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Organização
Miguel Arroyo
MIGUEL ARROYO
Educador em diálogo com nosso tempo
Arroyo, Miguel
Miguel Arroyo : educador em diálogo com nosso tempo / textos sele-
cionados de Miguel Arroyo ; organização Paulo Henrique de Queiroz No-
gueira, Shirley Aparecida de Miranda. -- Belo Horizonte : Autêntica Editora,
2011. -- (Coleção Perfis da Educação, 5)
Bibliografia.
ISBN 978-85-7526-580-2
11-09650 CDD-370.92
Índices para catálogo sistemático:
1. Brasil : Educadores 370.92
11 Cronologia
13 Introdução
Reflexões sobre um mestre de nosso ofício:
nosso percurso com Miguel Arroyo
Paulo Henrique de Queiroz Nogueira
Shirley Aparecida de Miranda
33 Entrevista
Pensamento educacional e relações sociais
Textos selecionados
Sujeitos da Educação Básica
Período Atividade
1942-1950 Cursa escola pública no povoado Sotillo de la Ribera, em Burgos,
na Espanha.
1954-1959 Forma-se em Filosofia e Teologia no Instituto Hispanoameri-
cano de la Universidad Complutense de Madrid.
1960 Chega ao Brasil. Inicia a docência nos cursos de Educação
Média, Magistério e EJA.
1967-1970 Gradua-se em Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais
(FAFICH/UFMG).
1970-1974 Torna-se mestre em Ciências Políticas pela FAFICH/UFMG.
1972-1974 Leciona no Departamento de Ciências Sociais da FAFICH/
UFMG.
1975-1981 Torna-se PHD em Problemas Políticos da Educação pela
Stanford University, na Califórnia, Estados Unidos.
1976 Aprovado em concurso na Faculdade de Educação da UFMG
onde passa a fazer parte do corpo docente da graduação e
pós-graduação.
1985 É aprovado em concurso para professor titular da FAE/UFMG.
1990-1995 Torna-se membro da diretoria da ANPEd, onde coordena o
Grupo de Trabalho (GT) “Trabalho e Educação”. Membro do
GT “Movimentos Sociais e Educação” e do comitê científico
da ANPEd.
1991 Faz pós-doutorado na Universidad Complutense de Madrid.
1993-1997 Torna-se secretário municipal adjunto de Educação da Prefei-
tura de Belo Horizonte. Coordenador da elaboração e imple-
mentação da proposta Escola Plural.
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Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação, denominação adotada pela organização dos
trabalhadores em educação a partir da do Congresso de Unificação de 1991.
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Referências
ARROYO, Miguel González. Trabalho, educação e teoria pedagógica. In: G. FRI-
GOTTO. Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século. Petrópolis,
1998, p. 138-165.
ARROYO, Miguel González. Administração da educação, poder e participação.
Educação e Sociedade, São Paulo, v. 1, n. 2, jan. 1979, p. 36-46.
ARROYO, Miguel González. Operários e educadores se identificam: que rumos tomará
a educação brasileira? Educação e Sociedade, São Paulo, n. 05, jan./1980, p. 5-23.
ARROYO, Miguel González. Ciclos de desenvolvimento humano e formação de edu-
cadores. Educação e Sociedade. Campinas: CEDES, dez. 1999, v. 20, n. 68, p.143-162.
ARROYO, Miguel González. Da escola carente à escola possível. São Paulo: Loyola,
1986.
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Entrevista com o Prof. Miguel Arroyo realizada pela Profa. Shirley Aparecida de Miranda e pelo
Prof. Paulo Henrique de Queiroz Nogueira. A entrevista visa situar a produção do Prof. Miguel
Arroyo no contexto histórico, social e político em que se debate o pensamento educacional e
social brasileiro nas últimas décadas.
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Grupo diversificado de intelectuais espanhóis que, partidários de diferentes filiações teóricas,
podem ser reconhecidos como defensores de certos ideais humanistas em sua reflexão teórica e
que, no contexto espanhol de então, servem para aprofundar a oposição ao franquismo.
