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Jofre Silva
Visibilidade oculta
Design, Arte e Tecnologia: espaço de trocas | SP | Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio & Rosari | 2006.
valor de signo em detrimento do seu valor de uso”, conforme explica Darras (2006). As
aproximações entre a arte e o design geram, na visão deste pesquisador, confusão e certa
dificuldade pelo fato dos profissionais ligados ao design não aceitarem mais uma posição
subordinada ao campo artístico. Esta reação, observa, é uma tentativa de ruptura com um
sistema de valores que há mais de dois mil e quinhentos anos continua estruturando e
hierarquizando nossas concepções de conhecimento, ciência, técnica e artes, para justificar
a manutenção de um modelo de sociedade aristocrática e escravista. Diante da lógica dos
setores produtivos ligados ao design contemporâneo, Darras esclarece:
Dimensão do invisível
Como já foi dito acima, a intenção deste estudo não é definir o caráter semiótico da
imagem e seu impacto no âmbito da recepção – usuário, audiência ou consumidor. O
objetivo é conhecer seu projeto e aspectos do seu processo de construção. Buscar meios de
conhecer o modo como a imagem é desenvolvida, bem como enfocar sua dimensão
conceitual e as soluções técnicas empregadas em sua realização.
Design, Arte e Tecnologia: espaço de trocas | SP | Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio & Rosari | 2006.
Sobre isso, as palavras “técnica” e “tecnológico” exigem certos cuidados no debate
contemporâneo. Na visão de Raymond Williams (1988, p. 315), “técnica” define questões
de construção prática, enquanto “tecnológico”, embora seja usado com este mesmo
sentido, acrescenta a noção de um tratamento mais sistemático. Segundo o autor, o
significado de “ciência” e “cientista” abriu caminho para uma distinção moderna familiar
entre conhecimento (“ciência”) e sua aplicação prática (“tecnologia”). O autor aponta nesta
discussão o modo como a palavra “tecnologia” é usada para descrever o estudo sistemático
das artes no século 17; adquirindo depois uma conotação de descrição das artes,
especialmente as mecânicas, no século 18; e atingindo em seguida o conceito especializado
de artes práticas, no século 19, período em que surge ainda o termo “tecnologista”.
Refinando sua reflexão, Williams identifica “técnica” como um método ou uma construção
particular; “tecnologia” como um sistema envolvendo estes métodos; e “tecnológico”
como indicativo dos sistemas cruciais em toda a produção, diferente das aplicações
específicas.
Estas observações são relevantes para destacar como o design na imagem fotográfica
reflete um contexto cultural amplo, global. O fato deste artigo tratar apenas do estágio de
desenvolvimento do projeto de construção da imagem não impede o reconhecimento dos
vários fatores circundando este processo. Afinal, o “design deve ser entendido não apenas
como uma atividade de dar forma a objetos, mas como um tecido que enreda o designer, o
usuário, o desejo, a forma, o modo de ser e estar no mundo de cada um de nós” (COUTO
e OLIVEIRA, 1999, p. 9). Neste sentido, esta compreensão é ampliada quando Moura
arremata:
Modo de ser
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pelo discurso visual, buscando articulação em seu trabalho. Na fotografia de publicidade,
por exemplo, esta concepção no tratamento projetual torna-se nítida.
Embora esteja citando um expressivo setor da fotografia comercial, este artigo não
pretende discutir, com a atenção merecida, o modo de construção da imagem publicitária.
Este assunto é tema de um estudo anterior (1999) em que analiso os diversos estágios deste
método de trabalho, considerando as participações não só de designers e fotógrafos, mas
também da equipe de criação das agências de publicidade, anunciantes, modelistas,
estilistas, assistentes de estúdio e de laboratórios, retocadores e manipuladores de imagens,
impressores, dentre outros. Uma linha de produção que reflete o caráter industrial do setor.
Dois aspectos deste setor ajudam a ilustrar o método de trabalho presente na fotografia
publicitária. Num primeiro momento, a parceria dos profissionais apontados acima, e,
depois, o modo como fotógrafos descrevem sua aplicação tecnológica. A experiência da
fotógrafa e historiadora Sue Atkinson, por exemplo, revela a prática das agências em
consultar o fotógrafo durante a elaboração do projeto de uma campanha. Segundo ela, a
intenção é verificar a viabilidade técnica da idéia antes de apresentá-la como uma proposta
formal ao seu anunciante. Por outro lado, o fotógrafo David Hiscock costuma ser
convidado pela equipe de criação da agência para participar da discussão conceitual do
projeto antes do início de seu desenvolvimento. Na percepção de Hiscock, o designer
responsável pelo anúncio prefere tratar o projeto como uma colaboração entre eles (Ibid.).
Teatro da morte
Barthes ressalta em sua análise a ligação da fotografia com o teatro pelo viés da morte,
recuperando aspectos do teatro primitivo e da máscara mortuária. Na articulação da
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representação da morte pela fotografia, o estudo histórico de Batchen (1999) aponta os
ensaios pioneiros de Hippolyte Bayard no sentido de enfatizar a aplicação da tecnologia em
projetos conceituais de natureza poética que exploram um mundo imaginário.
