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ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: a abordagem sócio-históricr
SÍlvio Duarte Bock

Capa: DAC
Prcparaç'õo de originais: Carmen T. da Costa
Revisdo: Liege Marucci
Conrposiçõo: Dany Editora Ltda.
Cortrdenação editorial: Danilo A. Q. Morales

lndice

Goa(n út4 065 Apresentação .............. 11

1"5
Introdução
,(
o
.(
J3t Y02,
1. RETOMANDO A HISTÓRIA DA ESCOLHA PROFISSIONAL 19
ri

T 2. AS TEORIAS EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL........... 27


()
rü oalr: Sl:Q { v, Teorias não-psicológicas......... 27
ô
Teorias psicológicas..........-...... 28
z
Teoria traço e fator.......... 29

Teorias psicodinâmicas.....-....... 32

Teorias desenvolvimentistas.. 33

Teorias decisionais 36

Teorias gerais 37

Ncnhurna parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada senl autorizaçào 3. UMA NOVA CLASSIFICAÇÃO DAS TEORIAS EM ORIENTAÇÃO
cxprcssa do autor e do editor. PROFrSSrONAL............. 41'

() 2002 by AutoÍ Teorias tradicionais (abordagem liberal) 4C

Ilircitos para esta ediçào Teorias críticas 49

Teorias para além da crítica..


(.()RTIIZ IJDITORA 67
t{rur Montc Alcgrc, 1074 Perdizes
05014-001 Sf,o Parrlo SP A abordagem sócio-histórica 67
'Í1.1.: (ll) 31t64-01 ll
[;ax: ( I l) 38ó4'4290
11,»rtil: coricz«0sortczctlitorll.conr.br
www.cortczeditt)Íll,cotlt, hÍ 4. A pRoPosrA DE oRIENTAÇÃo PRoFISSIoNAL NA ABoRDAcEM

lutprcnso no llru*il I'cvucirt) (lc l0ll


sócro-HtstÓmcn 77
oRTENTAÇAO PROFTSSTONAL oRTENTAÇAOPROFTSSIONAL 7

A aproximação do indivíduo com as profissões 77 Famflia L6L


Descrição do programa ................ 83 Mercado de trabalho 160
Módulo I O significado da escolha profissional...........
- 83 Vestibular 1.61.

MóduloII-Otrabalho 94 Categorias específicas da escolha no final do programa...... 1,62

Módulo III
- Autoconhecimento e informação Valores 1,62
profissional ................. 96 Informação profissional................. .. 1.66
5. MÉToDo 105 Sociedade 1.69

Os orientandos............ 10s Sobre a escolha profissional atual 170


Critérios de escolha dos sujeitos orientandos .................... 105 8. CONCLUSÕES.......... 175
Caracterização dos sujeitos orientandos ................. 106
Bibliografia ................ 183
Procedimento de coleta de dados 108
Dados dos documentos......... 109
Dados das entrevistas ........... 110
Análise dos dados 112

6. RgSUTTaDOS: A ESCoLHA DoS SUIEIToS, DA PRIMEIRA SESSÃo


À nxpnRIÊNCrA PRoFrssroNAL 115

Quadro geral da situação de escolha 11s


As opções profissionais apontadas na primeira sessão........ 1.19
As opções profissionais apontadas na última sessão 121.
Seis anos após .......... 129
Trajetória profissional dos cinco sujeitos entrevistados... 130
Qualificação da escolha ................ 132
't42
Questões do programa .................

7. »rscussÃoDosRESULTADos................. 155

- entrada e saída do1,56


Categorias comuns aos dois momentos
programa que qualificam a escolha do sujeito
-
Experiência escolar e escolha profissional .......................... 156
Expressão das características individuais
(autoconhccimento) .. L57
oRIENTAçAO PROFISSIONAL

APRESENTAÇAO

ocampo da orientação profissional tem sido historicamente


marcado p"1o ,u, caráter conservador' De um lado, sua própria
denominação sugere uma relação assimétrica entre zujeitos: um que
supostamente ocuPa uma condição superior e orienta; outro' tam-
bém supostamente, em condição inÍerior, que é orientado. Embora
essa relãção Possa ser rompida, dependendo da forma
como o Pro-
cesso de orientação é conduzido, não é incomum que, nesse
cam-
po, a assimetria se faça presente. De outro lado, o caráter conserva-
ào, ,u maniÍesta nos próprios objetivos da ação orientadora: criar
as condições Para que os orientandos se insiram, de forma
adequa-
questionar o con-
da, no mercado de trabalho, sem necessariamente
texto social, político e econômico que o produz e que produz tam-
bém, juntamente com as determinações de ordem cultural, as con-
não,
dições nas quais as escolhas pessoais, de caráter profissional ou
são realizadas.
Felizmente o próprio campo tem sido caPaz de defrontar-se
É nesta
com esse quadro e'práduzir alàrnativas que ó oxigenam.
categoria qr" r" insãre o trabalho que, há anos, vem sendo tealíza-
do pãr Silvio Bock, trabalho esse que acompanho, ainda que de lon-
ge, mas não tanto que não me permitaperceber avanços no
interior
ãa proposta inicial que pude acompanhar, neste caso de muito per-
to, desde o tempo qrr" era realizada na Fundação Carlos Cha-
"*
os esforços para aprimorá-la não têm significado Para o autor,
15as.
13

OruentnçRO rROrtSStot'tlt-
oRTENTAÇAO PROFISSIOML

se propôs em sua
mas a Pararcalizar o Processo investigativo a que
simplesmente uma preocuPação de caráter instrumental' dissertação, o autor realizou o estudo
de um dos grupos que ha-
jovens se defrontam
busca constante da compreãnsão de como os viam se submetido, seis anos antes' ao programu
qy" criou' valen-
profissional, ainda que pelos próprios in-
com inquietações qrr".ráo além da escolha do-se, pata tal, de registros formais produzidos
de orientação' de ano-
estaseaPresentecomoomotivoimediatodessasinquietações.Tal
teórico' tegrantes do grupo õ*o parte do pio""tto
busca conduziu-o a questionamentos de caráter ta[Oes inform"ais-do,
das discussões de grupo e de
a meu "oo.à"rradorei Com base nas informa-
O livro que ora tenho o Ptazet de apresentar reflete' entrevistas realizadas com os participantes'
caminhar e o faz que o Pro-
ver, tal postuia do autor. Nele sintetizatmlongo essa forma, Procurou analisar o papel
ções colhidas por de decisão pro-
claras e opera- em termos
de modo a oferecer ao leitor não apenas informações grama representou Para o' pu'titipuntes
cionaissobreoProgramadeorientaçãoprofissional.quevemreali- fissional.
sucessó há u,,ot, mas também seus fundamentos
teóri- contribuiu po-
zando,com Tal análise levou-o a concluir que o ploglama
pelos participan-
coseumaavaliaçãocuidadosadeseusresultados.Submete-o/aS- sitivamente para o processo de escolha realizado
seu' mas de
sim, a um questionamento crítico que não é apenas tes.Essaconclusãoresultoumenosdeelesteremfeito,,opçõesacer-
de orientação ou de terem
seuscolaboradoresedaacademia,postoqueolivroresultadesua tad.as" após o envolvimento no processo
dissertaçãodemestrad.onaUnicamp.Nessesentido,contribuipara semantido"fiéis"aelasapósumperíododeseisanos'emaisda
conside-
campo que' na
o preenchimento de uma lacuna importante em um verificação de que as decisões tomãdas assentatam-se
"de interven- de determinações das escolhas
.rrro ele próprio diz, tem sido abordado mais como raçáoe exame de um número maior
do processo e' mais
ção profissional do que
como área de estudo e investigação"' do que aquelas que identificavam no início
de uma aborda- importante,namelhoriadaqualidadedessasconsiderações'Dois
O programa desenvolvido pelo autor vale-se autor quanto à dimensão
a quaf para além de elementos principais são destãcados pelo
gem teóiic" q"" denomina de sócio-histórica' de os participantes da-
funda na con- qualitativa. O primeiro diz respeito ao fato
ãliohur-r" à crítica da orientação profissional que se merca-
cepção liberal de indivíduo e da sociedade' parte
do suposto de à--r" conta de que tanto as habilidades humanas quantoemo perma-
e, portanto'
do de trabalho são construções históricas
que"ossereshumanossãomultideterminados,masdetentores,ao refere-se à valorização que estes
nente reformulação. O segundo
,n"r-otempo,dapotencialidade,socialmenteconstruída'dein- pelo programa' mais
Íazê-lo emprestaram ao Processo Ãflexivo estimulado
terferir nas condiçáes históricas em que vivem' podendo momento histórico em
ao que às própriãs d'ecisões tomadas' Num
comoobjetivodemantê-Iasoumodificá-las.EsseenÍoquepermite tantas as incertezas, em que as carreiras
profissionais estão
profissional, que que são
que silviâ Bock afirme, em termos da orientação sofrem mudanças sig-
realizar_escolhas, em questão, em que o trabalho e a sociedade
não há nem plena liberdade dos indivíd.uos Para jovens podel aprender a
aittda' ProPor nificativas, é estimulante verificar que os
nem plena determinação social destas' Permite-lhe ' conviver reflexivamente com os deiafios com que são
defrontados.
a
,* prog.rma de orientação que, sem secundarizar Preocupação
a atenção na aqui- Celso loão Ferretti
dos jovens com suas opções piofissionais' centra
siçãodeinformaçõeseconhecimentosenareflexãosobresiesobre novembro de 2001
seus valores, de tal forma que desenvolvam'
no limite de suas pos-
sibilidades,consciênciadasdeterminaçõesdasopçõesprofissionais
a clue se ProPõerr cxaminar'
INTRODUçAO

TNTRODUÇAO

Este livro procura trazer uma contribuição Para aáteada orien-


tação profissional, que tem se constifuído, nos últimos tempos, mais
.*o.r*po de intervenção profissional do que como área de estu-
do e invesiigação. Aos olhos do autor, apresenta-se como atividade
em que se usa mais o bom-senso, quando ele existe, do que uma
prática com fundamentação consistente e coerente' A literafura atual
ãspecífica d,a áreaé relativamente pequena. Algumas são obras te-
óricas surgidas na década de 1990 baseadas na abordagem clínica
de Bohoslãv sky (1927);Soares (1957);Muller (1988); Carvalho (1995);
Levenfus (19g7).outras obras são de divulgação de técnicas de in-
tervenção para especialistas: Lucchiari (1993); Lassance (1999); Lis'
boa & Soaies (2000). Algumas publicações se destinam diretamen-
te aos orientandos no sentido de auxiliá-los na decisão proÍissio-
nal: Soares (1988); Rappaport (1998);Spaccaquerche (1999); Lehman
(1ggg). Por fim, r,or últi-os tempos têm aparecido algumas obras
de economistas e sociólogos que buscam esclarecer a situação atual
e as tendências do mercado de trabalho arriscando sugestões de
como enfrentá-lo: Kupstas (1997);Whitaker (1997); Macedo (1998);
Pochmann (2000) e Schwartz (2000)1.
O autor vem desenvolvendo atendimentos na área da orienta-
r,:ão profissional desde 1981, quando projetou e implantou um Pro-

1. Observação: não se estão inserindo as obras que foram objeto


de análise nos capítu-
Ios posteriores.
rrrnoouçlo l1
l6 ORIENTAÇAO PROIISSIONAL

Em seguida apresenta-se o Programa de orientação profissio-


grama de orientação profissional na FundaçõO c.ârlos clhagas. cons-
nal a que foram submetidos os sujeitos desta pesquisa (capítulo 4).
tituindo-se como serviço, nunca foi objeto clc arriílise rigttrosa, ape-
O capítulo 5 é dedicado à apresentação da metodologia empregada
sar das avaliações realizadas com cada gruPo ilo soLl íirral. Na Fun-
paÍa a realização da investigação.
dação Carlos Chagas, foram desenvolvidos 52 Ílrurp()s c<tn797 par-
ticipantes. No Nace,2 foram desenvolvidos ató o nromento (agosto O capítuio 6 apresenta os dados coletados, e o 7 desenvolve
de 2001) 72 grupos com 730 participantcs. Não t:stãO computadas uma discussão a respeito dos resultados encontrados.
as peSSoaS atendidas individualmente ou clll otttros loci'tis, como Por fim, procura-se estabelecer algumas conclusões a respei-
escolas e empresas. to da importância do programa de orientação profissional para
Nesta obra, interessa aprofundar a con-rprcctlsão d() fenômeno seus sujeitos e avançar na compreensão do processo da escolha
da escolha profissional, bem como verificar a corrtribuição do pro- profissional.
grama de orientação profissional na construção das clccisões de seus Este livro é uma versão modificada da dissertação de mestrado
participantes. apresentada na Faculdade de Educação da Unicamp em fevereiro
O autor tem claro o limite das conclusões cluc porvcntura pos- de 2001.
sam ser assumidas em virtude da origem social classc média
- -
do participante que usufrui o serviço oferecido e quc foi investiga-
c1o. Entretanto, acredita que possam contribuir Para a construção
de projetos específicos que atendam aos diversos gruPos
socioeconômicos interessados na questão, bcm como somar na es-
fera teórica da área.
Segue-se uma síntese da organização do presente livro'
Inicialmente, busca-se alinhavar as teorias existentes, a partir
de uma taxionomia tradicional na área (capítulo 1). Entende-se que
esta classificação contém armadilhas ideolílgicas importantes, ao
dicotomizar indivíduo/sociedade, como variáveis de análise do
sentido e do processo das escolhas profissionais. Por isso, avança-
se uma nova classificação, que pretende superar criticamente a
taxionomia antes utilizada: teorias tradicionais, teorias críticas e
teorias para além da crítica (capítulo 2). Nesta última, em que se
localiza o presente trabalho, busca-se uma fundamentação da abor-
cia gem "sócio-hist órica" aplicada à orientação profissional-

2. Nacc orientação vocacional e Redação (Nace originalmente era uma sigla: Nú-
-
r.k,o rlt' Atcnclimento e consultoria em Educação) é o nome da instituição dirigida pelo
,rrrt6r, pprlr', dcsdc 19U8, vetn atuando, especificamente na área da orientação profissional,
lnr li,r r r
|
)r )s t' irrcl ivitltlalnrctrtc.
RETOMANDOAHSTóRN DAESCOLHA PROFISSIONAL

RETOMANDO A HISTORIA DA
ESCOLHA PROFISSIONAL

A questão da escolha de uma profissão ou ocuPação não se


constitui como um problema universal da espécie humana. Isto é,
só recentemente, levando-se em conta a história da humanidade,
os homens se colocam a questão "do que fazet para alcançar sua
sobrevivência". Os ancestrais da humanidade viviam para sobre-
viver ou sobreviviam para viver, isto é, seu trabalho otganizava-se
como atividade de coleta e mais tarde de caça, e não havia muita
diferenciação de funções, a não ser aquelas determinadas pelo sexo
e, conseqüentemente, causadas pela especificidade orgânica na re-
produção da espécie.
A vida tribal, como pode ser verificada até hoje nos descen-
dentes destes primeiros humanos que mantiveram e Preservaram
suas culturas, não prevê e nem pressupõe atividades e oflrPações
distintas entre seus membros, havendo apenas uma hierarquia no
que se refere aos assuntos de guerra e aos cuidados com a saúde,
funções que são exercidas por questão de bravura e/ ou idade avan-
çada e que alcançam grande respeitabilidade entre os
indivíduos
da comunidade. De fato, a caça é atribuição dos homens, pelo vigor
físico e possibilidade de deslocamentos ágeis que Possuem, uma
'].t
RETOMANDO A HISTORIA DA ESCOLHA PROFISSIONAL
oRTENTAÇÁO PROFISSIONAL

também o Íazíam,mas, [...] por dependerem de outrem, por não sub-


vez que as mulheres estão encarregadas tlo cr.riclado dos filhos' sistirem senão servindo outrem. Nesse tempo, não era o trabalho quc
Logicamente, deve existir entre eles os miris hiíbcis, lllas clue cons- estava desacreditado; era a dependência, a obrigação de servir - dc
trúam tal habilidade pelo exercício e peltr prática c quc acabam que o cristianismo fará um dever de honra - que era considerada
tendo a função de ensinar aos outros a melhor frlrrna clo desempe- inaigna do homem. É por isso que o cultivador pobre' penando so-
nho daquele trabalho. Às mulheres, dependendo clo cstágio
"civili- bre o seu árido campo, 'alimentando-se com custo" mas indepen-
zatório,l de seu grupo, cabe a função da agricultttrir, irtividade se- clente, será glorificado por muito tempo, mais do que o artesão' tl
dentária que permite a composição do trabalhO Para a sobrevivên- poeta ou o artista, cuja subsistência depende de um mestre ou de um
cliente generoso." (Jaccard, 7974l. 65)
cia com a necàssidade de cuidar dos filhos. Dcprccnclc-se daí
que,
nesta situação, não há possibilidade e nem neccssiclade de grandes
Independentemente de o trabalho ser ou não valorizado, per-
escolhas no que se refere ao desempenho de funções' tanto para
a
cebe-se qr" u discussão não dizia respeito à atividade em si. A
for-
sobrevivência material ou não.
ma como se dava a luta pela sobrevivência não dependia de esco-
Na Grécia antiga, a atividade humana valtlrizircla cra o ócio, a lhas. Ao contrário, as condições estavam estabelecidas
contemplação, queãra exercida pelos cidadãos livres; . trabalho aprioristicamente pela estrutura da sociedade e a forma como ela
de pro-
era a atividade dos homens não-livres que tinham a função se organizava.
drzir a existência material.
Avançando na história, temos, na Idade Média, especificamente
"Para os grandes filósofos gregos, e espccificamcntc para Platão e r.ro feudalismo, a ocorrência do mesmo fenômeno. A sociedade
Aristóteles, o trabalho era uma atividadc cxclttsivamcnto física, que estratifica-se em camadas sociais nobres, clérigos, senhores e
-
sereduziaaoesforçoquedeviamfazcrasPcssOaSParaasse8urar vassalos e uns devem obrigações Para os outros' Os primeiros
seu sustento, satisfazer suas necessidadcs vitaris c rcproduzir
sua força -,
têm o compromisso de proteção e segurança, além de arrendarem a
Era uma
de trabalho (circunscrita a sua dimensão meramentc física). terra; os outros, a provisão do sustento material (produção de ali-
atividade considerada pelos demais não somente como penosa' se- rrrentos, bens e utensílios). A condição de classe é dada pela cir-
não também como degradante, que não era valtlrizada socialmente
e
cunstância do nascimento, caso a Pessoa seja de uma família clt'
quesejustificavaemúltimainstânciapeladcpcndêrrciaclueosseres
nobres ou de plebeus. A posição na sociedade e mesmo a ocupaçãtr
hr*rrro, tinham com respeito às suas necessidades'" (Neffa' 1999:
são transmitidas de pai para filho, como se fosse uma determitrrr-
130, tradução nossa, do esPanhol)
ção divina. O trabalho, neste modo de
produção, visa o sustenttr
clas pessoas, ou melhor, não tem em mira o mercado, que nessc
Por conseqüência, ser cidadão, escravo, artesão' Pequeno cam-
ponês ou trabihador manual não dependia de q"lqy:'tipo
de tempo aPenas começava a se desenvolver' A produção' tanto c-lt'
cscolha, mas da condição de classe da família do indivíduo,
ou de alimentos como de outros bens, tem como objetivo manter a colrltl-
irr'orclo com as vitórias ou derrotas nas guerras' Mas, segundo Pierre nidade, e o aumento do poderio dos gruPos se dá por meio de gucr-
f ircc-arcl (7g74),não
era o trabalho que era desvalorizado nesse tem- ras de expansão, pois a medida de riqueza é a extensão da terrrr' t'
não o ,ro1r*" de mercadorias acumuladas ou a quantidadc clt'
l)o, nrits a condição de dependência:
c1 ir-rheiro entesourado.
"1... I a corrtlição do assalariado livre não valia mais do que a do ser- Com relação a este estágio de desenvolvimento cltl socit'clirtlt',
Vo; iIill)os t.ritr.rr clcsprczados e quasc sempre miseráveis.
Por traba- tlos
senhorcs tar-r][rém não sc p-roclt'falar em escolha de profissã() fr()r Pitrtc
llr,tt','ttt l)()r:itlils llrãos? Nãtl, portltlc rts cleuses' os reis e os
oRr ENÍAÇAO PROFTSSTONAL RETOMANDO A HISTORIA DA ESCOLHA PROFISSIONAL

,uicitos. A estrutura social está cristalizacltr c clt'tcrntilrir o que cada A escolha profissional só assume relativa importância quan-
rm vai fazer, seu prestígio social e poder. A força cla Igreia, princi- do, de forma definitiva, instala-se o modo de produção capitalista.
rirlmente a católica, é enorme e dá respaldo, ttssit-t-t c()l)r() legitima a A passagem do feudalismo para o capitalismo marca mudanças
rrclem social, reafirmando que tudo acontccc p()r vt»ttirc-le divina. importantes e profundas no modo cle produzir e reproduzir a exis-
)s laços de sangue, portanto, são explicaçõrcs clttc iustificam a es- tência humana. Segundo Braverman (1981: 55), a nova ordem so-
rutura da sociedade; não há mobilidade social, (: as ()cupações e cial, engendrada pelo capitalismo, só aparece quando algumas ca-
arefas são transmitidas familiarmente. Filhos clc nolrrcs serão no- racterísticas fundamentais dominam o processo de produção: em
rres,filhos de servos serão igualmente vassalos. primeiro lugar, o trabalhador é totalmente alijado da propriedade
de todos os meios de produção que poderiam garantir sua subsis-
O conceito de vocação que impera é o rcligi()s() seria um
-
:hamado divino que impõe uma missão paÍa os inclivíc1uos. A or-
tência. Neste sentido, só poderá alcançar sua sobrevivência se ven-
der sua força de trabalho para os proprietários dos meios de produ-
lcm social é determinada pela "vontade de Detts" e por isso não
rode nem deve ser questionada. O trabalho aincla cí col-tcc'bido como ção, e isto ocorrerá apenas se ele perder todas as possibilidades de
sobreviver de forma autônoma.
rtividade para a manutenção e reprodução da cspócic; produz-se
'rrrra sobreviver, mesmo que a ordem social scja injustar, arutoritária Em segundo lugar, passa a ser fundamental que o trabalhador
seja livre de todo tipo de relação jurídica que o prenda a qualquer
r violenta. A divisão do trabalho ainda é de pequenas climcnsões, e
rs trabalhadores devem ter conhecimentos e habilidades para cum-
modo de servidão, ou seja, não existem mais servos e senhores e,
juridicamente, todos agora podem dispor de sua força de trabalho
rrir com quase todas as tarefas necessárias para o descnvolvimen-
como quiserem. O trabalhador agora é livre e tem direitos iguais
o do trabalho que, em última instância, significa sobrevivência.
para vender sua capacidade de trabalhar.
"Praticamente toda a alimentação e o vestuário dc cltre o povo prcci- E, em terceiro lugar, agora o principal objetivo do trabalho (pro-
sava eram obtidos no feudo. Nos primórdios da socicdade feudal, a dução) não se constitui mais na satisfação das necessidades huma-
vida econômica decorria sem muita utilização do capital. Havia uma nas; conseqüentemente, passa-se a produzir para o mercado, vi-
cconomia de consumo, em que cada aldeia feuclal era praticamente sando o incremento da unidade de capital empregado (lucro), ca-
auto-suficiente. ... O servo e sua família cultivavatl scu alimcuto e racterística fundamental desse modo de produção.
c()m as próprias mãos fabricavam qualquer mobiliário de clue neces-
sitavam. O senhor do feudo logo atraía à sua casa os servos que se "Indivíduo e sociedade só se diferenciam claramente no capitalis-
rlcmonstravam bons artífices, a fim de fazer os objetos de que preci- mo. Tal diferenciação, é lógico, defende determinados interesses, no
sirvir." (Huberman, 1986: 77) sentido de reafirmar a nova ordem constituída. Aburguesia, enquanto
classe revolucionária na época, lutando contra a velha ordem, de-
( )s mcios de produção, nesse período, são de propriedade indi- senvolvia a tese de que todos os indivíduos são iguais e que, por
,,irlrr;rl tlt'crrcla trabalhador, que é dono de seus instrumentos de tra- isso, deveria existir liberdade (de escolha). Lutava, assim, contra o
,,rllro, rlos 1r[ictos extraídos da natureza que sofrerão transformação clero e a aristocracia que defendiam a perpetuação do regime feu-
', por lirrr, rlos produtos de sua ação, portanto de seu trabalho, que dal, do qual eram beneficiários." (Bock, S., 1989: 15)
,,r,i,.lrrrcrrlt. st'rií clividido com seu senhor. A terra, segundo
Irrlrlnrr.rr (l()l"iír: I l), cra cle propriedade da nobreza e do clero, que Deste modo, só vemos avançar as teorias e as práticas na írt'ir
r ,r rr'rr,l,rr',r ,ros st'rtlr«rrt's, (lLrc/ Lr()r suir v(rzl a arrendava aos servos. tla oricntação profissi«rnal, no modo capitalista de procltrç.r() (lu(',
RETOI4ANDO A HISTORIA DA ESCOLHA PROFISSIONAL
ORIENTAÇAO PROFISSIONAL

mais tarde, na chamada Revolução Industrial, irrtrocluzftá a divi- Portanto, a questão da escolha proÍissional não pode ser con-
são técnica do trabalho. É nesse momcnto (luc ir (luestão da seleção siderada um problema natural e universal dos seres humanos' A
e, por conseqüência, a escolha profissiontrl, prirssalr a ter importân- idéia da liberdade de escolha profissional constitui-se em dada base
cia, uma vez qúe passa a prevalecer a ic1óia clo homern certo no material, o capitalismo, que recoloca a temática do trabalho Para
lugar certo, visando maior produtividadc. A iclcologia que dá su- além da mera sobrevivência pessoal. A rigor, só se pode falar em
porte a este novo modo de produção é a lilrcral, rluc alcança sua opção num caso em que a Pessoa não mais pode sobreviver de for-
maior expressão na Revolução Francesa liberclaclc, igualdade e ma autônoma e por isso precisa vender sua força de trabalho. A
fraternidade.
- idéia de que a pessoa escolhe seu caminho a partir das condições
em que vive e em função de suas vontades e aptidões só ocorre
"A posição do indivíduo no capitalismo não ó mais dcterminada, nesse momento.
[...] pelos laços de sangue. Agora, esta posição rí cor-rr'luistada pelo A análise das teorias em orientação profissional será desen-
indivíduo segundo o esforço que despcnclc para alc:irnçar esta posi- volvida dentro desse prisma, isto é, entendendo que a escolha pro-
ção. Se antes esta posição era enter"rdida e rn frrnção das lcis naturais fissional é um fenômeno determinado, que ocorre a partir de dado
referendadas pela vontade divina, ag()ra, arl contriírio, o ir-rdivíduo
momento na história da humanidade.
pode tudo, desde que lute, estudc, trabirlhc, sc esforcc, c também
(por que não?) seja um pouco aquinhoaclo pcla sorte." (Bock, S.,
1989: 15)

O conceito de vocação muda. Afinal, não sc pocle meris utilizar


a idéia de que "Deus quer que a socicdadc scia assim", como se
faziano modo de produção feudal. A revolução burguesa pregava
a idéia da igualdade entre os homens; como, então, passa-se a en-
tender as desigualdades entre os seres humanos numa sociedade
que questiona a visão da determinação religiosa? Para justificar es-
sas diferenças encontradas no seio da sociedade desenvolve-se o
conceito de vocação biológica. Agora o orgânico explica as diferen-
ças individuais e sociais. O ser humano nasce com atributos especí-
ficos que, se encontrarem expressão na realidade, localizam o indi-
víduo na estrutura da sociedade e da mesma forma que servem
para justificar o fracasso.

"Se um indivíduo'não vida' (não obteve, segundo os


se deu bem na
parâmetros da sociedad e, riqueza, prestígio, poder, etc.), a justifica-
tiva para tal gira em torno da má escolha de sua profissão, portanto,
da não identificação de sua'verdadeira vocação', ao invés de se pro-
ccclcr a uma análise da realidade socioeconômica para entender a
sitrraçã«rf ... l" (Bock, 5., 7986a: 173)
AS TEORiAS EM ORTENTAçAO PROF|SS|OML

AS TEORTAS EM ORTENTAÇAO PROF|SS|ONAL

Uma sistemattzaçáo teórica Íaz-senecessária para sifuar o que


hoje se entende por orientação profissional. vários autores brasilei-
ros utilizam a classificação elaborada por Crites,3 que agrupa as teo-
rias na área de orientação profissional em três grandes brocos, de-
nominadas por ele: 1) teorias não-psicológicas;2) teorias psicológi
cas/ e; 3) teorias gerais. Será apresentada uma breve abordagem dos
três grupos para, posteriormente, apontar por que não se utiliza
essa classificação.

=T:rT',f e,pliç_elóg'cas

As teorias não-psicológicas entendem que a escolha proÍissio-


nal do indivíduo é causada por elementos externos a ele
Guor& !q
aci{spJ-g, teoria ec9-1ômi9g; tg_o-r!4_çUllgtA! es_o-ciol"ógica). São teo-
que dêscíevem o piocesso de inserção das pessoas no trabalho,
'rias
mas que não vislumbram qualquer papel ativo para o sujeito; por-
tanto, .{esçglllr a possibilidade de "orientabilidlde_,, do processo,
entendendo esse termo como possibilidade de o indivíduo planejar

3. Citado por Pimenta (1979:26), por Ferreti (19BBa 27) e por Silva (1996: 25).
oRtENTAÇng PROFTS§|oNAL As rEoRrAs EM oRrEtfraçEo rnorssroNn

seu roteiro profissional ou a possibilidade de algum auxflio profis- Teorio troço e fotor
sional para ajudar no processo. As forças, quer das contingências,
das leis do mercado (oferta e procura) ou do padrão cultural das A teoria traço e fator é a que dá inicio à área da orientação pro-
famílias, definem invariavelmente a posição e a ocupação do indi- fissional e, como diz Fert 98-8,g) sugere um procedimento ra-
víduo na sociedade. cional e objetivo para a escolha pois pressupõe que:
Segundo Pimenta (1979\, as teorias não-psicológicas, embora
"a) os indivíduos diferenciam-se entre si em termos de habilidades
reconheçam determinantes não-individuais na escolha, acabariam
físicas, aptidões, interesses e características pessoais;
por provocarum sociologismo ou economicismo na orientação pro-
b) as ocupações também se diferenciam entre si, cada uma exigindo,
fissional, "na medida em que tenderiam a apor ao fenômeno da
para um desempenho produtivo, que o profissional apresente apti-
decisão, o esquema científico da Economia e da Sociologia sem, no dões, interesses e características pessoais requeridas pela profissão;
entanto, permitirem ao indivíduo que decide, lidar com estes es-
c) é possível conduzir à compatibilização ideal dessa dupla ordem
quemas" (p.29\ Ou seia seriam forças agindo sobre o indivíduo, de fatores através de um Processo racional de escolha." (Ferretti,
rnas que seriam tomadas como mera explicação e que não seriam 1988a: L8)
operadas pelos sujeitos em qualquer nível.
Opta-se por apresentar eôm rnais minúcias as teorias psicoló- Essa teoria pauta sua ação e dá fundamento aos denominados
grcas/ uma vez que sâo elas que encontram maior repercussão no Iggte§-yaçegqels, que, Por mais criticados que tenham sido e se-
tsrasü sendo que quase todas as práticas baseiam-se em seus pres- jam, ainda Íazemparte do imaginário social, quando o fato é a esco-
supostos. tha da profissão. Acredita-se que as aptidões, os intgresses e os tra-
@sãoinatàs.
A concepção de escolha aproxiúa-se do modelo médico, que
Teori4ls Xqko&&icas
"radiografa" o úeito, analisa os dados coletados e os sintomas,
As teorias psicológicas são as que analisam os deterrninantes rcalTzaum diagnóstico e, por fim, propõe um Prognóstico- Na rea-
internos do indivíduo que explicariam seus movimentos de esco- lidade, o interessado não decide, mas aceita ou não o conselho do
lha. EIe teriqfgpglg$vo (ou parcialmente), e as condições socioe- profissional.
cor,tônrica-eulfurais teriarn uma função secundária no processo. Es- Os instrumentos utilizados em geral mensurÍun as aptidões,
sas teorias que serão alvo de análise por parte dos estudiosos, Ix)r- inventariam ou testam os interesses e descrevem a "personalida-
que pressupõem efEtiva participação do suieito e prevêem (não ne- de" do indiúduo.
cessariarnente em todos os casos) uma afuação de profissionais no O conceito de aptidão, no manual dos testes de aptidões esPe-
sentido de facilitar e/ou dar sentido "científico" ao processo de es- cíficas DAT,U é definido como "condição ou conjunto de caracterís-
colha das pessoas. ticas consideradas sintomáücas da habilidade com que um indiví-
As c}'rarnadas teorias psicológicas serão apresentadas a seglrir,
e, segundo Crites, englobam as vertentes denorninadàs tmria de
4. O teste DAT (DiÍferential Aptitude Tests) foi traduzido e adaptado para o Braall
traço e fatoç teorias psicodinâmicas, teorias desenvolvirnentistas e pelos técnicos do krstituto de Seleção e Orientação Profissional (Isop) da Fundação Gehíllo
teorias de decisão. Vargas, em 1955.
oRIENTAçAO PROFISSIOML AsrEoRtAs EM oRlEuuçÁo enortssoruel

duo (mediante treinamento) pode adquirir conhecimentos, destre- seadoemCattel,eleelaboraaseguintelist4queéexpressaporter-


mos que seriam os opostos d.e uma escala (Santos' L974:67):
zas; conjuntos e reações usualmente especificadas, como a habili-
dade de falar um idioma estrangeiro, de compor música" (Bennet,
seashore & wesman, s/d: 5). Neste manual, critica-se a idéia de Quadro 1
que as aptidões sejam entendidas unicamente como inatas, mas Traços de personalidade

cànclui-se que, para o teste, não importa a gênese de tais caracterís- VS, Esquisotomia
I Ciclotimia
ticas, pois o fundamental é mensurá-las. -
Adaptável, bem humorado, sociável
Retraído, mal-humorado, inflexível

Já Oswaldo de Barros santos, um dos


pioneiros da orientação
"a habilidade natural VS. Rudeza intelectual
profissional no Brasü define a aptidão como II
- Inteligência
Vivo, decidido, comPreensivo Eshipido, preguiçoso, imPulsivo
para determinado gênero de atividade e que depende de muitos
iatores para transformar-se em capacidade teal e efetiva" (Santos, III Estabilidade emocional VS. Emotividade neuróüca
§74:S[).A capacidade, segundo ele, é uma habilidade adquirida a -
Realista, estável, calmo Ambíguo, inconstante, excitável

partir ou não de uma aptidão (p. 54). VS. Submissão


fV Dominância
-
Firme, obstinado, resistente
Modesto, humilde, introsPectivo
"De uma forma geral, sabe-se que as aptidões podem perÍnanecer
ocrrltas e apenas potenciais, quando fatores outros (orgânicos, psico- (surgencY) VS. Melancolia
lógicos e sõciais) não favorecem sua manifestação. Podem, igualmen-
V
- Elação
fovial, plácido, sociável
InÍeliz, preocuPado, isolado
teiser substituídas ou transformadas, sempre que condições psicoló-
gicas imponhirn ao indivíduo condições diferentes de ajustamen- VS. Insensibilidade
to." (Santos, 1974:54)
VI
- Sensibilidade
Idealista, imaginativo, grato
Cínico, caprichoso, ingrato

VS. Rudeza
o definido como "atÍaçáo, preferência,
interesse proftssional é VII
- Socialização
Imprevidente, simples, irresponsável
Previdente, formal, consciencioso
gosto; sentimento de satisfação por determinado tipo de aüvidade.
óua medida implica descobrir o grau com que o indivíduo prefere VIII VS. Imaturidade (dePendência)
essa atividade, ôu um certo gênero de atividades em detrimento de
- Integração Positiva
Amadurecido, Persevelante, leal
Irresponsável desertor, instável

outras, sem implicar, confudo, ação executiva na direção dos inte-


Caridade, temeridade VS. Obstrução
resses existentes" (santos, 1974:4). Segundo esse mesmo autor, os
IX
-
Cooperador, geniaf sincero
Obstrutivo, frio, reservado
interesses tendem a se estabilizar apartir do fim da adolescência e
mantêm-se durante o período da "maturidade"' VS. Caráter vigoroso
apo*
X
- Neurastenia
Incoerente, submisso, sonhador
Desejos Íirmes, dogmático, Prático
Santos descreve viírias formas de conceituat personalidade,
tando que existem desde as fisiológicas até as psicológicas; define-a XI Hipersensibilidade VS. Tolerância à frustração
como uÍn
,,conjunto integrado, dinâmico e funcional, de todos os atri- -
Exigente, inquieto, tem Piedade de
Adaptável, calmo, considera-se Pouco
importante
butos físicos e psíquicos que caractertzamo indivíduo e que o dife- si mesmo

renciam dos demais" (1974:65). Entretanto, para fins de orientação e Ciclotomia confiante VS. Paranóia
XII
de escolha profissional, o autor diz ser mais operacional trabalhar -
llntusiasta, amigável, digno de confiança
Frustrado, hostil. indigno de confiança

com o§ conceitos de traços de personalidade motivos e emoções. Ba-


oRIENTAÇAO PROFISSIO AS TEoRIAS EM oRIENTAÇÃo PRotlssloNAL

Uma pessoa q"" *"1-^^ tlperego s('-


sões altamente competitivas;4'
Para Oswaldo de Barros Santos, r't
suas ocupações; 5' O trabalhaclor
vero pode sentir-se insatisfeita nas
no emprego que escolher' tltr
,,conceituaçãodostlaçosdeperstlrlalitlar.lt'tipirrticularmenteneces- passivo e submisso tem menos êxito
de interpretar a qr" o ,g."rsivo'" (Pimenla' 7979:29)
sária aos orientadores, a fim de clutl st'iittt'l citpllzes
i ud o-se adequadamen-
lin gu agem psicológica, entenden cl tl t'rtl cx p r i tl grande repercussão nas
ott nratlil'csttrções clue' realmente' No Brasii, estas teorias não alcançaram
t" á uir]au, conhecer os aspectos ao contrário da primeira iá des-
Nas etapas de práticas de orlentafão profissional'
possam exprimir reações iípitot clos orit'trtanclos'
e no estudo da crita e da Próxima'5
aconselhamento, na interpretaçâo clos tla,.ftls t'olhidos
o orientador igno-
personalidade do aluno ou orienttltrclo' trão pode
raraexistênciadetraçosque,dt'ttttl'llttrttt;ttltrdcoutra'atuamnos Teorios desenYolYimenttstos
ajustamentos pessoais." (Santos, 197 4: 67)

AsteoriasdesenvolvimentistasSuÍgemapartirde].95(),
traços e fatores' Critica-se a
como alternativa à abordagem dos
Teorios psicodinômicos a defender a con-
idéia de "momento da escãlha"' passando-se
O indivíduo possui tttrr
AsteoriaspsicodinâmicasbuscamcxplicarColTloosindivíduos cepção de desenvolvimento vocacional'
perpassa-o como um todo:
constituem sua personalidade e, POr isso' cottto se
aproximam das ciclo de vid.a, e a questao profissional
debruçam-se sobre os indivíduos desenvolvem-se
vocacionalmente' e este process()
profissões. Funàamentando-se na prsicatrálise'
odesenvolvimentoafetivoSexual,principalrllctrtcnaprimeirain. tlura a vida toda'
da visão evolutivista' divi-
fância, para entender o desenvolvinrenttl clas aptidões,
interesses e Ginzberg el al' (1976), o introdutor
teorias rePlesen-
características de personaiidade. Portanto, cstas deodesenvolvimentovocacionalemtrêsestágios:,lscolhafantil-
"tentativas de escolha" (dos onzt:
tamumaSuperaçãodavisãoinatistadepersonalidade,poiséapartir sia" (infância até os onze anos)'
constituem sua "ràalista"(dezessete anos)' estágitr
da relação dos impulsos com o meio que as Pessoas ;ros dezessete) e, por último, o
cristalizaçãtl t'
individualidade. (lue aPÍesenta as fases sucessivas de exploração'
o autor considera que o Pr()-
Segundo autores colno Pimenta (7979) e Silva
(1996)' os repre- .iup".ifi.ução. segundo Ferreti (1ggga),
de certo modo cessoterminaquandohácompatibilidadeentreinteresses,capitt.i-
sentantes destas teorias realizavam uma aProximação
clades, valores e oportunidades
ocupacionais'
mecanicistadasconcepçõesdeFreucleseguidores'aoestabelece-
afetivas e influente autor dessa vi
rem padrões de persánalidade em função das relações Super (1976),o mais representativo
exigem para seu exercício' clut'
rr
Pimenta' Por exem- são, acredita que 'as ocupaÇões '
mantidas no começo da vida com as profissões'
certa_ vari ec1 a cl t'
plo, citando Meadow, aponta a formulação da relação
de certos ti- i,rlivíduo tenha certas caiacterísticas. Isto permite
rlc indivíduos para cada ocupação"'
A tese fundamental de Supt'r'
pos de personalidade e escolha profissional:
no comer-
"1 . A pessoa independente poderá procurar um emprego
2' Os i'trl'ts, lit t st' t'sl't
.i,, r.,t, cm profissões onde po"u "'"tter liderança e iniciativa; basear-se-nas forrnulações lrrt'tttl
I

5. Apcsar rle Rodolfo Ilohoslavsky (ltl(l visit0 lt'trl't l('lll (l(' lll('( 'llll
colrsidt'rar sl.lit
em profissões ,,i ,,1,,c,,,,i,, cstc aut()r tlt'slt' ttipico' pror
se
lipos rcativt'rs, como os compulsivos, PÍocurarão atuar
escolher profis- r'islit r'tttlto srlll('rt' n 'rrr'iIist' r'r"rlizacla'
t;rrt' rttlttt'iram estc tr,rçtl; á' Os agressivos podem

ORIENTACAO PROFISSIONAL ASTEoRIAS EM ORIEUmçno lROrtsStOt'tli

aceitar que a questão de orientação seja complexa. e não ofereça


segundo Pelletier, Noiseux e Bujold (1977:40), é de que "os indiví- -respostas da ambigüidade);
únicas ã d"fi.titi"ut (tolerância
duos que procuram papéis profissionais tendem afiaduzir em ter-
experimentar papéis profissionais na imaginação (risco)"'
mos ocupacionais a imagem que têm de si mesmos/ e que a sua -(Pelletier, Noiseux e Bujold, L977:53)
escolha profissional é uma tentativa de afualizar essa imagem, em-
bora em alguns indivíduos a escolha possa se constituir, ao que Por cristalização:
parece, uma tentativa de antes atualizar aimagem ideal que a ima-
gem real que tem de si mesmo". "- constatar a necessidade de fazer escolhas;

