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« SOBRE A PALAVRA DESIGN »

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Vilém Flusser

O seguinte fichamento busca compreender e trazer os termos e entendimentos acerca do


texto “sobre a palavra design” do filósofo e autor Vilém Flusser para a disciplina de História
da Arte e do Design (HAD1), ministrada pela professora Cláudia Marinho, do curso de
Design na Universidade Federal do Ceará (UFC).

design (inglês) _______> substantivo (propósito, plano, intenção, meta, esquema maligno,
conspiração, forma, estrutura básica) - palavras essas que se relacionam com os termos
astúcia, fraude / verbo to design (tramar algo, simular, projetar, esquematizar, configurar,
proceder de modo estratégico).

a origem da palavra é latina, a qual contém em si o termo


signum
signum = Zeichen (origem comum: signo, desenho)
etimologicamente, a palavra design significa algo assim
como de-sign (ent-zeichnen)

como é que a palavra design adquiriu seu significado


atual, reconhecido internacionalmente ?

não a partir de termos históricos (quando e onde começou a


utilizar o atual significado da palavra) / pensá-la semanticamente
(analisar por que essa palavra adquiriu o significado que se lhe atribui no discurso atual
sobre cultura).

em resumo, pode-se situar essa primeira parte do texto como uma forma de buscar,
etimologicamente, as possíveis significações /semântica/ e estruturações da palavra. o
autor, por meio dessas palavras correlatas, mostra o vínculo do termo design com o
contexto de fraude e conspiração. a etimologia, oriunda do latim, mostra a ação da palavra,
em que comunica por signos e age por desenho.
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A palavra design ocorre em um contexto de astúcias e fraudes. O designer é, portanto, um


aspirador malicioso que se dedica a engendrar armadilhas.

dentro desse contexto ⇢ as palavras «mecânica», «máquina».

em grego, mechos designa um mecanismo que tem por objeto enganar, uma armadilha, e o
Cavalo de Tróia é um exemplo disso. a própria palavra mechos tem sua origem na raiz
“magh-” / nas palavras alemãs Macht e mögen / Assim, uma *«máquina» é um dispositivo
de enganação, como por exemplo a alavanca, que engana a gravidade, e a «mecânica»,
por sua vez, é uma estratégia que disfarça os corpos pesados. outra palavra que entra
nesse contexto, «técnica». em grego, techné significa «arte» e está relacionada com tekton
(“carpinteiro”).
madeira (em grego, hylé) o aparecimento da forma

a ideia fundamental / a madeira é um material amorfo que recebe do artista, do técnico, uma
forma, ou melhor, em que o artista provoca o aparecimento da forma. sobre o objeção
fundamental de Platão contra a arte e a técnica reside no fato de que elas traem e
desfiguram as formas (ideias) intuídas teoricamente quando as encarnam nas matérias.
Para ele, artistas e técnicos são impostores e traidores das ideias, pois seduzem
maliciosamente os homens a contemplar ideias deformadas.
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equivalente latino do termo techné (grego) → ars, que significa “manobra” (Drech)
diminutivo de ars = articulum - pequena arte -, indica algo que gira ao redor de algo (como
por exemplo a articulação da mão)
ars, é, portanto, algo como “articulabilidade” ou “agilidade” e artifex (artista) quer dizer
“impostor”
o artista é um prestigitador (artifício, artificial, artilharia)
em alemão. artista é um Könner, alguém que conhece algo e é capaz de fazê-lo
a palavra arte, Kunst, em alemão, é um substantivo que deriva do verbo “poder”, können, no
sentido de ser capaz de fazer algo; mas também a palavra “artificial”, gekünstelt, provém da
mesma raiz.
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O autor busca, a partir da análise etimológica dos termos citados, explicar por que a palavra
design pôde ocupar o espaço que lhe é conferido no discurso contemporâneo. Existe uma
inter relação conectiva entre as palavras design, máquina, técnica, ars, e Kunst - todas
derivam de uma mesma perspectiva existencial diante do mundo.

