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LFG

CARREIRAS JURÍDICAS
INTENSIVO I
Módulo I

PROCESSO PENAL
Nestor Távora

Livro CPP para concursos.pdf 1) estrutura – com o advento da


CRFB, a polícia judiciária passou a ser
nestor@nestortavora.com.br estruturada por delegados de carreira,
Material de Apoio - Processo Penal - ou seja, concursados, bacharéis em
Nestor Távora - Aula 01.pdf Direito e com tratamento protocolar
similar aos dos Juízes, Promotores,
Defensores e Advogados (art. 3º da Lei
n. 12.830/2013).
INQUÉRITO POLICIAL 2) atuação funcional – cabe à
polícia civil atuar como auxiliar do
Poder Judiciário, como seu braço
1. Considerações armado (prisões, cumprimento de
mandados etc.); e elaboração do
1.1. Enquadramento inquérito policial.
O Direito Processual Penal é
dinâmico. Sua função é oferecer os 2. Conceito e finalidade
instrumentos para o Estado. O DPP se Segundo Aury Lopes Jr. o
presta a disciplinar a persecução penal, inquérito é visto da seguinte forma:
que nada mais é do que a perseguição A) “... procedimento
do crime. Portanto, o Direito Penal administrativo preliminar ...”;
disciplina o inquérito policial e o B) “... de caráter informativo...”;
processo penal. C) “... presidido pela autoridade
policial...”
1.2. Papel da polícia no Brasil Conclusão: de acordo com o art.
CRFB, 144; Lei n. 12.830/2013. 2º da Lei 12.830/2013, cabe ao
Delegado de Polícia a presidência da
A) Polícia administrativa ou ostensiva investigação policial.
Ela tem o nítido papel de D) “... tendo por objetivo apurar a
prevenção e como principal paradigma a autoria, materialidade e as
atuação da Polícia Militar. Sua atividade circunstâncias da infração...”. Cf. § 1º
almeja a expectativa de evitar a prática do art. 2º da Lei n. 12.830/2013.
de qualquer prática delitiva (caráter Conclusão: constatar a
inibitório), desincentivando que alguém materialidade nada mais é do que a
se encoraje a delinquir. É a função constatação da existência da infração.
também da Polícia Rodoviária, Polícia Conclusão 2: se o crime deixar
Ferroviária e Polícia Marítima. vestígios, ele é chamado de não-
transeunte, ou intranseunte.
B) Polícia judiciária ou civil, seja na E) “... com prazo...”
esfera estadual ou federal
Observações:

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F) “... tendo por finalidade Cuidado! Lei 13.245/2016. A
contribuir na formação da opinião nova redação do inc. XXI do art. 7º do
delitiva do titular da ação” EAOAB (Lei n. 8906/94), proposta pela
Opinião delitiva é convencimento. novíssima Lei n. 13.245/2016, confere
Conclusão: percebe-se que o ao Advogado a prerrogativa de
inquérito servirá para convencer o assessorar o cliente na oitiva ou no
titular da ação quanto ao início, ou não, interrogatório de todo e qualquer
do processo. procedimento investigativo.
Conclusão 2: o inquérito servirá Conclusão: o obstáculo do acesso
ainda para fornecer lastro indiciário na do Advogado é fato gerador de nulidade
adoção de medidas cautelares ao longo absoluta, comprometendo os atos
da persecução penal. decorrentes do ato indiciário, por força
do princípio da consequencialidade.
2.1. Natureza jurídica do inquérito Conclusão 2: Crítica. Melhor seria
policial que o legislador modificasse o CPP,
Natureza jurídica é a essência do impondo a presença do advogado, ou a
instituto, i. é, o enquadramento do nomeação de um dativo, para
instituto no ordenamento. Enfim, qual acompanhar os atos investigativos que
sua classificação? demandam a presença do suspeito.
É um procedimento 2) exercício da defesa na
administrativo disciplinar de caráter investigação. Classificação:
preliminar de caráter informativo. Logo, a) exercício exógeno – exercido
as regras o “ato” administrativo lhe são fora dos autos da investigação, v. g.,
aplicáveis dentro da correspondente impetração de habeas corpus apontando
compatibilidade. o Delegado de polícia como autoridade
coatora, uma representação na
3. Características Corregedoria, ou pedido de
arbitramento de fiança frente à inércia
3.1. É um procedimento inquisitivo do Delegado de Polícia.
Procedimentos inquisitivos se b) exercício endógeno – aquele
caracterizam pela concentração de desenvolvido intra-autos, ao longo do
poder em autoridade única. Como procedimento investigativo. Exemplos:
desdobramento não temos partes, assim de acordo com a alínea “a”, XXI da Lei
como o contraditório e a ampla defesa n. 8906/94, o Advogado, ao
estão normalmente afastados. acompanhar o cliente durante a
Observações: investigação, poderá formular razões e
1) processualização dos quesitos.
procedimentos investigativos. Segundo 3) outros inquéritos poderão, por
Miguel Calmon, devemos aplicar o expressa disposição legal, comportar
princípio do devido processo legal e sua contraditório e ampla defesa. É o que
carga axiológica aos procedimentos ocorria no revogado inquérito judicial
investigativos. Com isso, teremos da antiga Lei de Falências, e é o que
contraditório e exercício da defesa na ocorre no inquérito desenvolvido nas
dosagem adequada para preservação dos hipóteses de expulsão do estrangeiro, cf.
direitos e garantias fundamentais. No Lei n. 6.815/1980, c/c Dec. n. 87715/81.
mesmo sentido, Fredie Didier Jr.,
tratando do inquérito civil público, 3.2. É um procedimento discricionário
assim como Aury Lopes Jr. e José i) conceito – o inquérito é
Eduardo Cardoso, tratando da conduzido com margem de
investigação criminal. conveniência e oportunidade, o que

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significa dizer que o delegado edificará Conclusão: a publicidade primária
a sua estratégia investigativa, diante da não é aplicável ao inquérito (CRFB, 93,
realidade do crime investigado. IX).
Observações: II) Classificação do sigilo
1) o inquérito policial não possui (pautada na obra de Luigi
rito. Ferrajoli/Fauzi Hassan)
2) Os requerimentos apresentados II. a) sigilo externo – é aquele
pela vítima ou pelo suspeito podem ser aplicado aos terceiros desinteressados,
indeferidos, se o delegado reputá-los notadamente à imprensa.
impertinentes. Cf. CPP, 14. Ressalve-se II. b) sigilo interno – é aquele
o exame de corpo de delito, quando o aplicável aos interessados (como o
crime deixar vestígios (cf. artigos 158 e Defensor Público e o Advogado). Ele
184 do CPP). não abrange o acesso aos autos,
Atenção! A alínea “b” do inc. garantindo-se o contato ao que já foi
XXI, do art. 7º do EAOAB, sofreu veto produzido e está documentado no
presidencial, pois dispunha que o inquérito (SV, 14, e EAOAB, 7º, XIV,
advogado poderia requisitar diligências NR Lei n. 13.215/2016).
ao delegado. Conclusões:
Atenção! Segundo Tourinho 1) o direito do Advogado ou do
Filho, a denegação da diligência desafia Defensor não abrange as diligências em
recurso administrativo endereçado ao curso ou a serem realizadas;
Chefe de Polícia, por analogia ao art. 5º, 2) o Advogado no cumprimento
§ 2º do CPP. da sua prerrogativa poderá promover
3) Atuação do MP e do Juiz. As apontamentos e fotocópias, materiais ou
requisições emanadas do MP ou do Juiz digitais. O direito de acesso independe
serão necessariamente cumpridas, por da apresentação de procuração; todavia,
imposição normativa, nos termos do art. decretado judicialmente o sigilo
13 inciso II do CPP. Ressalve-se a (segredo de Justiça), a procuração será
requisição manifestamente ilegal. necessária, mas o acesso é preservado
Diante desta irrealidade, na prova de (EAOAB, 7º, § 10).
Delegado de Polícia do Estado da BA, o Advertência. Denegação de
CESPE considerou que a requisição acesso. E se o Advogado ou o Defensor
poderia ser desatendida, sem enfatizar a Público forem boicotados? Se o acesso
manifesta ilegalidade. aos autos for denegado caberá mandado
4) os artigos 6º e 7º do CPP, assim de segurança, reclamação
como a Lei n. 12830/2013, art. 2º, de constitucional, habeas corpus
forma não exaustiva, apontam uma série “profilático” e, mais recentemente, o
de diligências que podem ou devem ser requerimento ao juiz por meio de uma
cumpridas pelo delegado, para melhor petição autônoma para que se confira o
aparelhar o inquérito. acesso (art. 7º, § 12, EAOAB).
Advertência. O boicote quanto ao
3.3. É procedimento sigiloso acesso caracteriza abuso de autoridade.
I) Conceito:
Segundo Norberto Avena, o Material de Apoio - Processo Penal -
inquérito é conduzido de forma sigilosa Nestor Tavora - Aula 02.pdf
em favor da eficiência investigativa, III) Foco na vítima.
cabendo ao Delegado velar pela A Lei n. 11.690/2008 inseriu a
preservação do sigilo (CPP, 20). decretação judicial do segredo de
Justiça da investigação, almejando a
tutela da vítima quanto aos seguintes

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bens jurídicos: intimidade, vida privada, CC e também dispositivos da legislação
família (CPP, 201, § 6º). extravagante.
Conclusões:
1) segundo Ada Pellegrini 3.7. É procedimento indisponível
Grinover, a previsão normativa I - conceito
caracteriza um nítido movimento de Em nenhuma hipótese o delegado
resgate e proteção do ofendido; de polícia poderá arquivar a
2) mais natural ainda, decretado o investigação, já que o inquérito não
segredo de Justiça, o advogado tolera desistência (CPP, 17).
continuará tendo acesso aos autos, Conclusão: toda investigação
pressupondo a apresentação de iniciada deve ser concluída e
procuração. encaminhada à autoridade competente.

3.4. É procedimento escrito 3.8. O inquérito é um procedimento


I - Conceito dispensável
Prevalece ao longo do inquérito a I – conceito
forma documental, como facilitador do Para que o processo criminal se
próprio acesso à investigação. Cf. CCP, inicie, não é necessária a prévia
9º. elaboração de inquérito policial.
Conclusão: os atos produzidos
oralmente serão reduzidos a termo. II. Inquéritos não policiais
II - Inovações II. a) Conceito
As novas ferramentas São aqueles presididos por
tecnológicas podem ser utilizados para autoridades distintas da polícia
documentar o inquérito, como a judiciária.
captação de som e imagem ou até II. b) Principais hipóteses
mesmo a estenotipia, que nada mais é a) inquérito parlamentar – é
do que uma técnica de resumo de aquele elaborado pela CPI.
palavras por símbolos. Cf. CPP, 405, § Conclusão: tal inquérito será
1º encaminhado ao Ministério Público, que
Conclusão: segundo Eugênio deverá analisá-lo em caráter de urgência
Pacelli, tais ferramentas imprimirão (Lei n. 10.001/2000, art. 3º).
maior fidedignidade na documentação b) inquérito militar – os delegados
da investigação. não elaborarão inquérito para apurar as
infrações militares.
3.5. O inquérito é procedimento Conclusões:
unidirecional 1) CPM, 9º e 10;
I – Conceito 2) o inquérito militar será
O inquérito contribuirá na presidido por um oficial da respectiva
formação da opinião delitiva, sendo instituição militar.
direcionado ao titular da ação penal. c) inquérito para investigar
Advertência. O inquérito será membros do Ministério Público.
relatado de forma descritiva, e não Conclusões:
opinativa. 1) os delegados de polícia não
poderão indiciar ou conduzir
3.6. É procedimento temporário procedimento investigativo quando o
I - Conceito suspeito é membro do Ministério
O inquérito é dosado Público (LC n.75/93, art. 18, p. ú., c/c
temporalmente, por força do art. 10 do Lei n. 8625/93, art. 41, p. ú.);

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2) a condução da investigação esta correspondente Casa Legislativa
a cargo da Procuradoria Geral ou de sua engloba a apuração das infrações
assessoria direta; ocorridas nas suas dependências.
3) almeja-se evitar que o Poder g) inquérito ministerial ou PIC
Executivo e o seu aparato policial (procedimento investigativo criminal)
intimide o Ministério Público. g.1) Segundo o STF, RE 593727,
d) inquérito para investigar p. no Inf. 785; segundo o STJ; e de
membros da Magistratura. Conclusões: acordo com a doutrina majoritária (por
1) os delegados de polícia não todos, citando-se Hugo Nigro Mazilli),
poderão indiciar ou conduzir a o MP poderá presidir investigação
investigação quando o suspeito é um criminal, que conviverá
magistrado (LC n. 35/1979, art. 33); harmonicamente com o inquérito
2) a investigação será conduzida policial.
pelo correspondente Tribunal. Obs. 1: embasamento normativo –
3) almeja-se preservar a o STF se valeu da teoria dos poderes
Magistratura quanto à pressões implícitos pois a CRFB expressamente
emanadas do Poder Executivo e do seu conferiu ao MP o poder-dever de
aparato policial. exercer a ação pública (CRFB, 129, I) e
e) demais autoridades com foro implicitamente todas as ferramentas
por prerrogativa funcional para exercer o seu papel, afinal, quem
e.1) primeiro momento - nos idos pode o mais pode o menos. Cf. HC
de 2003, o STF entendia que de 91661.
inquérito e o indiciamento da autoridade Advertências:
dispensava prévia autorização. Caberia 1) A teoria dos poderes implícitos
ao Delegado, dentro do lapso temporal tem origem no caso Mc Cullooc vs.
previsto em lei, submeter o inquérito Maryland de 1819 nos EUA.
relatado ao Tribunal onde a autoridade 2) Vale lembrar que o CNMP
usufrui da prerrogativa de função (STF, editou a resolução n. 13 para
INQ 2411); regulamentar a atividade investigativa
e.2) segundo momento – mais do MP, sendo de duvidosa
recentemente, o STF mudou de posição, constitucionalidade
exigindo a prévia autorização do Observações:
Tribunal competente para que a 1) STJ, 234 e jurisprudência do
autoridade seja investigada ou STF, o promotor que investiga não é
indiciada. Promovida a autorização, suspeito ou impedido para atuar na fase
subsistem as seguintes posições quanto processual;
à atribuição para presidi-la. Vejamos: 2) Para Luiz Flávio Borges
1ª posição: Paulo Rangel, D’Urso, o MP deve se afastar da
prestigiando o sistema acusatório, a atividade investigativa, pelos seguintes
investigação deverá ser conduzida pela argumentos. Tal atividade representaria
correspondente Procuradoria Geral do uma intolerável aglutinação de funções,
MP; comprometendo o caráter cognitivo e
2ª posição: tem prevalecido o comportamental da autoridade. Além
entendimento de que a condução da disso, ainda hoje não há lei federal
investigação será promovida pela disciplinando a matéria.
polícia judiciária, com
acompanhamento do Tribunal 4. Valor probatório do inquérito
competente; ELEMENTOS ELEMENTOS DE
f) polícia legislativa – segundo a INDICIÁRIOS PROVAS
Segundo Fauzi Já os elementos de
STF, 397, o poder de polícia da
Hassan, os elementos prova são aqueles

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de investigação, ou normalmente colhidos nascedouro com a atuação das futuras
indiciários são perante o juiz partes do processo, assim como com o
colhidos de forma competente (princípio
inquisitiva, servindo da imediatidade), com
contraditório e com o exercício da
de base para a adoção respeito ao defesa (art. 225 do CPP).
de medidas cautelares contraditório e à
ou para propositura da ampla defesa, 5. Vícios ou as irregularidades do
inicial acusatória. podendo lastrear uma inquérito
futura condenação.
5.1. Conceito
4.1. Conceito São os defeitos originados do
Segundo Tourinho Filho, o descumprimento da Lei, ou da
inquérito tem valor probatório relativo, principiologia constitucional.
pois serve de base para adoção de Observação. Existência de
medidas cautelares e para lastrear a nulidades na fase investigativa: 1ª
inicial acusatória, mas não servirá posição) de acordo com Ada Pellegrini,
sozinho para sustentar uma futura o sistema de nulidades é idealizado para
condenação (art. 155 do CPP). fase processual, desencadeando uma
sanção judicialmente imposta; 2ª
4.2. Elementos de migração posição) para Paulo Rangel, os
São aqueles prospectados na fase requisitos do ato jurídico perfeito, são
investigativa, e transportados ao aplicáveis ao inquérito, estendendo-se
processo, servindo de base para a futura os sistema de nulidades para a fase
sentença. investigativa. Tal conclusão foi
I – Conceito ratificada pelo EAOAB, art. 7º, XXI.
CPP, 155.
II – Hipóteses 5.2. Consequências
II. a) provas irrepetíveis – são Segundo Amilton Bueno de
aquelas de fácil perecimento e que Carvalho, os vícios do inquérito
dificilmente podem ser refeitas na fase contaminam o processo, pois destituem
processual. Exemplo: bafômetro o Juiz da necessária imparcialidade para
(perícia); laudo de constatação de julgar a causa. Posição minoritária.
violência sexual. Advertência: para ele, os autos do
Advertência! As provas inquérito devem ser fisicamente
irrepetíveis normalmente são desentranhados, evitando a
autorizadas pela própria autoridade contaminação do Juiz.
policial. Segundo o STF e STJ, os vícios
II. b) provas cautelares – são do inquérito não contaminam o
aquelas embasadas pelo binômio processo, já que o inquérito é
necessidade e urgência. Exemplo: meramente dispensável.
interceptação telefônica. Observações:
As provas cautelares normalmente 1) “os vícios do inquérito são
serão autorizadas pelo juiz competente. endoprocedimentais” é uma afirmação
Conclusão: quanto às provas correta (pegadinha por conta da
irrepetíveis e cautelares, ao migrarem redação);
para o processo, serão submetidas a 2) se a contaminação retirar
contraditório e à ampla defesa diferidos integralmente o lastro indiciário de
ou postergados no tempo. sustentação da inicial, ela estará
II. c) incidente de produção desprovida de justa causa, devendo ser
antecipada de provas – mesmo durante rejeitada (CPP, 395, I). Logo, eventual
o inquérito, o incidente é instaurado
perante o juiz, contando no seu
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processo deflagrado é manifestamente durante o estado de defesa, de forma
nulo. que o art. 21 do CPP não foi
3) Segundo parte da doutrina os recepcionado. Em última análise,
elementos viciados do inquérito que operou-se uma revogação tácita.
sejam diretamente a produção de provas Conclusão: tal posição é
na fase processual, dão ensejo a uma amplamente majoritária.
contaminação em cadeia, aplicando-se a
teoria dos frutos da árvore envenenada 6.4. Questões complementares
(§ 1º do art. 157 do CPP). Advertência: a) A Lei n. 10792/2003 inseriu o
tal posição não tem ressonância nos RDD (regime disciplinar diferenciado)
Tribunais Superiores. nos artigos 52 e seguintes da Lei de
Já para Gustavo Badaró, como Execução Penal (“LEP”). Ainda assim,
regra, os vícios do inquérito não não haverá incomunicabilidade.
contaminam o processo. Entretanto, ao Conclusão: os presos em RDD se
atingirem elementos migratórios submetem ao prévio agendamento de
valorados na sentença, resta concluir visitas.
que ela é nula de pleno direito. b) posição contrária. Segundo
Vicente Greco Filho, em posição
Material de Apoio - Direito Processual minoritária, deveremos interpretar
Penal - Nestor Távora - Aula 03.pdf restritivamente o art. 136 da CRFB, de
6. Incomunicabilidade forma que a incomunicabilidade
pautada no art. 21 do CPP continua
6.1. Conceito aplicável.
Era a possibilidade do preso no c) Durante o Estado de Sítio, cf.
inquérito não ter contato com terceiros, art. 137 e seguintes da CRFB,
em favor da eficiência investigativa. eventualmente pode ser estabelecida
Nosso código, forjado em plena incomunicabilidade.
vigência da Ditadura Vargas, previa a
incomunicabilidade, mas apenas por 7. Atribuição (“competência”)
ordem judicial e por no máximo 3 (três)
dias, além do que o preso 7.1. Conceito
incomunicável continuaria tendo acesso É a margem de atuação de
ao seu advogado. determinada autoridade, definindo a
Atualmente, a situação mais grave abrangência da atividade funcional.
é o estado de defesa e, mesmo nela,
ninguém pode ficar incomunicável. Se 7.2. Critérios
em período de exceção não há a) critério territorial -
incomunicabilidade, a doutrina observações:
majoritária entende que não há mais 1) pelo critério territorial, a
incomunicabilidade no Brasil. atribuição é definida pela circunscrição
da consumação do delito.
6.2. Requisitos 2) circunscrição nada mais é do
a) Ordem judicial motivada; que a delimitação territorial da atuação
b) prazo máximo de 3 (três) dias; do delegado;
c) garantia de acesso do 3) se numa mesma comarca temos
Advogado. mais de uma circunscrição, estão
dispensadas as precatórias entre
6.3. Filtro constitucional delegados (CPP, 22);
Atualmente, o art. 136, § 3º, IV da b) critério material – observações:
CRFB, inadmite a incomunicabilidade

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1) por ele, teremos delegacias 8. Prazo
especializadas no combate a um
determinado tipo de delito. Exemplo: 8.1. Regra geral
delegacia de homicídios; a) Delegado Estadual –
2) art. 144 da CRFB delineou a a.1) suspeito preso – prazo de 10
atribuição da polícia judiciária federal e (dez) dias improrrogáveis. Se o
da polícia dos Estados. Advertência: de inquérito não tiver ainda finalizado,
acordo com o § 1º inciso I desse art. então fará o mesmo concluso à
144, a Polícia Federal poderá investigar autoridade competente na forma como
crimes estaduais, que exigem apuração está.
uniforme, por sua repercussão, a.2) suspeito solto – prazo de 30
interestadual ou internacional. A (trinta) dias, prorrogáveis. O CPP
atuação da Polícia Federal não afastará apenas dispõe que a prorrogação
a atividade da polícia dos Estados. depende de autorização judicial pelo
O Art. 1º da Lei n. 10.466/2002 tempo e pelas vezes necessárias,
não exauriu a matéria, de forma que o pressupondo a correspondente
Ministro da Justiça poderá autorizar a provocação. Cf. art. 10, § 3º do CPP.
intervenção da PF em outras hipóteses, Segundo a doutrina majoritária,
que exijam apuração uniforme por sua em que pese a omissão do CPP, o MP
repercussão interestadual ou deve ser ouvido, prestigiando o sistema
internacional. acusatório.
b) Delegado Federal –
c) critério pessoal – critério b.1) suspeito preso – 15 (quinze)
adotado por Luiz Flávio Gomes, a dias, prorrogáveis uma vez por mais
atribuição também pode ser definida em quinze dias. Depende de deliberação
virtude de quem seja a vítima: mulher, judicial, ouvido o MP, em que pese
idoso, minorias, turista, consumidor. A omissão da Lei.
crítica é que se trata do próprio critério b.2) suspeito solto – o mesmo
material. Exemplo: delegacia da mulher. prazo do Delegado Estadual.

7.3. Questões complementares 8.2. Regras especiais


a) o descumprimento das regras a) Crimes contra a economia
de fixação da atribuição caracteriza popular – o Delegado dispõe de 10
mera irregularidade, não obstando a (dez) dias para concluir a investigação,
utilização do inquérito para o sendo indiferente se o suspeito está
oferecimento da denúncia. Todavia, a preso ou solto. Como não há previsão
Defensoria Pública poderá impetrar de prorrogação, concluímos que o prazo
habeas corpus para trancar a é improrrogável;
investigação presidida por autoridade b) tráfico de drogas:
desprovida de atribuição. b.1) suspeito preso – 30 (trinta)
b) avocatória. O Chefe de Polícia dias, prorrogáveis por mais trinta. A lei
poderá avocar a investigação e usa a expressão “duplicável”;
redistribuí-la a outro delegado, se o b.2) suspeito solto – 90 (noventa)
interesse público recomendar, ou se as dias, prorrogáveis uma vez por mais
regras procedimentais da investigação noventa. Noventa dias duplicáveis.
forem desatendidas. Cf. art. 2ª, §§ 4º e A prorrogação na Lei de Drogas
5º da Lei n. 12830/2013. demanda deliberação do Juiz, exigindo-
Atenção! Não falamos no Brasil se expressamente a oitiva do MP (art.
em princípio do Delegado Natural. 51, p. ú. da Lei n. 11.343/2006).

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c) investigação militar Segundo Aury Lopes Jr., indiciar
c.1) suspeito preso – 20 (vinte) significa convergir a investigação em
dias; face de determinada pessoa, saindo de
c.2.) militar solto – 40 (quarenta) um juízo de possibilidade para outro,
dias, prorrogáveis por mais 20 (vinte) mais robusto, de probabilidade.
dias: cf. CPPM, 20, caput e § 1º.
9.2. Legitimidade
8.3. Forma de contagem Caberá ao Delegado,
a) suspeito solto – é pacífico o privativamente, promover o
entendimento de que o prazo é de indiciamento no inquérito policial, não
natureza processual, de forma que o se submetendo a requisições emanadas
primeiro dia será excluído e o último da magistratura ou do Ministério
será computado (cf. CPP, 798). Público.
Advertência: segundo Fernando Cf. art. 2º, § 6º da Lei n.
Capez, como as delegacias funcionam 12830/2013.
em sistema de plantão, não há
necessidade de prorrogação para o 9.3. Momento
primeiro dia útil subsequente, quando o Não há previsão na Lei. Segundo
prazo se encerrar em final de semana ou a doutrina, o indiciamento deve ocorrer
feriado. assim que possível, normalmente após a
b) suspeito preso – parte da oitiva do suspeito.
doutrina entende que o prazo deve ser É importante consignar que, se o
contado conforme o CP, 10. Nesta agente está preso, ou submetido a
hipótese teremos as seguinte posições: medida cautelar não prisional, presume-
b.1) segundo Aury Lopes Jr., o se que esteja indiciado.
prazo é contado de acordo com o art. 10 Aquele que já é réu em processo
do CP, de forma que o primeiro dia é criminal não será indiciado
incluído, e o último será descartado. retroativamente pelo fato objeto da
b.2) para Mirabete e Denilson demanda. Todavia, descobrindo-se um
Feitosa, o prazo é contado nos termos outro fato criminoso, admite-se a
do art. 798 do CPP (posição majoritária) instauração incidental de investigação e
o indiciamento por este outro
8. 4. Compensação de prazo acontecimento.
Se o Delegado de Polícia Percebe-se que assim como o
extrapolar o prazo para conclusão do inquérito é dispensável, o indiciamento
inquérito com suspeito preso, é também o será.
amplamente admissível que MP
compense o excesso no oferecimento da 9.4. Requisitos
denúncia, evitando a alegação de O ato de indiciar exige despacho
constrangimento ilegal por excesso de motivado da autoridade policial em
prazo. análise técnico-jurídica enfatizando os
indícios de autoria, da materialidade, e
8.5. Influência da prisão temporária das circunstâncias da infração (art. 2º, §
Decretada a prisão temporária, o 6º da Lei n. 12830/2013).
seu prazo passa a interferir no tempo de
conclusão do inquérito policial. 9.5. Classificação
a) indiciamento direto – é aquele
9. Indiciamento promovido na presença do suspeito;
b) indireto – é aquele realizado
9.1. Conceito quando o suspeito não está presente;

9
delegado não tem atribuição para
9.6. Afastamento do funcionário público arquivar o inquérito (CPP, 17).
De acordo com o art. 17-D da Lei
n. 9.613/98, o indiciamento do 9.9.2. Classificação
funcionário público que se vale das a) voluntário – aquele promovido
funções para lavar dinheiro, ocasionaria pela própria autoridade policial;
o afastamento das suas atividades. É b) coacto – é aquele fruto da
importante frisar que o art. 319, inc. VI procedência de um habeas corpus
do CPP, trata do afastamento das impetrado com a finalidade de trancar a
funções como medida cautelar não investigação (“HC trancativo”).
prisional, submetida à cláusula de
reserva jurisdicional. 10. Procedimento
Percebe-se que o afastamento não
é um efeito automático do indiciamento. 10. 1. 1ª Etapa
Início. É deflagrado por meio de
9.7. “Menor” portaria.
O CPP foi moldado sob a égide do I) Conceito
CC/1916, considerando os maiores de É a peça escrita que demarca o
18 anos e menores de 21 como início da investigação policial.
“menores”, exigindo a nomeação de Observação: algumas peças já
curador. funcionam como portaria, dispensando
Atualmente, o art. 15 do CPP está o delegado de baixar uma nova peça. É
tacitamente revogado, já que o art. 5º do o que ocorre, por exemplo, com a
CC/2002 considera os maiores de 18 lavratura do auto de flagrante.
anos como absolutamente capazes.
A figura do curador subsiste para II) Conteúdo
os inimputáveis por doença mental. O fato a ser investigado; sujeitos
envolvidos; as diligências que serão
9.8. Limitações imediatamente cumpridas e um
Os membros do MP não serão desfecho: determinação de instauração o
indiciados pela polícia judiciária (art. inquérito policial.
41, II, Lei n. 8625/93).
Os magistrados não serão
indiciados pela Polícia Judiciária (art. Observação: notícia crime
33, p. ú., LC n. 35/79). a) Conceito – é a comunicação da
As demais autoridades com foro ocorrência de uma infração à autoridade
por prerrogativa funcional só serão com atribuição para atuar.
investigadas ou indiciadas com prévia b) legitimidade
autorização do Tribunal competente b.1) destinatários:
(STF, INQ 2411). b.1.1) delegado
b.1.2) Ministério Público
9.9. Desindiciamento Observações:
1) postura do MP: i) requisitar a
9.9.1. Conceito instauração do inquérito (art. 5º, II do
Significa a reversão da situação CPP); ii) instaurar o PIC (procedimento
do indiciado, com o reapontamento da investigativo criminal); iii) requerer o
investigação. arquivamento da correspondente peça
Vale lembrar que o de informação; iv) oferecer denúncia,
desindiciamento não caracteriza a dispensando a instauração de inquérito,
desistência da investigação, pois o se com a noticia crime já é apresentada

10
a necessária justa causa (lastro doutrina, nos crimes de ação pública, a
indiciário mínimo). Conclusão: o MP vítima poderá provocar diretamente o
dispõe de 15 dias para o oferecimento MP, ao invés de optar pelo recurso
da denúncia, contados a partir da administrativo; iv) nos crimes de ação
correspondente provocação (CPP, 46). privada e, nos crimes de ação pública
b.1.3) magistrado condicionada, a instauração do inquérito
Observação: pressupõe a manifestação de vontade do
1) postura do magistrado: i) legítimo interessado (CPP, 5º, §§ 4º e
requisitar a instauração do inquérito 5º). Conclusão se o inquérito foi
(CPP, 5º, II); ii) segundo Rômulo instaurado à revelia da vítima, ela
Moreira, prestigiando o sistema poderá impetrar mandado de segurança
acusatório, é mais adequado que o juiz para trancá-lo.
abra vistas ao MP, para que delibere II) a notícia crime apresentada
quanto ao melhor a ser feito; pelo Juiz ou pelo MP é feita por meio
de uma requisição (CPP, art. 5º, II).
b.2) legitimidade ativa Conclusões:
(classificação) i) de acordo com a doutrina
b.2.1) notícia direta (cognição majoritária, a requisição é uma
imediata) – aquela atribuída à atuação determinação para instauração do
das forças policiais ou da imprensa. inquérito e somente será desatendida
Observações: 1) nos crimes de nas hipóteses de manifesta ilegalidade;
ação pública incondicionada, o ii) diante da requisição, iremos
inquérito será instaurado de ofício, indicar como autoridade coatora para
independente da manifestação de impetrarmos o HC, o juiz ou o membro
vontade de terceiros (CPP, 5º, I); 2) do MP que requisitaram a instauração.
notícia apócrifa ou inqualificada –
caracteriza o que nos habituamos a II) qualquer pessoa do povo,
chamar de notícia anônima. Para os denominada “delação”, que não se
tribunais superiores, e para a doutrina confunde com delação premiada.
majoritária (Scarance Fernandes), deve Conclusão: CPP, 5º, § 3º Ela é possível
o Delegado aferir a plausibilidade e nos crimes de ação pública
verossimilhança, para só então instaurar incondicionada, que são aqueles onde o
formalmente o inquérito. Conclusão: inquérito deve ser instaurado de ofício
logo, a notícia anônima não autoriza a (CPP, 5º, I).
imediata instauração de inquérito (STF, Observações:
HC 97197, Inf. 565); 1) delatio criminis postulatória é
b.2.2) notícia indireta (ou de sinônimo da representação, típica dos
cognição mediata) – é aquela prestada crimes de ação penal pública
por pessoa estranha à polícia, mas condicionada;
devidamente identificada. 2) delatio criminis com força
Observação. Hipóteses: coercitiva é a noticia crime extraída da
I) vítima ou seu representante prisão em flagrante, podendo ser direta
legal, através de um requerimento. ou indireta, a depender do responsável
Advertência: i) havendo negativa pela captura (art. 301 do CPP).
na instauração do inquérito, caberá
recurso administrativo endereçado ao Material de Apoio - Direito Processual
chefe de polícia (CPP, art. 5º, § 2º); ii) o Penal - Nestor Távora - Aula 04.pdf
delegado não poderá invocar a 10.2. 2ª Etapa: evolução
discricionariedade para deixar de
instaurar o inquérito; iii) segundo a

