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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 4ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0722513-19.2018.8.07.0001


APELANTE(S) PRUDENTIAL DO BRASIL SEGUROS DE VIDA S.A.
APELADO(S) EDSON CLEBER VERCOZA BARBOSA
Relator Desembargador ARNOLDO CAMANHO

Acórdão Nº 1186717

EMENTA

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. REFORMA DE MILITAR. INVALIDEZ


PERMANENTE. PERÍCIA OFICIAL REALIZADA EM PROCESSO DIVERSO, CONCLUSIVA
ACERCA DA INCAPACIDADE. COBERTURA DE SEGURO. ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA
DA INCAPACIDADE. PEDIDO DE PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL. INDEFERIMENTO DA
PROVA TÉCNICA. CERCEAMENTO DE DEFESA. CASSAÇÃO DA SENTENÇA.

1. É lícito o empréstimo de prova produzida em outro processo, desde que esta seja submetida ao
contraditório nos autos para o qual é transportada — o que ocorre de forma documental —, nos termos
do art. 372, do CPC. Embora não se exija que as mesmas partes do processo para o qual ocorre o
transporte da prova tenham participado de sua produção no processo de origem, tal circunstância é
relevante para que se lhe possa atribuir maior poder de persuasão.

2. Deve ser cassada a sentença proferida em julgamento antecipado da lide, sem o deferimento da
realização de prova pericial indispensável para a análise da existência ou não da invalidez do militar,
visto que configurado o cerceamento de defesa da parte ré e a ausência da prestação jurisdicional.

3. Apelo provido.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 4ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, ARNOLDO CAMANHO - Relator, SÉRGIO ROCHA - 1º Vogal e JAMES
EDUARDO OLIVEIRA - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora , em proferir a
seguinte decisão: DAR PROVIMENTO AO RECURSO, UNÂNIME, de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 17 de Julho de 2019

Desembargador ARNOLDO CAMANHO


Relator

RELATÓRIO

O Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS – Relator

Prudential do Brasil Seguros de Vida S.A e Prudential do Brasil Vida em Grupo S.A. interpuseram
apelação contra sentença proferida pelo Juízo da 14ª Vara Cível de Brasília, que julgou parcialmente
procedente o pedido para condenar a parte ré ao pagamento de R$ 204.243,23 (duzentos e quatro mil e
duzentos e quarenta e três reais e vinte e três centavos), conforme apólice ID nº 20767784- Pág. 1,
acrescidos de correção monetária a partir da data do sinistro, 14/10/2017, e juros de mora desde a
citação, descontado o valor pago administrativamente pela ré. Condenou-as, ainda, ao pagamento das
custas processuais e dos honorários advocatícios, sendo estes fixados em dez por cento (10%) do valor
da condenação.

Opostos embargos declaratórios, estes restaram rejeitados ID nº 7777292 - Pág. 1-2.

As apelantes, em suas razões, suscitam preliminar de cerceamento de defesa, em razão do


indeferimento do pedido de realização de prova pericial. Argumentam que o colendo STJ vem
decidindo no sentido de que não basta o beneficiário do seguro ser reformado/incapacitado para a
atividade militar, devendo ser comprovada a invalidez permanente, nos termos do contrato de seguro
firmado. Aduzem que o art. 5º, parágrafo único, da Circular 302/2005, da SUSEP, preceitua
expressamente que “a aposentadoria por invalidez concedida por instituições oficiais de previdência
ou assemelhadas, não caracteriza por si só o estado de invalidez permanente de que tratam as Seções
III, IV e V deste Capítulo”. Sustentam a ocorrência da prescrição. Esclarecem que as condições gerais
do seguro estão em conformidade com o art. 781, do CC. Aduzem que a alegada invalidez total foi
demonstrada por documentos não submetidos ao crivo do contraditório. Alternativamente, asseveram
que a parte recorrida não faz jus ao recebimento do valor máximo indenizável, devendo o cálculo do
valor da indenização ser proporcional ao grau de invalidez. Pedem que, caso constatado que a parte
recorrida é portadora de invalidez por acidente, o limite máximo de indenização que consta da apólice
à época do sinistro seja respeitado. Frisam que o pagamento relativo ao sinistro já foi efetivado em
16/09/2009. Prequestionam a matéria e postulam o provimento do recurso, com a cassação da sentença
ou a sua reforma, julgando-se improcedentes os pedidos.

Contrarrazões pugnando pelo não provimento do apelo.

É o relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO - Relator


Com a devida venia ao ilustre magistrado singular, a realização de perícia judicial é imprescindível
para o prova do direito alegado pelo autor, tendo havido cerceamento de defesa em razão de seu
indeferimento.

Para embasar o seu direito, o recorrido trouxe aos autos laudo pericial no qual o médico nomeado para
a realização da perícia atestou a sua incapacidade parcial permanente para as atividades físicas da vida
militar (ID nº 7777242 - Págs. 1-5).