Para Super, o desenvolvimento vocacional se dá por meio de dar-se conta da multiplicidade dos pontos de vista a partir dos
-quais se podem associar as ocupações;
estágios por ele denominados de crescimento, exploração, estabe-
lecimento, manutenção e declínio. inÍeriras significações que podem ter resultados' rendimentos'
-performances e"colares e extra-escolares, situando-os em uma grade
O enfoque operatório é introduzido por Pelletier, Noiseux e de habilidades e talentos;
Bujold (1977), que propõem a operacionalização do estágio de ex- de
encontraÍ patasi alguns atributos essenciais que têm o poder
ploração descrito por Super. A partir do modelo de intelecto pro- -incluir um grande número de experiências;
posto por Guilford,6 estes autores propõem as seguintes tarefas como
identificar entre muitas atividades aquelas Para as quais se mos-
evolutivas deste estágio: exploração, cristal izaçáo, especialização e -tram duradouros;
interesses
realizaçáo. da
organizar o mundo do trabalho com base nos comPonentes
Por e1@ryça9 os lgtores-enle14e,mr -identidade
§ Pessoal." (Idem: 55)

"- descobrir que existem, no meio imediato e na sociedade em ge- Por esPecificação se entende:
ral, problemas para resolver e tarefas para realizar (sensibilidade aos
problemas); os valores e aS necessidades subjacentes aos comPor.
-,,identificar
acumular em abundância informações sobre o ambiente e sobre si tamentos;
-mesmo e os valores;
(fluidez); 61dsnn1, segundo a importância, as necessidades
repertório diversificado de informações (flexibili-
-
dispor de um obter informações segundo critérios determinados;
-dade); -
informações dificilmente acessíveis e incomuns com relação -encontÍarpossibilidadesquesãoconseqüentesàsnecessidadesc
-ao obter
meio sociocultural imediato do indivíduo (originalidade, autono-
valores identificados;

mia, penetração); -decidir,integrandotodososelementosjáconsiderados.,,(Idem:57)


reconhecer que a questão de orientação se coloca e que tem im- E, por fim, Por realização:
-portância (sensibilidade aos problemas);
//-Jgyglasetapasdadecisãoereversuaestabilidadeecerteza;
operacionalizar e planejar as etapas da decisãoi
-
anteciPar as dificuldades;
ír. (-itado por Pelletier et at. (1977:45). -
oRTENTAçÃO PROFTSSTONAL
AS TEoRrÊs Et'4 oRtENreçÁo enortsstoNel 37

proteger a sua decisão; decisória, onde se avaliariam as decisões e finalmente se chegaria a


- urna escolha.T
formular escolhas substitutivas". (Idem: 59)
-
O modelo propõe que o orientador profissional deve ajudar a
O enfoque operatório acredita na educabilidade das habi-
pessoa: "a) a analisar os dados capazes de constituírem bases ade-
lidades que são necessárias ao desenvolvimento de um boa es-
quadas paÍa se estabelecer uma decisão; b) a coligir inÍormações
colha.
que possam sugerir novas alternativas; c) a determinar empirica-
"Na perspectiva desenvolvimental [...], os problemas de escolha es- mente a utilidade de cada decisão".8
colar ou profissional podem ser considerados como problemas a longo Como diz Pelletier, Noiseux e Bujold (1977), tal visão não for-
prazo, cuja solução implica um certo número de tarefas. O êxito em mula exatamente uma teoria de escolha profissional, não aponta os
uma dada tarefa pode, é lógico, facilitar o êxito na tarefa seguinte, o clementos que fazem parte desse pÍocesso e não oferece uma expli-
que capacita o indivíduo a passar sem demasiada dificuldade por cação mais geral do comportamento vocacional. Tais teorias estão
seus diferentes estádios de vida" (Idem: 43).
mais preocupadas com o entendimento dos procedimentos da es-
i:olha, das etapas que necessariamente devem ser ultrapassadas para
O que se visa é a maturidade vocacional, isto é, saber
a tomada da melhor, mais ponderada e racional decisão.
"Íazer o inventário das possibilidades, colocar questões pertinentes,
organizar os elemer-rtos do problema e esclarecer os objetivos, identi-
ficar suas necessidades e valores, avaliar os fatores de realidade e Teorias gerais
computar as probabilidades de materialização dos seus projetos, Isa-
ber] planejar e proteger sua decisão. Em suma, têm o imprescindível As teorias gerais tentam entender a escolha profissional deter-
para a autodeterminação, para se atualizarem no seio das condições minada ora por aspectos psicológicos, ora por aspectos
constringentes e facilitantes do meio." (Idem: 88) socioeconômicos. Entretanto, não formulam novas abordagens, mas
jLrstapõem as anteriores.
Segundo Crites, as teorias gerais são as que dão ênfase não só
feorios decisionois
;ros aspectos psicológicos da escolha ou não só aos aspectos estru-

As teorias decisionais importam seus pressupostos da admi- turais socioeconômicos, como explicação da inserção do indivíduo
cr-n determinada profissão ou ocupação.
nistração de empresas e da economia visando à racionalidade das
escolhas. Assim, a decisão deve ser fruto de análise minuciosa dos Blau, citado como representante desta linha, elabora um es-
clementos que intervêm no processo. (lucma conceitual com aportes da psicologia, daeconomia e da socio-

A racionalidade proposta prevê uma etapa chamadaprgd-1t-iya, Iogia. A questão que mobiliza sl;.a análise é: "Por que será que as
('nr (lLrc se identificariam as possibilidades oferecidas e se analisari- l)('ss()as abraçam diferentes profissões?" (Blau et al., 1976:70).
ir nr i)ri conscqüências de cada uma dessas possibilidades; prevê uma

('titpit, a avaliativa, onde se analisaria a "desejabilidade"


rrr'1,,rrrrrlir
7. ('Í. Irt'rrclti, l9ftiJ,r: 27.
,l,r:r t onst'r;iiônci.rs arrolaclas na etapa anterior e, por último, a 11. ( it.rç,ro tlt, l't'llllit'r', Noise ux e Bujold (1977: 31), do modelo ProPosto por Ce llat
ORIENTAÇAOPROFISSIONAL AS TEORIAS EM ORIENTAÇAO PROFISSIONAL
38
em'momcll-
profissional' Entretanto' estas duas ordens ocorrem
uma nova
O autor adverte em seu texto que não está propondo ção
enquanto a estrutura social
detcr-
tos distintos na vida da pessoa: seleção t'rcor-
tempo passado (infância)'
teoriasobreaescolhaeseleçãoprofissior-ral'pois'segundosuavi- a
mina a personalidade num
sãodeciência,ateoriadeveresultardcpescluisasempíricassiste- pela estrutura social do temptr
que Blau re sempre .o p'"'"tti" determinaàa e suls
máticas, que no seu caso não foram realizadas' Entende-se os esforços de uma pessoa
do fenômeno' irtual. "Os valores qtl" o'i"'''tam de prospen-
não traz inovações importantes Para a comPreensão desenvolvido num período
os determinantes aspirações podem l"t-t" na acl-
masbusca aliar os deteiminantes psicológicos com *u' pt"purada para manter-se firme
c1ade, mas ela a"'"'J
externos Para a sua comPreensão'
versidade" (Blau et a|''1976:72)'
'1A escolha ocupacional é um processo de desenvolvimento que se
estende po, -rito, anos, ["']' Não há uma ocasião única em que os
jovenssedecidamPorumadentretodasascarreiraspossíveis,mas
dão passos decisivos que
há muitas encruzilhadas em que suas vidas
vãotornandolimitadoorold.efuturasaltcrnativaseque,conseqüen-
ocuPação' Por toda a
temente, influem sobre a escolha final de uma
outras pessoas
parte, as experiências sociais - intercâmbio com -
constituemumaspectoessenciald.odescnvolvimentoindividual.As
não determi-
experiências o.uputio"ais que por fim sc cristalizam
,rÀ, poré*, diretamente o ingresso numa ocupação' Se elas podem
postas
vir a ser realizadas, se precisam ser modificadas ou mesmo
dos selecionadores'
de lado, são coisas que dependem das decisões
u, p"r,ou' cujas ações atingem as cha'nces que o candida-
isto é, todas
etapas do processo de
to tem de obter uma posição em qualquer das
seleção [...]." (Blau et al', 1976: 77)

tanto o
Por isso, Blau e seus colaboradores argumentam que
devem ser consi-
processo de escolha como o de seleção de pessoal
para cami-
derados para entender por que as pessoas dirigem-se
,-rho, proiissionalmente difeientes' "["'] o- esclarecimento
sobre o
históricas
processo de seleção requer uma análise das mudanças
nas condições sociais e econômicas d'e seleção'
da mesma forma
a análise dos desen-
como o estudo do processo da escolha envolve
volvimentos da personalidade" (Blau et aI'' 1976:72)'
em duas
Para os autores, a estrutura social tem implicações
um lado' in-
ortlctts clistir-rtas para a escolha de uma profissão' Por
por outro deterrni-
llrrr,rr«.iir . tlcscr-rv()lvir-r-rcnto da personalidade,
n,t ,l:; ( ()rrtlit,.ircs soci0t'r.otrôt't-licirs t-ttl tctrlp'rtl em
que occlrrertí a sclt:-
uMA NOVACLASSIFICAÇAO
DASTEORlps'

DAS TEONAS
L'MA NOVA CIASSIFICAÇÃo
EM ORIENTAÇÃo PROFISSIoNAL

Crites' apresentada anteriormen-


A classificação elaborada por
por autores brasileiros como
te, como iá se enfati z'o't, foiuiili'ada
dut teorias em orientação pro-
fonte de referancia fara a abordag"* de
fissional. Entretanto, poa"-'"
afiimar que tal classificação carece
en-
vez que implica uma. dissociação
substrato mais rigoroso, uma de
de ierta fàrma' obriga a tomada
tre indivíduo e sociedade que'
mais determinante na escolha
posição sobre qual seria o aspecto
profissional.Poroutrolado'oautor'aoreferir-seàsteoriaspsicoló-
vertentes como se fossem expressão "1r'
gicas, identifica d'eterminadas uP"-
acaso' essas vertentes enfatizu*
de toda a psicologia e, não Por ,'
nas o "coirtexto intemo" do indivíduo' I
'

ptopõe-se uma nova


Sem a pretensão de consenso' :lT:lit::
sõÚ o prisma das concepçoes
ção das teorias, analisando-as Isto é
subjacente-, a" i,taivid'o e
de sociedade à* q"t se baseiam'
de
necessário pu.u t'uo
ut*ad'ilha contiàa na classificaçã.
'Jtui"tu sobre qual variável se-
Crites, que obrigaria a um posicionamento as
profissional do indivíduo' se
ria mais determinante na escolha dctidtr
sem um exame mais
econômicas sociais ou as individuãis'
posição'
án, uutot"t envolvidos em cada
oRTENTAÇÃO PROFISSIONAL ut4A NovAcLASslFlcnçÁo ons ruoRtns

problemas.Paraissoeledeveapresentareqttílíbrioemocional'nosen-
A presente proposta classifica as teorias ern três grupos: 1) nestes proble-
tido de que não poderá envolver-se emocionalmente
teorias tradicionais; 2) teorias críticas; 3) teorias para alérn da crí-
mas.
tica. Acredita-se que tal forma de classificação permite o
baseado no comporta-
O trabalho do psicólogo, predominantemente
desvelamento das concepções de indivíduo e sociedade contidas
m.entohumanoq,","'.u,u.terizaporsermuitoinstável,exigedeste
em suas formulações. de nuanc.es
uma maior facitiiade de discriminoção e diferenci!Ção : "i: -
lhes paraadaptar e modificar técnicas' procedimentos e orientaçÓes
dos aspectos específicos e peculiares de cada
indivíduo'
Teorias tradicionais (abordagem liberal)
Fluêncittertlciocíniorlerbrilsáooutrasduascaracterísticasmuitoim-
grande parte' através da comu-
Nas teorias tradicionais, a concepção de aproximação do indi- iártr.t"r, tendo em vista que é' emdesenvolvido junto aos clientes e
,-ri.uçao verbal que seu traÉalho é
víduo com as profissões se dá por meio do que se poderia chamar
pessoas ligadas ao seu trabalho'
de "modelo de perfis". Este modelo entende que uma boa escolha é respectivamente' como:
Critttioicla(le e intaginaçãtt podem ser definidas'
aquela que resulta da harmonia mais perfcita entr:e um perfil pro- não estabelecidas pelo
capacidade ae estab"lecer relações até então
fissional ou ocupacional e o perfit pcssorrl, delineado a partir de fins e capacidade de
universo do indivíduo, visando determinados
qualquer técnica ou instrumento. Explicando melhor, o indivíduo, são duas caracte-
representar objetos ausentes e combinar imagens'
a partir de certa idade, teria suas características pessoais cristaliza- principalmente o que trabalha
rísticas importantes para o psicólogo'
das, apresentando-se com certos traços cspecíficos de personalida- de funções'
na área empresariai, onde encontra diversidade
de, aptidões e interesses determinados e quase que perenes- Isto de suas funçõcs
Outra aptidão importante para o bom desempenho
possibilitaria a comparação deste perfil pcssoal com os vários per- é o raciocínio absirato, entendido como
facilidade para estabelecc'r
fis ocupacionais já preexistentes. Para exemplificar, observe-se o ,"iuçao e compreender símbolos' a partir de estímulos
não-verbais'
perfil profissiográÍico do psicólogo, descrito abaixo, de acordo com É importante em atividades como: observação
de comportamento'
o Diciondrio das Profissões do Ciee: e diagnóstico'
anáIise de testes, planejamento' previsão
pelo psicólo-
A apresentação de todas estas características pessoais
"Tendo em vista o seu freqüente relacionatnetrto com pcssoas de bom-senso em todtl tr
go deve estar acompanhad'a semPre de muito
vários níveis culturais tanto na área clínica, como na área educacio- clecorrerdesuasatividades,nãoumsensocomum,popular'masum
nal e empresarial, é importante que este profissional apresente socla-
bom-senso técnico, com bases psicológicas'
bilidade e Jlexibilidade, isto é, facilidade para interagir com pessoas e desvios graves de per-
É imprescindível que o psicólogo não possua
ser flexível no sentido de se adaptar ao ambiente e às situações, esta- nervoso, o que imp.ssi-
sonalidade, timidez ex.àssira e descontrole
belecendo formas variadas de relação interpessoal. 862)
bilitaria de desenvolver seu trabalho'" (Ciee' 1981:
H|bilidade numérica, que pode ser definida como capacidade para li-
clar com símbolos que representem quantidade e para raciocitrar com existe um caprí-
Numa publicação especializada mais recente'e
númetos, é uma das características importantes para o psicólogo que em que se 1ê: "l)cs-
tulo intitulado "Para o q'à é que eu levo jeito?"'
tral"ralha na área empresarial, cujas atividades geralmente envolvem a acabar colll 'ls
t'obrit: coisas sobre o seu modo de ser ajuda muito
crílculos numéricos, uso de estatística, tabelas de percentis e outros.
Iilrr totlrrs as suas atividades é importante que este profissional tenha
l r r r rrl o t r cssa p elos r a t e nção
roblemqs humanos e seja capaz de ds
l, r'o i trt
Tt
ctlil:itl I996
t) ()ttirr rlrt l,:;lrrrlrttrIt,,-,111t"'1 Alrril,
,ro5 i111li1i[1l1ros, objctivar.rdo prestar-lhes ajuda na soltrção dcl sctts
TEoRlAs
oRTENTAÇAO PROFISSIONAL uMA NovA cLl§slFlcAçÃo Dl§

ter "bom senso técnico"' Pa-


caricata dez excessiva ou descontrole nervoso;
dúvidas". Numa linguagem próxima ao iovem (às ve"es observação, perse-
até), os perfis vão senão ãonstruídos' Cada perfil
é seguidopor uma àáàu, tolerânci4 peÍrsamento rápido; discrição,
classificando- veranç4.
tista de profissões que aparecem em cores diferentes,
(humanas' exatat Aptidões:habilidadenumérica,maiorfacilidadedediscrimi-
ur r"grrrdo o critério das áreas de conhecimento e detalhes' fluência e raciocínio
bioló"gicas, agrárias e artes). O psicólogo, profissão
selecionada para nação e diferenciuçao a" nuances
abstrato'
upuruce em seis grupos que são assim definidos: criatividadã e imaginação' raciocínio
"*"*-plifi.uçâo, "ãtürf, em dar atenção aos indi-
lnteresses:Pelos problemas humanos'
,,Sevocêtem[''.]jogodecintura,paciênciaetolerância/Pensaerea-
na boa' sem ter "'u'ã'o".rir a/oss"qa;ustye
ge rápido, uaotá i*ptovisar, apresenta umas aulas' ; d6;ha escolha profissional
ã" prãpurudo antes,^ [...] então você pode ir para ["'] Psicologia
(e
e/ou inventários,
também deve ser ár,u[ruao. Por meio-áãlestes
outras Profissões). (grafologia)' por "mapa astral"' ou
entrevistas , a,u^i'"çáes,letra
Sevocêconsegue[...]ficarfrionassituaçõesmaisdifíceis'aplicar
ainda por qualque' ot't'u técnica' é
estú1lecido o perfil do indiví-
se ralar
inieção em seu cachorro sem errar o lugar' ver seu.irmão
inteiro e ser a única pessoa que/ além de pedir para chamar
um mé- duo:traçosa.p"r,o"ulidade'aptidõeseinteressessãodiagnosti-
a uma atividade de com-
primliro,-'o"o"ot ["'] tenha em mente ["'] Psicolo- cados. A escolha da profissão 'ó'ume-'e
dico, presta os qr1" *:1ry1-::
gia (e outras Profissões)' pr.ria". g"sca-se u;iõ'^u" (perfil ocupacional ocorre 1i:-
o ln-
profissional
ta ao perfil pessoal levantadô' Na
seleção
e não conta nem sob
Se você é [...] discreto, sabe guardar um segredo que sempre se-seleciona
tortura, encontra no elevad'or seu vizinho do 402 aos beijos com a veÍso: como u"fõ,Ãa" iáé d'ad'a'LtmaYez
função' Procura-se' dentre vá-
mulherdo503enãosaiespalhandoporaí,temcondescendência alguém p"ru a"t"rÀÀJào t"go ou
que se aiusta melhor à fôr-
com o jeito de ser dos outroi ["'] é bom considerar ["']
Psicologia (e rios indivídror 1p"tá' pessoaiã;' aquele
outras Profissões). ma (Perfil ocuPacional)'
redações fantásticas' se que o indivíduo.estabeleça
Se você consegue [...] escrever bem e fazer Na escolha profissional' espera-se
expressar .o* iu"iiiaàde e transmitir suas idéias com
clareza, se sair perfis ocupacionais disponíveis'
uma correlação entre si e os váriôs
bememprovaoraleSersempreoporta-vozoficialdaturm4[...] para que Possa achar aquele que
melhor se ajusta à sua pessoa'
tenha em mente [...] Psicologia (e outras profissões)' abordagem' seria
A função da orientação profissional' nesta isto nem é
Sevocêé[...]observador,gostad'ebancaroSherlockHolmes'seliga algumas teorias
sem vacilo com ajudar o indivíduo a conhecei-se 1em
até no papochato da sua irmã menor e sabe dizer conheça o sujeito), isto é, cons-
considerar ["'] Psicolo- necessário, bastanãoque o orientador
que sapato seu pai saiu hoje cedo, ["'] é bom pessoais' Úinn Ílcajuditlo_a co-
cientizar-se de suas càracterísticas
gia (e outras Profissões)'
ansiedade' mas não nhecerasprofissões.Estaaçáo,patadiferenciar-sedaquiloqueo
Se você é [...] perseverante, controla bem sua de certa aparência de
bom-considerar ["'] indivíduo pode fazer sozinho' vám revestida
descansa enquanto não consegue o que quer' é
só o orientador pode manipu-
ciência ao utilizar instrumentos que
Psicologia(eoutrasprofissões)"(GuiadoEstudante'1996:18-21)'
Iar e que .urr"gu-uiáéia de qt'" o
indivíduo tem uma essência que

Em síntese, a partir das duas publicações citadas' o


perfil do só um profissional pode descobrir'
psicólogo é assim traçado: Estemodeloéestáticotantonoqueserefereàsprofissõesou
mais que se-atualizem estes
Traços de personalidade: socíabilidade e flexibilidade,
equilíbrio ocupações q.rur,ao-uo indivíduo' Por
da geneialidade e §uPerficiali-
emocional, não possuir desvios graves de personalidade'
nem timi- perfis, dificilmente conseguem sair
oRtENTAÇAO PROFTSSTONAL UI',1A NOVA CLASSIFICACAO DAS TEORIAS

dade. Observe-se que o perfil do psicólogo, elaborado há mais de carreira na qual ele pode fazer uso, tanto quanto possível, de seus
catorze anos pelo Ciee, serve também para inúmeras outras profis- interesses e capacidades, em situações que satisfaçam seus valores
sões ou ocupações, além de ser utilizado até hoje, mesmo tendo c metas" (p. 13) De novo, observa-se o modelo de perfis sendo uti-
ocorrido várias transformações sociais, políticas, econômicas e lizado para aproximar os indivíduos das profissões.
tecnológicas conhecidas. Da mesma forma, este modelo espera que
Anne Roe, representante da vertente psicodinâmica, atribui
as pessoas não mudem muito a partir do fim da adolescência, man-
grande importância à formação de atitudes, interesses e aptidões
tendo suas características pessoais durante toda a vida.
nas primeiras experiências infantis estabelecidas entre pais e filhos.
Todas as teorias chamadas psicológicas apresentadas anterior- Se esta relação foi mais ou menos amorosa (superproteção, super-
mente enquadram-se neste modelo. A teoria traço e fator, na reali- solicitação, aceitação causal, aceitação amorosa) ou mais ou menos
dade, inaugura este modo de pensar na aproximação dos indiví distante (rejeição ou negligência), isso pode gerar pessoas
duos com as profissões. Com o slogan do "homem certo no lugar "dirigidas" para pessoas ou para não-pessoas. "Dependendo de qual
certo", constrói o imaginário dos perfis que perdura até hoje. É muito clas situações acima [primeiras experiências infantis na relação com
comum observar empresários, artistas, profissionais liberais utili- o adulto] é experimentada na infância, desenvolver-se-ão atitudes,
zaÍem-se da concepção de perfil para explicar sua própria situação interesses e capacidades básicas, as quais encontrarão expressão no
econômica e social, usualmente privilegiada. padrão geral de vida do adulto: em suas relações pessoais, em suas
Mesmo as teorias desenvolvimentistas, que criticam a concepção relações emocionais, em suas atividades e em sua escolha
inatista das aptidões, personalidade e interesses, acabam utilizando vocacional" (Roe, 1976: 716). Mais uma vez pode-se observar aqui
a idéia do perfil. Por exemplo, Super (1976:37) acredita que o padrão de perfis ultimando o processo. De fato, Anne Roe cons-
trói um modelo em que as categorias "dirigido para pesso as" e " di-
"1) as pessoas diferem em suas habilidades, interesses e personali- rigido para não-pessoas", pautadas na classificação hierárquica das
dades;2) elas são qualificadas em virtude de tais características, cada necessidades de Maslow, vão ao encontro do que a autora denomi-
uma para um certo número de ocupações; 3) cada uma dessas ocu_ na classificação de ocupações:
pações exige um padrão característico de habilidades, interesses e
traços de personalidade, com Lrma margem suficientemente grande "A maioria daqueles que selecionam ocupações nos grupos [serviço,
de tolerância, entreta.to, a fim de pcrmitir ao Ílesmo tempo alguma contatos comerciais, ocupações culturais em geral e artes e diver-
variedade de ocupações para cada indivíduo e alguma variedade de sõesl10 seguem fundamentalmente uma orientação para pessoas, as-
indivíduos para cada ocupação." sim como muitos, senão a maioria, dos que se situam no grupo [or-
ganizações]. Os grupos [tecnologia, serviços externos e ciência] com-
A novidade, portanto, está na aceitação de que não há uma preendem, principalmente, pessoas cuja orientação principal é
única profissão para cada indivíduo e que há alguma diversidade dirigida para não-pessoas." (Roe, 797 6: 777)
de indivíduos para cada profissão; entretanto, o modelo de perfis
está exemplarmente incluído. Gelatt (1976), um dos representantes das teorias decisionais,
Para Ginzb er g (197 6), introdutor da vertente evolucioni sta,,, a propõe a aplicação do método científico para a resolução de pro-
decisão, em se tratando de escolha ocupacional, é, em última análi- lrlcmas de escolha profissional. Na realidade, os autorc's dc'stas tco-
sc/ Llm compromisso onde o indivíduo espera ganhar o máximo
r,,r'lr-r cle satisfação através de sua vida de trabalho, seguindo uma I0. Ii,xto t.nIrt, rolr'lrlllr,. itttlusão ttoss;r
oRtEMrAÇAO PROFTSSIONAL UMA NovAcl_AsstFtcAÇÃo Drs TEoRtAs...
49

rias estão maig plqoçupados em fornecer um critério racionar (aptidões, interesses, características de
de personalidade ritmo de desen-
escolha'[g gge eltendeia forma como se dá tanto a construçãà volvimento, autoconceito etc.). Estas diÍerenças
da os levarão a optar por
personatdáãã ao individuo quanto a interferên.i, ào so- diferentes caminhos profissionais,, (Ferreúi,
19gga: 30).
cioeconômico nesta construção. por isso, Gelatt afirma"or.rtexto
que ,,os re- As teorias chamadas psicorógicas fundamentam-se
sultados de testes, de prévios cursos graduados, de interesses, e na ideolo-
a gia liberal. o conceito de escolha é entendido
relação desta decisão com escolhas fufuras são exemplos como argo abstrato,
de ele- privilégio da classe dominante.qqe ippõe sqa
mentos a serem usados. para se discutir os possíveis reiultados Viç-ãqd'ra todas as
de outras, como ideorogia.lo_s três axiomis àa
escolhas alternativas e suas possibilidades é essencial saber visaã iiú*r)i"r"rmam
algu- es colha profissioúl seií entendl
ma coisa sobre o g11l de rerevância que estes elementos têm pãra :o-_o _u dã íe, q in{ivi_
dlalida{e e a iguardalu aç oportunidaa"r é.-|ügfae
a- rã"tiao;ãil;
cada alternativa" (1976:19). Novamente, pode-se observar a
idéia orientação profissionar. A individualidade e
do modelo de perfis sendo utilizada nesta concepção.
movimento interno, quer numa visão inatista ""t""JiJu "o*o
rr,
os indivíduos nas-
Como afirmado ante_{iorm.§nte, todas ês teorias chamadas psi_ cem com todos os atributos *, quer numa -
visão desenvorvimentis-
cológicas- apóiam-se no(modero de perfisr Na verdade, apenas ta
se desenvolvem ao longo da vida. o princípio
iliferenciam quanto ao entendimentà da gênese das características -
gura a possibilidade de o indivíduo desenvolver
da riberdade asse-
pessoais do indivíduo. Algumas consideram, como já visto, suas potencialida-
que tais des. A igualdade de oportunidades também
características g{ginptas; outras, que são construidas a partir está restrita à üsão de
da indivíduo: todos têm garantido, por lei, a condição
relação afetivo-sexual estábelecida na primeira inÍânciu; orúu, de poá". alcan_
ainda gar 1 '-rrosresso pessoal e posição social vantajosa. como rei têm
que são construídas ao longo do crescimento da pessoa; mas igual direito à vida, à riberdade, à propriedade,
todas,
sem exceção, ao final, comparam estas características com á proteção das reis,,
os perfis (Ferretti, 1988a:34).
elaborados de cada profissão. portanto, em maior ou menor escala,
há um ajustamento do indivíduo à sociedade. Na visão liberaf o indivíduo tem em suas mãos
a possibilida,
de de ultrapassar os obstácuros colocados pela
t'ç-urro
r;r.eã§xamina as teorias em orientação profissional com realidaáe e a esco-
lha, se adequada, asseguraria melhoria de
a seguiniê pergffiía: quais as concepções de indivíduo e condição de vida.
sociedade A sociedade é entendida com um conjunto de camadas
que dão sustentação às suas idéias? portanto, este autor não está sociais
pre- sobrepostas e ordenadas emforma depirâmide
ocupado em discutir quais delas analisam mais adequadamente
a
quepossibitiir rr."*o
forma como o indivíduo escolhe sua profissão; seu olhar volta-se ou descenso social. A escolha proÍissiànal é anunciada
para como um dos
o aspecto ideológico contido na questão. Ele fatores fundamentais para o deslocamento
social (para cima ou para
çonstata que todás as baixq de acordo com a qualidade da decisão)
teorias psicológic5-l) propõem-se a expric*ar co-õ o úáirríduo e po. issq a orientação
pro-- profissional far-se-ia necessári4 isto ajudaria
cessa a sua escolha bem como o seu resultado;2) pressupõem
que a 4 o indiúduo a locarizar
ou descobrir sua "vocação,, patater úances
escolha é uma decisão pessoal e individual;3) admitem que
faiores de ,,subir na vid.a,,.
pessoais e sociais interferem no processo, mas dão ênfase ao
caráter
biopsicológico, entendendo os aspectos sociais como limitadores
ou Teorias críticas
castradores das características originais ou essenciais do indivíduo;
e, por fim, 4) "as teorias, implícita ou explicitamente, consideram Por teorias críticas entendemos aqueras surgidas,
que os indivíduos diferem entre si por uma série de características no Brasil,
no
final da década de l9Z0 e início da de 19gO qie
examinaram as
oRTENTACÁo PRoFtssloNAL ul'rA NovA cLAsslFlcRçÁo ons reoRtns "

teorias aqui denominadas tradicionais ou liberais, apontando seu tleladecorrendotodasasoutras:liberdadeeconômica'intelectual'


caráter ideológico.1l religiosaepolítica.Paraessadoutrina[oliberalismo]aliberdadci'
potencialidades
Mais do que ProPostas (apesar de apontarem algumas saídas),
.nrláiçao necessária Para a defesa da ação e das
à persona-
individuais, enquantà a não-liberdade é um desrespeito
estas teorias propõem-se a analisar, de forma radical, as teorias en- éoutro as-
lidade de cada um" (Cunha,1977:29)' A propriedade
tão existentes, desvelando as concepções, quase nunca explícitas,
de ser humano e sociedade nelas contidas. É necessário lembrar
pectodadoutrinaeéentendidacomo"direitonaturaldoindiví-
de condições
.1.,o". A igualdade, entendida não como igualdade
que estas teorias foram construídas num momento particular da lei' defende que "to-
rnateriais, mas sim como igualdade perante a
história do país e da educação. o Brasil vivia uma ditadura militar à propriedade' à
clos têm, por lei, iguais direitos à vida' liberdade'
que restringia as liberdades democráticas e que teve como função exigida pelos
proteção àas leis".-(Idem: 31)' Por fim' a democracia
"modernizar" a economia do país, abrindo suas fronteiras para o usufruir do indivi-
princípios anteriormente descritos, isto é' pata
capital internacional, contra programas nacionalistas e populistas igualdade' há a ne-
clualismo, da à liberdade, da propriedade' da
que faziam história desde a época de Vargas, com avanÇos e recuos agindo livremen-
cessidade da democracia. Assim, "cad.aindivíduo,
nos diversOs governos posteriores. A escola, nessa época, é central- próprios e' em conseqüência'
te, é capazde buscar seus interesses
mente vista (pelos teóricos de esquerda) como aparelho ideológico
os de toda a sociedade" (Idem: 33)'
do Estado, que tem como função principal a manutenção do status
quo e a transmissão dos valores e crenças da classe dominante. Naóticaiiberal,oindivíduopodealmejarascendersocialmente
de- prerrogati-
Althusser (1983), Bourdieu & Passeron (1975) são os principais teó- t enriquecer, não em função de iondições advindas
ricos desta perspectiva e, no Brasil,Luiz Atltonio Cunha, com seu rrasdenascimento,mastambémemvirtudedetrabalhoetalenttr
importante livro Educnção e desenuoluinrcnto socittl no Brasil, publica- pessoal (cf. Cunha, 1c)77:37)'
educa-
do originalmente em 1977, dão grande irnpulso à análise crítica da A escola é pretendida pela teoria liberal e pela política
En-
função da educação escolar e, Por conseqüência, da orientação pro- cional como responsávet pãta equalização de oportunidades'
que esta escoltt
fissional. Esta forma de compreender a escola foi mais tarde deno- tretanto, Cunha des*u"u'u tal visão' ao apontar
princípios clu('
minada "visão reprodutivista". clue aí está é incapaz de agir segundo os próprios
atribuído. à educir-
Cunha (1977) examina a escola sob os princípios da visão libe- cstabelece, apontando q'J"' u'-tátit" do papel
ral, de que a política educacional se diz defensora. Assim, aplica çãodeinstrumentodeequalizaçíodeoportunidades'peladoutri-
estado' mostrou tcr
na liberal, pela pedagogiá tta escola nova e pelo
estes princípios para verificar se esta escola, ao menos, dá conta de os mecanism()s
implementá-los. o princípio do individualismo "considera o indi- essa atribuição a f""ção id.eológica de dissimular
da própria educação' bem como os da ordem
eco-
cle discrirninação
víduo enquanto sujeito que deve ser respeitado por possuir apti-
r1ões e talentos próprios, atualizados ou em potencial" (p. 28)' O
rrômica" (Cunha, 7977 : 60)'
scgundo princípio, a liberdade, está alicerçado no postulado do in- Fazendoodiscursodeqtreopapeldaeducaçãoseriatlc.lcctlr_
clivirlualismo. "Pleiteia-se, antes de tudo, a liberdade individual, rigiras"distorções"provocadaspelocapitalismo'aescola'i''l()c()rl
alunad() (' str(rs
t.,iri.r, reproduz e iuÀtifica esta ordem junto ao seu
t-ilh'tltttt'ttlt'
' Cunha aponta cinco pontos que desmascaram
lantíli.-ts.
são dcsigtrit is Pt'lt I 1''r tr;
L I'or itlt'ologia cntettde-se leitura invertida da realidade realizada pela classe don-ri-
I
t,stt, tliscurso: 1 ) as r-hances de escolari zação
rr,rrrl(' r' tlttr' postttlit stttt tttrivt'rs.rlidade. Portanto, não nccessariamente falsa, mâs colll gratrclt'P.tIlctl't 1rl)1'r1l'1
, ,,rrrl,rorttisstt .lt' t lasst'. .tl0r.a; ?) ()nrlt'tr t,st,olitIizitção atingc ttl-ua

i .À r.r \
)ü'/'l I X \
ORIENTAÇÃOPROFISSIONAL ur,1A NovA cLASSIFIcAÇÃo DAs rEoRlAS "
52
dessa forma' a orientação
mente ao indivíduo que escolhe' Ao atuar
na qualidade do ensino oferecido;3) "as apti- de um lado' por
ção, há desigualdade profissional u.ubu .omprometen'do-se
d'uplamente:
dões das Pessoas não sãà características
inatas; ao contrário' são
nãoexaminu.u,tu"u'últimaseporaceitá-lascomonaturais'mis-
às condições mate-
prod.uto d'u ,ru primeira educação, associada tificaosfatoresdarealidadequeconstituemobstáculosouimpedi-
riais de vida no que se refere à alimentação' ao
desenvolvimento iado' aiuda a manter as
mentos às escolhas individuais' De outro
certas destrezas que cada questionamento' o poten-
psicofisiológico, ao desenvolvimento de discriminações sociais, por admitir' sem
leua" (p' 56); 4) os pro- temPo' de abrir crítica às condi-
classe social tem como resultado da uida que cial individual deixandó, ao mesmo
esse potencial'"
cessos de avaliação premiam atitudes'
destrezas' comportamentos ções de vida que influenciaram marcadamente
tais como o
mais pertinentes ás classes não-trabalhadoras' (Ferretti, 1988a:44)
são-'razões de
"vetbalism o" e "asboas maneiras"; 5) "dtzet que autora paÍa ahistó-
(escolar) de alguns é Selma Garrido Pimenta, outra importante
ordem intetelectiva' que barram o progresso Brasil' realtza uma crítica
dizer metade da realiàade, vale dizer, é dissimular
a realidade" (p. ria recente da orientação profissional no
que as mesmas propõem-
segundo esse autor' devem cliferente. Ao examinar as teorias' percebe
56). As diferenças d.e ordem intelectiva' mas
dizer que as diferenças explicar descritivamente a escolha profissional da pessoas/
ser buscadas na origem de classe' "Assim'
se a
psicológico' A autora
intelectuai, prodrrãrn as diferenças de classe
é drzer' na realidade' qrl", ,rà realid.ade, ficam apenas no aspecto
o fenômeno da deci-
que as diferánças de classe prod'uzem as
diferenças de classe' isto é' afirma que: "Considerado psicologicamente'
de decidir' por que e
são não se esgota; questõeÀ como liberdade
nada dizer" (P.56). determinismos e como modificá-
para que decidir, po" q'" existem-
CelsoFerrettianalisaasteoriasemorientaçãoprofissionalno que se preocuPa
Cruzando os pÍessu- iur, ,rào são cogitadas pela psicologia vocacional
mesmo sentido que faz Cunha com a escola' à escolha
e a realidade am descreaer os fenômenos psíquicos relacionados
postos teóricos áa OV, os princípios do liberalismo
a própria vivência' vocacional" (1979 : 42)'
mostrada por inúmetas pesquisás' bem como não se reduz
postulado as Pre- Entretanto, a autora considera que o indivíduo
conclui q* u orientação profissional toma como não dão conta de abordar
missas do liberalis*á.
g- seguida, constata que a sociedade con- ilpenas à psicologia e, portanto as teorias
é a pessoa'
que não há liberdade c explicai o fenômeno complexo que
creta não oferece igualdade 'àt a" condições'
termos de talentos/ Per-
de escolha e que eãsa individualidade, em
é questionável' Por isso "seaorientaçãovocacionalsignifica'oprocessopeloqualseajutlil
sonalidade, aitidões e habiiidades' também uma pessoa a escolher uma ocuPação'
a preparar-se Para ela' ingres-
sua ação tem mais efeito ideológico do que
o de efetiva ajuda ao à psicologia' pois que' aiuclirr
sar e progredir nela', ela não se redu'
indivíduo e suas escolhas' Assim, a (identificrr
uma pessoa não se teduz a ajudá-la psicologicamente
Esta ajuda é parcial c frag-
aptidões, interesses, autoconceitos etc')'
"orientaçãoacabareforçandoosprincípiosdoliberalismo'poisadmi- de construtÔs psicoltigicos;
processo de escolhas profis- mentária, pois que a pessoa não é a soma
te implicitamente que existem fathas no (como não o é da sociologia' tlt'
e também r-rao á puttà de psicologia
e que' portanto' para resol-
sionais, que estas fáthu' são do indivíduo economia etc')' Á pessoa "ao O o resultado
da soma destas ciôrrc ias"
veroproblema,bastahabilitá-loarealizarescolhasmaisadequadas' (Pimenta, 1979:42)
Ou scia, todos têm liberdade de escolher e
igual liberdade patafazê-
SuaS apti,dões e caracterÍsticas pessoais,
respeita-
lrl c]c irctlrdo Com Airutorart]C()rr(,àfcnomenologiacxistencioIl"lirrilvr'l.ilit,,tt.:;r.
clas as lirnitações ill-tpos[as pela realidade'
As opções inadequadas
t'l.ttlcalritz,clcitllrit(.itt.ttltlitaproblcrrríticirt:t.tvtllvitlittt.t.;tlt.:,l.trl
sijtrtlt,rcsptlnsirbilidaclcindiviclurrlcdevemsercrcclitaclirstttrica-
oRTENTAÇÁo pRoFtsstoNAL UMA NOVA CLASSTFTCAÇAO DAS TEORIAS...

