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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO PRIVADO DO UÍGE

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E DA EDUCAÇÃO

Coordenação de Direito, Ciências Políticas e Relações Internacionais

Curso de DIREITO

TRABALHO DE DIREITO DOS REGISTOS E


NOTARIADO.

O REGISTO CIVIL E SEUS ACTOS; ORGANIZAÇÃO E VÍCIOS NO


ORDENAMENTO JURÍDICO ANGOLANO, AVERBAMENTOS.

UÍGE, NOVEMBRO/ 2021


TRABALHO DE DIREITO DOS REGISTOS E
NOTARIADO.

O REGISTO CIVIL E SEUS ACTOS; ORGANIZAÇÃO E VÍCIOS NO


ORDENAMENTO JURÍDICO ANGOLANO, AVERBAMENTOS.

GRUPO Nº: 01

SALA: UT 4

PERÍODO: TARDE

ANO DE FREQUÊNCIA: IVº ANO

ORIENTADO PELO DOCENTE

____________________________________

DR. MARQUES N. QUINTAL

UÍGE, NOVEMBRO/ 2021


LISTA NOMINAL

1. Makiesse Miguel
2. Mendes de Sousa
3. Altino André
4. Cabedi Léo
5. Gasparito M. André
6. Isabel João Paulo Feita
7. Eugenia Elisa Vemba João
8. Ilídio Mecoxe
9. Isabel P. Panzo
10. Suzana Alberto Lemos
11. Domingos Kalala
AGRADECIMENTO
Agradeço, primeiramente a Deus, por sempre colocar tudo no seu devido lugar.

Aos nossos pais, que nos auxiliaram em cada momento difícil durante toda a
nossa vida académica e não só.

Ao Docente, Dr. Marques Quintal, por ter me concedido a orientação para


elaboração deste trabalho de pesquisa.

O meu muito obrigado!

I
DEDICATÓRIA
À minha família, pelo incentivo e aos nossos amigos pela compreensão nas
horas de ausência.

II
EPÍGRAFE

“Quem sabe concentrar-se numa coisa e insistir nela como único objectivo,
obtém, ao fim e ao cabo, a capacidade de fazer qualquer coisa”.

Mohandas Gandhi

III
SIGLAS E ABREVIATURAS
CRA: Constituição da República de Angola

CPC: Código de Processo Civil

CRC: Código do Registo Civil

CC: Código Civil

CF: Código de Família

IV
RESUMO
O presente trabalho espelha a reflexão de um tema bastante exaustivo no
campo jurídico. A questão do registo sempre foi um tema bastante discutida em
sede do direito, partindo do 3º ano, na cadeira de Direitos Reais bem como no
4º ano na cadeira de Direito dos Registos e Notariado.

É um tema que aparentemente mostra-se ser tão simples de ser abordado mas
na verdade é um tema completo, que requer paciência, dedicação, força de
vontade e capacidade interpretativa acima de tudo afim de melhor tirar as
ilações,

Daí que, o registo civil comporta duas modalidades ou forma de ser lavrado,
que são por meio de assento ou de averbamento.

No entanto, observaremos que os actos de registo civil estão repartidos em


duas partes: os actos de registo em geral (arts.º 50.º a 106.º do CRC) e os
actos de registo em especial (arts.º 119.º a 106.º do CRC)

Palavras chaves: registo civil; Direitos Reais; Notariado; actos; modalidades.

V
ABSTRACT
The present work reflects the reflection of a very exhaustive theme in the legal
field. The issue of registration has always been a widely discussed topic in the
field of law, starting from the 3rd year, in the subject of Real Rights as well as in
the 4th year in the subject of Registry and Notary Law.

It is a topic that apparently proves to be so simple to be approached but in fact it


is a complete topic, which requires patience, dedication, willpower and
interpretive capacity above all in order to better draw the conclusions,

Hence, the civil registry comprises two modalities or forms of being registered,
which are by means of registration or registration.

However, we will observe that the civil registration acts are divided into two
parts: the registration acts in general (articles 50 to 106 of the CRC) and the
registration acts in particular (articles 119.º to 106 of the CRC)

Keywords: civil registration; Real rights; Notary; acts; modalities.

VI
ÍNDICE

AGRADECIMENTO ........................................................................................................ I
DEDICATÓRIA ............................................................................................................... II
EPÍGRAFE ..................................................................................................................... III
SIGLAS E ABREVIATURAS ....................................................................................... IV
RESUMO......................................................................................................................... V
ABSTRACT .................................................................................................................... VI
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 4
0.1 Apresentação do trabalho ...................................................................................... 4
0.2 Problemática ............................................................................................................ 4
0.3 Hipótese .................................................................................................................... 4
0.4 Objectivos do Trabalho .......................................................................................... 4
0.5 Objecto de estudo ................................................................................................... 5
0.6 Campo de acção ..................................................................................................... 5
0.7 Metodologia do trabalho......................................................................................... 5
CAPÍTULO I: O REGISTO CIVIL E OS SEUS ACTOS ....................................... 6
1.1. O Registo ............................................................................................................. 6
1.2. Registo Civil e seu objecto ................................................................................ 6
1.3. Objecto do registo civil; factos sujeitos a registo. .......................................... 6
1.4. Efeitos do registo; acções de estado e acções de registo ........................... 7
1.5. Função e interesse do registo civil ................................................................... 7
1.6. Actos de registo .................................................................................................. 8
1.6.1. Actos do registo em geral. ............................................................................. 8
1.6.2. Identificação do declarante; referências honoríficas ou nobiliárquicas .. 8
1.6.3. Intervenção de pessoas surdas, mudas ou surdas-mudas...................... 9
1.6.4. Nomeação de intérprete aos que não conhecerem a língua portuguesa
9
1.6.5. Testemunhas abonatórias ............................................................................. 9
1.6.6. Documentos para actos de registo e o seu destino ................................ 10
1.6.7. Documentos passados no estrangeiro ...................................................... 10
1.6.8. Documentos escritos em língua estrangeira ............................................ 10
1.7. Modalidades do registo civil ............................................................................ 11
1.7.1. Assentos e sua forma de lavrar .................................................................. 11
1.7.2. Requisitos gerais ........................................................................................... 13
1.7.3. Menções especiais dos assentos por transcrição ................................... 13
1.7.4. Lugar em que podem ser lavrados os assentos ...................................... 14
1.7.5. Regras a observar na escrita dos assentos ............................................. 14
1.7.6. Ordem de prioridade e numeração ............................................................ 14
1.7.7. Feitura ............................................................................................................. 15
1.7.8. Actos do registo em especial. ..................................................................... 15
1.7.9. Acto de nascimento. ..................................................................................... 15
1.8. Procedimentos burocráticos e custos............................................................ 17
1.9. Documentos emitidos com erros .................................................................... 18
1.10. Alguns serviços ............................................................................................. 25
1.10.1. Certidão ....................................................................................................... 25
1.10.2. Assentos lavrados por inscrição ............................................................. 25
1.10.3. Assentos lavrados por transcrição.......................................................... 25
1.10.4. Inscrição tardia de nascimento................................................................ 25
1.10.5. Cédula Pessoal ou Boletim de Nascimento .......................................... 26
1.10.6. Cédula Pessoal ou Boletim de Nascimento .......................................... 26
1.10.7. Inscrição tardia de nascimento................................................................ 26
1.10.8. Processo de Alteração de Nome próprio ou de família ....................... 27
1.10.9. Processo de Divórcio ................................................................................ 27
CAPÍTULO II: ORGANIZAÇÃO DO REGISTO CIVIL E VÍCIOS NO
ORDENAMENTO JURÍDICO ANGOLANO, AVERBAMENTOS. ..................... 28
2.1. Organização do Registo Civil ............................................................................. 28
2.2. Vícios do registo................................................................................................ 28
2.2.1. Inexistência jurídica do registo .................................................................... 28
2.2.2. Nulidade do registo ....................................................................................... 29
2.2.3. Irregularidade do registo .............................................................................. 30
2.2.4. Omissão e perda do registo ........................................................................ 31
2.2.5. Averbamentos ................................................................................................ 32
2.2.6. Averbamento de actos registados na própria conservatória.................. 32
2.2.7. Averbamentos aos assentos de nascimento ............................................ 33
2.2.8. Averbamentos ao assento de casamento ................................................. 33
2.2.9. Forma .............................................................................................................. 34
2.2.10. Averbamento em conservatória distinta da que lavrou o registo ....... 35
2.2.11. Formalidades posteriores ......................................................................... 35
2.2.12. Dúvidas sobre o assento .......................................................................... 35
2.2.13. Averbamento da sentença ....................................................................... 36
2.2.14. Averbamentos omissos ............................................................................ 36
2.2.15. Conservatórias a que devem ser remetidas as certidões ................... 37
2.2.16. Retificação do conteúdo do assento de registo civil ............................ 38
CONCLUSÃO ............................................................................................................... 39
RECOMENDAÇÕES ................................................................................................... 40
SUGESTÃO .................................................................................................................. 41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 42
INTRODUÇÃO

0.1 Apresentação do trabalho


O trabalho em estudo, tem como tema «o registo e os seus actos, bem como
a organização e os vícios no ordenamento jurídico angolano».

