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Resumo: Este artigo apresenta reflexões críticas a respeito dos artefatos visuais
fotográficos dentro da perspectiva da Indústria Cultural e da Cultura Visual nas práticas
educativas. Uma análise das ideias filosóficas da Escola de Frankfurt com Theodor
Adorno e do filósofo Martin Jesus Barbero fundamentam as reflexões que podem abrir
possibilidades de uma educação emancipatória, como foi defendida pelo educador
brasileiro Paulo Freire. Questionamos a respeito da utilização das imagens e suas
possibilidades na prática escolar levando a refletir se a educação estaria associada a uma
lógica de produção do conhecimento, a partir de uma cultura pré estabelecida pela
própria Indústria Cultural ou se, essas mesmas imagens quando reproduzidas, estariam
ancoradas no viés da Cultura Visual. Reflexões sobre leitura imagética, alfabetização
visual e formação docente. Por fim, as ideias apresentadas baseiam e dão sustentação ao
trabalho com imagens diante das perspectivas de produção, elaboração, disseminação e
consumo Um contexto importante e significativo que revelará que as visualidades
tornam-se ferramentas de produção de conhecimento dentro do contexto escolar.
Abstract: This article presents critical analyses about photographic artifact and the
concepts of cultural industry, visual culture and its practices in the educational sector.
The philosophical ideas of Theodor Adorno from the Frankfurt School and the
philosopher Jesus Martin-Barbero underpin theories that support the idea of
emancipatory education, as backing by Brazilian pedagogue Paulo Freire. The article
raised questions about the use of images in the teacher and student practices. In this
context, education has been associated with a culture pre-defined by the cultural
industry as well as the technical reproduction has been associated with the premises of
the visual culture. Ideas about image reading, visual literacy and teacher training are
presented in order to explain the failure of educational system and its results in terms of
working with the image text. Finally, the ideas presented are based on image
manipulation in relation to the perspectives of its production, development,
dissemination e absorption. The visualisation process is therefore the most important
factor for the production of knowledge within the school environment.
Essa condição da imagem técnica, na qual a fotografia está inserida, cria a falsa
noção de que elas não necessitam ser decifradas. Seu significado estaria impresso de
forma perceptível e rapidamente scaneada aos nossos olhos. As representações de
mundo, postas e evidentes, reveladas por processos químicos e óticos sobre as
superfícies apresentam-se de maneira que a fotografia ganha também um caráter
objetivo. Nesse sentido, nós observadores tendemos a confiar nessas imagens tanto
quanto confiamos nas nossas verdades. Uma confiança no mínimo perigosa, pois, em se
tratando de imagens, estamos diante de um universo de símbolos e representações. Essa
cegueira nos distancia da percepção crítica que podemos ter quando estamos diante
desses artefatos. As fotografias, imagens criadas tecnicamente, se inserem neste espaço
e com certeza, são tão representativas como toda e qualquer imagem. Devem ser
consumidas e decifradas por quem deseja captar seu significado. Logo, a imagem
fotográfica emerge do campo técnico para o campo simbólico. Suas narrativas visuais
permitem leituras plurais onde a imagem se configura símbolo. Reverberam
mensagens, textos e produzem sentidos que permitem aos sujeitos interpretações das
mais diversas possíveis, pois:
Como se deu todo esse processo? Como se chegou a essa conclusão? Partiremos
agora das reflexões de Adorno sobre “Indústria Cultural”, as quais ele encaixa duas
linhas de entendimento: a primeira diz que essa nova força unifica as relações sociais,
suas dinâmicas e submissões ideológicas a partir da cultura, e para tanto, fez- se
necessário que essa mesma cultura se mostre de maneira unificada, em um sistema
único de produção sendo “despejada” através dos meios de comunicação. Estes estariam
submetidos à uma linha ideológica dos seus detentores e as “mesmas lógicas de
produção”(SAFATLE,2013).