Apresenta os conceitos fundamentais desta abordagem: o homem Portanto, não é só a orientação vocacional que se apóia na pers-
como ser encarnado no mundo; como sujeito, e não coisa; a existên- pectiva do liberalismo, mas a psicologia e a pedagogia que se de-
cia como coexistência (intersubjetividade); a liberdade. A bruçam sobre as questões educacionais. A psicologia diferencial
fenomenologia existencial possibilita a constatação de que o chega à escola, dando início à orientação profissional, para, inde-
psicologismo fragmenta o fenômeno da decisão em pequenas uni- pendentemente da etnia ou da condição social, selecionar ou pro-
dades, assim como as teorias em orientação vocacional não colo- mover os mais aptos. Dessa forma, o fracasso escolar justifica-se
cam uma concepção de homem. Apesar dessas conclusões, a auto- pela falta de aptidão inata para o respectivo progresso. As concep-
ra afirma que a fenomenologia também aborda, de forma ções educacionais e psicológicas reforçam-se mutuamente:
reducionista, o fenômeno da decisão, ao idealizar a concepção de
homem que utiliza, isto é, seu caráter metafísico e abstrato, enten- "Claparede [...] quer aprimorar instrumentos de medida que
dendo o indivíduo como se ele existisse ,,em si e por si,,. rastreiem as diferenças individuais, quer saber quem são os retarda-
Maria Helena souza patto estuda a produção do fracasso es- dos e os bem-dotados o mais precocemente possível, defende a cria-
colar, tema bastante diferente do presente estudo. Entretanto, ao ção de classes especiais para os primeiros e cle escolas especiais para
os segundos, propõe, em 1920, a escola sob medida e em1922 n orien-
historicizar a forma como a psicologia tem abordado o tema, verifi-
- tudo isto em nome de menor desperdício e me-
tação profissionql
ca também a visão reducionista e ideológica que a ciência vem
dan- nor desgaste individual e social. A colocação do 'homem certo no
do ao problema. Não é mera coincidência a constatação de que os lugar certo'era para ele o caminho mais curto para o restabelecimento
pressupostos teóricos das explicações sobre o fracasso escolar são da justiça social almejada e a seu ver possível, mas ainda não
comuns aos da orientação profissional que se está criticando. Ao se alcançada." (Patto, 7997: 43; grifo nosso)
referir aos primórdios da psicorogia científica no final do século
XIX e início do XX, aponta a funcionalidade alcançada pelas teorias Como se pôde constatar, a psicologia do início do século, prin-
ao reforçar as tendências liberais, que ganharam fôlegà a
partir da cipalmente aquela que se debruça sobre a escola e sobre o trabalho,
Revolução Francesa e da dominação efetiva do modo de piodução tem a missão de sedimentar e de perpetuar a ideologia liberal que
:apitalista pelo mundo. sustenta o capitalismo, ao canalizar para o indivíduo todas as res-
ponsabilidades pelo seu progresso, deixando incólume a estrutura
"A psicologia científica [...] fortemente infruenciada pera teoria social, isto é, encobrindo injustiças e a exploração inerentes ao modo
da evolução natural e pelo exartado cientificismo da àpoca, tor- de produção.
nou-se especialmente apta a desempenhar seu primeiro e princi_
Segundo a perspectiva crítica, a visão tradicional ou liberal
pal papel social: descobrír os maís e osmenos aptos atrilhar,, carreirs
,berta so talento'supostamente presente na nova organização so- percebe o indivíduo como ser autônomo em relação à sociedade.
cial e assim colaborar, de modo importantíssimo, com a crença da Autonomia aqui é entendida como um corpo biopsicológico, que já
chegada de uma vida sociar fundada na justiça. Entre as ciências contém, desde o nascimento, potencialidades que podem ser ou não
que na era do capital participaram do ilusionismo que escondeu clesenvolvidas de acordo com o meio em que a pessoa vive. A fun-
as
desigualdades sociais, historicamente determinadas, sob o véu de ção da educação, como dizPatto, assim como a da orientação pro-
strptrstas tlesigualdades pessoais,biologicamente determinadas, l'issional, seria propiciar o desenvolvimento desse potencial, selecio-
a psi-
c.l<rgia ccrtamente ocupou posição de destaque .,, (patto, 7991: 36; nirtrclo os indivícltros segundo tal potencial, buscando clinrin.rr .rs
grilir nosso) i rrtcrfcrôrrcias "prcjrItIit-iais" do meio.
ORIENTAÇAO PROFISSIONAL ur.4A NovA cLAssrFrcAÇÃo DAs rEoRt/§

Além dessa visão inatista, a perspectiva tradicional tende a do feto e, quando muito, o raio X. O médico de hoje já passou para
naturalizar os fenômenos que são históricos. As diferenças entre uma situação de assalariamento (é empregado ou atende
homens e mulheres, por exemplo, no que se refere às características conveniados de um plano médico, que seria um assalariamento dis-
de personalidade, interesses e habilidades, são naturalizados e, por farçado). Não existe mais o médico de família, e os recursos ins-
isso, perenizados, ao contrário do que afirma a vasta bibliografia trumentais que utiliza requerem conhecimentos e habilidades bas-
na área que marca a historicidade do fenômeno.12 A naturalízaçáo tante distintas daquelas que eram então necessárias.
do que é histórico vem na direção de uma visão conservadora da De outro lado, a idéia de que existe um perfil pessoal que se
realidade, que busca manter as desigualdades sociais em função
cristaliza e pereniza por volta dos dezoito anos também pode ser
dos privilégios alcançados pelas classes dirigentes.
questionada. Os indivíduos se modificam com o tempo e, mais do
A perspectiva crítica questiona o conceito de sociedade que a que isso, adquirem habilidades, mudam interesses e transformam
abordagem tradicional uttlíza. A sociedade não se constitui como suas características pessoais.
uma pirâmide formada por camadas sociais, mas, estruturalmente,
Mas essa idéia de perfis, como exposta acima, está referida ao
é constituída por duas classes sociais, complementares, com objeti-
que se chama de modelo tayloristalfordista de organizaçáo da pro-
vos e interesses distintos e contraditórios: a burguesia e o proletari-
dução. "Esse padrão produtivo estruturou-se com base no trabalho
ado. A idéia da ascensão social é substituída pela concepção de luta
parcelar e fragmentado, rta decomposição das tarefas, que reduziria a
de classes. A educação e a orientação precisam trabalhar no sentido
ação operária a um conjunto repetitivo de atividades cuja somatória
da "conscientizaçáo", bandeira das oposições políticas na década
resultava no trabalho coletivo produtor" de mercadorias (Anfunes,
de1970 e início da de 1.980,paraa superação desde modo de produ-
20OO:37). O modelo de perfis ajusta-se plenamente à idéia do traba-
ção, que em si é autoritário, injusto e explorador.
lho parcelar e fragmentado. Os perfis profissiográficos que se mon-
Esta perspectiva critica a visão de aproximação dos indivíduos
tavam, na época, buscavam identificar minuciosamente as habili-
com as profissões e ocupações presente no modelo dos perfis. Esse
dades e conhecimentos necessários para o desempenho de deter-
modelo pressupõe indivíduos e profissões estáticas e perenes. Como
minada função específica dentro da divisão técnica do trabalho. O
já apontado anteriormente, no caso da profissão do psicólogo, seu
que começou no chão da Íábrica, depois foi transposto para quase
perfil se mantém inalterado. Na perspectiva crítica, as profissões e
todas as ocupações, chegando inclusive ao trabalho intelectual.
ocupações têm história, isto é, modificam-se no tempo em função
de variáveis econômicas, políticas, sociais e tecnológicas. Não se Mas a organização taylorista / fordista do trabalho vem sofren-
pode afirmar, por exemplo, que o exercício afual da medicina seja do modificações. Nas empresas de ponta, o modelo foi substituído
igual ao de cinqüenta anos atrás. Naquela época, constituía-se como pelo que se chama de modelo toyotista ou japonês de organização
profissão liberal, havendo o médico da família que desenvolvia seu da produção, que é assim definido por Antunes:
trabalho acompanhando a vida do indivíduo praticamente desde
"[O modelo toyotista] se fundamenta num padrão produtivo orga-
seu nascimento. Os recursos utilizados na especialidade clínica
nizacional e tecnologicamente avançado, resultado da introdução de
eram: palhet4 estetoscópio, um cone para ouvir o batimento cardíaco
técnicas de gestão da força de trabalho próprias da fase iníormacional,
bem como da introdução ampliada dos computadores no ProccÍiso
12. Ver, por exemplo, textos que relacionam a questão da mulher com profissão e/ou produtivo e de serviços. Desenvolve-se em uma estrutura produtiva
cscollra profissional: Ferretti (1,976) e Bruschini (1978 e 2000). mais flexível, recorrendo freqüentemente à desconcentraçãtl prrlc{ u-
58 ORIENTAçAOPROFIS$ONAL UMA NOVA CLA§SITICAÇAO DAS TEORIAS

tiva, às empresas terceirizadas etc. Utiliza-se de novas técnicas de a trabalhar, melhorar sua competência. Esse é o perfil dos tempos
da globalização e neoliberalismo. O discurso atual não abandona
gestão da força de trabalho, do trabalho em equipe, das'células de a

coniepção dL perfis, mas acrescenta exi8ências' Na atualidade'


produção', dos'times de trabalho' dos grupos'semi-autônomos', além o
de requerer, ao menos no plano discursivo, o 'envolvimento individuo precisa apresentar competências, precisa saber Ser, como
participativo' dos trabalhadores, em verdade uma participação
afirma Ferietti (199i:259), isto é, " colocar-se Por inteiro, mobilizar-
manipuladora e que preserva, na essência, as condições de trabalho a valorização do
se completamente, em direção a um fim, neste caso,
alienado e estranhad o. O 'trabalho polioalente' , 'multifuncional' ,'quali-
capitall...].'A competência é a capacidade de resolver um problema
ficado', combinado com uma estÍutura mais horizontalizada e inte-
grada entre diversas empresas, inclusive nas empresas terceirizadas, ,*á situação dada. A competência baseia-se nos resultados'."
tem como finalidade a redução do tempo de trabalho" 16r'r1rr."s,2000:
"* Ferrettiapontaqueaimprecisãodoconceitodecompetência
52; griÍos nossos). tem trazido problemás Para as agências de formação profissionais
e para as Próprias empresas. Segundo este autor,
O trabalho polivalente, multifuncional e qualificado, como diz
"nos países capitalistas avançados, desenvolve-se' a partir das
refor-
Antunes, modifica a idéia do perfil profissiográfico tradicional. Além
mas de ensino, um intenso esforço no sentido de estudar' detalhar'
de ser competente tecnicamente falando, o profissional também tem
que desenvolver novas habilidades, agora atitudinais e comporta- padronizateproPoÍ/emtermoscompreensíveiseúteisàformação
mentais. O discurso atual expresso de forma caricata é: o indivíduo profissionaluàu*pr"tu,adefinição,amaisprecisapossível'detais
competências, de modo que Possam ser eficientemente ensinadas
e
precisa desenvolver todas as habilidades e adquirir todos os conhe-
passíveisdemensuração,semelhantementqguardadasasdevidas
cimentos se quiser sobreviver no mercado. Para enfrentar a " alta tare-
proporções, com o que ocorreu quando da definição de cargos'
rotatividade, instabilidade, pouc.o dinamismo na geração de novas las e funções sob o àylorismo/fordismo"' (Ferrettti' 1997:262)
vagas/ descontinuidade da trajetória profission al, precarização das
formas de contratação de mão-de-obra e queda de rendimentos" ou seja o capital precisa da definição dos perfis, agora sob
(Dieese, 1997), que caracterizamas mudanças do emprego nos anos novos moldes, para continuar se reproduzindo'13
1990, o discurso neoliberal irradia que com A busca da harmonia entre perfis pessoais e profissionais cons-
titui uma visão reducionista e mecanicista da grande complexida-
"as mudanças, aumenta a necessidade de versatilidade e qualifica- conse-
de que envolve a relação indivíduo, trabalho e também' Por
ção [do trabalhador]. Antes bastava ser adestrado. Hoje, é funda-
mental ser educado. O adestramento ensina a pessoa a f.azer a mes- qüência, a educação.
. ma coisa a vida inteira. A educação a prepara para aprender conti- Aperspectivacríticadenunciaaaçãopuramenteideológica
a fun-
nuamente. Com a velocidade meteórica das mudanças nas tecnolo- da orientaçãb profissional tradicional. Esta intervenção tem
ao esconder os determinantes econô-
gias e nos modos de produzir e vendcr, a educação torna-se o ele- ção de dissimutar a realidade,
mento-chave para a empregabilidade dos trabalhadores e para a com- micos, políticos e sociais do funômeno e isolar aPenas o individual
petitividade das empresas." (Pastore, 2000: 92)

Para ser empregável, o indivíduo tem que ser polivalente. O 13.Antunes(1995e2000)éumadasvozescríticasqueabordamastransformaçôesda


orgr"rrçã; do tàaho nos temPos atuais' Ao contrário do preconizado pela ideologia
desemprego é algo que o trabalhador deve resolver. De novo, ele é é a precarização, o
liberal, o autor aponta que a tenàência geral dos postos de trabalho
responsabilízado pela sua própria mazela e deve, caso queiravoltar trabalho parcial e a desqualificação'
I I/\ NOVA CLASSIIICAÇAO DAS TEORIAS,,,
ORIENTAÇÁO PROFISSIONAL

como essencial. Responsabiliza a pessoa pelo seu sucesso em dire- Ferretti (1988a) sugere que a orientação profissional crie
ção à ascensão social, o que acaba por ser uma explicação e " condições para que a pessoü a eltt submetida reJlita sobre o processo e o ato
culpabilização pelo aparentey'acasso a que a maioria está submeti-
de escolha profissional, bem como sobre o ingresso en1 uma atiaidade profis-
da. Ajusta o indivíduo à estrutura ocupacional preexistente, onde a
sional e no seu exercício no contexto mais geral dct sociedode onde tais ações
lógica do lucro impera, tendo sempre como pano de fundo a ques- Subsidiariamente, espera-se que o indivíduo assim as-
se processatfi.
tão da maior produtividade, tradtzida de forma perversa por as- sistido ganhe condições de realizar escolhas profissionais conscientes
pectos psicológicos, como felicidade e realização pessoal. Enfim, à (no sentido de escolhas que ocorrem a partir da reJlexão sobre seus
orientação profissional, bem como à educação, cabe a tarefa de re- condicionamentos, e não a partir de sua aceitação), quando e onde as
produzir a ordem social vigente sem quaisquer questionamentos. oportunidades se aPresentarem." (p. 45)
Na perspectiva liberaf tudo está nas mãos do indivíduo, o único
responsável pela escolha profissional que, se bem realizada, apon- A orientação profissional deveria deslocar seu eixo central de
ta para o sucesso social e financeiro. Entretanto, na perspectiva crí- l,rcocupação, que tem sido a escolha dos indioíduos, Para a aborda-
tica, é a estrutura social e econômica que explica o posicionamento rlt'r-n da temática do trabalho na sociedade atttal.
da pessoa na sociedade, empurrando-o para um lado ou outro. Nesta
ótica, o indivíduo não tem autonomia para definir seu caminhar e "A proposta de reflexão sobre o trabalho enquanto atividade social e
enquanto processo de modificação da natureza e determinante de
constitui-se como reflexo da sociedade.
relações sociais, parece-nos fundamental para que tanto os que oP-
Como superação da perspectiva tradicional ou liberal, os dois tam como os que não o fazem desenvolvam uma consciência crítica
autores analisados apontam propostas distintas. Para Pimenta (1979): dessa atividade humana que, esPera-se, venha a influenciar o exercí-
cio de sua atividade profissional" (p. a6).
"A orientação vocacional, ao usar técnicas, advindas da psicologia,
que acentuam a ênfase no indivíduo, cria neste a impressão de que é Ferretti esboça a estrutura de alguns conteúdos que poderiam
ele quem decide; com isso facilita o ajustamento dele à estrutura
,u'r abordados nas atividades de orientação profissional: "a) traba-
ocupacional. Imbuído de uma 'certeza' de que escolheu (a partir da-
llro como transformação da natureza e do homem; b) trabalho e
quilo que era possível), o indivíduo tem maiores chances de vir a ser
mais produtivo. Isto é, contribuir para o aumento da mais-valia da
t'strutura social; c) trabalho e relações sociais; d) trabalho e desen-
classe dominante, que é a que detém o controle da produção [...] A volvimento econômico-social; e) trabalho e educação; f) sindicatos
Iiberdade de decidir é da classe dominante. Por isso, a classe a que o (' associações trabalhistas; g) seleção profissional e discriminação
indivíduo pertence determina a sua escolha profissional. Portanto, :'ocial" (p. 48).
aos orientadores vocacionais de pouco adianta trabalhar ao nível da A crítica à orientação profissional tradicional coloca em xequc
decisão individual, se não Íor libertsda a liberdqde de decidir." (p.724;
,r t'oncepção de que os indivíduos escolhem suas profissões- A cs-
grifo nosso)
, olha seria um fenômeno pertencente à classe dominante, Que, iclco-

A orientação vocacional e a escolha, colocadas como proble- logicamente, é transposta Para todas as classes sociais, sem tluitl:
mas, deveriam ser revistas pensando-se em como atuar de forma a t;trt'r questionamento, acabando por tornar-se uma idéia qtrc rlt;ris
t'ontribuir para a modificação da estrutura social que impossibilita jrrstifica as desigualdades e injustiças engendradas pclo nrotlo tlt'
,r libt'rtladc de escolha. l,r'or-luÇão Capiti-rlistit cltt clue a explicaçãO dc cot-t-to ils P('sr.(),ls
67 ORIENTAÇAOPROFISSIONAL ÚI"]A NOVA CLASSIFICAçAO DAS TEORIAS.,. 6]

posicionam-se na sociedade, tanto como atividade ocupacional Em Opçao trabalho, Ferretti (19BBb) apresenta alteração enr
quanto de poder e prestígio. sua visão.

"A crítica à ideologia liberal e à concepção de indivíduo nela em- "De modo geral, o que foi possível recolher dos depoimentos de meus
butida sem dúvida é um grande avanÇo na compreensão do fun- inÍormantes é que suas carreiras são entretecidas por escolhas e nãrl-
cionamento da sociedade capitalista. Entretanto, no desenvolvi- escolhas, num movimento que obedece, em última instância, às der-
mento da análise, ao negar a existência da liberdade de escolha, terminações econômicas, mas que não se reduz a mero reflexo des-
acaba por também negar a existência do indivíduo. Ele passa a tas. [...] Se é verdade, que [...] os trabalhadores entrevistados nãrr
ser entendido como reflexo da organização social, não detendo escolheram as ocupações que exerciam quando foram abordados, não
nenhum grau de autonomia frente a tais determinações. A estru- é menos verdade que alterações sofridas por suas carreiras podem
tura social tem um poder avassalador sobre o indivíduo, negando ser creditadas, pelo menos em alguns momentos, a opções que fize-
assim sua existência. Desta forma, ao criticar a concepção de indi- ram entre diferentes cursos de ação, e principalmente, à sua intenção
víduo subjacente à ideologia liberal, nega também a existência do de conquistar uma identidade ocupacional que lhes permitisse situ-
indivíduo propriamente dito. [...] Se na ideologia liberal o indiví- ar-se no mercado urbano-industrial e serem nele recorúecidos con.ro
duo 'pode tudo', em sua crítica ele passa a 'não poder nada'."
profissionais." (p. 152)
(Bock, 5.,1989:76)

É necessário que seja feita


Ferretti, em sua pesquisa, percebe que a primeira inserção sc
uma distinção entre os dois autores
clá de forma contingencial, mas que, em seguida, o sujeito planifica
que desenvolveram a crítica à orientação profissional tradicional
no que diz respeito a este assunto. Entende-se que Selma Pimenta, clc algum modo sua trajetória; portanto, há um esPaço que diferen-
ao denunciar o psicologismo recorrente nas teorias e práticas da cia a pessoa da estrutura social.
orientação profissional, sugere que o indivíduo, no capitalismo, Em ambos os casos, não há uma formulação de novas teorias
praticamente não existe. A idéia de indivíduo seria uma articula- (lue possam entender o caminhar do indivíduo. Mesmo Ferretti,
ção idealista e liberal para manter o status quo.Isto fica claro quan- tlue admite certa possibilidade de intervenção da Pessoa sobre sua
do analisa e refuta a contribuição da fenomenologia existencial. Não Lrajetória, não dedica atenção ao exame de como isto ocorre na esfc-
que se queira resgatar esta abordagem filosófica, mas ao perceber ra subjetiva do sujeito.
seu limite, desconsidera a possibilidade de compreender o indiví- Laura Belluzo de C. Silva busca relacionar o social com a su[r-
duo por meio de outras vertentes teóricas. Só a transformação es-
ictividade, ao propor â articulação entre as concePções clc
trutural da sociedade poderia colocar em pauta a liberdade de es- Ilohoslavsky e Bourdieu, no caso, entre o inconsciente da visão psi-
colha; provavelmente, neste momento, teorias seriam gestadas para t'analítica e a teoria sociológica. Para Silva (1996'.52), "é ponto ccn-
explicar e operar esta liberdade alcançada. lral na teoria de Bourdieu que as condições objetivas de virl:r sãtr
Celso Ferretti, diferentemente, deixa aberta uma possibilida- interiorizadas gerando o habitus, conjunto estruturado de disl'rosi-
cle para a aceitação de que o indivíduo não é mero reflexo da estru- ('õcs que irá por sua vez presidir as ações diante de situaçõcs t-'t:stí-
tur;r social, ao incluir o conceito de consciência crítica, ressaltando nrtrlos. Trata-se, portanto, da interiorizaçáo da exterioridaclt', ott,
11r-rc cxistem pessoas que podem usufruir o direito de escolha c cnr oLrtras palavrrrs, da constituição da subjetividadc; c cla t'xtt'ritr
«ltr t rits não. r izirçiio dn it-ttcrirlrirlitrlt', ou, dito de ttutra foÍmit, tlos tttt't';tttir;ttt,,:,
oRtENTAçAO PROfl SStONAL I lríA NovA cLASStFtCAçAO DAs TEOR|AS..

internalizados que subjazem o comportamento". A proposta de


Assim, a orientação profissional teria como tarefa clarear as
Bohoslavsky, segundo a autora,
tlerterminações subjetivas e objetivas da escolha, tendo uma função
"caracteriza-se fundamentalmente pela estratégia de, partindo
nrcramente descritiva e explicativa. o indivíduo teria maior cons-
da ciência dos motivos que o levam a se aproximar de uma profissão.
profissão (ou profissões) mencionada(s) pelo orientando, desvelar a
cadeia de significados que, consciente ou inconscientemente, o sujei- O autor desta pesquisa entende que a concepção de
to lhe(s) atribui. um pouco à moda de uma associação livre, vai se llohoslavsky a abordagem clínica também pode ser considera-
revelando, para orientador e orientando, a que afetos a profissão es-
- - de se encontrarem elemen-
tlir como uma abordagem crítica, apesar
colhida está vinculada e que objetos internos visa reparar,'(p.193) los em sua concepção que estariam mais próximos da abordagem
tradicional.
Mas assume-se que a abordagem da autora, apesar do avan-
Diferentemente de Ferretti e Pimenta, que denunciam a au-
ço teórico, ainda mantém separadas em duas instâncias relativa- sôncia de questões sociais, políticas e econômicas na abordagem
mente autônomas: as dimensões social e subjetiva. por exemplo,
tradicional, Bohoslavsky questiona a visão de indivíduo contida
silva afirma: "A articulação conceitual e a análise dos dados ncssa abordagem. O autor elabora profunda crítica ao que deno-
empíricos sugere que os determinismos econômicos nrina "modalidade estatística", isto é, ao psicometrismo puro na
interiorizados sob a forma de habitus de classe e as vicissitudes orientação profissional, e isso o aproxima do que se denominou
do desejo relativos à escolha profissionar são vivenciados pelos rrltordagem crítica, apesar de aceitar o uso de testes para a elabora-
indivíduos como conflito psíquíco e que este tem possibilidades Eilo de diagnósticos. O problema, no entanto, não se constitui no
de resolução diferentes segundo o estrato socioeconômico con- trso de testes, mas na idéia da necessidade da elaboração de diag-
siderado" (7996: 270; grifos nossos), isto é, na escolha de uma ntisticos. "Consideramos ilusória a suposição de que sempre se
profissão, a realidade socioeconômica pode entrar em conflito [)()de pÍescindir de instrumentos psicométricos ou projetivos na
com os desejos (inconscientes ou não). o desejo seria um chama- t'laboração do diagnóstico em orientação vocacional"
do interno, e a realidade socioeconômica seria o entorno exter- (l3ohoslavsky,7977:112). A necessidade de realização de diagnós-
no, motivo pelo qual podem ocorrer colisões que seriam solucio- tirros para o desenvolvimento da orientação profissional faz com
nadas de forma diferente, de acordo com a classe social de que o (lue a concepção do autor, nesse sentido, possa ser alocada com()
indivíduo participa. ,r bordagem tradicional.

É interessante notar o papel que silva atribui à escolha profis- A psicanálise é o pano de fundo da elaboração conceitual
sional. ,lt' llohoslavsky, que dá grande importância aos mecanismos clc
t t'l)ilrilÇão e lutos contidos nas escolhas profissionais, portanto, clt'
"A apreensão de como os determinismos psíquicos e sociais se arti- l)1"()cessos inconscientes. Não se pretende aqui discutir se, de fatt0,
culam na subjetividade dos sujeitos, em função da história de vida, criste a possibilidade da aproximação da psicanálise com a uricn-
do sexo, da posição social que ocupam e do lugar em que a profis_ l,rção profissional, como faz Voltolini (1996), questionilrclo ir
são escolhida se situa nos mercados escolar e de trabalho, com vis- ,rh.rrlagem de Bohoslavsky como prática psicanalítit'ir. Mirs ,
tas a explicitar os mecanismos subjacentes à escolha profissio.al.,,
l,r'ti[-rrio r.ttrtor tt-vt,chance de, apesar de sua nrortt'Ir.t,rn,rlrrr.,r,
(1996:91)
r'('l)('nriitr () p(\s() t;rrr,tlclr it esscs l-nccanismos. No pr.rilol',o,r r,tli
66
oRtENTAçAO PROFTSSTONAL Lr'1A NovACLAsstFtcACÀo DAs TEoRIAS 61

ção brasileira de seu livro Orientação uocacional: a estratégia clíni_ título de programa a ser desenvolvido. Algo que hoje para mim cstii
ca, ele escreveu: claro é a necessidade de se distinguir nitidamente entre o ego clir
escolha-decisão e o sujeito da vocação. Se a liberdade do ego clcvt,rrí
" ['..] nos impõe um reitura interpretativa, que permita compreender
o ser mais que uma ilusão, ideologicamente condicionada, isso só scrií
caráter sobredeterminado e multideterminado da escolha. A estrutura
possível graças ao reconhecimento da distância entre essa liberdaclt'
do aparelho psíquico, por um rado, e a estrufura sociar, por outro,
que aparente e a sujeição a três ou quatro estruturas fundamentais cfu,
se expressam através da dialética de desejos, identificações
e demanáas sua condição humana. Refiro-me à estrutura social, à ideologia, at,s
sociais não poderão deixar de ser objeto de nossa consideração. A
pes_ sistemas de significação, ao inconsciente." (1983: 15)
soa que decide, suporta e transporta ambas as classes de determina_
çõeE fazendo com que o'individua| e o'social' se expressem sempre Infelizmente, a leitura que se fez deste importante pensador
simultaneamente, tanto nas dúvidas ou obstáculos das tomadas de de_
rla orientação profissional restringiu-se às bases do primeiro livro,
cisão, como nas soluções a que finalmente se alcance.
que o próprio autor criticou (mas não negou), deixando de se consi-
De todos os prot-rlemas que a articulação entre o individual e o
social cic.rar o "programa" qu Bohoslavsky sugeria para ser desenvolvi-
implica, só nos referimos neste livro à dialética clas icle.tificações,
e 11o. A grande tarefa de revelar "a articulação entre o sistema social
esta, sendo determinante da pessoa (e porta,to da sua identidade
irnposto aos homens e os sujeitos que o sustentam" ainda está para
vocacional-profissional) não é determinante em último instância.
scr feita, 25 anos após ser proposta.
o mesmo poderíamos afirmar sobre a importância dada aos proces_
sos de luto e reparação [...], que hoje relativizo, sem negar.
Ou do
peso atribuído aos conceitos de'autonomia egcíica', 'proJeto, e,riber- Teorias para além da crítica
dade de escolha' (produtos da absorção i.suficientemente crítica
do
pensamento fenomenológico e psicanalítico americano).,, (p. XIX) A perspectiva das teorias para além da crítica é superar ir
rlicotomia entre o indivíduo e a sociedade apontada anteriormentc.
Bohoslavsky, com este texto, estava retomando uma Ii por isto que se propõe uma nova abordagem denominada "s(rcio-
autocrítica que já havia feito em 1975, numa obra cuja publicação,
Iristórica", aceitando as formulações desenvolvidas pelas teorias crí-
no Brasil, só ocorreu em 1983. o livro do qual é orgaiízador leva
licirs, mas apontando que é necessário um avanço na compr.ecrrsàtr
o sugestivo nome de vocacional: teoria, técnica e ideologia, dando tla relação indivíduo-sociedade, de forma dialétic4 e não idealista
a
entender que a dimensão social passa a ter mais força em sua vi- trrr liberal; isto é, deve-se caminhar paraacompreensão do indivíclLro
são. De fato, todos os textos deste livro chamam a atenção dos t'orno atoÍ e ao mesmo tempo autor de sua individualidade, quc r-rJo
aspectos sociais e ideológicos contidos na escolha profissional. tlt've e não pode ser confundida com individualismo.
Abordando o que chamou de " a reformulação da estratégia cli
O próximo item será dedicado à apresentação das conct'1'rçirt's
nica", sintetiza: ,l;r aLrordagem sócio-histórica.
"Descortina-se uma perspectiva teórica árdua. Nada mais,
nada
menos que construir modelos que revelem a articulação entre o A obordogem sócio-histórico
sis_
tcnra social imposto aos homens c os sujcit.s que o sustentam,
.
rnantóm, o transmitem/ mas (lLr(' -- rí lr.rn l.var-se cm cotrta tarr_ A aborclagt.nr sticio-hist(rrica aceita a dcntilrr.iir (Ju(' {r:; lr,or
[-rtítt-t tt tratrsfornlant. Esta (í ut-t-tir lirrt'l,r rlilíi'il(lLlc -
ora nrclrt:i6rr. sri ir ,
r

os, tlt'non'rit-tittlos ('r'íti('()s, l'azcm rr rcsçrcito clir irlroltl,rl,,r.rn lr,r,lr


oRtENTAÇAO PROFISSÍONAL UMA NOVA CIASSIFTCAÇAO DAS TEOR|AS... 6e

cional. A denúncia referida aponta que a teoria liberal entende que


.r cluestão da escolha, também poderíamos dizer que o indivíduo
a ordem econômica e social está pronta e acabada,
t'scolhe e não escolhe (sua profissão ou ocupação) ao mesmo tem-
"é apenas o lugar onde as escorhas se rearizam. A sociedade
po" (Bock, S., 1989: 16). Mas, hoje, compreende que há certa incor-
coloca .eção na afirmação por manter de forma ainda dissociada a socie-
obstáculos e desafios que devem ser ultrapassados pelos indivíduos.
Aqueles que conseguirem serão os vencedores, serão os bem-sucedi- clade e o indivíduo. Mesmo assim, para fins didáticos, manter-se-á
dos' Realizar Lrma boa escorha profissio.al é um pré-requisito para a afirmativa porque provoca a reflexão e assinala claramente a di-
que isto ocorra. Assim, ao invés cre procc,der uma análise de.como lcrença dessa abordagem em relação às teorias tradicionais e críti-
a
sociedade está estruturada, desenvolve-se a análise do indivíduo para trirs. Quando se diz que o indivíduo escolhe e não escolhe sua pro-
que ele bem se adapte a esta ordem, sem jamais questioná_Ia.,, (Bock, l'issão ao mesmo tempo, está se tratando da questão da liberdade
S., 1995: 68) cle escolha. De acordo com a classe social de origem do indivíduo,
cle tem mais ou menos liberdade para decidir, porém sempre será
A abordagem sócio-histórica, da mesma maneira que a pers_ rr-rultideterminada. Assim, para as pessoas das classes mais privile-
pectiva crítica, questiona a forma de aproximação dos indivíduos giadas, há determinação social; portanto, não se trata de liberdade
com as ocupações por meio do modelo de perfis, não por negar rrbsoluta. Da mesma forma, para os indivíduos das classes subal-
o
indivíduo, mas por negar a concepção liberar de indivíduo. por isso, lcrnas, há possibilidade de intervenção sobre sua trajetória; por-
Íaz-se necessário construir outra formulação que explique
esta apro-
lanto, não há determinação social absoluta. Na perspectiva sócio-
ximação. lristórica não se reconhece como meramente ideológica a possibili-
..lac1e de escolha das classes subalternas. Ao contrário, entende-se
Da mestna forma que a perspectiva crítica, a abordap;em sócio_
t;r-re nisso reside a possibilidade de mudança, de alteração históri-
histórica entende que as profissões e ocupações não sãoperenes e
( a, ao reconhecer que os indivíduos podem, de certo
imutáveis. modo, intervir
sobre as condições sociais, por meio de ações pessoais e/ou coleti-
Esta abordagem trabalha com a idéia da multideterminação
vrrs. Não se pretende, com isso, resgatar a concepção liberal de ho-
do humano. Combate-se a concepção do ser humano natural ou
r)rcm; da mesma forma, não se assume que se superarão todos os
abstrato.
,[rstáculos colocados pela realidade por mera vontade pessoal, mas
rlu{J âs pessoas podem lutar para mudar as condições em que vi-
"As propriedades que fazem do homem um ser particular,
que fa- vrrn, tanto individual quanto coletivamente.
zem deste animal um ser humano, são um suporte biorógico específi-
co, o trabolho e os instrutnentos, a linguagem, as rerações iociais
e uma
O desafio deste trabalho constitui-se na construção de uma
subjetittidnde caracterizada pela consciência e identidade, pelos
senti-
,rlro161ut"* na área da orientação profissional que entenda o indi-
mentos e emoções e pelo inconsciente. C.m isto queremos dizer
que r'írluo ern sua relação com a sociedade, superando visões que o c()-
o ser humano é determinado por todos esses ereurentos. Ere é l.r'arr como mero reflexo da sociedade ou como totalmente autô-
multideterminqdo." (Bock et at., 7999b: 777) n()nro em relação a ela. A abordagem sócio-histórica aponta cirr-rri-
nlros para entender o indivíduo na sua relação com a s«rr-it'tl;rrlc tlt,
Em 1989, o autor desse trabarho afirmava que o indivíduo "é l()r'n'r.r dinâmica e dialética. vygotsky, o principirl rt,pr.sr.rrl,rrrt.
e
t'rão tí t-ro rnesmo tempo reflexo da sociedade, da mesma forma elc é ,lt'ssrr itlror"dagcnr, "tr'rn como um dos seus pr('ssrrl)r)sr.s lr,r:,it rr,-;,r
t' rr.l, ri iro mcsmo tempo autônomo em relação a ela. Relativarnc,tt- rtltiiir dc qLr('o sr'r lrrrrrrano constitui-se «:nrluirrrlo l,rl rr,r r;u,r rr,l,rr,,ro
oRIENTAÇÃO PROt_t55roNA_
rÚA NOVA CLASSIFICAÇAO DAS TEORIAS lt
com o outro social. A cultura torna-se parte da natureza humana
num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espé- r liz poeticamente Guimarães Rosa: "O importante e bonito do mur.r-
r lo c< isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foranr
cie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem,,
(oliveira, 1992:24). Dessa forma, não há ruptura dó inaivrduo com tcrminadas que elas vão sempre mudando. Afinam ou cle-
a sociedade e nem a sua anulação enquanto ser singular. sirfinam" (1983: 20).
Falando sobre a gênese das funções psicorógicas superiores, Ciampa (1,987:171) aÍirma que: "Interiorizamos aquilo que ()s
vygotsky afirma: "Mesmo sendo, na personaridadá, transformadas outros nos atribuem de tal forma que se torna algo nosso. A ten-
em processos psicológicos, elas permanecem'quasi'-sociais. o in- tlôncia é nós nos predicarmos coisas que os outros nos atribuem.
dividual, o pessoal não é ,contta, , mas umaforma superior de Até certa fase esta relação é transparente e muito efetiva; depois dt'
-
sociabilidade" (2000: 27). "paranós é a personalidade sociàl : o con- ,rlgum tempo, torna-se mais seletiva, mais velada (e mais complica-
junto de relações sociais, encarnado no indiaíduo (funções psicológicas, ,lir)". Assim, o ser humano desenvolve suas habilidades, sua perso-
construídas pela estrutura social)" que define o que é o homem rr.rlidade, suas atitudes na relação com o outro, e esta relação estií
(Idem: 33). Portanto, para a abordagem sócio-histórica, não há rrrt,diada pela sociedade.
con-
flito entre a sociedade e o indivíduo. o autor usa a expre ssào perso- Furtado, estudando as dimensões subjetivas da realidade, cn
nalidade social parasignificar que as funções superiores resultam
da
ll'nde a constituição da subjetividade individual como
internalização do social: o que era inter-subjetivo passa a ser intra-
subjetivo, sendo esse processo mediado pela linguagem. "um processo singular que surge na complexa unidade dialética t'rr
tre sujeito e meio atual, definido pelas ações e através das quais .r
o conceito de, zona desenaolaimento proximal de vygotsky ex- história pessoal e a do meio em que estes se desenvolvem cc»nflur'rrr
plica como ocorre o desenvolvimento intra-subjetivo. 'io que ca-
a uma nova unidade que, ao mesmo tempo, apresenta uma coniigrr
racteriza o desenvolvimento proximal é a capacidade que emerge e
ração subjetiva e uma configuração objetiva. A constituição subjcti-
cresce de modo partilhado. Com seu refinamento e iniernalizafão, va do real e sua construção por parte do sujeito são processos sin'rtrl-
transforma-se em desenvolvimento consolidado, abrindo novas tâneos que se inter-relacionam, mas que não são dirigidos pcla irr
possibilidades de funções emergentes" (Góes, zo00:24).para Góes, tencionalidade do sujeito, que não é mais do que um momento ncsk'
uma boa aprendizagem é aquela que não só consolida, mas, funda_ complexo processo. E assim como o social se subjetiva para conv(,r
mentalmente, cria outras zonas de desenvolvimento proximais de ter-se em algo relevante para o desenvolvimento do indivícluo, o
forma sucessiva (idem). subjetivo permanentemente se objetiva ao converter-se em partt'rl;r
No mesmo sentido encontram-se outros autores que assina- realidade social, com o qual se redefine constantemente cor.no plo
lam que a identidade é construída no seio das relações sociais. Irara ccsso cultural." (1998: 58)

Ciampa (1987: 127): "Cada indivíduo encarna as relações sociais,


[']artindo do pensamento de Marx de que "não é a ct'rnsciônciir
configurando uma identidade pessoal. uma história de vida. um
(luc dctermina a vida, mas a vida que determina a consciônt'i;r"
projeto de vida. uma vida-que-nem-sempre-é-vivida, no emararúa-
(,rlrtrrl Bock, 4., 1999a:23), Ana Bock arrola cinco pontr)s (lrr(. ('sl)('
r'1. c'las relações sociais". A identidade é metamorfose, e
essa con- r rlit'ilnr a abordagem sócio-histórica:
ct'pção scrtí a base do entendimento da escolha profissional: o ir"rcji-
v ítl tto ll'tocl iÍ'ica-se permanentemento, c«rrrstrrii sua l) "Não cxistt'l.rittureza humana" A iclóia clt'rrirtrrn'z.r lrrr
ider-rticlitclt' c9r-rs- -
rn.rrrir r'olocit o lrorrr,'rrt ('()nt() Lll'n scr cnt p()tcncial t;rrt.sr,r'r',rliz,rr',r
l,trrlcrrrt'lrtt', nao rí e ntu-lcA cstrrrií irr.;rlrirtlir srra forma Í-inirl. (,orrro
n,r (ullttt'ir, r'lc lcti,r rrtt.t t'ssi'r-rcia rltrr'1-rrt't'is;r st'r'tlr,r;,r1,r,,,lr,r,l,r.
72
oRENTAçÀOPROF§S|oNAi- LlyA NovA clAsslFtcAÇÁo DAs rEoR|AS

desenvolvida ou atualizada. "Toda a


determinação social do ho- 5) "O homem concreto é objeto da psicologiz,, _,,O
mem fica oculta sob essas idéias e conceitos, indivÊ
qr" ," tornam repre_ cluo só pode ser compreendido em sua singularidade, quando insc-
sentações ilusórias; parte da realidade,
determinante do objeto. Faz_ rido na totalidade social e histórica que o cietermina e àá sentido t)
se, ass_im: ideologia,, (Bock, A., 1999a:27).
AnaBock cita Charlot, sua singularidade" (Bock, A., 1999a: 34).
que afirma assertivamente que a "rtatureza
humana não existe e
propõe a substituição definitiva do
termo pera idéia de condição Numa perspectiva sócio-histórica, o conceito de vocação pocle
humana" (1999a:27).
ser expresso da seguinte maneira: a uocação do scr hr,Lnnno é exatn-
2) "Existe condição humana,, _ Nenhum rrtt:rtte não ter outras aocações.Isto é, elc nasce determinado
aspecto do homem biologi-
é preconcebido na idéia da ,,condição humana,,. carnente para nenhuma atividade específica. uma abelha, esta sim,
nasce determinada geneticamente para fazer mel: atraída pelo per-
"Não há nada em termos de habilidades,
faculdades, valores, apti_ l-ume das plantas, ela recolhe o néctar que reage com uma enzimtr
dões ou tendências que rlasçam com o ser
humano. As condições bio- dcntro de seu corpo, transformando involuntária ou naturalmentc
lógicas hereditárias do homem são
a sustentação de um desenvorvi-
mento sócio-histórico, que lhe imprimirá .rquela substância, que será depositada,a corméia, em mel. send.
possibilidades, habilidades, radical na compreensão do termo, pode-se dizer que este animal
aptidões, valores e tendências hiitoricamente
conquistados pela hu_
manidade e que se encontram condensados [e'm um "chamado interno" que o obriga a realizar tal atividade
nas formas culturais de-
senvolvidas pelos homens em sociedade.,, p.ra sua própria sobrevivência e de sua espécie a abelha ter-,
(Bock, A.,7999a: Zg)
r,'ocação (pode-se atribuir aqui sentido biológico ou, - caso haja fcí,
3) "O homem é um ser ativo, social para produzir mel; esta vocação não é fruto de escolhas,
e histórico,, _Épor meio 't'ligioso)
do trabalho que o ser humano mostra-se nras sim determinismo da natureza.
ativo, ao buscar sua sobre-
vivência' Ele faz isto com outros seres O ser humano não tem nada em seu corpo que o obrigue it
humanos, o q"" 1rr" aa
característica sociar. A forma de exercício
do trabarho é histórica," 't'alizar
determinada tarefa. se olharmos para os primeiros huma-
isto ó o modo de produzir e de relacionar-se nOs, encontraremos um animal acuado na caverna e que sai
com a natureza e com os espor"ir-
outros ocorre de acordo com o modo tlicamente para encontrar alimento. Ele é muito frágil:não tem pô1,
de produção de cada período.
4) "O homem é criado pelo próprio suficiente para se proteger das mudanças climáticas, não tem asr-rs
homem,,
[)irra voar, não vive embaixo da água, não tem muita força (compa-
"No conjunto de relações sociais, r'.rc1o com os outros animais), não tem velocidade, não
mediadas pela linguagem, o indi_ tem tarnir-
víduo vai desenvolvendo sua consciência. rrlr., couraça, veneno, presas e nem produz naturalmente seu prri-
com o desenvorvimento
da consciência, o homem sabe seu
mundo, sabe_se no mundo, ante_ [,rio alimento. Poderíamos dizer que ele teria poucas chances r.lt,
cede as coisas do seu mundo, partilha_as srbreviver. Entretanto, não só sobrevive, mas coloca a nattrr.za,
com os outros, troca, cons_
trói e reproduz significados. (lre r1o primeiro momento lhe era absolutamente hostil, a sclr sor-
euando atua sobre o mundo, relacio-
nando-se, apropria_se da cultura
'iç.. E como ele pode fazer isso? o que tem de biorógic. enr s('.
e adquire linguagem; up.oprlr_r"
clos significados e constrói um
sentido pessoal para suas vivências. ( ()r[)o clue lhe permite realizar
o caminho da fragilidaclc prrra .r rlo
Tem' assim' todas as condições para
atuar com os outros, criar e t ra- rrrirraç:ão? Exatamcntt'seu caráter pouco cspecíiico. lilt'tlt,st,rrv,Iv.
borar significados. O homem sà fu,
homem ao mesmo tcmpo tlut, rtrrr ctírt'bro rnairlr'(r'ln rclirção a() seLr corpo) t'nr,los livr.r.s
corrstrríi seu mundo.,, (Bock, A., 1999a:32) l,,rr,r
rrr,utillrrlar. Siot':;lr's tloist'lt.tncntos rnorÍill«igit,os(Ju(., (,()n)()
l).nl(l
74 oRENTAçAOPROflSS|ONAL UMA NOVA CLÀSSIFICAÇAO DAS TEORIAS,,, ?5

de partida, diferenciam os seres humanos de quaisquer outros ani- ç conceito de prevenção que, segundo as autorag ainda tem cgmo rc-
mais. A partir destes primeiros elementos morfológicos, ele cons- ferência a doença, a patologi4 que por isso deveria ser prevenida.
trói instrumentos para facilitar sua sobrevivência e os aperfeiçoa
constantemente. Porque vive em sociedade com outros que tam- ,,Promover saúde significa compreender e trabalhar com o indiví-
bém têm cérebros e mãos, todos podem aprender. É nesta relação duo a partir de suas relações sociais; significa trabalhar estas rela-
e a sua transformação
com a natuteza e com os outros que o ser humano cresce, desenvol- ções construindo uma compreensão sobre elas
necessária. Promover saúde significa trabalhar para ampliar a cons-
ve-se e adquire habilidades.
ciência que o indivíduo possui sobre a realidade que o cerca/
Como pode ser compreendido o processo de individuação instumentando-o para agir, no sentido de transformar e resolver to-
neste contexto? vygostky chama de "internalização a reconstrução das as dificuldades que essa realidade lhe apresenta." (Aguiar & Bock,
interna de uma operação externa" (1994:7s).parao autor, o proces- 1995:12)
so de internalização consiste numa série de transformações: ,â) Uma
operação que inicialmente representa uma atividade externa é
reconstruída e começa a ocorrer internamente. [...] b) um processo
interpessoal é transformado num processo intrapessoal.
t...] c) A
transformação de um processo interpessoal num processo
intrapessoal é o resultado de uma longa série de eventos ôcorridos
ao longo do desenvolvimento" (Vygotsky, 1994:75).Assim, para o
autor: "A internalização das atividades sociarmente enraizadas e
historicamente desenvolvidas constifui o aspecto característico da
psicologia humana; é a base do salto quantitativo da psicologia
animal pata a psicologia humana,, (Vygotsky, 1994:26).
A linguagem assume fundamental importância nessa interna-
lizaçáo- A "relação entre o pensamento e a palavra não é uma coisa,
mas um processo/ um movimento contínuo de vaivém do pensa-
mento para a palavra, e üce-versa [...]. o pensamento não é sim-
plesmente expresso em palavras: é por meio delas que ele passa a
existir" (Vygotsky, 1993: 108). "O pensamento e a linguagem
[...]
são a chave para a compreensão da natureza da consciênciá huma-
na. As palavras desempenham um papel central não só no desen-
volvimento do pensamento, mas também na evolução histórica da
consciência como um todo. uma palavra é um microcosmo da cons-
ciência humana" (Vygotsky, 1993: 1,32).
Ag** & Bock (1995) discutem a função da orientação profissio-
nal segundo a visão da Psicologia em bases sócio-históricas. conside-
Íarn-na como ulna intervenção para â promoção da saúde, superando
A PROPOSTA DE ORIENTAÇAO PROF§SIONAI

A PROPOSTA DE ORIENTAÇAO PROFISSIONAL


NA ABORDAGEM SOCIO-HISTORICA

A aproximaçáo do indivíduo com as proíissóes

Como já foi abordado, não se pode aceitar o modelo de perfis


para entender a relação do indivíduo com as profissões, ou ocupações.
Por isso, é necessário desenvolver outro modelo de aproximação do
indiúduo com as ocupações ou profissões, de forma que propicie a
superação da visão estreita e mecanicista tradicionalmente utilizada.
A pista para a superação desta visão mecanicista e estática pode
ser encontrada nas contribuições de Bohoslavsky (1977) que/ na
década de 1970, produziu uma abordagem denominada "estraté-
gia clínica,,. Sob ahtz dapsicanáIise, buscava uma interpretação de
como os indivíduos escolhiam suas profissões. Embora não possa
ser identificado com a abordagem sócio-históríca, considera-se que
a grande contribuição do psicólogo argentino foi ter apontado que
as profissões e ocupações não são pensadas ou oPeradas de forma
abstrata pelo indivíduo.