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Texto originalmente publicado em: SARMENTO, M. J.; GOUVEA, M. C. S. Estudos da infância:
educação práticas sociais. Rio de Janeiro: Vozes, 2008. p. 119-140.
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No livro Imagens quebradas – trajetórias e tempos de alunos e mestres, dedico a 2a parte às contri-
buições das ciências, das artes e das letras para o repensar da pedagogia, reconhecendo os tempos
e categorias geracionais.
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O Movimento de Educação Popular na década de 1960 e em particular Paulo Freire retomam o
ideal libertador da pedagogia, em obras como Educação como prática da liberdade; Pedagogia do
oprimido; Ação cultural para a liberdade.
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Referências
ARROYO, Miguel. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres.
Petrópolis: Vozes, 2004.
ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
GAGNEBIN, Janne Marie. Linguagem, memória e história. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
JAVEAU, Claude. Criança, infância(s), crianças. Que objetivo dar a uma ciência
social da infância? In: Revista Educação e Sociedade, Campinas, CEDES, v. 26,
n. 91. 2005.
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Texto originalmente publicado em: SOARES, L.; GIOVANETTI, M. A. G. C.; GOMES, N. L.
(Orgs.). Diálogos na Educação de Jovens e Adultos. 3 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. p. 19-50.
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Texto originalmente publicado em: BICUDO, M. A. V.; SILVA JUNIOR, C. A. Formação do
Educador: dever do Estado, tarefa da universidade. São Paulo: Editora da Unesp, 1996.
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Um profissional do aprender
as bases da cultura e do conhecimento
Insisto em que se trata de um campo de saber e especialização tão
complexo ou mais do que as tradicionais áreas e disciplinas. É o campo de
construção do projeto cultural para a infância, a adolescência e a juventude,
como idades de inserção nos saberes e na cultura. Falamos em projeto cultural
no sentido antropológico, e não apenas acadêmico, ou seja, pensamos em algo
mais do que os saberes tidos como significativos nos campos especializados
da academia. Esses terão de ser um dos componentes dos saberes, escolares
sobretudo na educação média. É um componente da formação do professor
dominar os conhecimentos e as destrezas de cada âmbito do saber produ-
zido socialmente. Mas não pode se esgotar aí a formação do profissional da
educação obrigatória.
O sentido antropológico de projeto cultural de Educação Básica com-
preende muito mais. Aos profissionais desse nível básico de educação tem de
ser familiar a cultura enquanto o conjunto de significados, crenças, valores,
representações, usos, condutas, expressões simbólicas, linguagens, formas
de relações entre os grupos humanos, diversidade cultural de gênero, classe,
raça. Em toda experiência escolar, sobretudo na Educação Básica, acontece
um processo de socialização e iniciação nesse campo cultural com maior
centralidade do que a inserção nos saberes da cultura acadêmica especia-
lizada. Não se trata de guardar esses saberes para poucos, mas entender e
dominar o que é próprio da formação de cada tempo humano, infância,
adolescência ou juventude. Entender que, dos saberes produzidos e acu-
mulados socialmente, se constitui em direito universal, obrigatório. Enfim,
entender a especificidade da Educação Básica que, historicamente, não se
configurou como o tempo de formar mini-historiadores, físicos, biólogos
ou gramáticos. Nem sequer se constitui para lançar os saberes básicos que
serão convenientes para acompanhar um curso superior em qualquer um
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Texto originalmente publicado em: Educação & Sociedade, ano XX, n. 68, p. 143-162, dez.1999.
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Comunicação apresentada no 2º Encontro Nacional de Supervisores de Educação, Curitiba, Outu-
bro/1979 e publicada na revista Educação e Sociedade, São Paulo, n. 05, p. 5-23, jan. 1980.
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A comunicação se refere ao contexto social, político e educacional brasileiro da década de 1970.
