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Organização
Miguel Arroyo
MIGUEL ARROYO
Educador em diálogo com nosso tempo
Arroyo, Miguel
Miguel Arroyo : educador em diálogo com nosso tempo / textos sele-
cionados de Miguel Arroyo ; organização Paulo Henrique de Queiroz No-
gueira, Shirley Aparecida de Miranda. -- Belo Horizonte : Autêntica Editora,
2011. -- (Coleção Perfis da Educação, 5)
Bibliografia.
ISBN 978-85-7526-580-2
11-09650 CDD-370.92
Índices para catálogo sistemático:
1. Brasil : Educadores 370.92
11 Cronologia
13 Introdução
Reflexões sobre um mestre de nosso ofício:
nosso percurso com Miguel Arroyo
Paulo Henrique de Queiroz Nogueira
Shirley Aparecida de Miranda
33 Entrevista
Pensamento educacional e relações sociais
Textos selecionados
Sujeitos da Educação Básica
Período Atividade
1942-1950 Cursa escola pública no povoado Sotillo de la Ribera, em Burgos,
na Espanha.
1954-1959 Forma-se em Filosofia e Teologia no Instituto Hispanoameri-
cano de la Universidad Complutense de Madrid.
1960 Chega ao Brasil. Inicia a docência nos cursos de Educação
Média, Magistério e EJA.
1967-1970 Gradua-se em Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais
(FAFICH/UFMG).
1970-1974 Torna-se mestre em Ciências Políticas pela FAFICH/UFMG.
1972-1974 Leciona no Departamento de Ciências Sociais da FAFICH/
UFMG.
1975-1981 Torna-se PHD em Problemas Políticos da Educação pela
Stanford University, na Califórnia, Estados Unidos.
1976 Aprovado em concurso na Faculdade de Educação da UFMG
onde passa a fazer parte do corpo docente da graduação e
pós-graduação.
1985 É aprovado em concurso para professor titular da FAE/UFMG.
1990-1995 Torna-se membro da diretoria da ANPEd, onde coordena o
Grupo de Trabalho (GT) “Trabalho e Educação”. Membro do
GT “Movimentos Sociais e Educação” e do comitê científico
da ANPEd.
1991 Faz pós-doutorado na Universidad Complutense de Madrid.
1993-1997 Torna-se secretário municipal adjunto de Educação da Prefei-
tura de Belo Horizonte. Coordenador da elaboração e imple-
mentação da proposta Escola Plural.
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Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação, denominação adotada pela organização dos
trabalhadores em educação a partir da do Congresso de Unificação de 1991.
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Referências
ARROYO, Miguel González. Trabalho, educação e teoria pedagógica. In: G. FRI-
GOTTO. Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século. Petrópolis,
1998, p. 138-165.
ARROYO, Miguel González. Administração da educação, poder e participação.
Educação e Sociedade, São Paulo, v. 1, n. 2, jan. 1979, p. 36-46.
ARROYO, Miguel González. Operários e educadores se identificam: que rumos tomará
a educação brasileira? Educação e Sociedade, São Paulo, n. 05, jan./1980, p. 5-23.
ARROYO, Miguel González. Ciclos de desenvolvimento humano e formação de edu-
cadores. Educação e Sociedade. Campinas: CEDES, dez. 1999, v. 20, n. 68, p.143-162.
ARROYO, Miguel González. Da escola carente à escola possível. São Paulo: Loyola,
1986.
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Entrevista com o Prof. Miguel Arroyo realizada pela Profa. Shirley Aparecida de Miranda e pelo
Prof. Paulo Henrique de Queiroz Nogueira. A entrevista visa situar a produção do Prof. Miguel
Arroyo no contexto histórico, social e político em que se debate o pensamento educacional e
social brasileiro nas últimas décadas.
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Grupo diversificado de intelectuais espanhóis que, partidários de diferentes filiações teóricas,
podem ser reconhecidos como defensores de certos ideais humanistas em sua reflexão teórica e
que, no contexto espanhol de então, servem para aprofundar a oposição ao franquismo.
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Texto originalmente publicado em: SARMENTO, M. J.; GOUVEA, M. C. S. Estudos da infância:
educação práticas sociais. Rio de Janeiro: Vozes, 2008. p. 119-140.