É uma mais-valia, uma contribuição para nós Juristas em formação e outros


investigadores das gerações futuras, bem como para certos profissionais que
apresentam dificuldades nesta matéria, tendo em conta a sua complexibilidade.

Entretanto, o trabalho possui uma introdução, dois capítulos e uma parte final,
onde vem as considerações finais, as sugestões e as recomendações.

No primeiro capítulo abordaremos sobre o registo e os seus actos,


exemplificando sempre que poder alguns actos de registo. No segundo capítulo
tratamos da organização e vícios no ordenamento jurídico angolano.

0.2 Problemática
Levanta-se uma série de questões sobre o registo e estas questões serão o
cerne da nossa problemática.

- Como se entende o registo civil e qual é o seu impacto no país?

0.3 Hipótese
Tendo em conta o problema formulado, estabelecemos a seguinte hipótese:

O registo civil compreende-se como forma d.

0.4 Objectivos do Trabalho


a) Objectivo geral

 Prende-se que nós tenhamos uma visão geral da matéria de registos e


notariado no que tange o registo civil.

b) Objectivos específicos

 Visto que a cadeira de Direito dos Registos e do Notariado prossegue a


finalidade de ministrar as noções fundamentais do direito registal e do
direito notarial, com o presente trabalho pretendemos nos preparar para

4
a interacção, na sua vida profissional, com as conservatórias dos
registos e com os cartórios notariais.
 Descrever a situação actual do registo civil no país;
 Analisar as informações disponíveis para propor sugestões e
recomendações.

0.5 Objecto de estudo


O nosso trabalho de pesquisa tem como objecto de estudo, o registo e os seus
actos, bem como a sua organização e vícios no ordenamento jurídico
angolano.

0.6 Campo de acção


Sabemos que, o estudo do registo é uma matéria vasta e de estudo de várias
cadeiras. Para o efeito, limitamo‐nos no âmbito da cadeira de Direito dos
Registos e Notariado, fazendo um estudo de campo na secção da
Conservatória do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos no Uíge.

0.7 Metodologia do trabalho


Um trabalho científico necessita de um instrumento que lhe conduza a um certo
objectivo. Este instrumento é o método. De acordo com o carácter do assunto
investigado, usamos os seguintes métodos:

1º Investigativo

Servimo-nos na pesquisa via Internet, algumas bibliografia afim de obtermos


mais sustentabilidade sobre o tema.

2º Pesquisa de campo

Com este método, fizemos uma visita na Secção de Registo Civil da


Conservatória do Uíge, bem como consultamos estudantes bem como alguns
profissionais que já tiveram contacto com a cadeira e o tema em questão.

5
CAPÍTULO I: O REGISTO CIVIL E OS SEUS ACTOS

1.1. O Registo
Não é conveniente debruçarmos sobre o registo civil e os seus actos, sem
antes no entanto fazermos um enquadramento doutrinal e legal do registo.

Nesta senda, o registo

1.2. Registo Civil e seu objecto


A expressão registo civil tem diferentes designações. É empregue como
repartição do Estado, encarregada de serviço público do registo civil. Registo
Civil é um órgão soberano em que a partir do registo civil ou assento de
nascimento, o Governo sabe quem são os cidadãos nacionais e os
estrangeiros. Chama-se Registo Civil ao conjunto de livros onde se fazem
constar os factos e os actos relativos ao estado civil das pessoas.

Constituem objecto do registo civil os seguintes factos: nascimento1, filiação;


adopção; casamento; convenções antenupciais; óbito; emancipação (já não
existe em virtude da maior idade atingir-se aos 18 anos); inibição ou suspensão
do poder paternal; interdição e inabilitação definitivas, tutela de menores ou
interditos, a administração de bens de menores e a curatela de inabilitados;
curadoria provisória ou definitiva de ausentes e a morte presumida, conforme
vem regulado nas alíneas a) à j) do artigo 1º do Código do Registo Civil.

O registo civil no entanto compreende-se como o conjunto de factos que, tendo


início no nascimento, ocasião em que se adquire a personalidade jurídica, até à
morte, termo da personalidade jurídica, modificam a capacidade ou o estado
civil. A existência do estado civil das pessoas é garantida pelo Estado, de modo
a criar a segurança jurídica necessária para que a vida em sociedade seja
possível.

Os actos de registos dividem-se em: actos de registo civil e registo ou inscrição


consular.

1.3. Objecto do registo civil; factos sujeitos a registo.


Constituem objecto do registo civil os seguintes factos:

1
Vide art.º 30.º, 31.º, 32.º da CRA.

6
 O nascimento;
 A filiação;
 A adopção;
 O casamento;
 As convenções antenupciais;
 O óbito;
 A emancipação (já não existe em virtude da maior idade atingir-se aos
18 anos);
 A inibição ou suspensão do poder paternal;
 A interdição e inabilitação definitivas, tutela de menores ou interditos, a
administração de bens de menores e a curatela de inabilitados;
 A curadoria provisória ou definitiva de ausentes e a morte presumida-

No entanto, estes actos sujeitos a registo estão regulados no artigo 1º do


Código do Registo Civil.

Porém, os factos sujeitos a registo obrigatório não podem ser invocados


quer pelas pessoas a quem respeitem os seus herdeiros, quer por terceiros
sem que no entanto não for lavrado o respectivo registo.

1.4. Efeitos do registo; acções de estado e acções de registo


No que tange os efeitos do registo, acções de estado e acções de registo
encontram-se plasmados no artigo 4.º e ss do Código do Registo Civil.

1.5. Função e interesse do registo civil


O registo civil é o serviço criado com o objectivo de definir e publicitar factos e
actos relativos ao estado civil e à capacidade de todas as pessoas singulares.

Compete às conservatórias do registo civil o registo de todos os factos


previstos no Código do Registo Civil quando ocorridos em território nacional,
qualquer que seja a nacionalidade dos indivíduos a quem respeitem.

São factos sujeitos a registo civil, de entre outros, o nascimento, a filiação, o


casamento, a adopção, as convenções antenupciais, a regulação do exercício
do poder paternal, o óbito, a inibição ou suspensão do exercício do poder
paternal, a interdição e inabilitação definitiva, a tutela de menores ou interditos.

7
Às conservatórias do registo civil compete também o registo de casamentos ou
de óbitos ocorridos no estrangeiro quando tenham no seu arquivo o assento de
nascimento de algum dos nubentes ou do falecido.

É ao registo civil que incumbe a prova dos factos sujeitos obrigatoriamente a


registo e ao estado civil correspondente, não podendo essa prova ser refutada
por qualquer outra, a não ser nas acções de estado e nas acções de registo.

Salvo disposição legal em contrário, os factos cujo registo é obrigatório só


podem ser invocados depois de registados.

São órgãos privativos do registo civil as conservatórias do registo civil e a


Conservatória dos Registos Centrais.

As conservatórias do registo civil são ainda serviços de identificação civil,


podendo proceder à emissão de bilhetes de identidade, mediante designação
efectuada por portaria, e à recepção dos pedidos de emissão, substituição
desses.

1.6. Actos de registo


Os actos de registo eles classificam-se em dois grupos: os actos de registo em
geral e os actos de registo em especial.

1.6.1. Actos do registo em geral.


De acordo com artigo 50.º do Código do Registo Civil, na sua secção I, aborda
as partes e outros intervenientes em acto de registo, na qual compreende-se
como partes, em relação a cada registo, o declarante e as pessoas a quem o
facto registado directamente respeite, bem como as pessoas de cujo
consentimento dependa a plena eficácia deste.

1.6.2. Identificação do declarante; referências honoríficas ou


nobiliárquicas
Os declarantes são identificados, no texto dos assentos em que intervierem,
mediante a menção do seu nome completo, estado e residência habitual.

São permitidas referências honoríficas ou nobiliárquicas, antecedidas do nome


civil dos intervenientes nos actos de registo, desde que estes provem, por
documento bastante, que ficará arquivado, o direito ao seu uso. A referência a

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títulos nobiliárquicos angolanos só será permitida quando os interessados
provem que estavam na posse e uso do título anteriormente a 5 de Outubro de
1910 e que as taxas devidas foram pagas.

São documento suficiente para a prova das circunstâncias previstas no número


anterior as certidões extraídas de documentos ou registos das Secretarias de
Estado, do antigo Ministério do Reino, do Arquivo Nacional, de outros arquivos
ou cartórios públicos, ou a portaria a que se refere o Decreto n.º 10537, de 12
de Fevereiro de 1925.

