hipótese de contaminação, pois construiu
a garagem e acompanha a manutenção dos equipamentos
(mídia fl. 1090, 5:00min - 6:00min).

Wagner Canhedo Azevedo Filho , da mesma forma, negou os fatos


descritos na inicial apresentando a mesma versão de seu pai, de que no
setor de garagem existem várias empresas e que na época dos fatos o
esgoto era a céu aberto. Informa que havia uma adutora que recolhia a
água de todas as empresas e escoava atrás da Terracap. Alegou que a
VIPLAN fazia a separação da água do óleo, pois usava este
para aquecimento da caldeira de recapeamento de pneu .
Reitera que não é possível precisar a origem do óleo, pois era usada
uma rede comum. Destaca que a empresa sempre cumpriu
todos os requisitos exigidos pelos órgãos ambientais . Por fim,
esclarece que era o diretor administrativo-operacional da empresa
(mídia fl. 1090, 2:20minm - 2:30min). (Grifo nosso).

Todavia, o restante do conjunto probatório não corrobora a versão


proferida pelos corréus.

Não há evidência de que os óleos e as graxas utilizadas pelos


coletivos, de propriedade da empresa corré, eram
reaproveitados para aquecimento de caldeiras para
2º GRAU
recapeamento de pneus , assim como mencionado pelos corréus.
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-…
Ao contrário, é irrefragável , pela prova documental até então
aferida, que as águas residuárias e os óleos eram dispensados,
sem tratamento, nas canaletas de captação de água pluvial e
nas valas
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

improvisadas existentes no lote contíguo à empresa corré, e


estes agentes contaminantes tinham por destinação o
Córrego do Guará, o qual desemboca no Lago Paranoá .

Além do farto acervo documental, os relatos testemunhais ,


colhidos sob o crivo do contraditório, também testificam a
veracidade dos crimes denunciados imputados aos corréus .

Nesta etapa, colaciono as transcrições citadas na r. sentença, in verbis:

A testemunha Anne de Paula Maia , fiscal de controle


ambiental da SEMARH , em juízo, relatou que recebia denúncias
frequentemente sobre o lançamento de óleo na rede pluvial. Informou
que, na data da denúncia, a galeria estava completamente lotada
de efluentes contendo derivados de petróleo, quando foi
imposta a penalidade de interdição . Confirmou que como sendo
sua a assinatura do documento de fls. 77/81, datada de 13/10/2006,
referente à data de 4/10/2006 (mídia fl. 769, 3:30min - 3:40min).

Narrou que o denunciado Wagner Canhedo Filho negou acesso


à empresa aos fiscais, tendo sido necessária a força policial
(mídia fl. 769, 5:00min). Esclareceu que esteve na garagem da empresa
por diversas oportunidades. Relatou a existência de um sistema de
controle de resíduo, o qual não funcionava e era mal dimensionado.
Informou não ter sido necessário fazer medição e coleta de
amostra, pois a infração era bem clara (mídia fl. 769, 8:20min -
9:30min). Em resposta às indagações da Juíza, esclareceu que a
VIPLAN de fato não tinha mecanismo eficaz, pois em vários
pontos da garagem em que eram gerados óleos, havia apenas
um sistema para coletar todo este óleo, acabando por existir
2º GRAU
efluentes gerados em áreas descobertas e sem controle
Tribunal de Justiça
algum do. Distrito
Era umFederal e Territórios
volume excessivo TJ-…
e nem todas as fontes geradoras de
efluentes estavam ligadas ao sistema existente. Por fim, informou que
houve uma interdição e esta foi descumprida com o rompimento de
lacres (mídia fl. 769,
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

14:00min - 15min).

A testemunha Luzideth Luzia Gonçalves , analista pericial em


engenharia sanitária , relatou em juízo que esteve no local dos fatos
em 2007 a pedido da promotoria para verificar as condições dos
lançamentos de resíduos. Informou que foi identificado um sistema
separador dos resíduos e também uma vala lateral de águas pluviais, na
qual continha resíduos de óleos, acreditando que esses resíduos eram
suficientes paro causar impacto ambiental (mídia fl. 769,1:00min -
2:00min). Confirmou como sendo sua a assinatura constante no
documento de fl. 94/104, reafirmando como verdadeiro o seu conteúdo
(mídia fl. 769, 2:50min - 3:25min). Informou que na ocasião, foi
recebida por Wagner Filho, o qual alegou ter regular licença para
atuação. Alegou que em vistoria pela garagem da empresa constatou
irregularidades, pois a vala de águas pluviais estava impregnada
de resíduo de óleo, as quais vão para curso d'água sem
tratamento (mídia fl. 769, 4:00min - 5:00min).

A testemunha Fernando César Magalhães , narrou, em juízo, que


participou da vistoria em 2010 e depois em 2012. Relatou que na
vistoria de 2010 observou que a licença não havia sido cumprida,
bem como diversas condicionantes, tendo reportado o fato
em relatório . Posteriormente em 2012, informou que ao identificar
novamente o descumprimento enviou ofício indicando os pontos a
serem reparados e, depois, verificou os descumprimentos. Aduziu que
havia diversos focos de lançamentos de efluentes , mas não
teve como constatar o lançamento direto no córrego. Destacou que
havia grande caixa coletora de óleo fora da empresa e existia sistema
separador. Esclareceu que o objetivo da vistoria era verificar o
cumprimento de algumas condicionantes para a licença e não o
2º GRAU
impacto dos efluentes no córrego. Alegou a ausência de
Tribunal de Justiça do Distritopara
dispositivos Federal e Territórios
evitar o dano TJ-…
ambiental (mídia fl. 810,
8:00min - 9:00min).

A testemunha Débora Tolentino , funcionária da ADASA ,


relatou que na época dos fatos trabalhava como coordenadora de
fiscalização na área de esgotamento sanitário e em vistoria
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

no local constatou a existência de possível fonte poluidora na


área externa da garagem da VIPLAN, tendo sido verificada
uma galeria de drenagem de água pluvial que recebia óleo e
demais resíduos advindos do pátio interno da garagem (mídia
fl. 829, 3:15min - 4:00min). Confirma serem verídicos os fatos
constantes do relatório, o qual foi elaborado em 28/11/2011 (mídia fl.
829, 6:00min - 6:45min).

A testemunha Luciano de Castro Teixeira , funcionário do


IBRAM , relatou que esteve no local dos fatos. Informou que havia
várias fontes de emissão de óleo , tais como o fato de serem
ônibus velhos, resíduos da oficina e da lavagem dos veículos (mídia fl.
917, 1:30min - 2:00min). Alegou que nas primeiras vistorias não
havia o sistema separador de água e óleo no limite do terreno
. Informou que todo óleo que vazava do terreno ia para as
galerias de águas pluviais que terminavam a céu aberto .
Posteriormente, aduziu que foi construído um grande
sistema separador de água e óleo, mas que devido ao
tamanho do pátio e em um grande volume de água, não
garantia que este óleo ficasse contido no sistema (mídia fl. 917,
2:30min - 3:19min). Sustentou que o óleo derramado era
contaminador do solo, subsolo e lençóis freáticos (mídia fl. 917,
3:35min).

As testemunhas da defesa João Paiva, Ricardo Lopes de Oliveira,


Zizueno Gonçalves (mídias fl. 829), Plínio Spínola (mídia fl. 890),
relataram que na época dos fatos trabalhavam na VIPLAN e
narraram a existência de uma caixa separadora de resíduos
de óleos e água, bem como a inexistência de vazamento de
2º GRAU
óleo nas redes pluviais . As testemunhas de defesa Francisco
Tribunal de Justiça
Ricardodo Giardini
Distrito Federal
(mídiae fl.
Territórios TJ-…Márcio Gandolfo (mídia fl. 949) e
939), José
Mario de Souza (fl. 1058), nada souberam informar sobre os fatos
descritos na denúncia (fls. 1203/1204 - grifo nosso).

