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Luciano Douglas R. S.

Silva
Advogado
OAB/R0-3091

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DE


MACHADINHO D´OESTE-RO
Processo: 0001100-85.2016.8.22.0019
Autor: Ministério Público
Réu: Osvair Copercini

OSVAIR COPERCINI, já qualificado nos autos suso, vem,


através de seu procurador, com espeque no artigo 588, do Decreto-Lei nº
3.689/41, c/c. artigo 5º, inc. LV, da atual Carta Política Brasileira apresentar
tempestivamente suas

RAZÕES DE RECURSO

para que sejam recebidas e após cumpridas as formalidades de praxe,


remetidas à Câmara Criminal preventa do Tribunal de Justiça de Rondônia.

Nestes Termos;

Pede e Espera Deferimento.

Machadinho D’Oeste-RO, 20 de agosto de 2021

Luciano Douglas R. S. Silva


Advogado
OAB/RO-3091

1
Av. Diomero Moraes Borba, nº 2440- Sala 01-Fone-16-9.8861-2551 (WhatsApp)
Machadinho D´Oeste–RO - CEP 76.868-000
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Luciano Douglas R. S. Silva
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OAB/R0-3091

PRECLARA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE


RONDÔNIA
Processo: 000110-85.2016.8.22.0019
Apelante: Ministério Público
Apelado: Osvair Copercini

RAZÕES DE RECURSO

ÍNCLITO RELATOR
COLENDA CÂMARA
EMINENTES DESEMBARGADORES

A presente ação penal foi proposta pelo Ministério Público


com escopo de responsabilizar criminalmente o réu Osvair Copercini.
Foi prolatada sentença reconhecendo a prescrição, a qual foi
anulada por essa colenda Câmara Criminal.
Ao prolatar nova sentença, assim decidiu o juízo de piso:

“Ante o exposto, julgo procedente a denúncia de fls. 03/05, para


condenar Osvair Copercini, já qualificado nos autos, como incurso nas
penas dos artigos 38, "caput", c/c 41, "caput" e 48, "caput", todos da Lei
n° 9605/98, combinados com artigo 71, do Código Penal, passando a
dosar-Ihe a pena”.

Inicialmente deve-se dizer que a sentença anulada não tem o


condão de interromper a prescrição. Nesse sentido buscamos a jurisprudência
dessa Corte, vejamos:

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“APELAÇÃO. ESTELIONATO E USO DE DOCUMENTO


FALSO. PRESCRIÇÃO RETROATIVA. OCORRÊNCIA. EXCLUSÃO DO
AUMENTO DA CONTINUIDADE DELITIVA. SÚMULA 497 DO
STF. SENTENÇA ANULADA. NÃO INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO.
EXTINTA A PUNIBILIDADE.
Nos termos do entendimento pacífico dos Tribunais Superiores,
somente a sentença válida (e não aquela anulada) se presta
para os fins de interrupção da prescrição.
Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena
imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da
continuação. Inteligência da Súmula n. 497 do STF.
Reconhece-se a prescrição da pretensão punitiva, na modalidade
retroativa, se entre o recebimento da denúncia e
a sentença condenatória válida há transcurso de prazo superior ao
fixado em lei, aferível pela pena em concreto”. (TJ/RO - 1ª Câmara
Criminal - 0011374-39.2014.8.22.0000 Apelação – Rel. Desembargadora
Ivanira Feitosa Borges – j. 13/08/2015 – votação unânime) (grifamos)

_______________________________
“Revisão Criminal. Homicídio simples. Prescrição da pretensão punitiva.
Ocorrência. Extinção da punibilidade. Ação procedente.
1 - A prescrição pode se dar tanto antes do trânsito em julgado
(pretensão punitiva) como depois (pretensão executória).
A prescrição da pretensão punitiva terá como base, em regra, o
máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, nos
moldes do artigo 109 do CP. A exceção ocorre quando
a sentença condenatória transita em julgado para a acusação, hipótese
em que a prescrição irá ser regulada pela pena aplicada, nos termos do
artigo 110, §1º, do CP.
2 - A sentença condenatória anulada pelo Tribunal ad
quem não interrompe o prazo prescricional, conforme
precedentes do STJ e STF.
3 - Com o trânsito em julgado da sentença condenatória para a
acusação, a prescrição terá como base a pena aplicada
na sentença condenatória. Transcorrendo lapso temporal superior ao
prazo estabelecido no art. 109, III, do CP, entre a decisão de pronúncia e
a sentença condenatória válida, é de se reconhecer a prescrição e
declarar extinta a punibilidade do revisionando, nos termos do artigo
107, III, do CP.
4 - Revisão Criminal procedente”. (TJ/RO - Câmaras Criminais Reunidas
- 0010761-24.2011.8.22.0000 Revisão Criminal – Rel. Desembargadora
Marialva Henriques Daldegan Bueno – j. 20/01/2012 – à unanimidade)

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De idêntica forma tem decidido o TRF da 1ª Região, senão


vejamos:

“PENAL E PROCESSO PENAL. REVISÃO CRIMINAL. EXTINÇÃO DA


PRETENSÃO EXECUTÓRIA DO ESTADO. PREJUDICIALIDADE.
PRELIMINAR REJEITADA. IRREGULARIDADES NAS INTIMAÇÕES DO
REQUERENTE E DO DEFENSOR DATIVO. SENTENÇA TRANSITADA
EM JULGADO PARA A ACUSAÇÃO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
PUNITIVA PELA PENA EM CONCRETO. CONCESSÃO DA ORDEM DE
HABEAS CORPUS, DE OFÍCIO. PROCEDÊNCIA.
1. Preliminarmente, não merece prosperar a arguição do Ministério
Público no sentido de que, declarada extinta a pretensão executória do
Estado, a ação revisional estaria prejudicada em seu objeto, pois
remanescem os efeitos secundários e, portanto, o interesse do réu.
2. O requerente foi declarado revel na ação penal, tendo sido nomeado
defensor dativo para sua defesa. Após a publicação
da sentença penal condenatória, nada obstante o cuidado que o caso
requeria, à luz do princípio da ampla defesa, foi citado de imediato por
edital e seu defensor dativo, via publicação.
3. Com efeito, não bastasse a irregularidade da sua intimação, também
a do defensor dativo deu-se de forma a impedir o exercício pleno do
direito defesa.
4. Assim, tem-se que a sentença não transitou em julgado para a
defesa, mas sim para a acusação. Em consequência, cumpre a esta
Corte reconhecer a ocorrência de prescrição da pretensão punitiva pela
pena em concreto, pois o requerente foi condenado pelo delito de
estelionato em 03 (três) anos, 01 (um) mês e 10 (dez) dias de reclusão
(fls. 0032 e 0041), que, nos termos do art. 109, IV, do Código Penal,
corresponde ao prazo prescricional de 8 (oito) anos e, tendo em conta
que entre a publicação da sentença com trânsito em julgado para a
acusação (09/12/1997 - fl. 36) e a presente data passaram-se mais de 08
(oito) anos, operou-se a extinção da punibilidade, pela ocorrência
da prescrição da pretensão punitiva estatal.
5. Revisão criminal procedente e concessão da ordem de habeas corpus,
de ofício, para decretar extinta, in casu, a punibilidade, pela ocorrência
da prescrição da pretensão punitiva do Estado. (RVCR
2005.01.00.027087-8/DF, Rel. Desembargador Federal I'talo Fioravanti
Sabo Mendes, Conv. Juíza Federal Rosimayre Goncalves De Carvalho,
Segunda Seção,e-DJF1 p.37 de 09/03/2009) grifamos.

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Do STJ buscamos o mesmo entendimento:

“PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 157, § 2º, I E II, DO CÓDIGO


PENAL. SENTENÇA CONDENATÓRIA ANULADA. PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO PUNITIVA. REFORMATIO IN PEJUS.
NOVA SENTENÇA PROFERIDA. PRESCRIÇÃO.
I-A sentença penal condenatória anulada não interrompe
a prescrição. (Precedentes do STJ e do STF.)
II - Ressalvadas as situações excepcionais como a referente à soberania
do Tribunal do Júri, quanto aos veredictos, em regra, a pena
estabelecida, e não impugnada pela acusação, não pode ser majorada
se a sentença vem a ser anulada. (Precedentes).
III - Tendo sido o paciente condenado a seis anos e oito meses de
reclusão, e sendo o intervalo de tempo entre o recebimento da
denúncia e a r. sentença superior a doze anos, deve ser declarada, com
fundamento no art. 109, III, e 110, § 1º, ambos do Código Penal, a
extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva. Ordem
concedida. (HC 30.535/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA
TURMA, julgado em 16/12/2003, DJ 09/02/2004, p. 196) grifamos.
PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. ART. 1º, INCISO
II, DA LEI Nº 8.137/90 E ART. 16 DA LEI Nº 7.492/86. AUSÊNCIA DE
JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL EM RELAÇÃO AO CRIME
CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA EM RAZÃO DA AUSÊNCIA DE
CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO À ÉPOCA DO
RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. PERSECUTIO CRIMINIS IN
IUDICIO ANULADA DESDE O RECEBIMENTO DA PROEMIAL
ACUSATÓRIA. RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
PUNITIVA QUE SE IMPÕE EM RELAÇÃO A UM DOS RECORRENTES.
ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DA CONDENAÇÃO. NÃO
INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL. PRESCRI-
ÇÃO SUPERVENIENTE EM RELAÇÃO À CONDENAÇÃO PELA
PRÁTICA DO CRIME PREVISTO NO ART. 16 DA LEI Nº 7.492/86 EM
RELAÇÃO A AMBOS OS RECORRENTES. [...]
IV - Anulada a sentença penal condenatória, cujo trânsito em julgado
para a acusação já havia se operado em face de recurso exclusivo da
defesa, é de se declarar a extinção da punibilidade do crime
pela prescrição da pretensão punitiva, quando realizado o tempo
extintivo, informado pela pena em concreto, que não pode ultrapassar
o quantum contido na sentença anulada, por força da ne reformatio in
pejus indireta. (Precedentes do STF e desta Corte).

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V - Em relação à recorrente WANDERLÉIA RITTER é de se declarar a


extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva no que
concerne a prática do crime contra a ordem tributária em razão da
verificação do lapso prescricional entre a condição objetiva de
punibilidade (constituição definitiva do crédito tributário) e a presente
data ex vi art. 109, inciso V, do Código Penal
VI - Não sendo o acórdão confirmatório de condenação causa
interruptiva do prazo prescricional é de se declarar extinta a
punibilidade (prescrição da pretensão punitiva) se o decurso de tempo
se configurou a partir da condenação imposta a ambos os recorrentes
pela prática do crime previsto o art. 16 da Lei nº 7.492/86. Recurso
especial interposto em benefício de GUILDNER MARCIUS CARVALHO
provido. Extinta a punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva
em relação ao crime previsto no art. 16 da Lei nº 7.492/86. Recurso
especial interposto em benefício de WANDERLÉIA RITTER provido.
Extinta a punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva em
relação ao crime contra a ordem tributária. (REsp 927.321/DF, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 30/08/2007, DJ
08/10/2007, p. 363)

E ainda: (STJ. REsp: 929692 PE 2007/0044026-5. Relatora


Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 28/06/2007, T5 - QUINTA
TURMA, Data de Publicação: DJ 13.08.2007 p. 408) e STJ (AgRg no REsp
685243 / PR)
Do STF buscamos:

“EMENTA: - Direito Penal e Processual Penal. Prescrição. Júri.