1.6.3. Intervenção de pessoas surdas, mudas ou surdas-mudas


Importa realçar que os indivíduos surdos, mudos ou surdos-mudos só podem
intervir em qualquer acto de registo nos termos seguintes:

a) Os surdos, depois da leitura efectuada pelo funcionário, devem ler o assento


em voz alta e na presença das testemunhas, ou, se o não souberem fazer,
designar a pessoa que há-de proceder a esta segunda leitura;

b) Aos mudos ou surdos-mudos analfabetos será nomeado pelo funcionário um


intérprete idóneo para que, sob juramento legal, lhes transmita as perguntas
necessárias, bem como o contexto do acto, e traduza fielmente a sua vontade,
de tudo se lavrando auto que ficará arquivado.

Outrossim, no que tange aos mudos e os surdo-mudos que saibam ler e


escrever devem exprimir a sua vontade por escrito, em resposta às perguntas
que, também por escrito, lhes forem formuladas pelo funcionário; ambos os
escritos ficarão arquivados.

1.6.4. Nomeação de intérprete aos que não conhecerem a língua


portuguesa
Quando alguma das partes não conhecer a língua portuguesa e o funcionário
não dominar o idioma em que a parte se exprime, deve aquele nomear-lhe um
intérprete.

1.6.5. Testemunhas abonatórias


Nos assentos de casamento devem intervir duas testemunhas, maiores ou
plenamente emancipadas, que saibam assinar e possam fazê-lo.

9
Se ao funcionário do registo civil se suscitarem dúvidas acerca da veracidade
das declarações ou identidade das partes intervenientes em assento de
qualquer outra espécie, poderá exigir a intervenção de duas testemunhas. Vide
art.º 58.º do CRC.

As testemunhas consideram-se sempre abonatórias da identidade das partes,


bem como da veracidade das respectivas declarações, e respondem, no caso
de falsidade, tanto civil como criminalmente. À identificação das testemunhas é
aplicável o disposto no n.º 1 do artigo 51.º do CRC.

Além das pessoas autorizadas pela lei geral, podem intervir como testemunhas
nos actos de registo os parentes ou afins das partes e dos próprios
funcionários.

1.6.6. Documentos para actos de registo e o seu destino


Os documentos destinados a servir de base aos actos de registo, ou a instruir
os respectivos processos, são passados em papel selado, salvos os casos de
isenção; depois de rubricados e numerados pelo funcionário, os documentos
devem ser incorporados no processo a que respeitam ou arquivados com a
nota do número e data do registo correspondente.

1.6.7. Documentos passados no estrangeiro


Os documentos passados em país estrangeiro, em conformidade com a lei
local, podem servir de base a actos de registo, independentemente de prévia
legalização.

Se, porém, houver fundadas dúvidas acerca da autenticidade do documento


apresentado, pode ser exigida a sua legalização nos termos da lei processual.

1.6.8. Documentos escritos em língua estrangeira


Os documentos escritos em língua estrangeira devem ser acompanhados de
tradução realizada nos termos previstos na lei notarial.

10
1.7. Modalidades do registo civil
Forma de lavrar o registo civil dos factos a ele sujeitos é lavrado nos termos
código de registo civil, por meio de duas modalidades a saber:

 Assento;
 Averbamento.

1.7.1. Assentos e sua forma de lavrar


Os assentos são lavrados por inscrição ou por transcrição.

O artigo 65.º do CRC prevê os assentos lavrados por inscrição, a saber:

a) Os assentos de nascimento ou óbito ocorrido em território angolano, quando


declarado directamente na repartição competente;

b) Os assentos de nascimento ou óbito de angolano, ocorrido no estrangeiro,


quando declarado nas condições da alínea anterior; cfr. art.º 40.º do CF.

c) Os assentos de nascimento ou óbito ocorrido em viagem a bordo de navio


ou aeronave, quando as autoridades de bordo não tenham lavrado o respectivo
registo e o facto só venha a ser declarado nas condições da alínea a);

d) Os assentos de casamentos civis não urgentes, celebrados em território


angolano ou realizados no estrangeiro perante o competente agente
diplomático ou consular angolano;

e) Os assentos de legitimação ou perfilhação, feita perante o funcionário do


registo civil, quando não conste dos registos de casamento ou de nascimento;

f) Os assentos de emancipação outorgada pelos pais.

Ao passo que, o artigo 66.º do CRC prevê os assentos lavrados por


transcrição, que são eles:

a) Os assentos de nascimento e óbito, com base em auto de declaração


prestada nos postos ou em outras repartições intermediárias ou com base nos
autos ou nas comunicações, a que se referem os artigos 135.º e 249.º

b) Os assentos de casamento católico, ou de casamento civil urgente,


celebrado em território angolano;

11
c) Os assentos de casamento católico ou civil, celebrado no estrangeiro,
perante as autoridades locais competentes, por cidadãos portugueses ou por
estrangeiros que adquiram a nacionalidade angolana;

d) Os assentos de tutela, administração de bens de menores, curatela,


curadoria ou de emancipação concedida pelo conselho de família ou pelo
tribunal de menores;

e) Os assentos de casamento admitidos a registo, nos termos do n.º 2 do artigo


8.º do CRC;

f) Os assentos de convenções antenupciais ou de alteração do regime de bens


convencionado ou legalmente fixado;

g) Os assentos de factos cujo registo tenha sido realizado pelos funcionários ou


autoridades a que se referem as alíneas b) e c) do n.º 1 do artigo 11.º ou de
factos que devam passar a constar dos livros de conservatória diversa daquela
onde os assentos originais foram lavrados.

São ainda lavrados por transcrição os assentos ordenados por decisão


judicial, os assentos a que se refere o n.º 3 do artigo 12.º do CRC, conjugado
com o art. 41.º do CF e, em geral, os assentos de factos ocorridos no
estrangeiro ou no ultramar angolano, cujos registos tenham sido efectuados
pelas autoridades locais, sem prejuízo do disposto no n.º 3 do artigo 9.º.

Exceptuam-se do disposto na alínea b) do n.º 1 os casamentos católicos


celebrados entre cônjuges já vinculados por casamento civil anterior não
dissolvido. O exemplar destinado à Conservatória dos Registos Centrais, para
fins da integração prevista no artigo 6.º, será lavrado em impresso, isento de
selo, dos modelos anexos a este código.

O exemplar destinado à Conservatória dos Registos Centrais pode ser


substituído, no caso de falta ou extravio, por cópia autêntica do assento
original.

A integração a que se refere o n.º 2 é feita mediante a simples incorporação do


respectivo duplicado ou cópia autêntica, depois de numerada e rubricada pelo
conservador, no livro previsto na alínea d) do n.º 1 do artigo 18.º.

12
1.7.2. Requisitos gerais
Além dos requisitos privativos de cada espécie, os assentos devem conter os
seguintes elementos, vide artigo 68.º do CRC:

a) Número de ordem, a hora, o dia, mês e ano em que são lavrados, bem como
a designação da repartição;

b) Identificação das partes, e das testemunhas, quando as haja;

c) Nome e categoria do funcionário que os subscreve e, não sendo o


conservador, a indicação do motivo da sua intervenção;

d) Assinatura das partes, ou a menção de que não sabem ou não podem


assinar, e assinatura das testemunhas e do funcionário.

Quando haja intervenção de intérprete, far-se-á constar do texto do assento,


além da identificação dele, a menção do cumprimento do disposto nos artigos
52.º e 53.º, conforme ao caso couber.

É dispensada a menção da hora nos assentos lavrados por transcrição.


Sempre que o assento seja lavrado fora da repartição, far-se-á menção desta
circunstância no seu texto, com referência ao respectivo local.

1.7.3. Menções especiais dos assentos por transcrição


Nos assentos lavrados por transcrição, além das menções legais privativas da
sua espécie, extraídas do respectivo título, farse-á constar a proveniência, a
natureza e a data da emissão do título, bem como a data do seu recebimento.
Cfr. artigo 69.º do CRC.

Se o assento respeitar a acto lavrado no estrangeiro por autoridade


estrangeira, a transcrição pode ser feita por meio de reprodução integral do
conteúdo do título.

Se do título passado por autoridade estrangeira não constarem todas as


menções previstas neste código, a transcrição pode ser completada, por meio
de averbamento, em face das declarações prestadas pelos interessados e dos
documentos comprovativos, se as menções omissas não interessarem à
substância do acto.

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1.7.4. Lugar em que podem ser lavrados os assentos
Os assentos são lavrados na repartição competente, podendo sê-lo também
em qualquer outra casa, a requerimento dos interessados, desde que a entrada
esteja franqueada ao público, salvo se o acto for secreto, por sua natureza.

1.7.5. Regras a observar na escrita dos assentos


Os assentos devem ser escritos por extenso, em face das declarações das
partes ou das próprias observações do funcionário, e na presença daquelas, e
das testemunhas que os hajam de assinar, ou com base nos documentos
apresentados.

