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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE PEDRO CANÁRIO - ESTADO DO


ESPÍRITO SANTO.

Processo nº 0000286-54.2022.8.08.0051
Réu: Natanael de Souza Miranda
AÇÃO PENAL

NATANAEL DE SOUZA MIRANDA, já qualificado nos autos


em epígrafe, por seu advogado infra-assinado, vem
respeitosamente perante Vossa Excelência, requerer a
juntada das:

RAZÕES DE APELAÇÃO

Requer o processamento do presente recurso, com as


razões recursais em anexo, ao Tribunal de Justiça.

Termos em que,
Pede deferimento.

Pedro Canário (ES), 18 de outubro de 2022.

NILTON MANHÃES NETO


OAB/ES 30.698

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Rua José Jesuíno da Rocha, 80, Sala 03, Centro, Pedro Canário (ES), CEP 29970-000
RAZÕES DE APELAÇÃO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO


ESPÍRITO SANTO

Apelante: Natanael de Souza Miranda


Apelada: Ministério Público
Processo nº: 0000286-54.2022.8.08.0051

EMÉRITOS JULGADORES

Com o devido acatamento e respeito, a r. Sentença


condenatória deve ser reformada, pelos fatos e
fundamentos a seguir apontados.

I. DOS FATOS

O Ministério Público, através de denúncia subscrita


pelo Ilustre Promotor de Justiça, imputa-lhe a
prática do crime previsto no art. 33 da lei nº
11.343/06 e do art. 14 da lei 10.826/03, sob o
argumento de que o acusado tinha em depósito 07
(sete) buchas de maconha e uma arma de fogo.

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Na data dos fatos ocorridos, o apelante estava em sua
casa, quando os militares o chamaram na janela que
fica de frente para a rua.

Quando o apelante apareceu, foi surpreendido pelo


militar que o agarrou e o algemou na grade da janela.

Ato continuo, os militares quebraram o cadeado do


portão e invadiram a casa do acusado, localizando 7
buchas de maconha para consumo pessoal e uma arma de
fogo.

Por tais fatos, fora levado preso em flagrante.

Na instrução processual, ficou de fácil percepção que


a ínfima quantidade de drogas apreendidas (07
buchinhas de maconha) era para consumo pessoal do
apelante.

Em sede de alegações finais, o Douto Promotor de


JUSTIÇA, pugnou pela absolvição do crime de tráfico
de drogas e pela condenação no crime de porte de arma
(art. 14).

Já a douta defesa, também concordou com a absolvição


do crime de tráfico de drogas, e, não sendo o
entendimento do Douto Juiz, pela desclassificação de
tráfico para usuário.

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Requereu ainda, considerando que a arma fora
encontrada no interior da residência do apelante, a
desclassificação de porte de arma para posse de arma
de fogo.

Todavia, o Juiz entendeu por condenar o apelante nas


iras do art. 33, da lei de drogas com a causa de
aumento de pena do art. 40, IV, da lei de drogas.

A Juiz de primeiro grau justificou a sua sentença tão


somente pelo depoimento do Policial Militar.

1. DAS PROVAS DOS AUTOS

A única prova da acusação colhida aos autos, o


testemunho de UM ÚNICO militar e o interrogatório do
réu.

2. DO RECENTE JULGADO DO STJ (QUINTA TURMA)

Para a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça


(STJ), caso o Ministério Público – titular da ação
penal – tenha pedido a absolvição do réu, como regra,
não cabe ao juiz condená-lo, sob pena de violação do
princípio acusatório e da separação entre as funções
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de acusar e julgar. O colegiado entendeu que, para se
contrapor à posição do MP, a sentença condenatória
deve ser fundamentada de forma especialmente robusta,
com a indicação de provas capazes de sustentar essa
situação excepcional.

Com esse entendimento, fixado por maioria de votos, a


turma concedeu habeas corpus de ofício para anular
a sentença condenatória.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. PENAL. PROCESSUAL PENAL. INTIMAÇÃO DO
ADVOGADO CONSTITUÍDO. REGULARIDADE DO ATO
PROCESSUAL. ART. 337-A, III, DO CÓDIGO PENAL. DELITO
DE NATUREZA MATERIAL. MERA INADIMPLÊNCIA
TRIBUTÁRIA. NÃO CONFIGURAÇÃO DO CRIME DE
SONEGAÇÃO. DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO
TRIBUTÁRIA ACESSÓRIA. NÃO CARACTERIZAÇÃO DO
CRIME DO ART. 337-A DO CP. MONOPÓLIO DA AÇÃO
PENAL PÚBLICA. TITULARIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. PEDIDO MINISTERIAL DE ABSOLVIÇÃO.
NECESSÁRIO ACOLHIMENTO. ART. 3º-A do CPP. OFENSA
AO PRINCÍPIO ACUSATÓRIO. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
[...]
4. Nos termos do art. 129, I, da Constituição Federal, incumbe
ao Ministério Público o monopólio da titularidade da ação penal
pública.
5. Tendo o Ministério Público, titular da ação penal pública,
pedido a absolvição do réu, não cabe ao juízo a quo julgar
procedente a acusação, sob pena de violação do princípio
acusatório, previsto no art. 3º-A do CPP, que impõe estrita
separação entre as funções de acusar e julgar.
AREsp 1940726

O Ministro reconheceu a existência de precedentes do


STJ que admitiram a possibilidade de prolação da
sentença condenatória ainda que, nas alegações
finais, o MP tenha pedido a absolvição do réu.
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Entretanto, Noronha apontou que, na Constituição de
1988, houve clara opção pelo sistema acusatório, em
detrimento do viés inquisitório, com a reserva, em
favor do MP, do monopólio da titularidade da ação
penal pública (artigo 129, inciso I, da CF).

Noronha também citou precedente do Supremo Tribunal


Federal (STF) no sentido de que, embora o artigo 385
do CPP seja considerado constitucional, permitindo ao
juiz proferir sentença condenatória em contrariedade
à posição do MP, a situação exige do magistrado um
ônus de fundamentação mais elevado, como forma de
justificar a excepcionalidade da decisão.  

De certo, não observamos justificativa plausível do


Douto Magistrado, uma vez que foram encontradas
ínfimas quantidade de buchinhas de maconha (07), e
ainda, não tem qualquer prova nos autos que leve a
crer que o apelante estava traficando.

