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Direito Civil - Sucessões

Prof. Luciano Medeiros

Bibliografia

Básica:

 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro - vol. VII - Direito


das Sucessões. Saraiva. 7ª Ed. 2014.
 GOMES, Orlando. Direito das Sucessões. Rio de Janeiro: Forense. 14ª
Ed. 2012.
 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil – Direito das
Sucessões. vol. 6. Saraiva. 40ª Ed. 2011.

Complementar:

 HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito de Sucessões.


São Paulo: RT, 2013, v. 8
 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. Vol. VI. 40ª
Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
 NOGUEIRA, Cláudia Almeida. Direito das Sucessões – Comentários à
Parte Geral e à Sucessão Legítima. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2009
 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 17ª ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2013. v.6.
 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Sucessões. 5ª ed. Rio de Janeiro:
Forense 2013.

Sugeridas:

 BEVILAQUA, Clóvis. Código Civil comentado. Rio de Janeiro: Francisco


Alves, 1939.
 CAHALI, Francisco José/ HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes.
Curso Avançado de Direito Civil – v. 6: São Paulo: Revista dos
Tribunais: 3ªEd. 2007.
 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Saraiva: São Paulo 2006.
v. 6.
 COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga. São Paulo: Martin Claret, 2001.
 COVIELO, Leonardo. Successione legitima e necessária. Milão: Giuffrè,
1937
 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. Vol. VI. Direito das
Sucessões. São Paulo: Saraiva, 25ª Ed. 2010.
 ENGELS, F. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado.
in: MARX, K E ENGELS, F. OBRAS ESCOLHIDAS. SÃO PAULO:
EDITORA ALFA-OMEGA
 GOMES, Orlando: Direito Civil. Sucessões. Rio de Janeiro: Forense,
2007.
 MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado. 60v. Rio de Janeiro:
Borsoi, 1973.

1
 NADER, Paulo. Curso de Direito Civil – Direito das Sucessões. V. 6. Rio
de Janeiro: Forense. 4ª Ed. 2010.
 NONATO, Orosimbo. Estudo sobre sucessão testamentária. Vol. I a III.
Rio de Janeiro: Forense, 1957.
 PLANIOL, Marcel & RIPERT, Georges. Traité Elémentaire de Droit Civil.
Paris, Lisbraire Générale de Droit et de Jurisprudence, 1937.
 PORTO, Mário Moacyr. Teoria da aparência e herdeiro aparente. Ação
de Responsabilidade Civil e outros estudos. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1966.
 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Vol VII. 28ª ed. São Paulo: Saraiva,
2003.
 RUGGIERO, Roberto de. Instituições de Direito Civil. Vol.III . São Paulo:
Saraiva, 1973.
 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Vol. VI. 10ª ed. São Paulo: Atlas,
2010
 WALD, Arnoldo. Direito das Sucessões.14ª ed. São Paulo: Saraiva,
2009.

Jurisprudência de leitura obrigatória:

 Sucessão do cônjuge e do companheiro: RE 878.694/MG; REsp


1.117.563/SP; REsp 1.085.646/RS
 Regime de Bens e regras sucessórias: REsp 954.567/PE;
 Cessão, Renúncia e Doação inoficiosa: REsp 1.217.154/DF
 Direito Real de Habitação: REsp 1.184.492/SE; REsp 1.204.347/DF;
REsp 1.212.121/RJ; REsp 1.125.901/RS; REsp 821.660/DF;
 Sucessão de colaterais e direito de representação: REsp 1.064.363/SP;
 Rompimento de Testamento: REsp 1.169.636/MG; AgRg no REsp
229.064/SP;
 Sonegação de bens e má-fé: REsp 1.267.264/RJ
 Fideicomisso e substituição vulgar, fideicomissária e compendiosa:
REsp 1.221.817/PE

Avaliação

 Duas provas escritas, sem consulta à legislação. A primeira será centrada na


sucessão legítima e a segunda será centrada na sucessão testamentária.

o Primeira Prova: 24/04/2019

o AMC: 21/05/2019

o Segunda Prova: 13/06/2019

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Sumário
1. Vínculo jurídico familiar..............................................................................................8
1.1. Casamento.......................................................................................................... 9
1.2. União estável.......................................................................................................9
1.3. Parentesco........................................................................................................10
2. Regime de bens.......................................................................................................15
2.1. Pacto antenupcial..............................................................................................17
2.2. Espécies de regime de bens.............................................................................18
2.2.1. Comunhão parcial de bens.........................................................................18
2.2.2. Comunhão universal de bens.....................................................................20
2.2.3. Participação final nos aquestos..................................................................20
2.2.4. Separação de bens.....................................................................................23
2.3. Bens excluídos..................................................................................................24
2.4. Disposições comuns a todos os regimes de bens.............................................24
3. Aspectos históricos do Direito das Sucessões.........................................................27
4. Classificação (lato sensu)........................................................................................29
4.1. Quanto à origem................................................................................................29
5. Classificação (strictu sensu)....................................................................................29
5.1. Quanto às formas fundamentais........................................................................29
5.2. Quanto às espécies...........................................................................................31
5.3. Quanto à abrangência.......................................................................................31
6. Sujeitos de direito....................................................................................................32
7. Disposições gerais acerca do fenômeno sucessório................................................33
7.1. Conceituação do fenômeno sucessório.............................................................33
7.2. Princípio da saisine...........................................................................................33
7.3. Posse e possessão hereditária..........................................................................34
7.4. Momentos do fenômeno sucessório..................................................................34
7.4.1. Primeiro momento: abertura da sucessão...................................................34
7.4.2. Segundo momento: devolução sucessória ou delação...............................35
7.4.3. Terceiro momento: aquisição da herança ou adição...................................35
8. Delação (ou devolução sucessória).........................................................................37
8.1. Aceitação...........................................................................................................37
8.2. Renúncia...........................................................................................................39
9. Cessão de direitos hereditários................................................................................44

3
10. Disposições gerais a respeito da vocação hereditária...........................................47
10.1. Conceito.......................................................................................................... 47
10.2. Pressupostos da vocação hereditária..............................................................47
10.2.1. Pressupostos fáticos.................................................................................47
10.2.2. Pressuposto jurídico.................................................................................50
10.2.3. Pressupostos negativos............................................................................51
11. Vocação hereditária na sucessão legítima.............................................................64
11.1. Disposições gerais..........................................................................................64
11.2. Regras da vocação hereditária na sucessão legítima.....................................66
11.2.1. Regras gerais da vocação hereditária na sucessão legítima....................66
11.2.2. Modo de suceder......................................................................................66
11.2.3. Modos de partilhar....................................................................................67
11.3. Tipos de herdeiros...........................................................................................68
11.3.1. Herdeiros legítimos...................................................................................68
11.3.2. Herdeiros necessários..............................................................................69
11.3.3. Herdeiros facultativos................................................................................69
12. Direito de representação........................................................................................70
12.1. Limites do direito de representação.................................................................72
12.2. Extensão do direito de representação.............................................................73
12.3. Pressupostos do direito de representação......................................................74
13. Herança jacente e herança vacante.......................................................................75
13.1. Herança jacente..............................................................................................75
13.2. Herança vacante.............................................................................................79
14. Sucessão dos colaterais........................................................................................81
14.1. Ordem de vocação hereditária........................................................................81
14.2. Modos de suceder...........................................................................................82
14.3. Modos de partilhar e a exceção da concorrência entre irmãos bilaterais e
irmãos unilaterais.....................................................................................................83
14.4. Concorrência entre colaterais de terceiro grau: sobrinhos e tios.....................84
15. Sucessão dos descendentes.................................................................................85
15.1. Aspectos históricos..........................................................................................85
15.2. Modos de suceder...........................................................................................86
15.3. Modos de partilhar...........................................................................................87
16. Sucessão dos ascendentes...................................................................................87
16.1. Aspectos históricos..........................................................................................87
16.2. Modos de suceder...........................................................................................88

4
16.3. Modos de partilhar...........................................................................................88
17. Sucessão do cônjuge.............................................................................................89
17.1. Aspectos históricos..........................................................................................89
17.2. Regime de bens..............................................................................................91
17.2.1. Comunhão parcial de bens.......................................................................91
17.2.2. Comunhão universal de bens...................................................................92
17.2.3. Participação final nos aquestos.................................................................92
17.2.4. Separação de bens...................................................................................93
17.3. Ordem de vocação hereditária........................................................................93
17.4. Pressupostos para a sucessão do cônjuge.....................................................95
17.5. Modos de suceder...........................................................................................96
17.6. Modos de partilhar...........................................................................................97
17.7. Direito real de habitação..................................................................................99
18. Sucessão do companheiro...................................................................................101
18.1. Aspectos históricos........................................................................................101
18.2. Modos de suceder.........................................................................................104
18.3. Modos de partilhar.........................................................................................105
18.4. Companheiro como herdeiro necessário.......................................................107
18.5. Direito real de habitação................................................................................107
19. Sucessão testamentária.......................................................................................110
19.1. Aspectos históricos........................................................................................110
19.2. Sistemas jurídicos.........................................................................................111
19.3. Testamento...................................................................................................112
19.4. Características do negócio jurídico................................................................113
19.5. Pressupostos da sucessão testamentária.....................................................114
19.6. Capacidade testamentária ativa....................................................................115
19.7. Capacidade testamentária passiva................................................................115
20. Testamento.......................................................................................................... 120
20.1. Formas (tipos de testamento)........................................................................120
20.2. Testamento público.......................................................................................121
20.3. Testamento cerrado......................................................................................125
20.4. Testamento particular....................................................................................128
20.5. Testamento marítimo e testamento aeronáutico............................................129
20.6. Testamento militar.........................................................................................131
21. Codicilos.............................................................................................................. 134
21.1. Formalidades.................................................................................................134

5
21.2. Codicilos e testamento..................................................................................135
22. Disposições testamentárias.................................................................................135
22.1. Espécies de disposições testamentárias.......................................................136
22.2. Disposições restritivas (ou “cláusulas restritivas”).........................................137
22.3. Cláusulas restritivas sobre a legítima do herdeiro necessário.......................138
22.4. Regra da separabilidade das disposições.....................................................139
22.5. Disposições nulas ou anuláveis.....................................................................140
22.6. Distribuição dos quinhões testamentários.....................................................142
23. Legados............................................................................................................... 145
23.1. Classificação dos legados.............................................................................146
23.1.1. Legado de coisas....................................................................................146
23.1.2. Legado de crédito...................................................................................149
23.1.3. Legado de alimentos...............................................................................150
23.1.4. Legado de usufruto.................................................................................151
23.1.5. Legado alternativo..................................................................................152
23.1.6. Legado com encargo..............................................................................153
23.2. Forma de aquisição dos legados...................................................................154
23.3. Caducidade dos legados...............................................................................155
24. Substituições........................................................................................................157
24.1. Classificação das substituições.....................................................................157
24.1.1. Substituição vulgar..................................................................................158
24.1.2. Substituição recíproca.............................................................................158
24.1.3. Substituição fideicomissária....................................................................159
24.2. Conjunção.....................................................................................................160
24.3. Direito de acrescer........................................................................................161
24.3.1. Direito de acrescer entre herdeiros.........................................................161
24.3.2. Direito de acrescer entre co-legatários...................................................162
24.4. Sub-rogação do substituto nos encargos impostos ao substituído................163
25. Redução das disposições testamentárias............................................................165
25.1. Excesso de liberalidade.................................................................................165
25.2. Procedimento da redução das disposições testamentárias...........................165
25.3. Redução incidente sobre prédio indivisível....................................................166
26. Revogação e rompimento do testamento.............................................................168
27. Sonegados e colação...........................................................................................171
27.1. Conceitos básicos.........................................................................................171
27.2. Espécies de colação......................................................................................173

6
27.3. Dispensa de colação.....................................................................................175
27.4. Renúncia e colação.......................................................................................176
27.5. Sonegados....................................................................................................176
28. Inventário............................................................................................................. 179
28.1. Procedimento................................................................................................179

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------------------------------ CAPÍTULO I – SUCESSÃO LEGÍTIMA -------------------------------
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Aula 1 – 13/02/2019

Programa – Aula 1

1. Vínculo jurídico familiar


1.1. Casamento
1.2. União estável
1.3. Parentesco
2. Regime de bens
2.1. Pacto antenupcial
2.2. Espécies de regime de bens
2.2.1. Comunhão parcial de bens
2.2.2. Comunhão universal de bens
2.2.3. Participação final nos aquestos
2.2.4. Separação de bens
2.3. Bens excluídos
2.4. Disposições comuns a todos os regimes de bens

1. Vínculo jurídico familiar

 Entendimento: entender o vínculo jurídico familiar é necessário para que se


compreendam os reflexos patrimoniais dos institutos jurídicos e, a partir deles,
os efeitos sucessórios. Há três elementos básicos que fazem com que se
reconheça o vínculo jurídico familiar. Eles são:

o (i) Casamento

o (ii) União estável

o (iii) Parentesco:

 (a) Natural (aquele estabelecido em razão dos vínculos


biológicos, de consanguinidade)

 (I) Linha reta: podendo ser ascendentes ou


descendentes.

 (II) Linha colateral: até o 4º grau.

 (b) Civil (aquele estabelecido em razão da lei):

 (I) Adoção

 (II) Afinidade

8
 (III) Outras origens

1.1. Casamento

 Conceito: com base no Código Civil, é possível conceituar o casamento como


o instituto civil pelo meio do qual, atendidas as solenidades legais (habilitação,
celebração e registro), estabelece, entre duas pessoas, a comunhão plena de
vida em família, com base na igualdade de direitos e deveres (art. 1.511, CC),
vinculando os cônjuges, mutuamente, como consortes e companheiros entre si,
responsáveis pelos encargos da família. De maneira resumida, o casamento
consiste na entidade familiar constituída com base no atendimento das
solenidades legais.

o É importante observar que o casamento não é uma forma de


constituição de parentesco, mas sim de constituição de vínculo jurídico
familiar.
[CC] Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de
vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

 Reflexo patrimonial do casamento: o art. 1.829, III, CC, é o dispositivo legal


que gera o reflexo patrimonial do casamento. Este instituto, portanto, gera
reflexos sucessórios.

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)
(...)
III - ao cônjuge sobrevivente;

1.2. União estável

 Conceito: é a convivência (i) pública; (ii) contínua e duradoura e (iii) com o


objetivo de constituir família, de duas pessoas, sem vínculo matrimonial, mas
convivendo como se casados fossem, sob o mesmo teto ou não, constituindo,
assim, sua família de fato (art. 1.723, CC). A união estável é uma forma de
constituir família reconhecida pela Constituição Federal (art. 226, §3º, CF) e
pelo Código Civil (arts. 1.723 e 1.725, CC) e não pode ser verificada na
constância de quaisquer dos impedimentos do art. 1.521, CC. Mesmo sendo
diferente do casamento, esse regime também traz uma série de deveres e
direitos.

o É importante observar que a união estável não é uma forma de


constituição de parentesco, mas sim de constituição de vínculo jurídico
familiar.

[CF/88] Art. 226 da CF/88 – A família, base da sociedade, tem


especial proteção do Estado.
(...)

9
§3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar,
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

[CC] Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união


estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência
pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família.

[CC] Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os


companheiros, aplica-se à relações patrimoniais, no que couber, o
regime da comunhão parcial de bens.

[CC] Art. 1.521. Não podem casar:


I os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco
natural ou civil;
II os afins em linha reta;
III o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado
com quem o foi do adotante;
IV os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até
o terceiro grau inclusive;
V o adotado com o filho do adotante;
VI as pessoas casadas;
VII o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou
tentativa de homicídio contra o seu consorte.

 Reflexo patrimonial da união estável: o art. 1.829, III, CC, é o dispositivo


legal que gera o reflexo patrimonial da união estável. Este instituto, portanto,
gera reflexos sucessórios.

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)
(...)
III - ao cônjuge sobrevivente;

1.3. Parentesco

 Entendimento: o parentesco se organiza em “linhas” e “graus”. Junto ao


casamento e à união estável, é uma forma de estabelecimento de vínculo
jurídico familiar.

 Linhas de parentesco: as linhas de parentesco podem ser de dois tipos, (i)


linhas retas e (ii) linhas colaterais.

o (i) Linha reta: é uma linha, centrada em um indivíduo, que cresce para
cima e para baixo, infinitamente. A linha é reta quando a relação se dá
entre uma pessoa e seus ascendentes e descendentes (art. 1.591, CC).
O casamento sempre é impossível na linha reta, mas, para fins de
sucessão, a herança só vai até o 4º grau (tataranetos não herdam).

10
 Parentes em linha reta, portanto, são aqueles que fazem parte
do mesmo tronco familiar, com descendência uns para com os
outros, seja para cima (ascendentes) ou para baixo
(descendentes). Na linha reta, não há limites para o parentesco.

[CC] Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão
umas para com as outras na relação de ascendentes e
descendentes.

o (ii) Linha colateral: a linha é colateral quando os parentes se relacionam


mediante um ancestral comum. Na linha colateral o parentesco existe
até o 4º grau (art. 1.592, CC). O casamento não é possível até o 3º grau
na linha colateral e é por isso que primos (que são parentes de 4º grau)
podem casar.

 Parentes em linha colateral, portanto, são aqueles que fazem


parte do mesmo tronco familiar, mas sem descendência uns
para com os outros.

[CC] Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal,


até o quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem
descenderem uma da outra.

 “Grau” de parentesco: o grau de parentesco é o nível de parentesco de um


indivíduo com outro, contado a partir da progressão (ou “pulos”) dados na linha
reta e na linha colateral. Tratam-se, portanto, dos números de gerações que
separam um indivíduo de outro.

o Contagem do grau de parentesco: a contagem de parentesco sempre


começa no indivíduo central (aquele do qual se quer auferir o
parentesco) e, a cada “pulo” na linha, se aumenta 1 (um) grau. Para ter
o direito de “pular” para uma linha colateral, no entanto, é necessário ir
até o ascendente comum (art. 1.594, CC).

11
[CC] Art. 1.594. Contamse, na linha reta, os graus de parentesco
pelo número de gerações, e, na colateral, também pelo número
delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e
descendo até encontrar o outro parente.

12
Observação: Parentesco transversal. Muitas vezes, a doutrina usa
os termos “parentesco colateral” e “parentesco transversal”, como
sinônimos, contudo, trata-se de uma simplificação equivocada. O termo
“parentesco transversal”, se refere, unicamente, ao parentesco com
irmãos. Enquanto isso, o parentesco colateral se refere a todos os
parentes que se relacionam mediante um ancestral comum, até o 4º
grau.

 Tipos de parentesco: os tipos de parentesco previstos no Código Civil são


dois, na forma do art. 1.593, CC. Eles são:

[CC] Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte


de consangüinidade ou outra origem.

o (i) Parentesco consanguíneo (ou “parentesco natural”): existente entre


pessoas que mantém um vínculo biológico ou se sangue (art. 1.593,
CC). Este tipo de parentesco gera reflexos patrimoniais e, portanto,
gera reflexos sucessórios, tanto na linha reta ascendente (art. 1.829,
I, CC), linha reta descendente (art. 1.829, II, CC), quanto na linha
colateral (art. 1.829, IV, CC).

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
(...)
IV - aos colaterais.

o (ii) Parentesco civil: é aquele que decorre de outras formas de filiação, a


exemplo da adoção ou da filiação socioafetiva (art. 1.593, CC). Ele
pode se dar de três formas:
[CC] Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte
de consangüinidade ou outra origem.

 (a) Adoção: é um vínculo de parentesco civil, em linha reta, que


estabelece, entre o adotante e o adotado, um vínculo legal de
paternidade e filiação civil, sem diferenciação com relação aos
filhos naturais (art. 227, §§ 5º e 6º, CF, art. 1.596, CC, e art. 41,
Lei 8.069/90, ECA). Este tipo de parentesco gera reflexos
patrimoniais e, portanto, gera reflexos sucessórios (art. 1.829, I,
CC), justamente em razão da vedação à discriminação quanto à
origem da prole.

[CF/88] Art. 227, CF. (...)

13
(...)
§5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da
lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por
parte de estrangeiros.
§6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por
adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

[CC] Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de


casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

[Lei 8.069/90, ECA] Art. 41. A adoção atribui a condição de filho


ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive
sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes,
salvo os impedimentos matrimoniais.

 (b) Afinidade: é o vínculo de parentesco civil existente entre um


cônjuge ou companheiro e os parentes do outro cônjuge ou
companheiro (art. 1.595, CC). Este tipo de parentesco não gera
reflexos patrimoniais e, portanto, não gera reflexos sucessórios.

[CC] Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos


parentes do outro pelo vínculo da afinidade.

 (c) Outras origens: a exemplo da reprodução assistida


heteróloga, ou do vínculo socioafetivo. OS reflexos sucessórios
variam de caso para caso.

Observação: Parentesco na reprodução assistida. A


reprodução assistida pode ser homóloga (produto biológico
doado pelo próprio pai) ou heteróloga (produto biológico
doado por um terceiro).
Quando é homóloga, o parentesco do filho com o pai é
consanguíneo, natural (art. 1.597, III e IV, CC), e, portanto,
gera reflexos patrimoniais e sucessórios.
Quando é heteróloga, o parentesco do filho com o pai
é civil (art. 1.597, V, CC). Há necessidade de consentimento
do cônjuge que não doará seu material genético, para que
ocorra a reprodução assistida usando material genético do
outro cônjuge, e, portanto, via de regra, a reprodução
assistida heteróloga gera reflexos patrimoniais e
sucessórios.

[CC] Art. 1.597. Presumemse concebidos na constância do


casamento os filhos:
(...)
III havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que
falecido o marido;

14
IV havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões
excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
V havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que
tenha prévia autorização do marido.

Observação: Parentesco na socioafetividade. A


socioafetividade, por si só, não dá origem a qualquer vínculo
jurídico. Ela é, contudo, um meio que pode possibilitar o
reconhecimento posterior do vínculo jurídico. Só haverá, no
entanto, reflexo de ordem patrimonial, caso o vínculo jurídico
seja reconhecido judicialmente, o que pode ocorrer tanto
inter vivos, quanto post mortem.

2. Regime de bens

 Entendimento: o regime de bens é o conjunto de regras que disciplina as


relações econômicas entre os cônjuges ou conviventes durante o casamento
ou a união estável.

o (i) Momento de opção do regime de bens no casamento: no caso do


casamento, o momento correto de se fazer a opção pelo regime de
bens é o momento da abertura e entrega da documentação (primeira
fase do processo de habilitação para o casamento), frente ao
escrevente do Cartório, de acordo com o art. 1.639, caput, CC. O
regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do
casamento (art. 1.639, §1º, CC).
[CC] Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o
casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver.
§1º O regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar
desde a data do casamento.

o (ii) Momento de opção do regime de bens na união estável: no caso da


união estável, não há momento correto para se fazer a opção pelo
regime de bens, visto que a definição pode ser feita no próprio contrato
de União Estável (também chamado de “contrato de convivência”), sem
a necessidade de maiores formalidades para alterações, além do
simples registro da mudança contratual em Cartório. O grande
problema da união estável se dá quando esta é feita sem contrato, de
modo que se torna complicado, em caso de dissolução litigiosa, a
definição do momento de início da união.

 Princípios básicos do regime de bens: as relações de regime de bens


devem se submeter a três princípios básicos, que são:

o (i) Princípio da irrevogabilidade: com base neste princípio, também


conhecido como princípio da imutabilidade, a escolha do regime de
bens é irrevogável, de modo a garantir o interesse dos cônjuges e de
terceiros, evitando que uma parte abuse de sua posição para obter
vantagens em seu benefício. Esta imutabilidade não é, no entanto,

15
absoluta de acordo com o art. 1.639, §2º, CC, que permite a mudança
de regime mediante autorização judicial, frente a pedido motivado de
ambos os cônjuges, desde que devidamente apuradas as razões e
ressalvados os direitos de terceiros. É importante salientar que tal
motivação não pode ser sustentada unilateralmente ou por iniciativa de
apenas um dos cônjuges, em processo litigioso, posto que a redação do
artigo traz a expressão “de ambos”.

[CC] Art. 1.639. (...)


(...)
§2º É admissível alteração do regime de bens, mediante
autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges,
apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os
direitos de terceiros.

o (ii) Princípio da livre estipulação: este princípio pode ser extraído do art.
1.639, caput, CC, bem como do art. 1.640, parágrafo único, CC, o qual
permite aos nubentes a escolha do regime de bens antes da celebração
do casamento.

 Exceções ao princípio da livre estipulação: como exceções a


este princípio, existem hipóteses de expressa fixação do regime
de bens por lei, listadas no art. 1.641, CC. Eles são:

 (a) Casamento das pessoas que o contraírem com


inobservância das causas suspensivas da celebração do
casamento;
 (b) Casamento da pessoa maior de 70 anos;
 (c) Casamento de todos os que dependerem, para casar,
de suprimento judicial.

Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento,


estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver.

Art. 1.640. (...)


Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de
habilitação, optar por qualquer dos regimes que este código
regula. Quanto à forma, reduzirseá a termo a opção pela
comunhão parcial, fazendose o pacto antenupcial por escritura
pública, nas demais escolhas.

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no


casamento:
I das pessoas que o contraírem com inobservância das causas
suspensivas da celebração do casamento;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela
Lei nº 12.344, de 2010)
III de todos os que dependerem, para casar, de suprimento
judicial.

16
o (iii) Princípio da variedade de regimes: o princípio da variedade de
regimes se materializa no fato de que a lei autoriza aos nubentes
selecionar um dentre os quatro regimes que podem ser adotados.

2.1. Pacto antenupcial

 Entendimento: o pacto antenupcial é um contrato solene e condicional, por


meio do qual os nubentes dispõem sobre o regime de bens que vigorará entre
ambos, após o casamento, exigível apenas no caso de casamento (não se faz
necessário pacto antenupcial na união estável) e somente quando o regime
será diverso da regra geral (disposta no art. 1.640, caput, CC), que é o regime
da comunhão parcial de bens (a ser detalhado na subseção 10.2.1).

o Neste pacto antenupcial, portanto, os cônjuges elegem o regime de


bens a ser adotado. Se este pacto não for concretizado, ou for
considerado nulo ou ineficaz, a lei estabelece que o regime a ser
adotado será o da comunhão parcial de bens, também chamada de
“regra legal”, ou “regra supletiva”.
[CC] Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou
ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da
comunhão parcial.

 Características do pacto antenupcial: o pacto antenupcial tem duas


características básicas. Elas são:

o (i) Solenidade: o pacto antenupcial é dito “solene”, porque só será


considerado válido se realizado por escritura pública (art. 1.653, CC).

[CC] Art. 1.653. É nulo o pacto antenupcial se não for feito por
escritura pública, e ineficaz se não lhe seguir o casamento.

o (ii) Condicional: o pacto antenupcial é dito “condicional”, porque sua


eficácia depende da efetiva realização do casamento. Após assinado, o
pacto vale por 90 dias. Se o casamento não for realizado neste período
de tempo, o pacto é considerado revogado.

 Capacidade para promover o pacto antenupcial: a capacidade exigida para


promover o pacto antenupcial é a mesma exigida para celebrar o casamento e,
sendo assim, os menores precisarão da autorização dos pais para casar e de
sua assistência para ajustar o pacto. Se o pacto antenupcial for produzido por
menor de idade, ele terá sua eficácia condicionada à aprovação de seu
representante legal, salvo se o regime escolhido for o da separação de bens
(art. 1.654, CC).
[CC] Art. 1.654. A eficácia do pacto antenupcial, realizado por
menor, fica condicionada à aprovação de seu representante legal,
salvo as hipóteses de regime obrigatório de separação de bens.

17
 Validade do pacto antenupcial: o pacto será considerado válido contra
terceiros quando registrado em livro especial do registro de imóveis do
domicílio dos cônjuges. Desta forma, se não registrado, o regime valerá
apenas entre os nubentes e, contra terceiros, será considerado que o regime
adotado foi o da comunhão parcial (art. 1.657, CC).

[CC] Art. 1.657. As convenções antenupciais não terão efeito


perante terceiros senão depois de registradas, em livro especial, pelo
oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges.

2.2. Espécies de regime de bens

 Entendimento: são quatro as espécies de regime de bens possíveis no


ordenamento jurídico brasileiro. Eles são:

o (i) Comunhão parcial de bens;

o (ii) Comunhão universal de bens;

o (iii) Participação final nos aquestos;

o (iv) Separação de bens.

2.2.1. Comunhão parcial de bens

 Entendimento: este regime estabelece que os bens adquiridos antes da


celebração do casamento não serão considerados bens comuns entre os
cônjuges (art. 1.658, CC). Sendo assim, ele institui a separação dos bens
passados (que o cônjuge possuía antes do casamento) e comunhão quanto
aos bens futuros (que virão a ser adquiridos durante o casamento).

o Deste regime, portanto, decorrem três massas de bens: (i) os comuns,


pertencentes ao casal, que são ditos comunicáveis; (ii) os bens de um
dos cônjuges ou companheiros e (ii) os bens do outro cônjuge ou
companheiro, sendo os dois últimos ditos incomunicáveis, ou seja, que
constituem o patrimônio particular (bens particulares) de cada um dos
cônjuges (art. 1.661, CC). Importa ressaltar que frutos de bens
particulares, percebidos durante a sociedade conjugal, são
considerados bens comuns e, portanto, comunicáveis.

 É importante denotar que os bens incomunicáveis não são


apenas os adquiridos antes da celebração do casamento, mas
também todos aqueles adquiridos a título gratuito (por doação
ou sucessão) e os sub-rogados em seu lugar, isto é, os bens
contraídos pela alienação daqueles que tiverem sido recebidos a
título gratuito (art. 1.659, CC).
[CC] Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicamse os
bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as
exceções dos artigos seguintes.

18
[CC] Art. 1.659. Excluemse da comunhão:
I os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe
sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou
sucessão, e os subrogados em seu lugar;
II os bens adquiridos com valores exclusivamente
pertencentes a um dos cônjuges em subrogação dos bens
particulares;
III as obrigações anteriores ao casamento;
IV as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão
em proveito do casal;
V os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de
profissão;
VI os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII as pensões, meiossoldos, montepios e outras rendas
semelhantes.

[CC] Art. 1.661. São incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver


por título uma causa anterior ao casamento.

 A comunhão parcial de bens como “regra supletiva”: se os nubentes não


escolherem regime diverso no pacto antenupcial, ou se o regime adotado for
nulo ou ineficaz, o regime da comunhão parcial de bens será o regime
estabelecido por lei (art. 1.640, CC). O regime de separação de bens, no
entanto, e obrigatório em certas hipóteses (art. 1.641, CC):

o (a) Quando os nubentes deixarem de observar as causas suspensivas


da celebração do casamento;

o (b) Se pelo menos um dos nubentes for pessoa maior de 70 anos;

o (c) Se pelo menos um dos nubentes depender, para casar, de


suprimento judicial.

[CC] Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou


ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da
comunhão parcial.

[CC] Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no


casamento:
I das pessoas que o contraírem com inobservância das causas
suspensivas da celebração do casamento;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela
Lei nº 12.344, de 2010)
III de todos os que dependerem, para casar, de suprimento
judicial.

 Responsabilidade pelos débitos na comunhão parcial: a responsabilidade


pelos débitos adquiridos na constância do casamento é de ambos os cônjuges
ou companheiros, e a administração do patrimônio comum compete a qualquer
um deles (art. 1.664, CC)

19
[CC] Art. 1.664. Os bens da comunhão respondem pelas
obrigações contraídas pelo marido ou pela mulher para atender aos
encargos da família, às despesas de administração e às decorrentes
de imposição legal.

2.2.2. Comunhão universal de bens

 Entendimento: neste regime, todos os bens dos nubentes irão se comunicar


após a celebração do casamento, independentemente de serem atuais ou
futuros, e mesmo que adquiridos em nome de um único cônjuge, assim como
as dívidas adquiridas antes do casamento. Somente não se comunicarão os
bens expressamente excluídos pela lei ou por convenção das partes no pacto
antenupcial (art. 1.667, CC). Por ser considerado um regime convencional,
deve ser expressamente firmado no pacto antenupcial.

[CC] Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a


comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e
suas dívidas passivas, com as exceções do artigo seguinte.

2.2.3. Participação final nos aquestos

 Entendimento: este regime é misto, pois, durante o casamento, se aplicam


todas as regras da separação total de bens e, após sua dissolução, se aplicam
as regras da comunhão parcial de bens. Assim como o regime da comunhão
universal, este nasce da convenção, devendo ser expressamente firmado no
pacto antenupcial. Este regime é pouco utilizado na prática, muito em razão de
sua complexidade.

[CC] Art. 1.672. No regime de participação final nos aqüestos,


cada cônjuge possui patrimônio próprio, consoante disposto no artigo
seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal,
direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na
constância do casamento.

o Os bens que cada cônjuge já possuía ao casar serão incluídos no


patrimônio próprio (bens próprios, que são bens particulares), assim
como aqueles bens por ele adquiridos, a qualquer título, desde que na
constância do casamento. Cada cônjuge ficará responsável pela
administração de seus bens e poderá aliená-los livremente, quando se
tratarem de bens móveis, sendo essa a principal diferença desse
regime de bens com relação à comunhão parcial de bens.

[CC] Art. 1.673. Integram o patrimônio próprio os bens que cada


cônjuge possuía ao casar e os por ele adquiridos, a qualquer título,
na constância do casamento.
Parágrafo único. A administração desses bens é exclusiva de
cada cônjuge, que os poderá livremente alienar, se forem móveis.

20
o (*) Caso ocorra a dissolução do casamento, deverá ser apurado o
montante dos aquestos e excluir da soma dos patrimônios próprios dos
cônjuges (art. 1.674, CC):

 (i) os bens anteriores ao casamento;

 (ii) os bens que, em seu lugar, se sub-rogaram;

 (iii) os bens que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou


liberalidade;

 (iv) as dívidas relativas a esses bens.

[CC] Art. 1.674. Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal,


apurarseá o montante dos aqüestos, excluindose da soma dos
patrimônios próprios:
I os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se
subrogaram;
II os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou
liberalidade;
III as dívidas relativas a esses bens.
Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumemse
adquiridos durante o casamento os bens móveis.

o Se os cônjuges adquiriram bens pelo trabalho conjunto, cada um terá


direito a uma quota igual no condomínio ou no crédito por aquele modo
estabelecido (art. 1.679, CC), de acordo com o diagrama que segue.

 Não sendo de uso pessoal de um cônjuge, as coisas móveis


serão presumidas do domínio do cônjuge devedor, em face de
terceiros. Já os bens imóveis são de propriedade do cônjuge
cujo nome consta no registro (art. 1.681, CC).

[CC] Art. 1.679. No caso de bens adquiridos pelo trabalho


conjunto, terá cada um dos cônjuges uma quota igual no condomínio
ou no crédito por aquele modo estabelecido.

[CC] Art. 1.681. Os bens imóveis são de propriedade do cônjuge


cujo nome constar no registro.
Parágrafo único. Impugnada a titularidade, caberá ao cônjuge
proprietário provar a aquisição regular dos bens.

21
o Em respeito a um princípio de ordem pública, que não pode ser
contrariado pela vontade das partes, o direito à meação não é
renunciável, cessível ou penhorável na vigência do regime matrimonial
(lembrando-se que a meação é definida como a metade ideal de um
patrimônio comum). Quando da dissolução do regime de bens por
divórcio, o montante dos aquestos deverá ser verificado à data em que
cessou a convivência (arts. 1.682 e 1.683, CC).

[CC] Art. 1.682. O direito à meação não é renunciável, cessível ou


penhorável na vigência do regime matrimonial.

[CC] Art. 1.683. Na dissolução do regime de bens por separação


judicial ou por divórcio, verificarseá o montante dos aqüestos à data
em que cessou a convivência.

o Não sendo possível ou sendo inconveniente a divisão dos bens


adquiridos por esforço conjunto, deverá ser calculado o valor de alguns
ou de todos para que o cônjuge não-proprietário o reponha em dinheiro
(art. 1.684, caput, CC).
 A ressalva desta disposição está no art. 1.684, parágrafo único,
CC, que dispõe que, em não sendo possível realizar a reposição
em dinheiro, serão avaliados e, mediante autorização judicial,
alienados tantos bens quantos bastarem.

[CC] Art. 1.684. Se não for possível nem conveniente a divisão de


todos os bens em natureza, calcularseá o valor de alguns ou de todos
para reposição em dinheiro ao cônjuge nãoproprietário.
Parágrafo único. Não se podendo realizar a reposição em
dinheiro, serão avaliados e, mediante autorização judicial,
alienados tantos bens quantos bastarem.

22
 Pacto antenupcial no regime de participação final nos aquestos: como já
visto anteriormente, assim como o regime da comunhão universal, o regime de
participação final nos aquestos nasce da convenção, devendo ser
expressamente firmado no pacto antenupcial. No pacto antenupcial, que adotar
este regime, será possível convencionar, também, acerca da livre disposição
dos bens imóveis, desde que particulares (art. 1.656, CC).

[CC] Art. 1.656. No pacto antenupcial, que adotar o regime de


participação final nos aqüestos, poderseá convencionar a livre
disposição dos bens imóveis, desde que particulares.

 Dívidas no regime de participação final nos aquestos: as dívidas de um dos


cônjuges, quando superiores à sua meação, não obrigam ao outro, ou a seus
herdeiros (art. 1.658, CC).

[CC] Art. 1.686. As dívidas de um dos cônjuges, quando


superiores à sua meação, não obrigam ao outro, ou a seus herdeiros.

2.2.4. Separação de bens

 Entendimento: neste regime cada cônjuge continua proprietário exclusivo de


seus próprios bens, assim como mantém-se na integral administração destes,
podendo aliená-los e gravá-los de ônus real livremente, independentemente de
ser o bem móvel ou imóvel. Ela pode ser:

o (i) Separação de bens convencional;

o (ii) Separação de bens legal (ou obrigatória).

[CC] Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, estes


permanecerão sob a administração exclusiva de cada um dos
cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real.

 Separação de bens convencional: também chamada de separação de bens


pactuada, trata-se da modalidade de separação de bens em que os cônjuges
ou companheiros concordam em continuarem proprietários exclusivos de seus
próprios bens, assim como em se manterem, individualmente, na integral
administração destes bens, podendo aliená-los e gravá-los de ônus real
livremente, independentemente de ser o bem móvel ou imóvel (art. 1.688, CC).

[CC] Art. 1.688. Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir


para as despesas do casal na proporção dos rendimentos de seu
trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto
antenupcial.

 Separação de bens legal: também chamada de separação de bens


obrigatória, esta modalidade independe do pacto antenupcial, posto que este

23
regime é determinado por lei. O art. 1.641, CC, estabelece que este regime é
obrigatório no casamento:

o (i) das pessoas que se casarem com inobservância das causas


suspensivas da celebração do casamento (art. 1.523, CC);

o (ii) da pessoa maior de setenta anos;

o (iii) de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.

[CC] Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no


casamento:
I das pessoas que o contraírem com inobservância das causas
suspensivas da celebração do casamento;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela
Lei nº 12.344, de 2010)
III de todos os que dependerem, para casar, de suprimento
judicial.

Observação: Contribuição para as despesas do casal no regime de


separação e bens. É importante denotar que, mesmo no regime de
separação de bens, seja ela legal ou convencional, é mantido o dever de
ambos os cônjuges de contribuir para as despesas do casal na proporção dos
rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em sentido
contrário no pacto antenupcial.

2.3. Bens excluídos

 Entendimento: de acordo com o art. 1.668, CC, são excluídos da comunhão:

o (i) os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e


os sub-rogados em seu lugar;

o (ii) os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro


fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva;

o (iii) as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de


despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum;

o (iv) as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a


cláusula de incomunicabilidade;

o (v) os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.

[CC] Art. 1.668. São excluídos da comunhão:


I os bens doados ou herdados com a cláusula de
incomunicabilidade e os subrogados em seu lugar;
II os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro
fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva;
III as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de
despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum;

24
IV as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao
outro com a cláusula de incomunicabilidade;
V Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.

[CC] Art. 1.659. Excluemse da comunhão:


(...)
V os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de
profissão;
VI os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII as pensões, meiossoldos, montepios e outras rendas
semelhantes.

2.4. Disposições comuns a todos os regimes de bens

 Atos permitidos e possíveis limitações: o art. 1.642, CC, traz os atos que
ambos os cônjuges ou companheiros podem praticar livremente,
independentemente do regime de bens, enquanto o art. 1.647, CC, traz as
limitações a estes atos.

[CC] Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o


marido quanto a mulher podem livremente:
I praticar todos os atos de disposição e de administração
necessários ao desempenho de sua profissão, com as limitações
estabelecida no inciso I do art. 1.647;
II administrar os bens próprios;
III desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido
gravados ou alienados sem o seu consentimento ou sem
suprimento judicial;
IV demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou
a invalidação do aval, realizados pelo outro cônjuge com infração
do disposto nos incisos III e IV do art. 1.647;
V reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou
transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado
que os bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se
o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos;
VI praticar todos os atos que não lhes forem vedados
expressamente.

[CC] Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos


cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da
separação absoluta:
I alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III prestar fiança ou aval;
IV fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns,
ou dos que possam integrar futura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos
filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada.

[CC] Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente,


suprir a outorga, quando um dos cônjuges a denegue sem motivo
justo, ou lhe seja impossível concedêla.

25
 Decretação de invalidade dos atos de outro cônjuge ou companheiro: de
acordo com os arts. 1.649 e 1.650, CC, a falta de autorização, não suprida pelo
juiz, quando necessária, tornará anulável o ato praticado, podendo o outro
cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de terminada a
sociedade conjugal. Adicionalmente, a decretação de invalidade dos atos
praticados sem outorga, sem consentimento, ou sem suprimento do juiz, só
poderá ser demandada pelo cônjuge a quem cabia concedê-la, ou por seus
herdeiros.

[CC] Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz,


quando necessária (art. 1.647), tornará anulável o ato praticado,
podendo o outro cônjuge pleitearlhe a anulação, até dois anos depois
de terminada a sociedade conjugal.
Parágrafo único. A aprovação torna válido o ato, desde que feita
por instrumento público, ou particular, autenticado.

[CC] Art. 1.650. A decretação de invalidade dos atos praticados


sem outorga, sem consentimento, ou sem suprimento do juiz, só
poderá ser demandada pelo cônjuge a quem cabia concedêla, ou por
seus herdeiros.

 Dano sofrido por terceiro prejudicado por negócio jurídico praticado por
um dos cônjuges ou companheiros: nos casos de reivindicação de imóveis
que tenham sido gravados ou alienados sem o consentimento do outro
cônjuge, ou sem suprimento judicial; ou em casos de demanda pela rescisão
dos contratos de fiança e doação, ou de invalidação do aval, realizados pelo
outro cônjuge com infração de fiança ou doação, o terceiro que for prejudicado
por sentença favorável ao autor terá direito regressivo contra o cônjuge, que
realizou o negócio jurídico, ou seus herdeiros (art. 1.646, CC).

[CC] Art. 1.646. No caso dos incisos III e IV do art. 1.642, o


terceiro, prejudicado com a sentença favorável ao autor, terá direito
regressivo contra o cônjuge, que realizou o negócio jurídico, ou seus
herdeiros.

 Extinção do regime de bens: qualquer regime de bens será considerado


extinto (i) pela morte de um dos cônjuges; (ii) pela nulidade ou anulação do
casamento; ou (iii) pelo divórcio (art. 1.571, CC).

[CC] Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:


I pela morte de um dos cônjuges;
II pela nulidade ou anulação do casamento;
III pela separação judicial;
IV pelo divórcio.

26
Aula 2 – 14/02/2019

Programa – Aula 2

3. Aspectos históricos do Direito das Sucessões


4. Classificação (lato sensu)
4.1. Quanto à origem
5. Classificação (strictu sensu)
5.1. Quanto às formas fundamentais
5.2. Quanto às espécies
5.3. Quanto à abrangência
6.Sujeitos de direito

3. Aspectos históricos do Direito das Sucessões

 Sistemática da Antiguidade: na Antiguidade, o direito de suceder estava


diretamente ligado a uma questão religiosa, ou seja, tinha direito à sucessão
aquele que se comprometesse a continuar a construção de fé do sucedido.

 Sistemática dos romanos: os romanos, por sua vez, estabeleceram uma


relação direta entre família e sucessão em razão da morte, incluindo uma
relação preferencial (precursora da moderna “ordem de vocação hereditária”).
Na primeira posição sucessória, os filhos estavam no topo da pirâmide de
preferência e, caso não houvessem filhos, seriam chamados os demais
descendentes. Em segundo lugar, seriam chamados os pais e, e, seguida,
outros parentes ascendentes. Em terceiro lugar, seriam chamados os irmãos e,
depois, outros parentes colaterais.

 Sistemática dos portugueses: os portugueses adotaram as bases da


sistemática romana e criaram quatro classes sucessórias. A primeira continha
os descendentes. A segunda continha os ascendentes. A terceira continha os
parentes em linha colateral, até o 10º (décimo) grau. Por último, a quarta
classe sucessória continha o cônjuge sobrevivente. Dentro de cada classe
sucessória, teriam preferência aqueles que estivessem em grau mais próximo
do falecido. Tratava-se, portanto, de sistemática que valorizava os vínculos de
consanguinidade em proporção significativamente maior do que os vínculos de
afetividade (dada a posição de pouca preferência do cônjuge sobrevivente).