11
O inquérito vai avançar por meio B.2) Evolução normativa
do cumprimento de diligências, B.2.1) 1º momento, antes da
promovidas de forma discricionária. CRFB/88 – o STF, regulamentava a
Observação: os artigos 6º e 7º do matéria por meio do enunciado 568 de
CPP, de forma não exaustiva, indicam sua súmula, de forma que a
uma série de diligências, destacando-se identificação criminal era a regra, não
as seguintes: representando constrangimento ilegal.
A) reprodução simulada dos fatos B.2.2) 2º momento, após a
(reconstituição do crime, CPP, 7º) CRFB/88 – o art. 5º, inc. LVII da
A.1) Conceito – é a diligência CRFB, passou a regulamentar a matéria,
normalmente autorizada pelo Delegado de forma que a identificação criminal é
de Polícia que almeja esclarecer em que exceção, pautada na disciplina proposta
circunstâncias o delito foi praticado. pela lei ordinária.Conclusões: 1) a
Advertência: nada impede que o juiz súmula 568 do STF foi cancelada, de
autorize a diligência ao longo da forma que a identificação criminal é
instrução processual vista como medida excepcional; 2)
A.2.) Restrições. Não haverá atualmente, o civilmente identificado só
reconstituição ofensiva à moralidade será identificado criminalmente nas
(ex.: reconstituir um estupro) ou a estritas hipóteses legais.
ordem pública (=paz social). Advertência: tratamento
A.3) Filtro constitucional. É infraconstitucional:
consenso que o suspeito não é obrigado I) art. 109 do ECA;
a participar, pois não poderá ser II) art. 5º, p. ú., da Lei n. 9034/95
constrangido a se autoincriminar. observações: 1) para o STJ tal
Conclusões: 1) a CRFB, art. 5º, dispositivo foi tacitamente revogado
LXIII, consagra o direito ao silêncio, ao pelo art. 3º da Lei 10.054/2000, que
passo que a Convenção Americana de tratou especificamente da identificação
Direitos Humanos, art. 8º, II, “g” criminal (RHC 12695); 2) atualmente, a
consagra a não autoincriminação; 2) matéria está pacificada, pois a nova Lei
quanto à obrigatoriedade de comparecer sobre o crime organizado (Lei
ao ato, subsistem as seguintes posições: 12850/2013) nada fala sobre a
1º) segundo Aury Lopes Jr., o identificação criminal, de maneira que
comparecimento é facultativo, por força os membros de facção criminosa só
do direito ao silêncio; 2º) para doutrina serão identificados criminalmente nas
majoritária, o comparecimento é estritas hipóteses disciplinadas na atual
impositivo, sob pena de condução lei de identificação criminal (lei n.
coercitiva. 12037/2009)
III) Lei n. 12037/2009 (atual lei
B) Identificação criminal de identificação criminal) recebeu uma
B.1) Conceito reforma – Lei n. 12654/2012, com a
Ela se caracteriza pela colheita de introdução da realização da
elementos que individualizam a pessoa, identificação criminal com a colheita de
para diferenciá-la das demais. material biológico para que se realize o
Conclusão: atualmente a exame DNA, desde que seja
identificação é integrada pela fotografia imprescindível para a investigação
de frente e de perfil, pelas impressões policial.
digitais, e havendo imprescindibilidade Conclusões:
para investigação, pela colheita de 1) cabe ao juiz deliberar pela
material biológico para realização do colheita do material biológico, diante da
DNA (art. 5º-A, da Lei 12654/2012). aferição quanto à imprescindibilidade

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para investigação (art. 5º, p. ú., da Lei Obs.2: não poderemos confundir a
12037/2009); descritividade com uma
2) quanto à compulsoriedade na pseudoneutralidade do relatório, que
colheita do material biológico para revelaria uma peça sem nenhuma
realização do DNA, poderemos fazer as análise valorativa, o que na prática não
seguintes constatações: i) a colheita por existe.
descarte é amplamente aceita, como Obs.3: segundo LFG, a
acontece a título de exemplo, com a descritividade do relatório é mitigada na
bituca de cigarro; ii) a polícia judiciária Lei de Drogas, pois o delegado deve
tem disciplinado, por meio de indicar as razões do enquadramento no
resolução, a atividade diligencial para tráfico e não no mero porte para uso
prospecção do material biológico, (art. 52, I da Lei n. 11343.2006).
utilizando até mesmo a busca e
apreensão; iii) para Auri Lopes Jr., a 10.4. Desdobramento procedimental
L12654/2012 deu ao juiz poder para A) autos do inquérito policial com
determinar a colheita do material relatório;
biológico. Deveremos, contudo, aferir a B) remessa ao Juiz (CPP, 23)
constitucionalidade da medida, diante Obs.: central de inquérito. É o
do direito à não autoincriminação, e do órgão do MP instituído para receber o
direito ao silêncio. Advertências: 1) o inquérito e distribuí-lo entre os
art. 8º, II, g da CADH (Pacto de São membros da instituição.
José da Costa Rica), disciplina o direito Conclusões: 1) almejava-se
à não autoincriminação; 2) eliminar a remessa ao juiz, prestigiando
aguardaremos a manifestação do STF o sistema acusatório; 2) por força da
sobre o tema, já que em países como a redação do art. 23 do CPP, a central não
Alemanha, a compulsoriedade é uma surtiu o efeito almejado em diversos
realidade; 3) até o momento, prevalece Estados.
o entendimento de que o agente não Obs.2: tecnicamente, é pacífico o
pode se negar a identificação criminal. entendimento de que o destinatário do
Entretanto, o posicionamento ainda não inquérito é o titular da ação (MP ou
envolvia o DNA; 4) o resultado da querelante);
análise do patrimônio genético será
preservado em um banco sigiloso, não Material de Apoio - Direito Processual
se submetendo a manipulação (art. 7º-B Penal - Nestor Tavora - Aula 5 (01
da L12037/2009). Online).pdf
Material de Apoio Completo - Processo
10.3. 3º etapa: encerramento Penal - Nestor Tavora - aula 5 (1 on
Relatório. line).pdf
I) Conceito Obs.3: órgão de identificação e
É a peça eminentemente estatística. Conclusão: paralelamente à
descritiva, que apontará as diligências remessa dos autos ao Juiz, cabe ao
realizadas e, eventualmente, justificará delegado promover ofício ao órgão de
as que não foram feitas, por algum identificação e estatística, que
motivo substancial. acompanhará as estatísticas criminais,
Obs.: percebe-se o caráter assim como elaborará o boletim
unidirecional do inquérito, sendo individual, que aglutina o histórico de
destinado ao titular da ação, que é o investigações do agente, mas não
detentor da opinião delitiva (cf. art. 10, constará de eventual certidão de
§ 1º e 2º do CPP). antecedentes (CPP, 20, p. ú, c/c, 23):
“Art. 20. A autoridade assegurará
no inquérito o sigilo necessário à

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elucidação do fato ou exigido pelo dependerá, quando a lei o exigir, de
interesse da sociedade. requisição do Ministro da Justiça, ou de
Parágrafo único. Nos atestados representação do ofendido ou de quem
de antecedentes que lhe forem tiver qualidade para representá-lo.
solicitados, a autoridade policial não (...)”
poderá mencionar quaisquer anotações C.2.2) O promotor pode atestar
referentes a instauração de inquérito que não estão presentes indícios de
contra os requerentes.
(...)
autoria, ou da materialidade, ou das
Art. 23. Ao fazer a remessa dos circunstâncias da infração. Entretanto,
autos do inquérito ao juiz competente, a havendo esperança de que tais
autoridade policial oficiará ao Instituto elementos sejam rapidamente colhidos,
de Identificação e Estatística, ou cabe ao membro do MP, requisitar
repartição congênere, mencionando o
juízo a que tiverem sido distribuídos, e
novas diligências, imprescindíveis ao
os dados relativos à infração penal e à início do processo.
pessoa do indiciado.” “Art. 16. O Ministério Público
Obs. 4: esfera federal. O inquérito não poderá requerer a devolução do
inquérito à autoridade policial, senão
será remetido à Vara Federal para efeito para novas diligências, imprescindíveis
de alimentação sistêmica. Na sequência, ao oferecimento da denúncia.”
ele seguirá à Procuradoria da República, Observações:
independente de despacho do Juiz. 1) a requisição de novas
diligências é incompatível com a
C) cabe ao Juiz abrir vistas ao decretação ou com a manutenção da
MP. prisão cautelar, por força da ausência
C.1) crimes de iniciativa privada de justa causa;
Conclusões: 2) o magistrado não deve indeferir
1) cabe ao membro do MP opinar a remessa da requisição ao
pela permanência dos autos do inquérito departamento de polícia. Se ele o fizer,
na vara criminal, aguardando a estará tumultuando a evolução do
iniciativa do Advogado da vítima; procedimento, em ato que desafia
2) nada impede que o advogado correição parcial.
da vítima obtenha traslado dos autos da 3) nada impede que o membro do
investigação no próprio departamento MP requisite a diligência diretamente ao
de polícia (art. 19 do CPP). Delegado.
“Art. 19. Nos crimes em que não C.2.3) o membro do MP pode
couber ação pública, os autos do
inquérito serão remetidos ao juízo
constatar que não há viabilidade para o
competente, onde aguardarão a iniciativa início do processo. Neste caso, ele deve
do ofendido ou de seu representante requerer ao Juiz o arquivamento dos
legal, ou serão entregues ao requerente, autos da investigação.
se o pedir, mediante traslado.” C.2.3.1) 1ª hipótese: o juiz pode
C.2) crimes de iniciativa pública concordar com o requerimento,
C.2.1) O membro do MP pode promovendo a correspondente
constatar a existência de indícios de homologação.
autoria, da materialidade e das Conclusões:
circunstâncias da infração. Neste caso, a 1)Percebe-se que o arquivamento
denúncia será oferecida na expectativa é feito pelo Juiz, pressupondo
de que se inicie o processo (CPP, art. requerimento do MP, o que o
24). caracteriza como um ato complexo.
“TÍTULO III
DA AÇÃO PENAL
2)nos termos do art. 17 do CPP, o
Art. 24. Nos crimes de ação delegado não se envolverá no
pública, esta será promovida por arquivamento do Inquérito:
denúncia do Ministério Público, mas

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“Art. 17. A autoridade policial membro designado, subsistem as
não poderá mandar arquivar autos de seguintes posições: 2.1) para Rômulo
inquérito.”
Moreira (examinador do MP/BA) o
C.2.3.2) 2ª hipótese: o Juiz pode
membro designado tem resguardada a
discordar do requerimento de
independência funcional, podendo se
arquivamento. Neste caso, lhe cabe
negar a denunciar, mas se trata de
invocar o art. 28 do CPP, remetendo os
posição minoritária; 2.2) para Tourinho
autos ao Procurador Geral do MP.
“Art. 28. Se o órgão do
Filho, o membro designado está
Ministério Público, ao invés de obrigado a oferecer a denúncia, pois
apresentar a denúncia, requerer o atua por delegação (longa manus) do
arquivamento do inquérito policial ou de PGJ/PGR (posição majoritária).
quaisquer peças de informação, o juiz, no Conclusão: segundo Polastri Lima, ao
caso de considerar improcedentes as
razões invocadas, fará remessa do
longo do processo, o membro designado
inquérito ou peças de informação ao recobra o seu senso crítico, podendo
procurador-geral, e este oferecerá a inclusive requerer a absolvição do réu
denúncia, designará outro órgão do em sede de memoriais, interpor HC ou
Ministério Público para oferecê-la, ou mesmo apelar pela liberdade, em caso
insistirá no pedido de arquivamento, ao
qual só então estará o juiz obrigado a
de condenação;
atender.” - insistir no arquivamento, caso
Obs.1: quando o Juiz invoca o art. em que o juiz estará obrigado a
28 do CPP, ele está desempenhando a homologar;
função anômala de fiscal do princípio - mesmo de lege ferenda, o
da obrigatoriedade quanto ao exercício Procurador Geral poderá requisitar
da ação pública. novas diligências que repute
Conclusões: 1) parte da doutrina imprescindíveis para deflagração do
entende que o CPP, 28 viola o sistema processo.
acusatório, não cabendo ao Juiz C.2.4) o promotor pode entender
fiscalizar a atividade ministerial; 2) a que não possui atribuição para agir.
crítica doutrinária é refletida no projeto Cabe ao promotor declinar do feito,
de Lei 156 (novo CPP), que disciplina o requerendo a remessa dos autos a outra
arquivamento do inquérito dentro do esfera jurisdicional. Frente a esse
próprio MP. requerimento de remessa, o Juiz tem
Obs. 2: Princípio da devolução. duas hipóteses:
Ele se caracteriza pela solução jurídica - concordar, deferindo a remessa;
do art. 28 do CPP, já que ao discordar - discordar, caso em que, segundo
do pedido de arquivamento o juiz o STF, em decisão de 1984, o
devolve os autos ao próprio MP, na Magistrado por analogia (suprindo
figura do seu Procurador Geral. lacuna, então), invocará o art. 28 do
(segunda parte da aula on line) CPP, remetendo os autos ao Procurador
Obs. 3: Postura do Procurador Geral, em fenômeno jurídico conhecido
Geral: como arquivamento indireto.
- oferecer denúncia ele próprio:
situação que não se verifica na prática, 10.5. Questões complementares
mas possível juridicamente; A) esfera federal – quando o Juiz
- designar outro membro do MP Federal invoca o art. 28 do CPP, os
para denunciar. Advertências: 1) a autos serão remetidos para a Câmara de
designação de outro membro Coordenação e Revisão do MPF, que
homenageia o princípio da atua por delegação do PGR.
independência funcional; 2) quanto ao Advertência. Esfera eleitoral.
dever de denunciar por parte do Atualmente, o entendimento prevalente

15
é de que o art. 357, § 1º do Código crime está pautada no conceito
Eleitoral não tem aplicação e, se o Juiz tripartido, de forma que o
eleitoral invocar o CPP, 28, os autos arquivamento se justifica por uma
serão remetidos para a Câmara de excludente de tipicidade (formal ou
Coordenação e Revisão do MPF. material); por uma excludente de
ilicitude; e/ou por uma excludente de
B) TCO (termo circunstanciado culpabilidade, salvo a inimputabilidade
de ocorrência) pois, neste último caso, o processo deve
B.1) Conceito – é a investigação se iniciar, para que ao final apliquemos
simplificada que tem por objeto as medida de segurança; II) pela presença
infrações de menor potencial ofensivo de uma causa de extinção da
(art. 69 da L9099/95); punibilidade (art. 107 do CP); III) por
B.2) Legitimidade – segundo ausência de qualquer condição da ação
Tourinho Filho, além do Delegado de ou pressuposto processual.
Polícia, o TCO pode ser presidido pela Texto do dispositivo revogado:
Polícia Militar e pela Secretaria dos “Art. 43. A denúncia ou queixa
JECrim. Advertência: recentemente será rejeitada quando: (Revogado pela
Lei nº 11.719, de 2008).
resolução do TJ/AL disciplinando a I - o fato narrado evidentemente
confecção do TCO pela PM caiu. não constituir crime; (Revogado
B.3) Restrições – o TCO está pela Lei nº 11.719, de 2008) [excludente
afastado da realidade militar e da de tipicidade, ilicitude ou presença de
apuração criminal no âmbito da alguma dirimente. Cf. infra que esses
fundamentos de mérito, que constavam
violência doméstica. no inc. I, não constam na NR do art.
395].
C) Arquivamento do inquérito II - já estiver extinta a
C.1) Conceito punibilidade, pela prescrição ou outra
É o ato complexo, e de viés causa; (Revogado pela Lei nº
11.719, de 2008)
administrativo-judicial, que reconhece a III - for manifesta a ilegitimidade
ausência de substrato jurídico para da parte ou faltar condição exigida pela
deflagração do processo. lei para o exercício da ação penal.
C.2) Hipóteses (Revogado pela Lei nº 11.719, de 2008).
O CPP é omisso na indicação dos Parágrafo único. Nos casos do no
III, a rejeição da denúncia ou queixa não
fundamentos do arquivamento do
obstará ao exercício da ação penal, desde
inquérito. A nossa doutrina passou a que promovida por parte legítima ou
utilizar os fundamentos da rejeição da satisfeita a condição.”
denúncia para justificar o pedido de 2º momento – após a vigência da
arquivamento, afinal, se a denúncia Lei n. 11719.2008 – operou-se a
deve ser rejeitada, é sinal de que não expressa revogação do CPP, 43, e a
deveria ter sido oferecida, e a melhor matéria migrou ao CPP, 395, nos
postura do promotor seria o seguintes termos: I) por ausência de
requerimento de arquivamento. condição da ação ou de pressuposto
Observações: processual; II) por ausência de justa
1) evolução normativa: causa, que nada mais é do que o lastro
1º momento – antes da vigência probatório mínimo para deflagrar o
da L11719/2008 – a matéria estava processo.
regulamentada no artigo 43 do CPP e “Art. 395. A denúncia ou queixa
teríamos os seguintes fundamentos para será rejeitada quando: (Redação dada
pela Lei nº 11.719, de 2008).
justificar o arquivamento: I) fato
I - for manifestamente inepta;
apurado não se caracteriza como crime. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
É importante detectar que a análise do

16
II - faltar pressuposto processual IV) Classificação das novas
ou condição para o exercício da ação provas
penal; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).
IV.1) prova substancialmente
III - faltar justa causa para o nova – é aquela inédita e desconhecida
exercício da ação penal. (Incluído pela até o momento do arquivamento;
Lei nº 11.719, de 2008). IV.2) Prova formalmente nova – é
Parágrafo único. (Revogado). aquela já conhecida, mas que ganhou
(Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).”
uma nova versão, a exemplo a alteração
Advertência: atualmente
do teor do depoimento de uma
subsistem duas posições quanto ao
testemunha.
pedido de arquivamento amparado nas
Advertência: ambas podem
antigas hipóteses de mérito previstas no
embasar a denúncia após o
revogado artigo 43 do CPP, quais
arquivamento da investigação.
sejam:
C.3.2) Análise do art. 18 do CPP
1ª posição) deveremos interpretar
Por ele, a Polícia está autorizada a
extensivamente o CPP, 395, que não
cumprir diligências na expectativa de
exauriu a matéria;
colher provas novas que viabilizem o
2ª posição) para Aury Lopes Jr. e
oferecimento da denúncia.
para Rômulo Moreira, as antigas “Art. 18. Depois de ordenado o
hipóteses do artigo 43 do CPP serão arquivamento do inquérito pela
resolvidas dentro das condições da ação, autoridade judiciária, por falta de base
mais precisamente no interesse de agir para a denúncia, a autoridade policial
(posição majoritária a ser acatada em poderá proceder a novas pesquisas, se de
outras provas tiver notícia.”
concursos).
Observações:
C.3) STF, 524 vs. CPP, 18
1) a atribuição para determinar o
Segundo o STF, o arquivamento
desarquivamento é do Ministério
do inquérito, em regra não é apto a
Público, como titular da ação pública;
imutabilidade pela coisa julgada
2) momento para desarquivar.
material, tanto que, se surgirem novas
Posições: 1ª) de acordo com o art. 18 do
provas – requisito lógico-objetivo –
CPP, durante o arquivamento a Polícia
enquanto o crime não estiver prescrito,
pode cumprir diligências na expectativa
o MP estará apto a oferecer denúncia
de angariar provas novas. Havendo
(STF, 524: “Arquivado o Inquérito
êxito, a denúncia será oferecida com
Policial, por despacho do Juiz, a
amparo nas provas novas e com a
requerimento do Promotor de Justiça,
determinação do desarquivamento (ou
não pode a ação penal ser iniciada,
seja, o desarquivamento vem depois das
sem novas provas.”).
diligências. Posição seguida no
Conclusões:
concurso da CESPE/AGU); 2ª) para
I) o arquivamento é um ato
Paulo Rangel, o inquérito deve ser
administrativo-judicial, não tendo
desarquivado por ato do Procurador
aptidão à coisa julgada material;
Geral, ou do membro do MP atuante no
II) o arquivamento segue a
primeiro grau, a depender da realidade
cláusula rebus sic stantibus (como as
de cada Estado, para que na sequência
coisas estão);
as diligências se efetivem. Na prática, a
III) natureza jurídica das novas
primeira posição é a que é seguida.
provas. Segundo Paulo Rangel, elas
C.4) Definitividade do
nada mais são do que uma condição de
arquivamento
procedibilidade, vale dizer, que pode ser
De maneira excepcional, o
enquadradas como uma condição
arquivamento é apto à imutabilidade
especial da ação.
pela coisa julgada material, tendo status

17
de decisão definitiva (natureza jurídica), com base em certidão de óbito falsa,
não cabendo denúncia nem mesmo pelo pois para o STF, estaremos diante de
surgimento de novas provas. um ato inexistente (Cf. STF, HC
Observações 84525).
1) Enquadramento jurídico: Advertência. A homologação do
I) Coisa julgada formal – é a requerimento de arquivamento com
imutabilidade da decisão dentro do aptidão à coisa julgada material não se
procedimento em que foi proferido. A altera mesmo quando realizada por
coisa julgada meramente formal é a juízo absolutamente incompetente.
regra geral no arquivamento do C.5) Sistema recursal
inquérito policial. C.5.1) Regra geral. De regra, a
II) Coisa julgada material – é a homologação do requerimento de
imutabilidade da decisão projetada para arquivamento é irrecorrível.
fora do procedimento em que foi C.5.2) Exceções:
proferida, não admitindo alteração. I) nos crimes contra a economia
Trata-se de exceção no caso de popular e contra a saúde pública, o Juiz
arquivamento do inquérito policial. deverá promover a remessa obrigatória
2) Hipóteses: da decisão de arquivamento para
I) arquivamento por ausência das reanálise do Tribunal, em fenômeno
condições da ação ou de pressuposto conhecido como recurso ex officio
processual – gera coisa julgada formal; (L1521/51, art. 7º);
II) arquivamento com base na II) na contravenção de jogo do
ausência de justa causa – gera coisa bicho e de aposta em corrida de cavalo
julgada formal; fora do hipódromo, o arquivamento
III) se o MP requer o desafia RESE (recurso em sentido
arquivamento pela certeza da estrito, cf. Lei n. 1508/51, art. 6º, p. ú);
atipicidade da conduta III) se o juiz arquiva o inquérito
(formal/material), a homologação amparado na certeza da atipicidade, esta
nestes termos funciona como decisão decisão desafia apelação (CPP, 593, II),
definitiva, tendo aptidão à coisa julgada e o MP será convocado a apresentar
material (cf. STF, HC 84156). contrarrazões ao recurso.
Conclusão: percebe-se que englobamos *Perceba que são contrarrazões porque
a análise do princípio da insignificância o MP promoveu o arquivamento e,
(atipicidade material); logicamente, a apelação deve ter sido
IV) certeza de excludente de interposta pela outra parte.
ilicitude ou de culpabilidade – para “Art. 593. Caberá apelação no
Rômulo Moreira, em posição prazo de 5 (cinco) dias: (Redação dada
pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
minoritária, a homologação do (...)
arquivamento nestes termos é apta à II - das decisões definitivas, ou
coisa julgada material. Já o STF, em com força de definitivas, proferidas por
posição majoritária, entende que não juiz singular nos casos não previstos no
haverá coisa julgada material (cf. STF, Capítulo anterior; (Redação dada pela
Lei nº 263, de 23.2.1948)”
HC 95211). Advertência: vale lembrar
que a inimputabilidade não justifica o
D) arquivamento originário. É
requerimento de arquivamento;
aquele pleiteado pelo próprio
V) extinção da punibilidade –
Procurador Geral nas hipóteses de sua
CP, 107 – segundo a doutrina, e a
atribuição originária. Observações:
jurisprudência, esta decisão é apta à
1) percebe-se que não existe o
coisa julgada material, salvo se a
socorro ao CPP, 28, restando ao
extinção da punibilidade foi declarada
Tribunal homologar. Nesse contexto, a

18
doutrina recomenda que o arquivamento razoável. Conclusão: percebe-se que o
ocorra no próprio MP, ressalvada a objeto do processo penal é a pretensão
hipótese de aptidão à coisa julgada acusatória, deduzida na inicial e
material (cf. STF, INQ 1443 e 2431). pautada na análise da demanda.
2) Quem se sentir prejudicado
poderá provocar, administrativamente o 1.2. Condições da ação
colégio de procuradores para que
analise a pertinência do arquivamento 1.2.1. Conceito
(art. 12, XI da Lei 8625/93). São os elementos condicionantes
para o exercício e desenvolvimento
regular da ação.

Material de Apoio - Processo Penal - 1.2.2. Espécies (modalidades)


Nestor Távora - Aula 01 (ii).pdf i) condições genéricas da ação –
são aquelas aplicáveis a todas as
AÇÃO PENAL modalidades de ação
a) legitimidade ad causam
1.1. Considerações iniciais a.1) conceito – segundo Alfredo
1. Conceito Buzaid, ela traduz a pertinência
Segundo a doutrina majoritária, a subjetiva da demanda, identificando o
ação é o direito público e subjetivo polo ativo e o passivo da relação
constitucionalmente assegurado, de processual.
exigir do Estado-juiz a aplicação da Lei Obs.: teoria da dupla imputação
ao caso concreto, para solução da – segundo a doutrina majoritária, a
demanda penal (Ada Pellegrini). denúncia contra a pessoa jurídica por
Observações: crime ambiental importa na denúncia
1) Desdobramentos: contra pessoa física responsável pela
a) Crítica – para Ovídio Baptista, ordem, caracterizando a dupla
a ação em verdade é aquilo que fazemos imputação. Mais recentemente, o STF,
para obtenção do direito por sua Primeira Turma mitigou a
constitucionalmente consagrado a uma coerência da referida teoria, admitindo a
justa e adequada prestação jurisdicional, denúncia exclusiva contra a pessoa
dentro de um prazo razoável. jurídica, por não se identificar a pessoa
b) Demais propostas: 1ª) para física responsável pela ordem (STF, RE
Renato Montans, a ação é um poder 628582; STJ, REsp 564960).
jurídico de demandar na expectativa de
obter o provimento jurisdicional; 2ª) b) interesse de agir – ele é
segundo Aury Lopes Jr., na visão do concebido pela necessidade de bater às
acusador, a ação é o direito com lastro portas do Judiciário, almejando um
constitucional. Em outro giro, na visão provimento útil, por meio da ferramenta
do imputado, a ação é enquadrada como adequada.
um direito potestativo, em face de sua b.1) interesse necessidade –
sujeição à persecução penal. segundo Eugênio Pacelli, a sanção penal
2) para Jacinto Miranda Coutinho, pressupõe a provocação do Poder
o conceito tradicional de lide não tem Judiciário, para que atendido o devido
aderência ao processo penal, já que processo legal, a sanção possa ser
acusação e defesa confluem no mesmo implementada. Conclusão: percebe-se
interesse, qual seja, a obtenção de um que o interesse necessidade é
justo e adequado provimento presumido, pois sempre se faz presente.
jurisdicional, dentro de um prazo

19
Advertência: o interesse deverá requerer o arquivamento do
necessidade é mitigado pelo estatuto do inquérito, por ausência de interesse de
índio, ao admitir que a sanção seja agir.
imposta pelo chefe da tribo (L6001/73, ii) enfraquecimento do instituto:
art. 57). ii.a) no Brasil, era evidente a resistência
b.2) interesse adequação - ao instituto, até que, a Lei n.
deveremos aferir se a ferramenta 12234/2010, disciplinando o § 1º do art.
utilizada é a correta para a tutela do bem 110 do CP, vedou o cômputo da
jurídico diante da situação apresentada. prescrição retroativa, entre a
Obs.: nas ações penais condenatórias, o consumação do crime e o recebimento
interesse adequação não tem relevância. da denúncia; ii.b) mais recentemente, o
Contudo, nas ações penais não STJ editou o enunciado de súmula n.
condenatórias, deveremos aferir se a 438, vedando a aplicação da prescrição
ação utilizada é apta para guarnecer a virtual, já que não cabe ao MP especular
pretensão do demandante. A matéria sobre uma situação jurídica futura, para
ganha relevância nos enunciados 693, constatar que o crime praticado
694 e 695 do STF, endossando que o prescreverá ao longo do processo.
habeas corpus é ação inadequada
quando não exista risco, nem remoto, à c) possibilidade jurídica do
liberdade de locomoção. pedido – deveremos aferir a
“Não cabe habeas corpus contra consonância típica da imputação, no
decisão condenatória a pena de multa, ou aspecto formal e no aspecto material,
relativo a processo em curso por infração
penal a que a pena pecuniária seja a
pela verificação do princípio da
única cominada.” insignificância.
“Não cabe habeas corpus contra a Observações:
imposição da pena de exclusão de militar 1) no aspecto mais restrito, é
ou de perda de patente ou de função necessário que o pedido formulado
pública.”
“Não cabe habeas corpus quando
tenha lastro jurídico, afastando-se o
já extinta a pena privativa de liberdade.” requerimento à prisão perpétua, a
b.3) interesse utilidade – haverá trabalhos forçados, a aflição corporal,
utilidade para a demanda ao ou a pena de morte, salvo neste último
constatarmos que é viável a caso, nas hipóteses de guerra declarada.
implementação de sanção penal ao final 2) o próprio Liebmam, antes de
do processo. falecer, repensou a autonomia da
Observação. Prescrição virtual possibilidade jurídica como condição da
(=prescrição hipotética, prescrição em ação. Já o CPC/2015 não faz referência
perspectiva). a ao instituto.
i) conceito: segundo Igor Telles,
analisando a proposta surgida na d) justa causa – para Afrânio
Procuradoria Geral de Justiça do Silva Jardim, ela nada mais é do que o
MP/SP, o promotor, diante dos autos do lastro probatório mínimo dando
inquérito, deve aferir se o delito (ainda sustentabilidade à inicial, evitando o
não prescrito), prescreverá durante o ajuizamento de ações penais temerárias.
processo, quando levarmos em Observações:
consideração a pena concreta fixada na 1) parte da doutrina enquadra a
sentença para calcular a prescrição justa causa dentro do interesse de agir,
retroativa. negando a sua autonomia. Uma outra
Conclusão: constatando pela corrente (Renato Montans), enquadra a
observação do que normalmente justa causa como mero requisito formal
acontece, que a prescrição ocorrerá,