Essa conexão interna, entre esses termos, foi negada durante séculos (pelo menos desde a
Renascença). a cultura moderna, burguesa, fez uma separação brusca entre o mundo das
artes e o mundo das máquinas e das técnicas, de modo que a cultura se dividiu em dois
ramos estranhos entre si: por um lado, o ramo científico, quantificável, “duro”, e por outro, o
ramo estético, qualificador, “brando”.

final do século XIX (separação insustentável)

ramo científico_________________________ _________________________ramo estético

DESIGN
A palavra design entrou nessa brecha como uma espécie de ponte entre esses dois
mundos. A palavra design exprime a conexão interna entre técnica e arte. É por esse
intercâmbio de variáveis conhecimento e ponte que o design é aquele lugar em que arte e
técnica (e, consequentemente, pensamentos valorativo e científico) caminham juntas, com
pesos equivalentes, tornando possível uma nova forma de cultura.

(?) em que tempo histórico, essa ponte começou a se tornar possível ? quando eu posso
nomear aquilo que foi feito poderia ser nomeado ou não como uma prática do design ?
quando começou o design ?
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Não é uma explicação suficiente, pois o que une os termos mencionados é o fato de que
todos apresentam conotações de, entre outras coisas, engodo e malícia. [ A cultura para a
qual o design poderá melhor preparar o caminho será aquela consciente de sua astúcia ] a
pergunta é: a quem e ao que enganamos quando nos inscrevemos na cultura (na técnica e
na arte, em suma, no design)?

O autor exemplifica esses conceitos com a utilização da palavra e a utilidade da alavanca. o


objetivo deste design, dessa arte, dessa técnica, é enganar a gravidade, trapacear as leis
da natureza e, ardilosamente, liberar-nos de nossas condições naturais por meio da
exploração estratégica de uma lei natural. Esse é o design que está na base de toda
cultura: enganar a natureza por meio da técnica, substituir o natural pelo artificial e construir
máquinas de onde surja um deus que somos nós mesmos. Em suma: o design, que está
por trás de toda cultura consiste em, com astúcia, nos transformar de simples mamíferos
condicionados pela natureza em artistas livres.

Nessa contextualização, é possível analisar que o filósofo critica o surgimento dessa nova
cultura, que ao mesmo tempo que supera a cisão entre arte e técnica, o meio artificial se
torna quase soberano, e essas técnicas das artificialidades estão cada vez mais incutidas,
pode-se dizer que, também, devido ao processo massivo da industrialização, o que provoca
o afastamento do ser humano da sua própria natureza.

Ao que me parece chegar, o texto me coloca em posição de indagação, para repensar que
design é esse que fazemos ? talvez, seria possível construir um outro design, que não esse,
que parece estar mais associado com um defuturo (Tony Fry) constante do que algo associe
o humano e o artificial, longe de uma cadeia exploratória.
É nesse contexto, que o autor entende que a palavra design veio ocupar sua atual posição
no discurso contemporâneo porque nos tornamos conscientes de que um ser humano é um
design contra a natureza.

*Se o design passar a ocupar cada vez mais o lugar das preocupações concernentes à
ideia, certamente não mais pisaremos em chão firme.
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O autor exemplifica, por meio das canetas de plástico, como elas têm a tendência de se
tornarem cada vez mais baratas. o material -> plástico (não tem valor) / e o trabalho (que,
segundo Marx, é a fonte de todos os valores), graças a uma tecnologia sagaz, é realizado
por máquinas automatizadas. o que confere valor a essa caneta ? seu design, que é a
razão de escreverem. design=ciência, arte e economia fecundam-se e complementam-se
de forma criativa. O autor, então, se detém sobre como não prestamos atenção nesse
design. essas grandes ideias por trás das canetas são tratadas com o mesmo desdém com
que se trata seu material e o trabalho necessário para produzi-las. (o processo maquinário
de industrialização).

Essa desvalorização de todos os valores / toda cultura é uma trapaça / somos trapaceiros
trapaceados / conseguiu-se superar a separação entre arte e técnica / viver de modo cada
vez mais artificial / a renúncia à verdade e à autenticidade / este ensaio segue um design
determinado. tudo depende do design.

Apesar de todas as estratégicas técnicas e artísticas, o fato é que morremos, como todos os
mamíferos.

Como explicar essa desvalorização de todos os valores ? Pelo fato de que, graças à palavra
design, começamos a nos tornar conscientes de que toda cultura é uma trapaça, de que
somos trapaceiros trapaceados, de que todo envolvimento com a cultura é uma espécie de
autoengano.

Quando se conseguiu superar a separação entre arte e técnica, abriu-se um horizonte


dentro do qual podemos criar designs cada vez mais perfeitos, liberar-nos cada vez mais de
nossa condição e viver de modo cada vez mais artificial (mais bonito). A renúncia à verdade
e à autenticidade.___________________________________________________________

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