Após compulsar toda a prova documental, findaram isoladas as


informações prestadas pelas testemunhas de Defesa, no sentido que
inexistia
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

vazamento de óleo nas redes pluviais adjacentes à empresa VIPLAN.

A Vistoria nº 286/2006, realizada em 04/10/2006 pela Secretaria


de Meio Ambiente e Recursos Hídricos , após certificar o dano ao
meio ambiente, informa que o corréu Wagner Canhedo Azevedo Filho,
por estar plenamente ciente da prática da conduta tipificada, negou
"autorização para a equipe fiscalizadora ter acesso à fonte causadora da
infração ambiental" (fl. 80), sendo necessário o apoio da Polícia Militar
Ambiental para que a vistoria fosse completamente realizada. Além
disso, também foi negada a designação de funcionário da empresa para
acompanhamento da vistoria e prestação de esclarecimentos
necessários, bem como a diretoria da empresa se furtou de acusar o
recebimento de autos de infração, conduta que persistia desde os idos
de 1993 (fl. 80).

Desta feita, os corréus WAGNER CANHEDO AZEVEDO e WAGNER


CANHEDO AZEVEDO FILHO contribuíram para os delitos
denunciados, pois, cientes das irregularidades ambientais e sanitárias,
omitiram-se em implementar solução definitiva e eficaz para impedir o
resultado danoso ao longo dos anos. Incorreram, no crime do art. 54,
§ 3º, da Lei nº 9.605/1998 , quando, em 11/06/2007 , ao
receberem o Auto de Infração Ambiental nº 1616 - SEMARH/DF, que
constatou o lançamento de efluentes líquidos oriundos do pátio da
garagem na galeria de águas pluviais, não adotaram as medidas
exigidas na Licença de Operação nº 268/2006, a fim de evitar e/ou
corrigir o dano ambiental que reiteradamente deram causa.
2º GRAU
Com vistas a elidir a responsabilidade penal que recai sobre os ombros
Tribunal de Justiça do Distrito
dos corréus, Federalargumenta
a Defesa e Territóriosque
TJ-…
não há conclusão de que a
VIPLAN tenha sido responsável pela poluição do Córrego Guará (fls.
1307/1310). Para tanto, alicerça sua tese no Relatório de Vistoria nº
105/2010, do IBRAM (fl. 426), no ofício expedido pela ADASA (fl.
450), bem como pela perícia realizada pela CAESB (fls. 460/463),
provas amparadas pelos depoimentos de José Carlindo de Assis
Queiroz, João Paiva, Zizuino Gonçalves e Ricardo Lopes de Oliveira.

Sobre a aludida tese, persistem as considerações expostas na r.


sentença, as quais, pedindo vênia, ora transcreve-se:

Da mesma forma não há como se acolher a tese defensiva de


inexistência de fato típico, sob o fundamento de que o Relatório de
Vistoria nº 105/2010 IBRAM (fl. 426) concluiu pela impossibilidade de
identificação da origem do efluente oleosos, do documento acostado à
fl. 450, o qual afirma que os
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

lançamentos irregulares de efluentes foram solucionados, bem como


que o documento da Caesb de fls. 460/463 que reitera que todo o
sistema interno de esgotamento sanitário da VIPLAN está dentro dos
padrões exigidos, senão vejamos. O Relatório de Vistoria nº
105/2010 IBRAM (fl. 426) o qual concluiu pela
impossibilidade de identificação da origem do efluente
oleoso é datado de 10/06/2010 , sendo que posteriormente , em
23/02/2011, os denunciados foram novamente notificados
pela ADASA em razão de vistoria realizada na qual se constatou
"lançamento irregular de águas residuárias, com indícios de óleos e
graxas e, rede pública de drenagem urbana" (fl. 454).

Em ofício encaminhado ao IBRAM, datado de 01/03/2011, a ADASA


relatou o descarte irregular de efluentes sem tratamento realizado pela
VIPLAN, o qual ocasionou contaminação de canal público, bem como
que tal lançamento tem como destino final o córrego Guará, o que
configura dano ambiental (fl. 456).
2º GRAU
Da mesma forma, o Laudo Pericial datado em 13/04/2012 (fls.
Tribunal de Justiça do Distrito
332/345) Federal eo Territórios
constatou lançamento TJ-… , pelos denunciados, de
efluentes oleosos derivados de petróleo em água residuárias
em valas pluviais .

No que tange ao documento acostado à fl. 450 , oriundo da


NOVACAP, o qual afirma que os lançamentos irregulares de
efluentes foi solucionado , bem como que o documento da Caesb
de fls. 460/463 que reitera que todo o sistema interno de esgotamento
sanitário da VIPLAN está dentro dos padrões exigidos, verifica-se que
ambos se referem a uma vistoria conjunta realizada pela ADASA,
CAESB, IBRAM e NOVACAP, datada de 18/11/2011 .

Contudo , constata-se que em mesma data, 18/11/2011, foi


emitido relatório de vistoria pelo IBRAM onde se constatou a
presença de resíduos contaminantes nas galerias pluviais
oriundas da VIPLAN e adjacências (fl. 457). Como foi indicado
em diversos momentos ao longo dos anos de investigações e vistorias, a
sociedade empresária ora ré foi por diversas vezes notificadas de
irregularidades e da insuficiência
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

dos mecanismos de prevenção a incidentes ambientais, especialmente


para a destinação dos resíduos de sua atividade. Ainda que exista
indicativo de que em certo momento tenham se adequado às
imposições administrativas, houve concretamente a demonstração de
que tais condutas não se mostraram suficientes e, efetivamente,
causaram danos ambientais (fls. 1205v/1206 - grifo nosso).

Feitas todas essas ponderações, é certo que a empresa corré VIPLAN


Viação Planalto Ltda. e os corréus devem ser responsabilizados pelas
condutas narradas na denúncia. Isto porque seus responsáveis legais,
ora corréus, indicados em contrato social, decidiram, por vontade livre
e consciente, mediante condutas comissiva e omissiva, causarem os
danos ambientais denunciados. Em resultado, incorreram nos delitos a
que foram condenados todos os três corréus, por não terem envidado
2º GRAU
esforços para realizar as obras imprescindíveis para evitar o dano
Tribunal de Justiça do Distrito
ambiental e, apósFederal e Territórios TJ-…
este consumado, se omitiram em concretizar as
específicas condicionantes para continuação da atividade empresarial
estipuladas nas inúmeras vezes em que a empresa foi autuada pelas
autoridades competentes. Diante de tais condutas, majoraram, por via
indireta, o lucro da empresa corré, obtendo, assim, vantagem
pecuniária indevida, com o que resta configurada, também, a agravante
prevista no art. 15, inciso II, alínea 'a', da Lei nº 9.605/1998[7].
Por consectário, o conjunto probatório é suficiente para comprovar a
materialidade e a autoria delitivas imputadas aos corréus WAGNER
CANHEDO AZEVEDO, WAGNER CANHEDO AZEVEDO FILHO e
VIPLAN VIAÇÃO PLANALTO LTDA., pelos crimes previstos no art. 54,
§ 2º, inciso V ( causar poluição que resulta ou possa resultar
em danos à saúde humana, por lançar substâncias oleosas,
em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou
regulamentos ), e no § 3º ( não adotar, quando exigido pela
autoridade competente, medidas de precaução em caso de
risco de dano ambiental grave ou irreversível ), c/c art. 2º (
diretor e administrador que concorre para a prática dos
crimes ou deixa de impedir a sua prática, quando podia agir
para evitá-la ) e 3º ( responsabilidade da pessoa jurídica ),
todos da Lei nº 9.605/1998.