20
para apresentação da inicial, retirando- estando vinculada ao mérito da
lhe o status de condição da ação. demanda;
B) punibilidade concreta;
ii) condições específicas da ação C) justa causa;
ii.a) conceito – segundo Denílson D) evidência da prática de um fato
Feitosa Pacheco, são aquelas aplicáveis típico.
a hipóteses específicas, exigindo
expressa disciplina legal. Elas também Material de Apoio - Processo Penal -
são chamadas de condições de Nestor Távora - Aula 02 (II).pdf
procedibilidade. 1.4. Ausência das condições da ação
ii.b) hipóteses: A verificação da ausência das
ii.b.1) representação da vítima ou condições da ação trará consequências
requisição do Ministro da Justiça no jurídicas diversas a depender do
âmbito da ação pública condiciona (CP, momento persecutório em que nos
100, § 1º); encontremos, vejamos:
ii.b.2) exame pericial nos crimes A) 1º momento: na fase de análise
contra propriedade imaterial que deixam da investigação, uma vez verificada a
vestígios (CPP, 525); ausência das condições da ação, resta ao
ii.b.3) exame preliminar de MP requerer o arquivamento do
constatação para aferir o enquadramento inquérito;
da suposta substância entorpecente na B) 2º momento: se o magistrado,
lista da ANVISA (art. 50, § 1º da ao exercer o juízo de admissibilidade da
L11343/2006); inicial, atesta que as condições da ação
ii.b.4) qualidade de militar para não estão presentes, ele deverá rejeitar a
processamento pelo crime de deserção. inicial (CPP, 395, II e III);
Advertência: condições de C) 3º momento: se o magistrado,
procedibilidade vs. condições de ao longo do processo, detecta a ausência
prosseguibilidade. As primeiras são das condições da ação, subsistem as
condições para o próprio ajuizamento seguintes posições quanto a
da demanda. Já as últimas, são correspondente solução jurídica:
condições para que a demanda já C.1) 1ª posição – segundo
ajuizada possa prosseguir. Exemplo: Eugênio Pacelli, o juiz invocará o art.
apresentação da resposta escrita à 267, VI do CPC de 1973, reconhecendo
acusação após a citação do imputado. a carência da ação com a
correspondente extinção da demanda
1.3. Nova análise doutrinária sem julgamento de mérito. O CPC/2015
trata da matéria no art. 485, VI,
1.3.1. Conceito autorizando a extinção da demanda sem
Segundo Aury Lopes Jr., julgamento de mérito por ausência de
devermos construir condições da ação legitimidade ou de interesse processual;
típicas da esfera penal, evitando a C.2) 2ª Posição – Deveremos
transposição de institutos do processo invocar o art. 564, II do CPP,
civil que acabam por ocasionar um declarando a nulidade absoluta de todos
grande trauma sistêmico. os atos processuais até então praticados.
Conclusões: 1) a declaração de
1.3.2. Hipóteses nulidade abrangerá, inclusive a decisão
A) legitimidade para a causa – o de recebimento da inicial acusatória; 2)
fator relevante é a legitimidade ativa. A em substituição, o juiz proferirá uma
legitimidade passiva se confunde com a decisão rejeitando a inicial, nos termos
causa de pedir (Tourinho Filho), do art. 395, incisos II e III; 3) para o

21
STJ, tal postura equivale a uma não foi recepcionado, operando-se a
retratação quanto ao recebimento da extinção do processo judicialiforme;
petição inicial; 4) nada impede que a 2) o art. 41 do CPP apresenta os
demanda seja reproposta, desde que a requisitos formais da petição inicial
condição da ação faltante seja adimplida pública, qual seja, a denúncia.
e o crime não esteja prescrito. “Art. 41. A denúncia ou queixa
conterá a exposição do fato criminoso,
com todas as suas circunstâncias, a
1.4.1. Teoria da asserção qualificação do acusado ou
Segundo Alexandre Freitas esclarecimentos pelos quais se possa
Câmara, a aferição das condições da identificá-lo, a classificação do crime e,
ação deve ocorrer no momento da quando necessário, o rol das
admissibilidade da inicial, de acordo testemunhas.”
com o que foi narrado pelo órgão
acusatório (in status assertionis). 3.2. Princípios
Superado este marco, aquilo que A) princípio da obrigatoriedade
outrora era condição da ação, vira ou compulsoriedade
mérito, devendo o juiz condenar ou A.1) Conceito
absolver o réu após o devido processo Por ele, o exercício da ação
legal. pública é pautado num dever-poder,
inerente à atuação do MP, desde que
2. Modalidades de ação penal presentes as correspondentes condições
(classificação) da ação e os pressupostos processuais.
Ao contrário do que ocorre no A.2) Princípio da obrigatoriedade
Processo Civil, o parâmetro adotado no mitigada ou princípio da
Processo Penal é único e leva em conta discricionariedade regrada
a titularidade do exercício da ação. Segundo Tourinho Filho, a
Vejamos: obrigatoriedade foi mitigada por
2.1. Ação penal de iniciativa pública; e intermédio da Justiça Penal consensual
2.2. Ação penal de iniciativa privada. (CRFB, 98, I), já que a aceitação de
Advertência: para Hélio Bastos uma medida alternativa no bojo da
Tornaghi, toda ação penal é pública, por transação penal, impede a propositura
força dos interesses versados em juízo. da demanda (L9099/95, art. 76).
O que oscila é a legitimidade ou Advertência: atualmente, a
iniciativa para propositura da demanda. colaboração premiada, autoriza que o
MP deixe de oferecer a denúncia, desde
3. Ação penal de iniciativa pública que o agente seja o primeiro a colaborar
e não chefie a facção criminosa. Art. 4º,
3.1. Conceito § 4º da Lei n. 12850/2013.
“Seção I
É aquela titularizada Da Colaboração Premiada
privativamente pelo MP, com base no Art. 4º O juiz poderá, a
art. 129, I da CRFB (pilar do sistema requerimento das partes, conceder o
acusatório), e do art. 257, I do CPP. perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois
Observações terços) a pena privativa de liberdade ou
substituí-la por restritiva de direitos
1) processo judicialiforme. Era a daquele que tenha colaborado efetiva e
possibilidade de juízes e delegados voluntariamente com a investigação e
exercerem a ação penal, sem com o processo criminal, desde que
intromissão do MP, revelando um dessa colaboração advenha um ou mais
verdadeiro sistema inquisitivo. Com o dos seguintes resultados:
(...)
advento do art. 129, I da CRFB,
podemos concluir que o art. 26 do CPP

22
§ 4º Nas mesmas hipóteses do pressupondo a correspondente
caput, o Ministério Público poderá deixar existência de justa causa.
de oferecer denúncia se o colaborador:
I - não for o líder da organização
Observações:
criminosa; 1) para o STF, STJ e para parte da
II - for o primeiro a prestar efetiva doutrina (Renato Brasileiro de Lima), a
colaboração nos termos deste artigo. ação pública segue o princípio da
(...)” divisibilidade, por admitir
desmembramento e complementação
B) Princípio da indisponibilidade incidental por aditamento;
B.1) Conceito 2) o CPP é omisso no tratamento
Por ele, o MP não poderá desistir do tema quanto à ação pública, ao
da demanda ajuizada, devendo contrário do que ocorre com a ação de
impulsioná-la até o seu final. iniciativa privada, que expressamente
B.2) Postura do MP adota o princípio da indivisibilidade.
Nada impede que o promotor
requeira a absolvição do réu em D) princípio da intranscendência
memoriais, que recorra em favor do ou da pessoalidade
imputado ou até mesmo que impetre D.1) Conceito
habeas corpus, o que não significa Por ele os efeitos da ação penal
desistência. não poderão ultrapassar a figura do réu.
Advertências: 1) O requerimento
de absolvição apresentado pelo MP não 3.2.1. Princípios complementares
vincula o Juiz; 2) os recursos do MP são A) Conceito
essencialmente voluntários, de forma Para Fernando Capez a ação penal
que o órgão só recorrerá se entender pública também é regida pelos seguintes
conveniente. Entretanto, se o MP princípios:
recorrer, ele não poderá desistir, já que A.1) princípio da autoritariedade
o recurso é um desdobramento do – por ele a ação pública será exercida
direito de ação. por uma autoridade que integra os
B.3) Princípio da quadro do MP;
indisponibilidade mitigada ou princípio A.2) princípio da oficialidade –
da indisponibilidade voltada à por ele a ação penal pública é proposta
conveniência persecutória por um órgão oficial do Estado;
Segundo Tourinho Filho, o A.3) princípio da oficiosidade –
princípio da indisponibilidade é por ele a ação penal pública será, de
mitigado pelo instituto da suspensão regra, proposta ex officio.
condicional do processo (sursis
processual), por força do qual, o 3.3.1. Ação penal pública
processo será paralisado por um período incondicionada
de dois a quatro anos, onde ao final I) Conceito
ocorrerá a extinção da punibilidade, se É aquela onde a atividade
todas as obrigações forem adimplidas persecutória será desenvolvida ex
(art. 89 da L9099/95). officio, independe da manifestação de
vontade de terceiros, pois o interesse
C) Princípio da indivisibilidade público é preponderante.
C.1) Conceito Observações:
Segundo a doutrina majoritária, o 1) a ação incondicionada é
MP alimenta o dever funcional de adotada como regra, nos termos do art.
ajuizar a demanda contra todos aqueles 100, caput, do CP. Se o tipo legal ou as
que contribuíram para a infração, disposições gerais que o regulamentam

23
forem omissos, presume-se que o crime 2) sem a autorização do legítimo
é de ação pública incondicionada. interessado, o inquérito policial também
2) em tais hipóteses o delegado não poderá ser instaurado (art. 5º, §§ 4º
deverá instaurar a investigação ex e 5º do CPP).
officio. Art. 5º, inciso I do CPP. 3) o condicionamento da ação
“TÍTULO VII pública pressupõe expressa indicação
DA AÇÃO PENAL legal, no tipo penal ou nas disposições
Ação pública e de iniciativa privada
Art. 100 - A ação penal é pública,
gerais que o regulamentam (CP, 100, §
salvo quando a lei expressamente a 1º).
declara privativa do ofendido.
§ 1º - A ação pública é promovida II) Institutos condicionantes
pelo Ministério Público, dependendo, A) Representação
quando a lei o exige, de representação do
ofendido ou de requisição do Ministro da
A.1) Conceito
Justiça. Ela é o pedido e, ao mesmo
§ 2º - A ação de iniciativa privada tempo, autorização que condiciona o
é promovida mediante queixa do início da persecução penal, nas
ofendido ou de quem tenha qualidade hipóteses legalmente disciplinadas.
para representá-lo.
§ 3º - A ação de iniciativa privada
Conclusão: sem a representação
pode intentar-se nos crimes de ação não haverá ação, inquérito e nem
pública, se o Ministério Público não mesmo a lavratura de flagrante.
oferece denúncia no prazo legal. Advertência. Segundo a doutrina
§ 4º - No caso de morte do majoritária, a elaboração do termo
ofendido ou de ter sido declarado ausente
circunstanciado de ocorrência pressupõe
por decisão judicial, o direito de oferecer
queixa ou de prosseguir na ação passa ao a correspondente representação da
cônjuge, ascendente, descendente ou vítima. Entretanto, literalidade do art.
irmão. (Redação dada pela Lei nº 7.209, 75 da Lei n. 9099/95 aponta que a
de 11.7.1984) representação ocorrerá na audiência
preliminar do juizado especial, de onde
A ação penal no crime complexo
Art. 101 - Quando a lei considera se constata que o TCO já estaria
como elemento ou circunstâncias do tipo lavrado.
legal fatos que, por si mesmos, “Art. 75. Não obtida a
constituem crimes, cabe ação pública em composição dos danos civis, será dada
relação àquele, desde que, em relação a imediatamente ao ofendido a
qualquer destes, se deva proceder por oportunidade de exercer o direito de
iniciativa do Ministério Público.” representação verbal, que será reduzida a
CPP: termo.
“Art. 5º Nos crimes de ação Parágrafo único. O não
pública o inquérito policial será iniciado: oferecimento da representação na
I - de ofício; audiência preliminar não implica
(...)” decadência do direito, que poderá ser
exercido no prazo previsto em lei.”
3.3.2. Ação penal pública condicionada A.1.1) Natureza jurídica
I) Conceito A representação é uma condição
É aquela titularizada pelo MP, que de procedibilidade, já que a sua
dependerá, contudo, de uma prévia ausência impede a adoção das
manifestação de vontade do legítimo correspondentes providências criminais.
interessado. Em última análise, a representação é
Observações: uma condição especial da ação.
1) almeja-se conferir à vítima a
discricionariedade quanto à opção de A.2) Legitimidade
autorizar ou não a adoção de A.2.1) Destinatário
providências criminais.

24
Se a vítima pretende representar, a melhor a ser feito, representando ou
quem ela irá fazê-lo? não.
I) Delegado (CPP, art. 5º, § 4º); 3) Omissão do representante legal.
II) MP Se o representante legal do menor é
Observação: Postura omisso ao ter conhecimento da autoria
i) requisitar a instauração de do fato criminoso, subsistem as
inquérito policial; seguintes posições quanto à
ii) instaurar PIC (procedimento possibilidade do ofendido representar ao
investigativo criminal); atingir a maioridade, vejamos:
iii) oferecer denúncia, no prazo de i) para Aury Lopes Jr., a omissão
15 dias, contados da correspondente do representante legal é fato gerador de
provocação; decadência, extinguindo-se a
iv) requerer o arquivamento das punibilidade. Logo quando a vítima
peças de informação. atingir a maioridade, não poderá
III) Juiz representar;
i) requerer a instauração de ii) segundo a doutrina
inquérito (5º, II, CPP); majoritária, a omissão do
ii) segundo a doutrina, representante legal, não ilide o direito
prestigiando o sistema acusatório, da vítima, já que o prazo para
melhor seria a abertura de vista ao representar não flui contra aqueles que
Ministério Público. não possuem plena capacidade.
Advertência: nada impede que a
A.2.2) Legitimidade ativa autoridade nomeie um curador especial
A vítima ou, seu representante ao ofendido, por detectar que os seus
legal se ela não possuir plena interesses são colidentes com os do
capacidade. representante legal.
Observações: 4) Pessoa jurídica. Representará
1) havendo morte ou declaração por intermédio das pessoas indicadas no
judicial de ausência, o direito de estatuto social. Se ele é omisso, a
representar se transfere ao seguintes pessoa jurídica representa por meio dos
indivíduos: cônjuge, ascendentes, diretores ou dos sócios administradores.
descendentes e irmãos. 5) Filtro normativo. Todos os
Conclusões: 1) O rol encampando dispositivos do CPP que consideram os
no art. 24, § 1º do CPP é preferencial e indivíduos entre 18 e 21 anos
taxativo; 2) segundo a doutrina incompletos como relativamente
majoritária, ao lado do cônjuge capazes, encontram-se tacitamente
incluiremos o companheiro. revogados, já que o art. 5º do CC/2002
Advertência: contra o entendimento os considera absolutamente capazes.
preponderante, Renato Brasileiro aponta
que tal inclusão significaria uma A.3) O prazo é de seis meses,
interpretação extensiva in malan partem contados do conhecimento da autoria da
(posição minoritária). infração (art. 38 do CPP).
Observações:
Material de Apoio - Direito Processual 1) Natureza jurídica. O prazo para
Penal - Nestor Távora - Aula 03 (II).pdf representar tem natureza decadencial, o
Exercícios.pdf que significa dizer que é um prazo fatal,
2) Emancipação. Segundo LFG, a não admitindo suspensão, interrupção,
emancipação não tem reflexo na esfera ou prorrogação;
penal, devendo-se nomear um curador. 2) forma de contagem. O prazo é
Conclusão: cabe ao curador aferir o contado de acordo com o art. 10 do CP,

25
de forma que o primeiro dia será se retratar; b) em que pese a omissão do
computado, e o último será descartado. art. 16 da Lei Maria da Penha, é
Exemplo: conhecimento da autoria em recomendável que a ofendida seja
21-3-2016 com fim do prazo em 20-9- acompanhada por advogado,
2016. garantindo-se a correspondente
Advertência. Os institutos que assistência técnica;
interferem no jus puniendi ou no status 3) o marco para a retração da
libertatis do agente, são regulamentados representação da violência doméstica
por um prazo de natureza penal. é até antes do recebimento da
denúncia!
A.4) Retratação 4) Em que pese o art. 16 da lei
Se a vítima representou, ela marinha da penha falar em renúncia da
poderá se retratar até antes do representação, o entendimento
oferecimento da denúncia (art. 25 do preponderante é de que estamos diante
CPP). Considera-se ofertada a denúncia de uma mera retratação, de forma que a
no momento em que é protocolizada na ofendida poderá se arrepender de ter se
secretaria da vara criminal ou no setor retratado.
de distribuição do fórum. “Art. 16. Nas ações penais
Observações: públicas condicionadas à representação
da ofendida de que trata esta Lei, só será
1) múltiplas retratações. Quanto à admitida a renúncia à representação
possibilidade do arrependimento [rectius: retratação] perante o juiz, em
múltiplo, subsistem as seguintes audiência especialmente designada com
posições: 1ª) segundo Tourinho Filho, tal finalidade, antes do recebimento da
em posição minoritária, a retratação denúncia e ouvido o Ministério Público.”
equivale a uma renúncia, levando à 5) a Lei Maria da Penha foi objeto
extinção da punibilidade de forma que da ADC n. 19, de forma que o STF
não tolera arrependimento; 2ª) segundo considerou constitucional o art. 41 da
a doutrina majoritária, se a vítima se L11340/2006. Sendo assim, inaplicável
retratar, nada impede que ela se a Lei dos Juizados na violência
arrependa, reapresentando a doméstica. Advertência: com a
representação pelo mesmo fato, desde inaplicabilidade do art. 88 da L9099/95
que dentro do prazo. na violência doméstica, resta constatar
Conclusão: logo, cabe retratação que o crime de lesão corporal, em
da retratação da representação qualquer de suas modalidades, é
(pegadinha de concurso). persecutido por ação pública
2) violência doméstica e familiar incondicionada (STJ, 542).
contra a mulher. Conclusões:
2.1) na violência doméstica A.5) Rigor formal. De acordo com
subsistem crimes de ação penal pública os tribunais superiores e com a doutrina
condicionada a representação, como francamente prevalente, a representação
acontece com a ameaça (CP, 147) e com tem forma livre, podendo ser
os crimes contra a dignidade sexual apresentada oralmente ou por escrito a
(CP, 225); qualquer dos destinatários.
2.2) de acordo com o art. 16 da A.6) Eficácia objetiva. Correntes:
L11340/2006, para que a vítima retire a 1ª) para parte da doutrina, a
representação, é necessário a marcação representação é uma autorização para
de uma audiência específica, com a que providências sejam tomadas quanto
presença do juiz e a oitiva do MP. a determinado fato criminoso (eficácia
Advertências: a) o objetivo da audiência objetiva). No aspecto subjetivo, ou seja,
é aferir se a vítima está sendo coagida a das pessoas que serão processadas, tal
definição é inerente a percepção do
26
titular da ação, vale dizer, do Ministério Não há prazo decadencial
Público; 2ª) Para Luiz Flávio Gomes, vinculando a atividade do Ministro da
em posição consolidada no TJ/SP, deve Justiça. Logo, ele poderá requisitar a
o MP provocar a vítima para que ela qualquer tempo enquanto o crime não
adite a representação. A omissão da prescrever ou enquanto não estiver
vítima caracteriza a renúncia ao direito extinta a punibilidade por qualquer
de representar, ocasionando a extinção outra causa (art. 107 do CP).
da punibilidade, em benefício de todos, B.5) Retratação. Correntes: 1ª)
por analogia ao artigo 49 do CPP. segundo Nucci e LFG, a requisição
admite retratação até antes do
A.7) Não vinculação oferecimento da denúncia, em analogia
Em homenagem ao princípio da ao artigo 25 do CPP, que disciplina a
independência funcional, se o MP retratação da representação; 2ª) segundo
entender que não houve crime ou que o Tourinho Filho, o ato não comporta
fato é atípico, deverá requerer o retratação, não só por ausência de
arquivamento das peças de informação. previsão legal (argumento jurídico),
Em acréscimo, o MP não está vinculado como também para não comprometer a
ao artigos de Lei sugeridos na imagem do País (argumento político).
representação Obs.: vale lembrar que STF e STJ
nunca julgaram a matéria.
B) Requisição do Ministro da B.6) Eficácia objetiva (as duas
Justiça correntes tratadas na representação da
B.1) Conceito vítima, são aplicáveis à requisição do
Ela é o pedido e ao mesmo tempo Ministro da Justiça).
a autorização de natureza B.7) Não vinculação. Prestigiando
eminentemente política, que condiciona a independência funcional do MP, a
o início da persecução penal. requisição do Ministro da Justiça é
Observação. Finalidade. Almeja- compreendida como verdadeiro
se evitar o streptus judicii (=escândalo requerimento. Logo, o MP não está
do processo). vinculado aos artigos de Lei sugeridos e
B.2) Natureza jurídica poderá requerer o arquivamento das
A requisição é enquadrada como peças de informação
condição de procedibilidade, pois sem
ela não serão adotados providências 4. Ação penal de iniciativa privada
criminais. Conclusões: 1) sem a
requisição não haverá inquérito, 4.1. Conceito
processo e nem mesmo lavratura de É aquela titularizada pela vítima,
flagrante; 2) segundo Denílson Feitosa ou por quem a represente, na condição
Pacheco, ela nada mais é do que uma de substituição processual, já que ela
condição especial da ação. atua em nome próprio pleiteando a
B.3)Legitimidade punição que será exercida pelo Estado.
B.3.1) Destinatário Observações:
A representação é apresentada ao 1) segundo Aury Lopes Jr. é
MP, na figura do seu Procurador Geral. inadequado falarmos em substituição
Conclusão: A requisição pode ser processual, já que a vítima ao ajuizar a
apresentada ao PGR ou ao PGJ, demanda é titular da pretensão
conforme a qualidade do delito. acusatória, o que não se confunde com a
B.3.2) Ativa: Ministro da Justiça titularidade para implementação da
B.4) Prazo sanção que é privativa do Estado;

27
2) nomenclatura. A) ofendido – ajuizamento da ação penal de iniciativa
querelante; B) réu – querelado; C) privada.
inicial acusatória – queixa. Conclusão: Conclusões:
os requisitos formais da queixa crime 1) se a investigação não estiver
estão explicitados no art. 41. concluída, a vítima ajuizará a demanda
3) Tendência: segundo Eugênio sem o inquérito, já que a investigação é
Pacelli de Oliveira, a tendência é dispensável;
migrarmos os crimes de iniciativa 2) segundo LFG, deve o ofendido,
privada para o âmbito da ação pública na petição, sinalizar ao juiz tal
condicionada, pois a vítima encontra-se circunstância, requerendo a expedição
destituída da serenidade necessária para de ofício ao Delegado de polícia, para
o patrocínio da pretensão acusatória. que remeta a investigação
Conclusões: 1ª) tal movimento imediatamente à sua conclusão. Com
incentivou a reforma dos crimes contra isso evitaremos a rejeição da inicial por
a dignidade sexual (art. 225 do CP), ausência de justa causa (art. 395, III do
assim como a injúria com conotação CPP).
discriminatória (CP, 140, § 3º); 2ª) tal Obs. 2) segundo a doutrina, se o
tendência se reflete diretamente no agente está preso, o ofendido deve
projeto de Lei 156 (“novo” CPP), ajuizar a demanda no prazo de 5 (cinco)
subsistindo apenas a ação privada dias, contados do recebimento dos autos
subsidiária da pública, por sua previsão da investigação, em analogia ao art. 46
constitucional (art. 5º, LIX da CRFB). do CPP, que disciplina o prazo para o
oferecimento da denúncia.
Material de Apoio - Direito Processual Advertência. A perda do prazo
Penal - Nestor Távora - Aula 04 (II).pdf pelo querelante importa no relaxamento
4.2. Princípios da prisão, mas a decadência só ocorrerá
quando decorridos os seis meses,
4.2.1. Princípio da oportunidade contados do conhecimento da autoria do
I) Conceito crime.
Se aplica na fase pré-processual.
Por ele, a vítima só ajuizará a B) Renúncia
ação de iniciativa privada, se lhe for B.1) Conceito
conveniente. Ela se caracteriza quando a vítima
II) Institutos correlatos declara expressamente que não pretende
A) Decadência ajuizar a ação (CPP, 50) ou quando ela
A.1) Conceito pratica um ato incompatível com essa
Segundo Guilherme Nucci, é a vontade (CPP, 57).
perda da faculdade de ingressar com a Conclusão. Percebe-se que a
demanda, por força do decurso do renúncia pode ocorrer de forma
prazo, qual seja, em regra, seis meses expressa ou tácita, admitindo todos os
contados do conhecimento da autoria do meios de prova quanto à sua
crime. demonstração.
A.2) Consequência B.2) Consequência
Como desdobramento lógico, A renúncia levará à extinção da
teremos a extinção da punibilidade, cf. punibilidade (CPP, 107, IV).
art. 107, IV do CP. B.3) Irretratabilidade
Observação: Não havendo vício na formação
1) a pendência da investigação da vontade, é imperioso reconhecer que
policial não interfere no prazo para o a renúncia é irretratável, pois ocasiona a
extinção da punibilidade.

28
Observações: Conclusão. Percebe-se que o
1) as regras de cordialidade e perdão pode ser expresso ou tácito,
tratamento social não caracterizam a admitindo todo e qualquer meio de
renúncia. Em outro giro, a aceitação da prova quanto à sua demonstração.
justa indenização também não é fator de A.2) Bilateralidade
renúncia. Para que o perdão surta o efeito
Advertência. A ressalva existe nos pretendido, qual seja, a extinção da
JECrim, onde a composição civil dos punibilidade, é necessário que ele seja
danos é fato gerador da renúncia ao aceito, o que pode ocorrer de forma
direito de ação ou ao direito de expressa ou tácita. Cf. art. 59 do CPP:
representação, no âmbito da ação “Art. 59. A aceitação do perdão
privada e da ação pública condicionada fora do processo constará de declaração
assinada pelo querelado, por seu
(L9099/96, 70, p. ú.). representante legal ou procurador com
2) Não há previsão legal de poderes especiais.”
requerimento de arquivamento da A.3) Procedimento
investigação nos crimes de iniciativa Se a vítima declara nos autos o
privada. Todavia, se isso ocorrer, o perdão, o réu será intimado e dispõe de
requerimento equivale a renúncia, três dias para dizer se aceita. A omissão
levando à extinção da punibilidade. faz presumir que tenha aceitado.
Conclusão. Logo, o surgimento de A.4) Procurador
novas provas após o arquivamento não Tanto a oferta quanto a aceitação
autoriza a propositura da demanda, podem ocorrer por meio de procurador,
sendo inaplicável a STF, 524 nos crime exigindo-se poderes especiais.
de iniciativa privada (“Arquivado o A.5) Distinção do perdão judicial
Inquérito Policial, por despacho do O perdão da vítima não se
Juiz, a requerimento do Promotor de confunde com o perdão judicial, que é
Justiça, não pode a ação penal ser cabível em delitos de ação pública, onde
iniciada, sem novas provas.”). a sanção penal é desnecessária por força
da repercussão da conduta na situação
4.2.2. Princípio da disponibilidade jurídica do próprio réu.
Este já se aplica na fase Advertência. O perdão do juiz é
processual. ato unilateral, pois independe da
I) Conceito aceitação do réu, ocasionando a
Por ele, a vítima poderá desistir da extinção da punibilidade (CP, 107, IX).
demanda já ajuizada, de acordo com a A.6) Momento
sua conveniência. O perdão pressupõe a existência
II) Institutos correlatos de processo, podendo ser ofertado até
A) Perdão mesmo na fase recursal.
A.1) Conceito Advertência. O perdão pode
Ele se caracteriza quando a vítima ocorrer dentro ou fora dos autos.
declara expressamente que não pretende
continuar com a demanda, ou quando B) Perempção
ela pratica ato incompatível com essa B.1) Conceito
vontade (art. 58 do CPP) É a sanção judicialmente imposta
“Art. 58. Concedido o perdão, pelo descaso da vítima na condução da
mediante declaração expressa nos autos,
o querelado será intimado a dizer, dentro ação privada
de três dias, se o aceita, devendo, ao B.2) Hipóteses
mesmo tempo, ser cientificado de que o O art. 60 do CPP, de forma não
seu silêncio importará aceitação. exaustiva, elenca os fatos geradores de
Parágrafo único. Aceito o perdão, perempção, destacando-se os seguintes:
o juiz julgará extinta a punibilidade.”

29
“Art. 60. Nos casos em que 3) segundo os Tribunais
somente se procede mediante queixa, Superiores, se o querelante deixa claro o
considerar-se-á perempta a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o
desejo da imposição de sanção, não
querelante deixar de promover o haverá permissão, mesmo que não tenha
andamento do processo durante 30 dias se valido de um pedido formal de
seguidos; (...)” condenação. Se o querelante é
Observações: absolutamente lacônico ou requer a
1) as paralisações justificadas, absolvição do réu, resta ao juiz declarar
impedem a declaração da perempção; a extinção da punibilidade
2) a paralisação deve ser contínua, “Art. 60. Nos casos em que
já que não admitimos o somatório de somente se procede mediante queixa,
paralisações individuais para o considerar-se-á perempta a ação penal:
(...)
atingimento do prazo legal. IV - quando, sendo o querelante
“Art. 60. Nos casos em que pessoa jurídica, esta se extinguir sem
somente se procede mediante queixa, deixar sucessor.”
considerar-se-á perempta a ação penal:
(...)
II - quando, falecendo o 4.2.3. Princípio da indivisibilidade
querelante, ou sobrevindo sua
incapacidade, não comparecer em juízo, I) Conceito
para prosseguir no processo, dentro do Caso o querelante opte por ajuizar
prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das
pessoas a quem couber fazê-lo,
a ação privada, deverá fazê-lo contra
ressalvado o disposto no art. 36; todos os infratores conhecidos
Observações: II) Fiscalização
1) a sucessão processual encontra Cabe ao MP, como custus legis, a
como legitimados os indivíduos tutela da indivisibilidade da ação de
preferencialmente listados no art. 31 do iniciativa privada (art. 48 do CPP).
CPP; “Art. 48. A queixa contra
qualquer dos autores do crime obrigará
2) O prazo de 60 (sessenta) dias é ao processo de todos, e o Ministério
contado da declaração de incapacidade Público velará pela sua indivisibilidade.”
ou do falecimento do querelante, não III) Consequências
havendo intimação dos sucessores para III.a) 1ª situação jurídica – se a
que promovam a correspondente vítima voluntariamente processa apenas
habilitação; parte dos infratores, ela estará
“Art. 60. Nos casos em que renunciando ao direito em favor dos não
somente se procede mediante queixa,
considerar-se-á perempta a ação penal:
processados, ocasionando a extinção da
(...) punibilidade do fato, o que beneficia a
III - quando o querelante 1) deixar todos.
de comparecer, sem motivo justificado, a III.b) 2ª situação jurídica – se a
qualquer ato do processo a que deva estar omissão da vítima é involuntária,
presente, ou 2) deixar de formular o
pedido de condenação nas alegações
subsistem na doutrina as seguintes
finais; posições quanto ao papel do MP:
(...)” III.b.1) Primeira posição -
Observações: segundo Tourinho Filho, em posição
1) a ausência devidamente minoritária, cabe ao MP promover o
justificada, obsta o reconhecimento da aditamento, incluindo os réus faltantes,
perempção; de forma a tutelar o princípio da
2) os artigos 403, § 3º e 404, indivisibilidade.
ambos do CPP, disciplinam a Advertência. Para Tourinho, o MP
substituição dos debates orais por deverá promover o aditamento até
memoriais (razões escritas);

30
mesmo quando a omissão da vítima é 4.3. Comparativo principiológico
voluntária. AÇÃO PENAL AÇÃO PENAL
III.b.2) Segunda posição – de PÚBLICA PRIVADA
-p. da obrigatoriedade -p. da oportunidade
acordo com a doutrina majoritária, se a
(decadência/renúncia)
omissão da vítima é involuntária, cabe a - p. da -p. da disponbilidade
ela mesma promover esforços para o indisponibilidade (perdão/perempção)
agente incidentalmente descoberto seja -p. da divisibilidade - p. da
processado. (STF/STJ); p. da indivisibilidade, tanto
Advertências: indivisibilidade para a na jurisprudência
doutrina quanto na doutrina.
1) a vítima poderá aditar a inicial -p. princípio da -p. da
do processo já existente, ou ajuizar uma intranscência ou da intranscendência ou
nova demanda para não tumultuar a pessoalidade; da pessoalidade
relação processual originária; p. da autoritariedade Sem equivalente
2) Para essa corrente, o MP não p. da oficialidade Sem equivalente
tem legitimidade ativa ad causam para p. do oficiosidade Sem equivalente
incluir mais réus na ação penal de
iniciativa privada propriamente dita. Material de Apoio - Direito Processual
Conclusão. Vale lembrar que o Penal - Nestor Távora - Aula 04
CPP, 46, § 2º autoriza que o MP adite a (II)II.pdf (aula 5 na verdade)
ação privada no prazo de 3 (três) dias. 4.4. Modalidades de ação penal de ação
Entretanto, esse aditamento está privada (classificação)
limitado a correções formais, não
autorizando a inclusão de mais réus no 4.4.1. Ação privada exclusiva ou ação
polo passivo da demanda. privada propriamente dita
3) Para a corrente majoritária, se a I) Conceito
omissão é voluntária, operar-se-á a É aquela que será exercida pela
renúncia, ocasionando a extinção da vítima ou por seu representante legal.
punibilidade. Observação: ela admite sucessão
III.b.3) Terceira posição – para por morte ou ausência, nos termos do
Pedro Henrique Demercian e Jorge art. 31 do CPP.
Assaf Maluly, se a omissão é
involuntária, a vítima ou o MP poderão 4.4.2. Ação privada personalíssima
aditar a queixa para incluir o réu I) Conceito
faltante. É aquela titularizada por uma
Advertência. Em outro giro, sendo única pessoa, quem seja, a vítima.
a omissão da vítima voluntária, ocorrerá Conclusão. Na ação
a extinção da punibilidade pela personalíssima não haverá representante
renúncia. legal ou sucessão por morte ou
ausência.
III.c) 3ª situação jurídica – é II) Aplicação
pacífico o entendimento que o perdão O único delito de ação
ofertado a parte dos querelados se personalíssima é o induzimento a erro
estenderá a todos que desejem aceitá-lo ou ocultação de impedimento ao
(CPP, 51). casamento (CP, 236).
“Induzimento a erro essencial e
ocultação de impedimento
4.2.4. Princípio da pessoalidade ou da Art. 236 - Contrair casamento,
intranscedência induzindo em erro essencial o outro
Os efeitos da ação privada não contraente, ou ocultando-lhe
poderão ultrapassar a figura do réu. impedimento que não seja casamento
anterior:

31
Pena - detenção, de seis meses a § 3º - A ação de iniciativa privada
dois anos. pode intentar-se nos crimes de ação
Parágrafo único - A ação penal pública, se o Ministério Público não
depende de queixa do contraente oferece denúncia no prazo legal.
enganado e não pode ser intentada senão (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
depois de transitar em julgado a sentença 11.7.1984)
que, por motivo de erro ou impedimento, (...)”
anule o casamento.” II) Pressupostos
III) Prazo III.a) Desídia do MP;
Ela será ajuizada dentro do prazo III.b) é necessário que a vítima
decadencial de seis meses, contados do seja definida, pois, quando o sujeito
trânsito em julgado da sentença cível passivo é difuso encontraremos um
que invalidar o casamento. obstáculo lógico (ex. trafico de drogas)
ao ajuizamento da demanda.
4.4.3. Ação privada subsidiária da IV) Prazo
pública 6 (seis) meses, contados do
Recebido o inquérito, o Membro esgotamento do prazo que o MP
do MP poderá oferecer a denúncia (5 ou dispunha para agir, qual seja, em regra,
15 dias), requisitou diligências, 5 (cinco) dias se o agente está preso, ou
promover o arquivamento ou declinar. 15 (quinze) dias está solto (cf. CPP, 46)
Em qualquer dessas situações, não V) Situações especiais
caberá nenhum direito à vítima. V.a) esfera militar – em que pese
I) Conceito a omissão do CPM e do CPPM, o
É aquela exercida pela vítima em instituto é aplicável na Justiça castrense,
delito da esfera pública, já que o MP por força do art. 5º, inc. LIX da CRFB;
não cumpriu o seu papel nos prazos V.b) esfera consumerista – de
legalmente fixados, ou seja, não acordo com os artigos 81 e 82, III e IV
ofereceu denúncia, não requisitou do CDC, os órgãos de promoção e
diligências, não requereu o defeas do consumidor poderão ajuizar
arquivamento e não declinou do feito. ação privada subsidiária, funcionando
II) Enquadramento normativo como legitimados extraordinários, em
CRFB, 5º, LIX (ou seja, é face da concepção difusa dos interesses
cláusula pétrea); CPP, 29; CP, 100, § 3º. envolvidos;
“LIX - será admitida ação privada V.c) esfera falimentar – o credor
nos crimes de ação pública, se esta não
for intentada no prazo legal;”
habilitado e o administrador judicial são
“Art. 29. Será admitida ação legitimados a propositura da ação
privada nos crimes de ação pública, se privada subsidiária, nos delitos
esta não for intentada no prazo legal, falimentares (art. 184, p. ú. da
cabendo ao Ministério Público aditar a L11101/2005);
queixa, repudiá-la e oferecer denúncia
substitutiva, intervir em todos os termos
VI) Papel do Ministério Público
do processo, fornecer elementos de VI.a) Conceito
prova, interpor recurso e, a todo tempo, O promotor atuará como
no caso de negligência do querelante, interveniente adesivo obrigatório, ou
retomar a ação como parte principal.” assistente litisconsorcial (NUCCI), sob
“TÍTULO VII
DA AÇÃO PENAL
pena de nulidade do processo (cf. art.
Ação pública e de iniciativa 564, III, “d” do CPP).
privada VI.b) Especificação de poderes
Art. 100 - A ação penal é pública, (CPP, 29)
salvo quando a lei expressamente a O membro do MP usufrui de
declara privativa do ofendido. (Redação
amplos poderes, vejamos: propor
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
(...) provas; apresentar recursos; aditar a

32
inicial; até mesmo para inclusão de mais Advertência. Nas hipóteses de
réus; a todo tempo, se a vítima nomeação do advogado, os honorários
fraquejar, será afastada e o MP retomará serão arbitrados de acordo com a tabela
a demanda como parte principal. da OAB, sendo devidos pelo querelante
Conclusões: ou pelo Estado, a depender da
1) Percebe-se que não haverá modalidade de ação intentada (art. 22, §
perdão ou perempção na ação privada 1º da Lei n. 8906/94).
subsidiária.
2) A vítima poderá habilitar-se 5) Questões complementares
como assistente de acusação
Observação. Uma vez ofertada a 5.1) Ação de prevenção penal
ação privada subsidiária por meio da A) Conceito
queixa crime substitutiva, deve o juiz É aquela ajuizada com o objetivo
abrir vistas ao MP. Se o promotor de aplicarmos medida de segurança ao
entender que a petição é inepta ou que a absolutamente inimputável, revelando
desídia está justificada, ele repudiará a uma absolvição imprópria (art. 26 do
petição da vítima, oferecendo, na CP).
sequência, denúncia substitutiva. Advertência. Percebe-se que toda
Conclusões: inicial acusatória apresenta o
1) segundo Tourinho Filho, o requerimento de imposição de sanção
repúdio sequer precisa de motivação; penal, seja ela uma pena ou uma medida
2) se o promotor entende que o de segurança.
processo não deve iniciar-se, deverá
apresentar um parecer, opinando pela 5.2. Ação penal ex officio
rejeição da inicial, nos termos do art. A) Conceito
395 do CPP. É aquela deflagrada sem a
VII) Sanções correspondente provocação das partes.
O art. 801 do CPP, tratava da B) Hipóteses
sanção pecuniária e do obstáculo a B.1) processo judicialiforme – a
eventual promoção por merecimento, Era a possibilidade do juiz e até mesmo
em virtude da desídia ministerial. do delegado exercerem ação, sem
Conclusão. Atualmente, a matéria intromissão do órgão acusador,
está ultrapassada, já que a CRFB revelando a sua não recepção pela
consolidou a irredutibilidade de CRFB/88 (cf. art. 129, I da CRFB c/c
vencimentos (art. 128, § 5º, I, “c” da art. 26 do CPP).
CRFB). Por outro lado, as promoções B.2) A concessão ex officio da
estão disciplinadas na Lei orgânica do ordem de habeas corpus é amplamente
MP. aceita, de acordo com o art. 654, § 2º do
VIII) Custas e honorários CPP.
VIII.a) Custas
Estão disciplinadas no CPP, 816, 5.3. Ação penal pública subsidiária da
sendo que cada unidade federativa pública
promove o correspondente tratamento, I) conceito
inclusive quanto às hipóteses de De acordo com o art. 2º, § 2º do
dispensa. DL n. 201/67, o Procurador Geral da
VIII.b) Honorários República poderia ser provocado para
Superada a polêmica, contatamos suprir as omissões do PGJ no
que o querelante vencido é devedor de processamento dos prefeitos (panorama
honorários ao querelado. esdrúxulo da década de 60, quando o

33
PGJ era demissível ad nutum pelo Atualmente, poderemos promover
Governador). os seguintes enquadramentos
B) Filtro constitucional conceituais:
O instituto não foi recepcionado A) na Alemanha, o MP pode
pela CRFB/88, já que o PGR não possui propor a demanda em delito de
atribuição para suprir as omissões do iniciativa privada, se o interesse público
PGJ. preponderar. Neste caso, o ofendido
Conclusão. Logo, o ofendido pode poderá intervir adesivamente na
ajuizar a ação privada subsidiária da demanda;
pública (CRFB, 5º, LIX), assim como B) Segundo Tourinho Filho, em
provocar administrativamente o Colégio alguns países europeus, os interesses
de Procuradores de Justiça. patrimoniais podem ser veiculados
adesivamente no bojo da demanda
5.4. Ação penal nos crimes contra a penal.
honra do funcionário público Advertência. Tal proposta ganhou
(legitimidade concorrente) destaque no Brasil, com a possibilidade
A) Conceito do Juiz criminal reconhecer um mínimo
Segundo o enunciado 714 da indenizatório ao proferir sentença (art.
súmula do STF, o funcionário público 387, IV) do CPP.
vitimado na sua honra propter oficium C) Havendo conexão entre crime
terá as seguintes alternativas: A.1) de ação pública e outro de ação privada,
Representar, ensejando a ação pública é possível que a queixa crime seja
condicionada; A.2) contratar advogado, ofertada adesivamente à denúncia, já
para o exercício da ação penal privada. que as demandas tramitarão perante o
Obs.1: De acordo com o mesmo juízo.
entendimento prevalente, a opção por Advertência. A doutrina
uma das hipóteses automaticamente recomenda a separação facultativa de
elimina a outra. processos, evitando um eventual
Obs. 2: a STF, 714 é inaplicável tumulto na persecução penal (CPP, 80).
quando o crime contra a honra do
funcionário público é de ação pública 5.7. Ação penal por extensão
incondicionada, como acontece no art. Nos termos do CP, 101, se um dos
355 do Código Eleitoral (Lei n. delitos autônomos para a formação do
4737/65) crime complexo é de ação pública, o
crime complexo também o será por
5.5. Ação penal secundária extensão ou desdobramento lógico.
A) Conceito
Um mesmo delito pode ser 5.8. Ação penal de 2º grau
persecutido por ações penais com É aquela ação penal deflagrada
legitimidade distinta, de acordo com as originariamente em Tribunal, quando a
circunstâncias legalmente estabelecidas. autoridade usufrui de foro por
Exemplo: é o que ocorre com os prerrogativa de função.
crimes contra a honra que
primariamente são persecutidos por 5.9. Ação penal nos crimes contra a
ação penal privada e secundariamente dignidade sexual
admitem ação pública, como ocorre
quando a vítima é a Presidente da Material de Apoio - Direito Processual
República. Penal - Nestor Távora - Aula 06 (II).pdf
A) Realidade antes da Lei n.
5.6. Ação penal adesiva 12.015/2009

34
A.1) Regra geral: os crimes B.2) Exceção. Excepcionalmente
sexuais eram persecutidos por ação os crimes sexuais são persecutidos por
privada. ação pública incondicionada nas
A.2) Exceções: excepcionalmente seguintes hipóteses:
os crimes sexuais eram persecutidos por i) vítima menor de 18 anos;
ação penal pública nas seguintes ii) vulnerável:
circunstâncias: a) os menores de 14 anos;
A.2.1) se a vítima fosse pobre a Observações:
persecução pública estaria condicionada 1) percebe-se que a
a representação. vulnerabilidade dos menores de 14 anos
A.2.2) ação pública é essencial para caracterização da
incondicionada nos seguintes casos: por tipicidade, já que o consentimento com
abuso do poder familiar; por abuso nas ato é irrelevante;
relações de tutela ou curatela; quando o 2) segundo Guilherme Nucci,
crime ocasionasse lesão grave ou morte. devemos distinguir a vulnerabilidade
Advertência. O STF, ainda antes absoluta da relativa, já que a maturidade
da reforma, editou o enunciado 608 de sexual do menor de 14 anos ocasionará
sua súmula, considerando que o estupro a atipicidade da conduta.
é um crime complexo, de forma que, Advertência. Para o STJ, a
havendo o emprego de violência real distinção é irrelevante, pois o critério
(agressão física) restaria concluir que o etário é objetivo.
estupro seria persecutido por ação b) as pessoas que não podem
pública incondicionada, mesmo com a resistir ao ato. Ex.: pessoas em estado
ocorrência de uma mera lesão leve ou de coma.
de vias de fato, por aplicação do art. 101 Advertência: segundo o STJ, a
do CP. vulnerabilidade transitória é melhor
enquadrada no âmbito da ação pública
B) realidade após a L12015 condicionada, pois o desejo do
B.1) Regra geral legislador para o incondicionamento da
Atualmente, os crimes sexuais são ação abrange a vulnerabilidade
persecutidos por ação pública permanente. Ex.: embriaguez
condicionada a representação, mesmo transitória.
que provoquem lesão grave ou morte. *****
Conclusão: percebe-se que a nova
redação do art. 225 do CP é
incompatível com a STF, 608.
Advertência. A Procuradoria PROVAS
Geral da república ajuizou a ADI 4301,
ao fundamento de que a nova redação
do art. 225 do CP ofende a dignidade da 1. Conceito
pessoa humana e o princípio da vedação É tudo aquilo que é levado aos
da proteção deficiente, como corolário autos na expectativa de convencer o juiz
do princípio da proporcionalidade, no enfrentamento da demanda. Cf.
afinal, não é razoável o Nicola Malatesta.
condicionamento da persecução em Obs.1) destinatários
crimes de tamanha gravidade. A) imediato/direto é o juiz;
Conclusão. Segundo a doutrina, B) mediato/indireto – as partes
acomodamos a solução com a aplicação são destinatárias mediatas, afinal, a
do art. 101 do CP. qualidade do manancial probatório
contribui com a aceitação do

35
provimento jurisdicional, evitando a C) Fatos axiomáticos ou intuitivos
vingança privada. Conclusão. São aqueles que se
Obs. 2) para Guilherme Nucci, a autodemonstram por sua clarividência
prova admite três acepções conceituais D) Presunções
distintas D.1) Conceito
A) ato de provar Elas caracterizam a conclusão
O foco é o que foi alegado e a extraída de um raciocínio lógico
exatidão com os elementos trazidos para coerente, pela observação do que
correspondente demonstração normalmente acontece.
B) Meio probatório D.2) Classificação
São os instrumentos utilizados D.2.1) Presunção hominis: é
para prospectar a prova pretendida aquela extraída do cotidiano, não tendo
C) Quanto ao resultado da ação de disciplina legal
provar D. 2.1) Presunção iuris/legal: É
O foco é a própria finalidade da aquela positivada em lei como
prova produzida, qual seja, o expressão de verdade, dispensando a
convencimento do juiz. produção probatória pelo seu
beneficiário.
2. Natureza jurídica Obs.: modalidades
Segundo Denílson Feitosa i) presunção legal absoluta ou
Pacheco, a prova é enquadrada como juris et de jure: é aquela que não admite
um direito subjetivo, intimamente prova em sentido contrário (ex.:
ligado ao exercício da ação e a inimputabilidade dos menores de 18
construção da atividade defensiva anos).
ii) presunção legal relativa ou
3. Objeto juris tantum: é aquela que admite prova
em contrário.
3.1. Objeto da prova (relevância) Conclusão. Em verdade, ela
Conclusão inverte o ônus da prova, já que a parte
Os fatos relevantes que compõe a contrária terá a responsabilidade de
imputação integram o objeto da prova. ilidi-la. Exemplo: presunção de
idoneidade dos atos praticados pelo
3.2. Objeto de prova (pertinência) funcionário público.
Conclusão: iremos detectar a
pertinência da atividade das partes no 4. Classificação
esforço probatório, constatando o que é
necessário provar, e por exclusão as 4.1. Quanto ao objeto
hipóteses de dispensa. A) prova direta – é aquela que
Obs.: dispensa probatória. Por incide diretamente no objeto da prova,
disposição legal, estaremos dispensados sem a necessidade de nos valermos de
de provar os seguintes elementos: qualquer artifício interpretativo.
A) direito federal Exemplo: testemunha ocular.
Advertência. O direito estadual, o B) prova indireta – é aquela que
municipal, o alienígena e o prova um outro fato, exigindo um
consuetudinário demandam prova raciocínio jurídico para que o fato
quanto à vigência e existência. discutido em juízo seja ilidido ou
B) Fatos notórios (verdade sabida) ratificado. Ex.: álibi.
É aquele dominado por parcela
significativa da população 4.1. Quanto ao efeito ou valor
medianamente informada.

36
A) prova plena – é aquela que I) provas nominadas – são aquelas
autoriza o exercício de um juízo de cujo meio de produção está disciplinado
certeza quanto ao fato discutido no em lei (artigos 158 a 250 do CPP);
processo. II) provas inominadas – são
Conclusão. Exigimos prova plena aquelas que ainda não possuem
para absolvição sumária (CPP, 397 e disciplina legal (ex.: clichê-fônico).
415) ou para a condenação do réu ao Advertência. Provas nominadas e
final da instrução (CPP, 387). inominadas podem ser utilizadas, não
B) prova não plena ou “indiciária” havendo hierarquia entre elas.
(meros indícios) – ela servirá para
adoção de medidas cautelares, para a 5.3. Justificação principiológica da
oferta da inicial acusatória e para ampla utilização probatória
absolvição ao final da instrução, A) princípio da liberdade na
revelando um juízo de verossimilhança. produção probatória – por ele temos
ampla liberdade na prospecção e
4.3. Quanto ao sujeito ou à causa utilização da prova, admitindo-se a
valoração das provas nominadas e
A) prova real. É aquela que inominadas (item VII da Exposição de
decorre do próprio fato probatório, Motivos do CPP, CPP, 155, caput e
instituindo a sua evidência ou seu CRFB, 93, IX).
objeto. Ex.: fotografia B) Princípio da verdade real ou
B) prova pessoal – é aquela que material – por este princípio, o juiz
dependerá do conhecimento ou criminal não se conformará com
apreciação sensorial de determinada especulações de verdade, e o processo
pessoa. Ex.: depoimento do ofendido. deve reconstruir o cenário fático e
circunstancial existente à época do
4.4. Quanto à forma ou aparência crime.
A) prova testemunhal – é aquela Obs.: principio da verdade
decorrente de alguém, mesmo que não processual ou da verdade humanamente
seja tecnicamente testemunha. Ex.: possível
interrogatório do réu.
B) prova documental – é aquela Material de Apoio - Direito Processual
onde o pensamento é representado Penal - Nestor Távora - Aula 07 (II).pdf
graficamente em um papel ou Aula perdida por conta do curso
documento. Exemplos: contrato, de mediação (não foi possível repô-la à
fotografia. noite). Usar o material do professor.
C) prova material – é aquela onde
o elemento físico integra o próprio
objeto da prova. Ex.: apreensão dos
instrumentos do crime.

5. Meios de prova

5.1. Conceito
São as ferramentas empregadas
para prospectar a prova e encaminhá-la
ao conhecimento do julgador.

5.2. Classificação da prova quanto ao


meio empregado

37
Material de Apoio - Direito Processual V.b.1) Descoberta fortuita de
Penal - Nestor Távora - Aula 08 (II).pdf novos infratores
Segundo o entendimento
C) Teoria da contaminação amplamente prevalente, o teor da
expurgada ou teoria da conexão interceptação pode ser aproveitado em
atenuada face de todos os indivíduos
C.1) Conceito (serendipidade subjetiva).
Por ela se o nexo existente entre a V.b.2) Descoberta fortuita de
prova derivada e a prova ilícita é frágil, novas infrações
o juiz poderá rompê-lo, eliminando a Segundo Vicente Greco Filho, se
contaminação. os crimes forem conexos, o teor a
C.2) Origem interceptação valerá como prova em
Ela se origina na jurisprudência face de todos os delitos (chamado pela
norte-america, não tendo paralelo na doutrina de serendipidade objetiva de
reforma do sistema probatório primeiro grau).
(L11690/08). Em outro giro, não havendo
conexão entre os delitos, a interceptação
D) Teoria da boa-fé servirá como mera notícia crime,
D.1) Conceito oportunizando a instauração da
Por ela, o descumprimento da Lei investigação (serendipidade objetiva de
para obtenção da prova pode ser segundo grau).
neutralizado, desde que a autoridade Obs.: segundo o STJ, se o crime
esteja de boa-fé, no momento da conexo é apenado com detenção, ainda
prospecção. assim, a interceptação telefônica valerá
D.2) Origem como prova, em grave ofensa ao art. 2º,
Seu lastro é a jurisprudência inc. III da Lei 9296/96.
estadunidense, não tendo paralelo na
reforma do sistema probatório 6. Prova emprestada
brasileiro.
Advertência. O STF, no caso PC 6.1. Conceito
Farias, afastou a teoria da boa-fé, Prova emprestada. É aquela
engendrada para justificar o prospectada em um processo e
elastecimento dos limites do mandado transferida documentalmente a outro,
de busca e apreensão, sem prévia revelando um sistema de mútua
autorização do juiz. colaboração entre órgãos jurisdicionais.

V – Teoria do encontro fortuito de 6.2. Requisitos (cumulativos)


provas A) as partes que atuem no
V.a) Conceito processo emprestante sejam as mesmas
Se a diligência probatória revelar que figuram no processo que receberá a
elementos até então desconhecidos, prova emprestada.
como regra, eles serão aproveitados, Advertência. O STJ já admitiu o
desde que não exista desvio de empréstimo de interceptação telefônica
finalidade. sem que exista coincidência de partes.
Advertência. Segundo LFG o B) Disciplina normativa da prova
encontro fortuito caracteriza o Conclusão: percebe-se que é
fenômeno da serendipidade, ou a teoria intolerável o empréstimo de prova
do “descubrimento casualis”. ilícita, salvo para beneficiar o réu.
V.b) Regra especial na C) respeito ao contraditório
interceptação telefônica

38
Conclusão: não se admite o atribuída às partes, que se submeterão
empréstimo sem submissão ao às consequências por eventual omissão
contraditório no processo emprestante (art. 156, caput, CPP).
(STF, HC 95186)
D) Fato provado 7.2. Classificação
É necessário que o fato 7.2.1. Ônus objetivo
demonstrado pela prova que se pretende Revela a construção de uma regra
emprestar seja útil a ambos os processos interpretativa que evidencia a postura
do juiz ao decidir, pautada no princípio
6.3. Empréstimo da interceptação do in dubio pro reo (técnica de decisão).
telefônica
6.3.1. 1ª Posição: segundo LFG, a 7.2.2. Ônus subjetivo
interceptação não pode ser emprestada A) Conceito
para a esfera extrapenal, sob pena de Ele caracteriza a incumbência
grave ofensa ao teor do art. 1º da Lei n. probatória inerente à atuação das partes.
9296/96. B) Distribuição
Advertência. O STF já admitiu o B.1) 1ª Posição: para Paulo
empréstimo para instruir procedimento Rangel, o ônus é integralmente inerente
administrativo disciplinar. STF, INQ à atividade acusatória, e a defesa é
2725 de 2008. desprovida da responsabilidade de
6.3.1. 2ª Posição: de acordo com provar, já que o comando constitucional
Fredie Didier Jr., e com Cléber Masson, trás ao juiz a percepção da presunção de
o empréstimo é amplamente tolerado, não-culpabilidade e a regra do in dubio
desde que respeitados os requisitos do pro reo (minoritária).
art. 2º da Lei n. 9296/96 no momento da B.2) 2º posição: segundo
prospecção. Tourinho Filho, em posição majoritária,
o ônus está distribuído da seguinte
6.4. Empréstimo do incidente de forma:
insanidade mental B.2.1) acusação – autoria,
materialidade, nexo causal, dolo/culpa;
6.4.1. Conceito B.2.2) defesa – excludentes de
O instituto é tratado no capítulo ilicitude; excludentes de culpabilidade;
dos procedimentos incidentais, e não causa obstativa ou extintiva da
das provas em espécie, almejando aferir punibilidade.
a higidez mental no momento em que o
delito foi praticado. 7.3. Iniciativa probatória do juiz
Conclusão 1: percebe-se que não 7.3.1. Conceito
haverá o empréstimo do incidente, Atualmente, o CPP confere
exigindo-se a sua instauração em cada iniciativa probatória ao juiz, amparada
persecução penal. pelo princípio da verdade real.
A aferição da doença mental na Advertência. Vale lembrar que o
esfera extrapenal é irrelevante para fins magistrado não possui ônus de provar,
de aplicação de medida de segurança, pela própria interpretação do CPP, 156.
exigindo-se o incidente na esfera penal. 7.3.2. Hipóteses
A) Para dirimir dúvida sobre
7. Ônus da prova ponto relevante ao longo da instrução;
B) Durante o inquérito, o juiz
7.1. Conceito poderá determinar a produção
É a incumbência de demonstração antecipada de provas consideradas
do que foi alegado, normalmente urgentes e relevantes, pressupondo o

39
respeito à necessidade, à adequação, e à demonstração de determinada situação
proporcionalidade. jurídica.
B.2) Aplicação
7.3.3. Crítica Como regra, o sistema da verdade
Segundo Aury Lopes Jr. a redação legislativa encontra-se superado (Item
do art. 156 do CPP representa uma VII da exposição de motivos do CPP).
intolerável ofensa ao sistema acusatório, Entretanto, subsistem diversos
instituindo a figura do juiz inquisidor, o resquícios, vejamos:
que compromete o princípio do devido B.2.1) De acordo com o CPP,
processo legal (posição minoritária). 155, p. ú, o estado civil das pessoas é
Advertência. Segundo Eugênio demonstrado conforme os ditames da
Pacelli, o juiz pode excepcionalmente legislação civil.
determinar a produção de provas ex B.2.2) De acordo com o CPP,
officio para evitar uma injusta 158, a demonstração da materialidade
condenação. dos crimes que deixam vestígio exige a
realização do exame de corpo de delito,
8. Sistemas de valoração probatória e na sua impossibilidade será suprida
pela utilização da prova testemunhal
8.1. conceito (CPP, 167).
Eles revelam a postura decisória e
valorativa do juiz diante do manancial C) Sistema do “livre”
probatório e de eventuais lacunas convencimento motivado, ou sistema da
deixadas pelas partes durante a persuasão racional
instrução. C.1) Conceito
Por ele, o magistrado tem
8.2. Hipóteses (classificação sistêmica) liberdade para decidir valorando o
a) sistema da intima convicção, manancial probatório, desde que o faça
sistema da verdade judicial, ou sistema de forma motivada.
da certeza moral do juiz. Conclusão 1: A deliberação do
A.1) Conceito Juiz se submete a controle, por
Por esse sistema, o magistrado intermédio da organização do sistema
tem ampla liberdade decisória, de recursal.
maneira que está dispensado de motivar Conclusão 2: o referido sistema é
o julgado, podendo sofrer influência das adotado como regra na esfera criminal.
suas preconcepções e da suas Conclusão 3: por este sistema, não
idiossincrasias. temos hierarquia normativa entre as
A.2) Aplicação provas admissíveis no processo.
O resquício da íntima convicção é C.2) Embasamento normativo
positivado na atuação dos jurados no
Plenário do Júri (cRFB, XXXVIII, “b”).
Material de Apoio - Direito Processual
B) Sistema da verdade legislativa, Penal - Nestor Távora - Aula 09 (II).pdf
sistema da certeza moral do legislador CRFB, 93, IX, art. 155, caput do
ou sistema da prova tarifada CPP e item VII da Exposição de
B.1) Conceito Motivos do CPP.
Por ele, o legislador preestabelece Advertência. Os artigos 371 e 372
o valor de cada prova em um sistema do CPC traçam o perfil judicial na
hierarquizado, podendo até mesmo valoração da prova, ao passo que o § 1º
indicar a prova adequada na do art. 489, tb. do CPC, enfrenta a

40
técnica de argumentação a ser 9.3. 3ª etapa) produção da prova e
implementada nas decisões judiciais. submissão ao contraditório
Obs.1: de acordo com a nova
9. Procedimento probatório redação do art. 400 do CPP, as provas
9.1. 1ª etapa) Proposição da prova serão usualmente produzidas em
A) Conceito audiência una de instrução, debates e
Ela contempla o requerimento de julgamento.
produção da prova ou de inserção nos Obs. 2: quanto a prova é pré-
autos, nas hipóteses de prova pré- constituída, na audiência, ela será
constituída. submetida ao crivo do contraditório,
B) momento com a efetiva atuação das partes.
A acusação apresentará o seu
requerimento ao ofertar a inicial 9.4. 4ª etapa) Valoração da prova
acusatória (art. 41 do CPP), ao passo Conclusão: cabe ao juiz, no
que a defesa propõe a prova na resposta momento em que decide, valorar as
escrita à acusação (Art. 396-A do CPP). provas produzidas, e afastar aquelas que
Advertência. O requerimento de não foram importantes para sua
produção probatória, como regra, não se convicção. Cabe ao juiz, na decisão,
submete a preclusão, ressalvada a prova valorar o manancial probatório decisivo
testemunhal. a formação do convencimento,
Mesmo com a preclusão, nada indicando as demais provas que não
impede que a testemunha seja ouvida atingiram a finalidade pretendida.
como testemunha do juízo, por força da
iniciativa probatória do magistrado (art. 10. Princípios
156, II do CPP). 10.1. Princípio da auto responsabilidade
das partes
9.2. 2ª etapa) Admissão da prova A) Conceito
A) Conceito As partes, de acordo com as
Ela caracteriza a deliberação regras do ônus da prova, se submetem
judicial para que a prova seja produzida às consequências de eventual omissão
ou para que integre os autos, nas na produção probatória (CPP, 156).
hipóteses de prova pré-constituída.
B) Sistema recursal 10.2. Princípio da audiência
A inadmissibilidade da prova é contraditória
promovida por ato irrecorrível, o que A) Conceito
não impede o manejo da correição Segundo Mirabete, toda prova
parcial, como medida para contornar o admite contra prova, e o contraditório
tumulto no procedimento ocasionado será simultâneo ou postergado no
por um ato do juiz. tempo, nas hipóteses de prova pré-
Advertência. A parte prejudicada constituída.
poderá se valer das ações autônomas de
impugnação, notadamente o habeas 10.3. Princípio da aquisição ou da
corpus ou o mandado de segurança. comunhão
Advertência 2. A parte poderá A) Conceito
suscitar em preliminar de futura A prova pertence ao processo e
apelação a nulidade do processo, por não à parte que a propôs.
cerceamento ao direito de acusar ou ao Conclusão. Se a parte pretende
direito de defesa. desistir da prova proposta o juiz deverá
ouvir a parte contrária, podendo

41
determinar a produção, por força de sua aos autos principais da investigação ou
iniciativa probatória (cf. 156 do CPP). do processo, o advogado do investigado
terá contato com todo o material,
10. 4. Princípio da oralidade podendo inclusive tirar cópias físicas ou
A) Conceito digitais (SV, 14, c/c art. 7º, XIV do
Atualmente prepondera na EAOAB).
instrução a oralidade, de maneira que B) Reconhecimento de pessoas
decorrem os seguintes princípios. De acordo com o art. 226 do CPP,
a pessoa a ser reconhecida na fase do
10.4.1. Princípio da concentração inquérito, pode ser impedida de
A) Conceito visualizar o reconhecedor, mitigando-se
Os atos instrutórios serão reunidos o princípio da publicidade.
em uma só audiência, que admite Obs.1: tal restrição não foi
desmembramento. idealizada para a fase processual.
Obs. 2: Segundo NUCCI, mesmo
10.4.2. Princípio da imediatidade de lege ferenda, poderemos preservar a
A) Conceito identidade do reconhecedor também na
Por ele, as provas normalmente fase processual, invocando-se o
serão produzidas perante a autoridade princípio da proporcionalidade.
judicial. C) Provas irrepetíveis e provas
cautelares
10.4. 3.Princípio da identidade física do As provas cautelares são
juiz justificadas pelo fator necessidade e
A) conceito urgência, ao passo que as provas
Nos termos do § 2º do art. 399 do irrepetíveis são aquelas de iminente
CPP, o juiz que presidir a instrução, perecimento.
como regra, deverá sentenciar a causa. Como usualmente são
Advertência. Vale lembrar que são prospectadas no inquérito, ficam a
toleradas diversas mitigações à margem da publicidade. Entretanto,
identidade física, como as provas quando migram ao processo, se
produzidas por rogatória ou precatória, submetem ao contraditório e à ampla
assim como às situações de defesa diferidos, assim como à
aposentadoria, promoção, caso fortuito correspondente publicidade inerente à
ou força maior. fase processual.
D) Risco de intimidação da vítima
10.5. Princípio da publicidade ou das testemunhas
I) Conceito D.1) Ouvir a vítima e as
A prospecção da prova testemunhas por vídeo conferência,
transcorrerá, como regra, amparada pela estando o réu na sessão de audiência
publicidade, como consectário do com o juiz
devido processo legal, do contraditório D.2) Deixar o réu no
e da ampla defesa. estabelecimento prisional para que ele
II) Mitigações assista a sessão e ao final seja
A) Interceptação telefônica interrogado por vídeo conferência.
Nos termos do art. 8º da Lei n. D.3) Não havendo tecnologia para
9692/96, a diligencia para captação das a vídeo conferência, o réu será retirado
conversas justificará a elaboração de da sala de audiência, e a vítima será
autos apartados e em sigilo. ouvida, assim como as testemunhas, na
Conclusão: concluída a diligência presença do advogado de defesa. Cf.
com a degravação da conversa e juntada CPP, 185, § 2º, III c/c 217.