 Sistemática brasileira: a sistemática portuguesa chegou ao Brasil por meio


das Ordenações Filipinas e se manteve inalterada até o advento do Decreto nº
1.839/1907. Este decreto envolvia cinco classes sucessórias. A primeira
continha os descendentes. A segunda continha os ascendentes. A terceira
continha o cônjuge sobrevivente (em ascensão de prioridade, com relação às
Ordenações Filipinas). A quarta continha os parentes em linha colateral até o
6º (sexto) grau de parentesco. A quinta continha o Estado. Dentro de cada
classe sucessória, mantinha-se a preferência daqueles que estivessem em
grau mais próximo do falecido.

27
o Mais tarde, foi alterada a limitação dos parentes em linha colateral até o
4º (quarto) grau de parentesco.

o No Código Civil de 2002, o art. 1.829, CC, traz a ordem de vocação


hereditária que atualmente se utiliza, incluindo a possibilidade de
elevação do cônjuge à sucessão concorrente com os ascendentes, na
segunda posição sucessória. Adicionalmente, exclui-se a quinta classe
sucessória, habilitando-se o Estado apenas quando se esgotem todas
as possibilidades de sucessão. O Estado, portanto, não é herdeiro
legítimo (pois herdeiro legítimo é somente aquele que consta da ordem
de vocação hereditária), mas pode ser sucessor.

 Ordem de vocação hereditária moderna: o art. 1.829, CC, traz a ordem de


vocação hereditária que atualmente se utiliza. Tem-se:

o (i) Descendentes: em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo


se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no
da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único, CC), ou
se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver
deixado bens particulares;

o (ii) Ascendentes: em concorrência com o cônjuge;

Observação: Sucessão concorrente do cônjuge. O cônjuge


somente concorre com os descendentes em certos casos,
dependendo do regime de bens. Contudo, o cônjuge sempre
concorre com os ascendentes, independentemente do regime de
bens.

o (iii) Cônjuge sobrevivente: as regras para o cônjuge (originado do


casamento) são as mesmas para as regras do companheiro (originado
da união estável). Anteriormente, o art. 1.790, CC, disciplinava regime
sucessório diferenciado para o companheiro, contudo, esse dispositivo
foi declarado inconstitucional pelo STF, de modo que houve
equiparação entre companheiro e cônjuge, com base na Constituição
de 1988.

o (iv) Parentes em linha colateral.

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

28
[CC] Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da
sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na
vigência da união estável, nas condições seguintes: (Vide Recurso
Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694)
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota
equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança,
tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a
um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade
da herança.

4. Classificação (lato sensu)

 Entendimento: a relação jurídica de sucessão é uma ocupação de um


indivíduo no lugar do outro, uma substituição.

4.1. Quanto à origem

 Entendimento: de maneira ampla (lato sensu), a sucessão pode ser


classificada quanto à origem em “intervivos” ou “mortis causa”.

o (i) Intervivos: é o fenômeno sucessório que tem origem em um negócio


jurídico, uma negociação entre vivos. Pode se assemelhar a uma
compra e venda, ou a uma doação, por exemplo.

o (ii) “Mortis causa”: é o fenômeno sucessório que tem origem no


fenômeno da morte. Usar o termo “causa mortis” é semanticamente
impróprio, visto que se refere à causa da morte, enquanto “mortis
causa” se refere à “em razão da morte”.

5. Classificação (strictu sensu)

 Entendimento: em sentido estrito, diversas são as formas de classificação da


sucessão. As seções seguintes abordarão as principais classificações.

5.1. Quanto às formas fundamentais

 Entendimento: a classificação em sentido estrito quanto às formas


fundamentais não se aplica à sucessão intervivos, somente à sucessão mortis
causa. A doutrina identifica três formas fundamentais para os fenômenos
jurídicos envolvidos na sucessão mortis causa. Elas são:

o (i) Concentração obrigatória: trata-se do sistema sucessório que


restringe a sucessão a determinada situação fática. Exemplos são a
concentração da herança nas mãos do homem (comum em países de
religião islâmica), ou a concentração da herança nas mãos do
primogênito.

29
o (ii) Divisão necessária: nessa sistemática, a herança é dividida entre
tantas pessoas quantas forem capazes de herdar, ou seja, entre tantas
quantas comprovarem o preenchimento de determinadas condições
previstas em lei. Essa é a sistemática que melhor se aproxima do
sistema brasileiro, contudo, esse sistema também leva em conta a
vontade testamentária.

o (iii) Liberdade testamentária: nessa sistemática, a herança é de livre


disposição, por meio do instrumento jurídico do testamento. Um
exemplo é a legislação dos Estados Unidos (isso torna possível,
inclusive, que um animal de estimação herde na frente de um
descendente).

 Sistemática adotada no Brasil: para a doutrina majoritária, a sistemática que


melhor se aproxima do sistema brasileiro é a divisão necessária.

o (i) Doutrina majoritária: a doutrina majoritária entende que o Brasil adota


a sistemática da divisão necessária.

 Para essa corrente, o Brasil não adota a liberdade


testamentária, visto que, caso o de cujus tenha herdeiros
necessários (na forma do art. 1.845, CC), essa liberdade estará
mitigada à metade de sua herança, na forma do art. 1.789, CC.
Assim, se há mitigação, não há liberdade testamentária.

 (*) Importa ressaltar que nem todo herdeiro legítimo é


necessário, mas nem todo herdeiro necessário é
legítimo. Com a equiparação do companheiro e do
cônjuge, pelo STF, no entanto, os herdeiros necessários
são os descendentes, os ascendentes, o cônjuge e o
companheiro. Se a pergunta, no entanto, for no sentido
de quais os herdeiros necessários para o Código Civil, o
companheiro não entrará, visto que a equiparação é uma
construção jurisprudencial.

 Caso o de cujus não tenha herdeiros necessários, no entanto, a


liberdade testamentária será total e o valor completo da herança
poderá ser disposto na forma do negócio jurídico testamental.

[CC] Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só


poderá dispor da metade da herança.

[CC] Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os


ascendentes e o cônjuge.

o (ii) Doutrina minoritária: a doutrina majoritária entende que o Brasil


adota um sistema híbrido, composto pela sistemática da divisão
necessária e pela sistemática da liberdade testamentária mitigada. As

30
críticas da doutrina majoritária se concentram no fato de que, se há
mitigação, não há total liberdade testamentária.

5.2. Quanto às espécies

 Entendimento: quanto às espécies, a sucessão pode ser de três tipos. Eles


são:

o (i) Legítima: é a sucessão que deriva da ordem de vocação hereditária,


do art. 1.829, CC.

o (ii) Testamentária: é a sucessão que deriva de um negócio jurídico, com


base em instrumento jurídico específico, o testamento. Só há sucessão
testamentária se houver testamento válido. Um testamento nulo é sem
efeitos. Trata-se, portanto, de instrumento jurídico obrigatório para a
concretização do negócio jurídico.

o (iii) Simultânea: a sucessão simultânea é aquela em que ocorrem,


paralelamente, a sucessão legítima e a sucessão simultânea. A
existência de testamento, por si só, não afasta a sucessão legítima, (a)
tanto em razão do art. 1.789, CC, que protege os herdeiros
necessários, quanto, no caso de inexistência de herdeiros necessários,
da (b) invalidade do testamento ou (c) da possibilidade de o testamento
não cobrir a totalidade do valor da herança (caso no qual a parte da
herança que não estiver coberta pelo testamento seguirá as regras de
sucessão).

5.3. Quanto à abrangência

 Entendimento: quanto à abrangência, a sucessão pode ser de dois tipos. Eles


são:

o (i) A título singular (legado): o legado é um bem certo e determinado,


que pode existir ou não dentro do patrimônio do de cujus, a exemplo de
uma casa, um carro, ou cem mil reais. A figura do legado só existe
dentro da sucessão testamentária. Quanto mais legados houver, menos
patrimônio sobrará para os herdeiros. Em contrapartida, caso o bem
determinado não mais exista, ou não esteja mais no patrimônio do de
cujus quando de sua morte, o legado desaparecerá e o legatário nada
receberá. Quando o testamento do de cujus envolver legados, haverá
sucessão a título singular.

o (ii) A título universal (herança): a herança é todo o conjunto de bens e


direitos do de cujus, em termos de patrimônio líquido (ou seja, é o
conjunto de bens e direitos de um indivíduo, descontadas as
obrigações, destinado a seus sucessores, quando de sua morte).
Quando se trata de herança, o herdeiro estará recebendo uma quota-
parte do todo unitário, assim, restará estabelecida uma sucessão a
título universal. Não há necessidade de nomeação específica do bem

31
(ou seja, não há que se falar em legado). Assim, a figura da herança é
compatível tanto com a sucessão legítima, quanto com a sucessão
testamentária (desde que se utilize porcentagens do todo unitário, a
exemplo de “deixo 10% de todo o meu patrimônio para determinada
pessoa”). Quem sucede a título universal, sucede em proporção do todo
unitário, composto por todos os bens e direitos do de cujus.

6. Sujeitos de direito

 Entendimento: os sujeitos de direito das sucessões podem ser de três tipos.


Eles são:

o (i) Autor da sucessão: é o de cujus, aquele que origina a sucessão.

o (ii) Herdeiro: o herdeiro é aquele que tem direito, seja por meio da lei
(sucessão legítima), seja por meio de testamento (sucessão
testamentária), a determinada quota-parte do todo unitário de bens e
direitos do de cujus.

 (a) Legítimo: são os herdeiros que assim o são em razão da


ordem de vocação hereditária (art. 1.829, CC).

 (b) Testamentário: são os herdeiros que assim o são em razão


da manifestação de vontade do de cujus. Assim, em um
testamento que verse, por exemplo, “Deixa 10% da herança
para Renata”, se verificará uma herança, visto que os bens não
estão singularizados.

o (iii) Legatário: é aquele que receberá um bem certo e determinado,


desde que, quando da morte, este bem compusesse o patrimônio do de
cujus. A figura do legatário só existe na sucessão testamentária. Em um
testamento que verse, por exemplo, “Deixa o apartamento da SQS 212,
Bloco K, para Renata”, se verificará um legado, visto que o bem foi
singularizado.

32
Aula 3 – 20/02/2019

Programa – Aula 3

7. Disposições gerais acerca do fenômeno sucessório


7.1. Conceituação do fenômeno sucessório
7.2. Princípio da saisine
7.3. Posse e possessão hereditária
7.4. Momentos do fenômeno sucessório
7.4.1. Primeiro momento: abertura da sucessão
7.4.2. Segundo momento: devolução sucessória ou delação
7.4.3. Terceiro momento: aquisição da herança ou adição

7. Disposições gerais acerca do fenômeno sucessório

7.1. Conceituação do fenômeno sucessório

 Entendimento: o fenômeno sucessório se constitui na morte do indivíduo e na


transmissão de seus bens e direitos, excluídas suas obrigações (ou seja, de
sua herança), a seus sucessores.

7.2. Princípio da saisine

 Entendimento: no Direito Civil brasileiro, a regra é a transmissão automática e


imediata da herança aos sucessores, independentemente de qualquer
formalidade, nos termos do art. 1.784, CC. A condição de herdeiro, portanto, é
automática e o herdeiro já será herdeiro, mesmo que não o saiba. Essa regra
tem raiz no Direito francês, no princípio da saisine, que se originou nos
Códigos Napoleônicos (mais tarde importados pelo Direito português), como
uma reação à regra da Idade Média, onde havia necessidade de os herdeiros
do vassalo pagarem ao senhor feudal para que pudessem se ver na condição
material de herdeiros.

o Exceção: o legatário tem o direito de pedir, reivindicar, a propriedade do


legado. A transmissão do legado, portanto, não segue o princípio da
saisine, o que se constata da interpretação do art. 1.784, CC, que liga a
transmissão automática somente aos herdeiros legítimos e
testamentários.

[CC] Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde


logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.

Observação: Abertura do inventário e princípio da saisine. A


abertura do inventário é, meramente, um procedimento judicial ou
extrajudicial destinado a dar liquidez aos bens que constituem a
herança e identificar os sucessores. Assim, a existência do inventário
não implica em formalidade necessária para estabelecimento da

33
condição de herdeiro. A abertura de inventário, portanto, não significa
um desrespeito ao princípio da saisine.

7.3. Posse e possessão hereditária

 Entendimento: de acordo com a teoria subjetivista (ou clássica) da posse, de


Savigny, terá a posse aquele que (i) detiver a coisa, fisicamente (ou seja, deter
o “corpus”) e (ii) a intenção de ter a coisa para si (ou seja, o “animus domini”).
Enquanto isso, a possessão hereditária (que é o que ocorre no fenômeno
sucessório) é transmitida automaticamente, independentemente de qualquer
formalidade (de acordo com o princípio da saisine). Os únicos elementos que
precisam ser comprovados são (i) a morte do sucedido e (ii) o cumprimento
dos requisitos para a condição de sucessor.

7.4. Momentos do fenômeno sucessório

 Entendimento: o fenômeno sucessório, em termos procedimentais, pode ser


compreendido em três momentos. Eles são:

o (i) Primeiro momento: abertura da sucessão;

o (ii) Segundo momento: devolução sucessória ou delação;

o (iii) Terceiro momento: aquisição da herança ou adição.

7.4.1. Primeiro momento: abertura da sucessão

 Entendimento: a abertura da sucessão ocorre, automaticamente, com o exato


momento da morte, de forma ficta. Assim, é importante saber qual o exato
momento da morte. No Direito Civil, há três formas de avaliar a morte. Elas
são:

o (i) Morte real: a morte real é aquela comprovada tanto no plano físico e
biológico (na forma do laudo médico), quanto no plano jurídico (na
forma da certidão de óbito, ou atestado de óbito, feito em um cartório de
registro civil), na forma do art. 6º, CC.

[CC] Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte;


presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei
autoriza a abertura de sucessão definitiva.

o (ii) Morte presumida: a morte presumida é aquela atestada somente no


plano jurídico, após cumprimento do procedimento de ausência (arts. 22
a 39, CC). Assim, não há comprovação no plano físico e biológico (por
exemplo, quando o corpo do de cujus não é encontrado). Na forma do
art. 7º, CC, no entanto, ainda há duas possibilidades de declaração e
morte presumida que não exigem a declaração de ausência prévia, que
são:

34
 (a) Se for extremamente provável a morte de quem estava em
perigo de vida (como nos casos de acidentes aéreos, ou dos
acidentes com barragens da Vale, em Mariana e Brumadinho);

 (b) Se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro,


não for encontrado até dois anos após o término da guerra.

[CC] Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem


decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em
perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro,
não for encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses
casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as
buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data
provável do falecimento.

o (iii) Comoriência: quando duas pessoas falecem sem que se consiga


determinar a ordem de falecimento, verifica-se o instituto da
comoriência (também chamada de morte simultânea), ou seja, nos
termos do art. 8º, CC, será considerado que os falecimentos ocorreram
exatamente ao mesmo tempo. Este instituto é diverso, portanto, aos
institutos da pré-moriência (falecimento anterior) e da pós-moriência
(falecimento posterior).

[CC] Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma


ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes
precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.

7.4.2. Segundo momento: devolução sucessória ou delação

 Entendimento: após a identificação do sucessor, haverá um momento em que


será facultado a esse indivíduo escolher se deseja ou não receber a herança. A
delação, ou devolução sucessória, portanto, significa investir o sucessor em
uma condição jurídico-transitória que lhe permite dizer se aceita ou não a
herança (chamado de “direito de deliberar” sobre o direito da herança).

 Efeitos: o efeito da aceitação da herança é a progressão para o terceiro


momento, ou seja, a aquisição (ou adição) da herança. O efeito da renúncia é
que se considerará que o direito à herança nunca sequer existiu, com respeito
ao renunciante.

7.4.3. Terceiro momento: aquisição da herança ou adição

 Entendimento: o último momento do fenômeno sucessório, que ocorre após a


delação com aceitação da herança, é a efetiva aquisição (ou adição) da
herança.

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 Efeitos: os efeitos da aquisição retroagem até a data da morte, quando se
operou a transmissão ficta (não importando o tempo que decorreu entre a data
exata da morte e o momento da delação com aceitação). Adicionalmente, de
acordo com o art. 1.804, CC, a aquisição da herança torna permanente a
transmissão ficta. Também importa ressaltar que, nos termos do art. 1.812, CC,
tanto a aceitação quanto a renúncia são irretratáveis e irrevogáveis.

[CC] Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua


transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão.
Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada
quando o herdeiro renuncia à herança.

[CC] Art. 1.812. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de


renúncia da herança.

36
Aula 4 – 27/02/2019

Programa – Aula 4

8. Delação (ou devolução sucessória)


8.1. Aceitação
8.2. Renúncia

8. Delação (ou devolução sucessória)

 Entendimento: após a identificação do sucessor, há um momento em que


será facultado a esse indivíduo escolher se deseja ou não receber a herança. A
delação, ou devolução sucessória, portanto, significa investir o sucessor em
uma condição jurídico-transitória que lhe permite dizer se aceita ou não a
herança (chamado de “direito de deliberar” sobre o direito da herança). Na
delação, o

8.1. Aceitação

 Entendimento: a aceitação se trata da declaração de vontade, feita por um


herdeiro, de incorporar, de fato, o patrimônio do de cujus, a seu próprio
patrimônio.

 Espécies: o Código Civil brasileiro traz três espécies de aceitação. Elas são:

o (i) Aceitação expressa: trata-se de aceitação feita por declaração escrita


(art. 1.805, caput, primeira parte, CC). Nesse caso, a declaração e
vontade não tem forma específica (podendo ser tanto por instrumento
particular, quanto por escritura pública).

[CC] Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se


por declaração escrita; quando tácita, há de resultar tão-somente de
atos próprios da qualidade de herdeiro.

o (ii) Aceitação tácita: trata-se da aceitação que se verifica quando o


herdeiro pratica um ato privativo da condição de herdeiro. O art. 1.805,
§§ 1º e 2º, CC, traz rol exemplificativo de atos que não são
considerados como atos privativos do herdeiro, de modo que atos que
não estão no dispositivo, a princípio, são aqueles que representam
aceitação tácita (por serem atos privativos de herdeiro).

 Exemplos: o pagamento de despesas de funeral, missa de


sétimo dia, pagamento de IPVA de veículo que era do de cujus
são enquadrados como atos oficiosos (art. 1.805, §1º, CC). A
ocupação de um imóvel do de cujus, no entanto, em geral é
considerada como ato privativo da condição de herdeiro. Mesmo
a contratação de advogado para iniciar o procedimento de

37
inventário, para alguns autores, pode ser considerado ato
privativo da condição de herdeiro.

[CC] Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se


por declaração escrita; quando tácita, há de resultar tão-somente de
atos próprios da qualidade de herdeiro.
§1º Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos,
como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de
administração e guarda provisória.

o (iii) Aceitação presumida: trata-se da aceitação que se dá com o


silêncio do herdeiro, após provocação oficial (feita por meio do
Judiciário). Essa provocação pode ser dar por requerimento de
qualquer interessada (incluindo credores do falecido ou de um dos
herdeiros). O herdeiro, no entanto, não pode ser provocado antes de 20
dias da data do falecimento. A doutrina chama estes 20 dias de “prazo
de luto” ou “prazo de reflexão”. Após o prazo de luto, pode haver
requerimento ao juiz. Este requerimento (provocação) implicará em
determinação de prazo razoável, pelo juiz, desde que não superior a 30
dias, para que o herdeiro se manifeste. Reitera-se que o silêncio, no
caso da herança, importa anuência.

[CC] Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro declare se


aceita, ou não, a herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão,
requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele,
se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita.

 Legitimidade: a legitimidade para aceitar a herança é personalíssima,


exclusiva do herdeiro. Ele, no entanto, pode ser representado por procuração
(sem exigência de poderes específicos, nem de procuração pública). Menores
incapazes (menores de 16 anos) serão representados. Menores relativamente
capazes (maiores de 16 anos e menores de 18 anos) serão assistidos.

 Características do negócio jurídico: há duas características principais da


aceitação. Elas são:

o (i) Totalidade: a aceitação deve ser total. Não há que se falar em


aceitação parcial da herança, nem de aceitação sob condição ou termo,
na forma do art. 1.808, CC. Condições ou termos são reputados como
não escritos, assim, se um sucessor escreve carta de aceitação com
termo, ignora-se o termo e entende-se pela aceitação total.

 Em se tratando de indivíduo que sucede em títulos sucessórios


distintos (por exemplo, um herdeiro legítimo, que sucede a título
universal, mas que também está incluído no testamento,
recebendo um legado, em sucessão singular), no entanto, é
possível que se aceite um título e se repudie outros (no
exemplo, é possível que se repudie a sucessão legítima, mas
que se aceite o legado).

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[CC] Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em
parte, sob condição ou a termo.
§1º O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los,
renunciando a herança; ou, aceitando-a, repudiá-los.
§2º O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um
quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode
livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que
renuncia.

o (ii) Irrevogabilidade e irretratabilidade: a aceitação integraliza o


patrimônio do herdeiro, desde a data do falecimento do de cujus, nos
termos do art. 1.812, CC, de modo que é irrevogável e irretratável.

[CC] Art. 1.812. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de


renúncia da herança.

Observação: Falecimento do sucessor antes da aceitação. No caso


de um indivíduo (sucedido) que falece em dezembro de determinado ano,
com seu filho (sucessor) falecendo poucos dias depois, sem que tenha se
pronunciado sobre a aceitação da herança do sucedido, o direito de se
pronunciar sobre a aceitação será transmitido aos herdeiros desse sucessor.

 Efeito da aceitação: na forma do art. 1.804, CC, o efeito da aceitação da


herança é a progressão para o terceiro momento, ou seja, a aquisição (ou
adição) da herança. Nesse momento, torna-se definitiva a transmissão dos
bens ao herdeiro, integralizando-se tais bens ao seu patrimônio.

[CC] Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua


transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão.
Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada
quando o herdeiro renuncia à herança.

8.2. Renúncia

 Entendimento: a renúncia se trata de abdicação a um acréscimo patrimonial.


A partir da renúncia, se considerará que o direito à herança nunca sequer
existiu, com respeito ao renunciante, nos termos do art. 1.804, parágrafo único,
CC.

[CC] Art. 1.804. (...)


Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada
quando o herdeiro renuncia à herança.

 Espécie: a renúncia tem somente uma espécie, que é a renúncia expressa, ou


seja, aquela que tenha sido feito por escrito, com forma específica, descrita em
lei.

 Forma: há duas formas de renúncia expressa. Elas são:

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o (i) Escritura pública: a renúncia pode ser feita por escritura pública,
lavrada em cartório de notas. Nesse caso, há necessidade de pagar
emolumentos. Os efeitos da renúncia se operam desde a data da
formalização da escritura pública.

o (ii) Termo judicial: a renúncia pode ser feita por termo judicial, lavrado
em cartório da Vara de Órfãos e Sucessões. Ela deverá ser feita por
meio de petição, assinada pelo advogado do renunciante. Após
recepção da petição, o juízo lavrará o termo judicial e intimará o
renunciante para comparecer ao cartório da Vara para assiná-lo. Os
efeitos da renúncia se operam somente a partir da assinatura do termo.
Em geral, se utiliza essa forma quando não se deseja pagar os
emolumentos cartorários referentes à escritura pública.

 Legitimidade: a legitimidade para renunciar a herança é personalíssima,


exclusiva do herdeiro. Ele, no entanto, pode ser representado por procuração,
com exigência de procuração pública com poderes específicos (importa
ressaltar que essa exigência é da praxe jurídica, não encontrando respaldo em
dispositivo legal específico). Menores incapazes (menores de 16 anos) serão
representados. Menores relativamente capazes (maiores de 16 anos e
menores de 18 anos) serão assistidos. Contudo, tanto para os menores
incapazes, quanto para os relativamente capazes, há necessidade da
interveniência do Ministério Público, para garantir o melhor interesse do menor.

 Características do negócio jurídico: há duas características principais da


renúncia. Elas são:

o (i) Totalidade: a renúncia deve ser total. Não há que se falar em


renúncia parcial da herança, nem de renúncia sob condição ou termo,
na forma do art. 1.808, CC. Condições ou termos são reputados como
não escritos, assim, se um sucessor lavra escritura pública com termo,
ignora-se o termo e entende-se pela renúncia total.

 Em se tratando de indivíduo que sucede em títulos sucessórios


distintos (por exemplo, um herdeiro legítimo, que sucede a título
universal, mas que também está incluído no testamento,
recebendo um legado, em sucessão singular), no entanto, é
possível que se aceite um título e se repudie outros (no
exemplo, é possível que se repudie a sucessão legítima, mas
que se aceite o legado).

[CC] Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em


parte, sob condição ou a termo.
§1º O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los,
renunciando a herança; ou, aceitando-a, repudiá-los.
§2º O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um
quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode
livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que
renuncia.

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o (ii) Irrevogabilidade e irretratabilidade: a renúncia integraliza o
patrimônio do herdeiro, desde a data do falecimento do de cujus, nos
termos do art. 1.812, CC, de modo que é irrevogável e irretratável.

[CC] Art. 1.812. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de


renúncia da herança.

 Efeitos da renúncia: a renúncia opera quatro efeitos. Eles são:

o (i) Primeiro efeito: de acordo com o art. 1.810, primeira parte, CC, na
sucessão legitima, a parte do renunciante acresce aos outros
legitimados da mesma classe sucessória. Esse efeito, portanto, não se
aplica à sucessão testamentária.

 Exemplo: se o pai, A, é sucedido por seus filhos B, C, D e E, a


quota-parte que caberá a cada um dos filhos será um quarto da
sucessão legítima. Caso C renuncie, B, D e E passarão a
receber, cada um, um terço da sucessão legítima (ou seja, terão
o acréscimo da quota-parte que seria do renunciante).

[CC] Art. 1.810. Na sucessão legítima, a parte do renunciante


acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único
desta, devolve-se aos da subseqüente.

Observação: Aspectos relevantes a respeito da vocação


hereditária, para os efeitos da renúncia. A vocação hereditária
é a capacidade para ser sucessor. Para que essa se verifique, há
pressupostos fáticos e pressupostos jurídicos. Os pressupostos
fáticos são de (a) sobreviver e (b) coexistir. De acordo com o
princípio da sobrevivência, para que determinados indivíduos de
mesmo classe e mesmo grau, sejam herdeiros, é necessário que
estejam vivos na data do falecimento do sucedido (ou seja, o
herdeiro nunca poderá ser um pré-morto), sendo, assim,
considerados herdeiros próprios, partilhando por cabeça (ou seja,
igualitariamente). Há, no entanto, hipóteses em que a lei permite
aos filhos de um pré-morto herdar, sob o instituto do direito de
representação, partilhando por estirpe (ou seja, a quota-parte que
caberia, por cabeça, ao pré-morto, será dividida entre sua estirpe).

o (ii) Segundo efeito: de acordo com o art. 1.811, primeira parte, CC,
ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante.

 Exemplo: se o pai, A, é sucedido por seus filhos B, C, D e E, a


quota-parte que caberá a cada um dos filhos será um quarto da
sucessão legítima. Caso C, que tem dois filhos, F e G, renuncie,
B, D e E passarão a receber, cada um, um terço da sucessão
legítima (ou seja, terão o acréscimo da quota-parte que seria do
renunciante), e os filhos de C, que são F e G, não poderão
herdar por direito de representação.

41
[CC] Art. 1.811. Ninguém pode suceder, representando herdeiro
renunciante. Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se
todos os outros da mesma classe renunciarem a herança, poderão os
filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça.

o (iii) Terceiro efeito: de acordo com o art. 1.810, segunda parte, CC, se
um herdeiro legítimo for o único legitimado de sua classe e renunciar, a
herança legítima passará, na totalidade, para a classe subsequente.

 Exemplo: se o pai, A, é sucedido por seu filho B, que, por sua


vez, não tem filhos, e B faz a renúncia, a herança legítima
passará, na totalidade, para os ascendentes de A.

[CC] Art. 1.810. Na sucessão legítima, a parte do renunciante


acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único
desta, devolve-se aos da subseqüente.

o (iv) Quarto efeito: de acordo com o art. 1.811, segunda parte, CC, se o
herdeiro renunciante for o único legitimado em sua classe, ou se todos
os outros legitimados da mesma classe renunciarem, os filhos dos
renunciantes podem suceder, por direito próprio, e por cabeça.

 Exemplo: se o pai, A, é sucedido por seus filhos B, C, D e E, a


quota-parte que caberá a cada um dos filhos será um quarto da
sucessão legítima. Contudo, se todos os filhos renunciarem, os
netos de A (filhos de B, C, D e E) passarão a receber por direito
próprio e por cabeça.

[CC] Art. 1.811. Ninguém pode suceder, representando herdeiro


renunciante. Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se
todos os outros da mesma classe renunciarem a herança, poderão os
filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça.

 Proteção aos credores do renunciante: quando um herdeiro renunciar com


intenção de prejudicar (fraudar) seus credores (ou seja, com má-fé), é possível
que, com autorização do juiz, os credores do herdeiro renunciante aceitem a
herança (art. 1.813, CC), até o valor total das dívidas do renunciante. O
restante será devolvido aos demais co-herdeiros (art. 1.813, §2º, CC). É
necessário, no entanto, que os credores do renunciante se habilitem, desde
que o façam até 30 dias após o conhecimento do fato (art. 1.813, §1º, CC).

[CC] Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores,


renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz,
aceitá-la em nome do renunciante.
§1º A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias
seguintes ao conhecimento do fato.
§2º Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia
quanto ao remanescente, que será devolvido aos demais
herdeiros.

42
 Renúncia no Código Civil de 1916 e jurisprudência: na vigência do Código
Civil de 1916, havia dúvidas a respeito da possibilidade de renúncia em favor
de outro indivíduo. Assim, a jurisprudência criou duas figuras diversas, a partir
da renúncia. Elas eram:

o (i) Renúncia abdicativa: tratava-se de uma renúncia pura e simples.


Ocorria quando o herdeiro não desejava passar seu direito a mais
ninguém em específico.

o (ii) Renúncia translativa: tratava-se de uma renúncia em favor de


alguém (por isso também chamada de renúncia in favorem), entendida
como uma aceitação tácita, seguida de uma doação ou de uma compra
e venda (e, portanto, sujeita a dois fatos geradores frente ao Fisco). A
partir do Código Civil de 2002, de modo a regulamentar a renúncia
translativa, criou-se o instituto da cessão de direitos hereditários,
tornando-se desnecessária a figura da renúncia translativa.

43
Aula 5 – 28/02/2019

Programa – Aula 5

9. Cessão de direitos hereditários

9. Cessão de direitos hereditários

 Entendimento: trata-se de um negócio jurídico no qual um herdeiro cede seus


direitos sobre a sucessão aberta (entendido como a sucessão antes da
efetivação da partilha) a um co-herdeiro ou a um terceiro estranho à sucessão
(que são todos aqueles que não são legitimados para suceder), podendo fazê-
lo tanto a título gratuito, quanto oneroso. Este instituto está disciplinado entre
os arts. 1.793 e 1.795, CC.

 Forma: há forma prescrita na lei, que deve ser forma de escritura pública,
registrada em cartório de notas (art. 1.793, caput, CC). No TJDFT,
especificamente, no entanto, há precedentes no sentido de legitimar cessões
de direitos hereditários na forma de escritos particulares ou termo judicial, nos
autos do inventário (dispensando-se a escritura pública), requerendo
homologação judicial, desde que para co-herdeiros ou cônjuges. Entende-se,
por co-herdeiros, somente aqueles legitimados à sucessão (ou seja, que estão
na mesma classe sucessório e distantes de mesmo grau de parentesco).
[CC] Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão
de que disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por
escritura pública.

 Legitimidade: a legitimidade para renunciar a herança é personalíssima,


exclusiva do herdeiro. Ele, no entanto, pode ser representado por procuração,
com exigência de procuração pública com poderes específicos para cessão
(importa ressaltar que essa exigência é da praxe jurídica, não encontrando
respaldo em dispositivo legal específico).

 Características do negócio jurídico: há duas características principais do


negócio jurídico de cessão de direitos hereditários. Elas são:

o (i) Primeira característica: na forma do art. 1.793, §§ 2º e 3º, CC, é


ineficaz a cessão de bens singularizados, a não ser que autorizada pelo
juiz. Assim, a cessão de direitos de bens singularizados, sem
autorização judicial, é ineficaz. É necessário comprovar, nesses casos,
a necessidade de ceder bens singularizados para cumprir com as
questões processuais.
[CC] Art. 1.793. (...)
(...)
§2º É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito
hereditário sobre qualquer bem da herança considerado
singularmente.

44
§3º Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da
sucessão, por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo
hereditário, pendente a indivisibilidade.

o (iii) Segunda característica: nos termos do art. 1.793, §1º, CC, os


direitos, conferidos ao herdeiro em consequência de substituição ou de
direito de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita
anteriormente.

 Exemplo: no caso em que A falece, deixando quatro filhos, B,


C, D e E, estes, a princípio, herdarão por direito próprio e por
cabeça, cada um com 25% do total. Contudo, caso B ceda seus
direitos hereditários a C (seja a título oneroso ou a título
gratuito), a princípio, C ficaria com 50% do total, enquanto D e E
teriam, cada um, 25%. Posteriormente, no entanto, caso D e E
renunciem, não é possível presumir (a não ser que
expressamente disposto no instrumento de cessão) que C ficará
com a totalidade da herança, visto que, o direito de acrescer
presume-se não abrangido pela cessão feita anteriormente.
Assim, com a renúncia, B receberia 25% do total (equivalente a
metade da quota-parte somada de D e E), enquanto C receberia
75% do total (sendo 25% equivalente a metade da quota-parte
somada de D e E, mais 25% de sua própria quota-parte, mais
25% da cessão de direitos inicialmente realizada por B).

[CC] Art. 1.793. (...)


§1º Os direitos, conferidos ao herdeiro em conseqüência de
substituição ou de direito de acrescer, presumem-se não
abrangidos pela cessão feita anteriormente.

 Direito de preferência dos co-herdeiros: partindo-se do princípio de que os


co-herdeiros dividem o direito à sucessão na forma de um condomínio, (a)
quando a cessão for onerosa e (b) quando for ser feita a um terceiro estranho,
será necessário respeitar o direito de preferência dos outros co-herdeiros (art.
1.794, CC).

o Neste caso, se a cessão for feita sem anuência dos outros co-herdeiros,
o negócio jurídico será anulável e dependerá de impugnação do co-
herdeiro interessado, em prazo de 180 dias contados da data do
negócio jurídico de cessão (no entanto, caso haja má-fé do co-
herdeiro cedente, comunicando os outros co-herdeiros apenas após os
180 dias, o juiz poderá levar em conta a data de conhecimento para
rever o prazo de impugnação). Para ficar com a quota-parte do co-
herdeiro cedente, o co-herdeiro interessado poderá depositar o valor do
negócio jurídico (art. 1.795, caput, CC).

o Sendo vários os co-herdeiros a exercer a preferência, o quinhão cedido


será distribuído na proporção das respectivas quotas-partes
hereditárias (ou seja, todos os co-herdeiros irão ratear o valor do
negócio jurídico (art. 1.795, parágrafo único, CC).

45
[CC] Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota
hereditária a pessoa estranha à sucessão, se outro co-herdeiro a
quiser, tanto por tanto.

[CC] Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento


da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida
a estranho, se o requerer até cento e oitenta dias após a transmissão.
Parágrafo único. Sendo vários os co-herdeiros a exercer a
preferência, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na
proporção das respectivas quotas hereditárias.

Observação: Cessão de direitos hereditários como prática de ato


privativo da condição de herdeiro, para efeitos de aceitação tácita. A
cessão onerosa de direitos hereditários (seja ela para co-herdeiros, seja
para terceiros), bem como a cessão gratuita a terceiros, são, em geral,
consideradas como suficientes para que se diga que houve a aceitação
tácita do art. 1.805, CC.
Contudo, se a cessão de direitos hereditários for gratuita e feita a
um ou mais co-herdeiros, o art. 1.805, §2º, CC, aponta que, apesar de se
verificar uma cessão de direitos de fato, não se verificará uma cessão de
direitos jurídica, não cabendo, nessa situação, tributação sobre a sucessão
(ITCMD), somente sobre o negócio jurídico de cessão de direitos (ITBI),
nos termos do art. 35, III, Código Tributário Nacional (CTN).

[CC] Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se


por declaração escrita; quando tácita, há de resultar tão-somente de
atos próprios da qualidade de herdeiro.
(...)
§2º Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e
simples, da herança, aos demais co-herdeiros.

[CTN] Art. 35. O imposto, de competência dos Estados, sobre a


transmissão de bens imóveis e de direitos a eles relativos tem como
fato gerador:
I - a transmissão, a qualquer título, da propriedade ou do
domínio útil de bens imóveis por natureza ou por acessão física,
como definidos na lei civil;
II - a transmissão, a qualquer título, de direitos reais sobre
imóveis, exceto os direitos reais de garantia;
III - a cessão de direitos relativos às transmissões
referidas nos incisos I e II.

46
Aulas 6, 7 e 8 – 07/03/2019, 13/03/2019 e 14/03/2019

Programa – Aulas 6, 7 e 8

10. Disposições gerais a respeito da vocação hereditária


10.1. Conceito
10.2. Pressupostos da vocação hereditária
10.2.1. Pressupostos fáticos
10.2.1.1. Princípio da coexistência
10.2.1.2. Princípio da sobrevivência
10.2.2. Pressuposto jurídico
10.2.3. Pressupostos negativos
10.2.3.1. Indignidade
10.2.3.2. Deserdação

10. Disposições gerais a respeito da vocação hereditária

10.1. Conceito

 Entendimento: a vocação hereditária é a capacidade sucessória, ou seja, a


capacidade passiva para ser sucessor. A vocação hereditária se aplica tanto
para o sucessor legítimo, quanto para o sucessor testamentário.

10.2. Pressupostos da vocação hereditária

 Entendimento: a vocação hereditária deve obedecer a alguns pressupostos,


para que um indivíduo possa ser considerado legitimado a ser sucessor. Esses
pressupostos se aplicam, em regra, tanto para a sucessão legítima, quanto
para a sucessão testamentária. Trata-se pressupostos cumulativos, assim, é
necessário preencher a todos. Eles são:

o (i) Pressupostos fáticos;

o (ii) Pressuposto jurídico;

o (iii) Pressupostos negativos.

10.2.1. Pressupostos fáticos

 Entendimento: os pressupostos fáticos estão consagrados, no ordenamento


jurídico brasileiro, no princípio da coexistência e no princípio da sobrevivência.

10.2.1.1. Princípio da coexistência

 Entendimento: são legítimas a suceder o de cujus aqueles que com ele


viveram de forma concomitante. Só é legítimo a suceder o indivíduo que já é
nascido na data da morte do de sucedido, nos termos do art. 1.798, primeira
parte, CC. Nos termos do art. 1.799, II, CC, a pessoa jurídica também pode

47
suceder e a ela também se aplica o princípio da coexistência, ou seja, o
registro na Junta Comercial ou órgão competente já deve ter sido feito antes da
morte do sucedido.
[CC] Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou
já concebidas no momento da abertura da sucessão.

[CC] Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser


chamados a suceder:
(...)
II - as pessoas jurídicas;
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada
pelo testador sob a forma de fundação.

 Exceções: o princípio da coexistência comporta três exceções (concepção,


prole eventual e fundações). Em mais detalhes, tem-se:

o (i) Concepção e a expectativa de direito do nascituro: nos termos do art.


1.798, segunda parte, CC, o indivíduo concebido, mas não nascido
(nascituro) também terá vocação hereditária. O nascituro, portanto, já
tem a expectativa do direito, mas esse direito somente se materializará,
efetivamente, com o nascimento com o vida (a quota-parte do nascituro
dependerá do nascimento com vida). Essa exceção se aplica tanto à
sucessão legítima, quanto à testamentária.

[CC] Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou


já concebidas no momento da abertura da sucessão.

o (ii) Prole eventual (ou “concepturo”): nos termos do art. 1.799, I, CC, é
possível indicar o filho ainda não gerado de uma pessoa viva como
herdeiro. Essa exceção se aplica somente à sucessão testamentária.
O herdeiro é o concepturo, ou seja, aquele que será concebido pelo
indivíduo indicado no testamento (sua prole eventual, limitada somente
aos filhos, ou seja, sem chegar aos netos do indicado).

 É necessário, nesses casos, que a pessoa indicada (seja


homem ou mulher, em concepção ampla de “conceber”) para
conceber tenha coexistido com o de cujus.

 É necessário, também, que o concepturo nasça com vida para


que o direito se concretize. Essa exceção se aplica somente à
sucessão testamentária.

 O art. 1.800, §4º, CC, traz a limitação temporal dessa exceção


que, quando não indicado no testamento, será de 2 anos. Este
prazo, no entanto, é uma referência, que pode ser mitigada no
caso concreto (por exemplo, nos casos em que a pessoa
indicada a conceber seja menor de idade.

 Via de regra, nos termos do art. 1.800, §1º, CC, enquanto os


bens não são entregues ao herdeiro pretendido, um curador

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será nomeado e, normalmente, este curador será a pessoa
responsável pela concepção. De acordo com o STJ, não há a
possibilidade de diferenciação entre um filho natural, adotado ou
de qualquer outro tipo, por conta da vedação constitucional ao
tratamento discriminatório entre filhos.

 Quanto à caracterização da prole eventual, há duas posições


doutrinárias. Uma corrente entende que a prole eventual ainda
não pode ter nascido na data da morte, ou seja, que a prole
eventual é somente aquela que o sucedido nunca conhecerá,
caso no qual somente o primeiro filho receberia a herança. A
outra corrente, apoiada por um precedente do STJ, aponta que
a prole eventual já pode ter nascido na data da morte do
sucedido, sem que deixe de assim ser caracterizada, caso no
qual também se poderia considerar que mais de um filho possa
receber a herança.

[CC] Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser


chamados a suceder:
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo
testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão;

[CC] Art. 1.800. (...)


§1º Salvo disposição testamentária em contrário, a curatela
caberá à pessoa cujo filho o testador esperava ter por herdeiro, e,
sucessivamente, às pessoas indicadas no art. 1.775.
(...)
§4º Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não
for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo
disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros
legítimos.

o (iii) Fundações: nos termos do art. 1.799, II, CC, a pessoa jurídica
também pode suceder, mas a ela também se aplica o princípio da
coexistência, ou seja, o registro na Junta Comercial ou órgão
competente já deve ter sido feito antes da morte do sucedido. O art.
1.799, III, CC, no entanto, traz uma exceção ao princípio da
coexistência, que se perfaz na figura da fundação, uma pessoa jurídica
que poderá ser criada após a morte do sucedido, de acordo com a
manifestação de vontade desse de cujus. Essa exceção se aplica
somente à sucessão testamentária.

[CC] Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser


chamados a suceder:
(...)
II - as pessoas jurídicas;
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada
pelo testador sob a forma de fundação.

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Observação: A situação dos embriões excedentários. A manipulação do
material genético após a morte de um dos genitores já é aceita pelo
ordenamento jurídico brasileiro. No caso dos embriões excedentários, ou seja,
daqueles que restam fecundados, mas ainda não implantados, após a morte do
sucedido, no entanto, ainda não há solução expressa na lei. Trata-se, portanto,
de lacuna normativa. Há correntes doutrinárias que entendem que se aplicaria
analogicamente o mesmo prazo de 2 anos do art. 1.800, §4º, CC, previsto para a
prole eventual (tratando-se, portanto, de nova exceção ao princípio da
coexistência), enquanto outras correntes entendem de maneiras diversas.

10.2.1.2. Princípio da sobrevivência

 Entendimento: como a sucessão se abre no momento do falecimento do


sucedido, entende-se que é necessário que o herdeiro esteja vivo quando da
morte do de cujus (ou seja, o herdeiro nunca poderá ser um pré-morto).

o Importa ressaltar que, na sucessão testamentária, o princípio da


sobrevivência é absoluto, visto que o testamento é personalíssimo
(intuito personae). Nas situações de morte simultânea (comoriência),
não resta caracterizada a sobrevivência.

 Exceção: há uma única exceção ao princípio da sobrevivência. Ela é o direito


de representação. De acordo com o art. 1.851 e seguintes, CC, a lei permite
aos filhos de um pré-morto herdar, sob o instituto do direito de representação,
partilhando por estirpe (ou seja, a quota-parte que caberia, por cabeça, ao pré-
morto, será dividida entre sua estirpe). Essa exceção se aplica somente à
sucessão legítima.
[CC] Art. 1.851. Dá-se o direito de representação, quando a lei
chama certos parentes do falecido a suceder em todos os direitos,
em que ele sucederia, se vivo fosse.

[CC] Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta


descendente, mas nunca na ascendente.

10.2.2. Pressuposto jurídico

 Entendimento: o pressuposto jurídico da vocação hereditária consiste na


existência de um vínculo jurídico com o de cujus, que pode se dar por meio da
lei, na sucessão legítima, ou do testamento, na sucessão testamentária.

o (i) Legal: é o vínculo jurídico entre sucessor e sucedido, que se dá por


determinação legal. Ele se verifica quando há vínculo jurídico. Como já
visto, há três elementos básicos que fazem com que se reconheça o
vínculo jurídico familiar. Eles são:

 (a) Parentesco (natural ou civil);


 (b) Casamento
 (c) União estável.

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o (ii) Testamentário: é o vínculo jurídico entre sucessor e sucedido, que
se dá por meio de documento formal (testamento).

10.2.3. Pressupostos negativos

 Entendimento: os pressupostos negativos da vocação hereditária consistem


na inexistência de duas situações específicas, que são (i) a indignidade e (ii) a
deserdação.

