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DIREITO PROCESSUAL o

PENAL II
Vinicius Gustavo Sandes Solha
Franklin Willians Diccini
Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz
Diretor-presidente Jânyo Diniz
Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo
Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz
Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira
Autoria Vinicius Gustavo Sandes Solha
Franklin Willians Diccini
Projeto Gráfico e Capa DP Content

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O Ser Educacional 2021

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ASSISTA
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
o
= Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;

e demonstra-se a situação histórica do assunto.

CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.
Unidade 1 - Prisões e liberdade provisória
Objótivo DA WMA sos ssa gasosos
a dida 14

Princípios constitucionais sobre a liberdade ...............semesesmereseseseseesereasaseaseses 15

PIPEDO ag 23
PIISDO CM MAGANO sas TG 24
Prisão preventiva... ertereeeerrerereererearerererereerecerereeceree
nor eararererereasereranenearenenenerses 26
Prisão de pronúncia.......... e eeereeeteresererecerene
serena ceara nerenenererereceneecenenerenenererrass 27
Prisão em decorrência da sentença condenatória recorrível............ss.. 28
CONdUGAOCOBTCINVA assa paras aaa 29
Prisão com e sem mandado expedido... ieeeererereeeeeeenerererareeerererereraraess 29
Uso de algemas na prisão cautelar e regime disciplinar diferenciado ................. 30
ERISAONES [SIGAM aseausasicm ssa cmi an 32

Libordado rOVISÓNIA.zaaaanaa passas iara cp 33


Liberdade provisória obrigatória, facultativa e proibida... 34
Liberdade provisória com fiança... eritema eererrerererrerearerserseso 34
Liberdade:provisória Sem: Hança. escassas reaamrecamacae set iara et 35

Crims INANANÇÃVOIS ,ccnisasins paraesisesnniscess strain sie pe rias ii ação 36

Concono da TANÇA: aaa CD IDO 37


Quebra e ausência de fiança em caso de pobreza............... ses 37
Fiança:no caso:de prisão civilie militar .ase es ixesseuraossscsesarizosionuesosiniesiaioênia
aum inoaminiarana 38

PRADO [IPO BLA A 39


Tempo da prisão preventiva... eeereeeeeeaeaeererere
serena serena rerera seara arenas 39
Garantia da ordem pública... rreeeereeerenereeeerereerearererenensarereneneecaranenenanas 40
Garantia:darordem:egonÔmica!:.suasenssiiarsroroantemaaanianeam
ar rsaianiosvae nano aminsremsntesavaamaaco 40
Conveniência da instrução criminal, aplicação da lei penal e admissibilidade da
PTISDO PIEVENVA: cessa aaa 41
PTISÃO LONINORÁNIA acena asia 42
Rol taxativo da prisão temporária.............ereerereneeseeerereresereraeeerrererererareneereneass 42
Tempo da prisão temporária para crimes também tidos como crimes hediondos......43

SUTTLOTEZALNÕÃO sis assi 44


Unidade 2 - Questões de processos incidentais
Obiotivos da UNIDADE ssa ur cesar sra sas sensata 50

DUAS NCIA a 51
Questão prejudicial X questão preliminar ..............eieereeetererereeeserereneererereereo 52
Questões prejudiciais homogêneas e heterogêneas................ceieees 53
Questões prejudiciais obrigatórias e facultativas... 53

Processos incidentais................ e eeseeermeeseresereseserecesereemeeeeereneremeneracererenarenanererasans 56


Processos incidentais: EXCEÇÕES... eee rerenrare rea researere re erearerearents 56
Processos incidentais: conflito de jurisdição e a restituição de coisa
APreONdIdA cszsasspraanga spa 64
Processos incidentais: medidas assecuratórias ...........eeeeeresemeserereerenas 68
Processos incidentais: do incidente de falsidade e do incidente de insanidad e
mental... re eee ere eee e reatar aeee aee arena era e ater e eae race aerea raernenads 13

O 19
Referências bibliográficas................. e rereereeeserenearerereneaeeeerereaseraseseseneasermaesrarasens 81
Unidade 3 - Procedimentos
Objetivos da unidade aca asssssmsseiia session 84

PICO NOS ss NC 85
O procedimento comum e o especial... eertereerereerereeearerererenrereanens 86
Aaplicação dos arts. 998/2397 doiCPP usaeasecsenasasaan
areas exmionaseeremeas masa acres 87

Procodinióiito COM sa a a US da 90
Procedimento comum ordinário ......... re rea eee eerarearere era erane aereas 91
Procedimento comum sumário ........ iene erre iasene aaa ena ias enainaaneare era eereneass 99
Procedimento comum sumariSSIMO:aauraranmaaaarsanacaacanaasararasaa 101

Procodinióiitos Specials uam asia aaapraa rias tenda carai ra 102


Procedimentos dos crimes falimentares — Lei nº 11.101/2005 ............ 102
Procedimentos dos crimes contra a honra... raras 104
Procedimentos:dos:crimosTUNCIonaIS aasuraenss
ensaia naaaaranaaa 106
Procedimentos dos crimes contra a propriedade imaterial................s 107
Procedimentos dos crimes de drogas — Lei nº 11.343/2006............................ 109

ESLLLÇES
CPA: |U [o PA 113
Referências bIDIiOgrálicas assassasasasssasasasaaaaana
unicas serasa 114
Unidade 4 - Dos atos jurisdicionais e do procedimento do Tribunal do Júri
Objotivos da nad sessao
O a 118

Procedimento do Tribunal do Júri: origem histórica...............ssesseseseaseeasesmenss 119


Princípios que regem o Tribunal do Júri... eererereereeereerereseereaserareseeers 120
CENTO PA) cce ns 121
Oprocedimentodo Tribunalido JUL assess ssasiaisasasspnsasapaas
ss siaupsauiaia adia ias aça 122

Atos jurisdicionais ............eemeeeeereaearrasererase


serasa serasa seceseseeneserase serena somam arenas asasasaenasa 138
Despachos de mero expediente:..sansuessssnnascamacasamissasaisa
ais dasenisinisa uia aasanastaça 139
DECISÕOS INtETIOCULOTIAS ssa aaa 139
Sdntdniça OU ACONTAD! usasse an o a mana 141

ATL (74:17[o PR 148


Rafarências biblHográficas ...asessssssscaossasssesisasaiesisen
oareni seitas sensdo Ceniicasaisa iinsas iscas isa acao 150
date: (o

Prezado(a) estudante,
Nesta disciplina, você será apresentado basicamente aos institutos dos
princípios constitucionais sobre a liberdade e conhecerá as várias modalidades
de prisão cautelar, como a prisão em flagrante delito, a prisão temporária, a
prisão preventiva, dentre outras.
Você também aprenderá sobre as questões incidentais processuais e os ri-
tos procedimentais (Comum, Ordinário, Sumário, Sumaríssimo, Especiais).
Além disso, falaremos sobre os dispositivos que formam uma sentença (ab-
solutória ou condenatória).
Com esses alicerces, você será capaz de compreender como o processo pe-
nal funciona de forma ampla e irrestrita no Brasil.
Bons estudos!

DIREITO PROCESSUAL PENALII e


O professor Vinicius Gustavo Sandes
Solha é mestre em Direito Penal pela
Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC/SP, 2009). É especialista em
Direito Penal pela Escola Paulista da
Magistratura (EPM, 2006) e é graduado
em Direito pela Universidade Ibirapuera
(UNIB, 2001).

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/1413370985075742.

Dedico esta obra à minha esposa Fátima Gabriela, que faz da nossa casa
um lugar feliz mesmo diante das maiores adversidades. E não poderia
esquecer o meu filho de quatro anos, Pedro Henrique, que é a razão do
nosso existir. Por fim, gostaria de agradecer aos meus pais, que são os
meus alicerces.

DIREITO PROCESSUAL PENALII (E


O professor Franklin Willians Diccini é
especialista em Direito Penal e Processo
Penal pela Faculdade Damásio (DAMÁ-
SIO, 2021) e graduado em Direito pela
Universidade Nove de Julho (UNINOVE,
2016). É autor das disciplinas de Execu-
ção Penal, Antropologia Geral e Jurídica
e Teoria Geral do Direito para o curso
de Direito. Atua como advogado desde
2017, sendo militante na área do Direito
Criminal. É membro da Comissão de Di-
reito Penal da OAB São Paulo.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4887747470444802

Dedico este trabalho a Deus, por estar comigo em cada momento


orientando, cuidando e dando vida e sabedoria; à minha esposa, que
sempre me incentiva e me acompanha em cada passo, e aos meus alunos,
que sempre foram motivadores diante de novos desafios.

DIREITO PROCESSUAL PENALII (5)


UNIDADE

RAS Sa E as
PROVISÓRIA

ser
educacional
Objetivo da unidade

» Ter conhecimento dos tipos de prisões e dos tipos de liberdade provisória


previstas no ordenamento jurídico brasileiro, com a finalidade de atuar diante
do Processo Penal acusatório permitido pela Constituição Federal de 1988.

Tópicos de estudo
Princípios constitucionais Crimes inafiançáveis
sobre a liberdade
Concessão da fiança
E dd REIS € Quebra e ausência de fiança
€ Prisão em flagrante em caso de pobreza
€ Prisão preventiva 6 Fiança no caso de prisão civil e
O Prisão de pronúncia militar
€ Prisão em decorrência da
sentença condenatória recorrível Prisão preventiva
€ Condução coercitiva € Tempo da prisão preventiva
€ Prisão com e sem mandado € Garantia da ordem pública
expedido 6 Garantia da ordem econômica
€ Uso de algemas na prisão Ao] iisipra te Me fi aiia
go o= (0)
cautelar e regime disciplinar criminal, aplicação da lei penal e
diferenciado admissibilidade da prisão
O Prisão especial [OLA aa A=

» Liberdade provisória Prisão temporária


O Liberdade provisória obrigatória, € Rol taxativo da prisão temporária
facultativa e proibida € Tempo da prisão temporária
6 Liberdade provisória com fiança para crimes também tidos como
O Liberdade provisória sem fiança crimes hediondos

DIREITO PROCESSUAL PENAL II O


(O) Princípios constitucionais sobre a liberdade
Os princípios constitucionais sobre a liberdade podem ser divididos da se-
guinte forma: 1) Princípios regentes constitucionais; 2) Princípios processuais
constitucionais explícitos; e 3) Princípios processuais constitucionais implícitos.
No caso de princípios regentes constitucionais, eles podem ser divididos
em: 1.1) Princípio do devido processo legal, que consta no artigo 5, inciso LIV
da Constituição Federal (CF) de 1988; e 1.2) Princípio da dignidade da pessoa
humana (art. 1, inciso Ill da CF/88).
Os princípios processuais constitucionais explícitos, por sua vez, podem ser
divididos da seguinte forma: 2.1) Princípio da presunção de inocência (art. 5,
LVIl da CF/88); 2.2) Princípio da ampla defesa (art. 5, inciso LV); 2.3) Princípio da
plenitude de defesa (art. XXXVIII, a, CF/88); 2.4) Princípio do contraditório (art.
5, inciso LV da CF/88); 2.5) Princípio do juiz natural e imparcial (art. 5º, incisos LIIl
e XXXVIl da CF/88); 2.6) Princípio da publicidade (art. 5, incisos XXXIlle LX e art.
93, IX todos da CF/88); 2.7) Princípio da vedação da prova ilícita (art. 5, inciso LVI
da CF/88); e 2.8) Princípio regentes do tribunal do júri.
Em relação ao item 2.8), ele pode ser subdividido em: 2.8.1) Princípio do
sigilo das votações (art. 5, XXXVIII, b, da CF/88); 2.8.2) Princípio da soberania
dos veredictos (art. 5, XXXVIII, c, da CF/88); 2.8.3) Princípio da competência para
julgamento dos crimes dolosos contra a vida (art. 5, XXX/VIII, d, CF/88); e 2.9)
Princípio da legalidade estrita da prisão cautelar (art. 5, incisos LXI, LXII, LXIII,
LXIV, LXV, LXVI e LVill todos da CF/88).
Por fim, existem os princípios constitucionais processuais implícitos, que
são aqueles não positivados na Constituição Federal, mas que são amplamen-
te reconhecidos pela doutrina e jurisprudência pátrias: 3.1) Princípio do duplo
grau de jurisdição; 3.2) Princípio do promotor natural; 3.3) Intranscendência;
3.4) Princípio da dupla jurisdição ou do duplo processo; 3.5) Persuasão racio-
nal; e 3.6) Colegialidade.
Princípio da presunção de inocência
Este princípio também pode ser chamado de princípio da não culpabilidade,
uma vez que ele diz que todo acusado é inocente até que uma sentença penal
condenatória o declare culpado de um determinado crime, desde que haja o
trânsito em julgado.

DIREITO PROCESSUAL PENALII o


Este princípio tem como objetivo provar que a acusação tem, por dever de
ofício, provar a culpa daquele que realiza determinado crime, e não o con-
trário, ou seja, não cabe à parte mais frágil do processo provar que o Parquet
está correto na acusação que está fazendo.
Em relação a isso, é importante destacar que em 2019 o Supremo Tribunal
Federal (STF) julgou o mérito das Ações Declaratórias de Constitucionalidade
(ADCs) 43, 44 e 54, cujo objeto é o pedido de preservação do princípio da pre-
sunção de inocência, contrariando a mudança jurisprudencial no julgamento
de 2016, que instituiu a prisão em 2º instância por parte do Supremo Tribunal
Federal. Essa proposta foi elaborada pelo Partido Ecológico Nacional (PEN -
atual Patriota), Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e
pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
As referidas ações foram julgadas pelo Pleno da Suprema Corte do Brasil
e acabou por vigorar o entendimento de que existe a necessidade de apreciar
até o último recurso para que o réu vá ao cárcere. Tal entendimento, dentre
outros, leva à falsa noção de impunidade do sistema recursal brasileiro, no
entanto, o inciso Ill do artigo 116 do Código Penal, atualizado em 2019 pela Lei
n. 13.964, também conhecida como Pacote Anticrime, estabelece que a pres-
crição de determinada acusação não corre no caso de pendência de embargos
de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores quando forem inad-
missíveis. Trata-se do que é chamado de causas impeditivas da prescrição,
ou seja, não adianta mais manejar o sistema recursal com mero objetivo de
protelar a causa para alcançar a prescrição.
Princípio da ampla defesa
Ao réu em processo penal é dado se valer de todo e qualquer meio ineren-
te para se defender da imputação feita pelo órgão acusador. Como
exemplo podemos citar a oportunidade do réu de modificar, por
meio de um recurso chamado revisão criminal, o dis-
positivo da sentença ou até mesmo tentar rever o
julgamento no mérito, o que é inviável para a acu-
sação, OU Seja, a acusação, por mais que queira,
não pode, em 2º instância, pedir para que o réu
seja condenado por outro crime que não aquele
originariamente descrito na denúncia.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Além disso, na ampla defesa existe a possibilidade de exercer a chamada
autodefesa (defesa executada pelo próprio réu). No entanto, se essa defesa
for deficiente, o juiz deverá, mesmo contra a vontade do réu, nomear um ad-
vogado que possua habilitação técnica para postular em juízo. Não à toa, a
Súmula 523 do STF diz o seguinte: “No processo penal, a falta da defesa cons-
titui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de
prejuízo para o réu”.
Princípio da plenitude de defesa
A ampla defesa diz respeito ao direito do réu se defender, e não do Estado
de acusar, podendo, inclusive, interpor
uma revisão criminal, o que é incabí-
vel para a acusação. Nas palavras do
Prof. Dr. Guilherme de Souza Nucci, em
Código de Processo Penal Comentado, "o
segundo é, evidentemente, mais forte
que o primeiro” (2016, p. 8).
No Tribunal do Júri, diferentemente
do juízo monocrático, em que se pos-
sui a ampla defesa, é dada ao acusado
a plenitude de defesa, pois são juízes
leigos que decidem o destino do réu e,
por isso, ele tem que chegar o mais próximo possível da defesa perfeita.
Princípio do contraditório
O princípio do contraditório, encartado no artigo 5, inciso LV, da CF/88, dá
ao réu o direito de se manifestar no processo-crime com toda a alegação dos
fatos imputados pela acusação. Em outras palavras, na fase de alegações finais,
um dos últimos atos processuais, em primeiro lugar se manifesta a acusação e,
logo depois, a defesa, com suas alegações finais, sem que exista a necessidade
de manifestação posterior do órgão acusatório, uma vez que ele já fez suas
acusações no momento apropriado.
Princípio do juiz natural e imparcial
Trata-se de um dos princípios mais importantes de um processo criminal,
que é o princípio do juiz natural e imparcial, insculpido no artigo 5, incisos LI
e XXXVIl da CF de 1988.

DIREITO PROCESSUAL PENALII 6)


Na legislação brasileira, o contraponto ao juízo imparcial é o artigo 5, inciso
XXXVII, que prevê a impossibilidade de julgamento por um tribunal de exceção.
O último tribunal de exceção existente no país foi o Tribunal de Segurança Na-
cional, durante a época do Estado Novo, em outubro de 1945.
Um tribunal de exceção pode gerar contradições. O Tribunal de Nuremberg,
estabelecido logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, ainda que tivesse
como objetivo julgar os crimes cometidos por nazistas, suscita debates sobre o
caráter parcial de um tribunal de exceção criado por vencedores de uma guer-
ra. Alguns autores apontam para a impossibilidade de juiz natural e impar-
cialidade, acabando com a segurança jurídica de um processo.

DICA
O artigo O julgamento de Nuremberg e sua relação com os
direitos fundamentais e com o direito internacional: uma
análise necessária apresenta alguns apontamentos sobre
a contradição inerente de um tribunal de exceção.

De acordo com o artigo 5, inciso LIIl, aquele que é processado


deve conhecer o juízo competente a processar e julgar o réu. Como
exemplo podemos mencionar o que ocorreu no Habeas Corpus
n. 164.493/PR, no qual a 2º turma do STF decretou a
imparcialidade do ex-juiz Sérgio Moro para julgar o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sendo que,
neste caso, o juízo de Curitiba deixou de ser com-
petente para passar a competência ao juízo crimi-
nal do Distrito Federal.

CONTEXTUALIZANDO
No caso do triplex de Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-juiz
Sérgio Moro era o juiz competente para julgar e proces-
sar 0 ex-presidente, dando a ele uma pena criminal de
aproximadamente nove anos e seis meses de prisão em 1º
instância. Após amplo debate jurídico na 2º instância e nos
tribunais superiores, o ministro Edson Fachin determinou o
arquivamento de todos os processos contra o ex-presiden-
te devido à parcialidade durante a condução do processo
na 13º Vara Federal de Curitiba.

DIREITO PROCESSUAL PENALII E


Princípio da publicidade
O princípio da publicidade está inscrito no artigo 5, incisos XXXIll e LX, e tam-
bém no artigo 93º, inciso IX, ambos da CF/88. Trata-se de um princípio extrema-
mente importante a um Estado democrático de direito, uma vez que ele assegu-
ra transparência nos atos processuais.
Dessa forma, pelos meios de comunicação, é possível saber o julgamento
de processos criminais quase que em tempo real devido ao princípio da publi-
cidade. Durante o inquérito policial, uma fase pré-processual, o delegado pode
decretar o sigilo nos autos, no entanto, a sentença propriamente dita não poderá
ocorrer em uma audiência sigilosa. O sigilo na audiência é garantido somente se
ele não prejudicar o direito à informação.
Princípio da vedação das provas ilícitas
O princípio da vedação das provas ilícitas está encartado no artigo 5, inciso
LVI da CF/88. Ressalta Paschoal (2014):
A prova ilícita seria uma espécie dentro do gênero prova ilegal [...]
ilícita seria a prova obtida mediante a ofensa aos direitos da perso-
nalidade, tem-se como ilícita uma confissão obtida mediante tortura,
ou com violação do domicílio, ou mediante violação da intimidade,
como ocorre com uma quebra indevida do sigilo de financeiro. En-
fim, ilícita seria a prova que foi obtida com infringência às normas de
direito material (p. 281-282).
Tanto que essa foi uma das alegações do ministro Kassio Nunes Marques no
HC n. 164.493/PR, uma vez que não seria possível utilizar o hackeamento da Ope-
ração Spoofing.
Princípios regentes do Tribunal do Júri
Falaremos agora sobre os princípios regentes do Tribunal do Júri, consa-
grados pelo Artigo 5, inciso XXXVIII, alíneas b, ce d da CF de 1988, que diz o
seguinte:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e a propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXVIII - é reconhecida a
instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
(...) b) o sigilo das votações; (...).

DIREITO PROCESSUAL PENALII


Neste caso, podemos dizer que o sigilo das votações significa que, ao proferir
o veredicto em votação situada em sala especial, é necessária tranquilidade para
reflexão, possíveis consultas ao processo e perguntas ao juiz, contando apenas
com a presença das partes e de funcionários da justiça, sob a presidência do
presidente do Tribunal do Júri.
No caso da alínea c, trata-se da soberania dos veredictos, decisão proferida
pelo colegiado cuja alteração pelo Tribunal de Juízes Togados (desembargadores)
se torna inviável, exceto por meio de apelação (artigo 593, inciso Ill, alínea d).
Além disso, quando os jurados forem manifestamente contrários às provas dos
autos, é possível resgatar a competência para o julgamento de crimes dolosos
contra a vida, conforme o artigo 5, inciso XXXVIII, alínea d da Constituição Fede-
ral, o sendo considerado numerus clausus, ou princípio da taxatividade.
Princípio da legalidade estrita da prisão cautelar
Está previsto em diversos dispositivos do artigo 5: nos incisos LXI, LXII, LXIII,
LXIV, LXV, LXVI e LVIII, todos da CF de 1988. Todos os princípios tratam, de algu-
ma forma, da prisão ou identificação do custodiado, uma vez que a liberdade é a
regra e a prisão é a sua exceção.
No Brasil, a ordem de prisão tem que estabelecer, dentro do mandado de pri-
são, detalhes por escrito sobre as características do custodiado. Se o nome e os
requisitos que o qualificam não forem
possíveis, que sejam informadas pelo
menos suas características mais acen-
tuadas, como por cor da pele, estrutura
óssea, altura, apelido etc.
Após o encontro da pessoa custo-
diada, ela terá seus direitos constitu-
cionais lidos pela autoridade policial,
dentre eles o direito de permanecer em
silêncio, de poder confessar o crime se
assim o desejar, de contratar um advo-
gado ou, em caso de hipossuficiência,
que na fase processual o magistrado nomeie um advogado para exercer sua de-
fesa, seja por meio da Defensoria Pública dos Estados ou pelo convênio da OAB
com a própria Defensoria Pública.

DIREITO PROCESSUAL PENALII a,


Além disso, o preso tem direito de saber quem mandou prendê-lo, quem foi a
autoridade policial que o prendeu e de se comunicar com a sua família, se assim
for sua vontade. Caso fique provado que a prisão foi feita de forma ilegal, a auto-
ridade judiciária deverá imediatamente relaxar a prisão feita pela autoridade po-
licial, dentro da ritualística da audiência de custódia. Por fim, a família do preso
tem o direito de saber o local para onde o preso foi enviado, caso o magistrado
decida pela legalidade da prisão.
Princípio do duplo grau de jurisdição
De acordo com Penteado, em Duplo grau de jurisdição no Processo Penal - ga-
rantismo e efetividade, publicado em 2006:
A Constituição da República, no capítulo dos direitos individuais, re-
conhece uma série de garantias da pessoa humana que, pela pleni-
tude de sua abrangência e de sua imprescindibilidade à consecução
do bem comum, abarcaria o duplo grau de jurisdição, até mesmo
como forma adequada à efetividade dos direitos do homem. Toda-
via, mantendo a vocação de reconhecimento integral desses valores,
dispõe que a previsão não exclui aqueles decorrentes do seu regime
e principiologia, bem como dos tratados internacionais firmados (p.
123-124).
Com isso, é possível destacar a importância dos tratados internacionais de
Direitos Humanos ratificados pelo Brasil, como o Decreto n. 678 de 1992, que
é o Pacto de São José da Costa Rica, e o Decreto n. 592 de 1992, que é o Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos. Em ambos os tratados está explícito
também o princípio do duplo grau de jurisdição.
Princípio do promotor natural
No princípio do promotor natural, o órgão acusa-
dor tem que ser imparcial tanto quanto o magis-
trado, sob pena de suspeição, conforme o artigo
104 do CPP, que diz: "Se for arguida a suspeição
do órgão do Ministério Público, o juiz, depois de
ouvi-lo, decidirá, sem recurso, podendo antes ad-
mitir a produção de provas no prazo de três dias”
(BRASIL, 1941). Isso porque o membro do Parquet faz parte da lide
processual penal.

DIREITO PROCESSUAL PENALII &


Nos mesmos termos de um magistrado natural, não existe a possibilida-
de de escolha de um órgão acusador previamente designado para atuar pe-
rante um determinado caso. Suponhamos que determinado procurador-geral
de justiça, tendo convicções políticas diferentes de um indiciado, nomeie um
promotor que tenha uma convicção política completamente oposta aquela do
acusado, qual seria o prejuízo que isso poderia trazer à defesa?
Princípio da intranscendência
Passemos agora a analisar o princípio da intranscendência. Podemos con-
cluir que nenhuma pena passará da pessoa do condenado (artigo 5, XLV da
CF/88), ou seja, a culpabilidade é pessoal e intransferível. Portanto, somente
a pessoa física que cometeu o delito é quem pode cumprir a pena. Seus her-
deiros, no entanto, podem responder com os bens deixados, ou seja, podem
utilizar o patrimônio deixado pelo réu para o pagamento da multa penal (artigo
49). Caso o réu não tenha bens em princípio, o magistrado não deve aplicar a
pena de multa, obedecendo ao comando do artigo 59, inciso |, do Código Penal,
que fala da dosimetria da pena.
Princípio da vedação da dupla jurisdição e do duplo processo
O princípio da vedação da dupla jurisdição e do duplo processo é uma con-
sequência jurídica do princípio penal
do ne bis in idem. Nas palavras de Pra-
do (2017), “Através dele procura-se im-
pedir mais de uma punição individual
- compreendendo tanto a pena como
a agravante - pelo mesmo fato (a du-
pla punição pelo mesmo fato)” (p. 98).
Há também o que se chama no
processo penal de princípio da ver-
dade real ou material: Non quod est in
actis non est in mundo. Em outras pala-
vras, O que não consta nos autos, não
está no mundo, ou seja, o juiz pode
tratar somente aquilo que está den-
tro dos autos, perseguindo a verdade
material.

DIREITO PROCESSUAL PENALII &)


Princípio da persuasão racional
O princípio da persuasão racional significa que o livre convencimento do
magistrado deve se fundamentar única e exclusivamente nas provas encar-
tadas nos autos do processo, inclusive a única exceção é o Tribunal do Júri,
que não necessita, como o magistrado, fundamentar a sua convicção em uma
prova ou não em outra. Isso acontece porque os magistrados da causa são os
jurados e eles não possuem o dever legal de fundamentar a decisão, devendo
apenas votar na sala secreta se o réu é culpado ou inocente.
Princípio da colegialidade
Talvez o mais importante dos princípios é o da colegia-
lidade, que é aquele princípio no qual um colegiado (for-
mado por desembargadores ou ministros) pode rever ou
não a decisão de 1º Instância.

“e
Prisão
De acordo com Nucci, prisão é “a privação da liberdade, tolhendo-se o direi-
to de ir e vir, através de recolhimento da pessoa humana ao cárcere” (2016, p.
687). Tal descrição pode ser tipicamente caracterizada como prisão penal, ou
seja, aquela que decorre da sentença condenatória transitada em julgado, na
qual não caiba mais recursos.
Sabemos que a prisão é a forma de restrição da liberdade de um indiví-
duo após o cometimento de um crime, de flagrante obrigatório ou flagrante
facultativo (artigo 301 do CPP). Ela acontece somente no caso de haver tam-
bém uma ordem devidamente fundamentada por parte da autoridade judiciá-
ria competente, com a devida ressalva dos crimes definidos, como
transgressão militar ou crimes militares próprios, pois neste caso
existe uma jurisdição própria para o julgamento dos crimes ditos
militares (seja na justiça militar estadual ou na justiça
militar federal).
Podemos classificar a prisão em: 1) prisão em
flagrante; 2) prisão processual; 3) prisão penal;
e 4) prisão de pronúncia. A subdivisão da prisão
processual cautelar pode ser vista no Diagrama 1.

DIREITO PROCESSUAL PENALII (5)


DIAGRAMA 1. PRISÃO PROCESSUAL CAUTELAR

Prisão processual
[or E

4RA RE DR 5. Prisão em decorrência


Compõe-se de
FATO da conduta coercitiva

4. Prisão em decorrência
2. Prisão preventiva de sentença condenatória
CS dd NA

3. Prisão em decorrência
da decisão de pronúncia

(> — o
Está prevista no artigo 302 do Código de Processo Penal (CPP). A palavra
flagrante advém do latim flagrare, que significa aquilo que está ardendo ou
queimando, ou seja, aquilo que acaba de acontecer.
Podemos dividir o flagrante delito em três tipos: o flagrante próprio ou
perfeito, hipóteses elencadas nos incisos | e Il do artigo 302; o flagrante im-
próprio ou imperfeito, que ocorre no inciso Ill do Código de Processo Penal; e
o flagrante ficto ou presumido, que ocorre no inciso IV do CPP.
O flagrante próprio ou perfeito é aquele que ocorre quando o agente está
em pleno desenvolvimento do iter criminis. É o típico caso de flagrante delito
no qual o criminoso é pego realizando uma das fases do iter criminis, ou seja, é
pego por realizar o crime em si, podendo ser preso por qualquer um
do povo ou por uma autoridade policial, conforme elenca-
do no artigo 301 do CPP. No flagrante ficto ou presumi-
do, presume-se que os instrumentos, armas, objetos
ou papéis encontrados com um indivíduo levam a crer
que ele é autor do delito.

DIREITO PROCESSUAL PENALII


No caso do artigo 303 do CPP, podemos afirmar que se trata da prisão em
flagrante nos crimes tidos como permanentes, como é o caso de sequestro ou
extorsão mediante sequestro. Esses tipos de crimes acabam somente após
a liberação da vítima. Em crimes habituais, por outro lado, não cabe a prisão
em flagrante prevista no artigo 303. Para esses casos, são usados os artigos
229 ou 282.
Além disso, no caso da prisão em flagrante por porte de entorpecente, o
indivíduo será preso por portar a droga, e não por vendê-la, uma vez que é
considerado crime permanente o porte do entorpecente, não fazendo vigo-
rar a Súmula 145 do STF, que diz que “Não há crime quando a preparação
do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”. Neste caso, se
houver o flagrante preparado, é possível falar em consumação do delito, fato
típico da Lei n. 11.343/06.
No caso da prisão em flagrante existe uma ordem de atos que devem ser
realizados para que o auto de prisão seja válido, conforme o artigo 304 do
CPP. Uma breve descrição desses atos pode ser vista no Quadro 1.