Cabe ressaltar que a mencionada prova pericial foi produzida nos autos de ação ajuizada contra a
União, que tramitou perante a 22ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro (processo nº
0500316-88.2017.4.02.5101).

É lícito o empréstimo de prova produzida em outro processo, desde que esta seja submetida ao
contraditório nos autos para o qual é transportada — o que ocorre de forma documental —, nos
termos do art. 372, do CPC. Embora a jurisprudência do colendo STJ não exija que as mesmas partes
do processo para o qual ocorre o transporte da prova tenham participado de sua produção no processo
de origem, tal circunstância é relevante para que se lhe possa atribuir maior poder de persuasão.

Diante dessas considerações, observa-se que o referido laudo pericial não poderia ser utilizado como
elemento de prova incontestável acerca da invalidez do apelado, por se tratar de prova emprestada de
outro processo, produzida sem a devida participação da ora recorrente, a qual sequer era parte
naqueles autos.

Ademais, as demais documentações carreadas aos autos (IDs nº 7777246 - Pág. 1- 4) são provas
produzidas unilateralmente pelo recorrido, sendo, portanto, necessária a perícia médica
jurisdicionalizada para a elucidação dos fatos da causa em tela.

Portanto, deve ser cassada a sentença proferida em julgamento antecipado da lide, sem o deferimento
da realização de prova pericial indispensável para a análise da existência ou não da invalidez do
militar, visto que configurado o cerceamento de defesa da parte ré.

Corroborando este entendimento, vejam-se os julgados do colendo STJ a seguir transcritos, in verbis:

“AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA.


INVALIDEZ PERMANENTE. INDEFERIMENTO DE PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL.
CERCEAMENTO DE DEFESA. OCORRÊNCIA. INVALIDEZ CONCEDIDA COM BASE
PRINCIPALMENTE EM PROVA REALIZADA PELO EXÉRCITO. PRESUNÇÃO RELATIVA.
NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DA PROVA PERICIAL REQUERIDA. AGRAVO IMPROVIDO.

1. O julgamento antecipado da lide traduz cerceamento de defesa, quando necessária a dilação


probatória, além da produzida pelo Exército Brasileiro, para percepção da indenização securitária,
decorrente de invalidez permanente, pelo beneficiário de seguro privado.

2. Agravo interno a que se nega provimento” (AgInt no AREsp 1084918/DF, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/09/2017, DJe 15/09/2017).

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - SEGURO - INVALIDEZ - CERCEAMENTO


DE DEFESA - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU PROVIMENTO AO APELO NOBRE -
INSURGÊNCIA DO AUTOR.

1. Nos termos da jurisprudência consolidada nesta Corte, ‘o reconhecimento por parte do órgão
previdenciário oficial de que o segurado tem o direito de se aposentar por incapacidade laboral não
o exonera de fazer a demonstração de que, efetivamente, se encontra incapacitado, total ou
parcialmente, para fins de percepção da indenização fundada em contrato de seguro privado. Isso
porque a concessão de aposentadoria pelo INSS faz prova apenas relativa da invalidez, daí a
possibilidade da realização de nova perícia com vistas à comprovar, de forma irrefutável, a presença
da doença que acarreta a incapacidade total e permanente do segurado’ (AgRg no Ag 1.086.577/MG,
Relator o Ministro SIDNEI BENETI, DJe de 11/5/2009).

Precedentes.

2. Agravo regimental desprovido” (AgRg no REsp 1463834/SC, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
QUARTA TURMA, julgado em 25/04/2017, DJe 03/05/2017).

Nesse sentido é o entendimento desta egrégia Corte de Justiça. Confira-se:

“APELAÇÃO. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DE VIDA EM


GRUPO. MILITAR. PROVA EMPRESTADA. AUSÊNCIA DE CONTRADITÓRIO.
INADMISSIBILIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. ACOLHIMENTO.

1. O artigo 372 do Código de Processo Civil autoriza a utilização de prova emprestada advinda de
outro processo judicial, podendo o Juiz atribuir a ela o valor que entender necessário.

2. Ainda seja autorizada a utilização de prova emprestada advinda de outro processo judicial,
caracterizado está o seu condicionamento ao Princípio do Contraditório.

3. Aidentidade das partes não deve ser considerada como condição de admissibilidade da prova
emprestada, mas como requisito essencial para a sua posterior valoração.

4. O laudo pericial produzido sem a participação da parte prejudicada desobedece às premissas e


garantias do Contraditório, sendo, portanto, prova frágil e destituída de isonomia.

5. Aperícia realizada nos autos da Justiça Federal gera presunção relativa de veracidade acerca do
grau e extensão da incapacidade do segurado, podendo ser suprimida por prova em contrário.
Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.

6. Preliminar acolhida. Sentença cassada” (Acórdão n.1050066, 20160111261527APC, Relator:


EUSTÁQUIO DE CASTRO 8ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 21/09/2017, Publicado no DJE:
03/10/2017. Pág.: 545/549).