10.2.3.1. Indignidade

 Entendimento: o primeiro pressuposto negativo consiste em não ser indigno,


ou seja, a indignidade priva o sucessor de ter acesso à herança do falecido,
nos termos do art. 1.814 e seguintes, CC. A indignidade é uma punição civil,
que pode ser aplicada a qualquer tipo de herdeiro (legítimo ou testamentário)
ou legatário, em razão da prática de algum ato contra o de cujus ou outra
pessoa, nos termos da lei. A consequência deste instituto é privar o pretenso
sucessor do acesso ao patrimônio do de cujus.

 Causas da indignidade: as causas de indignidade estão apontadas, em rol


taxativo, no art. 1.814, CC. Elas não podem ser interpretadas ampliativamente
ou extensivamente, de modo que, se a situação fática não se amoldar
perfeitamente a uma das causas, não se verificará a indignidade, por mais
odiosa que possa ser tal situação fática (há projetos de lei que visam, por
exemplo, incluir o abandono afetivo nesse rol, mas, enquanto essa inclusão
não ocorre, ficam mantidas somente as causas já taxativamente listadas na
lei).

o (i) Homicídio doloso: nos termos do art. 1.814, I, CC, podem ser
excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários que houverem sido
autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa
deste, contra o sucedido ou contra seu cônjuge, companheiro,
ascendente ou descendente. Há necessidade de procedimento cível
específico para tal exclusão. Não há necessidade de qualquer
condenação no juízo criminal, em razão do princípio da independência
de instâncias, contudo, caso ocorra absolvição ou desclassificação (por
exemplo, para homicídio culposo) na esfera penal, esse resultado
poderá influenciar o processo cível.
[CC] Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou
legatários:
I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de
homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja
sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou
descendente;

o (ii) Acusação caluniosa: nos termos do art. 1.814, II, primeira parte, CC,
podem ser excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários que
houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança. Assim

51
como no homicídio doloso, há necessidade de procedimento cível
específico para tal exclusão e não há necessidade de qualquer
condenação no juízo criminal.

[CC] Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou


legatários:
(...)
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o
autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou
de seu cônjuge ou companheiro;

o (iii) Crimes contra a honra: nos termos do art. 1.814, II, segunda parte,
CC, podem ser excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários que
incorrerem em crime contra a honra do de cujus, ou de seu cônjuge ou
companheiro. O entendimento da doutrina é divergente quanto à essa
situação. A corrente minoritária advoga que é desnecessária a
apuração no juízo criminal (assim como na situação do homicídio
doloso). A corrente majoritária, à qual a jurisprudência se filia, no
entanto, advoga que é necessária a condenação na esfera penal, em
razão do termo “crime”, utilizado no art. 1.814, II, segunda parte, CC,
visto que somente o juízo criminal pode definir o que é um crime e o
que não é assim caracterizado.

[CC] Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou


legatários:
(...)
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da
herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu
cônjuge ou companheiro;

o (iv) Inibir ou obstar a livre disposição dos bens, por meios violentos ou
fraudulentos: nos termos do art. 1.814, III, CC, podem ser excluídos da
sucessão os herdeiros ou legatários que por violência ou meios
fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor
livremente de seus bens por ato de última vontade. Exemplos poderiam
ser afirmações do tipo “se você não revogar esse testamento, você não
verá mais seus netos!”, ou “se você não mudar esse testamento, tenho
uns amigos que podem resolver essa situação de outros modos...”, ou
mesmo uma comprovação de destruição de testamento particular).

[CC] Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou


legatários:
(...)
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou
obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens
por ato de última vontade.

 Procedimento judicial para exclusão: a exclusão do herdeiro ou legatário


não é automática (apesar do termo “são excluídos”, verificado no art. 1.814,

52
caput, CC, que é utilizado impropriamente), dependendo de comprovação em
processo judicial específico, com sentença judicial, nos termos do art. 1.815,
CC.

o (i) Ação judicial: o instrumento apropriado é a ação declaratória de


indignidade. A Vara de órfãos e sucessões, que não pode apreciar
provas (ou seja, onde não há dilação probatória) não é competente para
apreciar o pedido de declaração de indignidade, sendo competente o
juízo cível regular. A Vara de órfãos e sucessões, no entanto, pode ser
avisada, pelos interessados, a respeito do ajuizamento da ação, para
que, possivelmente, suspenda o procedimento de inventário, de modo a
proteger os bens.

o (ii) Legitimidade: como não há previsão legal específica quanto à


legitimidade da ação declaratória de indignidade, o fundamento legal
utilizado é, por analogia, o art. 1.965, CC, entendendo-se “proveito”
como “proveito econômico”, de modo que os legitimados seriam os
outros herdeiros. A jurisprudência ainda traz duas outras possibilidades:
[CC] Art. 1.965. Ao herdeiro instituído, ou àquele a quem
aproveite a deserdação, incumbe provar a veracidade da causa
alegada pelo testador.
Parágrafo único. O direito de provar a causa da deserdação
extingue-se no prazo de quatro anos, a contar da data da abertura
do testamento.

 (a) Legitimidade por interesse social: a legitimidade por


interesse social, do qual seria titular o Ministério Público, em
nome da sociedade, como substituto processual. Essa
possibilidade veio à tona no caso do assassinato dos pais de
Suzane von Richtofen, na qual o interesse econômico era do
irmão mais novo de Suzane, à época, era menor de idade.
Contudo, o MP tem legitimidade para agir como substituto
processual somente nos casos em que a lei autoriza, de modo
que a única solução, no caso, seria que o MP pedisse, em juízo,
a designação de um tutor, e esse tutor, em nome do melhor
interesse do tutelado, ajuizasse a ação. No caso von Richtofen,
o tutor designado foi um tio da homicida e de seu irmão.
Posteriormente, a Lei nº 13.532/2017 incluiu a possibilidade
legal da legitimidade por interesse social no art. 1.815, §2º, CC,
mas de maneira restrita às situações de homicídio doloso (art.
1.814, I, CC).
[CC] Art. 1.815. (...)
(...)
§2º Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério Público
tem legitimidade para demandar a exclusão do herdeiro ou
legatário. (Incluído pela Lei nº 13.532, de 2017)

53
 (b) Legitimidade por interesse moral: a legitimidade por
interesse moral é aquela titularizada pelos que se demonstram
moralmente ofendidos, mesmo sem interesse econômico, a
exemplo dos pais do falecido, quando há descendentes na linha
sucessória (visto que os pais nada receberiam, afastando o
interesse econômico, mas não se sentiriam moralmente à
vontade com a herança indo para o assassino.

o (iii) Prazo: o prazo decadencial para ajuizar a ação declaratória de


indignidade, nos termos do art. 1.815, §1º, CC, é de 4 anos, contados
da abertura da sucessão.

[CC] Art. 1.815. (...)


(...)
§1º O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário
extingue-se em quatro anos, contados da abertura da sucessão.
(Redação dada pela Lei nº 13.532, de 2017)

o (iv) Sentença: nos termos do art. 1.815, CC, somente com o trânsito em
julgado da sentença declaratória de indignidade é que pode haver a
exclusão do indigno da sucessão.

[CC] Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer


desses casos de indignidade, será declarada por sentença.

 Efeitos da sentença de exclusão: a sentença de exclusão gera alguns efeitos


importantes. Eles são:

o (i) Pessoalidade: nos termos do art. 1.816, CC, os efeitos da exclusão


por indignidade são personalíssimos, de modo que os sucessores do
indigno não estão excluídos da sucessão.

[CC] Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os


descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto
fosse antes da abertura da sucessão.
Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao
usufruto ou à administração dos bens que a seus sucessores
couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens.

o (ii) Morte civil: em termos sucessórios, a exclusão por indignidade gera


os mesmos efeitos de uma pré-morte, na forma do art. 1.816, CC,
caracterizando uma “morte civil”. O indigno, assim, não terá direito ao
usufruto ou à administração dos bens que couberem a seus
sucessores. Também não é possível a sucessão eventual dos bens,
dada por uma eventual doação dos bens para o indigno, feita por seus
sucessores, visto que, para o indigno, os bens advindos da sucessão
em questão são considerados “bens ereptícios”. Denomina-se “bem
ereptício” aquele que é retirado do indigno, como se esse indigno
nunca tivesse sido herdeiro.

54
[CC] Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os
descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto
fosse antes da abertura da sucessão.
Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao
usufruto ou à administração dos bens que a seus sucessores
couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens.

o (iii) Direito de representação: como já apresentado, em termos


sucessórios, a exclusão por indignidade gera os mesmos efeitos de
uma pré-morte, na forma do art. 1.816, CC, caracterizando uma “morte
civil”. Desse modo, os descendentes do indigno podem, inclusive,
herdar por direito de representação, partilhando por estirpe.

[CC] Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os


descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto
fosse antes da abertura da sucessão.

o (iv) Proteção ao terceiro de boa-fé: partindo-se do pressuposto de que,


até o trânsito em julgado da sentença declaratória de indignidade, o
pretenso indigno ainda faz jus à sucessão, caso a Vara de órfãos e
sucessões não suspenda o processo e finalize o procedimento,
integrando a quota-parte da herança do de cujus ao patrimônio do
pretenso indigno, é possível que esse indigno transacione legalmente
bens herdados. Assim, nos termos do art. 1.817, caput, CC, o terceiro
de boa-fé que eventualmente tenha transacionado com o indigno, de
forma onerosa, algum bem herdado, é protegido, de modo que tais
transações são válidas. Nesses casos, após a exclusão por
indignidade, é possível que os herdeiros remanescentes, quando
prejudicados, demandem perdas e danos contra o indigno.

[CC] Art. 1.817. São válidas as alienações onerosas de bens


hereditários a terceiros de boa-fé, e os atos de administração
legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão;
mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de
demandar-lhe perdas e danos.

o (v) Indenização por frutos e rendimentos: uma vez mais partindo-se do


pressuposto de que, até o trânsito em julgado da sentença declaratória
de indignidade, o pretenso indigno ainda faz jus à sucessão, caso a
Vara de órfãos e sucessões não suspenda o processo e finalize o
procedimento, integrando a quota-parte da herança do de cujus ao
patrimônio do pretenso indigno, é possível que esse indigno transacione
legalmente bens herdados. Assim, nos termos do art. 1.817, parágrafo
único, CC, o indigno é obrigado a restituir os frutos e rendimentos que
houver percebido, em razão dos bens da herança, contudo, esse
indigno tem direito a ser indenizado das despesas com a conservação
dos referidos bens.

55
[CC] Art. 1.817. (...)
Parágrafo único. O excluído da sucessão é obrigado a restituir
os frutos e rendimentos que dos bens da herança houver
percebido, mas tem direito a ser indenizado das despesas com a
conservação deles.

 Reabilitação ou perdão do indigno: há possibilidade de verificação do


perdão do indigno. Esse perdão pode se dar de duas formas:

o (i) Perdão expresso: o perdão expresso é aquele feito por escrito, por
meio de testamento ou outro ato autêntico, a exemplo da escritura
pública, nos termos do art. 1.818, CC. No perdão expresso, o perdão
se estende para toda a quota-parte da herança que couber ao
herdeiro perdoado.

[CC] Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a


exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver
expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico.

o (ii) Perdão tácito: o perdão tácito ocorre quando o de cujus deixa, em


testamento, determinada herança ou legado especificamente para o
indigno, de modo que se entende que se caracterizou, tacitamente, o
perdão, nos termos do art. 1.818, parágrafo único, CC. Diferentemente
do perdão expresso, no entanto, a extensão do perdão tácito se limita
aos bens que foram deixados em testamento.

[CC] Art. 1.818. (...)


Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno,
contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao
testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite
da disposição testamentária.

10.2.3.2. Deserdação

 Entendimento: o segundo pressuposto negativo consiste em não ser


deserdado, ou seja, a deserdação priva o sucessor de ter acesso à herança do
falecido, nos termos do art. 1.961 e seguintes, CC. Importa ressaltar que o
instituto da deserdação é restrito aos herdeiros necessários do de cujus (visto
que, para afastar parentes colaterais, que não são herdeiros necessários na
forma do art. 1.845, CC, bastaria a formalização de um testamento que não o
comtemplasse).

o Na deserdação, a privação de acesso à herança inclui o mínimo legal


que caberia, legalmente, ao herdeiro necessário (chamado de
“legítima”), ou seja, exclui-se o herdeiro necessário de herdar qualquer
valor.

o Na deserdação (diferentemente da indignidade), o procedimento de


afastamento se inicia antes da morte do futuro autor da sucessão, visto
que a deserdação é uma declaração de vontade expressa do autor da

56
sucessão, de excluir qualquer de seus herdeiros necessários em razão
da prática de algum ato ofensivo, na forma considerada pelo legislador.
A forma de manifestar o desejo de deserdar é por meio de identificação
específica da deserdação, no testamento.

[CC] Art. 1.961. Os herdeiros necessários podem ser privados de


sua legítima, ou deserdados, em todos os casos em que podem ser
excluídos da sucessão.

[CC] Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os


ascendentes e o cônjuge.

 Causas da deserdação: as causas de deserdação estão apontadas, em rol


taxativo, nos arts. 1.962 e 1.963, cominados com o art. 1.814, CC. Assim, nem
toda causa que acarreta deserdação, necessariamente acarreta indignidade,
mas toda causa de indignidade pode acarretar em deserdação. Elas são:

o (i) Homicídio doloso: nos termos do art. 1.814, I, CC, podem ser
excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários que houverem sido
autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa
deste, contra o sucedido ou contra seu cônjuge, companheiro,
ascendente ou descendente. Há necessidade de procedimento cível
específico para tal exclusão. Não há necessidade de qualquer
condenação no juízo criminal, em razão do princípio da independência
de instâncias, contudo, caso ocorra absolvição ou desclassificação (por
exemplo, para homicídio culposo) na esfera penal, esse resultado
poderá influenciar o processo cível.
[CC] Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou
legatários:
I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de
homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja
sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou
descendente;

o (ii) Acusação caluniosa: nos termos do art. 1.814, II, primeira parte, CC,
podem ser excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários que
houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança. Assim
como no homicídio doloso, há necessidade de procedimento cível
específico para tal exclusão e não há necessidade de qualquer
condenação no juízo criminal.

[CC] Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou


legatários:
(...)
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o
autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou
de seu cônjuge ou companheiro;

57
o (iii) Crimes contra a honra: nos termos do art. 1.814, II, segunda parte,
CC, podem ser excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários que
incorrerem em crime contra a honra do de cujus, ou de seu cônjuge ou
companheiro. O entendimento da doutrina é divergente quanto à essa
situação. A corrente minoritária advoga que é desnecessária a
apuração no juízo criminal (assim como na situação do homicídio
doloso). A corrente majoritária, à qual a jurisprudência se filia, no
entanto, advoga que é necessária a condenação na esfera penal, em
razão do termo “crime”, utilizado no art. 1.814, II, segunda parte, CC,
visto que somente o juízo criminal pode definir o que é um crime e o
que não é assim caracterizado.
[CC] Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou
legatários:
(...)
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da
herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu
cônjuge ou companheiro;

o (iv) Inibir ou obstar a livre disposição dos bens, por meios violentos ou
fraudulentos: nos termos do art. 1.814, III, CC, podem ser excluídos da
sucessão os herdeiros ou legatários que por violência ou meios
fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor
livremente de seus bens por ato de última vontade. Exemplos poderiam
ser afirmações do tipo “se você não revogar esse testamento, você não
verá mais seus netos!”, ou “se você não mudar esse testamento, tenho
uns amigos que podem resolver essa situação de outros modos...”, ou
mesmo uma comprovação de destruição de testamento particular).

[CC] Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou


legatários:
(...)
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou
obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens
por ato de última vontade.

o (v) Ofensa física: a ofensa física é causa de deserdação do


descendente (art. 1.962, I, CC), bem como causa de deserdação dos
ascendentes (art. 1.963, I, CC).

 Importa ressaltar que a ofensa física só será causa de


deserdação, no entanto, quando ela for realizada contra o
próprio autor da sucessão.

[CC] Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814,


autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:
I - ofensa física;

[CC] Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814,


autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes:

58
I - ofensa física;

o (vi) Injúria grave: a injúria grave é causa de deserdação do descendente


(art. 1.962, II, CC), bem como causa de deserdação dos ascendentes
(art. 1.963, II, CC).

 Importa ressaltar que a injúria grave só será causa de


deserdação, no entanto, quando ela for realizada contra o
próprio autor da sucessão.

[CC] Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814,


autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:
(...)
II - injúria grave;

[CC] Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814,


autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes:
(...)
II - injúria grave;

o (vii) Relações ilícitas: manter relações ilícitas com a madrasta ou com o


padrasto é causa de deserdação do descendente (art. 1.962, III, CC).
Da mesma forma, manter relações ilícitas com a mulher ou
companheira do filho ou a do neto, ou com o marido ou companheiro da
filha ou o da neta é causa de deserdação dos ascendentes (art. 1.963,
III, CC).

 Não há necessidade de correspondência do alvo da investida


ilícita, bastando que tenha existido a investida. Quaisquer
situações consideradas ilícitas pela lei (não necessariamente
com conotação sexual) podem ser causas de deserdação.

 As relações ilícitas, por sua própria natureza, não são realizadas


com (ou contra) o próprio autor da sucessão.

[CC] Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814,


autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:
(...)
III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;

[CC] Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814,


autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes:
(...)
III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a
do neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou o da neta;

o (viii) Desamparo: o desamparo de ascendente em alienação mental ou


grave enfermidade é causa de deserdação do descendente (art. 1.962,
IV, CC). Da mesma forma, o desamparo de filho ou neto com
deficiência mental ou grave enfermidade é causa de deserdação dos
ascendentes (art. 1.963, IV, CC).

59
 Importa ressaltar que o indivíduo com alienação mental, que não
tem capacidade para fazer testamento, também não terá
capacidade para manifestar sua vontade de deserdar. Assim,
por exemplo, caso uma mãe seja alienada mentalmente e tenha
um filho que não lhe presta nenhuma assistência, ela não
poderá deserda-lo, mas o pai, que não é mentalmente alienado,
poderá deserdar o filho pela falta de cuidado com a esposa. A
grave enfermidade, desde que desacompanhada de alienação
mental, não impossibilita a feitura de testamento e,
consequentemente, não impossibilita a deserdação.

 Não há necessidade, portanto, de que o desamparo seja


cometido contra o próprio autor da sucessão, podendo ser
realizado contra quaisquer descendentes (no caso do art. 1.962,
CC) ou ascendentes (art. 1.963, CC).
[CC] Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814,
autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:
(...)
IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave
enfermidade.

[CC] Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814,


autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes:
(...)
IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou
grave enfermidade.

Observação: Deserdação do cônjuge ou companheiro. Não há


previsão específica, no Código Civil, para a deserdação do cônjuge ou
companheiro, por omissão legislativa (visto que, no Código Civil de 1916, o
cônjuge ou companheiro não era considerado herdeiro necessário e,
quando houve a inclusão, não houve preocupação do legislador em listar
hipóteses de deserdação correspondentes). A doutrina e a jurisprudência,
nesse caso, optam pela utilização analógica das hipóteses cabíveis para
os descendentes e ascendentes.

 Pressupostos da deserdação: a deserdação só se verifica com a observância


de quatro pressupostos. Eles são:

o (i) Herdeiros necessários: o instituto da deserdação é restrito aos


herdeiros necessários do de cujus. Nos termos do art. 1.845, os
herdeiros necessários são os descendentes, os ascendentes, o cônjuge
e o companheiro.
[CC] Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os
ascendentes e o cônjuge.

o (ii) Testamento: a forma de manifestar o desejo de deserdar é por meio


de identificação específica da deserdação, no testamento
(independentemente da modalidade, ou seja, não faz diferença que

60
esse testamento seja público, particular, cerrado, marítimo ou qualquer
outro).

o (iii) Declaração motivada: a declaração de indignidade, feita no


testamento, pelo autor da sucessão, deverá ser motivada, nos termos
do art. 1.964, CC.
[CC] Art. 1.964. Somente com expressa declaração de causa
pode a deserdação ser ordenada em testamento.

o (iv) Comprovação em juízo: o autor da sucessão deverá ter a cautela de


deixar as provas da causa de deserdação ao alcance dos herdeiros que
serão beneficiados pela herança, de modo que esses herdeiros possam
comprovar, em juízo, aquilo que foi posto na declaração testamentária
de deserdação, após a morte do sucedido. Caso os herdeiros
interessados não consigam comprovar a causa de deserdação, a
declaração correspondente será considerada inválida e o pretenso
deserdado voltará à condição de herdeiro necessário.

 Procedimento judicial para confirmação da deserdação: a exclusão do


herdeiro necessário não é automática (apesar do termo “são excluídos”,
verificado no art. 1.814, caput, CC, que é utilizado impropriamente),
dependendo de comprovação em processo judicial específico, com sentença
judicial.

o (i) Ação judicial: a ação própria é a ação ordinária de deserdação. A


Vara de órfãos e sucessões, que não pode apreciar provas (ou seja,
onde não há dilação probatória) não é competente para apreciar o
pedido de declaração de indignidade, sendo competente o juízo cível
regular.

o (ii) Legitimidade: nos termos do art. 1.965, CC, entendendo-se


“proveito” como “proveito econômico”, de modo que os legitimados
seriam os outros herdeiros, interessados economicamente na
declaração de deserdação. A pessoa, indicada pelo juiz ou pelo próprio
testador, que cuidará e administrará dos bens enquanto não se
cumprem as vontade do testador, é chamada de testamenteiro. O
testamenteiro também tem legitimidade para ajuizar a ação ordinária de
deserdação.

[CC] Art. 1.965. Ao herdeiro instituído, ou àquele a quem


aproveite a deserdação, incumbe provar a veracidade da causa
alegada pelo testador.
Parágrafo único. O direito de provar a causa da deserdação
extingue-se no prazo de quatro anos, a contar da data da abertura
do testamento.

o (iii) Prazo: o prazo decadencial para ajuizar a ação ordinária de


deserdação, nos termos do art. 1.965, parágrafo único, CC, é de 4
anos, contados da abertura do testamento. A abertura do testamento se

61
dá com a distribuição do testamento em juízo, para uma das Varas de
órfãos e sucessões. As Varas de órfãos e sucessões, ao receberem um
procedimento de inventário, juntarão, com base nos dados do sistema
nacional integrado de cartórios, certidão atestando que existe (ou não)
testamento. É importante ressaltar, no entanto, que nem todos os
estados da Federação já participam no sistema nacional integrado,
então é possível que o autor da sucessão tenha deixado testamento
registrado em cartório não incluído, caso no qual, se o testamento for
apresentado, em momento posterior, ele poderá alterar o procedimento
de inventário.

[CC] Art. 1.965. (...)


Parágrafo único. O direito de provar a causa da deserdação
extingue-se no prazo de quatro anos, a contar da data da abertura
do testamento.

o (iv) Sentença: somente com o trânsito em julgado da sentença em ação


ordinária de deserdação é que pode haver a exclusão do deserdado da
sucessão.

 Efeitos da sentença de exclusão: os efeitos da sentença de exclusão por


deserdação são exatamente os mesmos daqueles da sentença de exclusão
por indignidade. Eles são:

o (i) Pessoalidade: nos termos do art. 1.816, CC, os efeitos da exclusão


por deserdação são personalíssimos, de modo que os sucessores do
deserdado não estão excluídos da sucessão.
[CC] Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os
descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto
fosse antes da abertura da sucessão.
Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao
usufruto ou à administração dos bens que a seus sucessores
couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens.

o (ii) Morte civil: em termos sucessórios, a exclusão por deserdação gera


os mesmos efeitos de uma pré-morte, na forma do art. 1.816, CC,
caracterizando uma “morte civil”. O deserdado, assim, não terá direito
ao usufruto ou à administração dos bens que couberem a seus
sucessores. Também não é possível a sucessão eventual dos bens,
dada por uma eventual doação dos bens para o deserdado, feita por
seus sucessores, visto que, para o deserdado, os bens advindos da
sucessão em questão são considerados “bens ereptícios”. Denomina-se
“bem ereptício” aquele que é retirado do deserdado, como se esse
deserdado nunca tivesse sido herdeiro.
[CC] Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os
descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto
fosse antes da abertura da sucessão.

62
Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao
usufruto ou à administração dos bens que a seus sucessores
couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens.

o (iii) Direito de representação: como já apresentado, em termos


sucessórios, a exclusão por deserdação gera os mesmos efeitos de
uma pré-morte, na forma do art. 1.816, CC, caracterizando uma “morte
civil”. Desse modo, os descendentes do deserdado podem, inclusive,
herdar por direito de representação, partilhando por estirpe. Esse
entendimento é uma construção jurisprudencial, feita por analogia às
disposições relativas à indignidade.
[CC] Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os
descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto
fosse antes da abertura da sucessão.

o (iv) Proteção ao terceiro de boa-fé: partindo-se do pressuposto de que,


até o trânsito em julgado da sentença de exclusão por deserdação, o
pretenso deserdado ainda faz jus à sucessão, caso a Vara de órfãos e
sucessões não suspenda o processo e finalize o procedimento,
integrando a quota-parte da herança do de cujus ao patrimônio do
pretenso deserdado, é possível que esse indigno transacione
legalmente bens herdados. Assim, nos termos do art. 1.817, caput, CC,
o terceiro de boa-fé que eventualmente tenha transacionado com o
deserdado, de forma onerosa, algum bem herdado, é protegido, de
modo que tais transações são válidas. Nesses casos, após a exclusão
por deserdação, é possível que os herdeiros remanescentes, quando
prejudicados, demandem perdas e danos contra o indigno.

[CC] Art. 1.817. São válidas as alienações onerosas de bens


hereditários a terceiros de boa-fé, e os atos de administração
legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão;
mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de
demandar-lhe perdas e danos.

o (v) Indenização por frutos e rendimentos: uma vez mais partindo-se do


pressuposto de que, até o trânsito em julgado da sentença de exclusão
por deserdação, o pretenso indigno ainda faz jus à sucessão, caso a
Vara de órfãos e sucessões não suspenda o processo e finalize o
procedimento, integrando a quota-parte da herança do de cujus ao
patrimônio do pretenso deserdado, é possível que esse deserdado
transacione legalmente bens herdados. Assim, nos termos do art.
1.817, parágrafo único, CC, o deserdado é obrigado a restituir os frutos
e rendimentos que houver percebido, em razão dos bens da herança,
contudo, esse deserdado tem direito a ser indenizado das despesas
com a conservação dos referidos bens.

[CC] Art. 1.817. (...)

63
Parágrafo único. O excluído da sucessão é obrigado a restituir
os frutos e rendimentos que dos bens da herança houver
percebido, mas tem direito a ser indenizado das despesas com a
conservação deles.

64
Aula 9 – 20/03/2019

Programa – Aula 9

11. Vocação hereditária na sucessão legítima


11.1. Disposições gerais
11.2. Regras da vocação hereditária na sucessão legítima
11.2.1. Regras gerais da vocação hereditária na sucessão legítima
11.2.2. Modo de suceder
11.2.3. Modos de partilhar
11.3. Tipos de herdeiros
11.3.1. Herdeiros legítimos
11.3.2. Herdeiros necessários
11.3.3. Herdeiros facultativos

11. Vocação hereditária na sucessão legítima

 Entendimento: a vocação hereditária é a capacidade sucessória, ou seja, a


capacidade passiva para ser sucessor. A vocação hereditária se aplica tanto
para o sucessor legítimo, quanto para o sucessor testamentário. Nessa seção,
será abordada, especificamente, a vocação hereditária na sucessão legítima.

11.1. Disposições gerais

 Pressupostos da vocação hereditária na sucessão legítima: como visto na


seção 10.2, a vocação hereditária possui três pressupostos. Todos eles se
aplicam à sucessão legítima:

o (i) Pressupostos fáticos: os pressupostos fáticos estão consagrados, no


ordenamento jurídico brasileiro, no princípio da coexistência (com a
única exceção da situação da concepção e da expectativa de direito do
nascituro) e no princípio da sobrevivência (com a única exceção do
direito de representação). Para mais detalhes, ver seção 10.2.1.

o (ii) Pressuposto jurídico: o pressuposto jurídico da vocação hereditária


consiste na existência de um vínculo jurídico com o de cujus. No caso
da sucessão legítima, o vínculo se dá por meio da lei. Há três
elementos básicos que fazem com que se reconheça o vínculo jurídico
familiar. Para mais detalhes, ver seção 10.2.2. Eles são:

 (a) Parentesco (natural ou civil);


 (b) Casamento
 (c) União estável.

o (iii) Pressupostos negativos: os pressupostos negativos da vocação


hereditária consistem na inexistência de duas situações específicas,
que são (a) a indignidade e (b) a deserdação. Para mais detalhes, ver
seção 10.2.3.

65
 Classes sucessórias na sucessão legítima: as classes sucessórias são
grupos de sucessores, ordenados e organizados de acordo com o vínculo
jurídico familiar que mantinham com o sucedido. Na sucessão legítima, elas
são:

o (i) Parentes: na classe sucessória dos parentes, o vínculo jurídico


familiar se dá pelo parentesco (natural ou civil). Dentro dessa classe há
três subgrupos:

 (a) Descendentes
 (b) Ascendentes
 (c) Colaterais

o (ii) Cônjuges: o cônjuge sobrevivente, também chamado de cônjuge


supérstite, tem vínculo jurídico familiar com base no casamento.

o (iii) Companheiros: o companheiro sobrevivente, também chamado de


companheiro supérstite, tem vínculo jurídico familiar com base na união
estável.

 Ordem de vocação hereditária moderna: o art. 1.829, CC, traz a ordem de


vocação hereditária que atualmente se utiliza. Ela é:

o (i) Descendentes: em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo


se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no
da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único, CC), ou
se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver
deixado bens particulares;

o (ii) Ascendentes: em concorrência com o cônjuge;

Observação: Sucessão concorrente do cônjuge. O cônjuge


somente concorre com os descendentes em certos casos,
dependendo do regime de bens. Contudo, o cônjuge sempre
concorre com os ascendentes, independentemente do regime de
bens.

o (iii) Cônjuge sobrevivente: as regras para o cônjuge (originado do


casamento) são as mesmas para as regras do companheiro (originado
da união estável). Anteriormente, o art. 1.790, CC, disciplinava regime
sucessório diferenciado para o companheiro, contudo, esse dispositivo
foi declarado inconstitucional pelo STF, de modo que houve
equiparação entre companheiro e cônjuge, com base na Constituição
de 1988.

o (iv) Parentes em linha colateral.

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)

66
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

[CC] Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da


sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na
vigência da união estável, nas condições seguintes: (Vide Recurso
Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694)
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota
equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança,
tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a
um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade
da herança.

11.2. Regras da vocação hereditária na sucessão legítima

11.2.1. Regras gerais da vocação hereditária na sucessão legítima

 Entendimento: a sistemática da sucessão legítima no Direito das Sucessões


brasileiro é orientado por duas regras. Elas são:

o (i) Primeira regra: uma classe sucessória só será chamada quando


faltarem integrantes (sucessores legitimados) na classe precedente.

o (ii) Segunda regra: dentro de uma mesma classe sucessória, o grau


mais próximo exclui o grau mais remoto. Essa regra, evidentemente, é
aplicada somente para a classe sucessória dos parentes (incluindo
descendentes, ascendentes e colaterais).

 Exceção: a segunda regra conta com uma exceção, na forma


do direito de representação, que se verificará quando o mais
habilitado não pode comparecer à sucessão por já estar morto,
ser indigno ou deserdado.

11.2.2. Modo de suceder

 Entendimento: a sistemática da sucessão legítima no Direito das Sucessões


brasileiro prevê três diferentes modos de suceder. Eles são:

o (i) Direito próprio: trata-se do modo de suceder que se relaciona ao


direito do próprio sucedido, que é o herdeiro mais habilitado, por direito.
O sucessor com direito próprio não está representando nenhum outro
indivíduo.

67
 Exemplo: na classe parentes, grupo dos descendentes, quem
sempre sucede por direito próprio são os filhos.

o (ii) Direito de representação: o direito de representação se verificará


quando o mais habilitado não puder comparecer à sucessão por já estar
morto, ser indigno ou deserdado. Nesses casos, a lei chamará certos
parentes do pré-morto a ocuparem seu lugar e a receber o que esse
representado receberia se vivo fosse, nos termos do art. 1.851 e
seguintes, CC. Também é importante ressaltar que o direito de
representação se dá somente na linha reta descendente, nunca na
ascendente, nos termos do art. 1.852, CC, e na linha transversal,
limitado até os filhos de irmãos (sobrinhos), nos termos do art. 1.853,
CC,

[CC] Art. 1.851. Dá-se o direito de representação, quando a lei


chama certos parentes do falecido a suceder em todos os direitos,
em que ele sucederia, se vivo fosse.

[CC] Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta


descendente, mas nunca na ascendente.

[CC] Art. 1.853. Na linha transversal, somente se dá o direito de


representação em favor dos filhos de irmãos do falecido, quando com
irmãos deste concorrerem.

o (iii) Direito de transmissão: o direito de transmissão é um conceito


doutrinário, visto que o legislador trata os efeitos práticos do direito de
transmissão da mesma forma que o direito de representação. O que
diferencia o direito de transmissão do direito de representação é a data
de morte do herdeiro, ou seja, o momento em que se verifica a
ausência do mais habilitado. Enquanto no direito de representação, o
herdeiro é pré-morto, no direito de transmissão, o herdeiro falece após
a morte do autor da sucessão, mas sem que este herdeiro tenha tido
tempo de optar por aceitar ou não a herança, caso no qual o poder de
aceitar passa aos herdeiros desse falecido, na forma do art. 1.809, CC.
Importa ressaltar que, nos casos de vocação hereditária (do herdeiro
pós-morto) adstrita a uma condição suspensiva ainda não verificada,
não será possível a ocorrência do direito de transmissão.

[CC] Art. 1.809. Falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita


a herança, o poder de aceitar passa-lhe aos herdeiros, a menos que
se trate de vocação adstrita a uma condição suspensiva, ainda não
verificada.
Parágrafo único. Os chamados à sucessão do herdeiro falecido
antes da aceitação, desde que concordem em receber a segunda
herança, poderão aceitar ou renunciar a primeira.

11.2.3. Modos de partilhar

68
 Entendimento: se houver apenas um herdeiro, esse herdeiro adjudicará a
herança. Adjudicar, portanto, é tomar para si a totalidade da herança. Se, no
entanto, houver mais de um herdeiro, esses herdeiros deverão partilhar a
herança. A sistemática da sucessão legítima no Direito das Sucessões
brasileiro prevê três diferentes modos de partilha. Eles são:

o (i) Por cabeça: trata-se da divisão equânime, igualitária, entre todos os


mais legitimados dentro de uma classe sucessória. É o modo de
partilhar que se verifica quando o modo de suceder é o direito próprio,
nos casos dos grupos de descendentes e dos colaterais.

o (ii) Por linhas: trata-se da divisão entre as linhas materna e paterna. É o


modo de partilhar que se verifica quando o modo de suceder é o direito
próprio, nos caso específico do grupo dos ascendentes. No entanto, a
segunda regra geral também se aplica à sucessão por linhas, de modo
que se, na linha paterna, o pai ainda estiver vivo e, na linha materna,
somente a avó estiver viva, o grau mais próximo afasta o mais remoto e
somente o pai herdará, adjudicando a herança.

o (iii) Por estirpe: é o modo de partilhar que se verifica quando o modo de


suceder é o direito de representação (e, também, quando se trata de
direito de transmissão, posto que esse é um conceito doutrinário,
tratado, para efeitos práticos, da mesma forma que o direito de
representação). Trata-se da partilha na qual a quota-parte que caberia,
por cabeça, ao pré-morto, será dividida entre sua estirpe, ou seja, entre
os herdeiros deste pré-morto.

11.3. Tipos de herdeiros

 Entendimento: o ordenamento jurídico brasileiro prevê três tipos de herdeiros


na sucessão legítima. Eles são:

o (i) Herdeiros legítimos;


o (ii) Herdeiros necessários;
o (iii) Herdeiros facultativos.

11.3.1. Herdeiros legítimos

 Entendimento: os herdeiros legítimos são aqueles que a lei determina como


tal. Eles estão listados no art. 1.829, CC. São os descendentes, os
ascendentes, o cônjuge supérstite (sobrevivente) e o companheiro supérstite
(sobrevivente).

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.

69
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

11.3.2. Herdeiros necessários

 Entendimento: os herdeiros necessários são aqueles que não podem ser


afastados da herança, pelo autor da sucessão, a não ser em caso de motivo
justificado (como a indignidade e a deserdação). Eles têm direito ao mínimo
legal da herança, denominado “legítima”, que representa 50% do patrimônio
líquido do autor da sucessão. Na forma do art. 1.845, CC, os herdeiros
necessários são os descendentes, os ascendentes, o cônjuge e, por
equiparação, o companheiro.

o (*) Importa ressaltar que nem todo herdeiro legítimo é necessário, mas
nem todo herdeiro necessário é legítimo. Com a equiparação do
companheiro e do cônjuge, pelo STF, no entanto, os herdeiros
necessários são os descendentes, os ascendentes, o cônjuge e o
companheiro. Se a pergunta, no entanto, for no sentido de quais os
herdeiros necessários para o Código Civil, o companheiro não entrará,
visto que a equiparação é uma construção jurisprudencial.

Observação: Legítima. A legítima é o mínimo legal da herança,


denominado “legítima”, que representa 50% do patrimônio líquido do autor
da sucessão. O valor da legítima é calculada de acordo com os bens e
direitos que o autor tinha, na data de sua morte, abatidas as obrigações
(dívidas do autor), inclusive as despesas com seu funeral, na forma dos
arts. 1.846 e 1.847, CC.

[CC] Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno


direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima.

[CC] Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens


existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as
despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o valor dos bens
sujeitos a colação.

11.3.3. Herdeiros facultativos

 Entendimento: os herdeiros facultativos são todos aqueles que são legítimos,


mas não são necessários, ou seja, são os parentes colaterais. Nos termos do
art. 1.850, CC, para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o
autor da sucessão, em testamento, disponha de seu patrimônio sem os
contemplar.

[CC] Art. 1.850. Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais,


basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar.

70
71
Aula 10 – 21/03/2019

Programa – Aula 10

12. Direito de representação


12.1. Limites do direito de representação
12.2. Extensão do direito de representação
12.3. Pressupostos do direito de representação

12. Direito de representação

 Entendimento: o direito de representação se verificará quando o mais


habilitado não puder comparecer à sucessão por já estar morto, ser indigno ou
deserdado. Nesses casos, a lei chamará certos parentes do pré-morto a
ocuparem seu lugar e a receber o que esse representado receberia se vivo
fosse, nos termos do art. 1.851 e seguintes, CC.

[CC] Art. 1.851. Dá-se o direito de representação, quando a lei


chama certos parentes do falecido a suceder em todos os direitos,
em que ele sucederia, se vivo fosse.

Observação: Relação da sucessão legítima com o direito de


representação. A sistemática da sucessão legítima no Direito das
Sucessões brasileiro prevê três diferentes modos de suceder. Eles são: (i)
por direito próprio, (ii) por direito de representação, ou (iii) por direito de
transmissão. Quando ao modo de partilhar, este poderá ser (i) por cabeça,
(ii) por linhas ou (iii) por estirpe.
O direito de representação se dá somente na linha reta
descendente, nunca na ascendente, nos termos do art. 1.852, CC, e na
linha transversal, limitado até os filhos de irmãos (sobrinhos), nos termos
do art. 1.853, CC, assim, os únicos modos de partilha possíveis, no direito
de representação, são (a) por cabeça (partilha igualitária entre os mais
habilitados) ou (b) por estirpe (modo de partilha exclusivo do direito de
representação).

[CC] Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta


descendente, mas nunca na ascendente.

[CC] Art. 1.853. Na linha transversal, somente se dá o direito de


representação em favor dos filhos de irmãos do falecido, quando com
irmãos deste concorrerem.

 Ocorrência do direito de representação: como já aventado, há três


possibilidades de ocorrência do direito de representação. Elas são:

o (i) Pré-morte: nos termos do art. 1.851, CC, a lei chamará certos
parentes do pré-morto a ocuparem seu lugar e a receber o que esse
representado receberia se vivo fosse.

72
 Em termos de nomenclatura, é importante ressaltar que o termo
“falecido” se refere ao “pré-morto”. Não há que se falar em
“herdeiro falecido”, visto que, em sendo pré-morto, nunca foi
herdeiro. Outras nomenclaturas possíveis para se referir ao
falecido são “possível herdeiro” ou “pretenso herdeiro”.

o (ii) Indignidade: em termos sucessórios, a exclusão por indignidade


gera os mesmos efeitos de uma pré-morte, na forma do art. 1.816,
CC, caracterizando uma “morte civil”. Desse modo, os descendentes do
indigno podem herdar por direito de representação, partilhando por
estirpe.
[CC] Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os
descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto
fosse antes da abertura da sucessão.

o (iii) Deserdação: como já apresentado, em termos sucessórios, a


exclusão por deserdação gera os mesmos efeitos de uma pré-morte,
na forma do art. 1.816, CC, caracterizando uma “morte civil”. Desse
modo, os descendentes do deserdado podem herdar por direito de
representação, partilhando por estirpe. Esse entendimento é uma
construção jurisprudencial, feita por analogia às disposições relativas à
indignidade.

Observação: Relação entre o direito de representação e o direito de


transmissão. O direito de transmissão é um conceito doutrinário, visto que o
legislador trata os efeitos práticos do direito de transmissão da mesma forma
que o direito de representação. O que diferencia o direito de transmissão do
direito de representação é a data de morte do herdeiro, ou seja, o momento
em que se verifica a ausência do mais habilitado.
Enquanto no direito de representação, o herdeiro é pré-morto, no
direito de transmissão, o herdeiro falece após a morte do autor da sucessão,
mas sem que este herdeiro tenha tido tempo de optar por aceitar ou não a
herança, caso no qual o poder de aceitar passa aos herdeiros desse falecido,
na forma do art. 1.809, CC.
A partilha por estirpe é o modo de partilhar que se associa
diretamente ao direito de representação, contudo, também se associa ao
direito de transmissão, posto que esse é um conceito doutrinário e é tratado,
para efeitos práticos, da mesma forma que o direito de representação.

[CC] Art. 1.809. Falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita


a herança, o poder de aceitar passa-lhe aos herdeiros, a menos que
se trate de vocação adstrita a uma condição suspensiva, ainda não
verificada.
Parágrafo único. Os chamados à sucessão do herdeiro falecido
antes da aceitação, desde que concordem em receber a segunda
herança, poderão aceitar ou renunciar a primeira.

73
12.1. Limites do direito de representação

 Entendimento: o direito de representação pode ou não encontrar limites,


dependendo da linha sucessória. Veja-se:

o (i) Linha reta descendente: nos termos do art. 1.852, CC, o direito de
representação não encontra limites na linha reta descendente. Assim,
admite-se a representação pelos descendentes, não importando o grau
de descendência.

 Quanto aos ascendentes, a regra básica na qual o grau mais


próximo exclui o mais remoto é absoluta, de modo que não se
admite o direito de representação.

[CC] Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta


descendente, mas nunca na ascendente.

o (ii) Linha transversal: nos termos do art. 1.853, CC, o direito de


representação, na linha transversa, é limitado aos filhos dos irmãos (ou
seja, aos sobrinhos).

 Vale ressaltar que esse direito de representação somente será


aplicado quando não houverem herdeiros mais legitimados, de
acordo com a ordem de vocação hereditária do art. 1.829, CC,
ou seja, quando não houverem descendentes, ascendentes,
cônjuges ou companheiros supérstites (sobreviventes).

 Também vale ressaltar que é necessário, para que se opere o


direito de representação na linha transversal, que exista, pelo
menos, um irmão herdeiro e, pelo menos, um sobrinho com pai
ou mãe pré-mortos (sendo este pai ou mãe, irmão ou irmã do
autor da sucessão).

Observação: Parentesco transversal. Muitas vezes, a


doutrina usa os termos “parentesco colateral” e “parentesco
transversal”, como sinônimos, contudo, trata-se de uma
simplificação equivocada. O termo “parentesco transversal”,
se refere, unicamente, ao parentesco com irmãos. Enquanto
isso, o parentesco colateral se refere a todos os parentes
que se relacionam mediante um ancestral comum, até o 4º
grau.

[CC] Art. 1.853. Na linha transversal, somente se dá o direito de


representação em favor dos filhos de irmãos do falecido, quando com
irmãos deste concorrerem.

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)

74
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

12.2. Extensão do direito de representação

 Entendimento: nos termos do art. 1.854, CC, os representantes só podem


herdar, como tais, o que herdaria o representado, se vivo fosse.
Adicionalmente, nos termos do art. 1.855, CC, o quinhão do representado será
repartido igualmente entre seus representantes.

o Exemplo: se o pai, A, é sucedido por seus filhos B, C, D e E, a quota-


parte que caberá a cada um dos filhos será um quarto da sucessão
legítima. Caso C, que tem dois filhos, F e G, seja pré-morto, esses dois
filhos poderão herdar, por direito de representação, metade da quinhão
que caberia a C (ou seja, um oitavo do total da sucessão legítima,
equivalente a metade da quarta parte do total, que caberia a C),
partilhando, dessa forma, por estirpe.

[CC] Art. 1.854. Os representantes só podem herdar, como tais, o


que herdaria o representado, se vivo fosse.