QUADRO 1. ATOS PARA VALIDAÇÃO DE PRISÕES EM FLAGRANTE


Ea ama

1) Será a oitiva do condutor, ou seja, aquele que prendeu o cidadão em flagrante delito.

2) Oitiva das testemunhas que presenciaram o ato delituoso. Neste caso, a falta de
testemunhas não impede a lavratura do auto de prisão em flagrante.

Além disso, o artigo 306 do CPP diz exatamente quais providências devem
ser tomadas pelo juiz ao receber a cópia da prisão em flagrante. Segundo o
referido artigo, há um prazo de 24 horas para custodiado em flagrante delito
ser apresentado à autoridade judiciária, que deverá decidir sobre a legalidade
ou ilegalidade da prisão. Além disso, dentro do mesmo prazo, será dado ao
preso em flagrante a nota de culpa, que serve para dizer quais são os motivos
da sua prisão, o nome do condutor (este pode ser um policial ou qualquer
um do povo) e também o nome das testemunhas que depuseram no auto de
prisão em flagrante.

DIREITO PROCESSUAL PENALIIEn)


O artigo 310 do CPP diz que no prazo de 24 horas após a prisão o juiz de-
verá promover a audiência de custódia, com a presença do acusado e de seu
advogado para que o magistrado decida sobre a legalidade ou ilegalidade da
prisão. Se a prisão for decretada como ilegal, deverá fundamentadamente ter
três opções: 1) relaxar a prisão ilegal; 2) converter a prisão flagrante em pri-
são preventiva quando houver os requisitos necessários para tal conversão;
ou 3) conceder a liberdade provisória com ou sem fiança.
No caso da concessão de liberdade provisória com ou sem fiança, se o juiz
verificar que o acusado agiu dentro de uma causa de excludente de ilicitude
(artigo 23, incisos |, Il e Ill do CP), este fundamentará a sua decisão, fazendo
com que o acusado assine um termo de comparecimento a todos os atos
processuais, sob pena de revogação. O STF, em sede do julgamento da ADPF
n. 347/DF, ordenou que a audiência de custódia fosse realizada em todos os
tribunais de justiça do país.
Além disso, caso o magistrado não realize a audiência de custódia dentro
do prazo legal, este poderá sofrer sanções de natureza civil, administrativa e
penal pela respectiva omissão. O pacote anticrime (Lei n. 13.964/19) traz no-
vidades quanto à liberdade do agente: caso não ocorra a audiência no prazo
de 24 horas, desde que não haja uma motivação idônea para tanto por parte
do magistrado, deverá ser imediatamente relaxada a prisão, porém o magis-
trado que liberar poderá impor, se for o caso, a prisão preventiva; além disso,
o magistrado que verificar que o acusado integra organização criminosa ou
seja reincidente negará a liberdade provisória.

Falaremos agora sobre a prisão preventiva, que é uma prisão que não pos-
sui prazo para acabar e pode ser decretada em virtude dos seguintes requisi-
tos: garantia da ordem pública, garantia da ordem econômica ou con-
veniência da instrução criminal, sendo que ela pode ser
decretada durante o inquérito policial ou a instrução
processual, além de ser precedida de fundamentação
idônea por parte do magistrado, conforme o artigo
93, inciso IX, da Constituição Federal de 1988:

DIREITO PROCESSUAL PENALII A,


Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Fe-
deral, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os
seguintes princípios: (...) IX - todos os julgamentos dos órgãos do
Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as deci-
sões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou so-
mente a estes, em casos nos quais a preservação do direito a inti-
midade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público
à informação (BRASIL, 1988).
Caso o juiz não fundamente sua decisão da prisão preventiva, o artigo 564,
inciso V, do CPP, alterado pelo Pacote Anticrime, diz que é passível a impetração
do recurso cabível para suscitar nulidade por carência de fundamentação por
parte do magistrado. Sendo assim, uma vez que nestes casos há a necessidade
de fundamentação, podemos afirmar que a nulidade da prisão preventiva em
decorrência da carência de fundamentação por parte do magistrado é uma
nulidade absoluta.

(o dream la nennmiineais

at,

No caso da prisão de pronúncia, determinada no rito do Tribunal do Júri,


ela ocorre quando o juiz se convence da existência de autoria e materialidade
delitiva logo após o trâmite da 1º fase do Tribunal do Júri.
Há três opções de sentenças interlocutórias para proferir:
1) Sentença de pronúncia;
2) Sentença de impronúncia;
3) Sentença de absolvição sumária.
No caso da sentença de pronúncia, trata-se de
uma mera decisão que pode ser atacada por um
recurso chamado recurso em sentido estrito,
previsto no artigo 581, inciso IV, do CPP. Quan-
do o magistrado impõe a prisão por pronúncia, ele
deve fundamentar sobre a prisão. Caso tenha res-
pondido ao processo em liberdade, deverá ser mantido assim até a
decisão soberana dos jurados.

DIREITO PROCESSUAL PENALII 65)


DIAGRAMA 2. FUNCIONAMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI

Dio TE DR rd]

Pode acarretar em

Sentença de impronúncia (não haverá Sentença de absolvição sumária (não


Sentença de pronúncia (haverá prisão) Pete a dr

O réu pode recorrer

Por meio de recurso em sentido estrito


(art. 581,IV CPP)

A prisão em decorrência da sentença condenatória recorrível é aquela na


qual o réu foi condenado em 7º instância e que ainda cabe algum tipo de recur-
so na 2º instância.
É importante lembrar que não existem 3º ou 4º instâncias. Além disso,
embora haja uma opinião fundamen-
tada no senso comum sobre a impu-
nidade no Brasil ocorrer devido ao
ordenamento processual, com tantos
recursos a ponto de haver a prescri-
ção de um delito devido à demora do
julgamento, é fundamental ressaltar
que isso foi modificado pelo Pacote
Anticrime.
O artigo 116, inciso Ill, da referida lei diz que antes da sentença final conde-
natória passar em julgado, o prazo prescricional não corre enquanto houver
pendências do julgamento, seja de embargos, declarações ou de eventuais re-
cursos aos Tribunais Superiores.

DIREITO PROCESSUAL PENALII (=)


Condução coercitiva
A condução coercitiva, prevista no artigo 260, é aplicada quando o acusado,
acusante, perito ou testemunha não comparecerem ao interrogatório. A prisão
ou condução coercitiva visa restringir temporariamente a liberdade de quem
injustificadamente desatendeu à intimação, comprometendo o andamento de
um processo.
Há controvérsias quanto à sua aplicabilidade. As Arguições de Descumpri-
mento de Preceito Fundamental (ADPF) n. 395/DF e 444/DF, ambas de relatoria
do Ministro Gilmar Mendes, questionam a inconstitucionalidade da conduta
coercitiva, uma vez que ela restringe a liberdade de locomoção e viola o princí-
pio de não culpabilidade.
A ADP n. 395 foi impetrada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e a n. 444
foi impetrada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Ambas foram julgadas em junho de 2018 e o STF decidiu, por maioria de votos,
pela inconstitucionalidade do dispositivo do Código de Processo Penal.
Cabe salientar, no entanto, que tal decisão, tomada em 14 de junho de 2018,
não anula processos e interrogatórios realizados antes dessa data, mesmo que
alguma das partes tenha sido coercitivamente conduzida.

Prisões com e sem mandado expedido


O mandado de prisão expedido está previsto no artigo 285 do CPP, que es-
tipula cinco requisitos para que ele seja apresentado pela autoridade policial,
conforme demonstrado no Quadro 2.

QUADRO 2. REQUISITOS PARA MANDADO DE PRISÃO

1) Lavratura pelo escrivão-diretor;

2) Designação da pessoa que será presa, com seus dados qualificadores;

3) Referência à infração praticada;

4) Valor da fiança arbitrada, quando afiançável;

5) Emissão ao delegado de polícia, seus agentes ou oficiais de justiça competentes para cumprir
o respectivo mandado de prisão.

DIREITO PROCESSUAL PENALII o


Existem alguns dispositivos do CPP para quando o preso se localizar detido
em outra comarca: tem que haver, no respectivo mandado de prisão, a carta
precatória nos exatos termos do artigo 289 do CPP. Segundo Nucci: “Estando
a pessoa procurada em Comarca diversa daquela onde a autoridade judiciária
emitiu a ordem de prisão, por uma questão de respeito à competência, expede-
-se precatória, solicitando que o juiz local aponha o cumpra-se” (2016, p. 703).
Além disso, é possível executar a prisão sem o devido mandado, desde que
o crime cometido seja inafiançável e, posteriormente, o preso seja encaminha-
do à autoridade judiciária competente para que seja feita a audiência de custó-
dia, conforme artigo 287 do CPP.

O uso das algemas está previsto na Lei de Execução Penal (art. 199), tendo
sido devidamente regulamentado pelo Decreto-Lei n. 8.858 de 2016. Cabe res-
saltar, no entanto, que o uso das algemas
já estava previsto pela Lei n. 7.210/84
(Lei de Execução Penal); além disso, o STF possui uma súmula sobre o uso das
algemas, a Súmula Vinculante n. 11:
Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado
receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia,
por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade
por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civile penal do
agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processu-
al a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado
(BRASIL, 2008).
Regime disciplinar diferenciado (RDD), por sua vez, está previsto no artigo
52 da Lei de Execução Penal (LEP) e modificado pela Lei n. 13.964/19, que diz o
seguinte:
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta
grave e, quando ocasionar subversão da ordem ou disciplina inter-
nas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional ou estran-
geiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferen-
ciado, com as seguintes características: | - duração máxima de até

DIREITO PROCESSUAL PENALII &


2 (dois) anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta
grave de mesma espécie; || - recolhimento em cela individual; II - vi-
sitas quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas em
instalações equipadas para impedir o contato físico e a passagem
de objetos, por pessoa da família ou, no caso de terceiro, autorizado
judicialmente, com duração de 2 (duas) horas; IV - direito do preso à
saída da cela por 2 (duas) horas diárias para banho de sol, em grupos
de até 4 (quatro) presos, desde que não haja contato com presos
do mesmo grupo criminoso; V - entrevistas sempre monitoradas,
exceto aquelas com seu defensor, em instalações equipadas para
impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa
autorização judicial em contrário; VI - fiscalização do conteúdo da
correspondência; VIl - participação em audiências judiciais prefe-
rencialmente por videoconferência, garantindo-se a participação do
defensor no mesmo ambiente do preso. 8 1º) O regime disciplinar
diferenciado também será aplicado aos presos provisórios ou con-
denados, nacionais ou estrangeiros: | - que apresentem alto risco
para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da socie-
dade; Il - sob os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento
ou participação, a qualquer título, em organização criminosa, asso-
ciação criminosa ou milícia privada, independentemente da prática
de falta grave. 8 2º) (Revogado). 8 3º) Existindo indícios de que o pre-
so exerce liderança em organização criminosa, associação criminosa
ou milícia privada, ou que tenha atuação criminosa em 2 (dois) ou
mais Estados da Federação, o regime disciplinar diferenciado será
obrigatoriamente cumprido em estabelecimento prisional federal. 8
4º) Na hipótese dos parágrafos anteriores, o regime disciplinar dife-
renciado poderá ser prorrogado sucessivamente, por períodos de 1
(um) ano, existindo indícios de que o preso: | - continua apresentan-
do alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal
de origem ou da sociedade; Il - mantém os vínculos com organiza-
ção criminosa, associação criminosa ou milícia privada, considera-
dos também o perfil criminal e a função desempenhada por ele no
grupo criminoso, a operação duradoura do grupo, a superveniência

DIREITO PROCESSUAL PENALII E)


de novos processos criminais e os resultados do tratamento peni-

tenciário. 8 5º) Na hipótese prevista no 8 3º deste artigo, o regime


disciplinar diferenciado deverá contar com alta segurança interna
e externa, principalmente no que diz respeito à necessidade de se
evitar contato do preso com membros de sua organização crimino-
sa, associação criminosa ou milícia privada, ou de grupos rivais. 8 6º)
A visita de que trata o inciso Ill do caput deste artigo será gravada
em sistema de áudio ou de áudio e vídeo e, com autorização judicial,
fiscalizada por agente penitenciário. 8 7º) Após os primeiros 6 (seis)
meses de regime disciplinar diferenciado, o preso que não receber
a visita de que trata o inciso Ill do caput deste artigo poderá, após
prévio agendamento, ter contato telefônico, que será gravado, com
uma pessoa da família, 2 (duas) vezes por mês e por 10 (dez) minutos
(BRASIL, 2019).

A prisão especial é destinada a determinadas pessoas, conforme elencado


no artigo 295 do CPP, podendo ser aplicada a ministros de Estado, governa-
dores, interventores, chefes de Polícia, membros do parlamento (deputados
federais e senadores da República), inscritos no Livro do Mérito (Decreto-Lei
n. 1.706/39), militares dos Estados e do Distrito Federal.

EXPLICANDO
O Livro do Mérito é um livro público de registros de honras que tem por
finalidade inscrever o nome de pessoas que, de alguma forma, fizeram
doações valiosas, prestaram serviços relevantes e que tenham nota-
damente cooperado com o enriquecimento do patrimônio material ou
espiritual da Nação.

No caso dos magistrados, eles têm direito à prisão especial conforme o ar-
tigo 33, incisos Il e III, da Lei Orgânica da Magistratura Nacional. Além disso, se
o juiz togado tem direito à prisão especial, o jurado, que é um juiz leigo, bem
como profissionais do Direito (advogados), de acordo com Estatuto da OAB, no
seu artigo 7, inciso V, também possuem este direito.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Por fim, os promotores de justiça, de acordo com os artigos 40 e 41 da Lein.
8.625/93, também usufruem do direito à prisão especial, mas ela dura apenas
enquanto o processo não transitar em julgado.

DIAGRAMA 3. RESUMO DO RDD

Regime disciplinar
diferenciado

Está previsto no Estão sujeitos os

Art. 52 da Presos Presos


Lei n. 7.210/84 provisórios condenados

sendo eles

Nacionais
ou estrangeiros

(O) Liberdade provisória


Passemos agora a uma breve introdução sobre a liberdade provisória, que

nada mais é do que uma liberdade concedida ao indiciado ou réu preso em
flagrante. De acordo com o princípio da presunção de inocência, por não ne-
cessitar ficar preso, ele deve ser libertado sob determinadas condições para
continuar a responder a lide processual penal nos seus ulteriores termos.
Existe fundamento constitucional na aplicabilidade da liberdade provisória.
Ela está pautada no artigo 5, inciso LXVI; portanto, podemos afirmar que pode
ser concedida mediante fiança, desde que aquele que foi preso em flagrante
delito não tenha sua prisão convertida em preventiva (art. 312 do CPP).

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Cabe ao magistrado, desse modo, a concessão ou não da liberdade pro-
visória, para que este possa responder ao processo em liberdade, desde que
preencha os requisitos necessários para sua concessão.

A liberdade provisória obrigatória é aquela cujo réu ou indiciado pode ser


provisoriamente solto com fiança, conforme afiançado no artigo 325 do Código
de Processo Penal. O pagamento da fiança, no entanto, não pode ser conside-
rado como pagamento de pena, mas sim como caução para o comparecimento
aos atos processuais. Dessa forma, findos os atos processuais, o valor corres-
pondente a fiança é devolvido.
A liberdade provisória facultativa é aquela na qual o réu ou indiciado
pode ser solto caso seja comprovado que sua prisão prejudicará sua subsistên-
cia ou a de sua família, nos termos do artigo 350 do Código de Processo Penal.
Por fim, a liberdade provisória proibida é derivada da mudança do Pacote
Anticrime, no artigo 310, 8 2º, do Código de Processo Penal, que proíbe que o
magistrado conceda a liberdade provisória para aqueles que se dediquem à
reincidência, integrem uma organização criminosa ou façam uso do porte de
armas de fogo de uso restrito.

O artigo 325 do CPP prevê que o delegado de polícia e o magistrado são as


únicas autoridades que podem conceder fiança.
Ainda, o delegado de polícia possui limitação relativa ao tipo de crime. Em
outras palavras, ele poderá arbitrar a fiança somente quando a pena privativa
de liberdade no seu grau máximo não for superior a quatro anos.
No caso do magistrado, ele está autorizado a prestar fiança
nos casos em que a pena privativa de liberdade ultra-
passe os quatro anos de reclusão, ou seja, em um
delito de homicídio simples cuja pena começa em
seis anos, somente a autoridade judiciária poderá
arbitrar a fiança.

DIREITO PROCESSUAL PENALII &


Uma das coisas que precisa ser levada em conta é a condição econômica do
réu, pois tanto o delegado de polícia quanto o magistrado possuem um limite
monetário para determinar o pagamento da fiança. No caso do delegado de
polícia, este limite vai de um a 100 salários-mínimos; no caso do magistrado,
este limite vai de dez a 200 salários-mínimos.
No caso de o réu ter uma condição econômica inferior ou ser extremamen-
te abastado, existem duas situações jurídicas distintas: 1) pode-se reduzir esse
valor em até dois terços; e 2) pode-se aumentar este valor até mil vezes. Nesse
sentido, é possível dizer que o CPP leva em consideração o princípio da isono-
mia para aplicação da pena.

Os termos da fiança podem ser evitados quando a pessoa é hipossuficien-


te. Nesse caso, de acordo com o arti-
go 350 do CPP, o juiz deve verificar a
situação econômica do preso para
então conceder a liberdade provisória
sem a necessidade de prestar fiança,
porém poderá sujeitá-lo às medidas
cautelares do artigo 327 do CPP, que
determina a obrigatoriedade de com-
parecimento perante a autoridade to-
das as vezes que for intimado. Se ele
não comparecer, considerará quebra-
da a fiança.
Além disso, de acordo com o artigo 328, não poderá em hipótese nenhuma,
sob pena de quebrar a fiança, mudar de residência sem prévia autorização da
autoridade judiciária ou até mesmo se ausentar da Comarca por mais de oito
dias sem a devida permissão.
Por fim, o artigo 350, no parágrafo único, diz que se o beneficiado descum-
prir qualquer das obrigações citadas sem que haja um justo motivo, poderá ser
aplicado de forma coercitiva o artigo 282, 8 4º, que redundará na decretação da
prisão preventiva.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


DIAGRAMA 4. RESUMO SOBRE LIBERDADE PROVISÓRIA

RuTIGET
provisória

[Ri ELSA Sem fiança


322 e 325 do CPP) (art. 350 do CPP)

Crimes inafiançáveis
São considerados crimes inafiançáveis os seguintes: racismo; tortura, trá-
fico ilícito de entorpecentes, drogas e afins, terrorismo e crimes hediondos; cri-
mes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitu-
cional e o Estado democrático; quebra de fiança anteriormente concedida sem
justo motivo ou quaisquer obrigações dos artigos 327 e 328 do CPP; prisão civil
ou militar; e quando presentes os requisitos que autorizam a prisão preventiva.

DIAGRAMA 5. CRIMES INAFIANÇÁVEIS

CET Rue

Crimes cometidos por grupos armados, civis ou


militares, contra a ordem

LOTE CTA RA TLC OT


ERR ISA VE

Quebra de fiança concedida anteriormente ou


quaisquer obrigações dos artigos 327 e 328 do CPP

[Adi REUTERS CITE RS e E TRA A


terrorismo, crimes hediondos

DIREITO PROCESSUAL PENALII o


Concessão da fiança
O artigo 327 do CPP estabelece alguns critérios para concessão de fiança. O
principal diz respeito à obrigação de comparecer perante a autoridade judicial
todas as vezes que for convocado.
Não será concedida a fiança, no entanto, nas seguintes condições:
1) Em caso de crime doloso enquanto vigorar fiança anteriormente concedida;
2) Se houver descumprimento sem justo motivo de qualquer uma das obri-
gações impostas pelo magistrado no que se refere aos artigos 327 e 328 do CPP;
3) Em caso de prisão civil;
4) Em caso de prisão militar.
Por fim, de acordo com o artigo 328, estabelece que fica proibida a mudança
de residência sem prévia autorização judicial, assim como a ausência por mais
de oito dias do local da residência, sem comunicação prévia à autoridade judicial.

O: Há outros motivos que autorizam a quebra da fiança. De acordo com o artigo


É
341 do CPP, a quebra ainda pode ser causada:
1) Se regularmente intimado para qualquer ato processual, o acusado deixar
de comparecer sem um justo motivo;
2) Se intencionalmente o acusado procurar obstruir o regular andamento do
processo;
3) Se vier o acusado a descumprir qualquer medida cautelar imposta junto
com a fiança;
4) Se o acusado resistir injustificadamente a uma ordem emitida pela auto-
ridade judiciária (inclusive ele poderá responder por outro processo, pelo crime
do artigo 330 do CPP, que é o crime de desobediência);
5) Se vier o acusado a praticar uma nova infração de natureza dolosa.
Além disso, existe previsão legal no artigo 350 do CPP, que estabelece que
o indiciado ou réu desprovido de recursos financeiros também pode usufruir
da liberdade provisória sem fiança, pois não seria justo e equânime que apenas
aquele que possui dinheiro fosse beneficiado com a liberdade provisória por ter
como arcar com a fiança nos parâmetros do artigo 325.

DIREITO PROCESSUAL PENALII &


(O o
Não caberá a fiança no que concerne à prisão civil e militar, conforme artigo
324 do CPP, inclusive há dispositivo constitucional estabelecendo a prisão civil
por dívida (no caso de depositário infiel e por dever pensão alimentícia), confor-
me o artigo 5º, inciso LXVII.
O STF, entretanto, editou a Súmula n. 25, que diz o seguinte: “É ilícita a prisão
civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”. Desse
modo, é possível afirmar que os casos de prisão civil são tratados como uma
prisão extrapenal, ou seja, uma prisão que não possui nenhum tipo de vínculo
com algum ato ilícito.
Prisão civil
A prisão civil ocorre devido a ausência de pagamento de pensão alimentícia,
conforme previsão na Lein. 13.105 de 2015 do Código de Processo Civil, no artigo
528,58.3ºe 86º.
Prisão militar
No caso da prisão militar, existe previsão constitucional no artigo 142 da
Constituição de 1988, que possui no
ordenamento jurídico pátrio tanto um
Código Penal Militar quanto um Código
de Processo Penal Militar.
A Carta Magna (CF, 1988), no entan-
to, estabelece que no caso de infração
disciplinar militar, não se admite a im-
petração de habeas corpus, conforme
o 8 2º do artigo 142. Nas punições dis-
ciplinares militares não é admissível se-
quer a impetração do writ de habeas
corpus, ou seja, admitir fiança neste caso seria um esvaziamento do caráter
coercitivo da prisão para crimes militares.

EXPLICANDO
No caso do Código de Processo Penal Militar não existe a possibilidade de
impetrar habeas corpus para os casos de infração.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


DIAGRAMA 6. REQUISITOS PARA PRISÃO CIVIL
o

RR]

Pode ocorrer Não pode ocorrer

Por pensão alimentícia (art. 528, 83, CPC) Por depositário infiel SV n. 25 STF

Prisão preventiva
Os requisitos mínimos para prisão preventiva prevista, conforme consta no
artigo 312 do CPP e no Pacote Anticrime, são: garantia da ordem pública; garantia
da ordem econômica; conveniência da instrução criminal; e asseguramento da
aplicação da lei penal.
Além disso, tem que estar explícito, conforme a alteração do Pacote Anticri-
me, indício suficiente de autoria e materialidade delitiva, além de evidências do
perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.

(> o
A prisão preventiva não possui um prazo para acabar, desde que sejam
mantidos os requisitos mínimos ou a motivação pela qual foi pedida a medida
cautelar.
Além disso, é fundamental que estejam presentes, conforme exarado no
artigo 312 do CPP, a prova da existência do crime e indício suficientes(o
de autoria para decretar a prisão preventiva.
Por fim, tem poder para decretar prisão preventiva
a autoridade judicial, conforme o artigo 5, inciso LXI, da
Constituição de 1988.

DIREITO PROCESSUAL PENAL II >


A garantia da ordem pública é um dos requisitos da prisão preventiva.
De acordo com Nucci: “Trata-se de hipótese de interpretação mais extensiva
na avaliação da necessidade da prisão preventiva. Entende-se pela expressão
a necessidade de manter a ordem na sociedade, que, como regra, é abalada
pela prática de um crime (...)” (2016, p. 755, grifo nosso).
É fundamental, no entanto, não confundir ordem pública com clamor públi-
co. Segundo Greco Filho:
Não quer dizer também clamor público. Este pode ser revelador de
uma repulsa social, indicativa de violação da ordem pública, mas
pode, igualmente, significar vingança insufladora da massa ou revolta
por interesses ilegítimos contrariados (GRECO FILHO, 2012, p. 307).

“o

No caso do requisito da garantia da ordem econômica, é importante ressaltar


que ele perpassa pela garantia da ordem pública, ou seja, a garantia da ordem eco-
nômica é também uma garantia da ordem pública. Sobre isso, Nucci afirma que:
[..] Equipara-se o criminoso de colarinho branco aos demais delin-
quentes comuns, na medida em que o desfalque em uma instituição
financeira pode gerar maior repercussão na vida das pessoas do que
um simples roubo contra um indivíduo qualquer. Busca-se manter a
criminalidade invisível dos empresários e administradores de valores,
especialmente os de setor público [..] (NUCCI, 2016, p. 765).
Como exemplo, é possível resgatar o caso da Ação Penal (AP) n. 470, que julgou
o caso de corrupção conhecido como mensalão. Ele consistiu em um esquema de
compra de votos entre parlamentares para que a base do governo conseguisse
aprovar projetos de leis. Seu julgamento ocorreu em 2012.

ASSISTA
O vídeo JC explica mensalão apresenta um breve resumo
dos principais pontos, denúncias e apresenta brevemente
as principais figuras públicas envolvidas no mensalão.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


e
(1 Conveniência da instrucão crimina anlirarcão da lei

o!
LOnventencia da Instrução crimina ' duittadtvau
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A conveniência da instrução criminal é um dos requisitos para prisão preventi-


va. De acordo com Nucci:
A conveniência de todo processo é a realização da instrução criminal
de maneira lisa, equilibrada e imparcial, na busca da verdade real,
interesse maior não somente da acusação, mas, sobretudo, do réu.
Diante disso, abalos provocados pela atuação do acusado, visando
a perturbação do desenvolvimento da instrução criminal, que com-
preende a colheita de provas de um modo geral, é motivo a ensejar
a prisão preventiva [...] (NUCCI, 2016, p. 766).

Da mesma forma, o réu ameaçar testemunhas enseja a prisão preventiva, com


base na conveniência da instrução criminal.
Em relação à aplicação da lei penal, é possível resgatar as palavras de Oliveira:
A prisão preventiva, para assegurar a aplicação da lei penal, con-
templa as hipóteses em que haja risco real de fuga do acusado e,
assim, risco de não aplicação da lei na hipótese de decisão con-
denatória. É bem de ver, porém, que semelhante modalidade de
prisão há de se fundar em dados concretos da realidade, não po-
dendo revelar-se fruto de mera especulação teórica dos agentes
públicos, como ocorre com a simples alegação fundada na riqueza
do réu. É claro que tal situação, e a realidade tem nos mostrado
isso, O risco é sempre maior, mas, ainda assim, não é suficiente, por
si só, para decretação da prisão. É nesse sentido a jurisprudência
da Suprema Corte (RHC nº 83.179/PE - Pleno - Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, DJ 22.8.03) (OLIVEIRA, 2016, p. 561).

Passemos, agora, as hipóteses de admissibilidade da


prisão preventiva, conforme elencado no artigo 313 do
CPP. Pode-se depreender do referido artigo que será
admitida a prisão preventiva nos crimes dolosos cuja
pena máxima seja superior a quatro anos e se houver
outra condenação por crime doloso com sentença transi-
tada em julgado.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


O artigo 64, inciso |, do CPP trata sobre a reincidência ou se houver, por parte
do custodiado, envolvimento em crimes de violência doméstica e familiar contra
a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, bem
como fazer garantir a execução das medidas protetivas de urgência previstas na
Lei Maria da Penha.
Também será permitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a
identidade civil da pessoa ou quando ela não fornecer elementos suficientes para
esclarecê-la, sendo que após o esclarecimento de sua identidade, ele deverá ser
posto em liberdade.
Por fim, é importante destacar a mudança positiva no artigo 313, que estabe-
lece que a prisão preventiva não pode ser utilizada como uma forma antecipada
de cumprimento da pena, ou em decorrência de imediata investigação policial ou
para apresentação ou recebimento da denúncia.

“e
Prisão temporária
A prisão temporária, como o próprio nome diz, tem tempo para começar e acabar.
Seu prazo é de cinco dias e ela pode ser decretada pela autoridade judicial, desde que
haja a representação da autoridade policial ou requerimento do Ministério Público.
Após cinco dias da prisão temporária, é possível executar seu relaxamento ou
nova prorrogação por mais cinco dias, desde que exista comprovada e extrema ne-
cessidade (artigo 2 da Lei n. 7.960 de 1989), sendo que os presos temporários deverão
permanecer obrigatoriamente separados dos demais presos.

O rol de delitos é taxativo (princípio da taxatividade), ou seja, são apenas


determinados crimes que são objetos da prisão temporária, tais como: homici-
dio doloso; sequestro ou cárcere privado; roubo; extorsão; extorsão mediante
sequestro; estupro; atentado violento ao pudor; rapto violento; epidemia com
resultado de morte; envenenamento de água potável ou substância alimentícia
ou medicinal qualificado pela morte; quadrilha ou bando (art. 288 do CPP); ge-
nocídio (arts. 1,2 e 3 da Lei n. 2.889 de 1956); tráfico de drogas; crimes contra o
sistema financeiro (Lei n. 7.492 de 1986); crimes previstos na Lei de Terrorismo.

DIREITO PROCESSUAL PENALII E


(O o

O rol taxativo está previsto na Lei n. 7.960/89 e na Lei n. 8.072/90 (Crimes


Hediondos), acarretando na modificação do prazo. A lei de crimes hediondos es-
tabelece uma prisão temporária de 30 dias, com possível prorrogação por igual
período se necessário.
Além disso, é importante salientar que não existe mais no ordenamento
ju-
rídico brasileiro o delito de quadrilha ou bando, prevalecendo outro nomen juris,
o de associação criminosa. Entretanto, embora o tipo penal tenha sido alterado
no Código Penal, não houve alteração da Lei n. 7.960/89.