3. DA DOSIMETRIA PENALÓGICA
No tocante à pena imposta aos corréus, a Defesa (fls. 1314/1316) requer
a redução da pena-base ao mínimo legal, considerando a favorabilidade
das
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

circunstâncias judiciais; o afastamento da continuidade delitiva,


aduzindo ser crime único; e a minoração da pena pecuniária,
proporcionalmente à sanção corporal.
Sobre a questão, também recorre o Ministério Público (fls. 1213/1218),
postulando a aplicação do concurso material de crimes, ao invés da
continuidade delitiva. Arrazoa que, no presente caso, não foi
2º GRAU
preenchido o requisito temporal, tendo em vista que houve grande
Tribunal de Justiça do Distrito
espaçamento deFederal
tempo eentre
Territórios
cada TJ-…
um dos crimes.

O Julgador a quo assim ponderou as especificidades de cada um dos


corréus para a estipulação da necessária sanção, in verbis:

I - Do denunciado WAGNER CANHEDO AZEVEDO:


a) Crimes previstos no art. 54, § 2º, V da Lei 9.605/98 - datas:
04.10.2006, 19.04.2007, 11.06.2007, 23.02.2011 e 13.04.2012: Não
foram apresentados elementos concretos distintos em relação a cada
um dos eventos narrados na peça acusatória, razão pela qual realizo
uma análise conjunta da dosimetria.

A culpabilidade está caracterizada, é reprovável, mas nos limites


previstos para o tipo penal. O denunciado não registra antecedentes
por crimes ambientais em sua FAP (Lei 9.605/95, arts. 6, II e 15, I).
Nada há nos autos sobre a personalidade ou a conduta. Não restou
demonstrado qual foi o motivo da conduta do denunciado. As
circunstâncias e consequências do fato são típicas do delito. A vítima
não colaborou com o fato, razões pelas quais fixo a pena-base em 1
(um) ano de reclusão .

Presente a atenuante decorrente do réu ser maior de 70


(setenta) anos no momento da sentença (CP, art. 65, I) .
Presente também a agravante da pena prevista o art. 15, II, a, da
Lei 9.605/98 , razão pela qual mantenho a pena intermediária
em 1 (um) ano de reclusão , a qual torno definitiva à míngua de
causas de aumento e diminuição da pena, para cada um dos cinco
crimes descritos na peça acusatória.

Levando-se em consideração as circunstâncias analisadas, por


proporcionalidade , fixo a pena de multa em 10 (dez) dias
Fls. _____

Apelação 20090110037576APR

multa, sendo cada dia-multa à razão de 5 (cinco) salários


mínimos, em valor vigente à época do fato .

b) Crime previsto no art. 54, § 3º da Lei 9.605/98 - data: 11.06.2007:


2º GRAU
Não vislumbro a presença de elementos concretos que justifiquem uma
Tribunal de Justiça
análisedodistinta
Distrito daquela
Federal erealizada
Territóriospara
TJ-… as primeira, segunda e terceira
fase da dosimetria.

Assim, inexistindo circunstâncias judiciais a serem valoradas, fixo a


pena-base em 01 (um) ano de reclusão. Reconheço a presença da
atenuante em decorrência da idade do réu, assim como a agravante
específica da Lei 9.605/98, art. 15, II, a. Ausentes causas de aumento
ou diminuição da sanção penal, razão pela qual fixo a pena definitiva
em 01 (um) ano de reclusão .

Levando-se em consideração as circunstâncias analisadas, por


proporcionalidade, fixo a pena de multa em 10 (dez) diasmulta,
sendo cada dia-multa à razão de 5 (cinco) salários mínimos,
em valor vigente à época do fato .

Do concurso de crimes:

Estamos diante da prática de cinco crimes descritos no art. 54, § 2º,


inciso V da Lei 9.605/98 além de um crime previsto no § 3º do art. 54
da Lei 9.605/98. Os cinco crimes semelhantes (4/10/2006,
19/10/2007, 11/06/2007, 23/02/2011 e 13/04/2012) foram
praticados em condições e circunstâncias semelhantes,
sendo que no dia 11.06.2007 foram praticados dois crimes
mediante única conduta . Observa-se a existência de conflito entre
a regra da continuidade delitiva e do concurso formal de crimes. Tais
regras existem por razões de política criminal com vistas a beneficiar o
réu. Nestes contornos, aplico ao caso a regra da continuidade
delitiva de forma a evitar o bis in idem, levando-se em consideração a
totalidade de crimes praticados, razão pela qual exaspero a pena em
½ tornando-a definitiva em 01 (um) ano e 06 (seis) meses de
reclusão, além de 15 (quinze) dias-multa, sendo cada dia-
multa à razão de 5 (cinco) salários mínimos vigentes à época
do fato .

Fixo o regime aberto para cumprimento da pena.


Fls. _____
Apelação 20090110037576APR
2º GRAU
Em atenção ao art. 44 do Código Penal, substituo a pena privativa de
Tribunal de Justiça do Distrito
liberdade por duasFederal e Territórios
penas TJ-… de direitos , sendo uma de
restritivas
prestação pecuniária e a outra a ser definida pelo juízo das execuções.

II - Do denunciado WAGNER CANHEDO AZEVEDO FILHO:

a) Crimes previstos no art. 54, § 2º, V da Lei 9.605/98 - datas:


04.10.2006, 19.04.2007, 11.06.2007, 23.02.2011 e 13.04.2012: A
culpabilidade está caracterizada, é reprovável, mas nos limites
previstos para o tipo penal. O denunciado não registra antecedentes
por crimes ambientais em sua FAP (Lei 9.605/95, arts. 6, II e 15, I).
Nada há nos autos sobre a personalidade ou a conduta. Não restou
demonstrado qual foi o motivo da conduta do denunciado. As
circunstâncias e consequências do fato são típicas do delito. A vítima
não colaborou com o fato, razões pelas quais fixo a pena-base em 1
(um) de reclusão . Ausentes atenuantes. Presente a agravante da
pena prevista o art. 15, II, a, da Lei 9.605/98 , razão pela qual
fixo a pena em 1 (um) ano e 2 (dois) meses de reclusão , a qual
torno definitiva à míngua de causas de aumento e diminuição da
pena.

Levando-se em consideração as circunstâncias analisadas, por


proporcionalidade, fixo a pena de multa em 11 (onze) diasmulta,
sendo cada dia-multa à razão de 5 (cinco) salários mínimos,
no valor vigente à época dos fatos .

b) Crime previsto no art. 54, § 3º da Lei 9.605/98 - data: 11.06.2007:

Não vislumbro a presença de elementos concretos que justifiquem uma


análise distinta daquela realizada para as primeira, segunda e terceira
fase da dosimetria. Assim, fixo a pena-base em 01 (um) ano de
reclusão.

Não há atenuantes, sendo que se identifica a agravante específica da


Lei 9.605/98, art. 15, II, a, razão pela qual fixo a pena intermediária
em 1 (um) ano e 2 (dois) meses de reclusão , a qual torno
definitiva à míngua de causas de aumento ou diminuição da pena.

Levando-se em consideração as circunstâncias analisadas, por


proporcionalidade, fixo a pena de multa em 11 (onze) dias
Fls. _____

Apelação 20090110037576APR
2º GRAU
multa, sendo cada dia-multa à razão de 5 (cinco) salários
Tribunal de Justiça do Distrito
mínimos, Federalvigente
no valor e Territórios TJ-… dos fatos .
à época

Do concurso de crimes:

Estamos diante da prática de cinco crimes descritos no art. 54, § 2º,


inciso V da Lei 9.605/98 além de um crime previsto no § 3º do art. 54
da Lei 9.605/98. Os cinco crimes semelhantes (4/10/2006,
19/10/2007, 11/06/2007, 23/02/2011 e 13/04/2012) foram praticados
em condições e circunstâncias semelhantes, sendo que no dia
11.06.2007 foram praticados dois crimes mediante única conduta.
Observa-se a existência de conflito entre a regra da continuidade
delitiva e do concurso formal de crimes. Tais regras existem por razões
de política criminal com vistas a beneficiar o réu. Nestes contornos,
aplico ao caso a regra da continuidade delitiva , levando-se em
consideração a totalidade de crimes praticados, razão pela qual
exaspero a pena em ½ tornando-a definitiva em 01 (um) ano
e 09 (nove) meses de reclusão, além de 16 (dezesseis)
diasmulta, sendo cada dia-multa à razão de 5 (cinco) salários
mínimos vigentes à época do fato .