[CC] Art. 1.855. O quinhão do representado partir-se-á por igual


entre os representantes.

Observação: Representação e renúncia. De acordo com o art. 1.811,


primeira parte, CC, ninguém pode suceder, representando herdeiro
renunciante. Por exemplo, se o pai, A, é sucedido por seus filhos B, C, D e
E, a quota-parte que caberá a cada um dos filhos será um quarto da
sucessão legítima. Caso C, que tem dois filhos, F e G, renuncie, B, D e E
passarão a receber, cada um, um terço da sucessão legítima (ou seja,
terão o acréscimo da quota-parte que seria do renunciante), e os filhos de
C, que são F e G, não poderão herdar por direito de representação.
Entretanto, é importante ressaltar que o indivíduo que renuncia a
uma herança ainda poderá representar essa pessoa na sucessão de outra
herança, nos termos do art. 1.856, CC, visto que o instituto da renúncia se
aplica, individualmente, à cada herança específica.
Da mesma maneira, também vale destacar que a renúncia à
herança de um ascendente pré-morto (feita, por exemplo, por meio de
testamento), não impede o direito de representação em relação a esse
ascendente, visto que, se essa renúncia impedisse a representação,
restaria verificada violação ao princípio da sobrevivência.

[CC] Art. 1.811. Ninguém pode suceder, representando herdeiro


renunciante. Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se

75
todos os outros da mesma classe renunciarem a herança, poderão os
filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça.

[CC] Art. 1.856. O renunciante à herança de uma pessoa poderá


representá-la na sucessão de outra.

12.3. Pressupostos do direito de representação

 Entendimento: o direito de representação tem alguns pressupostos básicos.


Eles são:

o (i) Sucessão legítima: somente há que se falar em direito de


representação em se tratando de sucessão legítima. Não há que se
falar em direito de representação na sucessão testamentária.

o (ii) Ausência de herdeiro mais habilitado: somente há que se falar em


direito de representação na ausência de herdeiro mais habilitado na
classe sucessória, visto que a modalidade de direito próprio tem
prioridade sobre a modalidade de direito de representação.

o (iii) Descendência: é necessário que o representante seja descendente


do representado. Não há que se falar, portanto, em direito de
representação de cônjuge ou ascendente.

o (iv) Pertencimento à mesma classe sucessória: tanto o representante


quanto o representado devem pertencer à mesma classe sucessória
(serão, por certo, de graus diferentes, mas ainda dentro da mesma
classe). Assim, na linha reta descendente, os filhos de descendentes
pré-mortos também fazem parte, por óbvio, da classe dos
descendentes, assim como, na linha transversal, os filhos de irmãos
(sobrinhos) também fazem parte da mesma classe que os irmãos, que
é a classe dos colaterais.

76
Aula 11 – 27/03/2019

Programa – Aula 11

13. Herança jacente e herança vacante


13.1. Herança jacente
13.2. Herança vacante

13. Herança jacente e herança vacante

 Entendimento: o regramento da herança jacente e da herança vacante estão


entre os arts. 1.819 e 1.823, CC, e entre os arts. 738 e 745, CPC. Cada um
desses institutos será trabalhado nas subseções seguintes.

13.1. Herança jacente

 Entendimento: a herança jacente é aquela que, aparentemente, não tem


dono, ou seja, não há herdeiros notoriamente conhecidos, nem testamento
válido, nos termos do art. 1.819, CC. Diz-se “jacente” porque a herança “jaz”
esperando o aparecimento de herdeiros. Há possibilidade, inclusive, de apenas
parte da herança ser considerada jacente (não há necessidade de que a
totalidade da herança seja jacente, para que se inicie o procedimento de
judicial de jacência).

o Quando se verifica a herança jacente, deve-se esgotar as


possibilidades de tentativa de localização de herdeiros, por meio de
procedimento específico. Somente após o esgotamento dessas
possibilidades é que a herança jacente passará para as mãos do
Estado, após ter sido declarada vacante. A jacência, portanto, é estágio
anterior à vacância. O Estado não é herdeiro, mas é sucessor, visto que
receberá a herança quando se esgotarem as possibilidades de
encontrar-se algum sucessor.

[CC] Art. 1.819. Falecendo alguém sem deixar testamento nem


herdeiro legítimo notoriamente conhecido, os bens da herança,
depois de arrecadados, ficarão sob a guarda e administração de um
curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente habilitado ou à
declaração de sua vacância.

 Hipóteses de jacência: de acordo com o art. 1.819, CC, há duas hipóteses de


jacência, não necessariamente cumulativas. Elas são:

o (i) Ausência de herdeiro legítimo notoriamente conhecido: quando não


há ausência de testamento, mas há ausência de herdeiro legítimo
notoriamente conhecido, ainda não resta afastada a hipótese de
jacência, visto que o testamento pode ser considerado inválido, ou o
receptor dos bens testados pode ser um pré-morto, dentre outras
possibilidades. Da mesma forma, quando não há ausência de

77
testamento, mas há ausência de herdeiro legítimo notoriamente
conhecido, se o testamento for válido, restará jacente somente a parte
referente à legítima.

o (ii) Ausência de testamento: quando há ausência de testamento, mas


não há ausência de herdeiro legítimo notoriamente conhecido, ainda
não resta afastada a hipótese de jacência, visto que o herdeiro legítimo
pode ser declarado indigno ou ser deserdado, dentre outras
possibilidades.

 Procedimento judicial de jacência: o procedimento judicial de jacência


passa, essencialmente, por cinco fases. Elas são:

o (i) Arrecadação dos bens: logo que o juiz tomar conhecimento da


existência de herança jacente, nomeará um curador e determinará que
oficial de justiça, acompanhado do curador e do chefe de secretaria (ou
do escrivão), façam a diligência de arrecadação, que nada mais é do
que um inventário, uma lista, dos bens componentes dessa herança
(arts. 738 a 740, CPC). Via de regra, são apontados como curadores
aqueles que estejam previamente inscritos em cadastro específico na
Vara de órfãos e sucessões. A função do curador será remunerada e
suas atribuições estão descritas no art. 739, CPC, dentre as quais está
a obrigação de prestação de contas.

[CPC] Art. 738. Nos casos em que a lei considere jacente a


herança, o juiz em cuja comarca tiver domicílio o falecido procederá
imediatamente à arrecadação dos respectivos bens.

[CPC] Art. 739. A herança jacente ficará sob a guarda, a


conservação e a administração de um curador até a respectiva
entrega ao sucessor legalmente habilitado ou até a declaração de
vacância.
§1º Incumbe ao curador:
I - representar a herança em juízo ou fora dele, com
intervenção do Ministério Público;
II - ter em boa guarda e conservação os bens arrecadados
e promover a arrecadação de outros porventura existentes;
III - executar as medidas conservatórias dos direitos da
herança;
IV - apresentar mensalmente ao juiz balancete da receita e
da despesa;
V - prestar contas ao final de sua gestão.
§2º Aplica-se ao curador o disposto nos arts. 159 a 161.

[CPC] Art. 740. O juiz ordenará que o oficial de justiça,


acompanhado do escrivão ou do chefe de secretaria e do curador,
arrole os bens e descreva-os em auto circunstanciado.
§1º Não podendo comparecer ao local, o juiz requisitará à
autoridade policial que proceda à arrecadação e ao arrolamento
dos bens, com 2 (duas) testemunhas, que assistirão às
diligências.

78
§2º Não estando ainda nomeado o curador, o juiz designará
depositário e lhe entregará os bens, mediante simples termo nos
autos, depois de compromissado.
§3º Durante a arrecadação, o juiz ou a autoridade policial
inquirirá os moradores da casa e da vizinhança sobre a
qualificação do falecido, o paradeiro de seus sucessores e a
existência de outros bens, lavrando-se de tudo auto de inquirição
e informação.
§4º O juiz examinará reservadamente os papéis, as cartas
missivas e os livros domésticos e, verificando que não apresentam
interesse, mandará empacotá-los e lacrá-los para serem assim
entregues aos sucessores do falecido ou queimados quando os
bens forem declarados vacantes.
§5º Se constar ao juiz a existência de bens em outra comarca,
mandará expedir carta precatória a fim de serem arrecadados.
§6º Não se fará a arrecadação, ou essa será suspensa,
quando, iniciada, apresentarem-se para reclamar os bens o
cônjuge ou companheiro, o herdeiro ou o testamenteiro
notoriamente reconhecido e não houver oposição motivada do
curador, de qualquer interessado, do Ministério Público ou do
representante da Fazenda Pública.

o (ii) Publicação de editais: de modo a dar publicidade à herança jacente,


publicam-se editais com a lista de bens componentes dessa herança,
na forma do art. 741, CPC. O objetivo dessa publicação é informar os
eventuais sucessores do falecido sobre os bens jacentes. Somente
após um ano da primeira publicação, sem que haja herdeiro habilitado,
a herança será considerada vacante, nos termos do art. 1.820, CC. art.
741, CPC, e art. 1.820, CC.

 Prazos: nos termos do art. 741, CPC, nas varas que tiverem
sítio na internet, haverá somente uma publicação nesse sítio e
no sítio de editais do CNJ, onde permanecerão por 3 meses.
Caso a vara não tenha sítio na internet, a publicação será feita
por 3 vezes, com intervalos de 1 mês entre cada publicação,
para habilitação de sucessores.

[CC] Art. 1.820. Praticadas as diligências de arrecadação e


ultimado o inventário, serão expedidos editais na forma da lei
processual, e, decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que
haja herdeiro habilitado, ou penda habilitação, será a herança
declarada vacante.

[CPC] Art. 741. Ultimada a arrecadação, o juiz mandará


expedir edital, que será publicado na rede mundial de
computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado o
juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça,
onde permanecerá por 3 (três) meses, ou, não havendo sítio, no
órgão oficial e na imprensa da comarca, por 3 (três) vezes com
intervalos de 1 (um) mês, para que os sucessores do falecido

79
venham a habilitar-se no prazo de 6 (seis) meses contado da
primeira publicação.
§1º Verificada a existência de sucessor ou de testamenteiro em
lugar certo, far-se-á a sua citação, sem prejuízo do edital.
§2º Quando o falecido for estrangeiro, será também
comunicado o fato à autoridade consular.

o (iii) Habilitação de herdeiros: após a publicação do edital, poderão


eventuais herdeiros se habilitarem, nos autos da própria arrecadação.

 Prazos: o prazo para habilitação dos herdeiros será de 6


meses, contados da primeira publicação (art. 741, caput, última
parte, CPC). Após esses 6 meses, no entanto, ainda é possível
ajuizar ação judicial autônoma, na Vara cível (ação de
habilitação de herança), buscando o reconhecimento do vínculo
jurídico familiar. Se, nessa ação autônoma, restar confirmado o
vínculo, será possível levar o título executivo judicial até a Vara
de órfãos e sucessões e pedir a habilitação (mesmo após os 6
meses imediatamente posteriores à primeira publicação).

[CPC] Art. 741. Ultimada a arrecadação, o juiz mandará expedir


edital, que será publicado na rede mundial de computadores, no sítio
do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais
do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 3 (três)
meses, ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da
comarca, por 3 (três) vezes com intervalos de 1 (um) mês, para que
os sucessores do falecido venham a habilitar-se no prazo de 6
(seis) meses contado da primeira publicação.
(...)
§3º Julgada a habilitação do herdeiro, reconhecida a qualidade
do testamenteiro ou provada a identidade do cônjuge ou
companheiro, a arrecadação converter-se-á em inventário.

o (iv) Habilitação de credores: nos mesmos prazos da habilitação de


herdeiros, ocorrerá também a habilitação de credores, na forma do art.
741, §4º, CPC. O art. 1.821, CC, assegura aos credores o direito de
pedir o pagamento das dívidas reconhecidas, nos limites da herança.
Após autorização judicial, os credores habilitados poderão ser pagos
com parte dos bens da herança jacente e o procedimento de jacência
continuará quanto ao restante do valor da herança, caso ainda exista
algum. Os bens que poderão ser alienados para pagamento dos
credores serão aqueles listados no art. 742, CPC.

[CC] Art. 1.821. É assegurado aos credores o direito de pedir o


pagamento das dívidas reconhecidas, nos limites das forças da
herança.

[CPC] Art. 741. (...)


(...)

80
§4º Os credores da herança poderão habilitar-se como nos
inventários ou propor a ação de cobrança.

[CPC] Art. 742. O juiz poderá autorizar a alienação:


I - de bens móveis, se forem de conservação difícil ou
dispendiosa;
II - de semoventes, quando não empregados na exploração de
alguma indústria;
III - de títulos e papéis de crédito, havendo fundado receio de
depreciação;
IV - de ações de sociedade quando, reclamada a
integralização, não dispuser a herança de dinheiro para o
pagamento;
V - de bens imóveis:
a) se ameaçarem ruína, não convindo a reparação;
b) se estiverem hipotecados e vencer-se a dívida, não
havendo dinheiro para o pagamento.
§1º Não se procederá, entretanto, à venda se a Fazenda
Pública ou o habilitando adiantar a importância para as
despesas.
§2º Os bens com valor de afeição, como retratos,
objetos de uso pessoal, livros e obras de arte, só serão
alienados depois de declarada a vacância da herança.

o (v) Conversão em inventário ou declaração de vacância: nos termos do


art. 743, CPC, e do art. 1.820, CC, o juiz da Vara de órfãos e sucessões
só poderá declarar a vacância (a) aguardar no mínimo 1 ano da
publicação do primeiro edital; (b) julgar todos os pedidos de habilitação,
feitos nos primeiros 6 meses, nos autos da própria arrecadação, e (c)
confirmar que não há outros procedimentos, em Varas cíveis, de
habilitação de herdeiros. Se, no entanto, houver herdeiros habilitados, o
procedimento de arrecadação será convertido em inventário.

[CC] Art. 1.820. Praticadas as diligências de arrecadação e


ultimado o inventário, serão expedidos editais na forma da lei
processual, e, decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que
haja herdeiro habilitado, ou penda habilitação, será a herança
declarada vacante.

[CPC] Art. 743. Passado 1 (um) ano da primeira publicação do


edital e não havendo herdeiro habilitado nem habilitação pendente,
será a herança declarada vacante.
§1º Pendendo habilitação, a vacância será declarada pela
mesma sentença que a julgar improcedente, aguardando-se, no
caso de serem diversas as habilitações, o julgamento da última.
§2º Transitada em julgado a sentença que declarou a vacância,
o cônjuge, o companheiro, os herdeiros e os credores só poderão
reclamar o seu direito por ação direta.

13.2. Herança vacante

81
 Entendimento: a herança vacante é aquela que, após procedimento judicial de
declaração de vacância, foi assim declarada por meio de sentença de
vacância. A herança vacante pode ser total ou parcial. A vacância, portanto, é
estágio posterior à jacência.

 Efeitos da sentença de vacância: uma vez sentenciada a vacância, dois


efeitos ocorrerão. Eles são:

o (i) Primeiro efeito: a sentença que declara a herança vacante afasta os


parentes colaterais, nos termos do art. 1.822, parágrafo único, CC,
transmitindo a herança às mãos do Estado, em caráter provisório, visto
que outros herdeiros (que não os colaterais), ainda podem reivindicar a
herança.

[CC] Art. 1.822. (...)


Parágrafo único. Não se habilitando até a declaração de
vacância, os colaterais ficarão excluídos da sucessão.

o (ii) Segundo efeito: para que esses outros herdeiros, no entanto,


possam reivindicar a herança, é necessário que o façam em até 5 anos
após a data da morte do autor da herança (quando se dá a abertura da
sucessão), nos termos do art. 1.822, caput, CC. Se (a) houver sentença
de declaração de vacância e (b) passarem-se 5 anos da morte do
sucedido, a transmissão da herança para o Estado se tornará definitiva.
art. 1.822, caput, CC. A partir desse ponto, nenhum eventual herdeiro
poderá reivindicar a herança outrora vacante.

[CC] Art. 1.822. A declaração de vacância da herança não


prejudicará os herdeiros que legalmente se habilitarem; mas,
decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens arrecadados
passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se
localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao
domínio da União quando situados em território federal.

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Aula 12 – 28/03/2019

Programa – Aula 12

14. Sucessão dos colaterais


14.1. Ordem de vocação hereditária
14.2. Modos de suceder
14.3. Modos de partilhar e a exceção da concorrência entre irmãos bilaterais e
irmãos unilaterais
14.4. Concorrência entre colaterais de terceiro grau: sobrinhos e tios

14. Sucessão dos colaterais

 Entendimento: na presente seção, será trabalhada a sucessão específica dos


parentes colaterais.

14.1. Ordem de vocação hereditária

 Entendimento: a ordem de vocação hereditária é a relação preferencial,


determinada por lei, para a sucessão legítima. Ela está disposta no art. 1.829,
CC. Para que haja sucessão dos colaterais, é necessário, portanto, que não
haja descendentes, ascendentes, cônjuge supérstite ou companheiro
supérstite, nos termos do art. 1.839, CC.

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

[CC] Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente, nas


condições estabelecidas no art. 1.830, serão chamados a suceder os
colaterais até o quarto grau.

 Definição de linha colateral: a linha é colateral quando os parentes se


relacionam mediante um ancestral comum. Na linha colateral o parentesco
existe até o 4º grau (art. 1.592, CC). Parentes em linha colateral, portanto, são
aqueles que fazem parte do mesmo tronco familiar, mas sem descendência
uns para com os outros. Assim, o limite da sucessão, quanto aos colaterais, é
até o quarto grau, visto que é somente até esse grau que os indivíduos são
considerados como integrantes dessa linha.

83
[CC] Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal,
até o quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem
descenderem uma da outra.

14.2. Modos de suceder

 Entendimento: os modos de suceder que são possíveis na sucessão de


colaterais são (i) direito próprio e (ii) o direito de representação (em casos
específicos, como descrito no art. 1.853, CC).

o (i) Direito próprio: nos termos do art. 1.840, CC, na classe dos
colaterais, via de regra, os mais próximos excluem os mais remotos.
Assim, dentre os colaterais, quem terá maior preferência serão os
irmãos do autor da sucessão. Os colaterais sucederão por direito
próprio quando não houver descendentes, ascendentes, cônjuge
supérstite ou companheiro supérstite.

[CC] Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais próximos


excluem os mais remotos, salvo o direito de representação concedido
aos filhos de irmãos.

o (ii) Direito de representação: nos termos do art. 1.853, CC, o direito de


representação, na linha transversa, é limitado aos filhos dos irmãos (ou
seja, aos sobrinhos).

 Vale ressaltar que esse direito de representação somente será


aplicado quando não houverem herdeiros mais legitimados, de
acordo com a ordem de vocação hereditária do art. 1.829, CC,
ou seja, quando não houverem descendentes, ascendentes,
cônjuges ou companheiros supérstites (sobreviventes).

 Também vale ressaltar que é necessário, para que se opere o


direito de representação na linha transversal, que exista, pelo
menos, um irmão herdeiro e, pelo menos, um sobrinho com pai
ou mãe pré-mortos (sendo este pai ou mãe, irmão ou irmã do
autor da sucessão).

[CC] Art. 1.853. Na linha transversal, somente se dá o direito de


representação em favor dos filhos de irmãos do falecido, quando com
irmãos deste concorrerem.

Observação: Parentesco transversal. Muitas vezes, a


doutrina usa os termos “parentesco colateral” e “parentesco
transversal”, como sinônimos, contudo, trata-se de uma
simplificação equivocada. O termo “parentesco transversal”,
se refere, unicamente, ao parentesco com irmãos. Enquanto
isso, o parentesco colateral se refere a todos os parentes
que se relacionam mediante um ancestral comum, até o 4º
grau.

84
14.3. Modos de partilhar e a exceção da concorrência entre irmãos bilaterais
e irmãos unilaterais

 Entendimento: os modos de partilhar que são possíveis na sucessão de


colaterais são (i) por cabeça, ou seja, igualitária (quando se tratar de sucessão
por direito próprio) e (ii) por estirpe (quando se tratar de sucessão por direito de
representação).

o Exceção (concorrência entre irmãos bilaterais e irmãos unilaterais): há,


no entanto, uma exceção em que a partilha se dará por cabeça, mas
a divisão não será igualitária. Esse é o caso da concorrência entre
irmãos bilaterais e irmãos unilaterais. Nos termos do art. 1.841, CC, há
tratamento diferenciado entre certos colaterais. Quando houver irmão
bilaterais concorrendo com unilaterais, os unilaterais receberão
apenas metade do que couber aos bilaterais. Essa regra se estende,
também, aos sobrinhos bilaterais e unilaterais, nos termos do art. 1.843,
§2º, CC. Esta exceção persiste até o terceiro grau (sobrinhos e tios). No
quarto grau de parentesco, todos herdarão igualmente,
independentemente de bilateralidade ou unilateralidade. Se todos os
herdeiros forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos forem filhos de
irmãos unilaterais, todos os irmãos herdarão por igual (art. 1.843, §3º,
CC).

 A razão material para essa exceção é de que o patrimônio de


um indivíduo, com irmãos, mas sem ascendentes, já é composto
por parte dos bens que pertenceram a sua mãe e parte dos
bens que pertenceram a seu pai (pois seus ascendentes são
pré-mortos), assim, não seria justo que os irmãos unilaterais do
autor da sucessão recebessem a mesma quantidade dos
bilaterais, visto que estariam tendo acesso a um patrimônio que
adveio de um ascendente que não lhe é comum.

[CC] Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos


bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do
que cada um daqueles herdar.

[CC] Art. 1.843. (...)


(...)
§2º Se concorrem filhos de irmãos bilaterais com filhos de
irmãos unilaterais, cada um destes herdará a metade do que
herdar cada um daqueles.
§3º Se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos de
irmãos unilaterais, herdarão por igual.

Observação: Irmãos bilaterais (ou “germanos”) e


unilaterais. Os irmãos bilaterais (também chamados de
“germanos”) são aqueles que têm ascendência comum, de ambas
as linhas (mesmo pai e mesma mãe).
Enquanto isso, os irmãos unilaterais são aqueles que têm
ascendência somente em uma das linhas. Quando os irmãos

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unilaterais têm pais distintos e a mesma mãe, serão chamados de
unilaterais uterinos. Quando os irmãos unilaterais têm mães
distintas e o mesmo pai, serão chamados de unilaterais
consanguíneos.

14.4. Concorrência entre colaterais de terceiro grau: sobrinhos e tios

 Entendimento: de acordo com o art. 1.843, caput, CC, os tios somente serão
chamados à herança se não houverem sobrinhos, mesmo estes sendo de
mesmo grau (terceiro grau). A razão material para essa disposição jurídica é
uma presunção legal de que os sobrinhos têm maior necessidade do
acréscimo patrimonial representado pela herança, visto que são, via de regra,
mais jovens.

o Se houverem somente sobrinhos, no entanto, estes herdarão por


cabeça, igualmente, art. 1.843, §1º, CC, exceto se houver diferença
entre os sobrinhos, em termos de bilateralidade e unilateralidade, nos
termos do art. 1.843, §2º, CC, caso no qual a partilha se dará por
cabeça, mas a divisão não será igualitária, nos termos do art. 1.841,
CC.

[CC] Art. 1.843. Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e,


não os havendo, os tios.
§1º Se concorrerem à herança somente filhos de irmãos
falecidos, herdarão por cabeça.
§2º Se concorrem filhos de irmãos bilaterais com filhos de
irmãos unilaterais, cada um destes herdará a metade do que
herdar cada um daqueles.
§3º Se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos de
irmãos unilaterais, herdarão por igual.

[CC] Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos


bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do
que cada um daqueles herdar.

86
Aula 13 – 03/04/2019

Programa – Aula 13

15. Sucessão dos descendentes


15.1. Aspectos históricos
15.2. Modos de suceder
15.3. Modos de partilhar
16. Sucessão dos ascendentes
16.1. Aspectos históricos
16.2. Modos de suceder
16.3. Modos de partilhar

15. Sucessão dos descendentes

 Entendimento: de acordo com o art. 1.829, I, CC, os descendentes são os


primeiros na ordem de vocação hereditária.

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares;

15.1. Aspectos históricos

 Entendimento: os descendentes sempre foram os primeiros na ordem de


vocação hereditária, no ordenamento jurídico brasileiro. Na vigência do Código
Civil de 1916, no entanto, somente os filhos considerados legítimos poderiam
herdar, que eram aqueles concebidos na vigência do casamento, na forma do
art. 1.605, CC/1916.

o Havia tratamento diferenciado, portanto, para:

 (i) Prole ilegítima: era aquela concebida fora do casamento e


que poderia ser legitimada quando ocorresse posterior
casamento entre os pais.

 (ii) Prole adotiva: inicialmente, apenas os maiores de 50 anos


poderiam adotar, depois, entendeu-se que a adoção anterior à
concepção de filhos naturais resultava em herança de apenas
metade para os adotivos (pois se presumia engano acerca da
ideia de que não se poderia ter filhos naturais e, a partir daí, se
dava preferência à consanguinidade) enquanto na adoção
posterior, a herança era igual entre naturais e adotados (pois se
presumia significado social para a adoção).

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 (iii) Prole espúria: era aquela advinda de relação adulterina ou
incestuosa. A prole espúria nunca poderia ser legitimada.

 (iv) Prole natural reconhecida: era aquela que, na morte do autor


da sucessão, por meio de testamento cerrado, era reconhecida
como legítima.

o Com o advento da Constituição de 1988, o art. 227, §6º, CF, revogou as


diferenciações entre a prole, promovidas pelo art. 1.605, CC. O Código
Civil de 2002, no mesmo sentido, reforçou a disposição constitucional,
na forma do art. 1.834, CC.

[CC/1916] Art. 1.605. Para os efeitos da sucessão, aos filhos


legítimos se equiparam os legitimados, os naturais reconhecidos e os
adotivos.
§1º Havendo filho legítimo, ou legitimado, só a metade do que
a este couber em herança terá direito o filho natural reconhecido
na constância do casamento (art. 358).
§2º Ao filho adotivo, se concorrer com legítimos,
supervenientes a adoção (art. 368), tocará somente metade da
herança cabível a cada um destes.

[CF/88] Art. 227. (...)


(...)
§6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por
adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

[CC] Art. 1.834. Os descendentes da mesma classe têm os


mesmos direitos à sucessão de seus ascendentes.

15.2. Modos de suceder

 Entendimento: os modos de suceder que são possíveis na sucessão de


descendentes são (i) direito próprio (art. 1.833, CC) e (ii) o direito de
representação (art. 1.852, CC).

o (i) Direito próprio: nos termos do art. 1.833, CC, na classe dos
descendentes, via de regra, os mais próximos excluem os mais
remotos.

[CC] Art. 1.833. Entre os descendentes, os em grau mais próximo


excluem os mais remotos, salvo o direito de representação.

o (ii) Direito de representação: nos termos do art. 1.852, CC, o direito de


representação, na linha reta descendente, não tem limitação de grau
de parentesco.

[CC] Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta


descendente, mas nunca na ascendente.

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15.3. Modos de partilhar

 Entendimento: os modos de partilhar que são possíveis na sucessão de


descendentes são (i) por cabeça (art. 1.835, CC), ou seja, igualitária (quando
se tratar de sucessão por direito próprio) e (ii) por estirpe (quando se tratar de
sucessão por direito de representação), na forma do art. 1.854, CC.

[CC] Art. 1.835. Na linha descendente, os filhos sucedem por


cabeça, e os outros descendentes, por cabeça ou por estirpe,
conforme se achem ou não no mesmo grau.

[CC] Art. 1.854. Os representantes só podem herdar, como tais, o


que herdaria o representado, se vivo fosse.

16. Sucessão dos ascendentes

 Entendimento: de acordo com o art. 1.829, II, CC, os ascendentes são os


segundos na ordem de vocação hereditária, com prioridade inferior, somente,
aos descendentes.

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)
(...)
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

16.1. Aspectos históricos

 Entendimento: na vigência do Código Civil de 1916, os ascendentes


consanguíneos afastavam os pais adotivos, nos termos do art. 1.609, CC/1916.
Contudo, os pais adotantes teriam preferência frente aos outros parentes
biológicos (que não os pais). Essa regra vigorou até o advento do art. 41, §2º,
ECA, que estabeleceu a ideia de rompimento do vínculo jurídico familiar com a
família natural, quando da adoção (exceto para os impedimentos de
matrimônio, que se mantinham).

o Na vigência do Código Civil de 2002, a regra de sucessão de


ascendentes passou a ser aquela do art. 1.836, CC. Quanto à ordem de
vocação hereditária, a única alteração entre os códigos de 1916 e 2002
foi a adição do cônjuge como herdeiro concorrente, na regra do Código
Civil de 2002, nos termos do art. 1.829, II, CC.

[CC/1916] Art. 1.609. Falecendo sem descendência o filho


adotivo, se lhe sobreviverem os pais e o adotante, aqueles tocará por
inteiro a herança.
Parágrafo único. Em falta dos pais, embora haja outros
ascendentes, devolve-se a herança ao adotante.

[ECA] Art. 41. (...)

89
(...)
§2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus
descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e
colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação
hereditária.

[CC] Art. 1.836. Na falta de descendentes, são chamados à


sucessão os ascendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente.

16.2. Modos de suceder

 Entendimento: nos termos do art. 1.836, §1º, CC, o único modo de suceder
que é possível, na sucessão de ascendentes, é o direito próprio, na qual os
mais próximos excluem os mais remotos.

[CC] Art. 1.836. (...)


§1º Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o
mais remoto, sem distinção de linhas.

16.3. Modos de partilhar

 Entendimento: nos termos do art. 1.836, §2º, CC, o único modo de partilhar,
na sucessão de ascendentes, é a partilha por linha, na qual, havendo
igualdade em grau e diversidade em linha, cada linha herdará a metade da
herança.

o Exemplo: o indivíduo A falece sem deixar descendentes e sem ter


cônjuge ou companheiro. A mãe, B, e o pai, C, são seus ascendentes.
Os pais de B, avós de A pela linha materna, são X e Y. Os pais de C,
avós de A pela linha paterna, são W e Z.

 Caso B esteja viva e C seja pré-morto, com W e Z vivos, a


herança irá, na totalidade, para B, visto que não há igualdade
em grau, entre as linhas.

 No entanto, caso B e C sejam pré-mortos, tal como Y, a linha


materna sobrevivente (na qual resta apenas X) herdará metade
do valor total, enquanto a linha paterna sobrevivente (na qual
restam W e Z), receberá a outra metade (sendo 25% para W e
25% para Z).

[CC] Art. 1.836. (...)


(...)
§2º Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os
ascendentes da linha paterna herdam a metade, cabendo a outra
aos da linha materna.

90
Aulas 14 e 15 – 04/04/2019 e 10/04/2019

Programa – Aulas 14 e 15

17. Sucessão do cônjuge


17.1. Aspectos históricos
17.2. Regime de bens
17.2.1. Comunhão parcial de bens
17.2.2. Comunhão universal de bens
17.2.3. Participação final nos aquestos
17.2.4. Separação de bens
17.3. Ordem de vocação hereditária
17.4. Pressupostos para a sucessão do cônjuge
17.5. Modos de suceder
17.6. Modos de partilhar
17.7. Direito real de habitação

17. Sucessão do cônjuge

 Entendimento: de acordo com o art. 1.829, III, CC, o cônjuge é o terceiro na


ordem de vocação hereditária. Quanto a ele, contudo, devem ser observadas
uma série de regras específicas, em especial quanto à possibilidade de
herança em concorrência. Em razão do instituto da concorrência, o cônjuge
poderá herdar, mesmo na presença dos descendentes, a depender do regime
de bens, e sempre herdará na presença de ascendentes.

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;

17.1. Aspectos históricos

 Entendimento: inicialmente, a sucessão, no Brasil, era determinada pelas


disposições das Ordenações Filipinas, trazidas de Portugal. Elas traziam
quatro classes sucessórias e o cônjuge ocupava a quarta posição (antecedido
pelos descendentes, pelos ascendentes e pelos colaterais até o 10º grau,
nessa ordem).

o (i) Decreto nº 1.839/1907: este decreto envolvia cinco classes


sucessórias. A primeira continha os descendentes. A segunda continha
os ascendentes. A terceira continha o cônjuge sobrevivente (em

91
ascensão de prioridade, com relação às Ordenações Filipinas). A quarta
continha os parentes em linha colateral até o 6º (sexto) grau de
parentesco. A quinta continha o Estado. Dentro de cada classe
sucessória, mantinha-se a preferência daqueles que estivessem em
grau mais próximo do falecido.

o (ii) Código Civil de 1916: o Código Civil de 1916 incorporou as


disposições do Decreto nº 1.839/1907, praticamente na íntegra,
excetuando-se a limitação na linha colateral, que passou a ser até o 4º
grau. Quanto ao cônjuge, no entanto, não houve alterações.

o (iii) Anteprojeto da Lei do divórcio (1957): esse anteprojeto, pensado


pelo Senador Nelson Carneiro, intentava mudar o regime de bens
prioritário da República, da comunhão universal de bens para a
separação parcial de bens (similar à atual comunhão parcial), contudo,
não foi transformado em lei.

o (iv) Anteprojeto do Código Civil, por Orlando Gomes (1961): esse


anteprojeto criou a figura da concorrência, de modo a não permitir, caso
o regime de bens oficial da República fosse alterado para a separação
parcial, que a mulher casada ficasse desamparada quando da viuvez.
Esse anteprojeto também não foi para frente.

o (v) Estatuto da Mulher Casada (Lei nº 4.121/1962): essa lei trouxe


algumas vantagens para a mulher casada. Uma das vantagens foi a
capacidade plena, que a permitia trabalhar sem consentimento do
marido.

o (vi) Anteprojeto do Código Civil, por Miguel Reale (1969): esse


anteprojeto repetiu a figura da concorrência, criado no anteprojeto de
Orlando Gomes. Esse anteprojeto vingou.

o (vii) Congresso Nacional (1974/75): o anteprojeto de Código Civil, por


Miguel Reale, chegou ao Congresso Nacional em 1974, mas foi
arquivado em 1975.

o (viii) Lei do divórcio (Lei nº 6.515/77): com a lei do divórcio, o regime de


bens prioritário da República mudou da comunhão universal de bens
para a comunhão parcial de bens.

o (ix) Constituição de 1988: com a Constituição de 1988, desaparece a


família patriarcal e nasce a igualdade jurídica entre homens e mulheres.

o (x) Código Civil de 2002: o Código Civil de 2002 teve origem no


anteprojeto de Miguel Reale, de 1969 e, por isso, se diz que “já nasceu
velho”, posto que contém disposições que faziam sentido na época do
anteprojeto, mas que são questionáveis na realidade atual. Há, por
essa razão, diversas controvérsias quanto à sucessão do cônjuge, em
especial quanto ao instituto da concorrência. A ordem de vocação
hereditária, atualmente, é dada pelo art. 1.829, CC.

92
17.2. Regime de bens

 Entendimento: são quatro as espécies de regime de bens possíveis no


ordenamento jurídico brasileiro. Detalhes acerca de cada um estão descritos
na seção 2.2. Eles são:

o (i) Comunhão parcial de bens;

o (ii) Comunhão universal de bens;

o (iii) Participação final nos aquestos;

o (iv) Separação de bens.

17.2.1. Comunhão parcial de bens

 Entendimento: este regime estabelece que os bens adquiridos antes da


celebração do casamento não serão considerados bens comuns entre os
cônjuges (art. 1.658, CC). Sendo assim, ele institui a separação dos bens
passados (que o cônjuge possuía antes do casamento) e comunhão quanto
aos bens futuros (que virão a ser adquiridos durante o casamento).

o Deste regime, portanto, decorrem três massas de bens: (i) os comuns,


pertencentes ao casal, que são ditos comunicáveis; (ii) os bens de um
dos cônjuges ou companheiros e (ii) os bens do outro cônjuge ou
companheiro, sendo os dois últimos ditos incomunicáveis, ou seja, que
constituem o patrimônio particular (bens particulares) de cada um dos
cônjuges (art. 1.661, CC). Importa ressaltar que frutos de bens
particulares, percebidos durante a sociedade conjugal, são
considerados bens comuns e, portanto, comunicáveis.

 É importante denotar que os bens incomunicáveis não são


apenas os adquiridos antes da celebração do casamento, mas
também todos aqueles adquiridos a título gratuito (por doação
ou sucessão) e os sub-rogados em seu lugar, isto é, os bens
contraídos pela alienação daqueles que tiverem sido recebidos a
título gratuito (art. 1.659, CC).

[CC] Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicamse os


bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as
exceções dos artigos seguintes.

[CC] Art. 1.659. Excluemse da comunhão:


I os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe
sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou
sucessão, e os subrogados em seu lugar;
II os bens adquiridos com valores exclusivamente
pertencentes a um dos cônjuges em subrogação dos bens
particulares;
III as obrigações anteriores ao casamento;

93
IV as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão
em proveito do casal;
V os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de
profissão;
VI os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII as pensões, meiossoldos, montepios e outras rendas
semelhantes.

[CC] Art. 1.661. São incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver


por título uma causa anterior ao casamento.

17.2.2. Comunhão universal de bens

 Entendimento: neste regime, todos os bens dos nubentes irão se comunicar


após a celebração do casamento, independentemente de serem atuais ou
futuros, e mesmo que adquiridos em nome de um único cônjuge, assim como
as dívidas adquiridas antes do casamento. Somente não se comunicarão os
bens expressamente excluídos pela lei ou por convenção das partes no pacto
antenupcial (art. 1.667, CC). Por ser considerado um regime convencional,
deve ser expressamente firmado no pacto antenupcial.

[CC] Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a


comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e
suas dívidas passivas, com as exceções do artigo seguinte.

17.2.3. Participação final nos aquestos

 Entendimento: este regime é misto, pois, durante o casamento, se aplicam


todas as regras da separação total de bens e, após sua dissolução, se aplicam
as regras da comunhão parcial de bens. Assim como o regime da comunhão
universal, este nasce da convenção, devendo ser expressamente firmado no
pacto antenupcial. Este regime é pouco utilizado na prática, muito em razão de
sua complexidade.
[CC] Art. 1.672. No regime de participação final nos aqüestos,
cada cônjuge possui patrimônio próprio, consoante disposto no artigo
seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal,
direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na
constância do casamento.

o Os bens que cada cônjuge já possuía ao casar serão incluídos no


patrimônio próprio (bens próprios, que são bens particulares), assim
como aqueles bens por ele adquiridos, a qualquer título, desde que na
constância do casamento. Cada cônjuge ficará responsável pela
administração de seus bens e poderá aliená-los livremente, quando se
tratarem de bens móveis, sendo essa a principal diferença desse
regime de bens com relação à comunhão parcial de bens.

94
[CC] Art. 1.673. Integram o patrimônio próprio os bens que cada
cônjuge possuía ao casar e os por ele adquiridos, a qualquer título,
na constância do casamento.
Parágrafo único. A administração desses bens é exclusiva de
cada cônjuge, que os poderá livremente alienar, se forem móveis.

17.2.4. Separação de bens

 Entendimento: neste regime cada cônjuge continua proprietário exclusivo de


seus próprios bens, assim como mantém-se na integral administração destes,
podendo aliená-los e gravá-los de ônus real livremente, independentemente de
ser o bem móvel ou imóvel. Ela pode ser:

o (i) Separação de bens convencional;

o (ii) Separação de bens legal (ou obrigatória).

[CC] Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, estes


permanecerão sob a administração exclusiva de cada um dos
cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real.

 Separação de bens convencional: também chamada de separação de bens


pactuada, trata-se da modalidade de separação de bens em que os cônjuges
ou companheiros concordam em continuarem proprietários exclusivos de seus
próprios bens, assim como em se manterem, individualmente, na integral
administração destes bens, podendo aliená-los e gravá-los de ônus real
livremente, independentemente de ser o bem móvel ou imóvel (art. 1.688, CC).

[CC] Art. 1.688. Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir


para as despesas do casal na proporção dos rendimentos de seu
trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto
antenupcial.

 Separação de bens legal: também chamada de separação de bens


obrigatória, esta modalidade independe do pacto antenupcial, posto que este
regime é determinado por lei. O art. 1.641, CC, estabelece que este regime é
obrigatório no casamento:

o (i) das pessoas que se casarem com inobservância das causas


suspensivas da celebração do casamento (art. 1.523, CC);

o (ii) da pessoa maior de setenta anos;

o (iii) de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.

[CC] Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no


casamento:
I das pessoas que o contraírem com inobservância das causas
suspensivas da celebração do casamento;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela
Lei nº 12.344, de 2010)

95
III de todos os que dependerem, para casar, de suprimento
judicial.

17.3. Ordem de vocação hereditária

 Entendimento: de acordo com o art. 1.829, III, CC, o cônjuge é o terceiro na


ordem de vocação hereditária. Com relação ao instituto da concorrência, tem-
se:

o (i) Sucessão concorrente com os descendentes: na forma do art. 1.829,


I, CC, a sucessão concorrente com os descendentes existirá quando
regime de bens for (a) participação final nos aquestos, (b) separação de
bens pactuada (ou convencional) e (c) comunhão parcial de bens com
bens particulares.

 Observações quanto à sucessão na comunhão universal:


não haverá sucessão concorrente na comunhão universal, visto
que o cônjuge supérstite teria a meação e não ficaria
desamparado (desde que, por certo, haja qualquer patrimônio).

 Observações quanto à sucessão na separação de bens: não


haverá sucessão concorrente na separação de bens obrigatória
porque, se a lei determina a incomunicabilidade do patrimônio,
não será a morte que alterará tal determinação.

 Em contrário, haverá sucessão concorrente na


separação de bens pactuada (ou convencional) porque
ela é decorrente de um pacto entre vivos (intervivos), de
modo que tal pacto é considerada como cessado com o
evento da morte.

 Observações quanto à sucessão na comunhão parcial de


bens: não haverá sucessão concorrente na comunhão parcial
de bens sem bens particulares, porque, assim como na
comunhão universal, o cônjuge supérstite teria a meação e não
ficaria desamparado (desde que, por certo, haja patrimônio
comum).

 Em contrário, haverá sucessão concorrente na


comunhão parcial de bens com bens particulares, quanto
a esses bens particulares. Assim, o cônjuge supérstite
participará da sucessão daquilo que não meou, ou
seja, em cima daquilo que não é meeiro, como
confirmado pelo Enunciado nº 270, da III Jornada de
Direito Civil.

Enunciado nº 270, da III Jornada de Direito Civil


O art. 1.829, inc. I, só assegura ao cônjuge sobrevivente o direito
de concorrência com os descendentes do autor da herança quando
casados no regime da separação convencional de bens ou, se
casados nos regimes da comunhão parcial ou participação final nos

96
aqüestos, o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a
concorrência se restringe a tais bens, devendo os bens comuns
(meação) ser partilhados exclusivamente entre os descendentes.

 Observações quanto à sucessão na participação final nos


aquestos: quanto à participação final nos aquestos, em
verdade, o dispositivo do art.1.829, I, CC, é omisso, visto que se
trata de regime de bens não previsto, inicialmente, no
anteprojeto de Miguel Reale, de 1969, que deu origem ao
Código Civil de 2002. Assim, aplicam-se, na prática, as mesmas
regras da comunhão parcial de bens. Na participação final nos
aquestos sem bens particulares, portanto, o cônjuge supérstite
teria a meação e não ficaria desamparado (desde que, por certo,
haja patrimônio comum).

 Na prática, portanto, apenas na participação final nos


aquestos com bens particulares é que haverá
concorrência, naquilo que o cônjuge supérstite não
foi meeiro.

o (ii) Sucessão concorrente com os ascendentes: a sucessão concorrente


com os ascendentes sempre existirá, independentemente do regime de
bens, na forma do art. 1.829, II, CC.

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;

17.4. Pressupostos para a sucessão do cônjuge

 Entendimento: nos termos do art. 1.830, CC, há dois pressupostos para que
se verifique o direito sucessório do cônjuge. Eles são:

[CC] Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao


cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam
separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois
anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara
impossível sem culpa do sobrevivente.

o (i) Ausência de separação judicial: somente será reconhecido o direito


sucessório do cônjuge se, ao tempo da morte, não havia separação
judicial.

97
o (ii) Ausência de separação de fato há mais de 2 anos: somente será
reconhecido o direito sucessório do cônjuge se, ao tempo da morte, não
havia separação de fato há mais de 2 anos. A separação de fato,
também chamada de separação informal, é aquela que se verifica
quando o casal deixa de compartilhar a vida em comum (mesmo que
morando na mesma casa).

 Exceção: há, no entanto, uma exceção na qual mesmo quando


a separação de fato ocorreu há menos de 2 anos, ainda será
possível afastar o direito sucessório do cônjuge. Tal exceção
reside na comprovação de culpa do cônjuge sobrevivente pela
separação de fato (em concordância com os termos
“convivência se tornara impossível”, contidos no dispositivo). A
comprovação de culpa não se dará no juízo da sucessão, mas
sim na Justiça comum cível, por meio do instrumento da Ação
declaratória de culpa.

 Doutrina majoritária entende, portanto, que a


possibilidade de sucessão, após separação de fato,
ocorrerá até o limite de dois anos, desde que não haja
culpa do cônjuge sobrevivente pela separação de fato.
Para separações de fato maiores que 2 anos, então, não
caberia a sucessão, independentemente de culpa.

o Doutrina minoritária, no entanto, entende que,


independentemente do tempo de separação de
fato (maior ou menor que 2 anos), quando não
existir culpa do cônjuge sobrevivente, ainda
persistirá direito sucessório. Essa doutrina, no
entanto, não representa a orientação que a
jurisprudência dos tribunais brasileiros tem
seguido.