DIREITO PROCESSUAL PENALII &


Sintetizando "
o

Os princípios constitucionais, sejam explícitos ou implícitos, são de suma


importância para que se possa verificar a possibilidade de coordenar o pro-
cesso penal. Sem esses princípios não conseguimos concatenar as prisões
cautelares e processuais, conforme visto ao longo desta unidade, pois a maio-
ria das prisões, com exceção da civil e da militar, reflete na condução do pro-
cesso penal.
Vimos também que os princípios constitucionais podem fazer com que
determinados atos processuais sejam nulificados devido à falta de respon-
sabilidade da autoridade policial ou judiciária, que deveriam ter avisado o
indiciado ou réu sobre os seus direitos constitucionais,já que vivemos em um
processo penal acusatório.
Podemos salientar, ainda, que o processo penal acusatório é eminente-
mente danoso ao indiciado ou réu se não forem asseguradas as garantias
constitucionais previstas no Estado democrático de direito. Tanto é assim que
a maioria da doutrina brasileira passou a olhar para o processo penal por
uma perspectiva constitucionalista.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Referências bibliográficas cg
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DIREITO PROCESSUAL PENAL I O


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DIREITO PROCESSUAL PENALII O


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DIREITO PROCESSUAL PENALII O


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DIREITO PROCESSUAL PENALII O


UNIDADE

PROCESSOS
INCIDENTAIS

ser
educacional
Objetivos da unidade

Apresentar as questões prejudiciais e os incidentes processuais penais;

Contextualizar a sistemática processual penal e fazer o aluno refletir sobre


esses temas na atualidade;

Demonstrar como se devem dar os procedimentos incidentais penais para


que se evitem nulidades e excessos.

Tópicos de estudo
» Questões prejudiciais € Processos incidentais: do
€ Questão prejudicial X questão incidente de falsidade e do
ojg=iliaaliat- lá incidente de insanidade mental
6 Questões prejudiciais
homogêneas e heterogêneas
€ Questões prejudiciais
obrigatórias e facultativas

Processos incidentais
€ Processos incidentais:
exceções
€ Processos incidentais: conflito
de jurisdição e a restituição de
coisa apreendida
€ Processos incidentais: medidas
Fe istela
Dig dO df o]

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Questões prejudiciais
As questões prejudiciais estão regulamentadas nos arts. 92 a 94 do Código
de Processo Penal (CPP). Tais questões exigem solução antes do julgamento
do processo criminal e podem ter natureza penal ou extrapenal. Quando há
questão prejudicial, o objeto da ação penal assume a condição de questão pre-
judicada. Para facilitar seu entendimento, vejamos os seguintes exemplos:
1. Nos crimes de receptação, a prova da ocorrência de um crime anterior
é uma questão prejudicial no processo criminal, pois a questão da existência
(ou não) de um crime anterior deve ser decidida antes de o juiz sentenciar o
réu pelo crime de receptação. Nesse caso, a prova do furto é a questão pre-
judicial e a receptação é a questão prejudicada. Aqui, a questão prejudicial é
penal, pois será resolvida no âmbito do direito criminal.
2. Nos crimes de bigamia, a decisão relativa à nulidade do primeiro casa-
mento é prejudicial em relação ao processo penal, pois interferirá diretamen-
te na sentença a ser proferida pelo juiz criminal. Nesse caso, a nulidade das
primeiras núpcias é a questão prejudicial e a bigamia é a questão prejudica-
da. A questão prejudicial aqui é extrapenal, pois será resolvida no âmbito do
direito civil.
Conforme dispõem os arts. 92 e 93 do CPP, o reconhecimento da existência
da infração penal é condicionado à prévia solução das questões prejudiciais.
Tais questões, embora afetem apenas o aspecto da tipicidade da conduta,
não interferindo na ilicitude ou na culpabilidade, devem ser resolvidas, pois,
para a existência da infração penal, o fato precisa ser típico, ilícito e culpável
(teoria tripartida).

EXEMPLIFICANDO
No caso da receptação, o comportamento de quem adquire algo
apenas será típico se ilícita a procedência do bem móvel adquirido;
no caso da bigamia, o segundo casamento apenas será típico caso
o primeiro tenha sido validamente realizado. Desse modo, a prova da
origem ilícita do bem adquirido e a prova da nulidade do casamento
são questões prejudiciais, portanto, condição essencial para que se
possa afirmar que a conduta do agente, de fato, subsume-se à descri-
ção típica dos crimes de receptação, no primeiro caso, e de bigamia,
no segundo.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


As seguintes características são necessárias para que uma determinada ques-
tão seja considerada prejudicial em face da matéria de fundo, discutida no processo
criminal:
* Anterioridade lógica: como vimos, para que o processo seja julgado, é neces-
sário que se resolva primeiro a questão prejudicial,já que ela interferirá diretamen-
te naquele. Assim, a anterioridade lógica denota que a questão prejudicada (por
exemplo, a receptação) depende logicamente da questão prejudicial (por exemplo,
o roubo que lhe foi anterior);
* Necessariedade: significa que, para que haja a questão prejudicial, é essencial
que o juiz criminal dependa do resultado dessa questão, de modo que possa conside-
rar típica a ação atribuída ao agente. Em vista disso, caso seja possível ao juiz proferir
sentença sem nenhuma consideração a tal resultado, a questão não é prejudicial.
* Autonomia: a questão prejudicial não depende da existência do processo cri-
minal prejudicado para ser julgada, podendo ser objeto de um processo autônomo,
cível ou criminal. Dessa maneira, pode-se discutir a nulidade de um casamento, por
exemplo, no âmbito de ação civil própria independentemente de existir um proces-
so criminal por bigamia em tramitação na esfera penal.

Como já vimos alhures, as questões prejudiciais estão ligadas diretamente ao


mérito da causa, interferindo diretamente na absolvição ou condenação do réu
na sentença a ser proferida pelo juiz. Assim sendo, o resultado das questões pre-
judiciais, que reflete na tipicidade da conduta, poderá conduzir o juiz a absolver
o réu (caso atípico o fato), ou condená-lo (se a conduta for típica e estejam confi-
guradas a ilicitude e a culpabilidade). Exemplo: se realmente ocorreu o crime de
furto, a conduta do receptador será típica; caso contrário, será atípica.
Já as questões preliminares são de natureza puramente processual e refle-
tem unicamente na regularidade formal do processo. Assim sendo, o acolhimen-
to ou não da preliminar arguida não tem o condão de interferir no resultado do
processo (absolvição ou condenação), mas, apenas, na validade dos atos prati-
cados. Exemplo: de acordo com o art. 564, |, do CPP, se acolhida uma preliminar
que requer a nulidade por incompetência do juízo, este fato não interferirá no
mérito, mas na invalidação de todos os praticados pelo juiz incompetente.

DIREITO PROCESSUAL PENALII &


São classificadas como homogêneas as questões prejudiciais ligadas ao di-
reito penal, como é o caso da exceção da verdade no crime de calúnia. Sendo
assim, as questões prejudiciais homogêneas serão decididas no âmbito do juí-
zo criminal.
Já as questões prejudiciais heterogêneas estão vinculadas a outras áreas
do direito, devendo ser decididas por outro juízo. Podemos citar como exem-
plo de uma questão prejudicial heterogênea aquela prevista no art. 205 da Lei
9.279/1996, que permite ao juiz paralisar o processo criminal até que a nulida-
de da patente objeto da ação seja solucionada em ação própria, na esfera cível.

As questões prejudiciais obrigatórias são as que implicam na suspensão obri-


gatória do processo, pelo tempo que se resolve a questão no juízo cível, conforme
disposto no art. 92 do CPP. Por outro lado, o art. 93 do CPP determina que as ques-
tões prejudiciais facultativas deixam à critério do julgador a suspensão ou não do
processo suspender o feito, enquanto se aguarda a solução da questão. Vejamos
cada uma detalhadamente:
Prejudiciais obrigatórias
As questões obrigatórias são aquelas vinculadas ao estado civil das pessoas
e, por isso, nos termos do dispositivo mencionado acima, implicam na suspensão
obrigatória do feito até a resolução da questão pelo direito cível. É importante
destacarmos que o juiz deve avaliar se a questão é reputada como séria e fundada
para, assim, reconhecê-la. Tais questões, nos termos do art. 92 do CPP, devem
estar ligadas a existência da infração. Logo, se a questão for, por exemplo, relacio-
nada à filiação para fins do reconhecimento de atenuante ou agravante, situação
que influencia apenas na fixação da pena, não deve ser considerada obrigatória.
Podemos classificar o estado civil das pessoas como sendo, nas palavras de
Mirabete, o “complexo de suas qualidades referentes à ordem pública, à ordem
privada e à ordem física do ser humano. Refere-se, assim, à cidadania, à família, e
à capacidade civil” (MIRABETE, 2003, p. 179). Um exemplo é o caso da bigamia, já
mencionado no início do estudo.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Essa questão prejudicial não interfere no inquérito policial. Por isso, este
pode prosseguir até o seu término. Inclusive, a denúncia pode ser oferecida
pelo promotor de justiça e recebida pelo juiz. Apenas após o recebimento da
denúncia é que se pode debater a suspensão do processo.
O processo pode ficar suspenso por prazo indefinido enquanto se aguarda
o término da solução da controvérsia na esfera cível, com o trânsito em julga-
do da decisão. Contudo, havendo necessidade e urgência, o juiz criminal pode
permitir a oitiva de testemunhas que corram risco de não poderem ser ouvidas
posteriormente (doente terminal, por exemplo) ou outras provas que se pere-
cem com o tempo (como uma perícia do IML).
Nos termos do art. 116, |, do Código Penal (CP), o curso da prescrição tam-
bém será suspenso até que o processo principal retome o seu andamento.
Lembrando que, na suspensão do prazo, o período já computado é mantido,
retomando a contagem a partir desse patamar quando o processo voltar ao
seu curso.
Se o juiz determinar a suspensão do processo, o recurso cabível contra ela
é o recurso em sentido estrito, conforme o art. 581, XVI, do CPP. Sendo, porém,
indeferido o pedido de suspensão, não há previsão de recurso cabível; entre-
tanto, se isso gerar uma nulidade que não possa ser resolvida, a parte prejudi-
cada pode requerer seu reconhecimento posteriormente.
O art. 92, parágrafo único, do CPP, legitima o Ministério Público para o in-
gresso da ação civil necessária para resolver a controvérsia relativa ao estado
das pessoas. Tal ação legislativa encontra respaldo no princípio da obrigatorie-
dade da ação penal, pois, se a ação penal deve ser proposta obrigatoriamente
pelo Ministério Público, por estar presente o interesse público, logo, ela deve
ter competências para resolver as questões que possam interferir em seu an-
damento. No mesmo sentido, se necessário, o querelante pode ajuizar ação
civil para discutir a questão prejudicial obrigatória que, de algum modo, provo-
que a suspensão do curso da ação penal.
Prejudiciais facultativas
As questões prejudiciais facultativas podem ser quaisquer (>
outras diferentes do estado das pessoas, sendo a sua apre-
ciação igualmente de competência do juízo cível, conforme
determinação do art. 93 do CPP.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Para que o juiz suspenda o processo por questões pre-
judiciais facultativas, é imprescindível que a ação no juí-
zo cível já tenha sido ajuizada e que tal questão não te-
nha uma solução simples. A decisão da suspensão pode
ser prolatada de ofício pelo juiz ou no caso de pedido das
partes, como determina o art. 94 do CPP.
Por ser facultativa, essa questão prejudicial conta com a sensibilidade do
juiz criminal para suspender o curso do feito, tendo como objetivo evitar a
prolação de decisões contraditórias. Entretanto, se o magistrado entender
ter provas suficientes para julgar o caso, pode determinar o prosseguimen-
to da ação penal.
A decisão que suspender o curso do processo por questão prejudicial
facultativa precisa ser fundamentada em questão controversa que esteja
essencialmente ligada à prova da existência da infração penal e não sim-
plesmente algo que envolva circunstância do crime. De acordo com o art.
581, XVI, do CPP, da decisão que determinar a suspensão cabe recurso em
sentido estrito. Já no caso de indeferimento da suspensão, não cabe recur-
so; entretanto, isso pode gerar uma nulidade insanável, passível de reco-
nhecimento posteriormente.
O inquérito policial não pode ser suspenso após seu término, propician-
do ao órgão acusatório oferecer a denúncia ou queixa e, com o recebimento
de uma, discute-se a proposta de suspensão do feito.
Na suspensão facultativa, diferentemente da suspensão obrigatória, a
inquirição das testemunhas e a realização de outras provas de natureza
urgente é obrigatória, não podendo o juiz agir de modo discricionário. Na
suspensão facultativa, o juiz deve fixar o prazo da suspensão do processo
criminal dentro do seu prudente critério, que poderá ser prorrogado, desde
que razoável, e que o atraso não seja por culpa da parte interessada, como
determina o art. 93, 8 1º, do CPP.
O art. 93, 8 3º, do CPP, dispõe que o Ministério Público pode intervir na
causa cível com o objetivo de promover o rápido desenvolvimento do pro-
cesso. “A doutrina entende que o querelante tem o mesmo direito, pois é de
seu interesse que esta seja rapidamente concluída, para que o feito criminal
torne a ter andamento” (NUCCI, 2015, p. 280).

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Questões
prejudiciais
Suspensão obrigatória
do processo

Suspensão facultativa
do processo

Figura 1. Resumo sobre as questões prejudiciais.

Processos incidentais
Os processos incidentais podem ser opostos durante o andamento do processo
principal e serão decididos pelo próprio juízo criminal, antes da decisão de mérito.
Segundo o CPP, os processos incidentais são processados e julgados em apartado,
evitando, assim, tumultuá-los. Desse modo, caso alguma das partes levante hipóte-
se, por exemplo, de impedimento ou de suspeição de perito técnico que tenha sido
nomeado pelo juiz, tal questão deve ser resolvida antes do julgamento do mérito.
Nos subtópicos a seguir, estudaremos cada um dos processos incidentes previs-
tos no CPP. São eles: exceções de suspeição e impedimentos; exceções de incom-
petência do juízo; exceções de litispendência; exceções de ilegitimidade de partes;
exceções de coisa julgada; conflitos de jurisdição; restituição de coisas apreendidas;
medidas assecuratórias; incidente de falsidade; e incidente de insanidade mental.

Exceção de suspeição e impedimentos


As exceções de suspeição e de impedimento são defesas apresentadas pela
parte interessada contra a parcialidade do juiz.
A exceção de suspeição pode ser aposta sempre que houver um vínculo do
julgador com alguma das partes (amizade íntima, inimizade capital, sustenta-
ção de demanda por si ou por parente, conselhos emitidos, relação de crédito
ou débito, tutela ou curatela, sociedade) ou uma ligação com o assunto discuti-
do no processo. As causas de suspeição estão enumeradas no art. 254 do CPP.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


A exceção de impedimento pode ser aposta sempre que existir, entre as
pessoas sujeitas a essa exceção, uma ligação com o feito em julgamento,
mesmo que indireta. As causas de impedimentos estão previstas nos arts.
252 e 253 do CPP.
O rol mencionado acima não é taxativo, pois, por força do princípio
da imparcialidade do julgador, estabelecido constitucionalmente, pode ser
ampliado quando, no caso concreto, estiver evidente o comprometimento
do juiz para julgar o feito. É o caso, por exemplo, de um juiz que foi vítima
de um crime e, por isso, está traumatizado, podendo a quem de direito
invocar a exceção de suspeição para afastá-lo do feito, haja vista que não
poderá atuar com a necessária imparcialidade.
No caso do magistrado, por exemplo, este deve, se for o caso, declarar-
-se suspeito ou impedido de julgar a causa, sendo que, nesse caso, remete-
rá o feito ao magistrado que, segundo a lei de organização judiciária, seja
seu substituto legal, sempre que reconhecer a existência de algum dos
impedimentos ou suspeições legais. Para tanto, deve fazê-lo por escrito,
nos autos e com fundamentos, para que não haja prejuízo ao princípio
constitucional do juiz natural.
Quando a suspeição é de conhecimento da parte antes do início do
processo, deve o Ministério Público ou o querelante mencioná-la quan-
do do oferecimento da denúncia ou da queixa-crime. Em relação ao réu,
este deve suscitar a suspeição que já conhecer (ou existir) no momento
do interrogatório ou no momento da resposta à acusação; se não o fizer,
operar-se-á a preclusão. Se qualquer das partes tomar conhecimento da
suspeição após esses marcos, deverá argui-la na primeira chance que tiver
de se manifestar nos autos.
A parte que alegar a exceção deve, no momento da oposição, apresen-
tar todas as provas que tenha em mãos e indicar as que tenha intenção de
produzir, inclusive o rol das testemunhas que queira ouvir. Ao receber a
exceção oposta contra si, o juiz pode, neste ato, reconhecer-se como sus-
peito ou impedido, caso em que receberá o conteúdo da petição entregue
e determinará que os andamentos do processo principal sejam sustados
e enviá-lo-ás ao magistrado que seja seu substituto legal, nos termos do
art. 99 do CPP.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Caso não reconheça desde logo a exceção, o juiz terá um prazo de três dias
para apresentar sua defesa e determinará o apensamento da petição. Na referida
defesa, o magistrado poderá apresentar sua versão sobre os fatos aduzidos, indi-
car o rol de testemunhas e juntar documentos, se for o caso, conforme o art. 100
do CPP. Cumpridas essas legalidades, o processo deve ser remetido ao tribunal.
Nos termos do art. 102 do CPP, os autos só poderão ser suspensos caso a outra
parte (defesa ou acusação) concordar com a suspeição alegada. Cabe ao tribunal
decidir pela suspensão, caso se observe que haverá prejuízo, lembrando que é
uma faculdade. No tribunal, o relator da exceção fará um juízo inicial e somente
ordenará a citação das partes e, por óbvio, permitirá a produção de provas se iden-
tificarem que a suspeição arguida seja realmente pertinente. Se a alegação não for,
poderá rejeitar liminarmente a exceção.
Caso a exceção seja julgada procedente, conforme determina o art. 564, |, do
CPP, todos os atos praticados no processo principal serão considerados nulos e,
por isso, toda decisão ou despacho proferido pelo juiz suspeito deve ser renovado
por seu substituto legal, desde o momento em que nasceu a causa de suspeição
ou de impedimento.
Admite-se a exceção em face de membro do Ministério Público; eis que esteja
ele funcionando como parte ou atuando como vigia da lei, está obrigado a atuar
com imparcialidade, conforme o art. 104 do CPP. Ao promotor de justiça podem
impor-se as mesmas exceções e impedimentos que ao juiz, de acordo com o art.
258 do CPP. Após a parte apor a exceção, o juiz dará prazo ao promotor para res-
pondê-la, indicando as provas que queira produzir e apresentando as que tiver. Se
reconhecer, os autos serão encaminhados a outro promotor; caso contrário, o juiz
decidirá após a produção das provas requeridas.
De outra ótica, caso o promotor se dê por suspeito ou impedido, os autos se-
guirão para o seu substituto legal. Caso o juiz discorde do ocorrido, comunicará tal
situação ao Procurador-Geral de Justiça (ou Procurador-Geral da República), que
tomará as providências necessárias.
Importante: caso seja reconhecida a suspeição ou impedimento do promotor
(ou procurador da República), os atos praticados por ele no processo não serão
anulados. Além disso, enquanto se julga o incidente, o curso dos autos não será
suspenso. Por esses dois motivos, o art. 104 do CPP determina que a instrução
desse procedimento seja rápida.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Processo é enviado
[ale gi)
para o juiz
a exceção
substituto

ER E AE Ee rs
[AE geo
US Valeo juiz exceto poderá:
procedente a atos praticados por
exceção ele são anulados

Não concordar
e enviar para 0
tribunal

tur Re tE Processo continua


oo de com o andamento
[o a aje(o normal

Figura 2. Resumo sobre o processamento da suspeição

Exceção de incompetência do juízo


A parte interessada pode interpor exceção de incompetência contra o
juízo, alegando sua incompetência para julgar o feito e tendo como funda-
mento o princípio constitucional do juiz natural. Nos termos do art. 108 do
CPP, a exceção pode ser oposta verbalmente ou por escrito, juntada aos
autos, pelo interessado.
Essa arguição deve ser feita na primeira oportunidade que a parte pos-
sui de se manifestar nos autos, normalmente no momento de defesa pré-
via. A pretensão deve ser feita em peça separada, pois a exceção correrá
apenso aos autos principais. Não sendo arguida a incompetência no prazo,
considerar-se-á aceitação do juízo e, no caso de competência territorial,
que é relativa, a competência será prorrogada. Já no caso
de competência absoluta (matéria ou prerrogativa de fun-
ção), não há preclusão; por isso, poderá ser a qualquer
tempo suscitada.
Importante: em regra, não cabe ao
promotor e ao querelante ingressar
com exceção de incompetência, pois
eles são os titulares da ação penal.
Logo, devem oferecer a denúncia ou
a queixa no foro que considerarem
competente para o conhecer da causa.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Contudo, há duas exceções a essa regra: a primeira é o caso de o juiz ficar
prevento por alguma das hipóteses do parágrafo único do art. 75 do CPP, caso
em que o Ministério Público tem que alegar a incompetência do juízo até o mo-
mento do oferecimento da denúncia; a segunda se dá quando o juiz reconhece
sua incompetência de ofício e remete a outro juiz (que aceita), ocasião em que o
membro do Ministério Público (ou outro interessado) poderá opor a exceção de
incompetência se entender que o outro juiz era competente, já que a remessa
do processo a outro juízo ocorreu por ato de ofício do magistrado.
Quando a exceção não tiver sido apresentada pelo Ministério Público, este
deve ser ouvido previamente, seja na condição de titular da ação penal, seja
na de fiscal da lei (no caso de ação privada).
Caso seja reconhecida a exceção, considerando-se incompetente o juiz,
quem de direito pode manejar recurso em sentido estrito, conforme o art.
581, Il, do CPP. Caso contrário, o interessado poderá impetrar habeas corpus,
pois configura constrangimento ilegal ao réu ser julgado por magistrado in-
competente.
Se o juiz acolher os argumentos da exceção, remeterá os autos ao juízo con-
siderado competente. Caso o juiz que receber o processo não acolher os moti-
vos do magistrado, que lhe encaminhou os autos, suscitará conflito negativo de
competência (veremos mais adiante). Entretanto, caso aceite, deverá renovar
ou ratificar os atos decisórios e determinar o prosseguimento do feito.
Nos termos do art. 109 do CPP, é possível o reconhecimento da incompe-
tência do juízo em qualquer fase do processo. Isso pode ocorrer quando, após
colher as provas, o magistrado percebe estar lidando com processo alheio à
sua competência. É o caso do juiz que, após ouvir as testemunhas, percebe
que está diante não de um latrocínio, mas de um homicídio seguido de furto;
assim, reconhece sua incompetência e determina a remessa dos autos à Vara
do Júri.
Exceção de litispendência
A exceção de litispendência pode ser requerida quando houver uma
ação contra o mesmo réu e que apura o mesmo fato (independentemente
de quem seja a acusação) pendente de julgamento em outro foro. A conse-
quência do reconhecimento dessa alegação é a extinção do processo distri-
buído em duplicidade.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Esse procedimento não pode ser oposto em caso
de inquérito na mesma situação, já que eles têm o
condão de impedir a continuidade de processo em
duplicidade. Contudo, havendo inquérito que tenha
por objeto a investigação de mesmo réu e mesmo fato
criminoso, a parte prejudicada deve utilizar o habeas
corpus para trancar a investigação policial repetitiva.
A exceção de litispendência pode ser oposta a qualquer tempo, pois,
como ocorre no caso de incompetência absoluta, a matéria não está sujeita
a preclusão diante do interesse público envolvido. Ou, ainda, pode ser de-
clarada de ofício pelo juiz.
Os critérios para escolha de qual das ações devem permanecer são os
da prevenção, conforme o art. 83 do CPP; isto é, o juiz que praticou o ato
primeiro, mesmo que antes da denúncia ou da distribuição (art. 75 do CPP),
ou seja, o que primeiro foi distribuído.
A exceção deve ser apresentada em petição a parte, podendo qualquer
das partes fazê-lo, e, conforme dita o art. 110 do CPP, a outra parte deve
sempre ser ouvida. Se o juiz aceitar a exceção, cabe recurso em sentido
estrito, de acordo com o art. 581, Ill, do CPP. Caso o juiz não aceite, pode ser
impetrado habeas corpus para o trancamento de uma delas.
Exceção de ilegitimidade de parte
A exceção de ilegitimidade pode ser oposta sempre que houver um de-
feito na legitimidade de parte, que deve ser corrigido. A ilegitimidade de
partes pode ser arguida a qualquer tempo, pois a matéria não está sujeita à
preclusão diante do interesse público envolvido.
A ilegitimidade pode se dar de duas formas:
* Ad causam: ocorre quando a ação penal for proposta por pessoa ilegí-
tima (legitimidade ativa) ou contra pessoa ilegítima (legitimidade passiva).
Exemplo: quando o Ministério Público denuncia a mãe por crime cometido
pelo filho;
* Ad processum: ocorre quando há um pressuposto de validade do pro-
cesso, qual seja a capacidade para estar em juízo. Exemplo: apresentação
de queixa-crime contra alguém em crime de ação privada por menor de 18
anos, sem a assistência ou representação dos pais.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


O juiz deve proceder do mesmo modo da exceção de incompetência; ou
seja, a exceção é arguida em petição apartada, sendo que o juiz sempre dará
oportunidade à parte contrária para manifestação. Em caso de procedência
da exceção, a parte prejudicada poderá impugnar a decisão por meio do re-
curso em sentido estrito, conforme o art. 581, Ill, do CPP. Sendo improceden-
te, não há previsão de recurso cabível; porém, como tal incompetência gera
constrangimento ilegal, a parte prejudicada pode impetrar habeas corpus.
Exceção de coisa julgada
A exceção de coisa julgada deve ser manejada no caso de a mesma lide
já tiver sido definitivamente julgada em outro foro, eis que é manifesta-
mente ilegal que o indivíduo seja punido ou processado duas vezes pelo
mesmo fato; a consequência da procedência dessa exceção é a extinção
do processo.
A coisa julgada material ocorre quando o mérito da causa é decidido;
ou seja, é reconhecida ou afastada a pretensão punitiva do Estado, oca-
sião em que não haverá mais a possibilidade de interposição de nenhum
recurso, tornando-a imutável. A rejeição da denúncia por atipicidade da
conduta, por exemplo, gera coisa julgada material, não podendo oferecer-
-se nova denúncia sobre o mesmo fato.
Na lição de Guilherme de Souza Nucci, a coisa julgada formal é “so-
mente a imutabilidade da decisão final de um processo, em virtude da
preclusão das vias de impugnação, embora se possa ajuizar outra ação,
conforme previsão legal” (NUCCI, 2015, p. 328). A rejeição da denúncia por
inépcia, por exemplo, gera coisa julgada formal, podendo a denúncia ser
novamente proposta.
A coisa soberanamente julgada é uma consequência da coisa julgada
material e torna a sentença irrescindível (não pode ser objeto de revisão
criminal). A sentença criminal absolutória é um exemplo de coisa sobera-
namente julgada, pois não poderá ser revista (salvo a absolutória impró-
pria, que admite a revisão criminal para afastar a medida de segurança).
Tendo em vista esta natureza que lhe é própria, apenas a coisa julgada
material e soberanamente julgada poderá ser objeto de exceção de coisa
julgada. As partes podem requerer a exceção a qualquer tempo, pois a
matéria não é objeto de preclusão, diante do evidente interesse público.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


O requerimento deve ser feito
em petição à parte, podendo ser fei-
to por qualquer das partes, sempre
determinando o juiz a oitiva da ou-
tra. Da decisão que acolher a exce-
ção, cabe recurso em sentido estri-
to, conforme os termos do art. 581,
Ill, do CPP. Caso o juiz não aceite a
exceção, pode ser impetrado habeas
corpus para o seu trancamento.
A coisa julgada pode ser reconhe-
cida de ofício pelo magistrado, dado
o interesse público de evitar que a
pessoa seja novamente processada pelo mesmo fato. Nesse caso, da deci-
são que extinguir um processo, por reconhecer a existência de coisa julga-
da, cabe recurso de apelação, conforme o art. 593, Il, do CPP.

Formal Não produz efeito


rr. em outras relações
| processuais, mesmo que |
| Ex: Rejeição da denúncia
isobre o mesmo fato e réu.:
! porinépcia. Outra |
| denúncia pelo mesmo |
| fatoeréupodeser |
apresentada. ETR A
POR MEIO DE EXCEÇÃO DE
COISA JULGADA.

Coisa Julgada
Cofee REDia
dos efeitos substanciais
I
|
por atipicidade do I
I da decisão do mérito.
| fato. Não poderá ser I
Pe dem 0 e 00 om Sm
| apresentada outra |
| denúncia pelo mesmo |, | Produzefeitosem |
|ESSO fatocontraoréu. | | outras relações |
estas Gee a nt a dias
| processuaissobreo |
| mesmofatoeréu. |
ESSES SE = a
DER E ERC]
r————
0 0——0—0——4 ep Ri E ÇE |
ERERe ELES RIAA
Ex: Sentença absolutória | a impossibilidade de POR MEIO DE EXCEÇÃO
transitada em julgado. [OTRA iq EG Re
Exceto a absolutória
imprópria.
a,

Figura 3. Resumo sobre a coisa julgada

DIREITO PROCESSUAL PENALII E


(O) É
Conflito de jurisdição ou competência
Competência é a parcela de jurisdição que todo magistrado recebe ao ser
investido no cargo. Ocorre um conflito de competência sempre que dois ou mais
juízes entendem ser competentes para apreciar a mesma causa, ou, ainda, no
caso de nenhum juiz chamá-la para si. Nos termos do art. 113 do CPP, a doutrina
classifica a primeira situação como conflito positivo e a segunda, negativo.
Segundo leciona o professor Guilherme de Souza Nucci, embora o Código
de Processo Penal utilize o termo “conflito de jurisdição”, tecnicamente, o mais
correto seria “conflito de competência”, pois “não se trata de confronto de jurisdi-
ção, já que esta é inerente à função de qualquer magistrado, mas sim de qual é a
medida do exercício jurisdicional, que é determinado pela competência” (NUCCI,
2015, p. 333/334).
Ademais, ainda segundo Nucci, podemos diferenciar o conflito de jurisdição
do conflito de competência da seguinte forma: “o primeiro se dá quando juízes
de carreiras distintas (federal, estadual, militar) cuidam, cada um, da mesma ma-
téria (criminal); o segundo se dá entre magistrados da mesma carreira (dois juí-
zes estaduais)” (NUCCI, 2015, p. 333/334).
Se o conflito for entre autoridades administrativas ou entre estas e autoridades
judiciárias, é denominado conflito de atribuição. No caso de autoridades do mes-
mo estado e havendo conflito entre um juiz e um delegado, por exemplo, o conflito
deve ser dirimido pelo Tribunal do Estado. Agora, se as autoridades em conflito
forem da mesma instituição, cabe a esta resolver o conflito. Se o conflito for entre
promotores, por exemplo, cabe ao Procurador-Geral de Justiça resolver a questão.
Se o conflito for entre autoridades administrativas diferentes, desde que uma
delas não seja juiz de direito (entre um delegado de polícia e um promotor, por
exemplo), deverá se aguardar que haja provocação do Judiciário, que resolverá
o conflito.
Caso esse conflito seja entre autoridades administrativas e judiciárias da
União, autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro ou en-
tre as destes e a da União, cabe ao ST) resolvê-los, conforme o art. 105, |, g, da
Constituição Federal (CF).