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No livro Imagens quebradas – trajetórias e tempos de alunos e mestres, dedico a 2a parte às contri-
buições das ciências, das artes e das letras para o repensar da pedagogia, reconhecendo os tempos
e categorias geracionais.
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O Movimento de Educação Popular na década de 1960 e em particular Paulo Freire retomam o
ideal libertador da pedagogia, em obras como Educação como prática da liberdade; Pedagogia do
oprimido; Ação cultural para a liberdade.
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Referências
ARROYO, Miguel. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres.
Petrópolis: Vozes, 2004.
ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
GAGNEBIN, Janne Marie. Linguagem, memória e história. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
JAVEAU, Claude. Criança, infância(s), crianças. Que objetivo dar a uma ciência
social da infância? In: Revista Educação e Sociedade, Campinas, CEDES, v. 26,
n. 91. 2005.
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Texto originalmente publicado em: SOARES, L.; GIOVANETTI, M. A. G. C.; GOMES, N. L.
(Orgs.). Diálogos na Educação de Jovens e Adultos. 3 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. p. 19-50.
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Texto originalmente publicado em: BICUDO, M. A. V.; SILVA JUNIOR, C. A. Formação do
Educador: dever do Estado, tarefa da universidade. São Paulo: Editora da Unesp, 1996.
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Um profissional do aprender
as bases da cultura e do conhecimento
Insisto em que se trata de um campo de saber e especialização tão
complexo ou mais do que as tradicionais áreas e disciplinas. É o campo de
construção do projeto cultural para a infância, a adolescência e a juventude,
como idades de inserção nos saberes e na cultura. Falamos em projeto cultural
no sentido antropológico, e não apenas acadêmico, ou seja, pensamos em algo
mais do que os saberes tidos como significativos nos campos especializados
da academia. Esses terão de ser um dos componentes dos saberes, escolares
sobretudo na educação média. É um componente da formação do professor
dominar os conhecimentos e as destrezas de cada âmbito do saber produ-
zido socialmente. Mas não pode se esgotar aí a formação do profissional da
educação obrigatória.
O sentido antropológico de projeto cultural de Educação Básica com-
preende muito mais. Aos profissionais desse nível básico de educação tem de
ser familiar a cultura enquanto o conjunto de significados, crenças, valores,
representações, usos, condutas, expressões simbólicas, linguagens, formas
de relações entre os grupos humanos, diversidade cultural de gênero, classe,
raça. Em toda experiência escolar, sobretudo na Educação Básica, acontece
um processo de socialização e iniciação nesse campo cultural com maior
centralidade do que a inserção nos saberes da cultura acadêmica especia-
lizada. Não se trata de guardar esses saberes para poucos, mas entender e
dominar o que é próprio da formação de cada tempo humano, infância,
adolescência ou juventude. Entender que, dos saberes produzidos e acu-
mulados socialmente, se constitui em direito universal, obrigatório. Enfim,
entender a especificidade da Educação Básica que, historicamente, não se
configurou como o tempo de formar mini-historiadores, físicos, biólogos
ou gramáticos. Nem sequer se constitui para lançar os saberes básicos que
serão convenientes para acompanhar um curso superior em qualquer um
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Texto originalmente publicado em: Educação & Sociedade, ano XX, n. 68, p. 143-162, dez.1999.
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Comunicação apresentada no 2º Encontro Nacional de Supervisores de Educação, Curitiba, Outu-
bro/1979 e publicada na revista Educação e Sociedade, São Paulo, n. 05, p. 5-23, jan. 1980.
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A comunicação se refere ao contexto social, político e educacional brasileiro da década de 1970.
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Esse pressuposto tem sido marcante nas pesquisas, dissertações e teses do Programa de Pós-Graduação
da FaE-UFMG.
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A organização das camadas populares em ações e movimentos sociais urbanos já era significativa
na década de 1970, ainda em pleno regime autoritário e no despontar da abertura política.
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A pesquisa e a análise das relações entre educação e os movimentos populares e as pressões dos
trabalhadores tem se configurado como uma área central no Programa e como um GT da ANPEd.
