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MODELO DE PETIÇÃO

CONTRARRAZÕES AO AGRAVO INTERNO


Rénan Kfuri Lopes

Exmo. Sr. Des. Federal da ...ª Turma – Gabinete ... do Tribunal Regional Federal da ... Região
Autos n. ...
(nome), agravado, devidamente qualificado na peça vestibular do agravo de instrumento, por
seus advogados in fine assinados, nos autos epigrafados em que contende contra
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE – FUNASA, agravante, também qualificada, vem,
respeitosamente, apresentar suas contrarrazões ao agravo interno, pelos fatos e fundamentos
aduzidos a seguir:
CONTRARRAZÕES AO AGRAVO INTERNO
Autos n.: ...
Origem: Vara Federal Cível e Criminal Única- Subseção Judiciária de ...[...]
Recorrente: FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE – FUNASA
Recorrido: ...
Egrégio TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA ...ª REGIÃO,
Insignes Desembargadores Federais,
Colenda Corte.
I- TEMPESTIVIDADE
1. Extrai-se do caderno processual que a intimação para apresentação de contrarrazões ao
agravo interno foi expedida no dia ..., vide Id. .... Havendo a ciência automática no dia ...,
iniciou-se a contagem da quinzena legal no dia útil subsequente. Com isso, tem-se como
termo final para apresentação das presentes contrarrazões este dia ...1
II- BREVE ESCORÇO DOS AUTOS
2. Infere-se da petição de interposição do recurso de agravo de instrumento, que o recorrente
se mostra insatisfeito com a tutela jurisdicional prestada pelo d. juízo da Subseção Judiciária
de ... [...], vez que indeferidos os pedidos quebra de sigilos fiscal e bancário, vide Id. ...
3. Analisando os fundamentos aduzidos pelo agravante, este Eg. TRIBUNAL REGINAL
FEDERAL DA ...ª REGIÃO reformou parcialmente a decisão proferida pelo juízo singular;
deferindo a tutela recursal para que se procedesse à pesquisa via INFOJUD/DOI e à
requisição de informações à ..., vide Id. ...
4. Novamente irresignado, o recorrente interpôs agravo interno contra a v. decisão
interlocutória proferida pelo DD. Desembargador Relator ... [Juiz Federal Relator
Convocado ...], requerendo a reconsideração das razões recursais e reforma da decisão para
que, em compêndio, seja decretada a quebra de sigilos bancário e fiscal, vide Id. ...
1
CPC, art. 1.003, §5º.
5. Esta é a síntese da demanda.
III- MÉRITO – IMPROVIMENTO DO RECURSO
6. Ab initio, embora o agravante discorra longamente sobre a possibilidade de utilização de
mecanismos para a satisfação de seu crédito, com a ampla busca de patrimônio do executado
[ora agravado]; há flagrantemente excesso de diligências requeridas, ainda mais quando se
intenta a obtenção de informações sigilosas fornecidas de forma excepcionalíssima.
7. Ademais, o próprio agravante reconhece que até então o valor do patrimônio localizado do
devedor é suficiente para a garantia da execução, vide Id. ... Por isso, além de ser
desproporcional, infundada e inadequada ao caso concreto, mostra-se completamente
desnecessária a pretensão de quebra de sigilo bancário e fiscal, data venia.
8. No entanto, para serventia deste mecanismo totalmente incomum, deveria o ora agravante
demonstrar cumulativamente a inexistência de recursos econômicos do executado que possam
garantir a execução; evidenciar mínimos indícios de ocultação de patrimônio; bem como
comprovar o exaurimento das diversas e reiteradas tentativas de localização de patrimônio
suficiente.
9. Essa definitivamente não é realidade apurada no bojo da ação de execução fiscal.
10. In casu, patente que foi realizada apenas e tão somente uma busca de patrimônio do
devedor, utilizando o BacenJud 2.0, que realmente restou prejudicada pela ausência de valores
depositados em contas. Além dessa penhora online requerida, não existe outro pedido
reiterando qualquer tipo de busca de patrimônio pessoal do devedor.
10. Assim discorreu o recorrente em seu agravo interno, in verbis:
“... É necessária a adoção de medidas atípicas de coerção para não paire situação
eternizante de esforços exacerbados em satisfazer o crédito exequendo, mas sem retornar
positivos, repercutindo em diversas suspensões sem chegar ao deslinde do processo...” vide
Id. ...
11. Mesmo que o digesto instrumental civil possibilite ao recorrente deixar de instruir sua
petição de agravo de instrumento com os documentos obrigatórios discriminados em seu art.
1.017, não cuidou o agravante de relatar de modo exato, preciso e sem sombras de dúvidas
quais foram essas incontáveis tentativas de satisfazer o crédito exequendo, acompanhados de
seus documentos idôneos, data maxima venia2.
12. Inadmissível que o retorno negativo de uma única pesquisa via BacenJud seja motivo para
quebra de sigilo bancário e fiscal, venia concessa3.