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


São competentes para provocar o conflito: a parte interessada, os órgãos do
Ministério Público ou qualquer juiz ou tribunal em causa. Mesmo não atuando
como parte, o Ministério Público pode suscitar o conflito, uma vez que é fiscal da
lei e deve zelar para que ela seja cumprida.
Vejamos a que órgão compete resolver os conflitos de competência:
* Supremo Tribunal Federal (STF): conforme o art. 102, inciso |, alínea “o”, da
Constituição Federal, incumbe ao STF processar e julgar “os conflitos de compe-
tência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre tribunais
superiores, ou entre estes e outro tribunal qualquer” (BRASIL, 1988, art. 102, |, 0);
* Superior Tribunal de Justiça (STJ): nos termos do art. 105, inciso |, alínea “d”,
da Constituição Federal, compete ao ST) processar e julgar “os conflitos de com-
petência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, |, “o”, bem
como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribu-
nais diversos” (BRASIL, 1988, art. 102, |, d);
* Tribunal Regional Federal (TRF): segundo determina o art. 108, inciso |, alí-
nea “e”, da Constituição Federal, compete ao TRF analisar os conflitos de compe-
tência entre juízes federais a ele vinculados;
* Tribunal de Justiça dos Estados (TJE): compete-lhe analisar os conflitos de
competência entre os juízes estaduais de seu estado.
Recebido o conflito, caso ainda não houver sido apresentado, o relator requere-
rá informações das autoridades envolvidas, como dita o art. 116, 8 4º, do CPP. Caso
não sejam necessárias outras diligências e depois de ouvir o Procurador Geral, o
conflito deve ser posto em julgamento na próxima sessão do tribunal, já que tais
conflitos devem ser decididos rapidamente para que o processo volte ao seu curso.
Nos casos de conflito negativo, ou seja, se nenhum juiz quiser julgar a causa,
o processo ficará paralisado enquanto se decide o conflito, podendo, entretanto,
caso haja alguma providência urgente, o relator designar um juízo competente em
caráter provisório.
Já no caso de conflito positivo de competência, isto é, quando há mais de um
juiz que se considera competente para a causa, o processo continua em anda-
mento, devendo ser presidido pelo juiz que se considerou competente e tem os
autos em mãos. Contudo, é possível que o relator determine a suspensão do
feito caso seu andamento gere prejuízo, podendo a parte interessada requerer
tal providência.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Processo permanece
em andamento.

Ex.: Mais de um
juiz declara ser
competente para
julgar o caso

— — Processo fica suspenso.

Ex.: Mais de um
juiz declara ser
incompetente para
julgar o caso

Figura 4. Resumo sobre os conflitos de competência.

Restituição de coisa apreendida


Esse procedimento deve ser manejado por aque-
le que seja o legítimo proprietário (ou possuidor) do
bem apreendido, em fase de inquérito ou durante
o processo, sob a condição de este não ser mais
necessário para a lide e, também, no caso de dispu-
ta ou dúvida acerca de quem seja proprietário do bem.
Por coisas apreendidas, compreendem-se aquelas
que, de algum modo, importam para o esclarecimento do fato e
de seu autor, estando abarcados tanto os elementos de prova quanto objetos
passíveis de futuro confisco (coisas obtidas com a prática criminosa, instru-
mentos de fabrico, etc.).
Esse procedimento se faz necessário pois é possível que, durante a inves-
tigação ou persecução penal, bens pertencentes a terceiros de boa-fé (ou ao
acusado), que tenham pouca ou nenhuma serventia à causa, sejam apreen-
didos. Assim, utilizando-se desse procedimento, a parte interessada poderá
reaver seu bem.
Nos termos do art. 118 do CPP, as coisas apreendidas somente poderão
ser liberadas antes do trânsito em julgado quando não forem necessárias
para O processo.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Além disso, caso o objeto seja algum daqueles previstos no art. 91, II,
do Código Penal, não poderá ser reavido pelo condenado, já que um dos
efeitos da condenação é a sua perda em favor da União, com exceção do
prejudicado e do terceiro de boa-fé, que podem, desde que comprovarem
a propriedade, reaverem tais bens. É o caso, por exemplo, do indivíduo que
teve seu revólver (desde que devidamente licenciado e registrado) utiliza-
do em um roubo, mas pode pleitear sua restituição; ou joias furtadas, que
podem ser liberadas para a vítima ou terceiro de boa-fé, quando provada
a propriedade.
Procedimento da restituição de coisas apreendidas
Conforme determina o art. 120 do CPP, a restituição pode ser determi-
nada pela autoridade policial ou judiciária, que juntará termo nos autos,
caso haja certeza que o requerente é proprietário do objeto. Contudo, caso
haja dúvida, caberá exclusivamente ao juiz decidir sobre a restituição; o in-
cidente processar-se-á em apartado, tendo o requerente um prazo de cinco
dias para apresentar as provas que entender necessárias.
No mesmo sentido, sendo os objetos tomados das mãos de terceiro de
boa-fé, este será intimado para que, querendo, requeira o que lhe é de di-
reito, tendo o prazo de cinco dias para provar que os objetos são seus. Nos
dois casos, deve-se ouvir o representante do Ministério Público.
Em ambos os casos, no prazo de cinco dias, pode ser apresentada a
prova ou o requerimento para que ela seja produzida. Findada a produção
de provas no incidente, as partes terão dois dias para oferecer alegações
finais; do mesmo modo, o Ministério Público será ouvido. Caso não seja
possível confirmar de quem seja a propriedade do bem com as provas co-
lhidas na esfera criminal, o conflito será encaminhado para o juízo cível;
nesse caso, as coisas deverão ser entregues em depósito a um depositário
ou ao terceiro idôneo que já as tinha em sua posse, como determina o art.
120, 8 4º, do CPP.
Prazo máximo para requerer a restituição
Nos termos do art. 123 do CPP, a parte interessada em reaver o bem
apreendido tem o prazo de 90 dias, a partir do trânsito em julgado da sen-
tença condenatória, para pleitear a restituição ou liberação da constrição.
Se dentro desse prazo, ninguém reclamar a coisa, o juiz decretará a perda

DIREITO PROCESSUAL PENALII (E)


em favor da União do objeto apreendido, mesmo que ilícito, ordenando sua
venda por meio de leilão, destinando-se o dinheiro para os cofres públicos ou
ficando o valor disponível para aqueles que, ao tempo, estiverem ausentes.

Restituição de coisas apreendidas

Regra geral: podem ser restituídos todos os objetos lícitos

Artigo 4º, 8 3º, da lei 9.613/98 e artigo 60, 8 3º da


Restituição condicionada —— lei 11.343/06, condicionam a restituição ao
Cen e mm

e e e mm

Ex.: Artigo 118 do CPP: Se os objetos ainda importam


ao processo ou às investigações.
it Ex.: Artigo 119 do CPP: Objetos ilícitos, produto do
A Ho protidia : Crime ou bens adquiridos com a prática criminosa.
: Ex.: Artigo 128, caput, do CPP: Se houver dúvida quanto
' ao direito de quem requer o bem.
Ce e e e e e mm

Figura5. Resumo sobre os conflitos de competência

As medidas assecuratórias são cautelas adotadas no processo criminal cujo


objetivo é: viabilizar a futura indenização ou reparação de danos ao ofendido; o
pagamento das custas do processo ou das penas de ordem pecuniária ao Estado;
ou, ainda, para impedir que o criminoso alcance vantagem com a infração penal.
Estas medidas assecuratórias são: sequestro, arresto e especialização de
hipoteca legal. Essas medidas são procedimentos incidentes e, portanto, corre-
rão em separado dos autos principais, isto é, os autos que apuram a responsa-
bilidade do réu pela prática do delito.
Sequestro
Por meio do sequestro, os bens móveis e imóveis obtidos pelo acusado ou
indiciado por meio da conduta criminosa, são retidos para que se impeça que
deles se desfaça na pendência da persecução penal, tendo como objetivo ga-
rantir a indenização da vítima ou obstaculizar o agente a ter vantagem com

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


a empreitada delituosa, mesmo que este bem esteja nas mãos de terceiros,
como dita o art. 125 do CPP. Considera-se como provento da infração o ganho
obtido com o resultado da infração penal, que pode ser formado por bens mó-
veis ou imóveis.
Salientamos que, inexistindo vítima, ou se ela não vier a pleitear indeniza-
ção dos bens obtidos por meio do delito, esses serão confiscados em favor da
União, como determina o art. 91, II, b, do Código Penal.
Para requerer o sequestro, conforme determinação do art. 126 do CPP, é im-
prescindível que o requerente demonstre, no processo, a existência de indícios
verossímeis da origem ilícita dos bens. Lembrando que não são quaisquer indí-
cios que permitem o sequestro; na verdade, a prova da origem ilícita deve ser
forte, intensa e cristalina, pois ensejará na privação do direito constitucional de
propriedade. Ademais, tais indícios, devem estar relacionados à origem ilícita
dos bens e não a elementos concernentes à prova de autoria da infração penal.
Podem requerer o sequestro: o representante do Ministério Público; a víti-
ma (inclusive seu representante legal ou seus herdeiros); a autoridade policial
que presida o inquérito; ou o próprio juiz pode agir de ofício, como determina o
art. 127 do CPP. De acordo com o art. 593, Il, do CPP, da decisão que decreta ou
nega o sequestro, cabe recurso de apelação.
Deferido o sequestro, para garantir sua efetividade, o juiz expedirá man-
dado de averbação para constar referida constrição na matrícula do imóvel,
pois, assim, caso haja algum interessado em adquirir o bem, saberá, por meio
de certidão, que o bem está indisponível. Se, ainda assim, um terceiro adquirir
o bem, este não será considerado de boa-fé e, por isso, perderá o bem, que
seguirá para leilão após o fim do processo.
Se os bens móveis forem passíveis de apreensão, não é cabível o sequestro
conforme o art. 240 do CPP. Como vimos alhures, são passíveis de apreensão:
os objetos que sejam meios de prova na persecução penal; os objetos que se-
jam produtos do crime; e os objetos que forem coisas de fabrico, alienação,
posse, uso ou de detenção ilícita.
Em sentido contrário, se o bem foi adquirido com o uso de rendimentos
oriundos da prática delituosa, poderá ser aplicado o sequestro; isto porque tais
bens não podem ser apreendidos, devendo, entretanto, estarem presentes os
indícios verossímeis da procedência ilícita dos bens.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Conforme disposição do art. 133 do CPP, após a sentença condenató-
ria passar em julgado, o juiz, de ofício ou a requerimento do interessado,
ordenará a peritagem e alienação dos bens em hasta pública. O valor apu-
rado com o leilão do bem será destinando à União, no caso de confisco,
sem prejuízo da possível destinação à vítima ou ao terceiro, desde que de
boa-fé.
Nesse diapasão, tanto o bem obtido diretamente com a prática deli-
tuosa quanto o bem provento da infração penal poderão ser vendidos por
meio de leilão público, medida esta que deve ser analisada pelo juiz após
o trânsito em julgado da condenação. Importante, apenas os bens móveis
e imóveis que forem arrestados poderão ser utilizados para reparação do
dano em caso de ação civil com esse fim.
Poderá ocorrer, ainda, o levantamento do sequestro quando ocorrerem
algumas das hipóteses do art. 131 do CPP.
Especialização de hipoteca legal
Conforme determina o art. 134 do CPP, a especialização de hipoteca
legal recairá sobre os bens imóveis do indiciado ou acusado. Tal constrição
deverá ser realizada pela vítima, em qualquer fase do processo, bastando,
para tanto, que haja convicção acerca da materialidade e indícios suficien-
tes no que cerne à autoria. Embora a lei faça menção de “qualquer fase do
processo”, a especialização é possível durante o inquérito policial também.
O objetivo da especialização é garantir a reparação à vítima dos danos
causados pelo ilícito penal, assim como o pagamento das custas, nos casos
em que a lei prever, e das despesas do processo.
Em que pese a lei mencionar apenas o ofendido como legitimado a re-
querer a especialização, é possível que seja requerido, também, pelo repre-
sentante legal e os herdeiros da vítima. Além disso, conforme permissão do
art. 142 do CPP, o Ministério Público poderá requerer a especialização no
caso de o ofendido ser pobre ou se houver interesse da Fazenda Pública.
Nos termos do art. 135 do CPP, o requerente deverá estipular o quan-
tum que entender ser necessário para a responsabilidade civil e determi-
nará qual imóvel requer que fique indisponível, enquanto se aguarda o
resultado do processo criminal. Ato contínuo, o magistrado determinará
a peritagem dos bens indicados e atribuirá o valor da responsabilidade.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Com a petição de especialização, deverão vir os documentos ou ao menos
a indicação das provas que deseja produzir, com o objetivo de dar subsídios
para o juiz decidir acerca do valor da indenização. Deverá, ainda, acompanhar
o pedido e a relação dos imóveis que serão especializados, com documentos
necessários para a prova da propriedade.
Embora o laudo que estipulará o valor da responsabilidade e avaliará o va-
lor dos imóveis seja feito por perito judicial, o juiz não está vinculado a este, que
apenas o auxilia a decidir.
Após ouvir os interessados, o julgador, no prazo de dois dias, a contar da
data que o perito apresentar o laudo, decidirá e ordenará ao Cartório de Regis-
tro de Imóveis que torne o bem indisponível. O cálculo de liquidação será feito
somente após o trânsito em julgado da sentença condenatória.

pia adianto
Ausentes os requisitos Rr

Petição ao juiz da vara


Hipoteca legal em que tramita o
LUTAS

Presentes os requisitos

Avaliação dos bens e


SALELE DO ERR Elio

Prazo para as partes


impugnarem a perícia

Resolvidas as questões E Sentença condenatória:


Sentença absolutória: a [Eure E or ERA ER Ut RS
hipoteca é cancelada. PIC TE RE] encaminhada ao
Ce T ui ep] ASI

Figura 6. Resumo so

DIREITO PROCESSUAL PENALII (1


Arresto
Na falta ou insuficiência de bens imóveis que possibilitem o ressarcimento dos
danos à vítima ou o subsídio das expensas do processo, o art. 137 do CPP permite
o arresto de bens móveis passíveis de serem penhorados.
É importante frisarmos que a constrição, nesta hipótese, apenas poderá re-
cair sobre os bens passíveis de penhora, isto é, aqueles que o art. 833 do Código
de Processo Civil (CPC) não considera como sendo impenhoráveis. Além destes,
são impenhoráveis aqueles dispostos no art. 1º da Lei 8.009/1990, dentre outros
em legislações específicas.
Como nos casos anteriores, serão formados autos apartados para apreciação
do pedido de arresto para que não se conturbe o andamento dos atos processuais
com a especialização da hipoteca ou do arresto, como determina o art. 138 do CPP.
Segundo o art. 139 do CPP, o depósito e a administração dos bens móveis ar-
restados obedecerão às regras dos arts. 159 a 161 do CPC.
Caso o réu venha a ser absolvido ou venha a ser reconhecida como extinta a
sua punibilidade, por meio de sentença transitada em julgado, os bens deverão
ser liberados, como determina o art. 141 do CPP, mesmo que persista alguma hi-
pótese da vítima pleitear, na esfera cível, competente indenização pelo ato ilícito.
Alienação antecipada de bens
Nos termos do art. 144-A do CPP, independentemente de qual seja a medida
assecuratória determinada, os bens que tenham sido constritos são passíveis de
alienação antecipada nas seguintes situações: para preservar o valor do bem; para
impedir a deterioração ou depreciação; ou no caso de a sua manutenção ser in-
viável.
Referidos bens deverão ser vendidos em leilão, dando preferência para o meio
eletrônico. Nesse caso, deverá ser realizado primeiro uma avaliação judicial do
bem para certificar o valor mínimo para os lances. Mesmo que em segundo leilão,
o bem não poderá ser alienado por valor menor que 80% do seu valor avaliado.
Efetuado o leilão, depositar-se-á o montante arrecadado em conta judicial, vin-
culada ao juízo que determinou o leilão, referido valor ficará ali depositado até que
haja, nos autos, sentença passada em julgado. O réu condenado, sendo o bem
fruto de coisa ilícita, o valor obtido com a venda será revertido em favor da União,
Estado ou Distrito Federal. O réu absolvido, o valor arrecadado deverá ser devol-
vido a este.

DIREITO PROCESSUAL PENALII (=)


Do incidente de falsidade
O incidente de falsidade é um procedimento incidente, cujo objetivo é verificar a
genuinidade de um documento que esteja juntado nos autos do processo criminal
em relação ao qual exista discordância quanto a sua veracidade. Esse incidente é de
elevada importância porque possibilita garantir um conjunto probatório legítimo na
persecução penal, onde há a prevalência do princípio e da busca da verdade real.
O fim da instauração do incidente para apuração de existência de documento
falso, ou falsificado, é afastar do conjunto das provas do processo algum elemento
inverídico, que possa gerar efeitos nocivos contra o acusado ou ao processo.
O incidente de falsidade será requerido por quem de direito, que deverá denun-
ciar por escrito a falsidade do documento acostado nos autos. O magistrado deter-
minará que o procedimento seja autuado em autos à parte e dará oportunidade
de manifestação à outra parte, que terá prazo de 48 horas a partir da intimação da
decisão para fazê-lo.
Após o prazo de manifestação da parte contrária, o juiz concederá prazo sucessi-
vo de três dias às partes para que exponham as provas que detenham ou apresen-
tem requerimento de indicação das que pretendem produzir.
Considerando que a arguição de falso envolve a imputação de prática de crime
ao falsificador, o art. 146 do CPP determina que, para que se suscite a falsidade do-
cumental, o procurador tenha procuração com poderes especiais, devendo o reque-
rente ficar vinculado exatamente ao que está afirmando. No lugar da procuração
com poderes especiais, o requerente pode assinar em conjunto com seu advogado.
É possível, ainda, nos termos do art. 147 do CPP, que o juiz determine de ofício a
análise da falsidade de qualquer documento, devendo seguir o mesmo procedimen-
to mencionado acima.
Ao passar em julgado a decisão que reconheceu a falsidade, seja por não have-
rem mais recursos ou por não ter havido recurso das partes, o documento reco-
nhecido como falso será desentranhado e o incidente deverá ser encaminhado ao
Ministério Público para que tome as providências criminais que considerar cabíveis.
Conforme o art. 581, XVIII, do CPP, para impugnar a decisão que reconhece ou não a
falsidade, a parte deverá valer-se do recurso em sentido estrito.

DIREITO PROCESSUAL PENALII (>


Importante: o art. 15 da Lei de Introdução ao Código de Processo Penal (Lei
3.931/1941) determina que o documento reconhecido como falso, após ser de-
sentranhado dos autos, será rubricado pelo juiz e pelo escrivão em cada uma
de suas folhas. Tal cuidado objetiva acautelar que o documento desentranhado
será o mesmo a ser enviado e recebido pelo Ministério Público para as provi-
dências cabíveis, tentando, com isso, impedir a sua substituição e viabilizar a
responsabilização do falsificador.
A falsidade pode ser material quando esta recair sobre a forma do docu-
mento; isto é, quando o documento for rasurado ou subscrito, por exemplo. A
falsidade pode ser, ainda, ideológica; ou seja, quando a falsidade estiver subs-
tanciada na alteração do conteúdo, dando uma falsa aparência de genuinidade.
É o caso da certidão de nascimento em que algum dado é inverídico, mas que
não há adulteração visível.
Conforme ensina Guilherme de Souza Nucci, podemos conceituar docu-
mento como:
[..] toda base materialmente disposta a concentrar e expressar

um pensamento, uma ideia ou qualquer manifestação de vontade


do ser humano, que sirva para demonstrar e provar um fato ou
acontecimento juridicamente relevante. São documentos, por-
tanto, os escritos, fotos, fitas de vídeo e som, desenhos, esque-

mas, gravuras, disquetes, CDs, entre outros. (NUCCI, 2015, p. 354).


A decisão que reconheceu o documento como não-autêntico não faz coisa
julgada contra outro processo, nos termos do art. 148 do CPP. Portanto, é pos-
sível que, em momento posterior, após um processo seja ele criminal ou cível,
constate-se que a primeira decisão foi desacertada; isto é, que o documento é,
na realidade, verdadeiro. Isso acontece pois, no incidente de falsidade, a dila-
ção probatória é bastante limitada, então é possível que, com uma análise um
pouco mais apurada, obtenha-se um resultado diferente.
Se um documento reconhecido como falso no incidente vier a ser defini-
do como verdadeiro posteriormente, é possível que o réu requeira revisão
criminal, caso tenha havido prejuízo para ele. Entretanto, sendo o prejuízo da
acusação, após passar em julgado a sentença dos autos em que constava o
documento, esta nada mais poderá requerer; afinal, a lei não prevê a revisão
criminal em favor da acusação.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Incidente de
falsidade

Instauração a
pedido da parte ou
pi fe EA

Atuação em
apartado e oitiva
das partes em 48h
Autos [ee tit
para o juiz
ELOS SE E
TRC a fato REPAREa TES
de provas pn
EPT

OCS ED improcedência:
ppa toi po Cofa Tate oito Rs iii
excluído dos autos nos autos

Remessa ao MP para
providências

Figura 7, Resumo sobre o processamento do incidente de falsidade

Incidente de insanidade mental


O incidente de insanidade mental, previsto nos arts. 149 a 154 do CPP, é o
instrumento pelo qual se apura a inimputabilidade ou a semi-imputabilidade
do acusado. Esse incidente deve responder a seguinte questão: o indivíduo era
capaz de compreender o ilícito ou de determinar de acordo com esse entendi-
mento à época da infração penal?
Se reconhecida a inimputabilidade, a condenação e consequente aplicação
de pena não são possíveis, de acordo com o art. 26 do CP. Assim, o inimputá-
vel será absolvido, nos termos do art. 386, parágrafo único, Ill, do CPP e a ele
será determinada uma medida de segurança, que poderá ser materializada em
tratamento ambulatorial ou internação em hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico.

DIREITO PROCESSUAL PENALII o


ASSISTA
Sobre o funcionamento dos hospitais de custódia e trata-
mento psiquiátrico e a relação entre justiça e saúde men-
tal, recomendamos a palestra proferida pela Dra. Ariadne
Villela Lopes, juíza e professora da escola da magistratura
do estado do Rio de Janeiro.

Contudo, se reconhecida a semi-imputabilidade do indivíduo, o que signi-


fica dizer que ele era parcialmente capaz de entender o ilícito ou de agir de
acordo com esse entendimento, poderá ser condenado. No entanto, o juiz de-
verá reduzir a pena, conforme determina o art. 24, parágrafo único, do CP. Ao
semi-imputável poderá ser aplicada medida de segurança, se for o melhor tra-
tamento, de acordo com o art. 98 do CP.
A culpabilidade, segundo a teoria tripartida, adotada pela maioria da doutri-
na, é um dos elementos do crime, acompanhada da tipicidade e da antijuridicida-
de. Assim, para que seja considerada infração penal, além da tipicidade e da anti-
juridicidade, deve ser verificada a culpabilidade, que é, nas palavras do professor
Guilherme de Souza Nucci, “um juízo de reprovação social, incidente sobre o fato
e seu autor, pessoa imputável, com conhecimento potencial da ilicitude e possi-
bilidade e exigibilidade de ter atuado conforme o Direito” (NUCCI, 2015, p. 355).
Analisando os aspectos do crime, podemos concluir que o indivíduo inimpu-
tável pode perfeitamente praticar um fato típico e antijurídico, mas, como não
tinha condição de entender o caráter ilícito de sua atitude ou de comportar-se
conforme esse juízo, não faz jus a ser socialmente reprovado. Contudo, como
sua doença traz risco à sociedade e para si, o ato não ficará “impune”; por isso,
ao invés da pena, lhe é aplicada uma medida de segurança, voltada à sua cura
e ao seu tratamento.
No mesmo sentido, o semi-imputável, que tem um reduzido entendimento
do injusto cometido, será condenado e sua pena será reduzida.
É requisito para o requerimento do processo incidente de insanidade men-
tal que se tenha, ao menos, uma suspeita plausível acerca da plenitude da sa-
nidade mental do agente na época dos fatos ou na época atual. Caso em que
o juiz, de ofício ou a requerimento de quem a lei concede esse poder, determi-
nará a instauração do incidente para que seja realizado o exame médico-legal,
como dita o art. 149 do CPP.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


O cometimento de crimes graves e cruéis, a reincidência ou a vida pregressa
do réu, o ato de praticar a infração penal sem motivos, testemunhos genéri-
cos quanto à saúde mental do indivíduo, ou quaisquer outras conjecturas, não
podem ser considerados como razões suficientes para o juiz determinar a ins-
tauração do incidente de insanidade mental, que exige dúvida razoável sobre
a insanidade do agente.
Referido incidente pode ser requerido e o exame realizado desde a fase do
inquérito policial; assim sendo, caso a autoridade policial perceba que o indiví-
duo investigado seja pessoa inimputável ou semi-imputável, deverá represen-
tar ao magistrado competente pela instauração do incidente.
O incidente será formado em apartado pelo juiz, que baixará portaria e no-
meará curador ao acusado que não o tiver, sendo possível que essa obriga-
ção seja imposta ao seu advogado. O Ministério Público e a defesa poderão
apresentar quesitos, que serão respondidos pelo perito judicial. Além disso,
suspender-se-á o curso do processo principal (exceto a prescrição), sendo per-
mitido que diligências indispensáveis sejam realizadas, contanto que seja vi-
sualizada a sua urgência.
Como vimos, o exame de insanidade mental pode ser realizado durante
o inquérito. Por isso, caso seja reconhecida a inimputabilidade do indiciado,
o Ministério Público pode, ao apresentar a denúncia, requerer a absolvição e
a imposição de medida de segurança. Contudo, o juiz somente decidirá após
o devido processo legal e se restar provado no processo que o agente tenha
praticado o injusto penal (fato típico e antijurídico).
Conforme determina o art. 150, 8 1º, do CPP, o prazo para a conclusão do lau-
do é de 45 dias. Entretanto, caso haja justa necessidade, o prazo poderá ser am-
pliado caso o perito requeira. A perícia pode apresentar os seguintes resultados:
* O acusado era, ao tempo da infração, imputável: sendo esse o resultado,
o processo seguirá o seu curso normal e sem a participação do curador;
* O acusado era, ao tempo da infração, inimputável: sendo esse o resul-
tado, o processo seguirá com a assistência do curador, que pode ser o próprio
advogado;
* O acusado era, ao tempo da infração, imputável, mas, no momento da
realização do exame, padece de doença mental: sendo esse o resultado, o
processo ficará suspenso, nos termos do art. 152 do CPP.

DIREITO PROCESSUAL PENALII 6


Se o juiz indeferir requerimento de instauração do incidente, não cabe ne-
nhum recurso. Entretanto, caso o acusado seja visivelmente doente, pode ser
impetrado habeas corpus. De outra ótica, caso o juiz determine a instauração
de incidente contra réu mentalmente saudável, estamos diante de um tumulto
processual, cabendo correição parcial. Agora, da decisão que homologa resul-
tado do exame apresentado pela perícia, independentemente do resultado,
cabe recurso de apelação, conforme art. 593, Il, do CPP.

CURIOSIDADE
Se a doença mental sobrevier durante o cumprimento da pena, duas situ-
ações podem ocorrer: |) sendo a doença transitória, nos termos do art. 41
do Código Penal, o condenado deve ser transferido para o hospital peni-
tenciário, sem a conversão da pena em medida de segurança, pelo tempo
da doença, desde que breve; e Il) se a doença tiver caráter duradouro ou
permanente, a pena será convertida em medida de segurança, nos termos
do art. 183 da Lei 7.210/1984.

Atenção: nos termos do HC 133.078/R] (DJe 22.09.2016), julgado pelo STF,


tratando-se o incidente de sanidade mental, na sua essência, de expediente
instaurado em prol do investigado ou réu, não pode ser ordenado forçosamen-
te no caso de a defesa se opor à sua realização.

DIREITO PROCESSUAL PENALII E


Sintetizando “
q

Nesta unidade, estudamos os incidentes processuais que são as questões


dos procedimentos secundários, que recaem sobre o procedimento principal,
exigindo uma solução antes da decisão de mérito ser proferida. Os incidentes
processuais se dividem em questões prejudiciais e procedimentos incidentes.
Verificamos que as questões prejudiciais são os pontos fundamentais, vin-
culados diretamente ao direito material e a tipicidade, que devem ser resolvi-
dos antes do mérito da causa (porque a este se ligam) e refletem-se em verda-
deiros impedimentos ao desenvolvimento regular do processo.
As questões prejudiciais fazem com que o processo fique suspenso enquan-
to são resolvidas. Elas não são obrigatoriamente resolvidas dentro do processo
penal, podendo, por exemplo, serem resolvidas no processo civil. Se forem re-
solvidas exclusivamente no processo penal, são classificadas como homogê-
neas; se em outra esfera do direito, heterogêneas. Serão facultativas quando o
juiz puder escolher se aguarda sua resolução. Se, porém, o juiz for obrigado a
aguardar sua resolução, são chamadas de obrigatórias.
Os procedimentos incidentes (ou processos incidentais) são requeridos ao
longo da causa principal e demandam uma deliberação do próprio juiz criminal,
antes mesmo do julgamento do mérito. Embora estejam diretamente ligados
aos autos principais, esses procedimentos se processam em autos apartados.
Estas questões não necessariamente suspendem o processo, mas devem ser
resolvidas antes da sentença e, muitas vezes, podem gerar nulidade e cancela-
mento de atos praticados.
São exemplos de procedimentos incidentes: as exceções de suspeição e im-
pedimento, quando violada a imparcialidade do juiz, do promotor, dos serven-
tuários da justiça, etc.; incompetência do juízo, quando o juiz não
tiver competência para julgar o processo; litispendência, quando
houver outro processo apurando o mesmo fato e o
mesmo réu; coisa julgada, quando já houver sen-
tença transitada em julgado absolvendo o réu ou
sentença com coisa julgada material; ilegitimida-
de de parte, quando a parte que acusa ou que é
acusada não é legítima; o conflito de jurisdição,

DIREITO PROCESSUAL PENALII (E)


quando mais de um juiz entender ser competente ou nenhum assim entenda
para julgar o processo; a restituição de coisa apreendida, que é o procedi-
mento movido pelo réu ou terceiro para reaver o que lhe pertença; as medidas
assecuratórias, que têm o objetivo de garantir que a vítima será ressarcida e
as custas, pagas; o incidente de falsidade, no caso de dúvida quanto à veraci-
dade de algum documento dos autos; e o incidente de insanidade mental, no
caso de dúvida quanto à saúde mental do réu.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


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Brasília, DF, Poder Executivo, 9 dez. 1941 [Publicação original]. Disponível em:
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Código de Processo Penal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Poder Execu-
tivo, 11 dez. 1941 [Publicação original]. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil 03/Decreto-Lei/1937-1946/Del3931.htm>. Acesso em: 30 jun. 2021.
BRASIL. Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Diá-
rio Oficial da União, Brasília, DF, Poder Executivo, 11 jul. 1984. Disponível em:
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BRASIL. Lei n. 8.009, de 29 de março de 1990. Dispõe sobre a impenhorabilida-
de do bem de família. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Poder Executivo,
29 mar. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil 03/Leis/L8009.
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BRASIL. Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações re-
lativos à propriedade industrial. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Poder
Executivo, 13 mai. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil
03/
Leis/L9279.htm>. Acesso em: 01 jun. 2021.