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Esse pressuposto tem sido marcante nas pesquisas, dissertações e teses do Programa de Pós-Graduação
da FaE-UFMG.
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A organização das camadas populares em ações e movimentos sociais urbanos já era significativa
na década de 1970, ainda em pleno regime autoritário e no despontar da abertura política.
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A pesquisa e a análise das relações entre educação e os movimentos populares e as pressões dos
trabalhadores tem se configurado como uma área central no Programa e como um GT da ANPEd.
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Esse fazer-se da classe operária enquanto processo de educação tem sido central no Programa,
pesquisar e aprofundar no papel histórico do movimento operário tão central no GT Trabalho e
Educação da ANPEd.
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Essas solidariedades entre trabalhadores do ensino e trabalhadores da produção se explicitavam
no final dos 1970, na diversidade de ações coletivas e de greves e na afirmação dos educadores
docentes como trabalhadores em educação e em organizações sindicais.
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Uma das bandeiras de luta do movimento docente será a gestão democrática da escola, diretas
para diretor, que marcará as reformas educativas dos 1980, reforçando o controle do trabalho.
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Mudanças na divisão do trabalho docente que vem mudando os protótipos de profissionais for-
mados nos cursos de pedagogia, de graduação e de pós-graduação, que mudaram os currículos de
formação, reforçando um profissional único e superando a função de formar especialistas, gestores.
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No final dos 1970 a Associação de Supervisores assim como de administradores já se colocavam
essas questões redefinindo sua função e somando com o movimento docente, fortalecendo lutas
e identidades profissionais coletivas comuns
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A FaE-UFMG, na graduação e na pós-graduação, tem estado nessas fronteiras de articulação
entre os processos de educação que se dão nas escolas e aqueles que se dão na diversidade de
movimentos sociais.
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Texto transcrito de gravação, apresentado na IV Conferência Brasileira de Educação (CBE),
Goiânia, em 1986, e originalmente publicado em: ANDE, n. 12, p. 16-21, 1989.
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Texto originalmente publicado em: Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 26, p. 23-38, dez. 1997.
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As linguagens do cotidiano
Como os setores populares, os funcionários públicos, os professores
fizeram avançar o aprendizado do direito à cidade? Que recursos pedagógicos,
que linguagens e símbolos eles usaram?
Durante os últimos anos os transeuntes da cidade se deparavam com
frequência com mensagens expostas nas ruas e avenidas, nas praças e escada-
rias, nas reportagens dos meios de comunicação. Eram linguagens e imagens
diretas vinculadas ao cotidiano de sua experiência urbana. Linguagens que
constatavam fatos do dia a dia, do ordinário/extraordinário da vida urbana,
da vida familiar, do trabalho, do bairro, da condução, do posto médico, da
escola, do professor de seus filhos.
Os cartazes, as palavras de ordem se revelavam como clipes de vivências
fortes da vida quotidiana para a maioria dos transeuntes: mais verbas, mais
postos de saúde, escola para todos, merenda, livros, defesa da escola pública,
salários para os professores. Uma espécie de reportagem representada, posta
em cena nas praças, nas escadarias das igrejas e nos espaços do poder, como
nas primeiras urbes gregas, romanas ou renascentistas. Como no teatro
popular, com sua temática quotidiana e sua linguagem direta.
Uma linguagem, apropriada ao aprendizado do direito à cidade, que leva
para a rua, para o trabalhador que volta para a casa, que espera o transporte
em longas filas, leva sua realidade quotidiana. Uma linguagem que explora as
vivências e os símbolos familiares a sua experiência popular, religiosa, lúdica
e escolar: coreografias, cartazes, desenhos, músicas populares, religiosas e do
tempo de escola, adaptadas para denunciar o cotidiano da cidade.