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Esse fazer-se da classe operária enquanto processo de educação tem sido central no Programa,
pesquisar e aprofundar no papel histórico do movimento operário tão central no GT Trabalho e
Educação da ANPEd.
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Essas solidariedades entre trabalhadores do ensino e trabalhadores da produção se explicitavam
no final dos 1970, na diversidade de ações coletivas e de greves e na afirmação dos educadores
docentes como trabalhadores em educação e em organizações sindicais.
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Uma das bandeiras de luta do movimento docente será a gestão democrática da escola, diretas
para diretor, que marcará as reformas educativas dos 1980, reforçando o controle do trabalho.
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Mudanças na divisão do trabalho docente que vem mudando os protótipos de profissionais for-
mados nos cursos de pedagogia, de graduação e de pós-graduação, que mudaram os currículos de
formação, reforçando um profissional único e superando a função de formar especialistas, gestores.
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No final dos 1970 a Associação de Supervisores assim como de administradores já se colocavam
essas questões redefinindo sua função e somando com o movimento docente, fortalecendo lutas
e identidades profissionais coletivas comuns
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A FaE-UFMG, na graduação e na pós-graduação, tem estado nessas fronteiras de articulação
entre os processos de educação que se dão nas escolas e aqueles que se dão na diversidade de
movimentos sociais.
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Texto transcrito de gravação, apresentado na IV Conferência Brasileira de Educação (CBE),
Goiânia, em 1986, e originalmente publicado em: ANDE, n. 12, p. 16-21, 1989.
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Texto originalmente publicado em: Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 26, p. 23-38, dez. 1997.
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As linguagens do cotidiano
Como os setores populares, os funcionários públicos, os professores
fizeram avançar o aprendizado do direito à cidade? Que recursos pedagógicos,
que linguagens e símbolos eles usaram?
Durante os últimos anos os transeuntes da cidade se deparavam com
frequência com mensagens expostas nas ruas e avenidas, nas praças e escada-
rias, nas reportagens dos meios de comunicação. Eram linguagens e imagens
diretas vinculadas ao cotidiano de sua experiência urbana. Linguagens que
constatavam fatos do dia a dia, do ordinário/extraordinário da vida urbana,
da vida familiar, do trabalho, do bairro, da condução, do posto médico, da
escola, do professor de seus filhos.
Os cartazes, as palavras de ordem se revelavam como clipes de vivências
fortes da vida quotidiana para a maioria dos transeuntes: mais verbas, mais
postos de saúde, escola para todos, merenda, livros, defesa da escola pública,
salários para os professores. Uma espécie de reportagem representada, posta
em cena nas praças, nas escadarias das igrejas e nos espaços do poder, como
nas primeiras urbes gregas, romanas ou renascentistas. Como no teatro
popular, com sua temática quotidiana e sua linguagem direta.
Uma linguagem, apropriada ao aprendizado do direito à cidade, que leva
para a rua, para o trabalhador que volta para a casa, que espera o transporte
em longas filas, leva sua realidade quotidiana. Uma linguagem que explora as
vivências e os símbolos familiares a sua experiência popular, religiosa, lúdica
e escolar: coreografias, cartazes, desenhos, músicas populares, religiosas e do
tempo de escola, adaptadas para denunciar o cotidiano da cidade.
Insistimos no caráter pedagógico dessas linguagens e símbolos tão
frequentes nas últimas décadas, quando o campo da educação e da cultura
tiveram um papel de destaque: greves de professores, festivais de teatro, de
arte negra, o teatro de rua, a noite dos tambores, a marcha do Afoxé nos 300
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Referências
ARIES, Philippe. L’enfant et la vie familiale dans l’ancien regime. Paris: [s. ed.], 1973.
BRESCIANI, Maria Stella. Jogos da política: imagens, representações e práticas. São
Paulo: Marco Zero, 1992.
BRESCIANI, Maria Stella. A cidade das multidões, a cidade aterrorizada. In: PACH-
MAN, Robert (Org.). Olhares sobre a cidade. Rio de Janeiro: UFRJ, 1994. p. 9-42.
CASTELLS, Manuel. La ciudad y las masas: sociología de los movimientos sociales
urbanos. Madrid: Aleanza Universidad, 1986.