" 1...1 aescolha sempÍe se relaciona com os outros (reais e imagirta-


dos). O futuro nunca é pensado abstratamente. Nunca se Pensa ntltllil
oRltN rAÇAO PRO| tS\tON^t t'l« )1'|( )\ I I )l ( )lill N l^(,.^( ) lI( )l l\\l( )NAI
^ ^

i\ míclia, de leituras (biografias'z rolrlallccs/


carreira ou numa faculdade despersonificadas. Será scmprc css/tcar- l)(,ss()ilis, clc cxprosição de ou-
reira ou essa Íaculdade ou trabalho, que cristaliza
esse relaçõrcs rcvistas etc.), cle ouvir dizer (transPosição de experiências
pessoais' como
interpessoais passadas, presentes ou futuras. Deve-se examinar as tros), portanto não só por intermédio de contatos
diz que pretende
relações com os outros com os quais se estabelecem relações primrírias Bohoslavsky aPonta. Assim, quando uma Pesson
(membros da família, do mesmo ou do outro sexo como, por exem- em algo genérico e
ser tal o, qíul'p.ofissional, não está pensando
plo, o casal) e aqueles outros com os quais se mantém uma relação pretensão' Esta ima-
abstrato; existe um modelo que dá forma a esta
de natureza secundcíria (fundamentalmente professores, psicólogos da profissão'
ou técnicos [...], que pode determinar ou influir diretamente sobre o gem gera uma identificaçãoou um afastamento
esta ima-
futuro de quem escolhe) [...] O futuro implica desempenhos qdultos e Nos modelos tradicionais de orientação profissional,
se trata, novamente, de um futuro personificado. Não há nenhum gemconstruídapelaPeSSoaédesconsiderada.Afirma-sequeaima-
adolescente que queira ser engenheiro'em geral' ou lanterninha de da realidade, ilusória e não pode ser levada
[".r-t for*uaa e áttante
cinema'em geral' ou psicólogo'em geral'. [...] Isto quer dizer que o
em conta Para a escolha de uma profissão'
Tal modelo pretende
'queria ser engenheiro' nunca é somente'queria ser engenheiro', mas que sua ação
'quero ser como suponho que seja fulano de tal, que é engenheiro e
agir de foima neutra, sem ideologia, considerando
aparentemente
tem tais 'poderes', que quisera fossem meus'." (Bohoslavsky,7977: 53) pãrmite ao indivídu o fazer uma escolha adequada'
1'científica", calcada unicamente em pretensos dados objetivos e
si próprio'
Acredita-se que tal formulação de Bohoslavskyl4 mantém pro- "testados" a respeito das profissões' do trabalho e de
construída
ximidade, neste particular, com a visão sócio-histórica de indiví- No presente trabalho, assume-se que esta imagem
duo defendida nesta abordagem, embora o referido autor não seja éexatamenteopontodepartidadaopçãoprofissional'Masantes
a imagem de uma
seu representante. Nela, nega-se a visão Iiberal e naturalizante do de desenvolver esta idéia é preciso pensar como
sujeito. Ao contrário, busca-se o entendimento de que ele se cons- com ela'
profissão é construída e como a pessoa identifica-se
trói a partir do que vive, isto é, da interrralização do vivido, resul- esta questão'
Recorre-se a alguns exemPlos para compreender
tando daí a dimensão histórica da construção de sua identidade.
orientanda (de
Apresenta-se, primeiramente, o caso de uma
Quando uma pessoa pensa em seu futuro, ela nunca o Íaz de uma escola municiPal'
forma despersonificada. Ao escolher Lurla forma de se envolver no dezesseis anos), estudante da oitava série de
de São Paulo' que
mundo do trabalho bem como a ativiclacle que vai desenvolver, a residente num bairro de periferia d'aZona Su1
casa e de seus ir-
pessoa mobiliza imagens que adcltriritr clurante sua vida. Assim, ao tinha com principal respánsabilidade cuidar da
fora de casa seu
pensar em profissões específicas, o inclivícluo está expressando que mãos menores enquanto seus pais trabalhavam - No
doméstica'
"Quer ser como tal pessoa, real ou inraginada, que tem tais e quais pai era cobrador âe ônibus eiua mãe empregada
menina
possibilidades ou atributos e quc supostirmente, os possui em vir- g.rpo de orientação profissional de que Participava'/ e-sta
ser jomalista' Quan-
tude da posição ocupacional quc cxt'r.:c" (idem: 53). dtzia,semPre com muita convicção, que queria
desse interessc
Ao pensar numa profissão, il p('srioa mobiliza uma imagem do questionada, não conseguia explicar os motivos
que foi construída a partir de sua vivôncia por meio de contatos enemconseguiaexplicitarquaisseriamasatividadesdesteprtrl.is.
sional, além de dizer que ele Íazia entrevistas'
colot'ar-sc
Numa atividade em que os participantes deveriam
o motivo apart-t'r'tr' A
14. Logicamente o autor sabe que ostii Pirrq,rrrrlo rlo tcxto de Bohoslavsky o que consi-
dera importante para sua intervenção, tcnJo rlrrrr;t itlrrt'i,r de que o psicó1ogo argentino não
no papel do profissional àe seu interesse'
:e re:tringe a este conceito. alunadeclarou-sefãapaixonadíssimadeumcantorpopttlitt.t'r,i:;
oRILN IAÇAO l_ROl t5stoN^l )l ()Rll l«)l lssloN/\l 8t
t1«)l'()5 I A I N IA(.4()
^
lurnbrava um contato pessoal,
ou t
uma entrevista que poderia por meio dc rrrorlrcnto, ltt-t't cot-ttittg/ Lllna hiStória. O jovem cOnStrcii uma r:ara de
r"utzuJffiproximação,
A orientanda, a partir de sua inserção trrl profissional cla informática, poÍ exemplo, a partir de desenhos
tória e vivências, construiu no mundo, de sua his- irnir-rraclos a que assistiu na infância, de filmes e livros de ficção cien-
uma imagem do que é ser um jornaris_ tíÍricrr, por meio da relação de seus pais e amigos com o computador,
ta e sentia-se decidida e convencida
do acerto de sua escorha. A clc aulas na escola sobre a matéria ou mesmo de comentários de pro-
imagem formada a respeito
craquere profissionar respondia
às suas Í,cssgres sobre o assunto, de jogos de videogame, de contato direto
necessidades, anseios, ,aloresL
se com aquela imagem. varores
desejos €, por isso, identificava_ com a máquina, por meio de manuais e guias de profissões etc.
sociais também p."r".rt", Enfim, as pessoas constroem e lidam com a cara da profissão
nesta imagem _. o sucesso,
o glamour captado, via"rtaá
meios de comunicação, mantéir exposição aos (termo que se refere à imagem que a pessoa tem de cada profissão).
a estrutura social intacta,
questionado. nada é A cara é resultado do contato direto ou não, como já afirmado, que
ela teve com a área do profissional. Esta cara não é verdadeira nem
Não se pretende discutir neste
momento como se rida com falsa, não é nem mais próxima nem mais distante da realidade, não
situação, mas pretende_se-pontuar a
que não se despreza o que é correta ou incorreta, é simplesmente úrrra cara que deve ser traba-
trazido pela aluna, considerando foi
lhada. As pessoas se identificam ou não com essas caras. E interes-
.
a
ranta si os o ou simpr esm
gem que a pessoa traz (e a
enre ar to."i# Hil.,:T:,l:il,:. nTl sante perceber que estas caras são constituídas na interiorização e
maioria trr
todas as
singularização do vivido, por isto são diferentes para cada pessoa.
prorissões) é o
fonto de partida o, processo de identificação valoriza estas caras. Logicamente
o
Outro caso que chama a atenção "i'.;il'iffi$:.Hase
é o que ocorre com o profis_ não são processos separados e ocorrem muitas vezes de forma si-
sional da área de ciências atuariais.
õ ,-.a'*,ã'n'"* o'i.rrssionar multâneá. Localizar qlars caras agradam e quais não agradam é o
desconhecido; quase ninguém
ouvitr farar argo a respeito dere. que aqui se chama de processo de identificação. Ela não ocorre ne-
entanto' as pessoas formam No
uma imt-rgcrrr, provavermente cessariamente pelo aspecto objetivo ou racional dessa cara/ mas res-
da sonoridade do nome, a partir
que as afasta dcra. Como ponto ponde a necessidades subjetivas que também foram construídas na
a imagem formada leva de partida,
a um desinter relação com a história e o ambiente social'
go urio., p;;;r;"rsoas se dão ao ,,,,ij:,;J0""'ltl;.lX voltando ao caso da menina que queria ser jornalista, a cara
formações, descartando, Iogo fifi:J,.i1
a., ,o,.Jn, rlualquer possibilidacle
de
montada da profissão tem a ver com a possibilidade de entrevistar
se aproximar da profissão.
o cantor de quem é fá. A visão de que jornalistas convivem com
ocorre o inverso com o profissi.rar
crn área de Rerações Inter- pessoas famosas ou glamourosas levou-a a aproximar-se da profis-
nacionais. Apesar do grande .
ião. Irro, ao que Parece, Pesou muito mais na construção da cartt e
descorrht r
dades, ár"u, de ri""5r" e
do mercau,,,:Ii?lt"i#3:ili:t;l[ de sua identificação com a profissão, do que qualquer outro aspec-
atenção' A imagem formada to. Certamente, a imagem construída decorre de alguma relaçãtr
faz cr,r 11Lr.r várias pessoas
sintam_se,
hoje, interessadas pela profissão. r- estabelecida com a ocupação. Afinal, ela sabe que um jornalistl
As pessoas, ao pensar nas profissrlcs,_mobilizam entrevista pessoas, conhecimento adquirido muito provavcl mt'tr tt'
foram construídas durante toda imagens que pela sua exposição aos meios de comunicação. vendo e tlttvitttlo
a ,,,,,'uiar. para esta .orirt nulrli't tttlvt'l,t
contribui todo o seu processo
dc s.cialização, ,.rão uf,".ru,
rçao, fornalistas nos noticiosos, ou mesmo observando-os
" ,* ou filme, a imagem pôde ser construída.
oRIEN rAÇAO PROl,tS§tONAl t,t« r,o\ I I )t Ol(lt N I A(,.4{ ) l'R( )l l\\l( )N^l
^ ^

t,scolha prolissiorral ó ttlnrit clc viíriits


t'iôrr
O programa de orientação profissional, elaborado pelo autor e r.ncr1tc, o Ícrrôrrtcntt c'la
ua área' ó trecesstíritl ctlt'ttitr
cir-ts c qLlr:, palra utma bcti-t intervcnção
colaboradores, apresenta algumas características que permitem acre-
ditar que se constitua uma alternativa inovadora e progressista na c()rn o aPorte dc todas elas'
área da orientação profissional.
outropr:incípioestruturanteéclesmistificaraidéiadcclt-tctl
Uma das características fundamentais é entender que a orien- orientadorfaráumdiagnósticoeumprognósticoColnof(lrrntrlaclt'faça
tação profissional não é de competência exclusiva de uma única pessoa
para que a própria
decisão. A estratégia é ãur condições
área. Ao contrário, o fenômeno da escolha profissional do indiví-
suarefiexãoePossad.ecidir,entendendodeformamaisamplaptls.
duo será mais bem compreendido com o aporte das mais variadas
sível as determinações de sua escolha'
ciências. É bem verdade que, no Brasil, psicólogos e pedagogos em relação ao atendimcn-
mantinham um acordo tácito, enquanto divisão do mercado de tra- O trabalho em gruPo é privilegiado
estabelecida enri-
balho: os primeiros exerceriam suas atividades nas clínicas e os se- to individual, por J" "'-'t""ã"r que a dinâmica
das dificuldades' opirri-
gundos nas escolas. Mas o programa que será descrito prevê que quece o processo, permitindo a observação
de vida do outro' A diversidadc c
pelo menos a sociologi4 a pedagogia e a psicologia estejam presen- ões, valores, interesses e projetos
Cada um enxerga de forma di-
tes no desenvolvimento do processo. Pela vontade do autor, seriam a heterogeneidade sao
"átorizados'
incluídos outros profissionais e/ou áreas de conhecimento, tais ferenteavidae,numambienteesociedadeclemocráticos'todos
existe uma
pode-se perceber que não
como filósofos, economistas, lingüistas, especialistas em comuni- poa"* aprender com todos;
a seguir' apesar de todos terel,
cação, alguém da área de exatas e tecnológica para compreender o única verdade e um único caminho
à ideologia da classe dominantc'
fenômeno de forma mais ampla e integrada. A originalidade do em comum a exposição constante
pÍograma revela-se na constituição de uma equipe interdisciplinar,
que se propõe a superar o discurso hermético de cada área, sem
Descriçáo do Programa
perder sua especificidade, possibilitanclo a atuação dos profissio-
nais numa intervenção em grupos scm diferenciar as funções. O
O programa é desenvolvido em três
unidades assim denorni-
que deve dar unidade de ação aos profissionais é a perspectiva edu-
cativa do processo proposto.
nadas:móduloI-significadodaescolhaprofissional;móduloll
Quando o programa foi iniciado em 1981,15 o profissional da -otrabalho;móduloIII-autoconhecimentoeinÍormaçãopro-
fissionall6.
sociologia responsabilizava-se mais pcla discussão do tema traba-
lho, enquanto o psicólogo atinha-sc i\s cluestões pessoais de auto-
conhecimento e o pedagogo respor-rsabilizava-se pelas atividades Modulo t- 0 significodo do escolho profissionoí

de informação profissional. Entretant., r'ro decorrer da experiênci4


a questão da
os profissionais decidiram alternar-sc na condução dos diversos O obietivo deste primeiro módulo é introduzir
temas, não se restringindo aos espccíÍ'icos de sua formação. escolha profissional, discutindo os
valores' a importância' a neccs-
ou não desta opção para o sujeito'
bem como a reflexão so-
O autor acredita que o ftrrrclirnrcntal nesta experiência sidade
interdisciplinar foi ter aprendido clLrr:, tarrto teórica quanto pratica-
modificações realizadas' Por alrr
16. Optou-se, em função das constantes
orientandos cuJo grupo foi obieto dc irrr'ili:;t'rt'r
programa que foi a","'lt'oit'iao com os
15. O programa foi desenvolvido a partir rlt, l9lJl, na Fundação Carlos Chagas presente investigação'
oRTENTAÇAO PROFTSSIONAL
A PROPOSTA DE ORIENTAçAO PROFISSIONAL,,, 85

bre os modelos de escolha que existem na sociedade. Este módulo é


ile trabalho aberto. Com isto, mostra-se que o mercado modifica-sc
desenvolvido em quatro sessões.
no tempo, ocorrendo alterações tanto no lado da demanda com() n()
A primeira sessão está dedicada totalmente à apresentação de cla oferta.
como o programa é desenvolvido e ao mútuo conhecimento dos
Neste ponto, discute-se ainda a questão da realização pessoirl
membros do grupo. Tem o objetivo de situar todos na proposta e de r'/ ou profissional, apresentada geralmente como argumento dos tlut'
constituir-se como uma sessão facilitadora, que possibilite a ,,qr"- discordam da afirmação de que o mercado é o elemento fundamctr-
bra de gelo" entre os seus membros. tal de uma escolha profissional. Estes participantes apontam quc a
A segunda sessão coloca três temas em pauta: o mercado de tra- rcalização pessoal, isto é, o gosto pela atividade, leva a um maior'
balho, os meios de comunicação e o vestibular. o procedimento da cmpenho, que gera maior competência, tendo como conseqüência
sessão é o seguinte: primeiramente o participante responde, por a superação das dificuldades apresentadas pela realidade. No gru-
escrito e individualmente, três questões que se constituem como po, procura-se analisar o significado do termo "realizaçáo profis-
afirmativas com as quais ele deve concordar ou não, explicando sir)nal", apontando que a competência netn sempre é saída parir
seu posicionamento. Posteriormente, no grupo, o orientador solici- todos os obstáculos, isto é, há profissionais competentes quc cst.trr
ta que verbalizem suas respostas a cada questão, propondo um de- clesempregados.
bate em que os que estão de um lado devem tentar convencer, com A questão que versa sobre os meios de comunicação tem por
argumentos, os do outro, sobre o acerto de sua posição, e vice_ver_ objetivo evidenciar os valores sociais dominantes em nossa socit'
sa. Independentemente da resposta, aqui o objetivo é a explicitação tltrde, estabelecendo uma relação com a escolha profissional, bt'nr
de todos os argumentos e valores envolvidos no assuntá. A pers- ('omo com a confiabilidade das informações apresentadas. An.rli-
pectiva é que cada pessoa ouça argumentos a favor e contrários aos sirrrl-se algumas peças publicitárias, novelas, Íilmes e procurir-s('
seus/ para que possa ampliar, criticar ou até mesmo modificar seu t'xtrair deles as mensagens implícitas. De forma geral, aponta-st'
ponto de vista. A intervenção do coordenador do grupo ocorre no (lLre são valorizados o poder, o prestígio, o dinheiro e o indivicltra
sentido de ampliar a discussão, trazendo os conceitos envolvidos lisrno por meio do poder de consumo. Estes valores delinci.rnr,r
na questão. ,'scolha profissional, mas destaca-se que podem existir outros valo-
r('s que demarcam outras possibilidades. Aqui se propõe que tr ot'it'tr
Quanto ao tema mercado de trabalho, esclarece-se o conceito
tando pense em seus valores, isto é, relacione-os, analise-os c criti-
relação entre a oferta de empregos (hoje de trabalhos) e a procu-
-ra por parte de trabalhadores (lLrc-os, estabelecendo sua própria hierarquia (que pode ou trào t's-
qualificados para tal, apontando a
lirr cie acordo com os dominantes).
historicidade desse mercado, isto é, evidenciando que se modifica
em virtude de um grande número de variáveis de ordem econômi- A respeito do vestibular, discute-se o setr sigl-riÍicatlo.
ca/financeira, social, cultural e política contingenciados pelo con- l)t'snristifica-se a idéia de que é o esforço individual cluc cliit'rt'tr
t iir os candidatos, em primeira instância, quanto à aprcvação. I'ir r.t
texto regional, nacional e internacional.
isso, utilizam-se dados do vestibular da USP aprcsentirtlos lrunlir
Introduz-se o conceito de "campo de trabalho,,,q,uesig,ifica o
l,rlrcl.r tlut'contém dados de número de inscrit«rs p()r ('irrr('ir',r, nrr
pote'ncial de trabalho ainda não necessariamente corrvt,rtitlo t,rn
rrrt'ro tlt' vagas/ rt'lar,-ão candidatos p()r vagtr, notas clt' cot'tt', t'ttlt t'
rtrt:rcaclo, cle forma que uma profissão otr ocupirção p1r1l1, s(.,r1)r(,_
r,,lr('l)ilra cirrla P;1 11ir'iPitntt'. Disctt tt'-st'a irnptlrlârtr'iir tlt':;l,t l)r'or',r
st'tttilr ('nl tllll mcrcadcl dc traballr«l sirtrrrirtio, mits ('()nr urn (,11)l)()
r'rn lrrrrçiio tlir rt',rlitl,r,lr'tlrt po1-rttlaç;io, irrtrotltrzitrtlo,r t;ut':;l,ro rl,r
r'R{ )l'o\ I l)1. oRll N I AçA( ) l',R( )l l55l()NAl
ORIEN TAÇAO PROi'ISSIONAI ^ ^

política educacional brasileira. Por fim, discutem-se os sentimen- 4)Estacscolhitóirnptlrtantc;llãoóparirtlrcstoclavicla(cottrtr


rleve Permanecer determinado tetn-
tos envolvidos na temática, observando histórias em quadrinhos profissão também não é) mas
referentes à questão. 1'ro com
você.
do grupo que elabo-
A terceira sessão aborda mais dois assuntos: 1) a relação gênero Em seguida, solicita-se aos participantes
da escolha de um sabor dcr
e escolha;2) a relação do desempenho escolar com a escolha. Proje- rcm hipóteses Para resolver o p'àbl"*u
levantadas e a discussãrl
tam-se, por meio de transparências, dados que mostram que ho- sorvete. Abaixo, apresentam-se hipóteses
uma'
mens escolhem mais a área de exatas e mulheres escolhem mais as que se pode fazer a respeito de cada
áreas de biológicas e humanas, e propõe-se a seguinte questão: como
no par ou ímpar'
se pode entender que homens e mulheres escolham de forma dife- L' hipótese para a solução: Tirar a soúe
descartada' porque não
rente? Esta questão tem como objetivo discutir de que forma os in- Análise: Esta hipótese, é lógico' está
deve-se apontar que' al-
teresses e a personalidade como um todo são construídos, por meio garante absolutamenle nada' Entretanto'
para resolver determina-
da socialização na cultura e não de uma suposta matriz inata. Neste gumas Yezes,se usa este tipo de solução
que se corre-todos os riscos
tópico, discute-se ainda a questão de como a elaboração cultural ãos problemas' Seria uma loteria em
das questões de gênero afetam os salários pagos para homens e de "sucesso"' Existem pessoas
possíveis com uma chance mínima
mulheres, por meio da discussão de dados do PNAD (IBGE). deste tipo de solução' mas aqui é
que adoram iogat,isto é, gostam
O gosto pelas disciplinas escolares é utilizado como mote para necessárioumaescolhaconscienteeresponsável.
a discussão mais geral a respeito do significado, importância e for-
ma da efetivação de escolhas. Desenvolve-se o "procedimento do 2' hipótese: Othar a embalagem' obseraar a cor dos soraetes'
sorvete", que se constitui numa metáfora, para demonstrar a elabo- na embalagem abran-
O sorvete Y tem como cor predominante
ração e desenvolvimento de processos dc cscolha. Apresenta-se a
ca, já o X tem a coÍ marrom'
seguir o procedimento, uma vez que sc considera de fundamental assepsia e os sabores
importânciapara a compreensão adeclr-rada do programa e por de- O que a cor branca lembra? Paz'limpeza'
limão' O marrom' ao con-
monstrar com clareza a concepção de cscolha que o fundamenta. de coco, creme, nata, chocolate branco'
de chocolate' amendoim'
O "procedimento do sorvete": lrátío,Iembra sujeira, terra e os sabores
café, coco queimado etc' Alguém
conseguiria decidir com estes da-
Apresentação do problema: Vocô vai tc.r que tomar uma deci-
são muito importante: vai escolher ufit sorvcte. Para facilitar atareÍa,
dos?Logicamentequenão'Oproblemaseriaseautoconvencer/poll
da cor branca' é de creme'
utllizaráapenas um tipo de sorvete: o p'ricoló e apenas dois sabores: o exemplo, de que o sorvete Y' por causa com
seria uma mera fantasia e, possivelmente, quando confrontado
sabor X e o sabor Y. Mas existem algunras regras preestabelecidas.
aParecer'
1) Você não pode dar uma larlbidinha antes para depois a realidade, suÍpresas poderiam
a partir dos dados quc
escolher (você não pode experimcr-rtar 100 profissões para de- O mesmo pode ocorrer com profissões:
pois escolher). se adquirem no transcorrer da
vida' forma-se uma imagem' e sc o
2) Você só pode escolher um sorvctc, isto é, não pode escolher orientandotomaradecisãoapen,assobreesteclado,poder-se-iac1i.
os dois (não pode escolher ao mesnl() tcmpo 100 profissões). Zelqueseriarealizaclasobrefundamentosmuitofrágeis.Poclt:.st'
de um orientando clttt' st'
3) Você quer Íazer a melhor esco|lra, com menor risco possível dar como exemplo concreto o caso real
e com a maior chance de "sucesso". autoconvenceuqueoCursodeengenhariaflorestalformariaprtll-is
Be

"
APROPOSIADEORItNTAÇAOI,Roi|SSK)NAI
ORIENTAÇAO PROTISSIONAL

rclirtivirnrctrtt'
Irode-se dar corno um cxclTlPltl
z,t,Íc cle chocoIatc? café' c) qlrc podc-
sionais que trabalham com a preservação do meio ambiente. Não de que muitas pessoas Sostam de
comum o fato o
que seja uma informação de todo incorreta, mas esse próprio orien- gostem também de bolo de cafó'
ria indicar q"u po"'i"elmentã Este passcr
tand,o, em conversa individual, admitiu, depois de dois anos de das vezes não corresponde à realidade'
crue na maioria escolar (gos-
curso, que o profissional está mais voltado para a tecnologia da a relação entre o desempenho
o"rr" puru refletircoU'" Co11ut de maiemática'
química c
madeira do que para a ecologia propriamente dita, como pensava'
to mais rendiment"i" ^ "ttaitu. a pessoa deve escolheÍ uma pro-
física indica que necessariamente visão do autor'
3'hipótese: Conhecer os ingredientes dos soraetes exatas (tal como engenharia)? Na
fissão naáreade de chocolate'
O conhecimento dos ingredientes tem como objetivo tentar tt*;;h;olate é diferente de sorvete
assim
não
- áa somatória da matemáti-
descobrir o sabor das oPções.
a profissão de engenheiro é diferente
Análise: os ingredientes podem ser conhecidos por meio de .u, du física e da química ^*^ os inrpr"
^o interesses rns-
pesquisas: num "guia do sorvete", conversando com pessoas, indo se deve pensar como
Por outro lado' também prefere chocolate
à fáúricas (faculdades), visitando locais de trabalho. Em pesquisa isto é' por que a maioria
talam-se ou aparecem' aietivo (identifica-
re alízada,\7 encontrou-se a se guinte compo sição : a" uuu.urii íqrt se làcatiza o aspecto
em vez
chocolate' poà"-'u
dizer que o tablete
t'J"-a"
ção) da escolha: "" q1" o aspecto físico: o
consigo ul-significuto 'lt'upu"u dizer
X Y carrega
thoáot't" q"u'.'do alguém quer
ofeto. Aso""o""u ;;"J;* a" iã't'u e alegriá (infância'
avós'
Conservante tiPo I Conservante tipo II
';gosto de você" ;;; tit;ações ao contrá-
afetivo ao-tn*oiute é"positivo' (descascar
Açúcar Açúrcar
páscoa etc')' o to'i"ão
Chocolate Ágt,,r rio do abacaxi, ff;;
IÀ-.o.t".ido afetivo negativopessoas que
um abacaxr), seguram"lt:l."
Leite Àbacaxi um abacaxi, enfientar simbóIico PaÍa a fruta'
alocam outro
preferem abacaxi 'ig"iiiáao algo na-
valori zandoseu aspecto saudável Po1:"t
provavelmente ou mais disciplinas
Da mesma forma' passar a gostar de uma
tural.
E agora, dá.pararesolver o problc'ma? A maioria dirá que sim'
naescolat""'u-'á"o*'"tconteúdoafetivo'istoé'oprofessor' pui ou qual-
A experiência também diz que a maioria cscolherá X' forma representa aquela disciplina' o'''o
que de certa discussão
Por quê? Porque quase todos prcfcrcm chocolate em vez de Neste po"io' pod"-s" ''*"i"1a
quer outra ia"niificução' Ninguém na-sce gostando
abacaxi. À questão, então, que devc se r fcita é a seguinte: o fato de , q"'tao Jo conceito a" uot'fao'
sobre é apontar que
conhecer e saber qual é a sua prefcrôncitr entre chocolate e Ieite ou tt'otoUüiô" d'e.abacaxi' O fundamental
mais de
água e abacaxi sáo elementos sufic'it:ntcs para indicar a melhor ogostoptd"t';;;';4"écultLlÍ;l'earelaçãocomasdisciplinas como se
eÀcolha? Isto é, dá para afirmar cor"1 s(lgllrança que o fato de gos- Ásim' esta variáve1 não é tão segura
escolares também'
tar mais de chocolate implica ncccssariittnente gostar mais de sor- imagina Para atomada
de decisão'
dizer que 9o$ecer::^':t'"Uientes"
Desta fotma' podemos
o probiema Proposto.'
iiio é' não aponta pàra a escolha
17. Logicamente a expressão pesquisa rtdi::,nlt 11 tltilizada como forma de comunica- não resolve
trtilizatlos para alcançaros obietivos a que f ittaitador e mais nada'
ção. Os dadãs apresentadoi são meros artiÍ'Ír'ios certeira'
a técnica se proPõe. 'r*pf"t*"*J"á
9 l
90 oR|ENTAÇAOPROFTSSTONAL A PROPOSTA DE ORIENTAçAO
PROtlSsloNAL "

um probleml P:'exemplo
4' hipótese: Perguntar para outras pessoas o que elas acham. momento a Pessoa pode estar sofrendo
para a alternativa Y' Porém este
Perguntar para alguém que come sorvete de chocolate o que de espinhas, o que a empurraria
O que questiona a
deixa de existii daqui uãtgt'* tempo'
ela acha pode resultar em duas respostas: ela gosta ou não. A ques- ;;;[;, escolha'
tão que se coloca é: o fato de alguém preferir um caminho indica idéia de que eÍa um motivo iazoávelde
que o optante deva seguir o mesmo? A resposta lógica indica que
não, entretanto algumas decisões tomadas seguem esta fórmula. É 6,hipótese:Pesquisaromercadoeobseraarsehddtferençadeconsu-
uma decisão que se toma a partir da autoridade, "respeitabilidade,, mo entre homens e mulheres'
indica que se vende mui-
ou confiabilidade da fonte. As crianças aceitam as decisões dos pais; A pesquisa de mercado de consumo
Entretanto' dentre as pessoas
poÍ causa disso, respeitam e conÍiam neles. Às vezes, num restau- to mais'sorvetes de X d'o que de Y-'
No caso de X' a procura é
rante, segue-se o conselho de alguém (amigos, garçom) que diz que due compramY, ,;;i;ti"á d'e mulheres'
tal prato é o melhor. Entretanto, quando se trata de profissão, to- áqritiUruau entre homens e mulheres'
deve esco lher X só
mar decisão só pelo crédito da fonte é algo perigoso. Como foi apon- O que estes dados revelam? O interessado
Por outro lado' seria
tada na hipótese 2, é simplesmente mais um indicador. porque a maioria tã*ptu esta alternalla?
consumido' e PoÍ isso ser mais
Por outro lado, não adianta perguntar para quem chupa sor_ melhor comprar Y, por ser menos
filas?
vete de abacaxi o que acha do sorvete de chocorate, pois será ape- fácil de achá-lo o" d" adquiri-lo sem
da USP abaixo:
nas uma opinião pessoal, uma vez que o sujeito desconhece a outra Observem-se dados do vestibular
possibilidade, já que apenas vive um lado. De pouco adianta per-
Tabela 1
guntar para um engenheiro o que ele acha da profissão do direito; 1g82t1gg}l2000 em %
Cursos mais procurados Fuvest - -
ele apenas dará sua opinião pessoal.

5o hipótese: ldentificar "quais as conseqüências para a aida,,de cada


opção. Isto é, no caso, identificar aantagens e desaantagens.

x Y

VANTAGENS VANTAGENS informação


é mais nutritivo ó mais refrescante Fonte: telatórios da Fuvesttg82|1990 12000:
retirada do siÍe da Fuvest na Internet'
DESVANTAGENS DESVANTAGENS
engorda; por ser é ácido, há muito tempo os cursos
gorduroso, pode pode dar afta Nesta tabela, pode-se verificar que
são os mais procuÍados' alcan-
dar espinhas de engenharia, medicina e direito de candida-
ãu up'o*imadamente 30% do total
çando a preferênciu
aPenas a troca na ordem' No
tos nos três anos do to'à, ocorrendo
É importante conhecer as vantagens e desvantagens de cada tendências de mercado de tra-
ano 2000, refletindo provavelmente
alternativa; porém elas não definem nada. Mas há um perigo: neste caiu para o terceiro lugar' Medici-
balho, a procura po"u"g"oharia
9l
oRlENtAÇAO PROI tSsloNAL Al'ROPOSlAl)l ORll,NlAÇAOPRO|lSSlONAt

na e direito assumiram respectivamente o primeiro e segundo lu- itto tlt'


Qualcluer escolha, em última instância, resulta dc unr
gares. o fato de que a maioria escolhe estas profissões indica c()rit[iem. Um ato de coragem leva em conta todos os illdicadorcs
que
elas, de fato, são as meihores opções? caso em que os indicadores apontam partr
Possíveis. Pode acontecer o
Pode-se dizer qrre a maioria das pessoas escorhe sorvete X por- rleterminado caminho e a Pessoa escolhe o outro (seria uma escolha
que assim Íezaatradiçãq e os meios de comunicação reforçam cons- por desafio que também leva em conta os mesmos indicadores).
tantemente esta tendência ao veicurar comerciais de chocolate e deri_
A idéia de colocar todas as variáveis na balança Para ver qual
vados. Pode-se falar o mesmo a respeito das profissões. A maioria
lado pesa mais não funciona (em nenhum caso de escolha), Porquc
escolhe engenharia, medicina ou dirãito por serem as mais tradicio-
as vaiiáveis tendem para o equilíbrio, isto é, se existe alguma des-
nais' Afinal, são estas profissões que formam o doutor que não fez
vantagem numa opção, a outra também apresentará desvantagens,
doutorado. são as que mais aparecem em novelaq filmes e livros.
e assim por diante.
Por outro lado, dentre os consumidores do picolé y, as mulhe-
res são maioria. será que por causa de uma adÀquação biológica? Não existe indicador capaz de apontar de antemão qual a me-
Pode-se afirmar que não. As murheres, mais vaidosas, procurariam lhor escolha, porque, se existisse, não ocorreria escolha. lJma esco-
mais o Y para manter a silhueta com algo menos calórico. lha, na qual uma possibilidade é ótima e outra é péssima, não é
,*u O autor costuma brincar que não existe escolha quan-
"r.ólha.
do se compara uma Ferrari com um fusquinha'
7' hipótese: Anqlissr o preÇo.
X é mais caro do que y. Escolher significa exatamente ter que se posicionar (tomar par-
Isto quer dizer que se deve escolher o y por ser mais barato? tido) entre as possibilidades colocadas que são igualmente atrati-
Decidir por este critério seria acertado? ou, aó contrário, a melhor vas e contêm também desvantagens. são possibilidades que bri-
escolha seria o X, justamente por ser o mais caro, o que poderia gam entre si. Por isso se diz qqe qualquer escolha implica conflito,
denotar mais qualidade? ou melhor, escolher significa resolaer conflito.
risco.
E se a pessoa não tiver dinheiro para escorher X? Neste caso,
era
Qualquer escolha implica rlsco. Não existe escolha sem
não teria escolh4 estaria determinada a y. A maioria da população o autor .h"g, a afirmar que escolha sem risco não é escolha. A
brasileira não adquiriu ainda o direito de cscolher profissão. Estão
pre- insegurança Íaz parte de qualquer decisão'
destinados a fazer aquilo que aparece .a sra frenie para sobreviver. eualquer escolha implica perda. É um mito dizer que só existe
Mas, no caso, todos têm dinhei*r sr-r[iciente para adquirir tan- um caminho para cada pessoa. Ao contrário, existem vários, e por
to um como o outro. isso a perda faz parte da escolha. Escolher uma profissão implica a
Este problema (sorvete) tem s.luçã.? _ Ao que parece nada perda das outras, pelo menos nesse momento'
garante a melhor escolha. Mas existe, si.r, ,ma foima de resolvê- Agora, pode-se ter um ato de coragem para escolher um sor-
lo. A solução é: vete. A pessoa se toma de coragem e, Por exemplo, escolhe o X"
Agora eia pode abrir a embalagem e verificar se a escolha foi "1e-
gal,,. Duas ou três conclusões são possíveis. Gostou, não gostou ou
mais ou menos. Se a pessoa gostou, mas for muito "encucada", pode
passar o resto da vida perguntando-se como seria se tivesse esco-
Ato de c()ragcm ihlao y (amais conseguirá esta resposta, mesmo que mais tarde
oRIENTAÇAO PROFTSSTONAL A pROPOSTA DE ORIENTAÇAO PROFISSIONAL.

decida fazer uma experiência com Y). Se não gostou, isso não quer A quinta sessão propõe que os participantes "construam" duas
dizer que teria necessariamente gostado mais de Y. E deve nova- empresas. Um grupo será responsável pela emPresa do setor pri-
mente realizar outra opção: muda ou permanece? Muitas pessoas mário e outro por uma do setor secundário da economia. cada
acabam permanecendo para não ter que passar por outra experiên- subgrupo deve montar Sua empresa de acordo com um roteiro pre-
cia de escolha. viamente discutido.
Enfim, escolher algo, como uma profissão, pressupõe que a Terminada a tarefa da montagem, o grupo apresenta sua em-
pessoa conheça a realidade que contexfitaliza a decisão, que se presa e cada participante conta a história de sua Personagem/
autoconheça e esteja informada a respeito das possibilidades. So- ànfatizando a forma como "obteve" as habilidades e conhecimen-
bre tudo isto terá o "ato de coragem", q1rTe é uma intervenção de
tos necessários para o desempenho de suas atividades de trabalho.
ordem emocionaf que envolve o bom-senso, a intuição e a vontade.
Também verifica-se o que é necessário para a produção de qual-
A quarta sessão é apresentada como síntese do primeiro módulo. quer objeto. Observam-se as matérias-primas, instrumentos de tra-
Inicialmente desenvolve-se um "aquecimento", que consiste na lo- balho, capital necessário paÍa a instalação e de giro, hierarquia e
calizaçáo de um ponto agradável da sala para que os orientandos
or ganizaçáo, mão-de-obra (trabalhadores). Depois, compara-se esta
possam se acomodar de forma tranqüila. Faz-se um pequeno traba-
lista com aquilo que outros tipos de otganizaçáo social necessitam
lho de relaxamento e pede-se para que as pessoas pensem e digam
para executar trabalho (por exemplo, comunidades indígenas). Na
algo para o seu grupo de orientação. Esse aquecimento tem o objeti-
comparação das lista, chega-se ao conceito de trabalho genérico:
vo de fortalecer os laços de relacionamento entre os membros do
ação humana sobre artatureza, por meio de instrumentos de traba-
grupo, aumentando a sensação de acolhimento, respeito e liberdade.
tho, para a obtenção de coisas necessárias à vida. Por fim, aplica-se
Em seguida, discute-se o que chamou a atenção da leitura do
o conceito em exemplos atuais, diferenciando e entendendo o tra-
conto "A Profissão" , de Isaac Asimov (1977), uma ficção científica
balho manual e intelectual.
cuja história se passa por volta dos anos 6000, descrevendo a situa-
Tendo claro o conceito genérico de trabalho, pode-se então
ção de dois jovens que vivem uma situação de "escolha" de profis-
são/trabalho. Por meio do conto, abordam-se os seguintes assun- discutir a questão Para o setor terciário da economia.
tos: aquisição de conhecimentos; escola / educação; teste vocacional; A sexta sessão continua a discutir a temática iniciada na sessãtr
família e escolha profissional; pressão familiar/social; ensino pro- anterior e visa atualizar os assuntos para o tempo presente. Disctt-
fissionalizante; vocação, dons; mercado de trabalho; competição; tem-se as formas de divisão de trabalho, o conceito de melcadoria;
ascensão social; condição da mulher no mercado de trabalho e na o de força de trabalho e o estabelecimento dos salários. Ainda neste
sociedade; trabalho manual e intelectual; poder; realização pessoal; encontro, a partir do debate do tema trabalho, aborda-se o asPCCto
vestibular; construção de identidade; liberdade de escolha. cla vocação, da mesma forma como já apresentado no capítulo 3,
ncr item que introduz a abordagem sócio-histórica'

