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PROPOSTA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Nome: Thorkil Oliveira Xavier de Brito

Título: Pensar e fazer: a potência da experimentação na prática da arquitetura

1.INTRODUÇÃO AO TEMA

Esta proposta de dissertação parte de questionamentos sobre a forma


como o processo de criação de projeto é ensinado nas universidades e do
espectro de relações existentes entre o ato de pensar e fazer arquitetura. A
cultura arquitetônica na hegemonia das sociedades ocidentais contemporâneas
se encontra intensamente imersa na lógica neoliberal. Isto faz com que o
imediatismo exigido pelo capital financeiro limite as práticas de arquitetura à
cultura da imagem vazia, sem diálogo das novas construções com seus lugares
de inserção, lógica que se repete no contexto brasileiro. Tendo em vista esta
configuração, identifico uma urgência de se pensar a arquitetura a partir de
processos e práticas de experimentação que tencionem esta divisão ou
dissociação entre o que seria o pensar da arquitetura, atrelado ao campo de
teoria e de história, e o seu fazer, diretamente ligado à experiência com o
canteiro.

2. OBJETIVOS

O objetivo geral dessa pesquisa é investigar como a teoria e prática


podem se interligar, produzindo outros caminhos para o ensino da arquitetura.
Para isto, será feita a análise de processos experimentais em três projetos
arquitetônicos: o Cemitério de Igualada, dos arquitetos Enric Miralles e Carme
Pinos, localizado em Barcelona; a Cidade Aberta, construída por alunos e
professores da Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso, localizada em
Ritoque (norte de Vinã del Mar); e a Casa da Flor, localizada em São Pedro da
Aldeia, construída por Gabriel Joaquim dos Santos. Neste sentido, é
fundamental discutir a produção teórica realizada a partir destes exemplos,
relacionando-a com a discussão sobre o lugar - ou os lugares - da experiência
corporal com os materiais no fazer arquitetônico e da interdisciplinaridade
intrínseca a eles.
O objetivo específico é estimular a importância da experimentação
corporal do arquiteto com seu material de trabalho, o que permitirá a construção
de uma visão crítica sobre os processos de projeto hegemônicos. Tal proposta
será uma tentativa de repensar o modus operandi referente à maneira de se
pensar e ensinar processos de criação de projeto, investigando as possibilidades
que se criam ao aproximar o arquiteto em formação de uma experiência corporal
afetiva com os materiais, da experimentação de imersão no canteiro e com o ato
de construir.

3. OBJETO DE ESTUDO

Considerando a problemática posta neste campo entre o pensar e fazer


arquitetura, foram delineados como objeto de estudo os inúmeros processos de
experimentação e produções teóricas em três projetos de arquitetura: Cemitério
de Igualada, Cidade Aberta e Casa da Flor. O caráter experimental desses
processos, presente tanto nos desenhos, nas imagens, nas entrevistas e escritos
dos projetos apresentam um campo vasto de investigação enquanto potência
para se pensar o espectro de relações criativas e inventivas entre teoria e prática
no campo da arquitetura.