17.5. Modos de suceder

 Entendimento: as possibilidades de modos de suceder, no que diz respeito ao


cônjuge, são (i) a sucessão em concorrência e (ii) a sucessão por direito
próprio. De maneira mais detalhada, tem-se:

o (i) Sucessão em concorrência: o cônjuge herdará por concorrência


sempre que houverem descendentes ou ascendentes. Ela pode se
dar, portanto, em concorrência com os descendentes ou em
concorrência com os ascendentes:

 (a) Sucessão em concorrência com descendentes: na forma


do art. 1.829, I, CC, a sucessão concorrente com os
descendentes existirá quando regime de bens for (a)
participação final nos aquestos, (b) separação de bens pactuada
(ou convencional) e (c) comunhão parcial de bens com bens
particulares.

98
 (b) Sucessão em concorrência com ascendentes: a
sucessão concorrente com os ascendentes sempre existirá,
independentemente do regime de bens, na forma do art. 1.829,
II, CC.

o (ii) Sucessão por direito próprio: de acordo com o art. 1.829, III, CC, o
cônjuge é o terceiro na ordem de vocação hereditária. Assim, herdará
por direito próprio sempre que não houverem descendentes ou
ascendentes.

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;

17.6. Modos de partilhar

 Entendimento: quando não houver descendentes ou ascendentes, a sucessão


do cônjuge será por direito próprio e não haverá que se falar em partilha, tendo
em vista que o cônjuge herdará sozinho (dado que não se admite um segundo
cônjuge no ordenamento jurídico brasileiro), tratando-se de adjudicação da
herança. Quando, no entanto, houver descendentes ou ascendentes e a
sucessão for em concorrência, haverá necessidade de partilha. As formas de
partilha possíveis na sucessão do cônjuge são:

o (i) Partilha com descendentes: nos termos do art. 1.832, CC, o


legislador previu que, via de regra, ao cônjuge supérstite, caberá
quinhão igual ao que os descendentes têm direito. Se há dois filhos,
portanto, a legítima será dividida em três partes iguais (uma para cada
filho e outra para o cônjuge. Relembra-se que a partilha com
descendentes se dará somente quanto aos bens particulares do
autor da sucessão, ou seja, naquilo que não houve meação.

[CC] Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art.


1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que
sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta
parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que
concorrer.

 (a) Comuns: os descendentes comuns são aqueles que


descendem tanto do autor da sucessão, quanto do cônjuge
supérstite. Nesses casos, há um regra adicional no art. 1.832,
segunda parte, CC, que aponta que se garantirá uma reserva

99
mínima ao cônjuge supérstite, a partir do quarto filho comum (se
o autor da sucessão e o cônjuge têm três filhos comuns, o
cônjuge receberá um quarto da sucessão, mas se o autor da
sucessão e o cônjuge têm quatro filhos comuns, o cônjuge ainda
receberá um quarto da sucessão e os filhos dividirão o que
sobrar).

 (b) Exclusivos: os descendentes exclusivos são aqueles que


descendem somente do autor da sucessão, não tendo relação
com o cônjuge supérstite. Nesses casos, aplica-se somente a
regra geral, independentemente do números de filhos exclusivos
(se o autor da sucessão tem três filhos exclusivos, o cônjuge
receberá um quarto da sucessão, e se o autor da sucessão tem
quatro filhos exclusivos, o cônjuge receberá um quinto da
sucessão).

 (c) Híbridos: a descendência híbrida ocorrerá quando existirem


descendentes comuns e descendentes exclusivos. Nesses
casos, aplica-se somente a regra geral, independentemente do
números de filhos comuns e/ou exclusivos (se o autor da
sucessão tem três filhos, o cônjuge receberá um quarto da
sucessão, e se o autor da sucessão tem quatro filhos, o cônjuge
receberá um quinto da sucessão).

 Fórmulas matemáticas (a exemplo da conhecida Fórmula


Tusa, elaborada pela doutrinadora Gabriele Tusa) que
busquem diferenciar filhos comuns e exclusivos acabam
resultando em diminuição do total recebido pelos filhos
comuns (pois estes teriam que dividir com o cônjuge
sobrevivente), com relação ao que receberiam os filhos
exclusivos. Essa diferenciação entre filhos, no entanto, é
inconstitucional, de modo que a aplicação da reserva do
art. 1.832, segunda parte, CC, é inaplicável.

o (ii) Partilha com ascendentes: nos termos do art. 1.837, CC, o legislador
previu regras específicas dependendo do grau dos ascendentes e de
quantos dos ascendentes de primeiro grau são sobreviventes.
Relembra-se que a partilha com ascendentes se dará sobre a
totalidade da herança do autor da sucessão (tendo em vista que o
regime de bens, nesse tipo de sucessão, não faz diferença). As regras
são:

[CC] Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primeiro grau,


ao cônjuge tocará um terço da herança; caber-lhe-á a metade desta
se houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau.

 (a) Concorrência com os dois ascendentes em primeiro


grau (pai e mãe): nesse caso, ao cônjuge caberá um terço da

100
herança, cabendo um terço a cada um dos dois ascendentes em
primeiro grau sobreviventes (pai e mãe).

 (b) Concorrência com apenas um dos ascendentes em


primeiro grau (pai ou mãe): nesse caso, ao cônjuge caberá a
metade da herança, cabendo a outra metade ao ascendente em
primeiro grau sobrevivente (pai ou mãe).

 (c) Concorrência com outros ascendentes: nesse caso, ao


cônjuge também caberá a metade da herança, dividindo-se a
outra metade entre os outros ascendentes, de grau mais
elevado que o primeiro.

17.7. Direito real de habitação

 Entendimento: o direito real da habitação se trata do direito que o cônjuge


supérstite tem de permanecer residindo no imóvel que foi adotada como o lar
da família, mesmo após a morte do autor da sucessão e mesmo que ao
sobrevivente não caiba este imóvel, a título de herança (ou seja,
independentemente do resultado da sucessão), nos termos do art. 1.831, CC.

[CC] Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o


regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que
lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao
imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único
daquela natureza a inventariar.

o Características: o direito real da habitação é vitalício, independente


do regime de bens e do estado de viuvez. Adicionalmente, os
eventuais proprietários do imóvel não podem exigir qualquer
contraprestação do cônjuge sobrevivente. O cumprimento das
obrigações propter rem (próprias da coisa), a exemplo do pagamento
de IPTU, inclusive, seguem como responsabilidades do proprietário. No
entanto, se o casal tiver mais de um imóvel, somente um deverá ser
escolhido como o lar da família, fazendo jus ao direito real da
habitação.

 Importa ressaltar que há dúvidas jurisprudenciais acerca de se o


cônjuge sobrevivente teria ou não direito de exclusividade, caso
os proprietários sejam outros. Não há, no entanto, posição
dominante nos tribunais.

 Com base no art. 167, I, 7, Lei nº 6.015/75 (Lei de Registros


Públicos), é desnecessário o registro em cartório do direito real
de habitação, como exemplificado no REsp nº 282.716/SP.

[Lei nº 6.015/73] Art. 167 - No Registro de Imóveis, além da


matrícula, serão feitos. (Renumerado do art. 168 com nova redação
pela Lei nº 6.216, de 1975).
I - o registro: (Redação dada pela Lei nº 6.216, de 1975).
(...)

101
7) do usufruto e do uso sobre imóveis e da habitação,
quando não resultarem do direito de família;

CIVIL. DIVÓRCIO. NULIDADE. ALEGAÇÃO. JULGAMENTO DO


MÉRITO. CELERIDADE E ECONOMIA PROCESSUAL. ARTIGO
249, § 2º DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PARTILHA DE BENS.
SEPARAÇÃO JUDICIAL. ACORDO HOMOLOGADO. DISSOLUÇÃO
DE CONDOMÍNIO. INADEQUAÇÃO DA VIA. ERRO DE DIREITO EM
RELAÇÃO À PROVA ABSTRATAMENTE CONSIDERADA.
CONSTITUIÇÃO DE DIREITO REAL DE HABITAÇÃO.
TRANSCRIÇÃO NO REGISTRO. DIREITO DE FAMÍLIA.
PRESCINDIBILIDADE.
I - Apesar de reconhecidas as apontadas nulidades, decorrentes
da violação aos artigos 132 e 535, I e II, do Código Processual, em
homenagem aos princípios da celeridade e da economia processual,
e nos exatos termos do artigo 249, §2º, da lei processual, em virtude
do exame meritório do recurso favorável à recorrente, não há
necessidade de pronunciá-las, ou mesmo de determinar a repetição
de qualquer ato processual.
II - O acordo homologado judicialmente, nos autos de ação de
divórcio, em que fica convencionado que um dos divorciandos
permanecerá residindo num dos imóveis do casal, com isenção de
quaisquer ônus, pelo tempo que desejar, renunciando, inclusive, ao
direito à pensão, implica na constituição do direito real de
habitação, sendo desnecessário o registro em cartório,
conforme se extrai da redação dos artigos 715 c/c 748 do Código
Civil, bem como do artigo 167, I, 7, da Lei 6015/75.
Recurso provido. (REsp 282.716/SP, Rel. Ministro CASTRO
FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/02/2006, DJ 10/04/2006,
p. 168)

o Origens: esse instituto nasceu com o chamado Estatuto da Mulher


Casada (Decreto nº 4.121/962), mas, à época, era aplicável somente ao
cônjuge sobrevivente quando o regime de bens era o da comunhão
universal, e só se mantinha enquanto o cônjuge sobrevivente
permanecesse viúvo.

Observação: Usufruto vidual. O termo “vidual” se refere à viuvez. O


usufruto vidual consistia no direito de usufruto de parte da herança, que se
tratava de um instituto pensado, no Estatuto da Mulher Casada (Decreto nº
4.121/962), para proteger o cônjuge sobrevivente que permanecesse viúvo, mas
que tivesse sido casado em regime outro que não o da comunhão universal de
bens (para o qual cabia o instituto do direito real de habitação). O usufruto vidual
não foi reproduzido no Código Civil de 2002, tendo em vista que o direito real de
habitação do art. 1.831, CC, atualmente, é garantido ao cônjuge,
independentemente do regime de bens e de maneira vitalícia e independente do
estado de viuvez.

102
Aula 16 – 11/04/2019

Programa – Aula 16

18. Sucessão do companheiro


18.1. Aspectos históricos
18.2. Modos de suceder
18.3. Modos de partilhar
18.4. Companheiro como herdeiro necessário
18.5. Direito real de habitação

18. Sucessão do companheiro

 Entendimento: de acordo com o art. 1.829, III, CC, o companheiro (que é


aquele que participa de uma união estável), de maneira equiparada ao
cônjuge, é o terceiro na ordem de vocação hereditária, lhes sendo aplicáveis,
por analogia, as mesmas regras de sucessórias e de concorrência aplicáveis
ao cônjuge. Essa equiparação se deu com o julgamento do RE nº 646.721 / RS
e do RE nº 878.694 / MG, quando foi declarada a inconstitucionalidade do art.
1.790, CC, que antes regulava a sucessão do companheiro.

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;

[CC] Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da


sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na
vigência da união estável, nas condições seguintes: (Vide Recurso
Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694)
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota
equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança,
tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a
um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade
da herança.

18.1. Aspectos históricos

 Entendimento: inicialmente, a sucessão, no Brasil, era determinada pelas


disposições das Ordenações Filipinas, trazidas de Portugal. Elas traziam

103
quatro classes sucessórias e o cônjuge ocupava a quarta posição (antecedido
pelos descendentes, pelos ascendentes e pelos colaterais até o 10º grau,
nessa ordem).

o (i) Código Civil de 1916: o Código Civil de 1916 incorporou as


disposições do Decreto nº 1.839/1907, praticamente na íntegra,
excetuando-se a limitação na linha colateral, que passou a ser até o 4º
grau. Quanto ao cônjuge, no entanto, não houve alterações. O
companheiro, à época, era considerado concubino, de modo que não
tinha qualquer direito sucessório.

o (ii) Anteprojeto do Código Civil, por Orlando Gomes (1961): esse


anteprojeto criou a figura da concorrência, de modo a não permitir, caso
o regime de bens oficial da República fosse alterado para a separação
parcial, que a mulher casada ficasse desamparada quando da viuvez.
Quanto ao companheiro, à épica considerado convivente, o
anteprojeto reconhecia a figura da união de fato (direito dos
conviventes), inclusive reconhecendo certos direitos sucessórios. Esse
anteprojeto, no entanto, não foi para frente.

o (iii) Anteprojeto do Código Civil, por Miguel Reale (1969): esse


anteprojeto repetiu a figura da concorrência, criado no anteprojeto de
Orlando Gomes, mas removeu a previsão do direito dos conviventes,
visto que era um anteprojeto mais conservador. Esse anteprojeto
vingou.

o (iv) Congresso Nacional (1974/75): o anteprojeto de Código Civil, por


Miguel Reale, chegou ao Congresso Nacional em 1974, mas foi
arquivado em 1975.

o (v) Lei nº 6.858/80: a Lei nº 6.858/80 foi a primeira norma que conferia,
efetivamente, direitos patrimoniais ao convivente. Ela conferia ao
convivente a possibilidade de se habilitar para receber os montantes
das contas individuais do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e do
Fundo de Participação PIS/PASEP, não recebidos em vida pelos
respectivos titulares.

o (vi) Constituição de 1988: com a Constituição de 1988, o art. 226, §3º,


CF, ocorreu o reconhecimento da união estável como entidade familiar,
apesar de não conferir equiparação entre os institutos.

[CF/88] Art. 226. (...)


(...)
§3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar,
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

o (vii) Lei nº 8.971/94: a Lei nº 8.971/94 estabelecia as condições


objetivas para o reconhecimento da união estável. Estabelecia prazo
mínimo de 5 anos ou, como condição alternativa, a existência de prole.
Essa lei igualou, efetivamente, o cônjuge e o companheiro em termos

104
sucessórios, nos termos do direito vigente à época. A lei também previu
o instituto do usufruto vidual.

o (viii) Lei da União Estável (Lei nº 9.278/96): a Lei nº 9.278/96, chamada


Lei da União Estável, determinou que o companheiro poderia escolher
entre a percepção do usufruto vidual ou do direito real de habitação (em
situação até mais favorável do que a do cônjuge, nesse aspecto).

o (ix) Código Civil de 2002: o Código Civil de 2002 teve origem no


anteprojeto de Miguel Reale, de 1969 e, por isso, se diz que “já nasceu
velho”, posto que contém disposições que faziam sentido na época do
anteprojeto, mas que são questionáveis na realidade atual. Quanto ao
companheiro, a regra era a do art. 1.790, CC. Ela previa que o
companheiro participará da sucessão somente quanto aos bens
adquiridos onerosamente na vigência da união estável, ou seja,
somente quanto aos bens comuns (o que se justifica pelo fato de que, à
época, não havia que se falar em meação do companheiro). Os incisos
do art. 1.790, CC, traziam as diversas possibilidades de concorrência.

[CC] Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da


sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na
vigência da união estável, nas condições seguintes: (Vide Recurso
Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694)
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota
equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança,
tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a
um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade
da herança.

o (x) RE nº 646.721 / RS e RE nº 878.694 / MG: no julgamento do RE nº


646.721/RS e do RE nº 878.694/MG, o STF declarou inconstitucional o
art. 1.790, CC, que estabelecia diferenças entre a participação do
companheiro e do cônjuge na sucessão dos bens. Assim, de forma
definitiva, as figuras do companheiro e do cônjuge foram equiparadas,
tendo determinado o STF que se deveria aplicar o art. 1.829, CC, para
a sucessão do companheiro, por analogia. Em sede de Embargos de
Declaração no RE nº 646.721/RS (bem como no RE nº 878.694 / MG),
o relator, Min. Roberto Barroso, inclusive, reafirmou, a título de
modulação da decisão em termo temporais, que o entendimento
firmado é aplicável apenas aos inventários judiciais em que não
tenha havido trânsito em julgado da sentença de partilha e às
partilhas extrajudiciais em que ainda não haja escritura pública.

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E CIVIL. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
REPERCUSSÃO GERAL. APLICABILIDADE DO ART. 1.845 DO

105
CÓDIGO CIVIL ÀS UNIÕES ESTÁVEIS HOMOAFETIVAS.
AUSÊNCIA DE OMISSÃO OU CONTRADIÇÃO.
1. Embargos de declaração em que se questiona (i) a
aplicabilidade do art. 1.845 do Código Civil às uniões estáveis
homoafetivas e (ii) o marco temporal de aplicabilidade do art. 1.829
do Código Civil às uniões estáveis homoafetivas.
2. A repercussão geral que foi reconhecida pelo Plenário do STF
diz respeito apenas à aplicabilidade do art. 1.829 do Código Civil às
uniões estáveis homoafetivas. Não há omissão a respeito da
aplicabilidade do art. 1.845 do Código Civil a tais casos.
3. A decisão recorrida é clara em estabelecer que “o
entendimento ora firmado é aplicável apenas aos inventários
judiciais em que não tenha havido trânsito em julgado da
sentença de partilha e às partilhas extrajudiciais em que ainda
não haja escritura pública”. Ausência de contradição.
4. Embargos de declaração rejeitados. (EDcl no RE nº 646.721 /
RS, relator Min. Roberto Barroso, julgamento em 10/05/2017, DJe
10/12/2018)

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E CIVIL. RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL.
INCONSTITUCIONALIDADE DA DISTINÇÃO DE REGIME
SUCESSÓRIO ENTRE CÔNJUGES E COMPANHEIROS.
1. A Constituição brasileira contempla diferentes formas de família
legítima, além da que resulta do casamento. Nesse rol incluem-se as
famílias formadas mediante união estável.
2. Não é legítimo desequiparar, para fins sucessórios, os cônjuges
e os companheiros, isto é, a família formada pelo casamento e a
formada por união estável. Tal hierarquização entre entidades
familiares é incompatível com a Constituição de 1988.
3. Assim sendo, o art. 1790 do Código Civil, ao revogar as Leis nºs
8.971/94 e 9.278/96 e discriminar a companheira (ou o companheiro),
dando-lhe direitos sucessórios bem inferiores aos conferidos à
esposa (ou ao marido), entra em contraste com os princípios da
igualdade, da dignidade humana, da proporcionalidade como
vedação à proteção deficiente, e da vedação do retrocesso.
4. Com a finalidade de preservar a segurança jurídica, o
entendimento ora firmado é aplicável apenas aos inventários
judiciais em que não tenha havido trânsito em julgado da
sentença de partilha, e às partilhas extrajudiciais em que ainda
não haja escritura pública.
5. Provimento do recurso extraordinário. Afirmação, em
repercussão geral, da seguinte tese: “No sistema constitucional
vigente, é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre
cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os
casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002”. (RE nº
878.694/MG, relator Min. Roberto Barroso, julgamento em
10/05/2017, DJe 10/12/2018)

18.2. Modos de suceder

106
 Entendimento: as possibilidades de modos de suceder, no que diz respeito ao
companheiro, são exatamente as mesmas do cônjuge, ou seja, (i) sucessão
em concorrência e (ii) sucessão por direito próprio. De maneira mais detalhada,
tem-se:

o (i) Sucessão em concorrência: o cônjuge (ou companheiro) herdará por


concorrência sempre que houverem descendentes ou
ascendentes. Ela pode se dar, portanto, em concorrência com os
descendentes ou em concorrência com os ascendentes:

 (a) Sucessão em concorrência com descendentes: na forma


do art. 1.829, I, CC, a sucessão concorrente com os
descendentes existirá quando regime de bens for (a)
participação final nos aquestos, (b) separação de bens pactuada
(ou convencional) e (c) comunhão parcial de bens com bens
particulares.

 (b) Sucessão em concorrência com ascendentes: a


sucessão concorrente com os ascendentes sempre existirá,
independentemente do regime de bens, na forma do art. 1.829,
II, CC.

o (ii) Sucessão por direito próprio: de acordo com o art. 1.829, III, CC, o
cônjuge (ou companheiro) é o terceiro na ordem de vocação hereditária.
Assim, herdará por direito próprio sempre que não houverem
descendentes ou ascendentes.

[CC] Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


(Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso
Extraordinário nº 878.694)
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;

18.3. Modos de partilhar

 Entendimento: as possibilidades de modos de partilhar, no que diz respeito ao


companheiro, são exatamente as mesmas do cônjuge, Assim, quando não
houver descendentes ou ascendentes, a sucessão do cônjuge (ou
companheiro) será por direito próprio e não haverá que se falar em partilha,
tendo em vista que o cônjuge ou companheiro herdará sozinho (dado que não
se admite um segundo cônjuge ou companheiro no ordenamento jurídico
brasileiro), tratando-se de adjudicação da herança. Quando, no entanto, houver
descendentes ou ascendentes e a sucessão for em concorrência, haverá
necessidade de partilha. As formas de partilha possíveis na sucessão do
cônjuge (ou companheiro) são:

107
o (i) Partilha com descendentes: nos termos do art. 1.832, CC, o
legislador previu que, via de regra, ao cônjuge (ou companheiro)
supérstite, caberá quinhão igual ao que os descendentes têm direito. Se
há dois filhos, portanto, a legítima será dividida em três partes iguais
(uma para cada filho e outra para o cônjuge ou companheiro).
Relembra-se que a partilha com descendentes se dará somente
quanto aos bens particulares do autor da sucessão, ou seja, naquilo
que não houve meação.

[CC] Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art.


1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que
sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta
parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que
concorrer.

 (a) Comuns: os descendentes comuns são aqueles que


descendem tanto do autor da sucessão, quanto do cônjuge (ou
companheiro) supérstite. Nesses casos, há um regra adicional
no art. 1.832, segunda parte, CC, que aponta que se garantirá
uma reserva mínima ao cônjuge (ou companheiro) supérstite, a
partir do quarto filho comum (se o autor da sucessão e o
cônjuge têm três filhos comuns, o cônjuge receberá um quarto
da sucessão, mas se o autor da sucessão e o cônjuge têm
quatro filhos comuns, o cônjuge ainda receberá um quarto da
sucessão e os filhos dividirão o que sobrar).

 (b) Exclusivos: os descendentes exclusivos são aqueles que


descendem somente do autor da sucessão, não tendo relação
com o cônjuge (ou companheiro) supérstite. Nesses casos,
aplica-se somente a regra geral, independentemente do
números de filhos exclusivos (se o autor da sucessão tem três
filhos exclusivos, o cônjuge receberá um quarto da sucessão, e
se o autor da sucessão tem quatro filhos exclusivos, o cônjuge
receberá um quinto da sucessão).

 (c) Híbridos: a descendência híbrida ocorrerá quando existirem


descendentes comuns e descendentes exclusivos. Nesses
casos, aplica-se somente a regra geral, independentemente do
números de filhos comuns e/ou exclusivos (se o autor da
sucessão tem três filhos, o cônjuge receberá um quarto da
sucessão, e se o autor da sucessão tem quatro filhos, o cônjuge
receberá um quinto da sucessão).

 Fórmulas matemáticas (a exemplo da conhecida Fórmula


Tusa, elaborada pela doutrinadora Gabriele Tusa) que
busquem diferenciar filhos comuns e exclusivos acabam
resultando em diminuição do total recebido pelos filhos
comuns (pois estes teriam que dividir com o cônjuge ou
companheiro sobrevivente), com relação ao que

108
receberiam os filhos exclusivos. Essa diferenciação entre
filhos, no entanto, é inconstitucional, de modo que a
aplicação da reserva do art. 1.832, segunda parte, CC, é
inaplicável.

o (ii) Partilha com ascendentes: nos termos do art. 1.837, CC, o legislador
previu regras específicas dependendo do grau dos ascendentes e de
quantos dos ascendentes de primeiro grau são sobreviventes.
Relembra-se que a partilha com ascendentes se dará sobre a
totalidade da herança do autor da sucessão (tendo em vista que o
regime de bens, nesse tipo de sucessão, não faz diferença). As regras
são:
[CC] Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primeiro grau,
ao cônjuge tocará um terço da herança; caber-lhe-á a metade desta
se houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau.

 (a) Concorrência com os dois ascendentes em primeiro


grau (pai e mãe): nesse caso, ao cônjuge (ou companheiro)
caberá um terço da herança, cabendo um terço a cada um dos
dois ascendentes em primeiro grau sobreviventes (pai e mãe).

 (b) Concorrência com apenas um dos ascendentes em


primeiro grau (pai ou mãe): nesse caso, ao cônjuge (ou
companheiro) caberá a metade da herança, cabendo a outra
metade ao ascendente em primeiro grau sobrevivente (pai ou
mãe).

 (c) Concorrência com outros ascendentes: nesse caso, ao


cônjuge (ou companheiro) também caberá a metade da
herança, dividindo-se a outra metade entre os outros
ascendentes, de grau mais elevado que o primeiro.

18.4. Companheiro como herdeiro necessário

 Entendimento: nos termos do art. 1.845, CC, os herdeiros necessários são os


descendentes, os ascendentes e o cônjuge, restando silente o dispositivo
quanto ao companheiro. Entretanto, a equiparação do art. 1.829, CC, não é
sinônimo de igualdade entre as figuras do cônjuge e do companheiro, de modo
que a jurisprudência ainda está se formando a respeito de qual deve ser o
entendimento mais correto do art. 1.845, CC, ou seja, se o companheiro é, ou
não, herdeiro necessário.
[CC] Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os
ascendentes e o cônjuge.

18.5. Direito real de habitação

 Entendimento: como já visto anteriormente, o direito real da habitação se trata


do direito que o cônjuge supérstite tem de permanecer residindo no imóvel que

109
foi adotada como o lar da família, mesmo após a morte do autor da sucessão e
mesmo que ao sobrevivente não caiba este imóvel, a título de herança (ou
seja, independentemente do resultado da sucessão), nos termos do art. 1.831,
CC. Esse dispositivo, no entanto, também traz apenas a figura do cônjuge, de
modo que ainda restaria dúvida a respeito do direito do companheiro ao direito
real de habitação, visto que a equiparação do art. 1.829, CC, não é,
necessariamente, sinônimo de igualdade entre as figuras. O STJ, no entanto, já
determinou que o art. 7º, Lei nº 9.278/96 (que previa este instituto desde 1996),
não foi derrogado pelo julgamento do RE nº 646.721 e do RE nº 878.694, de
modo que o instituto do direito real da habitação vale, também para o
companheiro.

[CC] Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o


regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que
lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao
imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único
daquela natureza a inventariar.

[Lei nº 9.278/96] Art. 7° Dissolvida a união estável por rescisão, a


assistência material prevista nesta Lei será prestada por um dos
conviventes ao que dela necessitar, a título de alimentos.
Parágrafo único. Dissolvida a união estável por morte de um
dos conviventes, o sobrevivente terá direito real de habitação,
enquanto viver ou não constituir nova união ou casamento,
relativamente ao imóvel destinado à residência da família.

o Características: o direito real da habitação é vitalício, independente


do regime de bens e do estado de viuvez. Adicionalmente, os
eventuais proprietários do imóvel não podem exigir qualquer
contraprestação do cônjuge sobrevivente. O cumprimento das
obrigações propter rem (próprias da coisa), a exemplo do pagamento
de IPTU, inclusive, seguem como responsabilidades do proprietário. No
entanto, se o casal tiver mais de um imóvel, somente um deverá ser
escolhido como o lar da família, fazendo jus ao direito real da habitação.

 Com base no art. 167, I, 7, Lei nº 6.015/75 (Lei de Registros


Públicos), é desnecessário o registro em cartório do direito real
de habitação, como exemplificado no REsp nº 282.716/SP.

[Lei nº 6.015/73] Art. 167 - No Registro de Imóveis, além da


matrícula, serão feitos. (Renumerado do art. 168 com nova redação
pela Lei nº 6.216, de 1975).
I - o registro: (Redação dada pela Lei nº 6.216, de 1975).
(...)
7) do usufruto e do uso sobre imóveis e da habitação,
quando não resultarem do direito de família;

CIVIL. DIVÓRCIO. NULIDADE. ALEGAÇÃO. JULGAMENTO DO


MÉRITO. CELERIDADE E ECONOMIA PROCESSUAL. ARTIGO
249, § 2º DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PARTILHA DE BENS.

110
SEPARAÇÃO JUDICIAL. ACORDO HOMOLOGADO. DISSOLUÇÃO
DE CONDOMÍNIO. INADEQUAÇÃO DA VIA. ERRO DE DIREITO EM
RELAÇÃO À PROVA ABSTRATAMENTE CONSIDERADA.
CONSTITUIÇÃO DE DIREITO REAL DE HABITAÇÃO.
TRANSCRIÇÃO NO REGISTRO. DIREITO DE FAMÍLIA.
PRESCINDIBILIDADE.
I - Apesar de reconhecidas as apontadas nulidades, decorrentes
da violação aos artigos 132 e 535, I e II, do Código Processual, em
homenagem aos princípios da celeridade e da economia processual,
e nos exatos termos do artigo 249, §2º, da lei processual, em virtude
do exame meritório do recurso favorável à recorrente, não há
necessidade de pronunciá-las, ou mesmo de determinar a repetição
de qualquer ato processual.
II - O acordo homologado judicialmente, nos autos de ação de
divórcio, em que fica convencionado que um dos divorciandos
permanecerá residindo num dos imóveis do casal, com isenção de
quaisquer ônus, pelo tempo que desejar, renunciando, inclusive, ao
direito à pensão, implica na constituição do direito real de
habitação, sendo desnecessário o registro em cartório,
conforme se extrai da redação dos artigos 715 c/c 748 do Código
Civil, bem como do artigo 167, I, 7, da Lei 6015/75.
Recurso provido. (REsp 282.716/SP, Rel. Ministro CASTRO
FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/02/2006, DJ 10/04/2006,
p. 168)

o Origens: esse instituto nasceu com o chamado Estatuto da Mulher


Casada (Decreto nº 4.121/962), mas, à época, era aplicável somente ao
cônjuge sobrevivente quando o regime de bens era o da comunhão
universal, e só se mantinha enquanto o cônjuge sobrevivente
permanecesse viúvo.

111
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-
------------------------ CAPÍTULO II – SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA -------------------------
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-

Aula 17 – 25/04/2019

Programa – Aula 17

19. Sucessão testamentária


19.1. Aspectos históricos
19.2. Sistemas jurídicos
19.3. Testamento
19.4. Características do negócio jurídico
19.5. Pressupostos da sucessão testamentária
19.6. Capacidade testamentária ativa
19.7. Capacidade testamentária passiva

19. Sucessão testamentária

 Entendimento: de maneira ampla (lato sensu), a sucessão pode ser


classificada quanto à origem em “intervivos” ou “mortis causa”. A sucessão
mortis causa é o fenômeno sucessório que tem origem no fenômeno da morte.
Usar o termo “causa mortis” é semanticamente impróprio, visto que se refere à
causa da morte, enquanto “mortis causa” se refere à “em razão da morte”.

19.1. Aspectos históricos

 Entendimento: no art. 1.626, Código Civil de 1916, o conceito de testamento


envolvia, somente, bens patrimoniais (de modo que não era considerado
testamento válido aquele que não contivesse, pelo menos, uma cláusula
patrimonial). O Código Civil de 2002, no entanto, não trouxe uma definição
fechada de testamento, mas ampliou a abrangência do conceito para incluir,
também cláusulas não-patrimoniais (a exemplo do reconhecimento de filho, do
perdão de indigno, da deserdação, de disposições acerca do funeral, dentre
outras), na forma do art. 1.857, §2º, CC.

[CC/1916] Art. 1.626. Considera-se testamento o ato revogável


pelo qual alguém, de conformidade com a lei, dispõe, no todo ou em
parte, do seu patrimônio, para depois da sua morte.

[CC] Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento,
da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua
morte.
§1º A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser
incluída no testamento.

112
§2º São válidas as disposições testamentárias de caráter não
patrimonial, ainda que o testador somente a elas se tenha
limitado.

19.2. Sistemas jurídicos

 Entendimento: a classificação em sentido estrito quanto às formas


fundamentais não se aplica à sucessão intervivos, somente à sucessão mortis
causa. A doutrina identifica três formas fundamentais para os sistemas
jurídicos envolvidos na sucessão mortis causa. Elas são:

o (i) Concentração obrigatória: trata-se do sistema sucessório que


restringe a sucessão a determinada situação fática. Exemplos são a
concentração da herança nas mãos do homem (comum em países de
religião islâmica), ou a concentração da herança nas mãos do
primogênito.

o (ii) Divisão necessária: nessa sistemática, a herança é dividida entre


tantas pessoas quantas forem capazes de herdar, ou seja, entre tantas
quantas comprovarem o preenchimento de determinadas condições
previstas em lei. Essa é a sistemática que melhor se aproxima do
sistema brasileiro, contudo, esse sistema também leva em conta a
vontade testamentária.

o (iii) Liberdade testamentária: nessa sistemática, a herança é de livre


disposição, por meio do instrumento jurídico do testamento. Um
exemplo é a legislação dos Estados Unidos (isso torna possível,
inclusive, que um animal de estimação herde na frente de um
descendente).

 Sistemática adotada no Brasil: para a doutrina majoritária, a sistemática que


melhor se aproxima do sistema brasileiro é a divisão necessária.

o (i) Doutrina majoritária: a doutrina majoritária entende que o Brasil adota


a sistemática da divisão necessária.

 Para essa corrente, o Brasil não adota a liberdade


testamentária, visto que, caso o de cujus tenha herdeiros
necessários (na forma do art. 1.845, CC), essa liberdade estará
mitigada à metade de sua herança, na forma do art. 1.789, CC.
Assim, se há mitigação, não há liberdade testamentária.

 Caso o de cujus não tenha herdeiros necessários, no entanto, a


liberdade testamentária será total e o valor completo da herança
poderá ser disposto na forma do negócio jurídico testamental.

[CC] Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só


poderá dispor da metade da herança.

[CC] Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os


ascendentes e o cônjuge.

113
o (ii) Doutrina minoritária: a doutrina majoritária entende que o Brasil
adota um sistema híbrido, composto pela sistemática da divisão
necessária e pela sistemática da liberdade testamentária mitigada. As
críticas da doutrina majoritária se concentram no fato de que, se há
mitigação, não há total liberdade testamentária.

Observação: Pacto sucessório (ou “pacto de corvina”). O pacto


sucessório, também denominado “pacto de corvina”, ou “pacta corvina”, é o
acordo que tem por objeto a herança de pessoa viva. Trata-se de medida
expressamente proibida pelo art. 426, CC. Essa proibição deriva,
historicamente, do Direito Romano, que orientava que a especulação sobre a
morte de determinada pessoa seria contrária à moral e aos bons costumes.
[CC] Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de
pessoa viva.

19.3. Testamento

 Entendimento: no art. 1.626, Código Civil de 1916, o conceito de testamento


envolvia, somente, bens patrimoniais (de modo que não era considerado
testamento válido aquele que não contivesse, pelo menos, uma cláusula
patrimonial). O Código Civil de 2002, no entanto, não trouxe uma definição
fechada de testamento, mas ampliou a abrangência do conceito para incluir,
também cláusulas não-patrimoniais (a exemplo do reconhecimento de filho, do
perdão de indigno, da deserdação, de disposições acerca do funeral, dentre
outras), na forma do art. 1.857, §2º, CC. Como moderna definição de
testamento, trata-se de negócio jurídico, no qual pessoa capaz manifesta
vontade com efeitos post mortem, versando ou não sobre patrimônio.

o A legítima do herdeiro necessário, contudo, é intangível e não pode ser


abarcada no testamento (art. 1.857, §1º, CC). Assim, a liberdade
testamentária é mitigada à metade da herança. Caso, no entanto, o de
cujus não tenha herdeiros necessários, no entanto, a liberdade
testamentária será total e o valor completo da herança poderá ser
disposto na forma do negócio jurídico testamental.

o Caso exista disposição testamentária que verse sobre o valor da


legítima, tal disposição será considerada como não escrita (chamada
de “inoficiosa”), não invalidando o testamento.

o As disposições não patrimoniais são, em regra, consideradas como


irrevogáveis, mesmo que o testamento seja considerado nulo por vício
de forma.
[CC/1916] Art. 1.626. Considera-se testamento o ato revogável
pelo qual alguém, de conformidade com a lei, dispõe, no todo ou em
parte, do seu patrimônio, para depois da sua morte.

114
[CC] Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento,
da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua
morte.
§1º A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser
incluída no testamento.
§2º São válidas as disposições testamentárias de caráter não
patrimonial, ainda que o testador somente a elas se tenha
limitado.

19.4. Características do negócio jurídico

 Entendimento: o negócio jurídico do testamento possui quatro características


essenciais. Elas são:

o (i) Unilateral: o legislador veda o testamento de mais de uma pessoa no


mesmo instrumento (testamento conjuntivo), na forma do art. 1.863,
CC, visto que se trata de negócio jurídico personalíssimo. Assim,
caso o testamento seja conjuntivo, será nulo de pleno direito.
Dentro do gênero “testamento conjuntivo”, se encontram três espécies,
todas, igualmente, vedadas pelo legislador. Elas são:

 (a) Testamento simultâneo: é aquele, no qual, no mesmo


instrumento, dois ou mais testadores dispõem em benefício de
terceiros. Importa ressaltar que, caso previstas em instrumentos
individuais, as previsões de cada um seriam válidas.

 (b) Testamento recíproco: é aquele, no qual, no mesmo


instrumento, dois ou mais testadores se instituem, um ao outro,
de modo que o sobrevivente recolha a herança do outro. Importa
ressaltar que, caso previstas em instrumentos individuais, as
previsões de cada um seriam válidas.

 (c) Testamento correspectivo: é aquele, no qual, no mesmo


instrumento, um testador outorga uma vantagem a outro e o
outro lhe retribui a mesma vantagem. Importa ressaltar que,
caso previstas em instrumentos individuais, as previsões de
cada um seriam válidas.

[CC] Art. 1.863. É proibido o testamento conjuntivo, seja


simultâneo, recíproco ou correspectivo.

o (ii) Revogável: o negócio jurídico do testamento é revogável, podendo


ser alterado a qualquer tempo. Na medida que se declarasse a
vontade de forma conjunta, a possibilidade de revogação ficaria
prejudicada, de modo que a unilateralidade se justifica, também, pela
característica da revogabilidade. Somente um testamento revoga outro
testamento. Nenhuma espécie de testamento se sobrepõe a outras,
assim, é possível revogar um testamento público por meio de um
testamento particular. Em termos hierárquicos, portanto, não há

115
diferença entre os testamentos ordinários e os especiais (como o
testamento marítimo ou o testamento aeronáutico).

o (iii) Gratuito: o testamento deve ser gratuito, de modo que não cabe
qualquer tipo de negociação onerosa para que se receba patrimônio.
No entanto, é possível impor condição onerosa ao eventual herdeiro ou
legatário (ou seja, é possível condicionar o legado de uma casa ao
pagamento de um valor pecuniário, pelo legatário, a uma creche, por
exemplo). Disposições onerosas condicionais, portanto, não retiram a
natureza de gratuidade do testamento.

o (iv) Solene: o testamento é um ato eminentemente formal, que requer


a observação de diversos requisitos formais (a exemplo do número
mínimo de testemunhas). Se não observados, o instrumento poderá ser
considerado nulo, podendo tal nulidade, inclusive, ser declarada de
ofício pelo juiz.

19.5. Pressupostos da sucessão testamentária

 Entendimento: a sucessão testamentária tem três pressupostos essenciais, os


quais, se não observados, impossibilitam a sucessão testamentária. Elas são:

o (i) Pessoa capaz de dispor: como primeiro pressuposto da sucessão


testamentária, tem-se a necessidade de que o testador, que é a
pessoa capaz de dispor, tenha capacidade para fazê-lo (capacidade
testamentária ativa). Se não observado esse pressuposto, o testamento
será nulo.

o (ii) Pessoa capaz de receber: como segundo pressuposto da sucessão


testamentária, tem-se a necessidade de que a pessoa indicada seja
capaz de receber (capacidade testamentária passiva). Essa pessoa
poderá ser o “herdeiro” e o “legatário”. Se determinada pessoa
contemplada no testamento não tiver capacidade testamentária
passiva, o testamento caducará quanto a essa pessoa, não havendo,
necessariamente, que se falar em nulidade do testamento. De maneira
mais detalhada, tem-se:

 (a) Herdeiro testamentário: o herdeiro é aquele que tem


direito, seja por meio da lei (sucessão legítima), seja por meio
de testamento (sucessão testamentária), a determinada quota-
parte do todo unitário de bens e direitos do de cujus. Na
sucessão testamentária, o herdeiro é chamado de “herdeiro
testamentário” ou “herdeiro instituído”, visto que assim o é em
razão da manifestação de vontade do de cujus.

 (b) Legatário: é aquele que receberá um bem certo e


determinado, desde que, quando da morte, este bem
compusesse o patrimônio do de cujus. A figura do legatário só
existe na sucessão testamentária.

116
o (iii) Declaração de vontade na forma da lei: como terceiro pressuposto
da sucessão testamentária, tem-se a necessidade de uma declaração
de vontade na forma da lei, a qual se dá, exclusivamente, na forma do
testamento. Se não observado esse pressuposto, o testamento será
nulo.

Observação: O “respeito ao limite de dispor” como quarto pressuposto.


Parte dos doutrinadores apontam que também haveria um quarto pressuposto,
na forma do “respeito ao limite de dispor”, ou seja, o respeito que se deve ter à
legítima do herdeiro necessário, que é intangível e não pode ser abarcada no
testamento, na forma do art. 1.857, §1º, CC.
No entanto, parte da doutrina (à qual o professor se filia) entende que
não se trata de um pressuposto, visto que não implica, necessariamente, em
nulidade do testamento. Isso porque, caso exista disposição testamentária que
verse sobre o valor da legítima, tal disposição será considerada como não
escrita (chamada de “inoficiosa”), não invalidando o testamento.

19.6. Capacidade testamentária ativa

 Entendimento: a capacidade testamentária ativa é a capacidade de um


indivíduo de testar, ou seja, de manifestar sua vontade com efeitos post
mortem (versando ou não sobre patrimônio), na forma do art. 1.857, caput, CC.
A capacidade testamentária ativa abrange, a princípio, aqueles que têm
capacidade civil absoluta, bem como o maior de 16 anos e menor de 18 anos
(que é o único relativamente incapaz que tem capacidade testamentária ativa).

[CC] Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento,
da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua
morte.

 Incapacidade testamentária ativa: por interpretação do art. 1.860, CC, a


incapacidade testamentária ativa, portanto, inclui todos os relativamente
incapazes (exceto os maiores de 16 anos e menores de 18 anos), bem como
todos aqueles que, no ato de testar, não tiverem pleno discernimento (a
exemplo daqueles que estão fortemente apaixonados, ou daqueles que, apesar
de não serem ébrios habituais, estão sob influência de substâncias no
momento de testar, ou mesmo daqueles que estão sob quaisquer outras fortes
emoções), nos termos do art. 1.860, CC.

o (*) O maior de 16 anos e menor de 18 anos é o único relativamente


incapaz que tem capacidade testamentária ativa. Essa capacidade,
inclusive, é plena, por determinação legal (art. 1.860, parágrafo único,
CC), não havendo necessidade de qualquer representação ou
assistência.

[CC] Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no
ato de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento.
Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos.

117
19.7. Capacidade testamentária passiva

 Entendimento: a capacidade testamentária passiva é a capacidade de um


indivíduo de figurar, em testamento, como herdeiro testamentário ou legatário.

o (i) Capacidade testamentária passiva: a capacidade testamentária


passiva é determinada pela verificação dos três pressupostos da
vocação hereditária, todos já trabalhados anteriormente. Eles são:

 (a) Pressupostos fáticos: os pressupostos fáticos estão


consagrados, no ordenamento jurídico brasileiro, no princípio da
coexistência (com as exceções de concepção e a expectativa de
direito do nascituro; da prole eventual, ou “concepturo”, e das
fundações) e no princípio da sobrevivência (que não comporta
exceções na sucessão testamentária), na forma do art. 1.798,
CC. Para mais detalhes, ver seção 10.2.1.
[CC] Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou
já concebidas no momento da abertura da sucessão.

 (b) Pressuposto jurídico: o pressuposto jurídico da vocação


hereditária consiste na existência de um vínculo jurídico com o
de cujus. No caso da sucessão testamentária, ele se dá por
meio do

 (c) Pressupostos negativos: os pressupostos negativos da


vocação hereditária consistem na inexistência de duas situações
específicas, que são (a) a indignidade e (b) a deserdação (o
professor, no entanto, não inclui a deserdação, quanto se trata
de sucessão testamentária, porque os dois institutos são
incompatíveis, visto que a deserdação é feita por meio de
declaração expressa em testamento). Para mais detalhes, ver
seção 10.2.3.

o (ii) Incapacidade testamentária passiva: a lei traz dispositivos que


disciplinam a incapacidade testamentária passiva. Eles são:

 (a) Disposições do art. 1.801, CC: o art. 1.801, CC, traz


hipóteses nas quais, mesmo que verificados todos os
pressupostos da vocação hereditária, não será possível
concretizar a capacidade testamentária passiva. Elas são:

 (I) Impedimento daquele que escreveu a rogo o


testamento (art. 1.801, I, CC): aquele que escreveu o
testamento a pedido do testador (ou seja, que escreveu
o testamento a rogo) não tem capacidade testamentária
passiva (ou seja, não pode herdar). Da mesma forma,
não podem herdar seu cônjuge ou companheiro, ou os
seus ascendentes e irmãos.

