Você está na página 1de 19

AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1521140 - SP

(2019/0168364-7)
RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO
AGRAVANTE : LUIZ FERNANDO PASCARELLI CUNHA BRITO
ADVOGADOS : CARLOS RICARDO PARENTE SETTANNI E
OUTRO(S) - SP172308
CARLOS ALBERTO PARENTE SETTANNI -
SPO279084
AGRAVADO : HYUNDAI CAOA DO BRASIL LTDA
REPR. POR : CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA ANDRADE
ADVOGADOS : TATYANA BOTELHO ANDRÉ E OUTRO(S) - SP170219
DIEGO SABATELLO COZZE - SP252802
LARISSA VILAÇA BERTONI - SP319635

EMENTA

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL POR
VÍCIO DO PRODUTO CUMULADA COM PEDIDO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.
COMPRA E VENDA DE AUTOMÓVEL NOVO.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. PROVA
EMPRESTADA. POSSIBILIDADE. POTÊNCIA INFERIOR
À ANUNCIADA. DIFERENÇA MÍNIMA. VÍCIO QUE
NÃO TORNOU O VEÍCULO IMPRÓPRIO OU
INADEQUADO AO USO. DESCUMPRIMENTO
CONTRATUAL. DANOS MORAIS NÃO
CARACTERIZADOS. SEGUNDOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO REJEITADOS. MULTA PROCESSUAL.
CABIMENTO. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Nos termos da jurisprudência do STJ, "independentemente de
haver identidade de partes, o contraditório é o requisito
primordial para o aproveitamento da prova emprestada, de
maneira que, assegurado às partes o contraditório sobre a
prova, isto é, o direito de se insurgir contra a prova e de
refutá-la adequadamente, afigura-se válido o empréstimo"
(EREsp 617.428/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
CORTE ESPECIAL, julgado em 4/6/2014, DJe de 17/6/2014).
2. Nos casos em que houver vício de qualidade ou quantidade
que torne o produto impróprio ou inadequado ao consumo a que
se destina ou lhe diminua o valor, o consumidor pode exigir a
substituição das partes viciadas. Não sendo o vício sanado no
prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha: I) a substituição do produto por
outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II) a
restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,
sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III) o abatimento
proporcional do preço.
3. No caso, o Tribunal de origem, à luz das circunstâncias do
caso concreto, concluiu que os vícios apresentados pelo veículo -
potência do motor inferior à anunciada e capacidade de
passageiros menor do que a constante na nota fiscal - são
irrelevantes ao pleito redibitório, porque não tornaram impróprio
ou inadequado para uso o veículo em questão. Dessa forma, a
pretensão de alterar tal entendimento demandaria o revolvimento
do suporte fático-probatório, o que é inviável em sede de recurso
especial, nos termos da Súmula 7/STJ.
4. Conforme entendimento pacificado nesta Corte, o simples
descumprimento contratual, por si só, não é capaz de gerar danos
morais. Na espécie, tendo o Tribunal Estadual expressamente
consignado a inexistência de circunstância especial que extrapole
o mero aborrecimento, não se pode reconhecer o direito à
reparação por dano extrapatrimonial.
5. É admissível a aplicação de multa nos segundos embargos de
declaração, quando nítido o caráter protelatório.
6. Agravo interno a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Luis Felipe Salomão, Maria Isabel Gallotti, Antonio
Carlos Ferreira e Marco Buzzi votaram com o Sr. Ministro Relator. Presidiu o
julgamento o Sr. Ministro Marco Buzzi.

Brasília, 24 de agosto de 2020 (Data do Julgamento)

Ministro Raul Araújo


Relator
Superior Tribunal de Justiça
AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.521.140 - SP (2019/0168364-7)

RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO


AGRAVANTE : LUIZ FERNANDO PASCARELLI CUNHA BRITO
ADVOGADOS : CARLOS RICARDO PARENTE SETTANNI E OUTRO(S) -
SP172308
CARLOS ALBERTO PARENTE SETTANNI - SPO279084
AGRAVADO : HYUNDAI CAOA DO BRASIL LTDA
REPR. POR : CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA ANDRADE
ADVOGADOS : TATYANA BOTELHO ANDRÉ E OUTRO(S) - SP170219
DIEGO SABATELLO COZZE - SP252802
LARISSA VILAÇA BERTONI - SP319635

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO RAUL ARAÚJO (Relator):