42
imediato encarceramento (cf. STF, AO
E) Cláusula geral de mitigação 1046);
De acordo com o § 1º do art. 792 2) O STF, no julgamento do HC
do CPP, o juiz poderá mitigar a 126292 de relatoria do Min. Teori
publicidade nas seguintes hipóteses: Zavaski e, por sua composição Plenária,
E.1) risco de inconveniente grave; passou a entender que a confirmação da
E.2) risco de escândalo; decisão condenatória em segundo grau
E.3) risco de perturbação. de jurisdição, já autoriza o início da
execução da pena.
10. 6. Princípio da presunção de
inocência ou da não culpabilidade 10.7. Princípio da não autoincriminação
(nemo tenetur se detegere)
10.6.1. Enquadramento normativo
A) O art. 5º, LVII fala em 10.7.1. Enquadramento normativo
presunção de não culpabilidade. O art. 5º, LXIII da CRFB
B) o art. 8º, 2 da CADH consagra o direito ao silêncio.
(Convenção Americana de Direitos O art. 8º, 2, “g” da CADH trata
Humanos ou Pacto de São José da Costa expressamente da não autoincriminação,
Rica) trata da presunção de inocência. tendo o status de norma supralegal.

10.6.2. Regras de interpretação 10.7.2. Titular do direito


1ª posição) prepondera o Qualquer pessoa que possa se
entendimento de que as expressões são autoincriminar. Em que pese a
sinônimas; testemunha ter o dever para com a
2ª posição) de acordo com verdade, sob pena de falso testemunho
Rogério Sanchez, ao longo da (CP, 342), na parte do depoimento que
persecução penal, teremos uma regra de possa incriminá-la, admite-se que ele
tratamento pautada na presunção de não falseie a verdade ou invoque o silêncio.
culpabilidade, que é compatível com a
adoção de medidas cautelares pessoais 10.7.3. Desdobramentos processuais
ou patrimoniais, que visam contribuir A) Advertência quanto ao direito
com a demonstração da imputação. de não produzir prova contra si mesmo.
Advertência. Uma parte da Os tribunais superiores entendem
doutrina italiana entende que a após a que a autoridade deve advertir o agente
prolação da sentença condenatória, a quanto ao correspondente direito.
regra de tratamento muda, e o réu já Conclusão: tal advertência é
poderá ser considerado como se similar ao “aviso de Miranda” do direito
estivesse definitivamente condenado. norte-americano, que comporta o
Advertência 2. Até o início de seguinte conteúdo:
2016, o STF considerava que o a.1) direito de não responder;
encarceramento na pendência do a.2) direito a um advogado;
recurso especial ou do recurso a.3) ciência de tudo o que disser
extraordinário, pressupunha a presença poder ser utilizado contra.
dos requisitos autorizadores da prisão Obs.1: a gravação clandestina
preventiva (artigos 312 e 313 do CPP). promovida por delegado de polícia
Conclusões: caracteriza prova ilícita, pois a
1) Logo, a presunção de inocência autoridade tinha o dever de informar ao
era vista na sua essência, salvo quando a agente sobre o direito ao silêncio (STF,
parte se valia de recursos meramente HC 80949).
protelatórios, que não evitavam o

43
Obs. 2: segundo o entendimento Advertência. Para os tribunais
preponderante, o dever da advertência é superiores e para a doutrina majoritária
aplicável ao Poder Público, não sendo (NUCCI) não se pode faltar com a
extensível à imprensa (STF, HC 99558). verdade no momento da qualificação,
B) regras na rotina procedimental: sob pena de responsabilidade criminal
B.1) direito ao silêncio – a parte por falsa identidade (art. 307 do CP).
final do art. 198 do CPP não foi Conclusões:
recepcionada pelo art. 5º, LXVII da 1) tal entendimento capitaneado
CRFB pois se o juiz valorar o silêncio pelo STF (RE 640139) foi objeto do
prejudicando o réu a sentença será enunciado 522 da súmula do STJ.
acometida de nulidade absoluta. 2) em que pese a omissão da
B.1.1) direito ao silêncio vs. súmula, se o réu fica calado no
argumento de poder no Plenário do Júri momento da qualificação, em tese,
(debates orais): caberá responsabilidade criminal por
Conclusões: desobediência.
1) não se pode fazer referência,
nos debates orais, ao direito ao silêncio D) Direito de não praticar
invocado pelo réu como forma de comportamento incriminador
convencer os jurados, sob pena de Conclusão. Não há obrigação de
nulidade absoluta da sessão plenária do participar da reconstituição do crime
Tribunal do Júri (artigo 478, II do CPP). (art. 7º do CPP) ou de fornecer material
Advertência. Em situação similar, paradigmático para viabilizar o exame
também não pode fazer referência à grafotécnico por comparação de escritos
ausência do réu na sessão como (art. 174, inc. IV do CPP).
argumento de poder, pois o não Advertência. Em que pese a
comparecimento é expressão do direito divergência doutrinária, tem prevalecido
ao silêncio. o entendimento de que o
2) o argumento de poder é aquele comparecimento é obrigatório, mesmo
de caráter simbólico, invocado para que seja para invocar o direito ao
convencer o leigo. silêncio.

Material de Apoio - Direito Processual E) Direito de não submissão


Penal - Nestor Távora - Aula 10 (II).pdf
I) Prova invasivas
C) Direito à mentira II) Provas não invasiva
Existe apenas o direito a não se Ex.: raio X (STJ HC 149146)
autoincriminar. Se falseou a verdade
para atingir esse objetivo, trata-se de E.1) Identificação criminal
efeito colateral. Mas não existe A Lei n. 12.654/2012 autoriza que
dispositivo expresso sobre esse direito. o juiz determine a colheita de material
Da mesma forma, a atribuição do biológico para realização do
crime a outra pessoa, inocente, mapeamento genético, como elemento
configura sim crime. integrante da identificação criminal
Dito de outra forma, o nosso pressupondo a imprescindibilidade para
ordenamento não consagra o direito à a investigação (art. 3º, IV, Lei n.
mentira. Ao imputado reconhecemos a 12.037/2009).
inexigibilidade para com a verdade, Conclusões:
como decorrência da não-autoincri- 1) historicamente, não se tem
minação. admitido a negativa do agente a
submissão a identificação criminal, por

44
se tratar de um expediente que almeja público por concurso de provas e
individualizar a pessoa, não se títulos.
confundindo com os meios de prova. Advertência. A Lei n.
2) para que não ocorra 12.030/2009, conferiu, em seu art. 2º,
invasividade, o material biológico pode autonomia ao perito oficial, evitando
ser obtido por meio de descarte ou até ingerência externa na formulação do
mesmo por intermédio da busca e laudo
apreensão. B.2) Perito não oficial ou
3) A Lei n. 12694/2012, alterando juramentado – é a pessoa comum do
a Lei de Execução Penal, impõe a povo convocada pela autoridade a atuar
identificação criminal para réus na condição de perito.
definitivamente condenados pela prática Observações:
de determinados delitos, não se 1) o perito não oficial é
confundindo com a identificação compromissado a bem e fielmente
criminal. desempenhar o seu papel.
Cf. art. 9º-A da LEP 2) o perito não oficial se submete
a disciplina judiciária, e não poderá
desatender à convocação, salvo por
motivo legítimo devidamente
PROVAS EM ESPÉCIE demonstrado. Cf. arts. 275 e 277 do
CPP.
3) Peritos oficiais e não oficiais
1. Prova pericial são passíveis de responsabilidade penal
1.1) Conceito por falsa perícia (CP, 342).
Segundo Tourinho Filho, é o meio 4) As partes não interferem na
de prova onde a autoridade se valerá de nomeação do perito, que é pessoa de
um especialista em determinada seara confiança da autoridade. Na perícia
do conhecimento humano, que atuará determinada por precatória no âmbito
como auxiliar da administração da de uma ação privada, as partes poderão
Justiça. acordar que o perito seja nomeado pelo
órgão deprecante, e não pela autoridade
1.2) Tratamento normativo do perito deprecada (art. 177 do CPP).
A) Imparcialidade C) Nível escolar
As hipóteses de suspeição, É necessário que o perito tenha
impedimento ou incompatibilidade nível superior completo. Os peritos
inerentes aos juízes são extensíveis ao concursados antes da exigência têm
perito, onde houver pertinência. naturalmente direito adquirido, mas
Advertência. A correspondente estão proibidos de realizar perícia
exceção de suspeição, impedimento ou médica.
incompatibilidade será apresentada ao D) quantidade
juiz, que decidirá pelo afastamento ou D.1) Perito oficial – exige-se
não por meio de ato irrecorrível (CPP, apenas um;
280). D.2) Perito não oficial – são
Conclusão. O perito injustamente exigidos dois peritos.
afastado poderá impetrar mandado de Observações:
segurança. 1) A STF, 361 merece uma
B) Classificação releitura, pois a nulidade pela
B.1) perito oficial – é aquele que subscrição monocrática do laudo
integra os quadros do funcionalismo pericial subsiste para o perito não
oficial.

45
2) o laudo provisório ou de 2) as partes podem requerer ao
constatação disciplinado na Lei de juiz que o perito preste esclarecimentos
Tóxicos será subscrito por um só perito, na audiência de instrução, podendo
oficial ou não oficial (art. 50 da Lei de formular quesitos complementares.
Tóxicos da Lei n. 11.343/2006). Conclusões: 1) o perito poderá
Conclusão. O laudo provisório elaborar um laudo complementar; 2) o
será substituído por um definitivo, perito deve ser intimado com
atendendo ao regramento geral quanto antecedência mínima de dez dias da
ao número de peritos. audiência de instrução, recebendo com a
intimação os quesitos complementares.
1.3. Tratamento normativo do laudo 3) o entendimento prevalente
pericial inadmite a formulação de quesitos pela
A) Conceito defesa na fase investigativa, em virtude
É a formalização do trabalho da inquisitoriedade do inquérito.
intelectual do perito, contendo as suas Advertência. Espera-se uma breve
conclusões (cf. CPP, 160). mudança em tal entendimento, por força
B) Prazo do atual papel do advogado na fase
10 (dez) dias, prorrogáveis por investigativa, nos termos do art. 7º,
estrita necessidade, pressupondo a XXI, do EAOAB (Lei n. 8906/94).
provocação do perito e a deliberação da 4) Divergência.
autoridade (p. ú. do art. 160 do CPP). I) aspecto formal – os peritos
Advertência. A Lei não define o poderão elaborar laudos separados. Ao
tempo, nem a quantidade de vezes em optarem por elaborar laudo único,
que a prorrogação é admitida. devem explicitar as razões da
C) Estrutura divergência.
C.1) Primeira etapa – preâmbulo II) postura da autoridade
Será explicitado o objeto da II.a) primeira posição: para
perícia, assim como a qualificação dos Mirabete, em posição estritamente
peritos. legalista, deve o juiz nomear um
C.2) Segunda etapa – esboço terceiro perito para solucionar a
fático. Nele, os peritos indicarão as divergência. Persistindo a polêmica, a
impressões sensoriais quanto ao objeto autoridade “poderá” determinar uma
da perícia. nova perícia, com a designação de
Advertência. Nos termos do art. outros peritos.
6º, I do CPP deve o delegado isolar o II.b) segunda posição: segundo
local do crime para atuação dos peritos. NUCCI, a nomeação do terceiro perito é
C.3) Terceira etapa – esboço facultativa, por força do livre
técnico. Os peritos apontarão as regras convencimento motivado. Persistindo a
da ciência dominante ao objeto da divergência, a determinação de uma
perícia, de maneira a dar substância e nova perícia é também facultativa.
conteúdo ao laudo. D) Defeitos do laudo – os defeitos
C.4) Quarta etapa – resposta aos meramente acidentais serão corrigidos a
quesitos. Os peritos organizarão as qualquer tempo. Os defeitos estruturais
perguntas formuladas pela autoridade e demandam a realização de uma nova
pelas partes, promovendo a perícia, com a intervenção de outros
individualização das respostas. peritos.
Observações: E) Sistemas de valoração
1) os quesitos podem ser E.1) Sistema de vinculatório
formulados pela autoridade e pelas
partes até antes do início da perícia;

46
Por ele, o Juiz não poderá 2. Exame de corpo de delito
contraria o laudo, estando vinculado a 2.1. Conceito
conclusão do perito. A) Corpo de delito
E.2) sistema liberatório São os vestígios deixados pela
Por ele o juiz tem liberdade para infração, quaisquer que sejam eles.
deliberar, podendo contrariar a Exemplos: hematoma no crime de lesão
conclusão do laudo, pressupondo a corporal.
adequada motivação no confronto com Quando a infração deixa vestígios,
o manancial probatório (CRFB 93, IX.). ela é chamada de não transeunte ou
Conclusão: o sistema liberatório é o intranseunte.
adotado no Brasil. B) Exame de corpo de delito
É a perícia que tem por objeto os
Material de Apoio - Direito Processual vestígios deixados pela infração.
Penal - Nestor Távora - Aula 11 (II).pdf
1.4. Tratamento normativo do assistente 2.2. Necessidade
técnico Se a infração deixou vestígios, o
A) conceito exame é ato necessário, sob pena de
É o perito contratado pela parte nulidade absoluta do processo (art. 564,
para elaborar um parecer técnico, na III, b).
expectativa de fomentar ou apontar A ausência do exame pode ser
fragilidades no laudo pericial. suprida pela prova testemunhal (art. 167
Advertência. Vale lembrar que o do CPP), evitando a invalidação.
assistente não interfere na elaboração do Advertência. Percebe-se a
laudo pericial. precipitação normativa, afinal a
B) admissibilidade ausência da perícia justifica a
absolvição do réu, por não estar provada
a materialidade da infração (cf. CPP,
O assistente atuará na fase 386, II).
processual, cabendo ao juiz deliberar
quanto a sua admissão por decisão 2.3. Procedimento
irrecorrível. A) 1ª posição – segundo NUCCI,
Conclusão. O ato judicial desafia se o crime deixou vestígios,
mandado de segurança. realizaremos o exame direto, que é
C) Quantidade vs. perícia aquele onde os peritos dispõe dos
complexa vestígios para análise. Não sendo
Cada parte poderá contratar um possível, será elaborado o exame
assistente. Nas perícias complexas, que indireto, onde os peritos utilizarão
são aquelas que exigem o domínio em elementos acessórios para confecção do
mais de uma seara do conhecimento laudo.
humano, a parte poderá contratar mais Advertências:
de um assistente e a autoridade poderá 1. Não sendo possível o exame
se valer de mais de um perito oficial, direto ou indireto, a confissão do réu
cada qual atuando dentro da sua não será utilizada para demonstração da
especialidade. materialidade (art. 158, parte final).
D) Acesso ao objeto da perícia 2. A confissão pode contribuir na
O assistente terá acesso ao objeto demonstração da autoria (não da
da perícia em ambiente oficial materialidade).
(normalmente o IML), acompanhado 3. Nos termos do art. 167 do CPP,
por um perito oficial. a prova testemunhal suprirá a omissão
da perícia.

47
B) 2ª posição – para o STJ, o mero “boletim médico”, evidenciando a
exame indireto é sinônimo de ouvir materialidade da infração.
testemunha, não contando com a
intervenção de perito ou com a 3. Interrogatório
elaboração de laudo. 3.1 Conceito
C) 3ª posição – para Denilson É o momento na persecução penal
Feitosa Pacheco, o exame indireto onde o agente apresentará a sua versão
admite a seguinte distinção: c.1) exame dos fatos, exercendo, se desejar, a
indireto pericial – conta com a autodefesa.
intervenção do perito e a elaboração de Conclusão. O princípio da ampla
laudo (CPP, 158); c.2) exame indireto defesa é integrado pela defesa técnica
judicial – ele retrata a oitiva das como ato necessário (STF, 523), e pela
testemunhas durante a instrução, autodefesa como deliberalidade do
revelando a existência do crime, não imputado, correlacionada ao direito ao
contando com a intervenção de perito silêncio.
ou a elaboração de laudo (CPP, 167).
2.4. Horário 3.2. Natureza jurídica
A perícia é realizada 24 horas por a) 1ª posição – o CPP enquadra o
dia, 7 dias por semana, respeitando-se, interrogatório no capítulo das provas em
contudo, as hipóteses de inviolabilidade espécie (capítulo II, Título VII, Livro I)
domiciliar (CRFB, 5º, XI). b) 2ª posição – Tourinho Filho e
Advertência. Na autópsia, os Eugênio Paccelli. Para eles, o
peritos devem respeitar o tempo de seis interrogatório deve ser enquadrado
horas da constatação do óbito, evitando como um meio de defesa.
o risco de periciar pessoa viva (CPP, Conclusão. Diante desta
162). constatação, não subsistem
Conclusão. O tempo de segurança consequências processuais pejorativas
pode ser antecipado, pressupondo quanto à postura do réu, como a
idônea justificação. condução coercitiva ou a declaração de
revelia pela ausência injustificada.
2.5. Condição de procedibilidade c) 3ª posição – para os tribunais
I – Conceito superiores o interrogatório tem natureza
Eventualmente a perícia é elevada híbrida, sendo um meio de prova e de
ao status de condição de defesa.
procedibilidade, e sem ela a persecução d) 4ª posição – para NUCCI, o
penal estará prejudicada, devendo-se interrogatório merece uma gradação,
rejeitar a inicial. sendo primordialmente um meio de
II – Hipóteses defesa e secundariamente um meio de
II.a) CPP, 525 – de acordo com prova.
este dispositivo, a perícia é condição
para o recebimento da inicial nos crimes 3.3. Necessidade
contra a propriedade imaterial que A oportunidade para que o
deixam vestígios. interrogatório se realize é imposta por
II.b) Lei n. 11343/2006, art. 50 – lei, não cabendo ao juiz deliberar
o laudo preliminar de constatação é quanto à conveniência de realizar ou
essencial para adoção de providências não o interrogatório.
criminais. Conclusão. A supressão do
Advertência. Em outro prisma, o § interrogatório é fato gerador de nulidade
1º do art. 77 da LJECrim autoriza que a (CPP, 564, III, e).
inicial acusatória esteja lastreada no Observações:

48
1) Gradação da nulidade: Advertência. Situação distinta
a) 1ª posição – segundo Eugênio acontece na fase investigativa, onde a
Paccelli, a nulidade é absoluta por nulidade deriva do impedimento para
violação ao princípio constitucional da que o advogado acompanhe o cliente
ampla defesa. (art. 7º, XXI do EAOAB)
b) 2ª posição – para o STF, a Conclusão. Se o suspeito
nulidade é meramente relativa, exigindo comparecer ao ato sem advogado, ele
a demonstração de prejuízo para sua será normalmente ouvido.
declaração (cf. HC82933).
2) peculiaridade no Plenário do 3.4.3. Interrogatório do réu preso
Júri – o réu preso e o advogado podem A) 1º momento – no início da
subscrever requerimento conjunto década passada, a doutrina intensificou
para o não comparecimento na sessão a discussão quanto à introdução do
plenária, frustrando a realização do interrogatório por vídeo conferência,
interrogatório, diante da estratégia surgindo as seguintes posições:
defensiva (CPP, 457, § 2º). A.1) primeira posição – para
3) Interrogatório na esfera Alexandre de Moraes, a vídeo
eleitoral – na legislação eleitoral o conferência se propõe a minimizar os
interrogatório cede espaço a uma riscos de fuga, o esforço humano no
manifestação escrita resistindo ao teor deslocamento e os custos exorbitantes;
da imputação (art. 359, p. ú. do Código A.2) 2ª posição – para René Ariel
Eleitoral). Dotti, a vídeo conferência ofende a
Advertência. O STF, ao julgar o dignidade da pessoa humana, trazendo
HC 107795, veiculado no informativo impessoalidade na administração da
659 de 2012, de relatoria do Min. Celso Justiça penal e comprometendo a
de Mello, consignou que a legislação cognição do Juiz.
eleitoral deve estar em consonância com B) com o advento da Lei n.
a reforma promovida no art. 400 do 10792/2003, o legislador reformou o
CPP pela Lei n. 11719/2008, de forma interrogatório, sendo omisso no
que a apresentação da resposta escrita tratamento da vídeoconferência. Em
não dispensa o interrogatório ao final da contrapartida, foi regulamentada a ida
instrução. do Juiz ao estabelecimento prisional
para realização do interrogatório, uma
3.4. Procedimento (cf. Leis n. vez presentes os seguintes requisitos
10792/2003 e n. 11.900/2009) cumulativos: sala própria; publicidade
3.4.1. Direito de entrevista preliminar do ato; presença do advogado; garantia
reservada da segurança do Juiz, membro do MP e
Atualmente, o réu tem direito de auxiliares (não tratou da segurança do
ser orientado previamente pelo defensor público e do advogado)
advogado ou pelo Defensor Público. Advertência. Percebe-se que o §
Advertência. A ofensa ao § 5º do 1º do art. 185 do CPP não promoveu
art. 185 do CPP é fato gerador de nenhuma distinção quanto à gravidade
nulidade absoluta. do crime.

3.4.2. Presença do advogado Material de Apoio - Processo Penal -


Atualmente, o interrogatório em Nestor - Aula 12 (II).pdf
juízo pressupõe a presença do C) 3º momento: a Assembleia
advogado, sob pena de nulidade Legislativa do Estado de SP disciplinou
absoluta, por aplicação da STF, 523. o interrogatório por videoconferência,
editando a Lei Estadual n. 11.819/2005;

49
D) 4º momento: em 2007, o STF A videoconferência está adstrita à
reconheceu a inconstitucionalidade da cláusula de reserva jurisdicional,
vídeo conferencia estribada na pressupondo ordem judicial motivada.
correspondente lei estadual (HC 90900) Conclusões:
Conclusão. Com esse desfecho, a 1. O magistrado pode deliberar de
vídeo conferência amparada na ofício ou por provocação.
legislação estadual foi enquadrada como 2. Percebe-se que a
prova ilícita. videoconferência foi idealizada para a
E) 5º momento: mais fase processual.
recentemente, a vídeo conferência foi 3. Segundo NUCCI, a vídeo
disciplinada no parágrafo 2º do art. 185 conferência é incompatível com a
do CPP como medida excepcional, por sessão plenária do Júri.
força da Lei 11.900/2009. B) Intimação das partes
Elas serão intimadas com
3.4.3.1. Interrogatório por antecedência mínima de 10 (dez) dias
videoconferência, teleinterrogatório ou para que possam se preparar para o ato.
interrogatório on line C) Direito de entrevista preliminar
I) Conceito reservada.
É aquele realizado com captação e Mesmo na videoconferência, o réu
transmissão do som e imagem ao vivo, tem direito de ser orientado previamente
de forma bidirecional, por sistema pelo advogado ou pelo defensor
satelitário ou tecnologia similar. público.
II) Hipóteses (CPP, 185, § 2º) D) Atuação defensiva
A) para garantir a segurança [São dois advogados, sendo um
pública. Conclusão: O risco à segurança no estabelecimento de prisão e outro no
é evidenciado quando o réu integra fórum] Os advogados poderão
facção criminosa ou quando exista conversar entre si sem ingerência do
evidência de fuga. Estado. Do mesmo modo, o réu poderá
B) por impossibilidade do conversar com o advogado que está no
deslocamento do réu. Conclusão: a fórum ao lado do juiz.
impossibilidade é evidenciada quando o E) Fiscalização da sala de
réu é gravemente enfermo ou de transmissão
avançada idade. Haverá a fiscalização do juiz, do
C) risco de intimidação da vítima Ministério Público, da corregedoria e da
ou das testemunhas. Conclusão: a OAB (a Defensoria Pública não tem
videoconferência só será utilizada para previsão legal para exercer essa função).
interrogar o réu, se não for possível
ouvir a própria vítima e as testemunhas 3.4.3.2. Regras de interpretação e
por vídeo conferência; prevalência
D) Por gravíssima questão de A) Regra geral
ordem pública. A ordem pública é Ida do juiz ao estabelecimento
sinônimo de paz social, estando em prisional, cf. art. 185, § 1º do CPP.
risco quando a conturbação na comarca B) Regra especial
possa comprometer a realização do Interrogatório por
interrogatório (ex.: perigo de invasão do videoconferência, pois cabível nas
fórum para linchamento; justiçamento; estritas hipóteses do § 2º do art. 185 do
vingança a mão armada etc.). CPP.
C) Regra subsidiária
III) Questões complementares Se não estiverem presentes os
A) Legitimidade requisitos legais para a ida do juiz ao

50
estabelecimento prisional, o réu será pena ou embasar a absolvição do réu
conduzido ao fórum. O mesmo acontece por inexigibilidade de conduta diversa.
nas hipóteses de videoconferência, C.2) Pergunta sobre a imputação
quando não disponível tecnologia para O magistrado passa a fazer
implementá-la (CPP, 185, § 7º). perguntas sobre o teor da imputação
apresentada na inicial acusatória,
3.4.4. Estrutura do interrogatório oportunizando que o réu apresente a sua
A) 1º passo: qualificação do réu versão dos fatos, exercitando a
A.1) Conceito autodefesa (art. 187, § 2º).
Ela se caracteriza pela colheita de D) Perguntas formuladas pela
informações para verificar se o acusação e pelo advogado de defesa
indivíduo é quem afirma ser, o Obs. 1: o magistrado pode
diferenciando das demais pessoas. indeferir a repergunta em virtude da
A.2) Conteúdo impertinência ou da irrelevância (CPP,
Nome, sobrenome, nacionalidade, 188).
naturalidade, filiação, profissão, estado Advertência. Havendo desvio de
civil, RG, CPF e endereço. finalidade na denegação, a parte
B) 2º passo: ele será informado prejudicada poderá suscitar a nulidade
sobre o direito constitucional ao silêncio em preliminar de futura apelação.
(art. 5º, LXIII da CRFB c/c art. 186 do Obs. 2: o direito ao silêncio pode
CPP). ser invocado até mesmo nas reperguntas
Obs. 1: segundo NUCCI, em formuladas pelo advogado de defesa.
posição majoritária, a posição E) Desfecho
topográfica do direito ao silêncio nos Obs.1: será lavrado um termo de
permite concluir que ele não abrange a audiência consignando de forma
qualificação do agente. fidedigna as perguntas e respostas,
Conclusões: colhendo-se as respectivas assinaturas.
1. se o interrogado falta com a Obs.2: se o acusado não sabe, não
verdade na qualificação, incorrerá no quer ou não pode assinar tal
crime de falsa identidade (CP, 307); circunstância ficará consignada do
2. Tal posição foi consagrada no próprio termo.
enunciado 522 da súmula do STJ; Obs. 3: se o interrogado é
3. Se o réu invocar o direito ao estrangeiro, a autoridade utilizará o
silêncio na qualificação, em tese, haverá interprete, prestigiando o princípio da
responsabilidade criminal por oralidade e da publicidade (CP, 193).
desobediência. Advertência. Se a língua
C) 3º passo: perguntas formuladas estrangeira é de fácil compreensão por
pelo juiz se aproximar da nossa (cmo o
C.1) perguntas sobre a pessoa do Espanhol), o intérprete será dispensado.
réu. Elas envolvem o histórico de vida Obs.4: Portador de necessidades
do agente assim como o contexto social especiais. O interrogatório será
de inserção (CPP, 187, § 1º). adaptado à correspondente necessidade,
Conclusão: tais circunstâncias são dando-se prevalência à palavra falada,
decisivas no momento da dosimetria da por força do princípio da oralidade.
pena. Em acréscimo, Rogério Greco Obs. 5: fase investigativa. A
aponta a coculpabilidade do Estado pela estrutura do interrogatório perante o juiz
situação criminógena do agente. é aplicável à oitiva do suspeito perante
Advertência. A coculpabilidade na fase investigativa, no que houver
pode interferir no abrandamento da compatibilidade com a inquisitoriedade

51
da investigação e demais características 1. nada impede que o réu seja
do inquérito. reinterrogado, de ofício ou a
Conclusões: requerimento das partes (CPP, 196);
1. Na fase investigativa não 2. na pendência do julgamento do
haverá, por exemplo, interrogatório por recurso de apelação, o tribunal pode
videoconferência; determinar o interrogatório do réu (art.
2. No interrogatório judicial a 616);
presença do advogado é indispensável. 3. A legislação especial continua
A oitiva do suspeito perante a com sua redação original, disciplinando
autoridade investigante segue outro o interrogatório como primeiro ato da
comando, pois o advogado que se fizer instrução. Coube ao STF promover a
presente terá direito a acompanhar o adequada correção de rumos, vejamos:
cliente, mas a sua presença não é I – ações originárias do STF: o
indispensável (EAOAB, art. 7º, XXI, STF, ao analisar o art. 7º da L8038/90,
NR L13245). constatou a influência do art. 400 do
Obs. 6: menores entre 18 e 21 CPP, de forma que o interrogatório deve
anos incompletos. Na vigência do ser feito ao final da instrução. STF, AP
CC/1916 eles eram considerados 528;
relativamente capazes, em que pese II – Justiça Eleitoral: o Min. Celso
terem plena capacidade penal. O art. 5º de Mello, analisando o CE, 359,
do CC/2002 lhes conferiu plena constatou, por decisão monocrática, que
capacidade, de forma que a nomeação ele merece adaptação, de forma que
de curador em razão da faixa etária além da manifestação por escrito após a
passou a ser inaplicável. citação, o réu será interrogado ao final
Conclusão: art. 194 do CPP foi da instrução (STF, HC 107795);
expressamente revogado. Por outro lado III – Justiça Militar: na esfera
o art. 15 do CPP encontra-se castrense, o interrogatório também será
tacitamente revogado. Em acréscimo, a realizado ao final da instrução (STF,
STF, 352 é inaplicável. HC 127900).
Obs. 7: inovações tecnológicas. Advertência. Com a mudança de
As novas ferramentas de tecnologia entendimento do STF, podemos
podem ser documentas para documentar concluir que o interrogatório na lei de
o interrogatório, como acontece com a tóxicos será realizado ao final da
captação de som e imagem, assim como instrução, com nítida interferência no
como com a estenotipia, que nada é CPP, 400 na estruturação do art. 57 da
mais que uma técnica de resumo de Lei n. 11343/2006.
palavras por símbolos (CPP, 405, § 1º).
Obs. 8: pluralidade de réus. Eles
necessariamente serão interrogados *****
separados, para que não ocorra Material de Apoio - Processo Penal -
interferência cognitiva entre eles (cf. Nestor - Aula 13 (II).pdf
CPP, 191). PRISÕES
Obs. 9: momento. As Leis n. (Lei n. 12403/2011)
11689 e 11719, ambas de 2008,
deslocaram o interrogatório para o 1.Tutela cautelar na esfera penal
último ato da instrução, prestigiando o As medidas cautelares pressupõe
princípio constitucional na ampla estrita necessidade, contribuindo para o
defesa. desenvolvimento da investigação ou do
Conclusões: próprio processo criminal.