Sentencas anuladas. Não interrupção do prazo prescricional.
Interrupção pelo acórdão que confirma a pronuncia (art. 117, III, do
C. Penal) e pela sentença condenatória valida (art. 117, IV).
Prescrição pela pena "in concreto" (artigos 109, V, e 110, par. 1., do C.
Penal).
1. As sentencas condenatorias anuladas não produzem
efeito interruptivo da prescrição.
2. Interrompem a prescrição a pronuncia e o acórdão que a
confirma (art. 117, II e III, do C. Penal). Assim, também, a sentença
condenatória valida (art. 117, IV).

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3. Reduzida a pena, pelo acórdão impugnado, em apelação


interposta apenas pelo réu, a dois anos de detenção, e de se
reconhecer a extinção da punibilidade, pela prescrição da pretensão
punitiva, se, entre a data do acórdão confirmatorio da pronuncia e
a única sentença condenatória valida, decorreram mais de quatro
anos (artigos 109, V, e 110, par. 1., do C. Penal).
4. "Habeas Corpus" deferido para esse fim”. (STF – 1ª Turma – HC
71630 / PB – Rel. Min. Sydney Sanches – j. 25/10/1994 – pub.
16/12/1994)

DA PRESCRIÇÃO

Face à anulação da primeira sentença temos como


marcos iniciais e finais da prescrição as seguintes datas: o
recebimento da denúncia, que se deu em 20 de janeiro de 2017 (id.
60404087 - Pág. 92) e a data da prolação de sentença válida, ou seja,
13 de fevereiro de 2020 (id. 60404092 - pág. 12 e seguintes).
Também ocorrerá a prescrição entre a data da
publicação da sentença válida e eventual acórdão condenatório
recorrível (artigo 117, inc. IV, do CP).
Infere-se que entre a data do recebimento da denúncia
(20/01/2017) à data da sentença válida (13/02/2020) transcorreram
03 (três) anos e 24 (vinte e quatro) dias.
Vale ressaltar que em 18 de novembro de 2014, ou seja, três
anos após a instauração do referido feito, a própria Promotora de Justiça
que presidia os autos, Dra. Maira Coura Campanha, à folha 74 verso (id.
60404082 - Pág. 77), disse textualmente:

“1. Considerando a prescrição em perspectiva, arquive-se


qto ao crime praticado”. (destacamos)

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Pois bem, a sentença combatida condenou o Recorrente pela


prática dos delitos tipificados nos artigos 38, caput, 41, caput e 48, caput,
todos da Lei Ambiental. Esses dispositivos assim estão redigidos:

“Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação


permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência
das normas de proteção:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida
à metade.

Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:


Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de
seis meses a um ano, e multa.

Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e


demais formas de vegetação:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

O artigo 109, inc. V, do nosso Código Penal tem a seguinte


redação:

“Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final,


salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo
da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:

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V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo


superior, não excede a dois;
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um)
ano”. (destacamos)

Por sua vez o artigo 119 do Código Penal prevê expressamente


que a prescrição incide sobre cada delito, ISOLADAMENTE. Eis a redação
do artigo sub examine:

“Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da


punibilidade incidirá sobre a pena de cada um,
isoladamente”. (destacamos)

Esse egrégio Tribunal de Justiça, reiteradamente assim tem


decidido:

“Habeas corpus. Prescrição da pretensão executória. Várias


condenações. Pena unificada. Somatório. Impossiblidade.
Na conformidade da orientação doutrinária e jurisprudencial, inclusive
do Pretório Excelso, na hipótese de concurso de crimes, a extinção quer
da punibilidade, quer da pretensão executória do Estado é regulada
pela pena aplicada a cada crime isoladamente, pouco
importando que as penas tenham sido unificadas, em face da
impossibilidade de aplicação analógica in mallam partem do seu
somatório para regular a prescrição, pois a unificação diz respeito
apenas à fixação do regime de cumprimento da pena privativa de
liberdade.
Assim, deve ser analisado o tempo de pena já cumprido pelo réu,
distribuído, individualmente, na proporção da primeira condenação
para as últimas e, considerado o tempo que resta a cumprir para cada
delito, verificar a incidência do prazo prescricional”. (TJ/RO – 2ª Câm.
Crim. – Habeas Corpus 0001062-72.2012.8.22.0000 – Rel. Juiz
Francisco Borges Ferreira Neto – j. 28/03/2012 – votação unânime)
(grifamos)

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Pois bem, de pronto já se constata que em relação ao


artigo 48, caput, da Lei 9.605/98, imputado ao Recorrente,
houve a prescrição, tanto que a primeira sentença prolatada nos
autos assim consignou expressamente:

“(...)
O delito previsto no artigo 48, caput, da Lei n.º 9.605/98,
possui em seu preceito secundário a pena de detenção, de
seis meses a um ano, e multa, o qual prescreve, portanto,
em quatro anos, conforme disposto no artigo 109, inciso
V, do Código Penal”.