Barbero (1997) avança afirmando que nem o povo e nem as classes desenham o
mundo contemporâneo no que diz respeito ao consumo da cultura. Revela então o
conceito de massa: um fenômeno psicológico pelo qual os indivíduos, por mais diferente
que seja seu modo de vida, suas ocupações ou seu caráter, "estão dotados de uma alma
coletiva que lhes faz comportar-se de maneira completamente distinta de como o faria
cada indivíduo isoladamente”. Ou seja, a massa é composta por sujeitos individuais,
compostos de consciência e liberdade, que , por serem dotados dessas características
mencionadas, revelam-se sujeitos subjetivos e por que não, complexos. Porém, quando
reunidos em esferas de coletividade emanam um perfil diferenciado. Logo, podemos
dizer que em se tratando de sujeito em corpo único, temos uma apresentação e, quando
esse mesmo sujeito, envolvido com demais outros, compõe o que chamaremos de
massa, ecoando outras vozes. A voz da massa. Essa massa, segundo Barbero, ganha
força e promove uma nova ideia de cultura, em um processo de disseminação de um
novo estilo de vida.
Esse novo estilo de vida reflete sobre como a massa vive essas novas “condições
de existência”, terreno fértil para o nascimento da então a chamada cultura popular, que
agora passa a ser observada em suas formas de produção e consumo. Hoje, essa função
mediadora dessa cultura popular é feita pelos meios de comunicação de massa:
televisão, internet, rádio, publicidade, etc. Nesse sentido, a fotografia se insere como
instrumento mediador desses meios de comunicação com a grande massa. A imagem
fotográfica emerge como produtora de cultura e/ou como mecanismo de condução das
massas.
Esse contorno dominante e impositivo desse “sistema” nos leva a concluir que
também cultura popular advém da relação entre os interesses econômicos do
capitalismo e de uma sociedade civil, que para sua sobrevivência, defende a alienação
do pensamento. Uma força que reflete a cultura como ferramenta e manutenção de
poder. Essas relações de poder possuem um caráter teleológico: o consumo pela massa.
Seria então, a Cultura Visual um estudo da história das imagens? Ou seria uma
área de estudo da imagem? SARDELICH (2006) indica que não. Não se trata de uma
disciplina acadêmica, nem do estudo da história da imagem na humanidade. Mas uma
tendência em visualizar a existência, pois “o visual é um lugar sempre desafiante de
interação social e definição em termos de classe, gênero, identidade sexual e racial”
(p.20).
Esse indicativo de que a Cultura Visual interessa-se pelo contemporâneo nos faz
questionar quanto às obras de arte clássicas, que de certa forma, apresentam-se como
objetos também visuais. Estariam elas também dentro desse contexto? Benjamim (1987)
traz essa explanação quando compara uma obra de arte com a fotografia. Em suma, ele
as diferencia indicando que a obra de arte possui uma “aura”, aquilo que a coloca numa
posição de singularidade, com características únicas que nenhum outro objeto tem,
assim como valores atribuídos a ele. Porém, se esta mesma obra de arte for reproduzida
tecnicamente e exposta pelos meios de comunicação de massa, estas sim, estarão
inseridas no contexto da Cultura Visual.
A imagem sempre foi um artefato muito utilizado por educadores nas suas
práticas educativas. Não raro, ouvimos relatos de docentes e discentes que estiveram
envolvidos e expostos a imagens como fonte de conhecimento de disciplinas através de
fotografias, do cinema, pinturas, dentre outros.