Móduloll-0trobolho Atualmente, nesta sessão, projeta-se um vídeo que trata dtt tra-
balho e desempre go (Gtobo Repórter de 7996), discute-se o corrt't'ito
Este módulo tem como objetivo a tl isr'r,rssiio i'r rcspeito do tema rlc vocação e abordam-se as soluções apontadas pela cl;tssc tliri
trabalho, abordando desc'lc o cont't'ilo,rlti o n'roclt) como ocorro nil gt,ntc cluanto aO clcscmprego que grassa no país, clll(r s('llll)l'(',t1r1111
sot'iccladc ttt"uttl. Este rlridtrltl ri tlt,r;r,nvr»lr,'itltl r'rn duas scssilcs. titttr pilra saídas itrtlivitlttitlizadas' Colno ct'ltltrilPtltll()' s'l() rll)l("'('ll

l
)\ A l)l: ()ltllr N I At,AO lrl({)t l5§l{)NAt
96 oRtlNTAÇAo pRol'tssloNAt- ^
I'l{r.)t'( I

tl critóritl clc irtivi-


tadas outras propostas de combate ao desemprego que não passam lisstics, cllJo as orcleua cm tlittl grupos' sclguncltl
..lac'lcs básicas.re
unicamente por alternativas meramente individuais.
materiais genéri-
Organizados em trios, cada subgrupo recebe
t'osdeinformaçãoprofissional,comooGuisdoEstudantedaEdito-
Módulo lll Autoconhecimento e informoçoo proflssionol r.ir Abril, e tem como tarefa alocar
todas as fichas nos oito grupos cle
-
profissões.Otrabalhoenvolvecertoconhecimentodaprofissão'o
O terceiro e último módulo do programa é desenvolvido em (lue se consegue por meio de leitura e discussão
pelos membros do
nove sessões, sendo as duas últimas dedicadas a sínteses. entrar-em mais de um
subgrupo' Avisa-se que uma profissão pode
Por autoconhecimento entende-se a análise da trajetória de vida grr[o, pois desenroi""t diferentes tipos de atividades'
do próprio sujeito, quanto às formas de escolha e à compreensão de da formulação da téc-
Este formato de intervenção derivado
como construiu sua individualidade. Perceber o que já se desen- por Bohoslavsky (1'977:
nica R. O.20 (realidade ocupacional) citado
volveu em termos de interesses, habilidades e características pes- ao orientando um breve con-
167-72),tem como objetivá propiciar
soais para projetar o que pretende desenvolver mais, mudar ou possíveis' Não se pre-
tato com todas as altárnativas profissionais
mesmo construir de forma diferente é o que se visa no programa. mas que confronte as
tende que ele descubra uma nova profissão'
Não se pretende buscar alguma relação entre as características pes- construídas ao longo de
caras oltimagens que tem das proflssões'
soais e as profissões: trata-se de propiciar ao orientando que com- Também não se preten-
sua vida, .o* r*u definição mais formal'
preenda sua forma pessoal de tomada de decisão e dar condições
demodificarasidentificaçõesquepossivelmenteoorientandojá
para que possa elaborar projetos, inclusive de mudanças, em suas dessas identificações para
tenha, mas possibilitar "transferências"
características pessoais.
outras profissões menosconhecidas ou mesmo desconhecidas pelo
Nas atividade de informação profissional objetiva-se que o sujeito.
orientando amplie o conhecimento que tcm das profissões, partin- estimulando'
Os orientadores ficam percorrendo os gruPos,
do de informações genéricas e superficiais de todas as profissões as omissões ou erros nas
esclarecend.o dúvidas e apontando
que se constituem como opções para seu estágio educacional e ca-
alocações.
minhando paulatinamente para as rnais específicas e aprofunda- terminem a tarefa
das, de acordo com o afunilamento das opções. A oitaaa sessãoé reservada Para que os trios
iniciadanasessãoanterior.Distribulseumgabaritoelaboradopela
Na sétima sessdo, inicia-se o proccsso cic informação profissio- participantes que o con-
equipe de orientadores e solicita-se aos
nal. Apresenta-se o jogo de fichas clits 1-'r1.1;fissões, que se constitui Elas são
de mais de cem fichas com o nomc clas profissões.1s procede-se a
frontem com seu trabaiho e apresentem dúvidas' instado a
esclarecidas em grupão' Em cada orientando é
uma crítica à classificação das profissõcs tradicionalmente utiliza- '"gt'idu'
das que as ordena pelo critério da árci'r rJc conhecimento (humanas,
exatas e biológicas). Apresenta-sc outra ítx:ma de classificar as pro- lg.FormulaclaporGoldberg(1977:71.4)eapresentadacomligeirasadaptaçõcsrcali-
zadas pelo autoÍ e sua equipe de trabalho'
20. Bohoslavsky apresànta a técnica
R' O'' mas não explica o significado da cx1'tt'ri

são.MarinaMuller(1988)b"-.o*osilviaVeinstein(1994)nomeiamatécnicaclcssitltlr
18. Em 1999, acrescentou-se no verrso tlt,t..rtl.r ficl-ra um parágraÍo que apresenta
ma:realidadeocupacional.EstesautoÍescitamNoraSturncomoautoradatécnici.ttlttt'írrl
em 1965'
de forma sucinta a profissão, para estimrrlirr rrriris,rinda os orientandos u r-piiu. r"r, em orientação Vocacional
;;;";;;J;"as 1árnadas Argentinas
horizontes.
oRrINTAÇAO Pt{Ofl SSIONAI l'li( )l'()5IA DL ORllrN lA(AO I)llOtrlSSlONAl
^

selecionar, dentre os oito grupos, aqueles que mais o atraem. rltralista, ttutro foi passivt-1, t)utro animado, outro criativo' Outrtl
ltli
Explicita-se que o termo atrair deve ser compreendido como algo ,rnsioso, outro "emúurrou" por ter sua participação prejudicada
pcltr
que a pessoa poderia ou gostaria de exercer como profissional. ,rção de outrem, e assim por diante' Cada participante
Íaz' logo a
Numa ficha o sujeito aponta os grupos que mais o atraem e explica ,,igrir, uma avaliação de sua própria participação a partir do que
o motivo disso e, por fim, destaca, dentro do(s) grupo(s), as piofis- 0s outros falaram dele. As pessoas iá trazem valores sobre
o que
sões que mais lhe interessam. Ao final, cada orientando conta paÍa
, significa um boa participação - muitas vezes elas são estereotipa-
os outros participantes, os grupos e as profissões selecionadas, apon-
.las e preconceituosas, valorando apenas aqueles que são
criativos
tando suas "descobettas", realizando comentários a respeito da ati- qrr"io*rm a iniciativa. Fica claro, na maioria dos casos' que to-
vidade. " num mesmo
cios podem assumir múltiplas formas de participação
A nona sessão é dedicada totalmente a atividade de autoconhe- tr:abãlho, nos diversos estágios de sua construção'
cimento por meio de estratégia grupal. o procedimento utilizado Como já os abordado, não há preocupação de correlacionar
as
tem o nome de "atividade da lã". os orientandos são divididos em características elencadas de cada indivíduo com profissões.
dois grupos, sendo que um orientador é destacado para coordenar
Em seguida, cada aluno responde individualmente a duas
a atividade. Em círcuio e sentados no chão, apresenta-se aos aluno explicite
cluestões dÃrdem pessoal. Uma delas solicita que o
orientandos o material que será utilizado: linhas de lã com aproxi-
madamente um metro de comprimento, de várias cores. pede-se
à expectativas de sua famíIia sobre si e sua escolha profissional' A
que explorem/ como aquecimento, o material, e questiona_se o que
outri pede que e1e próprio esclareça o que espera de si mesmo' No
gnryaà,cada um reíata as expectativas. o objetivo é evidenciar
que
se poderia ser construído com ele. A lã é novamente amontoada da construção da
no ã*irie.r,expectativas sobre eles que Íazem parte
centro do grupo e a instrução do trabalho é transmitida: o grupo
individualidade de cada um.
deverá fazer algo com este material (pode ser qualquer coisa). As
regras da atividade são: o trabalho deve ser coletivo e não se pode A décima sessão volta a tratar de inÍormação profissional' Ini-
cia-se a sessão com um trabalho de aquecimento que
versa sobre a
usar a fala ou a mímica para estabelecer contato. tro-
análise do cotidiano de cada um. Em duplas, os participantes
o grupo desenvolve a atividade, e o fundamental é a analise lista a res-
cam entre si respostas às seguintes questões: faça uma
do processo de trabalho realizado pelos seus membros junto com o
peito de "tudo i que aocê qtrer"; passado algum tempo' solicita-se
coordenador. Pouco importa o produto. primeiro discute-se se o
trabalho foi realmente desenvolviclo cm grupo e se as pessoas con-
qr" r"rpo.dam a questão "tttdo o que aocê tem que"; a última ques-
discute-
tão refere-se às coiias que "uocê tem medo de" .Em seguida,
seguiram se entender, mesmo sem trti Iizar a fala ou a mímica. Em "eu quero" em
se o significado de cada questão para cada um: o
seguida, analisa-se a participação de cacla membro. o interessante
geral Ãsume significado de desejos e sonhos' O "eu tenho
que"
na atividade é estimular a participação geral, isto é, todos os mem- impõe' mas às
ãigr,ifi.u, Paraamaioria, obrigações que a sociedade
bros do grupo devem dizer algo s.brc a participação de cada um e
sobre a sua própria.
,rá", poáe significar obrigações que a Pessoa se impõe por desejar
dis-
muito algumá coisa. O "eu tenho medo" serve para colocar em
Por meio deste procediment. [rusca-se estimular a refiexão de cussão os receios de cada um. Em seguida, faz-se uma
rodada pilril
cada um a respeito de sua participração no trabalho. Não existe verificar onde cada participante alocou as palavras oestibular
a *;t'o
modelo predefinido de análise, e o pr(-)prio grupo elabora suas ca- lha profissional.lsto permile a percepção do grau de ansictlnrlt'
r'
tegorias. um teve iniciativa, outro I'oi colaborador, outro foi indivi- pr"o.,puçãovividospelosorientandosnaquelemomenttlar.t.slrt.i
oRlIN IAÇAO t't«)t t55lON^l
)t,( )\lAt)l oRlt NIA(Aol,ROl l55lONAl.
^t,r((
t. da situações que viveria ou vivenciará pr.ximamcntc. Ncsscr
rnomento ainda se discute como os desejos e vontades se consti- 'l'crr-nir-ritc'la tr rodada, sortcia-se outra Pequena folha ctxr o
tuem, não como volitividade autônoma, mas construção social n()nrc clr-'cada participante entre os membros do grupo. Agora, cada
internalizada. rrnr clcve escrever uma carta explicitando a imagem que a pessoa
A atividade seguinte consiste na pesquisa tt'rn cio dclno do papel. Alerta-se que não se trata de um julgamento
e leitura de forma
aprofundada de materiais de informação profissional a respeito das ('rlLre ir pessoa não precisa temer "etraÍ", Porque se discutirá a ima-
profissões e cursos de formação de maioiinteresse clo participante. ricrn descrita no grupo. Em seguida, cada orientando recebe seus
sugerem-se, como roteiro inicial, as concrusões da oitaia sessão, presentes e a carta, comentando Por escrito o que achou deles.
na
qual foram indicados os grupos e as profissões de maior interesse. Cada membro lê para o gruPo, mostrando os presentes e a car-
um grande número de materiais é disponibilizado: guias de in- ta clue recebeu, para que todos Possam interferir na imagem criada,
formação profissional de todos os tipos, manuais de inscrição
para corrfirmando, enfatizando ou negando a imagem montada. Ao fi-
os vestibulares de diversas universidades e faculdades que nal, a própria pessoa tece comentários a respeito da imagem conti-
muitas
vezes trazem informações valiosas sobre os cursos e proiissões cia nos presentes, na carta e nas opiniões surgidas no gruPo.
etc.
Também são disponibilizados materiais da hemeroteà, especializa-
Esta sessão coloca em pauta a imagem de cada um. Leva ao
da em artigos de jornais, revistas e de outros meios de comunica-
autoconhecimento, porque explicita imagens quase nunca
ção, coletados desde 1980. A partir dessa sessão, os orientandos são
verbalizadas. A intenção é que cada participante reflita sobre as
estimulados a emprestar materiais para aprofundar conhecimen-
imagens que o grupo formou a respeito dele, verificando se é ape-
tos em casa. Atualmente, sugere-se que os participantes pesquisem
uma imagem surgida neste grupo ou pode ser generalizadapara
r-ras
sobre as profissões na internet, oferecendo-se o de àlguns
sites interessantes. "rd"r"ço os vários grupos dos quais participa.

os coordenadores do grupo ficam à cl isposição dos participan- O orientador participa dessa atividade explicitando a imagem
tes, esclarecendo dúvidas, indicando matcriais poru up.oirndamen- clue pôde formar a respeito de cada um no transcorrer do trabalho.
to e conversando sobre a situação de cada orientando. Logicamente, esta imagern, fruto de observação e discussão siste-
mática, acaba tendo mais peso do que a opinião dos pares. Na maio-
Na décima primeira sessão volta-se ar trabarhar com a temática
ria das vezes a participação do orientador reenfatiza algum aspecto
do autoconhecimento, agora por mci. cl. que é denominado no
já apresentado pelos parceiros do orientando.
programa "jogos de imagem,,.
Na décima segunda sessão, o tema principal retorna à informa-
A primeira atividade desta sessã. cr,siste numa troca de pre-
sentes, isto é, cada participante escrcvL).rn pequenas folhas ção profissional. Desenvolve-se o denominado "jogo do governo".
de pa_ Irucialmente, solicita-se aos participantes que escrevam sobre sttr-t
pel, com o nome de cada participar-rt(:, L* presente que daria pàra
aquela pessoa. Instrui-se que pocic st'r'qualquer tipà de presente, situação em termos de escolha de profissão, apontando clararncl-ttt'
material ou não, grande ou pecllton(), caro ou barato, concreto as alternativas, cotrl breve justificativa.
ou
abstrato; o importante é que tenha irrg.r.a reração com pessoa Introduz-se o jogo:imagine que você vive numa socicciatlt't'ttt
que
o receberá. Quando o papel passii pclo sc.u dono, ele também que o governo determina a ocupação das pessoas. Entrctarlto, lrií it
pode
se dar um presente, mas, nesse,r,r'r..tr), não deve tomar
coúeci- possibilidade de solicitar mudança de profissão, coisa (lrr(' ()('()rr('
mento dos presentes que os or_rt«rs clcrirrn para ele. num tribunal, uma vez Por anO. Cada um deve esc6lhcr Lllll;l [)r()-
fissão das listadas anteriormente e se dirigir ao tribtttritl otttlt't'll-

I I 4? 8 5
r*ffii
A pRoposrA DE oRIENTAçÃo PRoF§sloNAL"
r02 oRTENTAÇÁO PROFTSSTONAt

quem pretende
contrará representantes do governo, Para solicitar a mudança de próprio, isto é, sobre quem tem sido' para projetar
profissão. A função dos juízes é "bombardear" os solicitantes de ,".,'.o* a colaboração das contribuições do grupo'
de uma primeira
perguntas para que possam ter certeza de que a mudança de profis- A décima quarta sessão é dedicada à realização
são ou ocupação merece ser autorizada. O coordenador assume a síntese,denominada"sínteseafetiva"'Escurece-seasala'utiliza-se
uma música' Ori-
função de "moderadoÍ", podendo realizar perguntas e/ou interfe- nma vela acesa Para gerar concentração' ouve-se
cnta-se a concentraçaã dos participantes'7
no que se denomina "rea-
rir em questões que possam preiudicar o solicitante por inadequações.
é dirigida Para uma
O grupo de orientandos é dividido em dois; num primeiro momento lizaçáo de um passeio"' A atenção do aluno
e velhos' estabele-
metade comporá o grupo de solicitantes, e a outra, o corPo de juízes. praça onde encontrará crianças, jovens' adultos
a dirigir-se para a
Terminada essa rodada,há, a troca de papéis: solicitantes viram juí- cendo relações com eles' Em seguida' é orientado
escola em que estuda ou estudôu, paÍase
despedir dela' Logo de-
zes e vice-versa. Ao final os dois grupos de juízes reúnem-se sePara-
"local de trabalho" e o
damente para deliberar sobre cada caso. Em seguida, realiza-se a co- pois, sugere-se ao orientando q'" "a até seu
municação da deliberação e suas justificativas. o ambiente, os objetos' as Pessoas/ seus ins-
"'exploré",observando que o aluno pen-
Este trabalho possibilita ao participante colocar-se no papel truàentos de trabalho e suas atividades' Pede-se
se se foi ou não necessário uma formação
sistemática para o desem-
do profissional e elaborar as informações que detém a respeito da etapa' o orientan-
profissão. No papel de juízes, há também a necessidade de elaborar penho de seu trabalho' Terminada esta primeira
algo a respeito de cada profissão. O exercício obriga o participante clo registra, por escrito/ seu passeio'
o orientando
a sistematizar suas informações e ao mesmo tempo lidar com as Em seguida, com outras músicas' sugere-se que
a alguns anos' quando ele e
solicitações do grupo de juízes e moderador. c'lê uma festa, que será realizada daqui
que seus convida-
A décima terceira sessão busca desenvolver o autoconhecimen- seus amigos estiverem se formando' Indica-se
clos serão "pessoas que têm profissão"'
portanto' será-uma festa de
to. Inicia com um relaxamento físico deitado no chão o aluno é
-
orientado a contrair e relaxar seus músculos. Propõe-se, em segui- profissionais. Oferece-s" '*logo de cartões
de profissões para cada
certeza quer que estejam
da, que o orientando "sonhe acordado", deixando sua imaginação um e ele deve selecionar aquelãt q'u com
,a festa. Selecionado, o, .or-rridádos, avisa-se que um
fotógrafo
fluir, mas seguindo as orientações do coordenador. foto espe-
baterá uma
O sonho começa num lugar muito escuro, onde uma luzvaga- vai registrar tudo o que ocorre nela, mas que
pelo dono da
rosamente vai iluminando o ambiente. Quando já está claro, o orien- cial. Nessa foto sairão aPenas as Pessoas chamadas
para
tando se dá conta de que está "no seu espaço ideal". Propõe-se que fcsta e ele próprio. Indica-se que devem ser Poucas Pessoas
"suas emoÇões" ' O orientan-
ande pelo Iocal e reconheça tudo o que há nele (cores, sons, objetos, rlue a foto regiÀtre-as com nitide z e até
c'lo registra seus convidados e a foto'
explicando e justificando seus
outras pessoas etc.). Pede-se que arranje um espelho, que veia sua
imagem refletida e que converse com ela. critérios e convidados'21
para a rt'ali
O orientando descreve, por escrito, seu sonho e, em seguida, o A décima quinta sessão,última do grupo' é voltada
verbaliza. A tarefa dos participantes de seu gruPo é apontar as ca- ztlçãodesínteseseavaliação.oparticipanterecebeorientirçilt.s1litr.t
racterísticas individuais que podem ser identificadas a partir do
relato. Logicamente, o conhecimento anterior a respeito dt'cilclil tltn 21. t]sla ativic]adc tí tlt'scrita por Bohoslavsky
(|977: l(17 72) crrrrl l).ll'll.(l.l ll,t llll .l I.]

acaba sendo levado em conta nesta atividade. Por meio tlt'lllll lllil- ()(\,('r'r)()til20).[lrltrt'l'rrrlo,trliliza-se'n()Pr()gramactntlistrlss'io"tlt'trttr'tl'rlrlrtrItrl'
tcrial mais simbtilico propõc-se qLr(' () oricntatrcltl rt'llit,r solrt't' si lor',r rlo rtttllt'xto ilttlit 'trlrt 1'r'lo 1'ri11il11911'
t04 oRtENTAÇAO PROFISSTONAL

realízar três sínteses parciais: a primeira versando sobre o que se


chama de "caracteúzaçáo do meio", isto 4 como o aluno percebe o
entorno de sua escolha: a realidade social, política, econômica e
cultural que determina sua decisão. A segunda, denominada "ca'
racterísticas pessoais", deve registrar como a pessoa está se Perce-
bendo como sujeito. A terceira, denominada "interesses profissio-
rrais" , sintetiza sua trajetória de aproximação das profissões. O últi-
mo registro desta etapa consiste na redação da conclusão, na qual
se solicita que o orientando escreva, da forma mais clara possível,
como se encontra frente à sua escolha profissional.
Numa rodada onde todos verbalizam, os orientandos relatam
suas conclusões e avaliam o trabalho realízado,bem como o do gru-
po do qual participou. METODO
O orientador tece pequena apreciação a respeito do grupo e
observa a possibilidade, caso haja interesse, da realização de sessão
individual para discutir o processo vivido pelo participante. Em Os orientandos
alguns casos, sugere explicitamente a necessidade da realização
Esta pesquisa investigou a trajetória da escolha profissional
desta entrevista individual.
de jovens pu.ii.ipu.rtes de um SruPo de orientação profissional
desenvolvido no Nace. Constituído como gruPo regular, estes jo-
vens foram organizados em um gruPo a partir de sua inscrição no
trabalho.

Critérios de escolho dos sujeitos orientondos


Selecionou-se um grupo cujos membros, hoje (ano 2000)'
teriam condições de discorrer a respeito de sua trajetória de esco-
lha, desde sua participação no Programa, passando pela sua forma-
ção escolar e pelo seu engajamento no
mercado de trabalho. Bus-
cou-se também um grupo com o número completo de orientandos
(os grupos aceitam no máximo dezesseis participantes), Pâra que
nãoie ior."rr" o risco de não conseguir localizar Pelo menos ciney
suieitos para a realizaçáo das entrevistas.
o grupo escolhido, cujo desenvolvimento ocorreu no Htrtlutl'
do semãstr e de 1994, foi coordenado por um pedagogo (o prtlprkl
l0ó oRlLNt A(.AO llROÍ lsslONt\L

autor da presente investigação) e um psicólogo, além de ser acom-


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panhado por outro profissional da área de psicologia que estava ;,r
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em regime de treinamento.
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o propósito da escolha de um grupo que foi desenvorvido há o
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seis anos foi o de encontrar esses orientandos com seus esfudos uni- õ

versitários possivelmente concluídos e que já estivessem inseridos


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no mercado profissional. Com 16 participantes, os membros do gru- o G
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po escolhido apresentaram pouquíssimas faltas durante o processq .ü ,H o d
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vivendo-o, portanto, em toda a sua intensidade.


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, Deste grupo tinha-se em arquivo todo o,,processo de acompa_
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nhamento e síntese", com o, o material de registro do próprio par- o o o o o o o o o o o o o o o o o
o a o À o o a o o o a o o
ticipante realizado durante o processo. Arém disso, tinha-se o re- ô .ú
G
-. p. À À p. c o. À À À À À À p, p. o.
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4É) o o o Õ o o o o o o o o
gistro dos coordenadores do grupo, realizados na época do desen- o
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volvimento do grupo. os registros dos coordenadores, realizados o Í!
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o o (^ o a
O o ó ú o (n oã
informalmente, descrevem o processo grupal, bem como a partici- G
.õ o o
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pação individual de cada orientando. Esse registro foi realizado, na t6 ,e o o

.:õ 'ú o
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época, em função dos seguintes objetivos: a) correção de rumos -E
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durante o desenvolvimento do programa, caso houvesse necessi- z

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dade; b) seleção de procedimentos mais adequados para a oü
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dinamização do grupo; c) observação individualízadade cada orien- toõ o
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Cor acterizoçoo dos sujeitos orientondos À
àô 6 6 6 6 6 6 G
5 a a , =
o Quadro 2 apresenta dados que caracterizamos orientandos ÍI
= ú
6 6 õ
do grupo escolhidos para análise. d ê. p. À o À ô. o. o. o. À À À À À d
N
0
O grupo era formado por dezesscis membros, dos quais onze d
x à E r r r rlr Il u
com 17 anos, três com 18, um com 20 e um com 23. É homogêneo U o
B6 N N N N a O N N N N N N N
quanto ao sexo: metade deles homens e metade mulheres. N N
rj
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Todos estudavam em instituiçõcs particulares consideradas, ,ll
o.9

em sua maioria, como boas escolas dc cnsino médio, reconhecidas rI o
'ú o o
d o o a o 6 AJ
ã.v o É
por não adotarem metodologias conscrvadoras ou tradicionais. sem zi, É d 'd !
a 6 6 E tr ti Í; l,
o
a pretensão de identificar a filosofia educacional de cada uma, pode- À r U U ú J U à r 3 I

ô a N
se caracterizá-las, a partir do conhecimento do autor, como institui- N a N
:l
MÍ IoDO
IO8 OruENTAÇÁOPROTISSIONAL

ções que adotam metodologias que não têm o vestibular como úni- Pos de registros preexistentes. O primeiro gruPo, denominado
co objetivo de ensino, propondo-se a formar cidadãos críticos, in- "processo de acompanhamento e síntese", foi produzido pelo par-
formados, criativos e participantes. Essa caracterização faz-se ne- ticipante do programa durante o seu desenvolvimento. Estes re-
cessária, apesar de pouco rigorosa, pois a partir da escolha dessas gistros foram realizados antes, durante ou após as atividades, de-
escolas para seus filhos, há indícios para inferir os valores que pendendo do caso, e têm, no programa de orientação Profissio-
norteiam a famfli4 além dos motivos para a procura de serviços de rral, as funções de: L) propiciar reflexões individuais preparatóri-
orientação profissionaf os quais não se pautam por posturas tradi- as das discussões; 2) propiciar sínteses pessoais ao final das ativi-
cionais. dades. O segundo grupo de registros é constituído pelas observa-
Dez participantes são originários de uma mesma escola, mas ções informais anotadas pelos coordenadores no transcorrer do
gruPo.
não vieram necessariamente em um único grupo para o programa.
Em alguns casos, descobriram, na primeira sessão, que iriam parti- O outro conjunto de dados refere-se a entrevistas que foram
cipar do mesmo grupo a inscrição sempre é individualizada. desenvolvidas com os mesmos sujeitos do grupo original, Para que
-
Outros dois participantes provêm de uma outra escola e dois ainda se pudesse pÍomover a avaliação do significado de sua participação

de outra. Dois participantes, cada um de uma escola diferente, não no program4 transcorrido determinado tempo após seu término.
vieram acompanhados de colegas.
Como breve caracterização familiar, tem-se que catorze mães Dodos dos documentos
têm formação universitária completa, apenas uma não terminou o
ensino superior e um aluno não declarou sua escolaridade. Quinze foiutilizado o procedimento
Para o primeiro conjunto de dados
pais, igualmente, têm formação universitária completa, e o mesmo de análise documental. São considerados documentos "quaisquer
aluno, no caso das mães, não declarou a sua formação escolar. Doze materiais escritos que possam ser utilizados como fonte de infor-
mães trabalham fora de casa, uma é falecida e três não trabalham mação sobre o comportamento humano [...]. Estes incluem desde
fora. Dos pais, um é aposentado, um é falecido e de outro não cons- leis e regulamentos, normat pareceres/ cartas, memorandos, diári-
ta a informação se trabalha ou não. Os treze restantes trabalham. os pessoais, autobiografias, jornais, revistas, discursos, roteiros de
Quinze dos dezesseis orientandos residem em casa própria. programas de rádio e televisão até livros, estatísticas e arquivos
Dessa forma podemos caracterizar o grupo de orientandos investi- escolares" (Lüdke & André, 1986:38). No presente caso, considera-
gado como pertencentes às camadas média e alta da sociedade bra- ram-se documentos os materiais produzidos pelos alunos, assina-
sileira, com alto nível de escolaridade dos pais que exeÍcem profis- lando-os como "documentos" e não questionários, uma vez que
sões reconhecidas como liberais ou que possibilitam a ocupação de fazemparte do desenvolvimento normal do programa e não foram
altos cargos em empÍesas públicas ou particulares. produzidos especificamente para esta pesquisa. São materiais exis-
tentes independentemente deste estudo.
O material denominado "processo de acompanhamento e sÍn-
Procedimento de coleta de dados
tese" é composto de uma grande variedade de registros. Nem ttt'
Foram coletados dois conjuntos de dados. Um primeiro, aqui dos se constituíram como fundamentais para a análise que $e Prt'-
denominado "dados dos documentos", é constifuído por dois gru- tende desenvolver, apesar de importantes no conjunto do trahulhu,
il0
oRtENIAçÁo PROfl ssroNAL
TíEIODO

desses regiistros que


L?:jffij:.:T::.,""ados.arsuns
fuíram como dados para análise: se consti_
cada sujeito, a primeira
entrevista durou em média
1) o relato
re-alizadopelos participantes c a segunda por volta uma hora e mcia
grupo em que cada um na primeira sessão de 45 minutos. Tal p.o."ai*"r,io
rp."r".,iu a situação qru^to ,,estado,, do mente baseado no trabalho roi pr..int_
de Larocca çtOOOl,qr"
sua escolha profissionar.
Estes arào,
ao de climento denominado,,entrevistur r"ao.rur.,t"r,,. o proce_ rtitir,ru
ma de anotações dos registrados sob for_
"rtuvam
coorde"r;;;;r. Ainda Cinco sujeitos foram serecionados
qrurã a este item, ana_
*'o";i;;;il
sujeito na richa pessoar
(preen_ 'istas'
os critérios utirizado, pu.,
para a rearização das entre_
sereção responderam a
"il,H:"?":XJtl:
orientando),,.;:,T,t;;l,f .rdens de razões: a primeira, "rru
áe o.dem
três
qualitativa, observada pero
çà,H:;T::lli*j:::1,,ã:

conteúdo das intervenções
detectada
rrT*:,r"i:;,,";::
ffiffi cri a' á * ;;.-,i,ffi ::ffi
an í"'
ça' e' p articipanres. Neste
Tf Xiloo"'o "tlolorrticipante.
os dàdos a"
H: senrid o, foram'
realizadas na sessão final
:#rilffi:::
encontram_." 1" do p.og.u*u, que partilhassem
"i "rtra. de saída
.,lli^"::i:.",, ure* visão grobar da construção
da ia"itiaua" á. mai"rãr"ãq,ru
de uma
são,,, i tem, aa,,concru_
sua situaçã" ","J;Tj:T:"flff
r".-ã;;*:fi1::tti::m que o sujeito sintetiza bessem a escorha como
fenômeno murtideterminado
perc€._
(três sujeitos).
"-
2) A síntes,t"t^ot
da
escolha profissioná
7' ' A segunda, de ord.em quantitativu,
*rrfto, na triagem de um su_
jeito com maior númerà
direrenres. o que engroba rrês registros de depoime.rto. nas categorias
tando
r,,*li}.lf:"I"T,t:':r;i': t: realidade que o orien- montadas

"or',r"gír; construir durante :t1t- ÊT::tffi ,,ltlfii'i:,ff 'É:11.1ffi


:;I[i,:i:,"***,7
to que é o único, entre todos
):.fl'.',:?;:,Í;
I
os participantes do grupo,
que esco_
r1d?:::s::l;:xt*n::i*":í"T.,#ffi
: :"" sintetize o processo de
autoconheci_"i-rro desenvorvido
lheu uma profissão na área
a"
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uu I o."r,l.
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Lã:J".tr11*:iil**,*'#'?J",::t*,':":TXili:::;_
o,entando com as profissões "
s
Çi:r r ; ":!li.i :i:il: :T; Caracterizada como semi_estrutt
teresses profissionais ".r* "
e conclu.;;;.
informações,ãenominado ,,in-
veriricarop.o."rràdeescorha.;;il;lfr,i'.' jl::J:Lã-Hlll:
Assim, os aallsjo item pessoar e profissionar a
1 possibilitaram partir do téríino de seu grupo. procurou_sc
mais objetiva a situação observar de forma irrvestigar a possível
de ua, ã-raída do aã f.ig.rma de orientação
escolha".,t
grama em termos da
sibiritaram avaliar a
";;;;;, no pro_
p.orirrlor.,ul. os dadàs;;r;* sional na construção da
identiàade plofir.ior.,ul de
cada
profis-
As questões que="gU"ie-ro
quaridadl au 2 pos_ um.
realizada,isto à, como nortearam as entrevistas foram:
"r"ott,u o
:H:,iJnT;;'.:*':à""di'";;;i.ooot.,b,úãã"ã,,or,uiao a) Fare sobre sua história
pessoar e profissionar, as
profissionais rearizadas nesse esc.rhas
p".r.aà, a"sàe ant..s d,;;i,;,;cl,
Po de orientação profissionairre f,.;", gru-
estabelcct,rrclo as
Dodos dos entrey,stos rclarções entre o seu l.rossívt,is
caminho profiss-iáal e . i
prrgrarrrir vivirr..
b) Avalie especificamente
o segundo conjunto de o paper cr. prr1i1.;11rr.r tr..r.ir,rrr,r\.,r.
dados foi obtido por profissional na sua cscolha
ç-ão de entrevistas semi-estrutr.rarr. meio da reariza- profi*rlílnf .

óir.ididas em duas ctap.s As errtrcvislirs, lr,it.rs tlc firrntir


c.rrr intlivirlu,rl, 1o1,1111
'itrtJi.' I)rr.s st'ssr.rt':; tr. r'rrtrt'visras í'.;;.;,r., r.r,,rri.,,r,r.r,. tlr,r\,,rrl,r,,,,rrr
l r,rrr r.r,r.r ,,rr
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oR'ENIAçAO PRoFlsstoNAr
ieito. As entrevistas rÉrooo
',pi'., r"", *ã:;'il,:'.:Li,#::l::,:",
;:::::J;,;T:"Xgfr{1f:Tr*ii:',.,ljt".lf
'*uu *uuâI oe trabalho
vários rocais: casa
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upr"r*- ó, i*uir : um depoimento aoonfâ\/â hôí^
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aprofundar a questão
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de orient-açã"
J.r r"i"ra.s a respeito aas
ánt.iuui_
::ãfl:J*srama orãri*,*ar na construção de suas
Análise dos dados Na discussão finar' procurou-se
meio dos documento'"o*. cotejar os dados coletados
a* por
""',àstas, buscando-se identifi_
- Tanto para d" u"orhu;;; sujeitos, bem
|ãil'ri:fi:ilffi:':: como as rera-
ilh ;?: à jfu
tr vivenciada, orrrr,ao-T111-aesta qesqulsa, entre as experiências
procedjmento,,o ili* ilT'{11,"{üf"" xt ln,rit j l
André 0986)' afirma ,".rru",
o Programa de o
posteriorm""r- e as
gação ao
tu'ut'"t],')t'* que este "rrrirártue 0",jllji"l?1,prorissionar
l" ri*uJrr.o;:;;,t"*o um método de
de anárise "o,,t"jJa"
l.,r,"rti-
será a (p' 4D' e unidade
de forma rao rrr,]llt"'";;;;.1,;"t"ens" a variar os
mentos, r r rr., rur.,;fl^u"o a r, ár"."r;irprocurar_se_á
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RTSULTADO§: A ESCOLHA DOS SUJEITOS..

A ESCOLHA DOS SUJEITOS, DA


RESULTADOS:
PRIMEIM SESSÁO A EXPERIÊNCN PROFISSIONAL

Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos nas


várias fases da investigação. optou-se por apresentar, inicialmen-
te, um quadro geral da situação de escolha profissional dos parüci-
pantes do grupo pesquisado t para facilitar a compreensão dos de-
mais dados. Em seguid4 serão apresentados os dados da escolha
profissional dos sujeitos no início do programa de orientação pro-
fissional, e depois os dados de escolha no final do programa. Por
último, serão apresentados os dados obtidos nas entrevistas reali-
zadascom cinco participantes deste mesmo gruPo, seis anos após o
término do trabalho.

Quadro geral da situaçáo de escolha

O Quadro 3 apresenta a situação das escolhas profissionais de


cada sujeito. A coluna I apresenta as profissões citadas pelo sujeito
na "ficha pessoal", material preenchido pelo participante antes do
início de seu grupo de orientação. A pergunta realizada para a ob-
tenção desse dado foi: "Relacione as profissõe§ que você pensou
em seguir desde criança até hoje (anote ao lado as idades corres-
)
RESULÍADOS: A ESCOLHA DoS SUJElTOs,.,
iló 0RTENTASO PROFTSTONAL

i{
pondentes)". A coluna II apresenta as profissões citadas como de "É hb
.g
ê
interesse na primeira sessão, numa atividade na qual o participan- za 9= ei
g e+
e-
te era solicitado a explicitar para o grupo como se encontrava fren- .5 9. 'Ee ,6 if
E e q 9
,É gj
te à escolha profissional. A coluna III refere-se às profissões citadas 2 ô € E§ ô É E
Eê e
É E E :_z E Ê- E
na última sessão, após a vivência do processo. A coluna IV apre- g 'à õ3
ã54 e
ã eH '6
ff
senta o curso universitário freqüentado pelo sujeito, e a coluna V, a ã.É !9ts !õ
a
profissão atual. Esses dois últimos dados foram obtidos por meio o E

de entrevistas pessoais ou telefônicas.


o
! I E

j
A maioria das profissões mencionadas pelos sujeitos na últi- E E eE É
oE -É
ô? É E
ma sessão do programa de orientação profissional (coluna lIl) já ? àã g rã
h!
E-
aparecia citada anteriormente, tanto na primeira sessão (coluna II), õ.É õÊ E.
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99
É É
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.Ep E 'a
como na ficha pessoal (coluna I). Treze casos estão nessa sifuação. -ú
'd4 ÊG 'dÉ
I ãg
.qê 4
qt ,6
Apenas dois participantes terminam o programa apontando pro-
fissões não citadas anteriormente, o que sugere que o interesse por )
o
E

,E s E a
elas tenha surgido a partir da vivência do programa: Wilma termi- E
á
g
o a
na o programa apontando três profissões, dentre as quais hotelari4 ?

e
óg §
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2 c
que vai perseguir e que não havia sido mencionada anteriormente; 99
É
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É
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!À -ÉB É ã
Flávio, apesar de ter citado administração na primeira sessão, ter- o: É êE É
ã'c
F§ E 'É
2
E .ãí 3
mina o programa decidido a Íazer administração hospitalar, que, o
-8
&
segundo as próprias palavras do participante, descobriu durante o g
§
a ',
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o processo de informação realizado no programa de orientação E
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profissional. O caso de André é diferente, pois o participante fal- ,q



Eú ,á
E-
€.8 ! 3.3
6*
tou na última sessão; entretanto, observando sua trajetóri4 pode- É +.P É a
.gg !e ae 3ã '6 É
se dizer que ele terminaria o programa apontando a área de ar- É !.E ;=--- -sõ Éü c.õ
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quitetura. ãq E €
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2
Dos treze casos que terminam o programa afirmando profis- o
& EE EÉ ú ,l
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sões citadas já na primeira sessão, doze cursaram faculdades relati-
s

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vas àquelas profissões. Isto é, praticamente não há mudança na ? .9 E
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passagem do final do programa até o curso universitário. São exce- ,E€ ez e3 .E .g
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I .tsã 'E- g3 É9 *8, .* 'It

ções: Maíra, que termina o programa falando em jornalismo, cursa


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-É Ér
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8,6
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=§ I
dois anos, abandona e atualmente faz o curso de cinema; Flávio, 2o
q€ UP àÉ
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E{ t II B'F
que não fez o curso de administração hospitalar, como havia defi- ãI
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q I {ti
nido na última sessão, entrando no curso de psicologia, profissão É
i
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2 o = =
H 5s
que havia sido mencionada na primeira sessão e na ficha pessoal; iÍr ln F,q
1 t." rl
Wanda, que vai Íazer o curso de publicidade, não levando adiante
)
il8 oRENTAçÂO PROF|SSIONAL
Itl SULTADOS:A ESCOLHA DOS SUjEITOS,,, I 19

a idéia de artes cênicas; Andre, que como foi apontado, faltou na


Nesta tabela, chama a atenção o expressivo número de profis-
última sessão, impossibilitando a comparação.
síres citadas na área de humanas em todos os momentos da coleta
Atualmente os dezesseis sujeitos estão trabalhando (ou termi- clc dados, isto é, na ficha pessoal, na primeira sessão, na última
nando seus estudos) em áreas próximas do curso universitário fre- sessão, no curso universitário freqüentado e na profissão atual. As
qüentado. uma observação, no entanto, deve ser feita no caso de profissões da área de exatas e biológicas têm expressão pouco sig-
wilma que fez o curso de tecnologia em hotelaria, com duração de nificativa em todas as fases da coleta de dados. Chama a atenção
dois anos, trabalhou por quatro anos na área, mas, hoje (novembro também a redução progressiva no número de profissões citadas nos
de 2000), desligou-se da área, preparando-se para prástar vestibu- vários momentos, a partir da elaboração da ficha pessoal.
lar para o curso de pedagogia.
comparando-se a profissão afual com as citadas na primeira
sessão, tem-se a correspondência em treze casoE/ isto é, esses parti- As opçóes proÍissionais apontadas na primeira sessáo
cipantes estão afuando profissionalmente (ou terminando seus es-
fudos) em carreiras que foram uma das mencionadas na primeira Os dados apresentados neste item foram obtidos a partir dos
sessão do programa de orientação profissional. registros feitos pelos coordenadores na primeira sessão do progra-
ma de orientação profissional, na atividade em que se solicitou aos
A Tabela 2, elaborada sobre as informações contidas na
eua- sujeitos que explicitassem sua situação de escolha profissional e os
dro 3 acima, apresenta o número de profissões citadas nas diver-
motivos que os levaram ao programa. A questão geradora dos da-
sas fases de coleta de dados, agrupadas por área de conhecimen-
dos pedia ao participante que contasse sua história em termos de esco-
to. Cada participante cita diversas profissões em cada momento
lha de profissdo.
da pesquisa e por isso o N da tabela abaixo é superior ao número
de sujeitos. A Tabela 3 apresenta a quantidade de profissões que os sujei-
tos, na primeira sessão, declaram ser a sua situação atual de esco-
Tabela 2 lha profissional.
Profissões citadas por área de conhecimento*

Área do o
td Tabela 3
conhecimento
'od
,tü .9 ,X
'H"8 o
Id Quantidade de profissões declaradas na primeira sessão
H HE * o.b
99c i?É o
dx3 JÜG.= É
'
o/
/o
E! b
o/
/o
v>Éi
\CO o/ o/
Cita uma profissão 7
,ldó ts úE /o /o
Cita duas ou três profissões 5
Humanas 46 56 42 72 15 75 17 85 13 81
Cita quatro ou mais profissões 1
Exatas 11 13 9 16 3 15 1 5 1 6 Cita uma área de conhecimento 2
Biológicas 13 l6 12 2 10 2 10 2 13 Dúvida entre duas áreas de conhecimento 1
Não classificável 72 15