É proibido o uso de abreviaturas ou de algarismos no texto dos assentos, mas


podem repetir-se por algarismos os números ou datas já uma vez escritos por
extenso.

Os espaços em branco, no texto, e depois das assinaturas, bem como os


dizeres impressos que sejam desnecessários, serão inutilizados por meio de
traços horizontais, com a mesma tinta que serviu para lavrar o assento.

As emendas, rasuras, entrelinhas ou outra alteração feita no texto dos


assentos, à excepção das previstas no número antecedente, devem ser
expressamente ressalvadas, antes das assinaturas, pelo funcionário que lavrar
ou assinar o assento. Consideram-se como não escritas as palavras que,
devendo ser ressalvadas…

1.7.6. Ordem de prioridade e numeração


Os assentos, exceptuados os de casamento, serão lavrados segundo a ordem
de anotação no Diário. Os assentos de cada espécie terão número de ordem
anual, a partir do dia 1 de Janeiro.

Exceptuam-se os assentos de legitimação, perfilhação, emancipação, tutela,


curatela, curadoria, administração de bens e de escrituras antenupciais, em
que a numeração, por ordem cronológica, se faz até ao final de cada livro.

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1.7.7. Feitura
Os assentos podem ser escritos pelo conservador, ou por outrem sob sua
responsabilidade, mas são sempre assinados pelo conservador, ou pelo
substituto legal, no impedimento dele.

Antes de ser assinado, o assento deve ser lido na presença de todas as


pessoas que nele intervierem.

Os assentos por transcrição são lavrados sem a intervenção das partes ou de


qualquer outra pessoa, salvo o disposto no n.º 3 do artigo 196.º do CRC. São
lavrados apenas com a intervenção do interessado os assentos previstos nos
artigos 118.º, 164.º e 266.º do CRC.

Assinatura

Os assentos devem ser assinados, imediatamente após a leitura, primeiro


pelas partes intervenientes no acto de registo, se souberem e puderem fazê-lo,
depois pelas testemunhas, havendo-as, e finalmente pelo funcionário.

Se, depois da leitura, algum dos intervenientes se impossibilitar de assinar, ou


se recusar a fazê-lo, o funcionário deve mencionar a razão por que o assento
fica incompleto.

Além das pessoas mencionadas, podem assinar os assentos de casamento,


embora não sejam referidas no texto, outras pessoas que hajam assistido ao
acto e assim o desejem fazer, de acordo com os nubentes.

1.7.8. Actos do registo em especial.


Do artigo 119.º a 141.º do Código do Registo Civil faz essa abordagem.

1.7.9. Acto de nascimento.


O “registo de nascimento é o acto pelo qual se conjugam o dever do Estado de
garantir o direito ao gozo dos direitos; o dever dos pais – ou, na sua ausência,
dos familiares – de registarem as crianças - e o direito das crianças ao acesso
aos direitos. Com efeito, o registo de nascimento, garante à criança e ao adulto
o direito à nacionalidade, ao nome, e é condição para o direito à educação, ao
trabalho, em suma, o direito ao exercício da cidadania”.

15
O registo civil configura-se numa garantia formal da concretização do Direito ao
Nome (art.º 72º do Código Civil) e o Direito à Nacionalidade (Constituição da
República de Angola art.os 9º, 15º n.º 1 da Declaração Universal dos Direitos
Humanos e Lei da Nacionalidade - Lei nº 2/16, de 15 de Abril).

Portanto, é o registo de nascimento o escopo formal para garantir a realização


e efectivação destes direitos e liberdades fundamentais, no plano interno, e dos
“Direitos Humanos”, no plano internacional.

O Registo de Nascimento é corolário de outros direitos inscritos na natureza da


pessoa humana, daí a sua relação com os Direitos Humanos. Ou seja, não se
pode falar em registo de nascimento sem que haja uma pessoa física que
tenha nascido, num determinado espaço territorial (Direito à Nacionalidade), e
que tenha um nome (Direito ao Nome) dado pelos seus familiares de tal modo
que, participe directamente de todos os assuntos ligados à vida pública como
membro de uma sociedade (Direito à Cidadania).

O registo civil é tido como o acto público que consiste no assento efectuado por
um oficial público e constantes de livros públicos, do livre conhecimento, directo
ou indirecto, por todos os interessados, no qual se atestam factos jurídicos
conformes com a lei e referentes a uma pessoa ou uma coisa, factos entre si
conectados pela referência a um assento considerado principal, de modo a
assegurar o conhecimento por terceiros da respectiva situação jurídica, e da
qual a lei faz derivar, como efeitos mínimos, a presunção do seu conhecimento
e a capacidade probatória.

Como acto público, o Estado, através dos seus órgãos, procura garantir e
materializar o Registo de Nascimento através de Leis que vêm afirmar um
conjunto de princípios, valores e normas que orientem todos os actos
praticados pelos agentes públicos e privados.

Existe um conjunto de diplomas que vem regular o acto de registo de


nascimento:

- O Código do Registo Civil, que foi aprovado pelo Decreto – Lei n.º 47 678, de
5 de Maio de 1967, estando ainda parcialmente em vigor em Angola por força
do artigo 239.º da CRA;

16
- A Lei n.º 6/15 de 8 de Maio – Lei da Simplificação do Registo de Nascimento;

- O Decreto n.º 31/07, de 14 de Maio – Regula a gratuitidade dos registos de


nascimento e de óbito para a primeira infância, bem como estabelece a
gratuitidade na atribuição do Bilhete de Identidade a menores;

- O Decreto Presidencial n.º 80/13, de 5 de Setembro isenta de pagamento de


emolumentos, independentemente da idade, os cidadãos que efectuarem o
registo civil no triénio 2013 – 2016.

No contexto deste último decreto, o Secretário de Estado informou que “o


Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos tem a orientação de registar, em
todo país, mais de oito milhões de habitantes, de modo a permitir a criação de
políticas públicas em benefício da população, com realce para expansão dos
serviços de notariado e identificação”.

O presente estudo não se compromete olhar para estas leis nem mesmo para
a sua dogmática jurídica, mas para as experiências vividas pelos
cidadãos/utentes, enquanto procuram proceder e aceder ao registo de
nascimento.

1.8. Procedimentos burocráticos e custos


A questão dos procedimentos burocráticos é outro factor que dificulta o acesso
ao registo. Muitas pessoas têm a percepção de que é complicado e, por isso,
logo à partida, desistem de tentar registar os seus filhos. Esta percepção,
possivelmente, nasce da falta de informação da parte dos utentes e do facto
dos procedimentos não serem homogéneos, havendo exigências diferentes,
consoante a Conservatória do Registo Civil a que se recorre.

Os procedimentos estão divididos em procedimentos para o registo de crianças


dos zero aos treze anos e procedimento de registo dos catorze anos de idade
em diante ou registo tardio (Bilhete de Identidade, Registo de Nascimento -
Cédula e outros).

Sobre o registo civil de nascimento, Registo Civil e Notariado faz menção de


dois procedimentos diferentes, consoante a idade da pessoa que procura fazer
o registo:

17
- Crianças dos 0 aos 13 anos: Aqui o procedimento é iniciado com a presença
dos pais. Em caso destes serem solteiros necessita-se do Bilhete de Identidade
dos mesmos, além da presença. Se forem pais casados, basta a presença de
um dos cônjuges fazendo-se acompanhar do seu Bilhete de Identidade e duas
testemunhas.

- Registo de Crianças dos 14 anos em diante:

a) Requerimento dirigido ao Conservador, explicando as razões que o levaram


a não ser registado antes;

b) Declaração de nascimento passada no Posto de Registo da comuna onde


reside;

c) Declaração passada pelo Soba;

d) Atestado de Residência passada pela Administração Municipal e assinado


pelo Administrador ou alguém a seu rogo;

e) Algum documento da escola para evitar a discrepância de dados entre os


documentos da escola e os documentos do registo;

f) Cópia do BI dos pais ou qualquer outro documento do pai e da mãe;

g) Algum documento da igreja - cédula de baptismo, certidão narrativa;

h) Duas testemunhas com documentos que as identificam;

i) Despacho do conservador.

1.9. Documentos emitidos com erros


Durante o levantamento de dados para este estudo, foram descritos casos em
que o registo de nascimento continha erros. Os casos relatados foram de
nomes mal escritos e troca de datas de nascimento.

Nestes casos, quando os utentes detectam erros na emissão da certidão de


nascimento das crianças, acabam por desistir de rectificar com receio dos
custos, da morosidade e dos procedimentos para conseguir um averbamento.
O responsável da secção do registo civil confirma este problema e explica que,
quando assim acontece, a secção responsabiliza-se, mas se a causa for

18
imputada ao utente este deve pagar 1.600,00 Akz (mil e seiscentos kwanzas)
para a correcção.