DIREITO PROCESSUAL PENALII &


BRASIL. Lei n. 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de “lava-
gem” ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sis-
tema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle
de Atividades Financeiras - COAF, e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, Poder Executivo, 3 mar. 1998. Disponível em: <http://nww.
planalto.gov.br/ccivil 03/Leis/L9613.htm>. Acesso em: 30 jun. 2021.
BRASIL. Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de
Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção
do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de
drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao trá-
fico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, Poder Executivo, 23 ago. 2006. Disponível em: <http://wmww.
planalto.gov.br/ccivil
03/ Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm>. Acesso em: 30
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BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário
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MIRABETE,J. Código de processo penal interpretado. 11. ed. São Paulo: Atlas,
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TOURINHO FILHO, F. Código de processo penal comentado. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 1999.

DIREITO PROCESSUAL PENALII (


UNIDADE

ada to jo =D INT NOS

ser
educacional
Objetivos da unidade

Apresentar os procedimentos comum e especial, e de que maneira eles são


processados;

Diferenciar os procedimentos comum e especial, e apresentar os casos em


que cada um se aplica;

Apresentar especificidades de procedimentos especiais.

Tópicos de estudo
» Procedimentos € Procedimentos dos crimes
6 O procedimento comum e o funcionais
especial € Procedimentos dos crimes
6 A aplicação dos arts. 395 a 397 contra a propriedade imaterial
do CPP 6 Procedimentos dos crimes de
drogas - Lei nº 11.343/2006
Procedimento comum
€ Procedimento comum ordinário
€ Procedimento comum sumário
€ Procedimento comum
sumaríssimo

Procedimentos especiais
€ Procedimentos dos crimes
falimentares - Lei nº 11.101/2005
6 Procedimentos dos crimes
contra a honra

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Procedimentos
É importante diferenciarmos, antes de qualquer coisa, processo de proce-
dimento. Podemos conceituar processo em sentido amplo (ou formal) como
o conjunto combinado de atos direcionados a uma finalidade conclusiva. Em
sentido restrito (ou substancial), podemos conceituar a ideia como:
Instrumento por meio do qual o Estado exerce a jurisdição, o
autor, o direito de ação e o acusado, o direito de defesa, havendo
entre seus sujeitos (partes e juiz) uma relação jurídica diversa da
relação jurídica de direito material, qual seja, a relação jurídica
processual, que impõe a todos deveres, direitos, ônus e sujei-
ções. (LIMA, 2016, p. 1849).
Já procedimento é a forma como variados atos se comportam na marcha
típica do processo, isto é, aquilo que dita a forma da marcha do processo em
juízo. Desse modo, nas palavras do professor Renato Brasileiro, temos que “o
procedimento é o modo de se mover e a forma em que é movido o ato, isto é,
o procedimento é esse mesmo movimento, porém em sua forma extrínseca”
(LIMA, 2016, p. 1849). Segundo a doutrina, no processo penal, o procedimento
é composto de quatro fases distintas:
* Postulatória: essa fase abrange desde o oferecimento de denúncia pelo
Ministério Público ou a queixa-crime pelo querelante a atos da defesa, como
a preliminar, nos casos em que a lei prevê a possibilidade de defesa antes do
recebimento da denúncia ou queixa. É importante ressaltar que o inquérito
policial e o procedimento investigatório criminal, embora se destinem a colher
elementos acerca da autoria e materialidade do fato delituoso, não integram o
processo; logo, não pertencem a nenhuma dessas fases.
* Instrutória: nessa fase, as provas requeridas pelas partes ou determi-
nadas pelo juiz são produzidas. Insta salientar que a fase instrutória não se
limita ao momento da audiência de instrução e julgamento, ocasião em que
se ouve as vítimas, as testemunhas e os peritos e se interroga o acusado, pois,
desde a apresentação da denúncia (ou queixa-crime), elementos informati-
vos e provas já são trazidos aos autos. Esses irão somar-se, posteriormente, à
prova produzida em juízo, bem como no momento da defesa prévia e respos-
ta à acusação pela defesa.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


* Decisória: finda a fase instrutória, as partes (Ministério Público/querelan-
te, assistente de acusação e acusado/querelado) terão a chance de se mani-
festar acerca do conteúdo probatório amealhado aos autos do processo por
meio de alegações finais orais ou por memoriais escritos. O próximo ato é a
sentença, que será prolatada pelo juiz e constitui o seu resultado final; pelo
menos na 1º instância.
* Recursal: nessa fase, respeitando o prazo recursal, as partes poderão im-
pugnar as decisões judiciais contrárias aos seus interesses, observando o prin-
cípio do duplo grau de jurisdição.
É importante ressaltar que o procedimento deve respeitar o devido pro-
cesso legal. Por isso, deve-se operar o processo respeitando o contraditório,
bem como garantias fundamentais e suficientes, de modo que as partes pos-
sam sustentar suas razões e produzir provas, concorrendo para a formação do
convencimento do magistrado; tudo isso em tempo razoável.
Sendo assim, de acordo com o art. 129, inciso |, da Constituição Federal (CF),
o processo deverá começar por meio de uma acusação oferecida por alguém
que, obviamente, não seja o juiz. Deve-se praticar todos os atos de modo a ga-
rantir a imparcialidade do julgador, e a acusação deve ser clara acerca do fato
que constitui o objeto do processo e do julgamento. Às partes, deve-se garantir
um tratamento isonômico, a ciência de todos os atos da parte contrária e a
chance de respondê-los.
Além disso, a defesa deve ter sempre a chance de falar após a acusação
para que possa exercer sua defesa técnica e autodefesa com liberdade e pleni-
tude. Deve-se garantir às partes oportunidade para provar as suas alegações,
devendo o julgamento ser proferido exclusivamente após a produção de prova
pelas partes e depois que elas tenham se manifestado a respeito dela; tudo
isso em tempo razoável, mas necessário e suficiente para garantir a ampla de-
fesa e o direito de defesa.

Conforme determina o art. 394 do Código de Processo Penal (CPP), o proce-


dimento será comum ou especial. O procedimento especial traz regras pro-
cessuais próprias para a apuração do fato criminoso; em situações específicas,

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


pode estar prescrito no Código de Processo Penal ou de Leis Especiais. São
exemplos de procedimentos especiais: o procedimento dos crimes de respon-
sabilidade dos funcionários públicos (arts. 513 a 518 do CPP); o procedimento
dos crimes contra a honra (arts. 519 a 523 do CPP); procedimento da Lei de
Drogas (Lei 11.343/2006), dentre outros.
O procedimento comum é o procedimento padrão estabelecido pelo CPP,
que será aplicado residualmente, isto é, será utilizado o procedimento comum
para apurar os crimes para os quais a lei não prescreva procedimento especial,
como dita o art. 394, 8 2º, do CPP. Nos termos do primeiro parágrafo do mesmo
artigo do CPP, o procedimento comum subdivide-se em três espécies, que se-
rão utilizadas a depender da pena máxima cominada in abstrato e, conforme o
caso, da natureza da infração.

O: == .
O art. 394, 8 4º, do CPP afirma que as disposições dos arts. 395 a 398 do
mesmo código devem ser aplicadas a todos os procedimentos penais de pri-
meiro grau, mesmo que estejam presentes em legislações especiais. Essa de-
terminação não é absoluta, pois existem casos em que a aplicação desses
institutos não é compatível. Para facilitar a compreensão, vejamos detalhada-
mente o que os arts. 395 a 397 do CPP determinam, lembrando que o art. 398
foi revogado pela Lei nº 11.719/2008 e, por isso, não iremos estudá-lo.
Art. 395 do CPP: rejeição da denúncia e da queixa-crime
Esse artigo elenca as hipóteses em que a denúncia ou queixa-crime pode
ser rejeitada. Vejamos:
|. Denúncia ou queixa manifestamente inepta: a inicial acusatória será
inepta quando lhe faltarem os requisitos essenciais previstos no art.
41 do CPP, quais sejam, a exposição do fato criminoso com todas
suas circunstâncias; a qualificação mínima do acusado
ou elementos pelos quais se possa identificá-lo; e ou-
tros exigidos pela doutrina, como o endereçamen-
to ao juízo competente, a assinatura do membro
do Ministério Público ou do advogado do querelan-
te e a redação em vernáculo.

DIREITO PROCESSUAL PENALII &


Il. Falta de pressuposto processual ou condição para o exercício da ação
penal: São pressupostos processuais a utilização da denúncia ou da queixa para
propor a ação penal; a competência do juízo; a existência de partes que possam es-
tar validamente em juízo em nome próprio ou alheio; e que não haja litispendência,
nem coisa julgada sobre esse fato em relação ao réu. São condições para o exercício
da ação penal as condições de procedibilidade; legitimidade ad causam, ativa e pas-
siva; possibilidade jurídica do pedido de condenação; e interesse de agir.
Ill. Falta de justa causa para o exercício da ação penal: a denúncia ou quei-
xa-crime deve ser baseada em um lastro probatório mínimo, de modo que a justa
causa estará ausente para a ação penal, por exemplo, quando intentada sem que
haja prova da materialidade do crime ou quando ausentes indícios de autoria.
Art. 396 do CPP: citação do acusado
Dispõe o art. 396 do CPP que, “nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida
a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará
a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez)
dias”. (BRASIL, 1941). Caso o acusado não seja localizado para citação pessoal, será
citado por edital. Assim, o processo ficará suspenso, e o prazo para a apresentação
de resposta começará a fluir apenas a partir de seu comparecimento pessoal ou
do defensor constituído, nos termos do art. 396, parágrafo único, do CPP, ficando
também suspensa a prescrição, conforme o art. 366 do CPP.

EXPLICANDO
O STJ, por meio da Súmula 415 firmou o entendimento no sentido de que a
suspensão do prazo de prescrição não pode ocorrer por prazo indetermi-
nado. Assim, passou a utilizar o art. 109 do Código Penal (CP) como parã-
metro para fixação do tempo de suspensão do prazo prescricional. Para
exemplificar, se o crime prescreve em 20 anos, este será o tempo pelo qual
a prescrição permanecerá suspensa aguardando a citação pessoal ou o
comparecimento do acusado em juízo. Após isso, mesmo que o processo
permaneça suspenso, 0 prazo prescricional retomará seu curso.

Art. 396-A do CPP: resposta à acusação


Na resposta à acusação, o acusado poderá “arguir preliminares e alegar
tudo o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especi-
ficar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requeren-
do sua intimação, quando necessário” (BRASIL, 1941).

DIREITO PROCESSUAL PENALII


Art. 397 do CPP: absolvição sumária do réu
Com o fundamento que esse artigo lhe dá, oferecida a resposta, poderá
O juiz, caso verifique ser possível antecipar o resultado final da demanda,
absolver sumariamente o acusado. Contudo, deverá fazê-lo em prol da so-
ciedade. Isso significa que, caso haja dúvida, o juiz não deve absolver o réu,
mas determinar o prosseguimento normal do processo. Vejamos quais são
as possibilidades de absolvição sumária estabelecidas nos incisos do art.
397 do CPP:
|. Existência manifesta de causa excludente de ilicitude: para absol-
ver sumariamente o réu por esse motivo é necessário que os elementos
trazidos até o momento deem certeza absoluta (“manifesta”) ao magistrado
de que o acusado praticou a conduta imputada sob a cobertura de alguma
causa de exclusão da ilicitude, como legítima defesa; estado de necessida-
de; exercício regular de direito; e estrito cumprimento do dever legal. Caso
não haja essa certeza, o juiz deverá determinar o prosseguimento do feito,
diferentemente do que ocorre com a sentença proferida ao final do proces-
so, quando a dúvida permite a absolvição, como determina o art. 386, inciso
VI, do CPP.
Il. Existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do
agente, salvo inimputabilidade: deve haver prova cabal quanto à ocorrên-
cia de excludentes de culpabilidade. Considerando que essa excludente não
pode ser por inimputabilidade, as excludentes de culpabilidade que permi-
tem absolvição sumária são erro de proibição inevitável (art. 21 do CP); a
coação moral irresistível e a obediência hierárquica à ordem não manifes-
tamente ilegal (art. 22 do CP); e a embriaguez fortuita completa (art. 28, 8
1º, do CP).
Ill. Não constituir o fato infração penal: pode-se utilizar essa funda-
mentação quando o fato apresentado na denúncia for atípico. É o caso, por
exemplo, da aplicação do princípio da insignificância ao caso concreto.
IV. Encontrar-se extinta a punibilidade: as hipóteses de extinção da
punibilidade estão previstas no art. 107 do CP. Aliás, caso o magistrado ve-
rifique estar extinta a punibilidade, poderá, a qualquer tempo, valer-se de
um pronunciamento autônomo incidental ao processo criminal e declarar
extinta a punibilidade.

DIREITO PROCESSUAL PENALII E


Da decisão que absolver sumariamente o réu por alguma das hipóteses aci-
ma cabe recurso de apelação, com fundamento no art. 593, inciso Il, do CPP.
Assim o é porque a absolvição sumária não possui natureza de sentença, mas de
decisão interlocutória mista terminativa; afinal, é uma decisão proferida antes
de findados todos os atos do rito, o que é exigido para que se tenha uma senten-
ça em sentido técnico.
Da decisão que não absolver sumariamente o réu, segundo a posição ma-
joritária da doutrina, não cabe recurso por tal decisão ser entendida como mera
confirmação do recebimento da denúncia, descabendo, então, cogitar a existên-
cia de algum recurso de que possa dispor a parte para reverter essa
situação. Por fim, caso o argumento da absolvição sumária fosse a
extinção da punibilidade, seria cabível recurso em sentido estrito
(RESE), nos termos do art. 581, inciso IX, do CPP.

Procedimento comum
Conforme dispõe o art. 394, 8 1º, do CPP, o procedimento comum é classificado
em ordinário, sumário e sumaríssimo, cujas especificidades veremos nos subtó-
picos seguintes. É importante ressaltar que, se a apuração da infração penal não
estiver sujeita a nenhum procedimento especial, o procedimento a ser adotado será
comum e, dependendo da pena cominada ao delito, esse procedimento comum
será ordinário, sumário ou sumaríssimo.
Algumas infrações penais, mesmo não estando submetidas aos procedimentos
especiais, também não se sujeitam as disposições do art. 394, 8 1º, do CPP, conforme
as seguintes hipóteses:
* Infrações penais praticadas com violência doméstica e familiar contra a
mulher: nessa hipótese, mesmo que a pena máxima em abstrato seja igual ou in-
ferior a dois anos, o réu não será submetido ao procedimento comum sumaríssi-
mo dos Juizados Especiais Criminais, pois a própria Lei Maria da Penha, em seu art.
41, dispõe que “aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26
de setembro de 1995" (BRASIL, 2006). Assim sendo, qualquer infração cometida no
âmbito da Lei Maria da Penha seguirá o procedimento comum ordinário ou sumário,
seguindo os critérios do art. 394, 8 1º, incisos | e Il, do CPP.

DIREITO PROCESSUAL PENALII (6


* Crimes tipificados no Estatuto do Idoso com pena máxima que não ultra-
passe quatro anos: o art. 94 da Lei 10.741/2003 assevera que o procedimento a ser
adotado para os crimes com pena máxima até quatro anos é o da Lei 9.099/1995,
isto é, o procedimento comum sumaríssimo. Nos termos do princípio da especia-
lidade, essa determinação prevalece sobre a regra geral do art. 394, 8 1º, inciso Il,
do CPP. Ressalta-se que, nesse caso, conforme decidido na Ação Direta de Incons-
titucionalidade (ADI) 3.096, excluiu-se qualquer possibilidade de aplicação de
medidas despenalizadoras da Lei nº 9.099/1995 e de interpretação favorável ao
autor do crime, aplicando-se somente as normas estritamente procedimentais para
que o processo termine mais rapidamente, em benefício do idoso. Ademais, caso o
crime tipificado no Estatuto do Idoso tenha pena máxima maior que quatro anos, o
procedimento adotado será o comum ordinário.
* Crimes previstos na nova Lei das Organizações Criminosas e infrações co-
nexas: o art. 22, caput, da Lei 12.850/2013 determina expressamente que os crimes
ali previstos e as infrações penais conexas serão apurados mediante procedimento
comum ordinário previsto no CPP. Tal determinação se deve ao fato de haver neces-
sidade de um procedimento mais amplo, que melhor assegure às partes o exercício
de suas faculdades processuais. Como não há vedação à aplicação de medidas des-
penalizadoras da Lei nº 9.099/1995, é possível que, caso preenchidos os requisitos,
aplique-se, por exemplo, a suspensão condicional do processo e a transação penal.

Como vimos, nos termos do art. 394, 8 1º, inciso |, do CPP, deve-se aplicar esse
procedimento ao processo nos casos de crime com sanção máxima cominada igual
ou superior a quatro anos. Referido procedimento é formado pelas seguintes etapas:
* Oferecimento da denúncia ou queixa-crime;
* Rejeição liminar ou recebimento;
* Recebimento da denúncia ou queixa pelo juiz;
* Citação do acusado;
* Resposta à acusação;
* Absolvição sumária do acusado;
* Audiência de instrução, interrogatório e julgamento;
* Sentença.

DIREITO PROCESSUAL PENALII E


Vejamos em maiores detalhes:
1. Oferecimento da denúncia ou queixa-crime
Como vimos, a peça que inaugura o processo criminal é a inicial acusatória
(denúncia ou queixa-crime), a qual deve conter os requisitos estabelecidos no
art. 41 do CPP, instruídas, ainda, com o mínimo de lastro probatório quanto à
autoria e materialidade do fato. Esse também é o momento em que a acusação
arrola suas testemunhas (até oito por fato imputado, sem contar as não com-
promissadas, conforme art. 401 do CPP); o ofendido; e os peritos que, porven-
tura, tenham atuado no feito. Caso o acusado esteja preso, a inicial acusatória
deverá ser apresentada no prazo de cinco dias e, se estiver solto, quinze, como
dita o art. 46 do CPP.
2. Rejeição liminar ou recebimento
Apresentada a inicial acusatória, o magistrado poderá rejeitá-la liminarmen-
te, nos termos de que dispõe o art. 395 do CPP. Referidas hipóteses
já foram
estudadas no subtópico “A aplicação dos arts. 395 a 397 do CPP”, no início des-
sa unidade. Não sendo o caso de rejeição liminar, o juiz receberá a denúncia.
3. Recebimento da denúncia ou queixa pelo juiz (art. 396 do CPP)
De acordo com o art. 117, inciso |, do CP, o recebimento da inicial acusatória
é um dos marcos interruptivos da prescrição. É importante frisar que “o recebi-
mento da denúncia não depende da citação do acusado” (AVENA, 2018, p. 841).
4. Citação do acusado (art. 396 do CPP)
Recebida a denúncia ou a queixa pelo magistrado, este determinará a cita-
ção pessoal do acusado para responder por escrito à acusação no prazo de dez
dias. A citação deve ser feita preferencialmente de forma pessoal. Contudo,
de acordo com o art. 362 do CPP, é possível a citação por hora certa caso o
réu esteja se ocultando para frustrar a citação. Além disso, como já vimos no
início dessa unidade, pode-se determinar a citação por edital do acusado, nos
termos do art. 396, parágrafo único, do CPP.
5. Resposta à acusação (art. 396-A do CPP)
Devidamente citado, o acusado deve responder à acusação utilizando to-
das as hipóteses previstas no art. 396-A do CPP. Esse é o momento em que
o réu deve apresentar suas testemunhas, sendo até oito por fato e por réu;
as que não prestam compromisso não são computadas, É como determina o
art. 401 do CPP. A resposta à acusação também é o momento de o acusado

DIREITO PROCESSUAL PENALII (>


pleitear a sua absolvição sumária, caso constate a ocorrência das hipóteses
arroladas no art. 397 do CPP, devendo, para tanto, trazer argumentos que
possam viabilizar o julgamento antecipado do processo e sua absolvição su-
mária antes mesmo de ter sido desencadeada a fase instrutória.
É importante destacar que a apresentação de resposta à acusação não é
facultativa. Inclusive, se o acusado, devidamente citado, não apresentar res-
posta no prazo legal, o art. 396-A, 8 2º, do CPP determina que o magistrado
deve nomear um defensor para apresentá-la, caso em que conceder-lhe-á vis-
tas dos autos pelo prazo de 10 dias.
6. Absolvição sumária do acusado (art. 397 do CPP)
Apresentada a resposta do acusado, seja por advogado constituído ou por
defensor, os autos são encaminhados à conclusão e o julgador procede ao
julgamento antecipado da demanda penal, absolvendo sumariamente o réu
caso esteja presente alguma hipótese estipulada pelo art. 397 do CPP (as hi-
póteses de absolvição sumária já foram estudadas no subtópico “A aplicação
dos arts. 395 a 397 do CPP”, no início da unidade). Entretanto, é possível ao
magistrado reconsiderar o recebimento da denúncia caso perceba alguma
hipótese do art. 395 do CPP.
7. Audiência de instrução, interrogatório e julgamento (art. 399 do CPP)
Caso o magistrado não se convença de estarem presentes as hipóteses
de absolvição sumária do acusado, designará dia e hora para a audiência do
art. 399 do CPP, devendo ser intimados o acusado, seu defensor, Ministério
Público e, se for o caso, o querelante e assistente. Nos termos do art. 201,
8 2º, do CPP, também será necessário intimar o ofendido (vítima), ainda que
não requerida sua oitiva. A audiência deve ser realizada no prazo máximo
de 60 dias, de acordo com o art. 400, caput, do CPP. Além disso, nos termos
do art. 400, 8 1º, do CPP “as provas serão produzidas numa só audiência,
podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou pro-
telatórias” (BRASIL, 1941). Entretanto, caso não seja possível produzir todas
as provas nesse mesmo ato, nada impede que essa audiência una seja des-
membrada, prevalecendo a obrigatoriedade de o réu ser, sempre, o último
a ser ouvido.
Instalada a audiência de instrução, interrogatório e julgamento, a colheita
da prova oral deverá ocorrer obedecendo a seguinte ordem:

DIREITO PROCESSUAL PENALII (>


* Oitiva do ofendido (vítima);
* Oitiva das testemunhas de acusação e, após, de defesa;
* Esclarecimentos dos peritos;
* Acareações;
* Reconhecimento de pessoas e coisas;
* Interrogatório do acusado;
* Requerimento de diligências e alegações finais orais;
Vejamos em maiores detalhes:
|. Oitiva do ofendido (vítima)
Nos termos do art. 201, caput, do CPP, a vítima deverá ser qualificada e ques-
tionada sobre a forma como se deu a infração, quem ela sabe ser ou quem ela
ache ser o autor do ilícito e se tem alguma prova para indicar; das suas declara-
ções lavrar-se-á termo. Se intimado, o ofendido não comparecer nem justificar
sua ausência, poderá ser conduzido coercitivamente à presença da autoridade.
Il. Oitiva das testemunhas de acusação e, após, de defesa
Sendo o caso de oitiva de testemunha por carta precatória, essa ordem,
prevista no art. 400 do CPP, não necessita ser observada. Por isso, nada im-
pede a oitiva de testemunha de defesa na comarca em que corre o proces-
so, mesmo que esteja pendente oitiva de testemunha de acusação no juízo
deprecado. As partes (defesa e acusação) poderão, nos termos do art. 401, 8
2º, do CPP, desistir da inquirição de testemunhas arroladas, salvo aquelas que
o juiz julgue necessário, independentemente de concordância da outra parte,
exceto no caso de testemunha comum. Conforme determina o art. 212 do CPP,
as perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha (regra
aplicável a qualquer procedimento penal). Destaca-se que o juiz pode indeferir
perguntas que possam induzir a resposta; não guardem relação com a causa; e
que já tenham sido respondidas anteriormente, neste ato.
Ill. Esclarecimentos dos peritos
Para que isso ocorra, conforme o art. 400, 8 2º, do CPP, a parte interessada
deverá requerer previamente à notificação dos peritos. Contudo, deverá ob-
servar o que dispõe o art. 159, 8 5º, | do CPP, que exige que, para o compareci-
mento do perito ou para que ele responda a quesitos, o mandado de intimação
e/ou os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com
antecedência de 10 dias.

DIREITO PROCESSUAL PENALII (6


IV. Acareações
O objetivo da acareação é a apuração da verdade. Ela ocorrerá por meio
do confronto entre partes, testemunhas ou outros participantes de processo
judicial que prestaram informações prévias divergentes. Esse procedimento
encontra-se previsto nos arts. 229 e 230 do CPP. As pessoas a serem submeti-
das à acareação devem permanecer incomunicáveis. É por isso que o art. 210,
parágrafo único, do CPP determina que “antes do início da audiência e durante
a sua realização, serão reservados espaços separados para a garantia da inco-
municabilidade das testemunhas” (BRASIL, 1941).
A Figura 1 ilustra o momento da acareação. Veja que as partes são coloca-
das frente a frente para confrontação de suas versões.

Figura 1. Acareação entre funcionários da prefeitura em uma CPI, Fonte: CAMARA MUNICIPAL DE SÃO JOSE DO RIO PRETO, 2018

V. Reconhecimento de pessoas e coisas


Para o reconhecimento de pessoas e coisas observar-se-á o disposto nos
arts. 226 a 228 do CPP, sob pena de nulidade do ato caso haja prejuízo a alguma
das partes.
A Figura 2 ilustra como deve ocorrer o reconhecimento do réu. Nos termos
da lei, a pessoa cujo reconhecimento se pretender será colocada, se possível,
ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se
quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


fe mm time

Figura 2. Reconhecimento do réu. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 18/0

VI. Interrogatório do acusado


Esse deve ser o último ato da instrução criminal, isto é, depois de produzida
a prova oral. Deve-se respeitar o que dispõem os arts. 185 a 196 do CPP.
A Figura 3 ilustra o momento do interrogatório do réu, o qual deverá estar
sentado de frente para o juiz, que lhe fará as perguntas diretamente.

Figura 3. Sala de audiência. Fonte: MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE GOIAS, 2015.

CURIOSIDADE
O art. 15, parágrafo único, inciso |, da Lei nº 13.869/2019
assevera que comete crime a autoridade que constran-
ger a depor pessoa que tenha decidido exercer o direito
ao silêncio. Desse modo, caso o acusado queira exercer
o seu direito ao silêncio, não deverá ser molestado pelo
promotor de justiça, nem pelo juiz, a depor, sob pena de a
autoridade ser acusada de crime de abuso de autoridade.

DIREITO PROCESSUAL PENALII e


VII. Requerimento de diligências e alegações finais orais
Produzidas as provas, o juiz dará oportunidade à acusação e depois à defe-
sa para requererem as diligências que passaram a ser necessárias após apare-
cerem na instrução circunstâncias ou fatos que ainda não tenham sido apura-
dos, nos termos do art. 402 do CPP.
Da decisão que deferir ou indeferir tais diligências não caberá recurso. Po-
rém, sendo deferidas e evidenciando-se o caráter meramente protelatório ou
a evidente ausência de fundamento da providência solicitada, poderá o inte-
ressado ingressar com correição parcial ou até mesmo mandado de seguran-
ça (que não possuem natureza recursal).
Já no caso de indeferimento, a parte
prejudicada poderá, caso prolatada a sentença em audiência, em fase de ape-
lação, requerer nulidade por cerceamento de acusação ou de defesa, conforme
o caso. Entretanto, caso seja postergada a sentença para momento posterior,
de acordo com o art. 403, 8 3º, do CPP, poderá o prejudicado, antes da senten-
ça, impetrar habeas corpus, mandado de segurança ou correição parcial para
tentar modificar a decisão judicial que indeferiu as diligências oportunamente
requeridas.
Nessa fase, duas situações podem ocorrer:
* As partes não requerem qualquer diligência ou as diligências postu-
ladas são indeferidas pelo juiz: nesse caso, o magistrado dará oportunidade
às partes para apresentarem as alegações finais orais, concedendo, primeiro
a acusação e, após, a defesa de cada réu, o prazo de vinte minutos, prorrogá-
veis por mais dez, como diz o art. 403 do CPP. Havendo assistente de acusação
habilitado nos autos, esse apresentará suas alegações por dez minutos depois
do membro do Ministério Público, caso em que será acrescido o mesmo tempo
a defesa, isto é, a defesa terá mais 10 minutos além do prazo estabelecido.
Ato contínuo, o juiz proferirá a sentença em audiência. Entretanto,
conforme permite o art. 403, 8 3º, do CPP, o juiz pode, sendo o
caso de alta complexidade ou havendo número eleva-
do de acusados, determinar que as alegações finais
sejam prestadas em memoriais escritos, situação
em que dará prazo sucessivo de cinco dias às par-
tes. Após, o magistrado terá prazo de dez dias para
proferir sentença.

DIREITO PROCESSUAL PENALII (E


* O juiz determina diligências ex officio ou defere as que tenham sido
requeridas pelas partes: nesse caso, conforme o art. 404, caput, do CPP, não
serão apresentadas as alegações finais orais enquanto não forem cumpridas
as diligências requeridas ou as que tiverem sido determinadas de ofício. Após
isso, as partes serão intimadas a apresentarem memoriais escritos no prazo de
cinco dias, sucessivamente, proferindo o juiz, depois, sentença em dez dias, de
acordo com o parágrafo único do mesmo artigo do CPP. Frisa-se que, sendo o
crime de ação penal privada exclusiva, é obrigatório ao querelante apresentar
as alegações finais e requerer a condenação, sob pena de extinção da puni-
bilidade pela perempção, como dita o art. 60, inciso Ill, do CPP.
8. Sentença
O juiz proferirá a sentença em audiência ou, dependendo da complexidade
do caso, do número de réus e da necessidade de serem realizadas diligências,
poderá substituir as alegações orais por memoriais escritos, situação na qual
prolatará a sentença em dez dias, após lhe serem conclusos os autos. Nos ter-
mos do art. 399, 8 2º, do CPP, o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a
sentença, ressalvadas as hipóteses em que houver a impossibilidade temporária
ou definitiva de o juiz oficiar no processo.