Fixo o regime aberto para cumprimento da pena.

Em atenção ao art. 44 do Código Penal, substituo a pena privativa de


liberdade por duas penas restritivas de direitos , sendo uma de
prestação de serviços à comunidade e a outra a ser definida pelo juízo
das execuções.

III - VIPLAN - VIAÇÃO PLANALTO LTDA.:

Em atenção ao art. 21 da Lei 9.605/98, às pessoas jurídicas são


aplicáveis, em atenção ao art. 3º da referida lei, as seguintes penas: I -
multa, II - restritivas de direitos, III -prestação de serviços à
comunidade.

Considerando os parâmetros analisados em relação aos demais réus,


não se observa a existência de qualquer antecedente penal ou
circunstâncias judiciais desfavoráveis . Há tão somente a
presença da agravante prevista no art. 15, II, a, Lei 9.605/98 .
Levando-se em consideração a valoração realizada anteriormente, mas
adequando-a à pessoa jurídica em questão, entendo como razoável e
proporcional a fixação da pena de multa , esta
2º GRAU
Fls. _____
Tribunal de Justiça do Distrito
Apelação Federal e Territórios TJ-…
20090110037576APR

fixada por proporcionalidade e diante da regra do art. 18 da mesma lei,


em 11 (onze) dias-multa para cada um dos crimes praticados ,
em uma totalidade de cinco incidências da figura típica prevista no art.
54, § 2º, V da Lei 9.605/98 e uma vez no art. 54, § 3º da Lei 9.605/98.

Pela regra da continuidade delitiva , esta explanada em relação aos


demais réus, exaspero a pena em ½ tornando-a definitiva em
16 (dezesseis) dias-multa . Fixo cada dia-multa em 5 (cinco)
salários mínimos vigentes à época do fato e, considerando a
vantagem econômica auferida em decorrência da não
realização das obras necessárias e adequadas à solução
ambiental ao longo de diversos anos, aumento em três vezes
o valor de cada dia-multa em atenção ao art. 18 da lei de
regência, tornando a pena definitiva em 16 (dezesseis) dias-
multa, sendo cada diamulta calculado à razão de 15 (quinze)
salários mínimos no valor vigente à época do fato
(fls.1208v/1210 - grifo nosso).

Concernente à primeira fase do cálculo penal, verifica-se que todos os


corréus não possuíam circunstâncias judiciais desfavoráveis, sendo,
então, fixada a pena-base no mínimo legal previsto para os tipos
penais. Nesse patamar resta inviável a redução aquém da base legal,
como pretende a Defesa.

Na segunda etapa da dosimetria penalógica, somente em relação ao réu


Wagner Canhedo Azevedo, incide a atenuante elencada no art. 65,
inciso I, do Código Penal, por ser maior de 70 (setenta) anos no
momento da sentença. Para ele e os demais réus, presente, também, a
agravante do art. 15, inciso II, alínea 'a', da Lei nº 9.605/1998. Assim,
compensou-se a atenuante e a agravante para o réu Wagner Canhedo
Azevedo, remanescendo esta última para majorar a sanção em 2 (dois)
meses de reclusão de Wagner Canhedo Azevedo Filho e 11 (onze) dias-
multa da empresa VIPLAN Viação Planalto Ltda.

Nada a reparar nesse ponto.


2º GRAU
No último lance da pena, ausentes causas de diminuição e aumento de
Tribunal de Justiça
pena adoserem
Distrito Federal e Territórios TJ-…
ponderadas.

Mantida, então, as sanções, para cada um dos crimes, em 1 (um) ano


de reclusão, mais 10 (dez) dias-multa , no valor unitário de 5
(cinco) salários
Fls. _____

Apelação 20090110037576APR

mínimos, vigente à época do fato, para o réu Wagner Canhedo


Azevedo ; 1 (um) ano e 2 (dois) meses de reclusão, além de 11
(onze) dias-multa , à razão de 5 (cinco) salários mínimos, no valor
vigente quando dos crimes para Wagner Canhedo Azevedo Filho ;
e 11 (onze) dias-multa , valorados em 15 (quinze) salários mínimos,
fixado no momento do delito para VIPLAN Viação Planalto Ltda.

Nesse ponto, ambos os apelos se insurgem. A Defesa se manifesta pelo


afastamento da continuidade delitiva, para reconhecer a existência de
crime único, enquanto o Ministério Público, postula o concurso
material das infrações penais.

De pronto, há que se refutar a tese defensível. Os corréus foram


responsáveis por seis infrações penais contra o meio ambiente, pelos
fundamentos já exarados. Não há dúvida, então, se tratar de
multiplicidade de condutas criminosas, restando inviável acolhimento
de crime único, como quer a Defesa.
Para que seja configurada a continuidade delitiva devem ser
preenchidos os requisitos objetivos arrolados no artigo 71 do Código
Penal, quais sejam: pluralidade de condutas, tratarem-se de crimes da
mesma espécie, terem sido praticados nas mesmas ou semelhantes
condições de tempo, lugar e maneira de execução.

Sobre a matéria, a jurisprudência pátria é pacífica ao exigir, para o


reconhecimento da continuidade delitiva, que as condutas criminais
sejam realizadas em intervalo de tempo não superior a 30 (trinta) dias.
Confiram-se julgados nesse sentido do c. Superior Tribunal de Justiça:
2º GRAU
PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO
Tribunal de Justiça
RECURSOdo Distrito Federal eRECURSO
ESPECIAL. Territórios TJ-…
ESPECIAL DEFENSIVO.
INCIDÊNCIA CONCOMITANTE DAS SÚMULAS 7 E 83 DO STJ.
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA QUANTO A UM DOS
ÓBICES. APLICAÇÃO DA SÚMULA 283/STF. DOSIMETRIA.
CONTINUIDADE DELITIVA. DELITOS PRATICADOS EM
INTERVALO SUPERIOR A 30 DIAS. NÃO CONFIGURAÇÃO.
RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO,
IMPROVIDO. 1. Nos termos da Súmula 283/STF, aplicável por
analogia, É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão
recorrida assenta em
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles.


2. Apesar de o legislador não ter delimitado expressamente o intervalo
de tempo necessário ao reconhecimento da continuidade delitiva,
firmou-se, nesta Corte, o entendimento de que não ser
possível a aplicação da regra quando os delitos tiverem sido
praticados em período superior a 30 dias . 3. Agravo regimental
parcialmente conhecido e, nessa extensão, improvido. (AgRg no REsp
1503538/SC, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado
em 08/05/2018, DJe 21/05/2018 - grifo nosso);

(...) RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO POR M S. VIOLAÇÃO DO


ART. 71 1 DO CP P. SUPOSTA ILEGALIDADE NO ACÓRDÃO QUE
RECHAÇOU O RECONHECIMENTO DE CONTINUIDADE DELITIVA
ENTRE OS CRIMES DE TRÁFICO ANTE O DECURSO DE LAPSO
TEMPORAL SUPERIOR A TRINTA DIAS ENTRE OS CRIMES.
IMPROCEDÊNCIA. ARESTO QUE GUARDA HARMONIA COM A

JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA NESTA COSTA. (...) 4.1. A


jurisprudência desta Corte Superior firmou-se no sentido de que o
lapso de tempo superior a 30 dias entre a consumação dos
delitos impossibilita o reconhecimento da continuidade
delitiva , porquanto descaracteriza o requisito temporal, que impõe a
existência de uma certa periodicidade entre as ações
sucessivas (AgRg no REsp n. 1.419.834/PR, Ministro Reynaldo
2º GRAU
Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 13/12/2017). 4.1.1. No caso, o
Tribunal de Justiça
lapso do Distrito verificado
temporal Federal e Territórios
entre os TJ-…
delitos é superior a 30 dias,
circunstância que efetivamente impede a incidência do art. 71 do
Código Penal, inexistindo ilegalidade no acórdão nesse particular. 4.2.
Recurso especial improvido. (...) (REsp 1705609/PR, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 10/04/2018,
DJe 16/04/2018 - grifo nosso).