O nascimento ocorrido em território angolano deve ser declarado verbalmente,


dentro dos trinta dias imediatos, na conservatória ou no posto do registo civil da
área do sucessivamente.

A declaração de nascimento compete, obrigatória e sucessivamente, às


seguintes pessoas:

a) Ao pai;

b) À mãe;

c) Ao parente capaz mais próximo, que se encontre no lugar do nascimento;

d) Ao director do estabelecimento onde o parto ocorrer, ou ao chefe de família


residente na casa onde o nascimento se verificar;

e) Ao médico ou à parteira assistente e, na sua falta, a quem tiver assistido ao


nascimento;

f) A qualquer pessoa incumbida de prestar a declaração pelo pai ou mãe do


registando, ou por quem o tenha a seu cargo.

O cumprimento da obrigação por alguma das pessoas mencionadas desonera


todas as demais.

As pessoas indicadas nas alíneas d) e e) do n.º 1 não respondem pelos


emolumentos e selos do registo, os quais podem ser exigidos, sem
dependência de quaisquer formalidades prévias, ao legítimo representante do
registado.

Decorrido o prazo legal sem que a declaração de nascimento tenha sido feita,
tanto os funcionários do registo civil como as autoridades administrativas
devem participar o facto ao Ministério Público, que promoverá, não só o
procedimento criminal contra a pessoa obrigada a prestar a declaração, mas
também a verificação, no mesmo processo, dos elementos necessários para se
lavrar o registo à custa do responsável.

19
Igual participação pode ser feita por qualquer pessoa, ainda que sem interesse
especial na realização do registo.

Não existindo quem possa ser responsabilizado criminalmente pela falta da


declaração, servirá o processo apenas para se lavrar o registo; neste caso, o
Ministério Público ordenará as diligências adequadas à recolha dos elementos
necessários e requererá ao juiz da comarca, depois de os obter, que determine
a realização oficiosa do registo.

Na decisão que puser termo ao processo, o juiz fixará os elementos que hão-
de constar do assento, observando o disposto no artigo 108.º do CRC.

O assento é lavrado em face da certidão de teor da decisão, a qual deve ser


enviada à conservatória competente, pelo escrivão do processo, no prazo de
cinco dias após a passagem em julgado.

Depois de instaurado, o procedimento criminal previsto no artigo 121.º só cessa


com o pagamento voluntário da multa e do imposto de justiça, provando o
transgressor que está lavrado o registo.

Se, antes de participada a falta em juízo, a declaração de nascimento for


voluntariamente prestada, lavrar-se-á o registo, sem prejuízo do disposto no
artigo seguinte, mediante o pagamento dos emolumentos correspondentes ao
registo efectuado fora do prazo legal.

A pendência do processo a que se refere o artigo 121.º não impede que a


declaração de nascimento seja voluntariamente feita na conservatória
competente, nem que o registo seja lavrado independentemente do pagamento
de multa.

O artigo 125.º faz menção de casos especiais de declarações tardias

1. A declaração voluntária de nascimento ocorrido há mais de um ano só pode


ser recebida desde que seja feita por qualquer dos pais, por quem tiver o
registando a seu cargo, ou pelo próprio interessado, quando for maior de
catorze anos, devendo, porém, sempre que possível, ser ouvidos em auto os
pais do registando, quando não sejam declarantes.

20
2. Se o nascimento tiver ocorrido há mais de catorze anos, o registo só pode
ser efectuado mediante a organização do processo de autorização para
inscrição tardia de nascimento.

3. A prova de que o declarante tem o registando a seu cargo pode ser feita
através das testemunhas que intervierem no assento.

4. Se os pais do registando residirem fora da área da conservatória do


nascimento, podem ser ouvidos, por ofício precatório, na conservatória da
residência.

Declaração simultânea de nascimento e óbito

Se o nascimento for simultaneamente declarado com o óbito do registando, far-


se-á constar do assento de nascimento,

Se a conservatória for competente apenas para o registo de óbito, o


conservador reduzirá a auto a declaração de nascimento, nele mencionando a
data do falecimento do registando, e remetê-lo-á à conservatória da
naturalidade deste, para que se lavre o respectivo assento.

À declaração e ao assento dos nascimentos, a que se refere este artigo, não é


aplicável o disposto no artigo anterior.

É competente para lavrar o registo a conservatória em cuja área o nascimento


tiver ocorrido.

Se, porém, o nascimento ocorrer em maternidade ou estabelecimento


hospitalar da sede de concelho onde haja mais de uma conservatória, será
competente para lavrar o registo a conservatória da área da residência habitual
da mãe do registando, quando situada no mesmo concelho.

Além dos requisitos gerais, o assento de nascimento deve conter os seguintes


elementos:

a) O dia, mês, ano e, na medida do possível, a hora exacta do nascimento;

b) A freguesia e concelho do local do nascimento;

c) O sexo do registando;

d) O nome próprio e os apelidos de família, que lhe ficam a pertencer;

21
e) A qualidade de filho legítimo ou ilegítimo;

f) O nome completo, estado, residência habitual e naturalidade dos pais;

g) Os nomes completos dos avós;

h) As demais menções exigidas por lei, em casos especiais.

Os elementos que hão-de ser inscritos no assento são fornecidos pelo


declarante, devendo este, sempre que possível, exibir as cédulas pessoais ou
os bilhetes de identidade dos pais do registando.

Ao funcionário que receber a declaração compete averiguar a exactidão das


declarações prestadas, em face dos documentos exibidos, dos registos em seu
poder e das informações que lhe for possível obter.

A realização das averiguações necessárias não deve impedir, porém, que o


registo seja lavrado acto seguido à declaração.

O nome do registando será o indicado pelo declarante ou, quando este o não
queira fazer, pelo funcionário perante quem foi prestada a declaração.

O nome completo compor-se-á, no máximo, de seis vocábulos gramaticais


simples, dos quais só dois podem corresponder ao nome próprio, e quatro a
apelidos de família.

Os nomes próprios devem ser portugueses ou, quando de origem estrangeira,


traduzidos ou adaptados, gráfica e foneticamente, à língua portuguesa, e não
devem suscitar justificadas dúvidas sobre o sexo do registado, nem envolver
referências de carácter político, nem confundir-se com meras denominações de
fantasia, apelidos de família, nomes de coisas, animais ou qualidades, salvo
tratando-se de nomes de uso vulgar na onomástica angolana.

São admitidos os nomes próprios estrangeiros, sob a forma originária, se o


registando for estrangeiro ou tiver outra nacionalidade além da angolana.

Os apelidos são escolhidos entre os pertencentes às famílias dos progenitores


do registando, devendo o último ser um dos apelidos usados pelo pai ou, na
sua falta, um dos apelidos a cujo uso o pai tinha direito, ou pelo qual seja
conhecida a sua família [arts. 127.º a 132.º do CRC].

22
Se os pais do registando forem desconhecidos, a escolha do apelido
obedecerá ao disposto no artigo 137.º.

O nome fixado no assento de nascimento só pode ser modificado mediante


autorização do Ministro da Justiça.

Exceptuam-se:

a) A alteração fundada em reconhecimento, legitimação, adopção ou


casamento posterior ao assento;

b) A alteração resultante de rectificação judicial do registo;

c) A alteração que consista na simples intercalação de partículas de ligação de


apelidos, ou no adicionamento de apelidos de família, se do assento constar
apenas o nome próprio do registado;

A alteração resultante da renúncia da mulher casada ao uso do nome do


marido e, em geral, da perda do direito ao nome por parte do registado.

A alteração de nome fundada em adopção restrita ou casamento não está


subordinada ao limite de apelidos estabelecido no n.º 1 do artigo antecedente.

O averbamento de alteração não dependente de autorização ministerial será


efectuado a requerimento do interessado, que, quando verbal, deve ser
reduzido a auto; no caso previsto na parte final da alínea d) do n.º 2, o
averbamento é realizado oficiosamente.

Assento de gémeos

No caso de nascimento de gémeos, lavrar-se-á o assento em separado para


cada um deles, segundo a ordem de prioridade do nascimento, a qual será
mencionada no texto do assento, mediante a indicação, o mais aproximada que
for possível, do minuto dos respectivos nascimentos.

Quando os registados forem do mesmo sexo, o funcionário que receber a


declaração deve indagar da existência de qualquer particularidade física, de
carácter permanente, que individualize algum deles, ou cada um deles, e
descrevê-la no assento.

Aos registandos não pode ser dado o mesmo nome próprio.

23
Registo de abandonados

Para efeito de registo de nascimento, consideram-se abandonados os recém-


nascidos de pais incógnitos que forem encontrados ao abandono em qualquer
lugar, e bem assim os indivíduos menores, de idade aparente inferior a catorze
anos, ou dementes, cujos pais, conhecidos ou incógnitos, se hajam ausentado
para lugar não sabido, deixando-os ao desamparo.