3. DO PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO REO

Conforme pode-se observar da Denúncia, a mesma foi


totalmente embasada por testemunhas (policiais
militares), sem qualquer prova robusta ligando o
apelante ao crime.

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Sequer, teve alguma investigação com a oitiva dos
vizinhos da propriedade invadida.

Ocorre que no atual Estado Democrático de Direito, em


especial em nosso sistema processual penal
acusatório, cabe ao Ministério Público comprovar a
real existência do delito e a relação direta com a
sua autoria.

No Direito Penal Brasileiro, para que haja a


condenação é necessária a real comprovação da autoria
e da materialidade do fato, conforme preceitua o
Código de Processo Penal ao prever expressamente:

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a


causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
(...)
VII – não existir prova suficiente para a
condenação. (grifei).

O que deve ocorrer no presente caso. Pois, não há


elementos suficientes para comprovar a relação do réu
Rafael com uma droga encontrada no quintal vizinho à
da sua casa.

Conforme amplamente demonstrado, os militares em


momento algum estava em perseguição de indivíduos, a
verdade real é que pularam silenciosamente o muro da
casa do acusado e tentam atribuir a ele uma droga
encontra em local diverso.
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Dessa forma, o processo deve ser resolvido em favor
do acusado, conforme destaca Celso de Mello no
seguinte precedente:

“É sempre importante reiterar – na linha do magistério


jurisprudencial que o Supremo Tribunal Federal
consagrou na matéria – que nenhuma acusação penal
se presume provada. Não compete, ao réu, demonstrar
a sua inocência. Cabe ao contrário, ao Ministério
Público, comprovar, de forma inequívoca, para além
de qualquer dúvida razoável, a culpabilidade do
acusado. Já não mais prevalecem em nosso sistema de
direito positivo, a regra, que, em dado momento
histórico do processo político brasileiro (Estado novo),
criou, para o réu, com a falta de pudor que caracteriza os
regimes autoritários, a obrigação de o acusado provar a
sua própria inocência (...). precedentes.” (HC 83.947/AM,
Rel. Min. Celso de Mello).

Fato é que de forma leviana instaurou-se o presente


processo, desprovido de provas cabais a demonstrar a
gravidade do ato, consubstanciadas unicamente em
indícios que maculam a finalidade da ação proposta.

Com base nas declarações e provas documentais


acostadas ao presente processo, é perfeitamente
possível verificar a ausência de qualquer evidência
que confirme as alegações do denunciante ou no máximo
uma dúvida quanto a sua imputação.

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Afinal, não há provas que sustentem as alegações
trazidas no processo, sequer indicio contundentes
foram juntados a inicial.

As declarações que instruíram o processo até o


momento, não indicam a conduta especifica do
denunciado, devendo o acusado Rafael ser
imediatamente absolvido, com aplicação imediata do in
dubio pro reo, como destaca os inúmeros precedentes
sobre o tema:

AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. CONSELHEIRO DE


TRIBUNAL DE CONTAS ESTADUAL. DENÚNCIA PELA
PRÁTICA DE ESTELIONATO. FALTA DE JUÍZO DE
CERTEZA QUANTO ÀS IMPUTAÇÕES LANÇADAS.
PREVALÊNCIA DO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO.
ABSOLVIÇÃO DEVIDA. EXEGESE DO ART. 386,
INCISO VII, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
DENÚNCIA JULGADA IMPROCEDENTE. 1. Narra a
denúncia que o réu, atualmente Conselheiro do Tribunal
de Contas do Estado do Rio Grande do Sul, na condição
de Deputado Estadual, com o fim de obter vantagem
indevida em prejuízo da Assembleia Legislativa daquele
Estado, mantendo em erro a Administração mediante
registros falsos, teria contribuído para a inclusão de
pessoas na folha de pagamento do Poder Legislativo
Gaúcho, sem a efetiva prestação dos serviços por esses
servidores. 2. Contudo, as provas colhidas, sob o
crivo do contraditório e com respeito ao devido
processo legal, não autorizam a conclusão
condenatória, pela dúvida quanto à ocorrência do
elemento subjetivo do tipo em relação às condutas
criminosas narradas pela acusação e atribuídas ao
réu. Pleito de absolvição por parte do MPF e da Defesa.
3. É garantido ao acusado, no processo penal, o benefício
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da dúvida, consubstanciado no brocardo in dubio
pro reo. Exegese do art. 386, inciso VII, do Código de
Processo Penal. Precedentes. 4. Ação penal julgada
improcedente. (STJ - APn: 747 DF 2012/0258123-9,
Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de
Julgamento: 18/04/2018, CE - CORTE ESPECIAL, Data de
Publicação: DJe 26/06/2018) (grifei).

EMENTA. APELAÇÃO. MPM. VIOLÊNCIA CONTRA


INFERIOR, LESÃO CORPORAL E AMEAÇA (ARTS. 175,
209 e 223 DO CPM). IMPOSSIBILIDADE DE
COMPROVAÇÃO DO DELITO. PRINCÍPIO IN
DUBIO PRO REO. APLICAÇÃO. NÃO PROVIMENTO
DO RECURSO. MAIORIA. 1. O Réu negou a agressão e a
ameaça, declarando que houve apenas um
desentendimento e empurrões recíprocos entre ele e o
Ofendido, e que não portava arma. 2. A Testemunha
ministerial compromissada confirmou a versão
apresentada pelo Réu. 3. As Testemunhas que dariam
suporte à versão do Ofendido deixaram de ser
compromissadas por serem a esposa e o filho da vítima.
4. Restando dúvida razoável a partir dos
depoimentos produzidos durante a instrução
criminal e ausentes outros elementos de prova,
deve ser mantida a absolvição em homenagem ao
princípio do in dubio pro reo. 5. Apelo desprovido.
Decisão por maioria. (STM - APL:
70013894420197000000, Relator: LÚCIO MÁRIO DE
BARROS GÓES, Data de Julgamento: 10/06/2020, Data
de Publicação: 30/06/2020) (grifei).

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME CONTRA O


PATRIMÔNIO - ROUBOS MAJORADOS EM
CONCURSO FORMAL - PROVAS INSUFICIENTES -
INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO 'IN DUBIO PRO REO' -
ABSOLVIÇÃO. - Se as provas coletadas deixam dúvida
quanto ao envolvimento do réu nos crimes descritos na
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denúncia, a solução absolutória é providência de
rigor, em homenagem ao princípio 'in dubio pro
reo'. (TJ-MG - APR: 10358170004867001 MG, Relator:
Beatriz Pinheiro Caires, Data de Julgamento: 10/09/2020,
Data de Publicação: 18/09/2020) (grifei).