KONDER, Leandro. Um olhar filosófico sobre a cidade. In: PACHMAN, Robert
(Org.). Olhares sobre a cidade. Rio de Janeiro: UFRJ, 1994. p. 73-82.
LEFEBVRE, Henri. Le droit à la ville: anthopos. Paris: [s. Ed.], 1968.
SPOSITO, Marília. O povo vai à escola: a luta popular pela expansão do ensino público
em São Paulo. São Paulo: Loyola, 1984.
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Texto originalmente publicado em: FRIGOTTO, G. Educação e crise do trabalho: perspectivas de
final de século. Petrópolis: Vozes, 1998. p. 138-165.
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A análise das relações entre educação, trabalho e exclusão social nos leva
a um permanente olhar em duas direções, que terminam se encontrando.
De um lado, estar atentos às contraditórias transformações que precarizam
a vida de milhões de seres humanos, negando-lhes os direitos mais básicos:
olhar os brutais processos de desumanização a que são submetidos. De outro
lado, estar atentos às múltiplas manifestações de luta pelos direitos humanos,
às manifestações de mobilização coletiva vindas dos excluídos e oprimidos:
olhar os processos de humanização que se dão nos movimentos sociais e nas
experiências e lutas democráticas pela emancipação.
O primeiro olhar privilegia as análises dos vínculos entre trabalho
e educação, em que temos uma longa tradição. Análises que vão desde a
compreensão das determinações e restrições postas pela organização pro-
dutiva até a afirmação do trabalho como princípio educativo. Em comum
o reconhecimento da categoria trabalho na compreensão dos processos de
formação-deformação humana; o caráter histórico desses processos educa-
tivos e culturais vinculados a formas concretas de produção da existência.
Em comum ainda uma forte carga humanista nas análises: o destaque do
sentido desumano da divisão histórica do trabalho e do caráter deformador
e sufocante do domínio do processo de produção sobre os homens, e não
deles sobre as relações de produção.
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Texto originalmente publicado em: Currículo sem Fronteiras, v. 3, n. 1, p. 28-49, jan./jun. 2003.
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Vivências totalizantes
A pergunta que aflora: por que os movimentos sociais teriam essas
virtualidades educativas tão de raiz? Uma das suas características é seu
envolvimento totalizante. Quando em movimento, os sujeitos vivem em torno
do que e do como estão sendo; consequentemente, todas as dimensões de
sua condição existencial entram em jogo. Frequentemente sua vida é posta
à prova em situações de risco.
Nos momentos de mobilização se vivenciam situações-limite: de um
lado, como ponto de partida e motivação as carências existenciais no limite;
de outro lado, coletivos se articulam em processos de luta e reivindicação
tensos, arriscando o emprego, a segurança, a vida, a identidade. Muitos
dos movimentos sociais carregam a característica de ser vivências exis-
tenciais totais.
Parece-me ser por aí que Freire nos aponta quando nos diz que nesses
processos os seres humanos em movimento se colocam a dramaticidade de
ser humanos e se afirmam como sujeitos de decisão, se interrogam pelas
possibilidades e pelos limites de ser e viver como gente.
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Movimentos culturais?
Não podemos ignorar que nem todos os movimentos sociais se situam
nessas necessidades primárias ainda não resolvidas, as mais incômodas e
permanentes dado nosso contexto social e econômico. Outros movimentos
têm como referência pertencimentos específicos de gênero, raça, idade,
opção sexual e outras que carregam significados culturais, afirmação de
identidades, superação de preconceitos, defesa de direitos em outros campos
não tão colados à sobrevivência. Poderíamos falar em movimentos culturais,
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Texto originalmente publicado em: FERRETTI, C. J.; SILVA JUNIOR, J. R.; SALES, M. R. N. (Orgs.).
Trabalho, formação e currículo: para onde vai a escola? São Paulo: Xamã, 1999. v. 1. p. 13-42.
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A hipótese básica é que essas práticas são formadoras porque não são
explicitamente discutidas nem justificadas, porque moldam a cotidianidade da
vida na escola, pelo que configuram com mais força a consciência da criança.
“Sua força deriva de sua materialidade (o ser consciente é a expressão consciente
do ser real – Marx).” É a mesma concepção que está na base da centralidade
dada ao trabalho como princípio educativo e formador, daí que os estudos
sobre trabalho e educação, formação do trabalhador, têm estado mais atentos
às virtualidades educativas das relações sociais na escola, do que aos conteúdos.
