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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 3ª VARA DE

ENTORPECENTES DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DO BRASÍLIA– DF

Processo: 2018.01.1.024262-3 (0005317-77.2018.8.07.0001)

JEFERSON DE ASSIS PAIVA, já devidamente qualificados nos autos em


epígrafe, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por intermédio dos advogados
e estagiários do Núcleo de Assistência Jurídica do UniCEUB, nos termos do art. 600, §4º, do
CPP, apresentar:

RAZÕES DA APELAÇÃO

Contra sentença de fls. 142/146v., em que o apelante foi condenado à pena


definitiva de 01 (um) ano e 08 (oito) meses de reclusão e multa em regime inicial aberto para
o cumprimento de pena, sendo substituída por duas restritivas de direitos.

Assim, requer-se que, após manifestação do membro do Ministério Público, sejam


os autos encaminhados ao Egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
uma vez que foram atendidos todos os pressupostos de admissibilidade.

Termos em que,
Pede deferimento.
Brasília/DF, 23 de setembro de 2019.

Daniel Maranhão Gomes Tiago dos Santos Nascimento


Advogado NPJ/UniCEUB Estagiário NAJ Recursal/CEUB
OAB/DF n° 47.312 RA 21508835

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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS

Recorrente: JEFERSON DE ASSIS PAIVA


Recorrido: MINISTÉRIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITORIOS
Processo: 2018.01.1.024262-3 (0005317-77.2018.8.07.0001)

RAZÕES DE APELAÇÃO

Colenda Turma Criminal,


Eminente Relator,

1. DOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE

1.1 Do cabimento e adequação

A apelação é o recurso cabível contra a sentença condenatória, nos termos do art.


593, inc. I, do CPP. Dessa forma, tal instrumento é o meio adequado para impugnar o
pronunciamento judicial.

Assim, a sentença é o pronunciamento judicial definitivo que põe fim ao processo


cognitivo, na forma do art. 203, § 1º, do CPC.

1.2 Do interesse recursal

Nos termos do art. 593, inc. I, do CPP, o apelante tem interesse recursal, visto que
não concorda com a sentença condenatória proferida.

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1.3 Da tempestividade

O prazo legal para interposição é de 5 (cinco) dias e para as razões é de 8 (oito)


dias, nos moldes dos artigos 593 e 600 do Código de Processo Penal.

Assim, os recorrentes tomaram ciência da sentença em 26/08/2019 (fls. 152),


sendo interposto o recurso de apelação em 29/08/2019 (fl. 153) e as razão serão apresentadas
em 23/09/2019.

2. DOS FATOS

O recorrente foi acusado pela prática do crime previsto no art. 33, caput, da Lei n.
11.343/2006, conforme a denúncia (fl. 02).
Em 03 de outubro de 2018, a denúncia foi recebida (fl. 86).
O acusado foi devidamente citado (fl. 89), ocasião em que a defesa ofereceu a
defesa prévia do réu (fl. 84).
Na instrução, o depoimento das testemunhas foi colhido e, por fim, o acusado foi
interrogado.
Intimados as partes, o Ministério Público apresentou suas alegações finais (fls.
132/134), pleiteando a condenação do recorrente nos termos da denúncia, com a hipótese de
diminuição de pena prevista no art. 33, §4º, da Lei 11.343/06.
A defesa, por sua vez, apresentou seus memorais (fls. 137/140), aduzindo a
absolvição do réu, a desclassificação do crime e a dosimetria conforme os parâmetros legais.
Por fim, o magistrado de primeiro grau proferiu a sentença (fls. 142/146v.), na
qual condenou o recorrente à pena definitiva de 01 (um) ano e 08 (oito) meses de reclusão e
multa em regime inicial aberto para o cumprimento de pena, sendo substituída por duas
restritivas de direitos.