A condenação exige certeza absoluta, fundada em dados


objetivos indiscutíveis, o que não ocorre no caso em
tela.

Sobe o tema, o doutrinador Noberto Avena destaca:

“apenas diante de certeza quanto à responsabilização


penal do acusado pelo fato praticado é que poderá
operar-se a condenação. Havendo dúvidas, resolver-
se-á esta em favor do acusado. Ao dispor que o juiz
absolverá o réu quando não houver, provas suficientes
para a condenação, o art. 386, VII, do CPP, agasalha,
implicitamente, tal princípio. (processo penal. 10ª ed.
Editora Metodo, 2018. Versão ebook, 1.3.15)

Trata-se da devida materialização do princípio


constitucional da presunção de inocência – art. 5º,
inc. LVII, da Constituição Federal, pela qual cabe ao
Estado acusador apresentar prova cabal a sustentar
sua denúncia, impondo-se ao magistrado fazer valer
brocado outro, a saber: allegare sine probare et non
allegare paria sunt – Alegar e não provar é o mesmo
que não alegar.

Não sendo o conjunto probatório suficiente para


afastar toda e qualquer dúvida quanto à

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responsabilidade criminal do acusado, imperativa a
sentença absolutória. A provada autoria deve ser
objetiva e livre de dúvida, pois só a certeza
autoriza a condenação no juízo criminal.

Não havendo provas suficientes, a absolvição do réu


deve prevalecer.

In Dubio Pro Reo

4. DA VASTA GAMA DE JURISPRUDÊNCIAS

Em recentes julgados quando se trata de prova de


acusação exclusivamente testemunhais e ainda as
testemunhas se mostram contraditórias, a absolvição é
o que se impõe.

APELAÇÃO. TRÁFICO DE DROGAS E POSSE DE MUNIÇÃO.


RECURSO DEFENSIVO E MINISTERIAL. PRELIMINAR
REFUTADA. AUTORIA NÃO COMPROVADA.
DEPOIMENTO POLICIAL CONTRADITÓRIO. REFORMA
DA SENTENÇA. ABSOLVIÇÃO EM AMBOS OS DELITOS.
PRELIMINAR: Em relação à alegação de nulidade diante da
violação de domicílio, importa salientar que tal vedação
comporta exceções, tal qual na hipótese de flagrante delito,
prevista no art. 5º, inciso XI da CF, que dispensa mandado
judicial para ingresso na residência. E, no feito em tela,
cumpre referir, também, que os crimes de tráfico de drogas e
posse ilegal de arma/munição, são crimes permanentes, cuja
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consumação se prolonga no tempo. Neste norte, registro que,
no caso em específico, foram apresentados elementos
indicativos razoáveis a apontar a situação de flagrância, uma
vez que os policias foram averiguar denúncia de que no local
ocorria o comércio ilegal de drogas, bem como a posse de arma
de fogo, situação que causa apreensão aos encarregados de
averiguar as informações. Chegando ao endereço, os agentes
encontraram três munições calibre 38 no chão, em frente a
porta de entrada, a qual estava entreaberta. Ato contínuo,
ingressaram no imóvel para proceder buscas e promover o
flagrante, oportunidade em que localizaram os entorpecentes
apreendidos, mas a casa estava desabitada. Assim, compreendo
que o cenário narrado legitima a percepção dos policiais da
existência de tráfico de drogas no local, cuja apreensão de
drogas foi desdobramento da apreensão das munições, não
sendo suficiente para contaminar as provas colhidas.
MÉRITO: A prova contida no feito, entretanto, não
autoriza a condenação do réu pelos delitos narrados na
denúncia. Apresentada a prova oral colhida em juízo e
revisando o depoimento do miliciano em sede administrativa,
observo grave contradição em seus relatos, situação que gera
dúvida intransponível a esta relatora, suficiente a autorizar um
juízo absolutório do delito de tráfico de drogas e ratificar a
absolvição do crime de posse de munição, ainda que por
razões distintas daquelas apresentadas pela origem. O ponto
aqui discutido versa sobre o fato de que o único indício
de autoria existente é proveniente do testemunho
contraditório de um único agente público, sendo
impossível ter-se uma certeza suficiente a indicar que as
drogas apreendidas eram de propriedade do réu e não de
eventual terceiro não identificado. Os elementos
probatórios angariados na fase policial não foram confirmados
na instrução judicial, seja por outras provas que pudessem
substituí-la ou referendá-la, a ponto de evidenciar que o réu,
efetivamente, estava armazenando drogas no local.
Inexistindo, então, prova segura e escorreita a embasar o édito
condenatório, a absolvição do delito de tráfico de drogas, com
fundamento no art. 386, inciso VII do CPP é medida que se
impõe. Com relação ao pleito ministerial, voto pelo
improvimento do pedido de condenação pelo delito de posse
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de munição, diante das razões apresentadas. Prejudicado o
requerimento de afastamento da minorante do art. 33, § 4º da
Lei de Drogas, em razão da absolvição ora promovida.À
UNANIMIDADE, REFUTARAM A PRELIMINAR E, NO
MÉRITO, DERAM PROVIMENTO AO APELO DEFENSIVO E
NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO MINISTERIAL,
PREJUDICADO NO TOCANTE AO PEDIDO DE
AFASTAMENTO DA MINORANTE DA LEI DE DROGAS.
(TJ-RS - APR: 70084558113 RS, Relator: Rosaura Marques
Borba, Data de Julgamento: 25/11/2020, Segunda Câmara
Criminal, Data de Publicação: 30/11/2020) – Grifei.