52
Advertência. é importante frisar
que não há processo cautelar autônomo, 3.1. Conceito
de forma que as medidas cautelares É a restrição da liberdade de
serão adotadas incidentalmente no curso locomoção em virtude da captura em
da persecução penal. flagrante, da transgressão disciplinar
militar ou de ordem judicial motivada,
2. Espécies de medidas cautelares comprometendo o nosso direito de ir,
vir ou ficar (art. 5º, LXI da CRFB).
2.1. Medidas cautelares de natureza
patrimonial 3.2. Classificação (modalidades)
A) Conceito A) Prisão civil
Elas se prestam à constrição total A.1) Conceito
ou parcial do patrimônio, lícito ou De acordo com o art. 5º, LXVII
ilícito, objetivando proporcionar a da CRFB, é aquela admissível para o
futura indenização da vítima, assim encarceramento do devedor de
como evitar o enriquecimento ilícito. alimentos ou do depositário infiel,
B) Enquadramento sendo que o dispositivo constitucional
Sequestro, arresto e a hipoteca não é autoaplicável.
legal (serão estudadas no intensivo II). A.2) Interpretação
A Convenção Americana de
2.2. Medidas cautelares probatórias Direitos Humanos autorizou tão
A) Conceito somente a prisão civil do devedor de
Elas almejam a demonstração da alimentos.
autoria, da materialidade e das Conclusão. O STF, no RE 466343
circunstâncias em que a infração foi reconheceu que o Pacto de São José da
praticada. O melhor exemplo atual são Costa Rica têm status de norma
as interceptações telefônicas. supralegal, sepultando a prisão do
Advertência. Nada impede que as depositário infiel. SV, 25 e STJ, 419.
medidas cautelares probatórias ilidam a
responsabilidade criminal. B) Prisão do falido
B.1) 1º momento. O art. 35, p. ú.
2.3. Medidas cautelares pessoais do DL 7661/45 (“antiga lei de
A) Conceito falências”), autorizava a prisão do falido
Elas se destinam a constrição total que desatendesse os seus deveres
ou parcial da liberdade do agente. normativos, com acentuado viés
B) Enquadramento obrigacional.
B.1) 1º momento. Antes do B.2) 2º momento. A atual Lei
advento da L12403/2011, seguíamos Falimentar (Lei n. 11.101/2005),
um sistema bipolar/dual, caracterizado disciplinou a prisão do falido no art. 99,
pelos extremos, quais sejam, prisão VII.
cautelar ou liberdade provisória. Conclusões:
B.2) 2º momento. Atualmente, 1. Segundo Paulo Rangel, a nova
adotamos um sistema polimorfo, pois disciplina normativa é compatível com
além das prisões cautelares e da a ordem constitucional, pois a prisão do
liberdade provisória, inserimos um rico falido só é tolerada quando presentes os
rol de medidas cautelares não prisionais, requisitos da prisão preventiva (artigos
nos termos dos artigos 319 e 320 do 312 e 313 do CPP).
CPP. 2. A prisão do falido pode ser
decretada no bojo da investigação ou do
3. Estudo das prisões processo criminal.

53
3. a STJ, 280 (“O art. 35 do Dec.- e até mesmo durante o estado de sítio
lei 7.661, de 1945, que estabelece a (CRFB, artigos 5º, LXI, c/c 136 a 139).
prisão administrativa, foi revogado
pelos incs. LXI e LXVII do art. 5° da D) Prisão pena/prisão carcer ad
CF/88.”) sepultou a antiga prisão poena
falimentar, por absoluta D.1) Conceito
incompatibilidade constitucional. É aquela decorrente de uma
decisão com trânsito em julgado.
C) Prisão administrativa
C.1) Conceito E) Prisão sem pena/prisão
É aquela decretada por autoridade cautelar/prisão processual/prisão
administrativa no intuito de compelir o provisória/ prisão carcer ad custodiam.
indivíduo a atender o comando de uma E.1) Conceito
norma de direito público. É aquela que antecede o trânsito
C.2) Filtro constitucional em julgado da sentença, servindo a
1ª posição. Segundo Tourinho estrita necessidade da persecução penal.
Filho a prisão administrativa é E.2) Enquadramento
incompatível com a atual ordem - prisão em flagrante;
constitucional (CRFB, 5º, LXI), o que - prisão preventiva;
foi ratificado pela Lei n.12.403/2011, - prisão temporária.
que expressamente revogou os E.3) Filtro
dispositivos do CPP que tratavam da Atualmente, os maus antecedentes
prisão administrativa. ou a reincidência não justificam o
2ª posição. Segundo Guilherme encarceramento no momento da
Nucci, a análise infraconstitucional pronúncia ou da sentença condenatória
merece os seguintes destaques: recorrível. Deste modo, o magistrado
1. Quanto à legitimidade para a adotará a seguinte postura ao proferir as
decretação, não mais existe prisão referidas decisões:
administrativa, afinal, salvo o flagrante i) se o réu já estava preso, o juiz
e a prisão disciplinar do militar, todas as deve explicitar as razões da manutenção
demais exigem ordem judicial da prisão;
motivada. ii) se o réu já estava preso, o
2. Quanto à finalidade da magistrado deve indicar o porque do
medida, ainda subsistem prisões não cabimento de liberdade provisória;
administrativas, como acontece no iii) se o réu estava solto, só será
estatuto do estrangeiro. preso se estiverem presentes os
Obs. 1: dentro do estatuto do requisitos da prisão preventiva.
estrangeiro (Lei n. 6815/80, art. 82, c/c Conclusão. Percebe-se que não
a Lei n. 12.878/2013), poderemos fazer mais subsistem a prisão decorrente de
as seguintes constatações: 1) prisão para pronúncia e a prisão decorrente de
extradição é decretada pelo STF; 2) sentença condenatória recorrível,
prisão para expulsão é decretada pela pautadas nos maus antecedentes ou na
Justiça Federal; 3) prisão para reincidência.
deportação é decretada também pela JF. E.4) Compatibilidade com o
Obs. 2: no texto constitucional, princípio da presunção de inocência ou
encontramos prisões ontologicamente presunção de não culpabilidade.
administrativas, como acontece com a Segundo o Min. Marco Aurélio,
prisão em flagrante, a prisão disciplinar em posição preponderante no STF, até o
do militar, a prisão no estado de defesa início de 2016, a presunção de
inocência perduraria até antes do

54
trânsito em julgado da condenação. administrativo, e de proteção social. O
Logo, o encarceramento do agente flagrante se cautelariza quando o juiz,
pressupunha os requisitos de uma prisão ao homologar o auto, delibera pela
cautelar. conversão em preventiva ou em
Advertências: temporária, assim como pela concessão
1. O pleno do STF, no julgamento de liberdade provisória ou pela
do HC 126292, reconheceu que não aplicação de medida cautelar não
existem princípios absolutos, de forma prisional (art. 310, II e III c/c 319 e 320
que como o recurso especial e o do CPP).
extraordinário não gozam de efeito
suspensivo, admite-se a execução Material de Apoio - Direito Processual
provisória da pena quando a Penal - Nestor Távora - Aula 3 extra on
condenação for definida por um line.pdf
Tribunal de segundo grau. 4.3. Modalidades (classificação)
2. As súmulas STF, 716 e 717, “CAPÍTULO II
admitem que o preso (cautelar ou em DA PRISÃO EM FLAGRANTE
Art. 301. Qualquer do povo
execução provisória) usufrua dos poderá e as autoridades policiais e seus
benefícios da LEP mesmo antes do agentes deverão prender quem quer que
trânsito em julgado da sentença, o que seja encontrado em flagrante delito.
convencionamos chamar execução Art. 302. Considera-se em
provisória (de benefícios). flagrante delito quem:
I - está cometendo a infração
penal;
4. Prisão em flagrante II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela
4.1. Conceito autoridade, pelo ofendido ou por
A) Etimológico qualquer pessoa, em situação que faça
presumir ser autor da infração;
Flagrante deriva de flagrare, que IV - é encontrado, logo depois,
é uma decorrência de flagrans, com instrumentos, armas, objetos ou
significando arder ou queimar. Em papéis que façam presumir ser ele autor
verdade, o flagrante retrata a qualidade da infração.
de algo que está ocorrendo naquele Art. 303. Nas infrações permanentes,
entende-se o agente em flagrante delito
momento.
enquanto não cessar a permanência.”
A prisão em flagrante é a A) Flagrante próprio, real,
ferramenta constitucionalmente propriamente dito, perfeito ou
positivada (art. 5º, LXI), que autoriza a verdadeiro
captura daquele que é surpreendido A.1) ele ocorre quando o agente é
praticando o delito, funcionando como capturado cometendo a infração (art.
ferramenta de proteção social, trazendo 302, I do CPP).
consigo as seguintes finalidades: evitar Observação: neste caso, o agente
a fuga; evitar a consumação do delito; é capturado desenvolvendo os atos
levantar indícios que irão contribuir executórios, ou seja, realizando o
com a futura deflagração do processo. núcleo do tipo penal.
A.2) ainda está em flagrante
4.2. Natureza jurídica próprio o agente capturado ao acabar de
A) 1ª Posição. Segundo Marcos cometer a infração (CPP, 302, II).
Paulo Dutra, a prisão em flagrante deve Observação: neste caso, os atos
ser enquadrada como prisão cautelar; executórios já se encerraram, mas o
B) 2ª posição. Segundo Aury agente não se desvencilhou do locus
Lopes Jr., e LFG, o flagrante é uma delicti e das circunstâncias da infração.
medida pré-cautelar, de viés

55
B) Flagrante impróprio, irreal, b) sabendo, por indícios ou
imperfeito ou quase flagrante informações fidedignas, que o réu tenha
passado, há pouco tempo, em tal ou qual
Nele, o agente é perseguido logo direção, pelo lugar em que o procure, for
após a prática do crime e, havendo no seu encalço.
êxito, ele será capturado em § 2º Quando as autoridades locais
circunstâncias que façam presumir ser tiverem fundadas razões para duvidar da
ele o responsável (CPP, 302, III). legitimidade da pessoa do executor ou da
legalidade do mandado que apresentar, poderão
Observações: pôr em custódia o réu, até que fique esclarecida
1) estamos em perseguição a dúvida.”
quando vamos no encalço do agente, 2) não há na Lei prazo de duração
por informação própria ou de terceiro da perseguição, que se estenderá no
em determinada direção (CPP, 250 e tempo enquanto houver necessidade;
290); 3) requisito de validade. É
“Art. 250. A autoridade ou seus necessário que a perseguição seja
agentes poderão penetrar no território de
jurisdição alheia, ainda que de outro contínua, dispensando-se a exigência de
Estado, quando, para o fim de apreensão, contato visual;
forem no seguimento de pessoa ou coisa, 4) invasão domiciliar:
devendo apresentar-se à competente 1ª posição: para Guilherme Nucci,
autoridade local, antes da diligência ou em posição já adotada pelo CESPE, a
após, conforme a urgência desta.
§ 1º Entender-se-á que a invasão domiciliar exige interpretação
autoridade ou seus agentes vão em restritiva, de forma que a residência
seguimento da pessoa ou coisa, quando: pode ser violada nas hipóteses de
a) tendo conhecimento direto de flagrante próprio (CRFB, 5º, XI, c/c
sua remoção ou transporte, a seguirem CPP, 302, I e II).
sem interrupção, embora depois a
percam de vista;
2ª posição: segundo o STJ, a
b) ainda que não a tenham invasão domicilar é admitida em todas
avistado, mas sabendo, por informações as hipóteses válidas de flagrante (cf.
fidedignas ou circunstâncias indiciárias, RHC, 21326).
que está sendo removida ou transportada Advertência. Se o perseguido
em determinada direção, forem ao seu
encalço.
invade a casa alheia, é pacífico o
§ 2º Se as autoridades locais entendimento de que ela será violada,
tiverem fundadas razões para duvidar da pois ele não poderá invocar o art. 5º, XI
legitimidade das pessoas que, nas da CRFB na casa alheia.
referidas diligências, entrarem pelos seus 5) segundo Tourinho Filho, o
distritos, ou da legalidade dos mandados
que apresentarem, poderão exigir as
“logo após” engloba o tempo necessário
provas dessa legitimidade, mas de modo para tomar conhecimento do fato, ir até
que não se frustre a diligência.” o local e iniciar a perseguição.
“Art. 290. Se o réu, sendo Advertência. Segundo o STJ,
perseguido, passar ao território de outro quando a vítima é vulnerável, o logo
município ou comarca, o executor poderá
após compreenderá o conhecimento do
efetuar-lhe a prisão no lugar onde o
alcançar, apresentando-o imediatamente fato, pelo representante legal (cf. HC,
à autoridade local, que, depois de 3496).
lavrado, se for o caso, o auto de C) Flagrante presumido, ficto,
flagrante, providenciará para a remoção assimilado.
do preso.
Nele, o indivíduo é encontrado
§ 1º - Entender-se-á que o
executor vai em perseguição do réu, logo depois da prática do delito com
quando: objetos, armas, papéis ou instrumentos
a) tendo-o avistado, for que façam presumir ser ele o
perseguindo-o sem interrupção, embora responsável (CPP, 302, IV).
depois o tenha perdido de vista; Observações:

56
1) ele também é apelidado de É aquele, realizado para
“feliz encontro”; incriminar pessoa inocente, que em
2) evolução temporal. Segundo nenhum momento desejou delinquir.
Fauzi Hassan, estamos inseridos numa F.2) Consequência. A prisão
análise progressiva de tempo. O realizada é manifestamente ilegal,
flagrante próprio tem a maior devendo ser relaxada (CRFB, 5º, LXV
intolerância temporal, revelando a c/c CPP, 310, I).
imediatidade entre e crime e a captura. “Art. 310. Ao receber o auto
O flagrante impróprio revela uma de prisão em flagrante, o juiz deverá
fundamentadamente: (Redação
dilação temporal um pouco maior, dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
caracterizada pela expressão logo após, I - relaxar a prisão ilegal; ou
que é o tempo para iniciar a (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
perseguição. No flagrante presumido, a II - converter a prisão em
dilação temporal é ainda maior, presente flagrante em preventiva, quando
presentes os requisitos constantes do art.
na expressão logo depois, que é o 312 deste Código, e se revelarem
tempo necessário para encontrar o inadequadas ou insuficientes as medidas
agente. cautelares diversas da prisão; ou
(Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
Flagrante III - conceder liberdade
presumido provisória, com ou sem fiança. (Incluído
Flagrante (logo
impróprio depois)
pela Lei nº 12.403, de 2011).
Flagrante (logo após) Parágrafo único. Se o juiz
Próprio verificar, pelo auto de prisão em
(imediatidade) flagrante, que o agente praticou o fato
nas condições constantes dos incisos I a
III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no
2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
D) Flagrante obrigatório ou Código Penal, poderá,
compulsório. É aquele inerente à fundamentadamente, conceder ao
acusado liberdade provisória, mediante
atuação das forças policiais,
termo de comparecimento a todos os atos
funcionando como estrito cumprimento processuais, sob pena de revogação.”
de um dever legal (CPP, 301). Advertência. O agente forjador
Observação. Dimensão temporal. responderá por denunciação caluniosa,
1ª posição: segundo Levy Magno, a sem prejuízo do enquadramento no
obrigação não persiste no período de abuso de autoridade, se for funcionário
folga; 2ª posição: segundo Guilherme público.
Nucci, o dever subsiste no período de G) Flagrante esperado (doutrina)
folga, o que é corroborado pela G.1) Conceito
manutenção do porte de arma Ele se caracteriza pela promoção
(corroborada pela ACADEPOL/PF). de campana ou tocaia pela Polícia,
aguardando a prática do primeiro ato
E) Flagrante facultativo executório para promover a captura.
Aquele inerente à atuação de Observações:
qualquer pessoa do povo, funcionando 1) não há, no CPP, a disciplina
como exercício regular de um direito jurídica da realização de campana ou de
(CPP, 301, primeira parte). tocaia. Conclusão: percebe-se que
Observação: vale lembrar que o situação de espera é uma idealização
flagrante facultativo é aplicável a doutrinária (Mirabete);
qualquer das hipóteses do artigo 302 do 2) em nenhum momento, a polícia
CPP. estimulou a prática do delito. Se a
F) Flagrante forjado espera for exitosa, enquadraremos a
F.1) Conceito

57
captura em uma das hipóteses do art. O instituto surgiu no art. 2º, II da
302 do CPP. Lei n. 9.034/95, autorizando que a
polícia, por gestão própria, postergasse
Material de Apoio - Direito Processual o flagrante, na expectativa de promover
Penal - Nestor Távora - Aula 4 extra on a captura no momento mais oportuno,
line.pdf para levantamento de provas, prisão do
H) Flagrante preparado, maior número de infratores e para o
provocado, delito de ensaio ou delito enquadramento no delito exponencial
putativo (imaginado) por obra do agente daquela facção.
provocador Advertências:
H.1) Conceito 1) Atualmente o instituto exige
Para o STF, na súmula n. 145 que o delegado oficie previamente ao
(“Não há crime, quando a preparação do Juiz que, ouvindo o MP, poderá definir
flagrante pela polícia torna impossível a os limites da diligência (art. 8º, § 1º da
sua consumação.”), não se pode Lei n. 12850/2013);
estimular a prática de delito na 2) para Rômulo Moreira, o
expectativa de capturar as pessoas magistrado sempre deverá definir os
seduzidas, já que os fins não justificam limites, evitando excessos da autoridade
os meios. Neste caso, não só a prisão é policial
ilegal, assim como o fato praticado é I.2) Tráfico de Drogas. O
atípico, pois caracteriza crime flagrante postergado exige prévia
impossível por absoluta ineficácia do autorização judicial, sendo que a
meio (art. 17 do CP). decisão pressupõe a oitiva do MP. Em
“Crime impossível acréscimo, é necessário o conhecimento
Art. 17 - Não se pune a tentativa do provável itinerário da droga e dos
quando, por ineficácia absoluta do meio
ou por absoluta impropriedade do objeto,
infratores envolvidos (art. 53, II da Lei
é impossível consumar-se o crime.” n. 11343/2006).
Observações: I.3) Lavagem de capitais. Na
1) a preparação pode ser lavagem de dinheiro, a postergação do
promovida pela polícia ou por flagrante exige a deliberação do Juiz
interposta pessoa; com a prévia oitiva do MP. Cf. art. 4º-B
2) Crítica: para Eugênio Pacceli a da Lei n. 9613/98 NR Lei n.
STF, 145 está acometida por uma 12683/2012.
fragilidade teórica, afinal, o meio
empregado não é absolutamente J) Flagrante por apresentação
ineficaz, e a caracterização ou não do Aquele que voluntariamente se
crime impossível foi condicionada à apresenta no departamento de polícia e
aferição do êxito da prisão; confessa infração penal, não será preso
3) tráfico de drogas. Se o em flagrante, por ausência de
traficante já tem a droga consigo, ou em enquadramento normativo. Todavia, se
estoque quando é abordado por pessoa presentes os requisitos legais, o
disfarçada de usuário, esta prisão é Delegado poderá representar pela prisão
legal, pois a consumação do tráfico é preventiva ou pela prisão temporária.
preexistente à provocação. Advertência. Tal raciocínio
subsiste mesmo com a supressão dos
I) Flagrante postergado, diferido, dispositivos que regulamentavam a
retardado, estratégico ou ação matéria (Lei n. 12.403/2011).
controlada
I.1) Conceito 4.4. Procedimento

58
4.4.1. Esfera macroscópica circunstâncias da prisão. O CPP não
A) Captura aponta quantas testemunhas seriam
É a imobilização do agente, necessárias para a lavratura do APF,
caracterizando o imediato cerceamento mas utiliza a expressão no plural. As
da liberdade de locomoção. testemunhas são aquelas pessoas que
Observação. De acordo com a SV, têm conhecimento dos fatos e suas
11, a utilização das algemas pressupõe circunstâncias, trazendo o material do
fundamentação por escrito, e o STF APF;
apontou as hipóteses de admissibilidade D) autoridade que presidirá a
e a múltipla incidência do Direito na lavratura do auto de prisão em flagrante
definição das consequências jurídicas. – ordinariamente a lavratura é presidida
pelo Delegado atuante no local da
B) Condução coercitiva à captura.
presença da autoridade; Advertências:
C) Formalização da prisão por 1) se na localidade não há
intermédio da lavratura do auto (CPP, delegado, o auto será lavrado na
304). localidade mais próxima;
D) Recolhimento ao cárcere. 2) vale lembrar que o auto
Observações: inicialmente será remetido ao juiz
1) nas hipóteses em que o atuante na comarca da concretização da
Delegado é legitimado a arbitrar a captura;
fiança (crimes com pena máxima de até 3) outras autoridades:
quatro anos), o pronto pagamento 3.1) autoridade judicial – de
impede o imediato recolhimento ao acordo com o art. 307 do CPP, os juízes
cárcere (CPP, 322); poderão presidir a lavratura do auto se o
2) nas infrações de menor crime foi praticado contra sua pessoa ou
potencial ofensivo, ao invés da lavratura na sua presença, durante o desempenho
do auto, teremos a elaboração do TCO, funcional. Crítica: parte da doutrina,
independentemente do pagamento de entende que tal atribuição viola o
fiança, desde que o indivíduo seja sistema acusatório;
imediatamente encaminhado ao Juizado 3.2) as Mesas das Casas
ou assuma o compromisso (Lei n. Legislativas poderão conduzir a
9099/95, art. 69). Conclusão. Percebe-se investigação e presidir a lavratura do
que a captura e a condução coercitiva auto, nos delitos praticados nas
são amplamente aceitas no Juizado. dependências da correspondente Casa
(STF, 397);
Material de Apoio - Direito Processual 3.3) Ministério Público – primeira
Penal - Nestor Távora - Aula 5 extra on posição: parte da doutrina entende que o
line.pdf promotor pode presidir a lavratura do
4.4.2. Esfera micro (lavratura do auto) auto, aplicando-se o art. 307 do CPP;
Obs. 1: sujeitos envolvidos: segunda posição: para Heráclito
A) Condutor – é aquele que Mossin, o MP está afastado de tal
apresenta o preso à autoridade, que atribuição, estando o art. 307 do CPP
pode ou não ter sido o responsável pela reservado aos juízes.
captura; E) escrivão – na ausência ou
B) conduzido – é a pessoa que foi impedimento, será nomeado escrivão
capturada em flagrante; “ad hoc”.
C) testemunha(s) – serão Obs. 2) Estrutura
necessárias ao menos duas testemunhas, A) oitiva do condutor – as
que tenham conhecimento das declarações serão reduzidas a termo,

59
colhendo-se a correspondente presenciarem a leitura do termo ao
assinatura. preso (também são testemunhas
Advertências: instrumentais/instrumentárias);
1) o condutor terá a sua 3) Audiência de custódia. Por
disposição um recibo, formalizando a iniciativa do Professor Alexandre de
entrega do preso; Moraes, os presos em flagrante estão
2) o novo CPP idealiza a sendo apresentados em até 24 horas ao
necessária submissão do preso a exame Juiz e ao Promotor para que, após a
de corpo de delito, acautelando o oitiva, o Magistrado delibere quanto à
delegado; manutenção ou não do cárcere. Esta
B) oitiva das testemunhas, com a iniciativa ainda embrionária, não tem
correspondente redução a termo e previsão no CPP.
colheita das assinaturas. C) Desfecho. Cabe ao Delegado,
Advertências: ao final das oitivas, detectar 1) se o fato
1) são necessárias ao menos duas existiu, 2) se o capturado é o
testemunhas que tenham conhecimento responsável; e 3) se a prisão se
das circunstâncias da prisão enquadra dentro das hipóteses legais.
Conclusões: Em caso positivo, o auto será lavrado.
1.1) havendo apenas uma Em caso negativo, não haverá lavratura,
testemunha do fato, nada impede que o admitindo-se a instauração de inquérito
condutor seja utilizado como segunda para apuração do eventual delito
testemunha; ocorrido.
1.2) não havendo testemunhas do Advertências:
fato, o auto será lavrado com a 1) quanto a possibilidade do
utilização de duas testemunhas delegado relaxar prisão em flagrante,
instrumentais ou instrumentárias. Elas subsistem as seguintes posições: 1ª)
nada sabem do fato, declarando apenas para Guilherme Nucci, a liberação do
que presenciaram a apresentação do capturado caracteriza verdadeiro
preso à autoridade, daí serem também relaxamento; 2ª) para Fernando Capez,
denominadas testemunhas de o Delegado tecnicamente não relaxa
apresentação; prisão, exercendo um juízo negativo de
2) segundo o STJ, o simples fato admissibilidade do flagrante que só se
de ser policial não é incompatível com a concretizaria com a lavratura do auto;
condição de testemunha. “Art. 304. Apresentado o preso à
C) oitiva do conduzido, com a autoridade competente, ouvirá esta o
condutor e colherá, desde logo, sua
formalização a termo e colheita da assinatura, entregando a este cópia do
assinatura. termo e recibo de entrega do preso. Em
Advertências: seguida, procederá à oitiva das
1) ao preso será assegurado o testemunhas que o acompanharem e ao
direito ao silêncio e o direito de interrogatório do acusado sobre a
imputação que lhe é feita, colhendo, após
assistência, que engloba a comunicação cada oitiva suas respectivas assinaturas,
da prisão a alguém de sua confiança. lavrando, a autoridade, afinal, o auto.
Conclusão: se o advogado/Defensor § 1º Resultando das respostas
Público chegar a tempo ele se fará fundada a suspeita contra o conduzido, a
presente durante a oitiva. Todavia, a sua autoridade mandará recolhê-lo à prisão,
exceto no caso de livrar-se solto ou de
presença não é pressuposto para prestar fiança, e prosseguirá nos atos do
lavratura do auto; inquérito ou processo, se para isso for
2) Se o preso não sabe, não pode competente; se não o for, enviará os
ou não quer assinar, a omissão será autos à autoridade que o seja.
suprida por duas testemunhas, que § 2º A falta de testemunhas da
infração não impedirá o auto de prisão

60
em flagrante; mas, nesse caso, com o 4.4.3. Desdobramento procedimental
condutor, deverão assiná-lo pelo menos Em 24 horas, contadas da prisão
duas pessoas que hajam testemunhado a
apresentação do preso à autoridade.
(que ocorre pela captura), o delegado
§ 3º Quando o acusado se recusar tem as seguintes obrigações a cumprir:
a assinar, não souber ou não puder fazê-
lo, o auto de prisão em flagrante será A) remeter o auto ao Juiz;
assinado por duas testemunhas, que Obs.: o CPP, ao fixar o marco de
tenham ouvido sua leitura na presença
deste.
chegada do auto nas mãos do juiz, acaba
§ 4º Da lavratura do auto de por delimitar o lapso máximo para
prisão em flagrante deverá constar a lavratura do auto;
informação sobre a existência de filhos, Obs. 2: com a implementação da
respectivas idades e se possuem alguma audiência de custódia, o auto e o preso
deficiência e o nome e o contato de
eventual responsável pelos cuidados dos
serão apresentados ao magistrado;
filhos, indicado pela pessoa presa.” Obs. 3: postura do Juiz:
2) excludentes de ilicitude – de A.1) pode entender que a prisão é
acordo com o CPP, 310, p. ú.,cabe ao ilegal, devendo relaxá-la. I) Conceito:
juiz aferi-las na apreciação do auto, para relaxar significa libertar
concessão da liberdade provisória sem incondicionalmente aquele que foi
fiança. ilegalmente preso; II) enquadramento
“Art. 310. Ao receber o auto de normativo: CRFB, 5º, LXV e CPP, 310,
prisão em flagrante, o juiz deverá I; III) ferramenta: o relaxamento pode
fundamentadamente: ser requerido diretamente ao juiz por
I - relaxar a prisão ilegal; ou
meio de um requerimento ou ser objeto
II - converter a prisão em
flagrante em preventiva, quando da ação de habeas corpus
presentes os requisitos constantes do art. A.2) o Juiz pode concluir pela
312 deste Código, e se revelarem legalidade da prisão, promovendo a
inadequadas ou insuficientes as medidas homologação do auto.
cautelares diversas da prisão; ou
I) Conceito: a homolocação é a
III - conceder liberdade
provisória, com ou sem fiança. chancela judicial diante da prisão
Parágrafo único. Se o juiz captura, que possui viés nitidamente
verificar, pelo auto de prisão em administrativo;
flagrante, que o agente praticou o fato II) hipóteses:
nas condições constantes dos incisos I A.2.1) o magistrado, ao analisar o
a III do caput do art. 23 do Decreto-
Lei no 2.848, de 7 de dezembro de auto, pode concluir que a prisão é
1940 - Código Penal, poderá, necessária. Neste caso, converterá o
fundamentadamente, conceder ao flagrante em prisão preventiva, se
acusado liberdade provisória, presentes os requisitos dos artigos 312 e
mediante termo de comparecimento a 313 do CPP.
todos os atos processuais, sob pena de
revogação.” Advertências:
3) oitiva da vítima – o art. 304 do 1) na fase pré-processual, a
CPP não contempla a oitiva da vítima preventiva não será decretada de ofício,
no cenário da lavratura do auto. e a conversão pressupõe provocação
Entretanto o melhor momento para (CPP, 311);
ouvi-la é logo após a oitiva do condutor. 2) nada impede que o flagrante
Conclusão: vale lembrar que nos crimes seja convertido em prisão temporária, se
de ação privada e de ação pública presentes os requisitos do art. 1º da Lei
condicionada a lavratura pressupõe a n. 7960/89;
manifestação de vontade do legítimo 3) consolidando o entendimento
interessado. de que a prisão preventiva é a ultima
ratio, a conversão só ocorrerá se não se

61
fizerem suficientes as medidas VI - suspensão do exercício de
cautelares não prisionais dos artigos 319 função pública ou de atividade de
natureza econômica ou financeira
e 320 do CPP (cf. CPP, artigos 282, § 6º quando houver justo receio de sua
c/c 310, II, parte final). utilização para a prática de infrações
“TÍTULO IX penais;
DA PRISÃO, DAS MEDIDAS VII - internação provisória do
CAUTELARES E DA LIBERDADE acusado nas hipóteses de crimes
PROVISÓRIA praticados com violência ou grave
Art. 282. As medidas cautelares ameaça, quando os peritos concluírem
previstas neste Título deverão ser ser inimputável ou semi-imputável (art.
aplicadas observando-se a: 26 do Código Penal) e houver risco de
(...) reiteração;
§ 6º A prisão preventiva será VIII - fiança, nas infrações que a
determinada quando não for cabível a admitem, para assegurar o
sua substituição por outra medida comparecimento a atos do processo,
cautelar (art. 319).” evitar a obstrução do seu andamento ou
“CAPÍTULO II em caso de resistência injustificada à
DA PRISÃO EM FLAGRANTE ordem judicial;
(...) IX - monitoração eletrônica.
Art. 310. Ao receber o auto de § 1º (Revogado pela Lei nº
prisão em flagrante, o juiz deverá 12.403, de 2011).
fundamentadamente: § 2º (Revogado pela Lei nº
(...) 12.403, de 2011).
II - converter a prisão em § 3º (Revogado pela Lei nº
flagrante em preventiva, quando 12.403, de 2011).
presentes os requisitos constantes do art. § 4º A fiança será aplicada de
312 deste Código, e se revelarem acordo com as disposições do Capítulo
inadequadas ou insuficientes as medidas VI deste Título, podendo ser cumulada
cautelares diversas da prisão; com outras medidas cautelares.
(...)” Art. 320. A proibição de
“CAPÍTULO V ausentar-se do País será comunicada pelo
DAS OUTRAS MEDIDAS juiz às autoridades encarregadas de
CAUTELARES fiscalizar as saídas do território nacional,
Art. 319. São medidas cautelares intimando-se o indiciado ou acusado para
diversas da prisão: entregar o passaporte, no prazo de 24
I - comparecimento periódico em (vinte e quatro) horas.”
juízo, no prazo e nas condições fixadas A.2.2) se o Magistrado entender
pelo juiz, para informar e justificar
atividades; que a prisão não é necessária, após a
II - proibição de acesso ou homologação do auto, concederá ao
frequência a determinados lugares indivíduo liberdade provisória (CPP,
quando, por circunstâncias relacionadas 310, III);
ao fato, deva o indiciado ou acusado I) Conceito: segundo Frederico
permanecer distante desses locais para
evitar o risco de novas infrações;
Marques é a contra-cautela destinada à
III - proibição de manter contato libertação de quem foi preso
com pessoa determinada quando, por legalmente, desde que a manutenção no
circunstâncias relacionadas ao fato, deva cárcere não seja necessária. Conclusão:
o indiciado ou acusado dela permanecer na concessão da liberdade provisória, o
distante;
IV - proibição de ausentar-se da
Juiz poderá impor cumulativamente
Comarca quando a permanência seja medidas cautelares não prisionais;
conveniente ou necessária para a II) Modalidades: II.1) liberdade
investigação ou instrução; provisória sem fiança ; e II.2) liberdade
V - recolhimento domiciliar no provisória mediante fiança
período noturno e nos dias de folga
quando o investigado ou acusado tenha
residência e trabalho fixos; B) nas mesmas 24 horas uma
cópia do auto será encaminhada à

62
Defensoria Pública, se o preso não B.2) crimes de ação privada/ação
possui advogado. pública condicionada – neste caso a
lavratura do auto pressupõe a
C) Nas mesmas 24 horas, será manifestação de vontade do legítimo
entregue ao preso a “nota de culpa”, interessado.
como breve declaração informando os B.3) infrações de menor potencial
motivos e os responsáveis pela prisão, ofensivo – neste caso, o auto foi
além de eventuais testemunhas (CRFB, substituído pela mera elaboração do
5º, LXIV, c/c CPP, 306, § 2º). TCO, e o agente não será encarcerado,
“LXIV - o preso tem direito à desde que assuma o compromisso de
identificação dos responsáveis por sua comparecimento ao juizado ou seja
prisão ou por seu interrogatório policial;”
“Art. 306. A prisão de qualquer
imediatamente encaminhado.
pessoa e o local onde se encontre serão Advertência: no porte de drogas para
comunicados imediatamente ao juiz uso ou no cultivo para consumo próprio
competente, ao Ministério Público e à ou no cultivo para consumo próprio de
família do preso ou à pessoa por ele substância entorpecente, não haverá o
indicada.
§ 1º Em até 24 (vinte e quatro)
encarceramento cautelar do usuário,
horas após a realização da prisão, será mesmo que ele não assuma o
encaminhado ao juiz competente o auto compromisso de comparecimento ao
de prisão em flagrante e, caso o autuado juizado.
não informe o nome de seu advogado, B.4) crime continuado: o flagrante
cópia integral para a Defensoria Pública.
§ 2º No mesmo prazo, será
é admitido em cada uma das condutas
entregue ao preso, mediante recibo, a delitivas reveladoras da continuidade,
nota de culpa, assinada pela autoridade, no que vem sendo chamado de
com o motivo da prisão, o nome do flagrante fracionado.
condutor e os das testemunhas.” B.5) crimes habituais: para a
doutrina majoritária, não caberá prisão
4.4.4. Questões complementares em flagrante pela impossibilidade de
I – Flagrantes nas diversas constatação no momento do flagra da
infrações habitualidade. Advertência: Mirabete,
A) Regra geral – ordinariamente, em posição minoritária, admite a
o flagrante é admitido em todo tipo de aferição da habitualidade por diligências
infração. prévias para justificar a concretização
B) Situações especiais: da captura em flagrante.
B.1) Crimes permanentes – neste
caso, a prisão em flagrante pode ocorrer Material de Apoio - Direito Processual
a qualquer tempo, enquanto perdurar a Penal - Nestor Távora - Aula 6 extra on
permanência. Englobamos inclusive a line.pdf
invasão domiciliar (CRFB, 5º, XI, c/c
CPP, 303).
“XI - a casa é asilo inviolável do
indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, PRISÃO PREVENTIVA
salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou,
durante o dia, por determinação judicial; 1. Conceito

É a prisão cautelar cabível
“Art. 303. Nas infrações
permanentes, entende-se o agente em durante toda a persecução penal
flagrante delito enquanto não cessar a (inquérito e processo)...
permanência.”