Infere-se assim que ocorreu PRESCRIÇÃO PROPRIAMENTE


DITA em relação ao delito tipificado no artigo 48, da Lei 9.605/98.
No que se refere ao delito previsto no artigo 38 da Lei 9.605, cuja
pena mínima é de 01 (um) ano, ocorreu o que a jurisprudência e doutrina
denominam “prescrição virtual pela pena projetada ou em perspectiva”,
como muito bem observou à folha 74 verso (id. 60404082 - pág. 77), a digna
representante do Parquet.
Vê-se então que a própria Promotora de Justiça que presidia
os autos reconhece a aplicabilidade do instituto da prescrição em
perspectiva. Isso é fato inconteste!
Acerca da prescrição invocamos incialmente decisão do egrégio
STJ, reconhecendo-a, nestes termos:

“PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. CONDUTA. ATIPICIDADE.


ABSORÇÃO DO CRIME-MEIO. PRESCRIÇÃO DO CRIME-FIM.
EXTENSÃO DOS EFEITOS. DILAÇÃO PROBATÓRIA. IMPROPRIEDADE
DA VIA ELEITA. PRESCRIÇÃO ANTECIPADA. RECONHECIMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA.

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1. O habeas corpus tem rito célere, de cognição sumária, ausente o


contraditório e, por isso, destinado a corrigir ilegalidades patentes,
perceptíveis ictu oculi, e não como atalho processual a substituir o
processo de conhecimento;
2. A discussão a respeito do Princípio da Consunção esborda a via do
writ quando demandar incursões de ordem fático-probatória, ainda
mais antes de encerrada a instrução no juízo primevo;
3. A declaração da ocorrência da denominada prescrição
antecipada somente é possível quando o quantum da pena a
ser futuramente imposta e concretizada demonstre, de
maneira evidente, que o lapso temporal para reconhecimento
da extinção da punibilidade tenha, desde logo, seu termo
final ultrapassado; 4. Habeas corpus parcialmente conhecido e,
nesta parte, denegado”. (STJ – 6ª Turma – HC 31925/RJ – Rel. Min.
Paulo Medina – j. 02/09/2004 – pub. DJ 03/11/2004, pág. 245 – votação
unânime) (grifos nossos)

Decisões idênticas foram prolatadas por esse egrégio Tribunal de


Justiça de Rondônia, tanto pela 1ª Câmara Criminal, quanto pela 2ª Câmara e
também pelas Câmaras Criminais Reunidas. Vejamos algumas dessas
decisões, começando pela colenda 2ª Câmara Criminal:

“Apelação. Lesão corporal. Violência doméstica. Prescrição da pena em


perspectiva. Punibilidade. Extinção Possibilidade. Economia processual.
A prescrição pela pena em perspectiva, embora não prevista na lei, é
construção jurisprudencial para os casos em que existe convicção plena
de que a sanção a ser aplicada não será apta a impedir a extinção da
punibilidade, e é instrumento de grande utilidade para a
economicidade, celeridade e eficácia do processo”. (TJ/RO – 2ª Câmara
Criminal – Apelação 0014624-03.2012.8.22.0501 – Rel. p/ o acórdão
Desembargador Valdeci Castelar Citon - j. 05/07/2017)

__________________________
“Apelação criminal. Crime ambiental. Prescrição Retroativa. Ocorrência.
Extinção da Punibilidade. Análise do Mérito Prejudicada. Prescrição in
perspectiva. Fato anterior à Lei 12.234/2010. Efeito extensivo da decisão.
Princípio da Isonomia. Possibilidade”. (TJ/RO – 2ª Câmara Criminal –
Apelação 0012983-67.2004.8.22.0013 - Rel. Desembargador Valdeci
Castelar Citon - j. 03/09/2014)

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________________________
Habeas corpus. Trancamento do termo
circunstanciado. Prescrição retroativa. Pena em perspectiva. Caráter
finalístico do processo. Possibilidade. Concessão.
O juiz deve interpretar as normas de forma lógica e finalista, voltando-
se mais para o caráter final do processo do que propriamente para os
seus meios.
A prescrição retroativa pela pena em perspectiva pode ser reconhecida
em face do caráter finalístico do processo e da utilidade do seu
resultado”. (TJ/RO – 2ª Câmara Criminal - 0009434-10.2012.8.22.0000
Habeas Corpus - Relator : Juiz Francisco Borges Ferreira Neto em
substituição ao Desembargador Daniel Ribeiro Lagos - j. 31/10/2012)

________________________
“Prescrição pela pena em perpectiva. Carater finalistico do processo.
Admissibilidade
O juiz deve interpretar as normas de forma lógica e finalista, voltando-
se mais para o caráter final do processo do que propriamente para os
seus meios.
A prescrição pela pena em perspectiva pode ser reconhecida em face do
caráter finalístico do processo e da utilidade do seu resultado”. (TJ/RO –
2ª Câmara Criminal - 0094806-76.2007.8.22.0007 Recurso em Sentido
Estrito - Relatora originaria: Desembargadora Marialva Henriques
Daldegan Bueno Relator p/ o Acórdão: Juiz Francisco Borges Ferreira
Neto – j. 4/11/2012)

Agora da preclara 1ª Câmara Criminal:

“De todo razoável a decisão que, face à improbabilidade de virem os


réus, em caso de eventual condenação, auferir pena em patamar
superior ao mínimo legal, reconhece a prescrição antecipada ou virtual,
pela pena em perspectiva, uma vez que não haveria utilidade prática
alguma para se prosseguir com o andamento do feito, quando já se
sabe, de antemão, que ao final, seria inevitável a decretação da
extinção da punibilidade pela ocorrência da prescrição retroativa”
(TJRO, Câmara Criminal, ReSE 100.501.2004.002725-8, relator
Desembargador Valter de Oliveira, julgado em 30/4/2008).