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - ROUBO MAJORADO -


RECURSO MINISTERIAL - INSUFICIENCIA DE LASTRO
PROBATÓRIO A SUPORTAR A CONDENAÇÃO - AUTORIA
DUVIDOSA - DEPOIMENTO POLICIAL CONTRADITÓRIO
- IN DUBIO PRO REO - ABSOLVIÇÃO MANTIDA. -
Embora se deva dar crédito ao testemunho policial, o
mesmo constitui prova demasiado indireta para uma
condenação se marcado pela contradição das afirmações
feitas em depoimento judicial - Em virtude do princípio
in dúbio pro reo, apenas com a comprovação irrefutável
da autoria delitiva, deve ser mantido édito condenatório.
Caso contrário, amparada no referido princípio constitucional,
a absolvição é medida que se impõe.
(TJ-MG - APR: 10145140648836001 Juiz de Fora, Relator: Sálvio
Chaves, Data de Julgamento: 20/02/2019, Câmaras Criminais /
7ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 01/03/2019).
Grifei.

5. DA ATIPICIADADE DA CONDUTA

Há de salientar que em momento algum o Sr. Rafael


Silva dos Anjos foi avistado entregando ou fazendo
qualquer tipo de menção a comercialização de drogas.
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Deve ser entendido, que o direito penal cuida da
realidade fática dos fatos e não de meras conjecturas
ou presunções.

Ponto importante a ser lembrado é que na pratica da


comercialização de drogas sempre é encontrado com o
suspeito quantidades significativas de dinheiro
trocado e grande quantidade de drogas, porém com o
Sr. Rafael, nada foi encontrado.

O contexto probatório desenhado no processo pelo


Ilustre representante do Ministério Público é
ilusório, não existe, pois está calcado apenas em
suposições, indícios e ilações duvidosas, que a luz
do Direito é impossível de ser usado para tornar fato
típico.

O princípio da não-culpabilidade previsto na


Constituição da República e o princípio da inocência
estabelecido nas convenções internacionais conferem
ao Réu segurança processual. O Ministério Público
enfrenta o ônus de comprovar a materialidade e a
autoria delituosa no que concerne a mercancia em
relação ao denunciado.

Não deve haver inversão do ônus probatório. O Réu não


carece provar inocência quanto a mercancia, pois que,
assim não agia no momento de sua prisão.
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O réu confessa que estava fumando maconha, sendo sua
conduta totalmente atípica.

6. A PRESUNÇÃO DE VERACIDADE DOS


DEPOIMENTOS DOS POLICIAIS MILITARES EM
FACE DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

A prova testemunhal tem muitas peculiaridades,


notadamente no caso de policiais militares, os quais
gozam de presunção de veracidade, cabendo ao réu
fazer prova em contrário, ocorrendo uma verdadeira
inversão do ônus da prova em prejuízo deste,
maculando de morte o princípio da presunção de
inocência.

Sobre a confiança depositada nos policiais militares,


o autor Vitor de Paula Ramos:

Outros fatores usados no Direito para “avaliar” a


credibilidade de uma testemunha – como a posição que a
testemunha ocupa, sua religião, sua boa fama dentro de
uma comunidade, sua condição de ser ou não pai/mãe
de família, estar ou não empregado – nada dizem de
seguro a respeito da indicação de alguma condição mora,
no sentido de uma tendência de dizer a verdade.
O que ocorre em contextos de testemunho em
sentido amplo, cotidiano, é que as pessoas acabam
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por “baixar a guarda” epistêmica quando diante de
terceiros em que confiam. Entretanto, tal “baixa de
guarda”, apesar de natural do ser humano, será aceitável
somente em determinadas posições e contextos
epistêmicos; em geral, naqueles em que a verdade
importa menos. – Grifo meu. (RAMOS, 2021, p. 116).

Ou seja, considerando a confiança do Julgador nos


policiais militares, seus depoimentos são aceitos com
poucas ressalvas, partindo-se do pressuposto que
estão falando a verdade e querem auxiliar a
proporcionar uma sociedade mais segura, “baixando a
guarda” nesses depoimentos, ao contrário de uma
oitiva de testemunha civil desconhecida.

De outro lado, O Superior Tribunal de Justiça afirma


que os policiais estão envolvidos na ocorrência e
estão longe de ser imparciais:

De modo geral, o argumento utilizado para legitimar a


utilização do testemunho de policiais militares que
diligenciaram o injusto objeto de julgamento, como
fundamento de uma decisão condenatória, circundam
duas assertivas: (a) a não delimitação, por parte do CPP,
de quem pode ou não ser testemunha; e (b) o fato de
gozarem, as declarações das autoridades, de presunção
de veracidade. [...]
Há uma relação de interesse evidente entre o
policial e a causa para a qual serve de
testemunha. Ao mesmo tempo, há a
influência sofrida pelo modus operandi das
polícias (e o papel que estas cumprem no
sistema punitivo), que atuam reproduzindo
as distorções do tecido político que lhe dão
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causa, abdicando da legalidade que formata a
criminalização secundária, o que leva à
necessidade de um discurso que distorça os
fatos para que se adequem à racionalidade
que os tornariam legítimos. Não por outro motivo
a realidade nos informa sobre a atuação arbitrária destes
órgãos repressivos, com altos índices de abusos de poder
e violação dos direitos individuais. Entre a farda e a toga:
as contradições da utilização dos testemunhos policiais
como elemento justificador da criminalização da
pobreza. Grifo meu. (BRASIL, Superior Tribunal de
Justiça, Habeas Corpus nº 598.051/SP, relator Ministro
Rogério Schietti Cruz, julgado em 02/03/2021).

Assim, é possível notar que com a presunção de


veracidade dos depoimentos dos agentes policiais
ocorre uma verdadeira inversão do ônus da prova em
desfavor do réu, sendo que, tudo que o policial
disser será presumidamente verdadeiro e o réu tem que
buscar meios para contrapor tais versões.

Insta salientar que não se busca desqualificar a


prova testemunhal, mas tal prova deve ser vista com
reservas, como estabelece a doutrina mais abalizada,
notadamente quando se trata de agentes estatais
incumbidos da repressão ao crime, que tendenciarão
para a versão da acusação.

a palavra dos policiais não precisa ser provada, pois


ostenta caráter de fé pública e o que tais agentes
dizem são incorporados nas denúncias, decisões e
sentenças.
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O que é o do presente caso.

Entretanto, o que os acusados dizem praticamente têm


uma “presunção de mentira”, de forma que nunca são
levados em consideração e descartados sob o
fundamentado de que o réu tem o “direito de mentir” e
não provou suas alegações.

Com isso, percebe-se a fragilidade da questão


probatória no direito processual penal brasileiro,
sendo que é necessário que o processo penal
siga standards probatórios altos e rígidos para
verdadeiramente fazer jus ao princípio do in dubio
pro reo e assegurar que as garantias constitucionais
e legais sejam respeitadas.