3. DAS RAZÕES RECURSAIS

3.1 Da absolvição pelo in dubio pro reo

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A absolvição é o instituto processual que permite ao magistrado absolver o
acusado quando verificadas as hipóteses legais previstas nos incisos do art. 386 do CPP.
Dessa forma, o juiz de primeiro grau ao se manifestar sobre a questão assim se pronunciou:

“[...] Assim, a meu ver, embora não se tenha imagens do momento da venda da
droga ao usuário abordado, foi captado o momento em que o Réu se dirigiu ao beco,
da forma como testemunhada pelos policiais e narrado pelo usuário na Delegacia.
Destaque-se ainda que é incontroverso que, com o usuário, havia uma pedra de
"crack", tudo a corroborar suas declarações na fase inquisitorial, em especial com
relação ao traficante que lhe atendera.
Ademais, o usuário reconheceu formalmente o Acusado como a pessoa que lhe
vendera a porção de "crack" que trazia consigo no momento de sua abordagem,
conforme auto de reconhecimento de pessoa de fl. 54.
Aliás, neste tocante, cumpre registrar que a eventual não observação das
formalidades previstas no artigo 226 do Código de Processo Penal, não causa a
nulidade do reconhecimento.
[...]
Em sendo assim, a meu ver, o cotejo do conjunto probatório não permite dúvidas de
que o Réu vendeu uma porção de "crack" para o usuário Luiz Cezar Ribeiro de
Sousa.
No que se refere à maconha, tendo em conta a pequena quantidade e o fato de estar
guardada no interior da residência do Acusado, pela informação da testemunha no
sentido de que o Réu guardava as drogas que vendia em uma lixeira, além de não ter
sido afastada a possibilidade de ser usuário, como informara aos policiais, deve ser
considerada que era destinada ao consumo pessoal do Denunciado.
Enfim, como sabido, o tráfico de drogas é um delito praticado na clandestinidade e é
tipificado pela prática de várias condutas por ser um exemplo dos chamados crimes
de ação múltipla, ou seja, aquele em que o tipo faz referência a várias modalidades
de ação, bastando que uma dessas modalidades seja praticada para estar
caracterizada a conduta delituosa.
Ora, pelo tipo penal que o Acusado responde, tem-se que trafica entorpecentes quem
importa ou exporta, remete, prepara, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda
ou oferece, tem em depósito, transporta, traz consigo, guarda, prescreve, ministra ou
entrega, de qualquer forma, a consumo substância entorpecente ou que determine
dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar.
Diante desse contexto e pela prova colhida nos autos, não há como se negar à prática
pelo Acusado da conduta criminosa em uma das modalidades indicadas na denúncia,
qual seja venda de substância proibida (crack).” (fls. 144v./145v.)
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Excelências, tais fundamentos não podem subsistir, porque as circunstâncias
fáticas do caso não demonstram que o agente, de fato, vendeu as drogas. Com base nos
depoimentos dos polícias, identifica-se que em nenhum momento o apelante foi filmado
realizando a venda do produto ilícito. O que se sabe é que apenas os agentes públicos
alegaram em seus depoimentos que viram o agente entregar a droga, contudo não há qualquer
prova nos autos que corrobore com a versão dos referidos agentes públicos.
Quanto ao usuário de drogas abordado pelos polícias, ao ser questionado de quem
comprou o produto ilícito, é claro que tal indivíduo iria apontar para a pessoa específica que
os agentes públicos indicaram como o possível autor do crime por medo das consequências
que pudessem lhe acontecer.
Além disso, a quantia em dinheiro encontrada com o recorrente não leva a crer um
suposto tráfico de drogas perpetrado pelo acusado, uma vez que não foi encontrado nenhuma
droga com apelante, apenas dinheiro.
Diante das dúvidas a respeito da prática de tráfico de drogas, o recorrente merece
ser absolvido pelo princípio da dúvida em favor do réu (in dubio pro reo).

Nesse sentido, a jurisprudência 2ª Turma Criminal do TJDFT:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. ROUBO QUALIFICADO. EMPREGO DE


ARMA E CONCURSO DE AGENTES. GÊMEOS IDÊNTICOS. RECURSO DA
DEFESA. PROVAS INSUFICIENTES DA AUTORIA. PROVAS NÃO
JUDICIALIZADAS. IN DUBIO PRO REO. RECURSO PROVIDO.
1. Quando nenhum elemento judicializado é capaz de comprovar a autoria dos
crimes narrados na denúncia, não há falar em decreto condenatório, exigindo-se a
evocação do princípio do in dubio pro reo, uma vez que condenação nenhuma pode
firmar-se apenas em elementos inquisitoriais e inconsistentes, mas sim em provas
judicializadas, firmes e induvidosas sobre a autoria e materialidade.
[...]
3. Recurso provido para absolver os recorrentes, com fundamento no art. 386, inciso
VII, do Código de Processo Penal.
(Acórdão n.560012, 20060610016818APR, Relator: SILVÂNIO BARBOSA DOS
SANTOS, Revisor: JOÃO TIMÓTEO DE OLIVEIRA, 2ª Turma Criminal, Data de
Julgamento: 12/01/2012, Publicado no DJE: 23/01/2012. Pág.: 210)