Insistimos no caráter pedagógico dessas linguagens e símbolos tão
frequentes nas últimas décadas, quando o campo da educação e da cultura
tiveram um papel de destaque: greves de professores, festivais de teatro, de
arte negra, o teatro de rua, a noite dos tambores, a marcha do Afoxé nos 300
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Referências
ARIES, Philippe. L’enfant et la vie familiale dans l’ancien regime. Paris: [s. ed.], 1973.
BRESCIANI, Maria Stella. Jogos da política: imagens, representações e práticas. São
Paulo: Marco Zero, 1992.
BRESCIANI, Maria Stella. A cidade das multidões, a cidade aterrorizada. In: PACH-
MAN, Robert (Org.). Olhares sobre a cidade. Rio de Janeiro: UFRJ, 1994. p. 9-42.
CASTELLS, Manuel. La ciudad y las masas: sociología de los movimientos sociales
urbanos. Madrid: Aleanza Universidad, 1986.
KONDER, Leandro. Um olhar filosófico sobre a cidade. In: PACHMAN, Robert
(Org.). Olhares sobre a cidade. Rio de Janeiro: UFRJ, 1994. p. 73-82.
LEFEBVRE, Henri. Le droit à la ville: anthopos. Paris: [s. Ed.], 1968.
SPOSITO, Marília. O povo vai à escola: a luta popular pela expansão do ensino público
em São Paulo. São Paulo: Loyola, 1984.
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Texto originalmente publicado em: FRIGOTTO, G. Educação e crise do trabalho: perspectivas de
final de século. Petrópolis: Vozes, 1998. p. 138-165.
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A análise das relações entre educação, trabalho e exclusão social nos leva
a um permanente olhar em duas direções, que terminam se encontrando.
De um lado, estar atentos às contraditórias transformações que precarizam
a vida de milhões de seres humanos, negando-lhes os direitos mais básicos:
olhar os brutais processos de desumanização a que são submetidos. De outro
lado, estar atentos às múltiplas manifestações de luta pelos direitos humanos,
às manifestações de mobilização coletiva vindas dos excluídos e oprimidos:
olhar os processos de humanização que se dão nos movimentos sociais e nas
experiências e lutas democráticas pela emancipação.
O primeiro olhar privilegia as análises dos vínculos entre trabalho
e educação, em que temos uma longa tradição. Análises que vão desde a
compreensão das determinações e restrições postas pela organização pro-
dutiva até a afirmação do trabalho como princípio educativo. Em comum
o reconhecimento da categoria trabalho na compreensão dos processos de
formação-deformação humana; o caráter histórico desses processos educa-
tivos e culturais vinculados a formas concretas de produção da existência.
Em comum ainda uma forte carga humanista nas análises: o destaque do
sentido desumano da divisão histórica do trabalho e do caráter deformador
e sufocante do domínio do processo de produção sobre os homens, e não
deles sobre as relações de produção.
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Texto originalmente publicado em: Currículo sem Fronteiras, v. 3, n. 1, p. 28-49, jan./jun. 2003.
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Vivências totalizantes
A pergunta que aflora: por que os movimentos sociais teriam essas
virtualidades educativas tão de raiz? Uma das suas características é seu
envolvimento totalizante. Quando em movimento, os sujeitos vivem em torno
do que e do como estão sendo; consequentemente, todas as dimensões de
sua condição existencial entram em jogo. Frequentemente sua vida é posta
à prova em situações de risco.
Nos momentos de mobilização se vivenciam situações-limite: de um
lado, como ponto de partida e motivação as carências existenciais no limite;
de outro lado, coletivos se articulam em processos de luta e reivindicação
tensos, arriscando o emprego, a segurança, a vida, a identidade. Muitos
dos movimentos sociais carregam a característica de ser vivências exis-
tenciais totais.
Parece-me ser por aí que Freire nos aponta quando nos diz que nesses
processos os seres humanos em movimento se colocam a dramaticidade de
ser humanos e se afirmam como sujeitos de decisão, se interrogam pelas
possibilidades e pelos limites de ser e viver como gente.
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