Quando, neste seminário, nos colocamos como retomar as relações
sociais na escola em nossas análises é porque consideramos seu peso formador
ou porque consideramos que uma das matrizes do pensamento pedagógico
moderno passa pelo reconhecimento da centralidade dos processos materiais,
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Texto originalmente publicado em: ARROYO, M. G. (Org.). Da escola carente à escola possível. 6
ed. São Paulo: Loyola, 2003. p. 11-53. (Coleção Educação Popular)
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A pedagogia da pobreza
A experiência de Minas analisada por Léa Paixão pode ser vista como um
exemplo típico de tantas experiências pedagógicas que visam à diminuição
dos índices de evasão, de repetência e da defasagem idade-série. Podemos
encontrar projetos semelhantes com variantes mínimas implementados
sempre junto às populações tidas como carentes. Em todos os projetos,
o mesmo diagnóstico e o fantasma do fracasso escolar: “O governo gasta
recursos caros em abrir escolas, dá merenda, e, ao final do ano, os resultados
não se alteram”. De fato, as taxas de evasão e reprovação nas primeiras séries
teimam em permanecer altíssimas durantes décadas. As escolas onde as taxas
atingem índices mais elevados são as escolas rurais e das periferias urbanas,
as escolas frequentadas pelas camadas populares. Será mera coincidência
ou intenção do sistema?
As pesquisas sobre os determinantes extraescolares e sobre o peso do
contexto sociocultural no fracasso escolar ofereceram base teórica para
novas propostas: o fracasso não estaria na escola, mas na nova clientela que
teima em entrar nela sem bagagem sociocultural. Filho de pobre não tem
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Ph.D. em Educação pela Stanford University, professor titular emérito da Faculdade de Educação
da UFMG.
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O dualismo recolocado
Essa filosofia de escola – adaptada ao destino reservado às camadas
subalternas nas relações sociais de produção e na organização do trabalho – é
uma proposta antiga que vai e volta na história da educação brasileira. Pode
ser encontrada em inúmeros programas e campanhas de educação rural.
Podemos pinçar algumas frases que configuram essa filosofia: “A educação
apropriada ao homem do campo não deve ser formal; deve-se propor o
melhoramento da vida do povo e a ação sobre o meio material e social”. “A
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Quando Rogério Campos tinha concluído sua análise, foram publicados dois volumes que per-
mitem uma visão mais detalhada do SIER: Sistema Integrado de Educação Rural (SIER), Governo
do Estado de Pernambuco – SE – Recife: IICA, Educação no meio rural – experiências curriculares
em Pernambuco, Brasiliense, São Paulo, 1984.
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Referências
ARROYO, Miguel González. Operários e educadores se identificam: que rumos
tomará a educação brasileira? In: Educação & Sociedade, São Paulo, 5 (1980), p. 5-23.
ARROYO, Miguel González. Dimensões da supervisão educativa no contexto da
práxis educacional brasileira. In: Cadernos de Pesquisa, São Paulo, 41(1982), p. 28-37.
BARRETO, Elba S. de Sá. Professores de periferia: soluções simples para problemas
complexos. In: Cadernos de Pesquisa, São Paulo, 14(1975), p. 97-109.
BEISIEGEL, Celso de Rui. Ensino público e educação popular. In: PAIVA, Vanilda
(Org.). Perspectivas e dilemas da educação popular. Rio de Janeiro: Graal, 1984.
BRANDÃO, Carlos R. (Org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Graal, 1981.
BRANDÃO, Carlos R. Educação: alternativa na sociedade autoritária. In:
PAIVA, Vanilda (Org.). Perspectivas e dilemas da educação popular. Rio de Janeiro:
Graal, 1984.
BRANDÃO, Zaia; BAETA, Anna Maria Bianchini; ROCHA, Any Dutra Coelho da.
Evasão e repetência no Brasil: a escola em questão. Rio de Janeiro: Achiamé, 1983.
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Texto originalmente publicado em: Em Aberto, Brasília, v. 17, n. 71, p. 33-40, 2000.