Cuida-se de agravo interno, interposto por LUIZ FERNANDO PASCARELLI


CUNHA BRITO, contra decisão de fls. 691/696, que conheceu do agravo para negar provimento
ao recurso especial sob os fundamentos de: (a) ausência de negativa de prestação jurisdicional; (b)
ausência de prequestionamento dos arts. 6°, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, 372 e
374, I, do Código de Processo Civil de 2015, e 421, 422 e 427 do Código Civil de 2002; (c)
incidência da Súmula 7/STJ na análise da existência de vício no veículo apto a ensejar o
abatimento proporcional do preço; e (d) incidência do óbice da Súmula 83/STJ no que tange aos
danos morais.
Nas razões do agravo interno, a parte agravante sustenta que: 1) houve negativa de
tutela jurisdicional; 2) os arts. 6º, VIII, do CDC, 372 e 374, I, do CPC/2015, 421, 422 e 427 do
Código Civil, estão implicitamente prequestionados; 3) inaplicabilidade da Súmula 7/STJ, porque
o Tribunal de origem não enfrentou os temas relevantes ao julgamento do processo; 4) são devidos
danos morais porque os danos sofridos ultrapassaram o mero dissabor e não se condicionam à
efetiva comprovação de sofrimento e dor; e 5) a multa aplicada com base no art. 1.026, § 2º, do
CPC/2015 deve ser afastada porque ausente intenção de procrastinar o feito.
Ao final, requer a reconsideração da decisão agravada ou, se mantida, seja o
presente feito levado a julgamento perante a eg. Quarta Turma.
Devidamente intimada, a parte agravada não apresentou impugnação do agravo

B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 1 de 15
Superior Tribunal de Justiça
interno (fl. 719).
É o relatório.

B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 2 de 15
Superior Tribunal de Justiça
AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.521.140 - SP (2019/0168364-7)

RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO


AGRAVANTE : LUIZ FERNANDO PASCARELLI CUNHA BRITO
ADVOGADOS : CARLOS RICARDO PARENTE SETTANNI E OUTRO(S) -
SP172308
CARLOS ALBERTO PARENTE SETTANNI - SPO279084
AGRAVADO : HYUNDAI CAOA DO BRASIL LTDA
REPR. POR : CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA ANDRADE
ADVOGADOS : TATYANA BOTELHO ANDRÉ E OUTRO(S) - SP170219
DIEGO SABATELLO COZZE - SP252802
LARISSA VILAÇA BERTONI - SP319635
EMENTA

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL POR VÍCIO DO
PRODUTO CUMULADA COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS. COMPRA E VENDA DE
AUTOMÓVEL NOVO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
PROVA EMPRESTADA. POSSIBILIDADE. POTÊNCIA INFERIOR
À ANUNCIADA. DIFERENÇA MÍNIMA. VÍCIO QUE NÃO
TORNOU O VEÍCULO IMPRÓPRIO OU INADEQUADO AO USO.
DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. DANOS MORAIS NÃO
CARACTERIZADOS. SEGUNDOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO REJEITADOS. MULTA PROCESSUAL.
CABIMENTO. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Nos termos da jurisprudência do STJ, "independentemente de haver
identidade de partes, o contraditório é o requisito primordial para o
aproveitamento da prova emprestada, de maneira que, assegurado às
partes o contraditório sobre a prova, isto é, o direito de se insurgir contra
a prova e de refutá-la adequadamente, afigura-se válido o empréstimo"
(EREsp 617.428/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE
ESPECIAL, julgado em 4/6/2014, DJe de 17/6/2014).
2. Nos casos em que houver vício de qualidade ou quantidade que torne o
produto impróprio ou inadequado ao consumo a que se destina ou lhe
diminua o valor, o consumidor pode exigir a substituição das partes
viciadas. Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode
o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I) a substituição do
produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II) a
restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem
prejuízo de eventuais perdas e danos; III) o abatimento proporcional do
preço.
3. No caso, o Tribunal de origem, à luz das circunstâncias do caso
concreto, concluiu que os vícios apresentados pelo veículo - potência do
motor inferior à anunciada e capacidade de passageiros menor do que a
constante na nota fiscal - são irrelevantes ao pleito redibitório, porque não
tornaram impróprio ou inadequado para uso o veículo em questão. Dessa
forma, a pretensão de alterar tal entendimento demandaria o revolvimento
B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 3 de 15
Superior Tribunal de Justiça
do suporte fático-probatório, o que é inviável em sede de recurso especial,
nos termos da Súmula 7/STJ.
4. Conforme entendimento pacificado nesta Corte, o simples
descumprimento contratual, por si só, não é capaz de gerar danos morais.
Na espécie, tendo o Tribunal Estadual expressamente consignado a
inexistência de circunstância especial que extrapole o mero aborrecimento,
não se pode reconhecer o direito à reparação por dano extrapatrimonial.
5. É admissível a aplicação de multa nos segundos embargos de
declaração, quando nítido o caráter protelatório.
6. Agravo interno a que se nega provimento.