O nascimento de abandonados, sempre que não seja possível determinar a


existência de registo anterior, é obrigatoriamente registado na conservatória da
área do lugar em que o abandonado for encontrado. [arts. 133.º a 138.º]

Aquele que tiver encontrado o abandonado deve apresentá-lo, no prazo de


vinte e quatro horas, com todos os objectos e roupas de que ele seja portador,
à autoridade administrativa ou policial, a quem competirá promover, se for caso
disso, o assento de nascimento.

O registo de nascimento é lavrado mediante a apresentação do registando e


em face do auto levantado pela autoridade a quem o abandonado haja sido
entregue e ainda das observações pessoais do conservador.

O assento de nascimento deve conter as seguintes menções especiais:

a) Data, hora e lugar em que o registando foi encontrado;

b) Idade aparente;

c) Sinais ou defeitos que o individualizem;

d) Descrição dos vestidos, roupas e objectos de que seja portador;

e) Quaisquer outras referências que possam concorrer para a identificação do


registando.

Os objectos encontrados em poder do abandonado, que sejam de fácil


conservação, ficarão guardados na conservatória, depois de encerrados em
recipiente apropriado, devidamente lacrado e selado.

24
Compete ao funcionário que lavrar o assento atribuir ao registando um nome
completo, constituído no máximo por três vocábulos, devendo escolhê-los de
preferência entre os nomes de uso mais vulgar, ou derivá-los de alguma
característica particular do registando ou do lugar em que foi encontrado, mas
sempre de modo a evitar denominações equívocas ou capazes de recordarem
a sua condição de abandonado.

Na escolha do nome deve, todavia, respeitar-se qualquer indicação escrita


encontrada em poder do abandonado, ou junto dele, ou por ele próprio
fornecida.

1.10. Alguns serviços

1.10.1. Certidão
Meio de prova solicitado pelo interessado ao balcão da Conservatória,
comprovativo do assento de nascimento, de casamento ou de óbito existente
nos livros da Conservatória.

Segundas vias de cédula pessoal ou boletim de nascimento

As segundas vias são admissíveis em caso de perda ou destruição da primeira


via da cédula pessoal ou do boletim de nascimento entregue ao registado e
pode ser passada a seu pedido do interessado ou a pedido do seu
representante legal.

1.10.2. Assentos lavrados por inscrição


Os assentos são feitos por inscrição quando os elementos a levar ao texto dos
assentos são declarados diretamente no serviço de registo civil competente
para fazer o registo.

1.10.3. Assentos lavrados por transcrição


Os assentos são lavrados por transcrição quando são feitos com base num
documento comprovativo do facto registado.

1.10.4. Inscrição tardia de nascimento


Assento de nascimento feito com base na declaração voluntária do nascimento
ocorrido há mais de 14 anos. A declaração pode ser prestada pela própria
pessoa que se quer registar.
25
1.10.5. Cédula Pessoal ou Boletim de Nascimento
Documento comprovativo do assento de nascimento, que é imediatamente
entregue ao interessado/¬declarante. Permite que este, mais tarde, identifique
a Conservatória onde foi realizado o registo e o número do seu assento de
nascimento.

Documentos

- Bilhete de Identidade, Cédula Pessoal ou Certidão de Nascimento dos pais;

- Cartão da Maternidade, se houver;

- Passaporte dos pais, se estrangeiro.

1.10.6. Cédula Pessoal ou Boletim de Nascimento


Documento comprovativo do assento de nascimento, que é imediatamente
entregue ao interessado/¬declarante. Permite que este, mais tarde, identifique
a Conservatória onde foi realizado o registo e o número do seu assento de
nascimento.

Documentos

- Bilhete de Identidade, Cédula Pessoal ou Certidão de Nascimento dos pais;

- Cartão da Maternidade, se houver;

- Passaporte dos pais, se estrangeiro.

1.10.7. Inscrição tardia de nascimento


Assento de nascimento feito com base na declaração voluntária do nascimento
ocorrido há mais de 14 anos. A declaração pode ser prestada pela própria
pessoa que se quer registar.

Documentos

- Requerimento com assinatura reconhecida pelo Notário;

26
- Apresentar 2 testemunhas idóneas, com Bilhete de identidade, para serem
ouvidas em declaração.

1.10.8. Processo de Alteração de Nome próprio ou de família


Processo especial que deve ser requerido pelo o indivíduo que pretende alterar
a composição do seu nome fixado no assento de nascimento. Esta alteração
tem de ser dada pelo Ministro da Justiça e dos Direitos Humanos.

Documentos

- No caso de alteração do nome próprio, Requerimento dirigido ao Ministro da


Justiça com assinatura reconhecida pelo Notário;

- No caso de alteração do apelido, requerimento dirigido ao Conservador;

- Certidão Narrativa completa de Nascimento;

- Bilhete de Identidade (original e fotocópia);

- Certificado de Registo Criminal.

1.10.9. Processo de Divórcio


Processo especial que tem por finalidade pôr fim ao casamento regularmente
celebrado e registado, e fundamentado na deterioração, de forma completa e
irremediável, dos princípios que baseavam a sua união, e o casamento tenha
perdido sentido para os cônjuges. Para que este processo possa ser
organizado pela Conservatória, tem de haver acordo dos cônjuges.

Documentos

- Requerimento com assinatura reconhecida pelo Notário;

- Certidão passada pelo Tribunal, se tiver filhos menores;

- Certidão de Casamento;

- Certidão de Nascimento (dos cônjuges);

- Atestado de Residência (de um dos cônjuges);

- Bilhete de Identidade dos cônjuges (original e fotocópia).

27
CAPÍTULO II: ORGANIZAÇÃO DO REGISTO CIVIL E VÍCIOS NO
ORDENAMENTO JURÍDICO ANGOLANO, AVERBAMENTOS.

2.1. Organização do Registo Civil


A organização do registo civil encontra-se espalhado no Código do Registo
Civil, por onde encontraremos o objecto e o valor do registo civil, os órgãos de
registo civil e suas competências no que tange os registos, os seus livros,
arquivos, seus actos de registo, as suas modalidades por onde veremos que o
registo civil dos factos a ele sujeitos é lavrado por meio de assento ou de
averbamento.

2.2. Vícios do registo


Importa aqui realçar que os vícios do registo são:

 Inexistência jurídica do registo;


 Nulidade do registo;
 irregularidade;
 omissão do registo

2.2.1. Inexistência jurídica do registo


Inexistência jurídica do registo, cfr. art.º 110.º a 111.º do Código do Registo
Civil, fundamenta que, o registo é juridicamente inexistente nos seguintes
casos:

a) Quando respeitar a facto juridicamente inexistente e isso resultar do próprio


contexto;

b) Quando tiver sido assinado por quem não tenha competência funcional para
o fazer, se tal resultar do próprio contexto;

c) Quando não contiver a assinatura do funcionário, das partes ou testemunhas


que houverem de assiná-lo;

28
Quando, tratando-se de assento de casamento, não contiver a expressa
menção de os nubentes haverem manifestado a vontade de contrair
matrimónio.

O registo lavrado por averbamento ou no livro de extractos só é considerado


inexistente por falta da assinatura do funcionário se a falta não for sanável nos
termos do artigo 97.º do CRC.

A falta de assinatura das testemunhas não é causa da inexistência do registo,


se do contexto constar a sua intervenção ou, tratando-se de assento de
casamento, se a anulabilidade do acto celebrado, resultante da falta de
intervenção das testemunhas, tiver sido sanada.

A inexistência do registo pode ser invocada a todo o tempo por quem nela tiver
interesse, independentemente de declaração judicial, mas esta deve ser
promovida pelo funcionário logo que tiver conhecimento da inexistência.

2.2.2. Nulidade do registo


Nos termos do art.º 112.º do Código do Registo Civil, o registo é nulo nos
seguintes casos:

a) Quando for falso ou resultar da transcrição de título falso;

b) Quando os serviços de registo nacionais forem incompetentes para o lavrar;

c) Quando tiver sido assinado por quem não tenha competência funcional para
o fazer, se tal não resultar directamente do próprio contexto, sem prejuízo do
disposto no n.º 2 do artigo 369.º do Código Civil;

d) Quando, tratando-se da transcrição de casamento católico, tiver sido lavrado


com infracção do disposto nas alíneas d) e e) do n.º 1 do artigo 215.º.

A falsidade do registo só pode consistir numa das seguintes circunstâncias:

Em a assinatura das partes, testemunhas ou funcionário não ser da autoria da


pessoa a quem é atribuída;

b) Em ter sido viciado por forma a induzir em erro acerca do facto registado ou
da identidade das partes;

c) Em se apresentar como inscrição de um facto que nunca se verificou;

29
d) Em se apresentar como transcrição de um título inexistente.

A falsidade do título transcrito só pode consistir numa das seguintes


irregularidades:

Em a assinatura do seu autor, bem como a de algumas das partes ou


testemunhas, quando deva constar do título, não ser da autoria da pessoa a
quem é atribuída.