118
o Não há vedação direta aos descendentes
daquele que escreveu a rogo o testamento,
contudo, também importa ressaltar que, nos
termos do art. 1.802, parágrafo único, CC,
presumem-se “laranjas” (interpostas pessoas), os
ascendentes, os descendentes, os irmãos e o
cônjuge ou companheiro do não legitimado a
suceder. Assim, os descendentes daquele que
escreveu a rogo, o testamento, também não são
legitimados a suceder.
[CC] Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem
legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu
cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;

[CC] Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor


de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob
a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os
ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou
companheiro do não legitimado a suceder.

 (II) Impedimento das testemunhas (art. 1.801, II, CC): a


função das testemunhas é de garantir a higidez da
declaração de vontade do testador. Assim, essas
testemunhas também não têm capacidade testamentária
passiva.
[CC] Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem
legatários:
(...)
II - as testemunhas do testamento;

 (III) Impedimento do concubino do testador casado (art.


1.801, III, CC): se há separação de fato com ânimo de
constituir família, independentemente do tempo da
relação, já é possível se verificar a união estável, nos
termos do art. 1.723, caput e §1º, CC. O concubino,
portanto, será somente aquele sobre o qual não se
possa afirmar que há união estável. Assim, o art. 1.801,
III, CC, deve ser lido desconsiderando-se a culpa e o
prazo, como apontado pelo Enunciado nº 269, III Jornada
de Direito Civil. Quanto à disposição do art. 1.803, CC,
entende-se que tem capacidade testamentária o filho do
concubino, quando também for filho do testador. Se, no
entanto, se tratar de união estável, o art. 1.803, CC, já
não mais se aplica.
[CC] Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem
legatários:

119
(...)
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa
sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;

[CC] Art. 1.803. É lícita a deixa ao filho do concubino, quando


também o for do testador.

Enunciado nº 269, III Jornada de Direito Civil


A vedação do art. 1.801, inc. III, do Código Civil não se aplica à
união estável, independentemente do período de separação de fato
(art. 1.723, § 1º).

[CC] Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união


estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência
pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família.
§1º A união estável não se constituirá se ocorrerem os
impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do
inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato
ou judicialmente.
§2º As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a
caracterização da união estável.

 (IV) Impedimento do tabelião, comandante ou escrivão


(art. 1.801, IV, CC): o testamento, dependendo do tipo, é
aprovado por escrivão, tabelião ou comandante (de
embarcação, aeronave, entre outros). Assim, essas
figuras também não têm capacidade testamentária
passiva.
[CC] Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem
legatários:
(...)
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão,
perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o
testamento.

 (b) Disposições do art. 1.802, CC: o art. 1.802, primeira parte,


CC, aponta que são nulas as cláusulas que visem estabelecer,
como herdeiro testamentário, alguma das figuras do art. 1.801,
CC. Sendo nulas, o juiz poderá declarar tal nulidade de ofício
(não se trata de anulabilidade, mas sim de nulidade).

 Nos termos do art. 1.802, segunda parte, CC, também


são nulas as cláusulas testamentárias que visem deixar
bens, por meio de “laranjas” (interposta pessoa) ou sob a
forma de contrato oneroso simulado (por exemplo, deixar
para um impedido, que é advogado, como pagamento de
supostos honorários advocatícios) para os impedidos do
art. 1.801, CC.

120
 Nos termos do art. 1.802, parágrafo único, CC,
presumem-se “laranjas” (interpostas pessoas), os
ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou
companheiro do não legitimado a suceder. Trata-se, em
regra, de presunção absoluta (apesar de ser possível
encontrar, na jurisprudência, situações nas quais tal
presunção foi afastada por prova significativa).

[CC] Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor


de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob
a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os
ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou
companheiro do não legitimado a suceder.

121
Aula 18 – 08/05/2019

Programa – Aula 18

20. Testamento
20.1. Formas (tipos de testamento)
20.2. Testamento público

20. Testamento

 Entendimento: como já visto anteriormente, a moderna definição de


testamento aponta que se trata de negócio jurídico, no qual pessoa capaz
manifesta vontade com efeitos post mortem, versando ou não sobre
patrimônio. Nessa seção, serão abordados outros detalhes significativos a
respeito do negócio jurídico do testamento.

20.1. Formas (tipos de testamento)

 Entendimento: há diversas formas de testamento, todas sem relação


hierárquica uma em relação às outras, ou seja, nenhum dos tipos de
testamento é superior ao outro. Elas são:

o (i) Ordinários: os testamento ordinários são aqueles que não tem prazo
de validade e que, em regra, devem ser utilizados pelo testador. Eles
podem ser:

 (a) Público: o testamento público é aquele redigido por um


tabelião de Cartório de Notas. Assim, na prática, goza de fé
pública e tem menor possibilidade de ser anulado por vício de
forma, visto que o tabelião, em regra, é profissional experiente.

 (b) Cerrado: o testamento cerrado é um documento fechado,


redigido pelo próprio testador ou por alguém da sua confiança, e
assinado pelo testador.

 (c) Particular: também chamado de “testamento hológrafo” ou


“testamento privado”, o testamento particular é aquele redigido
de próprio punho pelo testador, podendo ser feito manualmente
ou mecanicamente (como por um computador, por exemplo).

o (ii) Especiais: os testamentos especiais são aqueles utilizados em


circunstâncias especiais, quando há total impossibilidade de utilização
de qualquer forma de testamento ordinário. Cessada a causa que
autoriza o testamento especial, ele caducará depois de prazo de 90
dias (ou seja, o testamento especial tem prazo de validade, na forma
dos arts. 1.891 e 1.895, CC), tornando-se necessária posterior feitura
de testamento ordinário. De acordo com o art. 1.887, CC, não se

122
admitem outros testamentos especiais além dos três previstos no art.
1.886, CC, que são:

 (a) Marítimo: trata-se do testamento lavrado em embarcação,


quando há impossibilidade de utilização de qualquer forma de
testamento ordinário.

 (b) Aeronáutico: trata-se do testamento lavrado em aeronave,


quando há impossibilidade de utilização de qualquer forma de
testamento ordinário.

 (c) Militar: trata-se do testamento lavrado durante situação de


confronto militar, quando há impossibilidade de utilização de
qualquer forma de testamento ordinário.

[CC] Art. 1.886. São testamentos especiais:


I - o marítimo;
II - o aeronáutico;
III - o militar.

[CC] Art. 1.887. Não se admitem outros testamentos especiais


além dos contemplados neste Código.

[CC] Art. 1.891. Caducará o testamento marítimo, ou aeronáutico,


se o testador não morrer na viagem, nem nos noventa dias
subseqüentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer, na
forma ordinária, outro testamento.

[CC] Art. 1.895. Caduca o testamento militar, desde que, depois


dele, o testador esteja, noventa dias seguidos, em lugar onde possa
testar na forma ordinária, salvo se esse testamento apresentar as
solenidades prescritas no parágrafo único do artigo antecedente.

20.2. Testamento público

 Entendimento: o testamento público é aquele redigido por um tabelião de


Cartório de Notas. Assim, na prática, goza de fé pública e tem menor
possibilidade de ser anulado por vício de forma, visto que o tabelião, em regra,
é profissional experiente.

 Formalidades do testamento público: como já visto anteriormente, o


testamento é um ato solene e, por isso, eminentemente formal, que requer a
observação de diversos requisitos formais (a exemplo do número mínimo de
testemunhas). Se não observados, o instrumento poderá ser considerado nulo,
podendo tal nulidade, inclusive, ser declarada de ofício pelo juiz. As principais
formalidades, no caso do testamento público, são:

o (i) Redação: o testamento público deve ser escrito por tabelião ou por
seu substituto legal em seu livro de notas, de acordo com as
declarações do testador. Também é possível a redação em processo

123
mecânico (como por um computador, por exemplo), ou ainda pode ser
feito pela inserção da declaração de vontade em partes impressas de
livro de notas, desde que rubricadas todas as páginas pelo testador, se
mais de uma (art. 1.864, parágrafo único, CC).

[CC] Art. 1.864. São requisitos essenciais do testamento público:


I - ser escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu
livro de notas, de acordo com as declarações do testador,
podendo este servir-se de minuta, notas ou apontamentos;
(...)
Parágrafo único. O testamento público pode ser escrito
manualmente ou mecanicamente, bem como ser feito pela
inserção da declaração de vontade em partes impressas de
livro de notas, desde que rubricadas todas as páginas pelo
testador, se mais de uma.

o (ii) Testemunhas: a função das testemunhas é comprovar a higidez


mental do testador e atestar que todos os requisitos formais foram
observados. Apesar de não haver impedimentos na lei, na prática
cartorária aplicam-se os mesmos impedimentos aplicáveis às
testemunhas.
[CC] Art. 1.864. São requisitos essenciais do testamento público:
(...)
II - lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião ao
testador e a duas testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador,
se o quiser, na presença destas e do oficial;

o (iii) Leitura: nos termos do art. 1.864, II, CC, a leitura é requisito formal
essencial do testamento.

[CC] Art. 1.864. São requisitos essenciais do testamento público:


(...)
II - lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião ao
testador e a duas testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador,
se o quiser, na presença destas e do oficial;

 (a) Testador cego: a única forma de testamento permitido ao


testador cego é o testamento público. O art. 1.867, CC, traz o
requisito essencial da dupla leitura (sendo a primeira feita pelo
notário e a segunda feita por uma testemunha, indicada pelo
testador). Tudo deve estar circunstanciado na cédula
testamentaria, sob pena de nulidade.

[CC] Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que


lhe será lido, em voz alta, duas vezes, uma pelo tabelião ou por seu
substituto legal, e a outra por uma das testemunhas, designada pelo
testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento.

124
 (b) Testador surdo: o indivíduo inteiramente surdo, se souber
ler, lerá seu testamento. Se o testador surdo não souber ler,
designará quem leia o testamento em seu lugar, estando
presentes as testemunhas, na forma do art. 1.866, CC. Tudo
deve estar circunstanciado na cédula testamentaria, sob pena
de nulidade.
[CC] Art. 1.866. O indivíduo inteiramente surdo, sabendo ler, lerá
o seu testamento, e, se não o souber, designará quem o leia em seu
lugar, presentes as testemunhas.

o (iv) Assinaturas: nos termos do art. 1.864, III, CC, a assinatura é


requisito formal essencial do testamento.

[CC] Art. 1.864. São requisitos essenciais do testamento público:


(...)
III - ser o instrumento, em seguida à leitura, assinado pelo
testador, pelas testemunhas e pelo tabelião.

 (a) Testador analfabeto: assim como o cego, o testador


analfabeto só poderá fazer testamento público. Nesse caso, o
testamento será assinado pelo notário e por uma testemunha
indicada pelo testador, na forma do art. 1.865, primeira parte,
CC. Tudo deve estar circunstanciado na cédula testamentaria,
sob pena de nulidade.
[CC] Art. 1.865. Se o testador não souber, ou não puder assinar, o
tabelião ou seu substituto legal assim o declarará, assinando, neste
caso, pelo testador, e, a seu rogo, uma das testemunhas
instrumentárias.

 (b) Testador momentaneamente incapaz de assinar: se o


testador não for analfabeto, mas estiver, no momento do
testamento, incapaz de assinar, o testamento será assinado
pelo notário e por uma testemunha indicada pelo testador, na
forma do art. 1.865, segunda parte, CC.

[CC] Art. 1.865. Se o testador não souber, ou não puder assinar, o


tabelião ou seu substituto legal assim o declarará, assinando, neste
caso, pelo testador, e, a seu rogo, uma das testemunhas
instrumentárias.

 Registro do testamento: depois de redigido em livro próprio, o Cartório de


Notas oficiará o Cartório de Distribuição (o qual, no DF, já faz parte do sistema
integrado nacional, CENSEC), da existência de um testamento. Será o próprio
Cartório de Notas, no entanto, que guardará uma cópia do testamento,
enquanto uma segunda cópia deverá ser entregue ao testador.

Observação: O Sistema Integrado Nacional de Cartórios (CENSEC).


A abertura do testamento se dá com a distribuição do testamento em juízo,

125
para uma das Varas de órfãos e sucessões. As Varas de órfãos e
sucessões, ao receberem um procedimento de inventário, juntarão, com
base dos dados do Sistema nacional integrado de cartórios (CENSEC),
certidão atestando que existe (ou não) testamento. É importante ressaltar,
no entanto, que nem todos os estados da Federação já participam no
sistema nacional integrado, então é possível que o autor da sucessão
tenha deixado testamento registrado em cartório não incluído, caso no
qual, se o testamento for apresentado em momento posterior, ele poderá
alterar o procedimento de inventário.

 Guarda e cumprimento do testamento público: se há testamento, há


necessidade de se pedir a confirmação desse testamento em processo à parte,
feito na Vara de Órfãos e Sucessões (confirmação do testamento em juízo),
para que seja possível que o juiz autorize o início ou prosseguimento do
inventário judicialmente. A princípio, quando há testamento, não haveria
possibilidade de prosseguimento extrajudicial do inventário (feito em cartório).
No Distrito Federal, no entanto, recente portaria do TJDFT já permite que o juiz
autorize o prosseguimento extrajudicial do inventário após confirmação judicial
do testamento.

126
Aula 19 – 09/05/2019

Programa – Aula 19

20.3. Testamento cerrado


20.4. Testamento particular
20.5. Testamento marítimo e testamento aeronáutico
20.6. Testamento militar

20.3. Testamento cerrado

 Entendimento: o testamento cerrado, também chamado de “testamento


místico” ou “testamento secreto”, é um documento fechado, redigido pelo
próprio testador ou por alguém da sua confiança, e assinado pelo testador. Sua
principal característica é o sigilo do conteúdo do testamento. A previsão legal
do testamento cerrado está entre os arts. 1.868 e 1.875, CC.

 Formalidades do testamento cerrado: como já visto anteriormente, o


testamento é um ato solene e, por isso, eminentemente formal, que requer a
observação de diversos requisitos formais (a exemplo do número mínimo de
testemunhas). Se não observados, o instrumento poderá ser considerado nulo,
podendo tal nulidade, inclusive, ser declarada de ofício pelo juiz. As principais
formalidades, no caso do testamento cerrado, são:

o (i) Redação: o próprio testador redigirá o testamento cerrado, a mão ou


por processo mecânico (computador, por exemplo). O testador também
pode indicar pessoa (redação a rogo) para redigir, devendo o testador
assinar (art. 1.871, CC). Se o tabelião tiver escrito o testamento a rogo
do testador, já poderá aprová-lo (art. 1.780, CC).

[CC] Art. 1.870. Se o tabelião tiver escrito o testamento a rogo do


testador, poderá, não obstante, aprová-lo.

[CC] Art. 1.871. O testamento pode ser escrito em língua nacional


ou estrangeira, pelo próprio testador, ou por outrem, a seu rogo.

o (ii) Testemunhas: não há necessidade de testemunhas na redação do


testamento cerrado. A aprovação desse testamento cerrado, no
entanto, precisará da presença de duas testemunhas.

o (iii) Aprovação: a aprovação do testamento cerrado é feita pelo notário


do cartório de notas, seguindo ritual específico.

[CC] Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador, ou por outra


pessoa, a seu rogo, e por aquele assinado, será válido se aprovado
pelo tabelião ou seu substituto legal, observadas as seguintes
formalidades:

127
I - que o testador o entregue ao tabelião em presença de duas
testemunhas;
II - que o testador declare que aquele é o seu testamento e
quer que seja aprovado;
III - que o tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação, na
presença de duas testemunhas, e o leia, em seguida, ao testador
e testemunhas;
IV - que o auto de aprovação seja assinado pelo tabelião, pelas
testemunhas e pelo testador.
Parágrafo único. O testamento cerrado pode ser escrito
mecanicamente, desde que seu subscritor numere e
autentique, com a sua assinatura, todas as páginas.

 Ritual de aprovação: a aprovação do testamento cerrado é feita pelo notário


do cartório de notas, seguindo ritual específico. Tem-se:

o (i) Ato de entrega: o ritual da aprovação se inicia com a entrega, pelo


testador, do testamento cerrado, ao notário do Cartório de Notas,
declarando, verbalmente, a esse notário (ou tabelião), que se trata de
testamento cerrado. Se o testador não tiver o dom da fala (for mudo),
deverá escrever, na face externa do papel ou do envelope, que aquele
é o seu testamento e que pede sua aprovação (art. 1.873, CC).

[CC] Art. 1.873. Pode fazer testamento cerrado o surdo-mudo,


contanto que o escreva todo, e o assine de sua mão, e que, ao
entregá-lo ao oficial público, ante as duas testemunhas, escreva, na
face externa do papel ou do envoltório, que aquele é o seu
testamento, cuja aprovação lhe pede.

o (ii) Auto de aprovação: o tabelião redigirá auto de aprovação, na forma


do art. 1.869, CC, logo que o ato de entrega terminar.

[CC] Art. 1.869. O tabelião deve começar o auto de aprovação


imediatamente depois da última palavra do testador, declarando, sob
sua fé, que o testador lhe entregou para ser aprovado na presença
das testemunhas; passando a cerrar e coser o instrumento aprovado.
Parágrafo único. Se não houver espaço na última folha do
testamento, para início da aprovação, o tabelião aporá nele o seu
sinal público, mencionando a circunstância no auto.

o (iii) Leitura: a leitura é feita em frente às duas testemunhas e ao


testador.

[CC] Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador, ou por outra


pessoa, a seu rogo, e por aquele assinado, será válido se aprovado
pelo tabelião ou seu substituto legal, observadas as seguintes
formalidades:
(...)
III - que o tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação, na
presença de duas testemunhas, e o leia, em seguida, ao testador
e testemunhas;

128
o (iv) Assinaturas: o testamento cerrado, após lido, deve ser assinado
pelo tabelião, pelas duas testemunhas e pelo testador.

[CC] Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador, ou por outra


pessoa, a seu rogo, e por aquele assinado, será válido se aprovado
pelo tabelião ou seu substituto legal, observadas as seguintes
formalidades:
(...)
IV - que o auto de aprovação seja assinado pelo tabelião, pelas
testemunhas e pelo testador

o (v) Encerramento: o encerramento se dá quando o notário cerra e cose


(costura) o documento, para lacrá-lo. O conteúdo do testamento
cerrado será de conhecimento, portanto, apenas do notário e das duas
testemunhas, além, é claro, do testador. O testamento cerrado ficará
sob a guarda do próprio testador (art. 1.874, CC). A abertura, pelo
testador, do testamento cerrado, o torna nulo.

[CC] Art. 1.874. Depois de aprovado e cerrado, será o testamento


entregue ao testador, e o tabelião lançará, no seu livro, nota do lugar,
dia, mês e ano em que o testamento foi aprovado e entregue.

Observação: Impossibilidade de testamento cerrado para


analfabetos e cegos. Analfabetos e cegos não podem fazer testamento
cerrado, na forma do art. 1.872, CC.

[CC] Art. 1.872. Não pode dispor de seus bens em testamento


cerrado quem não saiba ou não possa ler.

 Guarda e cumprimento: nos termos do art. 1.875, CC, o documento deve ficar
intacto até a chegada ao juiz da Vara de órfão e sucessões, lavrando certidão
de que o recebeu sem indícios de violação, em frente ao diretor de secretaria.
Após a abertura, o juiz procede à citação dos interessados para tomar
conhecimento do teor do testamento. Se o testamento tiver indícios de
violação, será nulo. A abertura do testamento cerrado por um herdeiro ou
legatário constitui ato de indignidade, na forma do art. 1.814, III, CC.

[CC] Art. 1.875. Falecido o testador, o testamento será


apresentado ao juiz, que o abrirá e o fará registrar, ordenando seja
cumprido, se não achar vício externo que o torne eivado de nulidade
ou suspeito de falsidade.

[CC] Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou


legatários:
(...)
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou
obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens
por ato de última vontade.

129
20.4. Testamento particular

 Entendimento: também chamado de “testamento hológrafo” ou “testamento


privado”, o testamento particular é aquele redigido de próprio punho pelo
testador, podendo ser feito manualmente ou mecanicamente (como por um
computador, por exemplo). A previsão legal do testamento particular está entre
os arts. 1.876 e 1.880, CC. Trata-se de modalidade utilizada, em geral, em
situações de emergência.

 Formalidades do testamento particular: como já visto anteriormente, o


testamento é um ato solene e, por isso, eminentemente formal, que requer a
observação de diversos requisitos formais (a exemplo do número mínimo de
testemunhas). Se não observados, o instrumento poderá ser considerado nulo,
podendo tal nulidade, inclusive, ser declarada de ofício pelo juiz. As principais
formalidades, no caso do testamento particular, são:

o (i) Redação: o testamento particular pode ser escrito de próprio punho


ou mediante processo mecânico (computador, por exemplo). Se for feito
por processo mecânico, poderá ser feito a rogo, desde que conte com a
assinatura do testador (art. 1.876, §2º, CC). O testamento particular
pode ser escrito em língua estrangeira, contanto que as testemunhas a
compreendam (art. 1.880, CC).

[CC] Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de


próprio punho ou mediante processo mecânico.
(...)
§2º Se elaborado por processo mecânico, não pode conter
rasuras ou espaços em branco, devendo ser assinado pelo
testador, depois de o ter lido na presença de pelo menos três
testemunhas, que o subscreverão.

[CC] Art. 1.880. O testamento particular pode ser escrito em


língua estrangeira, contanto que as testemunhas a compreendam.

o (ii) Testemunhas: o testamento particular deve ser lido e assinado por


quem o escreveu, na presença de, pelo menos, três testemunhas (sem
número máximo), que também devem assiná-lo. De acordo com o art.
1.879, CC, em circunstâncias excepcionais, declaradas na cédula, o
testamento particular de próprio punho e assinado pelo testador, sem
testemunhas (ou seja, aquele mediante o qual, em razão de situações
concretas extraordinárias, não houvesse possibilidade de outras três
pessoas testemunharem), poderá ser confirmado, a critério do juiz.

[CC] Art. 1.876. (...)


§1º Se escrito de próprio punho, são requisitos essenciais à
sua validade seja lido e assinado por quem o escreveu, na
presença de pelo menos três testemunhas, que o devem
subscrever.

130
[CC] Art. 1.879. Em circunstâncias excepcionais declaradas na
cédula, o testamento particular de próprio punho e assinado pelo
testador, sem testemunhas, poderá ser confirmado, a critério do juiz.

o (iii) Leitura: o testamento particular deve ser lido e assinado por quem o
escreveu, na presença de, pelo menos, três testemunhas (sem número
88888máximo).

o (iv) Assinaturas: o testamento particular deve ser lido e assinado por


quem o escreveu, na presença de, pelo menos, três testemunhas (sem
número máximo), que também devem assiná-lo. O testador, por certo,
também deve assinar.

 Confirmação em juízo (post mortem): após a morte do testador, na forma do


art. 1.877, CC, o testamento será publicado em juízo, com citação dos
herdeiros legítimos.
[CC] Art. 1.877. Morto o testador, publicar-se-á em juízo o
testamento, com citação dos herdeiros legítimos.

o (i) Audiência de confirmação: após a morte do testador, o testamento


será publicado em juízo, com citação dos herdeiros legítimos, para
comparecerem em audiência de confirmação.

o (ii) Oitiva das testemunhas: se as testemunhas souberem responder


aos questionamentos do juiz acerca do conteúdo do testamento ou se,
pelo menos, reconhecerem as próprias assinaturas, assim como a do
testador, o testamento será confirmado, nos termos do art. 1.878, CC.
Se faltarem testemunhas, por morte ou ausência, e se pelo menos uma
delas reconhecer o testamento, este poderá ser confirmado, se, a
critério do juiz, houver prova suficiente de sua veracidade (art. 1.878,
parágrafo único, CC).
[CC] Art. 1.878. Se as testemunhas forem contestes sobre o fato
da disposição, ou, ao menos, sobre a sua leitura perante elas, e se
reconhecerem as próprias assinaturas, assim como a do testador, o
testamento será confirmado.
Parágrafo único. Se faltarem testemunhas, por morte ou
ausência, e se pelo menos uma delas o reconhecer, o testamento
poderá ser confirmado, se, a critério do juiz, houver prova
suficiente de sua veracidade.

o (iii) Confirmação por sentença: a confirmação do testamento particular


deverá ser feita por sentença, desde que observados os requisitos do
art. 1.878, CC.

20.5. Testamento marítimo e testamento aeronáutico

 Entendimento: o testamento marítimo se trata do testamento lavrado em


embarcação (civil ou mercante, desde que brasileira), quando há

131
impossibilidade de utilização de qualquer forma de testamento ordinário. De
maneira similar, o testamento aeronáutico se trata do testamento lavrado em
aeronave, quando há impossibilidade de utilização de qualquer forma de
testamento ordinário. A previsão legal dos dois tipos de testamento está entre
os arts. 1.888 e 1.892, CC. Esses testamentos são utilizados em circunstâncias
especiais, quando há total impossibilidade de utilização de qualquer forma de
testamento ordinário, de modo que se houvesse possibilidade de testar de
forma ordinária, o testamento especial não valerá (art. 1.892, CC).

[CC] Art. 1.892. Não valerá o testamento marítimo, ainda que feito
no curso de uma viagem, se, ao tempo em que se fez, o navio estava
em porto onde o testador pudesse desembarcar e testar na forma
ordinária.

 Formalidades do testamento marítimo e do testamento aeronáutico: como


já visto anteriormente, o testamento é um ato solene e, por isso,
eminentemente formal, que requer a observação de diversos requisitos formais
(a exemplo do número mínimo de testemunhas). Se não observados, o
instrumento poderá ser considerado nulo, podendo tal nulidade, inclusive, ser
declarada de ofício pelo juiz. Os testamentos marítimo e aeronáutico seguem
as mesmas formalidades e, portanto, foram disciplinados nos mesmos
dispositivos legais. Em sua forma, ambos poderão se assemelhar ao
testamento público ou ao testamento cerrado. As principais formalidades, no
caso do testamento marítimo ou aeronáutico, são:

o (i) Redação: na forma do art. 1.888, CC, quem fará as vezes de notário,
no testamento marítimo, será o comandante da embarcação, sendo
responsável pela redação do testamento no livro de bordo (no caso de
testamento similar ao público), ou pela aprovação do documento e a
transcrição do auto de aprovação no livro de bordo (no caso de
testamento similar ao cerrado). No testamento aeronáutico, quem fará
as vezes de notário será uma pessoa designada pelo comandante da
aeronave, conforme o art. 1.889, CC, tendo em vista que o comandante
não pode perder a atenção de sua função.

[CC] Art. 1.888. Quem estiver em viagem, a bordo de navio


nacional, de guerra ou mercante, pode testar perante o comandante,
em presença de duas testemunhas, por forma que corresponda ao
testamento público ou ao cerrado.
Parágrafo único. O registro do testamento será feito no diário
de bordo.

[CC] Art. 1.889. Quem estiver em viagem, a bordo de aeronave


militar ou comercial, pode testar perante pessoa designada pelo
comandante, observado o disposto no artigo antecedente.

o (ii) Testemunhas: as regras concernentes às testemunhas são as


mesmas das modalidades de testamento cerrado e particular,

132
dependendo de a qual das formas o testamento em questão se
assemelhar.

o (iii) Leitura: as regras concernentes à leitura são as mesmas das


modalidades de testamento cerrado e particular, dependendo de a qual
das formas o testamento em questão se assemelhar.

o (iv) Assinaturas: as regras concernentes às assinaturas são as mesmas


das modalidades de testamento cerrado e particular, dependendo de a
qual das formas o testamento em questão se assemelhar.

 Guarda e cumprimento: o testamento marítimo ou aeronáutico ficará sob a


guarda do comandante. Depois que a embarcação ou a aeronave aportarem, o
testamento será entregue às autoridades administrativas do primeiro porto ou
aeroporto nacional, contra recibo averbado no diário de bordo, na forma do art.
1.890, CC.

[CC] Art. 1.890. O testamento marítimo ou aeronáutico ficará sob


a guarda do comandante, que o entregará às autoridades
administrativas do primeiro porto ou aeroporto nacional, contra recibo
averbado no diário de bordo.

 Prazo de validade: o prazo de validade dos testamentos marítimo e


aeronáutico é de 90 dias, contados da data em que o testador aporta, desde
que esse tenha condições de convertê-lo em algumas das formas de
testamento ordinário, nos termos do art. 1.891, CC.

[CC] Art. 1.891. Caducará o testamento marítimo, ou aeronáutico,


se o testador não morrer na viagem, nem nos noventa dias
subseqüentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer, na
forma ordinária, outro testamento.

20.6. Testamento militar

 Entendimento: o testamento militar se trata do testamento lavrado durante


situação de confronto militar, quando há impossibilidade de utilização de
qualquer forma de testamento ordinário.

 Formalidades do testamento militar: como já visto anteriormente, o


testamento é um ato solene e, por isso, eminentemente formal, que requer a
observação de diversos requisitos formais (a exemplo do número mínimo de
testemunhas). Se não observados, o instrumento poderá ser considerado nulo,
podendo tal nulidade, inclusive, ser declarada de ofício pelo juiz. Em sua forma,
ambos poderão se assemelhar ao testamento público ou ao testamento
cerrado. As principais formalidades, no caso do testamento militar, são:

o (i) Redação: poderão fazer esse tipo de testamento os militares ou civis


a serviço dos militares, em missão de guerra, de paz, ou de praça
sitiada. Ele deverá ser redigido pelo tabelião militar ou seu substituto,

133
caso se assemelhe ao testamento particular. Na falta desses, poderá
ser feito pelo oficial mais graduado do local. Em se tratando de
regimento destacado, o testamento será escrito pelo respectivo
comandante, ainda que de graduação ou posto inferior. Caso se
assemelhe a testamento cerrado, as mesmas autoridades serão
responsáveis pela aprovação do testamento. Se o testador souber
escrever, poderá fazer o testamento de seu punho, contanto que o date
e assine por extenso (art. 1.894, CC).

[CC] Art. 1.893. O testamento dos militares e demais pessoas a


serviço das Forças Armadas em campanha, dentro do País ou fora
dele, assim como em praça sitiada, ou que esteja de comunicações
interrompidas, poderá fazer-se, não havendo tabelião ou seu
substituto legal, ante duas, ou três testemunhas, se o testador não
puder, ou não souber assinar, caso em que assinará por ele uma
delas.
§1º Se o testador pertencer a corpo ou seção de corpo
destacado, o testamento será escrito pelo respectivo comandante,
ainda que de graduação ou posto inferior.
§2º Se o testador estiver em tratamento em hospital, o
testamento será escrito pelo respectivo oficial de saúde, ou pelo
diretor do estabelecimento.
§3º Se o testador for o oficial mais graduado, o testamento
será escrito por aquele que o substituir.

[CC] Art. 1.894. Se o testador souber escrever, poderá fazer o


testamento de seu punho, contanto que o date e assine por extenso,
e o apresente aberto ou cerrado, na presença de duas testemunhas
ao auditor, ou ao oficial de patente, que lhe faça as vezes neste
mister.
Parágrafo único. O auditor, ou o oficial a quem o testamento se
apresente notará, em qualquer parte dele, lugar, dia, mês e ano,
em que lhe for apresentado, nota esta que será assinada por ele e
pelas testemunhas.

o (ii) Testemunhas: o número de testemunhas exigido é de duas, que


deverão assinar o testamento. Caso o testador não possa ou não saiba
assinar, o número de testemunhas exigido é de três, caso em que uma
delas assinará pelo testador.

[CC] Art. 1.893. O testamento dos militares e demais pessoas a


serviço das Forças Armadas em campanha, dentro do País ou fora
dele, assim como em praça sitiada, ou que esteja de comunicações
interrompidas, poderá fazer-se, não havendo tabelião ou seu
substituto legal, ante duas, ou três testemunhas, se o testador não
puder, ou não souber assinar, caso em que assinará por ele uma
delas.

o (iii) Leitura: a leitura do testamento deve ser feita, na presença de duas


testemunhas, ao auditor, ou ao oficial de patente em questão.

134
o (iv) Assinaturas: o número de testemunhas exigido é de duas, que
deverão assinar o testamento. Caso o testador não possa ou não saiba
assinar, o número de testemunhas exigido é de três, caso em que uma
delas assinará pelo testador.

 Prazo de validade: o prazo de validade do testamento militar, quando este se


assemelha ao testamento particular, é de 90 dias, contados da data em que o
testador se encontre em local onde possa testar na forma ordinária, nos termos
do art. 1.895, primeira parte, CC. Se o testamento militar se assemelhar ao
testamento cerrado, ele não terá prazo de validade, nos termos do art. 1.895,
segunda parte, CC.

[CC] Art. 1.895. Caduca o testamento militar, desde que, depois


dele, o testador esteja, noventa dias seguidos, em lugar onde possa
testar na forma ordinária, salvo se esse testamento apresentar as
solenidades prescritas no parágrafo único do artigo antecedente.

 Testamento nuncupativo: o testamento nuncupativo é aquele que pode ser


feito de forma oral, por pessoa empenhada ou ferida em combate, na forma do
art. 1.896, CC. Nesse caso, bastará confessar a vontade a duas testemunhas.
Não terá efeito o testamento se o testador não morrer na guerra ou em razão
do ferimento (art. 1.896, parágrafo único, CC).

[CC] Art. 1.896. As pessoas designadas no art. 1.893, estando


empenhadas em combate, ou feridas, podem testar oralmente,
confiando a sua última vontade a duas testemunhas.
Parágrafo único. Não terá efeito o testamento se o testador não
morrer na guerra ou convalescer do ferimento.

135
Aulas 20 e 21 – 15/05/2019 e 16/05/2019

Programa – Aulas 20 e 21

21. Codicilos
21.1. Formalidades
21.2. Codicilos e testamento
22. Disposições testamentárias
22.1. Espécies de disposições testamentárias
22.2. Disposições restritivas (ou “cláusulas restritivas”)
22.3. Cláusulas restritivas sobre a legítima do herdeiro necessário
22.4. Regra da separabilidade das disposições
22.5. Disposições nulas ou anuláveis

21. Codicilos

 Entendimento: o codicilo é um ato simplificado, hológrafo (escrito de próprio


punho), com data e assinatura, por meio do qual um indivíduo faz uma
declaração de vontade, com efeitos post mortem (vontades a serem cumpridas
após a morte). O autor do codicilo é o “declarante” ou “codicilante”.

21.1. Formalidades

 Entendimento: o codicilo é um ato simplificado, mas que ainda exige certas


formalidades. Toda pessoa capaz de testar poderá declarar vontade em
codicilos, na forma do art. 1.881, CC. Elas são:

o (i) Redação: o codicilo é um ato hológrafo (escrito de próprio punho).


Até uma carta pode ser considerada um codicilo, dependendo da
situação, com base no art. 1.882, CC.

[CC] Art. 1.882. Os atos a que se refere o artigo antecedente,


salvo direito de terceiro, valerão como codicilos, deixe ou não
testamento o autor.

o (ii) Data: é necessário que o codicilo seja datado.

o (iii) Assinatura: é necessário que o codicilo seja assinado.

o (iv) Conteúdo: em codicilos os únicos bens patrimoniais que podem ser


objeto de declaração de vontade são bens móveis, de uso pessoal e,
em termos de valor, que sejam de pequena monta, com respeito ao
valor total do patrimônio. Não é possível determinar, em codicilos, sobre
bens imóveis. Também é possível fazer declarações de vontade não
patrimoniais, como pedidos a respeito do funeral, dentre outros.

[CC] Art. 1.881. Toda pessoa capaz de testar poderá, mediante


escrito particular seu, datado e assinado, fazer disposições especiais

136
sobre o seu enterro, sobre esmolas de pouca monta a certas e
determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos pobres de certo
lugar, assim como legar móveis, roupas ou jóias, de pouco valor, de
seu uso pessoal.

21.2. Codicilos e testamento

 Entendimento: com relação ao testamento, há algumas questões significativas


a serem discutidas acerca do codicilo. Elas são:

o (i) Hierarquia entre testamento e codicilo: testamento posterior que não


confirma codicilo lavrado anteriormente, acaba por revogá-lo. Não há
necessidade de outorga expressa de validade a determinado codicilo,
sendo possível utilizar uma confirmação geral (“estão confirmados
todos os codicilos redigidos até a presente data”), nos termos do art.
1.884, CC. Contudo, um codicilo não tem força para revogar um
testamento, podendo, somente, complementá-lo.

[CC] Art. 1.884. Os atos previstos nos artigos antecedentes


revogam-se por atos iguais, e consideram-se revogados, se, havendo
testamento posterior, de qualquer natureza, este os não confirmar ou
modificar.

o (ii) Revogação de codicilo por codicilo: um codicilo posterior pode


revogar codicilo anterior, também nos termos do art. 1.884, CC.

o (iii) Nomeação ou substituição de testamenteiro: o testamenteiro é um


indivíduo idôneo, cujo papel será resguardar os bens do testador, até o
momento de entrega aos indicados no processo de inventário. Trata-se
de atividade remunerada. Por meio de codicilos, é possível nomear ou
substituir testamenteiros, nos termos do art. 1.883, CC, mesmo que o
testamenteiro a ser substituído tenha sido, anteriormente, nomeado em
testamento.

[CC] Art. 1.883. Pelo modo estabelecido no art. 1.881, poder-se-


ão nomear ou substituir testamenteiros.

o (iv) Codicilo cerrado: em se tratando de codicilo cerrado, sua abertura


deve ser feita somente pelo juiz da Vara de órfão e sucessões, da
mesma forma que no testamento cerrado, nos termos do art. 1.885, CC.

[CC] Art. 1.885. Se estiver fechado o codicilo, abrir-se-á do


mesmo modo que o testamento cerrado.

22. Disposições testamentárias

 Entendimento: as disposições testamentárias são o conteúdo do testamento.


Nesta seção serão apresentadas as regras básicas para confecção de
disposições testamentárias.

137
22.1. Espécies de disposições testamentárias

 Entendimento: a forma como as disposições testamentárias serão


apresentadas não está prevista em lei, de modo que podem ser apresentadas
de qualquer maneira, seja de maneira numerada, como uma lista, de forma
contínua, singularizando ou não cada disposição, ou de qualquer outra forma.
A forma como as disposições são apresentadas (suas diferentes espécies), no
entanto, pode fazer diferença em sua interpretação. As espécies de
disposições testamentárias, como dispostas nos arts. 1.897 e 1.898, CC, são
as seguintes:

[CC] Art. 1.897. A nomeação de herdeiro, ou legatário, pode fazer-


se pura e simplesmente, sob condição, para certo fim ou modo, ou
por certo motivo.

o (i) Puras e simples: são aquelas em que a declaração de vontade é


independente de qualquer condição e é apresentada de forma simples,
sem motivação.

 Exemplo: “Para Cecília, deixa a casa 20, conjunto 3, QL 06,


Lago Sul”.

 Outro exemplo: “Nomeia herdeiros Paulo, Glauciete, Lucas e


Camila”.

o (ii) Condicionais: são aquelas em que se impõem condições à


transmissão. As condições devem ser lícitas e possíveis. O testamento
deve ser gratuito, de modo que não cabe qualquer tipo de negociação
onerosa para que se receba patrimônio. No entanto, é possível impor
condição onerosa ao eventual herdeiro ou legatário. Aqueles que
devem provar o inadimplemento das condições são aqueles aos quais o
adimplemento interessa. As condições podem ser de dois tipos:

 (a) Suspensiva: são aquelas nas quais a efetiva transmissão


está condicionada ao adimplemento da condição.

 Exemplo: “Nomeia Bruna herdeira, desde que entregue


seu terreno em Samambaia para Felipe”.

 (b) Resolutiva: são aquelas nas quais a transmissão se efetiva


de pronto, mas só vale enquanto cumprida a condição. Quando
a condição deixar de ser cumprida, deixa de valer a disposição.

 Exemplo: “Deixa o usufruto da Fazenda Gado Bravo para


Marcela, Fernanda e João, até o ano 2040”.

Observação: Gratuidade do testamento. O testamento


deve ser gratuito, de modo que não cabe qualquer tipo de
negociação onerosa para que se receba patrimônio. No

138
entanto, é possível impor condição onerosa ao eventual
herdeiro ou legatário (ou seja, é possível condicionar o legado
de uma casa ao pagamento de um valor pecuniário, pelo
legatário, a uma creche, por exemplo). Disposições onerosas
condicionais, portanto, não retiram a natureza de gratuidade do
testamento.

o (iii) Modais: são aquelas nas quais se enuncia o modo como a


transmissão deve ser feita, ou para qual fim devem ser utilizados os
bens transmitidos.

 Exemplo: “Para Vitor, deixa R$ 100.000,00, a serem pagos em


10 parcelas trimestrais”.

 Outro exemplo: “Para Luciano, deixo R$ 40.000,00, que devem


ser utilizados para quitação de seu financiamento imobiliário”.

o (iv) Motivadas: são aquelas que contam com uma motivação


previamente definida. Se a motivação não for autêntica, no entanto, a
disposição será anulável, podendo ser invalidada.

 Exemplo: “Para Maria, deixa R$ 60.000,00, visto que a legatária


é a médica que salvou seu neto da meningite que o acometeu
em 2017”.

o (v) À termo: são aquelas que estabelecem prazo de início e/ou final
para a transmissão de bens e direitos a legatários. Disposições
testamentárias à termo para herdeiros tem seu prazo desconsiderado,
tendo em vista a regra da transmissão automática da herança no
momento da morte do autor da sucessão (princípio da saisine), não
havendo que se falar em nulidade ou anulabilidade da cláusula. A única
hipótese em que se pode aplicar disposição à termo para o herdeiro é
nos casos de disposições fideicomissárias, nos termos do art. 1.898,
CC.

 Exemplo: “Deixo o apartamento da SQS 212, Bloco B, para


Carlos, que somente terá direito ao apartamento 2 anos após
minha morte”.

 Outro exemplo: “Deixo o apartamento da SQS 212, Bloco B,


para Carlos, que somente terá direito ao apartamento até fazer
50 anos de idade”.
[CC] Art. 1.898. A designação do tempo em que deva começar ou
cessar o direito do herdeiro, salvo nas disposições fideicomissárias,
ter-se-á por não escrita.

22.2. Disposições restritivas (ou “cláusulas restritivas”)

139
 Entendimento: as disposições restritivas são cláusulas que estabelecem
restrições ao direito de propriedade do herdeiro ou do legatário. Elas estão
previstas no art. 1.911, CC, e podem ser de três tipos:

o (i) Cláusula restritiva de inalienabilidade: trata-se de restrição


testamentária que impede a alienação (que pode se dar por venda,
doação, dentre outros) do bem clausulado.

o (ii) Cláusula restritiva de impenhorabilidade: trata-se de restrição


testamentária que impede a penhora do bem clausulado.

o (iii) Cláusula restritiva de incomunicabilidade: trata-se de restrição


testamentária que impede a comunicação do bem clausulado, o que
pode afetar, dependendo do regime bens, a definição de quais bens
serão meados e quais serão incorporados à herança.

 Contexto histórico das disposições restritivas: no Código Civil de 1916, só


havia previsão de cláusula restritiva de inalienabilidade, de modo que, nas
sucessões em que havia regime de comunhão universal, havia dúvida se a
inalienabilidade impediria que o cônjuge supérstite measse ou herdasse o bem.
Essa dúvida restou pacificada por meio da Súmula nº 49, STF, que aponta que
bens clausulados com restrição de inalienabilidade importam,
automaticamente, em incomunicabilidade. Essa súmula foi reproduzida, no
Código Civil de 2002, no art. 1.911, caput, CC, o qual, inclusive, ampliou seu
entendimento, apontando que aquilo que é inalienável, necessariamente, é
incomunicável e impenhorável, mesmo que o testador não tenha,
expressamente, apontado isto. O contrário, no entanto, não necessariamente é
verdadeiro, assim, um bem incomunicável não necessariamente é inalienável.

o Também importa ressaltar que, nos termos do art. 1.911, parágrafo


único, CC, ao herdeiro ou legatário, é possível pleitear, em juízo, o
levantamento de qualquer das restrições. Essa possibilidade será
aplicável (i) no caso de desapropriação dos bens com disposições
restritivas, ou (ii) de sua alienação, por conveniência econômica do
donatário ou do herdeiro. O valor monetário obtido com a venda ou com
a indenização pela desapropriação, no entanto, deverá ser,
necessariamente, utilizado para a compra de outros bens imóveis, que
terão as mesmas restrições que o bem vendido ou desapropriado.

[CC] Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens


por ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e
incomunicabilidade.
Parágrafo único. No caso de desapropriação de bens
clausulados, ou de sua alienação, por conveniência econômica do
donatário ou do herdeiro, mediante autorização judicial, o produto
da venda converter-se-á em outros bens, sobre os quais incidirão
as restrições apostas aos primeiros.

Súmula nº 49, STF

140
A cláusula de inalienabilidade inclui a incomunicabilidade dos
bens.

22.3. Cláusulas restritivas sobre a legítima do herdeiro necessário

 Entendimento: em regra, não há possibilidade de o testador estabelecer


cláusula restritiva sobre os bens da legítima do herdeiro necessário (seja ela de
inalienabilidade, impenhorabilidade ou incomunicabilidade). Entretanto, nos
termos do art. 1.848, CC, há uma exceção, que se dá com a declaração
testamentária de uma justa causa. Quanto à porção disponível da herança (ou
seja, a parte que não integra a legítima), não há qualquer necessidade de
justificação.

o Justa causa: a doutrina entende que poderão ser considerados como


justa causa todos aqueles motivos que tenham por objetivo preservar o
patrimônio do herdeiro necessário que teve seu acesso à herança
limitado, ou seja, que possam acarretar prejuízo de ordem material a
esse herdeiro necessário. Exemplos são as situações nas quais o
herdeiro necessário é uma pessoa pródiga, um usuário de drogas,
alguém com determinada limitação cognitiva que não implicasse em
interdição, mas dificultasse o lido com o patrimônio, dentre outras.

