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Acórdão Nº 1186717
EMENTA
1. É lícito o empréstimo de prova produzida em outro processo, desde que esta seja submetida ao
contraditório nos autos para o qual é transportada — o que ocorre de forma documental —, nos termos
do art. 372, do CPC. Embora não se exija que as mesmas partes do processo para o qual ocorre o
transporte da prova tenham participado de sua produção no processo de origem, tal circunstância é
relevante para que se lhe possa atribuir maior poder de persuasão.
2. Deve ser cassada a sentença proferida em julgamento antecipado da lide, sem o deferimento da
realização de prova pericial indispensável para a análise da existência ou não da invalidez do militar,
visto que configurado o cerceamento de defesa da parte ré e a ausência da prestação jurisdicional.
3. Apelo provido.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Prudential do Brasil Seguros de Vida S.A e Prudential do Brasil Vida em Grupo S.A. interpuseram
apelação contra sentença proferida pelo Juízo da 14ª Vara Cível de Brasília, que julgou parcialmente
procedente o pedido para condenar a parte ré ao pagamento de R$ 204.243,23 (duzentos e quatro mil e
duzentos e quarenta e três reais e vinte e três centavos), conforme apólice ID nº 20767784- Pág. 1,
acrescidos de correção monetária a partir da data do sinistro, 14/10/2017, e juros de mora desde a
citação, descontado o valor pago administrativamente pela ré. Condenou-as, ainda, ao pagamento das
custas processuais e dos honorários advocatícios, sendo estes fixados em dez por cento (10%) do valor
da condenação.
É o relatório.
VOTOS
Para embasar o seu direito, o recorrido trouxe aos autos laudo pericial no qual o médico nomeado para
a realização da perícia atestou a sua incapacidade parcial permanente para as atividades físicas da vida
militar (ID nº 7777242 - Págs. 1-5).
Cabe ressaltar que a mencionada prova pericial foi produzida nos autos de ação ajuizada contra a
União, que tramitou perante a 22ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro (processo nº
0500316-88.2017.4.02.5101).
É lícito o empréstimo de prova produzida em outro processo, desde que esta seja submetida ao
contraditório nos autos para o qual é transportada — o que ocorre de forma documental —, nos
termos do art. 372, do CPC. Embora a jurisprudência do colendo STJ não exija que as mesmas partes
do processo para o qual ocorre o transporte da prova tenham participado de sua produção no processo
de origem, tal circunstância é relevante para que se lhe possa atribuir maior poder de persuasão.
Diante dessas considerações, observa-se que o referido laudo pericial não poderia ser utilizado como
elemento de prova incontestável acerca da invalidez do apelado, por se tratar de prova emprestada de
outro processo, produzida sem a devida participação da ora recorrente, a qual sequer era parte
naqueles autos.
Ademais, as demais documentações carreadas aos autos (IDs nº 7777246 - Pág. 1- 4) são provas
produzidas unilateralmente pelo recorrido, sendo, portanto, necessária a perícia médica
jurisdicionalizada para a elucidação dos fatos da causa em tela.
Portanto, deve ser cassada a sentença proferida em julgamento antecipado da lide, sem o deferimento
da realização de prova pericial indispensável para a análise da existência ou não da invalidez do
militar, visto que configurado o cerceamento de defesa da parte ré.
Corroborando este entendimento, vejam-se os julgados do colendo STJ a seguir transcritos, in verbis:
2. Agravo interno a que se nega provimento” (AgInt no AREsp 1084918/DF, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/09/2017, DJe 15/09/2017).
1. Nos termos da jurisprudência consolidada nesta Corte, ‘o reconhecimento por parte do órgão
previdenciário oficial de que o segurado tem o direito de se aposentar por incapacidade laboral não
o exonera de fazer a demonstração de que, efetivamente, se encontra incapacitado, total ou
parcialmente, para fins de percepção da indenização fundada em contrato de seguro privado. Isso
porque a concessão de aposentadoria pelo INSS faz prova apenas relativa da invalidez, daí a
possibilidade da realização de nova perícia com vistas à comprovar, de forma irrefutável, a presença
da doença que acarreta a incapacidade total e permanente do segurado’ (AgRg no Ag 1.086.577/MG,
Relator o Ministro SIDNEI BENETI, DJe de 11/5/2009).
Precedentes.
2. Agravo regimental desprovido” (AgRg no REsp 1463834/SC, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
QUARTA TURMA, julgado em 25/04/2017, DJe 03/05/2017).
1. O artigo 372 do Código de Processo Civil autoriza a utilização de prova emprestada advinda de
outro processo judicial, podendo o Juiz atribuir a ela o valor que entender necessário.
2. Ainda seja autorizada a utilização de prova emprestada advinda de outro processo judicial,
caracterizado está o seu condicionamento ao Princípio do Contraditório.
3. Aidentidade das partes não deve ser considerada como condição de admissibilidade da prova
emprestada, mas como requisito essencial para a sua posterior valoração.
5. Aperícia realizada nos autos da Justiça Federal gera presunção relativa de veracidade acerca do
grau e extensão da incapacidade do segurado, podendo ser suprimida por prova em contrário.
Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.
1. Deve ser cassada a sentença proferida em julgamento antecipado da lide, sem a realização de
prova pericial, medida que se faz indispensável a fim de se apurar a existência ou não de invalidez do
militar, e, em caso positivo, se esta é permanente ou temporária, bem como se é total ou parcial, e,
por fim, o valor corresponde a ser pago pela seguradora/apelante a título de seguro.
2. Resta evidenciado o cerceamento de defesa, pelo fato de o magistrado não ter oportunizado a
produção de prova pericial e ter julgado a lide desfavoravelmente a quem pediu a prova, o que
caracteriza verdadeira ausência de prestação jurisdicional.
3. Aconcessão de aposentadoria advinda pelo INSS faz prova relativa da invalidez alegada e funciona
como prova emprestada e de valor relativo na análise da ação de cobrança contra seguradora, sendo
necessária perícia médica jurisdicionalizada para a elucidação dos fatos da causa.
1. Aconcessão de aposentadoria pelo órgão empregador do segurado faz prova apenas relativa da
invalidez, sendo essencial, no caso de indenização securitária, a aferição da invalidez permanente,
bem como a sua extensão. Precedentes do STJ.
2. Não inibe a necessidade de demonstração por meio de prova pericial, para o recebimento da
indenização fundada em contrato de seguro privado, o reconhecimento da incapacidade atestada pelo
órgão funcional do segurado.
Por essas razões, dou provimento ao apelo para cassar a sentença recorrida, determinando o retorno
dos autos ao juízo de origem para que seja viabilizada a produção de perícia judicial.
É como voto.