In dubio pro reo.

7. DO DEPOIMENTO DOS POLICIAIS MILITARES


NAS AÇÕES PENAIS – PARCIALIDADE NAS
ALEGAÇÕES

Os inquéritos policiais e ações penais têm o


protagonismo dos policiais militares.

Dessa forma, nota-se que na esmagadora maioria dos


casos analisados, a materialidade do crime é
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comprovada por autos de exibição e apreensão de
drogas juntadas aos autos, com laudo de constatação
provisória e posterior laudo pericial definitivo. 

Para constatar a autoria, ligando a droga ao réu, bem


como a finalidade comercial, é a palavra dos
policiais que vai ser considerada, notadamente como
descreve a ocorrência.

Fernando da Costa Tourinho Filho, afirma que o valor


probatório da testemunha é como qualquer outra, ou
seja, relativa:

Depoimento de policiais. Dispondo o art. 202 do CPP


que qualquer pessoa pode ser testemunha, obviamente
não há nem pode haver nenhum impedimento de os
policiais servirem de testemunha. Todavia se
depuserem sobre os fatos que foram objeto de
diligências que contaram com a sua participação, é
natural que suas palavras devam ser recebidas com
certa reserva, em face do manifesto interesse em
demonstra que o trabalho realizado surtiu efeito e
que a ação por eles desenvolvida foi legítima . Essa
reserva deve ser ainda maior se por acaso houver outras
pessoas que possam servir de testemunhas. [...]
Se por acaso um cinegrafista amador não houvesse
registrado aquelas cenas de brutalidade em Diadema
provocadas por policiais, se por acaso o Ministério
Público de São Paulo não houvesse registrado, com
filmes, o tráfico de drogas na “Cracolândia”, envolvendo
diretamente policiais, ninguém teria acreditado no que a
televisão mostrou... Os maus policiais infiltram-se na
Corporação, denegrindo a sua imagem. Dar crédito aos
seus depoimentos quando eles têm interesse em
demonstrar um pseudoêxito em suas diligências é
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temerário... Não são incomuns os flagrantes forjados,
em que policiais colocam entorpecentes no veículo do
investigado. – Grifos meus. (TOURINHO FILHO, 2017, p.
616).

A pesquisadora Maria Gorete de Jesus também


estabelece que:

A questão em foco não é fazer um juízo moral dos


policiais, mas explicitar que os agentes de
segurança em muitas vezes terão interesse de que o
réu seja condenado para legitimar a sua atuação.
Pois, em última análise, é por meio de seu
depoimento que os policiais legitimarão a prisão
por eles efetuada e afastarão qualquer
responsabilização por abuso de autoridade. Sendo
assim, as declarações revelam-se frágeis. Por isto, a
importância de buscar outros meios de provas para
basear uma sentença penal condenatória. Grifo meu. (DE
JESUS, 2016, p. 85 e 88).

Dessa forma, verifica-se que o discurso oficial dos


autos não é exatamente condizente com a realidade, de
forma que, obviamente os agentes da lei buscarão
narrar os fatos de maneira que seja eximido de
qualquer responsabilização administrativa ou criminal
de como ocorreu a abordagem, focando na droga e o
suposto traficante apreendido.

8. CONCESSÃO DO TRÁFICO PRIVILEGIADO

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Nos termos do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, as
penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois
terços, vedada a conversão em penas restritivas de
direitos, desde que o agente seja primário, de bons
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas
nem integre organização criminosa.

Percebe-se, assim, que há previsão de requisitos


específicos para que o condenado faça jus à causa de
diminuição de pena, quais sejam, ser primário, não se
dedicar a atividade criminosa e não integrar
organização criminosa. Todos estes requisitos são
integralmente satisfeitos pelo apelante.

O MM Juiz, se limitou em dizer que considerando a


quantidade de drogas, a variedade de drogas e por o
réu responder a outros processos, não preenche o
requisito do “Tráfico Privilegiado.

Observamos, que não fora observado nenhum juízo


desfavorável ao réu, capaz de afastar a minorante
prevista no art. 33, §4º, da lei de drogas.

A quantidade de drogas não é motivo para afastar o


Tráfico Privilegiado, este já é um entendimento
consolidado.

APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS.


ABSOLVIÇÃO. INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA.
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ILICITUDE DA PROVA. VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO.
CRIME PERMANENTE. CONSENTIMENTO DO
MORADOR. MATERIALIDADE E AUTORIA
COMPROVADAS. REDUÇÃO DA PENA. TRÁFICO
PRIVILEGIADO. QUANTIDADE DE DROGAS.
ALTERAÇÃO DO REGIME. SUBSTITUIÇÃO POR
RESTRITIVAS. 1 - Comprovado pela prova produzida
durante a persecução penal - em especial pelos
depoimentos dos policiais ouvidos em juízo - a
materialidade e autoria do delito descrito no artigo 33,
caput, da Lei nº 11.343/06, impõe-se referendar a
condenação pela prática do crime de tráfico ilícito de
drogas, restando inviabilizada a tese absolutória por
insuficiência probatória e ilícitude da prova. 2 - É lícita a
conduta do policial que ingressa na residência do
suspeito, com o consentimento do morador, a fim de
fazer cessar a prática criminosa e apreender a substância
entorpecente encontrada no local, bem como efetuar a
prisão do agente, independente de mandado, porquanto
respaldada em uma das exceções à regra constitucional
da inviabilidade de domicílio, prevista no artigo 5º, inciso
XI, da Carta Magna brasileira. 3 - A quantidade de
drogas apreendidas, por si só, não é
suficiente para afastar o reconhecimento do
tráfico privilegiado, mormente quando não
há outras dados concretos no sentido
comprovar a dedicação do agente a atividades
criminosas. 4 - Não havendo circunstâncias judiciais
desfavoráveis e estabelecidas as penas em 04 anos e 02
meses de reclusão, impõe-se a modificação do regime
para o semiaberto, conforme as diretrizes do artigo 33, §
2º, alínea b, do Código Penal. 5 - Não atendidos os
requisitos do artigo 44 do Código Penal, é impossível a
substituição da pena privativa de liberdade por
restritivas de direitos. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. PENA REDUZIDA.
ALTERAÇÃO DO REGIME PARA O SEMIABERTO.
(TJ-GO - APR: 04268747020168090130, Relator: DES.
CARMECY ROSA MARIA ALVES DE OLIVEIRA, Data de
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Julgamento: 08/08/2019, 2A CAMARA CRIMINAL, Data
de Publicação: DJ 2811 de 20/08/2019)