Desta forma, os crimes contra o meio ambiente descritos na exordial


Fls. _____

Apelação 20090110037576APR

não guardam relação entre si, havendo autonomia e independência


entre eles, por se tratar de reiteração criminosa e não continuidade
delitiva, a qual justifica o concurso material de delitos, como quer o
Ministério Público.

Entretanto, como será melhor explanado no próximo tópico, em que


será reconhecida a extinção da punibilidade , em razão da
prescrição retroativa, em relação ao réu Wagner Canhedo Azevedo
e à ré VIPLAN Viação Planalto Ltda ., no tocante a todos os delitos
a que incorreram, bem como ao réu Wagner Canhedo Azevedo
Filho , tão somente dos delitos ocorridos em 04/10/2006,
19/04/2007 e 11/06/2007 , prejudicado, no ponto, o
reconhecimento do concurso material de delitos.

Por outro lado, concernente aos crimes praticados por Wagner


Canhedo Azevedo Filho em 23/02/2011 e 13/04/2012 (art. 54, §
2º, inciso V, da Lei nº 9.605/1998), em que a pretensão punitiva
estatal permanece intacta, é viável a aplicação do concurso material
de delitos .
Tendo sido imposta a pena de 1 (um) ano e 2 (dois) meses de reclusão,
mais 11 (onze) dias-multa, operando-se o somatório das sanções
impostas a cada um dos dois crimes, chega-se à reprimenda de 2
(dois) anos e 4 (quatro) meses de reclusão, mais 22 (vinte e
dois) dias-multa , na forma dos arts. 69 e 72, ambos do Código
Penal.
2º GRAU
Sobre a pena pecuniária, sem razão a Defesa ao requerer sua
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-…
minoração.

Verifica-se que a quantidade da multa é plenamente proporcional ao


quantum da sanção corporal.

Também nada a modificar quanto à valoração de cada dia-


multa à razão de 5 (cinco) salários mínimos , no valor vigente à
época dos fatos. É sabido ser bifásico o critério utilizado para aferição
da quantidade da pena pecuniária. Isto é, "a pena de multa deve ser
fixada em duas fases. Na primeira, fixase o número de dias-multa,
considerando-se as circunstâncias judiciais (art. 59, do CP). Na
segunda, determina-se o valor de cada dia-multa, levando-se em conta
a situação econômica do réu" (STJ - AgRg no AREsp 730.776/SC, Rel.
Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 13/03/2018,
DJe 23/03/2018; no mesmo sentido TJDFT - Acórdão n. 1052160,
20171410036360APR, Relator: ANA MARIA AMARANTE, Revisor:
CARLOS PIRES SOARES NETO, 1ª TURMA CRIMINAL, Data de
Julgamento: 28/09/2017, Publicado no DJE: 11/10/2017. Pág.:
95/107).

Na espécie, pelo fato de Wagner Canhedo Azevedo Filho ser um dos


responsáveis por empresa de grande porte, dotada de capital social
Fls. _____

Apelação 20090110037576APR

integralizado no importe de R$36.150.000,00 (trinta e seis milhões e


cento e cinquenta mil reais), isso em valor estipulado em 08/10/2005
(fls. 255 e 262), resta corretamente fixado o valor unitário da
pena pecuniária em 5 (cinco) salários mínimos, vigente à
época do último crime (13/04/2012) .

Mantido o regime inicial aberto para cumprimento da pena (art. 33, §


2º, 'c', Código Penal).

Preenchidos os requisitos objetivos e subjetivos elencados no art. 44 do


Código Penal, conserva-s e, também, a substituição da pena
privativa de liberdade por duas penas restritivas de direit os,
2º GRAU
assim como especificado na r. sentença, isto é, uma de prestação de
Tribunal de Justiça do àDistrito
serviços Federal e Territórios
comunidade TJ-…definida pelo Juízo das
a outra a ser
Execuções.

Ausentes os pressupostos necessários, para a prisão, mantida a


concessão aos réus do direito de recorrerem em liberdade .
4. DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE: PRESCRIÇÃO
RETROATIVA

Confirmada a sentença condenatória dos corréus, resta o exame da


alegação acerca da extinção da pretensão punitiva, em face da
prescrição retroativa.

Como bem mencionou a d. Procuradora de Justiça, "a Defesa não se


esmerou em trabalhar esse tópico (fls. 1248/1249), esclarecendo, por
exemplo, quais delitos tiveram a pretensão punitiva fulminada pela
prescrição, qual espécie de prescrição ocorrida, qual o lapso temporal
foi levado em consideração, quais os marcos interruptivos
considerados, entre outros detalhamentos necessários ao
enfrentamento jurídico da matéria" (fls. 1334/1335). Apenas
argumenta que o corréu Wagner Canhedo Azevedo conta com mais de
79 (setenta e nove) anos de idade, devendo o prazo prescricional ser
reduzido em metade, nos moldes do art. 115 do Código Penal.

Tendo em vista que a Lei nº 9.605/1998 não regula especificamente o


instituto da prescrição, com espeque no art. 79 da referida legislação,
aplica-se subsidiariamente as disposições do Código Penal.

Sobre a matéria, adoto os sólidos argumentos lançados no parecer da i.


Procuradoria de Justiça, às fls. 1335/1339, in litteris:

(...) ao se considerar os fatos delitivos que serviram de premissa fática


para a condenação, a data em que foram praticados e se consumaram,
as penas aplicadas na r.
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR
2º GRAU
sentença, a ausência de recurso ministerial visando aumentar as penas
Tribunal de Justiça do Distrito Federal
individualmente e Territórios
impostas TJ-…
e a circunstância pessoal de cada um dos
réus, tem-se o seguinte:

i) as infrações ao art. 54, § 2º, V, da Lei 9.605/1998, ocorridas


em 04/10/2006, 19/04/2007 e 11/06/2007 (eventos 1, 2 e 3 da
sentença) e a infração ao art. 54, § 3º, da Lei 9.605/1998,
ocorrida em 11/06/2007 (evento 3 da sentença),
prescreveram para todos os réus .

ii) as infrações ao art. 54, § 2º, V, da Lei 9.605/1998,


ocorridas em 23/02/2011 e 13/04/2012 (eventos 4 e 5 da
sentença), prescreveram para os réus Wagner Canhedo
Azevedo e VIPLAN, mas não para o réu Wagner Canhedo
Azevedo Filho .

Destarte, conforme se extrai da r. sentença, tem-se que, pela prática


dos crimes ambientais acima capitulados, o réu Wagner Canhedo
Azevedo teve a pena corporal fixada em 1 ano de reclusão
para cada delito ; o réu Wagner Canhedo Azevedo Filho,
pelas mesmas práticas criminosas, a pena de 1 ano e 2 meses
de reclusão; já a VIPLAN , consoante sua natureza jurídica e atento
ao que dispõe o art. 21 da Lei nº 9.605/1998, a pena para cada
infração penal foi apenas pecuniária, fixada em 11 dias-multa
, à razão de 15 saláriosmínimos vigentes à época do fato.

Referidas penas se tornaram definitivas para a acusação,


porquanto o Ministério Público, em seu recurso, não
postulou o aumento individual das sanções , mas tão somente a
exclusão da unificação das penas segundo a regra do crime continuado.