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Não pretendemos, nestas notas, uma análise das relações entre teoria
política e teoria da administração. Pretendemos apenas oferecer alguns ele-
mentos, sem dúvida dispersos, para uma reflexão sobre as dimensões políticas
das tendências atuais na administração da educação no Brasil.
Um dos pontos básicos na política educacional dos últimos tempos diz
respeito à reforma das estruturas administrativas do sistema, ao preparo de
especialistas em administração educacional e à introdução de modelos e
métodos considerados como válidos na administração das empresas privadas.
Os discursos, as leis, os decretos, os pareceres, os relatórios e o conjunto de
normas e atos que exprimem a política educacional vêm insistindo neste
ponto: “a ação no campo educacional obedecerá a zeloso, eficiente e correto
emprego de recursos, confiados à execução de planos objetivos e racionais
e a uma estrutura administrativa atualizada”; “cumpre que os complexos
aspectos da área educacional sejam hierarquizados”; “há necessidade urgente
de preparar quadros técnico-científicos que o planejamento e a administração
racional da educação exigem”; “a reforma administrativa da universidade tem
o propósito de implantar um sistema administrativo tipo empresa privada
e não de serviço público, onde imperem controles exclusivamente internos,
objetivos e funcionais que garantam a produção educativa e impeçam a
arbitrariedade individual e coletiva”.
Entre muitos depoimentos, eles revelam que a política educacional
coloca a modernização administrativa do sistema como estratégia central. A
solução é posta não em criar mais escolas ou aplicar mais recursos, mas em
obter mais e melhor educação com os recursos disponíveis, modernizando
as estruturas administrativas, os métodos, a organização e o funcionamento
do sistema escolar, sobretudo criando nos administradores valores e atitudes
para a mudança e a inovação.
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Texto originalmente publicado em: Educação e Sociedade, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 36-46, jan. 1979.
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Texto originalmente publicado em: Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 3, p. 17-23, jun. 1986.
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A escola pública é igual para todos, quando “todos” são iguais ou quando
atende a uma camada social apenas. Mas se, em princípio, o ideal é uma
escola pública igual para todos, um espaço democrático, a experiência mostra
que, à medida que ela se “democratiza” e a sociedade se diversifica, esse ideal
se torna utopia numa sociedade desigual. Exatamente por ser fieis à experiên-
cia, renunciando ao ideal da escola única, espaço democratizante, é que as
lideranças políticas, econômica e intelectuais colocam, como centro dos
debates, não tanto a necessidade da expansão da instrução popular, mas o
tipo de instrução que seria mais conveniente para cada classe. Paralelamente
ao processo de expansão da instrução pública, caminha o processo de sua
diversificação. A experiência provou contra o sistema único.
Os intelectuais e os educadores mantêm, em princípio, a necessidade
de uma escola pública única, mas, em nome da fidelidade às teorias da nova
psicopedagogia – respeito às diferenças individuais, às aptidões inatas do
aluno, às diferentes personalidades... –, aceitam que o sistema de ensino deva
ser diversificado. A Revista do Ensino reflete essa orientação pedagógica,
quando discute problemas relativos à adaptação de programas, processos
de ensino, de avaliação e organização de classes. (Revista do Ensino-MG, n.
2, p. 41-42; n. 4, p. 87-88; n. 33, p. 19-30)
As lideranças políticas e econômica também encontram justificativa
para a diversidade do sistema do ensino primário:
Para um grande número de crianças, especialmente nas populações rurais,
tem o ensino primário a finalidade exclusiva de alfabetização. A estas
populações entregues aos trabalhos dos campos, à lavoura e à criação, e
a outros misteres onde não é exigida grande cultura intelectual, basta-
lhes que saibam ler, escrever e contar. Verifica-se, então, que, nas escolas
rurais, era escassamente frequentado o 3o. ano primário e, raríssimas
vezes, o era o 4o. ano. Foi pois reduzido há dois anos o curso primário
nessas escolas. Por motivo análogo, reduziu-se a três anos o curso nas
escolas distritais e urbanas isoladas. Foi conservado o curso completo, de
4 anos, nos grupos escolares e nas escolas urbanas reunidas (Mensagem
ao Congresso Mineiro, 1926, p. 73 – Arquivo Público Mineiro).
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