4. JUSTIFICATIVA

4.1- A prática na profissão da arquitetura

Para iniciarmos uma reflexão sobre os benefícios da aproximação entre


teoria e prática, devemos nos perguntar sobre a forma de produção da
arquitetura na atualidade, a função exercida pelo arquiteto nesse modo de
produção e com qual ótica profissional o arquiteto se identifica.
Fernando Minto (2009) explica que a história da produção da arquitetura
e do modo de transferência de conhecimento para sua realização acompanha
as referências de cada período. O arquiteto sempre desenvolveu a técnica de
construir de diferentes maneiras seguindo o contexto e as necessidades de cada
época. Na Roma antiga, por exemplo, escravos conduzidos por arquitetos
construíram monumentos como o Coliseu. Na idade Média, arquitetos de origem
operária conduziram artesãos em seus distintos trabalhos. Mais recentemente,
devido à evolução tecnológica, em que as demandas são aceleradas e
imediatas, o processo da construção civil foi fragmentado em etapas, criando
uma cadeia produtiva que conta com a participação, muitas vezes dissociada,
de diversos profissionais. Neste contexto, o arquiteto acabou tendo sua atuação
limitada a apenas uma dessas etapas, como veremos a seguir.
De maneira geral, o contexto profissional em que o arquiteto está inserido
atualmente o coloca como base de uma linha de produção, o produtor de uma
etapa específica do processo de construção de uma obra: sua concepção. O
arquiteto idealiza um projeto a partir de um desenho técnico, sem antever as
condições do cotidiano no canteiro de obras. Este projeto é calculado por um
engenheiro, que também dimensiona seu sistema estrutural sem qualquer
participação na idealização do projeto. Por fim, a obra é orçada e executada por
uma empreiteira. Essa divisão ocorre para que a celeridade das demandas da
construção civil, controlada pelo sistema financeiro, seja atendida. Na
perspectiva da produção de alguns arquitetos, o desenho gráfico deixou de ser
uma ferramenta para ser o produto final. Outra característica da atuação do
arquiteto nos dias de hoje é a incompreensão da prática construtiva, o que o
impossibilita de definir medidas pertinentes no projeto que venham a refletir
positivamente na sua execução.
Deste modo, percebemos o surgimento de uma falsa dicotomia entre
projeto e obra, entre teoria e pratica, que limitou a atuação profissional do
arquiteto ao atendimento de uma demanda do mercado de trabalho, em que atua
através do desenho técnico de projetos. Dessa maneira, o arquiteto perdeu o
contato com uma ferramenta fundamental para a compreensão do seu ofício
como um todo: a experiência prática, sobretudo corporal do canteiro. Quando o
mercado financeiro setoriza a construção civil, tornando o arquiteto mero
reprodutor da concepção do projeto, não divide apenas seu trabalho, mas
também o próprio arquiteto como ser pensante.
Este distanciamento é inconcebível, pois os atos de pensar e de fazer na
arquitetura se exteriorizam em uma necessidade construtiva. Nas palavras de
Zumthor: “O verdadeiro núcleo de qualquer tarefa arquitetônica encontra-se, no
meu entender, no ato de construir” (ZUMTHOR, 1998). O desenho técnico, por
si só, é um intermédio entre a concepção e a execução, um interposto entre o
pensar e fazer, um somatório de símbolos técnicos que auxiliam a formalização
do pensamento, mas não o instrui. O que instrui o pensamento arquitetônico é o
fazer arquitetura, sua prática. Quando o arquiteto coloca sua habilidade de
construir em segundo plano, se tornando um mero projetista, acaba por
abandonar uma etapa fundamental do momento intuitivo de criação.
Nesta perspectiva, Enric Miralles, que será utilizado nesta pesquisa com
seu projeto do Cemitério de Igualada, parece ser um ótimo exemplo dos
benefícios da compreensão plena entre as diferentes linguagens e técnicas na
arquitetura. Miralles detalhava seus projetos obsessivamente com desenhos
gráficos virtuosos, repletos de sobreposições em camadas. Além disso, o
arquiteto possuía um imenso conhecimento de canteiros de obra, combinando a
poética sentimental de suas representações com o amplo conhecimento de
materiais, estruturas e das texturas e topografias dos lugares em que projetava.
Tal processo denota que seus projetos ganhavam força nos canteiros de obra,
sendo esta uma etapa fundamental para o processo de criação do arquiteto. O
Cemitério de Igualada será estudo de caso do projeto por abarcar severamente
estas características do autor, sendo uma arquitetura que se adapta ao seu
entorno repleto de relevos topográficos, e que sofreu grande interferência das
decisões tomadas no canteiro de obra em seu processo de materialização, isto
é, por ser um projeto em que a etapa de execução não foi uma simples
reprodução estrita do desenho de projeto pré-concebido e sim um campo de
possibilidades para experimentações com materiais e formas que definiram a
experiência estética da obra, provocando vivências e sensações singulares em
seus usuários.