É cediço que, no caso de concurso de crimes, a extinção da


punibilidade incidirá sobre a pena de cada uma,
isoladamente, nos termos do art. 119 do CP . Portanto, o fato de
o Ministério Público ter recorrido com a finalidade de afastar a
continuidade delitiva para ser aplicado o concurso material aos delitos
praticados pelos réus, em nada influencia a análise do reconhecimento
da prescrição com relação a determinadas condutas narradas na
denúncia e que foram reconhecidas em Juízo.
Fls. _____
2º GRAU
Apelação 20090110037576APR
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-…
Tem-se então que para o réu Wagner Canhedo Azevedo, que já
contava com mais de 70 anos na data da sentença , a
prescrição da pretensão punitiva de cada um dos crimes
acima é de 2 anos (arts. 109, inciso V, c/c art. 115, ambos do CP); o
réu Wagner Canhedo Azevedo Filho é de 4 anos (arts. 109,
inciso V, do CP); e para a ré VIPLAN é de 2 anos (arts. 114, do CP).

Portanto, quanto aos crimes praticados em 04/10/2006,


19/04/2007 e 11/06/2007 (eventos 1, 2 e 3 da sentença),
considerando que a interrupção da prescrição deles só se deu com o
recebimento da denúncia, fato esse ocorrido apenas em 10/06/2015 (fl.
594), tem-se para o réu Wagner Canhedo Azevedo e a ré
VIPLAN, que as prescrições se consumaram,
respectivamente, em 04/10/2008, 19/04/2009 e 11/06/2009;
e, para o réu Wagner Canhedo Azevedo Filho, em
04/10/2010, 19/04/2011 e 11/06/2011 .

Demais disso, tais delitos ocorreram antes do advento da Lei nº


12.234/2010 , de forma que, em face deles, plenamente possível o
reconhecimento da prescrição retroativa ocorrida em data
anterior ao recebimento da denúncia , não se verificando, assim,
óbice a que alude a parte final do art. 110, § 1º, do CP.

Ao seu turno, no tocante aos delitos ocorridos em 23/02/2011 e


13/04/2012 (eventos 4 e 5 da sentença), tendo-se em mente os prazos
prescricionais já referidos, a prescrição da pretensão punitiva se
verificou em 10/06/2017 para o réu Wagner Canhedo Azevedo e a ré
VIPLAN, que corresponde ao prazo de 2 anos contados a partir do
último marco interruptivo, no caso, da decisão de recebimento da
denúncia.

Demais disso, a interrupção da prescrição, após esse marco


interruptivo , só ocorreu em 22/01/2018 (fl. 1212), que corresponde
à data de publicação da sentença condenatória recorrível (art.
117, IV, do CP), ou seja, transcorreu período de tempo superior ao
prazo prescricional que esses réus faziam jus.
2º GRAU
Já para o réu Wagner Canhedo Azevedo Filho , a situação é outra,
Tribunal de Justiça do Distrito Federal
pois, considerando queepara
Territórios TJ-…
ele a prescrição é de 4
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

anos , tem-se que para esses outros dois delitos (art. 54, § 2º, V, da
Lei 9.605/1998 - por duas vezes), ocorridos em 23/02/2011 e
13/04/2012, a pretensão punitiva estatal conserva-se intacta .

Portanto, face às considerações acima, há que se dar parcial


provimento ao pleito da Defesa, a fim de que o Tribunal, com base no
art. 107, IV, do CP, declare extinta a punibilidade pela
prescrição da pretensão punitiva do réu Wagner Canhedo
Azevedo e da ré VIPLAN, em relação a todos os crimes em
que foram condenados; bem como do réu Wagner Canhedo
Azevedo Filho, mas apenas quanto aos crimes do art. 54, § 2º,
V, e art. 54, § 3º, ambos da Lei 9.605/1998, ocorridos em
04/10/2006, 19/04/2007 e 11/06/2007 . (Grifo nosso).

Com efeito, nos termos da Súmula nº 497 do Supremo Tribunal


Federal, "quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se
pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo
decorrente da continuação". Assim, a prescrição deve ser regulada pela
pena individualmente imposta a cada um dos crimes que incorreram os
corréus (art. 119 do Código Penal).

Assim, pelos fundamentos acima delineados, é de rigor dar parcial


provimento ao recurso defensível , para declarar extinta a
punibilidade, em razão da prescrição retroativa , na forma dos
arts. 107, inciso IV; 110; 117, inciso IV; 119, todos do Código Penal, de
todos os crimes a que foram condenados Wagner Canhedo
Azevedo (arts. 109, inciso V, c/c art. 115, ambos do CP) e VIPLAN
Viação Planalto Ltda. (arts. 114, inciso I, do CP); bem como, tão
somente, em relação aos delitos ocorridos em 04/10/2006,
19/04/2007 e 11/06/2007 , praticados pelo réu Wagner Canhedo
Azevedo Filho (arts. 109, inciso V, do CP).

5. DO DISPOSITIVO
2º GRAU
Ante o exposto, conheço dos recursos. DOU PARCIAL
Tribunal de Justiça do Distrito Federal
PROVIMENTO e Territórios
à apelação TJ-…
da Defesa , apenas para declarar
extinta a punibilidade, em face da prescrição retroativa , na
forma dos arts. 107, inciso IV; 110; 117, inciso IV; 119, todos do Código
Penal, de todos os crimes pelos quais foram condenados Wagner
Canhedo Azevedo (arts. 109, inciso V, c/c art. 115, ambos do CP) e
VIPLAN Viação Planalto Ltda. (arts. 114, inciso I, do CP); bem
Fls. _____

Apelação 20090110037576APR

como em relação aos delitos ocorridos em 04/10/2006,


19/04/2007 e 11/06/2007 , praticados pelo réu Wagner Canhedo
Azevedo Filho (arts. 109, inciso V, do CP). DOUprovimentoao
recurso do Ministério Público , reconhecendo o concurso material
dos crimes (art. 54, § 2º, inciso V, da Lei nº 9.605/1998) cometidos em
23/02/2011 e 13/04/2012 por Wagner Canhedo Azevedo Filho ,
impondo-lhe a pena de 2 (dois) anos e 4 (quatro) meses de
reclusão, mais 22 (vinte e dois) diasmulta, no valor unitário
de 5 (cinco) salários-mínimos vigentes quando o último
crime (13/04/2012). No mais, mantida a r. sentença.

É como voto.

[1]Lei nº 9.605/1998 - Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para


a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes
cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o
administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o
gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da
conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando
podia agir para evitá-la.
[2]Lei nº 9.605/1998 - Art. 3º As pessoas jurídicas serão
responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o
disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por
decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão
colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
2º GRAU
[3]Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que
Tribunal de Justiça do Distrito
resultem ou possamFederal e Territórios
resultar TJ-… à saúde humana, ou que
em danos
provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da
flora:

(...)
§ 1º Se o crime é culposo:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

[4]Fonte: https://www.tc.df.gov.br/SINJ/Diário/8fa2e45e-91c2-34b1-
bac8-5c56efb46827/DODF_0180_21091988.pdf. Acesso em
08/06/2018.
[5]Fonte: http://www.guara.df.gov.br/2017/06/21/ibram-
ecomunidade-do-guara-debatem-sobreoparque-ecologico-ezechias-
heringer/. Acesso em 13/06/2018.

[6]Fonte:

http://www2.terracap.df.gov.br/internet/arquivos/0082208044.pdf.
Acesso em 08/06/2018.