B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 4 de 15
Superior Tribunal de Justiça
AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.521.140 - SP (2019/0168364-7)

RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO


AGRAVANTE : LUIZ FERNANDO PASCARELLI CUNHA BRITO
ADVOGADOS : CARLOS RICARDO PARENTE SETTANNI E OUTRO(S) -
SP172308
CARLOS ALBERTO PARENTE SETTANNI - SPO279084
AGRAVADO : HYUNDAI CAOA DO BRASIL LTDA
REPR. POR : CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA ANDRADE
ADVOGADOS : TATYANA BOTELHO ANDRÉ E OUTRO(S) - SP170219
DIEGO SABATELLO COZZE - SP252802
LARISSA VILAÇA BERTONI - SP319635

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO RAUL ARAÚJO (Relator):

Trata-se de ação redibitória cumulada com indenizatória ajuizada pelo agravante


pleiteando o abatimento de 30% do valor pago na aquisição de veículo em razão de divergências
entre a potência do motor e a capacidade de passageiros constantes da nota fiscal e efetivamente
verificadas no veículo, bem como indenização por danos morais.
Como asseverado no decisum impugnado, de fato, não prospera a alegada ofensa
ao art. 1.022 do CPC/2015, tendo em vista que o v. acórdão recorrido, embora não tenha
examinado individualmente cada um dos argumentos suscitados pela parte, adotou fundamentação
suficiente, decidindo integralmente a controvérsia.
É indevido conjecturar-se a existência de omissão, obscuridade ou contradição no
julgado apenas porque decidido em desconformidade com os interesses da parte. No mesmo
sentido, podem ser mencionados os seguintes julgados: AgRg no REsp 1.170.313/RS, Rel. Min.
LAURITA VAZ, DJe de 12/4/2010; REsp 494.372/MG, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO
JUNIOR, DJe de 29/3/2010; AgRg nos EDcl no AgRg no REsp 996.222/RS, Rel. Min.
CELSO LIMONGI (Desembargador convocado do TJ/SP), DJe de 3/11/2009.
Consoante asseverado na decisão agravada, no que se refere à apontada violação
aos arts. 6º, VIII, do CDC, e 421, 422 e 427 do Código Civil, os conteúdos normativos dos
dispositivos não foram apreciados pelo Tribunal a quo, tampouco a parte agravante opôs
embargos de declaração a fim de sanar eventual irregularidade. Tal hipótese atrai a incidência, por
analogia, das Súmulas 282 e 356 do STF.
Para que se configure o prequestionamento, requisito constitucional de

B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 5 de 15
Superior Tribunal de Justiça
admissibilidade exigido para o conhecimento do recurso especial, o Tribunal de origem deve
emitir juízo de valor acerca dos dispositivos legais, ao decidir por sua aplicação ou afastamento no
caso concreto, extraindo-se do acórdão recorrido pronunciamento sobre as teses jurídicas em torno
dos dispositivos legais tidos como violados, a fim de que se possa, na instância especial, abrir
discussão sobre a questão de direito, definindo-se a correta interpretação da legislação federal.
A jurisprudência desta Corte admite o prequestionamento implícito, em que não há
menção expressa aos dispositivos, entretanto, mesmo nessa modalidade, deve ocorrer o debate da
tese e do conteúdo da norma tida como vulnerada, o que não ocorreu na hipótese, uma vez que o
Tribunal a quo não analisou a teses de transferência do ônus probatório ao autor, ainda que
deferida a inversão pela sentença e excesso e má-fé da recorrida na condução do contrato, sequer
para afastá-las. A propósito, colhem-se os seguintes precedentes:
"AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DECISÃO
EXTRA PETITA. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS N.
282 E 356 DO STF. PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO. AUSÊNCIA.
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE
DISPOSITIVO LEGAL. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA N.
284 DO STF. DECISÃO MANTIDA.
1. Ausente o enfrentamento da matéria pelo acórdão recorrido, inviável o
conhecimento do recurso especial, por falta de prequestionamento.
Incidência das Súmulas n. 282 e 356 do STF.
2. O prequestionamento implícito pressupõe que a Corte local decida a
matéria com base nos dispositivos legais tidos por violados, ainda que não
lhes faça menção expressa, o que não ocorreu no presente caso.
3. O conhecimento do recurso especial fundamentado na alínea "c" do
permissivo constitucional exige a indicação dos dispositivos legais que
supostamente foram objeto de interpretação divergente. Ausente tal
requisito, incide a Súmula n. 284/STF.
4. Agravo interno a que se nega provimento."
(AgInt no AgInt nos EDcl no AREsp 1.430.535/SP, Rel. Ministro
ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em
30/09/2019, DJe de 03/10/2019, g.n.)

"AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AUTOS


DE AGRAVO DE INSTRUMENTO NA ORIGEM - DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO -
INSURGÊNCIA RECURSAL DO AGRAVADO.
1. A ausência de enfrentamento da matéria pelo Tribunal de origem
impede o acesso à instância especial, porquanto não preenchido o requisito
constitucional do prequestionamento. Incidência das Súmulas 282 e 356
do STF, por analogia. Precedentes. 1.1. Esta Corte admite o
prequestionamento implícito dos dispositivos tidos por violados, desde que
as teses debatidas no apelo nobre sejam expressamente discutidas no
B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 6 de 15
Superior Tribunal de Justiça
Tribunal de origem, o que não ocorreu na hipótese. Precedentes.
2. Para o acolhimento do apelo extremo, no sentido de verificar a
ocorrência ou não do abuso da personalidade jurídica a autorizar a
desconsideração inversa da personalidade jurídica no caso sub judice, seria
imprescindível derruir as conclusões contidas no decisum atacado, o que,
forçosamente, enseja em rediscussão da matéria fático-probatória, atraindo
o óbice da Súmula 7/STJ.
Precedentes.
2.1. A incidência do referido óbice impede o exame de dissídio
jurisprudencial, porquanto falta identidade entre os paradigmas
apresentados e os fundamentos do acórdão, tendo em vista a situação fática
do caso concreto, com base na qual a Corte de origem deu solução à causa.
Precedentes.
3. Agravo interno desprovido."
(AgInt no AREsp 1.352.908/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
QUARTA TURMA, julgado em 02/04/2019, DJe de 05/04/2019, g.n.)