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comum ordinário denúncia ou queixa-crime. E MTE
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para responder à acusação |defensor dativo para fazê-lo]

Oitiva do ofendidoe |
testemunhas Audiência
1
partes requerem ou o
hei deter do Gi à Interrogatório do réu
realização e deligências

Prazo para memoriais da


acusação e defesa

Figura 4. Quadro-resumo dos atos processuais do procedimento comum ordinário

DIREITO PROCESSUAL PENALII SS


Conforme preceitua o art. 394, 8 1º, Il, do CPP, esse tipo de procedimento
deve ser utilizado na apuração de infração penal cuja sanção máxima comina-
da seja inferior a quatro anos. É bom lembrar que não se inserem nessa lista as
contravenções penais e os crimes cuja pena máxima não ultrapassa dois anos,
cumulada ou não com multa, pois são crimes de menor potencial ofensivo e se
processam perante o juizado especial criminal, como dita o art. 394,8 1º, Ill, do
CPP, aplicando-se o procedimento sumaríssimo.
Destaca-se que é possível que infrações de competência do Juizado Espe-
cial Criminal (JECRIM) sejam encaminhadas para serem processadas no juízo
comum. Bons exemplos são os casos de ser necessário citar o réu por edital ou
pela complexidade dos fatos. Desse modo, processar-se-á pelo procedimento
sumário, de acordo com o art. 538 do CPP.
A base da disciplina do procedimento comum sumário está nos arts. 531 a
536 do CPP. Entretanto, conforme determinação do art. 394, 8 4º, do CPP, tam-
bém serão aplicadas nesse procedimento as disposições dos arts. 395 a 397
do CPP, que se referem às hipóteses de rejeição da denúncia ou da queixa, da
citação do acusado para resposta preliminar em dez dias e da possibilidade de
absolvição sumária do réu pelo juiz antes mesmo de se iniciar a fase instrutó-
ria propriamente dita, além de outras regras do regime ordinário cabíveis, de
acordo com art. 394, 8 5º, do CPP. Vejamos as etapas do procedimento comum
sumário:
1. Oferecimento de denúncia ou queixa-crime: ao apresentar a inicial, a
acusação deverá observar os requisitos do art. 41 do CPP. Nesse caso, diferen-
temente do procedimento comum ordinário, poderão ser arroladas até cinco
testemunhas, como dita o art. 532 do CPP, não computadas as que não forem
sujeitas a compromisso.
2. Observar as disposições dos arts. 395 a 397, conforme determina o
art. 394, 8 4º do CPP: rejeitar a denúncia ou queixa-crime ou, se recebê-la,
determinar a citação do acusado para responder à acusação. Devidamente
citado, se ele não apresentar resposta, será nomeado defensor dativo. Apre-
sentada a resposta, o juiz pode absolver sumariamente o réu ou designar data
para audiência.

DIREITO PROCESSUAL PENALII (E


3. Audiência de instrução, inter-
rogatório e julgamento (art. 531 do
CPP): passadas as etapas acima men-
cionadas e não sendo o réu absolvido
por alguma das hipóteses do art. 397
do CPP, será agendada audiência para
colheita de prova oral, dentro do pra-
zo de, no máximo, 30 dias. A audiência
ocorrerá na forma que já vimos do procedimento ordinário, de acordo com o
art. 533 do CPP. Conforme estabelece o art. 535 do CPP, nenhum ato será adia-
do, salvo quando imprescindível a prova faltante. Neste caso, o magistrado de-
verá determinar a condução coercitiva de quem, notificado, injustificadamente
deixar de se fazer presente.
4. Alegações orais: finda a produção de provas em audiência, o juiz concede-
rá a palavra às partes para alegações finais orais. A acusação e a defesa de cada
réu terão vinte minutos (prorrogáveis por mais dez) para sustentação. Se hou-
ver, o assistente de acusação habilitado terá dez minutos para alegações após
o Ministério Público e esse prazo será acrescido ao tempo da defesa, de acordo
com o art. 534 do CPP. Não há previsão de diligências complementares a serem
requeridas ou determinadas de ofício pelo juiz, mas a doutrina entende ser pos-
sível seu requerimento caso considerada imprescindível à elucidação dos fatos,
pois o CPP determina possível a aplicação subsidiária das regras do procedimen-
to ordinário ao sumário. No mesmo sentido, não há previsão de possibilidade de
conversão das alegações finais em memoriais escritos, mas a doutrina entende
não haver nenhum prejuízo às partes a apresentação das alegações de forma
escrita; pelo contrário, já que podem examinar os autos com mais calma e têm
maior tempo para estudar e oferecer a manifestação final.
5. Sentença: em regra, no rito comum sumário, a sentença deve ser profe-
rida em audiência. Contudo, em situações excepcionais, o juiz pode prolatar a
sentença em momento posterior. Aqui prevalece o princípio
da identidade física do juiz, nos termos do art. 399, 8 2º, do
CPP, ressalvadas as situações relacionadas à impossibilida-
de temporária ou definitiva de permanecer o juiz oficiando
no processo.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Estabelece o art. 394, 8 1º, inciso Ill, do CPP que o procedimento sumaríssi-
mo é o aplicável aos processos que tiverem por fim a apuração das infrações
de menor potencial ofensivo, na forma da lei. No caso, a Lei nº 9.099/1995, que
instituiu os JECRIM, correspondendo o procedimento sumaríssimo às previsões
dos arts. 77 a 81 daquele diploma.
Referida lei é baseada na: celeri-
dade; simplificação do procedimento;
e na despenalização. Por isso, prevê
a possibilidade de transação para as
infrações consideradas de menor po-
tencial ofensivo; contexto no qual es-
tão inseridas as contravenções penais
e todos os crimes sancionados com
pena máxima não superior a dois anos,
cumulada ou não com multa, como
dita o art. 61 da Lei nº 9.099/1995. Não
sendo possível a transação penal, o procedimento de apuração dos crimes se-
guirá o rito especificado nessa lei, deixando de ser aplicado o CPP.
Não sendo o caso da transação penal, a acusação poderá apresentar de-
núncia ou queixa oralmente, com rol de até cinco testemunhas. As providên-
cias seguintes são a redução a termo da peça acusatória e a entrega da cópia
ao acusado que, com isso, dá-se por citado e será cientificado da audiência de
instrução e julgamento.
Na audiência, pode-se buscar novamente a conciliação e a transação. Não
ocorrendo a transação, o defensor poderá responder à acusação. Ato contínuo,
o juiz recebe ou rejeita a denúncia ou queixa. Caso rejeite, caberá apelação.
Contudo, caso a receba, serão ouvidas: a vítima; as testemunhas de acusação;
as de defesa; e o réu.
Finda a colheita das provas orais, o magistrado dará a palavra à acusação
e a defesa para os debates orais. Cada parte poderá se manifestar em 20 mi-
nutos, prorrogáveis por mais 10. A sentença, então, será dada no termo, sendo
dispensado o relatório.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Não sendo realizada a [ape
Te [oo RCA]
transação penal, será oferecidas acusação e da data Audiência
Procedimento a denúncia ou queixa-crime de audiência
Resposta oral
1 havendo necessidade de | do acusado
! citação por edital ou autos 1
| serão encaminhados | rena donaas
1 ao juízo comum 1 | Juizrejeitaa | Juiz recebe a
Da com sea fe pf fo im e (om & 1 denúncia 1 denúncia
PU ——
1 Juizabsolve MERO CT
1 Sumariamenteo |, ES CL IEE
1 acusado !

Figura 5. Quadro-resumo dos atos processuais do procedimento sumaríssimo

Procedimentos especiais
Como vimos no início da unidade, para a apuração do fato criminoso em situa-
ções específicas, os procedimentos especiais são dirigidos por regras processuais
próprias. Isso está prescrito no Código de Processo Penal ou de Leis Especiais.
Como veremos a seguir, os procedimentos especiais utilizam as normas do pro-
cedimento comum de modo supletivo, conforme previsão expressa no art. 394,
8 5º do CPP, que assevera que “aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos es-
pecial, sumário e sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário” (BRASIL,
1941).
Nos subtópicos seguintes veremos alguns procedimentos especiais e as espe-
cificidades de cada um deles. São eles: o procedimento dos crimes falimentares;
dos crimes contra a honra; dos crimes funcionais; dos crimes contra a propriedade
imaterial; e dos crimes da Lei de Drogas.

De acordo com os arts. 168 a 178 da Lei nº 11.101/2005, o procedimento para


apurar os crimes falimentares será o sumário previsto nos arts. 531 a 536 do CPP.
Frisa-se que todos os delitos falimentares existem apenas na forma dolosa.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Predomina na doutrina e na jurisprudência que não importa o número de
figuras típicas incriminadoras preenchidas pelo falido, pois todas constituem a
unicidade do crime falimentar. Em outras palavras, o agente será punido pelo
crime mais grave cometido. Ora, não teria como ser diferente, dado que todos
os fatos típicos praticados contribuíram para a quebra; logo, deve haver uma
só punição.
Nos crimes falimentares, a ação penal é pública e incondicionada. Por isso,
compete ao Ministério Público atuar como titular do direito de agir. Contudo,
pode agir em seu lugar o síndico e o credor, quando houver inércia, valendo-se
do direito exposto no art. 29 do CPP (ação penal privada subsidiária da pública)
e em consonância com o art. 184, parágrafo único, da Lei nº 11.101/2005.
O art. 186 da Lei nº 11.101/2005, prevê que:
O administrador judicial apresentará ao juiz da falência exposição
circunstanciada, considerando as causas da falência, o procedi-
mento do devedor, antes e depois da sentença, e outras informa-
ções detalhadas a respeito da conduta do devedor e de outros
responsáveis, se houver, por atos que possam constituir crime re-
lacionado com a recuperação judicial ou com a falência, ou outro
delito conexo a estes. (BRASIL, 2005).
Já o art. 187 da Lei nº 11.101/2005 determina que:
Intimado da sentença que decreta a falência ou concede a recu-
peração judicial, o Ministério Público, verificando a ocorrência de
qualquer crime previsto nesta Lei, promoverá imediatamente a
competente ação penal ou, se entender necessário, requisitará a
abertura de inquérito policial. (BRASIL, 2005).
É possível a aplicação do art. 89 da Lei 9.099/1995 aos crimes falimentares,
a qual permite que o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, proponha ao
réu a suspensão condicional do processo nos crimes cuja pena mínima não ul-
trapasse um ano, havendo ou não procedimento especial previsto para a apu-
ração do delito.
Qualquer credor (incluindo o síndico) pode intervir no processo como assis-
tente de acusação, obedecendo-se o art. 271 do CPP. Cabe a assistência mesmo
que a ação seja intentada pelo credor (privada subsidiária da pública, portanto)
e o assistente, por exemplo, seja o síndico.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


De acordo com o art. 187, 8 2º, da Lei nº 11.101/2005 e independentemente
da fase processual, ao surgirem indícios da prática dos crimes falimentares, o
juiz da falência, da recuperação judicial ou da recuperação extrajudicial cien-
tificará o Ministério Público, que poderá apresentar a denúncia de pronto ou
poderá aguardar a conclusão do relatório previsto no art. 22, caput, inciso III,
alínea “e”, da mesma lei, e apresentar a denúncia no prazo de 15 dias, conforme
determina o art. 187, parágrafo primeiro, também da mesma lei. Após o recebi-
mento da denúncia ou queixa, segue-se o rito comum.

O art. 519 do CPP também se aplica aos crimes de difamação, embora não
mencione esse procedimento. Estão excluídos desse procedimento os crimes
contra a honra previstos em leis especiais, como é o caso do Código Eleitoral.
Nos termos do art. 520 do CPP, o magistrado deve, antes de receber a
queixa, oferecer às partes a oportunidade para se reconciliarem, fazendo-as
comparecer à sua presença, ouvindo-as separadamente, sem os advogados
presentes, não se lavrando termo. Nos crimes de ação penal privada, a desig-
nação dessa audiência de conciliação é obrigatória, implicando nulidade caso
não ocorra. Contudo, se for designada, mas não se realizar porque uma das
partes faltou, considera-se cumprido o ato. Na doutrina, prevalece o entendi-
mento de que, caso o querelante não compareça, implica-se em perempção
e, não comparecendo o querelado, deve-se decretar sua condução coercitiva.
Conforme dispõe o art. 521 do CPP, se o juiz perceber na conversa infor-
mal do artigo anterior que há possibilidade efetiva de reconciliação, deve pro-
movê-la na presença dos advogados, estando as partes envolvidas frente a
frente. Exitosa a reconciliação, a queixa será arquivada, de acordo com o art.
522 do CPP, e o juiz julgará extinta a punibilidade do querelado.
Nos termos do art. 523 do CPP, é possível ao querelado, no prazo da res-
posta da acusação, apresentar a exceção da verdade ou da notoriedade do
fato imputado. Essa exceção é uma questão prejudicial homogênea, devendo
ser decidida antes do mérito da ação principal, e fazendo com que o anda-
mento do processo principal seja suspenso enquanto se decide a questão
prejudicial.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Após apresentada a exceção e sendo ela admissível, o juiz suspende o cur-
so do processo principal, intimando o querelante ou o Ministério Público a
apresentar a contestação no prazo de dois dias. Nessa ocasião, o rol das tes-
temunhas oferecido na queixa ou na denúncia pode ser alterado, tendo em
vista que, havendo exceção, o objeto das provas pode mudar, permitindo-se
ao querelante ou ao Ministério Público melhor amplitude na defesa de seus
argumentos.
A exceção da verdade deve ser
oposta em relação ao crime de calúnia,
Já a exceção da notoriedade do fato
deve ser manejada em relação ao de-
lito de difamação de funcionário públi-
co no exercício das suas funções. Essa
exceção é um meio de defesa indireto
cujo objetivo é provar que o querelante
realmente praticou o delito que lhe foi imputado (calúnia) ou que o fato difundi-
do (difamação) realmente ocorreu e é de conhecimento geral. Não cabe exceção
da verdade ou da notoriedade no caso de injúria, pois esse crime atinge a honra
subjetiva, sendo incabível qualquer prova da verdade. Também não cabem as
hipóteses do art. 138, 8 3º, do CP.
Apresentada referida contestação, o magistrado determinará o prossegui-
mento do feito pelo rito comum. Na audiência, serão ouvidas tanto as testemu-
nhas do fato quanto as da exceção, pois tanto a queixa quanto a exceção serão
julgadas em conjunto. Na sentença, o juiz decidirá sobre a exceção. Decidindo
pela procedência da exceção, absolverá o querelado e determinará as provi-
dências para que o querelante (ação privada) ou o funcionário público (ação
pública) seja processado penal ou administrativamente, conforme o caso.
Destaca-se que, sendo o querelante (ação privada) ou o funcionário públi-
co (ação pública) beneficiário de foro privilegiado, a exceção contra ele oposta
deve ser julgada pela instância superior competente. O procedimento especial
dos crimes contra a honra não se aplica no caso de ação penal pública (quando
funcionário público é vítima, havendo injúria real ou injúria discriminatória), de-
vendo ser obedecido o procedimento comum. No caso de ação penal privada,
ultrapassada a fase especial preliminar, segue-se o rito comum.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Sendo inviável a
[oca ut er] [eo ao po es [RR TIA je Juiz rejeita liminarmente
queixa-crime GA e] a queixa-crime
a queixa

Juiz recebe a denúncia Querelado responde à


UA ET ES
e determina a citação acusação. Se não o fizer,
Audiência de conciliação a separadamente sem a
do querelado para AR
eae Re DRE TU ET
[ep dE RE Te Téo dativo para fazê-lo

] Sendo provável a Ê ; ;
| reconciliação, as partes são | Tea e Rad :
1 colotdas Feio irei. 4 E A Segue o procedimento
1 Havendo reconciliação, | verdade Adi
| aqueixaé arquivada |,

Querelante é intimado
para contestar

Figura6. Quadro-resumo
dos atos processuais do procedimento dos crimes contra a hont

Esse procedimento é destinado à apuração dos crimes praticados por fun-


cionários públicos contra a administração pública. Conforme o art. 327 do CPP,
para efeitos penais, considera-se funcionário público mesmo quem:
Embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, em-
prego ou função pública, a este se equiparando, também, quem
exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem
trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conve-
niada para a execução de atividade típica da Administração Pública.
(BRASIL, 1941).

Os crimes funcionais são classificados em próprios e impróprios. São próprios


aqueles em que a conduta apenas é ilícita se praticada por um funcionário públi-
co, inexistindo qualquer tipificação se realizada por particular, como é o caso dos
crimes de prevaricação e de abandono de função. São impróprios aqueles cuja
conduta é típica independentemente de o agente ser ou não um funcionário públi-
co, caso em que há apenas a modificação da tipificação do crime. O peculato, por
exemplo, é o crime resultante da apropriação ou furto perpetrado por funcionário
público; entretanto, sendo essas ações praticadas por particulares, o crime será de
furto (art. 155 do CP) ou apropriação indébita (art. 168 do CP).

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Independentemente de o crime funcional ser próprio ou impróprio, sendo o
agente funcionário público ou a ele equiparado no exercício da função pública
e sendo o crime cometido contra a administração pública, segue-se o rito es-
pecial ditado pelo CPP.
Destaca-se que crimes cometidos por funcionários públicos, ainda que nes-
sa condição, contra particular, bem como praticados por particulares contra a
administração pública e crimes contra a administração da justiça não seguem o
rito especial em análise. O art. 514 do CPP determina que, antes do recebimen-
to da inicial, o acusado deve ser notificado para apresentação de defesa prelimi-
nar, seguindo-se, de resto, a disciplina do procedimento comum ordinário.
O procedimento especial deve ser utilizado apenas quando o acusado es-
tiver no exercício da função pública no momento em que recebida a inicial.
Caso o funcionário público tenha foro privilegiado junto ao STF, ST), Tribunais
de Justiça dos Estados ou Tribunais Regionais Federais, a ele não se aplica
esse rito especial. O procedimento adequado para esses agentes, desde que
se encontrem no exercício da função, é o previsto nos arts. 1º a 12 da Lei nº
8.038/1990. Em caso de concurso de crimes, sendo cometido crime funcional
e crime não funcional pelo funcionário público, não se aplica a defesa prelimi-
nar prevista no art. 514 do CPP.

(> .
O procedimento de apuração dos
crimes contra a propriedade imaterial ú |
depende da natureza da ação penal l
correspondente a cada figura típica
prevista. Nos crimes de ação penal pri- %&
vada, o processo de apuração do crime o,
deverá seguir os procedimentos pre- ao
vistos nos arts. 524 a 530 do CPP, nos )
termos do que dispõe o art. 530-A do a E
mesmo código. Já na apuração dos cri-
mes de ação penal pública (incondicionada ou condicionada) seguir-se-ão as re-
gras dos arts. 530-B a 530-H, nos termos da determinação do art. 530-I do CPP.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Dos crimes contra a propriedade imaterial, processam-se mediante ação penal
pública os previstos no art. 191 da Lei 9.279/1996 (por prescrição do art. 199 da mes-
ma lei) e nos 88 1º, 2º e 3º, do art. 184, do CP, bem como aqueles perpetrados em
desfavor de entidade de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de
economia mista ou fundação instituída pelo Poder Público (art. 186, Il, Ille IV, do CP).
Já os que se processam mediante queixa-crime são os tipificados nos arts. 183 a 190
e 192 a 195 da Lei nº 9.279/1996, bem como o tipo penal do art. 184, caput, do CP.
Em ambos os casos, o procedimento especial está vinculado apenas à fase
pré-processual, isto é, estão relacionados ao procedimento de materialização do
vestígio deixado com a produção ou reprodução ilícita, se for o caso de infração
que deixa vestígio. Por isso, após oferecida e recebida a inicial acusatória, o proce-
dimento a ser seguido, de qualquer forma, será idêntico ao rito comum ordinário,
conforme estatui o art. 524 do CPP.
Procedimentos pré-processuais do rito de apuração dos crimes de ação
penal privada (arts. 524 a 530-A do CPP)
Caso a infração deixe vestígios, é indispensável que a queixa seja instruída
com a perícia realizada nos objetos que constituem o corpo de delito, como dita o
art. 525 do CPP. Ocorrendo o desaparecimento dos vestígios antes da perícia, ela
deverá ser realizada de forma indireta, isto é, utilizando-se elementos que não o
contato direto com o objeto.
Para o ingresso da ação penal é necessária a colheita preliminar de determina-
das provas, tais como a apreensão do material que representa a violação da marca
falsificada, devendo ser requerida ao juiz por aquele que tenha prova do direito de
ação, ou seja, legitimidade ad causam ativa do postulante.
A busca e a apreensão serão cumpridas por dois peritos nomeados pelo ma-
gistrado após deferimento do requerimento do item anterior. Os peritos terão três
dias para apresentar laudo pericial sobre o que constataram (art. 527 do CPP),
podendo ser previamente apresentados quesitos pelo juiz, Ministério Público ou
parte prejudicada.
Após apresentação do laudo, o processo será enviado à conclusão para ho-
mologação pelo juiz. É importante frisar que a homologação não significa jul-
gamento definitivo sobre a materialidade do crime, que será revista durante o
processo e mediante o contraditório e a ampla defesa. De acordo com o art. 593,
Il, do CPP, da decisão que homologa o cálculo cabe apelação.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Procedimentos pré-processuais do rito de apuração dos crimes de ação
penal pública (arts. 530-B a 530-I do CPP)
Sendo um crime de ação penal pública (incondicionada ou condicionada) e
que deixe vestígios, compete à autoridade policial, resguardadas as garantias
constitucionais quanto à busca domiciliar, realizar de ofício a apreensão dos
bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos e dos equipamentos que possi-
bilitaram a existência de tais bens, ocasião em que deverá a autoridade lavrar
auto circunstanciado de apreensão com a assinatura de duas testemunhas.
Nos termos do art. 530-D do CPP, os bens apreendidos serão periciados
por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa tecnicamente habilitada, que
produzirá laudo que deverá integrar o inquérito ou o processo, sendo, a seguir,
depositados junto aos titulares dos direitos autorais violados.
Não havendo impugnação quanto a ilicitude dos materiais apreendidos ou
não sendo o caso de indeterminação do autor do ilícito e não sendo necessá-
ria a preservação do corpo do delito, o juiz, após solicitação da vítima, poderá
ordenar que a produção ou reprodução apreendida seja destruída (art. 530-F
do CPP).
Sendo o crime de ação penal pública, nos termos do art. 530-H, podem as
associações de titulares de direitos de autor (em nome próprio), atuar no pro-
cesso como assistentes de acusação, desde que qualquer de seus associados
figure como vítima do crime.

(> &
O procedimento de apuração e os crimes relacionados a drogas estão pre-
vistos na Lei nº 11.343/2006. Antes de adentrarmos propriamente ao procedi-
mento desses crimes, vejamos alguns pontos importantes:
* Laudo toxicológico provisório: como prova de materialidade para lavratu-
ra do auto de prisão em flagrante e estabelecimento de materialidade necessária
ao oferecimento e recebimento de denúncia, é suficiente auto de constatação fir-
mado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea (chamado de perito
leigo), nos termos de que dispõe o art. 50, 8 1º, da Lei 11.343/2006. Ressalta-se
que o laudo provisório (auto de constatação) não é meio de prova idôneo para
a condenação do réu, que exige que seja firmado laudo toxicológico definitivo.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Figura 7. Momento em que peritos realizam a constatação de entorpecente apreendido pela polícia civil do Pará. Essa
primeira análise culmina no laudo de constatação. Fonte: CUNHA, 2020

* Colaboração premiada do criminoso: prevista no art. 41 da Lei 11.343/2006,


a colaboração premiada permite que, em caso de condenação, o indiciado ou
acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo
criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e na recu-
peração total ou parcial do produto do crime, tenha sua pena reduzida de um a
dois terços. A colaboração premiada ficará condicionada a: existência de um in-
quérito com indiciamento ou processo criminal contra o autor da delação; volun-
tariedade na colaboração, que deve ser feita independente de qualquer coação;
que a delação seja relacionada a crime relacionado a drogas; o colaborador deve
contribuir para a identificação dos demais coautores ou partícipes do crime; o
colaborador deve contribuir para a recuperação total ou parcial do produto do
crime (a droga); e existência de sentença condenatória.
O procedimento judicial previsto na Lei nº 11.343/2006 para os crimes
ali relacionados
1. Denúncia (art. 54 da Lei nº 11.343/2006): a denúncia deve ser apresen-
tada no prazo de dez dias (se não for o caso de arquivamento ou de requisição
de diligências), a contar do recebimento do inquérito policial, de relatório de
Comissão Parlamentar de Inquérito ou de peças de informação pelo Ministério
Público. Nos termos do inciso Ill do art. mencionado, são cinco o máximo de
testemunhas a serem arroladas na denúncia.

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2. Notificação do acusado para defesa preliminar (art. 55 da Lei nº
11.343/2006): não sendo o caso de rejeição da denúncia (art. 397, do CPP), o juiz
determinará a notificação do acusado para oferecer resposta (defesa prévia ou
preliminar) no prazo de dez dias. Em referida defesa, o acusado poderá: arguir
preliminares; invocar todas as razões de defesa que julgar pertinentes; acos-
tar documentos; especificar provas; e arrolar até cinco testemunhas. Não sen-
do apresentada a defesa prévia no prazo, ser-lhe-á nomeado defensor dativo;
portanto, sua apresentação é obrigatória. Nessa defesa, o réu poderá, inclusive,
pleitear a absolvição sumária prevista no art. 396 do CPP.
3. Recebimento ou rejeição da inicial (art. 55, 88 4º e 5º da Lei nº
11.343/2006): apresentada a defesa, o magistrado deverá decidir, dentro de cin-
co dias, se rejeita a denúncia, caso entenda ocorrentes quaisquer das situações
arroladas no art. 395 do CPP, ou se a recebe. Nesse momento, caso entenda
necessário, o juiz poderá, no prazo de dez dias, determinar a apresentação do
preso, bem como a realização de diligências, exames e perícias. Sendo servidor,
nesse momento o juiz poderá determinar fundamentadamente seu afastamen-
to do local em que exerce a atividade de interesse público. O juiz poderá, ainda,
absolver sumariamente o réu com fundamento nas hipóteses do art. 396 do CPP.
4. Citação do acusado e designação de dia e hora para audiência (art. 56
da Lei nº 11.343/2006): sendo a denúncia recebida, o magistrado designará data
para a audiência de interrogatório, instrução, debates e julgamento, determinan-
do também a citação do réu e a notificação do Ministério Público, do assistente
(se for o caso) e requisitará os laudos periciais necessários.
5. Audiência de interrogatório, instrução, debates e julgamento (art. 57
da Lei nº 11.343/2006): a audiência deverá ser realizada em, no máximo, 30 dias
após o recebimento da denúncia. Contudo, sendo determinada perícia para ates-
tar dependência de drogas, aumenta-se esse prazo para 90 dias. Frisa-se que,
em que pese a lei determinar que o acusado seja ouvido primeiro na audiência,
o interrogatório do acusado deve ser deslocado para depois da produção
da prova testemunhal. Assim já decidiu o Pleno do STF, no julgamento do HC
127.900/AM (BRASIL, 2016), bem como o ST) no HC 397382/SC (BRASIL, 2017),
sendo vejamos: “o interrogatório passa a ser sempre o último ato da instrução,
mesmo nos procedimentos regidos por lei especial" (BRASIL, 2016). Finda a ins-
trução, realizar-se-ão os debates orais, sendo dada a palavra sucessivamente ao

DIREITO PROCESSUAL PENALII E


Ministério Público e ao defensor, para sustentação oral, cada um pelo prazo de
20 minutos, prorrogáveis por mais 10.
6.Sentença: o juiz proferirá a sentença assim que encerrados os debates, poden-
do, porém, determinar que lhe venham os autos conclusos para
proferir sentença em momento posterior, em dez dias. Ao acu-
sado, pela conduta prevista no art. 28 da Lei nº 11.343/2006,
aplicar-se-á o procedimento da Lei nº 9.099/1995, desde que
não haja concurso com outras tipificações da mesma lei.

ASSISTA
Assista a um trecho da palestra proferida pelo jurista
Salo de Carvalho sobre a atual política de drogas e o
consequente aumento do encarceramento em um evento
promovido pela Fiocruz.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Sintetizando es
Nessa unidade, estudamos os procedimentos do processo penal. Vimos
que o procedimento criminal pode ser comum e especial. O procedimento
comum é aplicado de maneira supletiva ao procedimento especial, isto é,
caso não haja previsão de procedimento especial, deve-se aplicar o comum.
Inclusive, mesmo que haja um procedimento especial, as regras do procedi-
mento comum devem ser-lhe aplicadas subsidiariamente.
Dentre as regras que devem ser aplicadas a todos os procedimentos es-
tão: a rejeição da denúncia, que ocorrerá caso a denúncia for manifesta-
mente inepta, faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da
ação penal ou faltar justa causa para o exercício da ação penal; a resposta
à acusação, na qual o réu deve apresentar preliminares e alegar tudo o que
interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as
provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo
sua intimação, quando necessário; e a absolvição sumária do acusado, que
ocorrerá caso se verifique a existência manifesta de causa excludente da ili-
citude do fato, a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade
do agente, salvo inimputabilidade, que o fato narrado evidentemente não
constitui crime ou, ainda, se extinta a punibilidade do agente.
O procedimento comum pode ser: ordinário, quando a pena máxima
em abstrato para o crime apurado for maior de que quatro anos; sumá-
rio, quando a pena máxima em abstrato para o crime for inferior a quatro;
ou sumaríssimo, para os crimes de menor potencial ofensivo, ou seja, com
pena máxima de até dois anos ou as contravenções penais.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Referências bibliográficas ce
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DIREITO PROCESSUAL PENALII O


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NUCCI, G. Manual de processo penal e execução penal. 12. ed. rev., atual. e ampl.
Rio de Janeiro: Forense, 2015.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


UNIDADE

— DOSATOS
RU eo NAS O]
R a O OD jO
NOR O

ser
educacional
Objetivos da unidade

Diferenciar os atos jurisdicionais, detalhando cada uma de suas


especificidades;

Apresentar a sentença e todas as suas variações, bem como sua natureza e


consequências;

Apresentar o Tribunal do Júri, sua história, competência e o procedimento


especial do Tribunal do Júri.