Um educador mais atento ao contexto das vivencias dos seus discentes vai
perceber que fotografias, das mais diversas pautas, fazem parte do dia a dia deles. Isso
se mostra nos programas de televisão e suas propagandas que assistem, nas redes sociais
das quais fazem parte (facebook, instagran, whatsap, twitter), vestimentas, jogos, dentre
outros artefatos. Para isso, é necessário que estejamos conectados com esse meio para
sabermos aproveitar essas ferramentas e transforma-las em possibilidades de trabalho
pedagógico que refletirão no que chamei anteriormente de “aprendizagem
significativa.” (GOMES, ...) Nesse sentido, o contato com o visual se configura uma
ação de conhecimento que se internaliza nos sujeitos, pois:
Las situaciones de enseñanza también favorecen el aprendizaje, sobre todo,
cuando están bien articuladas; pero en cualquier circunstancia sólo ocurre
verdaderamente el aprendizaje cuando la actividad es signifi cativa, cuando la
experiencia es “encarnada”. (...) El acto de enseñar es externo y su acción no
asegura abordar al sujeto en esta intencionalidad, siendo ésta la intención del
educador. Pero el aprendizaje, a su vez, lo es; en el sentido que se produce un
encuentro con el conocimiento que se procesa en el interior de lãs personas. A
partir de este momento, la relación entre lectura de los visual y el aprendizaje
signifi cativo se activa pues el texto visual favorece el desarrollo de la
experiencia en el nivel del significado personal. (GOMES, 2012, p. 140)
Continuo ainda com FREIRE (1986) quando afirma que “A prática docente
crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o
fazer e o pensar sobre o fazer.” A partir dessa ideia é que defendo que a prática docente
na utilização de imagens fotográficas deve partir da orientação de inferências e
interferências. O fazer docente “para realizar novas mediações, novas interseções.
Mediar uma relação que já é mediada. Procurar dar sentido ao que já vem marcado por
um sentido posto.” (GOMES, 2008).
Esse sentido posto ao qual GOMES (1998) se refere pode se configurar como
aquilo que está explícito, claro, diante dos olhos, o óbvio. Porém, a leitura das imagens
fotográficas invade uma outra configuração, naquilo que só as correlações, o
conhecimento de mundo do leitor, o contexto da elaboração da imagem (histórico,
geográfico, social, etc) revelam. É nesse espaço que a prática docente entra como
articuladora e mediadora, nesse processo de intelecção, desbravando essa “floresta” de
símbolos que é o mundo das imagens, capitando assim as intenções dos
pronunciamentos visuais. Planos de aula, projetos e propostas podem ser pensados. A
fotografia ganha então uma aderência simbólica nas práticas escolares. Ela ganha uma
serventia educativa.
Essa desconfiança significa dizer que nem tudo que está exposto na imagem é o
seu fiel discurso. Pode ser o contrário. Nesse processo de leitura das imagens, outros
conceitos, discursos, vozes e ideologias podem ser capturados, realizando o que
GOMES (2008) chama de “preenchimento de vazios semânticos”. O resultado dessa
atividade semântica é a fundamentação do nosso projeto de pesquisa que investiga a
fotografia enquanto aderência simbólica em pautas de exclusão. A fotografia ganha um
caráter, uma serventia. No caso, uma serventia para a educação, proporcionando uma
verdadeira mudança no fazer e pensar docente, que, refletirá em resultados positivos não
apenas nas atividades didáticas, mas na reflexão a respeito do valor simbólico dessas
imagens fotográficas para a escola, construindo uma educação independente e
libertadora.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BENJAMIN, Walter. Magia Técnica, Arte e Política .Ensaios sobre literatura e história
da cultura. Brasiliense. São Paulo. 1987.
FLUSSER, V. 2002. Filosofia da Caixa Preta: ensaios para uma filosofia da fotografia. Rio de
Janeiro, Relume Dumará. 82 p.10
______________. Antes Ver para Crer, Hoje Digitalizar para acreditar: a fotografia e o gozo
estético da cultura visual. Domínios da Imagem, Londrina, ano Vi, n. 11, p. 111-120, novembro,
2012.
______________.https://www.academia.edu/31137791/DA_INDUSTRIA_CULTURAL_A_C
ULTURA_VISUAL_CONTEMPORANEA_esclarecimentos_sobre_FotografiaMemoria_e_Pod
er (2016).