O Tribunal a quo reformou a sentença que havia julgado parcialmente procedente a


demanda, sob os fundamentos de que não foi comprovada diferença significativa entre a potência
anunciada (145 cavalos) e a efetivamente entregue (140 cavalos) e que a desconformidade no
número máximo de passageiros é circunstância irrelevante ao pleito de redibição, levando-se em
consideração se tratar de modelo esportivo, nos seguintes termos:
"Outrossim, cumpre destacar que, de acordo com o conjunto probatório
constou, na nota fiscal referente à venda do automóvel, a descrição de um
veículo cujo motor possuía 140 cavalos de potência e capacidade para 05
passageiros (fls. 21). Ademais, a ré, na contestação, apresentou relatório
técnico declarando que o motor do modelo em discussão (Hyundai
Veloster) possuía potência máxima de 140,1 cavalos (fls. 132/140), além de
um atestado de conformidade - acolhido pelo Departamento Nacional de
Trânsito (fls. 183) -, de que referido motor apresentou potência líquida
efetiva máxima de 139,3 cavalos. Ainda, o perito (laudo — fls. 3041343)
concluiu que o automóvel possui capacidade para 04 (quatro) ocupantes,
bem como á potência determinada pelo teste por ele realizado
(dinamômetro de chassi/rolo), não pode ser levada em consideração, eis
que se cuidaria de método impreciso e em desacordo com as normas
técnicas prescritas para esse tipo de teste (NBR ISSO 158511996), qual
seja por meio de dinamômetro de bancada (fl s. 3401342).
Por oportuno, cumpre ressaltar que, na perícia judicial feita no motor de
modelo idêntico ao do autor.- realizada em outra demanda e através de
dinamômetro de bancada (fls. 1931205) - aferiu-se a potência de 140
cavalos (fls. 205).
Posto isto, forçoso concluir que o conjunto probatório infirmou a versão
inicial dos fatos, qual seja de que o motor do modelo adquirido pelo autor
produziria potência significativamente inferior à destacada na nota fiscal
(140 cavalos), razão pela qual não subsiste o pedido redibitório. Nesse
passo, relevante esclarecer que a disparidade entre o inicialmente
B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 7 de 15
Superior Tribunal de Justiça
anunciado pela ré (potência de 145 cavalos) e o efetivamente entregue ao
autor (140 cavalos) não teria o condão de gerar o abatimento proporcional
do preço pago (art. 18, III, do CDC), seja porque as especificações técnicas
desse modelo ainda não haviam sido homologadas no Brasil à época da
negociação (fls. 22), seja porque se cuidou de variação ínfima e irrelevante
(3,45%) entre os valores nominalmente destacados, relacionados à real
potência desse veículo.
Os danos morais, por sua vez, não restaram configurados. Pois, ainda que
tenha sido comprovada a desconformidade no número máximo de
passageiros do automóvel (04, ao invés de 05), é certo que se cuidou de
uma circunstância irrelevante, mesmo à luz da legislação consumerista;
sobretudo quando se leva em consideração o modelo do veículo em
discussão (automóvel de características esportivas); além do fato de o autor
não ter demonstrado que tal condição teria lhe causado aflições,
transtornos ou constrangimentos (art. 373, I, do CPC/15). Aliás, causa
estranheza o fato de o autor, quando foi comprar referido automóvel, não
tenha tido a curiosidade de adentrar no interior de um veículo do mesmo
modelo exposto na loja, examinando-o e feito 'test drive' em veículo similar,
sendo manifestamente descabida a alegação de que ficou surpreso pela
capacidade interna do veículo ser somente para quatro pessoas.
Logo, forçoso concluir que toda situação descrita se tratou de um mero
dissabor cotidiano, inábil a caracterizar os alegados danos à esfera
extrapatrimonial do autor." (fls. 529/530, g.n.)