63
... decretada pelo juiz, ex officio, i) garantia da ordem pública –
apenas na fase processual, ou por temos três correntes: 1ª) Rômulo
provocação... Moreira/ Aury Lopes Jr.: a expressão
...sem prazo e desde que presentes garantia da ordem pública é difusa,
os requisitos dos artigos 312 e 313 do sendo necessário um fundamento
CPP. concreto e, como não é possível
Advertência. Havendo urgência, a materializa-la, trata-se de previsão legal
preventiva pode ser decretada mesmo inconstitucional. Ou seja, a expressão é
antes da instauração formal do fluida, e não tem respaldo na CRFB, já
inquérito.. que o cerceamento da liberdade exige
Quem pode provocar? MP, um fundamento concreto (tese
querelante, delegado e assistente da minoritária); 2ª) a ordem pública,
acusação. sinônimo de paz social, está em risco
Advertência. Com esta inovação, quando aquela pessoa em liberdade
trazida pela Lei n. 12.403/2011, continuará praticando infrações
percebe-se que o assistente passa a ter penais. Justificou o encarceramento de
interesse na matéria prisional, podendo Fernandinho Beira-Mar (esta posição é
inclusive recorrer da concessão de majoritária e deve ser seguida inclusive
habeas corpus, tornando ultrapassada a em provas objetivas, já que é adota pelo
STF, 208. STJ, cf. HC 85922); 3ª) Guilherme
2. Requisitos (pressupostos) Nucci: deve ser feita uma tríplice
Advertência. Requisito lógico. análise – periculosidade do agente;
Como a preventiva é interpretada como gravidade concreta do crime (modus
a ultima ratio (medida extrema), ela só operandi e a repulsa da infração); e
será decretada se não forem suficientes repercussão social do fato (clamor
as medidas cautelares não prisionais do público). A crítica é principalmente
art. 319 do CPP. Trata-se de um critério sobre o último item a ser analisado, pois
equilibrado de hermenêutica da prisão é de sabença geral que já não existe
preventiva. mais opinião pública, mas “opinião
Dogmática. Segundo Fauzi publicada”. Inclusive, para o STF, o
Hassan, são necessários: clamor público não justifica,
a) fumus boni juris, do Processo individualmente, o encarceramento (cf.
Civil, aqui é o fumus comissi delicti, ou HC 80719);
“fumaça da prática do delito”, chamada ii) garantia da ordem econômica –
por alguns de evidência do crime. Ela se temos duas interpretações quanto a esta
caracteriza pelos indícios de autoria, hipótese: 1ª) segundo Rômulo Moreira/
somados à prova da materialidade. Aury Lopes Jr., esse fundamento
Segundo Luis Flávio Gomes, é o que também não tem respaldo constitucional
vem a ser a justa causa da prisão pela expressão fluida, polissêmica e
preventiva; evasiva; 2ª) para a doutrina majoritária,
b) periculum in mora, do Processo respaldada na jurisprudência, almeja-se
Civil, aqui no Processo Penal é o aqui evitar a reiteração de delitos contra
periculum libertatis, que nada mais é a ordem econômica;
que o “perigo da liberdade”. Se a Observações:
liberdade de alguém é um perigo, ela 1) Tourinho Filho – esse
deve ser presa. O periculum libertatis fundamento, da ordem econômica, é
representa as hipóteses de decretação da desnecessário e ocioso, pois a garantia
prisão preventiva, que são oito (sete da ordem pública já é suficiente para
previstas no CPP, e uma prevista na abarca-la;
legislação extravagante):

64
2) as figuras típicas que a nada mais são do que medidas
justificam estão previstas na Lei n. cautelares para blindar a vítima da
1.521/51; Lei n. 7492/96; Lei n. violência doméstica, caberá a
7134/83; Lei n. 8078/90; Lei n. decretação da prisão preventiva;
8176/91; Lei n. 9279/96; Lei n. e Observações:
9613/98. 1) além da mulher, estão tutelados
iii) garantia da instrução criminal o idoso, a criança, o adolescente e o
– é a tutela da livre produção enfermo;
probatória. Indivíduo que está 2) para parte da doutrina, esta
destruindo documentos, subornar um hipótese não tem autonomia, e a prisão
perito, ameaçando testemunhas e só estaria justificada se o indivíduo,
vítimas etc. Depois que a instrução além de descumprir a medida, for um
probatória se encerra, esse fundamento risco à ordem pública, às provas, ou
cai por terra e o indivíduo deve ser haja risco de fuga.
colocado em liberdade, a não ser que vii) havendo descumprimento das
haja substituição do motivo; medidas cautelares do art. 319 do CPP,
iv) garantia da aplicação da Lei o magistrado poderá adotar as seguintes
penal – esse fundamento almeja evitar a medidas: 1) substituir a medida
fuga. Esta, não se presume, mas deve descumprida por outra, mais adequada à
ser comprovada. Não justificam a prisão situação do agente; ou 2) cumular a
preventiva apenas morar no exterior, ou medida descumprida com outra, ou
ser morador de rua ou mesmo não outras, aumentando o ônus; ou, ainda,
comparecer a audiência. Assim, para o 3) poderá revogar a medida cautelar e
STF e a doutrina majoritária, a fuga, decretar a prisão preventiva.
quanto à sua probabilidade, exige Advertência: quanto à
demonstração idônea. A simples possibilidade de decretação da
ausência do réu, mesmo que preventiva nesta hipótese,
injustificada, a uma audiência, não é por independentemente da quantidade de
si só, fundamento do cárcere; do mesmo pena do crime, subsistem duas posições:
modo, a miserabilidade extrema – v. g., 1ª) para Renato Brasileiro, a preventiva
sem lugar para morar – ou a riqueza neste caso pode ser decretada
absoluta – v. g., ter domicílio no independentemente da quantidade de
exterior – não são fundamentos pena prevista para o delito,
individuais de cárcere; desconsiderando-se assim o art. 313 do
v) por ausência de identificação CPP; 2ª) Para Fábio Roque, o patamar
civil – observações: do art. 313 do CPP deve ser respeitado,
1) neste caso, a prisão perdura até já que esta hipótese não foi trazida
a apresentação do documento, ou o como uma exceção à regra.
esclarecimento da dúvida quanto à “Art. 313. Nos termos do art. 312
identidade; deste Código, será admitida a decretação
da prisão preventiva:
2) filtro constitucional. Como a I - nos crimes dolosos punidos
CRFB prevê a identificação criminal na com pena privativa de liberdade máxima
eventualidade da ausência da superior a 4 (quatro) anos;
identificação civil (art. 5º, LVIII), é II - se tiver sido condenado por
necessário concluir que a preventiva só outro crime doloso, em sentença
transitada em julgado, ressalvado o
será decretada se a identificação disposto no inciso I do caput do art. 64
criminal não for suficiente. do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
vi) violência doméstica – dezembro de 1940 - Código Penal;
conceito: havendo descumprimento das III - se o crime envolver violência
medidas protetivas de urgência, que doméstica e familiar contra a mulher,
criança, adolescente, idoso, enfermo ou

65
pessoa com deficiência, para garantir a
execução das medidas protetivas de 3.1. Regra: crime doloso com pena
urgência;
IV - (revogado). (Redação
superior a 4 (quatro) anos
dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Como se trata da pena máxima,
(Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). são levadas em conta as qualificadoras
Parágrafo único. Também será e, nas causas de aumento, deveremos
admitida a prisão preventiva quando exasperar a pena do patamar máximo.
houver dúvida sobre a identidade civil da
pessoa ou quando esta não fornecer
Já nas causas de diminuição,
elementos suficientes para esclarecê-la, deveremos reduzir a pena considerando
devendo o preso ser colocado a fração mínima.
imediatamente em liberdade após a
identificação, salvo se outra hipótese 3.2. Exceção
recomendar a manutenção da medida.”
Excepcionalmente, a quantidade
viii) legislação especial – nos
de pena é indiferente para decretação da
crimes contra o sistema financeiro (lei
preventiva, nas seguintes hipóteses:
n. 7492/86, art. 30), a prisão preventiva
a) ausência de identificação civil;
estaria fundamentada na magnitude da
Advertência: para Eugênio
lesão. Crítica: para a doutrina
Pacelli, esta hipótese é tão ampla que
majoritária, e para o STF, este
admite preventiva até em crime culposo.
fundamento não é bastante em si
b) se o indivíduo é reincidente em
mesmo, e não nos traz a utilidade do
crime doloso;
cárcere; logo é necessário que estejam
c) descumprimento de medida
presentes os requisitos do artigo 312 do
protetiva de urgência no âmbito da
CPP (cf. STF, HC 80717).
violência doméstica;
*criança, adolescente, idosos e
3. Admissibilidade da preventiva
deficientes também são beneficiados
Cf. CPP, 313:
“Art. 313. Nos termos do art. 312
por esta exceção.
deste Código, será admitida a decretação d) para Renato Brasileiro,
da prisão preventiva: podemos enquadrar ainda o
I - nos crimes dolosos punidos descumprimento das medidas cautelares
com pena privativa de liberdade máxima do artigo 319 do CPP.
superior a 4 (quatro) anos;
II - se tiver sido condenado por
outro crime doloso, em sentença 4. Preventiva vs. excludentes de
transitada em julgado, ressalvado o ilicitude
disposto no inciso I do caput do art. 64 Havendo indícios da presença de
do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de uma excludente de ilicitude, é sinal que
dezembro de 1940 - Código Penal;
a preventiva não poderá ser decretada
III - se o crime envolver violência
doméstica e familiar contra a mulher, (art. 314 do CPP).
criança, adolescente, idoso, enfermo ou Advertência: para Paulo Rangel,
pessoa com deficiência, para garantir a mesmo sem previsão legal, as
execução das medidas protetivas de excludentes de culpabilidade, salvo a
urgência; inimputabilidade, também impedem a
IV - (revogado).
Parágrafo único. Também será decretação da preventiva.
admitida a prisão preventiva quando
houver dúvida sobre a identidade civil da 5. Fundamentação do mandado
pessoa ou quando esta não fornecer De acordo com a CRFB, 93, IX
elementos suficientes para esclarecê-la, c/c CPP, 315, a decisão interlocutória
devendo o preso ser colocado
imediatamente em liberdade após a que decreta a preventiva deve ser
identificação, salvo se outra hipótese necessariamente motivada, e para o
recomendar a manutenção da medida.”

66
STJ, a mera transcrição do texto legal de o prazo poder se estender no tempo,
não atende à exigência constitucional. a depender do caso, enquanto houver
Obs. 1: se for interposto um HC necessidade, e a medida do prazo da
contra tal decisão, o Tribunal não pode prisão temporária será o prudente
simplesmente complementar uma arbítrio judicial.
fundamentação que não ocorreu *****
originariamente. Da mesma forma, se o
juiz, indicado como autoridade coatora,
presta informações para instruir o HC, PRISÃO TEMPORÁRIA
elas não servem para suprir a eventual (Lei n. 7960/89)
deficiência na fundamentação. A prisão
deve ser relaxada pelo Tribunal, posto
que ilegal. 1. Considerações
Obs. 2: fundamentação per 1.1. Origem
relationem. É aquela onde o magistrado A Lei da prisão temporária é fruto
se vale da íntegra da representação da MP 111/89, e pela patente
policial ou do requerimento do MP ou dissonância com a necessidade de
do querelante, para decretar a prisão, urgência, parte da doutrina (por todos,
subsistindo duas posições: 1ª) a nossa Elmir Duclerc) entendeu que a medida
doutrina não admite essa possibilidade, afrontava a CRFB, o que foi afastado
exigindo que o juiz, por intelecção pelo STF (cf. ADI 162).
própria, fundamente; 2º) os tribunais
superiores aceitam o instituto, ao 1.2. Conceito
fundamento de que não há prejuízo (cf. É a prisão cautelar cabível
STJ, HC 29293). exclusivamente na fase investigativa,
decretada pelo juiz, a requerimento do
6. Tempo da preventiva MP ou por representação da autoridade
O projeto de novo CPP possui a policial... [advertência abaixo]
previsão de prazo para prisão preventiva ...com prazo, desde que presentes
(PL 156). Na sistemática atual, esse os requisitos do art. 1º da Lei n.
prazo não existe, e a prisão preventiva 7960/89.
durará enquanto estiver presente a Advertência: ela não caberá de
hipótese que a ensejou, i. é, segue a ofício, e não foram contemplados o
cláusula rebus sic stantibus. Se o querelante e o assistente de acusação.
motivo desaparece, a preventiva será
revogada (CPP, 316), e nada impede 2. Requisitos/pressupostos
que ela seja redecretada pelo surgimento Fumus comissi delicti e periculum
de novas provas. libertatis.
Gustavo Badaró entende que o i) imprescindível ao inquérito
princípio da razoável duração do policial; [periculum libertatis]
processo incide na prisão preventiva, e ii) se o indivíduo não possui
que, portanto, o excesso deve ocasionar residência fixa ou identificação civil;
a liberação do réu (CRFB, 5º, [periculum libertatis]
LXXVIII). iii) havendo indícios de autoria ou
Antigamente, o STF acatava a de participação em um dos crimes
tese dos 81 dias, mas atualmente vem graves previstos em Lei (art. 1º da Lei
abandonando essa teoria, pois entendem n. 8072/90; art. 1º, III da Lei n.
que complexidade das relações sociais 7960/89). [fumus comissi delicti]
representadas nas diversas situações Observação. Conjugação dos
processuais demonstram a necessidade incisos. Para decretar a prisão

67
temporária, segundo a posição j) envenenamento de água potável
majoritária, teremos a seguinte ou substância alimentícia ou medicinal
qualificado pela morte (art. 270, caput,
“fórmula”: iii conjugado com (i ou ii) combinado com art. 285);
ou iii conjugado com (i e ii) l) quadrilha ou bando (art. 288),
Advertência: demais posições. todos do Código Penal;
Além da posição majoritária, temos as m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da
seguintes: Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956),
em qualquer de sua formas típicas;
1ª) LFG: [(iii + i) conjugado com n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei
ii]; n° 6.368, de 21 de outubro de 1976);
2ª) Mirabete: [i ou ii ou iii] o) crimes contra o sistema
3ª) Scarance Fernandes [i e ii e financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho
iii]; de 1986).
p) crimes previstos na Lei de
4ª) Elmir Duclerc – a temporária Terrorismo. (Incluído pela Lei nº
não tem respaldo constitucional, e na 13.260, de 2016)”
fase investigativa além do flagrante só
caberia prisão preventiva; Material de Apoio - Direito Processual
5ª) Guilherme Nucci: tanto a Penal - Nestor Távora - Aula 7 extra on
prisão preventiva quanto a temporária line.pdf
cabem na fase do inquérito, e a 3. Procedimento
preventiva será utilizada na fase
processual. Para ele, em igualdade de 3.1. Estrutura
condições, deve-se dar prevalência à A) provocação – a.1)
prisão temporária na fase do inquérito. requerimento do MP; a.2) representação
“Art. 1° Caberá prisão temporária: da autoridade policial;
I - quando imprescindível para as
investigações do inquérito policial; B) juiz – dispõe de 24 horas para
II - quando o indicado não tiver decidir.
residência fixa ou não fornecer
elementos necessários ao esclarecimento 3.2. Consequências procedimentais
de sua identidade; A) mandado prisional – expedido
III - quando houver fundadas
razões, de acordo com qualquer prova em duas vias. A primeira, entregue ao
admitida na legislação penal, de autoria preso, que servirá dos motivos e dos
ou participação do indiciado nos responsáveis pela prisão (serve como
seguintes crimes: nota de culpa, inerente tanto à prisão
a) homicídio doloso (art. 121, temporária quanto à preventiva);
caput, e seu § 2°);
b) seqüestro ou cárcere privado B) prazo(s) – b.1) prazo nos
(art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°); crimes comuns: 5 (cinco) dias,
c) roubo (art. 157, caput, e seus prorrogáveis uma vez por mais 5 (cinco)
§§ 1°, 2° e 3°); dias; b.2) crimes hediondos e
d) extorsão (art. 158, caput, e seus assemelhados (“t, t, t” – tráfico, tortura
§§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante seqüestro
e terrorismo): 30 (trinta) dias,
(art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); prorrogáveis por mais 30 (trinta).
f) estupro (art. 213, caput, e sua Observações:
combinação com o art. 223, caput, e 1) tanto a decretação da prisão
parágrafo único); temporária, quanto a prorrogação da
g) atentado violento ao pudor (art.
214, caput, e sua combinação com o art.
mesma, pressupõe decisão judicial, com
223, caput, e parágrafo único); prévia oitiva do Ministério Público;
h) rapto violento (art. 219, e sua 2) a prisão temporária se auto
combinação com o art. 223 caput, e revoga pelo decurso do prazo, e a
parágrafo único); manutenção do cárcere ao seu fim
i) epidemia com resultado de
morte (art. 267, § 1°);
caracterizará abuso de autoridade ao

68
cabo desse prazo. A manutenção no de exame de corpo de delito; 3)
cárcere apenas se houver, ato contínuo, requisitar informações ao delegado.
decretação da prisão preventiva *****
(conversão), daí sim havendo justa
causa. Ou seja, independe da
apresentação de alvará de soltura; Material de Apoio - Direito Processual
Advertências: Penal - Nestor Távora - Aula 1 extra on
2.1) o responsável pelo excesso de line.pdf
prazo incorre na responsabilidade
criminal por abuso de autoridade;
2.2) esgotado o prazo, admite-se a
decretação subsequente (“conversão”) JURISDIÇÃO E
da prisão preventiva, se presentes os COMPETÊNCIA
requisitos dos artigos 312 e 313 do CPP.
3) uma vez decretada a prisão
temporária, o seu prazo passa a ser o 1. Conceito
termômetro para conclusão do inquérito
policial (exemplo: num crime hediondo, 1.1. Jurisdição
se no trigésimo dia da investigação o Jurisdição deriva de “juris dictio”,
delegado representa e o juiz defere a simbolizando a ação de dizer o direito.
prisão temporária, esta será por mais Em acréscimo, a jurisdição é vista como
trinta dias e, a cabo desses, podem ser um poder-dever constitucionalmente
deferidos, como prorrogação dos consignado e entregue ao Poder
primeiros trinta dias, mais trinta dias, Judiciário, para que se aplique a Lei ao
totalizando 90 dias de investigação). caso concreto, com o objetivo de sanar a
Advertência: vale lembrar a corrente demanda penal.
doutrinária que defende a
complementação do tempo para atingir 1.2. Competência
os trinta dias que o delegado desfrutaria É a “medida da jurisdição”, ou
se o indiciado estivesse solto (27:30). seja, é a quantidade de poder conferido
C) Separação do preso – por lei a um juiz ou Tribunal,
atualmente, o art. 300 do CPP tem delimitando a sua margem de atuação.
redação similar ao art. 3º da Lei
7960/89, de forma que o preso cautelar, 2. Critérios de fixação de competência
qualquer que seja ele, deve ficar (classificação)
separado do preso definitivo; Competência material. Preenche
“Art. 300. As pessoas presas com preponderância as questões das
provisoriamente ficarão separadas das provas de magistratura e Ministério
que já estiverem definitivamente
condenadas, nos termos da lei de
Público. Decorrem dos seguintes
execução penal. critérios:
Parágrafo único. O militar preso A) competência ratio materiae
em flagrante delito, após a lavratura dos (ou seja, em razão da matéria);
procedimentos legais, será recolhido a B) competência ratione loci (ou
quartel da instituição a que pertencer,
onde ficará preso à disposição das
seja, em razão do lugar);
autoridades competentes.” C) competência ratione personae
D) postura do juiz – para (ou seja, em razão da pessoa).
fiscalizar o bom andamento da prisão, o
juiz poderá adotar as seguintes medidas: 3. Competência ratio materiae
1) determinar que o preso lhe seja
apresentado; 2) determinar a realização 3.1. Conceito

69
Segundo Ada Pellegrini Grinover, Art. 109. Aos juízes federais
o critério sobre a competência almeja compete processar e julgar:
I - as causas em que a União,
sempre responder uma pergunta. Nesse entidade autárquica ou empresa pública
caso, a pergunta é “qual é a Justiça?”. federal forem interessadas na condição
Ou seja, por este critério, iremos de autoras, rés, assistentes ou oponentes,
identificar qual é a Justiça competente. exceto as de falência, as de acidentes de
trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e
à Justiça do Trabalho;
3.2. Organização II - as causas entre Estado
estrangeiro ou organismo internacional e
3.2.1. Justiça Comum Município ou pessoa domiciliada ou
A) Estadual residente no País;
A competência da Justiça Comum III - as causas fundadas em
tratado ou contrato da União com Estado
Estadual é definida por exclusão, ou estrangeiro ou organismo internacional;
seja, é competente para julgar aquilo IV - os crimes políticos e as
que não foi expressamente conferido às infrações penais praticadas em
demais Justiças. Conclusão: lhe cabe detrimento de bens, serviços ou interesse
julgar o que não for expressamente da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas,
conferido às demais justiças, de forma
excluídas as contravenções e ressalvada a
que a sua atuação é residual. competência da Justiça Militar e da
B) Federal Justiça Eleitoral;
Conclusão: a Justiça Federal V - os crimes previstos em tratado
integra a referência da União, de forma ou convenção internacional, quando,
iniciada a execução no País, o resultado
que a sua competência é explicitada no
tenha ou devesse ter ocorrido no
Texto Constitucional, da seguinte estrangeiro, ou reciprocamente;
forma: V-A as causas relativas a direitos
B.1) TRF (cf. CRFB, 108): humanos a que se refere o § 5º deste
“Art. 108. Compete aos Tribunais artigo; (Incluído pela Emenda
Regionais Federais: Constitucional nº 45, de 2004)
I - processar e julgar, VI - os crimes contra a
originariamente: organização do trabalho e, nos casos
a) os juízes federais da área de sua determinados por lei, contra o sistema
jurisdição, incluídos os da Justiça Militar financeiro e a ordem econômico-
e da Justiça do Trabalho, nos crimes financeira;
comuns e de responsabilidade, e os VII - os habeas corpus, em
membros do Ministério Público da matéria criminal de sua competência ou
União, ressalvada a competência da quando o constrangimento provier de
Justiça Eleitoral; autoridade cujos atos não estejam
b) as revisões criminais e as ações diretamente sujeitos a outra jurisdição;
rescisórias de julgados seus ou dos juízes VIII - os mandados de segurança
federais da região; e os habeas data contra ato de autoridade
c) os mandados de segurança e os federal, excetuados os casos de
habeas data contra ato do próprio competência dos tribunais federais;
Tribunal ou de juiz federal; IX - os crimes cometidos a bordo
d) os habeas corpus, quando a de navios ou aeronaves, ressalvada a
autoridade coatora for juiz federal; competência da Justiça Militar;
e) os conflitos de competência X - os crimes de ingresso ou
entre juízes federais vinculados ao permanência irregular de estrangeiro, a
Tribunal; execução de carta rogatória, após o
II - julgar, em grau de recurso, as "exequatur", e de sentença estrangeira,
causas decididas pelos juízes federais e após a homologação, as causas referentes
pelos juízes estaduais no exercício da à nacionalidade, inclusive a respectiva
competência federal da área de sua opção, e à naturalização;
jurisdição. XI - a disputa sobre direitos
B.2) Juízes federais de primeiro indígenas.
grau (cf. CRFB, 109):
70
§ 1º As causas em que a União for impõe-se a separação de processos,
autora serão aforadas na seção judiciária respeitando-se assim as regras de
onde tiver domicílio a outra parte.
§ 2º As causas intentadas contra a
competência positivadas na CRFB (tese
União poderão ser aforadas na seção seguida no concurso MP/SP-2015);
judiciária em que for domiciliado o 3) os institutos benéficos do
autor, naquela onde houver ocorrido o Juizado Especial são aplicáveis à Justiça
ato ou fato que deu origem à demanda ou Eleitoral (cf. artigos 74, 76 e 89 da Lei
onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no
Distrito Federal.
n. 9099/95);
§ 3º Serão processadas e julgadas
na justiça estadual, no foro do domicílio B) Justiça Militar
dos segurados ou beneficiários, as causas Observações:
em que forem parte instituição de 1) lhe cabe julgar, tão somente, as
previdência social e segurado, sempre
que a comarca não seja sede de vara do
infrações militares, assim definidas
juízo federal, e, se verificada essa pelos artigos 9º e 10 do Código Penal
condição, a lei poderá permitir que outras Militar:
causas sejam também processadas e “Crimes militares em tempo de
julgadas pela justiça estadual. paz
§ 4º Na hipótese do parágrafo Art. 9º Consideram-se crimes
anterior, o recurso cabível será sempre militares, em tempo de paz:
para o Tribunal Regional Federal na área I - os crimes de que trata êste
de jurisdição do juiz de primeiro grau. Código, quando definidos de modo
§ 5º Nas hipóteses de grave diverso na lei penal comum, ou nela não
violação de direitos humanos, o previstos, qualquer que seja o agente,
Procurador-Geral da República, com a salvo disposição especial;
finalidade de assegurar o cumprimento II - os crimes previstos neste
de obrigações decorrentes de tratados Código, embora também o sejam com
internacionais de direitos humanos dos igual definição na lei penal comum,
quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, quando praticados:
perante o Superior Tribunal de Justiça, a) por militar em situação de
em qualquer fase do inquérito ou atividade ou assemelhado, contra militar
processo, incidente de deslocamento de na mesma situação ou assemelhado;
competência para a Justiça Federal. b) por militar em situação de
(Incluído pela Emenda Constitucional nº atividade ou assemelhado, em lugar
45, de 2004)” sujeito à administração militar, contra
militar da reserva, ou reformado, ou
assemelhado, ou civil;
3.2.2. Justiça Especial
c) por militar em serviço, em
comissão de natureza militar, ou em
A) Justiça Eleitoral formatura, ainda que fora do lugar sujeito
Conclusões: a administração militar contra militar da
1) lhe cabe julgar as infrações reserva, ou reformado, ou assemelhado,
penais eleitorais positivadas no Código ou civil;
c) por militar em serviço ou
Eleitoral e na Legislação Eleitoral atuando em razão da função, em
extravagante. Advertência: o Código comissão de natureza militar, ou em
Eleitoral foi recepcionado pela CRFB formatura, ainda que fora do lugar sujeito
com o status de Lei Complementar; à administração militar contra militar da
2) Além das infrações eleitorais, reserva, ou reformado, ou civil; (Redação
dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)
lhe cabe julgar eventuais infrações d) por militar durante o período
comuns interligadas – conexão ou de manobras ou exercício, contra militar
continência (CPP, 76 e 77). da reserva, ou reformado, ou
Advertência: Segundo Pedro Henrique assemelhado, ou civil;
Demercian e Jorge Assaf Maluli, se o e) por militar em situação de
atividade, ou assemelhado, contra o
crime eleitoral é conexo com o crime de patrimônio sob a administração militar,
competência da Justiça Comum Federal, ou a ordem administrativa militar;

71
f) por militar em situação de II - os crimes militares previstos
atividade ou assemelhado que, embora para o tempo de paz;
não estando em serviço, use armamento III - os crimes previstos neste
de propriedade militar ou qualquer Código, embora também o sejam com
material bélico, sob guarda, fiscalização igual definição na lei penal comum ou
ou administração militar, para a prática especial, quando praticados, qualquer
de ato ilegal; que seja o agente:
f) revogada. (Vide Lei nº 9.299, a) em território nacional, ou
de 8.8.1996) estrangeiro, militarmente ocupado;
III - os crimes praticados por b) em qualquer lugar, se
militar da reserva, ou reformado, ou por comprometem ou podem comprometer a
civil, contra as instituições militares, preparação, a eficiência ou as operações
considerando-se como tais não só os militares ou, de qualquer outra forma,
compreendidos no inciso I, como os do atentam contra a segurança externa do
inciso II, nos seguintes casos: País ou podem expô-la a perigo;
a) contra o patrimônio sob a IV - os crimes definidos na lei
administração militar, ou contra a ordem penal comum ou especial, embora não
administrativa militar; previstos neste Código, quando
b) em lugar sujeito à praticados em zona de efetivas operações
administração militar contra militar em militares ou em território estrangeiro,
situação de atividade ou assemelhado, ou militarmente ocupado.”
contra funcionário de Ministério militar Advertência: a conexão entre
ou da Justiça Militar, no exercício de infração militar e outra, não militar,
função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou
impõe a separação de processos.
durante o período de prontidão, 2) Vale lembrar que o abuso de
vigilância, observação, exploração, autoridade, a tortura, a facilitação da
exercício, acampamento, acantonamento fuga de preso e os crimes dolosos contra
ou manobras; a vida de civil, são infrações comuns, de
d) ainda que fora do lugar sujeito
à administração militar, contra militar em
forma que não serão submetidos à
função de natureza militar, ou no Justiça Militar.
desempenho de serviço de vigilância, Advertência: segundo Aury Lopes
garantia e preservação da ordem pública, Jr., a EC 45/2004, dando redação ao §
administrativa ou judiciária, quando 4º do art. 125 da CRFB, limitou-se a
legalmente requisitado para aquêle fim,
ou em obediência a determinação legal
tratar dos policiais militares e dos
superior. bombeiros militares. Logo, crime
Parágrafo único. Os crimes de que doloso contra a vida, praticado por
trata este artigo, quando dolosos contra a membro das Forças Armadas, será
vida e cometidos contra civil, serão da julgado na Justiça Militar Federal. Essa
competência da justiça comum.
tese já gabaritou prova de concurso.
(Parágrafo incluído pela Lei nº 9.299, de
8.8.1996)
Parágrafo único. Os crimes de 3) os institutos benéficos da Lei n.
que trata este artigo quando dolosos 9099/95 (JECrim) não se aplicam à
contra a vida e cometidos contra civil Justiça Militar – art. 90-A.
serão da competência da justiça comum,
4) Organização:
salvo quando praticados no contexto de
ação militar realizada na forma do art. b.1) Justiça Militar Estadual -
303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro julgará exclusivamente policiais
de 1986 - Código Brasileiro de militares e bombeiros militares (não
Aeronáutica. (Redação dada julga pessoa comum);
pela Lei nº 12.432, de 2011) b.2) Justiça Militar Federal – lhe
Crimes militares em tempo de
guerra cabe julgar os membros das Forças
Art. 10. Consideram-se crimes Armadas e as pessoas comuns que
militares, em tempo de guerra: eventualmente incorram em crime
I - os especialmente previstos militar federal
neste Código para o tempo de guerra;

72
3.3. Competência pela natureza da Observação – aplicação:
infração (Subcritério da competência B.1) crimes tentados (pacífico) –
ratione materiae) CPP, 70, caput, in fine;
B.2) Juizados Especiais Criminais
3.3.1. Conceito – em que pese a polêmica, a referida
Nosso legislador poderá teoria é aplicada nos JECrim, por força
estabelecer o órgão competente para do artigo 63 da Lei n. 9.099/05;
julgar um determinado tipo de delito por “Seção I
força da sua natureza. Da Competência e dos Atos Processuais
Art. 63. A competência do
Juizado será determinada pelo lugar em
3.3.2. Hipóteses constitucionais que foi praticada a infração penal.”
A) CRFB, 5º, XXXVIII, “d” – os B.3) segundo o STJ, os crimes
crimes dolosos contra a vida, por sua dolosos contra a vida se submetem a
natureza, serão julgados no Tribunal do julgamento no local da ação, para
Júri. Conclusão: cf. CP, 121 a 128, que melhor responder à sociedade agredida
positivam os crimes dolosos contra a e pela facilidade de prospecção
vida; probatória.
B) CRFB, 98, I – as infrações de
menor potencial ofensivo serão julgadas C) teoria da ubiquidade – por ela,
no Juizado Especial. Conclusão: de a competência territorial é fixada pelo
acordo com o art. 61 da Lei n. 9099/95, local da ação ou do resultado.
são de menor potencial ofensivo os Essa teoria é aplicada aos crimes à
crimes cuja pena máxima é de até 2 distância. Crime à distância é aquele
(dois) anos e as contravenções penais, cuja ação nasce no Brasil e o resultado
independente da quantidade de pena ocorre no estrangeiro, ou vice-versa.
prevista. Neste caso, a competência brasileira é
definida pelo local, no Brasil, em que
4. Competência ratione loci (em razão ocorreu a ação ou o resultado, tanto faz
do lugar) (art. 70, §§ 1º e 2º do CPP)

4.1. Conceito 4.2.2. 2ª Regra. Domicílio ou residência


Segundo Ada Pellegrini Grinover, do réu
nesse caso, perguntamos “qual o juízo Conclusões:
territorialmente competente?” Assim, 1) a nossa segunda regra é
por este critério, definiremos o juízo subsidiária à primeira, de acordo com o
territorialmente competente. CPP, 72, caput;
2) o domicílio da vítima não
4.2. Regras define a competência territorial na
esfera penal (aqui, deve-se ter atenção à
4.2.1. 1ª Regra. Teorias territoriais possibilidade de confusão nos casos de
A) Teoria do resultado – por ela, a aplicação da Lei Maria da Penha).
competência territorial é definida pelo
local da consumação do crime. A 4.2.3. 3ª regra: prevenção
referida teoria é positivada como Conclusões:
regra, nos termos do art. 70, caput, 1) juiz prevento é aquele que
do CPP. primeiro pratica um ato do processo
B) teoria da ação – por ela, a (recebimento da inicial) ou aquele que,
competência territorial é estabelecida durante o inquérito, adota uma medida
pelo local do último ato de execução cautelar inerente ao futuro processo.
(atividade).