Total 82 100 5B 100 20 100 20 100 t6 100


* A profissão
de psicólogo foi arocada na área d" hr.rrr.r", ,"grir,ããã critério Sete participantes do grupo declaram estar pensando em uma
adotado pela PUC-SP.
profissão; cinco dizem estar em dúvida entre duas ou trôs outras;
RESULTADOS: A ESCOLHA DOS SUJEITOS... I 2 I

oRtENTAçAO PROFTSSIONAL

4 Mercado de trabalho que se referem à rela-


inclui relatos
apenas quatro fazemopções sugerindo estar bastante abertos quan- - -
da oferta e procura de empregos (ou trabalhos)pelos trabalha-
ção
to à escolha profissional. Na sessão, todos se dizem inseguros em dores qualificados para tal, como um dos determinantes da escolha
suas escolhas, mas chama a atenção o fato de que doze não se assu-
profissional: é citada por três membros do grupo que a apontam
miram como totalmente perdidos. como empecilho para a realízaçáo da escolha. Não ter futuro ou
A partir das falas dos sujeitos a respeito de sua escolha profis- mercado ruim é condição de afastamento de profissões que a prin-
sional na primeira sessão do programa, registrados pelos coorde- cípio interessariam aos sujeitos.
nadores do grupo, buscou-se identificar os motivos que determina-
ram a aproximação dos sujeitos às profissões. Estes motivos foram - 5Opção por profissão
uma profissão genérica, ainda
- inclui
genérica
não ter
relatos que apontam
assumido uma decisão:
Por
agrupados segundo sua naturez4 conÍorme se aPresenta a seguir: já é recorrente, para quem trabalha com orientação profissional, o
L Desempenho e interesses escolares é a categoria que con- significado dos depoimentos agrupados na categoria. Como forma
- -
tém o maior número de registros. Pode-se afirmar que, no momen- de resolução de escolha profissional frente às dificuldades desta
to de entrada no programa, esse determinante é o mais considera- decisão, os jovens recorrem à idéia de buscar uma profissão a mais
do para aproximação dos sujeitos às suas escolhas. O interesse e genérica possível, isto é, ampla e não restritiva em relação ao mer-
desempenho nas áreas de conhecimento vividos pelo sujeito no en- cado de trabalho, como forma de tomada de decisão. Dois dos su-
sino médio e o resultado nas disciplinas escolares são citadas como jeitos fazem uso desta concepção, iá qte, segundo os próprios de-
indicadores seguros para a escolha profissional neste momento. poimentos, não têm a menor idéia do que pretendem, escolhendo
2 Expressão dascaracterísticas indiuiduais: habilidades e gos- uma profissão em que arriscariam menos.
tos
-agrupa em si próprios e
os dados que os sujeitos identificam 6 Vestibular inclui relatos sobre o papel do vestibular,
-
que seriam determinantes na aproximação com as profissões. Os - -
como um dos determinantes da escolha profissional: apenas um
quatro sujeitos que assinalam este item fazem referência às habili- jovem sente-se obrigado a Passar no vestibular. Neste momento, os
dades de leitura e escrita, como se fossem as únicas que permitem a participantes, no Brupo, dizem'se mais preocupados com a escolha
relação com a escolha profissional. A criatividade é citada duas profissional do que com o vestibular, que é encarado como conse-
vezes: um sujeito se considera pouco criativo, o que o afasta de uma qüência.
profissão, enquanto o outro se considera criativo.
3 por quatro membros do grupo, e todas
é citada
-Família-
as referências têm a ver com a profissão do direito. Três sujeitos
As opçóes profissionais apontadas na última sessáo

observam seus familiares no exercício ou estudo preparatório para Neste item, apresenta-se situação dos participantes do grupo
a profissão e a avaliam como possibilidade de escolha, quer Por de orientação profissional pesquisado, na última sessãcl dtl progra-
facilidade na questão da obtenção de trabalho, quer na comparação ma, momento no qual produzem, poÍ escrito, suas síntcs('Íi (t ('()ll-
das habilidades necessárias para o seu exercício. Um dos sujeitos clusões. As doze categorias foram montadas procurand()-tit' ('ilril('-
observa o irmão cursando a faculdade e considera que está perden- terizar a qualidade da decisão profissional dos sujcikrs.
do interesse, usando como expressão "está perdendo o brilho" Antes de apresentar as categorias, pode-se ohst'rviü, ('(lllll'il
(Fernando), isto é, vê pela experiência clo familiar que sua visão a rando-se com os dados da Tabela 2 apresentada antt'riortllctllt', tlilr'
respeito da profissão não correspttnr'l(r i1() que observa nele.
r t72 oTENTASOPROF|SS|ONAL HI SUITADOS: A ESCOLHA DOS SUlE|TOS,,,

o número de profissões citadas na última sessão do programa de rt'alize, mas quero também que dê dinheiro" (André); "Desta for-
orientação profissional é significativamente reduzido quando com- mer satisfação e interesse estão sempre pesando na balança das es-
parado com a situação de entrada. se na primeira sessão havia sg colhas; neste ponto entra minha expectativa sobre a profissão. Esta
profissões para'J.6 participantes, neste momento háZO para'16. não passa muito da satisfação do interesse. Entra, porém, o fator da
1- inclui relatos que se referem a valores (normas,
Valores remuneração que onde eu espero poder estar me sustentando" (Flá-
-
posturas ou cÍenças) que norteiam o comportamento do próprio vio); "conseguir unir o que eu gosto com reconhecimento profissio-
sujeito, como um dos determinantes da escolha profissionar foi nal e mesmo social com a expectativa de manutenção de um bom
subdividida em duas subcategorias. A subcategoria ,,Valores - ge- nível de vida" (Marina).
rais"
- inclui valores não diretamente vinculados com a escolha
profissional, como um dos determinantes da escolha profissional
2
- Expressão das características
indiaiduais
- inclui relatos que
se referem às características pessoais que o sujeito observa em si pró-
é a mais citada entre todas as elaboradas. Cerca de catorze parti-
-cipantes expressam o que pretendem para si no que tange à vida
prio, como um dos determinantes da escolha proÍissional
vidida em três. A subcategoria "Formas de comportamento"
- é subdiin-
fufura. A grande maioria reflete valores individuais, como, por clui relatos que se referem às formas de comportamento singular de
-
exemplo: "pÍezo muito pelo prazer que a profissão deve dar,, expressão das características individuais, como um dos determinantes
(Chico), "como valor principal e absoluto tenho (e imagino que gran- sujeito se relaciona
de parte da população mundial tenha também), a felicidade,, (Mar-
da escolha profissional
- elenca o modo como o
com as outras pessoas. Doze orientandos, a partir da observação de
celo), "a minha expectativa quanto a mim mesma é ser muito felize suas relações com os outros, apontam suas características individuais.
me realizar profissionalmente; acho fundamental o autoconheci- Por exemplo: "gosto de me relacionar com pessoas/ mas sou meio
mento, pois se você não se conhece muito bem, fica difícil de reari- tímido; não sou esforçado" (Femando); "as pessoas me vêem como
zar qualquer coisa" (Wanda). um cara extrovertido, mas sempre me achei meio introvertido; gosto
Apenas Gustavo expressa valores que saem do âmbito do in- de estar com outras pessoas, mas não gosto de amontoamentog prin-
dividualismo quando pensa na sua escolha de profissão: ,,Acredito cipalmente em lugar fechado; gosto de lugares abertos" (Chico); "sou
que é necessário mudar alguma coisa no mundo afual, que consi- alegre, teimosa e detalhista, sou exigente, sou sonhadora, tento bus-
dero injusto. Este objetivo define minhas opções e atitudes,,. car respostas às minhas dúvidas; sou insegura e indecis4 talvez pelo
A subcategoria "Valores específiçes/' meu medo de fracassar; sou introvertida, principalmente no que se
- incluicomo
cionados diretamente com a escolha profissional,
valores rela-
um dos refere a assuntos pessoais" (Lia).
determinantes da escolha profissional A subcategoria "Habilidades e gostos genéricos"inclui rela-
- osagrupa
que correlacionam explícita e diretamente
os depoimentos
valores com as profis-
-
tos que se referem às habilidades e gostos expressos pelo zujeito, como
sões. seis sujeitos em onze referem-se à busca da realízação profis- um dos determinantes da escolha profissional agrupa as caracte-
sional entendida como: "me satisfazer intelectualmente e pratica- -
rísticas no que se refere a habilidades e gostos que o sujeito observa
mente" (Fernando); "o qtJe importa é se sentir bem no que está fa- em si, mas que não relaciona necessariamente a uma profissão cspe-
zendo, pois só assim terei um futuro feliz" (Gabriel); ,,quero me cífica. Por exemplo: "sou criativo, tenho iniciativa tenho facilitlatlt'
rcalizat profissionalmente, tanto que estou pensando seriamente de lidar com lógica, sou tímido, estou aberto e gosto de novidatlt's r'
em Íazer artes cênicas" (Wanda). Apenas três sujeitos explicitam pessoas novas" (Marcelo). Seis dos dez registros desta subcategoriit
valores ligados à questão monetária: "quero uma profissão que me fazem referência a habilidades de leitura e escrita.
\
t24 oTENTAÇAOPROF|SS|ONÂL
ill\t,t IADOS:AESCOLHADOSSUIEITOS.,. 12§

A subcategoria "Habilidades e gostos específicos,,


- inclui
latos que se referem especificamente às habilidades e gostos
re-
que se
4
- Desempenho e interesses escolares
- inclui relatos que se
relacionam diretamente com a escolha profissional dos sujeitos, como rcfcrcm às áreas de conhecimento e às disciplinas escolares de que
um dos determinantes da escolha profissionar o sujeito gosta como um dos determinantes da escolha profissional
- registraindividuais
mentos de onze sujeitos que correlacionam características
os depoi- . agrupa registros dos sujeitos quando correlacionam suas deci-

percebidas em si próprios com profissões: "gosto de estar em grupo, sijcs com a experiência escolar vivida. Cinco sujeitos estabelecem
sempre aprendendo e ensinando, vou prestar pedagogia,, (Ana); t'onexões positivas entre o desempenho e a escolha' Três apontam
"além disso gosto múto de computadores,, (Marcelo). rlue a relação estabelecida não deve ser considerada como necessa-
riamente verdadeira: "eu acho que o aluno pode levar em conta, na
3 A categoria "Mercado de trabalho,, inclui relatos que
- -
se referem à relação da oferta e procura de empregos
hora de escolher uma profissão, as matérias de que mais gosta/ mas
(ou trabahàs) isso não significa que ele deva escolher uma profissão nessa área"
pelos trabalhadores qualificados para essa função, como um dos
(Wanda).
determinantes da escolha profissional contém depoimentos que
demonstram como os sujeitos refletem-sobre a temá1ca do merca- inclui relatos que
Informação profissional
5 se referem às
-
informações sobre as profissões
- como um dos determinantes da
do de trabalho, interferindo em suas decisões. A subcategoria ,,Mer-
cscolha profissional registra a forma como o participante se aPro-
cado de trabalho geral"
- inclui relatos que se referem à relação da -
priou das informações apresentadas no programa de orientação
oferta e procura de empregos (ou trabalhos), não diretamente vin-
culadas com a escolha profissional do sujeito profissional. oito sujeitos resgatam a importância da informação
que os participantes fazem a respeito do assunto,- aponta a reflexão
não relacionado
no processo elencadas na subcategoria "InÍormações no programa"
diretamente com sua escolha: a "sociedade atua sobre a escolha inclui relatos que se referem às informações obtidas durante o
-programa vivenciado, como um dos determinantes da escolha pro-
profissional do indivíduo por meio de elementos como... o merca- //d111an1e
do de trabalho que interferirá na busca do êxito profissional e até fissional o trabalho de orientação, fui adquirindo no-
-
vas inÍormações que mudaram minha maneira de pensar em rela-
por,meio da própria aceitação do indivíduo como profissional re-
ção a algumas profissões; antes queria fazeriorrralismo sem
ter muita
conhecido" (Marina).
noção de como é o trabalho. Hoje tenho mais conhecimento sobre o
A subcategoria "Mercado de trabalho específico,,
- inclui (ou
latos que se referem à relação da oferta e procura de empregos
re_ assunto e sei os motivos pelos quais gostaria de trabalhar com jor-
nalismo e produção editorial" (Maíra).z3 Três participantes buscam
trabalhos) relacionadas diretamente com a escclha profissional do
informações por meio de contatos pessoais ou visitas a locais de
sujeito
- contém dez depoimentos que relacionam a temática do
mercado de trabalho com a escolha profissional do participante.
trabalho, por iniciativa própria (subcategoria "InÍormações por meio
de contatos" inclui relatos que se referem às inÍormações sobre
sete desses registros Íazern menção a um mercado que apresenta -
as profissões obtidas em conversas e/ou visitas ao local de traba-
dificuldades sem grandes perspectivas no presente momento. En-
lho como um dos determinantes da escolha profissional).
tretanto, os sujeitos afirmam que irão enfrentar as restrições e, além
disso, entendem o mercado como algo dinâmico, passível de mu- 6-Identificação com aprofissão escolhida-foi dividida em duns
dança ao longo do tempo. Portanto, o mercado de trabalho restritivo subcategorias. A subcategoria "Identificação justificada" elencit tts
parece não ser mais razão, pelo menos essenciaf de abandono de
preferências profissionais. 23. É interessante registrar que o sujeito que fez esse depoimento abntlclt»tott
(l ('tlt'flr)
universitário que fazia para iniciar outro.
\
t?ó oRTENTÂÇAO PROFTS§ONAt rl TULTADOS: A ESCOLHA DOS SUJEITOS.. n7

depoimentos dos sujeitos que dizem estar identificados com a pro- sirn que as pessoas são diferentes, independentemente de serem
fissão escolhida. os participantes apontam atividades específicas lurmens ou mulheres, guardando as devidas proporções, claro!"
da profissão, registrando o que gostam nela. os depoimentos favo- 0úlia); "LJm evenfual preconceito contra mulheres não vai interfe-
recem a percepção de que o sujeito, nesta categoria, está mostrando rir na minha escolha" (Witma). Outros consideram que as relações
a imagem que a profissão passou a ter depois da experiência do cle gênero e conseqüentes preconceitos são incorporados pelas pes-
programa: "a única profissão que me vejo fazendo é porque mexe soas no transcorrer da vida e por isso têm relação direta com a esco-
com o corpo e se relaciona com pessoas" (Gabriel); ,,porque fui to- lha, levando as pessoas a desenvolver gostos e habilidades em fun-
mando gosto pela profissão; gosto dos serviços prestados pelo advo- ção do padrão sexual vivido na sociedade: "Nunca me preocupei
gado" (Renato). se a minha escolha era para homem ou mulher, na verdade acho
Na subcategoria "Identificação não justificada,,, o participan- que isso cresce com a gente: as mulheres geralmente trabalham ou
te afirma que a profissão tem a ver consigo, mas não justifica sua escolhem carreiras que mexam com pessoas (cuidar, ajuda) como
posição: "eu sempre gostei de direito... acho que o direito é mesmo enfermagem, fonoaudiologia... )" (Larissa).
a carreira que mais atende as minhas necessidades e expectativas" inclui relatos que se referem às
(Chico).
9
- Disciplinas curriculares -
disciplinas da grade curricular do curso escolhido como um dos

- 7Meios de comunicação
- inclui
mensagens veiculadas pelos meios
relatos que se referem às determinantes da escolha profissional
- cinco sujeitos fazem refe-
rência explícita à grade curricular do curso que pretendem seguiç
de comunicação bem como a
sua qualidade, como um dos determinantes da escolha profissional tomando-a como mais um determinante de aproximação com as
são vistos pelos sujeitos como instrumentos da sociedade para profissões: "As matérias estudadas durante o cursos são de meu
-inculcar os valores dominantes: "A sociedade atua sobre a escolha extremo interesse" (Fernando); "... história filosofia e ciências so-
profissional do indivíduo por meio de elementos como a famíli4 os ciais são disciplinas que despertam a minha curiosidade e que acre-
meios de comunicação, o mercado de trabalho que interferirá na dito contribuírem para a minha visão de mundo e participação do
busca do êxito profissional e até por meio da própria aceitação do mundo" (Ana). Um participante, ao observar a grade curricular do
indivíduo como profissional reconhecido" (Marina). Três sujeitos curso que almeja indaga (a si próprio) se gosta tanto assim de uma
apontam a não-confiabilidade das mensagens veiculadas pelos matéria, para enfrentar o trabalho: "Não sei se gosto de matemática
meios de comunicação, especificamente a respeito das profissões: tanto a ponto de trabalhar com isso, eu estaria absolutamente segu-
"Os meios de comunicação manipulam a escolha profissional ao ro e confiante não fosse essa questão com a matemática (eu gosto,
não passar informações sobre as profissões de forma correta,, mas não sei se gosto tanto assim)" (Marcelo).
(Gabriel); "Os meios de comunicação transmitem imagens falsas Sociedade
1.0 inclui relatos que se referem aos ambientes e
das profissões" (Maíra). - -
relações sociais dos quais o jovem participa como um dos
8 Gênero agrupa os depoimentos a respeito da tigação determinantes da escolha profissional demonstra a percepção
- -
entre as relações de gênero e a escolha profissional e/ou de traba-
-
dos sujeitos quanto ao grau de autonomia existente nas escolhas
lho. Três moças e dois rapazes Íazemmenção ao item. Todos perce- profissionais que realizam. Na subcategoria "Transmissão social"
bem que há discriminação de gênero na sociedade, mas alguns acre- relatos que se referem ao papel da sociedade na formação
ditam que isto não interfere em suas decisões profissionais: ,,Não -de inclui
expectativas, interesses, habilidades na transmissão de valores,
acredito que haja profissões para mulheres ou para homens, mas como um dos determinantes para a escolha profissional são
-
t28 oRTENTAÇAO PROFT§Sl0NAL
Itl SUTTADOS: AESCOLHÀ DOS SUJEITOS.,

registrados os depoimentos de como os participantes percebem o


ça na hora de escolher uma profissão que não tem um bom merca-
papel da sociedade na constituição de sua individualidade, refle- d«r; a sociedade não leva em conta se a pessoa gosta ou não do que
tindo a abrangência da liberdade que possuem: ,,Existem, sem dú- tittz, o que importa é a remuneração que tem que ser alta; cobra a
vid4 influências exteriores na escolha profissionar. seria utopia de- rlualidade do produto" (Wanda).
mais achar que escolhas que fazemos só partem de nós, mesmo
11. Famílla inclui relatos sobre o papel da família como
porque vivemos em grupo, num ambiente social integrado que fun- - -
um dos determinantes da escolha profissional os sujeitos perce-
ciona porque cada um colabora de um modo. Assim, o que vive-
bem a instituição família como porta-voz da
-
sociedade, constituin-
mos e escolhemos é, sem dúvida, nosso, mas tem a participação de
do-se assim como mais um dos determinante da escolha profissio-
vários outros fatores externos a nós. Educação, ou forma como se é
nal: "A sociedade tenta impor determinadas profissões por meio
criado, os valores que são passados, o modo como se encara a vid4
do status, mercado de trabalho, possibilidade real ou não de ascen-
são aspectos que fazem parte do eu, dados pela educação e que
são, propagandas e outros. Os meios de comunicação, as escolas, os
participarão, direta ou indiretamente, da escolha profissional"
(Ana); "Pata entendermos a questão da influência da sociedade na amigos e os pais apresentam valores muitas vezes diferentes dos
nossos/ ocasionalmente impondo-os" (Gustavo).
escolha profissional devemos entender que não somos homens ape-
nas. Somos homens em uma sociedade, o que somos/ o que pensa- lT-Dificuldade escolha-inclui relatos relacionados a fato-
de

mos foi, é e ainda será em parte o que aprendemos e o que presen- res que impedem ou dificultam a escolha profissional do sujeito
registra dois depoimentos que explicitam as dificuldades atuais ou
-
ciamos. É impossível pensar no homem fora do contexto social. A
nossa vid4 educação e experiências até agora nos proporcionaÍn uma anteriores paÍa a tomada de decisão. Um deles aborda o medo da
série de gostos, vontades e habilidades. A nossa liberdade, no caso, perda na escolha de uma profissão, o outro faz menção ao receio
está em escolher uma profissão entre várias (ou não) que seja ade- que o orientando tinha ao pensar se estava sendo influenciado pela
quada aos nossos gostos e habilidades de acordo corn a nossa educa- família na sua decisão.
ção (utilizada aqui em sentido mais amplo possível),, (Marcelo).
Dois participantes enfatizam que a sociedade inculca valores
Seis anos após
individualistas, dos quais são críticos (subcategoria "Individualis-
ps/' inslui relatos que se referem ao papel da sociedade na trans- Para a compreensão dos possíveis efeitos do programa de orien-
-
missão de valores individualistas como um dos determinantes da tação profissional, bem como do entendimento de como aE esco-
escolha profissional): "A sociedade cobra das pessoas uma profis- lhas foram construídas pelas participantes, procedeu-se a realiza-
são que dê fama e sucesso. os pais ficam mais tranqüilos quando o
ção de entrevistas com cinco sujeitos que participaram do grupo
filho entra numa faculdade que tem fama. A sociedade discrimina que está sendo pesquisado. Optou-se Por apresentar os dados divi
quem não tem curso superior. A sociedade não leva em conta o didos em dois grandes conjuntos: o primeiro, denominado qualifi'
prazer da proíissão, apenas cobra algo que dê fama e dinheiro" cação da escolha, intenta compreender como o indivíduo construiu
(Chico). "A sociedade cobra eficiência do empregado (trabalhador); suas decisões ao longo de sua história pessoal. O segundo, denomi-
cobra o curso universitário; não dá muitas oporfunidades de em- nada questões do programa, busca entender a contribuição específica
prego; discriminação na hora de empregar alguém com a falta de do programa de orientação profissionai na construção das escolhas
um curso superior; existe a cobrança de um bom currículo; cobran* do sujeito. Para facilitar a compreensão das categorias dos dois blo-
130 oR|ENTAçAOPROFTSSTONAL RISULTADOS: A ESCOLHA DOS SU,IEITOS... I 3 I

cos/ será apresentada primeiramente uma síntese da trajetória


pro- cilsou, mudou de cidade, teve uma filha. Agora procura emprego
fissional dos cinco sujeitos.
na área.
Lia declarou, na primeira sessão do programa de orientação
Trojetório profissionol dos cinco sufeitos entreyistodos profissional, que no ano anterior havia pensado em arquitefura,
mas que descartou e que estava pensando em medicina, oceano-
Neste tópico apresenta-se os registros dos relatos verbais so- grafia e engenharia química. Terminou o programa em dúvida en-
bre as decisões profissionais assumidas pelos sujeitos ao longo de tre arquitetura e medicina. Prestou vestibular para os dois cursos e
sua história pessoal, desde antes do início do programa de orienta- mais um de desenho industrial. Não passou em medicina, mas foi
ção profissional até momento atuaf isto é, sua condição de traba- aprovada em arquitefura e desenho industrial. Freqüentou o curso
lho ou estudo no segundo semestre do ano 2000. A seguir, uma de arquitefura por dois anos, fez estágio na área e decidiu trancar a
sÍntese da trajetória de cada sujeito. matrícula no curso. Prestou vestibular novamente e foi aprovada
no curso de medicina. Atualmente está no terceiro ano deste curso.
Gabriel entra no programa dizendo estar pensando em cursar
educação física "mas que isto vai passar porque não tem fufuro,,. Marcelo, na primeira sessão, afirma que não considera sua si-
Faz referência a direito porque tem advogados na famíria,mas tuação de escolha profissional tão difíciI. Está mais para exatas: com-
que
também pode ser administração de empresas porque é uma boa putação, engenharia civil, engenharia elétrica ou ainda biologia. Na
profissão para quem está indeciso. Entretanto, diz que hoje tem última sessão, diz que vai Íazer o curso de ciência da computação,
vontade defazer educação física. Termina o programa dizendo que mas que sente certo receio por não saber se gosta tanto assim de
Íará o curso de educação física, presta o vestibular e é aprovado. matemática para en{rentá-lo. No primeiro vestibular, não Passa em
Durante o curso pensa em parar e Íazer algo rigado u uri" (dese- sua primeira opção. Consegue matricular-se no curso de Matemáti-
ca, que tem, no primeiro e segundo semesttes, grade curricular equi-
nholfotograÍia), uma vez que sente falta de tiabaúar com esse lado,
valente ao do curso de computação. No segundo semestre, tranca
de que também gosta. Faz estágio na área de educação física,
o que matrícula, faz cursinho preparatório, presta vestibular é aprovado
o faz perceber que gosta do trabarho dessa profissão. Hoje,
trabalha para o cuÍso de computação. Quando está no terceiro ano consegue
como instrutor de uma academia (principalmente na área de trei-
estágio na á^rea. Atualmente trabalha na área de engenharia de
namento de atletas) e é personal trainer. Está fazendo um pós-gra-
software e também está envolvido com treinamento de pessoal (ope-
duação, lato sensu, em treinamento desportivo. Afirmu qr* é um
racional) nessa mesma empresa. Vai formar-se no curso de ciência
dos poucos de sua furma que vive compretamente independente
da computação em 200L.
da famíia.
Flávio, na primeira sessão, diz que nunca se Preocupou com
Ana antes de entrar no programa de orientação profissional
o assunto, pois esperava uma escolha natursl. Baseando-se na sua
já havia-cursado por algum tempô e desistido dos cursos
de jorna- facilidade maior nas disciplinas da área de exatas, volta-se para
lismo e história. Entrou no programa dizendo que gostaria de co-
engenharia de produção, mas já pensou em psicologia e em ser
nhecer outras profissões. Na primeira sessãq declaiou estar pen-
professor de inglês. Tem dúvidas entre exatas e humanas e iá " pas-
sando em psicologia ou pedagogia ou até mesmo vortar para o cur-
sou pela cabeça fazer administração de empresas Por não saber o
so de história. Terminou o programa dizendo-se decàida a
ser que fazer". Na última sessão, o participante se diz deci(ido a fa-
pedagoga. Fez curso universitário nesta área, começou a trabalhar,
zer o curso de administração hospitalar, mas viaja com h família
oRIENTAÇAO PROFTSSTONAL ll[SULIADOS; A ESCOLHA DOS SUiEITOS.,. llt

para o exterior em função do trabalho do pai. Volta um ano de- Tabela 4


pois, já pensando em psicologia, presta o vestibular e se forma em Peaeoas citadas peloo sujeitos como relevanteg na escolha profasional
200Q ano da realização desta entrevista. o sujeito reariza vários Menção a pessoa§/
personalidades e situações Gabriel Lia Ana Flávio Marcelo Total
estágios na área da psicologia, mas até agora não exerceu qual-
quer trabalho remunerado. Amigo(s) 1 1 I J

Pai 1 1 1 J

Especialista na área/ técnico 1 1* 2


Quotificoçoo do) escolho
Professor universitário 1 1 2

Neste tópico apresenta-se as categorias que procuram caracte- Personagem (ou situação) 1** 1*** 2
rizar os pÍocessos de escolha profissional realizada pelos cinco su- 1
Mãe 1
jeitos entrevistados. organizaram-se doze categorias que serão apre-
Padrinho 1 1
sentadas a seguir:
Prima 1 i
L Identificações corn pessoas ou personalidades ou situações aponta
-
menções a pessoas, personalidades e sifuações com que o sujeito Namorado(a) 1 1

manteve contato, ao longo de sua vid4 e que tiveram alguma rela- Membros do próprio gr. de
orientação 1 1
ção com sua escolha.
Observa-se que, na Tabela 4, com exceção de Marcelo, o único Professor ensino Íundamental 1 1

que se dirigiu para a área de exatas, todos os demais relatam em Professor ensino médio 1 1

suas histórias várias identificações com pessoas ou situações que Total 5 5 4 J 1 19


podem ser relacionadas às profissões pensadas (ou escolhidas) pe- * Médico que atendeu em casos ortopédicos.
los participantes. Os amigos, juntamente com a figura paterna, se ** Confecção de jornal no ensino médio/escola como um todo (ensino médio)'
sobressaem. No caso dos pais, situam-se não exatamente como *** Filme com cena de hospital.

modelos de profissão, mas modelos de comportamento, atitudes e


valores.
Gabriel cita cinco casos de pessoas que, de uma forma ou de inclusive, campeão dos jogos do interior na modalidade maratona,
outra, facilitaram ou dificultaram a aproximação da profissão esco- mas não trabalha nessa área. O Participante lembra que "ele [o pai]
lhida. Um dos citados é um colega de faculdade que, da mesma corria, eu ficava pedalando ao lado dele". Aos dezesseis anos,
forma, ressente-se da formação específica em educação física; junto Gabriel já era um ciclista e encontrou um técnico que, segundo suas
com ele faz projetos de estudos e trabalho na área de Íotografía, próprias palavras, "me deu toda a assessoria Possível, ele estava no
mas que se auxiliam mufuamente para continuar o curso. O outro começo da carreira e foi até legal, eu dei uma suPerajuda para ele e
citado é uma colega com quem conversa a respeito de sua dúvida eu gostava muito de treinar, vivia um pouco esse meio, que acho
em continuar o curso de educação física, mas llue lhe aponta que é que às vezes importa muito nessa escolha profissional, o meio que
um dos alunos da faculdade mais dedicados que conhece. O pai é você está vivendo às vezes influencia muito. Então vivia muito esse
um aficionado do esporte e sempre foi um esportista, tendo sido, meio, gostava, então eu passava o dia inteiro com as Pes§qas, meus
r31 oilÊNTAÇAOPROF|SS|ONÀL
IIISULTADOS: A ESCOLHA DOS SUIEITOS.,, I 35

amigos eram professores de educação física, o professor de nata-


Ana também relata contatos Pessoais que a aproximam e dis-
Ção, e isso de alguma forma me iluminou". A citação do professor tanciam de pelo menos três profissões. O pai é citado várias vezes
universitário tem menos a ver com educação física propriamente
como modelo de profissional que a levaria a cursar jornalismo: "Eu
dita, mas com a percepção que na profissão podem ser sintetizadas ia ser jornalista, meu pai era, semPre o admirei, então eu ia fazet
várias possibilidades. Esse professor era formado em educação físi-
aquilo". De forma semelhante, vivencia a confecção de um jornal
ca/ mas com mestrado em comunicações, orientando seu trabalho
estudantil no ensino médio, que confirma a idéia de fazet jornalis-
de conclusão de curso, cujo título Íoí'A imagem fotográfica como mo. A participante se refere à experiência extremamente positiva
recurso didático paraaeducação Íísica" . Gabriel considera a namo- que experimentou no ensino médio, apontando alguns professores
rada como pessoa fundamental na afirmação de sua profissáo.,,Ela significativos. Essa experiência a faz questionar a didática do curso
trabalhava [no mesmo local que eu, mas] como nutricionista... Ela de jornalismo e a aproxima da pedagogia. A mãe, professora uni-
tem esse lado voltado [...] iá tinha feito mestrado [...] e ela adora versitária do curso de jornalismo, avisa-a de que ela não gostará do
arte e adora conversar sobre isso. Então foi uma pessoa com quem curso. Uma prima, estudante de psicologia na época, é citada como
me identifiquei [...] É uma pessoa que ao mesmo tempo trabalhava fonte de referência quando Pensa em fazer esse curso.
numa coisa superdireta que era coisa na base científica, ao mesmo Flávio, na primeira entrevista, diz saber por que escolheu o
tempo dava para conversar... dava para viajar na conversa. Então curso de administração hospitalar ao final do programa de orienta-
ela me deu muita força para estar estudando; agora eu estou f.azen-
ção vocacional: "Eu acredito que sei por que eu tinha escolhido
do pós-graduação na Escola Paulista de Medicina; pretendo, aca- administração hospitalar: foi por causa daquele filme do Harrison
bando, fazer o mestrado na área disso que eu estou trabalhando.,, Ford, O Fugitioo, que tem uma cena do hospital em que ele chega
Lia, como já Íoi comentado, freqüentou durante dois anos a [...] e eu curti aquela história [...] eu não queria estudar medicina
faculdade de arquitetura e depois mudou para o curso de medici- mas curti o clima de hospital". O pai aparece como fonte de sua
na. Há identificações para as duas profissões. Ligadas à arquitetura aproximação com aáreada administração: "Meu pai sempre traba-
aparecem uma professora de artes no primeiro ciclo do ensino fun- lhou meio que em empresa. A coisa da administração vinha carre-
damental que, segundo palavras próprias da particip artte, "Íoiquem gada dessa história de uma remuneração acima da média, e de re-
introduziu a arte [...] acho que Íoi com ela que a gente aprendeu a pente a coisa hospitalar vem com essa persPectiva de administra-
ver diferente". uma amiga de escola também escolheu arquitetura ção voltada para o outro, e não voltada para a grarra". Uma amiga
e, na época, como ela tinha dúvida entre essa profissão e medicina. da família considerada pelo participante como não tendo "grande
No segundo semestre do curso de arquitetrTÍa, aparticipante relata significado na minha vida e na vida da famflia", sugere que faça
que teve um professor muito bom, que a empolgou. Em medicina, psicologia.
Lia se refere a um padrinho (que também é seu primo) que é médi- Marcelo não aponta alguém que, no transcorrer de sua traje-
co. "Ele é a quem todo mundo recorre e ele sempre foi um exemplo tória, o aproxima de profissões.Fazbreve menção à existência de
para mim. Sempre que pensei medicina eu tive a imagem dele. por- computadores em casa, pois os pais precisavam do recurso por
que ele é um médico [...] é clínico geral [...] só que um clínico geral causa de seus trabalhos. O participante aponta um membro do
daqueles que sabe de tudo." Um médico ortopedista também apa- próprio grupo de orientação profissional como fonte de identifi-
rece em sua trajetória, nas ocasiões em que teve lesões causadas cação, pois já havia entrado numa faculdade e desistido. Isso o faz
pelo treinamento em natação. perceber que a decisão profissional não é tão grave e definitiva
quanto pensava. )
t3ó oRTENTASO r37
PROFTSSTONAL RÊSULTADOS: AESCOLHA DOS SUJEITOS

A convivência, durante o desenvolvimento do sujeito ao lon- fissional da áreaque, comPosta com outras contribuições (vivências
go da vida, com pessoas que lhe são caras, seguramente auxilia na cle qualquer tipo), formam uma imagem do profissional que é sin-
formação de imagens a respeito das diversas profissões que serão gulár do sujeito e que será mobilízada na sua escolha.
mobilizadas no momento de se decidir profissionalmente. Como se 3 Dificuldades para a realização da escolha aPresentam-se as
pode observar na Tabela 4, isso acontece com quatro sujeitos, rnas, - -
dificuldades recoúecidas pelo sujeito para decidir sua profissão
no caso de um deles, não há menção significativa que possa sugerir antes, durante ou após a sua participação no Programa de orienta-
a partir de quais elementos construiu a imagem da profissão que
ção profissional.
acabou seguindo. Não mencionou pessoas, situações ou filmes etc.
Avaliando sua dificuldade antes de sua participação no Pro-
2 Experiências anteriores relacionadas à escolha atunl rerata grama de orientação profissional, dois participantes (Gabriel e Mar-
-
vivências prévias que podem ser relacionadas às escorhas - ãelo) dizem que não conseguiam escolher devido à sua imaturida-
profis-
sionais do sujeito. Todos apresentam em sua história de vida algo de na época. Ana diz que foi difícil abandonar o curso que freqüen-
que pode ser ligado à sua escolha atual. Essas experiências foram tava numa universidade pública muito renomada.
relacionadas pelos participantes como fatores que os aproximaram A dificuldade de decisão, no tempo do programa, era de outra
das profissões. ordem: Gabriel mencionava que ela residia na pressão que sentia,
Gabriel gostava de atividades físicas, encontrou o mountain- principalmente de amigos, que questionavam sua escolha. Lia apon-
bike e aos 1"6 anos já era um atleta. Depois fez triatlo. ia três ordens de dificuldades: falta de tempo para decidir, pois o
Ana menciona sua experiência no ensino médio quando ava- grupo de orientação terminou uns dias apenas antes da inscrição
lia o curso de jornalismo. Entende-se que ela procura um curso áo vestibular, sua autocobrança de entrar numa faculdade pública e
o medo de escolher errado.
universitário que possa dar continuidade a essa vivência positiva
que não encontra no curso que abandona. A dificuldade de decisão na universidade, para Gabriel, era o
abandono (perda) de outra área que também o interessava: as artes.
Lia diz que se aproxima da arquitetura por causa da área de
Por sua vez,Liasentiu dificuldade de se desligar do curso universi-
artes, que era muito valorizada pela escola na qual estudava.
tário que freqüentavapata assumir outra decisão.
Marcelo diz que seus pais usavam o computador em casa, e
Pode-se afirmar que os sujeitos não conseguem expor/ ou se
ele, quando pequeno, gostava de usar.
lembrar, da situação que viviam e que dificultavam suas decisões.
Flávio fez psicoterapia desde osT anos de idade. os participantes que dizem que lhes faltava maturidade estão ava-
Os dados sugerem que as vivências prévias, significativas para liando a situação a partir do seu estágio atual.
o sujeito, contribuem para formação de imagens das profissões. são 4 E xp er iên ci a p r ofission al n a pr ofiss ão es colhid a ( dur ant e o u ap rí s
experiências de vida incorporadas pelo sujeito e que se constituem - aptesenta as experiências profissionais do
formação uniaersitríria)
-
também como determinantes da escolha profissionar. para melhor sujeito, durante ou após formação universitária.
entendimento, tome-se o caso de Gabriel que, na infância e adoles- Todos os sujeitos procuram se engajar em estágios, que consi-
cência, gostava de atividades físicas. Nem todas as pessoas que deram como início de suas vidas profissionais. É nessa experiência
gostam de atividades físicas na infância e adolescência escolhem a que, segundo vários depoimentos, verificam o acerto, ou nãtl, dil
área de educação física. Para o sujeito entrevistado, essa vivência áecisão tomada. Três sujeitos já têm vida profissional plena, isto tí,
foi significativa e contribuiu na formação da imagem de um pro- estão empregados e são remunerados como trabalhadorls: Lialrriel
t38 oR|ENTAÇAOPROFISSTONAL RESULTADOS: A ÊSCOLHA DOS SUJEITOS,.. t39

é técnico numa academia de preparação de atletas e personal


trainer; enfrentou reformas curriculares nos cursos que freqüentou, inicial-
Ana foi professora em são paulo e agora procura emprego na cida-
mente no de jornalismo e depois no de pedagogia. Critica o modelo
de para a qual se mudou, e Marcelo, que apesar ae àinJa estar
re- pedagógico do curso de jornalismo que acabou por determinar sua
gistrado como estagiário, já atua como prãfissional habilitado saída e se constituiu como antimodelo de curso que baliza a procu-
na
área que escolheu. Lia e Flávio ainda nãó tiveram experiência ra de outras possibilidades.
pro-
fissional fora dos estágios.
O curso universitário, segundo esses relatos, participa na his-
- Todos os sujeitos, entretanto, faram a respeito da importância
do estágio para a percepção do acerto de sua àecisão: GaLrier
tória da construção da decisão profissional das pessoas. Amplia a
afir- imagem que se tem sobre a escolha profissional. Pode-se afirmar
ma que percebeu, durante o estágio, que gostava do trabalho que apenas um sujeito (Flávio) conÍirma o acerto de sua decisão pro-
na
área da educação física o que estava questionando na facurdade, fissional já na vivência do curso universitário.
e
que tem interesse mesmo no chamado treinamento de desempe-
nho, isto i formação e treinamento de atretas, e não de aulas
de
6
- Metas profissionais apresenta as perspectivas e objetivos
profissionais fufuros que os- sujeitos se colocam.
educação física. Lia afirma que foi no estágio que verificou
que não Todos eles se colocam metas a serem atingidas no futuro e isso
queria de fato continuar cursando arquiteturã; além disso,lá teve
evidencia que têm projetos. Chama a atenção que quatro partici
oportunidade de estagiar numa área da medicina, e isto a Íez
pen- pantes entrevistados (Gabriel, Ana, Marcelo e F1ávio) pretendem
sar/ apesar de considerar muito cedo, uma possibilidade
de especi- fazer pós-graduação para adotar uma possível carreira acadêmica,
alização. Ana percebeu nos estágios qr" pràfur" trabarhar
com aru- desenvolvendo pesquisa e/ou docência. Abaixo, apresentam-se ou-
nos de uma faixa etária mais velha. Marcãlo ÍoíÍazerestágio
o mais tras metas profissionais dos sujeitos.
rápido possível porque considerava sua faculdade muitúcadêmi-
ca. Flávio deu monitoria na faculdade e considera a
Gabriel tem como meta abrir, juntamente com a namorada,
possibilidade uma clínica desportiva especializada em atletas, para oferecer um
de se tornar professor universitário.
serviço diferenciado nessa área.
Os dados sugerem que no estágio que os sujeitos dizem
Í pro_ Ana pretende conseguir um trabalho logo e fazer pós-gradua-
var o acerto (ou não) de y1 decisão profissional. portanto, tal
expe_ ção na área de literatura infantil.
riência não é compreendida como um dos elementos constituintes
da escolha profissional, mas como desfecho do processo decisório.
Lia, que é estudante terceiranista do curso de medicina, diz
que escolherá, a área clínica para afuação e que, se tivesse que esco-
5
- Apreciação
visão que
do curso uniaersitrírio freqüentado
o sujeito tem a respeito do curso universitário- registra a lher a especialidade hoje, faria ginecologia, que já pôde vivenciar
que fre- um pouco em estágios.
qüentou.
Marcelo gostaria de juntar biologia à área de computação. Na
Marcelo e Lia (no caso do curso de arquitefura) afirmam que a segunda entrevista, o participante relata que, logo depois da pri-
faculdade é muito acadêmica, meio distantã da profissão meira entrevista, recebeu proposta de trabalho que{.az a intersecçfro
e que, por
i_sso o estágio é fundamental para reafirmar ou não entre a computação e a biologia: trabalhar como técnico (não pcn-
a decisão pro-
fissional tomada. Gabriel afirma que o curso de educação física quisador) no Projeto Genoma.
é
meio maçante e que muitos arunos abandonam-no no terceiro
ano. Flávio díz que ainda precisa se aprimorar para trabalhitr na
Flávio diz que se encantou por algumas matérias desde o
começo área clínica, mas pretende continuar fudo o que está faucndo ntual-
do curso universitário e que adorou o cuÍso que fez.Ana relata
que mente: trabalho no presídio, na clínica e trabalho com prnicony.
I4O ORIENTASO PROFISSIONÀL RTSULÍADOS:AESCOTHADOSSUJEITOS, l1I