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_________________
“VOTO - DESEMBARGADOR VALTER DE OLIVEIRA
O apelo preenche as condições de admissibilidade, razão pela qual dele
conheço.
Antes da análise de mérito da apelação, verifico ter ocorrido a
prescrição da pretensão punitiva do Estado de forma retroativa, visto
que, da data da sentença condenatória (22/9/2008) até a data deste
julgamento (13/1/2011) transcorreu prazo superior a dois anos,
considerando-se que a pena privativa de liberdade foi fixada em 10
meses e 26 dias de reclusão.
Anoto que não se aplica no caso a Lei nº 12.234 de 5/5/2010, que
aumentou de 2 para 3 anos, se o máximo da pena é inferior a 1 ano ou
sendo superior, não exceda a 2, pois não se pode retroagir para
prejudicar. Justifico ainda o atraso no julgamento deste processo, em
virtude do elevado número a mim distribuídos, em especial de réus
presos que têm preferência.
Assim sendo, de ofício, julgo extinta a punibilidade de Franklin Ferreira
da Silva, brasileiro, solteiro, filho de Francisca Ferreira da Silva, nascido
aos 27/1/1985, em Goiânia/GO, residente e domiciliado na av. 7 de
Setembro, n. 3930 bairro Jardim Clodoaldo, Cacoal/RO, imputada
nestes autos, o que faço com base no artigo 61 do CPP, c/c os artigos
109, VI e 110, §§ 1º e 2º (este último em vigor à época do fato), em face
da ocorrência da prescrição punitiva do Estado. É como voto”. (TJ/RO -
1ª Câm. Crim. Apelação 1002384-31.2008.8.22.007 – j. 13/01/2011 – Rel.
Des. Valter de Oliveira – pub. DJE nº 11, de 19/01/2011 – unânime).

Por fim, eis alguns dos julgados das Câmaras Criminais


Reunidas:

“Prescrição antecipada. Decretação. Previsão legal. Instrumentalidade,


razoabilidade e economia processual. Interesse de agir.
Reconhece-se a prescrição virtual ou em perspectiva, se eventual
condenação imposta ao réu não teria eficácia, tornando inútil a
prestação jurisdicional e comprometendo o interesse de agir”. (TJ/RO –
Câm. Crim. Reunidas – Embargos Infringentes e de Nulidade 0007983-
47.2012.8.22.0000 – Rel. Juiz Francisco Borges Ferreira Neto – j.
21/09/2012 – pub. DJE, de 03/12/2012)

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____________________
“Prescrição antecipada. Decretação. Previsão legal. Instrumentalidade,
razoabilidade e economia processual. Interesse de agir.
Reconhece-se a prescrição virtual ou em perspectiva, se eventual
condenação imposta ao réu não teria eficácia, tornando inútil a
prestação jurisdicional e comprometendo o interesse de agir”. (TJ/RO –
Câmaras Criminais Reunidas - 0007983-47.2012.8.22.0000 Embargos
Infringentes e de Nulidade - Relator : Juiz Francisco Borges Ferreira
Neto (em substituição ao Desembargador Daniel Ribeiro Lagos)

______________________
“Crime ambiental. Prescrição virtual. Possibilidade.

Admite-se o reconhecimento da prescrição virtual ou em


perspectiva em respeito à celeridade da justiça e economia
processual e das atividades jurisdicionais em prol do direito
público”. (TJ/RO – Câmaras Criminais Reunidas - 0002852-
91.2012.8.22.0000 Embargos Infringentes e de Nulidade - Relatora
originária : Desembargadora Marialva Henriques Daldegan Bueno
Revisora e relatora p/ o acórdão : Desembargadora Zelite Andrade
Carneiro – j. 20/07/2012 - publicado no Diário Oficial em 31/07/2012 .

Assim sendo entendemos que dois dos crimes imputados ao


Recorrente estão prescritos e assim será decidido por essa colenda Câmara.
Para a remota hipótese de não reconhecimento da prescrição em qualquer de
suas modalidades, adentraremos ao mérito nestes termos:

DO CRIME-MEIO – PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO OU


ABSORÇÃO


É sabido que há delitos que são tidos como crime-meio, ou


crime de passagem pois são meio para a prática do crime final. É o que se vê
nos autos.

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Assim, os crimes dos artigos 38 e 41, imputados ao Réu,


devem-se ser tidos como delitos de passagem para o crime do artigo 48. Nesse
sentido invocamos as seguintes decisões do STJ:

   

(...)
O crime de destruir floresta nativa e vegetação protetora de
mangues dá-se como meio necessário da realização do único intento de
construir casa ou outra edificação em solo não edificável, em razão do
que incide a absorção do crime-meio de destruição de vegetação
pelo crime-fim de edificação proibida”. (STJ – 6ª Turma - REsp
1639723/ PR – Rel. Min. Nefi Cordeiro – j. 07/02/2017 – pub. DJe
16/02/2017)

___________________________
“(...)
3. É de ser reconhecido o excesso acusatório relativamente ao
concurso material entre os artigo 38 e 39 da Lei 9.605/98, já que o
artigo 38 engloba também a hipótese em que o dano à floresta
de preservação permanente decorre do corte de árvores”. (STJ –
6ª Turma - HC 52722 / SP – Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA – j. 25/03/2008 – pub. DJe 12/05/2008 – votação unânime)


Porém a sentença objurgada ignorou tal princípio e


condenou o Apelante pelos três crimes que lhe foram imputados.
Nota-se que tais alegações foram objeto de embargos declaratórios
(id. 60404092 - pág. 18 e seguintes) estando assim a matéria
implicitamente presquestionada, em que pese a não manifestação do
magistrado acerca das teses apresentadas nos referidos embargos
declaratórios, mas certamente essa Câmara o fará afastando tais
impropriedades.