Ainda, ao julgar os embargos de declaração opostos, esclareceu que a prova


emprestada tem o mesmo valor probatório das demais provas, e que a perícia foi realizada com o
mesmo tipo de motor (1.6L, DOHC) e por meio do método adequado (dinamômetro de bancada),
e que o fato de o veículo apresentar 4 lugares, em vez de 5, não o tornou impróprio e inadequado à
sua finalidade (veículo esportivo), razão pela qual é descabida qualquer indenização no caso.
Leia-se, a propósito, o seguinte trecho do acórdão que julgou os primeiros embargos:
"Outrossim, não obstante a concreta divergência entre o número máximo
de passageiros que o automóvel objeto da lide comporta (04), e o que foi
descrito na nota fiscal de venda (05), é certo que tal não seria hábil a
provocar a redibição tampouco qualquer indenização de natureza
extrapatrimonial, à luz do CDC, eis que se cuidou de fator que não tornou
o produto impróprio e nem inadequado à sua finalidade. Aliás, mesmo que
o autor, antes da compra, não tivesse tido a possibilidade de verificar 'in
loco' o automóvel, ainda assim tal situação não favoreceria sua tese, pois
era notório o fato de que se tratava de um modelo de características
esportivas; logo, a sua utilização com no máximo quatro passageiros (dois
na frente e dois atrás) é a configuração que traria aos mesmos uma
condição ideal de conforto, afastada a possibilidade de transporte para
cinco passageiros.
Ainda, quanto à disparidade da potência do motor, frise- se que a prova
pericial realizada em outra demanda (fls. 193/205), face ao exercício do
B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 8 de 15
Superior Tribunal de Justiça
contraditório e da ampla defesa pelo autor, teria o mesmo peso que as
demais provas produzidas nos autos. E, de acordo com a análise de todo o
conjunto probatório, concluiu-se que a diferença de potência entre o
anunciado pela ré (145 cavalos) e o efetivamente entregue ao autor (140
cavalos) - conforme prova pericial realizada pelo método adequado
(dinamômetro de bancada), e com a utilização de mesmo tipo de motor
(1.6L, DOHC - fls. 200; 324) - não era significativamente inferior; sendo,
portanto, inábil a gerar o abatimento proporcional do preço pago, conforme
disposto no art. 18, III, do CDC." (fl. 577, g.n.)

No que tange à prova emprestada, esta Corte entende que, desde que observado o
contraditório e a ampla defesa, é válida a utilização da prova emprestada, independentemente da
identidade de partes. Nesse sentido:
"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. JULGAMENTO POR DECISÃO
MONOCRÁTICA. POSSIBILIDADE. APRECIAÇÃO DE TODAS AS
QUESTÕES RELEVANTES DA LIDE PELO TRIBUNAL DE ORIGEM.
PROVA EMPRESTADA. OBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIO.
REDIMENSIONAMENTO DA VERBA HONORÁRIA. SUCUMBÊNCIA
RECÍPROCA. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS
AUTOS. INADMISSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ.
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DOS FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO
RECORRIDO. SÚMULA N. 283/STF. DECISÃO MANTIDA.
1. Nos termos da jurisprudência desta Corte, é possível ao relator o
julgamento monocrático de recurso inadmissível. Ademais, a interposição do
agravo interno, e seu consequente julgamento pelo órgão colegiado, afasta a
alegação de ofensa ao princípio da colegialidade.
2. Esta Corte entende que "independentemente de haver identidade de
partes, o contraditório é o requisito primordial para o aproveitamento da
prova emprestada, de maneira que, assegurado às partes o contraditório
sobre a prova, isto é, o direito de se insurgir contra a prova e de refutá-la
adequadamente, afigura-se válido o empréstimo" (EREsp n. 617.428/SP,
rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em
4/6/2014, DJe 17/6/2014).
3. O recurso especial não comporta exame de questões que impliquem
revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, a teor do que dispõe a
Súmula n. 7/STJ.
4. Somente em hipóteses excepcionais, quando irrisório ou exorbitante o
valor da indenização por danos morais arbitrado na origem, a
jurisprudência desta Corte permite o afastamento do referido óbice, para
possibilitar a revisão. No caso, o valor estabelecido pelo Tribunal de origem
não se mostra excessivo, a justificar sua reavaliação em recurso especial.
5. O recurso especial que não impugna fundamento do acórdão recorrido
suficiente para mantê-lo não deve ser admitido, a teor da Súmula n.
283/STF.
6. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 972.929/SP, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 9 de 15
Superior Tribunal de Justiça
FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 27/05/2019, DJe
30/05/2019, g.n.)

"AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO (ART. 544 DO CPC/1973) -


AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE - DECISÃO MONOCRÁTICA
QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO. INSURGÊNCIA
RECURSAL DOS AGRAVANTES.
1. Para acolhimento da pretensão, veiculada no apelo extremo, de ver
reconhecida a existência de cerceamento de defesa e de posse mansa e
pacífica dos recorrentes, seria imprescindível derruir as afirmações contidas
no decisum atacado e as conclusões a que chegou o Tribunal local, o que,
forçosamente, ensejaria em rediscussão de matéria fática, incidindo, na
espécie, o óbice da Súmula 7 deste Superior Tribunal de Justiça, sendo
manifesto o descabimento do recurso especial. Precedentes.
2. "É pacífico o entendimento do Superior Tribunal de Justiça quanto à
legalidade da prova emprestada, quando esta foi produzida com respeito
aos princípios do contraditório e da ampla defesa." (AgRg no AREsp
426.343/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 11/03/2014, DJe 18/03/2014).
3. O magistrado tem liberdade para a apreciação da prova segundo a
necessidade do caso, impondo-se a ele, tão-somente, a exposição dos
motivos formadores do seu convencimento. O questionamento acerca da
adequação desse juízo avaliatório esbarra no óbice da Súmula 7/STJ.
Precedentes.
4. Agravo regimental desprovido."
(AgRg no AREsp 375.629/SC, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
QUARTA TURMA, julgado em 02/02/2017, DJe 09/02/2017, g.n.)