Tópicos de estudo
Procedimento do Tribunal do Atos jurisdicionais
EL Lao dieta TE (or € Despachos de mero expediente
€ Princípios que regem o Tribunal 6 Decisões interlocutórias
do Júri 6 Sentença ou acórdão
€ Competência
€ O procedimento do Tribunal do
La

DIREITO PROCESSUAL PENALII 65)


(O) Procedimento do Tribunal do Júri: origem histórica
Na Grécia e Roma antiga já existiam institutos muito parecidos com o Tri-
bunal do Júri. Em sua concepção moderna, a instituição se originou na Magna
Carta da Inglaterra, em 1215. A partir daí, propagou-se pelo mundo ocidental,
trazendo o preceito de que “ninguém poderá ser detido, preso ou despojado
de seus bens costumes e liberdades, senão em virtude de julgamento de seus
pares, segundo as leis do país” (NUCCI, 2008.
Como resultado da intensa agitação política e social trazida pela Revolução
Francesa, O Tribunal do Júri passou a ser visto como um instrumento de com-
bate às ideias e práticas adotadas pelos juízes do regime monárquico, consi-
derados tendenciosos, corruptos e vinculados aos interesses do soberano. A
ideia de pessoas do povo julgando seus pares seria o Único meio de garantir
um julgamento justo e imparcial. Por isso, o Tribunal do Júri se espalhou pela
Europa como um ideal de liberdade e democracia.
No Brasil, que ainda era colônia de Portugal na época, esse tribunal foi ins-
tituído por decreto do Príncipe Regente, no ano de 1822, seguindo o que já
estava em propulso avanço na Europa. Nessa época, o Tribunal do Júri era com-
posto por 24 cidadãos, que, segundo o decreto, deveriam ser bons, honrados,
inteligentes e patriotas. Além disso, serviam para julgar os crimes de abuso da
liberdade de imprensa, dos quais a decisão somente poderia ser revista pelo
próprio Príncipe.
Com a Constituição do Império, no ano de 1824, o Tribunal do Júri foi incluí-
do no capítulo concernente ao Poder Judiciário. Poderiam ser julgadas pelos
jurados tanto causas cíveis quanto criminais, a depender da ordem legislativa.
Após a proclamação da República, a instituição permaneceu estabelecida, além
de se inserir o júri federal, por meio do Decreto 848/1890. No ano seguinte, a
Constituição da República de 1891, inspirando-se na Constituição Americana,
colocou o júri no contexto dos direitos e garantias individuais, após uma inten-
sa defesa de Rui Barbosa.
A Constituição de 1934 trouxe o Tribunal do Júri novamente para o capítulo
pertinente ao Poder Judiciário. Contudo, no ano de 1937, a instituição foi excluí-
da por completo do texto constitucional, o que, na época, gerou uma discussão
sobre o júri e se ele estaria ou não em vigor no Brasil. Tal contenda foi resolvida

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


pelo Decreto-Lei nº 167/1938, que confirmou a existência do júri, mas sem so-
berania. O Tribunal Popular foi reinserido na Constituição de 1946 no capítulo
referente aos direitos e garantias individuais, garantindo a soberania dos vere-
ditos, sigilo das votações e plenitude de defesa.
Anos depois, na Constituição de 1967, a instituição foi mantida e permane-
ceu inserida no capítulo dos direitos e garantias individuais. O mesmo ocorreu
na Emenda Constitucional de 1969, sendo mantida, contudo, apenas para o
julgamento dos crimes dolosos contra a vida e sem que se fixasse a soberania,
o sigilo das votações ou plenitude de defesa como princípios do júri.
A atual Constituição, promulgada em 1988, prevê o júri no capítulo dos di-
reitos e garantias individuais, respaldados nos princípios da soberania dos ve-
redictos, sigilo das votações e plenitude de defesa, sendo que a sua competên-
cia permaneceu apenas para os crimes dolosos contra a vida.

(> 9
Sigilo das votações
Conforme previsão do art. 5º, caput, inciso XXXVIIl, alínea b, da Constitui-
ção Federal (CF), o voto dos jurados é sigiloso. Isso significa que os jurados
proferem seu veredicto por meio de votação realizada em sala especial, o
que lhes garante tranquilidade e possibilidade para reflexão. Eles ainda po-
dem consultar o processo e fazer perguntas ao magistrado. Nessa sala, O
réu não estará presente, apenas seu defensor, o membro do Ministério Pú-
blico, o assistente, o querelante e os funcionários da Justiça, sob a presidên-
cia do juiz de direito. Em nome desse sigilo, o art. 483, 88 1º e 2º, do Código
de Processo Penal (CPP), determina não ser necessário que se abra todos os
votos quando a maioria já estiver formada.
Soberania dos veredictos
Nos termos do art. 5º, caput, inciso XXXVIIl, alínea c, da CF, a decisão dos
jurados não poderá ser alterada pelo tribunal togado quanto ao mérito. O má-
ximo que poderá acontecer é a parte apelar ao tribunal em nome do duplo
grau de jurisdição. Provido o recurso, o tribunal determinará novo julgamento
pelo Tribunal do Júri, que manterá a competência de decidir acerca do mérito
da imputação.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Plenitude de defesa
Por fim, o art. 5.º, caput, inciso XXXVIII, alínea a, da CF, assegura, nos proces-
sos de competência do Tribunal do Júri, a plenitude de defesa, que, em suma,
significa que a defesa poderá usar todos os meios de defesa possíveis para
convencer os jurados. Diferentemente da ampla defesa, que se limita à defesa
técnica, tais meios podem incluir argumentos não-jurídicos, como sociológicos,
políticos, religiosos, morais etc.

(> o
Nos termos da orientação do art. 5º, caput, inciso XXXVIII, alínea d, da CF,
compete ao Tribunal do Júri julgar os delitos dolosos contra a vida. Entretan-
to, sua competência não se limita a esses delitos apenas, pois a disposição
do texto constitucional traz somente uma base mínima para evitar que, fi-
cando à mercê de uma lei ordinária, o instituto desapareça.
O dispositivo mencionado é cláusula pétrea. Portanto, o Tribunal do Júri
não pode ser suprimido nem pelo Poder Constituinte Reformador. Contudo,
é perfeitamente possível que sua competência se amplie sem que haja vio-
lação aos parâmetros da CF, visto que sua função é justamente impedir o
seu esvaziamento.
Originalmente, os seguintes delitos devem ser julgados perante o Júri,
mesmo que tentados:
* Homicídio simples (art. 121, caput, do CP);
* Homicídio privilegiado (art. 121,8 1º, do CP);
* Homicídio qualificado (art. 121,8 2º, do CP);
* Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122 do CP);
* Infanticídio (art. 123 do CP);
* As várias formas de aborto (arts. 124, 125, 126 e 127 do CP), todos pre-
sentes no Capítulo | (Crimes contra a vida), do Título | (Dos crimes contra a
pessoa), da Parte Especial do Código Penal. Ademais, os delitos a eles cone-
xos, que, por força da atração exercida pelo rito júri (arts. 76, 77 e 78, inciso
|, do CPP), também devem ser julgados pelo Tribunal do Júri.
O professor Guilherme de Souza Nucci defende que o crime de geno-
cídio, nos termos do art. 1º, alíneas a, c e d, da Lei nº 2.889/1956, deveria

DIREITO PROCESSUAL PENALII (E)


ser julgado perante o Tribunal do Júri, porque “pelas formas de execução
correspondem a delitos dolosos contra a vida” (NUCCI, 2018). Contudo, seu
posicionamento diverge do entendimento do Supremo Tribunal Federal
(STF), que, no julgamento do “massacre de Haximu” (caso em que garim-
peiros assassinaram vários índios ianomâmis), firmou entendimento que os
acusados deveriam ser processados e julgados perante juízo monocrático
na Justiça Federal.
Outra controvérsia que perdurou durante muito tempo é a discussão
sobre o latrocínio, definido no art. 157, 8 3º, do CP), e se ele se processaria
perante o Tribunal Popular ou não. Contudo, tanto a doutrina quanto a ju-
risprudência firmaram entendimento de que o latrocínio é do juízo singular.
Nesse sentido, a súmula 603 do STF determina que “a competência para o
processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do
Júri” (STF, Súmula 603, [s.p.]).

Antes da Lei nº 11.689/2008 havia um contrassenso acerca da natureza


do procedimento do Júri; essencialmente, se era especial ou comum. Entre-
tanto, a reforma que a lei fez no CPP deixou evidente que o procedimento
do Tribunal do Júri é especial.

ASSISTA
Recomendamos que assista o debate promovido pelo
CNJ, no qual os debatedores discutem os desafios e as
mudanças que o Tribunal do Júri poderá sofrer com o
novo CPP.

Como quaisquer outros delitos, os crimes dolosos contra a vida devem


passar pela fase de investigação, um procedimento pré-processual, e se
procede mediante o inquérito policial.
No inquérito policial, caso sejam colhidas provas acerca da materialidade
e da autoria da infração penal, compete ao membro do Ministério Público
oferecer a denúncia, iniciando-se, assim, a fase da formação da culpa. Nessa
fase, cujo procedimento é semelhante ao procedimento comum, as provas

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


são produzidas perante um juiz togado, mediante o devido processo legal e
obedecendo aos mandamentos do contraditório e da ampla defesa. No fim
da fase da formação da culpa, isto é, após a instrução da primeira fase, o
magistrado decidirá se a acusação é viável, caso em que decidirá se envia ou
não o processo para análise dos jurados, no Tribunal do Júri.
Essa fase é de extrema importância, pois permite que o processo seja
avaliado por juiz togado, que somente enviará aos juízes leigos caso haja
elementos mínimos de culpa do acusado. Afinal, os jurados não decidirão de
forma fundamentada, podendo condenar ou absolver qualquer um de for-
ma sigilosa e sua decisão será, se maioria, soberana. Na prática, essa fase
funciona como um filtro, onde apenas passarão os casos em que existam
elementos de prova mínimos para que o júri se reúna.
Veremos a seguir os atos processuais que compõem essa primeira fase
do procedimento de apuração dos crimes dolosos contra a vida.
Primeira fase
Chamada de sumário da culpa ou judicium accusationis, a primeira fase
do procedimento de apuração dos crimes dolosos contra a vida obedece à
disciplina dos arts. 406 a 421 do CPP.
Nos termos do art. 412 do CPP, essa fase deve ser concluída em prazo
máximo de 90 dias. Entretanto, essa não é a realidade dos processos do
País. Por isso, é possível requerer a liberdade do réu preso por excesso de
prazo ao esgotá-lo.
A primeira fase é composta pelos seguintes atos processuais:
1. Oferecimento da denúncia ou queixa-crime subsidiária: nos ter-
mos do art. 41 do CPP, a inicial acusatória deve conter a exposição do fato
criminoso com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou
elementos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e o rol
de testemunhas, que, nesse caso, deve consistir em oito por cada fato impu-
tado ao réu, como dita o art. 406, 8 2º, do CPP, não se computando aquelas
não compromissadas, por analogia ao art. 208 do mesmo código;
2. Rejeição liminar ou recebimento da inicial: após o oferecimento da
denúncia os autos são enviados à conclusão do juiz. Nesse ato, o magistra-
do poderá rejeitar liminarmente a denúncia caso visualize a ocorrência das
hipóteses do art. 395 do CPP, isto é: se a inicial for inepta (não obedecer aos

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


critérios do art. 41 do CPP, dentre outros); se faltar pressuposto processual
(a competência do juízo; a existência de partes que possam estar validamen-
te em juízo em nome próprio ou alheio; e que não haja litispendência nem
coisa julgada sobre esse fato em relação ao réu); se houver condição para o
exercício da ação penal (procedibilidade; legitimidade ad causam ativa e pas-
siva; possibilidade jurídica do pedido de condenação; e interesse de agir);
ou se faltar justa causa para a ação penal (ausência de lastro probatório
mínimo). Caso contrário, o magistrado receberá a denúncia e determinará a
citação do acusado para resposta;
3. Citação do acusado: o juiz determinará a citação pessoal do acusado
caso receba a denúncia ou queixa-crime. Se não for possível localizar o réu,
sua citação poderá ser feita por edital, de acordo com os arts. 361 e 363,8 1º,
do CPP. Se o acusado não comparecer espontaneamente ou não se constituir
defensor, o processo deverá ser suspenso. Contudo, caso o oficial de justiça
verifique estar o réu se ocultando para fugir da citação, poderá ser realizada
a citação com hora certa, como dita o art. 362 do CPP;
4. Resposta do acusado: devidamente citado, o acusado deverá res-
ponder à acusação no prazo de dez dias. O início da contagem desse prazo
ocorrerá a partir do cumprimento do mandado de citação ou, sendo o caso
de citação editalícia, a partir do comparecimento em juízo do acusado ou de
defensor constituído, de acordo com o art. 406, 8 2º, do CPP. Importante:
se O prazo se esgotar e o acusado não apresentar a resposta, o juiz deverá
nomear um defensor dativo, que terá novamente o prazo de dez dias para
oferecê-la, conforme o art. 408 do CPP; a não apresentação da resposta
gera nulidade absoluta. Na resposta à acusação, o acusado poderá, nos ter-
mos do art. 406, 8 3º, do CPP:
arguir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa,
oferecer documentos e justificações, especificar as provas pre-
tendidas e arrolar testemunhas,
até o máximo de oito, qualifican-
do-as e requerendo sua intimação, quando necessário. (BRASIL,
CPP, 1941, art. 406, 8 3º).
5. Oitiva da acusação: após o réu apresentar sua resposta, o juiz intima-
rá o Ministério Público ou o querelante para que se manifestem acerca das
eventuais preliminares ou sobre documentos que com elas tenham sido acos-

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


tados, no prazo de cinco dias, nos termos do art. 409 do CPP. A doutrina en-
tende que essa manifestação tem caráter de réplica. Por isso, mesmo que não
sejam arguidas as preliminares ou juntada de documentos pelo réu em sua
resposta, o juiz deve dar vista à acusação quanto aos argumentos defensivos;
6. Aprazamento de audiência de instrução, interrogatório, debates
e decisão: após serem dadas vistas à acusação, o magistrado deverá desig-
nar, em, no máximo, dez dias, a audiência para inquirição das testemunhas
arroladas no processo, bem como para a realização das diligências que pos-
sam ter sido requeridas pelas partes, de acordo com o art. 410 do CPP, quais
sejam os esclarecimentos de peritos (tal diligência deverá ser requerida pre-
viamente, nos termos dos arts. 159, 8 5º, inciso |, alínea e e 411,8 1º, do CPP),
acareações e reconhecimentos (art. 411 do CPP).
Nos termos do art. 411, 8 2º, do CPP, todas as provas orais deverão ser
produzidas em uma só audiência. Por isso, o juiz poderá indeferir as que
considerar irrelevantes, impertinentes ou protelatórias; ainda, poderá de-
terminar a condução coercitiva de quem, devidamente cientificado, deixe de
comparecer a audiência, como determina o art. 411,8 7º, do CPP.
Instalada à audiência, a colheita da prova oral ocorrerá na seguinte ordem:
1º. Oitiva da vítima, se possível;
2º. Oitiva das testemunhas da acusação e da defesa, nessa ordem;
3º. Esclarecimentos dos peritos, acareações e reconhecimento de pes-
soas ou coisas;
4º. Interrogatório do acusado, que é o último ato da instrução.
Na sequência, não sendo o caso de aditamento da denúncia ou queixa,
como ditam os arts. 384 e 411, 8 3º, do CPP, o juiz dará a palavra à acusação
e depois à defesa pelo prazo de vinte minutos, prorrogáveis por mais dez,
para que apresentem as alegações finais, conforme o art. 411, 8 4º, do CPP.
No caso de haver assistente de acusação habilitado nos autos, o magis-
trado concederá a ele prazo de dez minutos para as suas alegações finais an-
tes de dar a palavra à defesa, caso em que esse tempo deverá ser acrescen-
tado ao tempo previsto para manifestação da defesa, como determina o art.
411, 8 6º, do CPP. De acordo com o 8 5º do mesmo artigo, havendo mais de
um réu, o tempo mencionado acima será concedido individualmente para a
acusação e a defesa de cada acusado.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Não há previsão de possibilidade de conversão das alegações finais em
memoriais escritos, como no procedimento ordinário, mas a doutrina en-
tende não haver nenhum prejuízo às partes que elas apresentarem as ale-
gações de forma escrita. Pelo contrário, já que podem examinar os autos
com mais calma e têm maior tempo para estudar e oferecer a manifesta-
ção final, mas apenas nessa fase.
Após o fim dos debates orais, nos termos do art. 411, 8 9º, do CPP, o
magistrado poderá decidir de pronto ou determinará que os autos sejam
encaminhados à conclusão para que ele profira sua decisão acerca da ad-
missibilidade da acusação, caso em que poderá pronunciar o réu, impro-
nunciá-lo, absolvê-lo sumariamente ou desclassificar a infração penal. Ve-
jamos o que significa cada uma dessas possibilidades:
A. Pronúncia (art. 413 do CPP).
A decisão de pronúncia significa que o magistrado está julgando ad-
missível a acusação apresentada na inicial acusatória. Essa é a única das
quatro que iremos estudar na sequência que implicará na continuidade
do processo criminal na vara onde está tramitando e que incidirá no julga-
mento do réu pelo Tribunal do Júri.
Para que O réu seja pronuncia-
do é necessário haver indícios su-
ficientes de autoria e prova da ma-
terialidade do fato, caso contrário a
decisão seria de impronúncia. Além
disso, faz-se necessária a presença
de indicativos de que o agente agiu
com o dolo de matar. Não sendo evi-
denciado esse dolo, isto é, evidenciado que o ato foi culposo ou que o dolo
é outro (de roubar, por exemplo) a decisão será de desclassificação.
Por fim, o réu será pronunciado quando também inexistir prova ine-
quívoca da ocorrência de alguma das hipóteses de absolvição sumária do
réu, revistas no art. 415 do CPP, quais sejam: inexistência do fato; o réu
não concorreu para a infração penal como autor ou partícipe; o fato não
constituiu infração penal; ou excludentes de ilicitude ou de causas que
isentem o réu de pena.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


DICA
Caso o juiz verifique inexistir (ou não ser suficiente) provas acerca da
existência do fato ou estarem ausentes de indícios de autoria ou partici-
pação do acusado, o resultado deverá ser a impronúncia, como determina
o art. 414 do CPP. Na certeza de que o fato não existiu e na certeza de que
o réu não foi autor nem partícipe do fato acusado, o resultado deverá ser
a absolvição sumária, como determina o art. 415, incisos | e Il, do CPP.
Tratam-se, portanto, de situações distintas.

A decisão do juiz nessa fase deve ser respaldada pelo princípio do in du-
bio pro societate, isto é, caso exista qualquer dúvida acerca da ocorrência
de hipótese de impronúncia, absolvição sumária ou desclassificação, o juiz
deve pronunciar o réu. Nesse sentido, o ST) determinou que: “eventuais
dúvidas, nessa fase, devem ser solucionadas sempre à luz do princípio in
dubio pro societate”. (ST), AgRg/REsp. [s.p.)).
A decisão de pronúncia é de caráter declaratório. Assim o é, pois, con-
forme o art. 413, caput,8 1º, do CPP, o juiz restringe-se a declarar a razoa-
bilidade da acusação, o que dará abertura para que o acusado seja, então,
julgado pelo júri popular.
Processualmente falando, podemos classificar a decisão da pronúncia
como uma decisão interlocutória mista não-terminativa, pois marca o fim de
uma fase do procedimento do Tribunal do Júri, mas não põe fim ao processo.
Ademais, essa decisão faz apenas coisa julgada formal, pois, não haven-
do mais possibilidade de impugná-la, ela se torna imodificável, salvo caso
de retificação da pronúncia, de acordo com o art. 421,88 1º e 2º, do CPP.
Em contrapartida, referida decisão não faz coisa julgada material, já que
o acusado, pronunciado pela prática de determinado delito, poderá, em
alguns casos, ser condenado por crime diverso pelo Conselho de Sentença,
como é o caso de o réu ser pronunciado por homicídio qualificado, mas o
júri decidir ser caso de homicídio culposo; nesse caso, os autos serão re-
metidos a decisão do magistrado.
Além de submeter o acusado a júri popular, a decisão de pronúncia
limita as teses acusatórias a serem apresentadas aos jurados de modo
que, sendo o réu pronunciado por homicídio simples, a qualificadora não
poderá ser mencionada pelo promotor e nem apresentada em quesitos
aos jurados na sessão de julgamento.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Importante: nos termos do art. 117, inciso Il, do CP, a decisão de pro-
núncia interrompe a prescrição. Havendo recurso da decisão de pronúncia,
a decisão que a confirma também interrompe a prescrição, de acordo com
o inciso Ill do mesmo artigo. Ademais, nos termos da súmula 191 do ST),
a interrupção da prescrição pela decisão de pronúncia se mantém mesmo
quando o Conselho de Sentença vier a desclassificar a infração penal pela
qual o réu foi pronunciado para outra.
Como regra, a intimação do réu acerca da decisão de pronúncia ocor-
rerá pessoalmente. Contudo, de acordo com o art. 420, inciso |, parágrafo
único, do CPP, o réu poderá ser intimado por edital se não for localizado.
Já o defensor, caso nomeado pelo juiz, deverá ser intimado pessoalmente,
como dita o art. 420, inciso |, do CPP. Entretanto, se o defensor for cons-
tituído pelo réu, deverá ser intimado por meio de publicação no órgão
oficial. O mesmo se aplica para o advogado do assistente de acusação e o
advogado do querelante, conforme o inciso Il do mesmo artigo.
Nos termos do que dispõe o art. 581, inciso IV, do CPP, a decisão de
pronúncia poderá ser impugnada por meio de recurso em sentido estrito.
B. Impronúncia (art. 414 do CPP).
A impronúncia ocorrerá quando o juiz não se convencer da “materiali-
dade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de par-
ticipação” (BRASIL, CPP, 1941, art. 414). Assim, a decisão de impronúncia
deverá se basear na inexistência de indícios suficientes de autoria ou na
ausência de prova da materialidade do fato.
Importante: conforme determina o parágrafo único do art. 414 do CPP,
“enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada
nova denúncia ou queixa se houver prova nova” (BRASIL, CPP, 1941, art.
414, parágrafo único). Isso significa que a impronúncia não obstaculiza o
ajuizamento de nova ação penal desde que surjam novas provas antes da
ocorrência da extinção da punibilidade (prescrição, por exemplo).
A decisão de impronúncia é interlocutória mista terminativa, pois acarreta
a extinção do processo. Por isso, após o trânsito em julgado da decisão de
impronúncia, a decisão, nesse processo, passará a ser imutável. Por isso, na
hipótese do parágrafo único do art. 414 do CPP, a acusação deverá oferecer
uma nova inicial e, consequentemente, inaugurar-se-á uma nova ação penal.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Importante: as provas novas a que se refere o parágrafo
único do art. 414 do CPP são as consideradas substancial-
mente novas, isto é, aquelas que até então eram
desconhecidas. Por isso, provas que já eram co-
nhecidas, mas não foram requeridas no curso
do processo, em regra, não podem ser usadas
para o oferecimento de nova inicial.
Nos termos do que dispõe o art. 416 do CPP, a
decisão de impronúncia deve ser impugnada por meio de apelação.
C. Desclassificação (art. 419 do CPP).
O art. 419 do CPP assim dispõe: “quando o juiz se convencer, em dis-
cordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos
no 8 1º do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento,
remeterá os autos ao juiz que o seja” (BRASIL, CPP, 1941, art. 419). Sendo
assim, se, enquanto estiver analisando a viabilidade da acusação apresen-
tada, o magistrado verificar inexistir qualquer indicativo da existência do
dolo de matar, que é situação que afasta a competência do júri para o seu
julgamento, deverá remeter os autos ao juiz competente.
Importante: não cabe ao juiz, em sua decisão de desclassificação, de-
terminar para qual crime deve ser desclassificado o delito, isto é, qual cri-
me não-doloso contra a vida deve ser apreciado pelo juíz que receber o
processo.
O CPP não dispõe quais providências deverão ser tomadas pelo juiz
que receber o processo remetido. Conforme orientação da doutrina, duas
situações poderão ocorrer:
Não sendo hipótese de mutatio libelli (alteração acerca do fato
narrado na inicial acusatória) o magistrado que receber os au-
tos remetidos poderá proferir a sentença de imediato, já que
o réu já se defendeu dos fatos apontados pela acusação na
instrução da primeira fase. Por outro lado, sendo o caso de
uma mutatio libelli, isto é, o fato apurado na instrução difere
do apontado na inicial acusatória, o juiz que receber os autos
remetidos deverá seguir o procedimento do art. 384 do CPP.
(AVENA, 2018).

DIREITO PROCESSUAL PENALII (E)


CURIOSIDADE
No caso de haverem dois crimes dolosos contra a vida sendo apurados e o
juiz entender pela desclassificação de apenas um deles e pela pronúncia
em relação ao outro, os autos não serão remetidos ao juízo comum e nem
será feito o desmembramento dos autos, pois se tratam de crimes cone-
xos. Por isso, o crime doloso contra a vida pelo qual o réu foi pronunciado
continuará atraindo ao julgamento pelo júri o delito desclassificado.

A lei não prevê expressamente nenhum recurso contra a decisão de des-


classificação. Entretanto, conforme ensina o professor Norberto Avena, é cabí-
vel o recurso em sentido estrito, com fundamento no art. 581, inciso Il, do CPP,
pois, nas palavras do jurista
(...) ao desclassificar a infração penal para outra que não seja de
competência do júri, nada mais está fazendo o magistrado do
que concluir, de ofício, pela incompetência daquele juízo, razão
pela qual se mostra adequado o manejo dessa via impugnativa
contra tal modalidade de decisão (AVENA, 2018).

D. Absolvição sumária (art. 415 do CPP)


O magistrado poderá absolver o réu sumariamente quando observar, por
meio da prova obtida na instrução da primeira fase, manifestamente as se-
guintes situações previstas no art. 415 do CPP:
Inciso |: quando restar provada a inexistência do fato;
Inciso Il: quando restar provado que o réu não concorreu para o crime
como autor ou partícipe;
Inciso Ill: quando o fato não constituir infração penal;
Inciso IV: quando restar provada a existência de circunstância que isente o
réu de pena (descriminantes putativas, erro de proibição inevitável, coação moral
irresistível, obediência à ordem de superior hierárquico não manifestamente ilegal
e a embriaguez fortuita completa) ou exclua o crime (legítima defesa, estado de
necessidade, exercício regular de direito ou estrito cumprimento do dever legal);
Parágrafo único: quando houver causa de isenção de pena baseada na inim-
putabilidade por doença mental, desde que seja esta a única tese defensiva.
Importante: como já mencionamos acima ao falar da pronúncia, a decisão
nessa fase deverá ser dada levando-se em conta o princípio do in dubio pro
societate de modo que o juiz apenas absolverá sumariamente o réu quando

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


houver prova evidente e sem dúvidas da ocorrência de alguma das hipóteses
do art. 415 do CPP. Havendo dúvida, o processo deve ser submetido ao Conse-
lho de Sentença.
Conforme previsão expressa do art. 416 do CPP, o recurso cabível em face
da absolvição sumária é a apelação.
Importante: da decisão de absolvição sumária, o recurso de apelação de-
verá ser interposto de ofício pelo juiz, conforme previsão expressa do art. 574,
inciso Il, do CPP. Ou seja, não havendo interposição de apelação contra a deci-
são que absolveu sumariamente o réu, o juiz deverá fazê-lo de ofício, seja para
confirmação ou para reforma da decisão.

DIAGRAMA 1: RESUMO DOS ATOS PROCESSUAIS QUE COMPÕEM A PRIMEIRA


FASE DO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI.

. [Juiz rejeita pre Audiência de


denúncia ou queira instrução, interro-

a a aa
Igamento
iz recebi Oitiva da vítimae Decisão do juiz
apta R Juiz determina Pombo Juiz abre vistas à || Juiz designaa || das testemunhas - Pronúncia
ou queixa a citação do réu E acusação para se audiência de Esclarecimento dos - Impronúncia
para responder à Sides Nomeia | manifestar acerca | | — instrução e pet, nereções e - Desclassificação
acusação io para fazê-lo da resposta julgamento coming - Absolvição
Interrogatório sumária
do réu
Alegações finais

Segunda fase

DIAGRAMA 2: RESUMO DOS ATOS PROCESSUAIS QUE COMPÕEM A SEGUNDA


FASE DO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI.
a aa

Procedimento do júri - 2º fase

Partes juntam documentos, requerem diligências e arrolam até 5 testemunhas. Juiz determina a realização das diligências e elabora o relatório.

Juiz apraza a Ce [OR Rd Ta UR ES RI SS


Oitiva da vítima ES Cu E Te TETO
SL dE sentença (7 jurados) (defensor pergunta antes)

A O LIR EIS Pia


[TA UA
RACER DA ES ER er DEE IR (Ra
Dota
e CO Te PÇ acareações e leitura
acerca dos quesitos estão prontos para julgar tréplica
de peças

Votação na sala secreta Sentença

[UU J

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


A segunda fase do procedimento de apuração dos crimes dolosos contra a
vida, chamada de judicium causae, obedece à disciplina dos arts. 422 a 424 do CPP.
Referida fase se inicia após a decisão de pronúncia estar preclusa, caso em que os
autos serão encaminhados ao juiz-presidente do Tribunal do Júri com vistas à pre-
paração do processo para o julgamento perante o Conselho de Sentença.
Recebendo os autos, o juiz-presidente determinará a intimação do Ministério Pú-
blico, do querelante (ação penal privada subsidiária) e do defensor do acusado para
que, em 5 dias e caso queiram, apresentem o rol de testemunhas que desejam que
sejam ouvidas em plenário, juntem documentos e requeiram diligências, conforme
art. 422 do CPP.
Na sequência, o juiz-presidente analisará os requerimentos de provas a serem
produzidas ou exibidas em plenário de julgamento. Sendo deferida alguma diligên-
cia, aguardar-se-á que seja realizada. Não sendo deferida ou após de realizada a dili-
gência deferida, o juiz determinará as providências que entender serem necessárias
para dirimir eventuais nulidades ou para elucidar algum fato relevante ao julgamen-
to da causa. Por fim, elaborará um breve relatório dos autos e designará data para
sessão de julgamento, como dita o art. 423 do CPP.
Importante: como vimos alhures, a base para a acusação no plenário do júri
será a decisão pronúncia. Por isso, o órgão acusador deverá se limitar à imputação
do tipo básico ou derivado e das causas de aumento de pena que tenham sido reco-
nhecidas naquela decisão.
Caso alguma das partes deseje ler documentos em plenário ou exibir objetos,
deverá juntá-los aos autos com antecedência mínima de 3 dias, nos termos do art.
479 do CPP. Conforme o parágrafo único do mesmo art., podem ser objeto dessa
juntada os jornais ou qualquer outro escrito, vídeos, gravações, fotografias, laudos,
quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, desde que o seu conteúdo
esteja ligado ao caso submetido em julgamento. Referências doutrinárias ou juris-
prudências podem ser lidas sem que seja necessária juntada nesses termos.
Para atuar no plenário de julgamento pelo Tribunal do Júri, o assistente de acusa-
ção, nos termos do art. 430 do CPP, deve requerer sua habilitação no prazo máximo
de 5 dias antes da data aprazada para a sessão na qual pretenda atuar.
O desaforamento é a deslocação do julgamento do Tribunal do Júri para uma
comarca diferente daquela onde tramitou o processo criminal. Tal providência pode
ser tomada pelo Tribunal competente, mediante solicitação do Ministério Público,

DIREITO PROCESSUAL PENALII (E)


querelante, assistente de acusação ou defesa ou representação do juiz-presidente.
Nos termos dos arts. 427 e 428 do CPP, o desaforamento encontra possibilidade nas
seguintes situações:
* Por interesse da ordem pública;
* Dúvida sobe a imparcialidade dos jurados;
* Segurança pessoal do réu;
* Não aprazamento de data para o júri no prazo de até seis meses contados do
trânsito em julgado da pronúncia, quando comprovado o excesso de serviço.
O momento para requerer o desaforamento é logo após o trânsito em jul-
gado da decisão de pronúncia e antes do julgamento pelo júri. Nos termos da
súmula 712 do STF, a defesa deve sempre ser ouvida acerca do desaforamento,
sob pena de nulidade.