PENAL. PROCESSO PENAL. TRÁFICO


INTERNACIONAL DE ENTORPECENTES. PENA-BASE
ACIMA DO MÍNIMO. QUANTIDADE E NATUREZA DA
DROGA. PENA EXARCEBADA. REDUÇÃO. CONFISSÃO
RECONHECIDA. CAUSA DE DIMINUIÇÃO PREVISTA
NO ART. 33 § 4º DA LEI 11.343/06. APLICABILIDADE
EM CASO DE “MULA”. APELAÇÃO PROVIDA. 1 – De
acordo com o artigo 42 da Lei nº 11.343/2006, o Juiz, na
fixação das penas, considerará, com preponderância
sobre o previsto no artigo 59 do Código Penal, a natureza
e a quantidade ou substancia do produto, a
personalidade e a conduta social do agente. No presente
caso, a quantidade de droga apreendida,
aproximadamente 3 (três) quilos, e a natureza da
substancia apreendida, cocaína, droga de notórios efeitos
maléficos ao organismo humano que leva os seus
usuários a um aumento progressivo da dependência
físico-químico-psicológica, evidenciam, realmente, uma
culpabilidade exacerbada na conduta do acusado,
justificando, destarte, o estabelecimento da pena-base
acima do mínimo legal. No entanto, o réu não possui
conduta desabonadora, além de ser primário, o que não
pode ser desconsiderado quando da dosimetria. Assim, a
pena-base fixada mostra-se exacerbada diante das
circunstâncias do caso, razão pela qual a reduzo para 6
(seis) anos de reclusão e 600 (seiscentos) dias-multa; 2 –
ainda que a autoria fosse conhecida devido ao flagrante,
não se pode deixar de reconhecer a confissão, que de fato
ocorreu. Outrossim, a própria sentença de primeiro grau,
ao analisar a autoria delitiva, utilizou como fundamento
o interrogatório do acusado. Consequentemente, a
aplicação da atenuante é medida que se impõe; 3 – Não
há provas que o réu faz parte de organização
criminosa, presumindo-se que serviu como “mula”
de forma esporádica, diferenciando-se do traficante
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profissional, sendo, pois, merecedor do benefício de
redução da pena previsto no artigo 33, §4º, da Lei nº
11.343/06. Porem, não se pode desconsiderar que a
situação é vedada, uma vez que a chamada “mula”,
embora não se compare com os chefes do tráfico
internacional, exerce papel de grande importância para o
esquema criminoso, já que atua no transporte da droga.
Desta feita, somando-se esse fato à qualidade e à
natureza do entorpecente apreendido, aplico a benesse
no patamar de 1/6; 4 – Apelação provida.
(TRF-3 – ACR: 9100 SP 2009.61.19.009100-2 Relator:
Desembargador Federal Cotrim Guimarães, Data de
Julgamento: 31/08/2010, Segunda Turma).

HABEAS CORPUS. TRÁFICO INTERNACIONAL DE


DROGAS. PENA-BASE. FIXAÇÃO ACIMA DO
PATAMAR MÍNIMO. MOTIVOS DO CRIME. LUCRO
FÁCIL. CIRCUNSTÂNCIA INERENTE AO TIPO PENAL.
CAUSA DE DIMINUIÇÃO PREVISTA NO ART. 33, § 4º,
DA LEI Nº 11.343/06. SENTENÇA. RECONHECIMENTO.
APELO EXCLUSICO DA DEFESA. DECOTE.
IMPOSSIBILIDADE. PACIENTE QUE ATUAVA COMO
“MULA”. CONSIDERÁVEL QUANTIDADE DE DROGAS.
INCIDÊNCIA DA MINORANTE NO PATAMAR
MÁXIMO. INVIABILIDADE. SUBSTITUIÇÃO POR
RESTRITIVAS DE DIREITO. MEDIDA QUE NÃO SE
MOSTRA SOCIALMENTE RECOMENDÁVEL. REGIME
SEMIABERTO. POSSIBILIDADE. 1. A existência de
circunstância judiciais desfavoráveis autoriza a fixação da
pena-base acima do patamar mínimo e a escolha por
regime prisional mais severo. 2. Na hipótese, houve a
exasperação da reprimenda sob o argumento de que a
paciente teria cometido o delito visando o lucro fácil,
motivação inerente ao tipo penal. 3. Configura
constrangimento ilegal a exclusão de causa de
diminuição reconhecida na sentença se o apelo foi
interposto somente pela defesa. 4. Além disso, o fato de
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as instancias ordinárias terem asseverado que a
conduta do paciente se amoldaria à comumente
denominada “mula” não impede a incidência da
referida minorante. 5. A considerável quantidade de
drogas apreendida – cerca de 1 quilo de cocaína – é
justificativa hábil a observar a aplicação da benesses
prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06 no patamar
máximo. Assim, mostra-se razoável a fração de 1/3 (um
terço), utilizada pelo Juiz do processo. 6. Tendo o crime
sido praticado antes da entrada em vigor da Lei nº
11.464/2007, ela não se lhe pode aplicar, sob pena de
ofensa ao principio da irretroatividade da norma penal
mais gravosa. 7. Muito embora a reprimenda final não
alcance 4 (quatro) anos de reclusão, é devido o
estabelecimento do regime prisional intermediário,
principalmente pelas características que envolvem a
questão (apreensão de consideraval quantidade de
cocaína e internacionalmente do delito). 8. Pelas
mesmas razões, não se mostra socialmente
recomendável a substituição da privativa de liberdade
por restritivas de direito (art. 44, III, do Código Penal). 9.
Ressalta-se que esta Sexta Turma vem reconhecendo a
possibilidade de deferimento do benefício mesmo se
praticado na vigência da Nova Lei Antitóxicos, mas, na
hipótese presente, a solução não se apresenta como
adequada. 10. Ordem parcialmente concedida para, de
um lado, afastando a circunstacnia judicial
indevidamente valorada e restabelecendo a causa de
diminuição prevista no art. 33, §4º, da Lei nº 11.343/06 no
patamar de 1/3 (um terço), reduzir a pena recaída sobre a
ora paciente, de 4(quatro) meses de reclusão, e 550
(quinhentos e cinquenta) dias-multa a 3 (três) anos, 10
(dez) meses e 20 (vinte) dias de reclusão, mais 389
(trezentos e oitenta e nove) dias-multa; de outro lado,
estabelecer o regime semiaberto para o inicio do
cumprimento da senção corporal.
(STJ – HC: 144293 SP 2009/015176-7, Relator: Ministro
OG FERNANDES, data do julgamento: 30/06/2010, T6 –
SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 09/08/2010).