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Além da condenação pelos três delitos, sendo dois deles


(artigos 38 e 41) crimes-meio para a prática do crime tipificado no
artigo 48, a sentença genérica sequer menciona se a condenação foi
por crimes dolosos ou culposos, sendo que os tipos penais sub
examine, prevêm a modalidade culposa.
Assim colocada a questão devem os crimes tipificados nos artigos
38 e 41 da Lei 9.605/98 serem absorvidos pelo delito tipificado no artigo 48,
da mesma Lei, prevalecendo somente esse crime final.
Dito isto, passemos ao próximo tópico.

DA NÃO CARACTERIZAÇÃO DE INCÊNDIO

Também dissemos expressamente às folhas 327 a 330 que


compulsado detida e exaustivamente os autos vê-se que em momento algum
os agentes ambientais identificaram qual o tipo de vegetação teria sido
atingida pela tal incêndio imputado ao Réu. A sentença condenatória porém
nada disse a respeito mesmo após a interposição de embargos de
declaração, sendo mais uma matéria implicitamente pré-questionada.
A confirmar essa assertiva basta conferir os documentos de folhas
25 a 29 e 84 a 86.
Reiteramos que se vê nos autos são os Autos de Infração aos
quais já nos referimos (fls. 89 e 99) e neles se vê apenas que se referem
genericamente a “floresta nativa”.
Buscamos novamente do TJ de Rondônia o brilhante voto do
eminente Desembargado Miguel Monico, nestes termos:

“VOTO
DESEMBARGADOR MIGUEL MONICO NETO
Consta da denúncia (fls. 3/4):
No dia, hora e local descritos naquela peça, o apelante foi autuado por
provocar um incêndio em 2 (dois) hectares de mata em processo de
regeneração/capoeira.

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Consta da mencionada peça vestibular, que uma equipe de fiscalização


composta por agentes da SEDAM flagrou o apelante logo após
provocar o incêndio que atingiu 2 hectares de nas coordenadas
geográficas S. 08º 46' 38,3¿ W 062º 10' 41.5¿.
O Parecer nº 1.830/2014-GAB-PCJ da Procuradoria de Justiça, de lavra
do e. Procurador de Justiça, Charles Tadeu Anderson, espelha meu
entendimento sobre a matéria, razão pela qual peço venia e adoto
como razões de decidir:
[...]
Colhe-se dos autos que o recorrente, proprietário da área que mede 20
alqueires de terra, resolveu empreender queimada em cerca de dois
hectares de capoeira (vegetação em regeneração) para plantio de
lavoura de subsistência. Em juízo, relatou que a área incentivada era
uma antiga lavoura de café, que já não produzia havia
aproximadamente 15 anos.
Contudo, o tipo penal supostamente infringido art. 41 da Lei dos Crimes
Ambientais pune a conduta de ¿Provocar incêndio em mata ou
floresta¿, visando, portanto, à proteção do ambiente, com especial
ênfase ao patrimônio florestal.
Na esteira da lição de Luiz Régis Prado (Direito Penal do Ambiente. 2.
Ed. São Paulo: RT, 2009. P. 213, apud corpo do acórdão STJ, RHC
24859-MG), seu objeto material é a mata ou a floresta, consistindo a
primeira no ¿conjunto de árvores de porte médio, naturais ou
cultivadas¿, enquanto que ¿floresta segundo definição do item 18 do
Anexo I da Portaria 486-P/1986 é a formação arbórea densa, de alto
porte, que recobre área de terra mais ou manos extensa¿.
A despeito da prescindibilidade de perícia técnica para comprovar a
materialidade delitiva, que pode ser demonstrada por outros meios, o
fato é que os elementos constantes nos autos (auto de
infração e relatório circunstanciado) sequer especificam o
tipo de vegetação atingida pelo incêndio realizado pelo
recorrente.
No auto de infração constou apenas: ¿descrição da
infração: Por fazer uso do fogo em seu propriedade em
uma área de aproximadamente 2 hectares, contrariando
assim o art. 58, do Decreto Federal 6514/08¿ (fl. 10).
E o Relatório Circunstanciado de fl. 11, somente
mencionou sobre um foco de queimada, nada
descrevendo acerca da espécie de vegetação atingida,
resultando em ausência de materialidade e não
preenchimento dos requisitos necessários à tipificação do
crime imputado ao recorrente.
Na verdade, o que se sabe sobre a área atingida é que se tratava de
¿capoeira¿ (vegetação em regeneração), utilizada pelo recorrente no
plantio de lavoura para subsistência, aliás, esses foram os termos da
denúncia e alegações finais do Ministério Público.

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Portanto, além da ausência de materialidade a comprovar a espécie de