[CC] Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no


testamento, não pode o testador estabelecer cláusula de
inalienabilidade, impenhorabilidade, e de incomunicabilidade, sobre
os bens da legítima.
§1º Não é permitido ao testador estabelecer a conversão dos
bens da legítima em outros de espécie diversa.
§2º Mediante autorização judicial e havendo justa causa,
podem ser alienados os bens gravados, convertendo-se o produto
em outros bens, que ficarão sub-rogados nos ônus dos primeiros.

Observação: Cláusulas restritivas sobre a legítima do herdeiro


necessário no Código Civil de 1916. Na vigência do Código Civil de
1916, não havia necessidade de justificação para que se restringisse a
possibilidade de o testador estabelecer cláusula restritiva sobre os bens
da legítima do herdeiro necessário. No caso de um indivíduo que, na
vigência do Código Civil de 1916, testa estabelecendo cláusulas
restritivas sobre determinado imóvel sem justo motivo, mas falece já na
vigência do Código Civil de 2002, tendo o testamento sido validado,
deverá ser aplicada a regra do art. 2.042, CC/02.
De acordo com esse dispositivo, quando o testamento for feito
na vigência do CC/1916, contendo cláusula restritiva sem justa causa,
ele valerá em até um ano após a entrada em vigor do CC/2002 (ou seja,
somente até janeiro de 2004). Após janeiro de 2004, o testador deverá
aditar o testamento para declarar a justa causa, para que a cláusula
restritiva seja válida.

141
[CC] Art. 2.042. Aplica-se o disposto no caput do art. 1.848,
quando aberta a sucessão no prazo de um ano após a entrada em
vigor deste Código, ainda que o testamento tenha sido feito na
vigência do anterior, Lei no 3.071, de 1º de janeiro de 1916; se, no
prazo, o testador não aditar o testamento para declarar a justa causa
de cláusula aposta à legítima, não subsistirá a restrição.

22.4. Regra da separabilidade das disposições

 Entendimento: de acordo com a regra da separabilidade das disposições, as


cláusulas testamentárias são autônomas umas com relação às outras. Diz-se,
portanto, que as cláusulas testamentárias “têm vida própria”. Assim, a
invalidade de uma não implica na invalidade de outra, a não ser que tenham
relação de dependência mútua, nos termos do art. 1.910, CC.

[CC] Art. 1.910. A ineficácia de uma disposição testamentária


importa a das outras que, sem aquela, não teriam sido determinadas
pelo testador.

22.5. Disposições nulas ou anuláveis

 Entendimento: as disposições testamentárias podem ser nulas (nulidade


absoluta) ou anuláveis (nulidade relativa).

 Disposições nulas: as disposições testamentárias serão nulas quando


contrariarem questões de ordem pública, podendo ser declaradas de ofício ou
a requerimento de qualquer pessoa. Conforme o art. 1.900, CC, que contém rol
taxativo, essas hipóteses são:

o (i) Disposição testamentária que institua herdeiro ou legatário sob a


condição captatória de que este disponha, também por testamento, em
benefício do testador, ou de terceiros: a condição captatória é a
conquista do bem-querer do outro com o objetivo de ser beneficiado em
testamento (a exemplo do casamento de um homem muito mais novo
com uma mulher muito mais velha). Quando a disposição testamentária
é feita sob tal condição, ela será dotada de nulidade absoluta.

[CC] Art. 1.900. É nula a disposição:


I - que institua herdeiro ou legatário sob a condição captatória
de que este disponha, também por testamento, em benefício do
testador, ou de terceiro;

o (ii) Disposição testamentária que se refira a pessoa incerta, cuja


identidade não se possa averiguar: quando não se pode, de maneira
alguma, verificar a identidade de pessoa beneficiada em testamento, a
cláusula será nula. Se, no entanto, for possível, de alguma maneira
(podendo-se utilizar, por exemplo, o contexto do testamento) identificar
quem é a pessoa, a cláusula não será nula, nos termos do art. 1.903,
CC.

142
[CC] Art. 1.900. É nula a disposição:
(...)
II - que se refira a pessoa incerta, cuja identidade não se possa
averiguar;

[CC] Art. 1.903. O erro na designação da pessoa do herdeiro, do


legatário, ou da coisa legada anula a disposição, salvo se, pelo
contexto do testamento, por outros documentos, ou por fatos
inequívocos, se puder identificar a pessoa ou coisa a que o testador
queria referir-se.

o (iii) Disposição testamentária que favoreça a pessoa incerta, cometendo


a determinação de sua identidade a terceiro: será nula a cláusula que
favorecer pessoa incerta, a ser identificada por outra pessoa (por
exemplo, será nula a disposição que versar: “Deixo 10% do valor
testado qualquer pessoa a ser indicada por minha sobrinha Joana”).

 É possível, no entanto, que se faculte a escolha da pessoa a


receber os bens testados, dentre duas ou mais pessoas
mencionadas pelo testador, ou pertencentes a uma família, ou a
um corpo coletivo, ou a um estabelecimento por ele designado,
nos termos do art. 1.901, I, CC (por exemplo, é válida a
disposição que versar “Deixo 10% do valor testado para uma
das crianças da creche Sorriso de Maria, a ser indicada por
minha sobrinha Joana”).

[CC] Art. 1.900. É nula a disposição:


(...)
III - que favoreça a pessoa incerta, cometendo a determinação
de sua identidade a terceiro;

[CC] Art. 1.901. Valerá a disposição:


I - em favor de pessoa incerta que deva ser determinada por
terceiro, dentre duas ou mais pessoas mencionadas pelo testador,
ou pertencentes a uma família, ou a um corpo coletivo, ou a um
estabelecimento por ele designado;

o (iv) Disposição testamentária que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de


outrem, fixar o valor do legado: é nula a disposição que deixe ao arbítrio
de um terceiro, mesmo que seja um herdeiro, definir o valor de um
legado (é nula, portanto, disposição que versar: “Deixo, para meu amigo
João, legado de valor a ser definido por um dos meus herdeiros
legítimos”).

 Não é nula, no entanto, disposição de legado de valor incerto, a


ser indicado por herdeiro ou outrem, caso o legatário seja
alguém que ajudou no cuidado com o autor da sucessão, por
ocasião da doença de que faleceu, desde que haja motivação
atestando tal situação, nos termos do art. 1.901, II, CC (é válida,

143
portanto, disposição que versar: “Deixo, para meu enfermeiro
Mário, legado de valor a ser definido por meu filho Eduardo”).

[CC] Art. 1.900. É nula a disposição:


(...)
IV - que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor
do legado;

[CC] Art. 1.901. Valerá a disposição:


(...)
II - em remuneração de serviços prestados ao testador, por
ocasião da moléstia de que faleceu, ainda que fique ao arbítrio do
herdeiro ou de outrem determinar o valor do legado.

o (v) Disposição testamentária que favoreça as pessoas a que se referem


os arts. 1.801 e 1.802, CC: as pessoas referidas por esses dispositivos
são os impedidos de suceder (testemunha do testamento, tabelião
responsável pela redação ou aprovação do testamento, dentre outros).

[CC] Art. 1.900. É nula a disposição:


(...)
V - que favoreça as pessoas a que se referem os arts. 1.801 e
1.802.

[CC] Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem


legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu
cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa
sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão,
perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o
testamento.

[CC] Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor


de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob
a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os
ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou
companheiro do não legitimado a suceder.

 Disposições anuláveis: as disposições testamentárias serão anuláveis


quando contiverem vícios do negócio jurídico, podendo ser declaradas
somente a requerimento dos interessados. Nos termos do art. 1.909, CC,
portanto, são anuláveis as disposições testamentárias inquinadas de erro, dolo
ou coação.

o Prazo: o prazo decadencial para requerer a anulação de disposições


testamentárias é de 4 anos, contados de quando o interessado tiver
conhecimento do vício, nos termos do art. 1.909, parágrafo único, CC.

144
[CC] Art. 1.909. São anuláveis as disposições testamentárias
inquinadas de erro, dolo ou coação.
Parágrafo único. Extingue-se em quatro anos o direito de
anular a disposição, contados de quando o interessado tiver
conhecimento do vício.

22.6. Distribuição dos quinhões testamentários

 Entendimento: a distribuição dos quinhões testamentários é a maneira por


meio da qual se dá a divisão dos valores testados. O regramento dessa
distribuição está nos arts. 1.904 a 1.907, CC.

 Sujeitos de direito: os sujeitos de direito das sucessões podem ser de três tipos. Eles são:
o (i) Primeira regra: de acordo com o art. 1.904, CC, se o testamento
o (i) Autor da sucessão: é o dede
nomear mais cujus, aquele que
um herdeiro, origina
sem a sucessão.
discriminar a parte de cada um, a
partilha da a porção disponível do testador será feita por igual, entre
o (ii) Herdeiro: o herdeiro é aquele que tem direito, seja por meio da lei (sucessão legítima), seja
todos.
por meio de testamento (sucessão testamentária), a determinada quota-parte do todo unitário
de bens e direitosdo Exemplo:
de cujus. “Nomeio herdeiros Vitor, Glauciete, Cecília e Paulo”.
Cada um dos herdeiros receberá 25% da porção disponível do
 (a) Legítimo: são os herdeiros que assim o são em razão da ordem de vocação
testador.
hereditária (art. 1.829, CC).

 (b) Testamentário:[CC]
sãoArt.os1.904. Se o testamento
herdeiros que assimnomear
o são dois ou maisdaherdeiros,
em razão manifestação de
sem discriminar a parte de cada um, partilhar-se-á
vontade do de cujus. Assim, em um testamento que verse, por exemplo, por igual, “Deixa
entre 10% da
herança para todos, a porção
Renata”, disponível do
se verificará testador.
uma herança, visto que os bens não estão
singularizados.
o (ii) Segunda regra: de acordo com o art. 1.905, CC, se o testador
o (iii) Legatário:nomear
é aquelecertos
que receberá
herdeirosum bem certo e determinado,
individualmente desde que, quando
e outros coletivamente, a da
morte, este bem compusesse o patrimônio do de cujus. A figura do legatário só existe na
sucessão testamentária. Em um testamento que verse, por exemplo, “Deixa o apartamento 145 da
SQS 212, Bloco K, para Renata”, se verificará um legado, visto que o bem foi singularizado.
herança será dividida em tantas quotas quantos forem os indivíduos e
os grupos designados.

 Exemplo: “Nomeio herdeiros Vitor, Glauciete, Cecília e Paulo”,


“Nomeio herdeiros os filhos de minha amiga Maria”. Vitor,
Glauciete, Cecília e Paulo receberão, cada um, 20% da porção
disponível do testador. Os filhos de Maria serão entendidos
como um grupo, recebendo, coletivamente, 20% da porção
disponível do testador.

[CC] Art. 1.905. Se o testador nomear certos herdeiros


individualmente e outros coletivamente, a herança será dividida em
tantas quotas quantos forem os indivíduos e os grupos designados.

o (iii) Terceira regra: de acordo com o art. 1.906, CC, se forem


determinadas as quotas de cada herdeiro, e não absorverem toda a
herança, o remanescente pertencerá aos herdeiros legítimos, segundo
a ordem da vocação hereditária. Se, no entanto, não houver herdeiros
legítimos, o remanescente será considerado herança jacente.

 Exemplo: “Deixa 10% da herança para Renato”, “Deixa 20% da


herança para Fernanda”, Lucas é filho e é sobrevivente. Diego é
pai e é sobrevivente. Renato receberá 10% da porção disponível
do testador. Fernanda receberá 20% da porção disponível do
testador. Lucas receberá os 70% restantes, visto que é herdeiro
legítimo e tem precedência sobre Diego, de acordo com a ordem
de vocação hereditária do art. 1.829, CC. Diego nada receberá.

[CC] Art. 1.906. Se forem determinadas as quotas de cada


herdeiro, e não absorverem toda a herança, o remanescente
pertencerá aos herdeiros legítimos, segundo a ordem da vocação
hereditária.

o (iv) Quarta regra: de acordo com o art. 1.907, CC, se forem


determinados os quinhões de uns e não os de outros herdeiros,
distribuir-se-á por igual a estes últimos o que restar, depois de
completas as porções hereditárias dos primeiros.

 Exemplo: “Deixa 10% da herança para Renato”, “Deixa 20% da


herança para Fernanda”, “Nomeia Lucas e Diego como
herdeiros”. Renato receberá 10% da porção disponível do
testador. Fernanda receberá 20% da porção disponível do
testador. Lucas e Diego, que não tiveram quinhão determinado,
dividirão, igualmente, aquilo que restar (no caso, 70%), ou seja,
cada um receberá 35% da porção disponível do testador.

[CC] Art. 1.907. Se forem determinados os quinhões de uns e não


os de outros herdeiros, distribuir-se-á por igual a estes últimos o que
restar, depois de completas as porções hereditárias dos primeiros.

146
147
Aulas 22 e 13 – 22/05/2019 e 23/05/2019

Programa – Aulas 22 e 23

23. Legados
23.1. Classificação dos legados
23.1.1. Legado de coisas
23.1.2. Legado de crédito
23.1.3. Legado de alimentos
23.1.4. Legado de usufruto
23.1.5. Legado alternativo
23.1.6. Legado com encargo

23. Legados

 Conceito de “legado”: o legado é um bem certo e determinado, que pode


existir ou não dentro do patrimônio do de cujus, a exemplo de uma casa, um
carro, ou cem mil reais. A figura do legado só existe dentro da sucessão
testamentária. Quanto mais legados houver, menos patrimônio sobrará para os
herdeiros. Em contrapartida, caso o bem determinado não mais exista, ou não
esteja mais no patrimônio do de cujus quando de sua morte, o legado
desaparecerá e o legatário nada receberá. Quando o testamento do de cujus
envolver legados, haverá sucessão a título singular. Também importa ressaltar
que o legado pode existir ou não dentro do acervo patrimonial do testador (por
exemplo, o legado genérico não se encontra no patrimônio do testador).

o Exemplo: “Deixa, para Maria, o apartamento nº 203 da SQS 104, Bloco


A”, ou “Deixa, para Carlos, duzentos mil reais”.

 Conceito de “legado precípuo” (ou “pré-legado”): o legado precípuo é um


subtipo de legado, que é deixado a quem já é herdeiro instituído. Tendo em
vista que os legados são abatidos do valor da herança (os herdeiros receberão
o valor da herança, depois de pagos os legados), os próprios herdeiros
instituídos acabarão pagando pelos legados (no sentido de que deixarão de
recebê-los).

o Exemplo: “Deixa 10% da herança para Eduardo”, “Deixa, para Eduardo,


o apartamento nº 203 da SQS 104, Bloco A”.

 Conceito de “sub-legado”: consiste em bem pertencente a um herdeiro


instituído ou a um legatário, que será entregue a uma terceira pessoa, em
razão de uma condição imposta pelo testador, para que o herdeiro ou legatário
possa receber o que lhe foi deixado, nos termos do art. 1.913, CC. Não se
trata, propriamente, de um legado, mas é similar a ele. Em regra, cumpre o
sub-legado aquele herdeiro ou legatário ao qual a condição foi imposta.
Relembra-se que, na sucessão testamentária pode haver renúncia tácita (o
que não existe na sucessão legítima), que se dá, justamente, quando o

148
herdeiro ou legatário deixa de cumprir a condição estipulada pelo testador,
também conforme o art. 1.913, CC.

o Exemplo: “Deixa, para Lídia, 10% da herança, desde que ela entregue
seu apartamento em Samambaia para Larissa”. Neste caso, o
apartamento de Samambaia é um sub-legado.

[CC] Art. 1.913. Se o testador ordenar que o herdeiro ou legatário


entregue coisa de sua propriedade a outrem, não o cumprindo ele,
entender-se-á que renunciou à herança ou ao legado.

23.1. Classificação dos legados

 Entendimento: os legados podem ser classificados em seis categorias. Elas


são:

o (i) Legado de coisas; o (iv) Legado de usufruto;

o (ii) Legado de crédito; o (v) Legado alternativo;

o (iii) Legado de alimentos; o (vi) Legado com encargo.

23.1.1. Legado de coisas

 Entendimento: na maioria dos casos, o legado é de coisas. Há quatro


subtipos de legados de coisas. Eles são:

o (i) Alheias: em regra, o legado de coisa que não pertence ao testador


na data de sua morte é considerado ineficaz, visto que é considerado
como legado de coisa alheia (art. 1.912, CC). Neste caso, diz-se que a
disposição testamentária correspondente caducará.

 É possível, no entanto, que haja coisa que não pertence ao


testador, mas que surtirá efeito, no testamento. Trata-se do sub-
legado, constante do art. 1.913, CC.

 Em regra, cumpre o sub-legado aquele herdeiro ou legatário ao


qual a condição foi imposta. Entretanto, caso não haja vedação
expressa no testamento, o herdeiro incumbido de cumprir a
condição do sub-legado terá direito de regresso contra os outros
herdeiros instituídos, na proporção das quotas de cada um dos
co-herdeiros, incluindo a si mesmo (em obediência à lógica dos
legados, que determina que os herdeiros é que pagam os
legados), nos termos do art. 1.935, CC.

 Também é importante observar que, em decorrência da


regra do art. 1.935, CC, se aquele que tiver de cumprir a
condição do sub-legado for, originalmente, somente um
legatário (ou seja, não for herdeiro, nem legatário
precípuo), ele terá direito de regresso ao valor total do

149
que gastou para cumprir a condição, visto que os
herdeiros é que pagam os legados (e não os legatários).

[CC] Art. 1.912. É ineficaz o legado de coisa certa que não


pertença ao testador no momento da abertura da sucessão.

[CC] Art. 1.913. Se o testador ordenar que o herdeiro ou legatário


entregue coisa de sua propriedade a outrem, não o cumprindo ele,
entender-se-á que renunciou à herança ou ao legado.

[CC] Art. 1.935. Se algum legado consistir em coisa pertencente a


herdeiro ou legatário (art. 1.913), só a ele incumbirá cumpri-lo, com
regresso contra os co-herdeiros, pela quota de cada um, salvo se o
contrário expressamente dispôs o testador.

o (ii) Genéricas: o legado de coisa genérica é aquele em que a coisa é


identificada somente pelo gênero. Em se tratando de legado genérico,
este deverá ser cumprido mesmo não haja coisa daquele gênero dentro
do acervo patrimonial do testador (art. 1.915, CC).

 Quando se tratar de legado genérico que não esteja no acervo


patrimonial, deve-se adquirir o bem com preço médio entre os
congêneres de melhor e pior qualidade (art. 1.929, segunda
parte, CC).

 Tendo em vista que os herdeiros instituídos é que pagam os


legados, serão eles que escolherão os bens a satisfazerem o
legado genérico (art. 1.929, primeira parte, CC).

 Caso o testador defina que a escolha será feita pelo legatário,


este só poderá escolher se houver uma ou mais coisas
congêneres dentro do acervo patrimonial, caso no qual poderá
escolher a melhor (art. 1.931, CC).

 Se, no entanto, não houver congênere no acervo patrimonial, a


escolha será dos herdeiros instituídos (mesmo que o testador
tenha apontado que a escolha seria do legatário ou de terceiros)
ou, caso não queiram, será feita pelo juiz, também obedecendo
o critério do valor médio (art. 1.930, CC).

[CC] Art. 1.915. Se o legado for de coisa que se determine pelo


gênero, será o mesmo cumprido, ainda que tal coisa não exista entre
os bens deixados pelo testador.

[CC] Art. 1.929. Se o legado consiste em coisa determinada pelo


gênero, ao herdeiro tocará escolhê-la, guardando o meio-termo entre
as congêneres da melhor e pior qualidade.

[CC] Art. 1.930. O estabelecido no artigo antecedente será


observado, quando a escolha for deixada a arbítrio de terceiro; e, se
este não a quiser ou não a puder exercer, ao juiz competirá fazê-la,
guardado o disposto na última parte do artigo antecedente.

150
[CC] Art. 1.931. Se a opção foi deixada ao legatário, este poderá
escolher, do gênero determinado, a melhor coisa que houver na
herança; e, se nesta não existir coisa de tal gênero, dar-lhe-á de
outra congênere o herdeiro, observada a disposição na última parte
do art. 1.929.

o (iii) Inexistentes ou em menor quantidade: sempre que o legado se


referir a coisa que não mais existe (ou seja, que não integra o acervo
patrimonial do testador), o legado é considerado ineficaz e a disposição
testamentária correspondente caducará (art. 1.916, primeira parte, CC).

 Se, no entanto, a coisa existir, mas em menor quantidade, ela


será cumprida apenas na proporção que ainda for possível (art.
1.916, segunda parte, CC). Por exemplo, no caso de um terreno
que tinha 10 mil metros quadrados quando o testador fez o
testamento, mas tinha 6 mil metros quadros na data de sua
morte, a quantia legada será de 6 mil metros quadrados.

 Se o testador, após o testamento, ajuntar maior quantidade da


coisa anteriormente legada, não se presume que essa nova
quantidade integrará o legado, a não ser que o testador assim
disponha expressamente (art. 1.922, CC). Por exemplo no caso
de um terreno que tinha 4 mil metros quadrados quando o
testador fez o testamento, mas tinha 7 mil metros quadros na
data de sua morte, a quantia legada será de 4 mil metros
quadrados, a não ser que expressamente determinado em
contrário.

 Se, no entanto, forem adicionadas benfeitorias no imóvel legado,


estas serão consideradas como incorporadas ao legado, na
forma do art. 1.922, parágrafo único, CC.

[CC] Art. 1.916. Se o testador legar coisa sua, singularizando-a,


só terá eficácia o legado se, ao tempo do seu falecimento, ela se
achava entre os bens da herança; se a coisa legada existir entre os
bens do testador, mas em quantidade inferior à do legado, este será
eficaz apenas quanto à existente.

[CC] Art. 1.922. Se aquele que legar um imóvel lhe ajuntar depois
novas aquisições, estas, ainda que contíguas, não se compreendem
no legado, salvo expressa declaração em contrário do testador.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto neste artigo às
benfeitorias necessárias, úteis ou voluptuárias feitas no prédio
legado.

o (iv) Existentes em local determinado: se a disposição testamentária


indicar onde o legado poderá ser encontrado, tal disposição só valerá
se o legado for encontrado nesse exato local. Se, no entanto, for
possível comprovar que a mudança de localidade foi dolosa ou
temporária, a disposição testamentária permanecerá válida (art. 1.917,

151
CC). Por exemplo, caso o testador deixe “o quadro de Van Gogh, que
está na sala da casa do Lago Sul”, a disposição somente terá eficácia
se o quadro, de fato, estiver no local indicado. Caso, no entanto, se
comprove que o quadro foi removido pelos outros herdeiros
dolosamente, a disposição permanecerá válida. Alternativamente, caso
se comprove que o quadro está, temporariamente, no ateliê de
restauro, a disposição também permanecerá válida.

[CC] Art. 1.917. O legado de coisa que deva encontrar-se em


determinado lugar só terá eficácia se nele for achada, salvo se
removida a título transitório.

23.1.2. Legado de crédito

 Entendimento: os legados de crédito são legados de valor. As disposições


testamentárias relativas a crédito podem ser modais, por exemplo,
determinando-se que o legado de crédito servirá para quitação de dívidas.

o Se a dívida a ser quitada é do legatário (devedor), para com o testador


(credor), e o testador, na forma de legado, quita essa dívida (na prática,
perdoando o legatário devedor), os herdeiros cumprirão esse legado
por meio da entrega, ao legatário, do título de crédito respectivo (um
cheque, uma nota promissória, dentre outros), na forma do art. 1.918,
§1º, CC.

o Se a dívida a ser quitada é do testador (devedor), para com o legatário


(credor), e houver disposição expressa de que o objetivo do legado é
quitar a dívida, os herdeiros instituídos entregam a quantia para o
legatário, exigindo de volta o título de crédito. Se, no entanto, não
houver disposição expressa dizendo que o objetivo da disposição
testamentária é a quitação da dívida, não se presume que houve
compensação (ou seja, a princípio, a dívida do testador para com o
credor permanecerá existente), na forma do art. 1.919, caput, CC.

o Dívidas que forem contraídas posteriormente à feitura do testamento


não se presumem incluídas na quitação prevista na disposição
testamentária (art. 1.918, §2º, CC).

o Caso haja disposição testamentária modal dizendo que o legado se


destina à quitação de uma dívida, mas essa dívida foi quitada antes do
falecimento, o legado será ineficaz e a disposição em questão caducará
(art. 1.918, caput, CC).

o É possível, ainda, fazer disposição testamentária prevendo legado


genérico de compensação de dívida (“Deixo R$ 5.000,00 para Maria,
para quitação de dívida”), mesmo que não haja dívida no momento do
testamento. Em um segundo momento, posterior ao testamento, se a
dívida surgir, mas for saldada antes mesmo da morte, a disposição
testamentária subsistirá, nos termos do art. 1.919, parágrafo único, CC.
A partir daí, caso a morte ocorra em um terceiro momento, como não há

152
dívida, o legado será ineficaz e a cláusula caducará. Se, no entanto, no
terceiro momento, outra dívida for contraída com Maria e o testador
morrer, o legado será eficaz.

[CC] Art. 1.918. O legado de crédito, ou de quitação de dívida,


terá eficácia somente até a importância desta, ou daquele, ao tempo
da morte do testador.
§1º Cumpre-se o legado, entregando o herdeiro ao legatário o
título respectivo.
§2º Este legado não compreende as dívidas posteriores à data
do testamento.

[CC] Art. 1.919. Não o declarando expressamente o testador, não


se reputará compensação da sua dívida o legado que ele faça ao
credor.
Parágrafo único. Subsistirá integralmente o legado, se a dívida
lhe foi posterior, e o testador a solveu antes de morrer.

23.1.3. Legado de alimentos

 Entendimento: os legados de crédito podem ter natureza alimentar ou de


pensão periódica. Se tiver natureza alimentar, o próprio testador poderá arbitrar
a quantidade e periodicidade. Se não arbitrar, o juiz fará o arbitramento
considerando o binômio necessidade (do legatário) e possibilidade (das forças
da herança). Quem tem a obrigação de cumprir esse legado serão os herdeiros
instituídos, no limite daquilo que receberam. O juiz pode, inclusive, exigir
prestação de caução por parte dos herdeiros instituídos. Legados alimentares
sem prazo definido serão reputados como vitalícios. Em todos os casos, nos
termos do art. 1.920, CC, o legado de alimentos deverá ser suficiente para
cuidar de subsistência, vestuário, moradia, saúde e, caso o legatário seja
menor, educação.

o Exemplo: “Deixo legado de alimentos para João, filho de minha


governante Andréa”. Há dois herdeiros instituídos, Carlos (60% da
herança) e Maria (40% da herança), dividindo herança de R$
10.000.000,00 (dez milhões). Nesse caso, a quantia deverá se amoldar
aos requisitos do art. 1.920, CC. Considerando o binômio necessidade
e possibilidade, e tendo o juiz definido, por exemplo, dois salários
mínimos, a serem pagos mensalmente, a cada mês, Carlos pagará 60%
dos dois salários mínimos, enquanto Maria pagará 40%. Para garantir
que João receberá o legado até o final de sua vida (visto que não foi
definido prazo), o juiz poderá exigir caução de Carlos e Maria. Se, após
diversos anos, Maria comprovar que pagou, para João, pelo legado de
alimentos, um total de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões), ou seja, tudo
que lhe cabia do valor total da herança, a obrigação desaparecerá, visto
que esta limitada ao valor efetivamente herdado.

[CC] Art. 1.920. O legado de alimentos abrange o sustento, a


cura, o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além da
educação, se ele for menor.

153
Observação: Medidas coercitivas em ação de execução
advinda de legado de alimentos. O herdeiro instituído obrigado a
pagar legado de alimentos está sujeito, em ação de execução, a
todas as medidas coercitivas do Direito de Família (constrição de
bens, dentre outros), exceto a prisão civil, visto que este instituto está
ligado ao poder familiar, o que não se verifica no caso sucessório

 Modo de pagamento: em regra, se o legado for de quantidade certa, em


prestação simples, será devido a partir da data da morte do testador (abertura
da sucessão). Se, no entanto, o legado for em prestações periódicas
(parcelas), sem data do início estabelecida, a primeira parcela será devida no
dia da abertura da sucessão e a parcela seguinte será devida no vencimento
seguinte (contudo, o direito do legatário já nasce a partir do primeiro dia do
período aquisitivo seguinte a um pagamento, podendo, no entanto, cobrar a
parcela apenas no dia seguinte ao vencimento), nos termos do art. 1.928, CC.

o Exemplo: “Deixo para Antonio R$ 100.000,00, a ser pago em 20


parcelas bimestrais, vencendo a primeira dois meses após aberta a
sucessão”. A data da morte do testador foi 10/03/2019. Nesse caso,
Antonio terá direito à primeira parcela, de R$ 5.000,00, em 10/05/2019.
A partir de 11/05/2019, Antonio já tem direito à próxima parcela, mas só
poderá exigi-la em 10/07/2019. Supondo-se que, no dia 15/10/2019,
após recebidas três parcelas (totalizando R$ 15.000,00), Antonio morre.
Nesse caso, seus descendentes herdarão o direito ao recebimento de
uma parcela de R$ 5.000,00, visto que Antonio já adquiriu direito a essa
parcela. Nesse caso, os R$ 80.000,00 restantes voltarão para os
herdeiros instituídos (que foram os encarregados de pagar o legado).

[CC] Art. 1.926. Se o legado consistir em renda vitalícia ou pensão


periódica, esta ou aquela correrá da morte do testador.

[CC] Art. 1.927. Se o legado for de quantidades certas, em


prestações periódicas, datará da morte do testador o primeiro
período, e o legatário terá direito a cada prestação, uma vez
encetado cada um dos períodos sucessivos, ainda que venha a
falecer antes do termo dele.

[CC] Art. 1.928. Sendo periódicas as prestações, só no termo de


cada período se poderão exigir.
Parágrafo único. Se as prestações forem deixadas a título de
alimentos, pagar-se-ão no começo de cada período, sempre que
outra coisa não tenha disposto o testador.

23.1.4. Legado de usufruto

 Entendimento: o legado de usufruto é aquele. Se o usufruto não tiver prazo e


for legado para pessoa física, será entendido como vitalício (art. 1.921, CC). Se
o usufruto não tiver prazo e for legado para pessoa jurídica, no entanto, se

154
aplica a regra do art. 1.410, III, CC, estando limitado tal direito a 30 anos. O
usufrutuário tem direito à posse, uso, administração e percepção dos frutos
(art. 1.394, CC). Se for legado um usufruto a somente um usufrutuário, a
propriedade do dono se consolidará com a eventual morte desse usufrutuário.
Se, no entanto, for legado usufruto a dois ou mais usufrutuários, após a morte
(ou “falta”, na dicção do artigo) de um deles, sua parte do usufruto caberá aos
outros colegatários (e não ao proprietário, como seria na regra geral do
usufruto), nos termos do art. 1.946, caput, CC.

o Exemplo: “Deixo o apartamento da SQS 311, Bloco A, para Luciano,


com usufruto de Juliana, Sibelle e Camila”. Nesse caso, imaginando-se
que as usufrutuárias aluguem o apartamento por R$ 9.000,00. Assim,
caberá R$ 3.000,00 a cada uma. Após a morte (ou “falta”, na dicção do
artigo) de Juliana, sua parte do usufruto caberá às outras colegatárias,
de modo que Sibelle e Camila farão jus, cada uma a R$ 4.500,00 (essa
regra é diferente da regra geral do usufruto, na qual, com a morte de
um dos usufrutuários, é o proprietário quem passa a receber a parte
que lhe cabia). Apenas com a morte do último usufrutuário é que a
propriedade de Luciano vai se consolidar.

[CC] Art. 1.921. O legado de usufruto, sem fixação de tempo,


entende-se deixado ao legatário por toda a sua vida.

[CC] Art. 1.946. Legado um só usufruto conjuntamente a duas ou


mais pessoas, a parte da que faltar acresce aos colegatários.
Parágrafo único. Se não houver conjunção entre os co-
legatários, ou se, apesar de conjuntos, só lhes foi legada certa
parte do usufruto, consolidar-se-ão na propriedade as quotas dos
que faltarem, à medida que eles forem faltando.

[CC] Art. 1.394. O usufrutuário tem direito à posse, uso,


administração e percepção dos frutos.

[CC] Art. 1.410. O usufruto extingue-se, cancelando-se o registro


no Cartório de Registro de Imóveis:
(...)
III - pela extinção da pessoa jurídica, em favor de quem o
usufruto foi constituído, ou, se ela perdurar, pelo decurso de trinta
anos da data em que se começou a exercer;

23.1.5. Legado alternativo

 Entendimento: é possível que o testador deixe duas ou mais coisas, de forma


alternativa, para o legatário. A escolha de qual das duas será efetivamente
legada será feita pelos herdeiros instituídos (seguindo a mesma lógica do
legado genérico), caso não haja disposição testamentária em contrário (art.
1.932, CC). Se o herdeiro ou legatário a quem couber a opção de escolher a
alternativa falecer antes de exercer essa opção, o poder de escolher passará
aos seus herdeiros (art. 1.933, CC). Se uma das opções de alternativas não

155
subsistir no momento da morte, será como se a opção fosse ignorada,
persistindo as alternativas restantes.

[CC] Art. 1.932. No legado alternativo, presume-se deixada ao


herdeiro a opção.

[CC] Art. 1.933. Se o herdeiro ou legatário a quem couber a opção


falecer antes de exercê-la, passará este poder aos seus herdeiros.

23.1.6. Legado com encargo

 Entendimento: o legado com encargo segue as mesmas disposições da


doação com encargo (art. 1.938, CC). Trata-se do legado que é submetido a
encargo para sua efetivação. O encargo não suspende a aquisição nem o
exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico,
salvo condição suspensiva (art. 136, CC). O legatário é obrigado a cumprir os
encargos e, quando se tratar de interesse geral, poderá o Ministério Público
exigir o cumprimento, caso este não se verifique (art. 553, CC).

[CC] Art. 1.938. Nos legados com encargo, aplica-se ao legatário


o disposto neste Código quanto às doações de igual natureza.

[CC] Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o


exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio
jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.

[CC] Art. 553. O donatário é obrigado a cumprir os encargos da


doação, caso forem a benefício do doador, de terceiro, ou do
interesse geral.
Parágrafo único. Se desta última espécie for o encargo, o
Ministério Público poderá exigir sua execução, depois da morte do
doador, se este não tiver feito.

156
Aula 24 – 29/05/2019

Programa – Aula 24

23.2. Forma de aquisição dos legados


23.3. Caducidade dos legados

23.2. Forma de aquisição dos legados

 Entendimento: o Código Civil traz uma série de regras que determinam a


forma de aquisição dos legados. Estas regras serão apresentadas nesta seção.

 Direito de pedir: em regra, se o legado for de quantidade certa, em prestação


simples, será devido a partir da data da morte do testador (abertura da
sucessão). O legatário não se beneficia do princípio da saisine, assim, o que se
transfere ao legatário é o direito de pedir o legado. Se o legado não lhe for
entregue, a medida judicial adequada será a ação reivindicatória, proposta
contra o herdeiro (ou herdeiros) obrigado a cumprir o legado.

 Aceitação e renúncia: ninguém é obrigado a aceitar legados. A aceitação


pode ser expressa, tácita ou presumida, assim como na sucessão legítima. No
caso da renúncia, no entanto, diferentemente da sucessão legítima, pode haver
renúncia expressa ou tácita. A renúncia tácita se dá, justamente, quando o
herdeiro ou legatário deixa de cumprir a condição estipulada pelo testador,
também conforme o art. 1.913, CC.

[CC] Art. 1.913. Se o testador ordenar que o herdeiro ou legatário


entregue coisa de sua propriedade a outrem, não o cumprindo ele,
entender-se-á que renunciou à herança ou ao legado.

 Pagamento dos legados: tendo em vista que os legados são abatidos do


valor da herança (os herdeiros receberão o valor da herança, depois de pagos
os legados), os próprios herdeiros instituídos acabarão pagando pelos legados
(no sentido de que deixarão de recebê-los). Assim, nos termos do art. 1.934,
caput, CC, no silêncio do testamento, o cumprimento dos legados incumbe aos
herdeiros e, não havendo herdeiros, o cumprimento dos legados caberá aos
legatários, na proporção do que herdaram.

[CC] Art. 1.934. No silêncio do testamento, o cumprimento dos


legados incumbe aos herdeiros e, não os havendo, aos legatários, na
proporção do que herdaram.

 Quitação dos ônus incidentes sobre o legado: diferentemente da herança,


que deve ser entregue com todos os ônus quitados, o legado será recebido no
estado em que se encontra na data da abertura da sucessão, e com todos os
ônus que existem naquele momento. Assim, por exemplo, se um carro for
deixado como legado em outro município e com multas a pagar, será o

157
legatário que deverá buscá-lo no outro município e pagar as multas. Entende-
se, então, os herdeiros não têm que sanear os débitos existentes sobre a coisa
legada, nos termos do art. 1.937, CC.

[CC] Art. 1.937. A coisa legada entregar-se-á, com seus


acessórios, no lugar e estado em que se achava ao falecer o
testador, passando ao legatário com todos os encargos que a
onerarem.

23.3. Caducidade dos legados

 Entendimento: a caducidade dos legados consiste nas hipóteses em que se


dá a ineficácia destes legados. Ela pode ocorrer em quatro situações:

o (i) Modificação: nos termos do art. 1.939, I, CC, se, depois do


testamento, o testador modificar a coisa legada, ao ponto de já não ter
a forma nem lhe caber a denominação que possuía, o legado caducará.

 Exemplo: dado o legado de uma barra de ouro, em que, antes


da morte do testador, é transformada em diversas joias, o
legado da barra de ouro caducará.

[CC] Art. 1.939. Caducará o legado:


I - se, depois do testamento, o testador modificar a coisa
legada, ao ponto de já não ter a forma nem lhe caber a
denominação que possuía;

o (ii) Alienação: nos termos do art. 1.939, II, CC, se, depois do
testamento, o testador, por qualquer título, alienar no todo ou em parte
a coisa legada; haverá caducidade do legado até onde a coisa deixou
de pertencer ao testador.

[CC] Art. 1.939. Caducará o legado:


(...)
II - se o testador, por qualquer título, alienar no todo ou em
parte a coisa legada; nesse caso, caducará até onde ela deixou
de pertencer ao testador;

o (iii) Perecimento e evicção: nos termos do art. 1.939, III, CC, se, depois
do testamento, se a coisa perecer (ou seja, quando a coisa deixar de
existir) ou for evicta (ou seja, quando a coisa é perdida em razão de
decisão judicial), haverá caducidade do legado. Essa regra se aplica
independentemente de o testador estar vivo ou morto, e
independentemente de haver ou não culpa do herdeiro ou legatário
incumbido do cumprimento do legado.

 Se o legado for de duas ou mais coisas, alternativamente, e


algumas delas perecerem, este legado subsistirá quanto às
coisas restantes. Caso pereça parte de uma coisa, o legado

158
permanecerá válido, quanto ao seu remanescente, nos termos
do art. 1.940, CC.

[CC] Art. 1.939. Caducará o legado:


(...)
III - se a coisa perecer ou for evicta, vivo ou morto o testador,
sem culpa do herdeiro ou legatário incumbido do seu
cumprimento;

[CC] Art. 1.940. Se o legado for de duas ou mais coisas


alternativamente, e algumas delas perecerem, subsistirá quanto às
restantes; perecendo parte de uma, valerá, quanto ao seu
remanescente, o legado.

o (iv) Indignidade ou pré-morte: como não há a figura da representação


da sucessão testamentária (visto que a indicação, no testamento, é
intuito personae), a ocorrência de indignidade ou pré-morte gera a
caducidade do legado, nos termos do art. 1.939, IV e V, CC.

[CC] Art. 1.939. Caducará o legado:


(...)
IV - se o legatário for excluído da sucessão, nos termos do art.
1.815;
V - se o legatário falecer antes do testador.

159
Aula 25 – 30/05/2019

Programa – Aula 25

24. Substituições
24.1. Classificação das substituições
24.1.1. Substituição vulgar
24.1.2. Substituição recíproca
24.1.3. Substituição fideicomissária
24.2. Conjunção
24.3. Direito de acrescer
24.3.1. Direito de acrescer entre herdeiros
24.3.2. Direito de acrescer entre co-legatários
24.4. Sub-rogação do substituto nos encargos impostos ao substituído

24. Substituições

 Entendimento: não há a figura da representação na sucessão testamentária


(visto que a indicação, no testamento, é intuito personae). Há, no entanto,
instituto jurídico cujos efeitos se assemelham. A substituição ocorre quando o
testador, já prevendo a possibilidade de seu herdeiro ou legatário não poder ou
não querer receber a herança ou legado, indica outro indivíduo, de forma
expressa (em cláusula específica ou na mesma disposição testamentária em
que o herdeiro ou legatário foi indicado), para substituir aquele herdeiro ou
legatário.

Observação: Regra do art. 1.947, CC. Nos termos do art. 1.947, CC,
ainda que o testador tenha se manifestado somente quanto a uma das
possibilidades de substituição (“não poder” ou “não querer”), presume-se
que as duas situações estão abrangidas pela cláusula.
Por exemplo, na cláusula “Caso Paulo não queira receber seu
quinhão, será substituído por Rayanne e Lucas”, mesmo que Paulo seja
pré-morto (ou seja, não havendo que se falar em “não querer”, mas sim em
“não poder”), a substituição ainda ocorrerá, ainda que o testador tenha se
referido somente a uma das alternativas.

[CC] Art. 1.947. O testador pode substituir outra pessoa ao


herdeiro ou ao legatário nomeado, para o caso de um ou outro não
querer ou não poder aceitar a herança ou o legado, presumindo-se
que a substituição foi determinada para as duas alternativas, ainda
que o testador só a uma se refira.

24.1. Classificação das substituições

 Entendimento: as substituições podem ser classificadas em três categorias.


Elas são:

o (i) Substituição vulgar (ou “substituição direta”);

160
o (ii) Substituição recíproca;

o (iii) Substituição fideicomissária.

24.1.1. Substituição vulgar

 Entendimento: a substituição vulgar (ou “substituição direta”) ocorre quando o


testador indica outrem para a substituição de herdeiro ou legatário. Este
indivíduo indicado não poderá ser herdeiro, caso vá substituir um herdeiro, nem
vai poder ser co-legatário, se for receber aquele determinado legado. A
substituição vulgar pode ser de dois tipos, nos termos do art. 1.948, CC:

[CC] Art. 1.948. Também é lícito ao testador substituir muitas


pessoas por uma só, ou vice-versa, e ainda substituir com
reciprocidade ou sem ela.

o (i) Substituição vulgar singular: ocorre quando uma pessoa poderá


substituir outra, sem reciprocidade.

 Exemplo: “Nomeia herdeiro Paulo”. “Caso Paulo não queira seu


quinhão, será substituído por Rayanne”. Não há reciprocidade
porque a substituta não é herdeira instituída.

o (ii) Substituição vulgar plural: ocorre quando diversas pessoas poderão


substituir uma, ou quando uma pessoa poderá substituir várias outras,
sem reciprocidade.

 Exemplo: “Nomeia herdeiro Paulo”. “Caso Paulo não queira seu


quinhão, será substituído por Rayanne e Lucas”. Não há
reciprocidade porque os substitutos não são herdeiros
instituídos.

24.1.2. Substituição recíproca

 Entendimento: a substituição recíproca ocorre quando o testador indica um


indivíduo que já é herdeiro instituído para a substituição de outro herdeiro, ou
quando o testador indica um indivíduo que já é co-legatário de determinado
bem, para a substituição de outro co-legatário. A reciprocidade está,
justamente, no fato de que o substituto já tem direito a alguma parte dos bens
do testador. Esta substituição está disciplinada nos arts. 1.948 a 1.950, CC. A
substituição recíproca pode ser de dois tipos, nos termos do art. 1.948, CC:

[CC] Art. 1.948. Também é lícito ao testador substituir muitas


pessoas por uma só, ou vice-versa, e ainda substituir com
reciprocidade ou sem ela.

o (i) Substituição recíproca singular: ocorre quando uma pessoa poderá


substituir outra, com reciprocidade, nos termos do art. 1.948, CC.

161
 Exemplo: “Nomeia Tiago como herdeiro”. “Nomeia Renata
como herdeira”. “Caso Tiago não possa receber, será
substituído por Renata”. Há reciprocidade porque a substituta
também é herdeira.

o (ii) Substituição recíproca plural: ocorre quando diversas pessoas


poderão substituir uma, ou quando uma pessoa poderá substituir várias
outras, com reciprocidade.

 Exemplo: “Deixa para Tiago, Glauciete e Renata, a Fazenda


Porto Belo, cabendo a cada, 20%, 30% e 50%, respectivamente.
Caso algum deles não possa receber, os demais o substituirão”.
Há reciprocidade porque os substitutos são, também, co-
legatários.