Dessa forma, tendo o Tribunal a quo expressamente indicado que foi assegurado às
partes o contraditório a respeito da prova, para se alterar tal entendimento seria necessário realizar
o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que é vedado pela Súmula 7/STJ.
No mérito, a iterativa jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que, nos
casos em que constatado vício de qualidade ou quantidade no produto, que o torne impróprio ou
inadequado para o consumo, o § 1º do artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor concede ao
fornecedor a oportunidade de saná-lo, no prazo de 30 dias, sendo facultado ao consumidor, em
caso de não reparação do defeito, optar por uma dentre três alternativas: a substituição do produto
por outro da mesma espécie em perfeitas condições de uso, a restituição imediata da quantia paga,
monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos, ou o abatimento
proporcional do preço. Nessa linha de intelecção, confiram-se:
"AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS. 1. ALEGAÇÕES DE
INAPLICABILIDADE DO CDC, DE DESCABIMENTO DA
B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 10 de 15
Superior Tribunal de Justiça
SUBSTITUIÇÃO DO VEÍCULO ADQUIRIDO PELO RECORRIDO E DE
INEXISTÊNCIA DE DANOS MATERIAIS E MORAIS.
IMPOSSIBILIDADE DE ACOLHIMENTO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
7/STJ. 2. SUBSTITUIÇÃO DO AUTOMÓVEL. DEFEITOS NÃO
DIRIMIDOS. FACULDADE DA PARTE ADQUIRENTE. TROCA POR
OUTRO DE MESMA ESPÉCIE E VALOR DO BEM PAGO À ÉPOCA
PELO CONSUMIDOR. MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO.
3. DANOS MORAIS. MONTANTE INDENIZATÓRIO. ADEQUAÇÃO
EVIDENCIADA. ALTERAÇÃO. DESCABIMENTO. APLICAÇÃO DA
SÚMULA 7/STJ. 4. REQUERIMENTO DA PARTE AGRAVADA DE
APLICAÇÃO DA MULTA PREVISTA NO § 4º DO ART. 1.021 DO
CPC/2015. NÃO CABIMENTO NA HIPÓTESE. 5. AGRAVO
DESPROVIDO.
1. A modificação da conclusão exarada no aresto hostilizado (a respeito da
inaplicabilidade do CDC, da ausência de defeito hábil a justificar a
substituição do veículo e da afirmativa de inexistência de danos materiais e
morais), demandaria necessariamente o reexame do conjunto de fatos e
provas do respectivo processo, o que é vedado no âmbito do recurso
especial, em decorrência do disposto na Súmula 7/STJ.
2. Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, constado
vício que torne o bem impróprio para o consumo a que foi destinado, após
oportunizado ao fornecedor a possibilidade de reparação, surge para o
consumidor o direito de pleitear a substituição do bem, a devolução do
valor já pago ou o abatimento do preço, sendo a escolha exercida com
base em critério de conveniência por ele realizado. Precedente.
3. O quantum indenizatório arbitrado na instância ordinária, a título de
danos morais, só pode ser examinado nesta Corte nos casos em que for
irrisório ou exorbitante, o que não ocorre no caso dos autos, haja vista que
os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade foram observados.
Incidência da Súmula 7/STJ.
4. A aplicação da multa prevista no § 4º do art. 1.021 do CPC/2015 não é
automática, não se tratando de mera decorrência lógica do desprovimento
do agravo interno em votação unânime. A condenação da parte agravante
ao pagamento da aludida multa, a ser analisada em cada caso concreto, em
decisão fundamentada, pressupõe que o agravo interno mostre-se
manifestamente inadmissível ou que sua improcedência seja de tal forma
evidente que a simples interposição do recurso possa ser tida, de plano,
como abusiva ou protelatória, o que, contudo, não se verifica na hipótese
ora examinada.
5. Agravo interno desprovido."
(AgInt no AREsp 1492400/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/10/2019, DJe
22/10/2019, g.n.)

"AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


INDENIZATÓRIA. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO ZERO
QUILÔMETRO COM DEFEITO. AFRONTA AO ART. 1.022 DO CPC
NÃO CONFIGURADA. REPARAÇÃO DO VÍCIO. ART. 18, § 1º, DO
B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 11 de 15
Superior Tribunal de Justiça
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. Inexiste afronta ao art. 1.022 do CPC quando o acórdão recorrido
analisou todas as questões pertinentes para a solução da lide,
pronunciando-se, de forma clara e suficiente, sobre a controvérsia
estabelecida nos autos.
2. Constatado o vício de qualidade ou quantidade no produto, que o torne
impróprio ou inadequado para o consumo, o § 1º do artigo 18 do Código
de Defesa do Consumidor concede ao fornecedor a oportunidade de
saná-lo, no prazo de 30 dias, sendo facultado ao consumidor, em caso de
não reparação do defeito, optar por uma dentre três alternativas: a
substituição do produto por outro da mesma espécie em perfeitas condições
de uso, a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,
sem prejuízo de eventuais perdas e danos, ou o abatimento proporcional do
preço.
3. Agravo interno não provido."
(AgInt no AREsp 1.396.127/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 02/04/2019, DJe de
08/04/2019, g.n.)