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Pelo exposto, requer-se a absolvição do recorrente pelo in dubio pro reo, nos
termos do art. 386, inc. VII, do CPP

3.2 Da desclassificação do delito

A desclassificação é o instituto processual penal que permite ao magistrado


modificar a capitulação delitiva, de acordo com o acervo probatório dos autos.

Na hipótese dos autos, a droga encontrada na residência do recorrente não


corrobora para a suposta prática do crime de tráfico de drogas, tendo o apelante adquirido o
produto ilícito para o consumo próprio por ser usuário.

Dessa forma, o recorrente, em tese, apenas seria responsabilizado por ser usuário
de drogas, conforme prevê o art. 28, § 2º, da Lei 11.343/06, uma vez que o agente foi
encontrado com pequena quantidade de drogas em sua residência e sem utensílios para a
prática da traficância, como balança de precisão e outros objetos.

Ademais, cabe ressaltar que o apelante é primário e de bons antecedentes, não


tendo envolvimento com o tráfico de drogas. Assim, o recorrente merece a desclassificação do
crime para usuário de drogas.

Nesse sentido, posiciona-se a jurisprudência da 1ª Turma Criminal do Tribunal de


Justiça do Distrito Federal (TJDFT):

PENAL - POSSE DE ENTORPECENTE - DESCLASSIFICAÇÃO DE


TRÁFICO DE DROGAS PARA USO PRÓPRIO - RECURSO DO MP -
IMPROVIMENTO - FALTA DE PROVAS DA MERCANCIA.
I - A apreensão de pequena quantidade de drogas em abordagem policial
aleatória, a ausência de utensílios utilizados no tráfico e a falta de abordagem
de suposto adquirente são indicativos de que a droga era para consumo
próprio.
II - Ausente a prova inconteste do tráfico, correta a sentença que desclassifica a
infração para uso próprio. Não é suficiente a probabilidade do cometimento do
delito. A dúvida acerca da destinação das drogas apreendidas se resolve em favor do
réu.
III - Apelo improvido.

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(Acórdão 729692, 20130110567862APR, Relator: SANDRA DE SANTIS,
Revisor: ROMÃO CÍCERO, 1ª Turma Criminal, data de julgamento: 24/10/2013,
publicado no DJE: 4/11/2013. Pág.: 198)

Portanto, requer-se a desclassificação de tráfico de drogas para usuário de


entorpecentes, na forma do art. 28, § 2º, da Lei 11.343/06.

3.3 Da suspensão da multa e das custas em razão da hipossuficiência

Inicialmente, importa esclarecer que a defesa está satisfeita com a dosimetria feita
na sentença condenatória pelo magistrado de primeiro grau.

Assim, insurge-se a defesa apenas para que seja suspensa a condenação dos
dias-multa e custas processuais nos autos. Isso porque o recorrente é hipossuficiente, sendo
patrocinado pelo Núcleo de Prática de Assistência Jurídica do UniCEUB, o que faz presumir
sua carência econômica e financeira.

Dessa forma, requer-se o afastamento dos dias-multas e das custas processuais.

4. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, espera e confia o recorrente no conhecimento e provimento


do recurso de apelação, para:

a) Absolver o recorrente pelo princípio in dubio pro reo, nos termos do art.
386, VII, do CPP;
b) Desclassificar o crime de tráfico de drogas para usuário de entorpecentes,
previsto no art. 28, § 2º, da Lei 11.343/06;
c) Suspender a multa e das custas processuais.

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Brasília/DF, 23 de setembro de 2019.

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Daniel Maranhão Gomes Tiago dos Santos Nascimento
Advogado NPJ/UniCEUB Estagiário NAJ Recursal/CEUB
OAB/DF n° 47.312 RA 21508835

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