[7]Lei nº 9.605/1998 - Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena,


quando não constituem ou qualificam o crime:

(...)
Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

II - ter o agente cometido a infração:

a) para obter vantagem pecuniária;

O Senhor Desembargador GEORGE LOPES - Revisor

Wagner Canhedo Azevedo, Wagner Canhedo Azevedo Filho e Viplan


Viação Planalto Ltda. foram condenados, respectivamente, a um ano e
seis meses de reclusão, no regime inicial aberto, substituídos por
restritivas de direitos, mais quinze dias-multa, à razão de cinco salários
mínimos; um ano e nove meses de reclusão, no regime inicial aberto,
substituídos por restritivas de direitos, mais dezesseis dias-multa, à
razão de cinco salários mínimos; e a dezesseis dias-multas, à razão de
2º GRAU
quinze salários mínimos, por infringirem cinco vezes o artigo 54, § 2º,
Tribunal de Justiça
incisodo
V, Distrito
e duas Federal
vezes oe§Territórios TJ-… com artigos 2º e 3º da Lei
3º, combinado
9.605/98, em razão dos seguintes fatos: em 04/10/2006, 19/04/2007,
11/06/2007, 23/02/2011 e 13/04/2012, os réus lançaram rejeitos
oleosos derivados de petróleo e de águas residuárias contaminadas
com a referida substância, em canal precário de escoamento contíguo
ao lote da empresa VIPLAN Viação Planalto Ltda., em decorrência do
transporte coletivo e terrestre de passageiros, contaminando o Córrego
do Guará. Ademais, em 11/06/2007, os réus foram cientificados do
Auto de Infração Ambiental nº 1616 - SEMARH/DF, em razão do
lançamento de efluentes líquidos oriundos do pátio da garagem na
galeria de águas pluviais, no entanto, não adotaram as medidas
exigidas na Licença de Operação nº 268/2006, a fim de evitar o dano
ambiental que reiteradamente causaram.

O Ministério Público pede reconhecimento de concurso material de


crimes, enquanto que a defesa alega preliminarmente a incompetência
do Juízo, ante a prevenção do Juizado Especial de Competência Geral
do Guará, que examinou o mesmo crime atribuído a Dalmo José do
Amaral e Empresa Santo Antônio Transporte e Turismo Ltda.; inépcia
da denúncia, pois ausentes os requisitos do artigo 41 do Código de
Processo Penal, falta de justa causa para o exercício da ação penal,
alegando que não há perícia do efetivo dano à saúde; e violação ao
princípio da identidade física do Juiz. Aduz prejudicial de mérito de
prescrição retroativa, máxime porque o réu Wagner Canhedo Azevedo
tem mais de setenta e nove anos, o que reduz o prazo prescricional pela
metade. No mérito, pede absolvição por insuficiência probatória,
redução das penas-bases, afastamento da continuidade delitiva e
redução da multa.

Preliminar de incompetência do juízo


Fls. _____
Apelação 20090110037576APR

Alega-se prevenção do Juizado Especial de Competência Geral do


Guará, ante o exame do mesmo crime atribuído a Dalmo Josué do
Amaral e a Empresa Santo Antônio Transportes e Turismo Ltda, nos
autos 2007.01.1.132960-0, no entanto, verificou-se que a conduta
2º GRAU
imputada àqueles são diversas das examinadas na espécie, já que lá
Tribunal de Justiça do Distrito
apura-se a figuraFederal e Territórios
culposa. Ademais,TJ-…
não há qualquer conexão entre os
delitos e os fatos apurados aqui, os quais não são infrações penais de
menor potencial ofensivo, o que afasta a competência do Juizado
Especial. Portanto, rejeita-se a preliminar de incompetência.

Preliminar de inépcia da denúncia

Também não há nulidade no curso da marcha processual, ressaltando-


se que a denúncia está formalmente perfeita, porque descreve o fato e
suas circunstâncias relevantes, qualifica o réu e indica as provas que
pretende produzir, possibilitando o exercício do contraditório e da
ampla defesa. É cediço que nos crimes de autoria coletiva, quando for
impossível a identificação completa da ação ou omissão individualizada
de cada agente, basta a demonstração do liame subjetivo capaz de
revelar a plausibilidade da imputação e possibilitar o exercício da
ampla defesa. Adita-se que sobrevindo sentença, não há que se alegar
inépcia da denúncia, apenas defeito da sentença. Assim, rejeita-se a
preliminar.

Preliminar de ausência de justa causa para ação penal

Alega-se ausência de justa causa para o exercício da ação penal porque


não há provas do efetivo dano à saúde das pessoas e ao meio ambiente,
todavia, o crime em apuração é de natureza formal, sendo suficiente
para a sua configuração a capacidade de causar dano à saúde humana,
conforme recente informativo do STJ (STJ, 3ª Seção, EREsp 1.417.279-
SC, Relator; Min. Joel Ilan Paciornik, informativo 624, publicado em
18/05/2018). Assim, rejeita-se a preliminar.

Da preliminar de nulidade por ofensa ao princípio da


identidade física do juiz

Também não há nulidade por ofensa ao princípio da identidade física


do Juiz, pois, a despeito de vários magistrados atuarem ao longo da
marcha processual, o Juiz André Ferreira de Brito foi quem presidiu a
última audiência e sentenciou o feito, conforme folhas 1085 e
1200/1211, tudo em conformidade com o artigo 399, § 2º, do Código de
Processo Penal. Portanto, rejeita-se também esta preliminar.

Mérito
2º GRAU
Os réus afirmaram que detinham poder de decisão na administração da
Tribunal de Justiça do Distrito
empresa; Federalnegaram
no entanto, e Territórios TJ-… dos crimes, informando que
a autoria
todo o óleo descartado pela empresa era reaproveitado para aquecer as
caldeiras que faziam a
Fls. _____

Apelação 20090110037576APR

recapagem de pneus, atribuindo a poluição a outras empresas que


funcionavam nas cercanias. Descartaram qualquer hipótese de
contaminação oriunda de suas empresa, pois construíram a garagem e
acompanham criteriosamente a manutenção dos equipamentos,
cumprindo as exigências dos órgãos ambientais.

A despeito das negativas, a materialidade e a autoria foram


demonstradas nas provas documentais e corroboradas pelos
testemunhos dos agentes fiscalizadores. A Divisão de Perícias Externas
do Ministério Público do Distrito Federal constatou, por meio de
inspeção robotizada, que havia lançamento de esgoto e resíduos de
petróleo no Córrego Guará, originário da empresa VIPLAN, conforme
Relatório de Vistoria nº 248/2005, datado em 25/11/2005 (folhas
12/14). A corroborar, a Companhia de Saneamento Ambiental do
Distrito Federal, no dia 08/05/2006, vistoriou o local e informou que a
empresa VIPLAN era uma das responsáveis pelo lançamento de
derivados de combustíveis, conforme folha 26. Nova vistoria, realizada
no dia 04/10/2006 pela Novacap, aponta que há lançamento de
efluentes contaminantes contendo relevantes quantidades de derivados
de petróleo (óleos e graxas lubrificantes), nas galerias de águas pluviais
(NOVACAP), em vala a céu aberto, e em rede de esgoto (CAESB),
salientando que a empresa VIPLAN, infratora contumaz, vem sendo
autuada desde 31/03/1993, devido aos lançamentos dos efluentes
contaminantes, conforme folhas 77/78.Na ocasião, os peritos
concluíram que o lançamento de efluentes contendo derivados de
petróleo (BTEX) pode contaminar o solo, o subsolo e o lençol freático.
O consumo de água subterrânea proveniente dos diversos poços
tubulares profundos, inclusive pela empresa autuada, pode ter
consequências gravosas à saúde. Estudos apontam que águas
contaminadas por BTEX causam leucemia (folhas 79/80).
2º GRAU
Diversos outros órgãos vistoriaram o local e concluíram, de forma
Tribunal de Justiça do Distrito
harmônica, que Federal e Territórios
a empresa VIPLANTJ-…é infratora contumaz de normas
ambientais: em 07/07/2006, o Instituto Brasília Ambiental ( IBRAM)
informou (folhas 408/411) que, apesar das autuações anteriores, a
infração é recorrente, havendo vala a céu aberto contaminada por
efluentes oleosos oriundos da garagem da VIPLAN; em 07/05/2007, o
Ministério Público verificou (folhas 94/107) que as valas coletores de
águas pluviais, localizadas nas laterais do lote da empresa,
permanecem ainda impregnadas com resíduos oleosos, sendo que os
efluentes coletados por essa vala são direcionados para a rede de águas
pluviais; em 19/04/2007, evidenciou-se ainda que o sistema de
separação de água e óleo construído era insuficiente para a demanda,
pois constatado que as valas coletoras de águas pluviais localizadas nas
laterais da VIPLAN permaneciam impregnadas com resíduos oleosos.