Assim, todos os sujeitos mantêm projetos de futuro no que se apresenta as expectativas e relações de familia-
refere às questões profissionais. Buscam se aprimorar e se desen-
B
- Família-
res quando do momento da escolha profissional do sujeito'
volver e não estão acomodados, pelo menos por enquanto, ao que segundo a percepção dos participantes, a família não partici-
já conquistaram. pa muito de suas escolhas profissionais. As famflias não expressam
7 Mercado e campo de trabalho àxpectativas específicas quanto à preferência por alguma profissão'
- - descreve como os sujeitos
enfrentaram as questões de mercado e campo de trabalho nas suas Gabriel diz que sua família o deixava livre, mas que teve que
profissões. tomar a decisão de continuar competindo ou se dedicar aos estu-
Nenhum participante faz menção às dificuldades de encon- dos secundários na escola em que estava; acabou por abandonar as
trar estágio e/ou emprego. Tal fato talvez possa ser explicado, num competições. Lia afirma que a deixaram livre para tomar suas deci-
momento econômico desfavorável ao emprego, como afualmente, sões, mas que se sentiu mal quando abandonou o curso de arquite-
pelas faculdades de excelência nas quais os sujeitos estudam ou tura, pois iilhu u sensação que os investimentos de seus pais "fo-
estudaram e/ou pelo capital culturaf social e financeiro de suas ram pelo buraco". Além disso, sentiu a decepção dos pais quando o
famílias de origem, com já foi referido. Só um sujeito (Ana) afirma irmãt lhes disse que não gostava da profissão que tinha escolhido.
estar enfrentando certas dificuldades em conseguir emprego por Inquerido sobre por que não havia escolhido o curso de psicologia
na época do programa de orientação vocacional, Flávio assim se
ter mudado de cidade e conhecer poucas pessoas de sua área.
"Não sei [...] eu acho que Porque eu fazia terapia e aí
Gabriel diz que sempre foi questionado a respeito do salário "*p.ãrror,
tinha uma mãe que ficava sempre falando [...] mas já não basta ["']
baixo que receberia. Hoje considera-se satisfeito, afirmando que é vai entrar mais, como se fosse intensificar demais essa coisa de fi-
um dos poucos de sua turma de amigos que se mantém sozinho. car se questionando ... eu não sei direito [...] mas era uma coisa as-
Flávio não teve dificuldade para arranjar estágios, mas ressente-se sim: eu 1á fazia terapia e era como se isso atrapalhasse se eu fosse
de nunca ter sido remunerado, apesar de saber que ainda conta se eu preci-
[...] não sei era uma coisa que eu não via [...] era como
com a ajuda do pai por mais dois anos, o que lhe permitirá um sasse de psicologia e não tivesse que fazer psicologia".
aprofundamento em sua formação. Isto o livra de apelar para áreas Em síntese, os sujeitos, pelo que se pode extrair dos depoi-
da proÍissão que não considera interessantes, mas que oferecem mentos, só entendem a relação da famflia com suas escolhas profis-
perspectivas maiores de emprego e salário. Ana diz que antes não sionais, quando ela pressiona para uma profissão específica. Neste
se importava com salário, mas hoje sente-se incomodada com os sentido, todos relatam que se sentem livres para escolher Suas pro-
baixos salários da área e agor& como mudou de cidade e teve uma fissões sem interferências.
filha, está sentindo um pouco de dificuldade em arranjar emprego. Habilidades não relacionadas à escolha atual aborda habili-
Marcelo afirma que na sua área não faltam boas ofertas. Lia por ser
9
- que
-não estão sendç
dades reconhecidas em si, pelo participante, e
estudante de medicina, ainda não viveu a experiência de procurar contempladas em sua escolha profissional atual.
emprego, mas quando estudava arquitetura, conseguiu estágio na
Gabriel ainda se ressente da falta de atividades mâiB artÍnti-
área com facilidade.
cas/culturais em sua área de trabalho. Marcelo, como iá aprlntittt-
Neste sentido, os relatos indicam que o grupo de participantes do, também gostava da áreade biologia. Hoje por meio de um ctrn-
pesquisado não enfrentou, pelo menos até o momento, grandes di- vite para trabalho, surgiu a possibilidade de juntar suas duan i{n'itn
ficuldades para se engajar no mercado de trabalho. de interesse: computação e biologia.
)
t42 oTENTA$O PROFTSSTONÁI RɧULTADOS:A ESCOLHA DOS SU,IEITOS... lll

Esta categoria expressa asperdas que os participantes tiveram que orientação profissional na construção de suas decisões profissio-
enfrentar nas suas decisões e que, de algum modo, buscam superar. nais. Organizaram-se, então, sete categorias que serão apresenta-
'1,0
lnquietações ou mudanças surgidas durante ou após a das a seguir:
ção
-
unioersitdria
forma-
a respeito da escolha profissional- apresenta as dúvi-
1, Situação no momento da procura do programa descreve
das sobre escolha profissional vividas pelo sujeito, durante ou após - -
como o sujeito percebe, passados seis anos, os moüvos que o leva-
a formação profissional universitária.
ram a procurar o programa de orientação profissional.
Dois sujeitos fazem referência a dúvidas surgidas no transcor-
Cada sujeito alega motivos diferentes como justiÍicativa por
rer do curso universitário quanto à escolha profissional que reali-
ter procurado o programa de orientação profissional.
zaram. um deles (Lia) acabou desistindo do curso de arquitetura,
transferindo-se para o curso de medicina; outro (Gabriel) persistiu Gabriel participou do programa para ter certeza da opção que
e hoje não se diz arrependido. já tinha anteriormente. Ana avalia que procurou o Programa por-
que se "sentia perdida", após o abandono dos cursos universitários
o que chama a atençãonesta categoria é a ausência de relatos
de inquietações por parte dos demais participantes deste grupo. que Íazia. Lia considera que estava "bem perdida", mas não "que
'1.1,
não tivesse opção nenhuma". Marcelo considerava que tinha dúvi-
Gênero
- aborda
jeito na -implementação
as questões de gênero vividas pelo su_
de sua escolha profissional.
das entre profissões "absurdamente discrepantes" e Por isso pro-
curou o programapaÍa ver se ele ajudava em alguma coisa. Flávio
Apenas uma participante (Ana) faz referência à questão de não lembra exatamente como dnegou ao programa, mas acha que foi
gênero interferindo em sua trajetória profissional. Não por acaso, a por indicação de alguém. Considera, entretanto, que veio aberto, com
rínica que casou e já tem filho, aborda a dificurdade àe conciliar disponibilidade "para ser tocado pelas atividades" propostas.
casamento, filho e profissão.
Os relatos demonskam que os motivos declarados como justifi-
12 Experiência profissional diversa da profissão escolhida- apre-
-
senta experiências profissionais do sujeito em áreas distintas de sua
cativa pela procura do programa de orientação profissional vão des-
de uma confirmação de opção previamente realizada, passando por
escolha profissional e da Íormação universitária
situação que o sujeito identifica como escolhas muito discrepantes,
Gabrief o único sujeito que faz menção a esta categoria, conta até outro que diz que não se lembra da situação que chegou no pro-
que a dúvida entre a iírea artística e a educação física persistiu e gue, grama e que talvez tenha participado dele por mera curiosidade.
durante o curso universitáriq teve várias experiências e atuaçõeJno
campo do desenho no computador e da fotografi a (faz algans traba-
2- Aprendizagens
-
registra a visão que o sujeito tem do que
aprendeu no programa de orientação profissional. O que realça é a
thos até hoje). Chegou a pensar em abandonár a faculdaaã ae educa-
aprendizagem sobre o autoconhecimento, que será abordada de
ção física para rcalizaÍ urn curso de fotografia no exterior.
forma mais ampla na análise da categoria 4.
Pelos registros dos relatos, verifica-se que quatro sujeitos (Gabriel
Questões do progromo Ana Lia, Marcelo) referem-se ao autoconhecimento que puderam
desenvolver durante o programa de orientação profissional. Marce-
Por meio do registro das entrevistas realizadas com os cinco 1o, além disso, também se refere especificamente à ampliação do co-
participantes selecionados, extraíram-se os depoimentos que abor- nhecimento das profissões como forma de combater a visão roman-
davam suas visões a respeito das contribuições do programa de ceada que normalmente se tem a respeito delas. Flávio afirmlgue o
oRTENTA#O PROHSSTONAL RE§ULTADOST AESCOTHA DOS SUJEITOS

programa desenvolveu mais uma questão atifudinal de,,correr atrás,,, sante porque a maioria de nós já tinha lido manuais antes de vir
principalmente da inÍormação a respeito das profissões. para cá [...] pelo que a gente sabe antes de entrar na carreira['.']
Verifica-se, portanto, que as aprendizagens referidas não es- você lendo manual, você sai, acho que em qualquer carreira, você
tão necessariamente vinculadas à escolha profissional específica, Íaz aquela idealização. Você fantasia sobre a carreira e aí depois,
sugerindo que o sujeito percebe que o programa não se detém úni- quando eu entrei, que vi o que era a concretização daquilo, e que
ca e exclusivamente na discussão específica do asçunto. Em outras não batia com o que eu tinha idealízado. Era mais concreto do que
palavras, compreende que a decisão é multideterminada e que é eu imaginava, então, esta parte artística. E aí que percebi que real-
necessário refletir sobre o maior número de determinações. mente não era aquilo, não estava dentro daquilo que eu tinha idea-
3 lizado mesmo da profissão."
- Informações sobre as profissões - aborda
tos a respeito da aquisição de informações
a visão dos suje!
profissionais durante o Marcelo manifesta-se desta forma a respeito da aquisição de
programa de orientação profissional. inÍormações no programa: "Eu achei interessante [...] é um tempo
que você tem para pensar, nada que você não possa fazer em casa,
De forma geral, os sujeitos consideram as informações trans-
pegar um manual e ler, mas é um momento que você tem para dis-
mitidas pelo programa de orientação profissional como válidas, mas
ainda muito afastadas da realidade. segundo eles, há certa distân-
cutir. Acho que talvez seria melhor se o cara tivesse em dúvida
entre duas profissões só, talvez seria melhor Para ele Íazer algo mais
cia em relação às informações obtidas no programa, por meio de
específico, ir ao local de trabalho Por exemPlo. Mas acho que no
materiais bibliográficos, e o curso universitário e mais ainda em
caso foi bom também, é que continua sendo um Pouco distante da
relação ao exercício profissional.
realidade do trabalho, você só 1ê uma página sobre aquilo e não é
Para Gabriel, "é diÍícíl conhecer profissão pela leitura. O que uma coisa que você vai saber como é, mas nem sei se é possível
se pode escrever sobre as profissões é lindo, mas todas têm seu lado
saber como é".
ruim que não aparece", como, por exemplo, o seu desconhecimen-
Flávio acha que "faltou vida no programa, talvez por ele ser
to a respeito dos horários de trabalho da pessoa que exerce a profis-
dentro de quatro paredes, Íora da realidade mesmo. Então, por
são na área de educação física. Para este sujeito, só se conhece a
exemplo, estar indo visitar lugares, estar indo conhecer talvez fosse
profissão trabalhando.
uma coisa que poderia chamar mais [...] talvez para mim".
Para Ana, "quando você lÇ Íaz uma pesquisa sobre as profis-
Dentre os citados, o caso de Lia chama a atenção, pois a parti-
sões, se tem uma coisa geral, mesmo porque não dá para você ter
cipante considera a parte da informação desenvolvida no progra-
uma coisa muito detalhad4 muito específica. Aquelas informações
ma como a "mais chata" e que poderia ser rcalizadaem casa. Entre-
que encontrei eram mais ou menos âs mesmas que eu tinha e algu-
tanto, a participante traz uma visão da arquitefura como um curso
mas coisas a mais. Quando você chega lá na faculdade, é algo mui-
e profissão voltado para a arte, idéia formada desde os seus primei-
to maior e que tem outras coisas que não são relacionadas especifi- ros anos de escola, a partir dos cursos de artes que vivenciara' As
camente ao curso, às disciplinas [...] a coisa da vivência com o gru- informações obtidas não conseguiram desfazer esta cara, apesar de,
po/ com os professores". qualquer material de informação profissional, dos mais simples,
Lia considera que o trabalho de informação profissional foi a existentes no mercado, ter condições de fazê-lo. A participante só
parte "mais chata" do programa. "Sobre a informação sobre as pro- desfaz essa concepção no momento em que faz um estágio para
fissões, o que eu falei [...] a leitura das carreiras não foi tão interes- decidir se continuaria o curso de arquitefura.
)
oRtENTAfiO PROFTS$ONAL
RESULTADOS: A ESCOLHA DOS SUJEITOS...

Em síntese, a vontade de conhecer a profissão deforma comple- relação com o mundo, as pessoas que estão ao seu lado. Se você
ta é colocada como expectativa frente ao programa de orientação consegue captar a essência de sua relação com o meio externo/ con-
profissional. Entretanto, a leitura de materiais é considerada insu- segue se descobrir no meio profissional."
ficiente, por não dar conta dessa expectativa, além de serem super- Ana, usando um português meio engraçado, díz: "Eutive es-
ficiais: nos materiais impressos, falta "vida" , como diz Flávio, po- paço para conhecer melhor sobre a gente mesmo", falando a res-
dendo ser tomado como expressão da visão deste grupo. Por vida peito do autoconhecimento.
entende-se o contato pessoal com profissões e locais de trabalho,
Lia, explicando por que o autoconhecimento realizado no pro-
que parecem ser consideradas as fontes de informações mais fide-
grama é importante, afirma: "É que, na verdade, antes de fazet o
dignas pelos participantes.
programa, nunca tinha parado Para Pensar como eu era, este tipo
4 Autoconhecimento registra a visão dos sujeitos a respei-
- - de conhecimento próprio, nunca tinha tido chance nem estímulo
to da atuação do programa de orientação profissional no desenvol-
para estar procurando [...] para estar buscando. Aqui foi uma coi-
vimento da autopercepção das características individuais.
sa de fazer [...] então vamos sentar, vamos ver como é, vamos se
Como já apontado no item que trata das aprendizagens ocor- conhecer mesmo, porque até então eu nunca tinha tido uma oPor-
ridas (categoría2), o autoconhecimento é o tópico mais valorizado tunidade ou algo que me fizesse estar pensando [...] A gente não
no progÍama de orientação profissional. Os depoimentos transcri- pára muito para pensar nisso na época do colegial, foi o momen-
tos abaixo permitem perceber que há um significado diferente para to de parar para pensar como eu era/ como eu queria as coisas,
o termo. Os sujeitos não o utilizam com se f.aziana abordagem tra- como eu via".
dicional isto é, reconhecer em si aptidões, traços de personalidade Marcelo percebe que o autoconhecimento não é o estabeleci-
e interesses, para a descoberta das profissões que melhor se harmo-
mento de relações entre o indivíduo e as profissões, mas a com-
nizam com tais características, mas demonstram uma compreensão
preensão pessoal da dinâmica da escolha: "No meu caso, eu tive
da dinâmica e do processo pessoal de escolha profissional, possibi-
uma experiência de autoconhecimento só que não relacionada [..']
litando a elaboração de projetos.
não que eu tenha estabelecido uma relação direta com profissão.
Quatro sujeitos (Gabriel, Ana, Lia e Marcelo) chamam a aten- Talvez esse autoconhecimento ajude a tomar uma decisão, não por-
ção para isto. Apenas Flávio diz não ter sido tocado pelas pospos- que que descobri que eu tenha uma prática ou habilidade para al-
tas de desenvolvimento do autoconhecimento. Observem-se os de- guma coisa especíÍica de profissão".
poimentos abaixo.
Flávio afirma que se sentiu incomodado com as atividades de
Gabriel define o termo de forma exemplar. Explanando a res- autoconhecimento e que quase sempre não participava das ativida-
peito do autoconhecimento e sua relação com a escolha profissio- des desenvolvidas. "Também era uma atividade mais mental, mas
nal, diz: "O mais interessante que o autoconhecimento não é coisa
não sei, tinha um incômodo de estar me expondo [...] de Pessoas que
de psicólogo:za ah, sua história, é analisar o coletivo. Você e sua
eu não conhecia [...] tinha uma coisa de imaginar isso e aquilo e tal
[...] eu imaginav4 mas fazendo força para imaginar, não sei, não era
uma coisa que vinha atrelado a um afeto: ah, estou imaginando, es-
24. O sujeito, ao fazer a afirmação, logicamente está se valendo de uma imagem que
construiu a respeito do trabalho do psicólogo como algo muito pessoal e Íntimo, alienado tou entrando [...] então agora aqui que não sei que [...] e aí a partir
das condições sociais. desse lugar que eu imaginei, sabe [...] é como se não chegasse nÍsse
l'l'
oRTENTAilO PROFTSSTONAt RESULTADOS:AESCOLHADOSSUJEITOS "

lugar, eu ficasse meio olhando ele de fora. Isso é uma dificuldade Ana, por suavez, afirma que "o programa ["'] foi um momen-
para co-
que eu tenho até hoje, assim, às vezes." Flávio acabou cursando a to que eu consegui parar paÍa Pensar, que eu tive espaço
porque
faculdade de psicologia, ressaltando que sua dificuldade na área per- nhecer melhor sobre a profissão e sobre a gente mesmo/
me incomoda-
sistia nas aulas e que teve apuros em SeuS estágios quando a temática que eu estava 1á, porqueãquelas coisas da faculdade
a gente não
pedia o desenvolvimento do autoconhecimento. Ainda é necessário vam tanto, e porque á agente discutia muito sobre isso'
lembrar que o sujeito se submeteu a terapia por vários anos. falava só sobre as Profissões".
idéias
Em síntese, pode-se tomar aÍala de dois sujeitos como exem- Marcelo considera que o programa "serviu para pôr as
em ord.em, é uma coisa que a gente pensa, mas é um
pensamento
plares. Quando Gabriel afirma que o autoconhecimento realizado
não é coisa de psicólogo, talvez queira dizet, como Lía o faz, que o muito errático, muito nãã-hnear, no dia-a-dia você vai pensando,
autoconhecimento não é simplesmente o levantamento de caracte- aíumaPessoafalaumacoisa,aíoutrapessoafalaoutra.Aívocê
é sistematiza-
rísticas pessoais, mas também uma ocasião para. a partir da pensa arr*u coisa, Pensa outra, e uma coisa que não
ou um período
autopercep çáo, realizar projetos de futuro, portanto, projetos de àa ussim. Achei quá é legat que eles tiram uma hora'
que eu
vida. Assim, abandona-se a concePção de perfil profissional tão lar- que você reflita ãobre isso [...] você organiza as idéias ["']
tànno [...] todas as informações que você vai usar Para
decidir ["']
gamente utilizado na sociedade.
isso que eu diga que
5 Significado do programa registra os depoimentos dos você tem uma hora que você Pensa' Tahezpor
- -
sujeitos a respeito da importância de sua participação no PÍograma me deixou mais seguro: o fato de ter parado ["'] de
ter dado impor-
tância para isso [...] ter pensado nisso desse
jeito"'
de orientação profissional.
Os sujeitos expressam-se da seguinte forma a respeito do sig- LiaeFlávioavaliamquehoje,depoisdasentrevistaseda
e anali-
nificado que atribuem à sua participação no Programa: ajudou a releitura dos materiais que pioduziram durante o Programa,
na época.
centralizar as idéias, abriu o pensamento Para as Pessoas e para o sam como mais interessante e útil do que o consideraram
mundo, ajudou a parar para pensar, deu mais segurança. Apenas Osdadossugeremque:r/arar?arapensalecentralizarasidéias
orientação
um participante tece reparos quanto à metodologia empregada, talvez seiam os maiores significados do programa de
sentindo-se incomodado exatamente na parte mais bem avaliada profissionalparaseusparticipantes.Porisso,entende-searefle-
envol-
pelos outros membros do grupo: o autoconhecimento desenvolvi- *ão, du modo organizaào e siitematizado, da problemática
do no e pelo grupo. vida na decisão Profissional.
Gabriel diz: "Fazendo o trabalho aqui [...] quando você é ado- 6 de desenaolaimento a visão do suieito
lescente você está muito voltado para si, e aqui você acaba se abrin- -Metodologia -aborda
sobre a forma de desenvolvimento do programa'
do um pouco. O programa fez pensar na sua relação com as pes-
ComomaiordestaquenesteitemaPareceotrabalhoemgruP(}
soas do mundo. Quando você é adolescente, é muito voltado para
comofundamentalparaaconsecuçãodosobjetivos.Estaformadtt
si, e como é que vai escolher algo que faça com que eu me relacione
desenvolvimento é avaliada como proPiciadora do desenvolvimenttr
com os outros. Você é muito voltado para si, e o programa chamou
do autoconhecimento, iá abordado anteriormente'
a atenção de algumas coisas que eu fazia e que era diferente dos
outros. Ajudava a ver o mundo fora de si. Só que na hora você não outrasatividadesmencionadascomomaismarcantassãtrvl.
riadas: há menções espontâneas da atividade dalá' da
montn8um
percebe isso, você elabora depois".
oRTENTÀç,ÂO PROFTS§rONAt
RESULTADOS: A ESCOLHA DOS SUIEITOS I 5 I

Asimov acho que [...] eu gostei, hoje vendo, gostei da metodologia. Na épo-
das empresas, do jogo do governo, da discussão do conto de
ca muitas vezes eu tinha a sensação de estar sendo uma coisa can-
e da primeira sessão de síntese.2s
sativa, eu questionava a utilidade. Mas hoie eu já vejo diferente, foi
A respeito da importância do trabalho em Srupo os sujeitos útil, teve seus momentos cansativos mas teve momentos muito pro-
assim se expressam:
dutivos".
Para Gabriel, o "trabalho em grupo foi o mais importante. As
Marcelo considera a metodologia empregada como Pouco con-
pessoas analisaram suas atifudes. A gente no início acha que vai
vencional, mas a valotizacomo forma de obter bons resultados: "o
sair resultado como se fosse num computador. Aqui há simulações
quelembro quememarcoué queépouco convencionú não é aquela
de sifuações de relacionamentos, e as Pessoas o analisam e você coisa, que talvez eles esperassem/ fazer um teste, não, foram con-
párapar.apensar. Às vezes você nem quer eÍrxergar um defeito seu,
versas, você fala, teve o negócio dos fios, o negócio da vela, são
mas se você está aberto, acaba enxergando melhor".
coisas pouco convencionais. É um processo Pouco convencional,
Para Ana, o "mais importante disso é destacar o grupo, você mas tem resultad.os tão ou melhores do que escolher de outro jeito.
está em Brupo, está dividindo com as outras pessoas, não está sozi- Não consigo imaginar outro jeito porque não tive experiência. Eu
nho matutando. Ele propicia uma boa escolha Porque pode dividiç não achei ruim, achei legal. E não-convencional porque usa estraté-
você pode questionar, o outro pode te questionar, você pode ques- gias diferentes que você não vê todo dia, e tem resultados interes-
tionar o outro, pode ouvir o outro e se questionar. E fudo sob a Jantes, você coniegue extrair dados bons. Era curioso, diferente'.
orientação de uma pessoa que está Iá para isso, que entende disso. Flávio, diferentemente dos outros membros do grupo, fala que
Também não é sentar com um grupo de pessoas [...] tem um traba- a respeito da metodologia "o que ficou para mim é uma coisa as-
lho de elaborar todo um material, de seguir um caminho, as coisas sim: uma dificuldade de entrar [...] de pegar a onda [...] eu lembro
não são assim, hoje vamos Íazer isso, tem todo um trajeto: a gente da minha sensação de estar sempre meio fora do que estava aconte-
vaíf.azer isso hoje porque amanhã vamos fazer aquilo e depois aqui- cendo, principalmente nas atividades de autoconhecimento, apç-
lo, para chegar no final com isso. Tem toda uma coisa que você está sar de eu ser o único que foi fazer psicologia. E aí não sei que outras
construindo. Tem que ter uma ligação, tem que ter um caminho e estratégias poderiam ter que de repente pudessem facilitar mais
[o coordenador] sabe muito bem o caminho que você prepara. Eu essa coisa. Não sei se eu fui o único que me senti assim, não sei se
acho que precisa, com certeza, de uma Pessoa orientando, coorde- porque eu não era daquela turma que estava ali. Era uma coisa de
nando, claro. O grupo sem vocês não teria nunca o mesmo efeito. as propostas virem e eu ficar meio assim [...] e de sugestão que eu'
Como acho também que sozinho [atendimento individual] não tem teria, uma coisa que eu venho pensando na minha práttca, que tem
o mesmo efeito. Mas falta olhar o outro, não o outro coordenador, até semelhança com a sua é a coisa de projetos coletivos. Ali era um
mas o outro igua[a você". grupo, mas o foco era individual. Não sei se tem como ser diferen-
Lia avalia que hoje percebe e valoriza mais a metodologia uti- te, mas o que eu venho vendo na faculdade, na avaliação dos núcleos
lízadado que na época: "Hoje eu acho que [...] eu encaro melhor do que a gente fez, das aulas. As aulas que mais envolveram o pessoal
que encarei na época. Na época, tinha dias que eu falava, puxa tem eram as que envolviam construção de proietos coletivos".
que ir, é cansativo, mas será que está funcionando, não sei. Mas eu Observa-se, nos relatos, que a forma de desenvolvimenttl cm
grupo é, de fato, o que mais se valoúzano programa de oricntnçõtr
profissional; isto é associado com a proposta, perfeitamcntc entcn-
25. A descrição das sessões do programa encontra-se no Capitulo 4.
)

'íi
W
r52 oRIENTAçÁOPROF|SSIONAL RESULTADOS: A ESCOLHA DOS SUJEITOS... I §l

dida pelos participantes, de que a metodologia propõe reflexão e que você quer, antes de estar 1á, estudando aquilo, vendo aquilo,
que o coordenador não farálurn diagnóstico e prognóstico ao final. tratando da educação, porque eu tinha uma idéia, eu te confesso,
Apenas uma participante faz menção a atividades que considera que antes de entrar na universidade eu tinha uma idéia muito me-
cansativas, referindo-se às sessões de informação profissional. nor da educação do que a idéia do que eu tenho hoje, óbvio, ttáo é,
mas aí eu não posso falar que [...] não, a gente sai do curso com
7
- Efeitos do programa - apresenta a visão do sujeito quanto
aos efeitos de sua participação no programa de orientação profis- plena certeza, não é isso, a gente sai com uma possibilidade e en-
sional em suas escolhas posteriores. trando na universidade você tem [...] mas, o que é engraçado, é que
Três participantes (Gabriel, Ana e Marcelo) consideram que a pensando agorat é que quando eu prestei o primeiro vestibular para
jornalismo, eu tinha uma convicção [...] e não é isso e pronto. Quan-
participação no programa foi muito importante na cormtrução de
suas decisões. Os outros dois avaliam que, na época, questionaram
do eu saí do curso [de orientação profissional] eu já estava mais,
se havia valido a pena. Lia diz que, logo após o programa, concluiu
assim [...] pode ser isso, vamos ver, mas se não for também a gente
que ele tinha sido útil. Flávio afirma que só após a realização das encara de novo, procura outra coisa. Mais maduta, sabe?, não tão
entrevistas para a presente pesquisa, em que teve a oportunidade deslumbrada".
de retomar o material que produziu, passou a considerá-lo mais A participante afirma que, quando escolheu jomalismo, esta-
interessante. Abaixo, os depoimentos mais significativos de cada va absolutamente convencida, e agora, quando escolhe pedagogia,
sujeito. diz que é uma escolha provisória, que admite mudanças, perceben-
Gabriel diz: "Gostei muito de ter feito aqui, porque aqui foi do-se menos deslumbrada.
uma orientação mesmo, foi algo que me orientou, não foi um teste, Marcelo considera que adquiriu "mais certeza. Por mais que
ou algo do gênero que falasse: você vaifazer isso ou isso ou isso [...] eu fosse tomar uma decisão que eu Possa até me arrepender de-
[fui] tirando conclusões, a cada dia que passava, que eu saía daqui pois, porque não era aquilo que eu queria". [Como você adquiriu
eu falava: acho que é educação física, acho que eu vou ter que cair certeza?) "Acho que foi conversando sobre o assunto, vendo a si-
nesse meio. Infelizmente [...] o bicho vai pegar pra esse lado. Cada tuação de outras pessoas [...] vendo como é essa etapa na vida das
dia que eu vinha aqui era mais um motivo, que me deixava para o pessoas. As decisões que as Pessoas tomam são baseadas em que,
lado da educação física. No final das contas, saí daqui, vi todas as porque, se é uma coisa de paixão [...] o cara fala: eu quero fazer náo
profissões, assim [...] eu sempre tive uma queda para o lado artísti- sei o que porque eu semPre quis, enfim [...] o outro: alu não sei
co, eu sempre desenhei muito, o ato de criação, não é?, e eu sabia porque [...] por causa disso, daquilo, daquilo. Então eu pensei, ú
que isso seria uma grande barreira, porque nessa profissão eu não, [...] uma coisa que me ajudou foi isso que eu falei para você, porque
ia encontrar isso [...] Eu fiquei nessa daí, mas acabei optando por' oh: se eu estava indeciso, inseguro em relação à minha escolha, ah,
educação física. Aí eu prestei, entrei na USP, até numa boa coloca- eu vou fazer isso mesmo e bom se acontecer de eu não gostar, pa-
çáo, fiz o primeiro ano [...]". ciência vouÍazer outra coisa. Inclusive tinha uma menina no gru-
Ana avalia assim o resultado do programa: "Não sei se refor- po [referindo-se a Ana], ela estava fazendo jornalismo e queria mu-
çar uma idéia que eu já cheguei mais ou menos com ela formulada dar [...] ah então paciência. Se for para dar certo vai dar certo se for
[...] acho que reforçar não, mas assim, me ajudar a perceber se era para dar errado dá errado."
realmente aquilo, mas eu só ia perceber depois que eu entrasse no Lia considera que na época saiu "um pouco frustrada, na ver-
outro curso, porque não dá, não é, você saber se realmente aquilo dade. Acho muito por esperar que vocês me entregassem pa-
\m
oRTENTASO PROFTSSTONAL DIscUs$O DOS RE§ULTÀDOS
El

pel e falassem: olha você dá para isso. Yailá, vai prestar isso da-
qui e depois vai para esse. No fundo eu queria isso, era uma deci-
são mais Íá,cil, ah, você serve para isso mesmo, vai lá [...] e eu saí
um pouco frustrada, mas menos frustrada do que se não tivesse
feito. Na época eu fiquei [...] pô, será que adiantou mesmo eu ter
feito orientação? Mas logo depois eu falei: não, se eu não tivesse
Íeito, não teria nem o que Íazer, não teria nem essa opção de pres-
tar uma coisa em uma e outra coisa em outra, porque eram tantas
opções que eu ia estar sem rumo mesmo. Para mim foi um pouco
de alívio, mas não alívio total".
Flávio diz: "Eu, até agora, até a entrevista que agora a gente
está fazendo, eu estava com uma coisa assim de que não tinha me
valido de muita coisa [...] Porque quando você me ligou [para mar- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
car a entrevista], eu comentei com as pessoas que eu seria sujeito de
pesquisa I...1 Ah eu quero só ver como vai ser porque eu escolhi
Os dados apresentados no capítulo anterior permitem sugerir
administração hospitalar e agora eu estou fazendo psicologi4 não
algumas conclusões. Talvez a mais significativa é que se observa uma
tem nada a ver. E agora quando você leu os motivos de minha esco-
tha por administração hospitalar, eu estou tipo [...] parece assim ampliação dos determinantes considerados na decisão profissional
dos sujeitos, comparando-se a primeira e a última sessão do progra-
[...] a impressão que eu tenho é que estava nascendo ali a escolha
da psicologia. Então de certa forma pode ter ajudado". ma, demonstrando que adquiriram uma visão mais totalizante sobre
os fatores envolvidos na escolha profissional.
Os dados sugerem que, em síntese, os participantes percebem
que não existe uma opção única e correta para cada pessoa e que Esta consluç-ãp $1a1{qse qp§"ryup g-s-ÍlttgtiYqq Í#9
é,PospÍ.-v-e!

uma decisão nunca deixa de ser proaisória. A reflexão sistematizada o.s*jgttqqqprçsenlampar3el<pllgar9ua--qs9-o"Fg-"pf -q-!".ffJp-nal-+9
sobre os aspectos envolvidos na decisão profissional é valorizada, iffiiõ ao programa, comparardo-pe com 1-situaç{.q dq p-al{grçggtp
contraposta à mera paixão. os dados obtidos-. confirmam.
'
No início, identificaÍam-se seis cate-
Uma participante, Lia, usa a expressão "alívio, mas não alívio Eoriãíãe anãlise e, na saída, identificou-se um número substanci-
-**'*--ff''í."

almente maior doze o que sugere que os sujeitos demons-


total", porque termina o programa com duas profissões. Flávio é o - -,
tram uma amplitude mais significativa na comPreensão do fenô-
único que afirma que saiu do trabalho com a impressão de que não
tinha "valido de muita coisa", mas a explicação para tal fato é atri- meno da decisão profissional. Entretanto o-ryj9-gpt-,1UOtt-é !q1t;
buída por ele próprio mais a questões pessoais do que ao programa tatar o grau de p1oÍundidade da rqffei!§ PiôêÉ#fóó àujêiios
propriamente dito. demonstiúffi uma-visão mais dinâmica e_ proçgspu3l da- trajetória
dugtgêo,_ao*cp11trário,daseategoriasdg-gryrjgggg9g_{o-bemmais
pír-rtuail. Algumas categorias aparecem tanto na entrada como ntl
,uidu do sujeito do programa de orientação profissional; porém,
como os dados demonstram, o nível da qualidade dc reflexão
oRIENTASOPROFTSSTOMt
orscussÀo Dos REsutrAoos

alcançada ao final supera em muito as colocações pontuais obser- diferencia as opções só na segunda fase, realizando provas esPecí-
vadas no início. ficas da área de conhecimento, além da prova de português, que
todos) indistintamente, são obrigados a responder. Assim, pode-se
Na seqüência, desenvolve-se uma discussão comparativa en-
supor que não é por acaso que, antes do início do programa, se
tre as categorias de entrada e saída.
afirme a categoria de interesse e desempenho escolar como uma
das mais importantes para a decisão profissional: a partir do
entrada e saída do programa
- que posicionamento em relação às disciplinas vividas o aluno está mais
Categorias comuns aos dois momentos
-
qualiÍicam,a escolha do suieito pr_ó1imo de uma á1ea d9.que de outra.. \
No entanto, ao avaliar a situação de saída do p\grama, essa
Experiêncio escolor e escolho proflssionol categoria aparece em quarto lugar quanto ao número de menções,
que passa a ser compreendida como um dos elementos, e não ne-
Na primeira sessão, a categ-oria mais expressiv4.{9 justificati- cessariamente o mais importante, no processo de deçisão. O depoi-
va pa-iã á aproximâÇão do suj"itô as profissões é a.sua eipêriênCia mento de Wanda pode ser tomado como exemplar:{'Eu acho que o
escolar. A facitidade e interesse pelas disciplinas escolares e peláô aluno pode levar em conta, na hora de escolher uma profissão, as
áreas de cõ-úecimento aproximariam ou distanciariam os alunos matérias que mais gosta, mas isso não significa que ele deva esco-
das opções. Pode-se afirmar que, neste momento, este dado é con- ther uma profissão nessa área". Entende-se que, agortu a exPeriên-
siderado o principal motivo ou determinante da escolha. Tal cia escolar não é tomada como a única ou principal para a decisão
constatação não é desprovida de fundamento. A idéia subentendi- dos sujeitot mas é considerada um dos determinantes que com-
da é que uma boa escolha profissional se daria por intermédio de põem a escolha profissional. A importância da experiência escolar,
aproximações graduais. Primeiramente escolher-se-ia uma área de no programE é relativizada,Ptovavelmente, em função de dois as-
conhecimento a partir das vivências anteriores nas disciplinas es- p".tos, o primeiro, apartir do questionamento a respeito das habi-
colares; em seguida, como decorrência, uma profissão dentro dessa lidades inatas ou dons que explicariam os interesses e bons desem-
área.26 A forma como o vestibular se estrufura acaba, também, por penhos nas disciplinas escolares; o segundo, que questiona a rela-
confundir o concurso com a escolha profissional. Antes da estrutu- ção entre as matérias escolares e profissões, ao se apontar que
não
ra afrial, em São Paulo, na USP e em outras faculdades, o vestibular são necessariamente correspondentes. Atualmente, esta discussão
se dividia por áreas, com Provas especificas. Atualmente, a Fuvest2T é rcalizada no procedimento do sorvete, atividade antes descrita
na seção que apresenta o programa de orientação profissional'

26. A escolha por parte dos alunos, pelas áreas de conhecimento em escolas de ensi-
no médio que ainda exigem esta opção, não segue o padrão de aproximações graduais,
Expressão dos coracterísticos individuois (outoconhecimento)
como se pressupõe. PeIa experiência do autor, veriÍica-se que os alunos utilizam duas Íor-
mas, que burlam o pressuposto, Para lidar com a necessidade desta opção. Ou escolhem o
curso que na escola tem fama de ser o mais forte e exigente em relação ao vestibular (al- No momento de entrada no Programa, como segundo
guns por causa disso mesmo escolhem o mais fraco), ou escolhem primeiro a profissão
para depois apontar qual a área de conhecimento que seguirão'
determinante mais citado aparece o que se denominou "exprcssã«t
para o Vestibular era, em 2000, a instituição das características individuais". As habilidades de leitura, eserit:it tr
27. Fuvest
- Fundação Universitária
responsável pela elaboração, aplicação, correção e publicação dos resultados do concurso criatividade são citadas pelos sujeitos. Quando se observâ a mc§R1.1
vestibular da USP, Unifesp, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e
da Academia da Polícia Militar de São Paulo. categoria, no momento de saída, percebe-se nitidamente a amPlia-
)
oRTENTAçAO PROFTS$ONAL DrscussÁo Dos RESULTADoS

ção do número de menções, bem como maior complexidade na sig- mos para vencer na vida [...] Foram arquivados os ideais socialis-
nificação do que os orientandos entendem por autoconhecimento. tas, a rebeldia contra tudo e todos dospunks e mudaram a filosofia
Por isto, a categoria foi desmembrada em três subcategoriag/Ago- dos yuppies querem ter sucesso profissional, sim, mas não a cus-
ra, os suieitos se analisam e se observam na relação com os-oilióÍ] -
tos de esquecer a vida sentimental, a saúde e a boa forma física".z8
iÍitàÍidõ séüs no estabelecimento destas rêla- Como se pode depreender do artigo citado, o individualismo Pare-
Refletem sua relação com o mundo e sua ce ser a marca dos tempos afuais, coerente com a ideologia liberal
no processo ec6ao. no indivíduo outras subjacente ao capitalismo.
-*id entif ic a d a p rimeira
s -na,,+,.,
õb servãSfi iniciativã, rãilo cínio
ses sãô :
importante realçar novamente o depoimento de
dbs participantes, qfue marca a percepção do significado da ex-
ló$@ re-
pressão: autoconhecimento é analisar "sua história é analisar o co-
lacionamento, interesse por ativ culturais, l-i-
lidade para trabalhar em grupo, coragem, persistênci4 maleabili- letivo. Você e sua relação com o mundo, as Pessoas que estão ao
dade objetividade, curiosidade e capacidade de argumentação são seu lado. Se você consegue captar a essência de sua relação com o
as expressões que sinalizam uma maior amplifude na compreen- meio externo, você consegue se descobrir no meio profissional"
são das própriaO habilidades. (Gabriel). O sujeito não está relacionando especificamente habili-
dades pessoais com profissões, mas percebendo-se como parte do
O autoconhecimento, que nesta investigação foi caracterizado
todo social, na sua singularidade e, por isto, com condições de ela-
como "expressão das características individuais" , é o tópico do pro-
borar projetos.
grama mais valorizado. Tal fato pode ser confirmado pela qualida-
de e pelo aumento significativo das menções a respeito
{este item
nas conclusões dos sujeitos, como já foi apontado acima.flA.s habili- Fomílio
dades, gostos e caracteds:licas' indrvjduais de comportffiêãIõGão
compreendidos não de forma estática e naturalizada, mas sim ôomo No momento da entrada no programa, a categoria família é a
f?[to do processo vivido e que está eIp constante transformação. A terceira mais mencionada. Curiosamente, no SruPo em questão,
partir da autopercepção das características individuais alcançadas, ela só aparece no caso de participantes observando familiares exer-
o sujeito tem condições de elaborar projetos. Sintomaticamente, al- cendo ou esfudando para desempenhar uma única profissão a
guns sujeitos referem-se à falta de espaço sistemático para a refle-
-
de direito: uma profissão tradicional sobre a qual até hoje há ex-
xão deste tipo de assunto fora do proporcionado pelo grupo de orien- pectativas familiares de continuidade dos descendentes, como §e
tação profissional e, talvez por isfo, o aspecto seja tão valorizado. fosse uma questão de herança. Na saída do programa, não aPâre-
Isto possivelmente está denunciando as condições de extremo in- cem mais referências deste tipo. Agora os orientandos refletem
dividualismo que se vive nos tempos atuais. Segundo um artigo de sobre a instituição família como partícipe do processo de decisão
jornal a respeito de uma pesquisa, de cunho mercadológico, reali- do sujeito, entendida como outro, ou mais um, determinante dn
zada com 25 mil adolescentes entre 15 e 18 anos, das classes A e B, escolha profissional.
em 41 países, se apontava que a "principal preocupação dos ado-
lescentes atuais é arrumar um bom emprego. A globalização já é
28. "Pesquisa revela cara neoliberal dos teens". Artigo publicado no fornal lirlàa rlr §,
coisa cotidiana, e 85% acreditam que dependem apenas de si mes- Paulo, de 28 de julho de 1996, p.3.2.
)
tóo oRIENTAÇAOPROFISSIONAL DrscussÁoDosRESUtTADOS lÓl

No trabalho de orientação profissional desenvolvido, há uma perff as possíveis dificuldades colocadas pelo mercado. Bourdieu
sessão em que se discutem especificamente as expectativas familia- & passerón egTS), discutindo a função da escola em relação à mo-
res sobre o sujeito. Apesar disto, não se observou alguma referên- bilidade soeial e à seleção dos que ascenderão socialmente, afit-
cia a respeito nas conclusões dos participantes. Os sujeitos não re- mam que "delegando cada vez mais completamente o poder de
conhecem dificuldades ou problemas de ordem familiar em suas seleção à instituição escolar, as classes privilegiadas podem pare-
decisões. Isto parece contradizer a literafura na área de orientação cer abdicar, em proveito de uma instância perfeitamente neutra, do
profissional que deposita, exatamente na relação familiar, os prin- poder de transmitir o poder de uma geração à outra e renunciar
cipais conflitos e dificuldades para a tomada de decisões profissio- àssim o privilégio arbitrário da transmissão hereditária dos privilé-
nais. Segundo Dias (1995:90), "os processos afetivos vividos no gios,, (p. 176).Portanto, em função dos vários capitais que as classes
universo da família se relacionam e condicionam o tipo de escolha privilegiadas detêm, os privilégios de classe são mantidos, inclusi-
profissional realizado por um dos seus elementos". Seguramente, ve o de conseguir trabalho, independentemente de quaisquer ou-
os participantes estão se referindo à ausência de pressões e expec- troS aspectos, apesar de, como aponta o autor, haver Uma tentativa
tativas explícitas quanto à escolha e desempenho para determina- de camuflagem da condição, transferindo, aparentemente, para a
das profissões. Como se poderá verificar no item sociedade, os jo- escola o poder de promover ascensão social'
vens compreendem a participação da família como mais um dos
determinantes de sua escolha profissional. Vestibulor