vegetação atingida, verifica-se que, no caso em exame, nenhuma das
duas espécies de vegetação foi atingida pela suposta atuação criminosa
do apelante, eis que, de acordo com a denúncia, baseada na confissão
do réu, este ¿foi autuado por provocar um incêndio em dois hectares de
mata em processo de regenereção/capoeira¿.
Nota-se, assim, que o incêndio do qual o recorrente foi dado como
provocador ou como agente autorizador incidiu sobre terreno coberto
por vegetação seca, em estado inicial de regeneração e, portanto,
inconsistente com a ¿mata de árvores de porte médio¿ ou com
¿formação arbórea densa, de alto porte¿, objetos materiais do crime
cuja prática se lhe imputou, não havendo, assim, subsunção dos fatos
narrados à previsão legal.
Ora, se a queimada realizada pelo recorrente não ocorreu em local
definido pela lei penal a fim de configurar o delito em espécie, não se
pode, à luz do princípio da legalidade em seu aspecto taxativo acusa-lo
da prática do crime ambiental narrado tão somente pela semelhança
entre as situações, escapando sua conduta do espectro da incidência do
direito penal ou, ao menos, do tipo cuja prática lhe foi assestada.
A propósito:
[...] A lei penal delimita uma conduta lesiva, apta a pôr em perigo um
bem jurídico relevante, e prescreve-lhe uma consequência punitiva. Ao
fazê-lo, não permite que o tratamento punitivo cominado possa ser
estendido a uma conduta que se mostre aproximada ou assemelhada.
É que o princípio da legalidade, ao estatuir que não há crime sem lei
que o defina, exigiu que a lei definisse (descrevesse) a conduta delituosa
em todos os seus elementos e circunstâncias, a fim de que somente no
caso de integral correspondência pudesse o agente ser punido (CAPEZ,
Fernando. Curso de Direito Penal. V. 1. 11. Ed. São Paulo: Saraiva, 2007,
p. 43).
Mostra-se flagrante, portanto, a ausência de tipicidade dos fatos
narrados na exordial, porquanto não se identificam, de forma total,
com os elementos trazidos pelo dispositivo repressor como necessários à
configuração do crime, razão pela qual se faz mister a absolvição do
apelante.
(...)
Logo, a conduta imputada ao recorrente não corresponde àquela
prevista pelo artigo citado na vestibular ministerial.
Assim, deve ser absolvido o apelante, nos termos do art. 386, III, CPP.”.
(TJ/RO – 2ª Câm. Criminal – Apelação 0002198-81.2011.8.22.0019 - Rel.
Des. Miguel Monico Neto – j. 26/11/2014 – decisão unânime)

Ficou assim evidenciado que a sentença objurgada não adentrou a


essa questão, ignorando-a por completo, mesmo após a interposição de
Embargos Declaratórios.

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Dito isto, passemos adiante.

DO PRINCÍPIO DO “IN DUBIO PRO REO”

Nunca é despiciendo lembrar que em nosso sistema penal vige o


princípio do in dubio pro reo, assim sendo fica desde já requerida a aplicação
do mesmo ao presente caso, eis que há dúvida patente acerca da conduta do
Apelante em confronto com a prova coligida nos autos, vez que há documento
emitido pela INCRA asseverando que a área apontada na exordial como sendo
objeto de ilícito ambiental não pertence ao Apelante. Nesse sentido decidiu o
STJ:

“A dúvida sobre se o agente atuou com dolo eventual ou culpa,


restando o delito punível tão-somente a título de dolo, na forma
de jurisprudência da Corte e da doutrina do tema, impõem a
aplicação da máxima in dubio pro reo posto decorrente dos
princípios da reserva legal e da presunção de inocência. Sob esse
ângulo, a doutrina e a jurisprudência preconizam:
No processo criminal, máxime para condenar, tudo deve ser claro
como a luz, certo como a evidência, positivo como qualquer
expressão algébrica. Condenação exige certeza ..., não bastando a
alta probabilidade..., sob pena de se transformar o princípio do
livre convencimento em arbítrio (in RT. 619/267, sobre o escólio de
CARRARA)”. (STJ – Corte Especial – Ação Penal 226/SP – Rel.
Min. Luiz Fux – j. 01/08/2007 – pub. DJ 08/10/2007 p. 187 –
decisão unânime)

_________________________
“RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSO PENAL. RESCRIÇÃO
DA PRETENSÃO PUNITIVA. ARTIGO 115 DO CÓDIGO PENAL.
INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA. IDADE DO RÉU NA DATA DO
ACÓRDÃO. PRECEDENTES. RECURSO NÃO PROVIDO.

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1. "No caso de irredutível dúvida entre o espírito e as palavras da


lei, é força acolher, em direito penal, irrestritamente, o princípio
do in dubio pro reo ( isto é, o mesmo critério de solução nos casos
de prova dúbia no processo penal). Desde que não seja possível
descobrir-se a voluntas legis, deve guiar-se o intérprete pela
conhecida máxima : favorablia sunt amplianda, odiosa
restringenda. O que vale dizer: a lei penal deve ser interpretada
restritivamente quando prejudicial ao réu, e extensivamente no
caso contrário." (Nelson Hungria, in Comentário ao Código Penal,
volume I, Ed. Forense, 1958, pág. 86)”. (STJ – 6ª Turma - REsp
705456/PR – Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa – j. 14/06/2005 –
pub. DJ 01/07/2005 p. 689 RSTJ vol. 194 p. 463 – unânime)

O TRF1ª Região, de idêntica forma assim entende, vejamos então


recentíssima decisão daquela Corte nestes termos:

“Impossibilidade de se atribuir ao réu - de forma segura - a


prática do delito de sonegação fiscal. Não se extrai dos autos a
presença de elementos que possam gerar o juízo de certeza
exigido para embasar uma condenação. Responsabilidade
penal não se presume. Deve ser provada.
Havendo dúvidas quanto à autoria, impõe-se a absolvição
motivada na aplicação do princípio constitucional da presunção
de inocência e do in dubio pro reo. Precedentes.
Apelação provida”. (TRF1 – 3ª Turma – Apelação Criminal
0003678-23.2008.4.01.3801/MG – Rel. Des. Fed. Carlos Olavo – j.
18/10/2011 – pub. e-DJF1 p.663 de 28/10/2011 – à unanimidade)

Esse colendo Tribunal já decidiu nesse mesmo sentido, vejamos:

“Havendo dúvida razoável quanto a autoria do agente na


prática da violência sexual, a absolvição aplicando-se o
princípio in dubio pro reo é medida que se impõe”. (TJ/RO –
Câm. Crim. – Apelação 1002275-11.2004.8.22.0022 – Rel.
Des. Ivanira Feitosa Borges – j. 08/07/2010 – pub. DJe nº
125, de 13/07/2010 – unânime)

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No mais, em homenagem ao princípio da economia processual,


reiteramos todos os argumentos alinhavados na Defesa Preliminar, Alegações
Finais, Contra-Razões de Recurso e Embargos Declaratórios.