Nesse contexto, em 20/08/2007, o IBRAM informou que a empresa


Fls. _____

Apelação 20090110037576APR

continuava a recindir, pois lançava, sem o devido tratameto, efluentes


líquidos contaminados com óleos, na galeria de águas pluviais e valas
improvisadas, as quais, ao final, contaminavam o Córrego Guará. Em
razão disso, em 11/06/2007, lavrou-se o Auto de Infração nº 1616, o
qual foi recebido pela empresa autuada, conforme folha 140. Quase
cinco anos depois, em 23/02/2011, a Agência Reguladora de Águas,
Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (ADASA) expediu
Termo de Notificação nº 003/2011 - SFS/ADASA, comunicando à
VIPLAN que, após vistoriar o local, detectou lançamento irregular de
águas residuárias, com indícios de óleos e graxas, em rede pública de
drenagem urbana. De igual modo, a CAESB, em 16/06/2011, vistoriou
o local e verificou a contumácia em causar dano ambiental, conforme
folhas 276/278.

Em 13/04/2012, peritos do Instituto de Criminalística comparecem ao


local para quantificar e datar os danos ambientais e concluíram que o
óleo derivado de petróleo originava-se da empresa Viação Planalto -
VIPLAN"e que o lançamento de águas residuárias e derivados de
2º GRAU
petróleo em redes de águas pluviais causa poluição e danos aos corpos
Tribunal de Justiça do receptores
hídricos Distrito Federal
e aose Territórios TJ-… terrestres em que estão
ecossistemas
inseridos, conforme relatório de folha 336.

As testemunhas Anne de Paula Maia, Luzideth Luzia Gonçalves,


Fernando César Magalhães, Debora Tolentino e Luciano de Castro são
os peritos responsáveis pelo exame do local e foram unanimes ao
afirmaram que a vala de águas pluviais estava impregnada de resíduo
de óleo, as quais vão para curso d'água sem tratamento. Assim, a prova
é farta e justifica a condenação dos réus.

Dosimetria
a) Wagner Canhedo Azevedo

A pena-base do crime de poluição por meio de lançamento de resíduos


sólidos ficou no mínimo legal de um ano e, na segunda fase, presente a
atenuante em razão da idade superior a setenta anos e a agravante
prevista no artigo 15, inciso II, alíena a, da Lei 9.605/98, pois cometido
o crime para obter vantagem pecuniária , operou-se a compensação
integral dos institutos, mantendo a pena em um ano de reclusão, que se
torna definitiva ante a ausência de causas osciladoras de na fase
seguinte. A pena pecuniária, fixada em dez dias-multa, é proporcional à
corporal, razão pela qual é mantida. Em relação ao crime de omissão
de medidas de precaução, de igual modo, a pena final ficou no mínimo
de um ano de reclusão, mais dez dias-multa.

Os crimes foram cometidos em condições e circunstâncias


semelhantes, mas o longo espaço de tempo entre os delitos impede o
reconhecimento da continuidade delitiva. Assim, aplica-se a regra do
concurso
Fls. _____

Apelação 20090110037576APR

material de crimes, resultando na pena final de dois anos de reclusão,


mais vinte dias-multa, à razão de cinco salários mínimos. A
primariedade e a quantidade de pena recomendam a manutenção do
regime inicial aberto, bem como a substituição por restritivas de
direitos, conforme artigos 33 e 44 do Código Penal.

b) Wagner Canhedo Azevedo Filho


2º GRAU
A pena-base do crime de poluição por meio de lançamento de resíduos
Tribunal de Justiça
sólidosdoficou
Distrito
no Federal
mínimoe legal,
Territórios
masTJ-…
foi elevada em dois meses, na
segunda fase, ante a agravante prevista no artigo 15, inciso II, alínea a,
da Lei 9.605/98, tornando-se definitiva, pois ausentes causas
osciladoras de pena na fase seguinte. A pena pecuniária, fixada em
onze dias-multa, à razão de cinco salários mínimos, é proporcional à
corporal. Pelos mesmos motivos, a pena do crime de omissão de
medidas de precaução ficou em um ano e dois meses de reclusão, mais
onze diasmulta, à razão de cinco salários mínimos.

A regra do concurso material é aplicável, como já exposto, resultando


em condenação final de dois anos e quatro meses de reclusão, mais
vinte e dois dias-multa, à razão de cinco salários mínimos. A
primariedade e a quantidade de pena recomendam a manutenção do
regime inicial aberto, bem como a substituição por restritivas de
direitos, conforme artigos 33 e 44 do Código Penal.

c) VIPLAN

Quanto à ré VIPLAN, o artigo 21 da Lei 9.605/98 dispõe que, às


pessoas jurídicas são aplicáveis as penas de multa, restrição de direitos
e prestação de serviço à comunidade. Na espécie, apenas a agravante
prevista no artigo 15, inciso II, alínea a, da referida Lei desabona a ré,
de modo que é razoável a manutenção da pena de multa fixada em onze
dias-multa para cada um dos crimes praticados. Aplicada a regra do
concurso material, a condenação final é de noventa dias-multa, à razão
de quinze salários mínimos.

Como é sabido, quando há concurso de crimes, o exame da prescrição


dá-se sobre a pena individualizada. O réu Wagner Canhedo Azevedo
tinha mais de setenta anos à época da prolação da sentença, de modo
que a prescrição da pretensão punitiva dos crimes cometidosem
04/10/2006, 19/04/2007 e 11/06/2007 (ante a infração do artigo 54, §
2º, V, da Lei 9.605/1998) e em 11/06/2007 (infração ao artigo 54, § 3º,
da Lei 9.605/1998,) prescreveram para todos os réus, pois a denúncia
foi recebida somente em 10/06/2015 e o prazo prescricional para
Wagner Canhedo Azevedo e VIPLAN é de dois anos, enquanto ao réu
Wagner Canhedo Azevedo Filho é de quatro anos, conforme artigos
109, inciso V, 114 e 115 do Código Penal.
Quanto às penas por infração ao artigo 54, § 2º, inciso V, da Lei
2º GRAU
Fls. _____
Tribunal de Justiça do Distrito
Apelação Federal e Territórios TJ-…
20090110037576APR

9.605/1998, ocorridas em 23/02/2011 e 13/04/2012, prescreveram


para os réus Wagner Canhedo Azevedo e VIPLAN, mas não para o
corréu Wagner Canhedo Azevedo Filho.

Assim, acompanha-se o relator para dar parcial provimento às


apelações e declarar extinta a punibilidade, em razão da prescrição
retroativa, de todos os crimes imputados a Wagner Canhedo Azevedo e
VIPLAN Viação Planalto Ltda., bem como das condenações resultantes
das condutas cometidas em 04/10/2006, 19/04/2007 e 11/06/2007,
pelo corréu Wagner Canhedo Azevedo Filho. Dá-se provimento à
apelação do Ministério Público para reconhecer o concurso material de
crimes praticados em 23/02/2011 e 13/04/2012.

O Senhor Desembargador MARIO MACHADO - Vogal

Com o relator

DECISÃO

REJEITAR AS PRELIMINARES. DECLARAR A PRESCRIÇÃO DOS


CRIMES IMPUTADOS A WAGNER CANHEDO AZEVEDO E `A
VIPLAN, E AQUELES IMPUTADOS A WAGNER CANHEDO
AZEVEDO FILHO, NOS FATOS OCORRIDOS EM 04/10/2006,
19/04/2007 E 11/06/2007. PROVER A APELAÇÃO ACUSATÓRIA.
UNÂNIME.

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/tj-df/899689687/inteiro-teor-


899689744
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