2.2.3. Irregularidade do registo


O registo que enferme de alguma irregularidade, deficiência ou inexactidão,
que o não torne juridicamente inexistente ou nulo, deve ser rectificado.

Se o registo houver sido lavrado por inscrição, será rectiFcado, por


averbamento, em virtude de decisão judicial, salvo se a rectificação se mostrar
necessária logo após a assinatura do registo; neste caso, será feita, em acto
contínuo, por meio de declaração lavrada pelo funcionário em seguimento do
registo, e assinada por ele e pelos demais intervenientes no acto. Vide art.º
117.º a 118.º do CRC.

Se a irregularidade, deficiência ou inexactidão se reportar apenas à indicação


de algum ou alguns dos elementos de identificação das pessoas a quem o
registo respeite, ou nele hajam sido mencionadas, a rectificação pode ser feita,
por averbamento, oficiosamente ou a requerimento dos interessados, mediante
autorização do director-geral dos Registos e do Notariado, desde que não
suscitem quaisquer dúvidas acerca da identidade dessas pessoas.

Quando o registo tiver sido lavrado por transcrição e a irregularidade,


deficiência ou inexactidão provier do título que lhe serviu de base, o funcionário
providenciará para que a entidade competente a faça corrigir, procedendo
depois nos termos do número anterior; se não for possível obter o título
correcto, o registo será rectificado mediante justificação judicial.

30
2.2.4. Omissão e perda do registo
Sempre que, no caso de, por qualquer circunstância, não haver sido lavrado
um registo e não ser possível o suprimento da omissão nos termos
especialmente previstos no código de registo civil, observar-se-á o seguinte:

a) Tratando-se de registo que deva ser lavrado por inscrição, o registo omitido
só será efectuado mediante decisão judicial passada em julgado;

b) Se o registo tiver de ser feito por transcrição, o funcionário requisitará à


entidade competente, logo que tiver conhecimento da omissão, o título
necessário para o lavrar;

c) Se, na hipótese anterior, também não houver sido lavrado o original, o


funcionário providenciará para que a entidade competente faça suprir a
omissão pelos meios próprios, em conformidade com as leis aplicáveis, e
remeta à conservatória o respectivo título;

d) Se não for possível obter o título destinado à transcrição, observar-se-á o


disposto na alínea a).

Os funcionários do registo civil, bem como os agentes do Ministério Público,


são obrigados, logo que tenham conhecimento da omissão, a promover as
diligências, por si ou por intermédio das entidades competentes, como no caso
couber.

O juiz deve deixar, na decisão que determine a realização do registo omitido,


os elementos que hão-de constar dele, tendo em vista os requisitos
estabelecidos neste código.

A indicação dos elementos que hão-de ser levados ao registo não pode ser
feita por simples remissão genérica para os que constem de qualquer
documento ou peça do processo. Do registo omitido apenas se farão constar
os elementos xados na sentença, sem necessidade de reproduzir os seus
fundamentos, cfr. Art.º 107.º a 109.º do CRC.

Em caso de perda, o registo será reconstituído por meio de reforma ou,


enquanto ela não estiver concluída, por efeito de decisão judicial proferida em
processo de justificação, que já tenha passado em julgado.

31
2.2.5. Averbamentos
Averbação é o acto de constar à margem de um assento (registro) um fato ou
referência que o altere ou o cancele. No plano do Registro Público, é utilizado
com frequência por profissionais que trabalham como registradores e notários.
Esses profissionais que prestam um serviço privado através de delegação do
poder público, irão averbar sentenças judiciais nos livros de registro que ficam
guardados sob os cuidados dos titulares em seus cartórios.

Os averbamentos são havidos como parte integrante do assento a que


respeitam.

Se um assento de registo civil não contiver todos os dados que deviam nele
figurar, poderá ser averbado.

O procedimento relativo ao averbamento de um assento de registo civil


apresenta limitações probatórias – nomeadamente, deve basear-se em
assentos de registo civil lavrados anteriormente (poderão ser também assentos
de registo civil lavrados em países distintos da Polónia ou de Angola, mas
nestes casos poderá ser necessária a legalização de documentos; mais
informação: Legalização de documentos oficiais) ou em outros documentos que
comprovem factos sujeitos ao registo civil.

Não é possível averbar um assento de registo civil com base em, por exemplo,
dados que figurem em documentos de identidade.

Na coluna à margem dos assentos são averbadas todas as alterações que


vierem a operar-se nos respectivos elementos. Cfr. artigo 86.º a 106.º do
Código do Registo Civil.

2.2.6. Averbamento de actos registados na própria conservatória


O averbamento de actos registados na própria conservatória dá-se quando o
acto que deve ser averbado conste de livro da própria conservatória, não são
necessárias certidões ou boletins para a realização do averbamento, bastando
que o funcionário, ao exará-lo, lance as necessárias cotas de referência, vide
art.º 104.º do CRC.

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2.2.7. Averbamentos aos assentos de nascimento
1. Ao assento de nascimento são especialmente averbados:

a) O casamento, sua dissolução, declaração de inexistência ou nulidade,


anulação e sanação in radice, bem como a separação judicial de pessoas e
bens ou a simples separação judicial de bens;

b) O reconhecimento voluntário ou judicial da maternidade ou paternidade e a


legitimação;

c) A adopção, a sua revogação, a revisão da respectiva sentença, e bem assim


a conversão da adopção restrita em adopção plena;

d) A inibição e a suspensão do poder paternal;

e) A interdição e a inabilitação, a tutela de menores ou interditos, a


administração de bens de menores, a curatela de inabilitados e a curadoria de
ausentes;

f) A emancipação e sua revogação;

g) A mudança de nome;

h) O óbito e a morte presumida, judicialmente declarada;

i) Em geral, todos os factos jurídicos que modifiquem os elementos de


identificação ou o estado civil do registado.

A perfilhação só é averbada ao assento de nascimento desde que haja o


assentimento do próprio perfilhado ou, sendo ele pré-defunto, dos seus
descendentes, quando esse assentimento for necessário à perfeição do acto.

A inibição ou suspensão do poder paternal, decretada pelo tribunal de


menores, é averbada ao assento de nascimento do inábil e dos filhos menores
a que respeite.

2.2.8. Averbamentos ao assento de casamento


1. Ao assento de casamento são especialmente averbados:

a) O casamento católico celebrado entre pessoas já casadas civilmente;

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b) A dissolução, inexistência, declaração de nulidade ou anulação do
casamento;

c) A morte presumida de qualquer dos cônjuges;

d) A sanação in radice do casamento católico nulo;

e) A separação dos cônjuges, em qualquer das suas modalidades;

f) As convenções antenupciais, com menção do regime de bens


convencionado;

g) As escrituras de alteração do regime de bens convencionado ou legalmente


Fixado, introduzida na constância do matrimónio.

A realização dos averbamentos a que se referem as alíneas a) e d) do número


anterior precederá sempre a dos averbamentos correspondentes, à margem
dos respectivos assentos de nascimento. Vide art.º 88.º do CRC.

2.2.9. Forma
Os averbamentos são lavrados segundo os modelos anexos a este código,
com referência aos assentos ou documentos que lhes serviram de base.

É permitido o uso de algarismos no texto dos averbamentos, desde que


correspondam à reprodução do número ou das datas constantes dos assentos
anteriores.

Os averbamentos são assinados pelo conservador, sob a sua


responsabilidade, por qualquer funcionário do quadro do pessoal auxiliar,
podendo usar-se uma assinatura abreviada.

Exceptuam-se os averbamentos que não tenham por base um assento ou o


correspondente boletim, os quais só podem ser assinados pelo conservador ou
pelo ajudante, quando investido nas funções de chefia.

Os averbamentos a que falte a assinatura devem ser assinados pelo


funcionário que notar a omissão, se verificar, em face dos assentos
correspondentes ou dos documentos arquivados, que o averbamento estava
em condições de ser efectuado; no averbamento será anotada a omissão e a
data em que foi suprida.

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2.2.10. Averbamento em conservatória distinta da que lavrou o
registo
Quando o livro de assentos em que deva realizar-se o averbamento se não
encontre em poder da conservatória em que foi lavrado o registo do facto a
averbar, esta enviará à conservatória ou entidade competente, dentro do prazo
de cinco dias, o boletim do modelo anexo a este diploma com as indicações
necessárias à realização do averbamento.

Se o registo for de óbito de indivíduo que faleceu no estado de casado, o


conservador que o tiver efectuado enviará o boletim à conservatória detentora
do assento de casamento, a esta competindo, por sua vez, comunicar o facto a
averbar, por meio de boletim análogo, à conservatória detentora do assento de
nascimento do falecido e do cônjuge sobrevivo.