In casu, tendo a Corte de origem, ao analisar as provas produzidas nos autos,


constatado que os vícios de qualidade encontrados não tornaram impróprio ou inadequado o uso
do veículo em questão, conforme trechos transcritos do v. acórdão, correta a decisão que afastou o
abatimento do preço, incidindo o óbice da Sumula 83/STJ.
Nesse contexto, a modificação do entendimento lançado no v. acórdão recorrido,
acerca da inexistência de vício apto a ensejar o abatimento proporcional no valor pago pelo
veículo, demandaria o revolvimento de suporte fático-probatório dos autos, o que é inviável em
sede de recurso especial, a teor do que dispõe a Súmula 7 deste Pretório.
No que tange aos danos morais, consoante entendimento do STJ, o mero
descumprimento contratual não gera danos morais, sendo que, para que haja o dever de indenizar,
é necessário, em regra, comprovar circunstâncias específicas no caso concreto que sejam capazes
de gerar dor e sofrimento indenizáveis para que se configure o dever de indenizar. Nesse sentido:
"AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. ATRASO NA ENTREGA. DANO
MORAL. NÃO CABIMENTO. INEXISTÊNCIA DE SITUAÇÃO
EXTRAORDINÁRIA. MERO DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL.
SÚMULA 83/STJ. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que o simples
descumprimento contratual, por si só, não é capaz de gerar danos morais.
2. No caso, a inexistência de circunstância especial que extrapole o mero
aborrecimento decorrente do atraso na entrega do imóvel enseja a
manutenção da decisão monocrática que determinou o afastamento da
indenização por danos morais.
B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 12 de 15
Superior Tribunal de Justiça
3. Agravo interno não provido."
(AgInt no AREsp 1554453/RJ, de minha relatoria, QUARTA TURMA,
julgado em 25/05/2020, DJe 04/06/2020, g.n.)

"DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO


POR DANOS MORAIS. VIOLAÇÃO DO ART. 1.022 DO CPC/2015.
AUSÊNCIA. FINANCIMENTO DE VEÍCULO COM ALIENAÇÃO
FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. ACORDO. QUITAÇÃO DO CONTRATO.
DEMORA NA LIBERAÇÃO DO GRAVAME SOBRE O BEM JUNTO AO
ÓRGÃO DE TRÂNSITO COMPETENTE. DANO MORAL NÃO
CARACTERIZADO.
1. Ausentes os vícios do art. 1.022 do CPC/2015, é de rigor a rejeição dos
embargos de declaração.
2. A configuração do dano moral pressupõe uma grave agressão ou
atentado a direito da personalidade, capaz de provocar sofrimentos e
humilhações intensos, descompondo o equilíbrio psicológico do indivíduo
por um período de tempo desarrazoado.
3. Desse modo, ausentes circunstâncias excepcionais devidamente
comprovadas, a simples demora da instituição financeira em, quitado o
contrato, providenciar a liberação do gravame de alienação fiduciária sobre
o veículo junto ao órgão de trânsito competente não enseja, por si só, dano
moral indenizável.
4. Recurso especial não provido."
(REsp 1.653.865/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 23.5.2017, DJe 31.5.2017, g.n.)

"AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL.


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. IMÓVEL. VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO.
DANO MORAL. CARACTERIZAÇÃO.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).
2. O dano moral, na ocorrência de vícios de construção, não se presume,
configurando-se apenas quando houver circunstâncias excepcionais que,
devidamente comprovadas, importem em significativa e anormal violação de
direito da personalidade dos proprietários do imóvel. Na hipótese, a conduta
da construtora extrapolou o simples aborrecimento ou dissabor, causando
séria angústia e sofrimento íntimo aos autores e sua família, não se
caracterizando como mero inadimplemento contratual.
3. Agravo interno não provido."
(AgInt no AREsp 1288145/DF, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/11/2018, DJe 16/11/2018,
g.n.)