DA PENA PECUNIÁRIA-OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA


PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE

Na dosimetria da pena assim fixou o magistrado de primeiro grau:

“À luz do artigo 44 do CP, cabe substituição da pena corporal por duas


restritivas de direito, as quais pré-estabeleço em prestação
pecuniária no valor de 50 salários-minimos e prestação de
serviços à comunidade, por oito horas semanais, durante 02 anos e 06
meses, podendo ser cumprida em mais horas por semana, até o limite
de adiantamento de 01 ano e 03 meses, restando pelo menos metade
da pena a ser cumprida em serviços”.

No parágrafo anterior da mesma sentença, em sentido


diametralmente oposto, assim consignou o magistrado sentenciante:

“Em terceira e última fase de dosimetria, emprego o artigo 71 do CP,


para aplicar a pena mais grave prevista, ou seja, O2 anos e 03 meses de
reclusão, mais 16 dias-multa, no valor de 1/30 do salário mínimo vigente
à época do fato para cada dia multa, para o supracitado crime do
artigo 41, exasperada em 1/6, FIXANDO PENA DEFINITIVA DE 02
ANOS E 06 MESES DE RECLUSÃO, MAIS 22 DIAS-MULTA, no valor de
1/30 do salário mínimo vigente à época do fato para cada dia multa,
deixando de majorar o dia-multa em virtude da condição
econômica do réu, eis que administrativamente já foi
autuado em multa considerável, motivo pelo qual
visando a evitar bis in idem, esse 16 dias-multa podem ser
considerados descontados do valor eventualmente pago
administrativamente (se não tiver sido pago, permanece no caso
vertente, o que deverá ser certificado pelo Cartório em sede de
execução penal), restando apenas a pena corporal para ser cumprida
neste feito”.

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Infere-se indubitavelmente que além de ser contraditória, a


sentença ora fustigada, ao fixar prestação pecuniária em 50 salários mínimos
feriu frontalmente os princípios da proporcionalidade e razoabilidade,
conforme reiterada jurisprudência desse augusto Tribunal, senão vejamos:

“A pena de multa deve guardar correlação e proporcionalidade com a


pena fixada, de modo que, estando elevada, a redução se impõe”.
(TJ/RO - 2ª Câmara Especial - 0017443-39.2014.8.22.0501 Apelação -
Relator : Desembargador Renato Martins Mimessi – j. 30/06/2020 –
votação unânime)

______________________
“A aplicação da pena de multa deve observar proporcionalidade com a
sanção privativa imposta definitivamente, compreendendo todos os
fatores nela valorados (circunstâncias judiciais, agravantes, atenuantes,
causas de aumento e de diminuição)”. (TJ/RO – 1ª Câmara Criminal -
0000139-86.2016.8.22.0006 Apelação - Relator : Desembargador José
Antonio Robles - 13/02/2020 – à unanimidade)

_____________________
“A multa é pena cumulativa com a pena corporal, prevista no preceito
secundário do tipo, devendo ser aplicada de forma proporcional ao
quantum da pena restritiva de liberdade. (Apelação, Processo nº
0010523-10.2018.822.0501, Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia,
2ª Câmara Criminal, Rel. Des. Valdeci Castellar Citon, Data de
julgamento: 20/03/2019).

Do STF buscamos:

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“Ademais, embora ao Judiciário não seja permitido substituir-se à


Administração na punição do servidor, pode determinar a esta, por
exemplo, em homenagem ao princípio da proporcionalidade,
a aplicação de pena menos severa, compatível com a
falta cometida e a previsão legal (RMS 24901, Relator(a): Min.
Carlos Britto, Primeira Turma, julgado em 26/10/2004, DJ 11-02-2005
PP-00013). (sem grifos no original)

Requer, assim, a redução do da pena pecuniária, para a remota


hipótese de não-acatamento das teses anteriores.
Dito isto, passemos ao prequestionamento expresso nestes
termos:

DO PREQUESTIONAMENTO EXPRESSO

Para a hipótese de não acatamento dos argumentos anteriormente


exposto, deixa o Recorrente, dentre outros, prequestionada a violação aos
seguintes dispositivos constitucionais e legais e jurisprudência sumulada pelo
STJ:

I – artigo 109, do Decreto-Lei nº 2.848/40, caso entenda essa


ínclita Câmara Criminal, que não houve PRESCRIÇÃO PROPRIAMENTE
DITA e/ou PRESCRIÇÃO PELA PENA EM PERSPECTIVA OU
PROJETADA, em relação ao artigo 48 e 38, ambos da Lei nº 9.605/98,
respectivamente;

II – súmula 438 do STJ, caso venha haver mudança de


entendimento do próprio STJ ou mesmo do STF até decisão dessa colenda
Câmara Criminal, aplicando-se assim eventual novel entendimento do STJ ou
STF, uma vez que a nova composição do STF tem sido motivo para mudanças
de entendimentos acerca de diversas matérias, fato público e notório.

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DOS PEDIDOS

Ex expositis requer a Vossa Excelência que se digne DAR


PROVIMENTO ao presente Recurso, reformando a sentença do juízo de
piso em todos os seus termos para ABSOLVER o Apelante quanto à
condenação imposta pelo juízo de primeiro grau.

Fiat Justitia!
Nestes Termos;

Pede e Espera Deferimento.

Machadinho D’Oeste-RO, 20 de agosto de 2021

Luciano Douglas R. S. Silva


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