2
CPC, art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:
I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da
própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a
tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado;
II - com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso I, feita pelo advogado do
agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal;...
§5º Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as peças referidas nos incisos I e II do caput ,
facultando-se ao agravante anexar outros documentos que entender úteis para a compreensão da controvérsia.
3
Sobre a necessidade de esgotamento das tentativas de localização de patrimônio do executado decidiu o Eg.
STJ no julgamento do REsp 161.296/RS, DJ 08.05.2000, pág. 80.
13. Insista-se: basta uma singela leitura do caderno processual da ação de execução fiscal
apensada para perceber o desatendimento desse pressuposto pelo ora recorrente.
14. Desta forma, constata-se flagrantemente que o agravo interno não trouxe qualquer novo
elemento que pudesse alterar as conclusões e fundamentos utilizados pelo d. juízo singular,
limitando-se a repisar os argumentos vergastados anteriormente na busca de uma pretensão
recursal por demais absurda, concessa maxima venia.
15. O instituto da quebra de sigilo bancário e fiscal não pode ser aviltado da maneira que
pretendida pelo agravante, sob pena de se tornar precedente nefasto aos princípios basilares
do Estado Democrático de Direito.
16. A inviolabilidade das informações sigilosas é assegurada pela Constituição Federal, que
estabelece a obrigação legal de proteção à intimidade, vida privada, honra e imagem das
pessoas, ex vi CF, art. 5º, X4.
17. Da mesma maneira a Lei Complementar n. 105 de 10 de janeiro de 2001 estabelece-
determina que as instituições financeiras conservem sigilo em suas operações ativas e
passivas e serviços prestados5.
18. Nesse sentido decidiu o Colendo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL:
“SIGILO DE DADOS – AFASTAMENTO. Conforme disposto no inciso XII do artigo 5º da
Constituição Federal, a regra é a privacidade quanto à correspondência, às comunicações
telegráficas, aos dados e às comunicações, ficando a exceção – a quebra do sigilo –
submetida ao crivo de órgão equidistante – o Judiciário – e, mesmo assim, para efeito de
investigação criminal ou instrução processual penal. [...]
[...] SIGILO DE DADOS BANCÁRIOS – RECEITA FEDERAL. Conflita com a Carta da
República norma legal atribuindo à Receita Federal – parte na relação jurídico-tributária –
o afastamento do sigilo de dados relativos ao contribuinte.” [RE 389808, Relator(a):
MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 15/12/2010, DJe-086 DIVULG 09-05-2011
PUBLIC 10-05-2011 EMENT VOL-02518-01 PP-00218 RTJ VOL-00220-01 PP-00540]
19. Outrossim, sedimentado pelo Augusto SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA que o
simples interesse de descobrir bens a penhorar do executado/devedor não enseja a quebra de
sigilo fiscal e/ou bancário. [STJ, 3ª Turma, REsp n. 11.114/ES, DJe 16.09.91]
20. Portanto, “...tal ideia tem premissa no pressuposto jusnaturalista de que o Estado existe
para proteger direitos naturais, como a vida, a liberdade e a propriedade, que, de outro
modo, estariam ameaçados. Se é assim, todo poder aparece limitado por esses direitos e
nenhum objetivo estatal ou social teria como prevalecer sobre eles. Os direitos fundamentais
gozariam de prioridade absoluta sobre qualquer interesse coletivo...”6.

4
CF, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:...
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação...
5
LC n. 105/2001, art. 1º As instituições financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e passivas e
serviços prestados.
6
MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional / Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo Gonet
Branco. – 13. ed. rev. e atual. – São Paulo : Saraiva Educação, 2018. – (Série IDP), pág. 210.
21. No mesmo sentido preceitua o renomado jurista Dr. INGO WOLFGANG SARLET:
“...No caso da Constituição Federal, a proteção do sigilo fiscal e bancário, de acordo com a
voz majoritária do direito brasileiro, foi deduzida dos direitos à privacidade e à intimidade,
constituindo uma particular manifestação destes...”7.
22. Trocando em miúdos, percebe-se que a tese levantada pelo agravante é por
manifestamente quebradiça, vez que o patrimônio localizado do devedor é suficiente para
satisfazer o quantum debeautur e foram desatendidos os pressupostos para decretação de
quebra de sigilo bancário e fiscal [que não se confundem], data venia.
23. Isto posto, sabendo que a execução fiscal está garantida pela penhora dos imóveis de
propriedade do executado [ora agravado], bem como ausentes os requisitos para deferimento
da quebra de sigilo bancário e fiscal, não merecem prosperar os argumentos aduzidos pela
parte recorrente.8 [doc. n. ...]
24. Ex positis, o agravado requer seja NEGADO PROVIMENTO AO AGRAVO INTERNO,
ANTE A AUSÊNCIA FUNDAMENTO LEGAL PARA DECRETAÇÃO DE QUEBRA DE
SIGILO BANCÁRIO e FISCAL, BEM COMO HAVENDO PATRIMÔNIO SUFICIENTE A
SATISFAZER O QUANTUM DEBEATUR, mantendo-se irretocada a v. decisão interlocutória
proferida pelo juízo primevo.
P. Deferimento.
(Local e data)
(Assinatura e OAB do Advogado)

7
SARLET, Ingo Wolfgang. Curso de direito constitucional / Ingo Wolfgang Sarlet, Luiz Guilherme Marinoni e
Daniel Mitidiero. – 7. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2018, pág. 473.
8
Ressalta-se que é discutido na instância originária sobre a nulidade de intimação, pois violados os comandos
legais dos arts. 103, 269, 230, 270 e 272 do CPC – ausência de cadastramento do advogado representante legal,
embora carreada procuração e requerido o cadastramento.

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