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PENAL. EMBARGOS INFRINGENTES. TRÁFICO
INTERNACIONAL DE ENTORPECENTES.
DOSIMETRIA DA PENA. PENA-BASE. NATUREZA E
QUANTIDADE DA DROGA. QUANTUM FIXADO
ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. CONFISSÃO.
OCORRÊNCIA. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA
PREVISTA NO ART. 33, § 4º DA LEI N. 11.343/06
MANTIDA. "MULA" EVENTUAL. RECURSO
IMPROVIDO. 1. Dosimetria da pena. A quantidade e
natureza da droga permitem a fixação da pena-base
acima do mínimo legal. 2. Confissão espontânea.
Ocorrência. 3. Causa de diminuição prevista no § 4º
do artigo 33 da Lei n.º 11.343/06 mantida no patamar
mínimo. Inexistência de provas a indicar que a ré
integre organização criminosa. "Mula" eventual do
tráfico. 4. Recurso improvido.
(TRF-3 - EIfNu: 00012718320094036119 SP, Relator:
DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARÃES,
Data de Julgamento: 05/07/2012, PRIMEIRA SEÇÃO,
Data de Publicação: e-DJF3 Judicial 1 DATA:27/07/2012)

Apesar de o dispositivo mencionar que “as penas


poderão ser reduzidas”, e, ao contrário do quanto
sustentado na decisão recorrida, a Defesa entende
que, se estiverem presentes os requisitos legais, não
haverá faculdade judicial na aplicação do redutor,
mas, sim, uma obrigação judicial, sob pena de se
autorizar a criação de normas restritivas de direitos
pelo Estado-Juiz. E, satisfeitos os requisitos do
modo integral, a redução há de ser máxima.

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É importante que o raciocínio fique claro: o § 4º do
art. 33 da Lei de Drogas não prevê nada sobre
quantidade ou qualidade das drogas. Assim, qualquer
limitação da causa de diminuição referente tais
fatores consistirá inadmissível criação normativa –
restritiva – pelo órgão judicial.

Acrescente-se que a aplicação analógica do art. 42 do


mesmo diploma afigura-se como tecnicamente
equivocada, eis que tal dispositivo traz critérios
para utilização em primeira fase de aplicação da
pena, sendo que as causas de diminuição de pena
incidem na segunda.

Esse, precisamente, é o posicionamento do Colendo


Supremo Tribunal Federal:

“[A] 2ª Turma desta Corte, durante a análise do HC n.


101.317/MS, de relatoria originária da Min. Ellen Gracie,
teve a oportunidade de sufragar entendimento no
sentido de que a quantidade de droga apreendida é
circunstância que deve ser sopesada na primeira
fase de individualização da pena, nos termos do art.
42 da Lei n. 11.343/2006, sendo impróprio invocá-la
por ocasião de escolha do fator de redução previsto no
§ 4º do art. 33 da nova Lei de Drogas”. (HC 104.423/AL,
Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21.09.2010)

Em outras palavras, preenchendo todos os requisitos


legais, a aplicação máxima da causa de diminuição de
pena prevista no §4º da lei 11.343/06, em seu grau
máximo, não constitui mera faculdade conferida ao
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magistrado, mas direito subjetivo do réu. (v. MARCÃO,
Renato.Tóxicos: Lei n. 11.343, de 23 de agosto de
2006: nova lei de drogas. Editora Saraiva. 7 ed. p.
163).

Cumpre salientar que a participação em organização


criminosa, bem como a reiteração delitiva devem ser
devidamente comprovadas nos autos e não podem ser
presumidas.

Sobre o tema, destaca-se decisão do E. Tribunal de


Justiça de São Paulo, que reconheceu ser correta a
aplicação do benefício em patamar máximo, quando o
acusado preenche satisfatoriamente os requisitos
legais.

“A pena, tendo em vista a primariedade da acusada, a


menoridade relativa e ausência de antecedentes, bem
como a ausência de provas no sentido de que
integrasse organização criminosa, ou se dedicasse
com habitualidade a esse tipo de atividade, foi reduzida
de dois terços, ou seja, aplicou-se o redutor máximo
previsto no artigo 33, § 4º, da Lei 11.343, de
23.08.2006. Correta a condenação, nada havendo a
ser alterado. Saliente-se que, ao contrário do que
alega o “Parquet”, correta a aplicação do benefício
no limite máximo, posto que a sentença
reconheceu tratar-se de agente primário, sem
antecedentes desabonadores e, consideradas as
provas carreadas aos autos, de fato insuficientes
para demonstrar que se tratava, a ré, de integrante
de organização criminosa, ou dedicada

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habitualmente a esse tipo de atividade, fazia jus à
pena mínima prevista para o delito de tráfico,
entendido como necessário e suficiente para a
censura do crime realizado.” (Trecho do voto do
relator Figueiredo Gonçalves. Apelação criminal nº
993.08.041223-5- TJSP, DJE 29.10.2008, julgamento
26.08.2008)