[Mo cof eles


e (oe OR) ETR [OT

sentença
(7 jurados) * Esse esquema usa como base os tribunais do Defesa
júri do Fórum Central Criminal de São Paulo/SP

Figura 1. Esquema da composição do plenáriodo Júri na segunda fase do procedimento

A sessão de julgamento ocorrerá seguindo os seguintes passos:


1. Verificação das cédulas
Antes de instalar a sessão de julgamento, o juiz deve conferir a urna, que já deve-
rá estar com as cédulas com o nome dos jurados a serem sorteados para a sessão,
ocasião em que conferirá se ali contém 25 cédulas, que correspondem aos 25 jura-
dos selecionados, conforme o art. 433 do CPP. Feito isso, o juiz ordenará ao escrivão
que realiza a chamada nominal para a confirmação dos jurados presentes, como
dita o art. 462 do CPP.
2. Instalação da sessão
De acordo com o art. 463 do CPP, o juiz declarará instalados os trabalhos se
ao menos quinze jurados estiverem presentes, ainda que entre os presentes

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haja jurados que, por estarem sujeitos ou impedidos, não possam participar
do conselho de sentença (art. 466 c/c o art. 463, 8 2º, do CPP). Caso contrário,
não atingindo o mínimo, o magistrado sorteará os jurados suplentes, que cor-
responderão ao número dos jurados que faltaram, e aprazará nova data para a
sessão, como dita o art. 464 do CPP.
Importante: de acordo com o art. 442 do CPP, o jurado que injustificada-
mente deixar de comparecer à sessão de julgamento poderá ser sancionado
com uma multa fixada pelo juiz, levando em consideração sua situação econô-
mica, entre um a dez salários-mínimos.
3. Esclarecimentos do juiz
Assim que instalar a sessão, o juiz magistrado orientará os jurados acerca dos
impedimentos, suspeições e incompatibilidades, além de informá-los sobre a ne-
cessidade de incomunicabilidade dos membros do Conselho de Sentença (arts. 448,
449 e 466 do CPP).
4. Formação do Conselho de Sentença
Conforme os arts. 467 e 468 do CPP, após os esclarecimentos do juiz, reali-
zar-se-á o sorteio de sete jurados que comporão Conselho de Sentença, sendo
permitido à defesa e à acusação recusarem até três sem motivo.
A Figura 2 ilustra o momento da formação do Conselho de Sentença, composto
por 7 jurados escolhidos por meio de sorteio.

Figura2. Formação de ( elho de Sentença. Fonte: Poder Judiciár

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5. Exortação e compromisso
Formado o Conselho de Sentença, nos termos do que dispõe o art. 472 do CPP,
o juiz-presidente exortará os jurados acerca do seguinte: “Em nome da lei, conci-
to-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir a vossa decisão de
acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça” (BRASIL, CPP, 1941, art.
472). Ato contínuo, cada jurado será chamado individualmente por nome, ocasião
em que deverão responder, como forma de compromisso: “Assim o prometo”,
6. Entrega de cópia de peças
Compromissado o Conselho de Sentença, cada jurado receberá cópias
da pronúncia (ou de outra decisão posterior que admitiu a acusação) e o re-
latório do processo. Contudo, será vetado às partes, sob pena de nulidade,
mencioná-las nos debates, como dita o art. 478, inciso |, do CPP.
7. Instrução em plenário
Na sequência, de acordo com o art. 473 do CPP, iniciar-se-á a instrução
plenária, ocasião em que o juiz-presidente, o Ministério Público, o assistente
de acusação, o querelante e o defensor do acusado tomarão, se possível e
em ordem sucessiva, as declarações do ofendido e inquirirão as testemu-
nhas arroladas pela acusação. Quanto às testemunhas arroladas pela defe-
sa, a ordem inverter-se-á e o defensor do acusado fará as perguntas antes
do Ministério Público e do assistente, seguindo-se, no mais, a ordem e os
critérios estabelecidos, conforme o 8 1º do mesmo artigo. Nesse momento,
nos termos do 8 3º do mesmo artigo, as partes e os jurados
poderão requerer acareações, reconhecimento de pessoas e
coisas e esclarecimento dos peritos, bem como a leitura de pe-
ças que se refiram, exclusivamente, às provas colhidas por carta
precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis.
(BRASIL, CPP, 1941, art. 473,8 3º).
Importante: conforme o art. 473, 8 2º, do CPP, as perguntas às teste-
munhas serão feitas diretamente pelas partes, exceto quando forem feitas
pelos jurados ao ofendido e testemunhas, caso em que deverão ser inter-
mediadas pelo juiz presidente.
8. Interrogatório do réu
Ato seguinte, de acordo com o art. 474 do CPP, iniciar-se-á o interrogató-
rio do acusado. Poderão interrogar o réu diretamente: o Ministério Público,

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o assistente, o querelante e o defensor, nessa ordem. Já os jurados, caso
queiram, formularão perguntas por intermédio do juiz-presidente.
A Figura 3 ilustra o momento do interrogatório do réu. Observe que ele deverá
estar sentado em frente ao juiz-presidente, ocasião em que será interrogado na for-
ma da lei.

Figura3. Interrogat jo réu, Fonte: Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, 2019

Importante: o art. 4/4, 8 3º, do CPP veda o uso de algemas no acusado


durante o período em que permanecer no plenário do júri, a menos que alge-
má-lo seja absolutamente necessário para garantir a ordem dos trabalhos, a
segurança das testemunhas ou a integridade física dos presentes. Essa deter-
minação tem o objetivo de evitar a interferência no ânimo dos jurados, que, ao
verem o réu algemado, podem ser, de alguma forma, sugestionados.
9. Debates
Finda a instrução, iniciar-se-ão os debates. Nesse momento, a acusação e
a defesa suscitarão as suas teses perante o Conselho de Sentença. Conforme
o art. 477 do CPP, cada uma das partes (acusação e defesa) terá o prazo de
uma hora e meia, uma hora a título de réplica e uma hora para tréplica. Ha-
vendo mais de um acusador ou defensor, o art. 477, 8 1º, do CPP determina
que esses deverão combinar entre si a distribuição do tempo. Caso contrário,
o juiz-presidente definirá o tempo de cada um dentro do tempo legal. No caso
de haverem mais de um réu, o art. 477, 8 2º, do CPP determina que “o tempo

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


para a acusação e para a defesa será acrescido de uma hora e dobrado para
réplica e tréplica”.
Importante: nos termos do art. 497, inciso XII, do CPP, para que se evitem
excessivas interferências de qualquer das partes durante a explanação da par-
te adversa, a lei determina que o juiz-presidente deve
(...) regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das
partes, quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder
até três minutos para cada aparte. Os apartes, então, deverão
ser requeridos ao magistrado e, se por ele permitidos, serão
acrescidos ao tempo de quem tiver sido aparteado (BRASIL, CPP,
1941, art. 497, XII).
10. Consulta aos jurados
Após o fim dos debates, o magistrado deverá questionar os jurados se
estão habilitados para julgar, como dita o art. 480,8 1º, do CPP.
11. Dissolução do Conselho de Sentença
Nesse momento, caso haja a necessidade de realizar prova pericial ou
alguma diligência essencial que não puder ser realizada de imediato, o ma-
gistrado, nos termos do art. 481 do CPP, dissolverá o Conselho de Sentença
para que o sejam. Realizadas as diligências ou perícias, o juiz designará data
para nova sessão de julgamento para que os trabalhos sejam reiniciados,
caso em que serão sorteados novos jurados.
12. Leitura e explicação dos quesitos
De acordo com o art. 484 do CPP, não havendo mais nada a ser diligen-
ciado, o magistrado fará a leitura dos quesitos em plenário e questionará as
partes acerca de qualquer reclamação ou impugnação. Além disso, explica-
rá aos jurados o que significa cada um dos questionamentos que lhes serão
levados à votação.
13. Votação
Conforme dispõe o art. 485 do CPP, não havendo dúvidas, “o juiz-presi-
dente, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defen-
sor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial
a fim de ser procedida a votação” (BRASIL, CPP, 1941, art. 485). Nessa opor-
tunidade, a decisão será tomada por maioria de votos, como dita o art. 489
do CPP. A resposta de cada quesito será levada a termo pelo escrivão, bem

DIREITO PROCESSUAL PENALII OQ


como o resultado do julgamento; o termo será assinado pelo presidente,
pelos jurados e pelas partes.
14. Sentença
Por fim, o magistrado prolatará a sentença condenatória ou absolutória,
respeitando a decisão do Conselho de Sentença na forma do art. 492 do CPP.
A Figura 4 ilustra o momento em que a sentença é lida diante do réu, que
está de pé diante do juiz-presidente.

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Figura 4. Leitura da sentença. Fonte: Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, 2017

Atos jurisdicionais
Durante o processo, o magistrado pratica diversos atos, que podem servir para
decidir o mérito, resolver questões-incidentes ou dar impulso ao processo. Tais atos,
que visam a angularização da relação processual, são chamados de jurisdicionais.
Os atos jurisdicionais se dividem em:
* Despachos, cujo objetivo é dar andamento ao processo, como a designação de
uma audiência, por exemplo;
* Decisões interlocutórias, utilizadas para dirimir controvérsias do processo e,
em alguns casos, para pôr fim em alguma fase do processo;
* Sentença ou acórdão, que põe fim ao processo julgando o mérito.
Nos subtópicos seguintes, veremos as características de cada um desses atos
jurisdicionais e de que forma são utilizados pelos magistrados.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


Esses despachos são os atos ordinatórios do processo, isto é, atos que obje-
tivam dar impulso oficial ao processo. Estão relacionados à execução das várias
etapas pertencentes a cada procedimento legalmente previsto. Alguns exem-
plos são: a determinação de citação do acusado; intimação das testemunhas
arroladas; abertura de vista às partes para que se manifestem acerca de algum
ato da outra parte; designação de audiências etc.
Os despachos têm o condão de ordenar a sequência de atos do procedimen-
to para que se garanta que o processo alcance sua última etapa, a sentença. Por
isso, não tem carga decisória. Uma de suas características é a irrecorribilidade.
Entretanto, caso os atos do juiz, ao invés de imprimirem ordem ao processo,
causem tumulto processual (por inverterem a ordem desses atos, por exemplo),
é possível à parte prejudicada entrar com pedido de correição parcial.
A correição parcial pode ser manejada sempre que o ato do juiz for exara-
do de forma contrária à lei ou que seu conteúdo a ela seja contrário. Porém,
tal pedido não tem natureza recursal, pois é uma medida de caráter adminis-
trativo-disciplinar, oponível contra atos de magistrado praticados por error in
procedendo (erro de procedimento) ou abuso de poder.

Essas decisões importam em uma classificação intermediária entre os despa-


chos de mero expediente e as sentenças. Tais atos têm carga decisória, de modo
que poderão promover ou não a extinção do processo, a depender do caso.
Por via de regra, podemos afirmar que, no processo de conhecimento, a delimi-
tação de determinada manifestação judicial como sendo uma decisão interlocutó-
ria sucede de forma residual. Em outras palavras, considerar-se-ão decisões inter-
locutórias os pronunciamentos judiciais que não puderem ser classificados nem
como despachos de mero expediente e nem como sentenças stricto sensu.
As decisões interlocutórias são divididas em duas ordens:
1. Decisões interlocutórias simples: aqui estão abarcadas a maioria
das decisões judiciais. O objetivo dessas decisões é resolver incidentes
que, por ventura, surjam antes da sentença sem implicar em extinção do

DIREITO PROCESSUAL PENALII (2)


processo ou de alguma fase do respectivo procedimento, como é o caso,
por exemplo, da decisão que decreta a prisão preventiva ou concede liber-
dade provisória. Contra tais decisões, caso haja previsão legal, caberá o
recurso em sentido estrito; caso contrário, a decisão poderá ser atacada
por meio de habeas corpus, mandado de segurança ou correição parcial,
que não possuem natureza recursal. Por exemplo, a decisão que relaxa a
prisão em flagrante pode ser impugnada por meio do recurso em sentido
estrito, conforme prevê o art. 581, inciso V, do CPP. Já a decisão que in-
defere a habilitação do assistente de acusação não tem previsão legal de
nenhum recurso, mas há entendimento jurisprudencial pacífico de que tal
decisão pode ser atacada via mandado de segurança;
2. Decisões interlocutórias mistas: aqui estão abarcadas as decisões
exaradas antes da sentença final e que possuem carga decisória. Entre-
tanto, diferentemente das simples, essas acarretam na extinção ou do
processo (consequentemente, seu arquivamento) ou de uma fase do pro-
cedimento criminal. Havendo sucumbência, tais decisões serão sempre
impugnáveis. Para tanto, poderá ser manejado recurso em sentido estrito,
nos casos em que a lei assim preveja. Nos outros casos, O recurso a ser
manejado será sempre a apelação, utilizando-se como fundamentação o
art. 593, inciso Il, do CPP. As decisões interlocutórias mistas, por sua vez,
subdividem-se em duas;
2.1. Decisões interlocutórias mistas terminativas: tais decisões,
também chamadas definitivas, embora não possuam natureza de senten-
ça, geram a extinção do processo ou do procedimento. Alguns exemplos
são decisões que: rejeitam a denúncia, não recebem a queixa e acolhem as
exceções de ilegitimidade de parte, coisa julgada e litispendência. A absol-
vição sumária e a impronúncia também são outros exemplos;
2.2. Decisões interlocutórias mistas não terminativas: tais
decisões, também chamadas de decisões com força de
definitivas, não extinguem o processo, mas uma eta-
pa do procedimento. De modo unânime, a doutrina
inclui nessa classificação a decisão de pronúncia,
que encerra a primeira etapa do procedimento do
júri e inaugura a segunda fase.

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


As sentenças possuem carga decisória plena, pois julgam todos os pontos rela-
tivos ao mérito da causa. Além disso, resultam na condenação ou absolvição
do acusado, esgotando-se totalmente as etapas procedimentais previstas em
lei. De acordo com o art. 386, caput, inciso VI, parágrafo único, inciso Ill, do
CPP, a sentença será: a) condenatória, quando acolher o pedido formulado
na inicial acusatória, impondo uma pena ao acusado; b) absolutória própria,
quando julgar improcedente a acusação apurada na ação penal, reconhecen-
do assim a inocência do réu ou a ausência de prova de que ele tenha sido res-
ponsável criminalmente pelo fato apurado; ou absolutória imprópria, quando
absolver o réu, mas impor-lhe medida de segurança por estar comprovada a
sua inimputabilidade total ao tempo do fato.
Importante: o CPP usa o “termo sentença, em sentido amplo, para abran-
ger, também, as decisões interlocutórias mistas e as definitivas, que não ava-
liam a imputação propriamente dita” (NUCCI, 2015. Desse modo, nem decisão
marcada pelo código como sentença é, de fato, uma sentença stricto sensu.
Esse é o caso da decisão que absolve sumariamente o réu; embora seja cha-
mada de “sentença” pelo CPP, não possui natureza de sentença em sentido
estrito, pois surge incidentalmente ao processo e ocasiona sua extinção sem
que estejam esgotadas todas as etapas previstas em lei para o respectivo
procedimento.
Por via de regra e com fundamento no art. 593, incisos le Ill, do CPP, cabe
o recurso de apelação em face das sentenças em sentido estrito. Entretanto,
há uma hipótese na qual a sentença não poderá ser impugnada por meio de
apelação: a sentença que decide a imputação de crime político. Afinal, o art.
102, inciso Il, alínea b, da CF, determina que, nesse caso, caberá recurso ordi-
nário constitucional para o STF.
Requisitos formais
Nos termos do art. 381 (e dos seguintes) do CPP, a sentença penal deve
obedecer a alguns requisitos formais para ser válida. Caso contrário, a sen-
tença tornar-se-á viciada, ocasionando, a depender do caso concreto, desde
uma simples irregularidade até a inexistência do ato. Vejamos esses requi-
sitos:

DIREITO PROCESSUAL PENALII O


A. Relatório
Tal requisito está implicitamente impresso nos incisos | e Il do art. 381 do CPP,
que assim dispõem: a sentença conterá “os nomes das partes ou, quando não
possível, as indicações necessárias para identificá-las” e “a exposição sucinta da
acusação e da defesa” (BRASIL, CPP, 1941, incisos | e Il). De maneira sucinta, pode-
mos afirmar que o relatório é o resumo das principais etapas do procedimento e
dos incidentes que eventualmente tenham sido levantados ou resolvidos durante
o processo.
Importante: o relatório é dispensado nas sentenças prolatadas pelos juízes
do Juizado Especial Criminal (JECRIM), por expressa disposição do art. 81,8 3º, da
Lei nº 9.099/1995. Nos outros casos, de acordo com o art. 564, inciso IV, do CPP,
a não observação do relatório gerará nulidade absoluta da sentença, pois é uma
formalidade essencial do ato.
Conforme o art. 381, inciso |, do CPP, a identificação das partes não é mera for-
malidade. Ela tem papel importante para a coisa julgada, pois a decisão se tornará
imutável apenas em relação às partes determinadas. Por isso, as partes devem ser
individualizadas, seja por meio de seu nome ou por indicações necessárias às suas
identificações de forma segura. Não há necessidade de incluir o nome do promo-
tor porque ele não atua em nome próprio, mas do Ministério Público.
De acordo com o art. 381, inciso Il, do CPP, a exposição sucinta da acusação e da
defesa se refere à necessidade de o magistrado mencionar as teses acusatórias e
defensivas levantadas no processo, sendo que sua ausência gerará nulidade. A lei
não exige que esse relatório seja minucioso acerca das teses das partes. Por isso, a
menção aos argumentos por elas deduzidos perante o juiz é suficiente.
B. Motivação
Toda decisão judicial deve ser devidamente motivada, conforme determinação
do art. 93, inciso IX, da CF. Não obstante, em relação às sentenças definitivas de
condenação e de absolvição, tal exigência encontra respaldo no art. 381, incisos Ill
e Iv, do CPP. A motivação é a ponderação racional operada pelo juiz, que utiliza do
contexto probatório inserido no processo e a legislação.
Na motivação, deverão estar presentes: as matérias de fato relativas à autoria
e à materialidade; as matérias jurídicas que constituem as teses de acusação e de-
fesa; e a indicação dos dispositivos legais pertinentes ao caso concreto. Havendo
referência a dispositivos legais, mesmo que implicitamente, não há nulidade abso-

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luta. Lembrando que, independentemente de a nulidade ser absoluta ou relativa,
para que seja reconhecida, deve haver comprovado prejuízo.
Tal exigência não deve ser entendida como obrigação de o magistrado se pro-
nunciar, direta e expressamente, sobre todas as ponderações das partes. Na ver-
dade, o juiz está obrigado a examinar todas as teses apresentadas pela acusação
e defesa, apenas. Entretanto, isso pode ser feito de maneira contextual, sem que
haja necessidade de responder individualmente a todos os argumentos.
A motivação não precisa ser extensa, podendo o magistrado fazê-lo de forma
objetiva e sendo necessário apenas que demonstre as razões de seu convenci-
mento. A defesa, porém, deve ter garantida a possibilidade de apresentar argu-
mentos contrários em eventual impugnação.
Importante: a sentença deve se limitar ao objeto do processo, não podendo
julgar e analisar parte dos fatos apontados na inicial acusatória (julgamento citra
petita), nem julgar além do pedido formulado pela acusação (julgamento ultra petita)
e nem julgar diversamente do apontado pela acusação (julgamento extra petita).
C. Dispositivo
O dispositivo, previsto pelo art. 381, inciso V, do CPP, consubstancia-se na con-
clusão da sentença. Ou seja, é nesse momento que o magistrado condena ou ab-
solve o réu, apontando os respectivos dispositivos legais, devendo aqui levar em
consideração o raciocínio operado na etapa anterior.
Sendo o caso de sentença condenatória, o magistrado deverá declinar qual é
o tipo legal (artigo de lei) que a conduta perpetrada pelo réu se amolda; apenas a
referência ao nomem iuris do crime não gera nulidade.
Sendo a sentença absolutória, o juiz deverá indicar o respectivo fundamento
dentre os incorporados aos arts. 386, 397 ou 415 do CPP, quais sejam a atipicidade
da conduta, a ausência de provas de autoria, o agir sob o amparo de excludente
de ilicitude etc.
A devida referência ao motivo da absolvição é importante para determinar se
a decisão poderá ser utilizada como título judicial para execução no civil ou exclu-
são da obrigação de indenizar, assegurando-se ao réu absolvido a certeza de que,
contra si, não poderá ser intentada ação de reparação de danos pelo ofendido.
D. Autenticação
De acordo com o art. 381, inciso VI, do CPP, o último requisito necessário é
a autenticação da sentença, que nada mais é que a assinatura da sentença pelo

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magistrado, que lhe conferirá autenticidade. A ausência de assinatura torna a sen-
tença inexistente. Mesmo que a sentença seja proferida oralmente em audiência,
somente será reconhecidamente uma decisão judicial quando o juiz, após confe-
rência e revisão, assiná-la.

DIAGRAMA 3: RESUMO DOS REQUISITOS FORMAIS DA SENTENÇA


Dai aà aaa.
ço ção

i ivarã Dispositivo
E om PAO aÇa - Conclusão (absolve Autenticação
- Exposição sucinta dal convencimento i | as ha ema) | Ps a do
do juiz - Indica o tipo penal | | -Rubrica nas folhas
acusação e defesa
ou nomen iuris

Sentença penal absolutória


Como vimos, essa sentença julga improcedente a acusação por qualquer
das razões mencionadas no art. 386 do CPP. Vejamos cada uma dessas razões:
I. Estar provada a inexistência do fato: nesse caso, em consideração à
prova amealhada aos autos, o magistrado verifica que o fato imputado ao réu
pela acusação evidentemente não ocorreu;
Il. Não haver prova da existência do fato: nesse caso, ao analisar os au-
tos, o juiz verifica que não foi comprovada a materialidade ou a existência do
fato imputado;
Ill. Não constituir o fato infração penal: nesse caso, o juiz verifica que a
conduta é atípica, não constituindo, portanto, infração penal;
IV. Estar provado que o réu não concorreu para a infração penal: nesse
caso, o juiz verifica que há prova evidente nos autos de que o réu é inocente;
V. Não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal: nesse
caso, o magistrado observa que não há provas contra o réu;
VI. Existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de
pena ou se houver fundada dúvida sobre a sua existência: são circunstân-
cias que excluem o crime: a legítima defesa; o estado de necessidade; o estrito
cumprimento do dever legal; e o exercício regular de direito. São causas que
isentam o réu de pena: descriminantes putativas; erro de proibição inevitável;

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coação moral irresistível; obediência hierárquica à ordem não-manifestamente
ilegal; inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incom-
pleto; e embriaguez fortuita completa. Por fim, o réu poderá ser absolvido por
esse motivo mesmo que haja dúvida sobre a existência de circunstâncias que
excluam o crime ou de causas que isentem o réu de pena;
VII. Não existir prova suficiente para a condenação: o juiz absolverá o
réu por esse motivo quando a prova dos autos se revelar frágil, impondo-se a
absolvição em razão do princípio in dubio pro reo.
A absolvição do acusado gera os seguintes efeitos, classificados como prin-
cipais e secundários.
A liberdade do réu é efeito principal da sentença absolutória própria (absol-
vição sem imposição de medida de segurança), sendo irrelevantes: seus ante-
cedentes; a circunstância de ter ou não transitado em julgado a decisão absolu-
tória; e a natureza do crime pelo qual foi processado. Por isso, o réu deverá ser
posto em liberdade se estiver preso mesmo em caso de recurso da acusação,
como dita o art. 386, parágrafo único, inciso |, do CPP C/C art. 596 do CPP).
No caso de sentença absolutória imprópria, duas situações poderão ocorrer:
1) se o indivíduo, inimputável ao tempo do fato, esteve solto durante a instrução,
assim deverá permanecer até que a sentença transite em julgado e inicie-se a
execução da medida de segurança. Se, nesse momento, a internação mostrar-se
necessária, O juiz deverá fazê-lo obedecendo ao art. 319, inciso VII, do CPP; 2) se,
contudo, no momento da sentença já estava internado, assim deverá permane-
cer, a menos que se constate não ser mais necessária a internação incidental.
São efeitos secundários da sentença absolutória: levantamento do sequestro
incidente sobre bens do acusado supostamente adquiridos com o produto da
infração penal (art. 131, inciso Ill, do CPP); cancelamento da hipoteca legal e do
arresto determinados sobre o patrimônio lícito do acusado (art. 141 do CPP);
restituição integral da fiança (art. 337 do CPP); e impedimento da propositura de
ação civil de indenização quando fundada a absolvição em excludentes de ilicitu-
de (art. 65 do CPP) ou no entendimento do juiz de que comprovada a inexistência
do fato ou de que o réu não concorreu para a infração penal (art. 935 do CC).
Sentença penal condenatória
Para a condenação do réu, deve haver prova plena sobre a autoria e materia-
lidade do delito imputado ao réu, devendo a dúvida ser utilizada em seu favor.

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Assim, a sentença penal condenatória é aquela que responsabiliza criminalmen-
te o réu por infração a uma norma penal incriminadora e, consequentemente,
lhe impõe uma pena (privativa de liberdade, restritiva de direitos ou multa).
São efeitos penais principais da sentença condenatória transitada em jul-
gado: a inflição da pena e a inclusão do nome do réu no rol dos culpados. En-
tretanto, é possível, antes do trânsito em julgado, a execução da pena imposta
na sentença, desde que: o réu já esteja preso preventivamente; a pena seja
privativa de liberdade; e apenas a acusação recorra da sentença.
São efeitos extrapenais genéricos da sentença condenatória, isto é, aplicá-
veis a todos os casos: a obrigação de reparar o dano (art. 91, inciso |, do CP);
a perda, em favor da União, dos instrumentos utilizados na prática do crime,
desde que consistam em objetos que estejam em situação de ilegalidade nos
instantes que antecederam a prática da infração (art. 91, inciso Il, alínea a, do
CP); e a perda, em favor da União, do produto do crime, de qualquer bem ou va-
lor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso
(art. 91, inciso Il, alínea b, do CP).
São efeitos extrapenais específicos da sentença condenatória, isto é, que
dependem de declaração fundamentada na sentença condenatória:
Perda do cargo, função pública ou mandato eletivo, quando apli-
cada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a
um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação
de dever para com a Administração Pública, assim como na hipó-
tese de condenação pela prática de qualquer outro delito, quan-
do for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior
a quatro anos (art. 92, |, do CP); Incapacidade para o exercício
de pátrio poder (poder familiar), tutela e curatela, no caso de
condenação por crime doloso, punido com reclusão, contra filho,
tutelado e curatelado (art. 92, Il, do CP); Inabilitação para dirigir
veículo quando utilizado como meio para a prática de crime do-
loso (BRASIL, CP, 1940, art. 92, III).

Além disso, a CF determina outros efeitos que a condenação traz, quais


sejam:
* Suspensão dos direitos políticos após o trânsito em julgado da sentença
condenatória até o cumprimento integral da pena (art. 15, inciso Ill, da CF);

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* Impedimento à naturalização (art. 12, inciso Il, alínea b, da CF);
* Submissão do oficial, condenado à pena privativa da liberdade superior a
dois anos, a julgamento de indignidade do oficialato ou incompatibilidade (art.
142,8 3º, inciso VIl, da CF).

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Sintetizando e
Nessa unidade de aprendizagem, estudamos o procedimento de apuração
dos crimes dolosos contra a vida que são processados perante o rito do Tribunal
do Júri, que é dividido em duas fases.
A primeira é muito parecida com o rito ordinário e começa após a apresen-
tação da inicial acusatória, que será conclusa ao juiz para recebê-la ou rejeitá-la
liminarmente. Caso o juiz a receba, determinará a citação do réu para responder
à acusação. Apresentada a resposta, o juiz dará prazo à acusação para manifes-
tar-se acerca dos argumentos e documentos ali expostos. Ato contínuo, o juiz
aprazará a audiência, onde serão ouvidos o ofendido, as testemunhas e o perito.
Poderá, ainda, ocorrer acareação ou reconhecimento de pessoas e coisas. Após
isso, O réu será interrogado, acusação e defesa farão os debates orais e o juiz
decidirá se: pronuncia o réu e o envia para o julgamento na segunda fase; im-
pronuncia o réu e determina o arquivamento dos autos; desclassifica e envia os
autos para o juízo comum; ou absolve sumariamente o acusado.
Na segunda fase, o réu será submetido a julgamento pelo Conselho de Sen-
tença (juízes leigos) formado por sete jurados que decidirão acerca da culpa ou
inocência do réu. O juiz que receber o processo para a segunda fase dará prazo
às partes para apresentarem documentos, requererem diligência e apresenta-
rem rol de até cinco testemunhas. Concluídas as diligências, o juiz designará dia e
hora para a sessão de julgamento. Na sessão plenária, após conferir as cédulas e
confirmar a presença de ao menos 15 jurados aptos a serem sorteados, realizará
o sorteio dos sete jurados que comporão o Conselho de Sentença. Após isso,
orientará os jurados e instalará a sessão. Instalada a sessão, da mesma forma
que na primeira fase, serão ouvidos o ofendido, as testemunhas e o perito. Pode-
rá ocorrer acareação ou reconhecimento de pessoas e coisas e, após isso, o réu
será interrogado. Ato contínuo, acusação e defesa passarão aos debates, réplica
e tréplica e o juiz questionará se os jurados estão prontos para votar. A votação
ocorre em sala secreta e valerá a decisão da maioria. Por fim, baseado na decisão
da maioria dos jurados, o juiz prolatará a sentença.
Além disso, estudamos os atos jurisdicionais, que se dividem em: senten-
ça; decisão interlocutória; e despacho de mero expediente. Vimos que o des-
pacho visa dar impulso ao processo, não tendo nenhum conteúdo decisório.

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Já a decisão interlocutória tem conteúdo decisório e é utilizada na resolução
de questões incidentais. Podem, ainda, pôr fim a alguma fase do processo ou,
em certos casos, ao próprio processo. Por sua vez, a sentença tem conteúdo
decisório e é prolatada após o fim de todos os atos do processo.

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DIREITO PROCESSUAL PENALII O

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