4.2 – A prática nas escolas de arquitetura

Atualmente as escolas de arquitetura, seguindo o modelo econômico


vigente, têm sofrido o reflexo do modo de produção das grandes cidades. Desta
maneira, as grades curriculares dos cursos colocam as disciplinas práticas em
segundo plano em detrimento das disciplinas teóricas e de desenvolvimento de
projeto. A academia, que oportunamente deveria ser um lugar de resistência,
questionando os padrões socioeconômicos de formação da cidade, acaba por
segui-los. Nos ateliês de arquitetura, a representação gráfica é um dos focos
principais, talvez por ser o campo que atende mais pragmaticamente aos anseios
céleres do mercado de trabalho. Mas não seria o desenho uma técnica
metodológica de criação que busca um diálogo entre pensar e fazer? Entre teoria
e prática?
Assim como no campo profissional, em que a aproximação do arquiteto
com o canteiro de obras pode trazer benefícios ao projeto como um todo, nas
Escolas de Arquitetura também percebemos a carência da reaproximação do
estudante com a dinâmica corporal da experimentação prática com o material.
Em 1996, a Lei de Diretrizes Básicas da Educação Nacional (LDB, n.9.394 de 20
de dezembro de 1996) tornou o canteiro experimental um equipamento
obrigatório das escolas de arquitetura e urbanismo do país. Reginaldo Ronconi
(2005) levanta o questionamento de que é necessário refletir sobre a efetiva
influência pedagógica deste espaço de experimentação a fim de evitar que ele
se torne apenas um laboratório anexo à grade curricular.
É importante ressaltar que a função do canteiro experimental é criar uma
visão mais ampla sobre a profissão do arquiteto, além da área conceitual,
permitindo ao aluno uma maior liberdade do ponto de vista pedagógico. E,
embora também sirva para experimentar técnicas construtivas, este espaço não
pode ser confundido com uma projeção do canteiro de obras profissional, uma
vez que sua função é a produção de conhecimento e a transformação do aluno
em ser pensante.
De que adianta ter maquinários extraordinários ao alcance do aluno, se a
sua utilização não aponta para o mesmo objetivo pedagógico das demais
disciplinas? Isto posto, parece razoável afirmar que não é o espaço físico do
canteiro experimental, explorado burocraticamente, que cria, por si só,
oportunidades de relacionar teoria e prática nas Escolas de arquitetura. Neste
sentido, o estudo de caso da Cidade Aberta (PUC Valparaíso) é fundamental
para entendermos a dinâmica interdisciplinar necessária entre as disciplinas de
atelier de projeto e as disciplinas práticas experimentais, além de constituir uma
prática do ensino da arquitetura para além do espaço físico do canteiro
experimental e do campus da universidade. Situando-se como uma proposta
pedagógica repleta de cooperação entre professores e alunos, as construções
eram realizadas a partir de variados tipos de material, buscando explorar os
aspectos plásticos da arquitetura.

4.3- A importância da experimentação do material

Para entender a importância da experimentação no ensino da arquitetura


devemos refletir sobre questões fundamentais como: o que é educar? Para que
se quer educar? Afinal, a escola deve se preocupar com a formação humana do
aluno e não somente com seu conhecimento técnico. Segundo Humberto
Maturana (1998), é dever da escola orientar os alunos no sentido da ampliação
de seus conhecimentos reflexivos e de sua capacidade de ação. Por meio de
estudos neurofisiológicos sobre o fenômeno do conhecimento nos seres
humanos, o autor defende que cabe ao professor priorizar, não o que se
aprende, mas a perspectiva de onde se aprende. A partir do conceito de
autopoiese, Manturano reflete sobre o ato de fazer, argumentando que o ser
humano deve realizar reflexões a partir de si próprio, de sua própria experiência,
a fim de tornar-se um ser autoconsciente, que se constrói e se reconstrói a cada
interação com o meio. Segundo Maturana, “aprender é compreender, ou seja,
trazer consigo parcelas do mundo exterior, integrá-las em meu universo e assim
construir sistemas de representação cada vez mais aprimorados ” (ibid., p. 37).
A partir disso, parece razoável admitir que a importância da reaproximação entre
teoria e prática, ou seja, entre trabalhos intelectuais e manuais no ensino da
arquitetura se dá, em parte, pela oportunidade de provocar estímulos sensoriais
específicos do ato de construir, experimentar e conceber com as próprias mãos,
desenvolvendo a aprendizagem a partir da própria perspectiva e estimulando
outros sentidos além da visão.
A arquitetura é uma composição repleta de minúcias, funções, formas e
materiais. Para conhecer o todo e o detalhe em uma obra onde tudo se completa,
é importante vivenciar todas as fases do processo e dominar grande parte dos
instrumentos disponíveis para criação. Quando a representação do desenho
gráfico do projeto se torna prioridade como ferramenta metodológica de criação,
passando a ser o produto final do estudo do arquiteto em formação, limita-se o
desenvolvimento das percepções do mesmo perante o projeto construído em
sua plenitude. O contato com os materiais, com o peso das ferramentas, com o
esforço feito ao empurrar um carrinho de mão, com as dificuldades durante o
processo de execução de seu projeto, provoca nos alunos novas sensibilidades
espaciais e corpóreas, aproximando-os do sentido humano da arquitetura.
Além disso, a experimentação prática deve ser proposta de modo que o
arquiteto em formação desenvolva uma sapiência em relação à sua função
social, a ponto de fazê-lo entender que cada elemento desenhado por ele
representa muito esforço e horas de trabalho para os operários que irão executar
a obra, de questionar as condições de trabalho na construção civil, de se
relacionar com os profissionais que dominam as técnicas manuais, absorvendo
diferentes perspectivas de vida, modos de pensar, organizar as ideias e
maneiras de se aplicar o conhecimento, desenvolvendo um pensamento crítico
sobre o contexto do seu trabalho que será fundamental para a mudança dos
paradigmas existentes no meio profissional. Neste ponto, o estudo de caso da
Casa da Flor é importante para o projeto, na medida em que demonstra como o
desenvolvimento da capacidade prática experimental e da relação íntima com os
materiais podem ser geradores de competências fundamentais para a produção
arquitetônica.