Bayard inicia cedo, logo nos primeiros anos de existência da fotografia, a explorar o
potencial das relações entre o design, a arte e a tecnologia. Os muitos aspectos deste
exercício revelam-se pela motivação de suas imagens (protesto contra governo francês); a
construção das fotos (cenários e arranjo de objetos); as referências com o universo da arte
(posição da figura humana em pinturas); o autor como objeto de representação (fotográfo e
modelo são a mesma pessoa); e o método de produção do trabalho (tecnologia fotográfica
– imagem pela luz). O desejo de comunicar e dar voz a sua imaginação, a organização dos
elementos para compor e articular seu discurso visual, bem como o conhecimento técnico
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para manipular o sistema de produção da fotografia são condições orientando projetos de
outros profissionais no campo do design e da arte. Na esfera comercial da imagem
publicitária, indicado acima, Hiscock (figura 2) traz em sua experiência uma bagagem
conceitual, plástica e tecnológica. No contexto da arte contemporânea, a americana Cindy
Sherman recria cenas clássicas do cinema e da pintura por meio do auto-retrato, da
montagem de cenários, do controle de gestos, de poses e pela manipulação da tecnologia
fotográfica.
Figura 2: David Hiscock. Untitled XXX (Sem Título XXX). Fotografia. 1993. (MELLOR, 1995, p.
77)
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Estas condições tecnológicas possibilitam também o desenvolvimento de projetos
acadêmicos junto aos cursos de design da Universidade Anhembi Morumbi. Propostas de
exercícios destinados à realização de ensaios fotográficos implicam na definição de um
tema; pesquisa deste assunto na esfera da cultura visual; concepção e planejamento do
projeto; produção e montagem de cenários; a fotografia, isto é, o registro ou captação da
imagem; e sua finalização por meio do tratamento e manipulação da foto.
Estes critérios orientam o enfoque dos retratos. Colegas do curso são levados para o
estúdio fotográfico e suas imagens capturadas em câmaras digitais. O designer opta por
efeitos de iluminação na tentativa de impedir um registro fiel dos modelos. O
enquadramento é fechado nos rostos das pessoas. A lente normal do formato 35 mm
possibilita sua aproximação do objeto, fortalecendo o impacto da expressão facial de seus
modelos. A presença de um assistente no estúdio facilita ainda a produção de alguns auto-
retratos (figura 3 e 4). Com o uso de sua própria imagem, Franceschi exercita em um único
projeto o papel de autor, designer, fotógrafo e objeto de estudo, tornando-se mais uma
peça de composição do website. A atividade percorre caminhos essenciais no campo do
design: definição e concepção do tema, planejamento, produção e captação de materiais.
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Figura 3 e 4: Eduardo Franceschi. Estudos (Auto-retrato). Fotografia. 2005
Para Homem de Melo, o encerramento de uma etapa significa também o início de outra. A
proposta de comunicação do design não se completa com a finalização do projeto. Sobre
isso, o designer esclarece:
Referências
AMBROSE, Gavin e HARRIS, Paul. Image: In. the optical appearance of something
produced in a mirror or through a lens etc. Londres: Ava, 2005.
BARTHES, R. A câmara clara. Tradução de Manuela Torres. Lisboa: Edições 70, 1980.
Design, Arte e Tecnologia: espaço de trocas | SP | Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio & Rosari | 2006.
BATCHEN, G. Burning with desire: the conception of photography. Cambridge: The
Massachusetts Institute of Technology Press, 1999.
CP: Abreviação usada como referência aos Collected Papers de Charles Sander Peirce. O
primeiro dígito indica o volume e os seguintes, o número do parágrafo.
DARRAS, B. Artists and designers: can the divide be overcome? In: Anais do 7o Congresso
Brasileiro de Pesquisa & Desenvolvimento em Design. Curitiba, Agosto, 2006.
MELLOR, David Alan. David Hiscock: catalogue. Londres: Zelda Cheatle Press, 1995.
MELO, C. H. de. Signofobia. Coleção TextosDesign. São Paulo: Edições Rosari, 2005.
PEIRCE, C.S. Collected Papers. Vol. 1-3. Editores: C. Hartshorne e P. Weiss. Cambridge:
Harvard University Press, 1931-1933.
SILVA, J. The aesthetic of illusion in advertising photography. Tese de doutorado não publicada.
GB: Central Saint Martins College of Art and Design, Universidade das Artes de Londres,
1999.
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Jofre Silva, PhD em Arte e Design: Fotografia (CSM CAD – Londres). Especialista em Fotografia
(Goldsmiths College, Universidade de Londres). Bacharel em Jornalismo (UFG – GO). Fotógrafo e
Jornalista.
Pesquisador e professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Design – Mestrado, bem como
dos cursos de graduação e pós-graduação Lato Sensu em Design, da Universidade Anhembi Morumbi.
Design, Arte e Tecnologia: espaço de trocas | SP | Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio & Rosari | 2006.
Membro dos Conselhos do Curso Design Digital.
jofre@anhembi.br
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