(*) Observação: Regra do art. 1.950, CC. Quando um testador indica


substitutos recíprocos com percentuais pré-determinados, a mesma proporção
utilizada na primeira disposição deverá ser observada na substituição. Contudo, se
o testador estabelecer substituição recíproca e adicionar mais um indivíduo que não
é herdeiro ou co-legatário (ou seja, houver, também, uma substituição vulgar), a
cota parte cabível a cada um passará a ser igualitária, nos termos do art. 1.950,
CC.
Por exemplo, dada a disposição “Deixa para Tiago, Glauciete e Renata, a
Fazenda Porto Belo, cabendo a cada, 20%, 30% e 50%, respectivamente. Caso
algum deles não possa receber, os demais o substituirão”, caso Glauciete renuncie
à herança, seus 30% serão destinados à substituição, contudo, deverão ser
divididos entre Tiago e Renata na mesma proporção devida pelo testador, assim,
Tiago receberá uma parte menor dos 30%, quando comparado à Renata.
Se, no entanto, a disposição for “Deixa para Tiago, Glauciete e Renata, a
Fazenda Porto Belo, cabendo a cada, 20%, 30% e 50%, respectivamente. Caso
algum deles não possa receber, Carlo e os demais o substituirão”, caso Glauciete
renuncie à herança, seus 30% serão destinados à substituição, contudo, como
Carlo é substituto vulgar, as cotas serão igualmente divididas (ignorando-se a
proporção inicialmente determinada pelo testador), assim, Tiago, Renata e Carlo
receberão, cada um, um adicional de 10% (correspondendo ao total de 30% que
caba à Glauciete).

[CC] Art. 1.950. Se, entre muitos co-herdeiros ou legatários de


partes desiguais, for estabelecida substituição recíproca, a proporção
dos quinhões fixada na primeira disposição entender-se-á mantida na
segunda; se, com as outras anteriormente nomeadas, for incluída
mais alguma pessoa na substituição, o quinhão vago pertencerá em
partes iguais aos substitutos.

24.1.3. Substituição fideicomissária

 Entendimento: a substituição fideicomissária T art. 1.951, CC. Art.1.960, CC.


A SER MINISTRADO APÓS A PROVA.

162
[CC] Art. 1.951. Pode o testador instituir herdeiros ou legatários,
estabelecendo que, por ocasião de sua morte, a herança ou o legado
se transmita ao fiduciário, resolvendo-se o direito deste, por sua
morte, a certo tempo ou sob certa condição, em favor de outrem, que
se qualifica de fideicomissário.

[CC] Art. 1.960. A nulidade da substituição ilegal não prejudica a


instituição, que valerá sem o encargo resolutório.

o (i) Substituição fideicomissária singular: ocorre quando uma pessoa


poderá substituir outra.

o (ii) Substituição fideicomissária plural: ocorre quando diversas pessoas


poderão substituir uma, ou quando uma pessoa poderá substituir várias
outras.

24.2. Conjunção

 Entendimento: a conjunção é a nomeação de dois ou mais herdeiros e/ou


legatários no mesmo testamento. Existem três espécies de conjunção no
ordenamento jurídico brasileiro, de acordo com a existência ou não de quotas-
parte pré-definidas e, de acordo com a forma como a disposição testamentária
é redigida. Elas são:

o (i) Conjunção verbal: trata-se da nomeação de dois ou mais herdeiros


e/ou legatários com quotas-parte pré-definidas pelo testador. Nesta
espécie, a nomeação é feita na mesma disposição testamentária. Esta
conjunção é chamada de “verbal” porque as “verbas” (as quotas-parte)
estão pré-definidas.

 Exemplo: “Nomeia herdeiros Camila, Marilene, Lana e Vitor,


cabendo as quotas-parte de 20%, 25%, 25% e 30%,
respectivamente”. Há conjunção verbal entre os quatro herdeiros
instituídos.

 Outro exemplo: “Para Rayanne e Fernanda, deixa a casa da


20, conjunto 3, QL 06, Lago Sul, sendo 40% para a primeira e
60% para a segunda”. Há conjunção verbal entre os co-
legatários.

o (ii) Conjunção real: trata-se da nomeação de dois ou mais herdeiros


e/ou legatários, sem quotas-parte pré-definidas pelo testador. Nesta
espécie, a nomeação é feita em disposições testamentárias distintas.

 Exemplo: “Nomeia herdeira Camila”. “Nomeia herdeira


Marilene”. Há conjunção real entre Camila e Marilene.

 Outro exemplo: “Para Rayanne, deixa a casa da 20, conjunto 3,


QL 06, Lago Sul”. “Para Fernanda, deixa a casa da 20, conjunto
3, QL 06, Lago Sul”. Há conjunção real entre Rayanne e
Fernanda.

163
o (iii) Conjunção mista: trata-se da nomeação de dois ou mais herdeiros
e/ou legatários, sem quotas-parte pré-definidas pelo testador. Nesta
espécie, a nomeação é feita na mesma disposição testamentária.

 Exemplo: “Nomeia herdeiros Camila, Marilene, Lana e Vitor”.


Há conjunção mista entre os herdeiros instituídos.

 Outro exemplo: “Para Rayanne e Fernanda, deixa a casa da


20, conjunto 3, QL 06, Lago Sul”. Há conjunção mista entre os
co-legatários.

24.3. Direito de acrescer

 Entendimento: o direito de acrescer se trata de uma modalidade de


substituição presumida em razão de previsão legal, por meio da qual um
herdeiro ou co-legatário recebe a porção atribuída em disposição conjunta a
outro herdeiro ou legatário. O direito de acrescer, portanto, se relaciona com as
espécies de conjunção. Há regras de substituição diferentes para herdeiros e
para co-legatários. Em regra, só há direito de acrescer para os herdeiros
quando a conjunção for mista, e, para os co-legatários, quando a conjunção for
real ou mista. O direito de acrescer, conforme o art. 1.943, CC, se verifica:

o (i) Na ocorrência de pré-morte;

o (ii) Na ocorrência de renúncia expressa;

o (iii) Na ocorrência de indignidade;

o (iv) Na ocorrência de renúncia tácita (recusa ao cumprimento do


encargo imposto pelo testador);

[CC] Art. 1.943. Se um dos co-herdeiros ou co-legatários, nas


condições do artigo antecedente, morrer antes do testador; se
renunciar a herança ou legado, ou destes for excluído, e, se a
condição sob a qual foi instituído não se verificar, acrescerá o seu
quinhão, salvo o direito do substituto, à parte dos co-herdeiros ou co-
legatários conjuntos.
Parágrafo único. Os co-herdeiros ou co-legatários, aos quais
acresceu o quinhão daquele que não quis ou não pôde suceder,
ficam sujeitos às obrigações ou encargos que o oneravam.

24.3.1. Direito de acrescer entre herdeiros

 Aplicabilidade do direito de acrescer entre herdeiros: nos termos do art.


1.941, CC, quando se verificar conjunção mista entre herdeiros, mas qualquer
dos herdeiros listados naquela cláusula não puder ou não quiser aceitar o que
lhe seria devido e não houver substituto expresso, a parte daquele que não
receberá será acrescida à parte dos co-herdeiros listados naquela cláusula.

164
o Exemplo: “Nomeia herdeiros Camila, Marilene, Lana e Vitor”. Se Vitor
for declarado indigno (não podendo aceitar a herança) e não houver
substituto expresso, sua parte será acrescida, somente, para Camila,
Marilene e Lana, independentemente de existirem outros herdeiros
instituídos em disposições testamentárias adicionais.

[CC] Art. 1.941. Quando vários herdeiros, pela mesma disposição


testamentária, forem conjuntamente chamados à herança em
quinhões não determinados, e qualquer deles não puder ou não
quiser aceitá-la, a sua parte acrescerá à dos co-herdeiros, salvo o
direito do substituto.

 Inaplicabilidade do direito de acrescer entre herdeiros: nos termos do art.


1.944, caput, CC, quando não for o caso de se aplicar o direito de acrescer
entre herdeiros, a quota-parte do indivíduo nomeado que não puder ou não
quiser receber, irá para os herdeiros legítimos (ou seja, acrescerá à porção
referente à sucessão legítima, saindo da porção testamentária). Se não houver
herdeiros legítimos, a quota-parte se tornará herança jacente.

o Exemplo: “Nomeia herdeiros Camila, Marilene, Lana e Vitor, cabendo


as quotas-parte de 20%, 25%, 25% e 30%, respectivamente”. Nesse
caso, há conjunção verbal entre os quatro herdeiros instituídos, de
modo que, se Camila for pré-morta e não existirem substitutos
expressos, sua parte não acrescerá à Marilene, Lana e Vitor, indo para
os eventuais herdeiros legítimos. Se não houver herdeiros legítimos, os
20% de Camila se tornarão herança jacente.

o Outro exemplo: “Nomeia herdeira Fernanda”. Nesse caso, não há


conjunção, de modo que não se fala em direito de acrescer e, portanto,
a quota-parte que caberia à Fernanda irá para os eventuais herdeiros
legítimos. Se não houver herdeiros legítimos, a quota-parte se tornará
herança jacente.

[CC] Art. 1.944. Quando não se efetua o direito de acrescer,


transmite-se aos herdeiros legítimos a quota vaga do nomeado.

24.3.2. Direito de acrescer entre co-legatários

 Aplicabilidade do direito de acrescer entre co-legatários: nos termos do art.


1.942, CC, haverá direito de acrescer entre os co-legatários quando existir
conjunção real ou mista e o objeto do legado for uma só coisa, certa e
determinada. Contudo, mesmo que se trate de conjunção verbal, poderá haver
direito de acrescer se o objeto do legado não puder ser dividido sem risco de
desvalorização.

o Exemplo: “Deixa a Fazenda Pouso Alegre para Glauciete, Lucas e Luiz,


cabendo, respectivamente, 30% à primeira legatária, 50% ao segundo e
20% ao terceiro”. Nesse caso, há conjunção verbal e o objeto pode ser
dividido sem risco de desvalorização, de modo que não se verifica o
direito de acrescer. Se, no entanto, o objeto do legado fosse um touro

165
reprodutor, com cláusula de inalienabilidade, e Glauciete renunciasse
ao legado, como o touro não pode ser dividido sem desvalorização,
então se verificaria o direito de acrescer.

[CC] Art. 1.942. O direito de acrescer competirá aos co-legatários,


quando nomeados conjuntamente a respeito de uma só coisa,
determinada e certa, ou quando o objeto do legado não puder ser
dividido sem risco de desvalorização.

 Inaplicabilidade do direito de acrescer entre co-legatários: nos termos do


art. 1.944, parágrafo único, CC, quando não for o caso de se aplicar o direito
de acrescer entre co-legatários, a quota-parte do indivíduo nomeado que não
puder ou não quiser receber, irá para aquele que pagaria o legado (ou seja, irá
para aquele herdeiro ou legatário incumbido de satisfazer o legado, ou será
diluída entre todos os herdeiros, se o legado fosse ser deduzido do total da
parte disponível da herança).

o Exemplo: “Deixa a Fazenda Pouso Alegre para Glauciete, Lucas e Luiz,


cabendo, respectivamente, 30% à primeira legatária, 50% ao segundo e
20% ao terceiro”. Nesse caso, há conjunção verbal e o objeto pode ser
dividido sem risco de desvalorização, de modo que não se verifica o
direito de acrescer. Assim, se Glauciete renunciar à sua quota, o valor
voltará para quem fosse pagar o legado, ou seja, para os herdeiros
instituídos.

[CC] Art. 1.944. (...)


Parágrafo único. Não existindo o direito de acrescer entre os
co-legatários, a quota do que faltar acresce ao herdeiro ou ao
legatário incumbido de satisfazer esse legado, ou a todos os
herdeiros, na proporção dos seus quinhões, se o legado se
deduziu da herança.

24.4. Sub-rogação do substituto nos encargos impostos ao substituído

 Entendimento: nos termos do art. 1.949, CC, o substituto fica sujeito à


condição ou encargo imposto ao substituído, quando não se tratar de encargo
personalíssimo e o testador não isentar, expressamente, o substituto, do
encargo em questão. Adicionalmente, nos termos do art. 1.945, CC, o
beneficiário do acréscimo não poderá recusar este acréscimo separadamente
da herança ou legado que lhe caiba, a não ser que o acréscimo comporte
encargos impostos pelo testador. Se ocorrer tal recusa o acréscimo será
revertido para a pessoa a favor de quem os encargos foram instituídos.

o Exemplo: “Deixo 10% de minha herança para Tiago, que para receber
esse valor, deverá entregar um carro 0 km para Eduardo. Caso Tiago
não possa ou não queira receber a herança, nomeio Vitor como
substituto”. Trata-se de substituição vulgar simples. Se Tiago falecer
antes do testador, os 10% de Tiago vão para Vitor, mas este ainda terá

166
de cumprir a obrigação, pois será sub-rogado nos encargos impostos
ao substituído.

o Outro exemplo: “Deixo 10% de minha herança para Tiago, que, como
proeminente restaurador, para receber esse valor, deverá reformar a
igreja de minha cidade natal. Caso Tiago não possa ou não queira
receber a herança, nomeio Vitor como substituto”. Trata-se de
substituição vulgar simples. Se Tiago falecer antes do testador, os 10%
de Tiago vão para Vitor, e este não precisará cumprir a obrigação, visto
que é personalíssima.

o Outro exemplo: “Nomeio Vitor como herdeiro”. “Deixo 10% de minha


herança para Tiago. Caso Tiago não possa ou não queira receber a
herança, nomeio Vitor como substituto”. Trata-se de substituição
recíproca simples. Nesse caso, se Tiago falecer antes do testador, os
10% de Tiago vão para Vitor, que não poderá recusar o acréscimo,
visto que não há encargo especial imposto pelo testador. Se, no
entanto, as disposições fossem “Nomeio Vitor como herdeiro”. “Deixo
10% de minha herança para Tiago, que para receber esse valor, deverá
entregar um carro 0 km para Eduardo. Caso Tiago não possa ou não
queira receber a herança, nomeio Vitor como substituto”. Nesse caso,
também se trata de substituição recíproca simples. Nesse caso, se
Tiago falecer antes do testador, os 10% de Tiago vão para Vitor, mas
este poderá recusar o acréscimo, em razão do art. 1.945, CC. Neste
caso, o acréscimo de 10% será revertido para a pessoa a favor de
quem os encargos foram instituídos, ou seja, para Eduardo.

[CC] Art. 1.949. O substituto fica sujeito à condição ou encargo


imposto ao substituído, quando não for diversa a intenção
manifestada pelo testador, ou não resultar outra coisa da natureza da
condição ou do encargo.

[CC] Art. 1.945. Não pode o beneficiário do acréscimo repudiá-lo


separadamente da herança ou legado que lhe caiba, salvo se o
acréscimo comportar encargos especiais impostos pelo testador;
nesse caso, uma vez repudiado, reverte o acréscimo para a pessoa a
favor de quem os encargos foram instituídos.

167
Aula 26 – 05/06/2019

Programa – Aula 26

25. Redução das disposições testamentárias


25.1. Excesso de liberalidade
25.2. Procedimento da redução das disposições testamentárias
25.3. Redução incidente sobre prédio indivisível

25. Redução das disposições testamentárias

 Entendimento: a redução das disposições testamentárias é a correção destas


cláusulas, feita ao se verificar excesso de liberalidade. A redução do excesso
de liberalidade é matéria de ordem pública, podendo, inclusive, ser
reconhecida de ofício pelo juiz da Vara de órfãos e sucessões.

25.1. Excesso de liberalidade

 Entendimento: o excesso de liberalidade consiste na indevida disposição de


patrimônio, feita pelo testador, que se dá quando este testador não observa os
limites legais. Nesses casos, o testamento é considerado inoficioso em relação
aos excessos. O testamento não será inválido, somente não será cumprido em
sua totalidade, ou seja, deverá ser ajustado conforme as determinações legais.
O excesso de liberalidade é verificado em relação à data de abertura da
sucessão (data da morte), e não em relação à data da outorga do testamento.

o Em geral, isso se dá quando o testador avança sobre a legítima (50%


do total do patrimônio, que é reservado aos herdeiros necessários,
calculada considerando o patrimônio líquido existente na data da
sucessão e não na data da outorga do testamento).

o É possível, no entanto, que o excesso de liberalidade se dê de outras


formas. Um exemplo é quando o somatório das quotas-parte
previamente definidas supera 100%.

25.2. Procedimento da redução das disposições testamentárias

 Entendimento: qualquer interessado na redução de disposições


testamentárias é legitimado para propor uma “Ação de redução de liberalidade
inoficiosa”, apontando qual o excesso em questão e como este deve ser
reduzido, observadas as regras do art. 1.967, CC. Sendo matéria de ordem
pública, a liberalidade inoficiosa pode ser, inclusive, reconhecida de ofício pelo
juiz da Vara de órfãos e sucessões. De acordo com o art. 1.967, §1º, CC, há
uma ordem de preferência nas reduções. Em primeiro lugar, reduz-se da parte
dos herdeiros instituídos. Em segundo lugar (caso não seja suficiente reduzir a
parte dos herdeiros para adequar o testamento à lei), reduz-se os legados. Se,
no entanto, o testador dispuser quais serão os herdeiros ou legatários que

168
terão preferência, a redução ocorrerá nas partes dos outros, na forma do art.
1.967, §2º, CC.

[CC] Art. 1.967. As disposições que excederem a parte disponível


reduzir-se-ão aos limites dela, de conformidade com o disposto nos
parágrafos seguintes.
§1º Em se verificando excederem as disposições
testamentárias a porção disponível, serão proporcionalmente
reduzidas as quotas do herdeiro ou herdeiros instituídos, até onde
baste, e, não bastando, também os legados, na proporção do seu
valor.
§2º Se o testador, prevenindo o caso, dispuser que se inteirem,
de preferência, certos herdeiros e legatários, a redução far-se-á
nos outros quinhões ou legados, observando-se a seu respeito a
ordem estabelecida no parágrafo antecedente.

Observação: Indicação de quotas-parte inferiores ao total da porção


disponível. Quando o testado dispuser apenas em parte da porção
disponível (ou seja, dispuser de menos de 50% do total do patrimônio,
calculado considerando o patrimônio líquido existente na data da sucessão e
não na data da outorga do testamento), o remanescente pertencerá aos
herdeiros legítimos, passando a integrar a sucessão legítima, nos termos do
art. 1.966, CC.

[CC] Art. 1.966. O remanescente pertencerá aos herdeiros


legítimos, quando o testador só em parte dispuser da quota
hereditária disponível.

25.3. Redução incidente sobre prédio indivisível

 Entendimento: se, durante uma redução de excesso de liberalidade, for


necessário chegar aos legados (ou seja, caso não seja suficiente reduzir a
parte dos herdeiros para adequar o testamento à lei), e for possível dividir, de
maneira cômoda, os legados em questão, a redução será proporcional, na
forma do art. 1.968, caput, CC. Se, no entanto, não for possível dividir o legado
de maneira cômoda, há duas possibilidades:

o (i) Quando o excesso de liberalidade representar mais de ¼ (um


quarto) do valor do legado: se o excesso do legado representar mais de
um quarto do valor do prédio indivisível, os herdeiros legítimos e o
legatário poderão transacionar. Se não houver acordo, o legatário
devolverá todo o imóvel para a parte disponível, mas terá o direito de
pedir aos herdeiros legítimos o valor da parte disponível que lhe couber.
Assim, quem fica com o imóvel serão os herdeiros legítimos (art.
1.968, §1º, primeira parte, CC).

o (ii) Quando o excesso de liberalidade representar menos de ¼ (um


quarto) do valor do legado: se o excesso do legado não representar
mais de um quarto do valor do prédio indivisível, os herdeiros legítimos
e o legatário poderão transacionar. Se não houver acordo, no entanto, o

169
legatário ficará com o prédio e deverá compensar os herdeiros
legítimos no valor que lhes é devido (art. 1.968, §1º, segunda parte,
CC).

[CC] Art. 1.968. Quando consistir em prédio divisível o legado


sujeito a redução, far-se-á esta dividindo-o proporcionalmente.
§1º Se não for possível a divisão, e o excesso do legado
montar a mais de um quarto do valor do prédio, o legatário deixará
inteiro na herança o imóvel legado, ficando com o direito de pedir
aos herdeiros o valor que couber na parte disponível; se o
excesso não for de mais de um quarto, aos herdeiros fará tornar
em dinheiro o legatário, que ficará com o prédio.

Observação: Legatário que também é herdeiro necessário e cujo legado


precisará ser reduzido para cobrir excesso de liberalidade. No caso em que
determinado legado precise ser reduzido para cobrir excesso de liberalidade,
mas o legatário também seja herdeiro necessário, este poderá usar o valor de
sua legítima (ou seja, da parte adquirida mediante sucessão legítima) para
transacionar de modo a compensar o valor do legado (para, por exemplo,
comprar a parte reduzida do prédio indivisível), nos termos do art. 1.968, §2º,
CC.

[CC] Art. 1.968. (...)


(...)
§2º Se o legatário for ao mesmo tempo herdeiro necessário,
poderá inteirar sua legítima no mesmo imóvel, de preferência aos
outros, sempre que ela e a parte subsistente do legado lhe
absorverem o valor.

170
Aula 27 – 06/06/2019

Programa – Aula 27

26. Revogação e rompimento do testamento

26. Revogação e rompimento do testamento

 Entendimento: como visto anteriormente, o testamento é negócio jurídico


unilateral, personalíssimo, gratuito, solene (formal) e revogável (pode ser
alterado a qualquer tempo, da mesma forma como foi feito, de modo que
somente um testamento pode revogar outro testamento, mesmo que espécies
diversas). De forma geral, quanto a revogação do testamento, tem-se as
seguintes regras:

o (i) Ausência de hierarquia: não há que se falar em hierarquia entre as


formas e espécies de testamento, de modo que um testamento pode
revogar outro testamento, mesmo que espécies diversas (apesar da
forma como consta a redação do art. 1.969, CC). A presente seção
apresentará as regras específicas a respeito da revogação e do
rompimento de testamentos.

[CC] Art. 1.969. O testamento pode ser revogado pelo mesmo


modo e forma como pode ser feito.

o (ii) Vícios: um testamento revogatório (mais recente) que caducar por


incapacidade dos herdeiros instituídos revoga o anterior (ou seja,
mantém seus efeitos revocatórios). No entanto, um testamento
revogatório (mais recente) no qual é atestado vício de forma, não
invalida o anterior (ou seja, não se verificam os efeitos revocatórios).

[CC] Art. 1.971. A revogação produzirá seus efeitos, ainda quando


o testamento, que a encerra, vier a caducar por exclusão,
incapacidade ou renúncia do herdeiro nele nomeado; não valerá, se o
testamento revogatório for anulado por omissão ou infração de
solenidades essenciais ou por vícios intrínsecos.

o (iii) Abertura de testamento cerrado: na forma do art. 1.972, CC, em


caso de testamento cerrado que for aberto ou dilacerado com
consentimento do testador, será considerado revogado.

[CC] Art. 1.972. O testamento cerrado que o testador abrir ou


dilacerar, ou for aberto ou dilacerado com seu consentimento, haver-
se-á como revogado.

 Espécies de revogação do testamento: a doutrina classifica a revogação do


testamento em três categorias. Verificada situação de revogação, seja ela de
qualquer categoria (expressa, tácita ou presumida), o juiz deve declará-la de

171
ofício, dado que tais situações constituem matéria de ordem pública. Também
é possível que a revogação seja declarada a requerimento das partes. De
maneira mais detalhada, quanto às espécies, tem-se:

o (i) Revogação expressa: a revogação expressa é aquela


expressamente contida no testamento mais recente. Na forma do art.
1.970, CC, a revogação expressa pode ser total ou parcial. Caso as
cláusulas de um testamento mais recente não contrariem as de um
testamento anterior, as disposições do testamento anterior
permanecerão válidas.

 Exemplo: “Está revogada a cláusula 3 do testamento de 2005”


(revogação parcial). “Restam revogados todos os testamentos
anteriores” (revogação total).

[CC] Art. 1.970. A revogação do testamento pode ser total ou


parcial.
Parágrafo único. Se parcial, ou se o testamento posterior não
contiver cláusula revogatória expressa, o anterior subsiste em
tudo que não for contrário ao posterior.

o (ii) Revogação tácita: a revogação tácita é aquela na qual as


disposições testamentárias aparecem em contrariedade. Naquilo que o
testamento mais recente contrariar disposições do testamento mais
antigo, estas disposições do mais antigo serão consideradas
tacitamente revogadas. Na forma do art. 1.970, CC, a revogação tácita
pode ser total ou parcial.

[CC] Art. 1.970. A revogação do testamento pode ser total ou


parcial.
Parágrafo único. Se parcial, ou se o testamento posterior não
contiver cláusula revogatória expressa, o anterior subsiste em
tudo que não for contrário ao posterior.

o (iii) Revogação presumida: a doutrina também chama esta modalidade


de “revogação ficta” ou “revogação legal”. A lei, no entanto, se utiliza da
nomenclatura “rompimento do testamento”, conforme os arts. 1.973 e
1.974, CC. A revogação ficta se verifica quando da ocorrência de dois
possíveis eventos posteriores à outorga do testamento. Eles são:

 (a) Surgimento de descendentes sucessíveis: posteriormente


à outorga do testamento, surge descendente sucessível não
contemplado no testamento anterior. Nesse caso, o testamento
anterior restará rompido, em razão da presunção de que, se
soubesse que teria outro herdeiro, poderia testar de maneira
diversa. O descendente sucessível é, somente, o filho (eventual
nascimento de netos não gera rompimento do testamento).

 Exemplo: Eduardo, que tem 3 filhos, faz testamento


contemplando-os. Anos depois do testamento, tem outro

172
filho e, em seguida, falece sem outorgar novo
testamento. Nesse caso, a sucessão será unicamente
legítima, visto que o testamento restará rompido.

[CC] Art. 1.973. Sobrevindo descendente sucessível ao testador,


que não o tinha ou não o conhecia quando testou, rompe-se o
testamento em todas as suas disposições, se esse descendente
sobreviver ao testador.

 (b) Ignorância sobre a existência de herdeiros necessários:


se, posteriormente à outorga do testamento, surge herdeiro
necessário, do qual o testador desconhecia a existência, o
testamento é considerado rompido, na forma do art. 1.974, CC.
Se, no entanto, o testador tiver descendente conhecido, mas
não legalmente reconhecido como tal (por exemplo, um filho fora
do casamento, sem registro de paternidade), não se verificará a
hipótese de rompimento do testamento (mesmo que o
descendente ajuíze ação de reconhecimento de paternidade
investigatória post mortem e nela obtenha sucesso). Da mesma
forma, quando o herdeiro necessário for conhecido e o
descendente tiver vínculo jurídico familiar legalmente
reconhecido, mas o testador optar por deixar esse descendente
de fora do testamento, também não se verificará rompimento do
testamento, na forma do art. 1.975, CC.

[CC] Art. 1.974. Rompe-se também o testamento feito na


ignorância de existirem outros herdeiros necessários.

[CC] Art. 1.975. Não se rompe o testamento, se o testador


dispuser da sua metade, não contemplando os herdeiros necessários
de cuja existência saiba, ou quando os exclua dessa parte.

173
Aula 28 – 12/06/2019

Programa – Aula 28

27. Sonegados e colação


27.1. Conceitos básicos
27.2. Espécies de colação
27.3. Dispensa de colação
27.4. Renúncia e colação
27.5. Sonegados

27. Sonegados e colação

27.1. Conceitos básicos

 Entendimento: quando um indivíduo faz doação a um de seus herdeiros


necessários, ainda em vida, esta doação pode ser caracterizada como
adiantamento de legítima. Quando da abertura da sucessão (falecimento do
doador), o donatário fica obrigado a colacionar o bem (art. 2.002, CC), com o
objetivo de igualar a legítima dos herdeiros necessários (art. 2.003, CC).
Colacionar, portanto, é trazer a doação de volta ao monte sucessório da
sucessão legítima.

o Em regra, tudo que for doado de um ascendente para um descendente,


ou de um cônjuge para outro, é considerado como adiantamento de
herança, na forma do art. 544, CC.

o No caso de, na sucessão legítima de avós, haver netos herdando por


direito de representação de seus pais, estes netos serão obrigados à
levar à colação todos os bens que os pais teriam de colacionar, ainda
que não os hajam herdado, como constante do art. 2.009, CC.

o Se a doação for feita por ambos os cônjuges, o valor a ser colacionado


será o de metade da doação em questão no inventário de cada um, nos
termos do art. 2.012, CC.

[CC] Art. 2.002. Os descendentes que concorrerem à sucessão do


ascendente comum são obrigados, para igualar as legítimas, a
conferir o valor das doações que dele em vida receberam, sob pena
de sonegação.
Parágrafo único. Para cálculo da legítima, o valor dos bens
conferidos será computado na parte indisponível, sem aumentar a
disponível.

[CC] Art. 2.003. A colação tem por fim igualar, na proporção


estabelecida neste Código, as legítimas dos descendentes e do
cônjuge sobrevivente, obrigando também os donatários que, ao
tempo do falecimento do doador, já não possuírem os bens doados.

174
[CC] Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de
um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por
herança

[CC] Art. 2.009. Quando os netos, representando os seus pais,


sucederem aos avós, serão obrigados a trazer à colação, ainda que
não o hajam herdado, o que os pais teriam de conferir.

[CC] Art. 2.012. Sendo feita a doação por ambos os cônjuges, no


inventário de cada um se conferirá por metade.

 Momento da colação: o momento da colação será a primeira oportunidade


que o herdeiro tiver de falar nos autos, a respeito dos bens. Se o herdeiro nada
falar, levanta-se suspeita a respeito da intenção do herdeiro em não colacionar,
contudo, como a má-fé não se presume, tal má-fé deverá ser comprovada.

 Bens excluídos da colação: nos termos dos arts. 2.010 e 2.011, CC, alguns
bens não precisarão ser levados à colação. Eles são:

o (i) Os gastos ordinários, com educação, sustento e vestuário, do


ascendente com o descendente, enquanto este descendente for menor;

o (ii) Eventual tratamento de enfermidades contraídas pelo descendente,


ou enxoval destes (há dúvidas na doutrina a respeito de se a condição
“enquanto menor” se aplica a estas hipóteses);

o (iii) Eventuais despesas de casamento;

o (iv) Eventuais despesas feitas no interesse da defesa do descendente


em processo criminal;

o (v) Eventuais doações remuneratórias de serviços feitos ao ascendente.

[CC] Art. 2.010. Não virão à colação os gastos ordinários do


ascendente com o descendente, enquanto menor, na sua educação,
estudos, sustento, vestuário, tratamento nas enfermidades, enxoval,
assim como as despesas de casamento, ou as feitas no interesse de
sua defesa em processo-crime.

[CC] Art. 2.011. As doações remuneratórias de serviços feitos ao


ascendente também não estão sujeitas a colação.

 Conceito de sonegação: a sonegação ocorre quando um herdeiro,


intencionalmente, deixa de colacionar os bens devidos, nos termos do art.
2.002, caput, CC. Se, no momento da colação, o herdeiro nada falar, levanta-
se suspeita a respeito da intenção do herdeiro em não colacionar, contudo,
como a má-fé não se presume, tal má-fé deverá ser comprovada.

[CC] Art. 2.002. Os descendentes que concorrerem à sucessão do


ascendente comum são obrigados, para igualar as legítimas, a

175
conferir o valor das doações que dele em vida receberam, sob pena
de sonegação.

27.2. Espécies de colação

 Entendimento: a colação, de acordo com a doutrina, pode ser de duas


espécies. Elas são:

o (i) Colação in natura: também chamada de “colação em substância”,


trata-se da colação feita quando, no momento da sucessão, o bem
ainda é de propriedade do donatário. Nesse caso, o próprio bem deverá
ser colacionado, na forma do art. 2.003, parágrafo único, CC.

[CC] Art. 2.003. (...)


Parágrafo único. Se, computados os valores das doações
feitas em adiantamento de legítima, não houver no acervo bens
suficientes para igualar as legítimas dos descendentes e do
cônjuge, os bens assim doados serão conferidos em espécie,
ou, quando deles já não disponha o donatário, pelo seu valor ao
tempo da liberalidade.

o (ii) Colação por imputação: também chamada “colação por


estimativa”, trata-se da colação feita quando, no momento da
sucessão, o bem não for mais de propriedade do donatário. Nesse
caso, será feita estimativa do valor do bem e o donatário deverá
colacionar o valor equivalente. Adicionalmente, há duas questões
significativas a serem detalhadas a respeito deste tipo de colação:

 (a) Valor certo: quando o bem não for mais de propriedade do


donatário, mas, do ato de doação, constar valor certo, este será
o valor imputado, com base no art. 2.004, §1º, CC. Se, no
entanto, não constar o valor certo, nem houver estimação feita
naquela época, o valor dos bens será estimado.

 Há conflito, no entanto, entre o art. 2.003, parágrafo


único, CC, e o art. 639, parágrafo único, CC, a respeito
de qual será o valor-base sobre o qual se fará a
estimativa. O STJ, no entanto, decidiu que se aplica a
regra do art. 639, parágrafo único, CPC, de modo que o
valor em cima do qual a colação por estimativa será
calculada será aquele do tempo da abertura da
sucessão.

 (b) Benfeitorias: o que se tratar de benfeitorias deve ser


excluído do valor do bem a ser colacionado. As benfeitorias
pertencerão ao donatário, com base no art. 2.004, §2º, CC.

[CC] Art. 2.003. (...)


Parágrafo único. Se, computados os valores das doações
feitas em adiantamento de legítima, não houver no acervo bens

176
suficientes para igualar as legítimas dos descendentes e do
cônjuge, os bens assim doados serão conferidos em espécie, ou,
quando deles já não disponha o donatário, pelo seu valor ao
tempo da liberalidade.

[CPC] Art. 639. No prazo estabelecido no art. 627, o herdeiro


obrigado à colação conferirá por termo nos autos ou por petição à
qual o termo se reportará os bens que recebeu ou, se já não os
possuir, trar-lhes-á o valor.
Parágrafo único. Os bens a serem conferidos na partilha, assim
como as acessões e as benfeitorias que o donatário fez, calcular-
se-ão pelo valor que tiverem ao tempo da abertura da
sucessão.

[CC] Art. 2.004. O valor de colação dos bens doados será aquele,
certo ou estimativo, que lhes atribuir o ato de liberalidade.
§1º Se do ato de doação não constar valor certo, nem houver
estimação feita naquela época, os bens serão conferidos na
partilha pelo que então se calcular valessem ao tempo da
liberalidade.
§2º Só o valor dos bens doados entrará em colação; não assim
o das benfeitorias acrescidas, as quais pertencerão ao herdeiro
donatário, correndo também à conta deste os rendimentos ou
lucros, assim como os danos e perdas que eles sofrerem.

Observação: Procedimento de colação. O procedimento de colação está


descrito entre os arts. 639 e 641, CC.

[CPC] Art. 639. No prazo estabelecido no art. 627, o herdeiro


obrigado à colação conferirá por termo nos autos ou por petição à
qual o termo se reportará os bens que recebeu ou, se já não os
possuir, trar-lhes-á o valor.
Parágrafo único. Os bens a serem conferidos na partilha, assim
como as acessões e as benfeitorias que o donatário fez, calcular-
se-ão pelo valor que tiverem ao tempo da abertura da sucessão.

[CPC] Art. 640. O herdeiro que renunciou à herança ou o que dela


foi excluído não se exime, pelo fato da renúncia ou da exclusão, de
conferir, para o efeito de repor a parte inoficiosa, as liberalidades que
obteve do doador.
§1º É lícito ao donatário escolher, dentre os bens doados,
tantos quantos bastem para perfazer a legítima e a metade
disponível, entrando na partilha o excedente para ser dividido
entre os demais herdeiros.
§2º Se a parte inoficiosa da doação recair sobre bem imóvel
que não comporte divisão cômoda, o juiz determinará que sobre
ela se proceda a licitação entre os herdeiros.
§3º O donatário poderá concorrer na licitação referida no §2º e,
em igualdade de condições, terá preferência sobre os herdeiros.

[CPC] Art. 641. Se o herdeiro negar o recebimento dos bens ou a


obrigação de os conferir, o juiz, ouvidas as partes no prazo comum

177
de 15 (quinze) dias, decidirá à vista das alegações e das provas
produzidas.
§1º Declarada improcedente a oposição, se o herdeiro, no
prazo improrrogável de 15 (quinze) dias, não proceder à
conferência, o juiz mandará sequestrar-lhe, para serem
inventariados e partilhados, os bens sujeitos à colação ou imputar
ao seu quinhão hereditário o valor deles, se já não os possuir.
§2º Se a matéria exigir dilação probatória diversa da
documental, o juiz remeterá as partes às vias ordinárias, não
podendo o herdeiro receber o seu quinhão hereditário, enquanto
pender a demanda, sem prestar caução correspondente ao valor
dos bens sobre os quais versar a conferência.

27.3. Dispensa de colação

 Entendimento: é possível que, no ato da doação, o doador, no instrumento da


liberalidade (por exemplo, no contrato de doação), determine que o bem doado
ficará dispensado da colação, nos termos do art. 2.006, CC. No entanto, caso,
a dispensa da colação não tenha sido feita no instrumento da liberalidade, ela
poderá ser feita em disposição testamentária.

[CC] Art. 2.006. A dispensa da colação pode ser outorgada pelo


doador em testamento, ou no próprio título de liberalidade.

 Procedimento de redução das disposições testamentárias: se, no entanto,


o valor da doação ultrapassar a parte disponível da herança do testador, ficará
caracterizado o excesso de liberalidade, nos termos do art. 2.005, CC. Nesse
caso, o donatário ficará obrigado a colacionar este excesso, na forma do art.
2.007, CC. Se não houver dispensa de liberalidade, mesmo que o valor da
liberalidade seja inferior à parte disponível, o herdeiro donatário deverá trazer o
bem à colação. A redução da liberalidade será feita pela restituição do excesso
apurado ao monte partível. A restituição deverá ser em espécie, ou, se o bem
não estiver mais em poder do donatário, deverá ser feita em dinheiro, de
acordo com seu valor ao tempo da abertura da sucessão (art. 2.007, §2º, CC).

[CC] Art. 2.005. São dispensadas da colação as doações que o


doador determinar saiam da parte disponível, contanto que não a
excedam, computado o seu valor ao tempo da doação.
Parágrafo único. Presume-se imputada na parte disponível a
liberalidade feita a descendente que, ao tempo do ato, não seria
chamado à sucessão na qualidade de herdeiro necessário.

[CC] Art. 2.007. São sujeitas à redução as doações em que se


apurar excesso quanto ao que o doador poderia dispor, no momento
da liberalidade.
§1º O excesso será apurado com base no valor que os bens
doados tinham, no momento da liberalidade.
§2º A redução da liberalidade far-se-á pela restituição ao
monte do excesso assim apurado; a restituição será em espécie,
ou, se não mais existir o bem em poder do donatário, em dinheiro,

178
segundo o seu valor ao tempo da abertura da sucessão,
observadas, no que forem aplicáveis, as regras deste Código
sobre a redução das disposições testamentárias.
§3º Sujeita-se a redução, nos termos do parágrafo
antecedente, a parte da doação feita a herdeiros necessários que
exceder a legítima e mais a quota disponível.
§4º Sendo várias as doações a herdeiros necessários, feitas
em diferentes datas, serão elas reduzidas a partir da última, até a
eliminação do excesso.

27.4. Renúncia e colação

 Entendimento: nos termos do art. 2.008, CC, mesmo nos casos em que o
donatário faz a renúncia (ou que é excluído da herança), deverá conferir as
doações recebidas, comunicando-as no inventário, para repor o que exceder o
disponível, caso necessário.

[CC] Art. 2.008. Aquele que renunciou a herança ou dela foi


excluído, deve, não obstante, conferir as doações recebidas, para o
fim de repor o que exceder o disponível.

27.5. Sonegados

 Entendimento: a sonegação ocorre quando um herdeiro, intencionalmente,


deixa de colacionar os bens devidos, nos termos do art. 2.002, caput, CC. Se,
no momento da colação, o herdeiro nada falar, levanta-se suspeita a respeito
da intenção do herdeiro em não colacionar, contudo, como a má-fé não se
presume, tal má-fé deverá ser comprovada.

[CC] Art. 2.002. Os descendentes que concorrerem à sucessão do


ascendente comum são obrigados, para igualar as legítimas, a
conferir o valor das doações que dele em vida receberam, sob pena
de sonegação.

 Ação de sonegados: a ação apropriada para se fazer a comprovação será a


“ação de sonegados”, a ser utilizada quando o bem for de propriedade do autor
da sucessão, mas estiver na posse de um dos herdeiros ou de terceiros.

 Sanção aplicável: a sanção aplicável aos herdeiros é a perda do direito de


suceder apenas sobre o bem específico sonegado, nos termos do art. 1.992,
CC. Se o sonegador já não tiver mais o bem em seu poder, ele deverá pagar a
importância dos valores que ocultou, mais as perdas e danos, como constante
do art. 1.995, CC.

[CC] Art.1.992. O herdeiro que sonegar bens da herança, não os


descrevendo no inventário quando estejam em seu poder, ou, com o
seu conhecimento, no de outrem, ou que os omitir na colação, a que
os deva levar, ou que deixar de restituí-los, perderá o direito que
sobre eles lhe cabia.

179
[CC] Art. 1.995. Se não se restituírem os bens sonegados, por já
não os ter o sonegador em seu poder, pagará ele a importância dos
valores que ocultou, mais as perdas e danos.

 Sonegação pelo inventariante: além da sanção de perda do direito de


suceder quanto ao bem sonegado, caso o sonegador seja o próprio
inventariante, ele será removido da função (art. 1.993, CC). Só se pode arguir
eventual sonegação feita pelo inventariante depois de encerrada a descrição
dos bens, respeitadas as determinações do art. 1.996, CC.

[CC] Art. 1.993. Além da pena cominada no artigo antecedente, se


o sonegador for o próprio inventariante, remover-se-á, em se
provando a sonegação, ou negando ele a existência dos bens,
quando indicados.

[CC] Art. 1.996. Só se pode argüir de sonegação o inventariante


depois de encerrada a descrição dos bens, com a declaração, por ele
feita, de não existirem outros por inventariar e partir, assim como
argüir o herdeiro, depois de declarar-se no inventário que não os
possui.

 Legitimidade para proposição da ação de sonegados: nos termos do art.


1.994, CC, serão legítimos para propor a ação de sonegados (i) os herdeiros
ou (ii) eventuais credores do autor da sucessão. A sentença que se proferir na
ação de sonegados aproveita aos demais interessados, independentemente de
quem a propôs (art. 1.994, parágrafo único, CC).

[CC] Art.1.994. A pena de sonegados só se pode requerer e impor


em ação movida pelos herdeiros ou pelos credores da herança.
Parágrafo único. A sentença que se proferir na ação de
sonegados, movida por qualquer dos herdeiros ou credores,
aproveita aos demais interessados.

Observação: O testamenteiro. O testamenteiro é um indivíduo idôneo, cujo


papel será resguardar os bens do testador, até o momento de entrega aos
indicados no processo de inventário. O testador pode nomear um ou mais
testamenteiros, conjuntos ou separados (art. 1.976, CC).
Se não houver testamenteiro nomeado pelo testador, nem cônjuge apto a
atuar como testamenteiro, o juiz nomeará testamenteiro dativo (art. 1.984, CC).
Em geral, o próprio inventariante será, também, o testamenteiro, contudo, é
possível que se nomeie mais de um testamenteiro, para que cada um cuide de
parte específica da herança (por exemplo, pode haver um testamenteiro para a
herança e outro para os legados), nos termos do art. 1.986, CC.
Trata-se de atividade remunerada, por meio de um valor denominado
“prêmio” ou “vintena”, que será retirado da porção disponível da herança e terá o
valor de 1% a 5% do total do valor líquido da herança (art. 1.987, CC). Se o
testamenteiro também for herdeiro instituído ou legatário, no entanto, não poderá
cumular o prêmio com a herança ou legado, assim, deverá escolher qual deles
deseja receber (art. 1.988, CC).

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[CC] Art. 1.976. O testador pode nomear um ou mais
testamenteiros, conjuntos ou separados, para lhe darem cumprimento
às disposições de última vontade.

[CC] Art. 1.984. Na falta de testamenteiro nomeado pelo testador,


a execução testamentária compete a um dos cônjuges, e, em falta
destes, ao herdeiro nomeado pelo juiz.

[CC] Art. 1.986. Havendo simultaneamente mais de um


testamenteiro, que tenha aceitado o cargo, poderá cada qual exercê-
lo, em falta dos outros; mas todos ficam solidariamente obrigados a
dar conta dos bens que lhes forem confiados, salvo se cada um tiver,
pelo testamento, funções distintas, e a elas se limitar.

[CC] Art. 1.987. Salvo disposição testamentária em contrário, o


testamenteiro, que não seja herdeiro ou legatário, terá direito a um
prêmio, que, se o testador não o houver fixado, será de um a cinco
por cento, arbitrado pelo juiz, sobre a herança líquida, conforme a
importância dela e maior ou menor dificuldade na execução do
testamento.
Parágrafo único. O prêmio arbitrado será pago à conta da parte
disponível, quando houver herdeiro necessário.

[CC] Art. 1.988. O herdeiro ou o legatário nomeado testamenteiro


poderá preferir o prêmio à herança ou ao legado.

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Aula 29 – XX/06/2019

Programa – Aula 29

28. Inventário

28. Inventário

 Entendimento: T

28.1. Procedimento

 Entendimento: T A SER MINISTRADO APÓS A PROVA.

o (i) Abertura da sucessão: T

o (ii) Nomeação do inventariante: T

o (iii) Compromisso do inventariante: T

o (iv) Primeiras declarações: T

o (v) Citações dos herdeiros e momento da colação: T

o (vi) Avaliação: T

o (vii) Pagamento do imposto e sentença: T

o (viii) Expedição dos formais de partilha: T

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