Compete à Conservatória dos Registos Centrais dar cumprimento


relativamente ao averbamento dos factos que constituam objecto dos
duplicados de assentos consulares, e bem assim aos averbamentos que
devam ser lançados simultâneamente a estes duplicados e aos originais
correspondentes.

2.2.11. Formalidades posteriores


Efectuado o averbamento, a conservatória devolverá o talão anexo ao boletim
correspondente, depois de o ter preenchido.

A conservatória expedidora conservará, devidamente numeradas e ordenadas,


as matrizes dos boletins expedidos e nelas anotará a recepção dos respectivos
talões.

2.2.12. Dúvidas sobre o assento


Ao conservador que receber um boletim para averbamento, e não encontrar
nos livros o assento correspondente ou não conseguir identificá-lo com
suficiente segurança, incumbe comunicar o facto à conservatória expedidora,
por meio de ofício, para que esta promova as diligências necessárias ao
esclarecimento da omissão ou das dúvidas suscitadas.

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Se houver omissão do assento ou erro na feitura do registo, que obste à
realização do averbamento, deve o facto ser comunicado à Conservatória dos
Registos Centrais, para o efeito do disposto no n.º 2 do artigo 313.º.

2.2.13. Averbamento da sentença


A certidão da sentença proferida nas acções de estado será enviada pelo
escrivão do processo à conservatória competente, dentro de quarenta e oito
horas após o trânsito em julgado da decisão, para que sejam feitos os
averbamentos devidos. Cfr. artigo 101.º do CRC.

A certidão será de narrativa, e dela constará a indicação do tribunal e da


secção em que correu o processo, a identificação das partes, o objecto da
acção, e da reconvenção, se a houver, os fundamentos do pedido, e bem
assim a transcrição da parte dispositiva da sentença, além da data desta e da
menção de haver passado em julgado.

As decisões judiciais que decretem a inibição, a suspensão do poder paternal,


a adopção, a revisão da respectiva sentença, a conversão da adopção restrita
em adopção plena ou a sua revogação, a emancipação ou sua revogação, bem
como às decisões que hajam declarado a morte presumida de ausentes.

Das sentenças proferidas pelos tribunais estrangeiros, referidas nos n. os 1 e 2


do artigo 7.º, depois de revistas e confirmadas, serão enviadas à Conservatória
dos Registos Centrais, pelas secretarias judiciais das Relações, as respectivas
cópias e traduções, acompanhadas de certidão dos acórdãos que as
confirmem.

Os emolumentos devidos pelos registos correspondentes são contados no


próprio processo e entrarão em regra de custas.

2.2.14. Averbamentos omissos


Averbamentos omissos dá-se sempre que, por qualquer circunstância, tome
conhecimento da omissão de algum averbamento, independentemente da data
da vericação do facto que há-de ser averbado, o conservador deve suprir
ociosamente a omissão, solicitando a remessa dos boletins ou dos documentos
necessários ao averbamento. 2. Se o averbamento omisso tiver de ser
realizado noutra conservatória, a esta será comunicada a omissão, para que

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promova a realização do averbamento. 3. A realização dos averbamentos
devidos pode, a todo o tempo, ser requerida verbalmente por qualquer
interessado, mediante a apresentação do documento comprovativo do facto
que há-de ser averbado. Artigo 106.º Falta ou total preenchimento da coluna
destinada aos averbamentos Artigo 106.º Falta ou total preenchimento da
coluna destinada aos averbamentos.

Se os sucessivos averbamentos houverem preenchido a coluna a esse m


destinada, ou os livros de assentos a não possuírem, o conservador deve
proceder, ociosa e gratuitamente, à transcrição do assento, com todos os seus
averbamentos e cotas de referência, fazendo à margem da transcrição os
novos lançamentos.

O assento transcrito não é cancelado, mas à margem dele e da transcrição


devem ser exaradas as necessárias cotas de referência.

2.2.15. Conservatórias a que devem ser remetidas as certidões


A certidão das decisões proferidas nas acções a que se referem os n. os 1 e 3
do artigo anterior é remetida, conforme os casos, à conservatória detentora do
assento de casamento ou do assento de nascimento, ao qual a decisão tenha
de ser averbada.

A certidão da decisão que tenha de ser averbada a assentos de casamento e


de nascimento será remetida apenas à conservatória do assento de
casamento.

A certidão de decisões que decretem a inibição ou suspensão do poder


paternal deve ser remetida apenas à conservatória do assento de nascimento
do inibido.

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2.2.16. Retificação do conteúdo do assento de registo civil
Se um assento de registo civil contiver dados inconsistentes com os dados que
figuram na documentação arquivada no registo civil ou com outros assentos de
registo civil (desde que estes constatem uma ocorrência anterior e digam
respeito à mesma pessoa ou aos seus ascendentes), ou com documentos de
registo civil estrangeiro, estes serão suscetíveis de retificação.

À semelhança dos casos de averbamentos ao assento de registo civil, os casos


de retificação apresentam limitações probatórias – nomeadamente, devem
basear-se em assentos de registo civil lavrados anteriormente (poderão ser
também assentos de registo civil lavrados em países distintos da Polónia ou de
Angola mas nestes casos poderá ser necessária a legalização de documentos;
mais informação: Legalização de documentos oficiais) ou em outros
documentos que comprovem factos sujeitos ao registo civil.

Não é possível averbar um assento de registo civil com base em, por exemplo,
dados que figurem em documentos de identidade.

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CONCLUSÃO
Assim sendo, depois de analisado a questão do registo civil e seus actos bem
como a sua organização e vícios no ordenamento jurídico angolano,
concluímos que o registo civil é tido como o acto público que consiste no
assento efectuado por um oficial público e constantes de livros públicos, do
livre conhecimento, directo ou indirecto, por todos os interessados, no qual se
atestam factos jurídicos como: nascimento; filiação; adopção; casamento;
convenções antenupciais; óbito; e emancipação (já não existe em virtude da
maior idade atingir-se aos 18 anos) etc.

Nesta senda, o registo civil no nosso ordenamento jurídico apresenta também


alguns vícios dos quais destacamos a inexistência jurídica do registo, a
nulidade do registo, a irregularidade registo e a omissão do registo.

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RECOMENDAÇÕES
Da pesquisa feita, observamos que a ausência do pai ou da mãe biológicos é
um dos factores que condiciona a obtenção de assento de nascimento e cédula
pessoal, não podendo no nosso ordenamento jurídico um padrasto registar um
filho que não seja seu progenitor.

E como a ausência de um dos progenitores deve-se a várias causas: fuga à


paternidade, falecimento ou mudança de província (por trabalho ou por outra
razão), recomendamos aos pais a pararem com o fenómeno da fuga a
paternidade pois quem sofre com esse acto do pai ou da mãe é o filho que
pode ter dificuldade na constituição de um registo civil.

Estudar a possibilidade de mecanismos simplificados a serem aplicados em


determinadas situações, com o objectivo de quebrar o ciclo de famílias em que,
em três gerações (avós, pais e filhos) nenhum membro tem um registo civil
legítimo.

Melhorar o conteúdo da informação para os cidadãos sobre o registo civil e


divulgá-la amplamente.

Elaborar protocolos de trabalho para os funcionários do registo civil que


orientem e uniformizem os procedimentos para todas as situações.

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SUGESTÃO
Observamos uma certa morosidade naquilo que é a tramitação processual dos
actos de registo no país em particular na província do Uíge, tanto faz na
emissão de cédula pessoal, assento de nascimento, bem como na emissão do
Bilhete de Identidade bem como para a sua renovação, tudo porque alguns
desses serviços a título em causa a emissão do Bilhete de Identidade o
emissão tem sido local mais a sua produção está na dependência da base de
sistema, em Luanda, centralizando os serviços e causados graves prejuízos
aos cidadãos, visto que, o cidadão pode esperar até 5 meses para levantar o
seu registo (B.I).

Sugerimos o seguinte:

Que se crie condições tecnológica local afim de certos serviços sejam


descentralizados;

Que aumente-se o número de quadro humano afim de responder a demanda.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Legislação:
 Constituição da República de Angola;
 Código Civil Angolano;
 Código do Registo Civil;
 Código de Processo Civil;
 Código da Família – Lei nº 1/88, de 20 de Fevereiro.
Doutrina:
 Joaquim De Seabra Lopes, Direitos dos Registos e do Notariado, 3.ª
Edição, Almedina, 2005.
 Isabel Pereira Mendes, Estudos sobre Registo Predial, Almedina.
 A. Borges de Araújo, Prática Notarial, Almedina.
 Fernando Ferreirinha e Zulmira Neto da Silva, Direito Notarial, Almedina.
Outras fontes:
 http://www.servicos.minjusdh.gov.ao/outros-servicos-ao-
cidadao/37/registo-civil.
 "averbamento", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha],
2008-2021, https://¬dicionario.priberam.o¬rg/averbamento [consultado
em 05-12-2021].

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