Apenas um sujeito, quando entra no programa, faz menção ao


Mercodo de trobolho
vestibúlar como algo que se relaciona à escolha profissional, dizen-
do que se obriga a ser aprovado. Nenhum participante faz menção,
A respeito do mercado de trabalho, na situação inicial do pro-
pelo menos de forma clara, ao vestibular como determinante da
grama, as menções fazem referência às restrições que se apresen-
ãscolha profissional na sessão final do programa. Mas, pelo menos
tam para a escolha profissional. ]á na situação de saída pode-se
em um caso, e apenas na entrevista realizada, um suieito avalia que
observar que os orientandos ponderam a respeito da questão. Al-
o vestibular acabou sendo mais importante do que admitia na épo-
guns atribuem maior peso a este determinante, outros nem tanto,
ca. Lia diz que sai do programa em dúvida entre duas profissões:
como fator importante na decisão. Nenhum sujeito assume decidir
arquitefura e medicina, mas para "se garantir" também presta o
alguma profissão em virtude, unicamente, desta categoria, apesar
vestibular para o curso de desenho industrial. A participante afir-
de apontarem que o mercado interfere na opção.
ma que tinha quase certeza que não seria aprovada no vestibular
Alguns orientandos demonstram a compreensão da de medicina naquele ano, na faculdade pública que almeiava/ P()r
dinamicidade do mercado de trabalho, questão abordada e discuti- sentir-se despreparada. Por isso se inscreveu em outro vestibulsr
da ao longo do programa de orientação profissional. no qual considerava Sua aprovação como mais prováveI, prentandtl
Pode-se supor que a discussão deste item (como a de todos os para medicina numa outra universidade, no interior de são l)nulo.
outros) esteja mediada pela condição de classe social dos sujeitos bo*o foi aprovada em arquitetura, e não em medicina, decidiu fn'
que, partícipes de uma classe bastante privilegiada, discriminam zer o curso, mas após dois anos desiste dehe, Íaz cursinho prepârâ=
que sua família detém capital financeiro, cultural e social para su- tório e presta o vestibular, novamente para medicina, krgrand{) {tpfo-
\
lál
oRTENTASO PROFTSSTONAL DrscussÁoDo§REsuLTADos

vação. Portanto, pelo menos neste caso, percebe-se o vestibular como O que chama a atenção, como já se ponfuou no item dos resul-
casos, de
possível determinante essencial na decisão do sujeito. tados dá pesquisa, é a expressão, na quase totalidade dos
valores dã ordem individual. Ao que parece, os sujeitos não
conse-
, Apesar do temor que gera, o vestibular, no caso dos partici-
pantes pesquisados, parece não alterar as escolhas profissionais em guem incluir, em seus projetos de vida valores de ordem social'
com
virtude da competitividade e dificuldade de aprovação, com exce- i"sto 4 aqueles que poderiam demonstrar alguma PreocuPação
a sociedade como um todo. sequer há correlação entre
a profissão
ção do caso citado. há de conter.
escolhida e a contribuição social que ela seguramente
A par de se viver num momento histórico dominado pela ideologia
Categorias especíÍicas da escolha no Íinal do programa lúral, em que o individualismo é colocado como única possibili-
observa-
dade de sobrevivência e enfrentamento das dificuldades,
Além das categorias discutidas, identificadas nos momentos se que o programa de orientação profissional não possibilitou o
de entrada e de saída dos sujeitos no programa, ao final deste, ou- dos ob-
aparecimento de menções referentes a esta questão' apesar
tras categorias assumem mais importância, demonstrando que o o tema em pauta. Deve-se obser-
leiirros e atividades que colocam
programa de orientação profissional, ao que parece, agrega conhe- var que, mesmo nas profissões em que é obvia a constatação da
contribuição social do trabalho, pouco se diz sobre isso. Lia,
cimento e amplia a compreensão do fenômeno da escolha profis- que
sional. Os dados obtidos permitem atribuir ao programa o apareci- atualmente esfuda medicina, diz de forma genérica que gosta
"de
mento destas novas categorias, que comentaremos a seguir, uma estar sempre ajudando, auxiliando os outros". Chico, que no final
vez que foram mencionadas por vários sujeitos da pesquisa. do programa áiz pretender ser advogado, afirma: "Levo
muito em
.ort, iquestão financeira do trabalho, mas também Prezo muito
pelo prazer que a profissão deve dar, quero algo que goste' mas
que tàmbé* àC ai,tteiro...". Este mesmo sujeito ainda afirma
Volores que

A categoria com mais menções, identificada na sessão final do 't qr" importa é se sentir bem no que está fazendo' pois só assim
para
programa, diz respeito a valores que norteiam as ações dos indiú- terei um futuro felí2". Marina, que diz estar se preparando
pro-
duos. Por valores, os dicionários entendem: "normas, princípios ou trabalhar no ministério público como promotora, no final do
grama, ao justificar sua opção por direito, afirmava que "as
áreas
padrões sociais aceitos ou mantidos por indivíduo, classe, sociedade
meslnas que têm condições de
etc." (Ferrefua,1975).Assim, pode-se afirmar que, quando os sujeitos felas quais eu me interesso são as
discutem, refletem e até questionam valores, estão elaborando proje- reatizir as minhas expectativas pessoais; consegui unir o que eu
a (}x-
tos, ou, como se diz no programa de orientação profissional esboços gosto com reconhecimento profissional e mesmo social e com
nível de vida". Da mesmtr
de projetos de vida dentro dos quais estão contidos os projetos pro- fectativa de manutenção de um bom
fissionais de cada um. Dessa forma, os dados sugerem que o progra- ior*a a questão social não aparece nas escolhas de profissílcrs tlue
não estampam claramente tais contribuições sociais em suas
ittivi-
ma está atingindo um de seus objetivos, qual seja o de desenvolver e pcstlttisn:
dades, como as escolhidas pelos outros sujeitos desta
possibilitar a construção de projetos de vid4 capazes de nortear as
publicidade, arquitetura, computação, administração, hotc lrt ri il
t' t t'.
ações de seus participantes: projetos suficientemente flexíveis para
incorporar as novas experiências e conhecimentos adquiridos, alte- Liebesny (1998) investigou a concePção de trabalho iutrto ál umil
população dã lovens (8' séries) de escolas públicas e ttutr. tle
t'strt-
rando-oq reforçando-os ou mesmo substituindo-os.
t64 oRJENTAçAOPROFTSSTONAL
Drscus$o Dos REsULTADos

las particulares. Aplicou uma redação pedindo para que se proje-


se média, buscam, âo menos, a manutenção de seus privilégios
tassem no fufuro. Tanto num público como no outro, encontrou, e
do padrão de vida familiar, coisa que, segundo a ideolog-i4
apesar de diferenças, perspectivas individualistas de sobrevivên- só
pode ser obtida de forma individual. ar puãq,risas de cunho
cia: os jovens da mais
jornalístico têm abordado a questão aa áificulaade
de os jovens
hoje reproduzirem o padrão àe vida de seus pais. A reportagem
"EPB [escola pública] vivenciaram a família extensa, não nuclear, o
trabalho como meio de sobrevivência; a continuidade dos estudos,
"subir na vida fica mais difícil nos anos 1.gg0,, pubhcàa na Fo-
quando possível e como um ganho; os sonhos de realização vincula- lha de s.Paulo, foi assim comentada pelo editorialista
Clovis Rossi
dos a bens de necessidadg de assentamento. (2000: A2):
os da EPR [escola particular] vivenciam a centralidade dos estudos
(profissão: estudante); o prazer dos namoros e amizades; o traba- "Minha infuição já era essa antes de tomar conhecimento
da pesqui-
lho virá com o tempo; os bens são de usufruto" (p.66). sa que deu margem à reportagem d,aFolha.para
a minha geração, ao
menos pata a parte dera de patamar socioeconômico idêntico
ou pa-
Pode-se afirmar que as condições e atividades desenvolvidas recido, havia duas coisas tão inevitáveis como o nascer
do sol todo
no programa de orientação profissionaf apesar de conter tarefas e santo dia:
objetivos que colocam a "contribuição social da profissão,, em de-
bate, não têm suficiente força para se contrapor ao extremado indi-
1
- estudar em escola pública;
vidualismo vivido atualmente. os materiais de informação profis-
2
- não obstante (ou por isso mesmo), alcançar um nível sararial e/
ou social superior ao dos pais.
sionaf disponibilizados no mercado, continuam a não abordar a Para a geração de meus filhos, havia apenas uma inevitabilidade:
realidade profissional de forma consistente, histórica, ampla e
estudar em escolas particurares. Não me lembro de jamais
contexfualizada como já denunciava, na década de 1980, a pesqui- ter discu-
tido com minha mulher se nossos filhos esfudariam em
sa coordenada por Ferretti & Bock (1983). Os vestibulares, da mes- escolas pú-
blicas ou privadas. No máximo, discutimos em quar
ma forma, colocam os pretendentes como adversários ou mesmo escora particu-
lar eles deveriam estudar.
inimigos, reforçando o individualismo nas decisões e ações dos
Não obstante (ou por isso mesmo) todos os três firhos têm
sujeitos. os meios de comunicação têm se mostrado acolhedores e imensas
dificuldades para atingir o padrão salarial do pai. Meu
divulgadores da ideologia liberal, que dá sustento à economia e à ego agrade_
ceria imensamente se pudesse dizer que essa dificuldade
política de empregos nos tempos atuais. Esta ideologia valoriza o se deve ao
grande talento dopai deles. Mas o que vejo com Íilhos
mercado (de qualquer nafixeza) como forma de regulação social, de amigos e/
ou colegas da minha geração só prova que não se trata
apontando o individualismo como única possibilidade de sobrev! dissq mas da
real dificuldade para a ascensão sociar dos nossos firhos.,,
vência, reatualizando a visão darwiniana de sobrevivência do mais
forte e competente.
Obüamente, não se espera do programa de orientação profia-
Durante o progÍama de orientação profissional, tem se co- sional a tarefa revolucionária de mudança estrutural
locado esta reflexão ern pauta; entretanto, como se pode obser- da sociedadt,,
o que se está discutindo é a Íarta da percepção social de{tr, elrx
var pelas respostas dos sujeitos, pouco tem conseguido avançar.
marcos da ideologia vigente e, por isto, da quage inaxlstuntt
Não se pode esquecer que, além do já apontado,há, a mediação rt flt*
xão a respeito do contribuição social do trabÀhs, obfekl
de classe de origem dos sujeitos desta pesquisa. oriundos da clae- dr c,iltrlhu
por parte dos sujeitos desta pesquisa.
oRt ENTAÇ(O PROFISSIONAI orscussÁo oos RESULTADoS

lnfor mação prof issiono/ te, registram algo que, ao ver do autor, necessariamente sempre
vai
ocorÍer (e que deve necessariamente acontecer), porque a experiên-
No final do programa de orientação profissional, as menções cia também pode ser considerada fonte de informações e, por isso,
relativas às aquisições de conhecimento a respeito das profissões amplia a visão da pessoa quanto à profissão. Em suma, nãohá limi-
registravam que as informações transmitidas eram consideradas te para aprofundar o conhecimento de uma profissão, pois sempre
suficientes, como indicam os dados apresentados no capífulo ante- há algo novo ou diferente ocorrendo, constituindo-se como alàr-
rior. No entanto, a entrevistarealizada com os cinco participantes nativa de atuação.
selecionados, seis anos depois, apontou a inÍormação profissional
Mas qual o papel da informação profissional no processo
como o ponto mais crítico do programa. As informações adquiri-
decisório do sujeito? Alterar opções prévias? O autor óbserrro,
das foram consideradas distantes da realidade, tanto do curso uni-
que a orientação profissional não tem como objetivo substituir as
versitário quanto da vida profissional, como indicam os dados apre-
altemativas prévias de seus sujeitos e, por isso, as atividades de
sentados no capítulo anterior.
informação profissional não podem colocar isto como meta. Trans-
O que explica a diferença dos dois momentos? Um dos fatores mitir a totalidade de inÍormações a respeito das profissões, para
pode-se referir à distância entre o tempo decorrido entre as decla- que o sujeito tenha base segura para a tomada da decisão? Tam-
rações realizadas ao final do programa e os depoimentos tomados bém baseado na experiência, o autor acredita que não é a base
seis anos depois. Isto 4 o sujeito analisa as informações que conse- informativa segura que garante, por si só, as decisões dos sujei-
guiu obter durante o Programa com a comPreensão que tem hoje a tos, apesar da necessidade de informações as mais compretas pos-
respeito da profissão, quando já está terminando o curso universi- síveis e contextualizadas. Primeiramente, porque é impossível
tário ou mesmo se engajando no mercado de trabalho.
transmitir a visão total, uma vez que a profissão está submetida a
Pode-se considerar que os materiais de informação profissio- constantes transformações de cunho tecnológico, político e eco-
nal, hoje disponívei+ falham em vários aspectos, por não conseguir nômico. Portanto, o corte dado em algum momento, para produ-
dar conta de tudo que envolve uma profissão e nem responder às zi-la, jáfazparte do passado e por isso, necessariamente, não pode
necessidades mínimas dos que os consultam.2e Mas do que os sujei- ser completa. Para exemplificar, apresenta-se o caso de ]úlia, que
tos reclamam, talvez não possa ser resolvido por meio dos mate- optou por fazer jornalismo, mas que, na época do programa, ja-
riais de informação e nem mesmo de contato mais direto com a mais pensara em se tornar responsável por um site na interne!
profissão. Quando os sujeitos apontam que, na faculdade e na ex- uma vez que tal alternativa ainda não era conhecida. Gabriel não
periência profissional, percebem a profissão mais ampla do que poderia planejar uma carreira como personal trainer, uma vez que
imaginavam, ou que há aspectos que não conheciam anteriormen- o tipo de atividade ainda não tinha se massificado e nem era valo-
rizada como acontece hoje.
29. Note-se que no mercado editorial há, atualmente, algumas publicações específicas Em segundo lugar, porque não é a quantidade nem a qualida-
a respeito de informações das profissões e de cursos de Íormação. No entanto, segundo de das inÍormações que proporcionarão decisões mais "cotretas",
Ievantamento inÍormal realizado, o autor constatou que nenhuma delas contava com a
assessoria ou consultoria de profissional especializado na área Para a sua construção. To-
apesar de serem aspectos importantes e partícipggdessa decisão.
dos são redigidos por jornalistas que produzem textos a partir do que consideram pessoal- Para a abordagem aqui defendida a tarefa da informação profis-
mente importantg visando à pressuposta necessidade do leitorlconsumidor. Com o mes-
sional em programas de orientação cumpre um papel específico de
mo capital investido, mas com assessoria de profissionais da área de orientação, talvez
pudessem ter uma publicação com qualidade superior. demonstrar para o sujeito que a imagem que ele tem a respeito da(s)
( )Rll N I A( ) l',R{ )l l\\l( )l.l^l I)t\( Il\\A()I)( )\Iil I I^l )( )\
^(. "t

proiissão(ões) r-rão é a única possívcl. Se o trtittcrial clt'it'tlortllaçritr Sociedode

profissional cumprir esta função, considerar-se-á um ganhtl raz.<tti-


Os dados obtidos permitem afirmar de que os sujeitos com-
vel. A imagem que a pessoa pôde construir, ao longo de sua vida, a
preendem a ação da sociedade na constituição da escolha profissio-
respeito das proÍissões é pessoal e formada a partir de uma série de
nal. Percebe-se que não aparecem as explicações naturalísticas,
experiências e vivências, como já discutido anteriormente, no capí-
meramente biológicas e ahistóricas. O processo da escolha se cons-
tulo que apresenta a abordagem sócio-histórica na orientaçào pro-
titui como tal na sua própria vivência. Veja-se o depoimento con-
fissional. Assim, o que se pretende, ao apresentar e discutir infor-
tundente de Marcelo: "Não somos homens apenas. Somos homens
mações a respeito de profissões em ProgÍamas de orientação, é que
em uma sociedade, o que somos, o que pensamos Íoi, é, e ainda
o sujeito perceba que a profissão não tem uma única cara (a que ele
será, em parte o que aprendemos e o que presenciamos. É impossí-
tem a respeito da profissão e que pode ser muito particular), e clue,
vel pensar no homem fora do contexto social. A nossa vida, educa-
além disto, ele deverá desenvolver a sua ctuo Pessoal como profis-
ção e experiências até agora nos proporcionam uma série de gos-
sional, isto é, continuará desenvolvendo sua identidade pessoal e tos, vontades e habilidades". Quando o sujeito afirma que não so-
profissional a partir do que vive, pesquisa, estuda e acompanha. mos homens apenas está se referindo à idéia de que o homem, a
Por isto, no presente Programa de orientação profissional, recorre- princípio um ser biológico, se constitui enquanto ser sócio-históri-
se a um grande nírmero de fontes de infortnaçàtr para que seus Par- co por mcio das rclações sociais.
ticipantes possam Pensar a profissão a partir dc um maior ntímero
Há, portanto, uma compreensão ativa e dinâmica da consti-
de aspectos, que às vezes são até contralclittirios entre si, dependen-
tuição da escolha profissional, podendo-se afirmar que isto, possi-
do da fonte que se utiliza.
velmente, seja um ganho ocorrido a partir da participação no pro-
Outro aspecto, que não diz respci[o sti lr programas de orien- grama. Nele se questiona a naturalização das diferenças individuais,
tação profissional, é o que tem il v('r c()rrl a disponibilidade do cuja explicação recorrentemente se Íaz, no senso comum, pelos atri-
sujeito para incorporar a inforn-rtrção triltrsnritido. Às ueres, a Pes- butos naturais e hereditários. Alem disto, aparece a compreensão
soa, por mais que pesquise, não aprt'cllclc o clue a informação de de que o indivíduo se constitui de forma singular, na apreensão do
fato transmite. Novamente cita-sc o cilso de Lia, que tem uma social. Para exemplificar, repete-se uma afirmação de Ana: "O quc
imagem da profissão do arquitct«i conl() alguém que lida com vivemos e escolhemos é, sem dúvida, nosso, mas tem a participit-
arte, e não consegue "ler" nos nlatt'riais cle informação profis- ção de vários outros fatores externos a nós. Educação: ou lirrnta
sional que a profissão é mais amplir t'rt'lirtivirmente diferente do como se é criadcl, os valores que são passados, o modo c()nr() sc
que pensa. Mas isto não é um problt'ttta cxclusivo da orientação encara a vida, são aspectos que fazem parte do eu, dados pt:lir rclu-
profissional: a questão da aprccns.io cla informação e sua trans- cação e que participarão, direta ou indiretamente, da escolhir 1-»ro-
formação em ação é um problcnrir st'r'.tl da sociedade, e da edu- fissional".
cação em específico. Os dados, entrctanto, não permitem atribuir ulricitrrrcrrtt' ao
Fundamentalmente, prett:trcl t'-s(' (l Ll(' os participantes tenham programa de orientação profissional o avanÇo na conrprt't'nsiro r'la
chances de (re)elaborar as inragt'rrs (lLrc tLrm a respeito das profis- multideterminação do ser humano e nem que todos os srrjcitos sai-
sões, partindo da que já trazem, arrrpliarrdo, reformulando ou mes- am dele com esta visão. O que se pode afirmar ó rltrt'() [)r'()griu'nr
mo modificando-as. possibilitou catalisar a reflexão e a apropriação, por'pirr'tt'tlo srrjci-
tla oRTENTAçAOPROF|SSIOML' t7t
DIscUs$o Dos RESULTADoS

to, da questão, relacionando-a com a escorha profissional. Isto pode O número de opções, no momento da entrada no programa,
ser verificado quando os sujeitos avaliam que o programa aluáou a pode ser explicado pelo fato de que a escolha profissional se consti-
"otganizar e centralizar as idéias", estas expressões que serão mais tui como processo. Não se inicia na hora de prestar o vestibular ou
bem avaliadas posteriormente. no momento em que se termina um ciclo de estudo. Pode-se afir-
A sociedade a que se refere neste item é uma forma de expres- mar que se inicia muito cedo e dura a vida inteira. O que ocorre é
são que se utiliza para incluir os vários agentes sociais que partici- que, em alguns momentos, exige-se da pessoa uma clara tomada de
pam da vida do sujeito: a família, os meios de comunicação (TV, posição. Neste momento, ela deve estar em condições de realizar
rádío,jornais e revistas, internet), os grupos de iguais, a economia, sínteses do processo já vivido para efetuar projetos. Portanto, quan-
a escola, o clube, a indústria culfural etc. pode-se dizer que todas do a pessoa chega a um processo de orientação profissional, ela já
f.azem parte da escolha profissional, ao criar expectativas e trans- percorreu um caminho e, de forma assistemática, já entrou em con-
mitir valores e informações. A tarefa do sujeito é refletir a respeito tato com a questão. Isto pode estar relacionado com o fato de que os
dessas expectativas e informações, a que se dá o nome de sujeitos terminam o programa de orientação profissional escolhen-
determinanteqparaelaborar seu projeto que acontecerá dentro desta do, em quase todos os casos, uma das profissões que já havia colo-
sociedade, mesmo que se questionem os valores considerados do- cado como possibilidade, no início do programa (ver Quadro 2).
minantes. Como os dados evidenciaram, a decisão dos sujeitos, ao final
do programa de orientação profissional, se dá entre uma das pro-
fissões que ele pensa ou já pensou como alternativa em algum mo-
Sobre a escolha proÍissional atual
mento de sua vida.Isto pode ser assim entendido: as pessoas cons-
troem imagens sobre as profissões, ao longo de sua vida; no mo-
os dados analisadospermitem o afloramento de algumas ques-
mento da escolha, que é determinado socialmente, estas imagens
tões importantes a ser debatidas. uma delas é que, observando-se a
são mobilizadas e, a partir de identificações do sujeito com elas, as
trajetória de vida, e a profissionaf especificamente, verifica-se que
decisões são estabelecidas, comprovando o que foi discutido no
as profissões escolhidas pelos sujeitos já tinham sido citadas como
Capífulo 4, quando se abordou a compreensão da aproximação das
alternativas no início do programa de orientação profissional.
pessoas às profissões, presente na concepção do programa de orien-
A maioria dos sujeitos pesquisados inicia o programa de tação profissional.
orientação profissional se dizendo mais próximos de uma, duas
Nas entrevistas realizadas com os cinco sujeitos selecionados
ou no máximo três profissões diferentes (ver Tabela 2). Entende- observaram-se depoimentos que foram categorizados como identi-
se que a qualidade de uma decisão profissional não está direta- ficações com pessoas ou personalidades ou sifuações e experiôrr-
mente ligada à quantidade de possibilidades que o indivíduo se cias anteriores relacionadas à escolha atual. Estas duas categoriirs
coloca- Isto é, um indivíduo não está em pior situação de escolha demonstram que os sujeitos, no transcorrer de seu desenv«rlvinrcn-
se está em dúvida entre muitas ou poucas profissões. Da mesma to, entram em contato com várias profissões e atividadcs, forntittt-
forma, não é um grande número de profissões que indica a neces- do imagens a respeito delas. Neste trabalho, utiliza-se o tcrnto rlJrlt
sidade de orientação profissional para o sujeito. Afirmar-se por para caractetizat melhor estas ima§ns, significando clut'u intrttr4,t ttt
uma úrrica possibilidade pode ser tão difícil quanto ter que se de- é apropriada pelo sujeito que a formata de um modo singulitr, l\rr-
cidir entre muitas profissões. tanto, as profissões têm caral Náo uma que identificn r1t,tt'r*Hnrirl-
oRTENTAçAO PROFTS$ONAL DrscussÀo Dos RESULTADoS t?3

mente uma pessoa conhecida/ mas uma cara que é sÍntese de vários São nas situações inicialmente corriqueiras que as caras come-
contatos e experiências. o caso de Gabriel pode ser utilizado para
çam a ser formadas. Deve-se salientar que o mesmo ocorre com
demonstrar o que se está falando. Nada pode ser considerado mais profissões que não serão consideradas e que, portanto, propiciam a
corriqueiro que o fato de o sujeito, quando pequeno, acompanhar formação de caras menos interessantes ou até negativas. Isso pro-
de bicicleta o pai que se exercitava por meio de corridas e que era vavelmente ocorre quando Gabriel desiste das competições para
um adepto dos esportes. Mas, apesar de corriqueiro, provavelmen- dedicar-se mais aos esfudos secundários: talvez a cara de uma pro-
te a cara de uma pessoa que "mexe" com educação física começava fissão não-universitária tenha pesado nesta decisão.
a se formar naquele momento. Mais tarde, começa aÍazer mountain
Portanto, pode-se afirmar que as caras que o indivíduo forma
bike, chegarrdo a ser federado, participando de competições oficiais,
a respeito de quase todas as profissões resultam de contatos diretos
mas se sente obrigado a paraÍ de competir porque a prática estava
comprometendo seus esfudos. Aqui, a ótica de classe parece mar- ou secundários com pessoas, fatos e sifuações, incluindo a visão
car a decisão. se oriundo de uma classe social mais baixa é quase social que a profissão alcança no meio em que a pessoa vive.
certo que a decisão seria outra, não existindo a menor dificuldade A informação profissional pode ajudar o participante a perce-
de abraçar a carreira desportiva em detrimento dos esfudos. Nesse ber que a profissão apresenta outras facetas que até podem vir a
meio tempo, conhece um treinador (um técnico) responsável por interessar. A informação a respeito das profissões também pode
uma equipe de triatlo que o convida a participar da equipe para facilitar a transferência da cara paÍa outras profissões que não as pen-
"pÍtxaÍ" o ritmo dos atletas na modalidade de ciclismo. Com isto sadas anteriormente. Por exemplo, transferir a cara que a pessoa
também começa a correr e a nadar. O sonho na époc4 ou seja, a cara formou a respeito da arquitefura para desenho industrial poderia
futura era ser ciclista profissional na Europa, regláo que dá grande responder mais aos anseios do indivíduo, apesar de ser uma profis-
valor a este esporte. A cara que Gabriel forma a respeito de profis- são menos conhecida.
sionais que mexem com aquilo que lhe interessa provavermente é Mas se os sujeitos acabam escolhendo alguma profissão que já
resultado de todas estas experiências. euando chega ao programtu haviam pensado, qual seria, então, a função de um programa de
o sujeito se diz em dúvida quanto à sua escolha profissionar, prin- orientação profissional? Um programa de orientação profissional
cipalmente em virtude da precariedade e das dificuldades do mer- não deve propor como objetivo adescoberta de novas profissões para
cado de trabalho. Percebe até certo preconceito de seus colegas que o sujeito. Um programa de orientação profissional se constitui e
brincam com ele, considerando a profissão como algo menor, em deve se constituir como um conjunto de intervençóes que visam à
comparação com as profissões intelectuais e I ou de alto status social apropriação dos chamados determinantes da escolha. Estcs
que os outros pretendem. Isto também participa da construção da determinantes é que levam à compreensão das decisões a sercm
cara da profissão para o sujeito. No programa de orientação profis- tomadas e possibilitam a elaboração de projetos. Por meio dos dtr-
sionaf Gabriel retomou e reavaliou a cara que pôde construir, po- dos obtidos, tem-se condição de afirmar que o programa de errit:tt-
dendo tomar sua decisão e realizar projetos. Desta forma, começa a tação profissional, objeto do presente estudo, cumpre essa função,
construir a sua cara do profissional de educação Íísica. o partici- como já pôde ser observado pelas análises até aqui realiz,arlns.
pante conta que/ a cada sessão do programa de orientação profis-
sional que participava, percebia que se aproximava mais e mais da
área de educação físic4 apesar de dizer que sempre tentava negar o
fato, buscando outras alternativas.
coNcLU$(o

CONCLUSAO

os dados obtidos na presente investigação permitem afirmar


o sentido positivo dado ao trabalho de orientação profissional vivi-
do pelos sujeitos. Independentemente da avaliação do significado
manifesto de suas participações no pÍograma, realizada após seis
anos de sua vivência, verificou-se que os participantes construíram
suas decisões levando em conta um número muito maior de deter-
minações, além de uma melhor qualidade nas análises delas'
Na situação inicial de participação no programa a experiência
escolar era tida como determinante seguro para a escolha de uma
profissão; as habilidades de leitura e escrita eram apontadas como
uma qualificação para o indivíduo continuar seus estudos em nível
,rp"rio, e também indicavam a área de humanas como possibili-
daàe de escolha imaginava-se que só um profissional desea área
-
precisasse ou necessitasse de tais habilidades; o mercado de traba-
iho só era analisado quando se identificavam restrições Para a efe-
tivação da escolha; a áreade administração de empresas era conei'
derada altemativa para quem não conseguisse escolher de fato tl
que queria; a famflia, neste momento, não aParece como limitadora
ou falilitadora de decisões os zujeitos observam as exPerlênclâB
-
profissionais dd seus familiares (pais, irmão+ avós) e Be que$tlo.
rrrtn se deveriam ou não trilhar o mesmo caminho.
116 oRil N IAÇAO IROt tSSiONAI CONCtUSAO t11

Quando o sujeito terrnina o programa de orientação profissio- programa, sendo incorporadas no repertório dos indivíduos para a
nal, estas categorias são retomadas, porém assumem outras carac- tomada de decisão.
tc'rísticas. um número maior de elementos é considerado em cada
Como exemplo disto tem-se a reflexão a respeito de valores
Llma, e nenhuma delas é tomada como a mais importante.
sociais e individuais que é trazida para discussão, considerando os
A experiência escolar não é entendida mais como "a funda- valores como elementos que participam da decisão profissional. À
mental" e se relativiza sua importância na decisão. O participante discussão a respeito de valores são acrescentados outros elemen-
dernonstra compreender que as aproximações e afastamentos das tos, modificando a visão empobrecida inicial da escolha por uma
clisciplinas curriculares são rnediadas por uma série de circunstân-
profissão que apenas geraria realização pessoal ou satisfação finan-
cias que vão desde a empatia estabelecida com o professor, passan-
ceira. Entretanto, já se avaliou anteriormente a baixa menção de
do pelo conteúdo selecionado e a didática utilizada, pelo grupo de
perspectivas mais sociais na escolha e no desempenho da profis-
igtrtris, até a valorização social que se dá à disciplina, tornando his-
são. Mesmo assim, os valores constituem-se como mais um dos
tórico e, portanto, passível de mudança, o gosto por elas. por outro
determinantes da escoiha profissional.
lado, a profissão não é entendida como a somatória das disciplinas
escolares.
Os meios de comunicação, as questões de gênero e o que foi
denominado sociedade, além da família e vestibular, categorias já
Neste momento, outras habilidades são consideradas, além da
mencionadas, são observados como instâncias que participam da
Ieitura e da escrita, mas não se estabelecem comparações entre per-
escolha profissional dos sujeitos. Não são meras influências, como
fis profissionais e pessoais. Há, portanto, uma ampliação do enten-
as abordagcns tradicionais concebem, que deturpariam a visão da
dimento das habilidades humanas: mais alternativas são conside-
verdadeira essência, da vocação mais original do sujeito. Os parti-
radas e se têm condições de avaliar se são ou não valorizadas pela
cipantes clo grupo de orientação profissional percebem que estas
sociedade. Além disso, os dados demonstram que os sujeitos com-
instâncias fazcm parte da socialização do indivíduo e de sua cons-
preendem que tais habilidades são construíclas na história pessoal
tituição c()nr() sujeito. Participam na construção dos interesses e
de cada um, desenvolvidas dentro clo contexto mais amplo. por-
habiliclaclcs, trcm como das características de personalidade. Por
tanto, não são inatas e, por isto, poclenr scr modificadas, melhora-
isso, os strjcitos percebem a historicidade de seu modo de ser, en-
das ou substituídas.
tendencio qLrc a própria pessoa pode interferir nesta construção.
Quanto ao mercado de traball-ro, os sujeitos percebem sua di- Desta fornrl, o programa parece contribuir significativamentc pr-rrir
nâmica, entendendo que ele não potlt'scr tomado como dado está- que os suit'itos ncguem a infalibilidade dos argumentos inatistas t'
tico. Tal como as profissões, o mcrcirr'1, clt' trabalho é datado e con- a idéia c{c clcstino, colocada pelos preceitos do biológico sobrt'pu
textualizado e, por isto, varia dc rrcortlo c()rn as contingências eco- jando o soci.tl.
nômicas, regionais, nacionais e ató intcrrracionais, respondendo às
P«rrtirnttl, os clados sugerem que o programa clt' oricttl,rt.,rrr
políticas econômicas, educaciona is, t'rrr p rcsariais e sociais traçadas
prclíissionul, itlt;tl c1e contribuir para incorporar tt()v()s ,ts1rt't lrt:;
nas várias instâncias.
(detr-:rtninirçr1t's) à rcflexão que os orientandos fazt'ttt t'rttn ,r lirr.rlr
Além destas categorias, c()nr() iií sc viu na apÍesentação clos dadc clt' t'st'ollrt'r a pr:ofissão, ajuda na eliminaçiio tlc l)tt't otlt t't
resultados, outras são considcracias, poróm não foram citadas pe- tos, su pt'rit ntlrl it niíl ises superficiais e restritivas, lror;:;t l, i l r l, r t tr l o,
los participantes no início do prrurgrirrn;r cle orientação profissional. enfim, ttnrit lt'ittrrrr mais complexae completa clit t't',tlr,l,r,lt'tr,r ,1tt,rl
Tais categorias podem ser tomacJits c()Íro conseqüência da ação do estão inrt'rsos.
t78 oRTENTAÇAO PROHSSTONAT r79
CONCLUSAO

Os próprios sujeitos, ao avaliarem sua participação no progra- duo, e que já foi internalizado, pararealizar projetos clue inclucnt
ma de orientação profissional, como já apontado na apÍesentação desde transformações pessoais até, por que não, a luta por transfor-
dos resultados, valorizam/ antes de tudo, a reflexão que o progra- mações mais amplas, sociais e econômicas.
ma propicia. As expressões utilizadas para se referir a isso são
A escolha profissional resulta de um Processo, mas é efetiva-
emblemáticas: "parar para pensar; organizar ou centralizar as idéias;
da em determinado momento, estabelecido socioculturalmente. A
pôr as idéias em ordem". Aqui se está valorizando muito mais o pro-
ocasião da escolha profissional não acontece em função de um pres-
cesso do que o resultado. Parar para pensar significa interromper a
suposto amadurecimbnto biopsicológico do individuo, mas é de-
dinâmica do dia-a-dia para se apropriar reflexivamente daquilo que
terminada pela cultura educacional/profissional de uma classe so-
foi vivido até aquele momento. Portanto, não há descobertas mira-
cial e/ou de uma sociedade. Hoje, para as camadas médias, no Bra-
bolantes; não se está procurando aquilo que o sujeito desconhece
sil, o momento da escolha de uma profissão se dá ao final do ensino
para afirmar uma nova possibilidade. Retoma-se o que se viveu, de
fundamental ou quando da conclusão do ensino médio, ocasiões
forma organizada, e sobre isto há a possibilidade de realizar proje-
em que o jovem é considerado apto (no sentido jurídico do termo)
tos. Isto, porém, não é algo que só se possa desenvolveÍ em progra-
para se engajar no mercado de trabalho e/ou num curso secundá-
mas institucionalizados; também é um processo que pode ser reali-
zado pelo próprio indivíduo, de forma independente: afinal, a maio-
rio de nível técnico,3o ou a prestar vestibular. Mas para as classes
baixas, o momento já não se dá de forma tão clara, isto é, não há um
ria das pessoas, neste país, escolhe sua profissão sem passar por
quaisquer programas de orientação profissional. Mas o grupo de marco tão nítido que aponte a hora de pensar sobre o assunto. A
participantes pesquisado valoriza exatamente o processo pela sis- urgência da sobrevivência física se sobrepõe a qualquer reflexão.
tematização que ele propicia. Colocar as idéias no lugar representa Mas isto não quer dizer que não se defenda a orientação profissio-
exatamente isto. As idéias existem e são do sujeito, mas estão difusas nal para toclos. Junto com a escolarização universal de qualidade,
e pouco claras. Quando o programa de orientação profissional pro- todos dcvrrriirm ter a oportunidade de parar para pensar e organizar
põe, por exemplo, a discussão sobre o mercado de trabalho , " gasta- ns idéiLts, isto cí, o direito de elaborar e de realizar projetos.

se um tempo", como diz um participante clo programa, entrevistado Entcndicla dessa forma, a orientação profissional deixaria cltr
por telefonet para analisar todas ou muitt-rs das informações que se ser privilcigio c{as classes mais abastadas. A orientação profissioniil
tem sobre o assunto. Feita a discussão c «r aprofundamento, o parti- não devc sc cotrstituir como intervenção clínica3i Para Poucos, I'tlils
cipante tem condições de posicionar-sc, cluer mantendo sua visão process() clc síntrtsc geral, condição necessária Para a elabori-rção clt'
original, quer alterando-a, em função clc argumentos mais consis- projetos tanto irrrlividuais quanto coletivos.
tentes discutidos no grupo. Isto, segut-rclo o que se pode concluir, é
organizar as idéias.
30. A ri ltirrr.r rlltu'nt,r clo ensino promovida pela LDB, Lei n" 9.394, tlr' 20 ,lr r l,'r,'tttl,t,,
A orientação profissional, na aborcla65em sócio-histórica, não delc)t)6,altt'r',r,rsisllrrr.iliciiclaformaçãoprofissionaldenívelmédio.()rttli1ior,",l,,,l,,t,'
entende o conflito ou a dúvida conlo uma patologia, e por isto não to quo rcgrrl,rrrrr.nlrr ,r r.rlrrr',rçr1o profissional diz: "A educação prol'issiorr,rl ,lt' tttr', 1 l,', ttt,,r
terá orgirrriz,rr,,ro r'rrrrir'rrl,rr Prrípria e independente do ensino ntúrlio, 1,t',1,'tt,lo r,t r,l, t, , t

é e nem deve ser direcionada sri pilrir irclueles que não conseguem
dadclirrrtr,rrrrntonril,rrlcouseqüencialaeste"(Decreton."2.20lt.rlt'17,1,',rl,rrl,lr'l't't'z'),
decidir-se, quer porque apresentcnt conflitos psíquicos, quer por- difererrlt.rlr.torrrolnrnr)t('s,rlrtandoojovem,aofinaldaBoseirit',tittlr,tt1tt,'1r1r1,11 r'tlltltttrt
CuÍS() Irr ()1tr'rlIttlirt' iltt ltir'ttirrr-
que sejam desinformados ou imaturos. Parar parapensar é mais do
3l.l,o1,,ir',rrrrr.rrlt.,rll,,rrrrsciisosnecessitamdeintervençãotlírri,,rr',1,'r','nt llr.,lrr.rl.
que isto: significa apropriar-se dc ttrdo trquilo que rodeia o indiví- de ret:obt'r assisli'rt, i,r.
(,(]N(.1tl5^(J
oRrLNlAÇA() lROr l55rONAl

htlmana,, (idem, 1993: 1,32). o progra tlla clc orictr tação pro l'issior
t,t l
A abordagem sócio-histórica mostra-se como valioso funclamen-
to para o programa analisado. As concepções de construção da sub- valortzaa palavra porque entende que ela exPlessa tt pcltsirrrlt'rrttr
e ao mesmo tempo o constitui. os registros utilizados
nesta pcstlui-
jetividade ajudam a clarear o sentido do trabalho examinado nesta
sa demonstram isto: quase tudo o que se vivencia é mcdiaclo pt'la
investigação. Junqueira (s/d:4) aponta que o homem "e [a] socieda-
de vivem [...] uma relação de mediação, em que um expressa e con- palavra, oral ou escrita. A escrita possibilita organizar o pensi-llllclr-
tém o outro, sem se diluírem, sem perderem sua singularidade. Des- to e ao meqmo tempo transformar o próprio Pensar' "O significucltr
sa forma, temos como tarefa da psicologia a busca deste indivíduo deumapalavrarepresentaumamálgamatãoestreitodoperrsi]-
mento e àa Hnguagem, que fica difícil dizer que se trata de um
fe-
na sua singularidade, internalizando e exPressando sua condição
nômeno da fala ou um fenômeno do pensamento,, (idem, 1993:
1()4).
histórica e social, sua ideologia e as relações vividas." (p. 4)
de un-t
Sirgado (2000) reafirma a concepção apontando que Consiclera-se importante reafirmar a tarefa fundamental
programa de orientação profissional de base sócio-histórica. Urn
"a corrente sócio-histórica concebe o psiquismo humano como uma pro[.u*u de orientação profissional deve se constituir como um
construção s ocial, resultado da apropriação, por parte dos indivíduos, cor'rlrrr"rto de intervenções que visam à apropriação
dos chamados
das produções culturais da sociedade pela mediação dessa mesma determinantes da escolha. Estes determinantes levam à comprectr-
sociedade. [...] A apropriação implica um processo de interiorização
são das decisões a serem tomadas e possibilitam a elaboração
clc
das funções psíquicas desenvolvidas ao longo da história social dos traziclos
projetos. Não se deve trabalhar apenas com os elementos
homens. A interiorização ocorre numa rede complexa de inter-rela-
pelos altttros, mas ProPor um avanço na compreensão dtls
ções que articulam a (úiaidode social dos indivíduos." (p. 38)
àetermirr.rntcs, colocando novos conteúdos que permitam a amplia-
base no conceito de desenvolvimenttr
Assim, a subjetividade, incluindo habilidades e interesses, é ção desta c()lttpreensão. Com
apt'-
forjada na dialética das relações sociais interualizadas. Portanto, a proxirrral rtc Vygotsky, utiliza-se a expressáo programa, e não
nas orit'nl.ação prclfissional, para este tipo de intervenção'
Isto paril
subjetividade é histórica e por isso prrssível de transformações. O
programa de orientação profissional ircrt'c1 ita profundamente nesta deixar claro t1t-tc cxistem objetivos, organizados em etapas/ qut] Lrr('s-
concepção, procurando sempre historicizar o que a ideologia do- supõcrn proccclimentos de intervenção e avaiiação' e são frtrltlir
minante considera natural ou inato r"tit s«rciedade e no ser humano. mántaclos t'nr determinada visão filosófica, política e psicoltiliit"r
rtr'rs
de ser hrrrrrirrro. l'rata-se de um trabalho de cunho educativo,
A linguagem, por meio da palavra, ó considerada a peça fun- rl''
que nã«r rlt'ixit tlt'sc constituir como intervenção Para a Protrtrt\'rrrt
damental do pensamento. Para Vygotsl<.y, rcpetindo uma citação já
sstidtt,l-rir rrrt,rl itlir ()m que trabalha com o indivíduo a partit'tlt'r;tt,r:;
utilizada neste trabalho, a "relação t'ntrt'o pensamento e a palavra t t,ttlilt
relaçeics sot.iiris, buscando compreendê-las e transfornrií-l,ts
não é uma coisa mas um processo, Ltnt nrovimento contínuo de vai-
mc ppopirt'rtr Agtriar & Bock (1995)'
vém do pensamento para a palavrir, t' vicc-versa [...]O pensamento
A lrrt,llr()r t,sc0lha profissionai é aquela que c()llfi('l"t lt' t l.t t , r I
,t
não é simplesmente expresso cm palitvrirs: é por meio delas que ele ltt r lr
passa a existir" (7993:108). "O pt'nsittttt'trto e a linguagem [...] são a ta (rr'l"lt'xiio) tlo tnaior número de determinaçõcs [)ill"'l' 'l p'rr
,'
las, t.onstr.trir t'sboços de projetOs de vida prtlfisr;iorr,rl 1"""'"'rl
chave para a compreensão da tratttt't'zit cltt consciência humana. As
Utilizil-sc o [t'rrno projeto para firmar a possibilitllt,l(' tl't lt'rrr"lilt
palavras desempenham um papcl ct'tttrirl não só no desenvolvimen-
maçãO/r.r.tutl.ilrça cla pessoa e/ por que não, tittrtlrt;ttt
rlr lt,, l.r ,t "{'
to do pensamento, mas tambónt ttrt cvolLtção histórica da consciên-
cia como um todo. Uma palavril ri uttt microcosmo da consciência cieclaclc tlil (ltl.rl t'la t'stá inserida'

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