“DIREITO CIVIL. PROCESSO CIVIL. AÇÃO. COBRANÇA. INVALIDEZ. SEGURO MILITAR.


PERÍCIA MÉDICA. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. CERCEAMENTO DE DEFESA.
OCORRÊNCIA. PROVA EMPRESTADA. INSS. VALOR RELATIVO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL.

1. Deve ser cassada a sentença proferida em julgamento antecipado da lide, sem a realização de
prova pericial, medida que se faz indispensável a fim de se apurar a existência ou não de invalidez do
militar, e, em caso positivo, se esta é permanente ou temporária, bem como se é total ou parcial, e,
por fim, o valor corresponde a ser pago pela seguradora/apelante a título de seguro.

2. Resta evidenciado o cerceamento de defesa, pelo fato de o magistrado não ter oportunizado a
produção de prova pericial e ter julgado a lide desfavoravelmente a quem pediu a prova, o que
caracteriza verdadeira ausência de prestação jurisdicional.

3. Aconcessão de aposentadoria advinda pelo INSS faz prova relativa da invalidez alegada e funciona
como prova emprestada e de valor relativo na análise da ação de cobrança contra seguradora, sendo
necessária perícia médica jurisdicionalizada para a elucidação dos fatos da causa.

4. Anecessidade de dilação probatória e a imprescindibilidade de prova pericial complexa inviabiliza


o pronunciamento sobre o mérito da causa, na medida em que é necessário conferir as partes a
ampla defesa e o contraditório.

5. Recurso conhecido. Preliminar de cerceamento de defesa acolhida” (Acórdão n.1020406,


20160110631187APC, Relator: FÁTIMA RAFAEL, Relator Designado: MARIA DE LOURDES
ABREU 3ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 10/05/2017, Publicado no DJE: 31/05/2017. Pág.:
233/242).

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO RETIDO. MILITAR. SEGURO EM GRUPO. MAPFRE.


INVALIDEZ. INDEFERIMENTO DE PROVA PERICIAL. CERCEAMENTO DE DEFESA.
CONFIGURAÇÃO. SENTENÇA CASSADA.

1. Aconcessão de aposentadoria pelo órgão empregador do segurado faz prova apenas relativa da
invalidez, sendo essencial, no caso de indenização securitária, a aferição da invalidez permanente,
bem como a sua extensão. Precedentes do STJ.

2. Não inibe a necessidade de demonstração por meio de prova pericial, para o recebimento da
indenização fundada em contrato de seguro privado, o reconhecimento da incapacidade atestada pelo
órgão funcional do segurado.

3. Agravo retido conhecido e provido. Sentença cassada. Prejudicado o recurso de apelação”


(Acórdão n.1078485, 20140110802927APC, Relator: ANGELO PASSARELI, Relator
Designado:SILVA LEMOS 5ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 07/02/2018, Publicado no DJE:
07/03/2018. Pág.: 241/245).

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. INVALIDEZ PERMANENTE TOTAL POR DOENÇA.


ATA DE INSPEÇÃO DE SAÚDE. INCAPACIDADE PARA O SERVIÇO DO EXÉRCITO.
RELATÓRIO MÉDICO APÓCRIFO. COBERTURA SECURITÁRIA PARA INVALIDEZ
PERMANENTE POR ACIDENTE OU INVALIDEZ PERMANENTE TOTAL POR DOENÇA.
NECESSIDADE DE PERÍCIA. INDEFERIMENTO PELO JUIZ. JULGAMENTO ANTECIPADO DA
LIDE. CERCEAMENTO DE DEFESA. A cobrança da indenização pela cobertura securitária de
invalidez permanente por acidente ou de invalidez permanente total por doença depende da
comprovação dessa condição pelo segurado, a qual não se tem por amplamente verificada na ata de
inspeção de saúde que o considerou incapaz para o serviço ativo do Exército Brasileiro, muito menos
no relatório médico apócrifo instrumentalizado em documento com formatação irregular. Há
cerceamento de defesa no julgamento antecipado da lide pelo Juiz, após indeferir o requerimento de
produção da prova pericial, quando se constata a necessidade de conhecimento técnico para a
aferição da condição de saúde do segurado com a cobertura securitária para fins de pagamento da
indenização por invalidez. Necessário cassar a sentença e reabrir a instrução para que a prova
técnica seja produzida pela parte que tem o ônus de comprovar o fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor” (Acórdão n.1022464, 20160111056855APC, Relator: ESDRAS NEVES
6ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 31/05/2017, Publicado no DJE: 13/06/2017. Pág.:
315/335).

Por essas razões, dou provimento ao apelo para cassar a sentença recorrida, determinando o retorno
dos autos ao juízo de origem para que seja viabilizada a produção de perícia judicial.

É como voto.

O Senhor Desembargador SÉRGIO ROCHA - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador JAMES EDUARDO OLIVEIRA - 2º Vogal
Com o relator
DECISÃO

DAR PROVIMENTO AO RECURSO, UNÂNIME

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