5. REVISÃO DE LITERATURA

Em Pensar a Arquitetura, Peter Zumthor (1998) aborda o ofício, o espaço


e o ensino da arquitetura a partir das percepções sensoriais dos seus elementos
constitutivos. Debatendo a relação entre o fazer e pensar arquitetura, defende
que nos situemos em um mundo real, e não em um espaço abstrato, nem mesmo
quando formalizamos nosso pensamento. Para o autor, a construção é inerente
ao ofício do arquiteto e é a arte capaz de formar um todo com sentido a partir de
muitas partes, que possuem relação direta com o material, seus significados e
potências. Para Zumthor, o sentido da obra arquitetônica se dá quando criamos
nos objetos significados específicos de certos materiais. Discutindo a questão da
estética, ele afirma que é na concretude do material que observamos a relação
sensível entre objeto e espaço e que a beleza de suas obras se encontra na sua
materialidade.
Estas ideias contribuem singularmente para este projeto de pesquisa, por
situarem o ato de construir como fundamento irrevogável do trabalho do arquiteto
e de sua apreensão de conhecimento, tal como por demonstrarem que os
materiais são elementos indissociáveis da arte e da técnica na arquitetura. Deste
modo, a vivência corporal dos materiais proporciona um domínio maior sobre as
informações sutis que rodeiam uma obra arquitetônica e possibilitam ao aluno
dispor destes artifícios para projetar de maneira ampla.
Sobre a representação do projeto, Zumthor (1998) declara que o desenho
arquitetônico deve clarear a ausência do objeto arquitetônico real, mas é
insuficiente para representá-lo em sua totalidade, e, portanto, devemos manter
a curiosidade pela realidade material prometida no projeto. Isto é, a simulação
virtual dos projetos gráficos não compreende a harmonia da arquitetura com o
espaço físico em sua totalidade e tampouco o afeto presente nos materiais que
irão compor essa arquitetura. Esse ponto de vista enriquece a proposta de
pesquisa, pois demonstra que a representação do desenho gráfico do projeto é
uma ferramenta metodológica de criação entre pensar e fazer e não um produto
final do estudo do arquiteto em formação.
Abordando o tema da construção dos lugares e da perda de comunicação
da arquitetura com seu entorno, Juhani Pallasmaa (2007) critica a supremacia
do sentido da visão nos processos cognitivos e na criação arquitetônica,
contestando os modos de vida automatizados da atualidade e o excessivo uso
da tecnologia na produção arquitetônica. Ao preconceber o sentido da visão
como o mais importante, Pallasmaa diz que alguns arquitetos: “tem adotado a
estratégia psicológica da publicidade e da persuasão instantânea; as edificações
se tornaram produtos visuais desconectados da profundidade existencial e da
sinceridade” (ibid., p. 29). Tendo como referência teórica o filósofo Merleau-
Ponty (1945), Pallasmaa busca desconstruir a primazia do olhar, defendendo
que o corpo como um todo é centro de todas as nossas experiências e
sensações com o mundo. Portanto, a concepção de que o sentido da visão é o
único capaz de captar todo o conteúdo de uma obra arquitetônica limita a
experiência estética da obra e do lugar, reduzindo a arquitetura ao foco da visão.
Estas ideias contribuem de maneira significativa para o projeto de pesquisa por
revelarem a limitação da ênfase na utilização do sentido da visão em detrimento
dos outros sentidos, como o tato, nas produções arquitetônicas, sejam elas
profissionais ou acadêmicas.
Em Atmosferas, Zumthor (2006) sugere uma leitura espontânea e
emocional do espaço em detrimento de sua abordagem intelectual. Para ele, a
atmosfera se relaciona com a maneira como experimentamos os espaços por
meio de nossas memórias e percepções. Segundo Pallasmaa (2007), o conceito
de atmosfera pode ser um pouco mais amplo, na medida em que está
relacionado à noção de qualidade de um espaço, e não somente as percepções
dos usuários. A atmosfera é uma ambiência construída pela presença da
materialidade, mas não devemos esquecer das características intrínsecas de um
lugar, como seu cheiro, som e clima.
Christian Norberg Schulz critica a construção de ambientes desprovidos
de significados e que não estabelecem identificação com seus usuários. A partir
do conceito de genius loci, o espírito do lugar, o autor defende que a capacidade
de percepção da atmosfera de um lugar se dá para além dos cinco sentidos,
envolvendo outros como a orientação, gravidade, equilíbrio, estabilidade,
movimento, duração, continuidade, escala e iluminação. Despertando interesse
nas qualidades sensoriais dos materiais, como iluminação, cor, texturas e
simbologias, Norberg demonstrou que a arquitetura é capaz de dar significado
aos ambientes, criando lugares singulares. Para ele, a estrutura do lugar se dá
a partir de duas noções: o espaço, que compreende a organização tridimensional
dos elementos de um lugar; e o caráter, que se situa como propriedade que
denota o conceito de atmosferas. A partir do somatório destes dois conceitos,
temos o suporte existencial e o espaço vivido pelo homem.
A contraposição entre estas diferentes definições do conceito de
atmosfera e de lugar pode engrandecer a pesquisa, por aprofundar a reflexão
sobre a relação do homem contemporâneo com o espaço, com a atmosfera que
circunda as obras arquitetônicas e com a noção de lugar. Estas análises são
fundamentais para o entendimento da importância da experimentação dos
materiais. Afinal, tendo conhecimento das particularidades de vários tipos de
materiais, o arquiteto pode conciliá-los da melhor maneira, criando uma
arquitetura em harmonia com o seu entorno e que desperte afeto nos seus
usuários, permitindo a estes a vivência de um espaço envolvente, em sintonia
com os corpos e os materiais que os rodeiam.