73
4.3. Questões complementares natureza privada são consideradas
A) se a infração se consumar na Brasil ao ingressarem em nosso
divisa entre duas ou mais comarcas, a território; por fim, se uma embarcação
competência será firmada pela estrangeira estiver margeando a costa
prevenção (CPP, 70, § 3º); brasileira quando um ocorrer no seu
B) nas hipóteses de crime interior, o Brasil não se intrometerá na
permanente, ou de continuidade delitiva apuração, por força do direito de
que se estendam por mais de uma passagem inocente. Segundo a
comarca, a competência será fixada pela doutrina, tal referência também será
prevenção (CPP, 71); aplicada às aeronaves.
C) se o réu tem mais de um 2) regras de competência:
domicílio ou residência, a competência Viagens Viagens
será fixada pela prevenção (CPP, 72, § Nacionais Internacionais
A competência será Neste caso, se o navio
1º);
fixada pelo primeiro ou a aeronave
D) na ação privada exclusiva e local que o avião estiverem no conceito
personalíssima, mesmo sabendo o local pousar ou que o navio de território
da consumação, a vítima pode optar por atracar após o delito. brasileiro, a
ajuizar a ação no domicílio ou competência será
fixada pelo local de
residência do réu (CPP, 73).
saída, quando
Advertência: tal prerrogativa não se estiverem se
aplica à ação privada subsidiária da distanciando do
pública; Brasil, ou pelo local
E) crimes ocorridos em de chegada, quando
embarcações ou aeronaves. estiverem se
aproximando
Observações:
Material de Apoio - Direito Processual
1) conceito de território brasileiro
Penal - Nestor Távora - Aula 2 extra on
– fronteiras, espaço aéreo (que se
line (1).pdf
estende até o fim da camada
Material de Apoio - Direito Processual
atmosférica, pois o espaço cósmico é
Penal - Nestor Távora - Aula 2 extra on
domínio comum de todas as nações),
line (2).pdf
mar territorial (faixa territorial que se
Material de Apoio - Direito Processual
estende até as 12 milhas náuticas
Penal - Nestor Távora - Aula 2 extra on
contadas da baixa maré).
line (3).pdf
Advertência: território nacional
por equiparação – ele é composto
F) Competência brasileira para
pelas embarcações e aeronaves nas
crimes consumados no estrangeiro
seguintes situações jurídicas:
Conclusão: como o CP brasileiro
I) embarcações e aeronaves de
goza de extraterritorialidade (CP, 7º),
bandeira brasileira e de natureza
precisamos identificar o Juiz brasileiro
pública: integram o território brasileiro
territorialmente competente para julgar
em qualquer lugar do Planeta;
crimes consumados no estrangeiro,
II) embarcações e aeronaves de
vejamos (CPP, 88):
bandeira brasileira e de natureza
F.1) 1ª regra: a competência é
privada: elas integram o Brasil quando
definida pela capital do Estado
estiverem transitando em nosso
brasileiro em que, por último, o agente
território ou em alto mar;
teve residência;
III) embarcações ou aeronaves
F.2) 2ª regra: se o indivíduo nunca
estrangeiras – se forem de natureza
residiu no Brasil, será julgado em
pública, pertencem ao seu país em
Brasília.
qualquer lugar do mundo; as de

74
5. Competência ratione personae (=em legal a atração por continência ou
razão da pessoa) conexão do processo do co-réu ao foro
por prerrogativa de função de um dos
5.1. Conceito denunciados.”) Cf. o caso “Mensalão”
Algumas autoridades, pela (AP 470), em que o entendimento
importância do cargo ou da função expresso nessa súmula foi amplamente
desempenhada, serão julgadas aplicada.
originariamente perante Tribunal, no Advertências:
que convencionamos chamar de foro 1) vale lembrar que o Tribunal
por prerrogativa de função. pode determinar a separação facultativa
de processos, como estamos verificando
5.2. Regras interpretativas nas ações deflagradas por força da
A) 1ª regra: a competência do TJ Operação Lava-Jato;
ou do TRF é excepcionada pela 2) segundo a doutrina majoritária,
competência do TRE para o julgamento quando o crime é doloso contra a vida,
das infrações eleitorais. impõe-se a separação de processos.
Advertência: o mesmo não Conclusão: a autoridade com foro por
acontece com o STF e o STJ, pois a sua prerrogativa prevista na CRFB será
competência engloba a apreciação das julgada no Tribunal, ao passo que o
infrações eleitorais. cidadão comum será levado a Júri. Cf.
B) 2ª regra: foro por prerrogativa CRFB, 5º, XXXVIII, “d”.
vs. Júri. Segundo o STF as autoridades E) 5ª regra: perpetuação no tempo
com foro por prerrogativa encampado da prerrogativa de função – com a
na Constituição Federal não vão a Júri. declaração de inconstitucionalidade dos
O mesmo não acontece quando a §§ 1º e 2º do art. 84 do CPP (cf.
prerrogativa é encampada abaixo), poderemos fazer as seguintes
exclusivamente na Constituição constatações:
Estadual. E.1) para os crimes, uma vez
A matéria era disciplinada na encerrado o cargo ou o mandato,
STF, 721, e atualmente migrou para SV, encerra-se o foro por prerrogativa de
45: “A competência constitucional do função;
Tribunal do Júri prevalece sobre o foro E.2) para as ações de
por prerrogativa de função improbidade, não há foro por
estabelecido exclusivamente pela prerrogativa em nenhum momento.
constituição estadual.” Advertências:
C) 3ª regra: foro por prerrogativa 1) segundo o STF, a renúncia na
vs. deslocamento – as autoridades com véspera do julgamento, diante da
foro por prerrogativa nos Tribunais eminência da prescrição, caracteriza
Estaduais ou TRF, ao praticarem crime abuso de direito, sendo desconsiderada
fora do Estado ou da Região serão para efeito do deslocamento da
julgadas em seu Tribunal de origem. competência;
D) 4ª regra: cidadão comum – 2) segundo o STF, as ações de
segundo STF, 704, não há violação a improbidade administrativa contra
direitos ou garantias fundamentais Ministros do STF, tramitarão no STF.
quando o cidadão comum é julgado
originariamente perante Tribunal, ao ter 6. Competência absoluta vs.
praticado crime com autoridade que competência relativa
goza de prerrogativa de função (“Não
viola as garantias do juiz natural, da 6.1. Quadro comparativo
ampla defesa e do devido processo Competência Competência

75
Absoluta Relativa III - que o fato narrado
a) prepondera a) prepondera evidentemente não constitui crime; ou
interesse público; interesse das partes; IV - extinta a punibilidade do
b) desrespeito à b) seu desrespeito agente.”
competência absoluta acarreta nulidade
gera nulidade relativa; 7. Conexão e continência
absoluta; c) vício convalidável
c) vício não passível se não houver
de convalidação; alegação oportuna. 7.1. Conceito
Observações: São institutos que nos permitirão
1) prorrogação da competência – reunir em um só processo crimes e/ou
um juiz, a priori incompetente, assume a criminosos que poderiam ser julgados
competência justamente pela falta de separadamente.
questionamento oportuno do vício que o Conclusão: almejamos a
retiraria da condução da demanda. economia de atos processuais, assim
Assim é que, quando o magistrado como evitamos o risco de decisões
ordinariamente incompetente se contraditórias.
converte em autoridade competente
porque o vício não foi oportunamente 7.2. Conexão
alegado, convencionamos que operou-se
a prorrogação da competência. 7.2.1. Conceito
Conclusão: percebe-se que ela é Ela caracteriza a interligação entre
admitida nas hipóteses de competência duas ou mais infrações penais, que
relativa. serão julgadas em um só processo.
2) Enquadramento. Estudamos a
competência ratione materiae, ratione 7.2.2. Modalidades (fundamentos da
loci e ratione personae. Apenas a interligação)
competência ratione loci é relativa.
Conclusão: percebe-se que na I) Conexão intersubjetiva
esfera penal a competência territorial é A) Conceito
de natureza relativa. Nela os dois ou mais crimes
3) segundo a doutrina majoritária, foram praticados por duas ou mais
o juiz pode reconhecer de ofício a sua pessoas.
incompetência relativa, até o momento B) Espécies
do art. 397 do CPP. Advertência: por B.1) Conexão intersubjetiva por
outro lado, o STJ, na súmula 33 nega simultaneidade – nela, os crimes foram
essa possibilidade (“A incompetência praticados nas mesmas circunstâncias
relativa não pode ser declarada de de tempo e espaço. Exemplo: vários
ofício.”) mas, atenção, o referido torcedores, não participantes de torcida
enunciado foi idealizado para o organizada, que enfurecidos pelo
Processo Civil, tendo precedentes de rebaixamento do time, partem para a
aplicação no âmbito penal, de forma destruição do patrimônio público.
equivocada. B.2) conexão intersubjetiva
“Art. 397. Após o cumprimento concursal – nela, os indivíduos estavam
do disposto no art. 396-A, e parágrafos, previamente acordados.
deste Código, o juiz deverá absolver B.3) conexão intersubjetiva por
sumariamente o acusado quando reciprocidade – nela, as pessoas agiram
verificar:
I - a existência manifesta de causa umas contra as outras. Exemplo: caso
excludente da ilicitude do fato; em que o marido agride a mulher, por
II - a existência manifesta de trás, mas ela estava de posse de uma
causa excludente da culpabilidade do peixeira e, após se defender, partiu para
agente, salvo inimputabilidade;

76
o ataque (caso de lesões corporais Uma só conduta deságua em dois
recíprocas). ou mais resultados lesivos, que serão
Atenção! A rixa não é exemplo reunidos em um só processo,
dessa espécie de conexão. Na rixa não evidenciado a ocorrência de concurso
há partes definidas. Havendo 100 formal. Cf. artigos 70, 73 e 74 do CP.
pessoas numa briga, há apenas um “Concurso formal
crime, de concurso necessário. Não há Art. 70 - Quando o agente,
mediante uma só ação ou omissão,
conexão porque a rixa exige a existência pratica dois ou mais crimes, idênticos ou
de mais de um crime. não, aplica-se-lhe a mais grave das penas
cabíveis ou, se iguais, somente uma
II) Conexão lógica (=teleológica, delas, mas aumentada, em qualquer caso,
finalista) de um sexto até metade. As penas
aplicam-se, entretanto, cumulativamente,
Nela, um crime é praticado para se a ação ou omissão é dolosa e os
ocultar, levar vantagem ou para criar crimes concorrentes resultam de
impunidade em face de outra infração. desígnios autônomos, consoante o
disposto no artigo anterior.
III) Conexão instrumental ou Parágrafo único - Não poderá a
pena exceder a que seria cabível pela
probatória regra do art. 69 deste Código. (Redação
Nesta conexão, a prova da prática dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
de um delito é essencial para (...)
demonstração da ocorrência de outra Erro na execução
infração. Exemplo: conexão entre o Art. 73 - Quando, por acidente ou
erro no uso dos meios de execução, o
roubo e a receptação.
agente, ao invés de atingir a pessoa que
pretendia ofender, atinge pessoa diversa,
7.3. Continência responde como se tivesse praticado o
crime contra aquela, atendendo-se ao
7.3.1. Conceito disposto no § 3º do art. 20 deste Código.
No caso de ser também atingida a pessoa
Ela se caracteriza pela relação de
que o agente pretendia ofender, aplica-se
continente e conteúdo, onde a unidade a regra do art. 70 deste Código.
prevalece. Logo, teremos um só crime Resultado diverso do
praticado por duas ou mais pessoas, ou pretendido
uma só conduta desaguando em dois ou Art. 74 - Fora dos casos do artigo
mais resultados lesivos. anterior, quando, por acidente ou erro na
execução do crime, sobrevém resultado
diverso do pretendido, o agente responde
7.3.2. Modalidades por culpa, se o fato é previsto como
I) Continência por cumulação crime culposo; se ocorre também o
subjetiva resultado pretendido, aplica-se a regra do
Teremos um só crime que foi art. 70 deste Código.”
praticado por duas ou mais pessoas, que
serão julgados no mesmo processo
(concurso de agentes, tanto na 8. Foro prevalente
coautoria ou autoria e participação). Há
denúncia única pela relação de 8.1. Conceito
continente e conteúdo. Assim é que, É o juiz ou Tribunal que chama
nela, um só delito é praticado por duas para si a responsabilidade de julgar
ou mais pessoas (CPP, 77, I). todos os crimes ou criminosos, nas
hipóteses de conexão ou continência.
II) Continência por cumulação
objetiva 8.2. Regras
Advertência. As regras de
conexão, continência e prevalência
77
estão previstas no CPP, que tem status
de Lei Ordinária. Quando a sua C) Jurisdição de maior hierarquia
aplicação resultar na ofensa a prevalece sobre a de menor
disposições constitucionais de fixação Observação: esta regra positiva o
da competência, impõe-se a separação comando da STF, 704 (acima tratada na
de processos. competência por prerrogativa de
Regras: função). Advertência: eventualmente,
A) Justiça especial vs. Justiça como ocorreu por várias vezes na
comum. Observações: Operação Lava-Jato, poderemos optar
1) a Justiça Especial prevalece pela separação facultativa de processos
sobre a Justiça Comum. (CPP, 80).
2) esta regra não se aplica à
Justiça Militar, impondo-se a separação D) órgãos da mesma Justiça e de
de processos; mesma hierarquia concorrendo
3) há doutrina defendendo que o Exemplo: cidade de São Paulo,
crime eleitoral conexo com crime onde ocorreu um crime de roubo,
comum federal gera separação de conexo com três crimes de receptação,
processos, enquanto os crimes comuns que ocorreram em Campinas. Tratando-
estaduais são reunidos na Justiça se de crimes conexos, deve haver um
Eleitoral (Pedro Henrique Demersian e único processo. O crime de roubo é de
Jorge Assaf Maluli). competência da Justiça Estadual de
4) segundo o STJ, na súmula 122, primeiro grau, da mesma forma que as
a Justiça Federal prevalece em receptações. Órgãos que integram a
detrimento da Justiça Estadual mesma Justiça e de mesma hierarquia.
(“Compete à Justiça Federal o processo O crime de roubo tem pena de 4-10
e julgamento unificado dos crimes anos, e a receptação de 1-4 anos.
conexos de competência federal e Prevalece a competência do órgão
estadual, não se aplicando a regra do do local de consumação do crime mais
art. 78, II «a», do CPP.”). grave.
B) A competência do Tribunal do No exemplo, e se ao invés de
Júri prevalece sobre os demais órgãos roubo, fosse um furto? Prevalece a
da Justiça comum competência do órgão Judicial de
Observações: Campinas, pela quantidade de crimes.
1) percebe-se que o Júri tem Por fim, se são crimes de mesma
competência para julgar os crimes gravidade e quantidade, a prevalência se
dolosos contra a vida e todas as estabelece pela prevenção.
infrações comuns interligadas. Em todos os casos, o que se
Advertência. Tal prevalência persiste observa é a pena em abstrato.
quando a infração conexa é de menor
potencial ofensivo, respeitando-se 9. Separação de processos
contudo a oferta de composição civil e
transação penal (art. 60, p. ú. da Lei n. 9.1. Conceito
9099/95); Eventualmente, mesmo havendo
2) se o crime doloso contra a vida conexão ou continência, os processos
é conexo com crime federal, serão tramitarão separadamente, por
reunidos, com o Júri sendo realizado na imposição normativa, ou por
Justiça Federal. conveniência persecutória.
3) no caso de crime doloso contra
a vida conexo com crime eleitoral, 9.2. Modalidades
impõe-se a separação de processos. A) Separação obrigatória

78
É aquela imposta por Lei ou para § 3º Quando incerto o limite
que sejam respeitadas as normas de territorial entre duas ou mais
jurisdições, ou quando incerta a
competência constitucional (CPP, 79). jurisdição por ter sido a infração
B) Separação facultativa consumada ou tentada nas divisas de
É aquela recomendada pela duas ou mais jurisdições, a
conveniência do caso concreto (CPP, competência firmar-se-á pela
80). prevenção.
Art. 71. Tratando-se de infração
continuada ou permanente, praticada
10. Perpetuação da jurisdição em território de duas ou mais
jurisdições, a competência firmar-se-á
10.1. Conceito pela prevenção.
Por esse instituto, se o juiz
CAPÍTULO II
prevalente absolver o réu pelo crime DA COMPETÊNCIA
que o tornou prevalente, ou PELO DOMICÍLIO
desclassificar esta infração, ele OU RESIDÊNCIA DO RÉU
continuará competente para julgar as
infrações conexas (CPP, 81). Art. 72. Não sendo conhecido o
lugar da infração, a competência
regular-se-á pelo domicílio ou
residência do réu.
§ 1º Se o réu tiver mais de uma
“TÍTULO V residência, a competência firmar-se-á
DA COMPETÊNCIA pela prevenção.
§ 2º Se o réu não tiver
Art. 69. Determinará a residência certa ou for ignorado o seu
competência jurisdicional: paradeiro, será competente o juiz que
I - o lugar da infração: primeiro tomar conhecimento do fato.
II - o domicílio ou residência do Art. 73. Nos casos de exclusiva
réu; ação privada, o querelante poderá
III - a natureza da infração; preferir o foro de domicílio ou da
IV - a distribuição; residência do réu, ainda quando
V - a conexão ou continência; conhecido o lugar da infração.
VI - a prevenção;
VII - a prerrogativa de função. CAPÍTULO III
DA COMPETÊNCIA
CAPÍTULO I PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO
DA COMPETÊNCIA PELO LUGAR
DA INFRAÇÃO Art. 74. A competência pela
natureza da infração será regulada
Art. 70. A competência será, de pelas leis de organização judiciária,
regra, determinada pelo lugar em que salvo a competência privativa do
se consumar a infração, ou, no caso de Tribunal do Júri.
tentativa, pelo lugar em que for § 1º Competirá privativamente
praticado o último ato de execução. ao tribunal do juri o julgamento dos
§ 1º Se, iniciada a execução no crimes previstos no Código Penal, arts.
território nacional, a infração se 121, §§ 1º e 2º, 122 e 123, consumados
consumar fora dele, a competência será ou tentados.
determinada pelo lugar em que tiver § 1º Compete ao Tribunal do
sido praticado, no Brasil, o último ato Júri o julgamento dos crimes previstos
de execução. nos arts. 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo
§ 2º Quando o último ato de único, 123, 124, 125, 126 e 127 do
execução for praticado fora do Código Penal, consumados ou tentados.
território nacional, será competente o (Redação dada pela Lei nº 263, de
juiz do lugar em que o crime, embora 23.2.1948)
parcialmente, tenha produzido ou devia § 2º Se, iniciado o processo
produzir seu resultado. perante um juiz, houver
desclassificação para infração da

79
competência de outro, a este será Art. 78. Na determinação da
remetido o processo, salvo se mais competência por conexão ou
graduada for a jurisdição do primeiro, continência, serão observadas as
que, em tal caso, terá sua competência seguintes regras:
prorrogada. I – no concurso entre a
§ 3º Se o juiz da pronúncia competência do juri e a do juiz
desclassificar a infração para outra singular, prevalecerá a deste, salvo se o
atribuída à competência de juiz crime concorrente, de competência do
singular, observar-se-á o disposto no juiz singular, for qualquer dos
art. 410; mas, se a desclassificação for enumerados no Capítulo II do Título I
feita pelo próprio Tribunal do Júri, a da Parte Especial do Código Penal;
seu presidente caberá proferir a II – no concurso de jurisdições
sentença (art. 492, § 2o). da mesma categoria:
a) prevalecerá a do lugar da
CAPÍTULO IV infração à qual for cominada a pena
DA COMPETÊNCIA mais grave;
POR DISTRIBUIÇÃO b) prevalecerá a do lugar em que
houver ocorrido o maior número de
Art. 75. A precedência da infrações, se as respectivas penas forem
distribuição fixará a competência de igual gravidade;
quando, na mesma circunscrição c) firmar-se-á a competência
judiciária, houver mais de um juiz pela prevenção, nos outros casos;
igualmente competente. III – no concurso de jurisdições
Parágrafo único. A distribuição de diversas categorias, prevalecerá a de
realizada para o efeito da concessão de maior graduação;
fiança ou da decretação de prisão IV – no concurso entre a
preventiva ou de qualquer diligência jurisdição comum e a especial,
anterior à denúncia ou queixa prevenirá prevalecerá esta.
a da ação penal. Art. 78. Na determinação da
competência por conexão ou
CAPÍTULO V continência, serão observadas as
DA COMPETÊNCIA POR seguintes regras: (Redação dada pela
CONEXÃO OU CONTINÊNCIA Lei nº 263, de 23.2.1948)
I - no concurso entre a
Art. 76. A competência será competência do júri e a de outro órgão
determinada pela conexão: da jurisdição comum, prevalecerá a
I - se, ocorrendo duas ou mais competência do júri; (Redação dada
infrações, houverem sido praticadas, ao pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
mesmo tempo, por várias pessoas Il - no concurso de jurisdições
reunidas, ou por várias pessoas em da mesma categoria: (Redação dada
concurso, embora diverso o tempo e o pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
lugar, ou por várias pessoas, umas a) preponderará a do lugar da
contra as outras; infração, à qual for cominada a pena
II - se, no mesmo caso, mais grave; (Redação dada pela Lei nº
houverem sido umas praticadas para 263, de 23.2.1948)
facilitar ou ocultar as outras, ou para b) prevalecerá a do lugar em que
conseguir impunidade ou vantagem em houver ocorrido o maior número de
relação a qualquer delas; infrações, se as respectivas penas forem
III - quando a prova de uma de igual gravidade; (Redação dada pela
infração ou de qualquer de suas Lei nº 263, de 23.2.1948)
circunstâncias elementares influir na c) firmar-se-á a competência
prova de outra infração. pela prevenção, nos outros casos;
Art. 77. A competência será (Redação dada pela Lei nº 263, de
determinada pela continência quando: 23.2.1948)
I - duas ou mais pessoas forem III - no concurso de jurisdições
acusadas pela mesma infração; de diversas categorias, predominará a
II - no caso de infração de maior graduação; (Redação dada
cometida nas condições previstas nos pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
arts. 51, § 1º, 53, segunda parte, e 54 IV - no concurso entre a
do Código Penal. jurisdição comum e a especial,

80
prevalecerá esta. (Redação dada pela
Lei nº 263, de 23.2.1948) Art. 83. Verificar-se-á a
Art. 79. A conexão e a competência por prevenção toda vez
continência importarão unidade de que, concorrendo dois ou mais juízes
processo e julgamento, salvo: igualmente competentes ou com
I - no concurso entre a jurisdição cumulativa, um deles tiver
jurisdição comum e a militar; antecedido aos outros na prática de
II - no concurso entre a algum ato do processo ou de medida a
jurisdição comum e a do juízo de este relativa, ainda que anterior ao
menores. oferecimento da denúncia ou da queixa
§ 1º Cessará, em qualquer caso, (arts. 70, § 3o, 71, 72, § 2o, e 78, II, c).
a unidade do processo, se, em relação a
algum co-réu, sobrevier o caso previsto CAPÍTULO VII
no art. 152. DA COMPETÊNCIA PELA
§ 2º A unidade do processo não PRERROGATIVA DE FUNÇÃO
importará a do julgamento, se houver
co-réu foragido que não possa ser Art. 84. A competência pela
julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese prerrogativa de função é do Supremo
do art. 461. Tribunal Federal e dos Tribunais de
Art. 80. Será facultativa a Apelação, relativamente ás pessoas que
separação dos processos quando as devam responder perante eles por
infrações tiverem sido praticadas em crimes comuns ou de responsabilidade.
circunstâncias de tempo ou de lugar Art. 84. A competência pela
diferentes, ou, quando pelo excessivo prerrogativa de função é do Supremo
número de acusados e para não Ihes Tribunal Federal, do Superior Tribunal
prolongar a prisão provisória, ou por de Justiça, dos Tribunais Regionais
outro motivo relevante, o juiz reputar Federais e Tribunais de Justiça dos
conveniente a separação. Estados e do Distrito Federal,
Art. 81. Verificada a reunião relativamente às pessoas que devam
dos processos por conexão ou responder perante eles por crimes
continência, ainda que no processo da comuns e de responsabilidade.
sua competência própria venha o juiz (Redação dada pela Lei nº 10.628, de
ou tribunal a proferir sentença 24.12.2002)
absolutória ou que desclassifique a § 1º A competência especial por
infração para outra que não se inclua na prerrogativa de função, relativa a atos
sua competência, continuará administrativos do agente, prevalece
competente em relação aos demais ainda que o inquérito ou a ação judicial
processos. sejam iniciados após a cessação do
Parágrafo único. Reconhecida exercício da função pública. (Incluído
inicialmente ao júri a competência por pela Lei nº 10.628, de 24.12.2002)
conexão ou continência, o juiz, se vier (Vide ADIN nº 2797)
a desclassificar a infração ou § 2º A ação de improbidade, de
impronunciar ou absolver o acusado, de que trata a Lei no 8.429, de 2 de junho
maneira que exclua a competência do de 1992, será proposta perante o
júri, remeterá o processo ao juízo tribunal competente para processar e
competente. julgar criminalmente o funcionário ou
Art. 82. Se, não obstante a autoridade na hipótese de prerrogativa
conexão ou continência, forem de foro em razão do exercício de
instaurados processos diferentes, a função pública, observado o disposto
autoridade de jurisdição prevalente no § 1º. (Incluído pela Lei nº 10.628,
deverá avocar os processos que corram de 24.12.2002) (Vide ADIN nº
perante os outros juízes, salvo se já 2797)
estiverem com sentença definitiva. Art. 85. Nos processos por
Neste caso, a unidade dos processos só crime contra a honra, em que forem
se dará, ulteriormente, para o efeito de querelantes as pessoas que a
soma ou de unificação das penas. Constituição sujeita à jurisdição do
Supremo Tribunal Federal e dos
CAPÍTULO VI Tribunais de Apelação, àquele ou a
DA COMPETÊNCIA estes caberá o julgamento, quando
POR PREVENÇÃO

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oposta e admitida a exceção da competente o juízo da Capital da
verdade. República.
Art. 86. Ao Supremo Tribunal Art. 91. Quando incerta e não se
Federal competirá, privativamente, determinar de acordo com as normas
processar e julgar: estabelecidas nos arts. 89 e 90, a
I - os seus ministros, nos crimes competência se firmará pela prevenção.
comuns; (Redação dada pela Lei nº 4.893, de
II - os ministros de Estado, 9.12.1965)”
salvo nos crimes conexos com os do
Presidente da República;
III - o procurador-geral da
República, os desembargadores dos
Tribunais de Apelação, os ministros do
Tribunal de Contas e os embaixadores
e ministros diplomáticos, nos crimes nestor@nestortavora.com.br
comuns e de responsabilidade.
Art. 87. Competirá,
originariamente, aos Tribunais de
Apelação o julgamento dos
governadores ou interventores nos
Estados ou Territórios, e prefeito do
Distrito Federal, seus respectivos
secretários e chefes de Polícia, juízes
de instância inferior e órgãos do
Ministério Público.

CAPÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES ESPECIAIS

Art. 88. No processo por crimes


praticados fora do território brasileiro,
será competente o juízo da Capital do
Estado onde houver por último residido
o acusado. Se este nunca tiver residido
no Brasil, será competente o juízo da
Capital da República.
Art. 89. Os crimes cometidos
em qualquer embarcação nas águas
territoriais da República, ou nos rios e
lagos fronteiriços, bem como a bordo
de embarcações nacionais, em alto-
mar, serão processados e julgados pela
justiça do primeiro porto brasileiro em
que tocar a embarcação, após o crime,
ou, quando se afastar do País, pela do
último em que houver tocado.
Art. 90. Os crimes praticados a
bordo de aeronave nacional, dentro do
espaço aéreo correspondente ao
território brasileiro, ou ao alto-mar, ou
a bordo de aeronave estrangeira, dentro
do espaço aéreo correspondente ao
território nacional, serão processados e
julgados pela justiça da comarca em
cujo território se verificar o pouso após
o crime, ou pela da comarca de onde
houver partido a aeronave.
Art. 91. Se não se firmar a
competência de acordo com as normas
estabelecidas nos arts. 89 e 90, será

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