No mesmo sentido é o entendimento do C. Superior


Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS (ART. 33,


CAPUT DA LEI 11.343/06). PENA FIXADA EM 5 ANOS
DE RECLUSÃO. APLICAÇÃO DA CAUSA DE
DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA NO § 4o. DO ART.
33 DA LEI 11.343/06 NA PROPORÇÃO DE 1/3. PENA
CONCRETIZADA: 3 ANOS E 4 MESES DE
RECLUSÃO. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO. EXAME
FAVORÁVEL DE TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS
JUDICIAIS. AGENTE PRIMÁRIO E POSSUIDOR DE
BONS ANTECEDENTES. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL EVIDENCIADO. PARECER MINISTERIAL
PELO DEFERIMENTO DO WRIT. ORDEM
CONCEDIDA, APENAS PARA APLICAR A CAUSA DE
DIMINUIÇÃO EM 2/3 (GRAU MÁXIMO).
1. Se o legislador da Lei 11.343/06 não forneceu
especificamente os requisitos para fixação do quantum
da diminuição prevista no seu artigo 33, § 4o., impõe-
se como critério a observância da análise das
circunstâncias judiciais, não só as constantes do artigo
59 do CPB, como as demais mencionadas na Lei
Antidrogas, e amplamente utilizadas como referencial
quando se trata de fixação das penas previstas.
2. Reconhecidos em favor do paciente os requisitos
legais da causa especial de aumento, sendo-lhe
favorável o exame de todas as circunstâncias
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judiciais, não tendo sido apontada nenhuma
circunstância excepcional que justificasse a
diminuição na proporção de 1/3, a redução da pena
pela minorante prevista no § 4o. do art. 33 da Lei
11.343/06 deve ser realizada no patamar máximo.
3. Parecer do MPF pela deferimento do writ.
4. Ordem concedida, para aplicar a causa de
diminuição prevista no art. 33, § 4o. da Lei 11.343/06,
em seu grau máximo (2/3).(HC 120.832/RS, Rel.
Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA
TURMA, julgado em 04/06/2009, DJe 03/08/2009)

Feitas tais considerações, é de se ver, no caso


concreto, que o recorrente faz jus ao direito líquido
e certo de se beneficiar da causa de diminuição da
pena na fração de 2/3, pois, para a incidência da
norma é necessário, taxativamente, que o agente seja
primário, de bons antecedentes e que não se dedique
às atividades criminosas, tampouco integre
organização criminosa. É o caso.

Ainda, importante ressaltar que a sentença citada do


processo 0001077-96.2017.8.08.0051, se trata de uma
única munição encontrada no bolso do réu.

Aguarda-se, dentro dessa perspectiva, a reforma da r.


sentença de primeiro grau, reconhecendo-se a
aplicação da causa especial de redução de pena, em
seu patamar máximo, nos termos do art. 33, § 4º, da
Lei de Drogas.

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O réu é primário, de bons antecedentes, não se dedica
a atividade criminosas nem integra organização
criminosa.

Ainda friso, que ações penais em curso não afastam a


aplicação da minorante, conforme precedentes:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.


TRÁFICO DE DROGAS. PENA BASE.
QUANTIDADE DE DROGA. TRÁFICO
PRIVILEGIADO. AÇÕES PENAIS EM CURSO
NÃO AFASTAM A INCIDÊNCIA DA
MINORANTE. POSICIONAMENTO DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - STF. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. O montante da
exasperação fica a cargo da discricionariedade
vinculada do julgador, porquanto inexiste critério
objetivo no Código Penal - CP. Rever tal montante
requer o revolvimento fático-probatório,
procedimento vedado na via estreita do habeas
corpus. Contudo, no caso dos autos, a natureza e a
quantidade de droga apreendida (46,5g de
maconha) não evidencia maior reprovabilidade do
delito que justifique qualquer incremento na pena
base. 2. Consoante precedentes, verifica-se
nesta Corte a adesão ao posicionamento
advindo do STF, ou seja, a existência de ações
penais em andamento não justifica a
conclusão de que o sentenciado se dedica às
atividades criminosas para fins de obstar a
aplicação do art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006. 3.
Agravo Regimental no habeas corpus desprovido.
(STJ - AgRg no HC: 712312 PI 2021/0397258-1,
Relator: Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, Data de
Julgamento: 15/02/2022, T5 - QUINTA TURMA,
Data de Publicação: DJe 18/02/2022) – Grifei.
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Por tais razões, pelo princípio da eventualidade,
caso entenda pela manutenção da condenação, apenas
com base nas falas dos militares, requer a conceção
da minorante em seu grau máximo.

9. PEDIDO LIMINAR - REVOGAÇÃO DA PRISÃO


PREVENTIVA

Tomando por base todo o retro mencionado, ainda que


sobrevenha condenação, esta não poderá se manter
distante do mínimo legal, bem como do regime inicial
aberto ou semiaberto, ainda, levando-se em conta
a PRIMARIEDADE, BONS ANTECEDENTES, EMPREGO
LÍCITO e RESIDÊNCIA FIXA, não há motivos que ensejem
a manutenção do réu no ambiente carcerário.

Ora, muito se fala que o sistema prisional está


superlotado.

No presente caso, conforme já demonstrado, o réu


trabalha licitamente, possui vínculo empregatício,
tem residência fixa, filho menor. Assim, prorrogar
ainda mais a permanência deste no já degradante
ambiente carcerário só fará piorar a situação,
inclusive, com grande possibilidade do mesmo partir

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de vez para o crime, visto que as cadeias hoje
funcionam como verdadeiras “escolas do crime”.

Isto posto, pede-se que, revogue a prisão preventiva,


para que o réu possa aguardar a resposta do presente
recurso em liberdade, aplicando medidas cautelares
diversas da prisão.

PEDIDO

Ante o exposto, requer-se que Vossa Excelência se


digne:

1. O recebimento do presente recurso nos seus efeitos


ativo e suspensivo, concedendo ao réu o direito de
aguardar em liberdade, expedindo o competente alvará
de soltura, mediante medidas cautelares diversas da
prisão, podendo ser até mesmo acompanhado por
tornozeleira eletrônica.

2. o deferimento da gratuidade da justiça,


considerando que o réu, desde a sua prisão não mais
aufere renda mensal.

3. Requer o deferimento da perícia na bolsa que foram


encontradas as drogas, para verificar se possui
alguma digital do apelante.
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4. A total procedência do recurso para que seja
reformada a r. sentença recorrida, absolvição do
crime de tráfico, na forma do art. 386, II, V e VII,
considerando que ficou provado nos autos que o réu
não concorreu com o crime de Tráfico de Drogas,
considerando o mérito acima.

5. Sucessivamente, caso não seja o entendimento de V.


Excelência o retro exposto, sobrevindo condenação, a
fixação da pena no patamar mínimo, bem como o
reconhecimento da causa de diminuição de pena, em seu
patamar máximo, conforme previsto no art. 33, § 4º da
Lei 11.343/06.

Nesses termos,
Pede deferimento.

Pedro Canário (ES), 21 de junho de 2022.

NILTON MANHÃES NETO


OAB/ES 30.698

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