6. METODOLOGIA

Como exposto acima, foram escolhidas três obras arquitetônicas como


estudos de caso para analisar a potência da investigação sobre as relações entre
teoria e prática no campo da arquitetura: o Cemitério de Igualada, dos arquitetos
Enric Miralles e Carme Pinos; a Cidade Aberta, construída por alunos e
professores da Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso; e a Casa da Flor,
construída por Gabriel Joaquim dos Santos. Como técnica metodológica para
explorar estes estudos de caso, será necessário discutir a produção teórica
relacionada a essas obras, assim como estudar seus desenhos, imagens,
entrevistas e escritos relacionados ao projeto. Além disso, serão realizadas
entrevistas com os arquitetos do escritório que trabalharam na obra do Cemitério
de Miralles, com os alunos e professores da PUC Valpaíso que participaram da
criação da Cidade Aberta e com o “Seu Vivi”, sobrinho de Gabriel Joaquim dos
Santos, que realiza as visitas guiadas à Casa da Flor e vivenciou o processo de
construção da obra. Será necessário ainda visitar presencialmente cada uma
das três obras e, do mesmo modo, aprofundar conceitos de autores
fundamentais como o de atmosfera tal como proposto por Peter Zumthor e
Juhani Pallasmaa; o de genius loci; o de formação de um lugar, por Norberg-
Schulz; e o de autopoiese de Humberto Maturana.

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8. CRONOGRAMA

1° tri 2° tri 3° tri 4° tri 1° tri 2° tri 3° tri 4° tri


ATIVIDADES 2020 2020 2020 2020 2021 2021 2021 2021

Revisão
bibliográfica

Análise das
obras
selecionadas

Cumprimento
das disciplinas
do curso

Elaboração do
roteiro de
entrevistas

Visita às obras

Experimentações

Organização dos
dados

Análise
interpretativa

Elaboração do
relatório final

Entrega do
relatório e
preparação para
a defesa

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