Dessa forma, tendo em vista que o Tribunal Estadual expressamente consignou que
não foi comprovado nenhum fato extraordinário que tenha ofendido os direitos de personalidade
do recorrente, tampouco foi invocada pelo autor circunstância extraordinária que tenha causado
B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 13 de 15
Superior Tribunal de Justiça
angústia ou abalo psicológico de modo a configurar dano moral, não há como se afastar o óbice da
Súmula 83/STJ.
Por fim, no que tange à aplicação da multa prevista no art. 1.026, § 2º, do
CPC/2015, no presente caso, também se mostra irretocável, uma vez que os segundos embargos
de declaração, com o propósito de rediscutir questão já exaurida nos primeiros aclaratórios,
revelam o caráter de procrastinação do recurso, o que autoriza a imposição da multa lastreada no
art. 1.026, § 2º, do novo CPC. A propósito, confiram-se:
"AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DOS
ARTS. 165, 458 E 535 DO CPC/73. NÃO OCORRÊNCIA. EMBARGOS
DE DECLARAÇÃO OPOSTOS NA INSTÂNCIA A QUO
CONSIDERADOS PROTELATÓRIOS. MULTA DO PARÁGRAFO
ÚNICO DO ART. 538 DO CPC/73. POSSIBILIDADE. AGRAVO
DESPROVIDO.
1. Rejeita-se a apontada violação ao art. 535 do CPC/73, pois o v. acórdão
a quo não possui vício de omissão, obscuridade ou contradição, mas mero
julgamento em desconformidade com os interesses do agravante.
2. É possível aplicar a multa do art. 538 do CPC/73 quando a parte
pretende rediscutir, nos segundos embargos, tese atinente a matéria
rejeitada e acobertada pela preclusão.
3. Agravo interno a que se nega provimento."
(AgInt no AREsp 1210716/PR, Rel. Ministro LÁZARO GUIMARÃES -
DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO -, QUARTA
TURMA, DJe 26/04/2018, g.n.)

"PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO INTERNO NO
RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
APLICABILIDADE. OMISSÕES. AUSÊNCIA DE VÍCIOS. ALEGAÇÃO
DE QUESTÕES NÃO SUSCITADAS NOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO ANTERIORES. PRECLUSÃO. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO PROTELATÓRIOS. APLICAÇÃO DE MULTA. ART.
1.026, § 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em
09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do
provimento jurisdicional impugnado. In casu, aplica-se o Código de
Processo Civil de 2015.
II - A fundamentação adotada no acórdão é suficiente para respaldar a
conclusão alcançada, pelo que ausente pressuposto a ensejar a oposição de
embargos de declaração.
III - Os segundos embargos de declaração estão restritos ao argumento da
existência de vícios no acórdão proferido nos primeiros aclaratórios, sendo
descabida a discussão acerca da decisão anteriormente embargada, pois a
oportunidade para a respectiva impugnação extinguiu-se em virtude da
preclusão consumativa, ensejando a imposição de multa por prática
B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 14 de 15
Superior Tribunal de Justiça
processual abusiva e manifestamente protelatória, nos termos do art.
1.026, § 2º, do Código de Processo Civil de 2015.
IV - Embargos de declaração rejeitados, com imposição de multa, como
exposto."
(EDcl nos EDcl no AgInt no REsp 1544388/RS, Rel. Ministra REGINA
HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, DJe 15/12/2017, g.n.)

Ante o exposto, nega-se provimento ao agravo interno.


É como voto.

B2
AREsp 1521140 Petição : 347036/2020
2019/0168364-7 Página 15 de 15
TERMO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
AgInt no AREsp 1.521.140 / SP
Número Registro: 2019/0168364-7 PROCESSO ELETRÔNICO

Número de Origem:
00295935420128260002 0020387-79.2013.8.26.0002 1486/2012 295935420128260002 203877920138260002
14862012

Sessão Virtual de 18/08/2020 a 24/08/2020

Relator do AgInt
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MARCO BUZZI

AUTUAÇÃO

AGRAVANTE : LUIZ FERNANDO PASCARELLI CUNHA BRITO


ADVOGADOS : CARLOS RICARDO PARENTE SETTANNI E OUTRO(S) - SP172308
CARLOS ALBERTO PARENTE SETTANNI - SPO279084
AGRAVADO : HYUNDAI CAOA DO BRASIL LTDA
REPR. POR : CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA ANDRADE
ADVOGADOS : TATYANA BOTELHO ANDRÉ E OUTRO(S) - SP170219
DIEGO SABATELLO COZZE - SP252802
LARISSA VILAÇA BERTONI - SP319635

ASSUNTO : DIREITO CIVIL - OBRIGAÇÕES - ESPÉCIES DE CONTRATOS - COMPRA E VENDA

AGRAVO INTERNO

AGRAVANTE : LUIZ FERNANDO PASCARELLI CUNHA BRITO


ADVOGADOS : CARLOS RICARDO PARENTE SETTANNI E OUTRO(S) - SP172308
CARLOS ALBERTO PARENTE SETTANNI - SPO279084
AGRAVADO : HYUNDAI CAOA DO BRASIL LTDA
REPR. POR : CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA ANDRADE
ADVOGADOS : TATYANA BOTELHO ANDRÉ E OUTRO(S) - SP170219
DIEGO SABATELLO COZZE - SP252802
LARISSA VILAÇA BERTONI - SP319635

TERMO
A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, decidiu negar provimento ao
recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Luis Felipe Salomão, Maria Isabel Gallotti, Antonio Carlos Ferreira e Marco
Buzzi votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Marco Buzzi.

Brasília, 24 de agosto de 2020

Você também pode gostar